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1.Conceito Antropometria

A antropometria foi definida como a ciência de medida do tamanho corporal (NASA, 1978). A antropometria é um ramo das ciências biológicas que tem como objetivo o estudo dos caracteres mensuráveis da morfologia humana. Como diz Sobral (l985) "o método antropométrico baseia-se na mensuração sistemática e na análise quantitativa das variações dimensionais do corpo humano".

O tamanho físico de uma população pode ser determinado através damedição de comprimentos, profundidades e circunferências corporais, e os resultados obtidos podem ser utilizados para a concepção de postos de trabalho, equipamentos e produtos que sirvam as dimensões da população utilizadora.

A antropometria divide-se em:(1) somatometria que consiste na avaliação das dimensões

corporais do indivíduo- (2) cefalometria que se ocupa do estudo das medidas da cabeça

do indivíduo-(3) osteometria que tem como finalidade o estudo dos ossos

cranianos- (4) pelvimetria que se ocupa das medidas pélvicas- (4) odontometria que se ocupa do estudo das dimensões dos

dentes e das áreas dentárias.

1.1Perspectiva histórica da antropometria.

Na era romana a antropometria e o design eram considerados como relacionados. O teórico e arquitecto romano Vitrúvius argumentou que o design de edifícios devia ser baseado em certos princípios estéticos pré-estabelecidos do corpo humano. Foi dele o sistema de proporções humanas mais detalhado que nos chegou dos tempos clássicos. Vitrúvios via a ciência das proporções humanas como um principio fundamental na concepção.

Foi provavelmente Albrecht Dürer (1471-1528) que marcou o inicio da ciência antropometria. Ele tentou categorizar a diversidade de tipos físicos humanos de acordo com uma observação sistemática e medição de um largo número de pessoas. No entanto, neste período renascentista a teoria da estética permanecia a mais importante. O desenho de Leonardo da Vinci (1452-1519) no qual um homem é mostrado inscrito dentro de um quadrado e de um circulo deriva directamente de Vitruvios, e é uma das imagens mais conhecidas.

A ciência antropométrica desenvolveu-se no século XIX e princípio do século XX. Era o tempo onde eram feitas tentativas para subdividir e classificar a raça humana de acordo com as dimensões físicas. Na última parte deste século o foco tem incidido no crescimento humano e classificação de características físicas. Os avanços tecnológicos como as viagens espaciais e as actividades militares têm também requerido substanciais fontes de dado.

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*Desenho de Leonardo da Vinci*

1.2Antropometria Século XX.

A ESTATÍSTICA DO CORPO: ANTROPOLOGIA FÍSICAE ANTROPOMETRIANA ALVORADADO SÉCULO XX

Nuno Luís MadureiraEm 11 de Junho de 1902, uma mulher dá entrada na cadeia da Relação

da cidade do Porto. Tem 25 anos, é solteira e sabe que no dia seguinte não vai estar na praça a vender legumes e frutas porque foi apanhada a roubar. Permanece sentada enquanto espera que a conduzam à cela onde vai passar a noite. O guarda vem buscá-la, mas não a leva para junto de outros presos, antes a conduz no sentido oposto, abrindo a porta de um gabinete. Lá dentro estão dois homens. Pelo aspecto e pelo vestuário, é fácil perceber que não são guardas nem polícias. A mulher olha em volta horrorizada. As janelas, a todo o comprimento da parede, são atravessadas por uma luminosidade intensa que contrasta com o resto da prisão. O mobiliário da sala é constituído por aparelhos e instrumentos que nunca tinha visto: uma espécie de tenaz formada por duas varetas de ferro em forma de semicírculo; uma balança quase do tamanho de um homem; um espaldar térreo com uma haste comprida cravada na extremidade anterior, onde se vê uma sucessão de números e pela qual desliza uma peça de madeira e ferro; um sem-número de outros objectos desproporcionados e esquisitos. Um dos homens faz-lhe perguntas e preenche um formulário de papel. De seguida, o outro levanta- a e leva-a para junto de uma das paredes. Vai ditando coisas, enquanto a passa pelos aparelhos: estatura: 1,585 metros; comprimento dos braços abertos em cruz: 1,530 metros; altura sentada ou busto: 0,818 metros; comprimento da orelha direita: 0,059 metros; dedo médio esquerdo: 0,103 metros; dedo mínimo esquerdo: 0,082 metros; antebraço esquerdo: 0,411 metros; comprimento do pé esquerdo: 0,229 metros. Depois fazem-lhe ainda três medições diferentes da cabeça e anotam a cor da pele e dos olhos. No final, os homens parecem

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satisfeitos e a mulher está menos receosa, embora se sinta confusa e diminuída.

Neste artigo procede-se à análise das diferentes tradições científicas da antropometria portuguesa, elucidando o aparecimento de uma estatística do corpo que permite, nos finais do século XIX, fixar as imagens do criminoso-tipo, do criminoso-indíviduo e do criminoso-grupo. O conceito de esvaziamento dos saberes é de seguida introduzido para dar conta do modo de assimilação destes conhecimentos por parte do estado e da transformação de concepções teóricas em procedimentos utilitários e burocráticos. Graças a esse esvaziamento dos saberes, a antropometria deixa de registar as diferenças dos criminosos para passar a descrever a igualdade civil dos cidadãos.

Todos os presos que dão entrada nas cadeias de Lisboa e do Porto, no princípio do século XX, passam por esta nova experiência. Algumas partes dos seus corpos são medidas com precisão milimétrica e os seus caracteres físicos anotados com rigor científico, submetendo-se “a um exame que, por sua natureza, parece ser ou faz bem de pena infamante e certamente mais repugnante que a própria condenação” (Vieira 1904: 70). Antropometria é a designação atribuída à estatística do corpo.

A adopção desta técnica como método de identificação criminal apresenta uma história complexa onde se cruzam várias influências. Quando as autoridades decidem fazer da antropometria um método oficial e obrigatório nas cadeias portuguesas há um manancial prévio de estudos, experiências e dados acumulados que garante a fiabilidade dos procedimentos, pois há muito que os cientistas testam e comparam resultados de mensurações do corpo. Estamos assim perante um momento singular da transposição de saberes científicos para técnicas de vigilância utilizadas peloestado para melhorar o controlo sobre populações perigosas, um tópico analisado por Michel Foucault sob a perspectiva das condições de emergência de práticas de saber-poder. Segundo este autor, trata-se de perceber como a segurança e a vigilância se tornam componentes fundamentais da racionalidade do estado contemporâneo, instaurando um vínculo entre a construção dos objectos da ciência e a construção dos objectos de governo (Foucault 1979 e 1991: 53-72).

À medida que passamos das grandes mudanças históricas para o sentido dos acontecimentos na reflexão e na acção dos indivíduos, a relação entre conhecimento e administração torna-se porém mais problemática. Neste artigo, interrogam-se as modalidades de exercício de ambas as práticas, procurando mostrar, ao nível das ciências antropométricas, que a transposição de saberes para a lógica do estado envolve o seu esvaziamento, a neutralização de pressupostos teóricos, o corte com visões particulares do mundo e a redução da actividade científica a rotinas burocráticas.

AplicaçãoAntes de começarem a ser aplicadas a seres vivos, as mensurações

sistemáticas do corpo são feitas, em Portugal, a partir de exumações de cadáveres no âmbito da arqueologia e no âmbito da paleontologia. A fundação da Comissão de Trabalhos Geológicos, no ano de 1857, aglutinando Pereira da Costa, Carlos Ribeiro, Nery Delgado e outros investigadores, com o contri- buto de estudiosos estrangeiros, como Emile de Cartailhac, constituiu o núcleo impulsionador desta área de estudos.

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Na década de 1880, assiste-se a um surto de interesse por estes temas.A acumulação de dados antropométricos tende a concentrar-se

progressivamente em medições do crânio, consolidando a craniometria como subespecialização da antropologia física. A anatomia da cabeça torna-se o objecto antropológico por excelência, pois permite distinguir nitidamente os diferentes tipos humanos, descobrir as anomalias biológicas das raças e, até, revelar grandes linhas da psicologia étnica. Remonta precisamente a esta década o aparecimento de um conjunto de estudos sistemáticos de craniometria, onde se distinguem as investigações de Silva Amado, Arruda Furtado,Aurélio da Costa Ferreira e Ferraz de Macedo. A classe médica reivindica que a antropologia física está dentro da sua jurisdição, devendo ser entendida como um prolongamento natural da anatomia descritiva e da osteologia. Nas escolas médicas de Lisboa e do Porto desenvolvem-se projectos e na Universidade de Coimbra inicia-se o ensino da antropologia geral com um programa que inclui a história natural, associando a disciplina ao estudo das propriedades físicas da espécie.

A ideia de descrever os traços morfológicos que distinguem um determinado tipo humano de outro, através de mensurações detalhadas da cabeça e dos ossos, torna-se a chave para compreender não só as origens do homem, mas o próprio homem. Na senda de autores como Saint-Hilaire e Paulo Broca, considera-se que os caracteres físicos se transmitem relativamente inalterados através do tempo e que a reconstituição dos tipos humanos, com o lastro de cruzamentos e mestiçagens, é a chave para desvendar os segredos da história natural. O estudo dos indivíduos procura abstrair as variações particulares e apreender os traços mais gerais do agrupamento humano, postulando que os “tipos naturais”, “tipos étnicos” ou “raças” configuram uma matriz biológica estável. Para detectar essa matriz há que partir da medição dos caracteres físicos individuais, agregar estatisticamente os resultados, apurar uma classificação das populações e seriar os agrupamentos humanos numa escala ordenada. Por esta via, não só se reconstituem os elos perdidos com o passado como se abrem as portas para português Basílio Freire, no fundo de toda a experiência individual “dormitam os resíduos organizados de experiências de gerações passadas”, “um sem número de estratificações sedimentares sucessivas, cuja vegetação irrompe por vezes à superfície” (Freire 1889a: 180).

No momento em que o homem civilizado procura a genealogia da espécie, a constância dos tipos físicos naturais, ao longo da história, introduz um elemento perturbador: a possibilidade de os caracteres dos selvagens, dos seres inferiores e dos homens atávicos sobreviverem na sociedade contemporânea. A descoberta de uma tal proximidade é inquietante. As classificações começam a dar grande atenção aos tipos antropológicos degenerados, isolando, segregando e exorcizando as mais diversas categorias de marginalidade. A filogénese positiva redunda numa ontogénese alarmante. Este ramo de saber sofre assim um forte impulso para estudar os seres vivos patológicos, os delinquentes e os aberrantes. Tanto mais que o interesse pelos tipos antropológicos anormais beneficia das potencialidades entretanto abertas na área criminal, criando novas oportunidades de trabalho, de carreira e de pesquisa para os médicos. Na transição do século XIX para o século XX, os nomes de referência e de maior projecção no estudo dos caracteres físicos do povo português vão por isso prolongar sistematicamente os suas investigações

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para a antropologia do subgrupo dos criminosos.Os presos apresentam a vantagem de constituírem uma “população” laboratorialmente estável, uma “matéria-prima” com baixos custos de investigação e um agrupamento que fornece dados suficientes para produzir conclusões de âmbito estatístico. Nesta fase, há, aliás, uma forte aposta no trabalho empírico de medição. O prolongamento da observação de esqueletos para a observação de seres vivos permite ampliar o número de observações, incentivando a passagem da abordagem monográfica para a análise comparada de colecções de factos. Os médicos incorporam progressivamente a apresentação dos resultados em tabelas e o uso da média aritmética como meio de síntese.

A distinção entre dois ou mais agrupamentos humanos passa a ser aferida pela diferença das respectivas médias, possibilitando, por exemplo, comparar os caracteres físicos dos minhotos e dos açorianos, ou os caracteres dos reclusos e da população “normal”. A concentração das frequências em torno dos valores médios tem um sentido epistémico profundo, pois revela que há causas constantes que asseguram a estabilidade dos dados. De forma inversa, qualquer instabilidade ou diferença entre médias prova que os agregados são afectados por causas diferentes. Deste modo não só as várias medições podem ser cotejadas entre si, como a média se torna o elemento constitutivo de diferenças intergrupais, consolidando o realismo estatístico dos agregados. As unidades de observação científica cristalizam-se consequentemente em agrupamentos funcionais do mundo, transformando as diversas colecções de indivíduos em classes biologicamente coerentes, mutuamente comparáveis, sociologicamente estáveis. A procura de regularidades nos tipos humanos secundariza o problema da dispersão estatística, do mesmo modo que a perspectiva linear da evolução secundariza a noção de ramificação e de variação aleatória. Os antropólogos descobrem aquilo que querem ver: a hierarquia dos homens na hierarquia dos seus caracteres físicos.

Na sequência destas mudanças, a estatística começa a produzir númerosde síntese que traduzem níveis superiores de abstracção através da agregação de várias médias. O estudo de cadáveres dá origem a apuramentos craniométricos de esqueletos e surgem as primeiras abordagens sistemáticas e quantificadas, patentes nas obras Tableau de Capacité Cranienne (1889) e Crime et Criminel (1892), de Ferraz de Macedo. Paralelamente a estes desenvolvimentos, o estudo de seres vivos evolui para a construção do índice cefálico da população portuguesa, isto é, para a compilação de um valor único capaz de representar a média dos índices de várias medições feitas à cabeça (diâmetro ântero-posterior, diâmetro transverso, capacidade cúbica). Com 1444 observações colhidas nas regiões de Portugal continental, Santana Marques está em condições de apresentar, no ano de 1898, o primeiro índice cefálico por distrito com a correspondente classificação craniométrica do povo lusitano – ultradolicocéfalos, dolicocéfalos, subdolicocéfalos, mesaticéfalos, sub-braquicéfalos, braquicéfalos, ultrabraquicéfalos (Marques 1898: 40).

Como a estatística da capacidade craniana é capaz de revelar os patamares da inteligência humana, os estudos antropométricos abrem a porta à história das civilizações: a estrutura craniana encerra o cérebro; o cérebro, a inteligência; a inteligência, o potencial de desenvolvimento.5 Destaca-se assim um argumento capaz de explicar as diferenças entre raças negras e raças brancas, entre nórdicos e mediterrâneos, entre orientais e europeus, entre

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homens e mulheres, pela justificação de caracteres biológicos que indiciam diferentes aptidões.

Entretanto, a adopção de métodos antropométricos torna-se uma plataformade convergência de diferentes concepções científicas. Numa tentativa de sistematização, podemos distinguir três correntes de pensamento que se cruzam com a tradição da antropologia física: o determinismo biológico; a teoria da degenerescência hereditária; a antropometria policial.

1.3Antropometria e sua utilização na ergonomiaA antropologia é a ciência da humanidade com a preocupação de

conhecer cientificamente o ser humano na sua totalidade (Marconi citado por SANTOS, 1997). Devido ao fato de ser um objetivo extremamente amplo que visa o homem como ser biológico, pensante, produtor de culturas e participante da sociedade, a antropologia se divide em dois grandes campos a antropologia física e a antropometria cultural. A antropologia física ou biológica estuda a natureza física do homem, origem, evolução, estrutura anatômica, processos fisiológicos e as diferenças raciais das populações antigas e modernas. Nesta situa-se a antropometria, com o objetivo de levantar dados das diversas dimensões dos segmentos corporais (SANTOS, 1997). A contribuição da ciência das medidas tem sido comentada muito na história das civilizações. Segundo ROEBUCK (1975), ao estatístico belga Quetelet é creditada a fundação da ciência e a invenção do próprio termo “antropometria” com a publicação em 1870 da sua obra Antropometrie que constitui a primeira pesquisa somatométrica em grande escala. A antropometria tem as suas origens na antropologia física que como registro e ciência comparada remonta-se ás viagens de Marco Polo (1273-1295), que revelou um grande número de raças humanas diferentes em tamanho e constituição e na antropologia racial comparativa inaugurada por Linné, Buffon e White no século XVIII, e demonstrava que haviam diferenças nas proporções corporais de várias raças humanas (PANERO e ZELNIK, 1991; ROEBUCK,1975).

No final do século XIX e início do século XX observou-se o desenvolvimento e a ampliação do interesse por estudos detalhados do homem vivo e as suas marcas no esqueleto. As estatísticas fornecidas pelos médicos militares de recrutas são de especial interesse pois relacionam as dimensões corporais com a ocupação (antropologia ocupacional). São notáveis os estudos realizados durante a Guerra Civil Americana, Primeira e Segunda Guerra Mundial.

Durante aproximadamente o mesmo período em que se estudou as dimensões corporais estáticas, um interesse no estudo dos movimentos foi desenvolvido. Em muitos estudos a ênfase foi no uso dos movimentos corporais no melhor desempenho do trabalho. Tal interesse, baseado na aplicação das ciências físicas em vez das ciências biológicas foi rapidamente classificada num grupo de atividades chamada engenharia.

Muitos estudos sistemáticos das dimensões do corpo humano do final dos 1800 e início dos 1900 tinham propósitos relacionados com produtos comerciais, registros médicos ou seleção militar. Muitas pesquisas antropológicas militares foram direcionadas para o estabelecimento dos efeitos das dimensões corporais na construção e utilização de equipamento militar. Estes estudos eventualmente auxiliaram na convergência das disciplinas tais como psicologia, antropologia, fisiologia e medicina com engenharia. A síntese

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de tudo isso, veio mais tarde se chamar engenharia humana nos Estados Unidos e ergonomia na maioria dos outros países. A área deste trabalho que envolve as dimensões corporais foi chamado por Randal de antropologia física aplicada (ROEBUCK, 1975).

A necessidade da integração das ciências da vida para aplicações de engenharia foi colocada em evidência durante a Segunda Guerra Mundial que criou uma nova série de problemas que envolvem o homem, a máquina e o meio ambiente. Em adição a tais problemas como a definição das dimensões de roupas para a tropa, um grande número de acidentes na operação de aeronaves apontou a necessidade do estudo da suas causas. Diversos profissionais foram consultados para estudar as ações do homem sob o estresse de voar e encontraram que a complexidade dos modernos equipamentos militares foram concebidos fora das capacidades do homem para operá-los. Entre outros problemas,foi encontrado que as cabines eram freqüentemente muito pequenas para muitos pilotos dificultando ou impedindo muitos movimentos. O estudo das dimensões corporais tomou renovado interesse quando foi constatado que havia poucos dados confiáveis dos tamanhos dos pilotos militares que auxiliasse na resolução desses problemas. Após a Segunda Guerra Mundial a ênfase em adaptar a máquina ao homem tornou-se melhor desenvolvida com objetivos comerciais e militares levando em consideração não apenas as medidas corporais mas também os fatores fisiológicos e psicológicos envolvidos.

Se na década de 40 as medidas antropométricas procuravam determinar as médias de uma população como peso, estatura, etc. Hoje o interesse principal está centrado nas diferenças entre grupos e as influência de variáveis como raça, região geográfica e a cultura. Toda população é constituída de indivíduos diferentes e até há pouco tempo havia a preocupação para estabelecer padrões nacionais, porém com a crescente internacionalização da economia, alguns produtos são vendidos no mundo todo, como por exemplo os computadores, automóveis e aviões. Isto contribuiu para que se pensa-se mais amplamente. Ao se projetar um produto deve-se pensar que os consumidores podem estar espalhados por muitos países. Embora não existam medidas confiáveis para a população mundial, grande parte das medidas disponíveis são oriundas de contingentes das forças armadas o que limita bastante pois esta população caracteriza-se por ser predominantemente do sexo masculino, na faixa dos 18 aos 30 anos e que atenderam aos critério para recrutamento militar como peso e estatura mínimos (ROEBUCK, 1975;IIDA, 1991; PANERO e ZELNIK, 1991).

A Revolução Industrial focou suas atividades no mercado de massas e as medidas de saúde de massas, isto, devido à necessidade de aplicar as medidas do homem para desenvolvimento de produtos para a produção em massa. A noção de “normalidade” na proporção e tamanho foi gradualmente substituída por tabelas estatísticas. Desde 1940 na 1970 houve um aumento significativo da necessidade das dimensões corporais na área industrial. Esta tendência tem sido particularmente forte na indústria aeronáutica, onde peso e tamanho constituem fatores críticos na performance e economia das aeronaves(ROEBUCK, 1975).

Sempre que possível e justificável, deve-se realizar as medidasantropométricas da população para a qual está sendo projetado um produto ou equipamento, pois equipamentos fora das características dos

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usuários podem levar a estresse desnecessário e até provocar acidentes graves. Normalmente as medidas antropométricas são representadas pela média e o desvio padrão, porém a utilidade dessas medidas depende do tipo de projeto em que vão ser aplicadas (IIDA, 1991).

Um primeiro tipo de projeto pode ser considerado como sendo para o tipo médio. O homem médio ou padrão é uma abstração, pois poucas pessoas podem ser consideradas como padrão, porém uma cadeira construída para a pessoa média, vai provocar menosincômodos para os muito grandes e para os muito pequenos do que se fosse feita para um gigante ou para um anão. Não será ótimo para todas as pessoas, mas causará menos inconvenientes do que se fosse feita para pessoas maiores ou menores em relação à média.

Projetos para indivíduos extremos. Uma saída de emergência projetada pela média,provavelmente não permitiria que um indivíduo grande saía, ou num determinado painel de controle projetado para a população média uma pessoa baixa poderia não alcançar. Nestes casos aplica-se o projeto para indivíduos extremos, maior ou menor dependendo do fator limitativo do equipamento. Deve-se tentar acomodar pelo menos 95% dos casos.

Projetos para faixas da população. São equipamentos normalmente desenvolvidos para cobrir a faixa de 5 a 95% de uma população. Por exemplo bancos e cintos de automóveis. Desenvolver produtos para 100% de uma população apresenta problemas técnicos e econômicos que não compensam.

Projetos para o indivíduo. São produtos projetados especificamente para um indivíduo. São raros no meio industrial. É o caso dos aparelhos ortopédicos, roupas feitas sob medida. Proporciona melhor adaptação entre o produto e o usuário mas aumentam o custo e só são justificáveis em casos onde a possibilidade de falha teria conseqüências que deixariam o custo muito maior como as roupas dos astronautas, corredores de fórmula 1,etc.

Do ponto de vista industrial, quanto mais padronizado for o produto, menores serão seus custos de produção e de estoque. O projeto para a média é baseado na idéia que isso maximiza o conforto para a maioria. Na prática isso não se verifica. Há diferença significativa entre as médias de homens e mulheres, e a adoção de uma média geral acaba beneficiando uma faixa relativamente pequena da população, cujas médias caem dentro da média adotada.Nos casos onde há uma predominância de mulheres, deve-se adotar a média feminina, pois isso proporcionará conforto para essa maioria. Até a década de 50 os automóveis eram dimensionados para motoristas do sexo masculino, à medida que foi aumentando o número de mulheres na direção de veículos, tornou-se necessário fazer uma adaptação ao projeto, aumentando a faixa de ajustes do banco.

Em muitas circunstâncias há necessidade de se combinar medidas máximas masculinas com medidas mínimas femininas como é o caso das saídas de emergência que devem ser projetadas para comportar pelo menos até o percentil 95 masculino. Os locais de trabalho onde devem trabalhar homens e mulheres geralmente são dimensionados pelo mínimo, isto é, o percentil 5 das mulheres.

Uma das grandes aplicabilidade das medidas antropométricas na ergonomia é no dimensionamento do espaço de trabalho. IIDA (1991), define espaço de trabalho como sendo o espaço imaginário necessário para realizar os movimentos requeridos pelo trabalho. O espaço de trabalho para um jogador de futebol é próprio campo de futebol e até uma altura de 2,5 m (que é

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a altura de cabeceio). O espaço de trabalho de um carteiro seria um sólido sinuoso que acompanha a sua trajetória de entregas e tem uma seção retangular de 60 cm de largura por 170 de altura. Porém a maioria das ocupações da vida moderna desenvolve-se em espaços relativamente pequenos com o trabalhador em pé ou sentado, realizando movimentos relativamente maiores com os membros do que com o corpo e onde devem ser considerados vários fatores como: postura, tipo de atividade manual e ovestuário.

Dentro do espaço de trabalho as superfícies horizontais são de especial importância, pois sobre ela que se realiza grande parte do trabalho. Na mesa de trabalho os equipamentos devem estar corretamente posicionados dentro da área de alcance que corresponde aproximadamente a 35 – 45 cm com os braços caídos normalmente e de 55 a 65 cm com os braços estendidos girando em torno do ombro. A altura da mesa também é muito importante principalmente para o trabalho sentado sendo duas varáveis as responsáveis para a determinação da sua altura, a altura do cotovelo que depende da altura do assento e o tipo de trabalho a ser executado. A altura da mesa resulta da soma da altura poplítea e da altura do cotovelo. Com relação ao tipo de trabalho deve-se considerar se este será realizado a nível da mesa ou em elevação.

O assento é provavelmente, uma das invenções que mais contribuiu para modificar o comportamento humano. Muitas pessoas chegam a passar mais de 20 horas por dia na posição sentada e deitada. Daí o grande interesse dos pesquisadores da ergonomia com relação ao assento. Na posição sentada, o corpo entra em contato com o assento só através da sua estrutura óssea. Esse contato é feito através das tuberosidades isquiáticas que são recobertas por uma fina camada de tecido muscular e uma pele grossa, adequada para suportar grandes pressões. Em apenas 25 cm2 de superfície concentra-se 75% do peso total do corpo. Com relação aos assentos, deve-se observar os seguintes princípios gerais: 1) existe um assento adequado para cada tipo de função, 2) as dimensões do assento devem ser adequadas às dimensões antropométricas, 3) o assento deve permitir variações de postura, 4) o encosto deve ajudar no relaxamento, 5) assento e mesa formam um conjunto integrado (IIDA, 1991).

Existem inúmeros dados antropométricos que podem ser utilizados na concepção dos espaços de trabalho, mobília, ferramentas e produtos de forma geral, na maioria dos casos pode-se utilizá-los no projeto industrial (SANTOS, 1997). Contudo, devido a abundância de variáreis, é importante que os dados sejam os que melhor se adaptem aos usuários do espaço ou objetos que se desenham. Por isso, há necessidade de se definir com exatidão a natureza da população que se pretende servir em função da idade, sexo, trabalho e raça. Muitas vezes quando o usuário é um indivíduo ou um grupo reduzido de pessoas e estão presentes algumas situações especiais, o levantamento da informação antropométrica é importante, principalmente quando o projeto envolve um grande investimento econômico (PANERO e ZELNIK, 1991).

Embora muitas das aplicações de engenharia utilizam técnicas desenvolvidas pelos primeiros antropologistas, tem ocorrido muitas mudanças na formas de obter dados e principalmente nos instrumentos desenvolvidos para atender a necessidades específicas. Em especial a necessidade de estabelecer relações espaciais em coordenadas tridimensionais foi

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desenvolvida como aplicação da antropometria na engenharia. Os engenheiros devem saber trabalhar não somente com os comprimentos do corpo mas também saber onde eles estão localizados durante a atividade física. A antropometria possui uma importância muito grande no planejamento do posto de trabalho e no desenvolvimento de projetos de ferramentas e equipamentos. As relações entre antropometria clássica, a biomecânica e engenharia antropométrica são tão estreitas e interrelacionadas que é difícil e muitas vezes desnecessário delimita-las. A antropologia física é obviamente a base para cada uma delas e a designação do ambiente humano para atender as suas dimensões e atingir as suas capacidades é o resultado (ROEBUCK, 1975).

Durante os últimos anos, o desenvolvimento dos computadores permitiu um melhor tratamento dos dados obtidos em grandes levantamentos e permitiu o desenvolvimento de modelos matemáticos dos fenômenos antropométricos. No futuro, certamente as atividades antropométricas continuarão no estudos de características populacionais e das condições de conforto destas. Com a melhor definição das variáveis antropométricas talvez menos pessoas ficarão descontentes por pertencer aos grupos que ficam abaixo do percentil 5 e acima do percentil 95. Nas áreas de tecnologia avançada haverá um aumento da precisão e automatização das técnicas de medida com o desenvolvimento de “scaners” para uma melhor definição do tamanho humano e da mecânica do espaço de trabalho, roupas equipamentos e ferramentas.

Quem sabe um dia observaremos a antropometria instantânea para o desenvolvimento de roupas, cadeiras e extensões eletromagnéticas dos sentidos do homem“sob medida”. Dentro da engenharia antropométrica o estabelecimento de relações espaciais em coordenadas tridimensionais pode fornecer descrições detalhadas das superfícies corporais e uma variedade de novos fenômenos podem ser investigados como a localização de ossos, órgãos vitais e outras estruturas para a confecção de próteses, reconstrução de órgãos ou então para a aplicação de procedimentos diagnósticos a distância ou por controle remoto. Em todas essas atividades, o problema básico será a definição numérica da forma humana e as características físicas que estão relacionadas com a engenharia antropométrica.

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1.4 Influencia do Clima e da época nas proporções corporais.

Influência da época.

As medidas antropométricas de um povo podem modificar-se com a época, pois as alterações nos hábitos alimentares, saúde e a prática de esportes podem fazer as pessoas crescer. Esse crescimento é mais pronunciado quando povos sub-alimentados passam a consumir maior quantidade de proteínas. Já se observou, por exemplo, crescimento de até 8cm na estatura média de homens de uma população em apenas uma década. O acompanhamento da estatura de recrutas holandeses durante um século, no período 1870-1970, demonstrou um crescimento médio de 14 cm e, além disso, constatou-se que esse processo está se acelerando (Fig. 6.5). A taxa de crescimento médio anual entre 1870 a 1920 foi de 0,9 mm ao ano e passou para 1,6 mm/ano nas quatro décadas seguintes e finalmente, para 3,0mm/ano na década de 60. Isso provavelmente é devido a crescente melhoria das condições de vida desse povo.

Uma população pode crescer ~20mm/ano. Alterações nos hábitos alimentares; saúde e prática de atividade física

relacionam-se com aumento da estatura (tendência secular).

Influência do clima nas proporções corporais.

Os povos que habitam regiões de clima quente têm o corpo mais fino a os membros superiores e inferiores relativamente mais longos. Aqueles de clima frio têm o corpo mais cheio, são mais volumosos e arredondados. Em

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outras palavras, os povos de clima quente têm corpo onde predomina a dimensão linear, enquanto os de clima frio tendem para formas esféricas. Parece que isso é o resultado de adaptação durante vários séculos, pois os corpos mais magros facilitam a troca de calor com o ambiente, enquanto aqueles mais cheios têm maior facilidade de conservar o calor do corpo.

Influência do Clima

Regiões QuentesCorpo Fino e Membros

Longos(Dimensão Linear), que proporciona trocas de calor

Regiões Frias,Corpo Robusto(Dimensão Esférica), que proporciona a conservação de

calor.

1.5 Dados Antropométricos Estáticos e Dados Antropométricos Dinâmicos.

As características antropométricas da população utilizadora sãodistinguidas por dois tipos de dados.

Primeiro existem os dados antropométricos estáticos (também conhecidos como estruturais) que dizem respeito às dimensões estruturais fixas do corpo humano. Alguns exemplos incluem a estatura, a altura do ombro (ou mais corretamente a altura acromial), e a altura do olho (que é

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normalmente utilizada como ponto de referência para a concepção de tarefas visuais).

O segundo tipo de dados antropométricos são os dinâmicos, ou funcionais. Como o título mostra estes dados são diferentes dos dados estáticos, pois a medida pode ser de uma extensão de movimento de uma articulação ou da força das várias acções da articulação. Estes dados também incluem a medida do alcance e espaço livre em condições operacionais.

Antropometria Estatística.

As dimensões estáticas são medidas feitas em posições corporaisfixas entre pontos anatómicos do esqueleto. O número de possíveismedidas é enorme. Um livro da NASA (1978) ilustra 973 destas medidas.Muitas delas estão relacionadas com o design especifico de certasAplicações, como por exemplo capacetes, e no design de espaços de trabalho o número de variáveis pode ser substancialmente reduzido. Na concepção de espaços de trabalho é necessário ter em conta as correcções para o vestuário de trabalho a utilizar. Os dados são utilizados para estabelecer as dimensões mínimas de certos factores como por exemplo o alcance, tamanho e forma da mão, etc.

Estes dados têm no entanto as suas limitações. Por exemplo, o limite prático para o alcance do braço não é o comprimento do ombro até á ponta do dedo porque os operadores empregarão outros movimentos articulares para ir além deste comprimento.

Concluindo, a antropometria estática é aquela em que as medidas se referem ao corpo parado ou com poucos movimentos. Ela deve ser aplicada ao projeto de objetos sem partes móveis ou com pouca mobilidade, como no caso do mobiliário em geral. A maior parte das tabelas existentes é da antropometria estática. O seu uso não é recomendado para projetos de máquinas ou postos de trabalho com partes que se movimentam. Nesse caso, deve-se recorrer à antropometria dinâmica.

Antropometria Dinâmica e Funcional.

Os dados de antropometria estática servem como uma primeira aproximação para o dimensionamento de produtos e locais de trabalho ou para os casos em que os movimentos corporais são pequenos. Porém, na maioria dos casos, as pessoas nunca ficam completamente paradas. Quase sempre estão manipulando, operando ou transportando algum objeto.

Se o produto ou local de trabalho for dimensionado com dados da antropometria estática, será necessário, posteriormente, promover alguns ajustes para acomodar os principais movimentos corporais. Ou, quando esses movimentos já são previamente definidos, pode-se usar os dados da antropometria dinâmica, fazendo com que o projeto se aproxime mais das suas condições reais de operação.

Um ajuste mais preciso pode ser realizado pela antropometria funcional, quando os movimentos corporais não são isolados entre si, mas diversos movimentos são realizados simultaneamente. Esses movimentos interagem

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entre si, modificando os alcances, em relação aos valores da antropometria dinâmica.

Curso Técnico de Segurança do Trabalho.

Fernanda Aparecida; Daniel Junior; Adriano; Eduarda; Wagner; Keyvin.

Fim!!!

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