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CM\1039596PT.doc PE541.561v01-00 PT Unida na diversidade PT PARLAMENTO EUROPEU 2014 - 2019 Comissão das Petições 31.10.2014 COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS Assunto: Petição n.º 1074/2013, apresentada por Gregório Simões, de nacionalidade portuguesa, sobre a recusa de atribuição de uma pensão de invalidez em França 1. Síntese da petição O peticionário, cidadão português que trabalhou em França durante vários anos, explica que o seu pedido de pensão de invalidez foi rejeitado pelas autoridades francesas pelo facto de não ter trabalhado pelo menos 800 horas durante os 12 meses que antecederam a apreciação do seu pedido. O peticionário argumenta que, como exerceu uma atividade profissional em Portugal entre 2008 e 2010, acumulou o período de 12 meses necessário exigido pelas autoridades francesas. Gregório Simões acrescenta que atualmente vive na miséria em Portugal e sustenta que as condições impostas pelas autoridades francesas para a atribuição de uma pensão de invalidez discriminam as pessoas que vivem no estrangeiro. 2. Admissibilidade Declarada admissível em 17 de fevereiro de 2014. A Comissão foi instada a prestar informações (artigo 216.º, n.º 6, do Regimento). 3. Resposta da Comissão, recebida em 31 de outubro de 2014

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Page 1: COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS - europarl.europa.eu · O peticionário argumenta que, como exerceu uma atividade profissional em Portugal entre ... a CPAM Marne reviu a situação do peticionário,

CM\1039596PT.doc PE541.561v01-00

PT Unida na diversidade PT

PARLAMENTO EUROPEU 2014 - 2019

Comissão das Petições

31.10.2014

COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS

Assunto: Petição n.º 1074/2013, apresentada por Gregório Simões, de nacionalidade portuguesa, sobre a recusa de atribuição de uma pensão de invalidez em França

1. Síntese da petição

O peticionário, cidadão português que trabalhou em França durante vários anos, explica que o seu pedido de pensão de invalidez foi rejeitado pelas autoridades francesas pelo facto de não ter trabalhado pelo menos 800 horas durante os 12 meses que antecederam a apreciação do seu pedido.

O peticionário argumenta que, como exerceu uma atividade profissional em Portugal entre 2008 e 2010, acumulou o período de 12 meses necessário exigido pelas autoridades francesas.

Gregório Simões acrescenta que atualmente vive na miséria em Portugal e sustenta que as condições impostas pelas autoridades francesas para a atribuição de uma pensão de invalidez discriminam as pessoas que vivem no estrangeiro.

2. Admissibilidade

Declarada admissível em 17 de fevereiro de 2014. A Comissão foi instada a prestar informações (artigo 216.º, n.º 6, do Regimento).

3. Resposta da Comissão, recebida em 31 de outubro de 2014

Page 2: COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS - europarl.europa.eu · O peticionário argumenta que, como exerceu uma atividade profissional em Portugal entre ... a CPAM Marne reviu a situação do peticionário,

PE541.561v01-00 2/3 CM\1039596PT.doc

PT

A legislação da UE em matéria de segurança social prevê a coordenação e não a harmonização dos regimes de segurança social1. O Regulamento (CE) n.º 883/2004 relativo à coordenação dos sistemas de segurança social define as normas e os princípios comuns que devem ser observados por todas as autoridades nacionais na aplicação da legislação nacional. Estas normas garantem que a aplicação das diferentes legislações nacionais respeita os princípios básicos da igualdade de tratamento e da não discriminação. Porém, na ausência de harmonização, a legislação da União não limita o poder dos Estados-Membros de organizarem os seus próprios regimes de segurança social. Cabe a cada Estado-Membro legislar sobre as condições em que são concedidas as prestações de segurança social, bem como o respetivo montante e o período durante o qual são concedidas, desde que sejam respeitados os princípios da igualdade de tratamento e da não discriminação.

Por conseguinte, cabe às legislações nacionais definir as condições de saúde que habilitam a uma pensão de invalidez e os requisitos a preencher para contestar a decisão médica.

No que diz respeito aos períodos de trabalho que o peticionário prestou antes do acidente em Portugal, afigura-se legítimo que esses sejam tidos em conta, de acordo com o artigo 6.º do Regulamento (CE) n.º 883/2004, que dispõe:

«Salvo disposição em contrário do presente regulamento, a instituição competente de um Estado-Membro cuja legislação faça depender do cumprimento de períodos de seguro, de emprego, de atividade por conta própria ou de residência:

- a aquisição, a conservação, a duração ou a recuperação do direito às prestações,

- a aplicação de uma legislação

ou

- o acesso ou isenção em relação ao seguro voluntário, facultativo continuado ou obrigatório, deve ter em conta, na medida do necessário, os períodos de seguro, de emprego, de atividade por conta própria ou de residência cumpridos ao abrigo da legislação de outro Estado-Membro como se se tratasse de períodos cumpridos ao abrigo da legislação aplicada por aquela instituição.»

Por conseguinte, em 30 de abril de 2014, e à luz do artigo 6.º do Regulamento (CE) n.º 883/2004, a Comissão solicitou informações às autoridades francesas no âmbito do procedimento «EU-Pilot».

Na sua resposta de 10 de julho de 2014, as autoridades francesas confirmaram que tinham cumprido as obrigações decorrentes do Regulamento (CE) n.º 883/2004, designadamente as disposições relativas à totalização dos períodos de seguro, de emprego, de atividade por conta própria ou de residência, previstas no artigo 6.º do mesmo regulamento.

1 A este propósito, ver o Processo C-208/07 Petra von Chamier-Glisczinski v. Deutsche

Angestellen-Krankenkasse [2009] ECR I-06095, parágrafo 84: «Todavia, uma vez que o artigo 42.º CE [atual artigo 48.º do TUE] prevê uma coordenação das legislações dos Estados-Membros e não a sua harmonização, não são afetadas por essa disposição as diferenças de fundo e de forma entre os regimes de segurança social de

cada Estado-Membro (...)».

Page 3: COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS - europarl.europa.eu · O peticionário argumenta que, como exerceu uma atividade profissional em Portugal entre ... a CPAM Marne reviu a situação do peticionário,

CM\1039596PT.doc 3/3 PE541.561v01-00

PT

As mesmas autoridades referiram que a caixa primária de seguro de doença (CPAM) do departamento francês do Marne teve em conta os períodos em que o peticionário esteve coberto pela Segurança Social portuguesa em Lisboa. As autoridades explicaram que, com efeito, a CPAM do Marne não havia tido inicialmente conhecimento dos períodos de desconto efetuados em Portugal, comunicando ao peticionário, em 25 de agosto de 2010, a decisão administrativa de recusa de atribuição de uma pensão de invalidez por não estarem reunidos os critérios de elegibilidade.

Em 4 de novembro de 2010, Gregório Simões contestou esta decisão administrativa, afirmando que havia trabalhado em Portugal entre 1 de fevereiro de 2008 e 1 de março de 2010. Assim, em 7 de janeiro de 2011, a CPAM do Marne informou o peticionário de que tinha enviado um formulário às entidades competentes em Lisboa, para obter informações relativas à sua atividade profissional. Depois de as autoridades portuguesas terem transmitido o documento, a CPAM Marne reviu a situação do peticionário, tendo contabilizado o período de trabalho prestado em Portugal, à luz do disposto no artigo 6.º do Regulamento n.º 883/2004.

Conclusão

A Comissão Europeia lamenta a situação do peticionário. No entanto, na sequência da intervenção da Comissão e das explicações apresentadas pelas autoridades francesas no âmbito do procedimento «EU Pilot», deve concluir-se que as obrigações relativas à totalização do período de seguro definidas na legislação da UE e, em particular, no Regulamento (CE) n.º 883/2004 relativo à coordenação dos sistemas de segurança social, foram respeitadas.

O estado de saúde do peticionário, que o habilita a uma pensão de invalidez, assim como os requisitos a preencher para contestar a decisão médica, não são abrangidos pelo Direito da UE.