comunicação política via internet nas eleições presidenciais da costa do marfim

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BADOU KOFFI ROBERT Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Marketing Político e Propaganda Eleitoral São Paulo 2012

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Page 1: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

BADOU KOFFI ROBERT

Comunicação política via internet nas eleições

presidenciais da Costa do Marfim

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes

Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Marketing Político e Propaganda

Eleitoral

São Paulo

2012

Page 2: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

BADOU KOFFI ROBERT

Comunicação política via Internet nas eleições

presidenciais da Costa do Marfim

Monografia apresentada à Banca Examinadora da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Marketing Político e Propaganda Eleitoral, sob a orientação da Profa. Dra. Katia Saisi.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes

Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Marketing Político e Propaganda

Eleitoral

São Paulo

2012

Page 3: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

DEDICATÓRIA

Ao meu filho Yannick, por ter nascido e trazido tanto amor e tanta alegria à

minha vida.

À mãe Marie, minha força.

À Michele, minha esposa, minha companheira e amiga.

Aos meus irmãos e irmãs: Yvette, Arsène, Roméo, Sylvana, Marie-Thérèse e

Lewis. A luta continua.

Ao meu pai e amigo.

Page 4: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Ivan Santos Barbosa que me deu a oportunidade de cursar esta

especialização que muito contribuiu para o meu crescimento científico e

intelectual. Muito aprendi e continuo aprendendo. O meu agradecimento será

eterno.

À Profa. Dra. Katia Saisi. Obrigado pelo apoio, pela paciência e compreensão.

Sou-lhe muito grato pelas palavras incentivadoras que me levaram a

conclusão deste trabalho.

À Sueli pela sua dedicação no trabalho. Pela ajuda acadêmica e apoio moral

que recebi em momentos difíceis.

A todo o corpo docente do curso pelas aulas ministradas.

Aos professores da Banca, por terem aceitado avaliar o meu trabalho.

Page 5: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Eu sempre soube que dava para vencer a campanha

do referendo. Bastaria que deixassem a gente fazer

bem-feito, sem interferências, sem palpites, sem

“achômetros”, que a vitória estaria inevitavelmente ao

nosso alcance. (SANTA RITA, 2008: 33).

Page 6: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

2 TRAJETÓRIA HISTÓRICA, SOCIOPOLÍTICA E ECONÔMICA .................. 16

2.1. O PROCESSO DE POVOAMENTO DA COSTA DO MARFIM...................18

2.2. MIGRAÇÕES E DIVERSIDADE SOCIAL .................................................. 22

2.3. TRAJETÓRIA SOCIOPOLÍTICA ............................................................... 23

2.3.1. LUTA PELO PODER E CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS ...... 25

2.3.2. O CONCEITO DE IVOIRITÉ .................................................................. 27

2.4. CRONOLOGIA DE UMA CRISE: DE 2002 A 2010 ................................... 28

2.5. CONTEXTO SOCIOECONOMICO: DA PROSPERIDADE A CRISE

ECONOMICA ................................................................................................... 30

3. O SISTEMA POLÍTICO-PARTIDÁRIO E AVANÇOS DEMOCRÁTICOS .... 36

3.1. PODERES E PLURALISMO POLÍTICO .................................................... 36

3.2. O PODER EXECUTIVO ............................................................................ 37

3.3. O PODER LEGISLATIVO .......................................................................... 39

3.4. O PROCESSO ELEITORAL MARFINENSE ............................................. 40

3.4.1. AS INSTITUIÇÕES RESPONSÁVEIS PELAS ELEIÇÕES NA COSTA DO

MARFIM ........................................................................................................... 41

3.4.1.1. A COMISSÃO ELEITORAL INDEPENDENTE .................................... 41

3.4.1.2. O CONSELHO CONSTITUCIONAL .................................................... 42

4. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010 E A CRISE PÓS-ELEITORAL . 43

5. COMUNICAÇÃO POLÍTICA E INTERNET .................................................. 51

5.1. A INTERNET E O ESPAÇO PÚBLICO MARFINENSE ............................. 52

5.2. DADOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS ......................................... 53

Page 7: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

6. A COMUNICAÇÃO POLÍTICA VIA INTERNET ........................................... 55

6.1. OS SITES .................................................................................................. 55

6.2. OS BLOGS, CHAT E GRUPOS DE DISCUSSÃO .................................... 59

7. A COMUNICAÇÃO POLÍTICA E A INTERNET NAS ELEIÇÕES DE 2010 60

7.1. O CONTEUDO DOS SITES ...................................................................... 60

7.1.1. MILITANTES E ELEITORES COMO INTERNAUTAS............................ 61

7.1.2. OS LINKS ............................................................................................... 63

8. BALANÇO E PERSPECTIVAS ................................................................... 65

8.1. BALANÇO DA INTERNET NAS ELEIÇÕES DE 2010 .............................. 65

8.1.1. INFORMAR EM VEZ DE COMUNICAR ................................................. 66

8.1.1.1. UMA ADAPTAÇÃO DIFÍCIL ................................................................ 67

8.1.1.2. DIFICULDADES LIGADAS À WEB ..................................................... 68

8.2. INICIATIVAS POSITIVAS A REFORÇAR ................................................. 70

8.3. PERSPECTIVA ......................................................................................... 72

8.3.1. RENOVAÇÃO POLÍTICA E COMPROMISSO COMUNICACIONAL ..... 72

8.3.2. O EXEMPLO AMERICANO .................................................................... 74

9. CONCLUSÃO .............................................................................................. 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 79

ANEXOS .......................................................................................................... 82

Page 8: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEI: Comissão Eleitoral Independente

FN : Forces Nouvelles

FPI : Front Populaire Ivoirien

PDCI : Parti Démocratique de Côte d’Ivoire

RDR : Rassemblement des Républicains

RGPH : Recensement Général de la Population et de l’Habitat

Page 9: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

RESUMO

Ao contrário do que se pode imaginar com relação ao ambiente político no continente africano, e principalmente na Costa do Marfim, caracterizado pelo contexto antidemocrático, a comunicação política vem se desenvolvendo e teve nos últimos anos um crescimento bastante significativo. Ela sempre se fez a partir de modelos americanos e europeus e principalmente franceses. Hoje com o amplo crescimento das novas tecnologias de comunicação no país, as eleições presidenciais de 2010 não poderiam acontecer sem o uso da Internet. É, portanto importante refletir sobre o seu uso adequado ou não durante as eleições, apresentando o quadro em que ele serviu de ferramenta para a comunicação política, fazendo um balanço e desenhando possíveis perspectivas para eleições futuras.

Palavras-chaves: Comunicação Política, Internet, Eleições 2010, Costa do Marfim.

Page 10: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

ABSTRACT

Despite of what is thought regarding the political environment in the African continent, and mainly at Ivory Coast, characterized by the anti-democratic context, the political communication is being developed and had a very significant growth in the last years. It was always made from American and European models and mainly the French model. Today, with the wide growth of new communication technologies in the country, the 2010 presidential elections could not happen without the use of the Internet. Therefore, it is important to reflect about its appropriate use or not during the elections, presenting the image that was used as tool for the political communication, making an assessment and drawing possible perspectives for future elections.

Key Words: Political Communication, Internet, 2010 Elections, Ivory Coast.

Page 11: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

1. INTRODUÇÃO

A Internet, nova ferramenta de comunicação, oferece novas oportunidades,

mas também impõe novas exigências. Parece, portanto interessante marcar um

tempo para analisar as mudanças radicais devido ao seu aparecimento - na Costa

do Marfim e principalmente a sua entrada no cenário político e no processo eleitoral

marfinense.

Os termos do tema “Comunicação política, Internet e eleições presidenciais

na Costa do Marfim” merecem uma explicação detalhada. Pois analisados de

maneira separada, é fácil entender cada um dos termos. Portanto trata-se de saber

como os políticos marfinenses comunicaram na Internet durante as eleições de

2010, no contexto de crescimento dessa nova ferramenta de comunicação. Será o

uso da Internet para fins de comunicacionais no período eleitoral foi adequado,

eficiente? Quais seriam os motivos para este uso sabendo que há poucos usuários

desta ferramenta no país? Resumindo, como é que os protagonistas do cenário

político marfinense entenderam a Internet, e a sua importância para a comunicação

política no processo eleitoral de 2010?

Após esses esclarecimentos iniciais, cabe definir o campo de estudo deste

trabalho.

Entendemos como protagonistas do cenário político, os candidatos a

presidente da república e seus respectivos partidos, assim como os militantes e

eleitores e cidadãos marfinenses. Afinal, os eleitores e cidadãos constituem os alvos

da comunicação política clássica. Com a Internet, um número crescente de cidadãos

tornam-se atores políticos, tendo os meios de expressões diversificados e potentes.

Há evidentemente outros protagonistas do cenário político que poderiam

Page 12: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

também encontrar seu lugar neste estudo: trata-se de fato das instituições do estado

tai qual, a Assembleia Legislativa, o conselho Constitucional, mas a referência a eles

será breve e constará apenas na primeira parte do nosso trabalho quando falaremos

do ambiente político marfinense. É preciso salientar o fato que a comunicação

destas instituições mesmo política, não se encaixa naquela feita por partidos

políticos e seus candidatos durante as eleições, por ela não ser partidária. A

comunicação destas instituições continua política, pois o trabalho delas diz respeito

à gestão da sociedade no sentido amplo do termo com atividades como a publicação

de leis, emendas, decisões judiciais etc. Esta comunicação não pode ser partidária,

embora as leis e outras emendas publicadas sejam o resultado dos trabalhos e da

votação de eleitos destas instituições, que agem conforme as suas próprias

convicções e aspirações.

Além disso, analisar a comunicação destas instituições via Internet seria

abandonar a ideia principal que é pensar o uso da Internet durante a campanha

presidencial de 2010. E dizer também que, além da instituição dirigida pelo primeiro

ministro, não há outra instituição marfinense presente na Internet. Portanto, não

haveria como avaliar o uso que elas fariam.

No que se refere a internet, há debates importantes que se opõem: os que

acreditam que a internet seria uma nova mídia de massa, e outros que acham que é

apenas uma mídia elitista, isto é, não como um meio de informação de primeira mão,

mas um meio utilizado para levar fatos e argumentos suplementares a um público

alfabetizado e sensibilizado. No entanto, é evidente que para a internet se tornar um

novo espaço de reivindicações e de ativismo político, é necessário que seja

acessível a todos. Isso nos leva a questionar a estrutura da Internet e sua finalidade.

A internet teria a mesma estrutura que as mídias tradicionais sob uma forma, ou a

Page 13: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

internet seria uma mídia de tipo diferente, mais orientada para a era da comunicação

e participação, e não uma mera informação? Outra hipótese apresentada é que a

internet seria uma nova mídia, devido ao seu surgimento e desenvolvimento

relativamente recentes, mas também pela sua própria natureza e as questões que a

rede suscita em nível mundial.

Para nós, não há debate possível sobre o fato de a internet ser uma nova

mídia, e é mesmo essa novidade que caduca o debate que opõe os que acham que

é uma mídia elitista e aqueles que a consideram uma mídia de massa. E como

qualquer novidade, ela nasce elitista: o equipamento necessário para ter acesso e

os preços da assinatura – que desde o seu surgimento no mercado tem caído de

maneira progressiva – somado as dificuldades da aprendizagem e do uso da

informática não foram fora de alcance para muitos usuários potenciais. Mas com o

passar do tempo, seu uso está começando a se espalhar, se já não se espalhou, e

se tornará um meio de comunicação de massa. É o que confirma a maioria das

pesquisas feitas a este respeito sobre o número e a qualidade dos internautas. No

caso da Costa do Marfim falaremos dos últimos números apresentados por agências

especializadas. Para nós, não há sombra de dúvidas, a internet é mesmo uma mídia

de massa e não se pode negligenciar a sua importância em uma comunicação

política. É esse posicionamento que teremos ao decorrer do no nosso trabalho.

Com base apenas nas realidades do uso da web pelos políticos, podemos

pensar que o uso mais ou menos recente desta mídia e, especialmente, a sua

democratização, chamaram a atenção dos políticos em geral. Nestas circunstâncias,

é compreensível entender porque os políticos marfinenses e principalmente os

candidatos às eleições presidenciais, seus respectivos partidos, os militantes e

eleitores invadiram a rede para torná-la um palanque eletrônico durante as eleições.

Page 14: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

As eleições de 2010 deram um espaço significativo para a internet. E mesmo quase

um ano e meio após as eleições a tendência é acreditar que a comunicação política

via web não existe apenas no período eleitoral. Talvez por causa da crise pós-

eleitoral que viveu o país, a vontade de querer comunicar e dar a sua versão dos

acontecimentos continua levando os marfinenses a usarem a web como nunca

antes.

Infelizmente, o empenho notável dos partidos e políticos no palanque

eletrônico durante as eleições nos leva a acreditar que a comunicação política via

web é feita apenas para o período eleitoral. A maioria dos partidos e candidatos

criaram sites para a campanha e logo após as eleições estes sites desapareceram. .

Pelo menos os dois principais candidatos objeto da análise na segunda parte do

nosso trabalho, tentam provar o contrário: o primeiro, o economista Alassane

Ouattara, atual presidente, continua na web por motivo de imagem e o segundo, o

ex-presidente Laurent Gbagbo, um dos ilustres detentos do tribunal penal

internacional continua na rede, por motivo de resistência e luta pela sua liberdade.

A Costa do Marfim, conforme veremos na primeira parte do trabalho, é um

país jovem apenas 52 anos como país independente, vive uma crise econômica e

sociopolítica desde os anos 80 e a partir da década de 90, essa crise se amplificou

com diversas questões em torno da identidade marfinense. Faremos num primeiro

momento uma apresentação do país, retraçando a sua trajetória histórica,

econômica e sociopolítica, para depois falar da crise no país e principalmente e o

seu auge com as eleições de 2010.

Na segunda parte do nosso trabalho, falaremos do uso da internet nas

eleições de 2010. Analisaremos de maneira concreta como ela foi utilizada pelos

dois principais candidatos durante e após as eleições. Num primeiro momento, a

Page 15: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

análise tratará dos conteúdos dos sites e páginas nas redes sociais dos dois

candidatos. Num segundo momento, o trabalho focará o balanço e perspectivas

sobre o desenvolvimento e as evoluções da comunicação política na Costa do

Marfim.

Por fim, diremos que as eleições presidenciais de 2010 foram revolucionárias

neste país “terceiro-mundista”. Notamos um grande avanço no cenário político

marfinense, com práticas comunicacionais semelhantes às dos países

desenvolvidos. A importante presença dos candidatos na rede, transformando-a no

palanque eletrônico. Também os diferentes debates entre candidatos na TV e

principalmente o debate entre o Alassane Ouattara e o Laurent Gbagbo na véspera

da eleição, foram determinantes para o país. Isso demonstra o quão importante é a

comunicação política. Se não há dúvidas quanto ao uso desta comunicação na

arena política marfinense, a novidade das últimas eleições com o uso da internet

consolida de fato o avanço no “fazer política” na Costa do marfim. As análises, a

partir do quinto item, feitas sobre o uso da internet durante todo o processo eleitoral,

provaram que apesar da queda da comunicação política via website observada após

este período, esta ferramenta de comunicação veio para ocupar espaço e influenciar

a relação entre partidos políticos, candidatos e eleitores, cidadãos que como

internautas se tornaram hoje verdadeiros cabos eleitorais .

Page 16: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

2. TRAJETÓRIA, HISTÓRICA, SOCIOPOLÍTICA E ECONÔMICA

A Costa do Marfim, “ex-colônia” francesa, assim como a maioria dos países

africanos conforme estatísticas oficiais, tem uma diversidade de grupos étnicos que

se aproxima dos 63. Já nos anos 1840, a Costa do Marfim era dominada pela

França. Por volta dos anos 1888, se tornou protetorado, e foi estabelecida como

colônia autônoma em 1893. Nessa época, ainda não se falava em autoridade

central. O poder político era mantido por chefias tradicionais e tribos, sem ligações

nenhumas entre eles. O passado colonial comum a esses povos teria como

consequência o surgimento de uma consciência nacional que se manifestou de

forma prática através de diversas ações de luta pela emancipação.

A vontade de se libertar da colonização levou de fato a calar todas as

adversidades e singularidades étnicas, tribais e/ou regionais de maneira a conquistar

a independência. Vale lembrar que este processo não é único e nem específico a

Costa do Marfim, pois os países africanos em geral, e os francófonos em particular

tiveram o mesmo processo de povoamento com a colonização e também o mesmo

processo de “descolonização”.

Após a independência, ressurgirão a questão da diversidade cultural e das

singularidades étnicas, tribais e regionais. Além das divergências étnicas, o

ambiente político foi norteado por uma clivagem correspondente às regiões

geográficas Sul-Norte, zonas florestais e zonas de savanas. Outro fato importante é

a questão do nacionalismo, da cidadania e da construção da nação que levantaram

paixões.

Diversos movimentos de defesas dos interesses dos autóctones da Costa do

Marfim começam a ocupar o espaço sociopolítico antes e depois da colonização,

Page 17: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

para protestar contra o fato de cidadãos de outros países como Senegal, Benin, Mali

ou ainda o Togo ocuparem lugares importantes na administração e nos empregos

públicos. Os protestos e lutas contra esta situação alcançaram níveis significativos

nos campos econômicos e sociais e desencadeavam, às vezes, em conflitos graves

no campo político. Neste contexto, podemos citar como exemplos os

acontecimentos dos anos 1958, com uma violenta repressão, da parte de

populações marfinenses contra cidadãos do Benin e do Togo, e 1966, de maneira

pacífica, através do parlamento, quando Félix Houphouet-Boigny1 propôs à

Assembléia legislativa um projeto de lei que autorizaria os cidadãos da África do

oeste a adquirirem a dupla cidadania. A partir daí, poderíamos dizer que a questão

do nacionalismo, no seu aspecto mais radical que envolve o afastamento dos

estrangeiros e no questionamento daquilo que poderia os levar a se tornar

“verdadeiros” cidadãos, é e permanece fato recorrente da história colonial e pós-

colonial da Costa do Marfim e de outros países africanos.

Isso pode se notar com a política de ivoirização2 do funcionalismo público nos

meados dos anos 70.

Também nos anos 1990, com a retirada do direito de voto para os

estrangeiros, e em 1994 com o advento da política da “Ivoirité”, criado pelo regime

do presidente Aimé Henry Konan Bedié3. Esta questão do nacionalismo mantida

pelos governos posteriores destaca o problema da nacionalidade e a partir daí a

1 (1905-1993) Foi o primeiro presidente da Costa do Marfim. Dirigiu o país de 1960 a 1993.

2 Entender o termo como um quadro em que se criavam condições para que cargos importantes da

administração sejam ocupados por marfinenses em vez de estrangeiros africanos ou cooperantes

europeus.

3 (1934 -) Foi o segundo presidente da Costa do Marfim. Dirigiu o país de final de 1993 a dezembro

de 1999, quando perdeu o poder por golpe de estado.

Page 18: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

definição da identidade nacional na Costa do Marfim e os direitos e prerrogativas a

ela se reportam.

2.1 O PROCESSO DE POVOAMENTO DA COSTA DO MARFIM

A Costa do Marfim é um país da África Ocidental, com uma área total de

322,463 km ². Assim como muitos outros países do continente e até do mundo, tem

a migração como a sua principal fonte de povoamento. As diferentes migrações de

populações relatadas pela história incluem deslocamentos, voluntários ou

involuntários, de populações ou indivíduos, de uma área geográfica para outra.

Page 19: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

O país viveu entre os séculos XIV e XVIII, deslocamentos significativos de

populações vindas do Norte, do Leste e do Oeste, que formam hoje o núcleo de

seus habitantes. Essas diferentes ondas de migração acabarão criando no século

XIX no território nacional, quatro grandes áreas étnico-culturais, incluindo países

vizinhos e outros países da África Ocidental, como a Serra Leoa, a Guiné Bissau e o

Togo. Essa diversidade cultural faz da Costa do Marfim um país em que vivem

cidadãos oriundos de toda a África Ocidental. Assim, essas quatro grandes áreas,

cada uma constituída por uma multiplicidade de grupos étnicos e tribos, localizam-se

no país da seguinte forma4:

4 Representação étnica na Costa do Marfim, Fonte: RGPH, 1998

Page 20: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

O grupo Mandê: localizado no noroeste do país também conhecido como os

Mandinga, inclui principalmente duas entidades. Os antigos Mandês,

chamados de Mandês do Sul: Iacuba, Guro, Gagu, etc, ocuparam a região

das montanhas no oeste do país, e os novos Mandês que vieram depois,

chamados Mandê do Norte: Malinkê, Gbin, Koiaka, instalados no Norte e

Nordeste.

O grupo Kru: no Centro-sul e no Sudoeste residem os Kru ou Magwê.

O grupo Gur (Voltaico): no Norte e Nordeste, é composto pelos Senufo, Lobi,

Tagbanan, Djimini etc.

O grupo Akan: localizados no leste, no centro e sudeste. Este grupo pode ser

dividido em Akan do Centro (principalmente os Baulê), em Akan do leste

(Agni, Abron, etc ...) e Akan do sudeste e litoral (Ebriê, Aburê, Adiukru,

Apoloniens, Abidji, abey etc.).

A esta diversidade étnica e cultural acrescenta-se uma diversidade religiosa.

Existem duas religiões dominantes na Costa do Marfim, que são: o Islamismo com

mais de 38% da população total e o cristianismo (católico, protestantes com mais de

32% da população total, e mais 11% de animistas5. No entanto, estas duas primeiras

religiões dominam a esfera religiosa marfinense, de grupo étnico para outro. Esta

configuração da paisagem religiosa reflete a história da penetração das religiões

monoteístas na Costa do Marfim. A penetração da religião muçulmana se deu a

partir do norte e a do cristianismo a partir do litoral com a chegada dos

colonizadores. Assim, os Akan e os Kru ocupando o centro, leste e sudeste são

5 Fonte : INS, RGPH 1998.

Page 21: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

predominantemente cristãos, enquanto os Mandê e os Gur (Voltaicos) instalados no

norte e nordeste são fortemente islamizados6.

A história do povoamento da Costa do Marfim mostra as fontes da

configuração sócio-demográfica atual do país. Dada a importância das migrações

internas e externas, a sociedade marfinense apresenta um quadro demográfico

complexo que evidencia diversas comunidades étnicas e religiosas.

O debate político que envolve a definição da identidade nacional marfinense

alimenta-se também desse complexo demográfico. De fato, se a questão da

imigração não é novidade nenhuma na Costa do Marfim, a manipulação política é

porém mais recente. Ela nunca deixou de alimentar o debate público.

6 Idem

Page 22: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

2.2 MIGRAÇÕES E DIVERSIDADE SOCIAL

A questão das migrações estrangeiras, que é uma das fontes de conflitos na

Costa do Marfim, está ligada à política colonial de abertura para o exterior

desenvolvido como plataforma de desenvolvimento econômico da colônia. De fato,

com suas predisposições naturais, a Costa do Marfim tem ocupado uma posição

privilegiada no aprovisionamento da metrópole no que diz respeito às matérias-

primas agrícolas e industriais. Além do café e do cacau, a colônia dispunha de

espécies de árvores como o Sipo e o Samba. Com uma população estimada em

1.532,000 habitantes em 1921 e 1.931.000 em 1936 (Dados do PNUD 1999), a

Costa do Marfim não poderia fornecer a mão de obra suficiente de quê dependia a

metrópole para as suas atividades econômicas na colônia. A imigração na Costa do

Marfim tinha-se tornado desde então como uma necessidade. Será o resultado de

um ato deliberado da administração colonial. Entre os anos 1940 e 1959, mais de

600.000 voltaicos (originários do atual Burkina Faso) foram levados para Costa do

Marfim7. Boa parte destas populações vindas do país vizinho foi estabelecida em

regiões do sudoeste.

Vale portanto lembrar que os fluxos migratórios e os seus motivos, durante a

época colonial foram essencialmente econômicos, após a independência, as

migrações de trabalho tiveram um caráter ultra-liberal, que se intensificou devido ao

boom econômico dos anos 1970. Com mais de Mais de três milhões em 1988, a

população estrangeira alcançou quatro milhões dez anos mais tarde, seja 26,03% da

7 Idem

Page 23: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

população total estimada em 15.366.672 conforme a publicação do CI-RGPH

(Censo Geral da População e da Habitação)8 de 1998.

2.3. TRAJETÓRIA SOCIOPOLÍTICA

Desde a sua independência em 1960, a Costa do Marfim foi reconhecida pela

sua estabilidade política e pela sua prosperidade sócio-econômica, sob a liderança

de seu primeiro presidente, Felix Houphouet-Boigny, que dirigiu o país durante de

1960 a 1993.

Félix Houphouet-Boigny

Durante essa época o país atraiu grandes contingentes de trabalhadores

estrangeiros, sobretudo de países vizinhos, assim como investidores. Após a morte

do presidente Houphouet-Boigny em 7 de dezembro de 1993, a Costa do Marfim

teve uma sucessão difícil. Desde então, ela mergulhou em uma luta sem fim pelo

8 Versão original: « Recensement Général de la Population et de l’Habitat en Côte d’ivoire ».

Tradução própria.

Page 24: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

poder, que degenerou em uma grave instabilidade política, e culminou em 1999 em

um golpe, e uma rebelião armada em setembro de 2002.

Ocupada desde 1960 pelo PDCI9, o partido no poder, a esfera política do país

abriu-se em 1990 para o multipartidarismo. Nasce naquele ano o FPI dirigido pelo

Professor universitário Laurent Gbagbo.

Laurent Koudou Gbagbo

Neste mesmo ano, o país conhecia as suas primeiras eleições presidenciais

que opôseram o presidente Félix Houphouet-Boigny ao então Professor universitário

Laurent Gbagbo. Houphouet-Boigny foi reeleito em 28 de outubro de 1990, com 82%

dos votos. Mas morreu um ano depois e assim se iniciava a corrida pelo poder.

9 PDCI – Parti Démocratique de Côte d´ivoire. Tradução : Partido Democrático da Costa do Marfim

Page 25: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

2.3.1 LUTA PELO PODER E CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

Após a morte de Félix Houphouet-Boigny, a luta pelo poder é exacerbado

pelas controvérsias sobre as leis da nacionalidade e da elegibilidade nas eleições, e

principalmente às presidenciais.

Conforme os requisitos do artigo 11 da constituição do país modificada 1990,

o então presidente da Câmara Legislativa, Aimé Henry Konan Bédié tomou posse

como presidente da república.

Aimé Henry Konan Bédié

O economista Alassane Ouattara, então primeiro-ministro10, também

interessado no poder, renunciou ao cargo.

10

Primeiro-ministro, entender chefe da casa civil no Brasil

Page 26: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Alassane Dramane Ouattara

Em 1994, surge o RDR11. O cenário político é logo ocupado por três

personalidades: Bédié (presidente da República, PDCI), Gbagbo (FPI) e Ouattara

(RDR).

Esta luta pelo poder levou o Bédié a abrir o debate em torno da questão da

nacionalidade e da elegibilidade nas eleições, e às presidenciais em particular.

Nasce então o conceito de Ivoirieté, que será tratado no item a seguir. Um novo

código eleitoral é adotado em 08 de dezembro de 1994. Em 1995, Bedié foi eleito

presidente da República da Costa do Marfim, após eleições contestadas. Em 24 de

dezembro de 1999, ele sofreu um golpe de estado militar. Foi deposto e assim, o

General de exército aposentado, o Robert Guéi assumiu o poder. O general Robert

Guéi, responsável pela transição militar e por organizar eleições gerais no final de

2000, recoloca na mesa de debates a questão sobre a nacionalidade e a

elegibilidade.

11

RDR – Rassemblement des Républicains – Tradução : União dos Republicanos

Page 27: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Em 24 de julho de 2000, a nova Constituição aprovada por referendo prevê

que o candidato nas eleições presidenciais, “deve ser marfinense de pai e de mãe

também marfinenses de origem e não deverá ter pegado outra cidadania12”. Esta

nova constituição, de fato, elimina o candidato do RDR, Alassane Ouattara, cujo pai

é de origem burkinabé. Após eleições tumultuadas, o Laurent Gbagbo é eleito

presidente da República e toma posse em 26 de outubro de 2000. De acordo com as

ações de seu programa de governo, ele estabelece a identificação como uma das

prioridades de maneira a resolver a crise identitária no país.

No entanto, esta política de identificação baseada na idéia de autoctonia

torna-se fonte de novas controvérsias e polêmicas, tanto na sociedade como na

esfera política.

2.3.2 O CONCEITO DE IVOIRITÉ

Considerado o principal motivo da crise identitária na Costa do Marfim, o

termo ivoirité nasceu em 1974, em um artigo do jornalista marfinense Pierre

Niava13, que tratava da vida e obra do pensador e escritor marfinense Niangoranh

Porquet. De acordo com esse artigo, o conceito de ivoirité não é conceito xenófobo,

mas sim parte do movimento de libertação intelectual em paralelo com o movimento

da Negritude de Leopold Sedar Senghor. De fato, se a “independência” de muitos

países africanos, nos anos sessenta, foi adquirida a partir de um ponto de vista

político, dever-se-ia lutar por uma independência do ponto de vista, cultural,

filosófico, intelectual etc. Assim, o conceito em si, “seria multiforme e englobaria a

12

Versão original: doit être ivoirien de père et de mère eux-mêmes ivoiriens et qu’il ne doit pas s’être prévalu d’une autre nationalité. Tradução própria. 13

http://ressources-cla.univ-fcomte.fr/gerflint/Afriqueouest3/boa.pdf

Page 28: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

dinâmica socioeconômica, o triunfo multicultural, o pensamento do Homem

marfinense em toda a sua profundidade”14. O conceito tornar-se-ia sinônimo da

afirmação da sua própria identidade, levando em conta a multiplicidade das

diferentes características que fundam a identidade marfinense. O termo, conforme o

seu inventor, leva em conta a diversidade que constitui a riqueza da sociedade

marfinense, incluindo as contribuições de diversas culturas. Seria de maneira

resumida o jeito marfinense de ser e de viver.

Assim, o conceito supostamente cultural, deslizará rapidamente na esfera

política com o presidente Bédié. O uso do conceito no âmbito político, sem aporte

teórico significativo e sem mudanças conceituais, acaba provocando novos atritos e

polêmicas. O conceito foi direcionado, de fato, para questionar e levantar dúvidas

sobre a nacionalidade e a elegibilidade do economista Alassane Ouattara, que seria

o candidato do RDR para as eleições de 1995.

O uso do termo desempenhou um papel importante na deterioração das

relações entre populações do Norte e do Sul ou ainda entre muçulmanos e cristãos

na Costa do Marfim. Assim, as reformas políticas e jurídicas empreendidas pelo

presidente Bedié não tiveram sucesso perante a população, e levantavam dúvidas

sobre o seu uso na esfera política em comparação com as características culturais e

sociais conforme a definição acima mencionada.

2.3 CRONOLOGIA DE UMA CRISE: DE 2002 A 2010

Em setembro de 2002, uma tentativa de golpe de estado que fracassou,

acabou levando o país para uma situação de guerra que opôs as Forças Armadas

14

Idem. Tradução Própria

Page 29: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Nacionais da Côte d'Ivoire (FANCI) favoráveis ao ex-presidente Laurent Gbagbo,

que controlavam o sul, aos rebeldes chamados Forces Nouvelles (FN) que vieram

do país vizinho Burkina Faso e que controlavam o norte e parte do centro da Costa

do Marfim.

Um processo de paz foi iniciado desde os acordos de Linas-Marcoussis15, em

janeiro de 2003, e depois várias cidades e capitais africanas foram visitadas em

busca de acordos que pudessem trazer de volta a estabilidade política que

conheceu a Costa do Marfim até os anos 90. Entre outras capitais visitadas, temos

Lomé, Acra, Pretória, onde vários acordos foram assinados por ambas as partes. Em

geral esses acordos traziam em comum, pontos tal qual, a partilha do poder e uma

reforma do código da nacionalidade. Vale lembrar que as principais reivindicações

dos rebeldes traziam de fato a questão da nacionalidade e da elegibilidade do

Alassane Ouattara. A esfera política marfinense apresentava desde então uma

configuração. Por um lado, as "Forces Nouvelles" e os partidos como RDR, PDCI e

outros nanicos que, desde os acordos de Marcoussis passaram a exigir a aplicação

destes e de outro lado, o campo presidencial e aqueles que rejeitavam os ditos

acordos.

Esse contexto complexo e confuso, em que não havia paz nem guerra, levou

à adoção de diversas resoluções da parte das Nações Unidas, e acabaram também

não surtindo efeito. Em 2007, com a situação de bloqueio após as diferentes

negociações, o então presidente da Costa do Marfim resolveu iniciar negociações

diretas com os rebeldes, sob a mediação do presidente do Burkina Faso. Essas

negociações levaram a novos acordos de paz, chamados acordos de Uagadugu, em

4 de março de 2007. Após estes acordos, o Guillaume Kigbafori Soro, chefe da

15

Cidade do sul da França.

Page 30: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

rebelião se tornou primeiro ministro e tinha como missão reunificar o país e resolver

a questão da identificação da população marfinense e organizar eleições justas,

transparentes e abertas a todos.

Guillaume Kigbafori Soro

Nestes acordos, constava também o desarmamento dos rebeldes e das

milícias.

2.5. CONTEXTO SOCIOECONOMICO: DA PROSPERIDADE À CRISE

ECONOMICA

Depois de duas décadas gloriosas (1960-1980) chamado de "milagre

marfinense"16, a economia da Costa do Marfim entra em uma fase de crise com

consequências socialmente significativas. A dependência do crescimento do exterior

16

http://www.ritimo.org/dossiers_pays/afrique/cote_ivoire/cote_ivoire_miracle.html

Page 31: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

e principalmente da França, e a gestão dos benefícios do crescimento constituem as

raízes dessa decadência econômica.

A partir dos anos 1960, a Costa do Marfim independente opta por um

desenvolvimento econômico baseado na exportação de matérias primas agrícolas,

como o café e principalmente o cacau, cuja produção até hoje faz dela o primeiro

produtor mundial. E também a exploração de minerais e madeira e mais tarde o

petróleo.

O país e suas principais riquezas econômicas

Os altos preços do núcleo café-cacau nos mercados internacionais permitiram

ao o Estado financiar projetos de modernização. O crescimento da produção

provocou a migração de populações do centro e norte da Costa do Marfim, e

populações estrangeiras, e particularmente do Burkina Faso, e do Mali atraídos pelo

crescimento, para as regiões florestais do sul. Esta política agrária foi incentivada

por Houphouet-Boigny. Para a ocupação da terra, houve um compromisso entre

autóctones e estrangeiros. A integração de diferentes grupos baseia-se nos direitos

tradicionais à terra: o direito de usar sem ser de fato proprietário.

Page 32: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Este sistema se mostrou eficaz até os anos 1980. Os agricultores da Costa do

Marfim e imigrantes foram envolvidos ativamente no crescimento da produção e da

prosperidade do país. Entre 1974 e 1978 os preços das matérias-primas estão altos.

A produção aumenta, de modo que a Costa do Marfim se posiciona como primeiro

produtor mundial de cacau. Os agricultores beneficiam da redistribuição de renda17.

Numerosos investidores e empresas investem na Costa do Marfim.

Segundo dados do Banco Mundial apresentados por Cogneau e Mesplé-

Somps em seu artigo publicado em Afrique Contemporaine de Verão 2003, a taxa de

crescimento do PIB marfinense é de 7% durante o período de 1960-198018. Falamos

então de modelo de desenvolvimento da Costa do Marfim e do "milagre marfinense".

No entanto, esta prosperidade está baseada em produtos cujos preços são fixados

em outros lugares, nos mercados internacionais e dependendo, portanto das

especulações. Os preços do cacau e café apresentam uma queda a partir de 1979,

seguindo o boom do petróleo de 1973-197819. Essa deterioração dos termos de troca

constituirá um freio para a fase de crescimento econômico em que se encontrava o

país. Ela reduz a capacidade reguladora do Estado. No início dos anos 1980, frente

à queda dos preços do café e do cacau, a economia do país entra em recessão. Há

uma diminuição drástica dos recursos financeiros do estado. No entanto, o país que,

durante o período do milagre marfinense, acabou se endividando, se deve de pagar

a sua dívida. As instituições financeiras internacionais resolveram não emprestar

mais ao país.

17

DUBRESSON, A., Ville et industries en Côte d’Ivoire. Pour une géographie de l’accumulation urbaine, Karthala, Paris, 1989. 18

Cogneau, Denis ; Mesplé-Somps, Sandrine, « les illusions de l’économie ivoirienne et la crise politique », Afrique contemporaine, n° 206, Eté 2003. 19

Idem

Page 33: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Diante da deterioração da situação financeira do país, e a necessidade de

honrar as dívidas, o país é forçado a aplicar programas destas instituições

financeiras, chamados “Programas de Ajustamento Estrutural”. Estas medidas

levarão à desvalorização do franco CFA, moeda dos países francófonos da África.

Vale salientar que estas medidas não foram aplicadas apenas na Costa do Marfim,

mas em todas as “ex-colônias” francesas. As reformas liberais de estabilização

financeira aplicadas entre os anos 1980 e 1990 não levaram aos resultados

esperados. A desvalorização da moeda CFA contribuiu para uma deterioração mais

acentuada da economia do país. As repercussões desta crise são importantes, tanto

em áreas urbanizadas como em áreas rurais.

O consumo médio per capita diminui quase pela metade durante o período

entre 1985 e 1993. A baixa na receita triplicou o índice de pobreza que aumento de

10 para mais de 30%20. Em 1985, metade dos pobres se localizava, sobretudo nas

regiões de savana, nas regiões do Centro e Norte do país. Mas com a queda dos

preços do café e do cacau, a pobreza aumentou também nas regiões florestais do

Sul.

O aumento dos preços após a desvalorização nos mercados locais tem

contribuído para a deterioração das condições de vida das famílias. Os laços de

solidariedade antigamente presentes nos hábitos das populações começaram a

desaparecer e as pressões das comunitárias já não encontravam satisfação. A

persistência da crise econômica reaviva as tensões sociais21.

A esta situação, acrescentaram-se as tensões ligadas à terra. O processo de

desenvolvimento rural dirigido pelo Estado durante os anos 1970 ganha uma nas

20

Akindès Francis, « Inégalités sociales et régulation politique en Côte d’Ivoire. L paupérisation en Côte d’Ivoire est-elle réversible ? » Politique africaine, n°78, juin 2000. 21

Idem, p.29

Page 34: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

relações sócio-espaciais que permitiram o crescimento econômico do país e a

integração de comunidades estrangeiras no espaço territorial.

Cabe salientar que a promoção da política agrária na Costa do Marfim girava

em torno de um slogan lançado pelo presidente Houphouet-Boigny em 1970: “a terra

pertence a quem a valoriza”. Com este slogan incorporado na ideologia liberal, o

Estado afirma que a terra lhe pertence e a coloca a disposição de quem quiser

valorizá-la em despeito do direito dos autóctones sobre as terras. Nesta base, os

Baulês, populações do centro do país e os burkinabês que não têm o direito à terra,

tornam-se os latifundiários em regiões que os receberam22.

Se a intervenção do Estado na regulação da economia agrícola funcionou

através de programas de planejamento de uso da terra para trabalhar, isso tem

gerado também um efeito de sobrecarga ou saturação das terras agrícolas

disponíveis. Estima-se que de 16 milhões de hectares de floresta em 1960 no sul,

existem hoje menos de 2 milhões.

A unidade de sócio-espacial formada na base do direito tradicional começa a

sofrer mudanças. Conflitos marcam a relação entre autóctones e alógenos quando

estes começam a reivindicar o direito à terra, de acordo com a ideologia da "terra

pertence a quem a valoriza”. A pressão demográfica aliada ao desmatamento reduz

as possibilidades de convivência entre autóctones e alógenos e contribuem para o

surgimento de disputas de terra em áreas rurais.

De fato, o rápido desmatamento e a pobreza levaram os jovens a fugir

massivamente aldeias para as cidades. Mas, perante a falta de alternativas com o

modelo urbano, além da proliferação de atividades informais, os jovens, às vezes

22

DEMBELÉ, Ousmane « La construction économique et politique de la catégorie « étranger » en Côte d’Ivoire » dans Marc Lepape et Claudine Vidal (Eds) Côte d’Ivoire. L’année terrible 1999-2000, Karthala, Paris, 2002, pp.123-171.

Page 35: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

com níveis superiores e desempregados, resolvem voltar para as áreas rurais. Este

retorno é incentivado pelo Governo na década de 1980. Porém, o retorno não é feito

sem causar tensões ligadas à terra.

São motivos que evidenciam em certa medida a grave crise pela qual está

passando a Costa do Marfim. Poderíamos afirmar sem medo de errar que pano de

fundo da crise marfinense é principalmente o estado de empobrecimento que se

iniciou com o declínio da boa fase econômica. Porém, vale salientar a presença de

contingências externas e influenciadoras na crise, que não caberiam desenvolver

aqui devido ao tema escolhido. Outros estudos permitiram trabalhar em pormenor a

crise marfinense.

Tentamos trazer apenas alguns elementos suscetíveis de facilitar o

entendimento do ambiente sócio-político marfinense, a questão identitária e as

crises repetitivas no país.

Page 36: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

3. O SISTEMA POLÍTICO-PARTIDÁRIO E AVANÇOS DEMOCRÁTICOS

Depois de 30 anos de partido único, a Costa do Marfim passou por um

período de transição democrática com a abertura do país para o multipartidarismo.

Apesar de todas as mudanças anticonstitucionais sofridas pelo país a partir dos

anos 1990 e posteriormente pelas situações dramáticas sofridas pelo país, houve

avanços democráticos significativos, embora a situação do país hoje, nos leve a

acreditar no contrário.

O exame das diferentes Constituições do país permite afirmar que elas

favoreceram importantes avanços no que diz respeito a consolidações das

instituições e da democracia. Esta afirmação pode se verificar pelo modelo de

racionalização da expressão do poder que delas surgiram.

3.1. PODERES E PLURALISMO POLÍTICO

O Pluralismo político e a separação dos poderes são pilares importantes, e

princípios organizacionais do poder a partir dos quais nasce a democracia. A

contribuição das Constituições marfinenses para racionalização da expressão do

poder consistiu em evidenciar estes princípios organizacionais, de forma que se

consegue na teoria separar o Poder executivo, dos poderes legislativo e judiciário.

No caso presente, trataremos apenas dos casos dos Poderes Executivos e

Legislativos.

A ideia de separação do poder executivo dos outros poderes surgiu de erros e

excessos observados na passagem da Costa do Marfim colônia para país

“independente”. A primeira Constituição da Costa do Marfim independente

Page 37: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

autorizava o multipartidarismo23. Era uma disposição original que deveria permitir a

expressão do sufrágio com bases pluralistas. De tão surpreendente que possa

parecer, essa disposição importante e inédita para um país africano, francófono e

que acabava de se tornar independente, gerou esperanças de curta duração. O

sistema de partido único acabou se impondo com era de práxis nos outros estados

da África do oeste. Os partidos políticos opostos ao sistema de partido único não

podiam ter uma existência legal, portanto obrigados a permanecer na

clandestinidade. É o caso do FPI que nasceu em 1982 e só pude oficializar as suas

atividades apenas em 1990, após a abertura do país para o multipartidarismo.

3.2 O PODER EXECUTIVO

Depois de 30 anos de existência, o sistema de partido único que era uma

prática anticonstitucional, autoritária e digna de um sistema ditatorial, cedeu sob a

pressão de uma sociedade ávida de liberdade de expressão e de pluralismo

ideológico e político. Esta fase que se iniciou no final dos anos 1980 ganhou em

efetividade no Começo de 1990. Essa mudança abriu as portas para o início de uma

transição democrática para a expressão do poder executivo, perceptível tanto ao

nível do mecanismo do acesso ao poder como as regras para o exercício do poder.

No que diz respeito às regras do acesso ao poder executivo, o primeiro fato

importante é o reconhecimento de uma oposição no sistema político com direitos

constitucionais. Essa mudança se deu na revisão constitucional de 199024. O país

estava de volta para o constitucionalismo.

23

Artigo 7 da Constituição: Os partidos e movimentos políticos concorrem à expressão do sufrágio... 24

Draft paper presented at African Network of Constitutional Law conference on Fostering Constitutionalism in Africa Nairobi April 2007.

Page 38: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Outro elemento importante é a elaboração de condições estritas de acesso ao

poder, inscritas no Artigo 35 da Constituição de 200025. Apesar das diversas

controvérsias provocadas por este artigo, é preciso dizer que este artigo tem a

vantagem de promover mais transparência na gestão do jogo político. Na realidade,

a importância dos elementos levados em conta é a vontade de “limpar” o caminho

que leva ao poder político. Evidentemente, esta posição não nega os vieses que

poderiam se introduzir na aplicação dessa disposição, como foi o caso da

recuperação política que fez dela uma disposição excludente. Sem querer entrar

positivismo exagerado, esta posição baseia-se naquilo que há de vantajoso neste

artigo, que como fundamento jurídico garante a vontade dos marfinenses de querer

um poder executivo dirigido por uma pessoa que beneficiaria de um mínimo de

integridade. Além disso, a Constituição de 2000 estabelece a criação de uma

Comissão Eleitoral Independente. O principio da organização de eleições livres é

adquirido desde a abertura do país para o multipartidarismo em 1990, e a

Constituição de 2000 impõe a necessidade da criação de quadro institucional

adequado.

No que diz respeito às regras do exercício do poder, elas sofreram alterações

progressivas. Primeiramente, com um executivo monocéfalo criado pela Constituição

de 1960, nasce um executivo bicéfalo com a revisão constitucional de 199026. De

fato, se analisarmos o regime político marfinense que um regime presidencialista, a

instituição de um primeiro ministro torna-se atípico. Porém no contexto de um

sistema de partido único, a presença de um primeiro ministro reduziria o exercício

exclusivo do poder executivo pelo presidente da república, e lenificaria a imagem

25

Constituição elaborada após o golpe de estado de 1999 e aprovado por mais de 86% dos eleitores. 26

Lei constitucional n°90- 1529 de 06 de Novembro de 1990. Tradução própria.

Page 39: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

ditatorial do regime político marfinense. Há também outro fato não menos importante

que é a limitação do mandato presidencial. Trata-se de um mandato com uma

duração de cinco (5) anos, renovável uma (1) vez.

Conforme o artigo 3527 da Constituição marfinense, a idade mínima para

participar às eleições presidenciais é de quarenta (40) anos, e a máxima é de

setenta e cinco (75) anos. O candidato deve ser marfinense de origem, com os seus

pais também marfinenses de origem. Acrescenta-se a estas disposições,

declarações de boa saúde física e mental, do seu patrimônio.

A eleição do presidente é adquirida à maioria absoluta dos sufrágios. Caso

não obtida, acontece um segundo turno, quinze (15) dias após a proclamação dos

resultados do primeiro turno. Apenas se apresentam os dois primeiros colocados do

primeiro turno. O primeiro turno das eleições presidenciais acontece durante o mês o

mês de outubro do quinto ano do mandato do presidente da Republica.

3.3 O PODER LEGISLATIVO

Tendo escolhido o regime presidencialista desde a independência, a

Assembleia unicameral da Costa do Marfim, não tinha poderes para destituir o

presidente da República. Este tinha e continua tendo uma supremacia total no

exercício do seu poder. Portanto o papel da Assembleia se limitava apenas a suas

prerrogativas legislativas. A competência exclusiva a ela reconhecida na edição das

normas lhe dava a autoridade nas suas atividades.

27

Constituição de 2000

Page 40: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

O Poder legislativo marfinense era antes da transição democrática “parte do

poder executivo”28. A partir de 1990, a ativação do pluralismo político revaloriza o

poder legislativo. Primeiramente, a configuração da Assembleia muda. Sua nova

estrutura heterogênea quebrou o monopólio partidário. Hoje, com as eleições de

2011, a nova Assembleia caracteriza-se pela diversidade, mesmo arbitrária e não

respondendo às aspirações e votos dos marfinenses, ela é composta por deputados

de “diversos partidos políticos”.

A duração da legislatura é de cinco (5) anos. O mandato dos parlamentares é

renovável. Eles são eleitos no sufrágio universal direto.

3.4 O PROCESSO ELEITORAL MARFINENSE

A Costa do Marfim teve acesso à soberania internacional em 1960 e tornou-

se República da Costa do Marfim. Seus textos fundadores fazem do povo, o

Soberano; Ele é quem “exerce a soberania” através dos seus representantes eleitos.

Esta opção está confirmada na Constituição de 200029.

A jovem República, como a maioria dos países africanos de língua francesa,

retoma a legislação do antigo colonizador ou adota textos que tem fundamentos nos

princípios gerais do direito francês. A eleição se torna o modo exclusivo para a

designação dos governantes. Para que esta eleição seja a expressão da livre

escolha do povo, os princípios são apoiados e complementados por textos que

respeitam os critérios internacionais como:

28

WODIE, Francis, Institutions politiques et droit constitutionnel em Côte d´ivoire. Abidjan, Presses Universitaires de Côte d´ivoire, 1996, p.370. 29

http://democratie.francophonie.org/IMG/pdf/Cote_d_Ivoire.pdf

Page 41: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

a) O sufrágio é universal, igual e secreto, portanto “aberto a todos”; existem,

porém discriminações legais. Elas são reduzidas e constituem fora a

questão da idade, a sanção da comissão de atos incompatíveis com a

qualidade de representante do povo.

b) Para ser eleitor, tem que ser cidadão marfinense, gozando de todos os

seus direitos civis e políticos, sem ter sido condenado e preso por crimes

de roubo, estelionato, falsidade ideológica, desvio de bens públicos,

corrupção etc.

c) As candidaturas são abertas a quem preenche todas as condições.

3.4.1 AS INSTITUIÇÕES RESPONSÁVEIS PELAS ELEIÇÕES NA COSTA DO

MARFIM

A organização das eleições respeita a separação dos poderes que nelas

intervém e que permanecem independentes uns com relação aos outros na

execução das diferentes tarefas. Existem duas instituições responsáveis por todo o

processo eleitoral, desde o cadastro dos eleitores, o registro das candidaturas até a

publicação dos resultados definitivos.

3.4.1.1 A COMISSÃO ELEITORAL INDEPENDENTE

A Comissão Eleitoral Independente (CEI) é o responsável administrativo das

eleições na Costa do Marfim. Ela é responsável por organizar, supervisionar e

Page 42: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

monitorar a conduta de todas as eleições em conformidade com as leis e

regulamentações30. Ela proclama os resultados provisórios.

3.4.1.2 O CONSELHO CONSTITUCIONAL

No quadro do processo eleitoral, o Conselho Constitucional controla a

regularidade das operações eleitorais, avalia o contencioso eleitoral e proclama os

resultados definitivos31 das eleições.

30

Artigo 2 da Constituição de 2000. 31

Artigos 32 e 94 da Constituição de 2000.

Page 43: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

4. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010 E A CRISE PÓS-ELEITORAL

Os acordos de paz ocorridos em 2007 conseguiram trazer certa confiança

para a população marfinense cansada por anos de crises intermináveis. As eleições

presidenciais traziam em si fatores positivos para a população, como a abertura à

livre circulação do Norte para o Sul, a reunificação do país, o cessar fogo, e

perspectivas de relance econômico após as eleições.

Em geral, as eleições de 2010 marcariam de fato o fim da guerra na Costa do

Marfim. O primeiro turno das eleições foi satisfatório no seu conjunto, devido à

participação da população marfinense.

32

32

http://www.rfi.fr/afrique/20101104-cote-ivoire-enseignements-premier-tour

Page 44: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

33

O segundo turno das eleições presidenciais inicia-se com um clima tenso, e

completamente oposto ao clima de festa que reinava no primeiro turno. Esta

situação acabará influindo o período pós-eleitoral e levará a uma crise sem

precedente no país. Daí nasce uma psicose quanto ao risco cada vez maior de

guerra civil generalizada. O quase caos na Costa do Marfim chama a atenção das

organizações regionais e internacionais e atrai todos os olhares quanto à busca por

uma solução duradora para sair da crise, mas antes, entender os motivos e a

verdade sobre os acontecimentos.

33

http://www.rfi.fr/afrique/20101104-carte-resultats-premier-tour-presidentielle-ivoirienne

Page 45: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

É importante ressaltar nesta fase do trabalho que embora marfinense e com

um posicionamento claro perante a crise que vive o país, a objetividade do trabalho

acadêmico e tema em si necessitam a produção de uma argumentação não

partidária, mas apenas uma exposição dos fatos conforme relatos da mídia, que

também tem responsabilidade comprovada nos conflitos em geral e no caso

específico da Costa do Marfim.

Cabe acrescentar também que o objetivo não é apresentar de forma

detalhada os acontecimentos da crise pós-eleitoral. O nosso objetivo será uma breve

exposição com uma análise dos fatos importante dessa crise.

O segundo turno das eleições presidenciais foi marcado pela proclamação de

dois resultados contraditórios. Um resultado proclamado pelo presidente da

Comissão Eleitoral Independente no Quartel Geral do Candidato Alassane Ouattara,

que representava a oposição. Esses resultados o deram como vencedor das

eleições com mais de 54% dos votos, e acabaram levando a controvérsias quanto á

validade jurídica e ética da proclamação de tais resultados. Isso se justifica ainda

mais na medida em que esses resultados não foram detalhados como os do primeiro

turno e foram dadas em circunstâncias duvidosas como, por exemplo, o fato dos

resultados serem proclamados apenas pelo presidente da Comissão Eleitoral

Independente, sem a presença dos vice-presidentes deste órgão administrativo, no

Quartel Geral do Candidato Ouattara e no quarto dia após as eleições, enquanto a

Constituição prevê um prazo máximo de três (3) dias, para a proclamação dos

resultados provisórios que deveria logo em seguida ser averiguada e confirmada ou

não pelo Conselho Constitucional.

O segundo resultado foi dado pelo presidente do Conselho Constitucional em

ruptura com o resultado dado horas antes pelo presidente da Comissão Eleitoral

Page 46: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Independente. Com base em relatos e informações comprovadas, de fraudes em

massa e violências físicas contra os seus militantes, a coalizão de partidos que

apoiava o presidente Gbagbo entrou com pedidos em anulação dos votos em

algumas regiões do país. Esses pedidos encontraram um parecer favorável da parte

do Conselho Constitucional que na base das provas apresentadas, anulou os

resultados de sete departamentos do Norte e do Centro do país e proclamou a

vitória do presidente Laurent Gbagbo com um pouco mais de 51%. Cabe mencionar

que estes departamentos eram todos majoritariamente favoráveis ao candidato da

oposição, o Alassane Ouattara.

Outro fato importante é a entrada em jogo do representante da ONU que tinha

um mandato de certificação dos resultados das eleições e que acabou confirmando

o resultado dado pelo órgão administrativo (a Comissão Eleitoral Independente) que

davam o candidato da oposição como vencedor das eleições.

Segue-se a partir deste momento uma fase muito confusa em que se assistia

a dois eventos de posse. Um primeiro no respeito do ritual habitual e o outro por

escrito a partir do seu Quartel Geral. Cada um formou o seu governo.

O governo do presidente Gbagbo tinha um controle efetivo do poder, visto que

controlava o conjunto dos pontos e setores estratégicos do país, exceto as regiões

ocupadas pela rebelião. Um Controle e uma efetividade do poder que se faziam

apesar do embargo econômico da Europa sobre a Costa do Marfim, que autorizava

o fechamento do Banco Central de todos os bancos europeus presentes no país.

O segundo governo, o do Alassane Ouattara, com relação ao primeiro, tinha

uma audiência diplomática, principalmente apoios de países como França, Inglaterra

e a maioria dos países europeus, os Estados Unidos e de países africanos, além do

Page 47: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

apoio da rebelião no país. Era um governo mais passivo, que apenas esperava

decisões da comunidade internacional para resolução da crise.

Inicia-se uma nova fase de confrontos militares entre as forças leais ao

presidente Laurent Gbagbo e a rebelião. Notou-se um avanço importante sem

resistência da rebelião e a ocupação de alguns bairros da Capital Abidjan, favoráveis

ao Alassane Ouattara. A partir do dia 28 de março de 2011, os rebeldes lançaram o

ataque final que eles chamavam “a conquista de Abidjan”34.

Frente a militares com armamentos pesados e muito bem treinados, que

tinham um conhecimento aguçado e claro da arte da guerra e que defendiam suas

posições naquilo que chamavam guerra de libertação, encontravam-se rebeldes

desordenados e indisciplinados. Eles apresentavam lacunas importantes em

estratégias militares que foram decisivas na guerra de Abidjan onde sofreram uma

grande derrota com a perda de um importante contingente de rebeldes.

Vendo o desequilíbrio das forças e a derrota dos rebeldes a missão das

Nações Unidas na Costa do Marfim e a Força francesa no país entraram em ação

sob uma resolução35 da ONU que impedia o uso de armamentos pesados contra

civis e sanções contra algumas personalidades favoráveis ao regime do presidente

Gbagbo. A ambigüidade dessa resolução e as chamadas repetidas do Alassane

Ouattara e do chefe da rebelião Guillaume Kigbafori Soro, levaram as forças

estrangeiras acima mencionadas a entrarem de fato na guerra contra o regime do

presidente Gbagbo. O principal argumento apresentado para essa guerra contra o

regime de Gbagbo era a “proteção dos civis”. Um uso desproporcional de

armamentos de guerra contra pontos estratégicos, tais quais a residência do

34

Tradução própria – Versão original: “La conquête d´Abidjan”. 35

A Resolução 1975 do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação da Costa do Marfim.

Page 48: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

presidente da República, a Presidência da República, bases militares e até cidades

universitárias que abrigariam milícias favoráveis ao presidente Gbagbo.

No dia 11 de abril de 2011, no período da tarde, e após intensos bombardeios

das forças francesas e da ONU contra a sua residência, o presidente Laurent

Koudou Gbagbo é capturado pelas forças francesas e entregue aos rebeldes do

Alassane Ouattara e Guillaume Soro. Uma captura vergonhosa, que apresentavam

imagens de um chefe de Estado humilhado que parecia não ter consciência da

gravidade da situação, cujo é um dos principais antagonistas e responsáveis.

O presidente Laurent Gbagbo sendo levado pelos rebeldes para o Quartel Geral do

seu adversário Alassane Ouattara

O dia 11 de abril de 2011 é o dia que marcaria de fato a divisão dos

marfinenses, criando dois sentimentos que reavivam a psicose de uma guerra civil.

Para parte dos marfinenses é o dia de vitória contra a ditadura do regime Gbagbo.

Para os outros, favoráveis ao presidente Gbagbo e/ou nacionalistas é uma grande

humilhação e indignação perante aquilo que é chamado de regresso para a

colonização. Para eles era difícil entender bombardeios contra a residência do

Page 49: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

presidente e, sobretudo o argumento da proteção de civis para provocar a morte

destes que se pretendia defender.

Esta situação sem precedente na Costa do Marfim coloca o país a beira de

uma guerra civil que poderá explodir a qualquer momento. Daí surge diversos

questionamentos sobre os tratamentos recebidos por parte dos partidários do

Gbagbo. Há necessidade de manter personalidades do país, ex-ministros e

presidentes de instituições presos sem direito a defesa nem motivos para

permanecerem na cadeia? Há necessidade de bloquear bens, salários e até

aposentadorias de pessoas que a certo momento da história do país serviram o

estado nos seus altos escalões. Como é que poderá acontecer a reconciliação entre

marfinenses se parte da população continua frustrada ocasionando feridas cada vez

mais profundas entre cidadãos de um mesmo país?

A ex-Primeira Dama da Costa do Marfim sendo humilhada e maltratada por rebeldes

Page 50: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

O Michel Gbagbo, Professor universitário e filho do presidente Gbagbo, preso, sendo humilhado e

maltratada por rebeldes, sem ter cometido nenhum crime.

Page 51: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

5. COMUNICAÇÃO POLÍTICA E INTERNET

No contexto mundial, a política se faz através do uso das mídias. E com a

chegada da internet, há uma necessidade de mudança e de adaptação da parte dos

outros meios de comunicação, repensar o jeito de veicular a informação numa época

em cada um de nós constitui uma fonte de informações.

A entrada da internet na comunicação política mudou de maneira significativa

as relações entre as mídias tradicionais e os políticos. A comunicação política via

www apresenta-se na Costa do Marfim, assim como em outros lugares do mundo,

sob duas formas que evoluem não separadamente, mas juntas. Uma primeira forma

que se enquadraria na comunicação oficial, é mais usada por partidos políticos, por

candidatos e/ou instituições. Ela é feita seguindo regras e leis ditadas pelo jogo

político.

Do outro lado a uma comunicação, mais virulenta, e que usa todos os meios

de ataques, em geral ilegais para com adversários políticos. A internet é, portanto

uma ferramenta de diálogo e uma arma de combate a serviço dos políticos.

Mídia privilegiada por parte da população marfinense alfabetizada e/ou da

elite residente no país ou da diáspora, a internet impõe mudanças radicais em

diversos setores.

Iniciaremos o nosso trabalho apresentando o espaço público e o perfil dos

internautas marfinenses e em seguida analisaremos o quadro da comunicação

política via internet nas eleições de marfinenses.

Page 52: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

5.1. A INTERNET E O ESPAÇO PÚBLICO MARFINENSE

No contexto marfinense, podemos dizer que a internet favoreceu uma

liberdade expressão para políticos e movimentos que até os 2000 tinham pouco

espaço para expressar a sua ideologia e idéias. Vale salientar que a situação de

crise e principalmente o período após o golpe de 2002, a internet começou a ocupar

um lugar importante na comunicação em geral e na comunicação política em

particular. A internet torna-se o novo espaço de expressão da liberdade e de

reivindicações para partidos, movimentos e outros indivíduos. As limitações do jogo

midiático, que durantes décadas não possibilitavam a expressão plural por três

motivos essenciais: O controle das mídias pelo governo com apenas dois canais de

TVs (RTI 1 e 2)36 sob o seu domínio que as organiza de maneira a satisfazer

propagandas unilaterais, de elogios pro governo, também pela falta de interesse e

credibilidade, da parte do cidadão marfinense para com os políticos e por fim a falta

de recursos para o uso diário da mídia impressa.

O tradicional domínio das mídias tradicionais sobre as informações que

deveriam ou não levadas ao público passa a ser contestado com a chegada da

internet. Há uma mudança significativa naquilo que eu chamaria de “ditadura da

mídia”37 para usar os termos de Altamiro Borges, pois o fazer a informação torna-se

accessível a todos, pelo menos para aqueles que teriam acesso a internet. Com a

internet os debates e as opiniões não são mais orientados pelas mídias tradicionais.

São os indivíduos e internautas que decidem o que é importante e prioritário para

leitura, para escuta etc.

36

http://www.rti.ci/ 37

BORGES, Altamiro. A ditadura da mídia. São Paulo: Anita Garibaldi/Associação Vermelho, 2009.

Page 53: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Essa fase importante no espaço público marfinense nos leva a apresentar o

quadro dos usuários da internet na Costa do Marfim. O número de usuários da

internet na Costa do Marfim assim como no mundo inteiro continua em constante

crescimento.

5.2. DADOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS

Segundo dados de Agência Reguladora a ATCI (Agência das

Telecomunicações da Costa do Marfim) publicados na revista NETCOM38 em 2005,

tinha no final de 2002, 15.354 assinantes à internet e mais de 70.000 internautas,

uma proporção de cerca de 4,3 usuários para cada 1.000 habitantes. Se

considerarmos que na África em geral, e particularmente na Costa de Marfim, que a

caixa postal e os endereços eletrônicos servem de canal de comunicação para

várias pessoas, o número relativo à comunidade de usuários é logicamente mais alto

do que aquele apresentado pela Agência Reguladora. O potencial de crescimento do

país nesta área é maior, considerando a baixa das tarifas para assinantes e também

pela concorrência favorecida pela presença no país de diversos fornecedores de

acesso à internet.

O problema fundamental da expansão da internet na Costa do Marfim, e na

África em geral, vem da necessidade de ter um computador ou um telefone, duas

ferramentas nem sempre acessíveis para o cidadão comum. A esta necessidade

material acrescenta-se a necessidade de possuir conhecimentos básicos em

informática.

38

LOUKOU, Alain F. Networks and Communication Studies. NETCOM, Vol.19 (2005), n° 1-2, pp. 23-52

Page 54: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Dados mais recentes publicados pela Planet Expert39 no seu site atualizam

informações a respeito do país. Segundo este site, com uma população total de

19.737.800, a Costa do Marfim possui 1,6 computadores para cada 100 habitantes e

3,2 usuários da internet para cada 100 habitantes, dando um total de 631609,6

internautas na Costa do Marfim, lembrando que são números que podem ser

revisados devido ao argumento apresentado na página anterior sobre o uso do email

como ferramenta de comunicação.

É importante mencionar que os dados quantitativos sobre o público dos

internautas marfinenses como público particular correspondem a um público

socioeconômico relativamente especifico. O retrato40 típico do internauta marfinense

é o de um jovem com um nível de estudo, estatuto social e com uma renda mais ou

menos razoável. Seria, portanto um público jovem e alfabetizado que seria

politicamente bem informado e as vezes com certo engajamento sociopolítico que

representa proporcionalmente um eleitorado com uma alta participação nos debates

eleitorais.

39

http://www.planet-expert.com/fr/pays/cote-d-ivoire/chiffres-cles 40

Op.cit

Page 55: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

6. A COMUNICAÇÃO POLÍTICA VIA INTERNET

A comunicação política via internet, na Costa do Marfim assim como no resto

do mundo, traduz a vontade de apresentar as suas opiniões aos outros e, se

possível, levá-los a abraçar essas opiniões. E para isso diversas ferramentas da

internet são usadas, os sites (sites de partidos políticos, de candidatos), os grupos

de discussão, blogs e o twitter.

6.1. OS SITES

O site web é a ferramenta central da comunicação política na internet, e todos

os grandes partidos políticos41 da Costa do Marfim possuem um site internet. Existe

até um site para a rebelião no país, sinal da importância da comunicação política na

Internet para os atores do ambiente político marfinense. Apesar do grande número

de partidos, em torno de 13042, apenas uma dezena possui um website.

41

http://www.afrique-express.com/afrique/cotedivoire/cote-d-ivoire-liens.html 42

www.izf.net/pages/côte-d-ivoire/4926/

Page 56: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Website do PDCI43 de Henry Konan Bédié

Se hoje há grandes motivações para o uso da internet para fins políticos, é

importante dizer que o início da comunicação política no país não foi dos mais

promissores, primeiro pela falta de conhecimento com relação a esta ferramenta, a

sua capacidade de mobilização até fora das fronteiras e, segundo, devido aos custos

altos para se manter um website na Costa do Marfim até alguns anos atrás.

43

http://pdcirda-suisse.org/

Page 57: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Website do RDR44 de Alassane Ouattra

Igualmente, a grande motivação pelo uso da internet para uma comunicação

política veio também do interesse dos internautas que como mencionado nas linhas

anteriores, são em grande maioria jovens e formadores de opinião. Hoje o uso da

internet tornou-se uma ferramenta quase indispensável pelos políticos.

Além dos websites dos partidos, os sites mais presentes e mais visitados são

os pessoais dos candidatos, que têm maior visibilidade. Nota-se que o profundo

enraizamento do personalismo político é um dos fatores da valorização dos sites

pessoais. A cultura do político demiurgo ainda é significativa no fazer política na

Costa do Marfim.

44

http://www.rdrci.org/main.asp

Page 58: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Site de Alassane Ouattara45

Site de Laurent Gbagbo46

45

http://www.adosolutions.ci/ado/home.php 46

http://www.gbagbo.ci/

Page 59: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

E com as eleições presidenciais de 2010, houve um crescimento importante de

sites na internet para a campanha. A maioria deles já deixou de existir, mas tiveram

grandes impactos durante a campanha.

A crise pós-eleitoral veio também ampliar esse horizonte comunicacional dando

vida a diversos sites de resistência.

6.2 OS BLOGS, CHAT E GRUPOS DE DISCUSSÃO

Assim como o Rádio e a TV, a internet já começou a revolucionar o mundo da

comunicação política. Não se trata apenas de alguns internautas passivos com o

sonho da democracia eletrônica direta; há uma organização dos cidadãos, através

de lista de difusão e de fóruns, em comunidades virtuais, em torno de uma causa ou

de um objetivo comum. Hoje com a crise pós-eleitoral há uma presença de diversos

de grupos de resistência ou fan clubs. O site de relacionamento Facebook é hoje a

referência no que diz respeito a debates sobre a Costa do Marfim e, aliás, de

assuntos ligados ao mundo inteiro. Inúmeros blogs também tratam de assuntos

ligados à Costa do Marfim e principalmente da crise pós-eleitoral.

Os grupos de chat e de discussão relevam uma vontade de diálogo, mas existe

também diferenças notáveis entre estas duas formas de comunicação. Os grupos de

discussão sobre a Costa do Marfim constituem um elemento importante e em

constante crescimento na internet e principalmente nas redes sociais.

Page 60: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

7. A COMUNICAÇÃO POLÍTICA E A INTERNET NAS ELEIÇÕES DE 2010

É importante dizer que o período eleitoral de 2010 na Costa do Marfim definiu

uma fase importante para o uso da internet como ferramenta para a comunicação

política. Portanto é relevante analisar os sites dos partidos e candidatos durante e

depois da campanha. Faremos apenas uma análise do conteúdo deixando de lado

aspectos relativos à construção do site e uso de ferramentas para especialistas. O

nosso intuito é apenas tratar da noção de conteúdo. Avaliaremos tanto as riquezas

da informação para campanha eleitoral e as modalidades segundo as quais o

acesso foi organizado. Vale dizer que a crise pós-eleitoral de fato destruiu o avanço

no uso da internet para comunicação política, com o desaparecimento de diversos

sites e blogs de campanha que deram espaço hoje para site de resistência e blogs.

7.1 O CONTEÚDO DOS SITES

Dois dos maiores partidos do país, representados pelos três potenciais

candidatos (Alassane Ouattara, Laurent Gbagbo), respetivamente, o RDR, o FPI,

investiram muito durante a campanha eleitoral e a comunicação política via internet

foi uma área bastante aproveitada. Porém diversos questionamentos vêm à tona,

quando se trata dos serviços que foram disponibilizados durante o período eleitoral e

após as eleições, para os internautas. Dois pontos serão analisados. Primeiramente

o contato com os militantes e eleitores via internet e os links e outros recursos

oferecidos.

Page 61: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

7.1.1. MILITANTES E ELEITORES COMO INTERNAUTAS

Os sites marfinenses de candidatos e partidos foram planejados durante o

período eleitoral para um público específico e restrito, mas muito importante, por

este ser composto de formadores de opiniões e potenciais cabos eleitorais. Estes

sites iniciaram as suas atividades apenas para serem um meio adicional de

informações e uma plataforma de agenda e divulgação detalhada dos programas de

governo de cada partido e governo, mas também uma forma de abrir espaço para

debates e contribuições. Havia a necessidade de criar um espaço de troca de

informações, de dados, de downloads e transferência de documentos, também para

marfinenses e eleitores da diáspora. Sem medo de exagerar, podemos afirmar que o

intuito dos comunicadores ao incentivarem o uso da internet durante a campanha

para aproximar ainda mais os candidatos deste público específico que faz parte da

“classe mais intelectualizada ou a chama classe A/B, com troca de e-mail, chat e

vídeos”47.

Com o alto desenvolvimento da internet, os partidos podiam alcançar os

“cabos eleitorais virtuais” que seriam determinantes na persuasão e no

convencimento de eleitores para integrarem a campanha de determinado candidato.

E a característica dos sites políticos, permitir e incentivar iniciativas militantes

permaneceu o foco da maioria destas páginas da Web. A internet é, portanto um

meio para facilitar e melhorar a ação de terreno. Esta foi a lógica seguida pelos

quartéis gerais dos dois candidatos durante a campanha. Os sites dos candidatos

propunham ajuda para comunicação de proximidade, que se apresentavam sob a

forma de dicas de campanha, informativos e até agendas dos candidatos. Havia

47

ROMANINI, M.G. A internet como comunicação política. In “Marketing Político, do comício à Internet.. – São Paulo: ABCOP, 2007.

Page 62: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

constantes atualizações, com vídeos e informações diárias. Além disso, os sites dos

candidatos apresentavam panóplia de recursos para conhecer os candidatos, seus

programas de governo, sugestões para campanha, News... No caso do site

ADOSULUTIONS48, site do Alassane Ouattara, havia um item “EXPRIMEZ-VOUS”

que permitia aos internautas opinarem e fazerem sugestões sobre questões

importantes como: educação, emprego, mulheres, jovens, paz, saúde,

infraestruturas etc. Havia também um item “QUESTIONS A ADO” que servia para

perguntas diretas ao candidato.

No entanto, um ponto que poderia parecer negativo nesta campanha via site

pessoal, era a falta de interação direta entre eleitores, militantes, até adversários e

os candidatos. Não foi o caso, visto que estes dois candidatos tinham blogs e

páginas em diversas redes sociais, principalmente o Facebook e o Twitter. O

candidato Laurent Gbagbo tem no blog ligado ao site de campanha, um item na

parte direita da tela onde consta a frase “RESTEZ CONNECTÉ”49. Esta frase

personalizada permite ao internauta, acessar páginas do candidato nas redes

sociais: Facebook, Twitter, Youtube, Daylimotion, Myspace e Viadeo.

Os sites destes dois candidatos e seus respectivos partidos são os únicos que

ofereciam a seus eleitores, militantes e até oponentes, tal panóplia e alternativas

para permanecer ligado a eles e assim obter resultados quanto à intenção inicial de

usar a Internet para a comunicação política.

48

http://www.adosolutions.ci/ado/home.php 49

http://blog.gbagbo.ci/home.asp

Page 63: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

7.1.2. OS LINKS

Os links oferecidos nos sites permitiam aos internautas encontrarem

informações específicas. De fato, os links eram frequentemente muito ricos e

reveladores de informações. Eles indicavam ao internauta uma série de sites

alternativos e páginas de redes sociais e blogs do seu interesse e em relação com o

candidato ou ligado ao partido ou sua ideologia50. O site gbagbo.ci usava os termos

“Liens utiles” e o adosolutions.ci “Autres sites et Blogs”.

Conforme já mencionado, os links também são reveladores de informações,

mas também de uma forma de conceber a comunicação política via internet,

principalmente durante o período eleitoral. Há certa coerência que se destaca no

estudo destes links, visto que os dois partidos e seus candidatos valorizam um

aspecto. É um aspecto interno, sem ligação com o internacional, como ações ligadas

a partidos políticos de uma mesma corrente ideológica. Os links remetem em geral a

representações, QGs de candidatos, movimentos de jovens e/ou mulheres, assim

como associações e até sindicatos. O site de campanha do Alassane Ouattara

apresenta links como: Blog du RJR, Blog Jeunesses Intellectuelles pour ADO51, Blog

All for ADO, Site de Campagne du QG de Cocody, Site Representation Rayaume-

Uni.

Cada uma das organizações políticas e seus respectivos candidatos se

apresentavam em redes. Porém, estas redes eram apresentavam também

particularidades conforme os próprios partidos, que remetiam as suas

especificidades em termos de identidades políticas. O site do candidato Laurent

50

http://www.adosolutions.ci/ado/lire.php?link=autres_sites 51

http://lacwa.ivoire-blog.com/

Page 64: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Gbagbo no caso, tinha links das instituições, do tipo site do governo, site dos

diferentes ministérios, de empresas públicas, de sindicatos e de personalidades

ligadas de certa forma ao candidato e seu partido.

Para Alassane Ouattara e o seu partido, a referência feita a instituições

aparece menos importante. São mais valorizados os links do universo do partido e

do candidato.

Para finalizar esta parte, vale salientar que o intuito ao trabalhar sites

pessoais desses dois candidatos e dos seus partidos, não é comparar nos mínimos

detalhes os seus sites de campanhas, mas sim trazer apenas elementos que

confirmam o uso da internet para a comunicação política. Aliás um trabalho

detalhado nos levaria a demonstrar a qualidade de uns sites com relação aos outros

e assim tratar de um favoritismo, em função das nossas próprias afinidades, o que

tentamos evitar até o momento, realizando uma análise descritiva com critérios

puramente objetivos.

Page 65: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

8. BALANÇO E PERSPECTIVAS

Depois de apresentar o uso desta ferramenta na comunicação política durante

o período eleitoral, cabe fazer um balanço da análise descritiva feita no capítulo

anterior. Esse balanço mostrará, de maneira sintética, os traços importantes dos

sites marfinenses. É a adaptação lenta com relação às grandes possibilidades da

internet, que apesar de algumas iniciativas interessantes, chama a nossa atenção.

Com base nesta observação, vamos tentar delinear o que será, certamente, a

comunicação política na internet em nosso país, nas eleições futuras, caso o novo

poder resolva incluir no seu jeito de governar, eleições democráticas, livres e abertas

a todos conforme prevê a Constituição.

8.1 BALANÇO DA INTERNET NAS ELEIÇÕES DE 2010

Se pensarmos na totalidade dos sites marfinenses de campanha, houve uma

desigualdade no quesito qualidade. No caso dos sites de candidatos e de seus

partidos analisados, há três pontos que podem ser destacados. O primeiro é aquilo

que poderíamos chamar de falta de interação direta com os internautas, que tem um

papel passivo nestes sites. Outro ponto essencial é também entender que a internet

não pode ser usada apenas para satisfazer práticas da comunicação política

tradicional. E por fim, as dificuldades ligadas à web ainda complicam o seu uso para

fins de comunição política.

Page 66: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

8.1.1 INFORMAR EM VEZ DE COMUNICAR

Embora haja alternativas criadas com os blogs, e outras páginas nas redes

sociais, a falta de interação nos sites de campanha merece alguma análise. Os sites

de campanhas de nossos candidatos sofreram pela subutilização ou um mau uso

das ferramentas da informática. Isso se traduziu pela disponibilização de sites

puramente informativos que deixavam pouco espaço ou nenhum para a

interatividade. Podemos avaliar que, para os comunicadores dos QGs de campanha

e para os partidos, a Internet seria apenas uma mídia com dispositivos

suplementares, como o e-mail e as informações sobre atividades dos candidatos e

seus partidos. Há poucas inovações (fóruns, opção de pagamento on-line...).

Nota-se ainda mais a importância de certos modos de funcionamento

(comunicação da diretoria para com os membros, a disponibilidade de documentos

já publicados na mídia impressa, a ausência de registro e adesão on-line etc.), que

demonstra a falta de flexibilidade e de abertura para o debate. Há ainda certa rigidez

das organizações no fazer a comunicação política via internet. Há informações,

porém, são quase inexistentes as possibilidades de diálogo da base com a diretoria

e/ou candidatos, a troca de informações permanece rara. Isso nos leva a crer que os

partidos não mudaram o seu jeito de funcionar mesmo com o surgimento da internet,

numa era em que há troca de informações numa velocidade sem precedente. Para

as eleições foram criados sites, o que foi de fato inovador para as eleições de 2010,

mas que não mudaram muito o jeito de comunicar dos partidos e candidatos.

O último ponto a considerar sobre a falta de interação é também a presença

de um email para contato, porém inativo para o envio de respostas as inúmeras

Page 67: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

correspondências enviadas52. Esta falta de resposta constitui um ponto negativo

quanto à impressão que pode ter um militante, eleitor que não conseguiu entrar em

contato com o candidato ou a diretoria para informações sobre a sua cidade, a sua

zona eleitoral. Vale dizer nesta parte do trabalho que esse fato não é apenas

específico à Costa do Marfim e seus políticos, mas sim um fenômeno generalizado.

8.1.1.1 UMA ADAPTAÇÃO DIFÍCIL

Parece que os dois partidos e seus candidatos não entenderam que a

comunicação política via internet não pode ser feita da mesma forma que nas mídias

tradicionais, ou então já entenderam e se recusam a abrir o espaço para comunicar

em vez de informar.

A boa comunicação Política na internet não tem nada a ver com uma

transposição daquilo que é feito em outro lugar. Como escrevem Francisco de Assis

e Letícia Maria Pinto da Costa,

É preciso entender que a ideia básica dessas páginas da Web é divulgar conteúdos diversos, numa linguagem muitas vezes informal, a fim de que um grande número de internautas possa ter acesso ao material publicado e deixar registrada a sua opinião53.

Pela citação acima mencionada, podemos dizer que os internautas querem

mais trocas, que cada ponto lhe sejam explicado, argumentado. Eles querem pedir

esclarecimentos e obtê-los, querem que o candidato esteja presente antes, durante

e após as eleições, eleito ou não, mantendo um contato regular e personalizado,

52

Durante a campanha de 2010, enviamos vários emails para apresentar um projeto de telemarketing político para os QGs de campanha, sem nenhuma resposta. Apenas conseguimos contatos através do telefone. 53

Assis, Francisco De. A internet como instrumento da propaganda ideológica: o blog de Ricardo Noblat e o caso “mensalão”. In “Marketing Político, do comício à internet. (org). São Paulo : ABCOP, 2007.

Page 68: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

com eles54. A internet inverte completamente a lógica do marketing político

tradicional. Na televisão, o candidato deve emitir uma mensagem curta. No palanque

eletrônico, é o oposto: quanto mais informação e comunicação tiverem, melhor para

os candidatos e seus partidos.

Não se pode também afogar este potencial cabo eleitoral virtual em um mar

de informações. Na verdade, o usuário deve encontrar as informações de que

necessita num piscar de olho e em apenas uma página. É importante notar que um

internauta, à procura de uma informação específica ou simples visitante que chegou

mais ou menos por acaso, passa em média 43 segundos55 em uma página, tempo

suficiente para opinar sobre o seu interesse ou não. O uso de um sumário rápido em

forma de ícones pode acentuar o lado visual do site e assim chamar mais a atenção

do internauta.

8.1.1.2. DIFICULDADES LIGADAS À WEB

O uso da web para comunicação política e, sobretudo campanha eleitoral é

muito complexo. E esta complexidade é em parte devido à enorme quantidade de

dados que se pode encontrar na web e entre os quais o usuário deve fazer a

triagem. Frequentemente promessas de acesso à informação são frustradas, por

exemplo, quando um motor de busca direciona para um site já obsoleto. Temos o

exemplo do Henri Konan Bédié, site do terceiro colocado para o primeiro turno das

eleições, que continua existindo sem ter nenhuma informação como pode se ver nas

ilustrações abaixo. Digitando o endereço aparece a primeira página, onde consta

54

Granjon F., L'Internet militant - Mouvement social et usage des réseaux télématiques, Rennes, éd. Apogées, 2001. Tradução Própria.

55

http://www.journaldunet.com/0508/050831surfeurs.shtml

Page 69: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

logo abaixo da foto, a frase “PASSER L´INTRO” que significa pular a introdução.

Basta passar a introdução que aparece uma página em branco com a seguinte

frase: NOT FOUND: The requested URL/índex.php was not found on this Server.

O vazio jurídico que prevalece neste caso não ajuda a reduzir esse fenômeno:

as regras mais específicas nesta área forçariam os partidos e seus candidatos a

respeitarem procedimentos, como atualizações de conteúdos mesmo após as

eleições. Vale salientar que vários candidatos saíram do palanque eletrônico logo

após o primeiro turno. E no caso dos nossos principais candidatos, objetos de

análise neste trabalho, houve uma adaptação para os sites e páginas do Laurent

Gbagbo, passando de site de campanha para sites e páginas de resistência, como

apresentados nos anexos. No caso de Alassane Ouattara, atual presidente, não

Page 70: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

houve alterações. De novidades constam apenas informações desfilando na parte

superior do site sobre atividades do novo presidente.

Acabamos de apresentar um balanço não positivo do uso da web para

comunicação política no período eleitoral e pós-eleitoral. A realidade, como

chegamos a mostrar nas análises acima, apresenta um quadro pouco estruturado e

pouco especializado do uso da web na comunicação política. E para pensar como os

“ciberotimistas”56 que apesar das insuficiências, acreditam e enfatizam as

características positivas que o uso da internet propicia nas campanhas políticas. A

comunicação política na internet, novo ramo da comunicação de campanha tem um

futuro promissor sem medo de exagerar.

8.2. INICIATIVAS POSITIVAS A REFORÇAR

Os sites marfinenses submetidos a nosso estudo apresentam aspectos

encorajadores para aqueles ligados ou interessados nesta nova forma de

comunicação política.

Desde o seu surgimento, foi comprovado que o papel da internet nas eleições

está cada vez mais forte. As últimas eleições na Costa do Marfim apresentam-se

como catalisadores, pois os candidatos estão sempre procurando novos meios para

seduzir um público cada vez mais desiludido com a política. Um paralelismo é

possível: assim como as guerras de todo tempo contribuíram para o progresso

científico, as eleições francesas de 2007 e as eleições americanas de 2008 têm

contribuído para um uso mais aguçado do palanque eletrônico nos países africanos

56

LASULAITIS, Sylvia. As agendas de notícias dos websites eleitorais e as estratégias persuasivas empregados pelos candidatos do PT e do PSDB á presidência. In “Marketing Político, do comício à internet. (org). São Paulo : ABCOP, 2007.

Page 71: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

e principalmente nas eleições marfinenses de 2010, e uma entrada definitiva dos

partidos e candidatos na comunicação política via internet.

Há muitos outros casos que podem fazer ofício de exemplo neste sentido. Os

ex-rebeldes do norte da Costa do Marfim entenderam que para possíveis apoios de

dentro e fora do país, na guerra contra as instituições marfinenses, era preciso uma

comunicação mais ativa, embora nos mesmos moldes que os sites de partidos, eles

investiram na comunicação política via net.

O site dos ex-rebeldes se tornou hoje um site de partido político, já que os ex-

rebeldes criaram um partido político e participaram das eleições legislativas de 2011.

. A campanha eleitoral de 2010, que culminou em uma crise sem precedente

para o país com mais de 3.000 mil mortos, demonstrou que mais uma vez que estes

confrontos eleitorais trazem muitas inovações. Encontros via internet com os

candidatos, uma maior proximidade com estes, programas de governos mais

detalhados, com a possibilidade para os “cabos eleitorais virtuais” disporem de mais

informações sobre a campanha, o partido e os candidatos. A internet teve um

Page 72: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

impacto importante no processo eleitoral, com os resultados do primeiro turno

publicados on-line no mesmo tempo que foram proclamados ao vivo na principal TV

marfinense. É longe ainda a época em que todo mundo terá acesso, mas podemos

dizer que os internautas marfinenses tinham lugares privilegiados durante a

campanha para presidente em 2010.

8.3. PERSPECTIVA

A evolução da comunicação política na internet envolve cumprimento de

certas condições. Realização cada vez mais provável visto as partes envolvidas têm

um interesse claro em termos de imagem e marca. Deve-se incentivar em primeiro

lugar, um maior envolvimento dos políticos para seguirem o caminho dessa nova

forma de comunicar com o público, que supõe provavelmente a renovação da classe

política marfinense. Em seguida, a modernização da comunicação na Costa do

Marfim passa talvez pelo estudo de modelos estrangeiros. A este respeito, deve-se

questionar se os sites dos principais partidos políticos podem servir de exemplos. No

caso o UMP e o PS.

8.3.1. RENOVAÇÃO POLÍTICA E COMPROMISSO COMUNICACIONAL

O futuro da comunicação política na internet, com certeza, passa por um

melhor conhecimento e uso mais eficaz das ferramentas da web. Boa parte dos sites

oficiais de partidos e políticos marfinenses peca por seu caráter ainda rudimentar.

Pelo menos os sites dos principais candidatos, Laurent Gbagbo e Alassane Ouattara

parecem ter sido feitos por empresas especializadas. O que não é o caso dos outros

Page 73: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

partidos e candidatos que privilegiam pessoas menos experientes para realização e

gestão. Esta opção apresenta muitas vantagens tanto para o partido, como para os

militantes, sendo economia e garantia de determinada orientação do conteúdo para

o primeiro, participação ativa e responsabilidade para o último.

Para ter um resultado eficiente e um maior aproveitamento durante as

eleições, e até para um bom marketing político, é preciso agir com profissionalismo,

contratando pessoas especialistas e conhecedoras do ambiente político, para cuidar

dos sites, desde a criação até a gestão diária. Esta prática modelo nos Estados

Unidos, já ganhou campo importante na América Latina e principalmente no Brasil.

Esta terceirização ainda está numa fase embrionária nos países africanos e na

Costa do Marfim, pois em geral os partidos contratam uma única empresa de

comunicação que cuida desta parte técnica. O que a nosso ver está errado.

Ao amadorismo que vimos durante as eleições, sucederá um profissionalismo

nos moldes americanos ou europeus. Seria uma evolução pelo menos lógica que

poderá acontecer de fato se houver condições democráticas para a expressão das

diferenças. Porém já se iniciou esse processo evolutivo, nas eleições de 2010.

Embora lenta, já se pode afirmar que o profissionalismo ganha espaço no fazer

política na Costa do Marfim.

A classe política marfinense já de idade avançada pode constituir e explicar

essa lentidão, pois acostumados com o modelo de comunicação política tradicional,

com as mídias tradicionais. Existem generalizações a este respeito: Os idosos têm

mais dificuldades para se adaptarem às novas tecnologias, e podemos dizer que os

políticos marfinenses não são exceção a este clichê. Dos mais jovens políticos

marfinenses, apenas ex-chefe rebelde e atual primeiro ministro de 39 anos entendeu

a importância de uma comunicação política via internet, criando o site da rebelião

Page 74: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

acima ilustrado e com o site que criou assim que ocupou o cargo de primeiro

ministro, o site: http://www.premierministre.ci/ e o blog:

http://www.guillaumesoro.com/ com diversas outras páginas das redes sociais.

Mesmo com os jovens políticos, tal qual o Guillaume Soro, há uma

preocupação em fazer imgens do que criar um conteúdo adequado para a

comunicação política via internet. O que podemos deduzir desta situação de

evolução lenta é que, poderá haver evolução concreta e plena somente quando os

políticos terão ou incorporaram a cultura da internet. Em outras palavras, os políticos

que terão um maior envolvimento, e uma compreensão aguçada deste tipo de mídia,

são aqueles que cresceram com ela. Esperamos que o exemplo das eleições de

2010 possa fazer escola de maneira a não esperar a renovação da classe política.

8.3.2. O EXEMPLO AMERICANO

É importante dizer que os EUA desempenharam a respeito da comunicação

política um papel exemplar para o resto do mundo. Vale salientar que foi nos

estados que surgiu o world wide web, e os dois grandes protagonistas do cenário

político americano, os partidos Democrata e Republicano fazem parte dos primeiros

partidos políticos do mundo a abrirem sites para promoverem suas ideias e ideais57.

Hoje o grande referencial do uso da internet para comunicação política e

sobretudo em período eleitoral é o Barack Obama antes e durante as eleições de

2008, conforme escreve FLEURY (2009):

Talvez a grande percepção da equipe que conduziu sua campanha foi de que a internet não seria só “Consequência” das ações do candidato, de suas ideias, desejos e visões (assim como os políticos brasileiros pensam até hoje). E sim uma das principais “causas” de um grande movimento.

57

http://www.erudit.org/livre/moniered/2002/livrel5_div7.pdf

Page 75: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Nunca antes alguém havia pensado e arquitetado uma campanha no mundo utilizando-se de tamanhas artimanhas – uma rede virtual capaz de aproximar pessoas, motivá-las, inseri-las num processo maior, ouvindo ideias, pensamentos e todos aqueles que quisessem opinar sobre a construção de um novo país, um novo modelo de se fazer política.58

Assim apesar das críticas de muitos “cibercéticos”59 que permanecem

minoritários nos seus julgamentos, a internet se tornou, mais do que um novo meio

de comunicação, uma ferramenta essencial para eleições.

Ainda nos Estados Unidos, outro fato importante consistiu em organizar uma

"Troca de votos" online entre os candidatos Al Gore do partido dos Democratas e

Ralph Nader do partido verde, durante as eleições de 2000. Tratava-se de

convencer os eleitores de Nader (Partido Verde) a votarem Gore em estados onde o

candidato democrata tinha chance de ganhar contra Bush. Em troca, os eleitores de

Al Gore votariam em Nader em estados onde Bush tinha uma vantagem confortável.

O interesse era mútuo: reforçar as chances de vitória para Al Gore em estados onde

a votação seria apertada, e para Nader garantir os 5% dos votos necessários para

obter ajuda financeira do governo federal para as próximas eleições. O eleitor podia

desta forma ter o sentimento de que o seu voto era mais eficaz.

Trocas de votos, voto on-line e outras artimanhas da internet, podem surtir

efeitos nos estados unidos e em outros países desenvolvidos, porém as

possibilidades para estas práticas cruzarem o atlântico e alcançarem o Golfo da

Guiné (Costa oeste africana) ainda reflete o campo da ilusão, apesar dos avanços

cibernéticos. Apesar de acreditar no avanço da internet como ferramenta essencial

para comunicação política, as últimas notícias sobre eleições no continente deixam

58

FLEURY, Gustavo. Eleições 2008. O Brasil e o Efeito Obama.

59

LASULAITIS, Sylvia. As agendas de notícias dos websites eleitorais e as estratégias persuasivas

empregados pelos candidatos do PT e do PSDB á presidência. In “Marketing Político, do comício à internet. (org). São Paulo : ABCOP, 2007.

Page 76: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

dúvidas sobre a saída da tão amada ditadura para se construir um espaço

democrático onde possam se desenvolver comunicações eficientes em que o povo

se sinta a vontade para trocar informações e participar do fazer política e não do

morrer pela política.

No que diz respeito às pesquisas de opinião, a maioria dos sites americanos

publicam durante o período eleitoral em suas páginas pesquisas simples, com

questões regularmente atualizadas. Os candidatos dispõem assim de um feedback

contínuo sobre a relevância de sua mensagem de campanha, tendo a possibilidade

de mudar, aprimorar ou excluir. Em geral, os internautas que visitam os sites são

questionados sobre a ordem das suas preocupações, sobre as propostas do

candidato que recebe maior aprovação etc. Esta prática é utilizada diferentemente

nos sites de campanha dos candidatos durante as eleições marfinenses. Há apenas

possibilidades para os eleitores e/ou militantes opinarem sobre questões já

predefinidas e sobre as quais só poderiam se expressar. Mesmo com a vontade de

comunicar com os internautas, a comunicação aqui é orientada para a visão do

partido e do seu candidato para com questões que julgam necessárias para as

populações. Qual foi a base para definir a classificação destas preocupações se há

também uma falta de pesquisas eleitorais feitas por empresas qualificadas. As

pesquisas são sempre orientadas para as intenções de votos60.

60

http://www.jeuneafrique.com/Article/ARTJAJA2533p010-011.xml0/

Page 77: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

9. CONCLUSÃO

A internet como ferramenta para comunicação política é revolucionária e

emocionante, porém o seu uso permanece decepcionante. Os movimentos de

protesto como os do Egito, da Tunísia e os da resistência marfinense entenderam

hoje as possibilidades da internet para a comunicação Política. Os partidos vão, aos

poucos, integrar esse processo de avanço democrático via internet, sem que seja

possível saber se há excesso de prudência e principalmente o medo de querer abrir

muito o jogo e ter em frente internautas mais informados dos eles. No momento,

apesar da crise pós-eleitoral que viveu e continua vivendo a Costa do Marfim, ainda

há esperança de que as práticas e experiências adquiridas durante as eleições com

o uso da internet possam continuar e melhorar nas eleições futuras, que poderão

trazer para um povo frustrado por anos de luta pelo poder que culminou com a morte

de milhares de pessoas.

Apesar do contexto de crise, e das dificuldades diárias de fazer uma

comunicação política em um ambiente saudável e de paz, os partidos têm mantido

um semblante de comunicação orientada para e pela internet. Podemos afirmar que

se houver condições aceitáveis de segurança e liberdade de expressão as eleições

de 2015 trarão novidades importantes, já que teremos inovações nas próximas

eleições americanas, francesas que são os modelos mais copiados pelos políticos

marfinenses.

As eleições de 2010 e os rumos que tomaram a história demonstram que os

partidos marfinenses e seus candidatos futuros não poderão ignorar a importância

da internet, pois o que está em jogo é a sua imagem. É cada vez mais importante e

necessária a captação do público jovem marfinense, composto de eleitores de hoje e

Page 78: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

de amanhã. Além disso, os movimentos de contestação e/ou de resistência

invadiram a web, e estar presente na internet, poderá levar os partidos políticos e os

candidatos a se aproximarem destes, e responder aos argumentos por eles

desenvolvidos através do mesmo canal que é a web.

Agora basta esperar que os partidos políticos e seus dirigentes façam o

necessário para que o país encontre o caminho da paz para que o jogo político seja

feito em prol ao beneficio e bem estar da sociedade marfinense, e que este país

repleto de riquezas naturais se desenvolva de fato. Um ambiente político apaziguado

será o alicerce para uma democracia onde o jogo político-eleitoral se fará com

estratégias e capacidade dos adversários em aceitarem as diferenças ideológicas,

com uma comunicação política feita pela internet que gere participação de todos.

Afinal, internet oferece aos políticos marfinenses e da África em geral, oportunidades

importantes: é preciso aproveitar essas oportunidades para que a comunicação

política na era da internet sirva para a entrada de fato na democracia e para sua

consolidação.

Page 79: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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https://twitter.com/#!/gbagbolaurent http://www.myspace.com/gbagbolaurent http://ci.viadeo.com/profile/0021h8e8zl5swudv https://www.facebook.com/lamajoritepresidentielle?sk=info http://www.gbagbo.ci/ http://www.defenselaurentgbagbo.org/au-coeur-des-preuves.html http://www.ado.ci/accueil.php http://www.adosolutions.ci/ado/home.php https://twitter.com/#!/adosolutions http://www.myspace.com/adosolutions http://www.myspace.com/adosolutions http://allforado.canalblog.com/ http://victoireado.ivoire-blog.com/ http://www.rdrci.org/main.asp http://www.fninfo.ci/ http://lacwa.ivoire-blog.com/ www.izf.net/pages/côte-d-ivoire/4926/ http://pdcirda-suisse.org/ http://www.rti.ci/

Page 82: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

ANEXOS

I. Os sites, blogs e páginas de Laurent Gbagbo.

1. Os sites e Blogs

http://www.gbagbo.ci/

http://www.defenselaurentgbagbo.org/

Page 83: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

http://jevotegbagbo.blogspot.com/2010/10/supports-de-campagne-de-gbagbo.html

http://blog.gbagbo.ci/home.asp

Page 84: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

2. Laurent Gbagbo nas redes sociais

https://www.facebook.com/gbagbolaurent

https://www.facebook.com/lamajoritepresidentielle?sk=info

Page 85: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

http://www.dailymotion.com/gbagbolaurent#video=xfgfty

http://www.youtube.com/GbagboLaurent

Page 86: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

https://twitter.com/#!/gbagbolaurent

http://www.myspace.com/gbagbolaurent

Page 87: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

http://ci.viadeo.com/profile/0021h8e8zl5swudv

Page 88: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

II. Os sites, blogs e páginas de Alassane Ouattara

1. Os sites e Blogs

http://www.ado.ci/accueil.php

http://www.adosolutions.ci/ado/home.php

Page 89: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

http://www.rdrci.org/main.asp

http://allforado.canalblog.com/

Page 90: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

http://victoireado.ivoire-blog.com/

2. Alassane Ouattara nas redes sociais

Page 91: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

https://www.facebook.com/pages/ALASSANE-DRAMANE-OUATTARA/49840625489

https://twitter.com/#!/adosolutions

Page 92: Comunicação política via internet nas eleições presidenciais da Costa do Marfim

Outros sites e Blogs

http://www.premierministre.ci/

http://www.guillaumesoro.com/