comunicação pública e marketing político na administração pública

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães

Brasília/DF – 4, 5 e 6 de junho de 2012

COMUNICAÇÃO PÚBLICA E MARKETING POLÍTICO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

ESTUDO DOS CASOS DA UTILIZAÇÃO DOS SITES DAS PREFEITURAS

DE NATAL E MOSSORÓ Antônio Sérgio de Araújo Fernandes

Élida Raquel Mercês da Silva

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Painel 14/053 Experiências e mecanismos inovadores de governança democrática e gestão

COMUNICAÇÃO PÚBLICA E MARKETING POLÍTICONA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: ESTUDO DOS CASOS DA UTILIZAÇÃO DOS SITES DAS PREFEITURAS DE NATAL E MOSSORÓ

Antônio Sérgio de Araújo Fernandes

Élida Raquel Mercês da Silva

RESUMO A necessidade de dar respostas à demanda social por transparência no uso do dinheiro público, a crescente facilidade no acesso à informação e a necessidade de atendimento às atuais exigências legais têm levado gestores a investir na divulgação das ações administrativas. Os sites institucionais são canais cada vez mais utilizados na administração pública para este fim. Como espaço que viabiliza a troca de informações entre gestor e cidadão, também pode ser utilizado para ações de marketing político, em detrimento daquilo que realmente é de interesse público. Este artigo revela que a prática do marketing político ainda é uma constante nas administrações municipais, apesar da crescente publicação de peças de comunicação pública. Esta mudança é uma adaptação à nova configuração social que tem um cidadão com cada vez mais acesso à informação e, consequentemente, mais crítico e consciente dos seus direitos. O referencial teórico fundamentado em autores como Pierre Zémor e Philip Kotler, que discorreram sobre os temas abordados, permite a definição dos parâmetros de análise utilizados na caracterização das matérias publicadas na seção de notícias dos sites das Prefeituras de Natal e Mossoró. Palavras-chave: Comunicação pública. Gestão pública. Informação de interesse público. Marketing político.

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1. INTRODUÇÃO

O Estado democrático brasileiro ainda é recente. Estruturado com base

em uma Constituição com menos de 25 anos, ainda enfrenta dificuldades quando se

fala em mudança de comportamento e adequações à legislação vigente. No setor

público ainda há limitações dos detentores de cargos públicos sobre a necessidade

de seguir as leis, deixando de lado práticas como o patrimonialismo. Maus hábitos

históricos, como esse, vão de encontro ao novo paradigma em vigor.

Exemplo desta apropriação do bem público em benefício próprio está no

uso que se faz dos meios de comunicação institucionais. Com o objetivo de

analisar se, aquilo que é dito pelo senso comum corresponde à realidade, bem

como contribuir para o avanço da pesquisa nesta área, este projeto se destina a

avaliar como se dá o processo da comunicação nos sites das Prefeituras Natal e

Mossoró, no Rio Grande do Norte. Os sites institucionais estão servindo como

ferramenta de marketing político ou, de fato, são utilizados como instrumentos de

comunicação pública?

O fato de as pessoas estarem mais bem informadas permite a elas opinar,

participar dos fatos que impactam a sociedade e, portanto, fortalecer a cidadania. Este

é o objetivo e o desafio de garantir o acesso à informação aos cidadãos acerca dos

serviços e bens públicos. Porém, obriga os detentores de mandatos eletivos a

responder às demandas de uma sociedade cada vez mais crítica.

A pesquisa tem fundamentação teórica o trabalho de autores como Jorge

Almeida, Pierre Zémor, João Roberto Vieira da Costa, Renato Costa Dias, Jorge

Duarte, Rubens Figueiredo, Philip Kotler, Maria José da Costa Oliveira, dentre

outros, que discorrem sobre Comunicação Pública e Marketing Político. Este

referencial possibilitou a caracterização das matérias publicadas nas seções de

notícias dos sites.

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2. OBJETIVOS E METODOLOGIA

A pesquisa verificou como se dá o uso da seção de notícias dos sites das

Prefeituras de Natal (http://www.natal.rn.gov.br/) e Mossoró

(http://www.prefeiturademossoro.com.br). Com base no referencial teórico, foram

caracterizados como material representativo da Comunicação Pública aquele que

abordou temas referentes à prestação de contas sobre uso do dinheiro público;

melhoria na qualidade de vida; influencia na mudança de hábitos; busca pelo

engajamento da população em políticas públicas adotadas pela administração

municipal; divulgação de serviços de interesse coletivo; orientação pedagógica do

cidadão para garantir melhores condições de vida da sociedade. Para

caracterização da utilização da ferramenta como instrumento de Marketing Político

foram levados em conta aspectos como personalização das atividades

administrativas; publicidade pessoas em detrimento dos serviços e da instituição.

Ou seja, partindo do pressuposto que o exercício do cargo público tem

como objetivo servir aos interesses da sociedade entende-se que os

administradores devem ser orientados com base no princípio administrativo da

impessoalidade. Seguindo este princípio, os atos públicos, bem como a divulgação

dos mesmos, devem ser atribuídos à instituição e não ao gestor, que é um

representante temporário do povo, conforme disposto pela Constituição Federal,

no artigo 37o.

A Carta Magna proíbe a promoção pessoal de autoridades e de

servidores públicos na publicidade dos atos públicos, campanhas, serviços, obras e

programas. Esta publicidade deve ter caráter educativo, informativo e de orientação

social. Com base no exposto, os responsáveis pelas publicações na seção de

notícias dos sites institucionais devem seguir essas orientações na formatação da

informação a ser exposta na referida área do veículo virtual, de acordo com as

regras do fazer jornalístico que preconizam a objetividade dos fatos e a resposta às

perguntas que compõem o lead, na apresentação do texto.

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Em termos metodológicos, este projeto caracteriza-se como um tipo de

estudo qualitativo descritivo, visto que está focado na descrição, análise e

caracterização do processo de produção diária de matérias nos sites institucionais

das Prefeituras de Natal e Mossoró, no período de agosto a outubro de 2011, a um

ano das eleições municipais.

Este é um estudo de casos, se trata de uma pesquisa exploratória, de

modelo fechado de categorias, tendo o princípio da impessoalidade, assim como a

objetividade jornalística, como condutores da análise de conteúdo. As matérias que

fizerem uso das informações de interesse público para promoção pessoal e/ou de

pessoas ligadas aos governantes foram classificadas como Marketing Político.

As cidades foram escolhidas por serem as duas principais do RN, tanto

em termos administrativos, quanto político-eleitoral. Natal é a capital do RN e, de

acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), conta com população de 803.739 habitantes, área de 167.160 km² e

densidade demográfica 4.808,3 hab/km². De acordo com as estatísticas das

eleições de 2010 feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cidade registra

524.497 eleitores.

Mossoró é considerada a capital da região Oeste do Estado e o segundo

domicílio eleitoral, segundo os dados estatísticos do TSE em 2010, com 159.030

eleitores. O Censo de 2010 do IBGE revela que o Município tem população

com 259.815 habitantes, área de 2.099,388km² e densidade demográfica

de 123,76 hab/km².

O número de habitantes de Natal e Mossoró somados representa pouco

mais de 33% do total do Estado, enquanto que o número de eleitores é de 30% dos

registrados no RN. Com base nisso justifica-se a escolha das duas cidades, por

agruparem e representarem um terço da vida administrativa e político-eleitoral

do Estado.

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3. CONCLUSÃO

A análise do conteúdo das matérias publicadas nos sites das Prefeituras

de Natal e Mossoró no período de agosto a outubro de 2011 revelou um alto índice

de peças caracterizadas como Marketing Político, prova de que a prática

patrimonialista ainda persiste em nossa sociedade. Das 846 matérias publicadas nos

dois portais institucionais, 231 delas, ou seja, 27,3% têm caráter personalista, de

autopromoção e, de uma forma ou de outra, atribuem à pessoa do gestor o êxito de

ações administrativas, com o objetivo de exaltar a pessoa e, consequentemente,

mantê-la no poder.

Esta prática, além de ferir a legislação brasileira, vai de encontro ao fim

da ferramenta de comunicação pública, tendo em vista que os sites são veículos

institucionais. É inegável a apropriação indevida da coisa pública visando à

promoção política dos gestores.

Mesmo o volume de matérias caracterizadas como comunicação pública

superior a dois terços do total, ainda é possível constatar a falta de preocupação ao

estímulo à participação da sociedade na gestão. Poucos são os casos de divulgação

de atividades às quais a população é convidada a debater sobre a elaboração de

políticas públicas, assim como quase nada se viu de ações dos gestores em

decorrência das necessidades expressadas pelos moradores. Os canais de troca de

informação ainda são escassos e pouco eficazes, tanto em Natal como em Mossoró.

Em Mossoró, a produção pode ser considerada quantitativamente como

ínfima, tendo em vista que o número de matérias publicadas em três meses é a

mesma quantidade que é publicada por Natal em apenas um mês. Porém,

quantidade nem sempre quer dizer qualidade e, os textos produzidos pela Secretaria

de Comunicação de Mossoró revelam maior preocupação com informações de

interesse público, se comparado ao material publicado pela Prefeitura de Natal. Isso,

quando falamos nas matérias caracterizadas como comunicação pública, pois a

média de peças de marketing político publicadas no site de Mossoró superou a

média total chegando a 34%.

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O fato é que a demanda social está imprimindo uma nova forma

de pensar e agir aos gestores públicos. A necessidade de transparência

administrativa e o fortalecimento da gestão participativa comprovam a máxima de

que informação é poder.

A análise aqui realizada revela que, para que este processo de extinção

de práticas patrimonialistas da estrutura pública seja acelerado, é fundamental o

acompanhamento constante daquilo que é feito na administração pública. Se a

classe política não demonstra interesse em realizar mudanças significativas no País,

cabe ao cidadão tomar para si a responsabilidade de, pouco a pouco, garantir que

estas mudanças sejam feitas, seja a partir da cobrança pela oferta de serviços

públicos de qualidade, seja no voto consciente, na efetivação de denúncias à Justiça

de possíveis irregularidades, e mesmo na organização de grupos sociais de

controle. Os políticos dependem dos cidadãos e a consciência disso, bem como a

mudança no comportamento da sociedade, leva os detentores de mandatos eletivos

a buscar formas de atender às expectativas da sociedade. Paulatinamente, os

gestores públicos perceberão – ao menos é o que se espera – que o exercício da

cidadania e a prática da comunicação pública eficiente representam campanhas de

marketing político muito mais eficazes do que as peças publicitárias.

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AUTORIA

Antônio Sérgio de Araújo Fernandes – Professor DSc. do Programa de Pós-Graduação em Administração da UFRN, Natal/RN – Brasil.

Endereço eletrônico: [email protected] Élida Raquel Mercês da Silva – Aluna do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Administração da UFRN, Natal/RN – Brasil.

Endereço eletrônico: [email protected]