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Noções Gerais de Obrigação Conceito: Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. Elementos constitutivos - Subjetivo: os sujeitos da obrigação podem ser pessoa natural ou jurídica, bem como sociedade de fato. Hão de ser determinados ou determináveis. - Objetivo: o objeto imediato da obrigação é sempre uma prestação de dar, fazer ou não fazer. O objeto mediato é o que se descobre indagando: dar ou fazer o quê? Há de ser lícito, possível e determinado ou determinável e economicamente apreciável. - Vínculo jurídico: sujeita o devedor a determinada prestação em favor do credor. Compõe-se de dois elementos: débito e responsabilidade. É também chamado de vínculo espiritual ou abstrato. Fontes das obrigações Vontade do Estado: por intermédio da lei; Vontade humana: manifestada no contrato, na declaração unilateral ou na prática de um ato ilícito. No primeiro caso, a lei é a fonte imediata da obrigação, a vontade humana é a mediata. Por estar sempre presente, mediata ou imediatamente, alguns a consideram a única fonte das obrigações. Distinção entre obrigação e responsabilidade: A obrigação (schuld) nasce de diversas fontes. Ao ser cumprida, extingue-se. Se o devedor não a cumpre espontaneamente, surge a responsabilidade (haftung) pelo inadimplemento. Esta é, pois, a consequência patrimonial do descumprimento da relação obrigacional. Distinções conceituais Obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra prestação economicamente apreciável. Dever jurídico é a necessidade que tem toda pessoa de observar as ordens ou comandos do ordenamento jurídico, sob pena de incorrer uma sanção. Ônus jurídico consiste na necessidade de se observar determinada conduta para satisfação de um interesse. Direito potestativo é o poder que a pessoa tem de influir na esfera jurídica de outrem, sem que este possa fazer algo que não se sujeitar. Consiste em um poder de produzir efeitos jurídicos mediante a declaração unilateral de vontade do titular, gerando em outra pessoa um estado de sujeição. Modalidades das Obrigações Quanto ao objeto - Obrigação de dar (positiva): de dar coisa certa e de dar coisa incerta; - Obrigação de fazer (positiva): infungível (personalíssima), fungível (impessoal) e de emitir declaração de vontade (CPC, art. 501); - Obrigação de não fazer (negativa). Quanto aos seus elementos - Simples: apresentam-se com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto; - Compostas pela multiplicidade de objetos: podem ser cumulativas ou conjuntivas (objetos ligados pela conjunção “e”); alternativas (objetos ligados pela disjuntiva “ou”); ou facultativas (com faculdade de substituição do objeto, conferida ao devedor).

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Noções Gerais de Obrigação

Conceito: Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito

passivo) o cumprimento de determinada prestação. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações.

Elementos constitutivos

- Subjetivo: os sujeitos da obrigação podem ser pessoa natural ou jurídica, bem como sociedade de fato. Hão de ser

determinados ou determináveis.

- Objetivo: o objeto imediato da obrigação é sempre uma prestação de dar, fazer ou não fazer. O objeto mediato é o

que se descobre indagando: dar ou fazer o quê? Há de ser lícito, possível e determinado ou determinável e

economicamente apreciável.

- Vínculo jurídico: sujeita o devedor a determinada prestação em favor do credor. Compõe-se de dois elementos: débito

e responsabilidade. É também chamado de vínculo espiritual ou abstrato.

Fontes das obrigações

Vontade do Estado: por intermédio da lei;

Vontade humana: manifestada no contrato, na declaração unilateral ou na prática de um ato ilícito.

No primeiro caso, a lei é a fonte imediata da obrigação, a vontade humana é a mediata. Por estar sempre presente,

mediata ou imediatamente, alguns a consideram a única fonte das obrigações.

Distinção entre obrigação e responsabilidade: A obrigação (schuld) nasce de diversas fontes. Ao ser cumprida,

extingue-se. Se o devedor não a cumpre espontaneamente, surge a responsabilidade (haftung) pelo inadimplemento.

Esta é, pois, a consequência patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.

Distinções conceituais

Obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra prestação economicamente

apreciável.

Dever jurídico é a necessidade que tem toda pessoa de observar as ordens ou comandos do ordenamento jurídico, sob

pena de incorrer uma sanção.

Ônus jurídico consiste na necessidade de se observar determinada conduta para satisfação de um interesse.

Direito potestativo é o poder que a pessoa tem de influir na esfera jurídica de outrem, sem que este possa fazer algo

que não se sujeitar. Consiste em um poder de produzir efeitos jurídicos mediante a declaração unilateral de vontade

do titular, gerando em outra pessoa um estado de sujeição.

Modalidades das Obrigações

Quanto ao objeto

- Obrigação de dar (positiva): de dar coisa certa e de dar coisa incerta;

- Obrigação de fazer (positiva): infungível (personalíssima), fungível (impessoal) e de emitir declaração de vontade

(CPC, art. 501);

- Obrigação de não fazer (negativa).

Quanto aos seus elementos

- Simples: apresentam-se com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto;

- Compostas pela multiplicidade de objetos: podem ser cumulativas ou conjuntivas (objetos ligados pela conjunção

“e”); alternativas (objetos ligados pela disjuntiva “ou”); ou facultativas (com faculdade de substituição do objeto,

conferida ao devedor).

- Compostas pela multiplicidade de sujeitos: dividem-se em divisíveis, indivisíveis e solidárias.

Obrigação de dar

a) Obrigação de dar coisa certa

- Conteúdo: é aquela em que o devedor se obriga a dar coisa individualizada, que se distingue por características

próprias, móvel ou imóvel. Confere ao credor simples direito pessoal. Abrange os acessórios da coisa, salvo convenção

em contrário (CC, art. 233).

Obrigação de entregar e de restituir: cumpre-se a obrigação de dar coisa certa mediante entrega (como na compra e

venda) ou restituição (como no comodato). Esses dois atos podem ser resumidos na palavra tradição. Enquanto esta

não ocorrer, a coisa continuará pertencendo ao devedor, “com os seus melhoramentos e acrescidos (art. 237).

- Consequência da perda ou deteriorização da coisa: (arts. 234 a 236). Perecimento significa perda total, enquanto

deteriorização significa perda parcial.

b) Obrigação de dar coisa incerta

- Conceito: é aquela cujo objeto é indicado pelo gênero e pela quantidade, faltando apenas determinar a qualidade

(art. 243). Não haverá obrigação se faltar também qualquer daquelas especificações.

Regulamentação: (CC, arts. 243 a 246; CPC, arts. 811 e 812).

Obrigação de fazer

a) Infungível (personalíssima ou intuitu personae): quando convencionado que o devedor cumpra pessoalmente a

prestação ou a própria natureza desta impedir a sua substituição;

b) Fungível (impessoal): é aquela em que a prestação pode ser cumprida por terceiro, uma vez que sua execução não

depende de qualidades pessoais do devedor.

c) Consistente em emitir declaração de vontade (pacto de contrahendo): endossar certificado de propriedade do

veículo alienado (CPC, art. 501).

Consequências do inadimplemento

a) Devido à impossibilidade da prestação:

- Sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação (art. 248, 1ª parte);

- Com culpa do devedor, responderá este por perdas e danos (2ª parte).

b) Devido à recusa do devedor:

- Se obrigação é infungível, o obrigado indenizará perdas e danos (art. 247);

- Se é fungível, será livre ao credor mandar executar o fato por terceiro, à custa do devedor, sem prejuízo da indenização

cabível (art. 249).

Obrigação de não fazer

- Noção: a obrigação negativa impõe ao devedor um dever de abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente

fazer caso não houvesse se obrigado.

Consequências do inadimplemento: caso o devedor pratique o ato que se obrigara a não praticar, pode o credor exigir

o desfazimento do que foi realizado, “sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos” (art.

251). Em caso de urgência, poderá o credor mandar desfazer o ato, “independentemente de autorização judicial, sem

prejuízo do ressarcimento indevido” (parágrafo único).

Obrigações alternativas

Conceito: A obrigação alternativa é composta pela multiplicidade de objetos. Tem por conteúdo duas ou mais

prestações, das quais somente uma será escolhida para pagamento ao credor e liberação do devedor. Os objetos são

ligados pela disjuntiva “ou”. Difere da cumulativa, em que também há uma pluralidade de prestações, mas todas devem

ser solvidas.

Direito de escolha: O direito de escolha caberá ao devedor, “se outra coisa não se estipulou” (CC, art. 252). Pode ainda

a opção ser deferida a terceiro, de comum acordo. Se este não aceitar a incumbência, “caberá ao juiz a escolha se não

houver acordo entre as partes” (art. 252, §4º).

Consequências do inadimplemento: As consequências do inadimplemento encontram-se reguladas nos arts. 253, 254,

255, 256, que assim dispõem:

Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexequível, substituirá o débito

quanto à outra.”

Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha,

ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso

determinar.

Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor

terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas

as prestações se tornarem inexequíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização

por perdas e danos.

Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.

Obrigação facultativa: É espécie sui generis de obrigação alternativa. Trata-se de obrigação simples, em que é devida

uma única prestação, ficando, porém, facultado ao devedor, e só a ele, exonerar-se mediante o cumprimento de

prestação diversa e predeterminada. É obrigação com faculdade de substituição. O credor só pode exigir a prestação

obrigatória, que se encontra in obligatione.

Obrigação alternativa e obrigação facultativa: Na obrigação facultativa, se perece o único objeto in obligatione, sem

culpa do devedor, resolve-se o vínculo obrigacional, não podendo o credor exigir a prestação acessória. A obrigação

alternativa, no entanto, extingue-se somente com o perecimento de todos os objetos e será válida se apenas uma das

prestações estiver eivada de vício, permanecendo eficaz a outra.

Obrigações divisíveis e indivisíveis

Conceito: Obrigações divisíveis são aquelas cujo objeto pode ser dividido entre os sujeitos – o que não ocorre com as

indivisíveis (CC, art. 258). A indivisibilidade decorre: a) da natureza das coisas; b) de determinação da lei; ou c) por

vontade das partes (art. 88).

Efeitos

- Há presunção, no caso da obrigação divisível, de que está repartida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos

os credores ou devedores (art. 257);

- Cada devedor se libera pagando sua quota, e cada credor nada mais poderá exigir, recebida a sua parte na prestação;

- Quando a obrigação é indivisível e há pluralidade de devedores, “cada um será obrigado pela dívida toda” (art. 259),

somente porque o objeto não pode ser dividido;

- Se a pluralidade for de credores, “poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se

desobrigarão, pagando: I – a todos conjuntamente; II – a um, dando a este caução de ratificação dos outros credores”

(art. 260);

- Se um dos credores remitir (perdoar) a dívida, não ocorrerá a extinção da obrigação com relação aos demais credores.

O mesmo ocorrerá no caso de transação, novação, compensação ou confusão (art. 252, caput e parágrafo único);

- Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos, em caso de perecimento com culpa

do devedor (art. 263).

Obrigações solidárias

Conceito: Obrigação solidária é aquela em que, havendo vários devedores, cada um responde pela dívida inteira como

se fosse o único devedor. Se a pluralidade for de credores, pode qualquer um deles exigir a prestação integral como se

fosse único credor (art. 264). A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes (art. 265).

Características

- Pluralidade de credores, de devedores ou de uns e de outros.

- Integralidade da prestação.

- Corresponsabilidade dos interessados.

Espécies

- Obrigação solidária ativa, se vários forem os credores.

- Obrigação solidária passiva, se houver pluralidade de devedores.

- Obrigação solidária recíproca ou mista, se houver simultaneidade de credores e de devedores.

Diferenças entre solidariedade e indivisibilidade

- Se cada devedor solidário pode ser compelido a pagar sozinho a dívida inteira, tal fato se dá por ser este devedor do

todo. Nas obrigações indivisíveis, contudo, o codevedor só deve a sua quota-parte. Se pode ser compelido ao

pagamento da totalidade do objeto é porque este não pode ser fracionado.

- Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos (art. 263). Na solidariedade,

entretanto, tal não ocorre, pois cada devedor continuará responsável pelo pagamento integral do equivalente em

dinheiro do objeto perecido.

Solidariedade ativa

Conceito: Na solidariedade ativa, concorrem dois ou mais credores, podendo qualquer deles receber integralmente a

prestação devida (art. 267).

Efeitos

- O devedor libera-se pagando a qualquer dos credores, que, por sua vez, pagará aos demais a quota de cada um.

- Enquanto algum dos credores solidários não demandar o devedor comum, a qualquer deles poderá este pagar (art.

268). Cessa esse direito, porém, se um deles já ingressou em juízo com ação de cobrança, pois só a ele o pagamento

pode ser efetuado.

- O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago (art. 269)

- Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271).

- O credor que tiver remitido a dívida, ou recebido o pagamento, responderá aos outros pela parte que lhes caiba (art.

272), podendo ser convencido em ação regressiva por estes movida.

Solidariedade passiva

Conceito: Solidariedade passiva é a relação obrigacional pela qual o credor tem direito a exigir e receber de um, de

alguns ou de todos os devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum (art. 275).

Efeitos

- O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos codevedores a sua quota, dividindo-se

igualmente por todos a do insolvente, se houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os codevedores

(art. 283).

- Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, ou seja, ao emitente de nota promissória, por

exemplo, responderá este por toda ela para com aquele que pagar (art. 285).

- Qualquer alteração posterior do contrato, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, que venha a

agravar a situação dos demais só terá validade se for efetivada com a concordância destes (art. 278).

- É permitido ao credor, sem abrir mão de seu crédito, “renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de

todos os devedores” (art. 282).

Outras modalidades de obrigações

Quanto à exigibilidade

- Civis: as que encontram respaldo no direito positivo, podendo seu cumprimento ser exigido pelo credor, por meio de

ação.

- Naturais: as inexigíveis judicialmente. Nessa modalidade, o credor não tem o direito de exigir a prestação, e o devedor

não está obrigado a pagar. Todavia, se este, voluntariamente, efetua o pagamento, não tem direito de repeti-lo (dívidas

prescritas – art. 882 -, dívidas de jogo – art. 814).

Quanto ao conteúdo

- Obrigação de meio: O devedor promete empregar todos os meios ao seu alcance para a obtenção de determinado

resultado, sem, no entanto, responsabilizar-se por ele (caso de advogados e médicos, por exemplo).

- Obrigação de resultado: O devedor dela se exonera somente quando o fim prometido é alcançado (obrigação do

transportador e do cirurgião plástico que realiza trabalho de natureza estética, por exemplo).

- Obrigação de garantia: É a que visa eliminar um risco que pesa sobre o credor ou as suas consequências, por exemplo,

a do segurador e a do fiador.

Quanto ao momento em que devem ser cumpridas

- Obrigações de execução instantânea: que se consumam imediatamente, em um só ato.

- Obrigações de execução diferida: que se consumam em um só ato, mas em momento futuro.

- Obrigações de execução continuada ou de trato sucessivo: que se cumprem por meio de atos reiterados.

Quanto aos elementos acidentais

- Puras e simples: não sujeitas a condição, termo ou encargo;

- Condicionais (art. 121);

- A termo (art. 131);

- Modais, onerosas ou com encargo (art. 136).

Quanto à liquidez

- Líquida: certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto.

- Ilíquida: a que depende de apuração de seu valor para ser exigida.

Reciprocamente consideradas

- Principais: subsistem por si.

- Acessórias: dependem da existência da obrigação principal e lhe seguem o destino.

Transmissão das Obrigações

Cessão de crédito

- Conceito: é negócio jurídico bilateral, pelo qual o credor transfere a outrem seus direitos na relação obrigacional.

- Instituto afins: não se confunde com:

a) cessão de contrato, em que se procede à transmissão, ao cessionário, da inteira posição contratual do cedente;

b) novação subjetiva ativa, porque nesta, além da substituição do credor, ocorre a extinção da obrigação anterior,

substituída por novo crédito;

c) sub-rogação legal: O sub-rogado não pode exercer os direitos e ações do credor além dos limites de seu desembolso,

não tendo, pois, caráter especulativo (art. 350).

- Objeto: em regra, todos os créditos podem ser objeto de cessão, constem de título ou não, vencidos ou por vencer,

salvo se isso a se opuser “a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor” (art. 286).

Formas

a) a cessão não exige forma especial para valer entre as partes, salvo se tiver por objeto direitos em que a escritura

pública seja da substância do ato;

b) para valer contra terceiros, o art. 288 co CC exige “instrumento público, ou instrumento particular revestido das

solenidades do §1º do art. 654”;

c) a cessão de títulos de crédito é feita mediante endosso.

- Notificação do devedor: a cessão de crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada;

mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita (art. 290).

O devedor ficará desobrigado se, antes de ter conhecimento da cessão, pagar ao credor primitivo (art. 292). Porém,

não se desobrigará se a este pagar depois de cientificado da cessão.

- Responsabilidade do cedente pela solvência do devedor: a responsabilidade imposta ao cedente pelo art. 295 diz

respeito somente à existência do crédito ao tempo da cessão. Não se refere à solvência do devedor. Por esta o cedente

não responde, salvo estipulação em contrário (art. 296). Se ficar convencionado que o cedente responde pela solvência

do devedor, sua responsabilidade limitar-se-á ao que recebeu do cessionário, com os respectivos juros, mais as

despesas da cessão e as efetuadas com a cobrança (art. 297).

Assunção de dívida

- Conceito: trata-se de negócio jurídico (também denominado cessão de débito) pelo qual o devedor transfere a outrem

sua posição na relação jurídica (como na cessão de financiamento para aquisição da casa própria).

- Regulamentação:

a) produz o efeito de exonerar o devedor primitivo, salvo se o assuntor (o terceiro) era insolvente e o credor o ignorava

(art. 299);

b) requer anuência expressa do credor, mas qualquer das partes pode assinar-lhe prazo para que consinta,

“interpretando-se o seu silêncio como recusa” (art. 299, parágrafo único);

c) o novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo (art. 302);

d) o adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido. Na hipótese,

entender-se-á concordado o credor se, notificado, não impugnar, em trinta dias, a transferência do débito (art. 303).

Cessão de contrato ou de posição contratual

- Conceito: consiste na transferência da inteira posição ativa e passiva do conjunto de direitos e obrigações de que é

titular uma pessoa, derivados de um contrato bilateral já ultimado, mas de execução ainda não concluída.

- Personagens: a cessão do contrato envolve 3 personagens:

a) o cedente (que transfere a sua posição contratual);

b) o cessionário (que adquire a posição transmitida ou cedida); e

c) o cedido (o outro contraente, que consente na cessão feita pelo cedente).

- Características:

a) vantagem prática: permite que uma pessoa transfira a outrem seus créditos e débitos oriundos de uma avença, sem

ter de desfazer, de comum acordo com o contratante, o primeiro negócio e sem ter de convencê-lo a refazer o contrato

com o terceiro interessado;

b) exige concordância do cedido;

c) o contrato-base transferido há de ter natureza bilateral;

d) não se confunde com o contrato derivado ou subcontrato, porque neste o contraente mantém a sua posição

contratual, limitando-se a criar um novo contrato da mesma natureza com terceiro;

e) distingue-se, também, da sub-rogação legal do contrato, pois esta nasce diretamente da lei, sem necessidade do

consentimento do contraente cedido;

f) igualmente difere da novação, porque, enquanto nesta se dá ou a transmissão dos direitos (novação subjetiva ativa)

ou a transmissão das obrigações (novação subjetiva passiva), na cessão do contrato ocorre a transferência dos direitos

e obrigações do cedente ao cessionário.

- Efeitos entre o cedente e o contraente cedido: a cessão da posição contratual pode efetuar-se com ou sem liberação

do cedente perante o contraente cedido. Não havendo a liberação do cedente, estabelece-se um vínculo de

solidariedade entre este e o cessionário.

- Efeitos entre o cedente e o cessionário: para o cedente, ocorre a perda dos créditos e das expectativas integrados na

posição contratual cedida, bem como a exoneração dos deveres e obrigações nela compreendidos.

- Efeitos entre o cessionário e o contraente cedido: dá-se a substituição do cedente pelo cessionário na relação

contratual com o cedido.

Adimplemento e Extinção das Obrigações

Noções introdutórias: Pagamento significa cumprimento ou adimplemento de qualquer espécie de obrigação. Pode

ser direto e indireto (mediante consignação, por exemplo). Constitui o meio normal de extinção da obrigação. Esta

pode extinguir-se, todavia, por outros fatores, como a prescrição, a condição resolutiva e, especificamente neste

capítulo, além do pagamento, mediante a dação em pagamento, a novação, a compensação, a confusão e a remissão

das dívidas.

Pagamento

Conceito e natureza jurídica: Predomina o entendimento de que o pagamento tem natureza contratual, ou seja, resulta

de um acordo de vontades, estando sujeito a todas as suas normas.

Requisitos de validade:

a) a existência de um vínculo obrigacional;

b) a intenção de solvê-lo (animus solvendi);

c) o cumprimento da prestação;

d) a pessoa que efetua o pagamento (solvens);

e) a pessoa que o recebe (accipiens).

Quem deve pagar (solvens): Além do devedor, qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o

credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor (art. 304, caput). Pode ocorrer que, além do

devedor, outras pessoas sejam interessadas no pagamento. Em caso de terceiro juridicamente interessado, a lei (art.

346, III) lhe garante a sub-rogação dos direitos do credor. Da mesma forma, o terceiro não interessado também pode

pagar, entretanto, nos termos do art. 305, CC.

Transmissão de propriedade: Quando o pagamento importar em obrigação de dar coisa (transferência de

propriedade), este só terá eficácia se for feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu (art. 307), ou seja,

o proprietário.

A que se deve pagar (accipiens): Por inferência lógica do princípio de que o contrato gera obrigação entre as partes, o

pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente (art. 308), ou seja, o pagamento será feito

diretamente ao credor ou a quem seja seu procurador com poderes para receber, sob pena de só valer depois de por

ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

Credor putativo: É aquele que, embora não seja, legitimamente, quem deva receber, mostra-se assim aos olhos de

todos, de forma a fazer com que o devedor de boa-fé lhe faça o pagamento. Nesse caso, o pagamento de boa-fé feito

ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor (art. 309, CC).

Pagamento de crédito penhorado ou impugnado: Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimação da penhora feita

sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão

constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor (art. 312, CC).

Objeto do pagamento: O pagamento se traduz pela realização da prestação ajustada entre as partes no negócio

jurídico. Por isso, o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, mesmo que mais valiosa

(art. 313, CC).

Dívidas em dinheiro: As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor

nominal.

Revisão judicial por fato superveniente: O art. 317 estabelece forma de revisão judicial da prestação em caso de fato

superveniente que acarrete onerosidade excessiva à prestação de uma das partes, tornando-a manifestamente

desproporcional.

Prova do pagamento: Realizado o pagamento, exsurge daí o interesse do devedor em obter prova idônea da

ocorrência. O objetivo principal desse procedimento centra-se na questão de que o pagamento extingue, total ou

parcialmente, a obrigação, por isso, o devedor que paga tem direito à quitação, não só para provar a extinção; por isso,

o devedor que paga tem direito à quitação, não só para provar a extinção da relação obrigacional, mas também para

se precaver de eventual atitude de má-fé do credor ou mesmo de possível alegação de direito de terceiro sobre o

débito, como no caso da cessão de crédito não devidamente comunicada ao sujeito passivo.

Quitação: Em geral, no entanto, a prova do pagamento se faz através do instrumento escrito denominado quitação, o

qual segundo os termos da lei, se configura como direito subjetivo do devedor, que pode, inclusive, reter o pagamento

se não a obtiver do credor.

Forma da quitação: Quanto à forma, a quitação, em regra, sempre poderá ser dada por instrumento particular e

designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do

pagamento. Além disso, deverá conter a assinatura do credor ou do seu representante (art. 320, caput).

Quitação de capital sem reserva de juros: Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes se presumem pagos.

Despesas com a quitação: Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer

aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.

Pagamento em medida ou peso: Se o pagamento se houver de fazer por medida ou peso, entender-se à, no silêncio

das partes, que aceitaram os do lugar da execução (art. 326).

Lugar do pagamento: Quanto ao lugar do pagamento, a lei estabelece qual das partes deve procurar a outra para exigir

que ocorra o pagamento. Assim, existem duas espécies de dívida quanto ao lugar do pagamento: a) quérable (quesível):

o credor deve exigir do devedor o pagamento, no domicílio deste último. É a regra adotada pelo Código Civil (art. 327);

b) portable (portável): é a dívida segundo a qual cabe ao devedor oferecer o pagamento ao credor, no domicílio deste.

Depende de convenção das partes, da natureza da obrigação ou das circunstâncias (art. 327, caput, última parte).

Tempo do pagamento: Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o

credor exigi-lo imediatamente. Destarte, cabe às partes ajustarem um termo para o vencimento da obrigação. Não o

tendo feito, pode o credor exigir o pagamento imediatamente.

Vencimento antecipado: Pode o credor cobrar, antecipadamente, o débito, antes da data do vencimento, nos

seguintes casos: a) no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; b) se os bens, hipotecados ou

empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; c) se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as

garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforça-las.

Pagamentos Especiais

Pagamento em consignação: A consignação é o pagamento feito mediante depósito judicial ou estabelecimento

bancário, à disposição do credor, nos casos e forma legais. Os casos, em regra, são os de mora ao credor (mora

accipiendi), mas também cabe a consignação em caso de dúvida sobre quem seja o credor ou se houver litígio sobre o

objeto do pagamento.

Pagamento com sub-rogação: Sub-rogar significa substituir, trocar, transferir. Quando, por sua vez, um credor é

substituído por outro, em virtude da realização do pagamento, fala-se em sub-rogação pessoal, hipótese tratada pelo

Código Civil nos arts. 346 a 351.

Imputação do pagamento: A imputação do pagamento significa o ato pelo qual o devedor, o credor ou a lei indicam

qual é a obrigação que fica solvida pelo pagamento, quando o devedor deve a um mesmo credor várias obrigações da

mesma natureza. Depende de: a) liquidez de todos os débitos; b) que todos os débitos estejam vencidos; c) que todos

eles sejam da mesma natureza.

Dação em pagamento: A dação em pagamento (datio pro soluto) importa em cumprimento da obrigação mediante a

realização de prestação diversa daquela que fora ajustada entre as partes. A dação em pagamento depende não só do

cumprimento de prestação diversa da que é devida, mas também e principalmente, de consentimento expresso do

credor, pois, nos termos do art. 313, o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda

que mais valiosa, mas, conforme o art. 356, o credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.

Outras formas de extinção das obrigações

Novação: A novação é uma forma de extinção da obrigação, que se dá com a criação de uma nova obrigação. A principal

característica, portanto, da novação é o ânimo de novar (animus novandi). A novação tem, sempre, como elemento, a

intenção de se constituir uma nova obrigação, com o novo vínculo desaparecem os caracteres do anterior, como as

garantias reais e fidejussórias, o prazo prescricional, as condições suspensivas ou resolutivas, os termos, encargos etc.

Compensação: Ocorre a compensação quando duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra,

hipótese em que as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem, desde que ambas as dívidas sejam

líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. No sistema brasileiro, a compensação ocorre ipso jure, isto é, ocorre por força

de lei, sem necessidade de acordo entre as partes. Nesse caso, entretanto, a compensação segue as regras dos arts.

368 a 380 do Código Civil.

Confusão: Ocorre a confusão quando se confundem, na mesma pessoa, as qualidades de credor e devedor. Por

consequência, extingue-se a obrigação (art. 381). Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus

acessórios, a obrigação anterior (art. 383).

Remissão das dívidas: A remissão decorre de liberalidade do credor que desonera o devedor de pagar a dívida. Pode

ser total ou parcial, conforme se perdoe a dívida toda ou somente parte dela. A remissão não pode ocorrer com prejuízo

a terceiro, principalmente em prejuízo do credor que poderia penhorar o crédito (art. 158, CC).

Descumprimento das Obrigações

Inadimplemento das obrigações

Disposições gerais: O descumprimento da obrigação importa na responsabilidade contratual do devedor, que deverá

pagar ao credor perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente

estabelecidos, e honorários de advogado.

Inadimplemento absoluto: Ocorre quando não é mais possível o cumprimento da obrigação. O devedor é obrigado a

pagar por perdas e danos que equivalham ao valor da prestação impossibilitada, mais juros e atualização monetária

segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Inadimplemento relativo (mora): Hipótese em que o devedor, por não cumprir a obrigação no tempo, lugar e forma

devidos, nem por isso impossibilita a prestação. Obriga-se o devedor, a partir da mora, a cumprir a própria obrigação,

mas acrescida de perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente

estabelecidos, e honorários de advogado.

Espécies de mora

- Mora solvendi (mora do devedor):

- Mora ex re: ocorre mora ex re ou mora real quando se considera o devedor em mora pelo simples vencimento

da obrigação no seu termo, em razão da antiga regra dies interpellat pro homine.

- Mora personae: a mora pessoal ocorre quando não existe termo certo para o cumprimento da obrigação,

dependendo, portanto, de interpelação do credor ao devedor. O art. 397, parágrafo único considera que, não havendo

termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

* STJ, Súmula nº 76: A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não dispensa a prévia

interpelação para constituir em mora o devedor.

* STJ, Súmula nº 72: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

* STJ, Súmula nº 245: A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária

dispensa a indicação do valor do débito.

- Mora accipiendi (mora do credor): ocorre quando há recusa do credor em receber a prestação do devedor que a

oferece no tempo, forma e lugar devidos. Abre-se ao devedor a possibilidade de promover o pagamento em

consignação. Subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir

as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebe-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu

valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

* STJ, Súmula nº 369: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é

necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora.

Classificação quanto ao objeto da mora

- Quanto ao prazo: por atraso;

- Quanto ao local: pagamento em local diverso do convencionado;

- Quanto à forma: pagamento em forma diversa da convencionada.

Regras específicas sobre a mora

- Responsabilidade pelos prejuízos: responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros,

atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

- Exigência de culpa: não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.

- Obrigações provenientes de ato ilícito: nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora,

desde que o praticou.

* STJ, Súmula nº 43: Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.

* STJ, Súmula nº 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

* STJ, Súmula nº 362: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.

Purgação da mora: Ato pelo qual o devedor ou credor corrige a anormalidade decorrente de sua falta ao cumprimento

da obrigação.

- Por parte do devedor: dá-se oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da

oferta.

- Por parte do credor: ocorre oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a

mesma data. Não pode ocorrer depois de já estar pendente a lide, a não ser que haja previsão expressa que a possibilite.

- Cessação da mora: decorre de fatores que extinguem a própria obrigação. Diferentemente da purgação, opera efeitos

ex tunc.

Inadimplemento mínimo ou adimplemento substancial: Retira-se do credor a possibilidade de resolução do contrato

quando, adimplidas grande parte das prestações sucessivas devidas pelo devedor, a última, ou alguma das últimas,

deixam de ser pagas, abrindo-se-lhe, a partir do descumprimento, apenas a possibilidade de execução forçada da

obrigação, e não a extinção do contrato.

Violação positiva do contrato: Enunciado nº 24 da I Jornada do CJF: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no

art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente

de culpa.

Inadimplemento nas obrigações negativas: Nas obrigações negativas (ou obrigações de não fazer), o devedor é havido

por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster.

Responsabilidade patrimonial: Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor, presentes

e futuros. Excluem-se dessa relação os bens considerados impenhoráveis.

Inadimplemento e responsabilidade contratual

Contratos benéficos ou onerosos

- Nos contratos benéficos: responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele

a quem não favoreça.

* STJ, Súmula nº 145: No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável

por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

- Nos contratos onerosos: responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei

Caso fortuito e força maior: O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se

expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Caso fortuito: fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir decorrente de eventos naturais e

inevitáveis para as partes;

Fortuito interno: decorre de causas relacionadas à atividade do agente e não exclui a responsabilidade;

* STJ, Súmula nº 479: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno

relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

Fortuito externo: não se relaciona com a atividade normalmente desenvolvida. Exclui a responsabilidade;

Força maior: fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir, decorrente de ação humana de terceiros

que se sobrepõe às forças do devedor.

Perdas e danos

- Dano emergente é aquilo que o credor, efetivamente perdeu. Lucros cessantes é o que o credor razoavelmente

deixou de lucrar.

- Relação de causalidade: O devedor somente é obrigado a indenizar as perdas e danos diretamente decorrentes de

sua inexecução, ainda que ela decorra de dolo (teoria da causalidade imediata e direta).

- Atualização monetária das perdas e danos: As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão

pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e

honorários de advogado, sem prejuízo de pena convencional. Se ficar provado que os juros da mora não cobrem o

prejuízo, e não havendo pena convencional (cláusula penal), pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

Juros legais

Espécies

- Juros moratórios: servem para compensar o atraso no cumprimento da prestação;

Se não forem convencionados, ou o forem, sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão

fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

* STJ, Súmula nº 379: Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os juros moratórios poderão ser

fixados em até 1% ao mês.

- Juros remuneratórios ou compensatórios: servem, exclusivamente, para compensar o credor pela utilização de seu

capital. Incidem independentemente de mora.

Não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual. Com relação às instituições

financeiras, entende-se inaplicável a limitação acima referida, tendo em vista viger-se pela lei 4.595/64, que não revela

dispositivo limitativo.

* STJ, Súmula nº 382: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.

* Decreto 22.626/33 (Lei de Usura), art. 1º: É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer

contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal.

* STF, Súmula nº 596, as disposições do Decreto 22.626 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados

nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

* STJ, Súmula nº 283: As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros

remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura.

* STJ, Súmula nº 296: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no

período de inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual

contratado.

Capitalização

Decreto nº 22.626, art. 4º. É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros

vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.

* STF, Súmula 121: É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada.

* Medida Provisória nº 1.963-17, de 31-03-2000 (atual MP nº 2.170-36), art. 5º: Nas operações realizadas pelas

instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior

a um ano.

* STJ, Súmula nº 93: A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização

de juros.

Correção monetária: Fator legal de preservação do valor real da moeda. Considera-se implícita em qualquer negócio

jurídico. Conta-se a partir do vencimento da dívida, em havendo termo certo para cumprimento. Em não havendo

termo certo, contar-se-á a partir da citação.

* STJ, Súmula nº 30: A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis. Passou-se a se considerar

que a comissão de permanência significa a cobrança, pelo credor bancário, de uma compensação financeira pelo

período de utilização do crédito sem correspondente adimplemento pelo devedor.

Engloba conjuntamente todos os encargos necessários para a recomposição do patrimônio da instituição financeira, já

que pode ser calculada livremente pela taxa de mercado.

* STJ, Súmula nº 472: A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos

remuneratórios e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da

multa contratual.

Cláusula penal: Pacto acessório a uma obrigação principal, com o fim de prever a imposição de uma pena (multa) pelo

descumprimento da obrigação.

Espécies

- Cláusula penal moratória: Destinada a coibir a mora no cumprimento da obrigação. Dá ao credor o direito de exigir

seu cumprimento juntamente com o da obrigação principal.

- Cláusula penal compensatória: Estipula-se para o caso de descumprimento total da obrigação ou de alguma cláusula

especial. Tem a função de substituir a prestação descumprida, como forma antecipada de compensação pelas perdas

e danos provocadas pelo inadimplemento. Converte-se em alternativa a benefício do credor, de forma que lhe cabe

escolher entre exigir do devedor o cumprimento da obrigação ou a satisfação da multa estipulada.

Limite da cláusula penal: O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.

Nas relações de consumo: a multa moratória não pode ser superior a 2% do valor da prestação. Na lei de usura não é

válida cláusula penal superior à importância de 10% do valor da dívida.

Cláusula penal nas obrigações indivisíveis: Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles,

incorreção na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros

somente pela sua cota.

Redução da cláusula penal: A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido

cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a

finalidade do negócio.

Cláusulas de decaimento: Item inserido em um contrato bilateral que impõe àquele que descumpre a obrigação ou

promove a sua resilição unilateral a perda total das prestações que adimpliu em favor da outra parte.

Evidentemente abusiva, é repelida, genericamente, pelo Código Civil de 2002 pela proibição de lesão simples (ou

objetiva) encontrada na parte final do art. 413. O Código de Defesa do Consumidor também repele a cláusula de

decaimento.

Arras ou sinal: Quantia em dinheiro ou prestação de outra espécie – desde que consistente em bem móvel – oferecida

por uma das partes a fim de garantir que o ajuste final será cumprido ou prefixar o valor das perdas e danos em caso

de arrependimento.

- Arras confirmatórias: Não existe direito de arrependimento e, em caso de descumprimento do contrato, o valor dado

a título de arras confirmatórias, além de ser retido ou devolvido (conforme o caso), não exclui da parte inocente o

direito à execução do contrato e às perdas e danos, valendo, apenas, como taxa mínima de indenização.

- Arras penitenciais: São estipuladas para o caso em que o contrato preveja o direito de arrependimento. Assim, valem

como prefixação dos prejuízos decorrentes do não cumprimento do contrato pela parte que se arrependeu. Nesse caso,

o direito à retenção das arras ou à sua devolução exclui da parte inocente o direito à indenização e à execução do

contrato.

Possibilidade de redução: Enunciado 165 das Jornadas de Direito Civil do CJF: Em caso de penalidade, aplica-se a regra

do art. 413 ao sinal, sejam as arras confirmatórias ou penitenciais.