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1 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Engenharia Civil Trabalho de Conclusão de Curso COMPORTAMENTO DE PROVAS DE CARGA EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA MONITORADA NO SOLO DO CENTRO- OESTE Autor: Lucas Rabello Ataides e Victor Andrade Pocceschi Orientador: Prof. D.Sc. Rideci Farias Brasília - DF 2016

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Pró-Reitoria de Graduação Curso de Engenharia Civil

Trabalho de Conclusão de Curso

Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Engenharia Civil

Trabalho de Conclusão de Curso

COMPORTAMENTO DE PROVAS DE CARGA EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA MONITORADA NO SOLO DO CENTRO-

OESTE

Autor: Lucas Rabello Ataides e Victor Andrade Pocceschi

Orientador: Prof. D.Sc. Rideci Farias

Brasília - DF 2016

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LUCAS RABELLO ATAIDES & VICTOR ANDRADE POCCESCHI

COMPORTAMENTO DE PROVAS DE CARGA EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA

MONITORADA NO SOLO DO CENTRO-OESTE

Artigo apresentado ao curso de graduação em

Engenharia Civil da Universidade Católica de

Brasília, como requisito parcial para a

obtenção de Título de Bacharel em Engenharia

Civil.

Orientador:Prof. D.Sc. Rideci Farias.

Brasília

2016

3

Artigo de autoria de Lucas Rabello Ataides e Victor Andrade Pocceschi, intitulado

“COMPORTAMENTO DE PROVAS DE CARGA EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA

MONITORADA NO SOLO DO CENTRO-OESTE”, apresentado como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil da Universidade Católica de Brasília, em

Dezembro de 2016, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada:

__________________________________________________

Prof. D.Sc. Rideci Farias.

Orientador

Curso de Engenharia Civil – UCB

__________________________________________________

Prof. MSc. Lucas Parreira de Faria Borges.

Examinador

Curso de Engenharia Civil – UCB

Brasília

2016

4

DEDICATÓRIA

Lucas Rabello Ataides

Dedico este trabalho à meus pais, Gil e Cau,

que me deram carinho e educação, broncas

merecidas, e nunca deixaram de me apoiar em

qualquer decisão que eu tomasse, me dando

tudo o que eu precisava e mais. Dedico

também à minha irmã, Ana Clara, que

principalmente nos últimos anos é uma grande

amiga que está sempre do meu lado e dedico à

minha namorada, Helena, que sempre me

ajuda e incentiva a crescer e está comigo nos

melhores e nos piores momentos.

Victor Andrade Pocceschi

Dedico este trabalho à minha família, que

sempre me apoiou, aconselhou e lutou ao meu

lado, tornando possível uma das maiores

realizações em minha vida. Dedico também à

minha irmã Laura por estar sempre ao meu

lado, sendo um exemplo para mim de força e

garra.

5

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Engenheiro Fernando Rodrigo de Aquino por fornecer relatórios e laudos.

Agradecemos a Fundex, em especial ao Engenheiro Marcelo Ribeiro Borges por fornecer

sondagens e relatórios além de acompanhar na realização dos ensaios. Agradecemos

especialmente ao Engenheiro e nosso orientador Rideci Farias por nos conceder o melhor

material e auxílio possível para a realização desse trabalho.

6

COMPORTAMENTO DE PROVAS DE CARGA EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA

MONITORADA NO SOLO DO CENTRO-OESTE

LUCAS RABELLO ATAIDES & VICTOR ANDRADE POCCESCHI

RESUMO

Este trabalho contempla a comparação dos resultados de três provas de carga estáticas

em estacas do tipo hélice contínua monitorada no solo do Centro-Oeste. As duas primeiras

obras apresentam perfis geotécnicos predominantes similares com solo argiloso enquanto que

a terceira possui um perfil de solo siltoso. Este estudo apresenta a metodologia executiva dos

ensaios das provas de carga e são comparados os resultados de deformação pelas curvas carga

deformação além de contemplar a análise dos laudos SPT das obras, verificando a carga de

ponta em cada caso e comparando de forma a tentar justificar as deformações verificadas nas

provas de carga.

Palavras-chave: Estacas Hélice Contínua. Prova de Carga Estática. Solos Argilosos.

Solo Siltoso.

7

1. INTRODUÇÃO

Os cálculos da capacidade de carga em projetos de fundações são feitos a partir de

teorias obtidas na literatura, por métodos teóricos, empíricos e semi-empíricos, que fazem uso

de modelos de previsão de comportamento quando estes são submetidos a um dado

carregamento ou deslocamento imposto.

Os inúmeros tipos de fundações fornecem um leque de escolhas muito amplo, logo, vem

a necessidade de se buscar aquele que proporciona o melhor custo benefício e desempenho

satisfatório em cada perfil geotécnico.

Em 1928 a prática de ensaiar fundações por meio de provas de carga sobre estaca foi

introduzida no Brasil, o que passou a facilitar o estudo de comportamento das estacas.

Segundo Alledi e Polido (2008) a prova de carga é o método mais confiável para avaliar

a capacidade de carga apesar da evolução das últimas décadas dos métodos semi-empíricos no

Brasil.

Este trabalho enfoca o estudo do comportamento à compressão de estacas hélice

contínua monitorada em solos no Distrito Federal e entorno.

1.1. OBJETIVO GERAL

Este trabalho tem como objetivo geral a análise comparativa de provas de carga em

estacas hélice contínua monitorada em solos no Distrito Federal e entorno.

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1.2.1. Identificação de perfis geotécnicos a partir de laudos de sondagem;

1.2.2. Verificação dos tipos de fundação utilizadas e seus respectivos diâmetros;

1.2.3. Escolha de duas provas de carga com características de solo, execução e

diâmetro da estaca semelhantes;

1.2.4. Escolha de uma terceira prova de carga com um solo diferente para análise

comparativa e discussões pertinentes ao assunto;

1.2.5. Comparação das provas de carga obtidas para verificação da influência do tipo

de solo no deslocamento da estaca;

1.2.6. Criação da linha de tendência e equação geral para solo argiloso;

8

1.2.7. Comparação das provas de carga obtidas para verificação da influência do

número SPT no deslocamento da estaca.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento foram feitos trabalhos de campo e escritório com vista não só

ao melhor andamento do projeto final, mas também buscar, além do aprendizado aos autores,

um melhor entendimento do processo de provas de cargas em estacas.

Nos trabalhos de campos foram realizados acompanhamentos de processos de

execução da prova de carga realizada na Asa Norte para uma das fundações em estaca hélice

continua na obra do TJDFT, que aconteceu de acordo com a norma ABNT 6122:2010 onde

especifica que deve ser executado um número de prova de cargas igual a no mínimo 1% da

quantidade total de estacas, arredondando-se sempre para mais. Foi coletada somente uma

prova de carga do TJDFT e devido ao critério adotado para conformidade de solo, execução e

diâmetro da estaca, foi escolhida uma prova de carga feita em Luziânia/GO para um viaduto

na BR- 040 – Trecho Km 24 a Km 33,5, executada em 17/11/2015, a critério de organização,

chamar-se-á no decorrer do trabalho a prova de carga realizada em Luziânia de EH1 e a

realizada na Asa Norte de EH2.

Posteriormente, analisa-se também uma prova de carga em perfil mais profundo,

realizado em uma escavação, onde foi retirada a camada de solo argiloso, restando um perfil

silte-arenoso, feito em um conjunto habitacional do Noroeste, denomina-se está última de

EH3.

2.1. CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL GEOTÉCNICO

O local onde foram coletados os dados do experimento situam-se no Distrito Federal e

entorno, cujo perfil geotécnico é, em grande parte, formado por argila. Deste modo, para

garantir uniformidade dos dados, foi escolhido o perfil argiloso como característico do

trabalho.

2.2. CRITÉRIOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS

Para uma comparação mais fiel dos resultados, foi necessária uma padronização dos

elementos envolvidos na investigação.

Quanto ao perfil geotécnico, como citado anteriormente, foi escolhido o solo argiloso

como padrão. Quanto à fundação, seguem dois critérios: o tipo de fundação e o diâmetro. Por

ser uma das mais utilizadas, atualmente, no DF, foi escolhida a Hélice Contínua e diâmetro de

9

50 cm. O tipo de prova de carga selecionado foi estática, por esta simular o carregamento que

um edifício aplica na fundação.

2.3. PREPARAÇÃO E EQUIPAMENTOS DAS PROVAS DE CARGA

Os dispositivos de medidas bem como todo o sistema de carregamento foram

convenientemente abrigados de intempéries. As cargas aplicadas no topo da estaca foram

feitas com quatro células de carga em Luziânia, duas na Asa Norte e uma no Noroeste com

capacidade de carga individual de até 100 toneladas, acionados por bomba hidráulica com

leitura manométrica com precisão de 5 kg/cm². Os deslocamentos verticais sofridos pelas

estacas durante a realização das provas de carga foram medidos, simultaneamente, por meio

de quatro extensômetros mecânicos, com precisão de 0,01mm.

2.4. APARELHAGEM

2.4.1. DISPOSITIVO DE APLICAÇÃO DE CARGA

O dispositivo de aplicação de carga pode ser constituído de um ou dois macacos

hidráulicos, devendo ter capacidade pelo menos 20% maior do que o carregamento máximo

previsto no ensaio, de acordo com a norma NBR 12131:2005.

Figura 1 - Macacos hidráulicos para aplicação de carga.

O sistema utilizado no artigo foi o de elementos tracionados fixados ao terreno, sendo

eles, conjunto de estacas “executadas apenas para atender à realização do ensaio, projetadas

com capacidade de carga à tração, ao menos, 50% superior à máxima carga prevista para a

prova.” (NBR 12131),e com viga de reação treliçada, contida por bloco de concreto.

10

Figura 2– Estrutura de reação em treliça da prova de carga.

2.4.2. DISPOSITIVO DE MEDIÇÃO

A carga é aplicada no topo da estaca e o deslocamento da estaca é medido por meio de

um conjunto de quatro extensômetros instalados em dois eixos ortogonais. Como mostrado na

figura 3 a seguir. Todos os equipamentos de medição devem ser mantidos abrigados de

intempéries, sendo feita uma cobertura no local do ensaio.

Figura 3 – Extensômetros dispostos em dois eixos ortogonais.

2.5. PREPARAÇÃO DA PROVA DE CARGA

11

A estaca deve estar situada dentro da área de abrangência das sondagens mais próximas,

definida por um círculo com centro no eixo da estaca e raio 10 vezes seu diâmetro e, no

máximo, de 5,0 m.

Para a realização da prova de carga à compressão axial o topo da estaca deve ser

convenientemente preparado, de tal maneira que os esforços aplicados não comprometam sua

integridade estrutural.

No caso de execução de um bloco de coroamento, a superfície do mesmo deverá ser

rigorosamente ortogonal ao eixo de aplicação da carga e deve conter marcação do centro da

estaca de forma a permitir a centralização correta da carga.

2.6. INÍCIO DO ENSAIO

Entre a instalação da estaca e o início do carregamento da prova de carga deve ser

respeitado um prazo mínimo de três dias, no caso de solos com comportamento não coesivo e

de dez dias, no caso de solos com comportamento coesivo. No caso de estacas moldadas no

solo, deve-se garantir um prazo mínimo para que a resistência do elemento estrutural seja

compatível com a carga máxima do ensaio.

Na execução da prova de carga, a estaca foi carregada até o dobro da carga de projeto,

atendendo aos requisitos de segurança da NBR 6122. No caso deste trabalho o ensaio foi feito

com carregamento lento, por simular de forma mais fiel a aplicação de carga da própria

estrutura, sendo realizado segundo as seguintes prescrições:

a) o carregamento foi executado em estágios iguais e sucessivos, observando-se que:

a carga aplicada em cada estágio foi de 20% a carga de trabalho prevista para a

estaca ensaiada;

em cada estágio, a carga foi mantida até a estabilização dos deslocamentos e,

no mínimo, por 30 minutos;

b) em cada estágio os deslocamentos foram lidos imediatamente após a aplicação da

carga correspondente, seguindo-se leituras decorridos 2, 4, 8, l5, 30 minutos, uma, duas, três,

quatro horas, etc, contados a partir do início do estágio, até se atingir a estabilização;

c) o critério de estabilização dos deslocamentos é atendido quando a diferença entre

duas leituras consecutivas corresponder a, no máximo, 5% do deslocamento havido neste

estágio;

12

d) como o ensaio não foi feito até a ruptura do sistema, a carga máxima do ensaio foi

mantida durante um intervalo de tempo de 12 horas entre a estabilização dos recalques e o

início do descarregamento;

e) o descarregamento é feito em quatro estágios. Cada estágio é mantido até a

estabilização dos deslocamentos com registro. O tempo mínimo de cada estágio é de l5

minutos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. ANÁLISE DOS GRÁFICOS

Nas Figuras 4, 5 e 6 são apresentadas as curvas carga x deslocamento obtidas nas

provas de carga analisadas. Nas Tabelas 1 e 2 estão especificados os valores de carga, de

deslocamentos atingidos nos ensaios.

Figura 4 – Gráfico Carga x Deslocamento EH1.

Na EH1, pode-se observar que no segundo estágio, o carregamento de 50.660 kg, foi

medido um deslocamento de 0,3225 mm no quinto estágio, aplicação de 126.680 kg foi

observado um deslocamento de 1,9175 mm e no oitavo e último estágio de carregamento, a

aplicação de 202.700 kg gerou um deslocamento de 5,7375 mm.

Após retirado o carregamento, a deformação residual apresentou média de 2,43mm.

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Figura 5 – Gráfico Carga x Deslocamento EH2.

Na EH2 o sétimo estágio foi aplicado um carregamento de 55.422,5 kg e a medida de

1,335 mm de deslocamento, o nono estágio apresenta o carregamento de 79.175,5 kg e

deslocamento de 2,99 mm, e tendo queda ainda maior no décimo primeiro e último estágio o

qual foi aplicado 110.845,5 kg e deslocamento 6,408 mm, ultrapassando assim o

deslocamento observado no último estágio da EH1.

Após retirado o carregamento, a deformação residual tem média de 2,328mm.

Figura 6 – Gráfico Carga x Deslocamento para comparação entre EH1 e EH2.

14

Prova de carga - EH1 -Luziânia– Carregamento

Estágio Carga (Kg) Deslocamento (mm)

0 0 0

1 25340 0,035

2 50660 0,3225

3 76000 0,71

4 101340 1,455

5 126680 1,9175

6 152020 2,6125

7 177360 4,05

8 202700 5,7375

Descarregamento

4 0 2,4325

3 50660 3,82

2 101340 4,7375

1 152020 5,345

0 20270 5,7375

Tabela 1 – Valores de cargas e devidos deslocamentos em EH1.

Prova de carga - EH2- TJDFT– Carregamento

Estágio Carga (Kg) Deslocamento (mm)

0 0 0

1 7917,5 0,08

2 15825,0 0,185

3 23752,5 0,375

4 31676,0 0,555

5 39587,5 0,765

6 47505,0 0,99

7 55422,5 1,335

8 63340,0 1,71

9 79175,5 2,99

10 95010,0 4,83

11 110845,5 6,408

Descarregamento

4 0 2,328

3 15825 3,758

2 47505 4,848

1 79175,5 5,888

0 110845,5 6,408

Tabela 2 - Valores de cargas e devidos deslocamentos em EH2.

15

Analisando-se os gráficos, percebe-se que, apesar de serem provas de carga em solos

semelhantes e de uma mesma região, os gráficos e valores de deformação são bastante

divergentes. Nas figuras 5 e 6 e nas tabelas 1 e 2 percebe-se que a estaca EH1 apesar de ter

sido submetida a uma carga máxima aproximadamente 82% maior que EH2, possui um

deslocamento máximo aproximadamente 10% menor. Nota-se também, que apesar da

diferença de carga entre as estacas, os deslocamentos finais são muito próximos.

3.2. PREVISÃO DE DESLOCAMENTOS PARA SOLO ARGILOSO

Para se ter uma previsão de deslocamentos em solo argiloso, tirou-se a média dos

valores tanto de carga quanto de deslocamento das tabelas 1 e 2 para se obter a tabela 3,

contendo a média dos oito primeiros estágios da provas de carga EH1 e EH2.

Médias entre EH1 e EH2

Estágio Carga (Kg) Deslocamento (mm)

1 0 0

2 16628,75 0,0575

3 33242,5 0,25375

4 49876,25 0,5425

5 66508 1,005

6 83133,75 1,34125

7 99762,5 1,80125

8 116391,25 2,6925

Tabela 1 - Valores das médias de cargas e devidos deslocamentos entre EH1 e EH2.

Figura 7 – Gráfico Carga x Deslocamento para comparação entre EH1 e EH2 com média e

linha de tendência.

16

Com os valores da Tabela 1, cria-se um gráfico dentro da Figura 6, onde se acrescenta

uma linha de tendência, apresentado na Figura 7.

Com o acréscimo da linha de tendência é possível fazer uma previsão de deslocamento a

partir de qualquer carga em solo argiloso, inclusive mais altas que as ensaiadas em EH1 e

EH2 a partir da equação 1:

𝐷 = 2. 10−10 ∗ 𝐶2 + 2. 10−6 ∗ 𝐶 + 0,0011 (3.1)

Onde D é o deslocamento em milímetros e C é a carga em kgf.

3.3. ANÁLISE DAS SONDAGENS SPT

O solo predominante dos perfis geotécnicos é argila laterítica vermelha colapsível,

característica da região Centro-Oeste. Conforme as sondagens, demonstram camada

homogênea com baixo SPT até a profundidade média de 16 metros, proporcionando baixa

capacidade de carga por atrito lateral.

Nos ensaios SPT realizados, anexos A e B, observa-se inicialmente uma mobilização do

atrito lateral posterior mobilização da ponta da estaca. A experiência regional vem

demonstrando que a parcela de contribuição do atrito lateral em solos argilosos com baixos

SPTs não são confiáveis, sendo recomendado em muitos casos serem desconsiderados.

A partir da análise dos laudos SPT verifica-se que a estaca EH1, anexo A, possui em

sua ponta um Nspt = 33, enquanto a estaca EH2, anexo B, possui em sua ponta um Nspt = 24.

Pelo método de verificação da capacidade de carga da estaca de Décourt-Quaresma é

possível verificar a resistência de ponta do solo, levando em consideração o SPT. Para essa

análise, foi desconsiderada a resistência lateral, onde os valores são dados em (𝑡𝑓/𝑚²).

𝑞𝑝 = 𝐶 ∗ 𝑁𝑠𝑝𝑡 (3.2)

Onde:

𝑞𝑝 - Resistência de ponta;

C - Coeficiente que depende das características do solo;

𝑁𝑠𝑝𝑡 - Número dado pelo SPT na ponta da estaca.

17

Tipo de Solo C (tf/m²)

Argila 12

Siltes argilosos 20

Silte arenoso 25

Areia 40

Tabela 2 – Valores de C em função do tipo de solo (Décourt e Quaresma, 1978).

Utilizando a Equação 2 e Tabela 4 para EH1:

𝑞𝑝 = 12 ∗ 33

(3.3)

𝑞𝑝 = 396 𝑡𝑓/𝑚²

(3.4)

Utilizando a Equação 2 e Tabela 4 para EH2:

𝑞𝑝 = 12 ∗ 24

(3.5)

𝑞𝑝 = 288 𝑡𝑓/𝑚² (3.6)

A partir da análise dos valores de resistência de ponta e do fuste verifica-se que os

valores de deformação das tabelas 1 e 2 são mais coerentes, já que a resistência da estaca EH1

é aproximadamente 28% maior que a de EH2.

3.4. ANÁLISE COMPLEMENTAR EM SOLO SILTOSO

A EH3 foi realizada em 11 estágios de carregamento, chegando a uma carga de

160.000 kg, onde no segundo estágio possui um carregamento de 16.000 kg e deslocamento

médio de 0,77 mm e no estágio 5, onde o carregamento é de 64.000 kg, 4 vezes maior que o

segundo estágio, possui um deslocamento de 3,03 mm, e apresenta um deslocamento maior

entre os estágios sete e oito, indo de 7,47 mm para 12,75 mm com carregamentos de 96.000

kg e 112.000 kg, respectivamente, o último estágio de carregamento, com 160.000 kg, teve

um deslocamento médio de 25,41 mm.

Após retirado o carregamento, a deformação residual tem média de 20,85mm.

18

Figura 8 – Gráfico Carga x Deslocamento EH3.

Figura 9 – Gráfico Carga x Deslocamento para comparação entre EH1, EH2 e EH3.

Nas figuras 8 e 9, são apresentadas as curvas carga x deslocamento obtidas em uma

terceira prova de carga analisada com perfil geotécnico diferente dos demais e comparação

delas. Na Tabela 5 estão especificados os valores de carga, de deslocamento máximo e

deslocamento final atingidos nos ensaios.

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Prova de carga - EH3 Noroeste - Carregamento

Estágio Carga (Kg) Deslocamento

(mm)

0 0 0

1 5000 0,39

2 16000 0,77

3 32000 1,33

4 48000 2,17

5 64000 3,03

6 80000 4,58

7 96000 7,47

8 112000 12,75

9 128000 17,55

10 144000 21,43

11 160000 25,41

Descarregamento

4 0 20,85

3 40000 23,09

2 80000 24,03

1 120000 24,69

0 160000 25,41

Tabela 5 - Valores de cargas e devidos deslocamentos em EH3.

A partir da análise do gráfico da Figura 9 é possível perceber uma diferença

significativa no deslocamento de EH3, com uma carga máxima 26,25% menor que a de EH1 e

deslocamento máximo mais de 4 vezes maior.

Ao analisarmos o gráfico SPT de EH3, anexo C, verifica-se um Nspt = 50 na ponta da

estaca, novamente calculando a capacidade de carga pelo método Décourt-Quaresma tem-se:

Utilizando a equação 2 e tabela 4 para EH3:

𝑞𝑝 = 25 ∗ 50 (3.7)

𝑞𝑝 = 1250 𝑡𝑓/𝑚² (3.8)

Percebe-se na Equação 3.8 que EH3 possui uma capacidade de carga mais de três vezes

maior que EH1.

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho procurou identificar perfis geotécnicos a partir de laudos de sondagem,

bem como a verificação dos tipos de fundação utilizadas em obras no Centro-Oeste

20

considerando os diâmetros corriqueiros ensaiados em provas de carga. Para isso foram

selecionadas provas de carga com características de solo, execução e diâmetro da estaca

semelhantes, além da escolha de uma terceira prova de carga com um solo diferente para

análise comparativa e discussões pertinentes ao assunto.

A partir dos dados encontrados, este trabalho procurou criar uma linha de tendência e

uma equação geral de deslocamento onde pode se ter uma previsão de deslocamento, para

qualquer solo semelhante ao perfil argiloso mostrado no trabalho, a partir de uma carga não

muito distante das cargas ensaiadas por meio das provas de carga.

Diante dos levantamentos realizadas e das análises efetuadas com vistas à verificação

dos objetivos propostos neste trabalho, e ainda dos cálculos de resistência pelo método de

Décourt-Quaresma, conciliados às provas de carga de diferentes obras, por meio de curvas

carga deformação, tem-se as seguintes considerações / conclusões:

01) Observou-se na primeira comparação, entre EH1 (Prova de carga realizada em

Luziânia/GO) e EH2 (Prova de carga do TJDFT na Asa Norte/DF), que possuem perfis

geotécnicos semelhantes, uma deformação não proporcional a carga aplicada, já que a carga

máxima em EH1, de 202.700 kgf, é significativamente maior que em EH2, com carga

máxima de 110.845,5 kgf. Enquanto os valores de deformação em EH1 e EH2 são

respectivamente 5,7375 mm e 6,408 mm.

Essa desproporcionalidade pode ser explicada pelos valores de SPT nas profundidades

de apoio, que feito o cálculo de resistência de ponta, percebeu-se que EH2, onde verificou-se

menor deslocamento, possui uma resistência de 396 tf/m² enquanto EH1 possui 288 tf/m².

Já na comparação entre EH1 e EH2, que foram escavadas em argila, com EH3 (Prova

de carga realizada no Noroeste/DF), escavada em silte, verificou-se que apesar de nesta última

a resistência de ponta ser de 1250 tf/m², ou seja, mais de três vezes maior que EH1, o

deslocamento máximo, de 25,41 mm (na EH3), foi quase 4 vezes maior que o de EH2.

Esses resultados mostram que, apesar de uma análise tátil-visual do solo ter mostrado

um solo semelhante, não se tem garantia de um comportamento previsível, ou nem mesmo

proporcional. O comportamento das deformações nesses solos foi mais bem explicado pelas

análises do laudo de sondagem SPT. É possível afirmar também que apenas sondagem SPT,

apesar de fornecer parâmetros correlacionáveis à resistência do solo, não garante uma

previsão de deslocamento.

21

02) O número de provas de carga pode comprometer análises mais precisas de forma

que caso se utilizasse um maior número de dados, seria possível obter resultados mais

confiáveis, linhas de tendências e equações mais precisas, além de ser possível apontar

possíveis exceções.

03) Considerando-se as provas de carga EH1 e EH2 há necessidade de se selecionar um

maior número de dados em solos similares a fim de confirmar um comportamento padrão, na

busca de parâmetros para o fiel posterior dimensionamento de fundações tendo como base

uma equação para deformação a partir da carga e do tipo de solo.

Ressalta-se a importância de um banco de dados de provas de carga com

características similares de solo, diâmetro da fundação e tipo de execução, tornando possível

estudos mais complexos e detalhados.

04) Considerando EH3, há necessidade de analisar mais solos similares, tendo em vista

que a prova de carga selecionada teve um comportamento não esperado levando em

consideração a experiência regional, chega-se à conclusão de que esse comportamento

poderia ser uma exceção em uma análise mais completa e com maior número de dados.

Recomenda-se neste trabalho que em determinadas obras a execução de provas de

carga, sejam não apenas em 1% das estacas como normatizado, mas também sempre que

houver uma mudança no perfil geotécnico na obra ou mudança do tipo de estaca utilizada,

conseguindo maior precisão na medição das deformações de acordo com a mudança de solo e

possivelmente uma economia em gastos com reformas referentes a recalques.

Recomenda-se também para trabalhos posteriores, o estudo em laboratório dos solos,

que permitirá uma caracterização precisa, e a comparação com provas de carga, verificando

uma possível relação entre os valores analisados nos ensaios e as deformações encontradas em

campo, podendo assim ter maiores parâmetros de comparação entre perfis de solos similares e

a elaboração de linhas de tendência que simulam com maior precisão o comportamento que o

levantamento da estrutura causaria nas fundações.

22

LOAD TESTS BEHAVIOR IN CONTINUOUS FLIGHT AUGER PILES DUG IN

MIDWEST SOIL

Abstract: This research contemplates the comparison of the results of three static load

tests on continuous flight auger piles excavated in midwest soil. The first two constructions

present similar geotechnical profiles with clayey soil while the third one has a silty soil

profile. This study will present the executive methodology of the load tests and the results of

deformation will be compared through deformation load curves besides contemplating the

analysis of the reports SPT of the construction sites, verifying the load of tip in each case and

comparing in order to try to justify the deformations verified in the load tests.

Keywords: Continuous Flight Auger Piles. Static Load Testing. Clayey Soils. Silty soil.

23

REFERÊNCIAS

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ALBUQUERQUE, Paulo José Rocha de. Provas de carga em estacas hélice contínua

monitoradas em solos sedimentares. In: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA

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de carga estática:NBR 12131. Rio de Janeiro, 1992. 4 p.

BATISTA, Isabella Barbalho Santini; COUTINHO, Roberto Quental; FREIRE, Filipe

Carnib. Análise do Comportamento das Provas de Carga Estáticas em Estacas Tipo Hélice

Contínua através da Curva Carga Recalque. In: XV CONGRESSO BRASILEIRO DE

MECÂNICA SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 2010, Natal. Anais... Gramado:

Abms, 2010. v. 2, p. 1 – 8

FARIAS, Rideci e PARANHOS, Haroldo. Notas de aulas de engenharia de fundações:

Parte 1. 20 jul. 2015, 07 dez. 2015. 111 p.

PÉREZ, Nurian Bibiana Munévar. ANÁLISE DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA

EM ESTACAS ESCAVADAS EM SOLO DA REGIÃO DE CAMPINAS/SP. 2014. 171 f.

Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas,

Campinas, 2014.

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ANEXO A - LAUDO SPT EH1

25

ANEXO B - LAUDO SPT EH2

26

ANEXO C - LAUDO SPT EH3