compreensão de textos e redação oficial – assistente … assim, já fui torcedora, sem querer...

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Compreensão de Textos e Redação Oficial Assistente em Administração-UFRGS 2016 Professora Maria Tereza Página 1 Texto para questão 1. Técnico Judiciário Área Judiciária e Administrativa 2012 FAURGS 1. O avanço das mídias nas últimas décadas tem sido recebido com grande 2.entusiasmo - não sem razão. Entre elas, uma, especialmente, é saudada 3.como revolucionária: trata-se desta quase incompreensível massa de 4.informações que circula por milhões e milhões de computadores pelo mundo, 5.que é a Internet e que dá a todos nós a sensação de que podemos encontrar 6.respostas para quase tudo, bastando colocar a palavra certa no buscador. 7. A Internet realmente transformou o mundo, facilitou a vida de todos os 8.que têm acesso a ela e tem um enorme potencial para popularizar e 9.democratizar a informação e o conhecimento ao longo deste novo século. 10. A rede possibilitou que pessoas se conheçam. Estudantes escrevem para 11.suas bibliografias. E, estranhamente, para surpresa dos jovens, as 12.bibliografias respondem. Aproximou colegas distantes, promovendo o 13.intercâmbio científico e cultural, acelerou o mundo dos negócios, as bolsas 14.de valores, e promete uma revolução da educação para os próximos anos. 15.Fez surgir impensadas amizades e até grandes paixões. 16. Há, no entanto, uma grande perversidade na rede: ela está substituindo 17.os encontros entre pessoas que não têm nenhum tipo de impedimento 18.objetivo para se falarem olho no olho. Ou pelo menos para ouvir a voz do 19.outro por um telefone, para o bem ou para o mal. 20. O e-mail, como as cartas, é um monólogo, mas as cartas não são ou não 21.eram usadas para a comunicação com o vizinho de sala e não faziam parte 22.da vida cotidiana de pessoas que viviam na mesma cidade. Elas existiam e 23.existem para atenuar a ausência, não para impedir a presença. 24. Estamos tão encantados na frente da tela do computador, ditando as 25.regras ao mundo, sem sermos interrompidos, sem sermos chamados à 26.razão, que esquecemos de olhar ao redor. Estamos seguros e confortáveis, 27.mas menores como seres humanos. Estamos ficando sós. Adaptado de: PINTO, Céli Regina Jardim. Perverso mundo dos e-mails. Zero Hora, 17 fev. 2007. Texto para questão 2. Oficial Escrevente 2010 TJ/RS FAURGS 01. Uma em cada 4 pessoas que usam a internet no mundo tem uma conta no 02.Facebook. Esse meio bilhão de pessoas publicam 14 milhões de fotos diariamente. Os 03.100 milhões de usuários do Twitter postam 2 bilhões de mensagens por mês. Dê um 04.google no nome de alguém e os tweets dele vão estar lá. Pesquisadores cunham 05.termos bonitos como a "era da hipertransparência" para tentar falar que há xeretas e 06.exibicionistas demais hoje. Adaptado de: BURGOS, Pedro. O fim do fim da privacidade. Revista Super Interessante - Edição 280, junho de 2010. Disponível em http://super.abril.com.br/tecnologia/fimfim-privacidade- 580993.shtm.

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Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 1

Texto para questão 1. Técnico Judiciário Área Judiciária e Administrativa – 2012 – FAURGS 1. O avanço das mídias nas últimas décadas tem sido recebido com grande

2.entusiasmo - não sem razão. Entre elas, uma, especialmente, é saudada 3.como revolucionária: trata-se desta quase incompreensível massa de 4.informações que circula por milhões e milhões de computadores pelo mundo,

5.que é a Internet e que dá a todos nós a sensação de que podemos encontrar 6.respostas para quase tudo, bastando colocar a palavra certa no buscador. 7. A Internet realmente transformou o mundo, facilitou a vida de todos os

8.que têm acesso a ela e tem um enorme potencial para popularizar e 9.democratizar a informação e o conhecimento ao longo deste novo século.

10. A rede possibilitou que pessoas se conheçam. Estudantes escrevem para 11.suas bibliografias. E, estranhamente, para surpresa dos jovens, as 12.bibliografias respondem. Aproximou colegas distantes, promovendo o

13.intercâmbio científico e cultural, acelerou o mundo dos negócios, as bolsas 14.de valores, e promete uma revolução da educação para os próximos anos. 15.Fez surgir impensadas amizades e até grandes paixões.

16. Há, no entanto, uma grande perversidade na rede: ela está substituindo 17.os encontros entre pessoas que não têm nenhum tipo de impedimento 18.objetivo para se falarem olho no olho. Ou pelo menos para ouvir a voz do

19.outro por um telefone, para o bem ou para o mal. 20. O e-mail, como as cartas, é um monólogo, mas as cartas não são ou não 21.eram usadas para a comunicação com o vizinho de sala e não faziam parte

22.da vida cotidiana de pessoas que viviam na mesma cidade. Elas existiam e 23.existem para atenuar a ausência, não para impedir a presença. 24. Estamos tão encantados na frente da tela do computador, ditando as

25.regras ao mundo, sem sermos interrompidos, sem sermos chamados à 26.razão, que esquecemos de olhar ao redor. Estamos seguros e confortáveis,

27.mas menores como seres humanos. Estamos ficando sós. Adaptado de: PINTO, Céli Regina Jardim. Perverso mundo dos e-mails. Zero Hora, 17 fev. 2007.

Texto para questão 2. Oficial Escrevente – 2010 – TJ/RS – FAURGS

01. Uma em cada 4 pessoas que usam a internet no mundo tem uma conta no

02.Facebook. Esse meio bilhão de pessoas publicam 14 milhões de fotos diariamente. Os 03.100 milhões de usuários do Twitter postam 2 bilhões de mensagens por mês. Dê um

04.google no nome de alguém e os tweets dele vão estar lá. Pesquisadores cunham 05.termos bonitos como a "era da hipertransparência" para tentar falar que há xeretas e 06.exibicionistas demais hoje.

Adaptado de: BURGOS, Pedro. O fim do fim da privacidade. Revista Super Interessante - Edição 280, junho de 2010. Disponível em http://super.abril.com.br/tecnologia/fimfim-privacidade-

580993.shtm.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 2

Texto para questão 3. Analista de Sistemas – 2014 – TJ/RS – FAURGS

Suspiros de fumaça

1. “Parar de fumar é muito fácil. Eu mesmo já parei umas 20 vezes.” Assim 2.dizia meu pai brincando para minimizar sua maior derrota: nunca conseguiu 3.largar o cigarro. Quando, pela doença, as proibições chegaram, fumava

4.escondido. Anos depois que partiu, minha mãe seguia encontrando maços em 5.esconderijos insólitos. 6. Meu primeiro contato com o comércio foi comprando cigarros para meu

7.pai. Diligentemente, não aceitava o troco em balas, o acerto justo dignificava 8.a missão. Hoje me lembro dessas incursões com um pingo de culpa, como se

9.nelas houvesse uma névoa de conivência. Claro, eu era criança. 10. Se é para ter culpa, melhor lembrar dos últimos anos do meu avô 11.materno, quando eu já era adolescente. Outro que levou o cigarro até o

12.fim. Embora a questão seja quem levou quem. Respirando muito mal, os 13.médicos cortaram-lhe o hábito. Mas houve um apelo e uma concessão: três 14.meios cigarros ao dia. Quando estava comigo, roubava no jogo e eu fazia

15.escandalosa vista grossa. Trocávamos olhares e eu esquecia de cortar o 16.cigarro, ou me enganava na difícil matemática que é discernir entre três e 17.quatro.

18. Sinto falta do cheiro de tabacaria, de comprar cigarros, mas não sei o 19.que faria com eles. Eu jamais fumei e meus fumantes se foram. Não 20.descobri se nunca fumei para não desafiar quem derrotou meu pai ou para

21.triunfar onde ele falhou. 22. Quando minha mulher chegou na minha vida, fumava. Trazia essa 23.familiaridade de um gozo que eu não entendia. O cigarro para Diana era um

24.amigo fiel que pontuava e sublinhava sua vida. Antes disso, depois daquilo, 25.no momento de angústia, nos momentos de alegria, contra a solidão, enfim,

26.arrimo para todas as pausas. Mas minha paciência com o cigarro, e o custo 27.que ele me trouxe, já havia esgotado. Agora, era eu ou ele. Quase perdi! 28.Havia um inimigo na trincheira, minhas memórias, tinha uma queda pelo

29.inimigo. Mas consegui. Depois de anos de luta e com o decisivo apoio da 30.minha tropa de choque, minhas duas filhas, vencemos. 31. Se existe algo que aprendi com o cigarro é não menosprezar sua força e

32.o preço que os fumantes estão dispostos a pagar. Tingir de morte o seu 33.prazer, como a medicina explica e agora está impresso em qualquer maço, a 34.meu ver, pouco ajuda. Talvez só denote o que ele é, uma tourada com a

35.finitude, desafiando e chamando a morte a cada tragada. O preço por esse 36.prazer letal é enorme para a saúde pública. Mas o pior, talvez mais 37.doloroso por ser mais próximo, é testemunhar essa escolha entre a

38.fuga solitária do canudinho de fumaça e a nossa companhia. Gostaria que 39.todos os fumantes que amei tivessem preferido a minha companhia à dele, 40.de cuja preferência sempre terei ciúme. Precisamos ganhar os fumantes de

41.volta para nós. Adaptado de: CORSO, Mário. Suspiros de fumaça. Zero Hora, 12/06/2014.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 3

Texto para questão 4. Analista de Sistemas – 2014 – TJ/RS – FAURGS

Suspiros de fumaça

1. “Parar de fumar é muito fácil. Eu mesmo já parei umas 20 vezes.” Assim 2.dizia meu pai brincando para minimizar sua maior derrota: nunca conseguiu 3.largar o cigarro. Quando, pela doença, as proibições chegaram, fumava

4.escondido. Anos depois que partiu, minha mãe seguia encontrando maços em 5.esconderijos insólitos.

Texto para questão 5. Programador – 2014 – TJ/RS – FAURGS

Algumas palavras de quem não entende de futebol 1. Eu nunca acompanhei futebol. Não sou torcedora de time que seja, e 2.meus sobrinhos adoram dizer que, já que não tenho time, sou do time deles

3.em dia de jogo. Sendo assim, já fui torcedora, sem querer ou saber, de 4.alguns times. 5. Em todas as Copas que cabem na minha biografia, acho que assisti a

6.dois jogos do Brasil, e nem me lembro em quais anos. Contudo, se há algo 7.que eu sei, é que muitos brasileiros adoram futebol. Eu nunca entendi o 8.esporte, ou tive paciência de assistir a jogos o suficiente para ter uma ideia

9.do que se trata esse objeto de apaixonamento coletivo. 10. Quando saiu a notícia de que a Copa seria no Brasil, não houve como 11.fugir do assunto. Entraram outros temas no pacote, muitos brasileiros se

12.inspiraram para bendizer e maldizer o esporte e o país. Em 2014, a minha 13.curiosidade pelo futebol aumentou. Fiquei mesmo querendo entender por 14.que as pessoas sofrem durante um jogo, ao mesmo tempo em que, a cada

15.gol, elas entram em êxtase. 16. Durante a Copa, assisti a quase todos os jogos e não somente aos do

17.Brasil. Depois do terceiro, nem era mais por curiosidade, mas por 18.abismamento: como esses jogadores conseguem fazer o que fazem com 19.uma bola? E por deslumbramento, que cada time tinha a sua própria

20.coreografia, o que torna impossível um jogo ser parecido com o outro. Dei-21.me conta, também, de que usamos termos do futebol ao nos comunicarmos 22.diariamente.

23. Ainda não tenho time preferido e acho que assim continuarei. Quanto 24.ao do Brasil, vou sempre torcer por ele em Copa, esperando que os ajustes, 25.que os especialistas alegam serem necessários para um jogo bonito — pois

26.é, também dei de assistir aos programas sobre o esporte —, sejam feitos, e 27.que, assim, os torcedores possam festejá-lo, independente de uma vitória.

Adaptado de: DIAS, Carla. Algumas palavras de quem não entende de futebol. Disponível em

http://www.cronicadodia.com.br/2014/07/algumaspalavras-de-quem-nao-entende.html. Acessado em 14 de julho de 2014.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 4

Texto para questão 6. Oficial Escrevente – 2010 – TJ/RS – FAURGS

01. Uma em cada 4 pessoas que usam a internet no mundo tem uma conta no

02.Facebook. Esse meio bilhão de pessoas publicam 14 milhões de fotos diariamente. Os 03.100 milhões de usuários do Twitter postam 2 bilhões de mensagens por mês. Dê um 04.google no nome de alguém e os tweets dele vão estar lá. Pesquisadores cunham

05.termos bonitos como a "era da hipertransparência" para tentar falar que há xeretas e 06.exibicionistas demais hoje. [...]

15. As mudanças, de cara, parecem bem sutis. Antes, não dava para ver a foto de 16.perfil ou a idade de uma pessoa pesquisada, por exemplo. Agora, a não ser que o

17.usuário mude as configurações no braço, um resumo de sua ficha ficará exposto na 18.internet. Não é pouca coisa. Pense em quem teve um término de relacionamento 19.conturbado e quer manter distância de namorados maníacos; ou em um adolescente

20.que mudou de escola por causa de bullying e corre o risco de que tudo comece de 21.novo se os novos colegas descobrirem isso; em quem sofre de assédio moral no 22.trabalho ou foi testemunha de um crime; em quem não quer que os pais descubram

23.detalhes de sua vida sexual. Para todos eles, qualquer detalhe que o Facebook 24.divulgue pode fazer uma grande diferença. Não fica nisso. Um dos maiores problemas 25.é que a internet não "esquece" nada. [...] Em suma, nunca

32.existiram tantas possibilidades de exposições públicas. E sim: sempre vai ter alguém 33.que você não esperava bisbilhotando você. 34. É natural. O desejo de cavucar a vida alheia existe desde sempre. "Na maior

35.parte da história humana, as pessoas viveram em pequenas tribos onde todas as 36.pessoas sabiam tudo o que todo mundo fazia. E de alguma forma estamos nos 37.tornando uma vila global. Pode ser que descobriremos que a privacidade, no fim das

38.contas, sempre foi uma anomalia", afirma o professor Thomas W. Malone, do Centro 39.de Estudos de Inteligência Coletiva do MIT.

40. Seja como for, trata-se de uma anomalia de que todo mundo gosta. E por isso 41.mesmo um movimento ganha cada vez mais força: há uma preocupação maior com a 42.bisbilhotice. Na prática, está acontecendo o contrário do que Zuckerberg imagina.

43.Estamos menos "sociais". [...] 48.mudança: os entrevistados disseram tomar mais cuidado com o que postam online

49.hoje do que há 5 anos. Na mesma pesquisa, 88% dos jovens de 18 a 24 anos 50.manifestaram-se a favor de uma lei que forçasse os sites a apagarem informações 51.pessoais depois de algum tempo.

52. Enquanto não chegam leis concretas, as pessoas reagem por conta própria. Trinta 53.mil usuários cancelaram suas contas no Facebook no dia 31 de maio, para protestar 54.contra aquela mudança na configuração de privacidade. Compare isso com a reação

55.que as pessoas tiveram em 2006, quando o Orkut passou a identificar quem visitava o 56.seu perfil. Não faltaram reações de indignação. "Qual é a graça se não dá mais para 57.espionar a vida dos outros escondido?", perguntavam os usuários.

[...]

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 5

Texto para questão 7. Um estudo feito pela Universidade de Michigan constatou que o que mais

se faz no Facebook, depois de interagir com amigos, é olhar os perfis de

pessoas que acabamos de conhecer. Se você gostar do perfil, adicionará aquela pessoa, e estará formado um vínculo. No final, todo mundo vira amigo de todo mundo. Mas, não é bem assim. As redes sociais têm o poder de transformar os

chamados elos latentes (pessoas que frequentam o mesmo ambiente social, mas não são suas amigas) em elos fracos – uma forma superficial de amizade. Pois é, por mais que existam exceções a qualquer regra, todos os estudos

mostram que amizades geradas com a ajuda da Internet são mais fracas, sim, do que aquelas que nascem e se desenvolvem fora dela.

Isso não é inteiramente ruim. Os seus amigos do peito geralmente são parecidos com você: pertencem ao mesmo mundo e gostam das mesmas coisas. Os elos fracos, não. Eles transitam por grupos diferentes do seu e, por

isso, podem lhe apresentar novas pessoas e ampliar seus horizontes – gerando uma renovação de ideias que faz bem a todos os relacionamentos, inclusive às amizades antigas. O problema é que a maioria das redes na Internet é

simétrica: se você quiser ter acesso às informações de uma pessoa ou mesmo falar reservadamente com ela, é obrigado a pedir a amizade dela. Como é meio grosseiro dizer "não" a alguém que você conhece, todo mundo acaba

adicionando todo mundo. E isso vai levando à banalização do conceito de amizade.

É verdade. Mas, com a chegada de sítios como o Twitter, ficou diferente.

Esse tipo de sítio é uma rede social completamente assimétrica. E isso faz com que as redes de "seguidores" e "seguidos" de alguém possam se comunicar de maneira muito mais fluida. Ao estudar a sua própria rede no Twitter, o

sociólogo Nicholas Christakis, da Universidade de Harvard, percebeu que seus amigos tinham começado a se comunicar entre si independentemente da

mediação dele. Pessoas cujo único ponto em comum era o próprio Christakis acabaram ficando amigas. No Twitter, eu posso me interessar pelo que você tem a dizer e começar a te seguir. Nós não nos conhecemos. Mas você saberá

quando eu o retuitar ou mencionar seu nome no sítio, e poderá falar comigo. Meus seguidores também podem se interessar pelos seus tuítes e começar a seguir você. Em suma, nós continuaremos não nos conhecendo, mas as

pessoas que estão a nossa volta podem virar amigas entre si. Adaptado de: COSTA, C. C.. Disponível em: <http://super.abril.com.br/cotidiano/como-

internet-estamudando-amizade-619645.shtml>. Acesso em: 1º de outubro de 2012

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 6

Texto para questão 8. Médico Judiciário – 2016 – TJ/RS – FAURGS

A língua do Brasil amanhã

Ouvimos com frequência opiniões alarmantes a respeito do futuro da nossa língua. Às vezes se diz que ela vai simplesmente desaparecer, em benefício de outras línguas supostamente expansionistas (em especial o inglês,

atual candidato número um a língua universal); ou que vai se “misturar” com o espanhol, formando o “portunhol”; ou, simplesmente, que vai se corromper pelo uso da gíria e das formas populares de expressão (do tipo: o casaco que

cê ia sair com ele tá rasgado). Aqui pretendo trazer uma opinião mais otimista: a nossa língua, estou convencido, não está em perigo de desaparecimento,

muito menos de mistura. Por outro lado (e não é possível agradar a todos) acredito que nossa

língua está mudando, e certamente não será a mesma dentro de vinte, cem ou

trezentos anos. O que é que poderia ameaçar a integridade ou a existência da nossa língua? Um dos fatores, frequentemente citado, é a influência do inglês – o mundo de empréstimos que andamos fazendo para nos expressarmos sobre

certos assuntos. Não se pode negar que o fenômeno existe; o que mais se faz hoje em dia é surfar, deletar ou tratar do marketing. Mas isso não significa o desaparecimento da língua portuguesa. Empréstimos são um fato da vida e

sempre existiram. Hoje pouca gente sabe disso, mas avalanche, alfaiate, tenor e pingue-pongue são palavras de origem estrangeira; hoje já se naturalizaram, e certamente ninguém vê ameaça nelas. Afinal de contas, quando se começou

a jogar aquela bolinha em cima da mesa, precisou-se de um nome; podíamos dizer tênis de mesa, e alguns tentaram, mas a palavra estrangeira venceu – só que virou portuguesa, hoje vive entre nós como uma imigrante já casada, com

filhos brasileiros etc. Perdeu até o sotaque. Quero dizer que não há o menor sintoma de que os empréstimos estrangeiros estejam causando lesões na

língua portuguesa; a maioria, aliás, desaparece em pouco tempo, e os que ficam se assimilam.

Como toda língua, o português precisa crescer para dar conta das

novidades sociais, tecnológicas, artísticas e culturais; e pode aceitar empréstimos – ravióli, ioga, chucrute, balé – e também pode (e com maior frequência) criar palavras a partir de seus próprios recursos – como

computador, ecologia, poluição – ou então estender o uso de palavras antigas a novos significados – executivo ou celular, que significam coisas hoje que não significavam há vinte anos. Isso está acontecendo a todo o tempo com todas

as línguas, e nunca levou nenhuma delas à extinção. Adaptado de PERINI, M. A. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios. São Paulo: Parábola

Editorial, 2004. Páginas 11-14.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 7

Texto para questão 9. Analista de Sistemas – 2014 – TJ/RS – FAURGS

Suspiros de fumaça

1. “Parar de fumar é muito fácil. Eu mesmo já parei umas 20 vezes.” Assim 2.dizia meu pai brincando para minimizar sua maior derrota: nunca conseguiu 3.largar o cigarro. Quando, pela doença, as proibições chegaram, fumava

4.escondido. Anos depois que partiu, minha mãe seguia encontrando maços em 5.esconderijos insólitos. 6. Meu primeiro contato com o comércio foi comprando cigarros para meu

7.pai. Diligentemente, não aceitava o troco em balas, o acerto justo dignificava 8.a missão. Hoje me lembro dessas incursões com um pingo de culpa, como se

9.nelas houvesse uma névoa de conivência. Claro, eu era criança. 10. Se é para ter culpa, melhor lembrar dos últimos anos do meu avô 11.materno, quando eu já era adolescente. Outro que levou o cigarro até o

12.fim. Embora a questão seja quem levou quem. Respirando muito mal, os 13.médicos cortaram-lhe o hábito. Mas houve um apelo e uma concessão: três 14.meios cigarros ao dia. Quando estava comigo, roubava no jogo e eu fazia

15.escandalosa vista grossa. Trocávamos olhares e eu esquecia de cortar o 16.cigarro, ou me enganava na difícil matemática que é discernir entre três e 17.quatro.

18. Sinto falta do cheiro de tabacaria, de comprar cigarros, mas não sei o 19.que faria com eles. Eu jamais fumei e meus fumantes se foram. Não 20.descobri se nunca fumei para não desafiar quem derrotou meu pai ou para

21.triunfar onde ele falhou. 22. Quando minha mulher chegou na minha vida, fumava. Trazia essa 23.familiaridade de um gozo que eu não entendia. O cigarro para Diana era um

24.amigo fiel que pontuava e sublinhava sua vida. Antes disso, depois daquilo, 25.no momento de angústia, nos momentos de alegria, contra a solidão, enfim,

26.arrimo para todas as pausas. Mas minha paciência com o cigarro, e o custo 27.que ele me trouxe, já havia esgotado. Agora, era eu ou ele. Quase perdi! 28.Havia um inimigo na trincheira, minhas memórias, tinha uma queda pelo

29.inimigo. Mas consegui. Depois de anos de luta e com o decisivo apoio da 30.minha tropa de choque, minhas duas filhas, vencemos. 31. Se existe algo que aprendi com o cigarro é não menosprezar sua força e

32.o preço que os fumantes estão dispostos a pagar. Tingir de morte o seu 33.prazer, como a medicina explica e agora está impresso em qualquer maço, a 34.meu ver, pouco ajuda. Talvez só denote o que ele é, uma tourada com a

35.finitude, desafiando e chamando a morte a cada tragada. O preço por esse 36.prazer letal é enorme para a saúde pública. Mas o pior, talvez mais 37.doloroso por ser mais próximo, é testemunhar essa escolha entre a

38.fuga solitária do canudinho de fumaça e a nossa companhia. Gostaria que 39.todos os fumantes que amei tivessem preferido a minha companhia à dele, 40.de cuja preferência sempre terei ciúme. Precisamos ganhar os fumantes de

41.volta para nós. Adaptado de: CORSO, Mário. Suspiros de fumaça. Zero Hora, 12/06/2014.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 8

Texto para questão 10.

Texto 1 A CARTA DE PERO VAZ

Murilo Mendes A terra é mui graciosa, Tão fértil eu nunca vi. A gente vai passear,

No chão espeta um caniço, No dia seguinte nasce

Bengala de castão de oiro. Tem goiabas, melancias,

Bananas que nem chuchu. Quanto aos bichos, têm-nos muitos,

De plumagens mui vistosas. Tem macaco até demais

Diamantes tem à vontade Esmeraldas é para os trouxas.

Texto 2 CANÇÃO DO EXÍLIO

Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá,

As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

...................................... Em cismar sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.

Texto 3 JOGOS FLORAIS I

Cacaso

Minha terra tem palmeiras onde canta o tico-tico. Enquanto isso o sabiá

Vive comendo o meu fubá. Ficou moderno o Brasil

ficou moderno o milagre: a água já não vira vinho

vira direto vinagre.

Texto 4 VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Manuel Bandeira

[...] E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 9

Texto para questão 11. Auxiliar de Comunicação – 2012 – TJ/RS – FAURGS

Motoristas sobrevoam uma paisagem, de preferência sem dispersão,

atentos a rotas, contextos, coordenadas. Lombas e acidentes do terreno só exigem uma rápida mudança de marcha. Nada precisam saber de cheiros, gosmas na calçada, vegetação e sombras, do zoológico de animais domésticos,

dos adolescentes coreografando sua música solitária, de velhos ocupados e crianças contando algo a um adulto que se reclina, de pessoas belas, esdrúxulas, vivazes, sorumbáticas. Com cada rosto com quese cruza há uma

negociação de olhares, uma história imaginada, medo ou confiança. Só os loucos desrespeitam a separação entre carros e pedestres: atravessam a rua

costurando entre os carros, conduzindo sua moto de delírio. Entre os veículos também há breves encontros. Os motoristas se

enxergam, no tempo impaciente de uma sinaleira, na redução contrariada de

um obstáculo. Mas a identidade não é o corpo, é o carro: é o gordo do Gol vermelho, a loira do Audi prata, o senhor da Saveiro preta. O carro é avatar: através dele expressamos, mas também ocultamos nossa personalidade.

Isolados, minimizamos o encontro, xingamos tudo o que obstrui o fluxo. Parar nos deixa acuados, o engarrafamento nos desnuda.

No conto de Julio Cortazar chamado "A autopista do sul", a história se

passa numa estrada francesa, num engarrafamento ocorrido sem razões reveladas. São vários dias de imobilidade, ao longo dos quais os passageiros dos carros vão se transformando em membros de uma pequena sociedade

nascente. A identidade das personagens inclui as características do veículo que dirigem. Organizam-se em grupos, lideranças se consolidam, redes de solidariedade se firmam, intrigas ameaçam a união. Nesse tempo de movimento

cessado, a vida segue: há doença, um suicídio; até uma história de amor brota do árido asfalto. O autismo (perdão pela piada involuntária) do trânsito foi

sendo suplantado pela empatia do grupo. Subitamente o engarrafamento dissolve-se tão inexplicavelmente quanto se perpetuara. Retomado o movimento da autopista, os carros se distanciam velozmente e sentimos pena

dos vínculos que se desmancham. Instala-se novamente o fluxo da impessoalidade.

Deslocar-se não é um trecho fora da vida. Existimos também no tempo

em que ainda não chegamos, enquanto "estamos indo" para algum lugar. Por que não incorporar os trajetos na nossa consciência? Andar, pedalar, usar transportes coletivos (que não fossem uma tortura), são formas de locomover-

se vendo sutilezas, suportando a existência de outros corpos. Mesmo que todos pareçam tão nus, sem seus cascos, tão frágeis, sem escudo. Adaptado de: CORSO, D. Fluxo da impessoalidade. Zero Hora, 27 abr. 2011, Segundo Caderno,

p. 6.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 10

Texto para questão 12. Oficial de Justiça – 2014 – TJ/RS – FAURGS

A farra com as crianças acabou? Pode ser que sim, pelo menos em parte. O Conanda (Conselho

Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) aprovou resolução que proíbe propagandas voltadas para menores de idade no Brasil. Ela leva em conta que a publicidade infantil, na maioria das vezes, contraria o Estatuto da Criança e do Adolescente e só deve ser usada para campanhas de

utilidade pública sobre alimentação, educação e saúde. Essa é uma pauta que está já há algum tempo em discussão, sofrendo grande resistência do mercado.

O consumo de produtos infantis é um mercado importantíssimo e ainda um terreno a ser

completamente explorado. Segundo o site da CCFC, Campaign for a Commercial-Free Childhood, ONG que combate a propaganda abusiva para crianças, pessoas com menos de 14 anos são responsáveis

diretas por um gasto de 40 bilhões de dólares por ano – dez vezes mais do que dez anos atrás. Empresas, agências e indústrias festejam esse número, que contempla o gasto com uma gama enorme de produtos, desde alimentos e brinquedos, até roupas e viagens. E, para isso, contam com a

publicidade, principalmente na TV. Mas, além de induzir à compra e ao consumo desnecessário, a publicidade provoca outros efeitos. O National Bureau of Economic Research fez um estudo que revela que, se os anúncios de redes de fast food fossem eliminados, a obesidade infantil diminuiria em até

20%. Também aponta que a publicidade infantil tende a anular a autoridade dos pais, criando um confronto entre as mensagens publicitárias e os valores familiares.

Segundo James McNeal, um dos papas do marketing infantil, estamos numa espécie de “era

dourada das crianças”. Elas são tudo o que o mercado quer: consumidoras compulsivas, vulneráveis às tendências ditadas pela publicidade. Mais ainda: influenciam decisivamente os hábitos de consumo de pais, irmãos, avós e tios. “Quarenta milhões de americanos entre 2 e 12 anos são responsáveis por

influenciar um a cada sete dólares gastos no mercado dos EUA”, escreve ele. De acordo com o Instituto InterScience, há dez anos, apenas 8% das crianças influenciavam as decisões de compras dos adultos. Hoje, esse número saltou para 49%. Outro levantamento da Viacom, dona do canal

infantil Nickelodeon, mostra que mais de 40% das compras dos pais são influenciadas pelos filhos. Segundo essa mesma pesquisa, 65% dos pais revelam que ouvem a opinião das crianças sobre os

produtos comprados para toda a família, como o carro, por exemplo. Elas dão palpite sobre cores, som, tipo do carro, bancos e até o modelo das portas.

A criança consumidora de hoje será o adulto consumidor de amanhã. “Faz todo sentido que a

busca incessante das empresas pela fidelização de seus clientes comece bem mais cedo. Nada mais natural, portanto, olharmos as crianças como futuras consumidoras de diversos produtos, serviços e marcas”, diz James McNeal. Países como Suécia, Alemanha, Espanha e Canadá já há algum tempo

têm legislações extremamente rígidas com o que chamam de “métodos de persuasão infantil”, algo comparável a um assédio moral ou sexual. Uma campanha recente de gel para cabelos foi banida por ter “sensualizado” personagens infantis. Na União Europeia, a legislação básica, válida para os 27

países-membros, proíbe tudo o que explore “a inexperiência e credibilidade infantil”, que “encoraje crianças a persuadir pais ou outros a comprar produtos ou serviços”, que “explore a confiança dos pais pelos seus filhos” e “mostre cenas perigosas envolvendo menores”.

A resolução do Conanda não tem força de lei, embora possa servir de base para possíveis processos e ações. Já surgem manifestações acusando a iniciativa de atentado à liberdade de expressão. Mas o limite dessa liberdade é a pregação contra a integridade física e moral dos

indivíduos. Um exemplo clássico é o veto à propaganda de cigarros. Adaptado de: AMADO, Roberto. A proibição de propagada para crianças é novidade no Brasil, mas não

no mundo desenvolvido. Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-proibicaode-propagada-

para-criancas-e-novidade-no-brasil-masnao-no-mundo-desenvolvido/. Acessado em 20/04/2014.

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Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 11

Texto para questão 13. Analista de Sistemas – 2014 – TJ/RS – FAURGS

Suspiros de fumaça

1. “Parar de fumar é muito fácil. Eu mesmo já parei umas 20 vezes.” Assim 2.dizia meu pai brincando para minimizar sua maior derrota: nunca conseguiu 3.largar o cigarro. Quando, pela doença, as proibições chegaram, fumava

4.escondido. Anos depois que partiu, minha mãe seguia encontrando maços em 5.esconderijos insólitos. 6. Meu primeiro contato com o comércio foi comprando cigarros para meu

7.pai. Diligentemente, não aceitava o troco em balas, o acerto justo dignificava 8.a missão. Hoje me lembro dessas incursões com um pingo de culpa, como se

9.nelas houvesse uma névoa de conivência. Claro, eu era criança. 10. Se é para ter culpa, melhor lembrar dos últimos anos do meu avô 11.materno, quando eu já era adolescente. Outro que levou o cigarro até o

12.fim. Embora a questão seja quem levou quem. Respirando muito mal, os 13.médicos cortaram-lhe o hábito. Mas houve um apelo e uma concessão: três 14.meios cigarros ao dia. Quando estava comigo, roubava no jogo e eu fazia

15.escandalosa vista grossa. Trocávamos olhares e eu esquecia de cortar o 16.cigarro, ou me enganava na difícil matemática que é discernir entre três e 17.quatro.

18. Sinto falta do cheiro de tabacaria, de comprar cigarros, mas não sei o 19.que faria com eles. Eu jamais fumei e meus fumantes se foram. Não 20.descobri se nunca fumei para não desafiar quem derrotou meu pai ou para

21.triunfar onde ele falhou. 22. Quando minha mulher chegou na minha vida, fumava. Trazia essa 23.familiaridade de um gozo que eu não entendia. O cigarro para Diana era um

24.amigo fiel que pontuava e sublinhava sua vida. Antes disso, depois daquilo, 25.no momento de angústia, nos momentos de alegria, contra a solidão, enfim,

26.arrimo para todas as pausas. Mas minha paciência com o cigarro, e o custo 27.que ele me trouxe, já havia esgotado. Agora, era eu ou ele. Quase perdi! 28.Havia um inimigo na trincheira, minhas memórias, tinha uma queda pelo

29.inimigo. Mas consegui. Depois de anos de luta e com o decisivo apoio da 30.minha tropa de choque, minhas duas filhas, vencemos. 31. Se existe algo que aprendi com o cigarro é não menosprezar sua força e

32.o preço que os fumantes estão dispostos a pagar. Tingir de morte o seu 33.prazer, como a medicina explica e agora está impresso em qualquer maço, a 34.meu ver, pouco ajuda. Talvez só denote o que ele é, uma tourada com a

35.finitude, desafiando e chamando a morte a cada tragada. O preço por esse 36.prazer letal é enorme para a saúde pública. Mas o pior, talvez mais 37.doloroso por ser mais próximo, é testemunhar essa escolha entre a

38.fuga solitária do canudinho de fumaça e a nossa companhia. Gostaria que 39.todos os fumantes que amei tivessem preferido a minha companhia à dele, 40.de cuja preferência sempre terei ciúme. Precisamos ganhar os fumantes de

41.volta para nós. Adaptado de: CORSO, Mário. Suspiros de fumaça. Zero Hora, 12/06/2014.

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Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 12

Texto para questão 14. Stela era irredutível no seu método terapêutico, dizia que só nesse

estado se encontrava com o melhor de seu ser. Reiterava que era mais sábia

durante o martírio. Insistia que, sóbria, em seu estado normal, sofria de um otimismo injustificado que lhe turvava a realidade. Seu lema era: “Só na ressaca enxergamos o mundo como ele é”. Um dia, sem muitas palavras, Stela

foi embora. Alguma ressaca oracular deve ter lhe dito que eu não era bom para seu futuro. Não a culpo.

Texto para questão 15. Auxiliar de Comunicação – 2012 – TJ/RS – FAURGS

Motoristas sobrevoam uma paisagem, de preferência sem dispersão, atentos a rotas, contextos, coordenadas. Lombas e acidentes do terreno só exigem uma rápida mudança de marcha. Nada precisam saber de cheiros, gosmas na calçada, vegetação e

sombras, do zoológico de animais domésticos, dos adolescentes coreografando sua música solitária, de velhos ocupados e crianças contando algo a um adulto que se reclina, de pessoas belas, esdrúxulas, vivazes, sorumbáticas. Com cada rosto com que

se cruza há uma negociação de olhares, uma história imaginada, medo ou confiança. Só os loucos desrespeitam a separação entre carros e pedestres: atravessam a rua costurando entre os carros, conduzindo sua moto de delírio.

Entre os veículos também há breves encontros. Os motoristas se enxergam, no tempo impaciente de uma sinaleira, na redução contrariada de um obstáculo. Mas a identidade não é o corpo, é o carro: é o gordo do Gol vermelho, a loira do Audi prata, o

senhor da Saveiro preta. O carro é avatar: através dele expressamos, mas também ocultamos nossa personalidade. Isolados, minimizamos o encontro, xingamos tudo o que obstrui o fluxo. Parar nos deixa acuados, o engarrafamento nos desnuda.

No conto de Julio Cortazar chamado "A autopista do sul", a história se passa numa estrada francesa, num engarrafamento ocorrido sem razões reveladas. São vários

dias de imobilidade, ao longo dos quais os passageiros dos carros vão se transformando em membros de uma pequena sociedade nascente. A identidade das personagens inclui as características do veículo que dirigem. Organizam-se em grupos, lideranças se

consolidam, redes de solidariedade se firmam, intrigas ameaçam a união. Nesse tempo de movimento cessado, a vida segue: há doença, um suicídio; até uma história de amor brota do árido asfalto. O autismo (perdão pela piada involuntária) do trânsito foi sendo

suplantado pela empatia do grupo. Subitamente o engarrafamento dissolve-se tão inexplicavelmente quanto se perpetuara. Retomado o movimento da autopista, os carros se distanciam velozmente e sentimos pena dos vínculos que se desmancham.

Instala-se novamente o fluxo da impessoalidade. Deslocar-se não é um trecho fora da vida. Existimos também no tempo em que

ainda não chegamos, enquanto "estamos indo" para algum lugar. Por que não

incorporar os trajetos na nossa consciência? Andar, pedalar, usar transportes coletivos (que não fossem uma tortura), são formas de locomover-se vendo sutilezas, suportando a existência de outros corpos. Mesmo que todos pareçam tão nus, sem

seus cascos, tão frágeis, sem escudo. Adaptado de: CORSO, D. Fluxo da impessoalidade. Zero Hora, 27 abr. 2011, Segundo Caderno, p. 6.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 13

Texto para questão 16. Auxiliar de Comunicação – 2012 – TJ/RS – FAURGS

Motoristas sobrevoam uma paisagem, de preferência sem dispersão,

atentos a rotas, contextos, coordenadas. Lombas e acidentes do terreno só exigem uma rápida mudança de marcha. Nada precisam saber de cheiros, gosmas na calçada, vegetação e sombras, do zoológico de animais domésticos,

dos adolescentes coreografando sua música solitária, de velhos ocupados e crianças contando algo a um adulto que se reclina, de pessoas belas, esdrúxulas, vivazes, sorumbáticas. Com cada rosto com que se cruza há uma

negociação de olhares, uma história imaginada, medo ou confiança. Só os loucos desrespeitam a separação entre carros e pedestres: atravessam a rua

costurando entre os carros, conduzindo sua moto de delírio. Entre os veículos também há breves encontros. Os motoristas se

enxergam, no tempo impaciente de uma sinaleira, na redução

contrariada de um obstáculo. Mas a identidade não é o corpo, é o carro: é o gordo do Gol vermelho, a loira do Audi prata, o senhor da Saveiro preta. O carro é avatar: através dele expressamos, mas também ocultamos nossa

personalidade. Isolados, minimizamos o encontro, xingamos tudo o que obstrui o fluxo. Parar nos deixa acuados, o engarrafamento nos desnuda.

No conto de Julio Cortazar chamado "A autopista do sul", a história se

passa numa estrada francesa, num engarrafamento ocorrido sem razões reveladas. São vários dias de imobilidade, ao longo dos quais os passageiros dos carros vão se transformando em membros de uma pequena sociedade

nascente. A identidade das personagens inclui as características do veículo que dirigem. Organizam-se em grupos, lideranças se consolidam, redes de solidariedade se firmam, intrigas ameaçam a união. Nesse tempo de movimento

cessado, a vida segue: há doença, um suicídio; até uma história de amor brota do árido asfalto. O autismo (perdão pela piada involuntária) do trânsito foi

sendo suplantado pela empatia do grupo. Subitamente o engarrafamento dissolve-se tão inexplicavelmente quanto se perpetuara. Retomado o movimento da autopista, os carros se distanciam velozmente e sentimos pena

dos vínculos que se desmancham. Instala-se novamente o fluxo da impessoalidade.

Deslocar-se não é um trecho fora da vida. Existimos também no tempo

em que ainda não chegamos, enquanto "estamos indo" para algum lugar. Por que não incorporar os trajetos na nossa consciência? Andar, pedalar, usar transportes coletivos (que não fossem uma tortura), são formas de locomover-

se vendo sutilezas, suportando a existência de outros corpos. Mesmo que todos pareçam tão nus, sem seus cascos, tão frágeis, sem escudo. Adaptado de: CORSO, D. Fluxo da impessoalidade. Zero Hora, 27 abr. 2011, Segundo Caderno,

p. 6.

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Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 14

Texto para questão 17. Oficial Escrevente – 2010 – TJ/RS – FAURGS

Uma em cada 4 pessoas que usam a internet no mundo tem uma conta no Facebook. Esse meio bilhão de

pessoas publicam 14 milhões de fotos diariamente. Os 100 milhões de usuários do Twitter postam 2 bilhões de mensagens por mês. Dê um google no nome de alguém e os tweets dele vão estar lá. Pesquisadores cunham termos bonitos como a "era da hipertransparência" para tentar falar que há xeretas e exibicionistas

demais hoje. E a maior rede social do planeta deu um passo grande rumo à tal hipertransparência: em maio, o

Facebook mudou as regras sobre o quanto que estranhos podem saber de sua vida. "Estamos construindo

uma internet cujo padrão é ser sociável", decretou Mark Zuckerberg, criador e presidente do site, ao anunciar as mudanças. Utopia sociológica à parte, interessa para ele que usuários de seu serviço possam ser encontrados com mais facilidade. Se você não está no Facebook e encontra aquele amor antigo da escola ali,

tende a entrar para a rede social. E,quanto mais gente lá, mais Zuckerberg pode faturar com publicidade. As mudanças, de cara, parecem bem sutis. Antes, não dava para ver a foto de perfil ou a idade de uma pessoa pesquisada, por exemplo. Agora, a não ser que o usuário mude as configurações no braço, um resumo

de sua ficha ficará exposto na internet. Não é pouca coisa. Pense em quem teve um término de relacionamento conturbado e quer manter distância de namorados maníacos; ou em um adolescente que mudou de escola por causa de bullying e corre o risco de que tudo comece de novo se os novos colegas

descobrirem isso; em quem sofre de assédio moral no trabalho ou foi testemunha de um crime; em quem não quer que os pais descubram detalhes de sua vida sexual. Para todos eles, qualquer detalhe que o Facebook divulgue pode fazer uma grande diferença. Não fica nisso. Um dos maiores problemas é que a internet não

"esquece" nada. E agora que ela faz parte da vida de praticamente todo mundo há uma década, qualquer vacilo do passado pode causar um problema no presente. Fotos ousadas num fotolog de anos atrás vão complicar você na disputa por um emprego. Uma troca infeliz de scraps no Orkut, como uma discussão com um ex, pode estar ao alcance de qualquer um. As redes sociais baseadas em GPS, como a Fousquare,

colocam mais pimenta nesse molho, já que elas mostram num mapa onde os usuários estão a cada momento. Em suma, nunca existiram tantas possibilidades de exposições públicas. E sim: sempre vai ter alguém que você não esperava bisbilhotando você.

É natural. O desejo de cavucar a vida alheia existe desde sempre. "Na maior parte da história humana, as pessoas viveram em pequenas tribos onde todas as pessoas sabiam tudo o que todo mundo fazia. E de alguma forma estamos nos tornando uma vila global. Pode ser que descobriremos que a privacidade, no fim

das contas, sempre foi uma anomalia", afirma o professor Thomas W. Malone, do Centro de Estudos de Inteligência Coletiva do MIT. Seja como for, trata-se de uma anomalia de que todo mundo gosta. E por isso mesmo um movimento

ganha cada vez mais força: há uma preocupação maior com a bisbilhotice. Na prática, está acontecendo o contrário do que Zuckerberg imagina. Estamos menos "sociais". Hoje, a quantidade de dados que as pessoas deixam aberta na rede para todo mundo ver é, por cabeça,

bem menor do que há 5, 6 anos. É raro encontrar quem deixe suas fotos escancaradas numa rede social. Scraps públicos no Orkut já são parte de um passado remoto... Um estudo da Universidade da Califórnia mostra essa mudança: os entrevistados disseram tomar mais cuidado com o que postam online hoje do que

há 5 anos. Na mesma pesquisa, 88% dos jovens de 18 a 24 anos manifestaram-se a favor de uma lei que forçasse os sites a apagarem informações pessoais depois de algum tempo. Enquanto não chegam leis concretas, as pessoas reagem por conta própria. Trinta mil usuários

cancelaram suas contas no Facebook no dia 31 de maio, para protestar contra aquela mudança na configuração de privacidade. Compare isso com a reação que as pessoas tiveram em 2006, quando o Orkut passou a identificar quem visitava o seu perfil. Não faltaram reações de indignação. "Qual é a graça se não dá

mais para.espionar a vida dos outros escondido?", perguntavam os usuários. É difícil imaginar algo assim hoje. Aprendemos a nos comportar na rede como nos comportamos em público. Porque, cada vez mais, estamos mesmo.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 15

Texto para questão 18. Médico Judiciário – 2016 – TJ/RS – FAURGS

Todo mundo teve ao menos uma namorada esquisita, comigo não foi

diferente. Beber é trivial, bebe-se por prazer, para comemorar, para esquecer, para suportar a vida, mas beber para ficar de ressaca nunca tinha visto. Essa era Stela, ela bebia em busca do lado escuro do porre. Acreditava que

precisava desse terremoto orgânico para seu reequilíbrio espiritual. Sua ressaca era diferente, não como a nossa, tingida de culpa pelo excesso. A dela era almejada, portanto com propriedades metafísicas. Nem por isso

passava menos mal, sofria muito, o desconforto era visível, pungente. Tomava coisas que poucos profissionais do copo se arriscariam,

destilados das marcas mais diabo. Ou então era revés de um vinho da Serra com nome de Papa, algo que nem ao menos rolha tinha, era de tampinha. Bebida que, com sua qualidade, desonrava, simultaneamente, os vinhos e o

pontífice. Não era masoquismo. Acompanhando suas peregrinações etílicas, cheguei a outra conclusão: ela realmente precisava daquilo.

Stela inventara uma religião do Santo Daime particular, caseira, sabia

que era preciso passar pelo inferno para vislumbrar o céu. Os porres eram uma provação cósmica, um ordálio1 voluntário, um encontro reverencial com o sagrado. Depois da devastação do pileque, ela ficava melhor. Uma lucidez

calma a invadia, sua beleza readquiria os traços que a marcavam, seus olhos voltavam ao brilho que me encantara. Tinha mergulhado no poço da existência e reavaliado seus rumos. Durante dias a paz reinava entre nós e

entre ela e o mundo. Mas bastava uma nova dúvida em sua vida, uma decisão a tomar, e ela requisitava mais um inferno para se repensar.

A rotina era extenuante. Quem aguenta uma mulher que, em vez de

falar sobre a vida, mergulha num porre xamânico? Mas o amor perdoa. Lá estava eu ajudando-a a levantar-se de mais uma triste manguaça. Fiquei expert

em reidratar e reanimar mortos, em contornar enxaquecas siderais e em amparar dengues existenciais. Amava Stela pela inusitada maneira de consultar o destino. Triste era o desencontro. Eu cansado por cuidá-la depois de uma

noite mal dormida, servindo de enfermeiro, e ela radiante, prenha da energia que a purgação lhe rendera.

Stela era irredutível no seu método terapêutico, dizia que só nesse

estado se encontrava com o melhor de seu ser. Reiterava que era mais sábia durante o martírio. Insistia que, sóbria, em seu estado normal, sofria de um otimismo injustificado que lhe turvava a realidade. Seu lema era: “Só na

ressaca enxergamos o mundo como ele é”. Um dia, sem muitas palavras, Stela foi embora. Alguma ressaca oracular deve ter lhe dito que eu não era bom para seu futuro. Não a culpo.

Adaptado de: CORSO, M. O valor da ressaca. Zero Hora, n. 18489, 02/04/2016. Disponível em:

http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a5711255.xml&template=3916.dwt&edition=28691&section=4572. Acessado em 02/04/2016.

1 – ordálio: prova jurídica; também considerada, na Idade Média, juízo de Deus.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 16

Texto para questão 19. Médico Judiciário – 2016 – TJ/RS – FAURGS

A língua do Brasil amanhã

Ouvimos com frequência opiniões alarmantes a respeito do futuro da nossa língua. Às vezes se diz que ela vai simplesmente desaparecer, em benefício de outras línguas supostamente expansionistas (em especial o inglês,

atual candidato número um a língua universal); ou que vai se “misturar” com o espanhol, formando o “portunhol”; ou, simplesmente, que vai se corromper pelo uso da gíria e das formas populares de expressão (do tipo: o casaco que

cê ia sair com ele tá rasgado). Aqui pretendo trazer uma opinião mais otimista: a nossa língua, estou convencido, não está em perigo de

desaparecimento, muito menos de mistura. Texto para questão 20.

Oficial Escrevente – 2010 – TJ/RS – FAURGS 15. As mudanças, de cara, parecem bem sutis. Antes, não dava para ver a foto de 16.perfil ou a idade de uma pessoa pesquisada, por exemplo. Agora, a não ser que o

17.usuário mude as configurações no braço, um resumo de sua ficha ficará exposto na 18.internet. Não é pouca coisa. Pense em quem teve um término de relacionamento 19.conturbado e quer manter distância de namorados maníacos; ou em um adolescente

20.que mudou de escola por causa de bullying e corre o risco de que tudo comece de 21.novo se os novos colegas descobrirem isso; em quem sofre de assédio moral no 22.trabalho ou foi testemunha de um crime; em quem não quer que os pais descubram

23.detalhes de sua vida sexual. Para todos eles, qualquer detalhe que o Facebook 24.divulgue pode fazer uma grande diferença. Não fica nisso.

[...]

34. É natural. O desejo de cavucar a vida alheia existe desde sempre. "Na maior 35.parte da história humana, as pessoas viveram em pequenas tribos onde todas as

36.pessoas sabiam tudo o que todo mundo fazia. E de alguma forma estamos nos 37.tornando uma vila global. Pode ser que descobriremos que a privacidade, no fim das 38.contas, sempre foi uma anomalia", afirma o professor Thomas W. Malone, do Centro

39.de Estudos de Inteligência Coletiva do MIT. 40. Seja como for, trata-se de uma anomalia de que todo mundo gosta. E por isso 41.mesmo um movimento ganha cada vez mais força: há uma preocupação maior com a

42.bisbilhotice. Na prática, está acontecendo o contrário do que Zuckerberg imagina. 43.Estamos menos "sociais".

[...]

54.contra aquela mudança na configuração de privacidade. Compare isso com a reação 55.que as pessoas tiveram em 2006, quando o Orkut passou a identificar quem visitava o 56.seu perfil. Não faltaram reações de indignação. "Qual é a graça se não dá mais para

57.espionar a vida dos outros escondido?", perguntavam os usuários.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 17

Texto para questão 21. Analista – 2015 – Hospital de Clínicas de Porto Alegre – FAURGS

O estrangeiro

Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: “Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames”. Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem. O asilo de velhos fica em

Marengo, ____ oitenta quilômetros de Argel. Vou tomar o ônibus às duas horas e chego ainda à tarde. Assim, posso

velar o corpo e estar de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de licença a meu

patrão e, com uma desculpa destas, ele não podia recusar. Mas não estava com um ar muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizer-lhe: “A culpa não é minha”. Não

respondeu. Pensei, então, que não devia ter dito isto. A verdade é que eu nada tinha por que me desculpar. Cabia a ele dar-me pêsames. Com certeza, irá fazê-lo depois de amanhã, quando me vir de luto. Por ____ é um pouco como

se mamãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso encerrado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial.

Peguei o ônibus às duas horas. Fazia muito calor. Como de costume,

almocei no restaurante do Céleste. Estavam todos com muita pena de mim e Céleste disse-me: “Mãe, só se tem uma”. Depois do almoço, quando saí, acompanharam-me até a porta. Estava um pouco atordoado ____ foi preciso ir

à casa de Emmanuel para lhe pedir emprestadas uma braçadeira e uma gravata preta. Ele perdeu o tio ____ alguns meses.

[...] Adaptado de: “O estrangeiro”, de Albert Camus, p. 13-14 (Rio de Janeiro: BestBolso,

2010).

Texto para questão 23. Analista – 2015 – Hospital de Clínicas de Porto Alegre – FAURGS

O asilo fica a dois quilômetros da aldeia. Fiz o percurso a pé. Quis ver

mamãe imediatamente. Mas o porteiro disse-me que eu precisava procurar o diretor. Como ele estava ocupado, esperei um pouco. Durante todo este tempo o porteiro não parou de falar. Depois o diretor recebeu-me no seu gabinete. É

um velhote, que tem a Legião de Honra. Fitou-me com seus olhos claros. Depois apertou a minha mão e conservou-a durante tanto tempo na sua mão que não sabia mais como retirá-la.

Adaptado de: “O estrangeiro”, de Albert Camus, p. 13-14 (Rio de Janeiro: BestBolso, 2010).

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Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 18

Texto para questão 24. Médico Judiciário – 2016 – TJ/RS – FAURGS

Tomava coisas que poucos profissionais do copo se arriscariam,

destilados das marcas mais diabo. Ou então era revés de um vinho da Serra com nome de Papa, algo que nem ao menos rolha tinha, era de tampinha. Bebida que, com sua qualidade, desonrava, simultaneamente, os vinhos e o

pontífice. Não era masoquismo. Acompanhando suas peregrinações etílicas, cheguei a outra conclusão: ela realmente precisava daquilo.

Stela inventara uma religião do Santo Daime particular, caseira, sabia

que era preciso passar pelo inferno para vislumbrar o céu. Os porres eram uma provação cósmica, um ordálio1 voluntário, um encontro reverencial com o

sagrado. Depois da devastação do pileque, ela ficava melhor. Uma lucidez calma a invadia, sua beleza readquiria os traços que a marcavam, seus olhos voltavam ao brilho que me encantara. Tinha mergulhado no poço da existência

e reavaliado seus rumos. Durante dias a paz reinava entre nós e entre ela e o mundo. Mas bastava uma nova dúvida em sua vida, uma decisão a tomar, e ela requisitava mais um inferno para se repensar.

A rotina era extenuante. Quem aguenta uma mulher que, em vez de falar sobre a vida, mergulha num porre xamânico? Mas o amor perdoa. Lá estava eu ajudando-a a levantar-se de mais uma triste manguaça. Fiquei expert

em reidratar e reanimar mortos, em contornar enxaquecas siderais e em amparar dengues existenciais. Amava Stela pela inusitada maneira de consultar o destino. Triste era o desencontro. Eu cansado por cuidá-la depois de uma

noite mal dormida, servindo de enfermeiro, e ela radiante, prenha da energia que a purgação lhe rendera.

Adaptado de: CORSO, M. O valor da ressaca. Zero Hora, n. 18489, 02/04/2016. Disponível em:

http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a5711255.xml&template=3916.dwt&edition=28691&section=4572. Acessado em 02/04/2016.

1 – ordálio: prova jurídica; também considerada, na Idade Média, juízo de Deus.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 19

Texto para questão 25. Oficial de Justiça – 2014 – TJ/RS – FAURGS

Quase todo mundo conhece a história original (grega) sobre Narciso: um

belo rapaz que, todos os dias, ia contemplar seu rosto num lago. Era tão fascinado por si mesmo que, certa manhã, quando procurava admirar-se mais de perto, caiu na água e terminou morrendo afogado. No lugar onde caiu,

nasceu uma flor, que passamos a chamar de Narciso. O escritor Oscar Wilde, porém, tem uma maneira diferente de terminar

esta história. Ele diz que, quando Narciso morreu, vieram as Oreiades – deusas

do bosque – e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas. “Por que você chora?”, perguntaram as Oreiades. “Choro por

Narciso”. “Ah, não nos espanta que você chore por Narciso”, continuaram elas. “Afinal de contas, todas nós sempre corremos atrás dele pelo bosque, mas você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza”.

“Mas Narciso era belo?”, quis saber o lago. “Quem melhor do que você poderia saber?”, responderam, surpresas, as Oreiades. “Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias”. O lago ficou algum tempo quieto.

Por fim, disse: “eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que era belo. Choro por ele porque, todas as vezes que ele se deitava sobre as minhas margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza

refletida”. Adaptado de: COELHO, Paulo. O lago e Narciso

(http://paulocoelhoblog.com/2010/01/02/o-lago-enarciso/). Acesso em 14 de abril de 2014.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 20

Texto para questão 26.

Programador – 2014 – TJ/RS – FAURGS

Podem as máquinas pensar? Esse tema é muito explorado em obras de ficção científica e discutido

por aqueles que se perguntam aonde chegaremos com os avanços da

inteligência artificial, se é que existe tal inteligência. Marvin Minsky, um importante pensador da área, afirmou que a próxima geração de computadores será tão inteligente que “teremos muita sorte se eles permitirem manter-nos

em casa como animais de estimação”. John McCarthy, que cunhou o termo “Inteligência Artificial”, declarou que

“máquinas tão simples como um termostato têm - pode dizer-se - crenças”. Declarações como essas, feitas por cientistas renomados, estimulam a imaginação e assustam os incautos. No entanto, o filósofo J. R. Searle encarou

com sarcasmo essas expectativas exageradas e elaborou então um “experimento mental” para demonstrar que uma máquina não tem sequer a capacidade de compreender significados, apenas segue regras e responde a

comandos pré-estabelecidos. O poder de processamento e a sofisticação dos programas nos dão a

falsa impressão de inteligência. Searle chamou esse experimento de “sala

chinesa”. Imaginemos uma pessoa dentro de uma sala. Ela entende inglês e tem um livro com regras em inglês para combinar símbolos em chinês. Dentro da sala, estão várias cestas numeradas, e, dentro delas, estão papéis com

símbolos em chinês. Essa pessoa recebe, por baixo da porta, símbolos em chinês que ela não entende. Então, ela consulta as regras que informam como os símbolos devem ser combinados e, aí, devolve por baixo da porta. As regras

dizem mais ou menos assim: “se o símbolo recebido for parecido com este, pegue o papel da cesta n.º 13 e devolva por baixo da porta”. A pessoa dentro da sala não sabe, mas está respondendo a perguntas em chinês. Ela sequer

sabe o significado dos símbolos, apenas tem uma regra para combinar os símbolos e devolvê-los por baixo da porta. Essa é, justamente, a base do

“pensamento” das máquinas. Esse exemplo nos mostra que o processamento dos computadores não

pode ser comparado à inteligência humana. O que renomados cientistas

chamam de “Inteligência Artificial” é o resultado de entradas e saídas de dados realizadas de forma “burra”. Computadores não têm capacidade de saber o que significam as palavras. Se eu falo para alguém uma palavra (como “amor”,

“ódio” ou “afeto”), essa pessoa lhe atribui um significado e recorda situações de sua vida em que ela se aplica. A inteligência humana leva em consideração esses significados e toma decisões baseadas em complexas interpretações

pessoais. Isso é algo básico para qualquer ser humano e fundamental para o pensamento. E é algo que as máquinas ainda não podem fazer.

Adaptado de: CARNEIRO, Alfredo de Moraes Rêgo. Podem as máquinas pensar? Disponível em http://www.netmundi.org/ filosofia/tag/marvin-minsky. Acessado em 14 de julho

de 2014.

Compreensão de Textos e Redação Oficial – Assistente em

Administração-UFRGS – 2016

Professora Maria Tereza Página 21

Texto para questão 27. O MERCADO MANDA MESMO?

Simon Franco

Quem se dedicar hoje a ler todos os livros, manuais e artigos sobre o que é ser um “bom profissional” certamente vai desistir de tentar qualquer emprego. Em primeiro lugar, as descrições que encontramos são sempre de

“super-homens”, que nunca têm estresse, não se cansam, são capazes de infinitas adaptações, nunca brigam com a família... Ou seja, não é descrição de gente. Em segundo lugar, o conjunto dessas fórmulas é francamente

contraditório. O que uns dizem que é bom outros acham que não. É como se cada autor, cada consultor, cada articulista pegasse uma ideia, transformasse

em regra e quisesse aplicá-la a todos os seres humanos, de qualquer sexo e de qualquer cultura.

Não é preciso muita sociologia para perceber que esse emaranhado

todo, ao pretender indicar o bom caminho para o profissional, desenha uma espécie de “tipo ideal” de trabalhador para as necessidades do mercado. E como o próprio mercado é todo cheio de ambiguidades e necessidades que são

contrárias umas às outras, o que sobra para nós é uma grande perplexidade. Então que tal parar um pouco de pensar no mercado e pensar em você

mesmo? Qual é o “algo a mais” que você, com sua personalidade, suas

aptidões, seu jeito de ser, qual é esse “algo” que você pode desenvolver? É preciso saber que formação é a mais adequada para você, não a formação mais adequada para o mercado.

As diferentes cartilhas, as diversas teorias, as fórmulas mágicas servem apenas para tentar conduzir todo mundo para o mesmo lugar. O desafio é sair desse lugar e se tornar alguém incomum, de acordo com seus desejos e

interesses. Então, não será apenas uma questão de “empregabilidade”, como dizem, mas de vida. Pode até não parecer, mas nós somos seres humanos, com

dignidade. No mercado, há obviamente mercadorias, simplesmente com preço. E fazer o melhor por si mesmo, e não pelo mercado, é algo que não tem preço.

(In: FOLHA DE SÃO PAULO - Especial: Empregos.)

Texto para questão 30. Outro sedicioso a receber recomendações reais foi José de Resende

Costa Filho (1764-1841), acolhido em Cabo Verde pelo secretário de Governo, o

naturalista fluminense João Diogo da Silva Feijó, para prestar serviços burocráticos. Nomeado ajudante da Secretaria do Governo e oficial de escrituração do Real Contrato da Urcela, Resende acabou sendo promovido

interinamente a secretário de Governo, como sucessor de Feijó, em 1795. Três anos depois, ele assumiria o cargo de escrivão da Provedoria da Real Fazenda, onde ficou até 1798, quando se tornou comandante da Praça de Vila

da Praia – antiga capital de Cabo Verde –, tendo ostentado o título de capitão-mor do Forte de Santo Antônio até 1803. [...]

A trajetória desses personagens prova que o degredo não foi drástico para todos os inconfidentes, como se conta nos livros. Para alguns, ele foi o estopim para uma retomada em suas vidas.

Adaptado de: RODRIGUES, A. F. Disponível em:. Acesso em: 24 mar. 2015.