componentes de bicicletas e associados produzidos em materiais poliméricos e compósitos de matriz...
TRANSCRIPT
Materiais Não Metálicos
Componentes de Bicicletas e Associados Produzidos em
Materiais Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
Autores: António Postiga
Filipe Giesteira
Beatriz Ribeiro
Orientador: Engº António Marques
Ano Curricular: 2015/2016
Assinatura: _________________________
_________________________
_________________________
Conteúdos
Resumo .......................................................................................................................................... 2
Abstract ......................................................................................................................................... 3
Índice de Figuras ........................................................................................................................... 4
Índice de Tabelas ......................................................................................................................... 10
Notas Históricas .......................................................................................................................... 11
História da Bicicleta ................................................................................................................ 11
História dos Pneus e Câmaras de Ar usadas nas Bicicletas..................................................... 15
Identificação e estudo de componentes atualmente fabricados nestes dois tipos de Materiais ... 17
Introdução ao capítulo ............................................................................................................. 17
Selim ....................................................................................................................................... 18
Espigão .................................................................................................................................... 20
Correias ................................................................................................................................... 21
Pedais ...................................................................................................................................... 22
Manípulos de travagem/transmissão ....................................................................................... 24
Grips ........................................................................................................................................ 25
Revisão Bibliográfica dos materiais usados para a produção dos Componentes Selecionados .. 26
Introdução ao capítulo ............................................................................................................. 26
Elastómeros ............................................................................................................................. 27
Generalidades dos Elastómeros ........................................................................................... 27
Borracha Natural ................................................................................................................. 29
Estireno Butadieno (SBR) ................................................................................................... 30
Isobuteno-isopreno (butil) ................................................................................................... 31
Termoplásticos ........................................................................................................................ 32
Generalidades dos Termoplásticos ...................................................................................... 32
Poliestireno (PS) .................................................................................................................. 35
Policarbonato (PC) .............................................................................................................. 40
Termoendurecívies .................................................................................................................. 42
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
1
MNM 2015/2016
Generalidades dos Termoendurecíveis ................................................................................ 42
Resina Epoxídica ................................................................................................................. 46
Compósitos de Matriz Polimérica ........................................................................................... 55
Generalidades de Compósitos ............................................................................................. 55
Compósito de Matriz polimérica reforçada com Fibra de Carbono .................................... 64
Revisão Bibliográfica dos Principais Processos de Fabrico usados na produção dos
Componentes Selecionados ......................................................................................................... 70
Introdução ao capítulo ............................................................................................................. 70
Pré-impregnados ..................................................................................................................... 71
Resin Transfer Molding .......................................................................................................... 79
Estudo dos Componentes Selecionados ...................................................................................... 82
Introdução ao capítulo ............................................................................................................. 82
Pneus ....................................................................................................................................... 83
Câmara-de-ar ........................................................................................................................... 86
Quadro ..................................................................................................................................... 88
Generalidades ...................................................................................................................... 88
Materiais usados na sua construção .................................................................................... 90
Processo de Fabrico ............................................................................................................. 95
Capacete ................................................................................................................................ 108
Conclusões ................................................................................................................................ 110
Trabalhos Futuros ...................................................................................................................... 111
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 112
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
2
MNM 2015/2016
Resumo
A sociedade atual olha para a bicicleta como um meio de transporte, veículo desportivo, ou
mesmo como um aparelho de lazer. Na realidade, a generalidade das pessoas utiliza a bicicleta
sem sequer pensar como surgiu, com quem e, muito menos, como é feita ou de que é composta.
A bicicleta tem agora um papel importante nas ações e planos de mobilidade sustentada (ou seja,
num plano de mobilidade que visa satisfazer de forma sustentável, e em prol de um bem comum,
as necessidades dos utilizadores). Logo cabe aos designers, fabricantes e investigadores desta
área, o desenvolvimento de projetos que tornem este veículo mais eficiente e, mais importante, o
tornem apelativo ao público em geral, de modo a satisfazer as necessidades de uma sociedade em
constante mudança e cada vez mais exigente. (da Silveira 2010)
No âmbito da unidade curricular de Materiais Não Metálicos, mais especificamente
integrado na aprendizagem de Materiais Poliméricos, os autores propõem-se então a dar algumas
respostas relativamente a este meio de transporte, respostas estas que serão redigidas num
documento essencialmente de estudo e aprendizagem que procura relaciona-las com a ciência dos
polímeros e materiais compósitos.
Para tal, inicia-se este projeto com uma breve história, não só do veículo como um todo,
mas também procurou-se dar algum ênfase a componentes cuja história evolutiva é indissociável
da bicicleta, como os pneus e as câmaras-de-ar.
Feita esta contextualização histórico-cultural da evolução deste veículo, iniciamos o estudo
apoiado na ciência dos polímeros e compósitos propriamente dita. Uma vez que a elaboração de
um trabalho que contemplasse todos os componentes fabricados em polímeros ou em compósitos
de matriz polimérica não seria exequível no tempo disponibilizado, os autores fizeram uma
primeira abordagem sobre os componentes que admitem ser fabricados em algum destes dois
tipos de materiais. Esta primeira análise teve como objetivo despertar os elementos do grupo para
a dimensão do campo de aplicações destes dois materiais.
De seguida, procedeu-se à seleção de um conjunto de componentes que pela sua
importância neste mecanismo de conversão de movimento, teria todo o interesse em serem alvo
de um estudo mais aprofundado. É pretendido, assim, esclarecer o leitor acerca da utilização de
elastómeros, termoplásticos, termoendurecíveis e compósitos de matriz polimérica nos veículos
em questão, através de uma investigação cuidada, sobre o tema, e confrontada com a capacidade
crítica que os próprios autores adquirem ao longo das aulas de Materiais Não Metálicos. Também
houve a preocupação nesta seleção de abordar precisamente todo o espetro dos materiais
compósitos e poliméricos.
Todo este trabalho culminará na efetiva análise e compreensão dos processos de fabrico
através dos quais se obtém os componentes em estudo.
De forma a respeitar a sequência cronológica e lógica da série de eventos que juntos
definem este trabalho, houve a necessidade de criar um capítulo intermédio de revisão
bibliográfica. Este capítulo permitiu à equipa de trabalho adquirir a bagagem necessária para
poder interpretar de forma crítica a informação referente ao capítulo final, bem como confere
bases para uma correta e sistemática compreensão por parte do leitor dos conceitos abordados.
Numa outra perspetiva, esta revisão bibliográfica vem de alguma forma reforçar a caraterística
deste documento de se afirmar como ferramenta de estudo e consulta.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
3
MNM 2015/2016
Abstract
People from nowadays have a particular way to see the bicycle as a given way of
transportation, a given sports tool or a given way to have fun. They take it as guaranteed. Actually,
most of people use it without even knowing the way it was created or who created it, not even
what it’s made of. In the present time, the bicycle is too important in the sustained mobility
planning. This means that the designers, manufacturers and investigators of this subject must
develop projects that provide efficient and appellative bicycles to satisfies the needs of a
constantly evolving society. (da Silveira 2010), (Mota 2003)
Within the Non Metallic Materials discipline, most specifically, the Polymeric Materials
subject, the authors intend to give the answers to these questions, showing, as much as possible,
the relation of this type of vehicle with the polymeric materials.
To do so, this paper begins with the bicycle, and some of its components (like tires and air
chambers) story.
Concluded the historical and social context, it will proceed with a study about the polymers
science and composites. Of course it would be impossible to make a complete study about all the
polymers and composites in time to deliver the paper, so the authors made an approach of this
matter related with the bicycle. That, obviously, woke up the group’s minds for the gigantic this
world is.
Then, the authors selected some of the most important components of this vehicle, which
they thought would be the more interesting to spell out. This way, they try to clarify the reader
about elastomers, thermoplastics and polymer matrix composites. This involved a careful research
and critical skills acquired through the Non Metallic Materials lessons. This work will have its
highlights in the manufacturing processes analyses and understanding.
To make sure the chronological and logical sequence would be maintained, the authors
recognized the need of a literature review chapter, which aloud them to acquire the
indispensable knowledge and, specially, the critical skills they needed to understand the
research for the last chapter and also to make sure the reader himself would understand the
whole paper. From another point of view, this literature review reinforced the goal to make this
paper in a solid tool to study and consultation.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
4
MNM 2015/2016
Índice de Figuras
Figura 1: Primeiro esboço do mecanismo a que hoje designa-se por Bicicleta, cuja autoria é
atribuída, por alguns historiadores, a Gian Caprotti (Herlihy 2004) ........................................... 11
Figura 2: Réplica do que se pensa que seria um celerífero da época (Wikipedia 2015) ............. 12
Figura 3:Velocipede produzido na fábrica familiar de Michaux (Wikipedia 2015) ................... 12
Figura 4: Penny Farthing, desenvolvida e fabricada por Eugene Meyer (Wikipedia 2015) ....... 13
Figura 5: Safety Bike, desenvolvida por John Kemp Starley (Wikipedia 2015) ........................ 14
Figura 6 – Adaptação do pneu ao triciclo por John Boyd Dunlop (Wikipedia 2015) ................. 15
Figura 7 – Criação reveladora do sucesso da patente dos irmãos Michelin (Geocities 2015) .... 16
Figura 8 - Enchimento da parte inferior do molde com poliuretano (How It's Made 2014) ....... 18
Figura 9 – Prensagem da lâmina sobre as tiras de material da cobertura (How It's Made 2014) 18
Figura 10 – Desenrolamento da fita adesiva e sua aplicação sobre as peças da cobertura (How
It's Made 2014) ............................................................................................................................ 19
Figura 11 – Estrutura do selim (How It's Made 2014) ................................................................ 19
Figura 12 – Selim final (How It's Made 2014) ............................................................................ 19
Figura 13 - Espigão em compósito de fibra de carbono (imagem cedida pela Felt®) ................ 20
Figura 14 - Correia dentada montada numa bicicleta single speed (Budnitz 2014) .................... 21
Figura 15 – Introdução do refletor no pedal (Royalciclo 2008) .................................................. 22
Figura 16 – Fixação do pedal ao seu eixo (Royalciclo 2008) ..................................................... 22
Figura 17 – Linha de verificação (Royalciclo 2008) ................................................................... 23
Figura 18 – Manípulo d e travagem em PVC e alumínio (imagem cedida pela Shimano®) ...... 24
Figura 19 - Grips fabricados por injeção de um elastómero termoplástico (imagem cedida pela
Lizard Skins®) ............................................................................................................................ 25
Figura 20 - Estrutura química do poliisopreno ............................................................................ 29
Figura 21 - Estrutura química possível para uma borracha de estireno butadieno ...................... 30
Figura 22 - Estrutura química do isobuteno-isopreno ................................................................. 31
Figura 23: Comparação entre a diferença de comportamento mecânico (Dureza e Rigidez) nos
Termoplásticos e Termoendurecíveis. (Design 2015) ................................................................. 32
Figura 24: Comparação da Temperatura de transição Vítrea (Tg – Glassing temperature) entre
os Termoplásticos Amorfos e os Semicristalinos. (Design 2015) ............................................... 33
Figura 25: À esquerda temos a representação simbólica do monómero de estireno onde o radical
R está representado no sistema de notação IUPAC, e à direita a representação completa do Anel
de Benzeno. Imagens construidas pelos autores, baseadas em (António, Lucas et al. 2013) ..... 35
Figura 26: Esquema ilustrativo da estrutura de uma macromolécula genérica do copolímero de
HIPS. Imagem construida pelos autores, baseada em (Cheremisinoff 1989) ............................. 36
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
5
MNM 2015/2016
Figura 27: Registo fotográfico da etapa de pré-expansão. Cortesia da Futureng® ..................... 38
Figura 28: Registo fotográfico da evolução temporal da etapa de moldação final das células de
EPS já estabilizadas, e do fenómeno de “soldadura” com obtenção de uma espuma rígida de
material polimérico. Cortesia da Futureng® ............................................................................... 38
Figura 29: Ilustração do Monómero de Policarbonato. Os anéis de Benzeno são representados
no sistema de notação IUPAC. Imagem construída pelos autores, baseada em (Antunes 2007) 40
Figura 30: Relação entre as várias famílias de polímeros. Esquema construido pelos autores,
baseado em (Goodman 1999) e (Kricheldorf, Nuyken et al. 2004) ............................................ 42
Figura 31: Gráfico genérico do método de obtenção de forma aproximada do tempo de cura de
uma resina. (Goodman 1999) ...................................................................................................... 44
Figura 32: Representação esquemática do grupo epoxídico oxirano. Imagem da construida pelos
autores, baseado em (Morgan 2005) ........................................................................................... 46
Figura 33: Representação da estrutura atómica do grupo epoxídico glicidil, também muito
frequente em resinas epoxídicas. (Morgan 2005) ....................................................................... 46
Figura 34: ilustração da reação química simplificada do epicloridrina com o bisfenol A (ordem
representada). O produto final consiste numa família de epoxidos com n a variar entre 0 a 12.
Imagem construida pelos autores, baseado em (Morgan 2005). Ambas as representações
simplificadas dos anéis são possíveis. ......................................................................................... 46
Figura 35: Exemplos ilustrativos de possíveis aplicações construtivas das resinas epoxídicas.
Em que da esquerda para a direita temos: Raquete da Avant® em compósito laminado de fibra
de carbono de matriz em resina epoxídica, e forqueta rígida de bicicleta de estrada da Essor®
em matriz epoxídica reforçada com fibra de carbono. ................................................................ 49
Figura 36: Robo industrial a aplicar resina epoxídica desenvolvida pela Dow Automotive
Corporation®. A adesão será feita entre a porta e o próprio chassi do carro. Dow Automotive
Corporation® .............................................................................................................................. 50
Figura 37: Revestimento protetor de convergente de águas sanitárias. Cortesia da George
Green® ........................................................................................................................................ 50
Figura 38: Aplicação de um coat intermédio a um navio mercante. Estas resinas também podem
ser usadas como primários. Cortesia da Hempel® ...................................................................... 50
Figura 39: Piso industrial em resina epoxídica da Weg®. Por vezes este tipo de aplicação das
resinas epoxídicas são consideradas como casos de coating ou revestimento. ........................... 51
Figura 40: Reparação da quilha de uma embarcação de vela ligeira em madeira. WEG System®
..................................................................................................................................................... 51
Figura 41: Reparação de utilitários, no caso uma cadeira de interior, usando um kit de resina
amador da WEG System® .......................................................................................................... 51
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
6
MNM 2015/2016
Figura 42: Sequência ilustrativa da técnica de injeção de resina para reparação de fendas em
betão. Imagens cedidas pela WEG System® .............................................................................. 51
Figura 43: Exemplo de ligação de omponentes de natureza distinta, neste caso temos um
componente eletrético essencialmente metálico a ser ligado por uma resina epoxídica a um
componente polimérico. MsterBond® ........................................................................................ 52
Figura 44: Exemplo e esquema representativo de um isolamento elétrico realizado com recurso
a uma resina epoxídica. MasterBond® ....................................................................................... 52
Figura 45: Organograma de um sistema de mistura epoxídico genérico. Esquema construido
pelos autores, baseado em (Goodman 1999) ............................................................................... 52
Figura 46: Esquema ilustrativo da classificação do tipo de compósitos baseado na natureza dos
reforços. Material construído pelos autores baseado em (Cha 2013), (António, Lucas et al.
2013). .......................................................................................................................................... 55
Figura 47:Ferramentas de corte de compósito do tipo Cermet. Com matriz metálica de Níquel
(Ni) reforçado com partículas de Carboneto de Titânio (TiC). Ferramentas com revestimento (a
dourado) e sem revestimento (a cinzento) da Tungaloy Corporation®. ..................................... 56
Figura 48: Esquema representativo de um compósito de cermet cedido pela SANDVIK® ....... 56
Figura 49: Perfil das tensões de corte, devido ao esforço transverso, num perfil em I. (Gomes
2004) ........................................................................................................................................... 58
Figura 50: Representação simbólica de uma secção reta de uma viga retangular em estrutura
sandwich. Imagem construída pelos autores,, baseada em (Gagliardo and Mascia 2010). ......... 58
Figura 51: Pie chart que representa o volume de negócios relativo de compósitos reforçados
com fibra de carbono produzidos em função da matriz usada (estimativa global). Adaptado de
(Witten, Kraus et al. 2014) .......................................................................................................... 59
Figura 52: Esquema representativo de um processo de Deposição química por fase de Vapor
(CVD) em condições de isothermal Gradient. (Buckley and Edie 1993) ................................... 61
Figura 53: Ampliação sob a forma de esquema de uma garganta do sistema de escape de uma
nave aeroespacial produzida pela CTA. Evidenciando-se o uso de compósitos carbono-carbono
e de matriz polimérica reforçada com Fibra de carbono. (Rezende and Botelho 2000) ............ 61
Figura 54: Estimativa do consumo anual global de CRP em milhares de toneladas por ano.
(Witten, Kraus et al. 2014) .......................................................................................................... 64
Figura 55: Estimativa do Volume de Negócios global, gerado pelos CRP, para o ano de 2014.
(Witten, Kraus et al. 2014) .......................................................................................................... 65
Figura 56: Estimativa das receitas a nível global geradas pela Indústria do Desporto por setor
devido aos CRP. (Witten, Kraus et al. 2014) .............................................................................. 65
Figura 57: Estimativa do consumo de fibras de carbono mundial (em milhares de toneladas) por
ano. (Witten, Kraus et al. 2014) .................................................................................................. 68
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
7
MNM 2015/2016
Figura 58: Esquema cronológico da relação entre as várias fases de evolutivas da resina e o seu
tempo médio de vida útil pré-cura. (FAA 2012) ......................................................................... 71
Figura 59: Esquema ilustrativo do modo de obtenção de propriedades isotrópicas recorrendo a
um unidireccional tape prepreg. (FAA 2012) ............................................................................. 71
Figura 60: Exemplo ilustrativo dos principais pradrões de woven fabrics. (FAA 2012) ............ 73
Figura 61: Esquema que pretende ilustrar as combinações mais frequentes, de tecidos obtidos
por técnicas têxtil de knitting. (FAA 2012) ................................................................................. 73
Figura 62: Carbon Sleeve, obtida por técnica de braiding de fibra de carbono 3k.
EasyComposites® ....................................................................................................................... 74
Figura 63: Esquema ilustrativo da técnica de braiding. (Composi 1994) ................................... 74
Figura 64: Esquema ilustrativo de uma linha de deposição eletrostática. Imagem trabalhada
pelos autores, baseada em (Wang, Zheng et al. 2011) ................................................................ 75
Figura 65: Maquina que engloba de forma continua a produção de pré-impregnados por hot
melting. LitzLer® ........................................................................................................................ 77
Figura 66: Esquema ilustrativo do processo de obtenção de pré-impregnados por técnicas de hot
melting. (Wang, Zheng et al. 2011) ............................................................................................ 77
Figura 67: Esquema ilustrativo da linha de impregnação por solução do polímero. (Campbell
2010) ........................................................................................................................................... 78
Figura 68: Ilustração do processo de Resin Transfer Molding. (Potter 2012) ............................ 81
Figura 69 - Elementos constituintes de um pneu de bicicleta (imagem cedida pela Schwalbe) . 83
Figura 70 - Processo de fabrico do semi-produto anterior à vulcanização (imagem cedida pela
Schwalbe) .................................................................................................................................... 84
Figura 71 - Conformação e vulcanização num molde metálico .................................................. 85
Figura 72 - Extrusão de um tubo de butil (How It's Made 2014) ................................................ 86
Figura 73 - Válvula incompleta introduzida na câmara-de-ar antes da vulcanização (How It's
Made 2014) ................................................................................................................................. 86
Figura 74 - Ilustração de uma câmara de ar obtida pelo processo alternativo explicado acima
(Eric Holroyd 1976) .................................................................................................................... 87
Figura 75: Mulheres defendendo o direito ao voto, cidade de Londres. (Zheutlin and
Londonderry 2006) ...................................................................................................................... 88
Figura 76:Quadro de competição de estrada, em material compósito de matriz epoxídica
reforçada com fibra de carbono, produzido por Play Cutting and Stacking Prepregs. Imagem
cedida pela Scoot® ...................................................................................................................... 89
Figura 77: Quadro da ICAN em material compósito de matriz polimérica reforçado com fibra de
carbono. ....................................................................................................................................... 89
Figura 78: Bicicleta de cidade com quadro em aço chromoly® anodizado da YMPEK®. ........ 89
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
8
MNM 2015/2016
Figura 79:Bicicleta dobrável com quadro em aço da durban®. .................................................. 89
Figura 80: Esquema ilustrativo do conceito de Butting aplicado a um tubo oco. (Ribeiro 2013)
..................................................................................................................................................... 90
Figura 81: À esquerda temos um quadro em aço chromoly, cedido pela Colombus®, e à direita
um quadro em alumínio 6061 da Venzo®. ................................................................................. 92
Figura 82: Pormenor da consola e máquina de corte das folhas ou Layers de pré-impregnado.
Scott® ......................................................................................................................................... 95
Figura 83: Pormenor do display de visualização da consola do aspeto final do produto após
concluídas as operações de corte. Cortesia da Scott® ................................................................ 95
Figura 84: Aspeto final do conjunto de telas de pré-impregnados após corte mecânico por
máquina ferramenta programável. Scott® .................................................................................. 96
Figura 85: Aspeto de uma bladder flexível convencional utilizada na produção de quadros pela
Felt Bicycles® ............................................................................................................................. 96
Figura 86: Conjunto de moldes internos de EPS revestido com uma camada de Latex®, usados
para a pré-moldação das várias folhas de pré-impregnado. Scott® ............................................ 96
Figura 87: Discriminação das sequências da etápa de pré-moldação. Scott® ............................ 97
Figura 88: À esquerda temos em corte a interseção superior da coluna de direção de um quadro
em construção tubular, de um modelo descontinuado. À direita, novamente em corte, a mesma
seção mas de um quadro em construção monocoque. Ambos oos quadros fabricos em material
compósito de matriz polimérica reforçada com fibra de carbono. Scott® .................................. 98
Figura 89: Registo do aspeto prévio à cura da célula dianteira do quadro. Scott® ..................... 98
Figura 90: Na figura da esquerda temos a entrada do molde nos fornos dispostos em cascata de
maneira a otimizar o processo de cura. À direita temos em pormenor a alimentação pneumática
da internal bladder. (Imagens cedidas pela Scott®) .................................................................... 98
Figura 91: Aspeto do triângulo posterior após cura. Notar o acabamento superficial conseguido
com a aplicação da técnica de bladder molding. Scott® ............................................................. 99
Figura 92: Esquema que discrimina as várias etapas, a executar manualmente por parte do
operador, na aplicação do adesivo estrutural que irá garantir a correta e segura união das duas
células do quadro no bottom crank. Scott® ................................................................................ 99
Figura 93: Processo de ligação das duas células que formam o quadro. A verde realça-se as
zonas de ligação que serão posteriormente curadas. Scott® ..................................................... 100
Figura 94: À esquerda temos o aspeto interior da sala limpa de pintura de pintura. Na figura da
direita observamos em pormenor o processo de pintura por pistola pneumática, bem como o
equipamento necessário para a realização desta tarefa com segurança. Scott®....................... 100
Figura 95: Pormenor da aplicação manual dos decalques da marca. Cortesia da Scott® ......... 101
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
9
MNM 2015/2016
Figura 96: Na imagem superior, está representada uma máquina de enrolamento de filamentos
de carbono para a produção dos fios híbridos de fibra de reforço (yarns). Na imagem inferior
observa-se em pormenor o entrançar dos fios de modo a obter um tecido tubular de CF (Carbon
Socks) ........................................................................................................................................ 102
Figura 97: Processo de moldação manual dos tecidos tubulares de material híbrido com
destaque para a construção por etapas do molde em cera nas figuras superiores. Time® ........ 103
Figura 98: Aplicação final de um granulado de material polimérico sobre as carbon socks para
obter uma superfície esteticamente mais elegante por orientação de padrões. TIME® ............ 103
Figura 99: Pormenor da pistola de ar quente utilizada para a pré-cura do binder de fixação. Para
esta operação é necessário a utilização de luvas de material refratário. TIME® ...................... 104
Figura 100: Imagem representativa do processo de selagem do molde metálico externo.
Destaque para o pormenor de injeção de material polimérico com função de vedação (silicone).
TIME® ...................................................................................................................................... 104
Figura 101: Pormenor da mistura de reagentes com a resina epoxídica pré-injeção. (TIME®) 105
Figura 102: Pormenor da máquina de injeção de resina e aquecimento do molde metálico para
cura da resina. TIME® .............................................................................................................. 105
Figura 103: Sequência de desmoldação do molde. Desde o seu transporte e abertura
automatizada, até à remoção efetiva do quadro do molda, esta etapa já realizada manualmente.
TIME® ...................................................................................................................................... 106
Figura 104: Pormenor dos jitos de alimentação, bem como do aspeto exterior do quadro. Este
apenas é conseguido devido à utilização de um binder que assegura a fixação inter-camadas..
ITME® ...................................................................................................................................... 106
Figura 105: Pormenor da técnica de sanding para preparação da superfície do quadro. TIME®
................................................................................................................................................... 106
Figura 106: Aspeto do adesivo estrutural, que consiste numa mistura não discriminada,
contendo uma resina epoxídica. TIME® .................................................................................. 107
Figura 107 - Identificação das partes de um capacete (imagem cedida pela Bell®) ................. 108
Figura 108 - Reforços na camada EPS (imagem cedida pela Specialized®) ............................ 108
Figura 109 - Granulado de poliestireno antes da expansão (How It's Made 2014) ................... 109
Figura 110 - PET moldado sobre o molde (How It's Made 2014) ............................................ 109
Figura 111 - Folha de PET pintada antes da conformação e molde metálico (How It's Made
2014) ......................................................................................................................................... 109
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
10
MNM 2015/2016
Índice de Tabelas
Tabela 1: Principais propriedades mecânicas da Borracha Natural. (Design 2015) ................... 29
Tabela 2: Tabela comparativa entre as principais propriedades de utilização da Borracha Natural
e do Estireno Butadieno. (Design 2015) ..................................................................................... 30
Tabela 3: Tabela que reúne as principais propriedades mecânicas do PS. (Design 2015) .......... 35
Tabela 4: Tabela com as principais propriedades de resistência ao impacto do PS de uso
comum. (Design 2015) ................................................................................................................ 36
Tabela 5: Principais propriedades mecânicas do HIPS. (Design 2015) ...................................... 36
Tabela 6: Principais propriedades de resistência ao impacto do HIPS. (Design 2015) ............... 37
Tabela 7: Tabela comparativa das propriedades genéricas de densidade e preço por Kg destes
três tipos de PS. (Design 2015) ................................................................................................... 39
Tabela 8: Principais propriedades mecânicas do PC. (Design 2015) .......................................... 40
Tabela 9: Principais propriedades de resistência ao impacto do Policarbonato. (Design 2015) . 41
Tabela 10: Quadro resumo das principais vantagens e desvantagens das unidireccional tapes.
(Peters 2013) ............................................................................................................................... 72
Tabela 11: Quadro resumo das principais vantagens e desvantagens dos tecidos de reforço.
(Peters 2013) ............................................................................................................................... 72
Tabela 12: Tabela com os valores das principais propriedades mecânicas da liga de alumínio da
série 6061 sujeita a tratamento térmico T6. (Design 2015)......................................................... 91
Tabela 13: Principais propriedades mecânicas e densidade da liga de titânio Ti-3Al/2.5V.
(Design 2015) .............................................................................................................................. 93
Tabela 14: Principais propriedades de mecânicas e densidade do prepreg HMX®, usado pela
Scott® ......................................................................................................................................... 94
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
11
MNM 2015/2016
Notas Históricas
História da Bicicleta
A bicicleta dos dias de hoje é, como a maioria das invenções, o resultado acumulado de
uma série de projetos e experiências que vão sendo feitas ao longo do tempo em função das
necessidades individuais ou de uma sociedade em geral, ou não raramente fruto de fortúnios
puramente aleatórios. Assim sendo, podemos afirmar que a invenção da bicicleta, em si, não pode
ser atribuída a um só nome, embora possa ser esboçada uma cronologia na qual se identifiquem
vários dos nomes que contribuíram para que hoje se apresente a bicicleta como nos é familiar.
O primeiro esboço para este objeto foi reconhecido em 1493 e, inicialmente, atribuído a
Gian Giacomo Caprotti, discípulo de Leonardo Da Vinci. No entanto, em 1998, este esboço foi
declarado uma fraude, embora o Professor Augusto Marinoni, lexicólogo e filólogo responsável
pela transcrição do Codex Atlanticus, tenha defendido a autenticidade daquele até ao fim dos seus
dias.
Assim, a conceção do primeiro dispositivo percursor do velocípede atual é geralmente
atribuída ao Conde Sivrac e ficou denominado como celerífero. Esta criação, de 1780, era toda
feita em madeira e baseava-se na união de duas rodas através de uma viga e num apoio para mãos.
O movimento era gerado pelo condutor que, alternando os pés no chão, impulsionava-o. Saliente-
se que, o celerífero não tinha um movimento muito fluído e a sua criação foi unicamente para
efeitos de tração. Na figura seguinte é possível observar um registo fotográfico deste mecanismo
rudimentar.
Figura 1: Primeiro esboço do
mecanismo a que hoje designa-
se por Bicicleta, cuja autoria é
atribuída, por alguns
historiadores, a Gian Caprotti
(Herlihy 2004)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
12
MNM 2015/2016
Figura 2: Réplica do que se pensa que seria um celerífero da época (Wikipedia 2015)
Em 1817, o alemão Karl Von Drais pegou no celerífero e acrescentou-lhe um guiador e
uma coluna de direção (tal como o próprio nome indica consiste num veio de seção reta
geralmente circular que orienta a roda da frente) e um elementar sistema de travagem. As
evoluções fomentaram maior equilíbrio em condução, curvar e travar. Com o êxito do projeto, o
Barão foi premiado com um Großherzogliches Privileg (semelhante à patente) a 12 de Janeiro de
1818 e em Abril, do mesmo ano, apresentou o seu produto, a draisiana, ao público, começando
no parque de Luxemburgo, em Paris. Com estes feitos, Karl Von Drais tornou-se o nome que,
ainda hoje, é mais ligado à origem da bicicleta.
No ano de 1839, o ferreiro escocês Kirkpatrick Macmillan procedeu à substituição da
madeira pelo aço, para além do que adaptou ao eixo traseiro, da draisiana, duas bielas ligadas por
uma barra daquele material. Este novo mecanismo de conversão do movimento gerado pelo
Homem em movimento do velocípede de forma mais eficiente constituiu um dos maiores saltos
na evolução deste veículo. Assim, considera-se que tenha criado o seu próprio veículo, com maior
estabilidade em condução e segurança exercidas pela roda traseira e, ainda, já movido a pedais, e
que ficou conhecido como dandy horse. Apesar da grande evolução no veículo, Macmillan nunca
patenteou o produto e este acabou a ser copiado e melhorado por outros.
Assim, em 1855, Ernest Michaux criou o triciclo, adaptando, ao dandy horse, mais uma
roda traseira, manivelas e pedais. Foi o seu pai, Pierre Michaux quem mais valorizou a ideia do
filho, procedendo à adaptação dos pedais fixos na roda dianteira de um veículo de duas rodas em
ferro. Este veículo ficou já conhecido como velocípede e tornou-se na primeira bicicleta a ser
construída. Apreciando o êxito em crescendo, Pierre Michaux montou a primeira fábrica de
bicicletas em série: Companhia Michaux.
Figura 3:Velocipede produzido na
fábrica familiar de Michaux
(Wikipedia 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
13
MNM 2015/2016
Em 1862, em Paris, surgiu a preocupação de criar as primeiras ciclovias , no intuito de
diminuir o número de acidentes provocados pelo comportamento imprevisível dos animais de
tração das charretes e carroças perante os velocípedes. Nesse ano, Pierre Lallement partiu do
modelo da draisiana para a criação da primeira bicicleta, como a conhecemos hoje. Neste sentido,
procedeu à adaptação de uma pedivela (peça que liga o pedal à roda de transmissão).
Sete anos mais tarde, realizaram-se em França as primeiras corridas de velocípedes. O
vencedor foi Letourd que totalizou 34 Km entre Toulon-Caraman-Toulon em três horas e nove
minutos. Ficou dado o impulso para o ciclismo desportivo.
Em 1874, a bicicleta tornou-se um veículo com rodas de diâmetros diferentes, sendo que a
roda traseira teria o diâmetro mínimo possível, apenas para estabelecer equilíbrio, e a dianteira
teria aproximadamente a altura da perna interior do condutor. Esta foi uma tentativa de obtenção
de maior rendimento. Aqui salienta-se o nome do francês Eugene Meyer que ficou conhecido
como o pai das penny farthing (ou bicicletas altas, como também ficaram conhecidas).
Três anos mais tarde, foi desenvolvido o quadro, constituído por duas engrenagens dentadas
ligadas por uma corrente à roda traseira. Nesta altura, os pedais foram deslocados para a base do
quadro e presos à primeira engrenagem. Logo após a criação do quadro triangular por Humbert,
em 1884, que permitiu percorrer 100 km em cerca de quatro horas e meia, foi dada a contribuição
de John Kemp Starley, em 1885, que recuperou as rodas de igual diâmetro, sendo a traseira a
motora e montando uma transmissão por corrente horizontal. Para além destas melhorias, Starley
foi também o responsável pela introdução de pneus de borracha. A sua bicicleta ficou conhecida
como safety bike – em português: bicicleta de segurança – já que era mais segura e fácil de usar
do que as anteriores versões.
Figura 4: Penny Farthing,
desenvolvida e fabricada por
Eugene Meyer (Wikipedia
2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
14
MNM 2015/2016
A partir desta data, a bicicleta tinha já a imagem muito semelhante ao que é hoje e as
alterações têm sido graduais e acompanhando a evolução tecnológica. Nesta fase, vale a pena
salientar o pneu desmontável, da autoria dos irmãos Michelin, em 1891; a adaptação do sistema
de mudanças, em 1927, pelos irmãos Neddu através da sua empresa Vitória e, em 1990, a
suspensão hidráulica, integral ou parcial, bem como os travões de disco.
Atualmente tem-se assistido a uma diversificação das aplicações deste mecanismo. A
consequente adaptação deste conceito, trabalhado e aperfeiçoado ao longo de dezenas de anos
como se expos anteriormente, a estas diferentes exigências quer em termos de requisitos
mecânicas como aerodinâmicas ou de distribuição de massa é natural. De forma sintética é
possível dividir o tipo de bicicletas consoante a sua aplicação em:
Bicicletas de Corrida – Dentro destas teremos bicicletas de estrada de contra-relógio,
clássicas, de subida, etc.; bicicletas de desportos múltiplos como triatlo; bicicletas de pista
coberta; etc..
Bicicletas de Montanha – Consoante o grau de agressividade crescente podemos ter
bicicletas de XCM, XCO, downhill, freeride, dirtjump, etc...
Bicicletas de Lazer – Para além das bicicletas clássicas de cidade por todos conhecidas
temos bicicletas mais adaptadas ao quotidiano acelerado da sociedade do séc. XXI, como
bicicletas dobráveis, e ainda bicicletas de passeio como as muito em voga single-speed.
Bicicletas elétricas – Apesar de ainda em início de expansão já se encontra em grandes
superfícies bicicletas auxiliadas por motor elétrico a preços minimamente competitivos.
Figura 5: Safety Bike,
desenvolvida por John Kemp
Starley (Wikipedia 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
15
MNM 2015/2016
História dos Pneus e Câmaras de Ar usadas nas Bicicletas
Conta a história que a invenção do pneu está intrinsecamente ligada a Charles Goodyear,
filho de um inventor, que, em 1839, descobriu como proceder à vulcanização. Em 1841, Charles
viria a registar a patente do processo. (Geocities 2015)
Estando a par deste processo, em 1888 John Boyd Dunlop arranjou uma forma para que os
seus filhos pudessem andar de triciclo evitando a trepidação e as quedas que as rodas de madeira,
ferro, materiais compostos ou borracha maciça originavam sobre o piso: colocou uma válvula
num tubo de borracha, encheu-o com ar, cobriu-o com lona e adaptou-o à bicicleta. (Wikipedia
2015) Apesar de este ser considerado o primeiro pneu da história, deve ser reforçado que o
incentivo terá sido dado por Robert William Thomson que, em 1846, já teria criado a câmara-de-
ar, embora tenha desistido da ideia dada a escassez de matéria-prima e qualidade do projecto.
Figura 6 – Adaptação do pneu ao triciclo por John Boyd Dunlop (Wikipedia 2015)
Após registarem a patente do pneu para automóveis em 1891, Édouard e André Michelin
conseguiram negociar o pneu com a fábrica da Ford, que acabava de ser instalada em Detroit,
USA. A partir deste momento, o produto tinha sido dado a conhecer ao mundo e tantas outras
marcas começaram a procura pelo pneu. (Geocities 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
16
MNM 2015/2016
Figura 7 – Criação reveladora do sucesso da patente dos irmãos Michelin (Geocities 2015)
De salientar que, os primeiros pneus foram os pneus rígidos fabricados à base de
poliuterano e eram colados nas rodas. Com o aparecimento das câmaras-de-ar fabricadas em
borracha sintética à base de estireno butadieno, o pneu começou a ser produzido em borracha
natural ou sintética. Desde meados do século XX, a evolução dos pneus centra-se em diminuir o
seu peso, não comprometendo a tracção, resistência ao desgaste e resistência mecânica.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
17
MNM 2015/2016
Identificação e estudo de componentes atualmente fabricados
nestes dois tipos de Materiais
Introdução ao capítulo
Este capítulo consiste num compêndio de microestudos de componentes de bicicletas que
apresentem como solução construtiva, única ou não, materiais poliméricos e/ou compósitos de
matriz polimérica.
O objetivo principal dessa tarefa é criar uma nova perspetiva nos elementos do grupo de
trabalho e no leitor, sobre o campo de aplicações destes dois tipos de materiais em study cases
reais e familiares ao dia-a-dia de um engenheiro mecânico. O fato de tratar-se de um caso de
estudo tão familiar e palpável, um veículo que a maioria dos estudantes contacta diariamente,
possibilita a assimilação ainda mais rápida desta realidade.
Adotando uma abordagem de análise menos aprofundada, mas que efetivamente reflita esta
possibilidade quase inesgotável de conceber uma bicicleta praticamente apenas recorrendo a estes
dois tipos de materiais, o grupo de trabalho inicia agora essa tarefa. Naturalmente que o que aqui
procurou-se realizar foi uma espécie de exercício puramente teórico de viabilizar a produção de
um velocípede inteiramente em material polimérico e/ou compósito. Obviamente que esta
construção apresenta-se como meramente hipotética, já que muitos destes materiais são aplicados
em contextos completamente antagónicos. Por exemplo, seria do ponto de vista prático
impensável a coexistência, num mesmo mecanismo, de um quadro produzido em CRP (Carbon
Fiber Reinforced Plastics) para alta competição e de pedais em material polimérico com baixas
propriedades mecânicas usados para redução de custos.
É então nesta perspetiva que se dá então início a este capítulo, procurando-se realizar em
primeiro lugar uma breve exposição e explicação funcional do componente. De seguida
lançaremos exemplos de soluções construtivas destes componentes nestes dois materiais, suas
limitações, objetivos e público-alvo. Por fim serão referidos os principais processos de fabrico
que permitem a sua obtenção.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
18
MNM 2015/2016
Selim
O selim é o assento da bicicleta e constitui um dos três principais pontos de apoio do
ciclista, sendo os outros dois o guiador e os pedais. Cabe ao selim suportar o peso da parte superior
do corpo do ciclista, pelo que além do conforto que deve proporcionar, o selim deve também ser
algo flexível e rígido. (MadeHow 2015, Wikipedia 2015)
O primeiro passo para a produção de um selim está à responsabilidade do designer, que
tratará de projectar o modelo em papel e, posteriormente, em computador. De seguida, é feito um
protótipo para proceder a alguns testes. Após aprovação deste protótipo, passa-se então à
produção do selim propriamente dito.
Um operário coloca uma base, feita à
base de fibras de carbono, na parte de cima de
um molde, enchendo a parte de baixo do
mesmo, aquela que dará forma ao selim, com
poliuretano.
O molde é fechado e mantido a uma
temperatura de cerca de 60º C. Nestas
condições, é activada uma reacção química que
fará com que o poliuretano expanda. Passados
cinco minutos, um operário retira o selim do
molde e remove os excessos de poliuretano das
bordas com o auxílio de uma faca. Enquanto o
poliuretano cura, é executada a cobertura do selim. Para esta fase é necessário que o operário corte
o material a utilizar em tiras. De salientar que este material é feito à base de microfibras que
garantem a flexibilidade e durabilidade da cobertura. O trabalhador coloca umas lâminas com três
formas diferentes sobre as tiras e uma prensa estampa-a, obtendo assim três peças que, juntas,
originarão uma cobertura com a forma desejada.
Figura 9 – Prensagem da lâmina sobre as tiras de material da cobertura (How It's Made 2014)
A etapa seguinte pode ser feita de duas formas diferentes. Na primeira, um operário coze
as diferentes partes da cobertura do selim para obter a forma final.
Figura 8 - Enchimento da parte inferior do molde com
poliuretano (How It's Made 2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
19
MNM 2015/2016
A segunda é chamada de
soldagem de forma e implica que um
operário raspe as bordas das peças e
uma máquina desenrola uma fita
adesiva, aplicando-a sobre essas
bordas. O operário terá, então, de as
sobrepor, numa prensa, com exactidão
para que um sistema de vácuo remova
o ar garantindo a posição exacta das
formas a não formação bolhas na
cobertura, durante o processo. A prensa
mantém a cobertura a cerca de 93º C até
que as peças fiquem totalmente unidas.
O próximo passo é a criação de
elementos gráficos, obtidos por um
laser que rasga umas tiras na cobertura. Por fim, um trabalhador pincela cola na parte de baixo da
mesma, enquanto outro posiciona o selim para a união dos dois. A colagem obriga à perfeição
para que, também nesta fase, não se formem bolhas entre a cobertura e o selim. O excesso de
cobertura é, depois, removido com uma faca.
O toque final é a estrutura na qual assenta
o selim. A maioria das estruturas é feita em fibra
de carbono ou ligas metálicas e, quando
concluídas, são testadas num dinamómetro. A
aplicação da estrutura no selim é feita por
colagem e auxílio de uma máquina que dobra o
selim assegurando o encaixe perfeito deste na
estrutura. Por fim volta a dobrar o selim, para que
este recupere a forma original. (How It's Made
2014)
Figura 10 – Desenrolamento da fita adesiva e sua aplicação sobre
as peças da cobertura (How It's Made 2014)
Figura 11 – Estrutura do selim (How It's Made 2014)
Figura 12 – Selim final (How It's Made 2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
20
MNM 2015/2016
Espigão
O espigão é o componente responsável por efetuar a ligação entre o selim e o quadro, visto
que se o selim estivesse ligado diretamente ao quadro não haveria maneira de ajustar a sua altura.
A possibilidade de ajuste da altura do selim é necessária, e o ajuste é realizado através da alteração
da posição do espigão.
Figura 13 - Espigão em compósito de fibra de carbono (imagem cedida pela Felt®)
Este componente é normalmente fabricado em aço ou alumínio, mas também podem ser
utilizados outros materiais como titânio ou em compósito de fibra de carbono. O espigão tem de
suportar principalmente esforços de compressão, de maneira a que o seu dimensionamento em
compósito de fibra de carbono tem de ser cuidadoso visto que este material oferece
consideravelmente menos resistência à compressão do que à tração. Os esforços à flexão, embora
menores, terão também de ser tidos em conta, e a prova disso é que os espigões têm sempre uma
indicação da altura máxima a que devem estar posicionados.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
21
MNM 2015/2016
Correias
A necessidade de transmissão de movimento dos pedais para a roda traseira é normalmente
suprida através da utilização de uma corrente metálica, solução que se revela extremamente
funcional e fiável. No entanto, numa tentativa de eliminar a necessidade de lubrificação, surgem
como alternativa às correntes as correias dentadas.
Figura 14 - Correia dentada montada numa bicicleta single speed (Budnitz 2014)
O facto de as correias não oxidarem nem precisarem de lubrificação contribui para uma
bicicleta mais limpa, ótima para uso diário. Esta solução é também mais silenciosa e por vezes
mais leve. No entanto tem algumas limitações e resulta em alguns problemas em determinadas
situações. Talvez a mais importante limitação seja a impossibilidade da utilização de várias rodas
dentadas, tanto na roda de atrás como nos pedais, para obtenção de diferentes relações de
transmissão. Contudo isto pode ser ultrapassado através do uso de uma pequena caixa de
velocidades que se encaixa na roda traseira. Outras limitações estão relacionadas com a
dificuldade no manuseamento da correia (que é instalada sempre com grande tensão) e no escasso
número de oficinas que estão familiarizadas com o sistema. Em determinadas situações podem
acomodar-se impurezas entre a roda dentada e a correia como, por exemplo, neve ou pedras.
(Wikipedia 2015)
Este componente é constituído por um elastómero em conjunto com um tecido de reforço.
Originalmente o tecido de reforço utilizado era um têxtil em fibras naturais. No entanto, com o
desenvolvimento dos processos de produção de polímeros, estes reforços são agora constituídos
por vários materiais poliméricos. É comum a utilização de fibras de poliamida, de aramida, de
vidro e ainda de carbono no reforço. Quanto à evolução da utilização de elastómeros nestes
componentes pode-se dizer que se passou da utilização de uma simples borracha (fosse ela natural
ou sintética) para a utilização de elastómeros específicos em diferentes partes do componente de
modo a controlar as propriedades mecânicas e químicas. Atualmente são utilizadas borracha
natural e SBR, assim como borracha de poliuretano para melhoramento de propriedades
mecânicas e policloropreno para melhoramento da resistência química. (Gates 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
22
MNM 2015/2016
Pedais
O pedal é a peça da bicicleta, ligada à manivela, na qual o ciclista assenta o pé e,
empurrando-a, propulsiona a bicicleta. Esta peça é a forma de comunicação evidente que o ciclista
tem com a bicicleta, uma vez que está ligado directamente à manivela. (Speedplay 2015) Os
materiais mais utilizados para o fabrico do pedal da bicicleta são o alumínio, o polipropileno e o
policarbonato. (Wikipedia 2015)
O processo de produção consiste na moldação por injecção do polímero. Neste processo, o
polímero escolhido passa pelo enchimento (fase de injecção), pela compactação, arrefecimento,
e então o molde é aberto e retirado o pedal com a forma desejada.
Um operário coloca um reflector, quando aplicado, em cada lado do pedal, enquanto são
produzidos os eixos do mesmo (normalmente em alumínio ou aço) numa outra máquina.
Figura 15 – Introdução do refletor no pedal (Royalciclo 2008)
Após este procedimento, um operário coloca os eixos numa máquina giratória e encaixa-
lhes o pedal.
Figura 16 – Fixação do pedal ao seu eixo (Royalciclo 2008)
De seguida, este é encaminhado para uma prensa que assegura que o eixo fica posicionado
na posição correta, prendendo-o ao pedal.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
23
MNM 2015/2016
Figura 17 – Linha de verificação (Royalciclo 2008)
Uma verificação de qualidade visual é efetuada por um operário. Alguns pedais serão
eventualmente enviados para realização de determinados testes de controlo de produção, e após
aprovação o pedal segue para a embaladora ou é integrado numa bicicleta. (Royalciclo 2008)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
24
MNM 2015/2016
Manípulos de travagem/transmissão
Os manípulos são os componentes que se localizam, normalmente, nos extremos do guiador
e permitem ao ciclista o total controlo do seu movimento. Ou seja, o velocípede pode acionar uma
das mudanças disponíveis – tornando a bicicleta “mais leve” ou “mais pesada”, conforme o que
desejar – e travar o movimento. (Wikipedia 2015)
Um dos processos de produção assenta na moldação por injecção, na qual o polímero é
introduzido em bruto na máquina de injecção e, após ser submetido à alta temperatura que o
processo implica e arrefecido, sai já com a forma pretendida. (MadeHow 2015)
Outro método utilizado é a moldação, aplicado em especial quando o polímero a trabalhar
é a fibra de carbono. Este processo consiste na sobreposição das folhas de tecido dentro do molde
com a forma do produto, com o devido cuidado de alinhá-las de forma a na posição correcta para
optimizar as propriedades mecânicas do material. De seguida, enche-se o molde com resina epoxy
e, na etapa seguinte, pode ser aquecido ou curado ao ar. Um subcapítulo do processo de moldação
da fibra de carbono é a moldação por compressão, na qual o molde – por norma de alumínio ou
aço – é pressionado. Trata-se de um procedimento bastante mais rápido que o anterior. (Wikipedia
2015)
Saliente-se que, a grande maioria dos manípulos para bicicletas não são feitos
exclusivamente de materiais poliméricos, sendo que há uma preferência notável pela combinação
de parte do manípulo em alumínio e o restante em PVC. Outro material algo utilizado nesta peça
é a fibra de carbono. (Shimano 2015)
Figura 18 – Manípulo d e travagem em PVC e alumínio (imagem cedida
pela Shimano®)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
25
MNM 2015/2016
Grips
Os punhos, ou grips, são componentes colocados no guiador que proporcionam aderência
entre as mãos do ciclista e o guiador, atenuam a transferência de vibrações da bicicleta para o
ciclista e dão uma sensação de toque muito mais confortável do que o material do guiador (metal
ou compósito de fibra de carbono).
Figura 19 - Grips fabricados por injeção de um elastómero termoplástico (imagem cedida pela Lizard Skins®)
Os grips são fabricados tanto em elastómeros termoendurecíveis como em elastómeros
termoplásticos, embora os termoplásticos sejam mais comuns, como será explicado abaixo. Sendo
um componente que não requer elevadas propriedades mecânicas, é normalmente utilizada
borracha de estireno butadieno em detrimento da borracha natural quando se selecionam os
elastómeros termoendurecíveis como material a utilizar. Já nos casos em que se utilizam
elastómeros termoplásticos o material escolhido é um copolímero de estireno-butadieno-estireno
(SBS), também conhecido como borracha Kraton, visto que esta companhia foi pioneira no
desenvolvimento deste tipo de borracha. (Kraton 2015)
Quando se usam elastómeros termoendurecíveis é necessária uma conformação e
vulcanização, de modo a que a borracha é inserida num molde e aquecida por alguns minutos até
se conformar e vulcanizar. Já nos elastómeros termoplásticos há a vantagem de poder conformá-
los facilmente após aquecimento, daí que o processo de fabrico utilizado é a moldação por injeção.
Isto explica o facto de os elastómeros termoplásticos serem mais comuns no fabrico deste
componente, já que utilizando moldação por injeção é possível obter maiores cadências de
produção por um custo menor. Tomando como exemplo a imagem acima, pode-se observar o
padrão de relevo complexo da borracha no punho que é facilmente obtido por injeção de um
elastómero termoplástico.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
26
MNM 2015/2016
Revisão Bibliográfica dos materiais usados para a produção
dos Componentes Selecionados
Introdução ao capítulo
No subcapítulo anterior procedeu-se ao estudo prévio de identificação de componentes
presentes nas bicicletas que podem ser produzidos quer em materiais poliméricos, quer em
materiais compósitos de matriz polimérica reforçada com fibra de carbono com o objetivo já
várias vezes referido.
Contudo, de modo a desenvolver e aprofundar os conhecimentos lecionados ao longo desta
segunda parte da cadeira de Materiais Não Metálicos (Materiais Poliméricos+Compósitos) é
necessário reduzir um pouco mais o espectro de análise. Selecionando-se assim um conjunto de
componentes para a sua análise com maior pormenor.
O suporte teórico que permitiu-nos esta análise mais elaborada em termos científicos foi
precisamente redigido nos presentes capítulos de revisão bibliográfica. Um primeiro capítulo
baseado mais na ciência dos polímeros e materiais compósitos, onde se pretendeu abordar todo o
espetro dos materiais poliméricos e dar uma noção teórica geral dos materiais compósitos e suas
potencialidades. Num segundo capítulo de revisão bibliográfica, procurou-se abordar de forma
mais teórica os principais processos de fabrico que serão descritos no último capítulo.
O objetivo de apresentarmos agora esta suma de conhecimento é precisamente preparar o
leitor para os conceitos que serão abordados de forma mais expedita no último capítulo dedicado
à aplica-se prática de toda esta bagagem científica.
Obviamente que em termos cronológicos estes dois capítulos de revisão bibliográfica que
se seguem surgiram posteriormente à seleção destes componentes. Contudo, como forma de
organizar o trabalho de maneira mais estrutura e dar ao leitor a opção rever alguns destes conceitos
optou-se por colocar estes capítulos numa posição intermédia. Podendo, se o leitor assim o
entender, ser dispensados sem prejuízo de seguimento lógico.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
27
MNM 2015/2016
Elastómeros
Generalidades dos Elastómeros
Os elastómeros são polímeros amorfos que apresentam uma grande capacidade para se
deformarem no domínio elástico, reflexo da sua estrutura molecular, que é uma rede
macromolecular ligeiramente reticulada. Esta reticulação evita um fluxo permanente de
deslizamento entre as moléculas, o que faz com que estas regressem à sua posição original assim
que a tensão é retirada. Os elastómeros são utilizados então acima da sua temperatura de transição
vítrea, situação na qual as ligações covalentes que unem os monómeros permanecem intactas mas
as ligações de Van der Waals e de hidrogénio entre as cadeias estão rompidas, dando lugar a
ligações covalentes. (António, Lucas et al. 2013)
O nome “elastómero” é intermutável com “borracha”, embora o segundo seja
preferencialmente utilizado para designar compostos vulcanizados. Os compostos de borrachas
vulcanizadas são utilizados em várias aplicações no ramo da engenharia por propriedades como:
grandes deformações elásticas, tenacidade, resistência à fadiga, boa absorção de vibrações, etc….
(António, Lucas et al. 2013)
Os elastómeros podem então ser divididos em dois tipos: termoendurecíveis e
termoplásticos. Os elastómeros termoplásticos possuem moléculas que estão ligadas por
agregação física de partes da molécula em domínio rígido. Este tipo de elastómero é suscetível de
se dissolver sobre ação de certos solventes, mas pode ser reprocessado através de aquecimento e
moldação. Por outro lado, os elastómeros termoendurecíveis possuem moléculas unidas por
ligações químicas primárias. Estes elastómeros, apesar de absorverem solventes e incharem, não
se dissolvem, mas também não podem ser reprocessados pro simples aquecimento. (António,
Lucas et al. 2013) Os elastómeros mais utilizados são, sem dúvida alguma, os termoendurecíveis,
devido às suas propriedades mecânicas e químicas simplesmente superiores à dos termoplásticos.
No entanto, para aplicações sem grandes requisitos a nível de comportamente mecânico ou
químico, os elastómeros termoplásticos são uma excelente opção que permitem a utilização de
processos de fabrico com maior cadência de produção como a moldação por injeção ou a extrusão.
A histerese, uma propriedade intrinsecamente ligada aos elastómeros, consiste na
libertação de energia térmica por parte do elastómero quando lhe é retirada uma carga
anteriormente aplicada. Quando um elastómero é esticado rápida e repetidamente, é notável o seu
aquecimento devido à histerese. Esta é muitas vezes a causa da rutura de materiais elastoméricos,
como pneus. Quando um elastómero é esticado e aquecido nessa posição, verifica-se que este
tende a encolher. Os dois efeitos térmicos descritos são, juntamente, conhecidos como efeito de
Gough-Joule. (Semegen 2001)
Antes de serem utilizados, os elastómeros necessitam de passar por um processo
designado por vulcanização (ou cura) de forma a se converter o material em bruto num material
elástico e estável, com propriedades muito superiores. A vulcanização é um processo químico
ativado termicamente que parte de um polímero linear e culmina na criação de uma rede reticulada
tridimensional. A maior parte dos elastómeros são vulcanizados utilizando enxofre, em
quantidades que normalmente variam entre os 0,25% e os 5%. (António, Lucas et al. 2013) Como
ajuda na vulcanização são utilizados reagentes com as mais variadas funções, como: agentes de
vulcanização, aceleradores, ativadores, retardadores e inibidores de pré vulcanização. Merecem
destaque o óxido de zinco e o ácido esteárico pois estão presentes no processo de vulcanização
de diversas borrachas, nas quais se incluem a borracha natural e o estireno butadieno, que iremos
tratar a seguir. Tem sido realizado progresso considerável no ramo da vulcanização,
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
28
MNM 2015/2016
nomeadamente no desenvolvimento de técnicas para: vulcanização com e sem enxofre,
vulcanização de borrachas saturadas e não saturadas, vulcanização de borrachas especificamente
funcionais, vulcanização por radiação e por ultrassons. Os dois últimos métodos são considerados
métodos físicos de vulcanização, uma área ainda em desenvolvimento. (Akiba and Hashim 1997)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
29
MNM 2015/2016
Borracha Natural
A borracha natural é um polímero de elevado peso molecular que é constituído
maioritariamente por isopreno (ao qual de juntam impurezas e água) cuja estrutura química é
representada na figura seguinte.
Figura 20 - Estrutura química do poliisopreno
Este elastómero provém geralmente da árvore Hevea brasiliens. Sendo a primeira borracha
existente, é surpreendentemente a melhor relativamente a propriedades mecânicas no geral,
tornando-se a borracha mais versátil disponível.
A resiliência e resistência à fadiga da borracha natural, efeitos ligados à sua baixa histerese,
são excelentes. Isto faz deste material um ótimo candidato para uso em condições cíclicas como:
apoios de pequenas ou grandes estruturas (motores e edifícios), sistemas de suspensão, isoladores
de vibração, pneus, etc…. Tem também boas propriedades de isolamento elétrico. Oferece baixa
resistência à oxidação e ataque por ozono, e embora estes defeitos possam ser ultrapassados com
aditivos, é preferível a utilização de borrachas sintéticas especializadas para certos tipos de
ambiente. (Semegen 2001)
Os produtos de borracha natural vulcanizada operam a temperaturas entre os -50 °C e os
100 °C, visto que a partir dos -50 °C a borracha começa a endurecer, atingindo o seu ponto de
transição vítrea aproximadamente a -75 °C. (Semegen 2001). O quadro seguinte apresenta
algumas das propriedades da borracha natural.
Tabela 1: Principais propriedades mecânicas da Borracha Natural. (Design 2015)
Propriedades mecânicas
Módulo de Young 0.0015 – 0.0025 [GPa]
Tensão limite elástica 20 – 30 [MPa]
Dureza 30 – 45 [HSA]
Temperatura de transição vítrea -75 °C
Elongamento 500 – 800 %
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
30
MNM 2015/2016
Estireno Butadieno (SBR)
O estireno butadieno é a designação da família de polímeros sintéticos que derivam de
estireno e butadieno, com propriedades semelhantes à borracha natural. Uma estrutura química
possível é representada na figura seguinte.
Figura 21 - Estrutura química possível para uma borracha de estireno butadieno
Este elastómero surgiu de uma necessidade de haver um substituto para a borracha natural
na 2ª Guerra Mundial. As propriedades deste material são inferiores às da borracha natural,
podendo no entanto ser reforçado com negro de fumo, e assim atingir propriedades bastante
semelhantes. Este elastómero possui, no entanto, uma histerese mais elevada do que a borracha
natural, o que resulta numa maior possibilidade de falha dinâmica em condições de trabalho
cíclico.(Semegen 2001)
Como é ligeiramente mais barato do que a borracha natural, é utilizado em aplicações que
não necessitem de tão elevadas propriedades mecânicas, ou em aplicações de produção em massa
em que a diferença de preço é considerável e sejam aceitáveis propriedades mecânicas inferiores
comparativamente à borracha natural. Talvez o melhor exemplo seja a utilização deste elastómero
em pneus de automóveis, pois neste caso as propriedades mecânicas oferecidas pelo material
cumprem os requisitos de utilização e a diferença de preço face à borracha natural é extremamente
importante, visto que a produção em massa do componente traduz-se num gasto bastante elevado.
Tendo em conta que o SBR compete diretamente com a borracha natural, é simplesmente
lógico elaborar um quadro de comparação entre algumas propriedades dos dois materiais.
Tabela 2: Tabela comparativa entre as principais propriedades de utilização da Borracha Natural e do Estireno
Butadieno. (Design 2015)
Borracha natural Estireno butadieno
Módulo de Young 0.0015 – 0.0025 [GPa] 0.002 – 0.01 [GPa]
Tensão limite elástica 20 – 30 [MPa] 1.4 – 3 [MPa]
Temperatura de transição vítrea -75 °C -58 °C
Elongamento 500% – 800% 400% – 600%
Isolamento térmico e elétrico Bom isolador Mau isolador
Preço 2.65 – 2.93 €/Kg 1.83 – 2.02 €/Kg
Pode-se verificar que algumas propriedades do SBR não reforçado, como a tensão limite de
elasticidade, deixam um pouco a desejar face à competição. Assim sendo, este material precisa
muitas vezes de ser reforçado com negro de fumo. Há que ter em atenção, no entanto, que esse
processo representa um acréscimo no preço, que pode chegar aos 3,1€/Kg, e deixar de ser viável
a sua utilização como substituto da borracha natural.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
31
MNM 2015/2016
Isobuteno-isopreno (butil)
O isobuteno-isopreno é um copolímero que deriva do butileno e do isopreno,e cuja fórmula
química está representada na figura seguinte.
Figura 22 - Estrutura química do isobuteno-isopreno
Este elastómero é geralmente inferior em propriedades físicas em relação à borracha
natural, embora o processamento a altas temperaturas com determinados aditivos possa garantir-
lhe melhores propriedades à tração e reduzir a sua elevada histerese à temperatura ambiente.
(António, Lucas et al. 2013)
Algumas das propriedades que tornam este elastómero uma má escolha para a maioria das
aplicações são também as que a o tornam a melhor solução para determinados problemas. A sua
baixíssima permeabilidade a gases pode revelar-se um problema em processos de fabrico, mas é
esta mesma propriedade pela qual este elastómero é conhecido e utilizado em aplicações como
câmaras-de-ar. A elevada histerese referida há pouco como um problema pode revelar-se uma
vantagem em situações de absorção de energia de impacto ou de vibrações. Outras propriedades
deste elastómero são a boa resistência à oxidação, ao ataque por ozono e ao envelhecimento, para
além de possuir excelente resistência química, à temperatura e à abrasão. (Coddington 2001,
António, Lucas et al. 2013)
As borrachas de butil tê como temperatura máxima de serviço aproximadamente os 120 ºC,
embora este valor possa ter aumentado até 180 ºC.Já a temperatura de serviço mínima ronda os -
50 ºC. (Coddington 2001)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
32
MNM 2015/2016
Termoplásticos
Generalidades dos Termoplásticos
Os Termoplásticos são polímeros que na sua maioria apresentam cadeias ligadas entre si
apenas por forças secundárias fracas e enradeamento mútuo, muitas vezes designados por
polímeros lineares. Ou seja, os monómeros que formam as extensas cadeias características de um
polímero estão ligados covalentemente, por ligações fortes e direcionais. Contudo as ligações
inter-cadeias são de natureza física por atração electroestática, e podem ser rompidas. Basta para
tal fornecer energia suficiente sob a forma de calor, aumentando a agitação das cadeias que se
deslocarão com maior facilidade relativamente umas às outras. É precisamente esta capacidade
de amaciar de forma acentuada o material por rotura das ligações físicas secundárias,
comportando-se este como um fluido visco-elástico, que diferencia os Termoplásticos dos
Termoendurecíveis (Thermosets). Em termos de propriedades mecânicas é também possível
associar valores médios de ductilidade e tenacidade superiores aos Termoplásticos e uma rigidez,
dureza e resistência mecânica geralmente superior aos Termoendurecíveis. (Antunes 2007)
Na figura seguinte pretende-se ilustrar as principais diferenças nas propriedades mecânicas
entre termoplásticos e termoendurecívies. De notar que alguns termoplásticos como o PEEK,
PMMA, geralmente copolímeros, apresentam propriedades mecânicas bastante interessantes.
Módulo de Young Instantâneo [GPa]0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
Du
re
za
[H
v]
0
5
10
15
20
25
30
Resinas Fenólicas
Poliester
Resinas Epoxídicas
Poliamidas (PA) Poli-éter-éter-cetona (PEEK)
Politereftalato de Etileno (PET)Polimetil Metacrilato (PMMA)
Policarbonato (PC)
Poliestireno (PS)
Polietileno (PE)
Acrilonitrilo-butadieno-estireno (ABS)
Policloreto de Vinilo (PVC)
Acrylonitrile butadiene styrene (ABS)
Polipropileno (PP)
Politetrafluoretileno (PTFE)
Figura 23: Comparação entre a diferença de comportamento mecânico (Dureza e Rigidez) nos Termoplásticos e
Termoendurecíveis. (Design 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
33
MNM 2015/2016
Os Termoplásticos podem ser classificados quando à sua capacidade para formar estruturas
cristalinas durante o arrefecimento do polímero fundido em:
- Termoplásticos Semicristalinos: Polímeros com capacidade para cristalizar
parcialmente, quando sujeitos a condições de arrefecimento favoráveis. Estes termoplásticos
trabalham geralmente a temperaturas superiores à Temperatura de transição Vítrea (Tg). A sua
relativa reduzida complexidade confere-lhes Tg geralmente inferiores às dos Termoplásticos
amorfos. Os termoplásticos baseados em flúor (PTFE), as poliolefinas (PE´s,PP,...) e as
poliamidas são exemplos de polímeros que podem cristalizar parcialmente quando sujeitos a
condições de arrefecimento favoráveis.
- Termoplásticos Amorfos ou Vítreos: Polímeros que não cristalização independentemente
das condições de arrefecimento. Geralmente apresentam-se como polímeros mais complexos em
termos químicos e com Tg superiores que os Termoplásticos Semicristalinos. Ao contrário do
Termoplásticos, estes trabalham geralmente a temperaturas inferiores à Tg. Nesta família de
polímeros encontram-se os termoplásticos baseados em estireno (PS’s, ABS, SAN), os vinílicos
(PVC) e outros como o PC e o PMMA. (Antunes 2007, António, Lucas et al. 2013)
No gráfico seguinte pretende-se evidenciar a diferença entre as Tg dos termoplásticos
amorfos e semicristalinos. Confirmando-se que na sua grande maioria a Tg será superior nos
termoplásticos amorfos, sendo a única exceção
Figura 24: Comparação da Temperatura de transição Vítrea (Tg – Glassing temperature) entre os Termoplásticos
Amorfos e os Semicristalinos. (Design 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
34
MNM 2015/2016
O grau de cristalinidade obtido para um termoplástico genérico depende essencialmente
das condições de arrefecimento e de quatro variáveis químico-estruturais do material: Grau de
ramificação das cadeias, grau de polimerização, regularidade dos monómeros base, dimensão dos
grupos laterais e seu arranjo geométrico.
A capacidade para formar arranjos cristalinos diminui com a complexidade dos monómeros
base, o seu número, o grau de ramificação das cadeias, grau de polimerização e a existência e
complexidade geométrica dos grupos laterais. Em relação às condições de arrefecimento,
velocidades elevadas dificultam o processo de cristalização uma vez que diminui o tempo
disponível para alinhamento das cadeias. O processo de arrefecimento de termoplásticos, mesmo
potenciado (como o caso de Polietileno, homopolímero linear sem grupos laterais, arrefecido em
condições teoricamente ideais) nunca origina estruturas totalmente cristalinas. (Antunes 2007,
António, Lucas et al. 2013)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
35
MNM 2015/2016
Poliestireno (PS)
O poliestireno é um homopolímero pertencente à família das poliolefinas (polímeros que
apresentam como monómero uma olefina ou alqueno CnH2n). Contudo, do ponto de vista da
ciência dos polímeros e capacidade de cristalização e não tanto do ponto de vista químico, o PS é
geralmente associado ao grupo dos termoplásticos à base de estireno. Isto porque este polímero é
amorfo devido ao anel de Benzeno, ao contrário de outros elementos da família das poliolefinas
como PE e PP que apresentam graus de cristalinidade razoáveis. O radical genérico R consiste
então num anel hexagonal de Benzeno, C6H5. O Poliestireno é obtido pela polimerização por
adição do monómero de estireno cuja fórmula química é dada por (CH(C6H5)-CH2)n, . Na figura
seguinte ilustra-se a distribuição espacial e estrutura química do estireno.
.
Existem cerca de três tipos principais de Poliestireno: Poliestireno de uso comum,
Poliestireno de grande resistência ao impacto (HIPS) e Poliestireno expandido (EPS).
O Poliestireno de uso comum, apresenta propriedades mecânicas muito reduzidas. É usado
sobretudo pelo seu reduzido custo, moldação fácil e elevada transparência (efeito glass-like
sparkle) em produtos sujeitos a carregamentos mecânicos muito leves. Produtos como caixas
transparentes de CD’s, estrutura exterior das canetas, copos de vending machines, etc...
As tabelas seguintes evidenciam algumas propriedades mecânicas e de resistência ao
impacto do PS de uso comum.
Tabela 3: Tabela que reúne as principais propriedades mecânicas do PS. (Design 2015)
Propriedades mecânicas
Módulo de Young 2.28 – 3.28 [GPa]
Tensão Limite elástica 28.7 – 41.4 [MPa]
Dureza 8.6 – 12.4 [Hv]
Elongamento 1.2 – 2.5 %
Figura 25: À esquerda temos a representação simbólica do monómero de estireno onde o radical R está representado no
sistema de notação IUPAC, e à direita a representação completa do Anel de Benzeno. Imagens construidas pelos
autores, baseadas em (António, Lucas et al. 2013)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
36
MNM 2015/2016
Tabela 4: Tabela com as principais propriedades de resistência ao impacto do PS de uso comum. (Design 2015)
Propriedades de Resistência ao Impacto (RI)
Resistência à fratura 0.7 – 1.1 [MPa*m^0.5]
RI com entalhe e T= 23ºC 2.86 – 3.15 [KJ/m^2]
RI com entalhe e T= -30ºC 1.9 – 2.1 [KJ/m^2]
RI sem entalhe e T= 23ºC 8.6 – 14.9 [KJ/m^2]
RI sem entalhe e T= -30ºC 3.87 – 4.27 [KJ/m^2]
Claramente o PS não é um polímero de elevado desempenho mecânico, podendo comparar-
se por exemplo a sua tensão limite elástica com a do PEEK que pode variar entre 87 – 95 [MPa].
Os valores de resistência ao impacto, elongamento e resistência à fratura surgem aqui mais com
o intuito de compara-los com os valores de desempenho HIPS.
Em termos estruturais o HIPS consiste num copolimero ramificado de forma aleatória
(Graft polymer). A cadeia base (liner Backbone) é formada por monómeros de estireno ligados
covalentemente (%estireno ≈ [85,95] %). Aleatoriamente surgem ramificações formadas
integralmente por segmentos de um aditivo modificador de impacto (IM- impact modifier).
Geralmente este IM consiste no elastómero de Polibutadieno (BR), sendo também usado por
vezes Borracha de estireno-butadieno (SBR) ou Borracha de etileno-propileno (EPDM). A
ilustração seguinte pretende evidenciar o aspeto de uma macromolécula genérica de HIPS.
As tabelas seguintes evidenciam as propriedades mecânicas e de resistência ao impacto
do HIPS.
Tabela 5: Principais propriedades mecânicas do HIPS. (Design 2015)
Propriedades mecânicas
Módulo de Young 1.16 – 2.55 [GPa]
Tensão Limite elástica 19 – 41.4 [Mpa]
Dureza 5.7 – 12.4 [Hv]
Elongamento 40 – 65 %
Figura 26: Esquema ilustrativo da estrutura de uma macromolécula genérica do copolímero de HIPS. Imagem
construida pelos autores, baseada em (Cheremisinoff 1989)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
37
MNM 2015/2016
Tabela 6: Principais propriedades de resistência ao impacto do HIPS. (Design 2015)
Propriedades de Resistência ao Impacto (RI)
Resistência à fratura 0.999 – 2.06 [MPa*m^0.5]
RI com entalhe e T= 23ºC 7.34 – 11.6 [KJ/m^2]
RI com entalhe e T= -30ºC 4.03 – 6.75 [KJ/m^2]
RI sem entalhe e T= 23ºC 92.2– 200 [KJ/m^2]
RI sem entalhe e T= -30ºC 45.8 – 200 [KJ/m^2]
De notar a diferença de cerca de 30x na capacidade de elongamento do HIPS face ao PS
de uso corrente por introdução de um aditivo elastomérico. Algumas propriedades mecânicas
como a resistência mecânica ou módulo são ligeiramente afetadas mas sem expressão prática. A
resistência ao impacto do polímero é melhorada até 14x (caso da RI sem entalhe a 23ºC).
O Poliestireno Expandido (EPS) é que terá maior interesse do ponto de vista de
aplicabilidade em componentes de bicicletas. Nomeadamente no revestimento interior dos
capacetes de ciclismo e da maioria dos desportos motorizados.
O poliestireno expandido pertence ao grupo das espumas à base de poliestireno, existindo
outras como por exemplo o poliestireno extrudido (XPS). O EPS é obtido a partir de PS de uso
comum por reação física (não ocorrendo mudança de propriedades químicas do material) com um
agente expansor. O processo é dividido em cerca de três etapas:
Na pré-expansão o PS em contacto com vapor de água e sujeito a um ciclo térmico
(atingindo temperaturas desde 100ºC até 110ºC) (informação cedida pela ACEPE),
“incha” aumentando o seu volume em cerca de 50x. A densidade final das células varia
na razão inversa com a temperatura e tempo do ciclo térmico. Durante a reação com o
vapor de água as células são sujeitas a um movimento rotativo por ação de um tambor,
evitando assim a sua fusão e/ou soldadura. O produto intermédio consiste assim num
granulado de células fechadas que é armazenado para posterior estabilização.
A estabilização consiste precisamente numa etapa de repouso na qual as células ao
arrefecerem criam vácuo no seu interior, com consequente compensação por entrada de
ar atmosférico para o interior da mesma. Desta forma as células alcançam uma maior
estabilidade mecânica, durante o processo em média cerca de 24 horas.
Por fim, no processo final de moldação o granulado de EPS é insuflado em moldes com
a geometria próxima da final e em quantidades definidas para obter a densidade desejada,
e sujeito a nova reação com vapor de água. Desta vez ocorre a “soldadura” das células e
obtém-se um produto final ou um semi-produto.
(Informação cedida pela FuturEng e pela ACEPE)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
38
MNM 2015/2016
Na figura seguinte pretende-se ilustrar de forma sintética a 1ª etapa do processo de
produção de EPS.
Notar assim a reação com o vapor de água por ebulição de água no estado líquido bem
como a capacidade expansiva do PS granulado (matéria-prima).
No esquema seguinte pretende-se ilustrar agora a fase de moldação final não tanto a um
nível macroscópico do produto final obtido, mas dando ênfase ao processo de “soldadura” das
células de EPS que ocorre com perda de esfericidade das células (na presença também de vapor
de água).
Figura 28: Registo fotográfico da evolução temporal da etapa de moldação final das células de EPS já
estabilizadas, e do fenómeno de “soldadura” com obtenção de uma espuma rígida de material polimérico.
Cortesia da Futureng®
Figura 27: Registo fotográfico da etapa de pré-expansão.
Cortesia da Futureng®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
39
MNM 2015/2016
Quanto às propriedades de utilização desta espuma, é possível destacar uma combinação
de preço e densidade que obedece a uma relação de compromisso com as principais propriedades
mecânicas bastante interessante. Na tabela seguinte encontram-se os valores de densidade e preço
definidos para estes três tipos de PS.
Tabela 7: Tabela comparativa das propriedades genéricas de densidade e preço por Kg destes três tipos de PS.
(Design 2015)
PS de uso comum HIPS EPS*
Densidade [Kg/m^3] 1040 - 1050 1030 – 1060 18 - 22
Preço [€/Kg] 2.1 – 2.32 2.38 – 2.62 2.08 – 2.29
*Valores obtidos para o produto comercial Styropor20
É importante notar a grande diferença de densidades entre o EPS e os restantes
poliestirenos. Como é possível observar, o PS e o HIPS apresentam densidades muito
semelhantes, já o EPS apresenta uma densidade média de cerca de 45x inferior a qualquer um
destes dois. Ora, será precisamente este aspeto que torna o EPS muito atrativo para muitas
aplicações como isolamento térmico na construção civil, suportes para transporte de mercadorias,
isolamento térmico em transporte de refrigerados, etc... No caso em estudo, o EPS é usado como
absorsor de energia. A sua extrema reduzida densidade, associada a um custo bastante interessante
(muito próximo do PS de uso comum), possibilitam a sua instalação em capacetes de
variadíssimos desportos, sem nunca introduzir uma massa significativa de modo a alterar o centro
de gravidade do conjunto atleta + capacete + meio (bicicleta, skate, motociclo...).
Em termos de propriedades térmicas estes polímeros apresentam comportamentos que não
excedem a média dos termoplásticos comuns. Tratando-se de termoplásticos amorfos, apresentam
temperaturas de transição vítrea (Tg) elevadas, entre 85 – 99ºC. Para a maioria das aplicações
destes polímeros a problemática da temperatura de serviço terá menor relevância, isto porque ao
contrário de um material como o PEEK, estes estão condicionados a aplicações de uma forma
geral à temperatura ambiente. Está assim assegurado que o limite máximo da temperatura máxima
de serviço (70ºC) nunca será ultrapassado. (Design 2015)
Um último aspeto prende-se com a sua resistência à radiação UV. Os anéis de benzeno
captam essa radiação UV, provocando a descoloração progressiva do material. Na maioria das
aplicações, nomeadamente no forro interior de capacetes, este material não está sujeito a
incidência direta da radiação solar. Os poliestirenos têm capacidade para serem parcialmente
estabilizados à radiação por introdução de aditivos, contudo a sua eficácia é consideravelmente
reduzida. (Design 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
40
MNM 2015/2016
Policarbonato (PC)
O Policarbonato é um polímero pertencente ao grupo dos termoplásticos de estireno.
Contudo o seu monómero é relativamente mais complexo, apresentando dois anéis de benzeno e
um grupo de carbonato (OCOO). Devido à complexidade do seu monómero, o Policarbonato é
um polímero amorfo, não cristalizando no seu arrefecimento. A fórmula química do seu
monómero é dada por (O-(C6H4)-C(C6H4)-CO)n e é representada na figura seguinte.
Em termos de comportamento mecânico, o PC é muitas vezes incluído na família de
polímeros de engenharia. Apresenta propriedades mecânicas como resistência mecânica e dureza
bastante razoáveis para um polímero. A sua utilização em carcaças para capacetes de proteção
será precisamente justificada pelo seu bom comportamento mecânico, bem como o seu
comportamento à fratura como se verá de seguida. Na tabela seguinte evidencia-se de forma mais
detalhada as suas principais propriedades mecânicas.
Tabela 8: Principais propriedades mecânicas do PC. (Design 2015)
Propriedades mecânicas
Módulo de Young 2 – 2.44 [GPa]
Tensão Limite elástica 59 – 70 [MPa]
Dureza 17.7 – 21.7 [Hv]
Elongamento 70– 150 %
Quanto ao seu desempenho à fratura, por observação da tabela seguinte, é possível afirmar
que este material sofre bastante com a presença de entalhes, sendo necessária uma especial
atenção na etapa de conceção do produto para este aspeto. Um tópico a ter em conta no caso de
estudo será as entradas ventiladoras dos capacetes. Isto porque estas terão que ser evitadas ou
concebidas com concordâncias bastante generosas. Comparando a sua resistência ao impacto sem
entalhe com a do HIPS vemos diferenças até 3x. É de notar também a relativa insensibilidade à
temperatura. Tratando-se de um polímero amorfo, a sua Tg é muito superior à temperatura
ambiente (Tg= 160 – 205 ºC). Comportando-se assim o PC sempre de forma vítrea. Focando
ainda o aspeto das suas propriedades térmicas, este termoplástico pode suportar temperaturas
máximas de 128 – 144 ºC, muito longe da temperatura ambiente a que será sujeito ao longo da
sua vida útil. (Design 2015)
Figura 29: Ilustração do Monómero de Policarbonato. Os anéis de Benzeno são representados no sistema de
notação IUPAC. Imagem construída pelos autores, baseada em (Antunes 2007)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
41
MNM 2015/2016
Tabela 9: Principais propriedades de resistência ao impacto do Policarbonato. (Design 2015)
Propriedades de Resistência ao Impacto (RI)
Resistência à fratura 3.83 – 4.6 [MPa*m^0.5]
RI com entalhe e T= 23ºC 6.55 – 16 [KJ/m^2]
RI com entalhe e T= -30ºC 6.55 – 13 [KJ/m^2]
RI sem entalhe e T= 23ºC 590– 600 [KJ/m^2]
RI sem entalhe e T= -30ºC 590 – 600 [KJ/m^2]
Em termos de principais aplicações, o PC é usado para capacetes de segurança (aplicação
em análise). coberturas de lâmpadas de automóvel e de candeeiros e até biberões. De grosso modo
consistem em aplicações que exijam uma confortável resistência ao impacto.
Por fim, o PC é compatível com a maioria dos processos standard de produção de peças
poliméricas em termoplásticos. Pode, assim, ser transformado por extrusão (extrusion), injeção
(injection molding), moldação por sopro (blow-molding), moldação rotacional (rotacional
molding) e termoformação (thermoforming)".
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
42
MNM 2015/2016
Termoendurecívies
Generalidades dos Termoendurecíveis
Segundo (Carley 1993), termoendurecíveis (thermosets) são materiais resinosos ou
plásticos cuja fase final de produção é caracterizada por uma insolubilidade e infusibilidade
substancial. As resinas termoendurecíveis são geralmente líquidas em alguma fase da sua
preparação e são curadas por ativação térmica e/ou catalítica ou outros meios químicos. Após
cura completa, os termoendurecíveis não sofrem amolecimento por fornecimento de calor, ao
contrário dos termoplásticos. Alguns polímeros geralmente termoplásticos podem ser
transformados em termoendurecíveis por reação de reticulação. A própria análise semântica da
palavra fornece informação acerca destes materias. O prefixo “termo”, indica ativação térmica da
reação, apesar de atualmente existirem inúmeras resinas que curam à temperatura ambiente (room
temperature cure), e o radical “endurecível” aponta para a irreversibilidade da reação.
Não existe uma definição que encerre de forma clara e concisa todos os materiais
termoendurecíveis, citando (Goodman 1999), “the definitions are not scientific enough, more
exceptions to the rule exist than examples of the rule ”. Contudo, para a manipulação e uso destes,
ou o seu fabrico, é apenas necessário compreender determinadas definições ditas base tais como:
reticulação, cura, estágio de cura, etc. Numa perspectiva um pouco mais abrangente da que a
adotada até agora, os termoendurecíveis pertencem a uma família que relaciona-se com os
restantes materiais orgânicos da seguinte maneira.
Em termos históricos os primeiros passos para o desenvolvimento destes materiais deram-
se precisamente numa outra categoria de polímeros, os elastómeros. Goodyears nos Estados
Unidos, e Hancock em Inglaterra, descobriram em 1839 o processo de vulcanização. Estavam
assim lançados as primeiras experiências em torno das reações de reticulação. Contudo, foi só
apenas em 1909 que Baekland patenteou um processo de cura por ativação térmica e de pressão
de resinas fenolíticas. (Goodman 1999)
Química
Biopolímeros Plásticos Elastómeros
Materiais Orgânicos
Materiais Inorgânicos
Termoplásticos Termoendurecíveis
Figura 30: Relação entre as várias famílias de polímeros. Esquema construido pelos autores,
baseado em (Goodman 1999) e (Kricheldorf, Nuyken et al. 2004)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
43
MNM 2015/2016
Tal como os restantes polímeros, os termoendurecíveis também podem ser sujeitos a uma
classificação mais abrangente consoante as exigências das suas aplicações. De modo genérico,
sem entrar em grandes particularizações, temos:
Termoendurecíveis de uso genérico – Propriedades mecânicas intermédias, baixa
resistência à temperatura, elevado coeficiente de expansão e preço reduzido. Ex: resinas
fenolíticas, poliesters insaturados e resinas amínicas;
Termoendurecíveis de engenharia – Propriedades mecânicas superiores, boa resistência
à temperatura e durabilidade interessantes. Ex: resinas epoxídicas e poliuretanos;
Termoendurecíveis especiais – Geralmente de elevado custo, apresentam um conjunto
de propriedades muito específicas que destacam-se das suas restantes propriedades
muitas vezes de valores intermédios. Ex: Termoplásticos reticulados, determinados
silicones, resinas bismaleimidas;
(Goodman 1999)
Focando a nossa atenção agora um pouco mais a nível da ciência dos polímeros. Já vimos
que a particularidade que caracteriza essencialmente os termoendurecíveis é a presença de uma
rede densamente reticulada. Esta reticulação dá-se por reação química entre cadeias lineares
poliméricas ou por construção de base por reação de reagentes monoméricos numa configuração
tridimensional. Quanto maior o número de grupos funcioanais presentes nos reagentes, maior será
o potencial de reticulação da reação. As ligações de reticulação dificultam ou mesmo impedem
movimentos macromoleculares ou escorregamento intermolecula. Definindo assim um conjunto
de propriedades comuns à maioria dos termoendurecíveis após cura. Entre as propriedades mais
comum é possível enunciar:
Processabilidade elevada. A maioria das resinas encontra-se à temperatura
ambiente no estado líquido e com viscosidades compatíveis com uma grande
parte dos processos de fabrico convencionais.
Custo ligeiramente inferior para polímeros de uso comum;
Propriedades mecânicas como módulo, resistência mecânica e dureza superiores
em relação aos polímeros termoplásticos. Este comportamento mecânico deve-se
sobretudo à mobilidade reduzidas das suas cadeias pelas ligações de reticulação;
Em termos de resistência ao impacto e elongamento os termoplásticos superam
em geral este tipo de polímeros;
Temperaturas de transição vítrea superiores (Tg). Geralmente estes polímeros
trabalham sempre a temperaturas inferiores às suas temperaturas de transição
vítrea;
Incapacidade de reciclagem por processos tradicionais. O que acarreta impactos
ambientes acrescidos, para além do efeito dos inúmeros solventes frequentemente
usados no processamente dos termoendurecíveis;
(Askeland and Fulay 2008)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
44
MNM 2015/2016
A reação de cura, reação química em cadeia através da qual se estabelecem as ligações
cruzadas, abodece à relação tradicional de Arrhenius. Logo, a cinemática de cura depende
obviamente da temperatura a que os reagentes estão sujeitos. Quanto maior a temperatura, maior
será a velocidade de reticulação, logo menor será o tempo de cura. Como a maioria das reações
de cura das resinas comerciais são exotérmicas, também se observa um efeito da massa de
reagentes, que se traduz na estequiometria da reação. Estes dois parâmetros para além de
influenciarem a cinemática de cura, também se revelam dependência entre si. Ao longo da reação,
para além do ciclo térmico aplicado, dá-se um aumento da temperatura pela natureza da reação,
que precisa de ser devidamente controlado. (Kricheldorf, Nuyken et al. 2004)
Como se depreende do que foi enunciado, o estabelecimento de um correto ciclo de cura
implica a análise de inúmeros parâmetros, e por vezes o seu controlo exato pode não ser tão
simples. Durante o processo de cura, a resina passa por diversas fases ou estágios de cura. A
determinação exata do fim do processo de cura, que em termos teóricos correspondia ao
esgotamente dos grupos funcionais disponíveis, não é passível de ser realizada. Em termos
industriais, frequentemente convenciona-se uma taxa de referência para a alteração das
propriedades mecânicas da resina, a partir da qual o componente encontra-se praticamente curado.
Até porque obedecendo frequentemente a uma evolução logarítmica, a obtenção das propriedades
últimas pode exigir tempos de estágio incompatíveis com as exigências industriais.
O tempo de cura total perde asism algum interesse em termos de projeto de ciclo de cura
(cure schedule). Uma fração deste intervalo terá certamente um olhar mais atento por parte dos
engenheiros, esta designa-se por tempo de obtenção de resistência em verde (green strength).
Tempo que a peça necessita de estagiar no molde, de modo a poder ser removida sem prejuízo da
sua integridade estrutural. Juntamente com o tempo de pós-cura em forno ou autoclave formam o
já referido tempo total de cura. O grande interesse deste intervalo para obter a resistência em
verde, prende-se com questões de otimização das máquinas de produção (tooling machines). De
modo a compensar o elevado investimento que estas acarretam, o tempo que o componente
permanece em molde deve ser minimizado, aumentando-se assim a cadência produtiva.
Figura 31: Gráfico genérico do método de obtenção de forma
aproximada do tempo de cura de uma resina. (Goodman 1999)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
45
MNM 2015/2016
Mesmo que seja necessário aumentar o tempo de pós-cura em forno ou autoclave, de
modo agilizar a otenção da resistência em verde, é mais rentável em termos económicos de gestão
da produção do que o contrário.
(Goodman 1999)
A classificação dos vários estágios de cura de uma resina também se reveste de grande
importância. A reação de cura de uma resina termoendurecível compreende as seguintes fases:
Estágio A – Estado caracterizado por ausência total de cura. Corresponde de
forma simplista à resina no seu estado termoplástico;
Estágio B – Pode ser entendido como uma fase intermédia de cura. Neste estágio
já se misturou as duas partes do sistema de reação e o potencial de reticulação
pode ter atingido valores médios de 30%. Por exemplo, no caso dos pré-
impregnados estes já podem ser manuseados. Em termos cronológicos surge
antes do ponto de gel (gelation point);
Estágio C – Este intervalo compreende o início de solidificação da resina, com
paragem de fluxo, até à cura total da peça. A partir do ponto de gel a resina inicia
um processo de endurecimento rápido passando por um composto altamente
viscoso até à formação de uma rede tridimensional reticulada sólida.
(FAA 2012)
(Goodman 1999)
Nota: É importante realçar que a classificação destes estágios depende de autor para autor, bem
como do processo de fabrico a que a resina estará sujeita. A designação anterior encontra-se em
muita bibliografia da especialidade e abrange de forma genérica uma grande variedade de
situações, admitindo a condição inicial de uma resina líquida. Podendo na prática omitir-se ou
introduzir-se novas fases.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
46
MNM 2015/2016
Resina Epoxídica
Os primeiros produtos obtidos por reação resinosa foram sintetizados por Dr Pierre, Suíça,
e Dr. S.O. Greenlee, Estados Unidos, ambos na década de trinta do século passado. Desde essa
altura se tem desenvolvido extensos trabalhos e projetos acerca do tema. Tendo-se iniciado a sua
forte comercializção ao público a partir de 1947. (Goodman 1999)
Geralmente atrbuido ao produto final após cura da resina, o termo epoxido (epoxy, fora
do continente europeu) na gíria também pode ser usado para designar a mistura de reagentes
endurecedores com o poliepoxidos ou mesmo para designar este grupo de polímeros. Como
tentativa de diminuir as possíveis confusões concetuais que possam surgir, tal como (Goodman
1999) iremos adotar a seguinte terminologia europeia. Para o pré-polímero, antes da sua reação
de cura, iremos designa-lo por poliepoxido ou termoplástico epoxídico ou resina epoxídica. Aos
grupos funcionais que intervêm nessa reação de reticulação (crosslinking reaction), grupos
epoxidos. Ao material reticulado, resultado da cura, iremos designar por resina termoendurecida.
Os poliepoxidos (polyepoxides) consistem assim numa família de pré-polímeros ou
polímeros que têm em comum a presença de grupos epoxídos funcionais. Um dos grupos epoxidos
mais comuns pertence ao grupo dos éteres. Em termos moleculares consiste num anel químico
triangular, com um átomo de Oxigénio ligado a dois grupos radicais, e designa-se por oxireno.
Outra forma, não menos comum, de surgirem estes grupos é sob a forma de glicidil. Nas imagens
seguintes encontram-se as representações esquemáticas da sua organização atómica. (Morgan
2005), (Goodman 1999)
A reação de reticulação do polímero irá ocorrer precisamente nestes grupos epóxidos por
ação de um endurecedor ou agente de cura. Esta reação de cura por gerar também reações de
homopolimerização. Em que os grupos –OH das moléculas de pré-polímero reagem com os
grupos epoxidos. (Morgan 2005)
A família de resinas epoxídicas com maior expressão em termos de mercado, é claramente
as resinas à base de bisfenol A, sendo a mais simples destas a DGEBA (n ≈ 0.2). Abreviatura para
Diglicidil Éter de Bisfenol A. Consiste numa resina formada por reação de Bisfenol A com
epicloridrina em excesso. (Goodman 1999)
+
Figura 33: Representação da estrutura atómica do
grupo epoxídico glicidil, também muito frequente em
resinas epoxídicas. (Morgan 2005)
Condições de
reação alcalinas
Figura 34: ilustração da reação química simplificada do epicloridrina com o bisfenol A (ordem representada). O
produto final consiste numa família de epoxidos com n a variar entre 0 a 12. Imagem construida pelos autores, baseado
em (Morgan 2005). Ambas as representações simplificadas dos anéis são possíveis.
Figura 32: Representação esquemática do grupo
epoxídico oxirano. Imagem da construida pelos
autores, baseado em (Morgan 2005)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
47
MNM 2015/2016
Durante a reação de polimerização o HCL é eliminado, dando origem a uma série de
moléculas epoxídicas. Notar que n varia com as condições da reação, bem com as quantidades
relativas dos reagentes. A resina à base de bisfenol A muitas vezes designada por pura, isto é, em
teoria com n=0, apresenta valores médios de massa molecular próximos de 340. Este tipo de
resinas apresenta geralmente um tempo máximo de prateleira mais reduzido, devido à maior
facilidade de formar estruturas cristalinas. Resinas epoxídicas de elevada massa molecular (até
6000) têm sido sintetizadas em condições altamente alcalinas e com aumento da proporção
relativa de bisfenol A : Epicloridrina. Isto é, quanto mais a razão dos co-reagentes se aproximar
da unidade, maior será a massa molecular dos produtos.(Goodman 1999). Quanto maior a sua
massa molecular, maior será a sua viscosidade e menor será a percentagem relativa de grupos
epoxidos.
Em termos industriais, tem maior interesse fazer a distinção destas resinas de bisfenol A, a
partir do conceito criado de massa equivalente de epoxido ou massa molar de epoxido (EEM –
Epoxy Molar Mass). Que em termos físicos não é mais do que o massa equivalente em gramas de
resina que contém um grupo de epoxido. Cuja fórmula é enunciada de seguida:
𝐸𝐸𝑀 =𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑛𝑎
𝑁º 𝑑𝑒 𝑎𝑛é𝑖𝑠 𝑒𝑝𝑜𝑥í𝑑𝑖𝑐𝑜𝑠
O EEM tem a sua maior aplicabilidade no cálculo das quantidades estequiométricas de
endurecedor ou agente de cura e resina. Para ter uma noção mais prática da ordem de grandeza
destes valores, em termos de EEM, as resinas DGEBA apresentam massas equivalentes de
epoxido próximas dos 190. Em termos simplistas, quanto maior o EEM, maior será a reistência
ao impacto, capacidade de adesão e elongamento com queda da exetermicidade da reação.
Contudo, o su tempo de vida em prateleira também diminui.
Para além das resinas à base de bisfenol A e F (as últimas não abordadas), existem
inúmeras outras resinas como as resinas Novolac, resinas trifuncionais, tetrafuncionais e resinas
cicloalfilicas. Cada uma com as suas vantagens, desvantagens, e propriedades funcionais
características. Fugindo ao plano traçado para este projeto a sua abordagem em pormenor,
podendo esta ser realizada por parte do leitor em referências como (Morgan 2005), ou
(Goodman 1999). É possível serem usadas combinações destas, de modo a obter as
propriedades finais após cura desejadas ou especificadas pelo projetista.
Antes de aprofundar mais a temática das resinas epoxídicas, façamos uma comparação
entre estas e as restantes concorrentes. Como principais propriedades de aplicação das resinas
epoxídicas temos:
Resina Termoendurecível que reúne as melhores propriedades mecânicas (resistência
mecânica, módulo, resistência ao corte e dureza) após cura; (António, Lucas et al. 2013)
Excelente capacidade de adesão e impregnação de superfícies e fibras devido à sua
polaridade. Boa relação com reforços do tipo fibras. Permitindo uma elevada
impregnação das fibras, especialmente das fibras de carbono e de vidro. Daí a sua
utilização em compósitos ditos avançados; (Goodman 1999)
Contração térmica após cura muito reduzida, o que permite tolerâncias geométricas e
dimensionais bastante apertadas bem como diminui os defeitos pós-cura; (Morgan 2005)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
48
MNM 2015/2016
Ausência de libertação de voláteis durante o processo de cura, ao contrário de resinas cuja
cura se dê por condensação, como as resinas fenólicas. A condensação destas provoca a
libertação de vapor de água. Esta volatilização de constituintes implica adaptações
tecnológicas ao seu processamento, bem como pode diminuir a capacidade de adesão;
Grande resistência a condições altamente alcalinas, solventes ligeiramente ácidos e óleos
industriais; (Goodman 1999)
Boa resistência a altas temperaturas, contudo são ultrapassadas pelas resinas melamínicas
(MF – Melamine Formaldehyde). (Design 2015)
Reduzida libertação de vapores com cheiros desagradáveis para o operador*
(ver tópicos de desvantagens);
Grande variedade de resinas, endurecedores e diluentes no mercado. Associada a uma
grande facilidade de, com diferentes combinações de sistemas de reação, cobrir um
enorme espetro de propriedades finais. Esta caraterística irá mais tarde surgir como uma
hipotética desvantagem, sendo justificada nessa altura;
Elevada impedância para isolamento elétrico; (António, Lucas et al. 2013) (Goodman
1999)
Procurando-se também dar um panorama geral das resinas termoendurecíveis. As
desvantagens, ou particularidades menos positivas destas resinas, serão enunciadas sempre que
possível duma forma comparativa:
Apresenta-se no mercado como uma das resinas mais caras. Em aplicações em que os
requisítos mecânicos não sejam tão elevados estas têm sido subtituidas por resinas de
Viniléster mais económicas; (António, Lucas et al. 2013), (Design 2015)
Elevada comnplexidade de processamento e preparação. A grande oferta quer de resinas,
quer de endurecedores, associada a um cuidado adicional na preparação dos sistemas
epoxídicos (necessidade de calculo das quantidades relativas de reagente) implica um
elevado conhecimento técnico por parte do operador. Para além do que as resinas
epoxídicas apresentam grande sensibilidade ao agente de cura. Surgindo assim no
mercado outras opções mais redutoras em termos de combinações possíveis para o
sistema de reação, contudo de preparação também mais simples. Como exemplo podemos
referir as resinas de viniléster ou até poliéster insaturado, cuja elaboração é
significativamente mais fácil, podendo ser preparadas pelo público comum. Como já foi
referido, esta particularidade pode ser considerada também uma vantagem. Isto porque
premite a um operador de elevada experiência, manipular com grande versatilidade as
propriedades mecânicas e térmicas finais da resina após cura; (António, Lucas et al. 2013)
Muitos dos diluentes usados para a redução da sua viscosidade apresentam um elevado
grau de toxicidade para o operador, podendo causar irritações dermatológicas graves.
(Design 2015). O quarto tópico, enunciado anteriormente, referia-se apenas à resina
propriamente dita, bem como à sua cura sem necessidade de recorrer a diluentes ou
solventes;
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
49
MNM 2015/2016
Fraca resistência à radiação UV. A sua exposição a radiação UV com níveis energéticos
moderados provoca descoloração superficial; (Design 2015)
Baixa resistência química a ácidos orgânicos e a organoclorados (hidrocarbonetos ligados
covalentemente a pelo menos um átomo de cloro)
Redução de propriedades mecânicas sob condições de elevada temperatura e humidade
relativa (perdas significativas a partir de T>120ºC e H.R > 95% para a maioria das resinas
de epoxidos sem carga);
Elevada expansão térmica e reação de cura altamente exotérmica, sendo necessário um
controlo apertado do ciclo térmico a ser aplicado, bem como das quantidades relativas de
endurecedor e resina. Para que a temperatura atingida não provoque o que na literatura
inglesa é designado por resin cure cracking devido a um aquecimento descrontolado
(uncontrolled exothermic reaction).
A sua considerável viscosidade, com exceção das resinas modificadas ou com adição de
diluentes, necessitam de uma pós-cura, mais ou menos intensa, para obter as suas
propriedades mecânicas últimas; (Morgan 2005)
Informação não referenciada especificamente (Goodman 1999)
Quanto à sua aplicabilidade, podemos dizer que é uma das resias mais versáteis
disponíveis. As resinas epoxídicas apresentam cerca de cinco grandes campos de aplicação:
Construção;
Adesivos estruturais e bonding;
Coating ou Revestimento;
Reparação;
Indústria elétrica e eletrónica.
Na construção, o exemplo qua salta mais à vista é a sua aplicação em materiais compósitos.
Segundo (Morgan 2005) 90% dos compósitos avançados apresentam matriz numa resina
epoxídica. Estes compósitos variam desde aplicações de alto risco como para a indústria
aeronática, grandes componentes em volume, como cascos de embarcações de recreio, até
equipamentos desportivos como raquetes, componetes de bicicletas e pranchas dos mais variados
desportos. (Goodman 1999)
Figura 35: Exemplos ilustrativos de
possíveis aplicações construtivas das
resinas epoxídicas. Em que da esquerda
para a direita temos: Raquete da Avant® em
compósito laminado de fibra de carbono de
matriz em resina epoxídica, e forqueta
rígida de bicicleta de estrada da Essor® em
matriz epoxídica reforçada com fibra de
carbono.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
50
MNM 2015/2016
Como adesivos estruturais e técnicas de bonding encontram grande procura na indústria
automóvel e aeronáutica. Isto deve-se à sua grande capacidade de adesão e resistência ao corte.
Substituindo progressivamente processos tecnológicos mais dispendiosos e trabalhosos como a
rebitagem ou soldadura. Permitindo reduções de peso significativas e melhoria das
comportamentos mecânicos e resposta em caso de colisão. (Goodman 1999)
Segundo (Goodman 1999), cerca de 50% em massa das resinas de epoxido produzidas a
nível mundial encontam como aplicação coatings e resvestimentos. Percentagem que tem vindo
a diminuir continuamente com a absorção destas resinas pelo campo dos adesivos estruturais.
Propriedades como resistência à corrosão elevada, dureza superficial e grande capacidade de
adesão na maioria das superfícies tornam estas resinas especialmente atratívas para estas
aplicações.
Figura 36: Robo industrial a aplicar resina
epoxídica desenvolvida pela Dow Automotive
Corporation®. A adesão será feita entre a porta e o
próprio chassi do carro. Dow Automotive
Corporation®
Figura 38: Aplicação de um
coat intermédio a um navio
mercante. Estas resinas
também podem ser usadas
como primários. Cortesia da
Hempel®
Figura 37: Revestimento protetor de convergente
de águas sanitárias. Cortesia da George Green®
Nota: Estes revestimentos epoxídicos
são geralmente usados como layers
intermédias ou primárias devido à sua
reduzida resistência à radiação UV.
Originando o que na gíria designa-se
por envelhecimento da pintura.
Havendo um amaralecimento gradual e
até cracking da pintura.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
51
MNM 2015/2016
Para além das aplicações mencionadas estas também são usadas para pavimentação,
nomeadamente em pavimentos industriais.
A reparação de componentes já danificados, requer por parte de uma resina boa aderência
em qualquer superfície e propriedades mecânicas pelo menos idênticas ao do material base.
Muitos kits de reparação já se encontram acessíveis ao público. Pranchas de vários desportos (surf,
snowboard, etc...), cascos de pequenas embarcações e componentes vários encontram nas resinas
epoxídicas uma solução de reparação viável. Contudo, o seu campo de aplicação não é limitado
a corpos de pequenos volumes ou baixas solicitações mecânicas. Como será evidenciado nas
imagens seguintes, estruturas em betão podem também ter como solução reparativa a aplicação
deste tipo de resinas.
Figura 39: Piso industrial em resina epoxídica
da Weg®. Por vezes este tipo de aplicação das
resinas epoxídicas são consideradas como casos
de coating ou revestimento.
Figura 40: Reparação da quilha de uma
embarcação de vela ligeira em madeira. WEG
System®
Figura 41: Reparação de utilitários, no
caso uma cadeira de interior, usando um
kit de resina amador da WEG System®
Figura 42: Sequência ilustrativa da técnica de injeção de resina
para reparação de fendas em betão. Imagens cedidas pela WEG
System®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
52
MNM 2015/2016
Para finalizar o estudo das suas aplicações apenas falta mencionar o seu papel na indústria
elétrica e eletrónica. Estas prendem-se essencialmente com a sua impedância elétrica e térmica
bem com a sua resistência mecânica. Propriedades mais apreciadas em aplicações como placas
de circuitos integrados, discos isoladores, encapsulamento de componentes eletrónicos, etc... E
não tanto como propriedade utilização em aplicações de engenharia mecânica. Nas figuras
seguintes ilustram-se alguns destes exemplos.
Os sistemas epoxídicos são geralmente sistemas de duas partes. Tal como ilustrado no
esquema seguinte.
Parte A Parte B
*Aditivos cuja mistura pode ser quer no grupo A ou B
Figura 44: Exemplo e esquema representativo de um
isolamento elétrico realizado com recurso a uma
resina epoxídica. MasterBond®
Figura 43: Exemplo de ligação de
omponentes de natureza distinta, neste
caso temos um componente eletrético
essencialmente metálico a ser ligado por
uma resina epoxídica a um componente
polimérico. MsterBond®
Resina Epoxídica
Diluentes Reativos
Endurecedor
Aceleradores de cura
- Diluentes não Reativos ou solventes
- Cargas (Fillers)
- Pigmentos e corantes
- Aditivos reológicos
- Modificadores de propriedades
- Modificadores de processabilidade
Figura 45: Organograma de um sistema de mistura epoxídico genérico. Esquema construido pelos autores,
baseado em (Goodman 1999)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
53
MNM 2015/2016
Uma primeira parte formada essencialmente por um resina epoxídica que pode ser
misturada com um diluente reativo.
Estes são adicionados caso seja necessário uma redução da viscosidade da resina original,
como por exemplo, para processos de RTM de difícil impregnação das fibras por complexidade
geométrica. Estes diluentes reativos consistem em resinas epoxidicas de muito baixa viscosidade
e/ou resinas monoepoxídicas (com um único grupo epoxido). Daí a sua designação de diluentes
reativos, já que irão também eles reagir com o agente de cura. Influenciando tanto as propriedades
finais da resina, como as quantidades estequiométricas a calcular para a reação. Para além de
comportarem-se como solventes, estes promovem uma menor reticulação, diminuindo
propriedades como resistênica química e térmica, bem como prorpiedades mecânicas.
Consequentemente, estes geralmnente são aplicados em reduzidas concentrações.
O que geralmente designa-se por parte B do sistema de reação ou agentes de cura, consiste
num endurecedor e um sistema catalítico.
A cura da resina, segundo (Lee and Neville 1967), numa perspetiva de balanço
macroscópicco, consiste na transformação de um reagente com grupos epoxídicos funcionais em
estado termoplástico, num produto final termoendurecível sólido. A nível molecular, consiste
numa reticulação molecular, por ligação tridimensional mais ou menos densa entre as várias
moléculas. Esta reticulação pode se dar por uma reação de homopolimerização e/ou por
heteropolimerização. Na primeira os grupos –OH das moléculas de pré-polímero reagem com os
grupos epoxidos das restantes moléculas, ocorrendo assim reticulação entre estas. Na formação
de um heteropolímero, os reagentes de cura participam como reagentes co-reativos. Fazendo estes
parte, no final da reação, das ligações tridimensionais formadas.
Segundo (Goodman 1999) a designação de agentes de cura apenas deve ser aplicada, de
forma correta, ao sistema de cura. Dividindo-se este em agentes de cura catalíticos e co-reativos.
Aos químicos usados para reticulação por reação catalítica dita convencional, atribui-se a
designação de catalizadores. Estes entram em reações intermédias, não entrando apenas na reação
dita global do sistema. Pertencendo assim ao sistema catalítico, estes compostos apenas
aumentam a velocidade de reação. Os endurecedores, ao contrário dos catalizadores, entram de
forma física, na rede tridimensional final, designando-se assim como agentes de cura co-reativos.
Do mesmo modo que há inúmeras resinas epoxídicas, há uma enorme variedade de agentes
de cura, que contribuem de forma significativa para as características dos produtos finais. Dentro
dos endurecedores mais usados temos os:
Alcalinos - bases de Lewis, aminas primárias e secundárias alifáticas, adutos de aminas,
aminas cíclicas, aminas aromáticas, outras aminas e poliamidas;
Ácidos – ácidos de Lewis, fenóis, ácidos orgânicos, anidridos cíclicos entre outros.
Cada agente de cura endurecedor apresenta vantagens e desvantagens, bem como
propriedades de utilização características. A abordagem detalhada de cada um destes
endurecedores não será aqui realizada. Uma vez que foge à filosofia deste projeto, de fornecer
quer ao leitor quer aos próprios autores, uma ferramenta de estudo que aborde com um grau de
profundidade intermédio este tipo de resinas. Em termos de volume de utilização, as aminas são
claramente os reagentes de cura com maior expressão atualmente. Para uma abordagem detalhada
de cada um dos endurecedores (Hardeners), consultar (Lee and Neville 1967, Cheremisinoff
1989).
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
54
MNM 2015/2016
O restante conjunto de aditivos, consoante o tipo de resina e endurecedor, bem como do
próprio fabricante, pode encontrar-se já adicionado a qualquer um dos lados do sistema de reação.
Se não foi viável uma abordagem em profundida dos elementos anteriormente referidos, existindo
uma infinidade destes compostos, muito menos será neste caso. Limitar-nos-emos a referir
algumas propriedades de utilização de cada um destes compostos.
Diluentes não reativos ou solventes - Ao contrário dos diluentes reativos, estes durante a
reação de cura ou reticulação, evaporam. Consequentemente estes solventes não são
integrados na estrutura reticular da resina termoendurecída sólida, não influenciando
assim significativamente as propriedades finais. Estes diluentes podem ser usados como
solventes na verdadeira assunção da palavra, ou ainda como produtos de limpeza de
moldes. Como exemplos destes podemos referir óleos de hidrocarbonetos e bisfenois.
Cargas (Fillers) - Convém esclarecer que estas cargas aqui consideradas não serão de
reforço (Reinforced Fillers), estes elementos de reforço entram no domínio dos
compósitos. As cargas típicas têm funções não estruturais, na sua maioria de maior
interesse para a indústria da eletrónica. As metálicas, constituidas geralmente por pós
metálicos, têm como função aumentar a condutividade térmica e elétrica. Cargas de
alumina, permitem aumentar a condutividade térmica da resina ou matriz caso esta se
encontre na forma de compósito. Já as de mica potenciam a resistência elétrica. São
também aplicadas cargas com outras finalidades, nomeadamente para a redução de custos
(carbonato de cálcio, sílica) ou ainda para lubrificação natural (pós de grrafite). É no
entanto prestar atenção ao fato de com o aumento da percentagem de cargas, normalmente
a viscosidade e dificulta o processo de conformação e por vezes a cura.
Pigmentos e Corantes - Para alem da função óbvia de conferir cor e opacidade à resina,
determinados pigmentos permitem retardar o aparecimento dos sinais de ataque da resina
por radiação UV. A principal diferença entre pigmentos e corantes, reside no fato do
primeiro não se dissolver no composto a tingir, sendo que esta distinção por vezes nem é
feita na literatura da especialdiade. Existem inúmeros compostos de coloração, sendo
possível apenas enunciar alguns a título de exemplo:
o Óxido de ferro (amarelo-vermelho)
o Óxido de crómio (verde)
o Óxido de zinco (branco)
o Indantreno (Azul)
o Preto de carbono (Preto)
Modificadores de Propriedades – Como principais modificadores temos outras resinas
como poliuretanos, silicones, acrilicos ou poliesters. O princípio base consiste na adição
de uma dada resina que apresente comportamentos mais favoráveis do que a resina
epoxídica base em relação à propriedade que se pretende melhorar. De entre as
propriedades que geralmente se pretende manipular encontram-se a resistência ao
impacto, adesão interlaminar e superfical e resistência ao corte.
Modificadores da processabilidade – Os principais elementos adicionados ao sistema de
reação têm como funções: desoxidação e desgasificação para minimizar a presença de
defeitos e vazios; e ainda a desfloculação para facilitar a desmoldação do componente.
(Goodman 1999)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
55
MNM 2015/2016
Compósitos de Matriz Polimérica
Generalidades de Compósitos
Segundo (Lee 1995) um compósito é um material multifásico, resultado de uma
combinação, mais ou menos complexa em termos tecnológicos, de materiais distintos. Esta
diferença pode ser relativa à geometria e/ou composição. Permanecendo os materiais base ligados,
mas mantendo sempre a sua identidade e propriedades. Estes materiais base comportam-se como
se de uma reação sinergética se tratasse, conferindo ao compósito propriedades superiores à dos
materiais base na sua forma isolada.
Na bibliografia atual existem cerca de duas classificações de compósitos mais comuns e
de algum modo complementares. São a sua classificação quanta à natureza da matriz, e quanto à
natureza dos reforços.
Existem essencialmente três tipos de reforços: Reforços de fase de Fibra, Reforços de
partículas e Reforços estruturais. O esquema seguinte pretende expor de forma sucinta estes três
tipos bem como lançar alguns exemplos. (António, Lucas et al. 2013)
Classificação dos Compósitos
quanto à natureza do seu reforço
Compósitos Reforçados
com Partículas Compósitos Reforçados
com Fibras (Fase) Compósitos Estruturais
Partículas de Elevada Dimensão. Ex: - Betão: Matriz- Cimento;
Reforço- Agregado
(Cascalho/areia);
- Mistura Asfáltica: Matriz-Betume;
Reforço-Pedra Britada e areia;
- Compósito dos Pneus: Matriz-
elastómero; Reforço-Partículas de
Negro de Fumo
Partículas Dispersas: Ex: - Cermet de Cu-W: Matriz- Cobre ;
Reforço- Partículas de W
- Matriz de alumina reforçada com
grãos de mulite para aumento da
resistência à fratura
Fibras Descontínuas:
- Alinhadas
- Aleatórias
Fibras Contínuas: - Unidireccional Tape
- Tecido Bidirecional (woven,
nonwoven, knitted, braided,
etc...)
- Entrelacamento 3D
Estruturas em Sandwich
- Interior em espuma
- Interior em favo de
abelha
Laminados
Ex:
- Trilaminado de SiC e
grafite na camada
interior
Figura 46: Esquema ilustrativo da
classificação do tipo de compósitos baseado
na natureza dos reforços. Material construído
pelos autores baseado em (Cha 2013),
(António, Lucas et al. 2013).
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
56
MNM 2015/2016
O reforço tem como principais funções a absorção dos esforços de carregamento,
apresentando geralmente resistências mecânicas e módulos superiores ao material da matriz.
Os compósitos reforçados com partículas de grande dimensão têm por objetivo aumentar a
resistência à abrasão da matriz e redução de custos. Propriedades mecânicas como resistência
mecânica e tenacidade podem ser ligeiramente aumentadas, mas nunca de forma significativa.
O objetivo do reforço com partículas dispersas depende essencialmente da natureza da
matriz. No caso dos Cermet’s (compósitos de matriz metálica reforçados com partículas de
cerâmicos técnicos) o objetivo principal consiste na melhoria significativa da dureza da matriz,
bem como do aumento da sua resistência por um processo análogo a uma precipitação estrutural
como acontece nas ligas de Alumínio da série 7XXX. As finas partículas dispersas na matriz
metálica irão dificultar o movimento das deslocações e a propagação da fenda, obtendo-se assim
um material de maior resistência mecânica e resistência à fratura.
O esquema seguinte ilustra de forma clara e sintética o modo como as partículas
cerâmicas, neste caso de Nitreto de Carbono, são envolvidas pela matriz
Olhando agora para compósitos de matriz cerâmica, técnicas como Grain Localized
Bridging (GLB) ou introdução de Heterogeneidades estruturais têm como objetivo a obtenção de
um compósito que conserve os bons desempenhos dos cerâmicos em termos de dureza e
resistência, mas que diminui-a a fragilidade intrínseca a estes materiais. As partículas dispersas
atuarão como microfissuradores (divisão da fissura em várias fendas de menor dimensão) e
deflectores da fissura (a presença de partículas dispersas obriga a fenda a percorrer caminhos mais
sinuosos, atuando como um absorsor de energia), aumentando assim a sua resistência à fratura e
tolerância ao dano. (Sarin 2014)
Figura 47:Ferramentas de corte de compósito do
tipo Cermet. Com matriz metálica de Níquel (Ni)
reforçado com partículas de Carboneto de Titânio
(TiC). Ferramentas com revestimento (a dourado)
e sem revestimento (a cinzento) da Tungaloy
Corporation®.
Figura 48: Esquema representativo de um compósito de cermet cedido pela SANDVIK®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
57
MNM 2015/2016
Nos compósitos reforçados com fase fibra, esta pode ser de quatro tipos: Varões, Fibra
propriamente dita, monofilamentos e Whiskers. A diferença reside principalmente na ordem de
grandeza da dimensão do diâmetro do reforço. Geralmente os varões são de diâmetros da ordem
dos mm ou cm, e são basicamente materiais metálicos. As fibras podem apresentar diâmetros da
ordem de grandeza entre os 5 e 20 µm , podendo ser constituídas por materiais poliméricos (por
ex: Fibras de aramida), materiais cerâmicos (por ex: Fibras de SiC), materiais inorgânicos (por
ex: Fibras de vidro E, C, S), carbono (Fibras de Carbono HM, HR) e até mesmo materiais
orgânicos e naturais (Fibras de Celulose, etc...). Os monofilamentos (SiC, boro, etc...) são muitas
vezes inserido nesta classificação de fibras. Os whiskers monocristalinos são materiais geralmente
de origem artificial, existindo contudo Whiskers inorgânicos naturais. São elementos
monocristalinos, produzidos por um crescimento de grão induzido de modo que não haja
nucleação. Estes materiais sem defeitos cristalinos apresentam um excelente desempenho a
elevadas temperaturas. Como exemplos temos os Whiskers de SiC. Importa notar que o preço
médio aumenta no sentido pelo qual os tipos de reforços foram descritos. (António, Lucas et al.
2013),
Nota: Para mais informação sobre a tecnologia de entrelaçamento de fibras consultar o capítulo de revisão
bibliográfica correspondente aos Pré-impregnados.
Atualmente existe uma grande aposta na investigação de nanotubos de carbono (CNT’s)
bem como de nanoargilas, contudo este tipo de reforços foge a qualquer aplicação que este
trabalho tenha como objetivo o seu estudo. (António, Lucas et al. 2013)
Dentro dos compósitos estruturais, temos os compósitos laminados, que consoante o tipo
de material utilizado, estes terão diferentes objetivos. No caso dos laminados cerâmicos, mais
especificamente dos trilaminados de cerâmicos, o objetivo principal é o aumento da tenacidade e
tolerância à fratura destes materiais. Geralmente as camadas exteriores apresentam maior
resistência e dureza do que a camada interior, à qual cabe a função de potenciar a resistência à
fratura da estrutura. A introdução destes compósitos surge precisamente no âmbito das
técnicas/processos de melhoria da tolerância à fratura dos cerâmicos (onde se encontram várias
outras técnicas já aqui mencionadas). Exemplo destes materiais é o trilaminado de SiC e grafite,
estando esta última na camada interior do laminado (justificada pelo princípio anteriormente
mencionado). (António, Lucas et al. 2013)
A aplicação de compósitos em sandwich tem vindo a aumentar progressivamente no
decorrer do século. Indústrias de ponta como a aeronáutica já recorrem a painéis de pele de PEEK
reforçado com fibras de carbono e interior em favo de abelha de alumínio ou aramidas. Este tipo
de construção foi alvo dos primeiros estudos a partir de 1920, devendo-se o patenteamento do
conceito de compósito estrutural a Von Kármán (1924). (Gagliardo and Mascia 2010)
Geralmente um compósito de estrutura em sandwich é constituído por duas camadas ou
placas paralelas, designadas por peles, que envolvem no seu interior um material de elevado
volume e baixa densidade. Geralmente em favo de abelha ou espuma, este núcleo confere a
elevada rigidez característica destes compósitos, bem como absorve grande parte das tensões de
corte. Já as peles, potenciam o bom comportamento à flexão, absorvendo a maioria das tensões
normais, quer de tração ou compressão consoante o momento fletor aplicado. O comportamento
mecânico destas estruturas pode ser comparado, com alguma perda de generalidade e rigor, com
o comportamento de uma viga em I. Nas figuras seguintes pretende-se ilustrar precisamente estas
semelhanças físicas, bem como dar alguns exemplos deste tipo de compósitos. (António, Lucas
et al. 2013), (Gagliardo and Mascia 2010)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
58
MNM 2015/2016
Notas: Uma análise pela Teoria de Timoshenko ou de ordem superior (é necessário
contabilizar as forças de corte provocadas pelo esforço transverso) poderia ser
aplicada à viga, sendo necessário considerar apenas a diferença de propriedades
mecânicas entre os dois materiais. Por outras palavras, aplicar-se-ia a teoria das
vigas compostas muito usada em engenharia civil. Tal como a alma da viga em I,
o núcleo em espuma ou favo de abelha absorve a maioria das tensões de corte.
Enquanto que os banzos, o equivalente às peles nestes compósitos, suportam
grande parte das tensões normais de flexão. (Gagliardo and Mascia 2010), (Gomes
2004)
Este exemplo de um caso de estudo destes compósitos não tem como objetivo
passar a mensagem de que a sua análise é de alguma forma tão simples como no
caso dos materiais metálicos de uso comum. A título de curiosidade foi realizado
um exercício meramente teórico de algumas semelhanças destes materiais com
casos relativamente comuns do dia-a-dia de um engenheiro. Obviamente que casos
mais complexos como painéis de material compósito em sandwich terão outro
tratamento teórico. Sendo que na maioria dos casos é necessário recorrer a métodos
de resolução numérica. Esta última particularidade do estudo de materiais
compósitos, mesmo com a evolução da capacidade de processamento dos atuais
computadores, apresenta-se como um dos principais dificultadores da sua
expansão; (Rezende and Botelho 2000)
A união do núcleo e das peles é realizada por um filme adesivo, que assegura a coesão dos
dois materiais, permitindo o funcionamento da estrutura como um todo. O núcleo em favo de
abelha apresenta várias soluções construtivas, como prensagem a quente ou por vácuo. Caso este
se apresente sob a forma de espuma, esta é geralmente produzida recorrendo a um expansor.
(António, Lucas et al. 2013)
Figura 50: Representação simbólica de uma secção reta de uma viga
retangular em estrutura sandwich. Imagem construída pelos autores,,
baseada em (Gagliardo and Mascia 2010).
Figura 49: Perfil das tensões de corte, devido ao
esforço transverso, num perfil em I. (Gomes 2004)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
59
MNM 2015/2016
Quanto à natureza da matriz, os compósitos podem ser classificados em compósitos de
matriz polimérica, metálica ou cerâmica. A função principal da matriz é distribuir o carregamento
aplicado, transferindo os esforços para o reforço, bem como assegurar a coesão das fibras. Em
alguma literatura menos cuidada do ponto de vista científico, para além de mencionada estas
funções base, é acrescentado que a matriz confere tenacidade ao compósito. O que nem sempre é
verdade, observando-se por exemplo os compósitos de matriz cerâmica. Ora, do ponto de vista da
ciência dos compósitos, é então plausível afirmar que a matriz, dependendo do seu material base,
influenciando as propriedades mecânicas como ductilidade, resiliência, módulo, ou até resistência
mecânica aumentando ou baixando o seu valor. Para além disso pode melhorar o acabamento
superficial do material, proteger de ataques químicos e desgaste as fibras e determinar a dureza
do compósito.
Atualmente não há dúvidas que em termos de volume de produção os compósitos de matriz
polimérica são os mais produzidos, daí muitas vezes atribuir-se à matriz o papel de potenciador
de tenacidade do compósito. (António, Lucas et al. 2013). O gráfico seguinte pretende ilustrar
precisamente esta realidade no caso particular dos compósitos reforçados com fibras de carbono
(fibra com maior expressão no setor da indústria das bicicletas de alto pereformance).
Nota: Não raramente, a designação de matriz cerâmica inclui matrizes de cerâmicos
vítreos, cerâmicos técnicos ou avançados, e o carbono. Contudo os compósitos
Matriz Carbono-Reforço Carbono têm ganho maior importância devido à redução
de custos de produção destes materiais. Daí a particularização feita para as matrizes
de carbono no estudo realizado em (Witten, Kraus et al. 2014). Continuando
contudo a ser apenas utilizados em aplicações muito específicas e restritas.
Em termos de volume de produção (em toneladas), as percentagens relativas são
ligeiramente alteradas. Isto justifica-se por custos dos processos produtivos
distintos bem como a existência de normas que apresentam critérios de inspeção e
controlo de qualidade com exigências também próprias de cada matriz. As matrizes
metálicas, cerâmicas e de carbono são geralmente usadas para componentes da
indústria aeroespacial ou de engenharia de elevada performance. (Buckley and
Edie 1993).
Figura 51: Pie chart que representa o volume de negócios relativo de compósitos
reforçados com fibra de carbono produzidos em função da matriz usada (estimativa global).
Adaptado de (Witten, Kraus et al. 2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
60
MNM 2015/2016
Apesar de se poder pensar que existem teoricamente um número de combinações de matriz-
reforço a tender para infinito, a relação matriz-reforço obedece a alguns parâmetros bem
definidos. Um fator de compatibilidade por vezes ignorado é a diferença entre o coeficiente de
dilatação da matriz e do reforço. Coeficientes de dilatação térmica muito distintos, principalmente
durante o processo de fabrico mas também em funcionamento, irão originar tensões internas que
podem diminuir consideravelmente o tempo de vida útil do material. Um outro aspeto a ter em
consideração é o objetivo com que é fabricado um determinado compósito.
Geralmente quando se trabalha com matrizes cerâmicas, pretende-se colmatar a sua falta
de ductilidade e tenacidade ao choque, reforçando-as para isso com fibras com um elevado
desempenho nesses aspetos (fibras de vidro (E), fibras de carbono e por vezes fibras de SiC). Este
tipo de compósitos encerra características favoráveis a campos de aplicação com elevadas
temperaturas de serviço (indústria aeronáutica e aeroespacial).
Já as matrizes metálicas são habitualmente de ligas leves, como alumínio, magnésio ou
titânio com dureza, rigidez, e resistência à abrasão reduzidas. Como elementos de reforço utilizar-
se-ão fibras de SiC ou alumina, filamentos de SiC ou boro e partículas de SiC ou alumina. Quer
sob a forma de fibras, monofilamentos ou partículas dispersas, o objetivo será aumentar a
resistência à abrasão, dureza e de maneira menos acentuada a sua estabilidade a altas temperaturas
por introdução de cerâmicos técnicos de elevado desempenho nestas propriedades. Devido à
elevada reatividade dos metais podem ocorrer fenómenos associados a altas temperaturas que
modificam a interface matriz-reforço, dificultando a sua adesão. Daí que a melhoria em relação
às propriedades térmicas da matriz não se dê na mesma proporção que as propriedades mecânicas.
(António, Lucas et al. 2013)
Um caso particular dos compostos carbono-carbono, são os compósitos fibra de carbono-
matriz de carbono. Estamos a falar de compósitos de muito alta performance e de muito elevado
custo. O propósito do seu fabrico é a obtenção de materiais de muito elevada resistência e rigidez
mesmo a altas temperaturas (até 1700ºC), ótima estabilidade química a elevadas temperaturas,
baixos coeficientes de expansão térmica (de modo a diminuir as tensões internas induzidas
termicamente), boa resistência ao choque térmico e boa tolerância ao impacto. Para além do seu
preço impeditivo para inúmeras aplicações, estes materiais apresentam outras desvantagens.
Associado ao custa de produção surgem tempos da fabrico excessivos, tanto no fabrico da matriz
como das fibras. Fora ainda destas limitações económicas temos uma necessidade de revestimento
destes materiais por processos de coating, uma vez que apresentam resistências à oxidação
moderadas a muito elevadas temperaturas. (Chawla 2012)
As fibras de carbono são fabricadas pelos processos convencionais que serão referidos
posteriormente no subcapítulo destinado aos compósitos de matriz polimérica reforçados com
fibras de carbono. O aspeto mais interessante é precisamente a formação da própria matriz. Em
termos industriais existem duas formas de obtenção de uma matriz de carbono. Pelo processo de
Deposição química em fase de Vapor (CVD) ou pela carbonização de um sólido ou líquido
orgânico como uma resina polimérica.
O processo de CVD consiste na infiltração por deposição de um substrato de carbono que
reage com um hidrocarboneto gasoso. As reações químicas presentes são de elevada
complexidade e existem inúmeros processos tecnológicos para realizar esta deposição (isothermal
gradient, pressure gradiente, pressure pulsation, etc...) que fogem ao âmbito desta monografia.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
61
MNM 2015/2016
A título de curiosidade ilustra-se o processo de CVD sem gradiente de temperatura.
(Buckley and Edie 1993)
(Chawla 2012)
A carbonização de uma matriz orgânica inicia-se de forma semelhante a um processo de
cura de uma fibra pré-impregnada de resina polimérica. Após a impregnação das fibras secas,
estas são curadas a temperaturas bem definidas para cada matriz. Seguidamente estas são sujeitas
a uma pós-cura com gradiente de temperatura positivo. Com o aumento da temperatura a fase
orgânica decompõe-se em produtos secundários voláteis e compostos de carbono. Findado o
processo de pyrolisis o material é sujeito a uma série de ciclos de impregnação e carbonização até
se atingir a densidade desejada. Na figura seguinte ilustra-se uma aplicação de alta
responsabilidade deste tipo particular de compósitos, onde se evidencia a necessidade de
resistência a elevadas temperaturas.
Figura 52: Esquema representativo de um processo
de Deposição química por fase de Vapor (CVD) em
condições de isothermal Gradient. (Buckley and
Edie 1993)
Figura 53: Ampliação sob a
forma de esquema de uma
garganta do sistema de escape
de uma nave aeroespacial
produzida pela CTA.
Evidenciando-se o uso de
compósitos carbono-carbono
e de matriz polimérica
reforçada com Fibra de
carbono. (Rezende and
Botelho 2000)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
62
MNM 2015/2016
Feita uma pequena introdução ao mundo dos compósitos, não podendo deixar-se de
referir que este apresenta ainda várias oportunidades a explorar, iremos agora focar-nos
precisamente no tipo de compósitos que vêm no segmento deste trabalho, os compósitos de matriz
polimérica.
As matrizes poliméricas podem ser constituídas de polímeros termoplásticos ou
termoendurecíveis. Sendo estas últimas, atualmente, significativamente mais usados que os
termoplásticos. Contudo, segundo (Witten, Kraus et al. 2014) a tendência é precisamente o
aumento da produção e consumo de compósitos de matriz termoplástica.
Uma matriz em termoplástico apresenta vantagens e desvantagens face às principais
concorrentes em termoendurecíveis. Em primeiro lugar as propriedades mecânicas e térmicas dos
termoplásticos obviamente que se farão sentir no compósito. Em média estas matrizes irão
conferir ao compósito melhores valores de tenacidade, perdendo para o termoendurecíveis em
propriedades como rigidez e resistência mecânica. A estabilidade mecânica a temperaturas mais
elevadas também será penalizadora para a maioria dos compósitos em matriz termoplástica. Como
exceção podemos enunciar as matrizes em PEEK, cuja temperatura máxima de serviço varia entre
os 239ºC e os 260ºC. (Design 2015)
Contudo, existem características tecnológicas de processabilidade que tal como referido
em (Witten, Kraus et al. 2014) estão a impulsionar a investigação e investimento neste tipo de
matrizes. Tópicos como:
Tempos de processamento mais reduzidos;
Ausência de reação química para solidificação (diminuindo problemas de saúde face à
produção de termoendurecíveis) (Harris 1953)
Tolerância ao dano e resistência ao impacto bastante interessantes;
Armazenamento pré-cura muito facilitado (não há necessidade de armazenamento em
câmaras frigoríficas);
Boa capacidade de conformação e soldadura (plastic welding of semi-products, obedece
à ISO472);
Boa reciclabilidade sem necessidade de envolver processos químicos.
Os compósitos de matriz polimérica em termoendurecível ocupam um espaço confortável
no espectro de utilização de materiais de construção desde finais do séc. XX. Ora, estas matrizes
apresentam naturalmente vantagens intrínsecas em relação às termoplásticas bem como
apresentam alguma superioridade por incapacidade de processamento destas últimas. Em
contraste com as matrizes termoplásticas estas são caracterizadas por:
Propriedades mecânicas como rigidez e resistência superiores;
Baixa absorção de humidade;
Boa estabilidade dimensional e comportamento a temperaturas elevadas;
Maior flexibilidade de design de geometrias complexas;
Custo geralmente inferior;
Grande espetro de oferta de sistemas de matrizes, fornecedores e processos
produtivos.
(Witten, Kraus et al. 2014), (Silva 2005)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
63
MNM 2015/2016
Contudo, foram as exigências de resistência ao dano cada vez mais apertadas, a necessidade
de cadências produtivas maiores e a ultrapassagem de alguns entraves produtivos da impregnação
das fibras (nomeadamente viscosidades elevadas após aquecimento, baixo fluxo de resina e ciclos
de transformação mais complexos e exigentes) que levarão à sua progressiva mas lenta
substituição pelas suas congéneres matrizes termoplásticas. (Silva 2005)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
64
MNM 2015/2016
Compósito de Matriz polimérica reforçada com Fibra de Carbono
Habitualmente designados na literatura técnica inglesa da especialidade por CRP (Carbon
Fibre Reinforced Plastics), este tipo de compósitos tem vindo a ganhar peso e influência como
material de eleição para uma miríade de aplicações. A figura seguinte pretende quantificar
precisamente esta evolução.
Notas: Os anos assinalados com (*) ou diferenciados graficamente por um tom de azul
mais claro, correspondem a projeções – estudo realizado no final do ano de 2014;
É possível observar um crescimento contínuo e progressivo da demanda por este
tipo de materiais, bem como projeções altamente positivas para o futuro deste tipo
de compósitos.
Detalhando agora as aplicações anteriormente referidas, podemos afirmar que tanto a
Indústria Aeronáutica/Aeroespacial como a Indústria do Desporto de Alta Competição foram as
primeiras a reconhecer o potencial destes materiais e a apostar em peso na sua aplicação.
Atualmente, com a evolução dos seus processos de fabrico e o aumento do número de produtores
e produtos disponíveis no mercado com consequente concorrência benéfica para o cliente e
indústria transformadora, este tipo de materiais tem já uma expressão muito significativa em
muito outras áreas. O aumento da capacidade de produção com elevadas cadências, possibilitou
a transferência de certos componentes da Indústria Automóvel ligada ao desporto de alta
competição (F1, carros desportivos, etc..) para o setor comercial comum e dos elétricos deste
setor. Com objetivos semelhantes aos da aeronáutica, com a agravante do fator corrosão, a
Marinha também recorreu aos CRP para o fabrico de muitos componentes presentes nas suas
embarcações como mastros e válvulas, bem como partes integrantes de embarcações. Na
construção civil a redução de custos dos CRC (Carbon Fibre Reinforced Concrete) tem
possibilitado a introdução destes materiais à partida mais direcionados para outras indústrias.
Figura 54: Estimativa do consumo anual global de CRP em milhares de toneladas por ano. (Witten, Kraus et al. 2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
65
MNM 2015/2016
O gráfico seguinte pretende quantificar esta distribuição das aplicações dos CRP em
termos volume de negócios, para além do que referir mais alguns exemplos das suas aplicações.
Notas: Volume de negócios em milhões de US$;
Volume total de negócios de 1700 milhões US$;
É possível constatar que o setor do desporto apresenta uma fatia significativa da
receita total gerada por estes materiais.
Analisando este panorama de forma mais centrada no tema do desporto, e tentando sempre
fazer um paralelo entre o volume de receitas gerado e o consumo efetivo, apresentamos o próximo
gráfico.
Figura 55: Estimativa do Volume de Negócios global, gerado pelos CRP, para o ano de 2014. (Witten, Kraus et al. 2014)
Figura 56: Estimativa
das receitas a nível
global geradas pela
Indústria do Desporto
por setor devido aos
CRP. (Witten, Kraus et al.
2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
66
MNM 2015/2016
Notas: Receitas em milhões de US$;
Volume de negócios total de 1470 Milhões de US$;
No caso da Indústria do Desporto não haverá grande discrepância quanto a este
aspeto. Contudo quando comparamos requisitos de segurança, regularidade de
inspeções e exigência das normas em vigor, de setores como a aeronáutica com a
construção civil ou mesmo com a indústria do deporto, de forma a evidenciar ainda
mais esta diferença, torna-se por vezes erróneo estabelecer este tipo de paralelismo;
Comparando com outros deportos é possível afirmar que os CRP já apresentam
uma expressão significativa na produção de componentes de velocípedes.
Na prática este tipo de compósitos tem a sua aplicação em componentes de bicicletas de
alta performance. Obviamente que a produção de produtos comerciais para a grande massa de
consumidores, que os adquire quer para fins de lazer, quer como meio de transporte, recorre a
materiais mais interessantes em termos de custo e cadência produtiva e custo da matéria-prima.
Já que as exigências de projeto estão mais orientadas para a vertente económica do que para o
comportamento mecânico do produto. Componentes como quadros e jantes de elevado
rendimento são produzidos em CRP, em detrimento de compósitos de matriz cerâmica ou
metálica abordados na subseção anterior. Esta seleção de materiais é justificada por:
Baixas temperaturas de serviço - as temperaturas máximas registadas à face da terra nunca
ultrapassaram os 58.5ºC desde que se tem registo;
Exigência de propriedades específicas elevadas - a densidade do material tem grande
importância por questões de competitividade do produto;
Rigidez específica elevada – de modo a diminuir ao máximo as perdas energéticas por
deformação elástica de componentes como o quadro ou as jantes, que afetam o
rendimento desportivo do atleta.
Referidas as propriedades de utilização deste tipo de materiais, com vista uma estruturação
lógica de pensamento, passaremos a abordar as propriedades e os meios produtivos dos materiais
base.
As fibras de carbono podem ser produzidas a partir da decomposição térmica de cerca de
três principais percursos orgânicos. As fibras de carbono produzidas a partir de fibras naturais
celulósicas, são geralmente mais caras devido às elevadas temperaturas de grafitização exigidas,
tornando o processo mais dispendioso. A decomposição térmica de alcatrão, origina fibras com
propriedades mecânicas significativamente inferiores às restantes. Ora, o percursor que reúne
melhores características, é o poliacrilonitrilo, sendo considerado o percursor de excelência para a
produção de fibras de carbono. Segundo (Witten, Kraus et al. 2014) a capacidade mundial de
produção de fibras de carbono (CF) à base de PAN era de cerca de 101200 toneladas por ano,
enquanto que à base de alcatrão era de pouco mais de 3400 toneladas por ano, sendo estas
produzidas essencialmente na China e Japão.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
67
MNM 2015/2016
O processo de obtenção das CF à base de PAN compreende as seguintes etapas:
Formação de fibras de PAN por estiramento deste polímero, com consequente
alongamento e alinhamento das cadeias;
Ciclo térmico de oxidação destas fibras, em fornos de atmosfera oxidante (rica em
oxigénio) com temperaturas máximas de 300ºC. As condições termodinâmicas não se
limitam apenas ao aumento da temperatura, estando a fibra também sujeita a tensões de
tração; Este primeiro aquecimento tem como objetivo a reação dos grupos ativos de
nitrilo com consequente formação de uma estrutura em escada;
Ciclo térmico de Carbonização, agora em fornos de atmosfera neutra, as fibras são
sujeitas a temperaturas máxima de cerca de 1100ºC de modo a eliminar os átomos de
O,H e N restando apenas os átomos de carbono;
Ciclo térmico de Grafitização, na mesma em fornos de atmosfera neutra, a pirólise das
fibras obriga a temperaturas máximas até 1500ºC. O objetivo da pirólise centra-se no
aumento do grau de orientação molecular e da estrutura, obtendo-se materiais de
elevado módulo;
Tratamento Superficial, por reação das fibras com ácido nítrico ou sulfúrico, de modo a
potenciar a adesão da fibra com o reforço. Esta adesão é melhorada com a modificação
da interface fibra-reforço que consiste precisamente na superfície exterior da fibra.
(Morgan 2005)
(António, Lucas et al. 2013)
As fibras de carbono são fibras altamente anisotrópicas, ao contrário por exemplo das fibras
de vidro. Esta anisotropia permite obter propriedades mecânicas excelentes no sentido da fibra,
com perda significativa quando analisadas na direção transversal à mesma.
Surge assim o conceito de utilização inteligente destas fibras, obrigando a um
dimensionamento rigoroso do produto e a um estudo prévio minucioso das possíveis cargas
aplicadas. Isto de modo obter-se sempre que possível fibras sujeitas nas suas direções
preferenciais. Para obter componentes mais isotrópicos basta cruzar diferentes alinhamentos de
fibras, geralmente a disposição escolhida é em matriz (fibras cruzadas a 90º). A configuração em
manta é claramente mais usada com outras fibras como por exemplo fibra de vidro.
As CF geralmente são classificadas quanto ao seu comportamento mecânico. Isto é, quanto
à propriedade que foi otimizada durante o seu processo produtivo, que é por fim quantificada no
rácio resistência-módulo. Designando este índice de mérito por β temos que:
𝛽 =𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 à 𝑡𝑟𝑎çã𝑜 [𝑀𝑃𝑎]
𝑀ó𝑑𝑢𝑙𝑜 𝑑𝑒 𝑌𝑜𝑢𝑛𝑔 [𝐺𝑃𝑎]∗ 10 % =
10∗𝜎𝑒
𝐸 %
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
68
MNM 2015/2016
A etapa que define esta relação (para além de aspetos mais práticos como qualidade da
matéria- prima, exigências no controlo das condições do processo, etc...) será a pirólise. Quanto
maior a temperatura máxima do ciclo térmico, maior será o módulo da fibra, com consequente
perda de resistência mecânica e aumento ligeiro da fragilidade. Surgem assim:
Fibras otimizadas ao módulo:
Fibras otimizadas à tração:
(António, Lucas et al. 2013), (Design 2015)
Em termos de economia de mercado, segundo (Witten, Kraus et al. 2014) é possível
estimar uma demanda crescente por este tipo de fibras, tal como se evidencia no gráfico
seguinte.
Fibras de muito alto módulo (UHM) – E > 500GPa
Fibras de alto módulo (HM) – E > 300GPa e β < 1%
Fibras de módulo intermédio (IM) – E < 300GPa e β ≈ 1%
Fibras de baixo módulo (LM) – E < 100GPa
Fibras de alta resistência mecânica (HS)
σe > 3000MPa e 1.5 % < β < 2 %
Fibras de baixa resistência mecânica (LS)
σe < 3000MPa e β < 1.5 %
Figura 57: Estimativa do consumo de fibras de carbono mundial (em milhares de toneladas) por ano. (Witten, Kraus et al.
2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
69
MNM 2015/2016
Notas: O relatório presente foi elaborado no final do ano de 2014, estando os anos que
correspondem a projeções de consumo assinalados com (*) ou graficamente com
um tom de azul mais claro;
O gráfico especifica o consumo de fibras de carbono (CF), e não o consumo de
compósitos de matriz polimérica reforçados com fibras de carbono (CRP);
Analisando o gráfico conclui-se facilmente a existência de um panorama
altamente positivo para as CF, o que de algum modo é justificado pelas suas
propriedades mecânicas;
Analisando agora os sistemas matriciais compatíveis com estas fibras observamos que há
uma variedade relativamente grande destes no mercado. Olhando para os CRTP (Carbon Fibre
Reinforced Thermoplastics) polímeros como o PEEK ou Polimidas (PI) são utilizados como
matrizes neste tipo de compósitos. Contudo é importante realçar que atualmente a utilização deste
tipo de matrizes prende-se mais com aplicações para altas temperaturas, como componentes da
indústria aeroespacial, componentes de mísseis, etc... (Design 2015). Há no entanto empresas
como a Teijin® e a Torayca® que começam a introduzir outras matrizes termoplásticas em
componentes para a indústria automóvel e desporto alicerçando-se na reciclabilidade deste tipo
de materiais.
Dentro das resinas termoendurecíveis temos à disposição poliesteres e vinilester, mais
económicas mas com propriedades mecânicas inferiores às resinas epoxídicas. Estas últimas sim,
com maior expressão ao nível dos CRP. Estas principais resinas termoendurecíveis foram
devidamente abordadas no subcapítulo dos Polímeros termoendurecíveis, evitando-se agora nova
repetição. (António, Lucas et al. 2013)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
70
MNM 2015/2016
Revisão Bibliográfica dos Principais Processos de Fabrico
usados na produção dos Componentes Selecionados
Introdução ao capítulo
Alguns dos componentes tratados nesta monografia fazem uso de determinados processos
de fabrico genéricos que, depois de devidamente adaptados, são utilizados na fabricação do
devido componente. Estes processos de fabrico são, por si só, suficientemente complexos para,
por um lado, merecerem um texto explanatório e, por outro, para desviarem a atenção daquilo que
será o foco em capítulos mais avançados. Este capítulo consiste então num pequeno compêndio
de revisões de processos de fabrico utilizados na produção de alguns componentes numa tentativa
de não ocupar os capítulos dedicados a estes componentes com generalidades que poderiam gerar
alguma confusão para o leitor.
Em primeiro lugar explora-se, de forma sucinta e organizada, o vasto mundo dos pré-
impregnados. Procura-se explicar e abodar os conceitos fundamentais deste semiproduto cada vez
mais usado no setor desportivo do ciclismo. Os autores abordaram assim os seus principais
processos de fabrico, e as questões fundamentais como condições de conservação do produto,
tipos de reforços compatíveis com este semiproduto entre outros tópicos. Foi introduzido um
pequeno anexo que visa abordar de forma abrangente a forma que os reforços fibrosos podem
apresentar atualmente em mercado.
Por fim, devido à sua crescente importância quer como processo de fabrico de compósitos
quer de componentes em material polimérico termoendurecível, é abordado de forma teórica o
processo de transferência de resina RTM (Resin Transfer Molding). Aspetos como vantagens e
desvantagens são devidamente enunciados, procurando-se deixar para o capítulo da produção de
quadros os tópicos de natureza mais prática.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
71
MNM 2015/2016
Pré-impregnados
Segundo (Lee 1992), um material pré-impregnado (prepreg), consiste num semiproduto
resultante da impregnação de um determinado tecido fibroso com uma resina parcialmente curada.
A resina encontra-se num estado evolutivo designado por estado B, que compreende o início da
reação de cura e um aumento significativo da viscosidade, permitindo assim o seu manuseamento
(ver estágios de reação de cura no capítulo de introdução aos termoendurecíveis). Para que a
matriz se mantenha neste estado é necessário armazenar o composto em câmaras frigoríficas a
temperaturas inferiores a 0ºF (≈ -18ºC, notar que °F = °C × 1,8 + 32). Para evitar contaminações
de pós atmosféricos e humidade, estes são selados e armazenados em sacos poliméricos em
semivácuo (moisture proof bags). O seu tempo de vida em armazem (storage life), não deve
ultrapassar o intervalo dos 6 meses a um ano, para que o estado de cura da resina não avance de
tal maneira que impossibilite a sua moldação e propriedades mecânicas. (FAA 2012), (Mazumdar
2001)
Este semiproduto é geralmente fornecido no formato de folhas em rolo, de espessura
variável consoante o fabricante, natureza da resina e disposição da fibra. Por exemplo em termos
médios estes valores variam entre 0.127 mm e 0.254 mm para pré-impregnados de matriz
epoxídica. (Mazumdar 2001)
A fibra de reforço, no mercado atual, pode se encontrar nas mais variadas formas. Desde
pré-impregnados de fibra unidirecional (orientação relativa de 0º, unidireccional tape), tecidos
(fabrics) com distintos padrões de interlooping até mantas de reforços (mats).
Os primeiros, permitem maior liberdade construtiva no sentido que é o próprio operador
que irá definir, consoante a secção do componente, as
diferentes orientações relativas. Quanto mais próximo
de 90º os ângulos relativos, mais isotrópicas serão as
propriedades, pelo contrário, ângulos mais próximos de
0º mais otimizado à flexão será a secção. Pela teoria
elementar da mecânica dos sólidos, orientações
alternadas de -45º 45º irão favorecer naturalmente bons
comportamentos à torção. Orientações estas que foram
estudadas previamente, e que, para cada seção e sua
solicitação, permitem otimizar o material consumido.
Contudo a fase de pré-forma é mais crítica, uma vez
que apresenta maior dependência do rigor do operador.
Na figura seguinte pretende-se ilustrar um tipo
característico de disposição destas folhas de pré-
impregnado, onde se constata a necessidade de
disposição de várias layers para se obter uma seção
isotrópica.
Figura 58: Esquema
cronológico da relação entre
as várias fases de evolutivas da
resina e o seu tempo médio de
vida útil pré-cura. (FAA 2012)
Figura 59: Esquema ilustrativo do modo
de obtenção de propriedades isotrópicas
recorrendo a um unidireccional tape
prepreg. (FAA 2012)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
72
MNM 2015/2016
*Segundo (Morgan 2005) considera-se que um tecido em CF foi produzido recorrendo a
um padrão unidirecional quado mais de 90% em massa das suas fibras estão orientadas
paralelamente segundo um mesmo eixo.
Tabela 10: Quadro resumo das principais vantagens e desvantagens das unidireccional tapes. (Peters 2013)
Vantagens Desvantagens
Melhor eficiência do módulo e
resistência
Maior dificuldade para dar a pré-forma
manualmente
Maior liberdade de orientações Pior maquinabilidade após cura
Elevado volume de fibra Menor resistência ao impacto
Reduzido número de vazios e
descontinuidades
Necessidade de elevado número de layers
para obter secções isotrópicas e simétricas
Capacidade para automatizar a
etapa de pré-forma
Maior custo e mão-de-obra para moldação
manual
Baixa tendência para retenção
de voláteis
Maior dependência do rigor técnico do
operador
Folhas de pré-impregnado de
menor espessura média
Soluções do tipo de tecido de reforço, minimizam o problema de dependência do rigor
técnico do operador, bem como facilitam o processo de moldação das folhas de pré-
impregnado. Já que apresentam à priori estas orientações definidas pelo próprio
entelaçamento das fibras. Com perda de alguma liberdade de combinações relativas,
contudo com incremento da resistência mecânica. Estes fabrics podem ser produzidos
recorrendo a inúmeras técnicas de produção têxtil (textile technology). Desde woven
fabrics, knitted fabrics e braided fabrics. Estando sua distinção relaciona com conceitos
de tecnologia têxtil. (Morgan 2005).
Tabela 11: Quadro resumo das principais vantagens e desvantagens dos tecidos de reforço. (Peters 2013)
Vantagens Desvantagens
Moldação manual do tecido mais fácil
(mais maleável) e prática (orientação
relativa pré-definida) para o operador
Maior número de
descontinuidade da fibra
Capacidade de obter secções simétricas e
isotrópicas com apenas uma layer
Menor otimização do módulo
e resistência mecânica
Capacidade de ser usado fora do contexto
dos pré-impregnados. Por exemplo para
processos de transferência de resina
Maior tendência para
retenção de voláteis
Maior resistência ao fenómeno de fiber
wash
Custo mais elevado para
obtenção do tecido
Melhor resistência ao impacto Menor volume de fibra
Melhor comportamento a solicitações
imprevistas
Grande variedade de padrões e tipos de
tecido (woven, knitted, braided)
(Peters 2013)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
73
MNM 2015/2016
No esquema seguinte ilustram-se a título exemplificativo alguns padrões de
entrelaçamento (weaves) de woven fabric mais comuns na indústria dos pré-impregnados.
Na gíria da especialidade, geralmente considera-se que os tecidos podem ser woven ou
nonwoven. E dentro destes últimos temos os tecidos obtidos por técnicas de knitting ou
stitching e braiding. Nos primeiros a posição relativa das fibras é assegurada pelo seu
entrelaçamento, mais ou menos complexo.
As técnicas de knitting ou stiching assemelham-se à sotura de feridas, em que se introduz
um segundo elemento, para assegurar a sua ligação. Neste caso os filamentos mais
utilizados são de poliesters ou aramidas.
A diferença entre as técnicas de weaving and braiding reside em dois aspetos: braided
fabrics podem estar ou não associados a entrelaçamentos 3D, enquanto que os primeiros
estão sempre associados a tecidos planares; nos primeiros, a fibra não altera de posição
absoluta no tecido, designaando-se as fibras horizontais por weft e as verticais por warp.
Figura 60: Exemplo ilustrativo dos principais pradrões de woven fabrics. (FAA 2012)
Figura 61: Esquema que pretende ilustrar as combinações mais frequentes, de tecidos obtidos por
técnicas têxtil de knitting. (FAA 2012)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
74
MNM 2015/2016
As mantas são usadas mais com fibras de vidro e não tanto com fibras de carbono. Estas
últimas são usadas geralmente de forma continua, de maneira a tirar maior proveito das
suas propriedades mecânicas. Por vezes as mantas (mats) são consideradas como casos
particulares de nonwoven fabrics cujas fibras são fixadas com recurso a ligante
termoplástico ou termoendurecível. As principais vantagens das mantas são o seu custo,
e facilidade de obtenção de propriedades isotrópicas;
Alguns tipos de disposições da fibra são mais adequados para o fabrico de pré-impregnados como
as fitas unidirecionais, encontrando-se contudo pré-impregnados de tecido bidirecional.
(Mazumdar 2001)
Nota: Esta pequena introdução à tecnologia têxtil complementa o capítulo de Generalidades de compósitos.
Em termos de ciência dos compósitos, a definição no primeiro parágrafo deveria ser
aplicada a um dos tipos de pré-impregnados, os pré-impregnados de matriz termoendurecível.
Contudo, o fato de muita bibliografia ainda classificar desta maneira estes semiprodutos, revela
a expressão que estas matrizes ainda apresentam atualmente. Por outras palvras, os pré-
impregnados podem ser classificados consoante a natureza da sua matriz em:
Pré-impregnados de matriz termoplástica - As principais matrizes usadas atualmente são
à base de PC (Policarbonato), PA (Poliamida), PP (Polipropileno); para matrizes com
requisitos mais avançados temos os termoplásticos PEI (Poli-eter-imida), PEEK (Poli-
eter-eter-cetona), PSU (Polisulfona) e PPS (polifenileno sulfito);
Pré-impregnados de matriz termoendurecível – As resinas mais utilizadas para a sua
matriz são as resinas epoxídicas, fenolíticas e bismaleimidas;
(Silva 2005)
Figura 62: Carbon Sleeve, obtida
por técnica de braiding de fibra de
carbono 3k. EasyComposites®
Figura 63: Esquema ilustrativo da
técnica de braiding. (Composi
1994)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
75
MNM 2015/2016
Dependendo da natureza da matriz e do tipo de reforço, as soluções tecnológicas dos
processos de fabrico de pré-impregnados irão variar. Neste subcapítulo apenas serão abordados
métodos de produção de fibras contínuas. As técnicas de produção de pré-impregnados de matriz
termoplásitca mais recentes e com grande potencial de expansão são: deposição eletrostática e
tecelagem híbrida. Já os pré-impregnados de matriz termoendurecível apresentam uma maior
variedade de processos de fabrico bem estabelecida, como solução por adição de solventes e hot
melting.
A deposição eletrostática tem como matéria-prima termoplásticos em formato de pós
(powders). Ar comprimido seco e tratado, é forçado a passar por um sistema de elétrodos que irá
ionizar os átomos presentes no ar (charging medium). O fluxo de ar ionizado atravessa um
recipiente poroso que contém os powders de material termoplástico sólido. Ocorre assim
transferência de carga para os pós, que por efeito de repulsão eletrostática entre estes formam uma
autêntica nuvem de partículas. De seguida, o material fibroso é conduzido através do recipiente,
sendo este instantaneamente revestido por pequenas partículas de resina. Por fim dá-se o ataque
térmico, que consiste na sua passagem por um forno de infravermelhos (infrared oven). Este
processo por deposição, para além de ser usado para a produção de pré-impregnados de matriz
termoplástica, também pode ser utilizado para prepregs de matriz termoendurecível. Sendo para
tal necessário fazer as devidas adaptações, contudo não é das soluções mais atrativas para esse
tipo de matrizes. De seguida enunciam-se as principais particularidades que tornam este processo
um dos processos mais versáteis usados com matrizes termoplásticas:
Uniformidade de revestimento (coating) elevada, justificada pelas leis da
eletrostática que “obrigam” os pós termoplásticos a “preferirem” zonas não
ligadas a outras partículas;
Grande capacidade para controlar a quantidade de fibra em massa, podendo
obter-se valores de resina entre 2% e 70%. Basta para tal manipular o tempo de
exposição na câmara que retem a nuvem de particulas ionizadas, ou a magnitude
da carga fornecida ao ar comprimido;
Resultados satisfatórios para um grande número de resinas termoplásticas;
Capacidade para deposição unilateral ou bilateral do substrato de fibra de reforço
Capacidade para deposição em tecidos (braided, woven, knitted) ou fibras
unidirecionais em tape;
(Technomic 1998)
No esquema seguinte pretende-se ilustrar o processo de fabrico de pré-impregnados descrito
anteriormente
Figura 64: Esquema
ilustrativo de uma linha de
deposição eletrostática.
Imagem trabalhada pelos
autores, baseada em
(Wang, Zheng et al. 2011)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
76
MNM 2015/2016
A tecelagem híbrida tem como matéria-prima termoplásticos na forma de fibra. Surgindo
assim imediatamente dificuldades quase intrínsecas ao processo. Na medida que nem todos os
termoplásticos podem ser de forma viável convertidos em fibras. Limitando à partida o número
de resinas compatíveis, reduzindo a versatilidade do próprio processo. Esta solução de
impregnação difere da anterior na medida que a resina termoplástica é introduzida na fibra por
entrelaçamento. Na própria produção do tecido são utilizadas, para além da fibra de reforço
desejada, fibras que após fusão irão impregnar o reforço. Para além das dificuldades mencionadas,
acresce-se a limitação de impregnação apenas de tecidos (independentemente da técnica têxtil
usada). Em termos de cadeia produtiva consiste numa linha de tecelagem normal com as devidas
aplicações para a obtenção do tecido híbrido. No final desta fase o tecido híbrido é encaminhado
para um forno onde as fibras serão fundidas e com auxílio de rolos de pressão a matriz agora
líquida irá impregnar o reforço.
Os processos de solução por adição de solventes e impregnação por fundição do polímero
(hot melting) têm tido uma larga expressão na produção de pré-impregnados, particularmente com
resinas termoendurecíveis. Contudo, as propriedades típicas dos termoplásticos dificultam a sua
aplicação a estas matrizes. A continua investigação na área, e a melhoria das capacidades
tecnológicas tem permitido que as técnicas mencionadas anteriormente tenham ganho cada vez
mais importância. Como principais vantagens face aos processos de adição por solvente é possível
enunciar:
Ausência de necessidade de utilização de solventes;
Impacto ambiental mais favorável;
Impregnação “suave” (gentle coating), sem danificação das fibras; Compatível que uma grande variedade de termoplásticos; Capacidade de mudança de matriz rápida e prática, sem necessidade de limpezas de
elevado custo; Elevadas cadências de pordução; Ambiente de trabalho limpo e saudável (ausência de voláteis libertados pelos
solventes); Elevada repetibilidade dos processos; Utilização mais racional e eficiente da resina;
Para além das soluções tecnológicas anteriormente mencionadas existem muitas outras já
estabelecidas em mercado e algumas direcionadas para pequenas produções em laboratório para
ensaios. Por exemplo, uma técnica cada vez mais popular, designa-se por impregnação por
emulsão. Em que as fibras são mergulhadas numa emulsão líquida de polímero finamente
granulado. Após secagem numa torre para o efeito, pequenas particulas termoplásticas ficam
retidas no reforço. A remoção da solução líquida provoca a formação de vazios que terão de ser
eliminados, por aplicação de temperatura e pressão, numa etapa intermédia à fusão do polímero.
Por processos semelhantes aos anteriormente descritos dá-se a fusão dessas particulas levando à
impregnação da fibra. (Silva 2005)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
77
MNM 2015/2016
A produção de pré-impregnados por impregnação de polímero fundido (hot melting)
apresenta uma cadeia produtiva com algumas semelhanças dos processos já referidos, tal como a
maioria dos processos com vista a obtenção de semiprodutos de pré-impregnados. Tanto tecidos
como fitas unidirecionais podem ser impregnadas recorrendo a este processo. O processo
compreende duas fases. Em primeiro lugar é extrudida resina sobre um substrato polimérico que
irá levar a resina no estado líquido até ao reforço. Num rolo de convergência dá-se contacto entre
o reforço e o filme polimérico que garante a impregnação por aplicação de pressão e calor como
se evidencia na figura seguinte.
A solução tecnológia de impregnação por polímero fundido ou em estado líquido sofreu
inúmeros aperfeiçoamentos. A introdução de um etapa paralela de obtenção de filmes
poliméricos, permite uma melhor distribuição da resina. Não raramente esta solução é apresentada
como um processo independente designado por impregnação por filme polimérico (hot-melt film
method) .
Esta via de processos de impregnação apresenta como principais limitações:
Elevados pontos de fusão de um grande número de termoplásticos (alguns cuja
propriedade de utilização é precisamente o seu elevado ponto de fusão, como por exemplo
o PEEK ), o que implica uma eficiência energética reduzida;
Elevada viscosidade mesmo em estado fundido;
Custo elevado do fabrico dos filmes poliméricos;
(Campbell 2010)
Figura 65: Maquina que engloba de
forma continua a produção de pré-
impregnados por hot melting.
LitzLer®
Figura 66: Esquema ilustrativo
do processo de obtenção de pré-
impregnados por técnicas de
hot melting. (Wang, Zheng et al.
2011)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
78
MNM 2015/2016
Olhando agora para a produção de prepregs recorrendo a técnicas de solução por adição de
solventes. A linha de solução compreende três fases:
Numa primeira fase o polímero termoplástico no estado sólido é misturado com um
solvente adequado (é necessário um estudo detalhado para o solvente mais indicado
para cada polímero), produzindo-se assim uma mistura mais ou menos viscosa;
De seguida o reforço é mergulhado num banho de resina. O excesso de resina é
eliminado e as fibras compactadas por passagem em sucessivos rolos para o efeito.
O tecido já impregnado, faz uma estação num formo que cura parcialmente o
composto.
A última etapa é comum à maioria dos processos. Por ação de pressão e temperatura
fixa-se um filme bilateral ou unilateral de silicone ou polietileno destacável. Por fim
enrola-se em formato de rolo as folhas contínuas de pré-impregnado.
(Campbell 2010)
Figura 67: Esquema ilustrativo da linha de impregnação por solução do
polímero. (Campbell 2010)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
79
MNM 2015/2016
Resin Transfer Molding
Geralmente designado na literatura da especialidade por Resin Transfer molding process
(RTM), podendo-se por vezes também encontrar referências a este processo por Closed Mold
process, consiste numa tecnologia de conceção de peças em materiais compósitos ou materiais
poliméricos. Sendo que nestes últimos os termoendurecíveis apresentam claramente maior
expressão. (Morgan 2005). Ao longo do presente texto iremos aborda-lo mais na perspetiva de
produção de componentes compósitos, isto para de algum modo dar maior suporte ao capítulo
seguinte dedicado aos processos de fabrico. Inicialmente desenvolvido para a produção de bulk
pieces, foi necessário uma extensa investigação ao longo da última década para superar esta
incapacidade construtiva de componentes ocos e outras limitações como:
Complexidade das equações governativas que permitem a modelação e simulação
numérica de modelos de distribuição térmica e de fluxo de massa da resina com
aplicação concreta e corrente na indústria;
Dificuldade inicial na automatização e otimização do processo;
Atualmente este processo pode também surgir inserido no Flexible Resin Transfer Molding
process (FRTM), que pode ser analisado como um híbrido que associa o RTM com o Diaphragm
Forming. (Hammami and Al Zarouni 2006)
Em termos tecnológicos consiste na transferência de resina (geralmente
termoendurecível), por um ou mais pontos de alimentação (ports), para um molde metálico. Neste
molde já se encontram as fibras devidamente posicionadas nas superfícies de moldação. Sujeito
a pressões ditas intermédias (0.35 – 0.70 MPa), o molde é simultaneamente aquecido à
temperatura de cura da resina. Ou seja, com uma única operação fabrica-se o material compósito
e confere-se forma obtendo-se simultaneamente a peça. Uma vez que no final do processo o
material compósito já se encontra curado, é necessário um trabalho de projeto cuidado e atento
de modo a minimizar o número de operações posteriores de maquinagem. O RTM é usado com
maior frequência para a transferência de resinas termoendurecívies, como poliesteres,
vinilesteres, fenolíticas ou resinas epoxídicas. É contudo compatível com resinas termoplásticas
como resinas de acrílico modificado. As principais características que levaram o RTM a ser usado
desde em indústrias altamente exigentes como a aeronáutica e aeroespacial, e atualmente até na
produção dos principais componentes de bicicletas foram:
Grande repetibilidade do processo – a única etapa do processo de maior dependência de
mão-de-obra humana corresponde à disposição das fibras de carbono;
Cadências de produção e custos competitivos, de modo a cobrir o elevado capital inicial
de investimento - numa fase posterior à investigação inicial, e quando comparado com
processos pela via dos pré-impregnados;
Grande gama de resinas de alta qualidade desenvolvidas especificamente para este
processo – devendo-se esta variada oferta de mercado em grande parte à extensa
investigação neste campo;
Capacidade de obtenção de peças de geometria complexas e com volume razoável - ao
contrário do Compression Molding (CM) por exemplo;
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
80
MNM 2015/2016
Ambientalmente amigável, este processo também se mostra muito user friendly na
medida que é englobado nos processos de closed molding;
(Morgan 2005)
Para além das particularidades referidas, segundo (Potter 2012) aspetos como:
o A ausência da necessidade de manipular a viscosidade das resinas, tal como
observado nos processos que recorrem a pré-impregnados (prepreg) de modo a
controlar o fluxo de resina durante a consolidação, permite potenciar aspetos
como a resistência e rigidez da matriz;
o Moldação mias facilitada de alguns tipos de reforços de elevada espessura ou
mantas 3D em relação aos processos de produção de compósitos tradicionais;
o Porosidade baixa, bom acabamento superficial e a praticamente ausência de
vazios (voids);
Segundo (Morgan 2005) a melhor composição para a superfície de moldação de moldes para
este processo será de uma resina termoendurecível de vinilester misturada com um sistema de
resinas compatível com o compósito a produzir. De modo a permitir um bom acabamento
superficial e uma boa moldação, esta é geralmente revestida por uma camada de gel-coat. A caixa
na qual estão acoplados os sistemas de aquecimento e refrigeração (geralmente por tubos
embutidos no molde cujo líquido de aquecimento/refrigeração é água) é geralmente de uma liga
de alumínio. Soluções tecnológicas como a Vacuum Assited Resin Injection (VARI) podem ser
aplicadas a este processo base de modo a melhorar as propriedades mecânicas do produto final,
com consequente aumento do investimento inicial. A adoção ou não de soluções como a referida
será justificada por uma análise cuidada das exigências de projeto e variáveis como cadência e
custo produtivo.
A etapa de desmoldação, não depende apenas dos desmoldantes intrínsecos à resina
transferida ou daqueles aplicados como interface entre a superfície de moldação e resina. Uma
componente que influencia altamente esta etapa, e que efetivamente é executada muito antes,
consiste no projeto do molde para este fim. Ângulos de ataque compatíveis com a geometria,
baixa porosidade, bom acabamento superficial e limpeza regular (geralmente com álcool
polivinílico, PVA) entre ciclos são alguns dos aspetos a ter em consideração de modo à
desmoldação se processar de forma rápida e sem prejuízo para a integridade do produto. Os
principais agentes externos desmoldantes são a cera Carnuba e o silicone (geralmente para
matrizes epoxídicas), sendo que a primeira apresenta claramente maior expressão de utilização.
Os agentes de desmoldação internos à própria resina são mais utilizados em processos como a
pultrusão ou moldação de placas finas ou pós. Para além do que para muitas aplicações que exijam
pintura final ou fixação por adesivos a sua utilização é proibitiva.
(Morgan 2005)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
81
MNM 2015/2016
Na figura seguinte pretende-se ilustrar de forma muita genérica o método de RTM,
evidenciando-se de forma mais específica para a produção de componentes de bicicletas no
subcapítulo destinado a esse fim.
Notar apenas que:
Tal como (Potter 2012) refere, o RTM pode ser entendido como uma filosofia de
produção, e não ser visto de uma perspetiva tão redutora como se de um processo
de fabrico de entre muitos existentes se tratasse. O conceito fundamental prende-
se com a separação da resina e reforço o mais tempo possível e até a uma etapa
mais adiantada possível no processo. Permitindo as inúmeras vantagens já
referidas face aos pré-impregnados. Tal conceito é ilustrado pela figura seguinte,
na qual se constata que só após todo um processo de moldação prévio do tecido
de fibra de carbono, é que se dá a impregnação das fibras secas. A resina pode ou
não ser pré-curada. Havendo literatura que na situação da resina não o ser,
designa este processo por R-RIM (Reinforced Reaction Injection Molding).
(António, Lucas et al. 2013)
A obtenção de uma gama variadíssima de geometrias e atravancamentos é
facilmente deduzível pelo esquema. Bastando para tal a alteração do Design do
molde;
Como foi referido anteriormente e é perfeitamente evidenciado na figura, a
obtenção de ocos, exige aplicações produtivas um pouco mais engenhosas.
Técnicas como a Bladder Molding, em que um reservatório flexível de um
polímero é insuflado de modo a adquirir uma dada forma, permite solucionar o
problema de maneira bastante interessante. Esta bladder substitui a necessidade
de criar soluções com moldes internos rígidos para a obtenção de ocos.
Figura 68: Ilustração do processo de Resin Transfer Molding. (Potter 2012)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
82
MNM 2015/2016
Estudo dos Componentes Selecionados
Introdução ao capítulo
No capítulo seguinte iremos abordar de forma mais exaustiva um conjunto de
componentes de bicicletas e associados (neste caso apenas o capacete de proteção) que os
elementos do grupo acharam mais convenientes. Procurou-se com esta seleção abordar um maior
número possível de grupos de materiais, desde os elastómeros nas câmaras de ar e pneus, até aos
materiais CRP (Carbon Fibre Reinforced Plastics) nos quadros, passando pelos termoplásticos
usados na conceção dos capacetes. Bem como ao mesmo tempo respeitar o que se pode designar
por hierarquia de importância que estes componentes obedecem dentro da própria bicicleta.
Em jeito de preparação do capítulo seguinte enumera-se de forma resumida estes mesmos
componentes. Iremos então abordar:
Quadro – Após uma breve introdução ao componente são explorados os
processos de Integrated Molding Process (IMP) e Resin Transfer Molding
(RTM) usados na obtenção de quadros em material compósito de matriz
epoxídica reforçada com fibras de carbono;
Capacete – Introduzindo devidamente o componente e as suas especificidades
será analisado o seu processo de fabrico. Aborda-se assim a produção do casco
exterior, responsável por assegurar as propriedades mecânicas do componente.
Em relação ao forro interior à base de EPS, será abordado com maior enfoque a
sua moldação e união das duas camadas. Uma vez que a sua produção já foi
devidamente explanada no subcapítulo de revisão bibliográfica destinado aos
termoplásticos;
Pneus e Câmara de Ar - Estes componentes consistem no meio de ligação entre
o solo e o dispositivo de conversão de movimento. Dada a sua elevada
importância também terão lugar neste capítulo. Para além dos seus requisítos
mais comuns também serão abordados os seus processos de fabrico.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
83
MNM 2015/2016
Pneus
Os pneus são dos componentes mais importantes numa bicicleta. Este componente é
responsável tanto pela segurança como pelo conforto do ciclista, visto que tem como objetivos
proporcionar uma boa aderência e absorver as irregularidades do piso. Assim sendo, é esperado
que os materiais que o constituem possuam algumas caraterísticas específicas como resistência a
trabalho cíclico (fadiga), tenacidade e resistência mecânica (de modo a resistir a tensões
resultantes da pressão do ar e das acelerações impostas à bicicleta). O piso do pneu é a parte
crítica, do qual se esperam algumas propriedades para além das já especificadas, como um atrito
elevado com o solo e boa resistência ao desgaste.
Os pneus de bicicleta consistem em três elementos básicos: a carcaça, o aro de talão e o
piso. A maior parte dos pneus tem também uma cinta de proteção contra furos, que só não é
utilizada em pneus leves de competição para reduzir o peso. Todos estes elementos estão
identificados na figura a seguir.
Figura 69 - Elementos constituintes de um pneu de bicicleta (imagem cedida pela Schwalbe)
A carcaça é a “base” do pneu. É normalmente utilizado um tecido têxtil feito com
poliamida (Nylon) que é coberto por borracha. É a carcaça que suporta as forças de pressão
realizadas no pneu. Dependendo da qualidade do pneu, a densidade de fibras do tecido pode
variar, sendo que quanto maior a densidade, maior a qualidade do pneu. Para pneus leves de
competição, como se pretende obter uma boa qualidade e baixo peso, é necessária a utilização de
fibras mais leves para se poder construir um tecido mais denso sem comprometer o peso.
(Schwalbe 2015)
O aro de talão define o diâmetro e dá forma ao pneu, e tem como função segurá-lo contra
a roda. Pode ser feito em aço, em poliamida aromática (Kevlar), ou ainda em fibra de carbono.
Os aros de Kevlar são ligeiramente mais caros que os de aço, mas são mais leves e permitem
dobrar o pneu, o que se revela útil para transporte (normalmente como pneu suplente). Os aros
em fibra de carbono são muito mais caros e são utilizados apenas em pneus de estrada de
competição de forma a aguentar as altas pressões utilizadas nestes pneus. (Schwalbe 2015)
O piso é responsável pela aderência ao solo e é a parte mais importante do pneu. É
composto por borracha natural e/ou estireno butadieno, assim como agentes vulcanizadores como
enxofre e óxido de zinco, e negro de fumo para reforço. Dependendo do produtor, outros aditivos
podem ser utilizados, por exemplo para retardar o envelhecimento e colorir. (Schwalbe 2015)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
84
MNM 2015/2016
A cinta de proteção é opcional, mas a maior parte dos produtores opta por as incluir pois
não representam grande despesa e melhoram a durabilidade do produto. Estas cintas poderão ser
fabricadas em vários materiais, como por exemplo borracha natural e Kevlar. (Schwalbe 2015)
O processo de fabrico de pneus para bicicletas baseia-se na utilização de moldes metálicos
e requer um trabalho manual intensivo, auxiliado por máquinas. A borracha é misturada com
compostos comuns como negro de fumo, enxofre e óxido de zinco, e outros menos comuns como
óleo mineral e sílica. A mistura realiza-se laminando a borracha em cilindros, pois nesta fase esta
ainda é bastante maleável. Realiza-se o corte de um pedaço de tamanho correto do tecido de
poliamida para fazer a carcaça, que é seguidamente colocado num tambor, com as fibras
posicionadas a 45º em relação à direção de rolamento do pneu (uma carcaça de um pneu radial
terá também fibras perpendiculares à direção de rolamento). Um pano de borracha, obtido por
laminagem, é colocado por cima do tecido de poliamida. A seguir colocam-se os fios de aço ou
Kevlar sobre a carcaça (no caso do Kevlar dão-se várias voltas ao tambor para conferir resistência
suficiente) e o tambor expande, forçando os fios para dentro da borracha. É então efetuada uma
dobra da carcaça por cima dos aros, o que resulta em três camadas de carcaça. Por fim colocam-
se a cinta de proteção e o piso do pneu, exatamente no meio da carcaça. Este procedimento é
ilustrado na figura seguinte. (Schwalbe 2015)
Figura 70 - Processo de fabrico do
semi-produto anterior à vulcanização (imagem cedida pela Schwalbe)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
85
MNM 2015/2016
Nesta fase o pneu ainda não tem forma e a borracha em bruto ainda não oferece as
propriedades necessárias ao bom funcionamento do produto, daí que será apenas lógico se
proceder à conformação do pneu e à vulcanização da borracha. O pneu semi acabado é envolto
num aro insuflável, sobre o qual são pressionados dois moldes que serão responsáveis por dar
forma ao piso, como se poderá observar na imagem seguinte. Os moldes e o aro são aquecidos
até à temperatura de vulcanização, que se situa aproximadamente entre os 170 °C e os 180 °C, e
deixados a essa temperatura entre 3 a 6 minutos. O calor faz com que as borrachas da carcaça e
do piso se unam, se expandam dentro do molde dando assim forma ao piso e vulcanizem.
Figura 71 - Conformação e vulcanização num molde metálico (imagem cedida pela Schwalbe)
Depois da produção são selecionados alguns pneus para controlo de qualidade. Procuram-
se manualmente por defeitos e verifica-se o peso. São também realizados testes de resistência a
furos, à pressão, e à fadiga. Neste último o pneu é deixado numa máquina a rodar durante
aproximadamente 3 dias seguidos, o que corresponderá a aproximadamente 50000 curvas.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
86
MNM 2015/2016
Câmara-de-ar
As câmaras-de-ar são responsáveis por conservar o ar dentro do pneu a uma pressão acima
da atmosférica, normalmente entre 4 bar a 9 bar, garantindo assim que este se mantenha firme e
se comporte adequadamente nas diversas condições a que a bicicleta é sujeita. Assim sendo é de
esperar que o material utilizado no fabrico deste componente possua uma baixa permeabilidade
ao ar. Essa é a razão pela qual se usa borracha de butil, visto que esta borracha tem
aproximadamente um doze avos da permeabilidade ao ar da borracha natural.
Apesar de ainda serem vastamente utilizadas em bicicletas a, tendência atual é no sentido
de as deixar de utilizar, visto que o desenvolvimento nos pneus tubeless tem vindo a provar que
este tipo de pneus que não necessitam de câmara-de-ar é mais vantajoso em vários aspetos face
aos pneus que recorrem a uma câmara-de-ar.
Existem atualmente dois métodos para fabricar câmaras-de-ar que serão aqui devidamente
tratados. No entanto, comum aos dois métodos, é o processo de mistura da borracha de butil com
os agentes vulcanizadores tradicionais como o enxofre e o óxido de zinco, assim como negro de
fumo para reforço, que se processa em rolos de laminagem num processo semelhante ao descrito
anteriormente para os pneus. A borracha passa ainda por uma solução de carbonato de cálcio que,
depois de seca, evita que a borracha se cole a si mesma. Após arrefecimento da borracha e
secagem da solução, pode-se passar à fase de conformação.
O primeiro método existente para o fabrico de câmaras-de-ar consiste na utilização de uma
máquina de extrusão. A borracha é inserida aos poucos na máquina e é então extrudida como um
tubo que será cortado em comprimentos compatíveis com os diâmetros existentes para rodas de
bicicletas.
Figura 72 - Extrusão de um tubo de butil (How It's Made 2014)
Antes da vulcanização é realizado um furo no tubo e inserida uma válvula, e um operário
encarrega-se de conectar as duas pontas do tubo numa máquina que as aquece e une.
Figura 73 - Válvula incompleta introduzida na câmara-de-ar antes da vulcanização (How It's Made 2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
87
MNM 2015/2016
A desvantagem deste método de produção é que a junta se encontra num plano radial, e
quando a câmara-de-ar é utilizada em pneus radiais a junta fica paralela às cordas reforçadoras da
carcaça, o que causa tensões que advêm das cordas adjacentes. Isto pode causar a rutura da
câmara-de-ar. De modo a resolver este problema surge um método alternativo que se inicia com
duas formas anelares de borracha. Estas formas são produzidas por aquecimento e posterior
compactação de borracha num molde. Após arrefecimento os anéis deverão ser unidos pelo
exterior. (Eric Holroyd 1976)
Na figura seguinte é possível observar uma das juntas (a exterior) das formas anelares que
fazem a câmara-de-ar.
Figura 74 - Ilustração de uma câmara de ar obtida pelo processo alternativo explicado acima (Eric Holroyd
1976)
Depois de conformada a borracha por qualquer um dos métodos descritos o passo seguinte
é a vulcanização. A câmara-de-ar é inserida num molde e insuflada (ou ao contrário), e a borracha
é aquecida até aproximadamente 180 °C e deixada a essa temperatura por aproximadamente 5
minutos.
Como com qualquer produto, algumas câmaras-de-ar serão selecionadas para testes de
controlo de qualidade, dos quais se destaca um teste de resistência a furos.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
88
MNM 2015/2016
Quadro
Generalidades
O quadro consiste num componente misto, de duas células reticuladas geralmente
triangulares, ligadas entre si por uma ligação rígida na convergência inferior do Quadro. Ambas
as células são constituídas por veios ocos de ligas metálicas ferrosas ou não ferrosas, ou mais
recentemente de materiais compósitos.
A célula traseira aberta, esta sim sempre de geometria triangular, irá albergar no interior do
garfo traseiro, a roda traseira. Um dos vértices do triângulo traseiro liga-se, por ação apenas de
forças de contato, de forma rígida mas desmontável por meio de uma sistema roscado, porca-
ponta de veio roscado, ao veio alojado no cubo da roda. Os outros dois vértices irão fazer a ligação
não desmontável com a outra célula.
A célula dianteira fechada, por força da tradição é geralmente de geometria triangular para
os velocípedes destinados ao público masculino, e de geometria curvilínea mais complexa para
os consumidores do sexo feminino. Esta distinção iniciou-se no final do séc. XIX, com a crescente
emancipação da mulher. Ativistas como Elizabeth Staton ou Susan Anthony, defendiam o uso
deste meio de transporte como parte integrante e fundamental da luta pelos seus direitos. O uso
de um meio de transporte tão prático e versátil, permitia à Mulher frequentar com maior
regularidade lugares como centros culturais e cafés, tratar de tarefas como assinar contratos ou
votar (quando legalizado o seu direito) até então restringidas ao Homem. Maria Pognon,
presidente da Liga Francesa de Direitos da Mulher, afirmava que a bicicleta era “igualitária e
niveladora”, ajudando a “libertar o nosso sexo”. Ora, com o aumento progressivo deste novo
público-alvo, houve a necessidade de rebaixar a barra horizontal da célula dianteira, de modo a
permitir a utilização de trajes como saias e vestidos sem comprometer a decência feminina.
(Hendrick 2006).
Na figura seguinte ilustra-se o que foi considerado por muitos o grande símbolo da
emancipação da mulher, estando muitas vezes a bicicleta associado a esse movimento.
Figura 75: Mulheres defendendo o
direito ao voto, cidade de Londres.
(Zheutlin and Londonderry 2006)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
89
MNM 2015/2016
Por questões de distribuição do carregamento mecânico, esta é geralmente de espessura
superior à anterior. Compreende ainda dois alojamentos, um para a coluna de direção, e outro
para o veio da pedaleira. Na figura seguinte é possível observar um quadro de competição de
estrada em material compósito, no qual se identifica perfeitamente a estrutura anteriormente
descrita.
Outros tipos de quadros são expostos a título exemplificativo, variando o seu design e
material consoante o tipo de aplicação.
Figura 76:Quadro de competição de estrada, em material compósito de matriz
epoxídica reforçada com fibra de carbono, produzido por Play Cutting and Stacking
Prepregs. Imagem cedida pela Scoot®
Figura 79:Bicicleta dobrável com quadro em aço da
durban®.
Figura 78: Bicicleta de cidade com quadro em aço
chromoly® anodizado da YMPEK®.
Figura 77: Quadro da ICAN em material
compósito de matriz polimérica reforçado
com fibra de carbono.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
90
MNM 2015/2016
Materiais usados na sua construção
Quanto aos materiais usados no seu fabrico, os primeiros quadros de bicicleta tal como a
conhecemos hoje, foram produzidos em Aço.
Naturalmente que houve grande evolução na composição deste material, desde o clássico
aço ao carbono AISI 1040, passando pelo Chromoly® , (AISI4130) até ao desenvolvimento dos
Aços Reynolds. Estes últimos tiverem mesmo alguns modelos usados na construção aeronáutica
Britânica. A empresa de construção de bicicletas Reynolds®, definia cada modelo de aço quando
à sua composição, tratamento térmico, geometria e espessura do varão. Alguns destes modelos
como o Reynolds953®, introduzido em 2006, chegaram a ser designados na gíria por aços à prova
de ferrugem, de modo a realçar a sua resistência à corrosão e ao mesmo tempo a diferencia-los
dos aços inoxidáveis.
A grande desvantagem da utilização de aços ao carbono consistia na sua em geral fraca
resistência, quando comparada com outros aços, o que impedia a construção de quadros
recorrendo a técnicas de redução de peso como o butting. O butting consiste na produção de
varões ocos, cuja espessura das paredes internas varia. Permitindo obter espessuras mais
significativas nas zonas de soldadura para a obtenção das células e nos pontos críticos de
carregamento, e espessuras mais reduzidas nas zonas de menor solicitação mecânica.
Conseguindo-se assim reduções de peso na ordem dos 15%, como acontece no caso dos
Chromoly®, 0.5% a 1% de Cr e 0.2% a 0.3% de Mo (AISI4031). Na figura seguinte ilustra-se
esta solução construtiva com a representação em corte de vários tipos de butting.
Notar apenas que:
Há uma certa relação entre o custo de produção e o grau de butting do componente.
Quanto maior o grau de butting, isto é, quantos mais níveis de espessura interna do varão,
maior será a capacidade de reforço localizado obtendo-se assim uma redução de massa
do quadro ainda mais significativa;
Geralmente a estratificação do perfil longitudinal dos tubos ocos não se dá com
concordâncias tão pequenas. Apenas se representou com ângulos de ataque bem definidos
para uma melhor visualização do fenómeno.
O uso de ligas ferrosas foi progressivamente substituída pelo recurso a ligas não ferrosas
como as ligas de alumínio 6XXX e 7XXX ou ligas leves de titânio. Contudo, atualmente em
bicicletas cuja fiabilidade e durabilidade seja uma variável relevante, este tipo de ligas continua
a ser usado com bastante frequência. Bicicletas citadinas, bicicletas desmontáveis e bicicletas
Figura 80: Esquema ilustrativo do
conceito de Butting aplicado a um
tubo oco. (Ribeiro 2013)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
91
MNM 2015/2016
clássicas como “pasteleiras” ou “single-speed” são exemplos de veículos que recorrem muito a
este tipo de quadros, isto é, aplicações onde o quadro não seja usado para fins de competição em
que a massa específica tem que ser reduzida ao máximo.
Apesar de muitas vezes se recorrer a uma construção tubo a tubo, a produção deste tipo
de quadros é simples em termos tecnológicos e com cadências razoáveis, já que a soldadura dos
aços é um tema bastante dominado pelos técnicos da especialidade. A acrescentar a esta facilidade
construtiva podemos referir uma robustez própria destas ligas. Uma vez que apresentam limites
de fadiga relativamente altos quando comparados com os carregamentos a que estarão sujeitos
em serviço, fora defeitos de soldadura e corrosão, estes componentes têm um tempo de vida à
fadiga a tender para infinito.
Posteriormente ligas leves de Alumínio, procurando acompanhar as exigências de
competitividade do desporto, foram introduzidas. Tal implicou um redesenho do perfil dos tubos
do quadro, obrigando a varões com maior espessura e diâmetro quando comparados com os
concorrentes em aço. Isto para manter os valores de rigidez compatíveis com uma condução com
o mínimo de perdas energéticas por deformação do quadro. Fazendo um pequeno exercício
puramente teórico para justificar esta particularidade vejamos:
Tabela 12: Tabela com os valores das principais propriedades mecânicas da liga de alumínio da série 6061 sujeita a
tratamento térmico T6. (Design 2015)
Aço AISI 4031 (Revenido)
Densidade 7.81 – 7.84 [kg/m^3]
Módulo de Young 201 – 216 [GPa]
Resistência Mecânica 320 – 400 [MPa]
Em termos de propriedades específicas vem:
𝐸´ 𝑎𝑙 =76
2.7= 28.15 [𝐺𝑃𝑎 ∗ 𝑚3/𝑘𝑔] 𝑅𝑒´ 𝑎𝑙 =
242.5
2.7= 89.81 [𝐺𝑃𝑎 ∗ 𝑚3/𝑘𝑔]
𝐸´ 𝑎ç𝑜 =208.5
7.83= 26.63 [𝐺𝑃𝑎 ∗ 𝑚3/𝑘𝑔] 𝑅𝑒´ 𝑎ç𝑜 =
360
7.83= 45.98 [𝐺𝑃𝑎 ∗ 𝑚3/𝑘𝑔]
Nota: λ´ significa propriedade específica
O quadro, em termos mecânicos, pode ser analisado como uma estrutura articulada formada pela
associação de células triangulares. Basta para tal desprezar a transmissão de momentos nas
ligações rígidas bem como possíveis cargas aplicadas fora dos nós. Estas considerações são
claramente plausíveis no plano vertical do quadro. Vemos então que o dimensionamente crítica
será precisamente à rigidez, uma vez que apresentam valores de rigidez específica semelhantes.
Al 6061 T6
Densidade 2.67 – 2.73 [kg/m^3]
Módulo de Young 68 – 84 [GPa]
Resistência Mecânica 195 – 290 [MPa]
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
92
MNM 2015/2016
Na figura seguinte pretende-se ilustrar precisamente a diferença de design dos quadros
em aço e dos quadros em alumínio.
De entre as mais utilizadas temos as 6061-T6 sujeitas a tratamento térmico com
envelhecimento artificial, e as 7005 que podem ser tratadas termicamente (quadros de gama alta)
ou não tratadas (quadros mais económicos mas também mais frágeis). Uma outra vantagem destas
ligas prende-se com a sua grande resistência à corrosão quando comparada com as ligas ferrosas
não inoxidáveis.
Ao contrário dos quadros em aço, o problema aqui da falha por fadiga já tem
obrigatoriamente que se colocar. Em termos médios as ligas de alumínio 6XXX e 7XXX
apresentam valores de tensão limite convencional de fadiga a 10^7 ciclos entre 57 – 210 MPa
consoante o tratamento térmico. Valores estes que podem ser atingidos com solicitações mais
intensas. Como é sabido, o alumínio apresenta uma estrutura CFC que não lhe confere uma
assintota horizontal na curva de Wöhler para elevados ciclos (Silva 2012). Em consequência deste
comportamento mecânico os quadros em ligas de alumínio estarão mais sujeitos a falhas por
fadiga e terão menor resistência em caso de queda ou grandes impactos.
Figura 81: À esquerda temos um quadro em aço chromoly, cedido pela Colombus®, e à direita um quadro em alumínio
6061 da Venzo®.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
93
MNM 2015/2016
Uma outra liga usada na produção de quadros de alta performance são as ligas de titânio.
As mais utilizadas na produção de quadros de bicicletas são as Ti-3Al/2.5V (com 3% de Alumínio
e 2.5% de Vanádio) e por vezes a Ti-6Al/4V (6% de Alumínio e 4% de Vanádio). Sendo que esta
última apresenta uma soldabilidade e maquinabilidade inferior. Estas apresentam resistências à
corrosão compatíveis com aplicações como pás de turbinas para gases a elevadas temperaturas,
pás de motores de Joule-Brayton ou fuselagens de aviões militares. Por outras palavras, para as
condições a que um quadro estará sujeito podemos afirmar que estas ligas são imunes à corrosão.
A elevada resistência mecânica destas ligas permite reduções de massa bastante significativas
face aos quadros em aço ou alumínio. A sua resistência à fadiga e ao impacto também ultrapassam
qualquer quadro nas ligas anteriores.
Tabela 13: Principais propriedades mecânicas e densidade da liga de titânio Ti-3Al/2.5V. (Design 2015)
Contudo, dado que o titânio é pouco abundante à superfície da terra, e o seu processo de
extração também não contribui para custos da matéria-prima interessantes para a indústria das
bicicletas, o uso desta liga não teve a expressão que muitos imaginariam. Para além disso
dificuldades como:
Necessidade de soldadura por processo TIG (Tungsten Inert Gás);
Complexidade de fabrico;
Dificuldade em operações de conformação e maquinagem como dobragem e
corte;
Elevada procura, por parte da indústria aeronáutica, desta matéria-prima;
têm viabilizado economicamente o seu uso apenas em quadros de alta performance sujeitos a
solicitações mecânicas que o justifiquem. (Ribeiro 2013)
Atualmente o seu uso prende-se essencialmente com a comodidade de condução e
resistência em caso de queda. Em comparação com os quadros em material compósito, este
apresenta valores de rigidez ligeiramente inferiores, de tal maneira que o comportamento do
quadro em condução é tal como refere Rob Vandermark, criador da Extra Light®, “You can use
body English with a ti bike because it has some springiness that lets the bike react to you”. Para
além do que o comportamento em caso de queda, especialmente de quadros em compósitos de
reforço unidirecional, é pouco fiável e pode haver rotura com delaminação que pode provocar
ferimentos no utilizador. Sendo este excecioalmente superior nos quadros em titânio.
Ti-3AL/2.5V
Densidade 4.47 - 449 [Kg/m^3]
Módulo de Young (E) 91 - 95 [MPa]
Resistência Mecânica (Re) 483 - 620 [MPa]
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
94
MNM 2015/2016
A introdução dos compósitos de matriz polimérica reforçada com fibras de carbono teve
o seu início em 1986, com a construção do primeiro quadro parcialmente em CRP pela Kestrel®.
Sendo o primeiro quadro de Mountain Bike all-carbon construído pela mesma em 1988. Vemos
então que comparativamente com os restantes materiais de construção, estes surgirem numa fase
já bastante recente, sendo continuamente alvo de forte investigação. (Morgan 2005)
Olhando para as propriedades destes compósitos, tomando como exemplo a HMX® (pré-
impregnado de fibra de carbono de alto módulo de matriz maioritariamente epoxídica, cuja
composição não é discriminada) utilizada pela Scott® para a fabrico de quadros de bicicletas de
competição de estrada temos:
Tabela 14: Principais propriedades de mecânicas e densidade do prepreg HMX®, usado pela Scott®
HMX®
Densidade 1.54 [Kg/m^3]
Módulo de Young (E) 154 [MPa]
Resistência Mecânica (Re) 2950 [MPa]
Fazendo o mesmo exercício teórico realizado para as ligas de alumínio, temos:
𝐸´ 𝑝𝑟𝑒𝑝𝑒𝑔 =154
1.54= 100 [𝐺𝑃𝑎 ∗ 𝑚3/𝑘𝑔] 𝑅𝑒´ 𝑝𝑟𝑒𝑝𝑒𝑔 =
2950
1.54= 1915.6 [𝐺𝑃𝑎 ∗ 𝑚3/𝑘𝑔]
Notar que:
Não é possível olhar para estes valores de propriedades específicas de forma tão
cega é direta. Isto porque as propriedades referidas são avaliadas na direção de
alinhamento das fibras no tecido. De modo a obter um comportamento mais
anisotrópico por partes do componentes, estes tecidos são cortados e dispostos
entre si com ângulos de 0º/90º ou outras combinações como -45º/45º;
O processo de moldação do compósito irá também ter bastante influência nas
propriedades mecânicas do componente final. Esta influência do processo de
fabrico nos materiais compósitos é um tópico alvo de fortes estudos;
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
95
MNM 2015/2016
Processo de Fabrico
Neste subcapítulo serão analisados dois processos de fabrico de quadros em CRP. O
primeiro, desenvolvido pela Scott®, designado por IMP (Integrated Molding Process). Consiste
basicamente num híbrido Ply Cutting and Stacking Prepreg (PCSP) com uma tecnologia de
Bladder Molding Process (BM) (Morgan 2005). O segundo processo analisado, é o RTM, e é
apenas aplicado pela TIME® dentro de toda a indústria de produção de quadros. Estes dois
processos enquadram-se em filosofias de construção antagónicas. Daí a sua abordagem, na
tentativa de mostrar um pouco de cada uma destas realidades construtivas. O IMP segue a via dos
pré-impregnados, enquanto que o RTM preserva a individualidade quer da fibra quer da resina
até à transferência final. Contudo ambos convergem numa construção monocoque modular de
cada célula do quadro. A construção do quadro integral em monocoque já tentou ser
implementada no setor, contudo sempre sem grande sucesso. Umm das variáveis que constituiram
maior aposição foram as dificuldades tecnológicas de moldação e desmoldação.
Analisando em primeiro lugar o IMP. Como foi referido, este recorre a folhas de pré-
impregnados, com disposição uniaxial das fibras de carbono. Estas são já desenvolvidas pelo
fabricante em modelo de adhesive tape. Isto é, numa das camadas apresentam um ligante que
volatiliza durante a cura do pré-impregnado mas que permite a sua correta disposição e aderência
ao molde interno. O IMP inicia-se assim com o corte dos pré-impregnados:
Esta operação é altamente automatizada, sendo efetuada por máquinas ferramenta
programáveis;
Recorre-se a algoritmos que minimizem o desperdício de material e que permitem
a obtenção de geometrias com tolerâncias adequada
A eliminação quase por completo da mão-de-obra humana desta tarefa, com
exceção da disposição das folhas de pré-impregnado na mesa de corte por fixação
a vácuo, permite cadências de produção economicamente viáveis;
Figura: Esquema ilustrativo do conceito de Butting
aplicado aos varões que constituem o quadro de uma
bicicleta. (Ribeiro Pedro, 2013)
Figura 83: Pormenor do
display de visualização
da consola do aspeto
final do produto após
concluídas as operações
de corte. Cortesia da
Scott®
Figura 82: Pormenor da
consola e máquina de
corte das folhas ou
Layers de pré-
impregnado. Scott®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
96
MNM 2015/2016
O resultado final desta etapa, corresponde a um conjunto de folhas de pré-impregnados
que serão fixadas manualmente a um molde interno removível. Na figura seguinte ilustra-se um
estádio final da etapa de corte, onde se observa geometrias complexas e variadas destes pré-
impregnados, bem como o filme branco removível que protege a camada aderente. Em média,
estas prepreg sheets apresentam cerca de 65% a 70% em massa de fibra de carbono, sendo o
restante preenchido por um sistema de resina epoxídica e aditivos. (Milner 2014). Os pré-
impregnados usados são malhas unidirecionais (percentagem de fibras orientadas num mesmo
eixo superior a 90%). De modo a obter propriedades mais isotrópicas é necessário dispor os
segmentos recortadoos com orientações relativas distintas.
A pré-moldação é, como foi referido anteriormente, realizada manualmente. Moldes de
EPS revestidos com Latex® substituem a convencional câmara de ar usada no bladder molding.
O molde interno é completamente selado com a exceção do canal de admissão de pressão. Este
apresenta rigidez suficiente para suportar as várias camadas de pré-impregnado bem como alguma
pré-tensão introduzida pelo operador sem necessidade de insuflamento prévio. Para além do que
permite melhores acabamentos da superfície interna, nomeadamente nas concordâncias. Quando
comparamos com os bladder molds flexíveis, estes últimos geralmente conferem superfícies
enrugadas nas concordâncias entre tubos por impossibilidade de adaptação do material a essas
geometrias. Na figura seguinte ilustra-se estes moldes internos, fugindo o seu ciclo de fabrico em
paralelo à abordagem aqui realizada.
Figura 86: Conjunto de moldes internos de EPS revestido com uma
camada de Latex®, usados para a pré-moldação das várias folhas
de pré-impregnado. Scott®
Figura 85: Aspeto de uma bladder flexível convencional
utilizada na produção de quadros pela Felt Bicycles®
Figura 84: Aspeto final do
conjunto de telas de pré-
impregnados após corte
mecânico por máquina
ferramenta programável.
Scott®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
97
MNM 2015/2016
Segundo os engenheiros de produção da Scott®, esta pré-tensão permite maior
reprodutibilidade do processo e uma disposição relativa mais rigorosa das várias camadas,
consequentemente com obtenção de melhores comportamentos mecânicos por parte dos seus
quadros. As folhas previamente cortadas são dispostas com alinhamentos relativos de 0º,20º e
45º, em camadas que podem chegar até à sobreposição de 8 folhas. Esta maleabilidade construtiva
de gradientes de espessura permite ao projetista grande otimização do quadro, com reforço nas
seções críticas, e redução de peso nas seções de menor solicitação. Isto, sem necessidade de
recorrer a técnicas como o butting que introduzem um aumento significativo do custo produtivo.
No esquema seguinte expõe-se de forma resumida as diferentes tarefas realizadas pelos
operados. Notar a grande dependência desta etapa de mão-de-obra e a necessidade de controlo
rigoroso dos ângulos de disposição das folhas de pré-impregnado. O estudo da sua disposição
ótima é ainda infelizmente realizado por um processo iterativo de tentativa erro, de modo a obter
os melhores comportamentos mecânicos. Sendo que são os próprios engenheiros da empresa a
fazer estas moldações em testes.
Uma única célula posterior do quadro contem mais de 220 folhas recortadas de pré-
impregnado. O quadro apenas é construído em monocoque quando analisado a nível celular. Isto
é, o triângulo anterior irá sofrer um processo exatamente idêntico, e posteriormente estas duas
células serão unidas recorrendo a um adesivo estrutural epoxídico, cuja composição por questões
de competividade de mercado não é obviamente revelada, e a uma técnica de Second Layer
Bounding. (Milner 2014)
Figura 87: Discriminação das sequências da etápa de pré-moldação. Scott®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
98
MNM 2015/2016
Comparando com uma construção clássica tubo a tubo, este processo de construção
apresenta vantagens quer a nível estrutural, quer a nível de implementação tecnológica do
processo. Permitindo redução de peso e aumento da rigidez do quadro, bem como cadências
produtivas mais interessantes para a própria indústria. Na figura seguinte pretende-se ilustrar
precisamente esta relação entre as propriedades mecânicas e solução construtiva.
Após a pré-moldação, segue-se então a cura recorrendo à tecnologia de Bladder Molding.
O molde interno revestido pelo compósito é introduzido num molde metálico de duas superfícies
de moldação que é devidamente fixado.
Aplicando-se uma pressão interna na Bladder até cerca de 12Bar, assegura-se um correto
equilíbrio de pressões. A cura do compósito é realizada a 130ºC com aplicação simultânea de
pressão, num ciclo térmico que dura aproximadamente 40 minutos. (Milner 2014)
Figura 90: Na figura da esquerda temos a entrada do molde nos fornos dispostos em cascata de maneira a otimizar o
processo de cura. À direita temos em pormenor a alimentação pneumática da internal bladder. (Imagens cedidas pela
Scott®)
Figura 89: Registo do aspeto
prévio à cura da célula
dianteira do quadro. Scott®
Figura 88: À esquerda temos em
corte a interseção superior da
coluna de direção de um quadro
em construção tubular, de um
modelo descontinuado. À direita,
novamente em corte, a mesma
seção mas de um quadro em
construção monocoque. Ambos
oos quadros fabricos em material
compósito de matriz polimérica
reforçada com fibra de carbono.
Scott®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
99
MNM 2015/2016
Seguidamente, concluída a cura do compósito, o molde metálico geralmente de aço ou
alumínio é aberto e a internal bladder retirada. Como o material já se encontra com as suas
propriedades finais, esta desmoldação não acarreta riscos de comprometer a integridade estrutural
do componente.
As operações de maquinagem posteriores devem ser minimizadas, já que o material
encontra-se com a sua resistência e dureza máxima. Apenas são alvo de maquinagem seções de
interface com outros elementos, como a caixa que alojará o veio da pedaleira, a caixa que alojará
a coluna de direção ou o tubo de alojamento do espigão do selim e imperfeições de rebordos.
Construídas as duas células individualmente, a sua ligação de forma rígida dá-se por
aplicação de uma dupla técnica. Uma primeira união é feita recorrendo a um adesivo epoxídico.
De seguida, por um processo semelhante ao descrito, é aplicada uma segunda camada de pré-
impregnado nas zonas de união, técnica designada por Second Layer Bounding. Notar que em
várias aplicações da indústria automóvel a aplicação do adesivo estrutural representada de seguida
já apresenta um elevado grau de automação.
Figura 91: Aspeto do triângulo posterior após cura. Notar o acabamento superficial conseguido com
a aplicação da técnica de bladder molding. Scott®
Figura 92: Esquema que discrimina as várias etapas, a executar manualmente por parte do operador, na
aplicação do adesivo estrutural que irá garantir a correta e segura união das duas células do quadro no bottom
crank. Scott®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
100
MNM 2015/2016
Esta técnica de união de componentes apenas tem expressão na produção de quadros em
CRP. Já que como foi evidenciado anteriormente o processo comum tanto para as ligas ferrosas
com para as não ferrosas era a soldadura (havendo dentro desta, técnicas mais adaptadas a cada
tipo de liga). Isto especificamente no setor da construção de bicicletas. Uma vez que na indústria
aeronáutica e automóvel já se encontram inúmeras ligações entre compnentes metálicos
recorrendo precisamente a adesivos estruturais epoxídicos ou de outras resinas termoendurecíveis
(Ver revisão bibliográfica de resinas epoxídicas). (Goodman 1999)
O adesivo irá automaticamente iniciar um processo de cura à temperatura ambiente (room
temperature cure), contudo só após uma cura final em autoclave é que a ligação irá obter as suas
propriedades últimas. Como foi dito, para além do adesivo estrutural, como forma de reforçar a
ligação, bem como para obter aspetos estéticos mais apelativos, recorre-se posteriormente a uma
técnica de adição de uma segunda camada. Tal como o próprio nome indica, consiste na adição
de um segundo conjunto de camadas, envolvendo agora ambas as células em monocoque. Para
além dos benefícios mecânicos óbvios, confere um aspeto sólido e integral ao quadro, ao suavizar
as transições entre seções. Este novo componente leva uma cura em autoclave para garantir a
rigidez e resistência das ligações, permitindo a cura quer do pré-impregnado quer do adesivo
estrutural, bem como uma pós-cura da estrutura.
Finalizada a sua construção, o quadro é pintado numa sala limpa com tratamento de ar
independente, de modo obter acabamentos superficiais isentos de defeitos. O processo de pintura
é inteiramente manual por pistola pneumática.
Figura 93: Processo de ligação das
duas células que formam o quadro.
A verde realça-se as zonas de
ligação que serão posteriormente
curadas. Scott®
Figura 94: À esquerda temos o aspeto interior da sala limpa de pintura de pintura. Na figura da direita observamos em
pormenor o processo de pintura por pistola pneumática, bem como o equipamento necessário para a realização desta
tarefa com segurança. Scott®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
101
MNM 2015/2016
Os decalques são aplicados à mão, sobre os quais são ainda aplicados um filme protetor
para maximizar a sua durabilidade.
Em jeito de conclusão, gostaria de realçar a forte componente de mão-de-obra necessária
para a implementação deste processo. Para além do custo da matéria-prima (que consiste já num
subproduto) e seu armazenamento rigoroso e dispendioso (em câmara frigorífica a -20ºC).
(Morgan 2005). Esta componente vem de algum modo justificar assim os preços do produto final,
que podem chegar aos 4400€ para quadros com suspensão para bicicletas de montanha e aos
3000€ para quadros rígidos de bicicletas de competição de estrada (Tabela de preços Scott 2014).
Toda a informação referente ao IMP não referenciada localmente, foi disponibilizada pela
empresa Scott®. Atualmente dona do processo patenteado descrito anteriormente.
Figura 95: Pormenor da aplicação
manual dos decalques da marca.
Cortesia da Scott®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
102
MNM 2015/2016
Olhando agora para o RTM aplicado na produção de quadros da Time®. A primeira
grande diferença surge na matéria-prima e no modo de obtenção da mesma. Ao contrário das
restantes empresas do ramo, a TIME® produz a sua própria fibra de carbono nas suas instalações.
Com isto assegura um controlo de qualidade mais rigoroso e adota uma estratégia de integração
vertical que permite uma maior coordenação das várias cadeias produtivas e necessidades
produtivas. Nas figura seguinte ilustra-se o processo de enrolamento das fibras de carbono
juntamente com uma pequena percentagem de kevlar® e Vectan®, cuja espessura varia entre
5µm a 7µm, para a obtenção de fio híbrido de maior espessura que será entrelaçado (weaving
process) para a obtenção do tecido. Este fio híbrido é produzido com o intuito de melhorar as
propriedades de resistência ao impacto (para o qual contribui o Kevlar®) e uma melhor absorção
das vibrações causadas pela irregularidade do piso (para o qual contribui o Vectan®) sem grande
prejuízo das ótimas propriedades de resistência mecânica e rigidez destas.
.
Os tecidos tubulares utilizados apresentam padrão (weave) unidirecional* e bidirecional.
Estes últimos, com orientações que variam entre 15º e 60º permitem resistências à torção
superiores quando otimizado este entrançamento (interlacing) (Morgan 2005) para ângulos
próximos dos 45º (Moura Branco, Silva Gomes). São então utilizados para componentes
habitualmente sujeitos à torção por carregamento assimétrico da pedalada do ciclista. Como por
exemplo para a produção dos tubos constituintes de forquetas ou das barras inferiores da célula
traseira do quadro. Os primeiros, estão otimizados para uma maior resistência à flexão,
apresentando obviamente propriedades mais anisotrópicas. A utilização individual ou conjunta
destes dois tecidos nas várias seções do quadro é alvo de um estudo prévio de modo a otimizar o
material utilizado.
Figura 96: Na imagem superior, está
representada uma máquina de enrolamento de
filamentos de carbono para a produção dos fios
híbridos de fibra de reforço (yarns). Na imagem
inferior observa-se em pormenor o entrançar
dos fios de modo a obter um tecido tubular de
CF (Carbon Socks)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
103
MNM 2015/2016
Estes tecidos tubulares apresentam uma produção sem-fim, sendo cortados manualmente
consoante a sua aplicação. Por exemplo, o tubo superior do triângulo dianteiro necessita de
maiores comprimentos de tecido que os elementos tubulares do garfo da célula traseira.
Obtidos os diferentes tamanhos e espessuras do tecido tubular de CF, também designado
na gíria da especialidade por carbon socks, devido à sua geometria e flexibilidade. Estes são
colocados sobre moldes de cera ou metálicos. Estes últimos apenas são utilizados para
componentes lineares muito simples para permitirem a sua desmoldação. Os primeiros são
amplamente usados pois permitem a moldação de geometrias 3D complexas, com a possibilidade
de desmoldação simples por fusão do molde em cera, para além do que são economicamente mais
viáveis para pequenas séries. A moldação destas carbon socks, é inteiramente à mão, e exige
grande perícia do operador, havendo sempre necessidade de cozedura à linha nas uniões de duas
ou mais mangas tubulares de fibra.
O número de layers que serão dispostas dependerá da solicitação prevista em projeto para
essa zona, bem como se se trata de uma zona crítica de convergência de tubos como por exemplo
o anel da pedaleira (bottom Bracket Shell). Nesta zona em específico podemos ter até 30 camadas
sobrepostas. Enquanto que para uma zona de menor solicitação do quadro bastaria 5 a 8 destas
camadas de carbon socks. Tal como acontecia pela via dos pré-impregnados, assistimos a uma
grande liberdade de projeto ao termos a capacidade de dimensionar quase que de forma discreta
zona a zona consoante as suas necessidades.
A última camada de tecido fibroso é ligada com um adhesive binder para evitar distorções
dos padrões por manuseamento do componente e até mesmo na injeção (fenómeno designado por
fiber wash).
Figura 98: Aplicação final de um granulado de
material polimérico sobre as carbon socks para obter
uma superfície esteticamente mais elegante por
orientação de padrões. TIME®
Figura 97: Processo de moldação
manual dos tecidos tubulares de material
híbrido com destaque para a construção
por etapas do molde em cera nas figuras
superiores. Time®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
104
MNM 2015/2016
A injeção de resina ainda que a pressões
ditas intermédias, de modo a assegurar a
máxima inpregnação das fibras, provoca
movimentações destas, tanto maiores
quanto maior a pressão e velocidade de
injeção.
Este binder geralmente consiste num
termoplástico granulado que é
posteriormente fundido. Esta preocupação
tem uma componente estética, para que o
produto final tenha o aspeto característico
das telas em fibra de carbono. Contudo
permite assegurar que a orientação das fibras definida pelo projetista se mantenha mesmo após
injeção. Para que esta adira adequadamente, recorrendo a uma pistola pneumática de ar quente a
200ºC, funde-se o ligante termoplástico. Será a sua solidificação que irá assegurar a correta adesão
das várias camadas de fibra seca.
Fazendo ainda outro paralelo com o IMP descrito anteriormente, o fato de não haver uma ligação
física na construção destes elementos tubulares, ao contrário do enrolamento de folhas de pré-
impregnado, permite obter-se comportamentos mecânicos por parte destes quadros superiores.
Terminado o processo de moldação interna, é necessário preparar o molde externo
geralmente de alumínio para receber a transferência de resina. Este é devidamente limpo
recorrendo a um solvente orgânico alcoólico, e posteriormente à colocação do quadro este é
devidamente selado para que não haja fuga de resina. É importante referir que com o RTM
geralmente atingem-se pressões na ordem dos 3.5 a 7.5 bar. Contudo, ao contrário do IMP no qual
o fluido de pressão (ar) era retido na internal bladder, no RTM é o molde externo que efetua a
vedação. Havendo por isso maior preocupação com a montagem e selagem do mesmo.
Figura 100: Imagem representativa do processo de selagem do molde metálico
externo. Destaque para o pormenor de injeção de material polimérico com função
de vedação (silicone). TIME®
Figura 99: Pormenor da pistola de ar quente utilizada para a
pré-cura do binder de fixação. Para esta operação é
necessário a utilização de luvas de material refratário. TIME®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
105
MNM 2015/2016
Encontrando-se o molde metálico devidamente fechado e selado procede-se à
transferência da resina e posterior cura. De maneira a simplificar a comunicação, apenas se refere
a transferência da resina. Contudo, para além da resina é necessário também injetar catalisadores
de reação, agentes de cura e dependendo da viscosidade da resina e processo de fabrico, diluentes.
Pois, tal como foi referido no subcapítulo destinado às resinas termoendurecíveis, a sua
solidificação não se processa por arrefecimento da temperatura como no caso dos termoplásticos.
De maneira assegurar a impregnação total das fibras, o ciclo de aquecimento apresenta
um certo delay face ao ciclo de injeção. Estando a temperatura máxima de serviço limitada pela
temperatura de fusão da cera, 140ºC, a temperatura de cura nunca ultrapassa os 100ºC. O excesso
de resina injetada é extraído pelos canais de extração a branco, na figura seguinte. Com o intuito
de minimizar o número de espaços vazios e imperfeições (voids), esta dá-se com um gradiente de
pressão de vácuo até cerca de 4bar. Após a injeção, o sistema epoxídico fica a curar no molde
durante pelo menos 20 minutos.
Terminada a transferência da resina, segue-se a etapa de desmoldação do componente
agora curado. O processo de transporte do molde externo encontra-se, ao contrário das fases
anteriores, com alguma componente de automação em auxílio do operador. Isto é observado na
imagem anterior e nas duas imagens seguintes onde se verifica a existência de dois braços
hidráulicos robotizados que fazem quer o transporte do molde, bem como a sua abertura.
Figura 101: Pormenor da mistura
de reagentes com a resina
epoxídica pré-injeção. (TIME®)
Figura 102: Pormenor da máquina de
injeção de resina e aquecimento do
molde metálico para cura da resina.
TIME®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
106
MNM 2015/2016
Na figura seguinte destaca-se o aspeto imediatamente depois da abertura do molde. Notar
a existência de jitos de alimentação. Estes, tal como nos vários processos de injeção de polímeros
ou até na fundição de ligas metálicas, têm como objetivo evitar os rexupes por contração térmica
durante o arrefecimento.
Ao contrário dos quadros fabricados por um processo de Play Cutting and Stacking
Prepreg, o RTM está muitas vezes associado a excessos de resina. É então necessário uma etapa
do que o que na literatura inglesa é designado por sanding. O sanding consiste numa sequência
progressiva de polimento do quadro, começando com um desbastamento com lixas de grão
superior, aumentando progressivamente o número de grãos por área da lixa. Eliminando-se o
excesso de resina e obtendo-se um acabamento superficial superior.
Figura 103: Sequência de desmoldação do molde. Desde
o seu transporte e abertura automatizada, até à remoção
efetiva do quadro do molda, esta etapa já realizada
manualmente. TIME®
Figura 104: Pormenor dos jitos de
alimentação, bem como do aspeto
exterior do quadro. Este apenas é
conseguido devido à utilização de um
binder que assegura a fixação inter-
camadas.. ITME®
Figura 105: Pormenor da técnica de
sanding para preparação da superfície do
quadro. TIME®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
107
MNM 2015/2016
Após a cura individual de cada uma das células, é necessário a sua união rígida de modo
a obter-se por fim o quadro. Esta ligação efetua-se com recurso a um ligante polimérico. O ligante
que se observa na figura seguinte trata-se de uma mistura contendo um adesivo epoxídico irá fazer
a união após cura. As duas células são sujeitas a mais um ciclo térmico, agora em autoclave, que
permite a cura do adesivo epoxídico. Notar também que, devido à viscosidade da resina epoxídica,
durante este ciclo térmico a maior temperatura, também se processa uma pós-cura da resina. Nesta
fase, assiste-se a uma maior reticulação da matriz, obtendo-se agora as propriedades finais do
compósito.
Os processos de pintura e aplicação de decalques processam-se de maneira semelhante
ao referido para o processo implementado pela Scott®. Uma vez que do ponto de vista da ciência
e produção de materiais compósitos é uma etapa com menor importância, será agora omitida.
Importa por fim, tecer algumas considerações quando analisamos este processo de
produção, e relaciona-lo sempre quanto possível com o processo de IMP que aqui representou a
família dos pré-impregnados:
Grande necessidade de mão-de-obra, e poucas etapas com forte componente de
automação. Um pouco à semelhança do PCSP, mas neste o corte das layers de
pré-impregndo pode ser completamente automatizado. De modo a quantificar
esta grande dependência de mão-de-obra, olhando para dados estatísticos
observamos que por dia apenas são curados no máximo 8 quadros (conjunto das
duas células). Encontrando-se a média em torno de 6 quadros por dia de trabalho
fabril;
Custos de armazenamento idênticos a de um inventário comum. Ao contrário das
folhas de pré-impregnado que tem uma temperatura de conservação de cerca de
-20ºC. O que obriga recorrer a câmaras frigoríficas para o seu armazenamento. A
única varável que exigirá um controlo mais atento será o tempo de vida em
prateleira da própria resina (shelf lfe);
A capacidade de dimensionamento quase local que verificamos no processo
anterior, também aqui existe. A orientação relativa dos vários fios que constituem
o padrão de entrelaçamento, permite otimizar as propriedades mecânicas do
compósito para os vários tipos de esforços. Podendo potenciar a resistência à
torção com orientações de 45º, ou por exemplo favorecer a resistência á flexão
com padrões unidirecionais;
Toda a informação referente ao RTM aplicado à construção de quadros em material compósito
CRP foi fornecida pela TIME®. O seu processo de produção de quadros em termos de produção
é aberto. Outros componentes como os dropouts são produzidos por um processo semelhante ao
Compression Molding (CM), contudo, este ainda se encontra sobre proteção da patente.
Figura 106: Aspeto do
adesivo estrutural, que
consiste numa mistura não
discriminada, contendo uma
resina epoxídica. TIME®
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
108
MNM 2015/2016
Capacete
O capacete tem como principal função
proteger a cabeça do ciclista em caso de
queda, embora também sirva outras funções
como tapar a luz solar e aumentar a
aerodinâmica.
Um capacete possui várias partes
(identificadas na imagem ao lado) feitas em
polímeros, sendo elas: a camada absorvente
da energia de impacto, o casco e as tiras.
Alguns acessórios e o forro podem também
ser fabricados em materiais poliméricos,
mas estas pequenas partes não serão
abordadas.
A camada absorvente da energia de
impacto, também conhecida como camada
EPS é, como o nome indica, feita em
poliestireno expandido (EPS) e é a parte
mais importante de um capacete visto que é
responsável por absorver a energia resultante do impacto e proteger a cabeça do ciclista, e sem a
qual um capacete seria um acessório puramente estético. No caso de uma queda espera-se que
esta camada quebre numa tentativa de absorver o choque, daí que quanto maior for a camada
maior será também a proteção. Muitas vezes é necessário inserir reforços dentro do EPS de modo
a mantê-lo unido no caso de uma quebra, como se pode observar na imagem ao lado. Nestes
reforços podem ser usados vários materiais,
tais como: poliamida, polipropileno ou ainda
metal. Isto acontece para se poderem abrir
maiores entradas de ar, o que terá como
consequência o casco não ser suficiente para
manter o EPS unido. O EPS pode ser
fabricado de modo a se obterem diferentes
densidades, e o capacete pode ter camadas
EPS com diferentes densidades em diferentes
partes de modo a que estas camadas partam
em determinada ordem. Atualmente, embora
seja muito pouco comum, existem também
camadas absorventes de energia que são
feitas noutros materiais como polipropileno
expandido ou poliuretano expandido. (Bike Helmet Safety Institute 2015)
O casco é normalmente fabricado em politereftalato de etileno (PET) embora, como acontece em
muitos outros componentes, também possa ser fabricado em compósito de fibra de carbono de
modo a se obter uma leveza menor. Como já referido, o casco tem como objetivo manter o EPS
unido após quebra. Para capacetes mais caros o casco pode ainda ser colocado no molde em que
o poliestireno será expandido, mas neste caso o material utilizado terá de ser substancialmente
mais resistente à temperatura (policarbonato, por exemplo). É possível até a obtenção de vários
cascos a diferentes níveis dentro do EPS. Esta técnica poderia ser utilizada com o fim de obter
capacetes mais resistentes, mas os fabricantes utilizam-na com o objetivo de aumentar as entradas
Figura 107 - Identificação das partes de um capacete
(imagem cedida pela Bell®)
Figura 108 - Reforços na camada EPS (imagem cedida
pela Specialized®)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
109
MNM 2015/2016
de ar, eventualmente mantendo apenas as exigências legais mínimas. (Bike Helmet Safety
Institute 2015)
As tiras podem ser fabricadas em poliamida ou polipropileno, sendo a poliamida mais comum. O
objetivo das tiras é segurar o capacete na cabeça do ciclista tanto em andamento como durante
uma queda. (Bike Helmet Safety Institute 2015)
Neste trabalho iremos abordar apenas o processo de fabrico mais comum, que é o que consiste no
fabrico de um casco e de uma camada EPS em separado, com posterior inserção das tiras e
colagem.
Começando pela produção do casco, uma folha de politereftalato de etileno previamente pintada
é colocada num forno e aquecida até 65 °C. Um molde metálico com a forma desejada é
empurrado contra a folha de PET aquecida, o que faz com que a folha adote a forma desejada. As
imagens seguintes ilustram o estado da folha de PET antes e depois da conformação. (How It's
Made 2014)
Em
paralelo processa-se a produção de EPS, partindo de
grãos de poliestireno. Efetua-se uma passagem de ar
quente pelos grãos de modo a inchá-los, e segue-se um
arrefecimento para estabilização mecânica por umas
horas. O novo granulado de poliestireno com muita
menor densidade é então insuflado e compactado num
molde. No entanto é preciso ainda uma passagem de
vapor de água pelos grãos já conformados de modo a
consolidá-los, já que sem esta operação o molde desfar-
se-ia muito facilmente. (How It's Made 2014)
A produção das tiras é efetuada de forma quase totalmente automática, sendo que uma máquina
trata de cortar e coser a tira de poliamida. (How It's Made 2014)
Depois de todas a partes discriminadas estarem prontas, um operário é responsável por colar o
casco à camada EPS. As tiras são, por vezes, coladas entre a camada EPS e o casco, embora a
maneira mais comum de as ligar ao resto do capacete consiste em inseri-las em determinadas
ranhuras previamente existentes no capacete, visto que este método é bastante mais simples. (Bike
Helmet Safety Institute 2015)
Figura 111 - Folha de PET pintada antes da conformação
e molde metálico (How It's Made 2014) Figura 110 - PET moldado sobre o molde (How It's
Made 2014)
Figura 109 - Granulado de poliestireno antes
da expansão (How It's Made 2014)
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
110
MNM 2015/2016
Conclusões
A bicicleta apresenta-se como uma grande invenção para humanidade. Como se procurou
mostrar, foi o resultado de uma lenta e progressiva evolução que levou ao mecanismo mais
eficiente de conversão de movimento que atualmente temos.
A presente equipa de trabalho encarou este projeto desde o seu início como uma
ferramenta didática que pretendia para além de conferir bagagem teórica aos seus elementos,
fomentar o espírito de iniciativa e interesse pela temática.
Os conhecimentos relacionados com a natureza dos materiais poliméricos e compósitos
transmitidos de forma clara pelo professor António Marques, foram ampliados e cementados, para
o qual contribuiu quer a vasta bibliografia de referência consultada, bem como erros e dificuldades
que foram ultrapassadas com o acompanhamento contínuo e sempre atento do professor.
Contudo, este trabalho não se resume a um compêndio teórico de informação sobre a
ciência dos materiais. A abordagem prática do processo de fabrico de vários componentes comuns
a todos os velocípedes, permitiu criar uma nova perspectiva sobre as vastas possibilidades dos
materiais compósitos e confrontar-nos com questões produtivas demasiado familiares para nunca
terem sido levantadas.
Atualmente existem diversas soluções construtivas para quadros de bicicletas de elevados
requisítos. As soluções abordadas diferem na filosofia de produção. Verificando-se contudo que
ambas resultam de um equilibrio de propriedades finais e aspetos produtivos. O mesmo se aplica
aos capacetes. Já nos pneus e câmaras-de-ar verifica-se o oposto: o processo de fabrico utilizado
é praticamente o mesmo em todo o lado e tem sido assim à vários anos. Significará isto que sse
encontrou um processo de fabrico quase perfeito, ou que talvez se devesse investir em procurar
outro tipo de solução?
Em suma, podemos concluir que a bicicleta é de facto um objeto de estudo interessante e
muito complexo se se decidir aprofundar o conhecimento sobre ela. Aquilo que por vezes pode
parecer um objeto bastante simples e historicamente estático com o qual contactamos diariamente
acaba por se revelar um objeto em desenvolvimento contínuo que faz uso dos mais modernos
materiais e técnicas de produção, principalmente quando focamos o ramo competitivo. Só o facto
de que se tem em conta o tempo, com resolução ao segundo, que um melhoramento no material
provoca numa corrida de kilómetros de distância prova-o.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
111
MNM 2015/2016
Trabalhos Futuros
Ao longo da realização do presente trabalho, os elementos do grupo foram detetando
pequenos aspetos menos explorados ou ainda com grande potencial de desenvolvimento. Para
além de toda a bagagem científica e de cariz prático que os vários elementos de trabalho foram
adquirindo, surgem também novas questões e desafios. De seguida apresentam-se então todas as
considerações tecidas que, na nossa opinião, teriam relavância para serem alvo de pesquisa e
investigação quer por elementos da equipa, quer por técnicos da especialidade.
Um aspeto que seria interessante estudar, consiste nas aplicações e propriedades de
utilização de compósitos de matriz polimérica de material elastomérico. Elementos que para além
de requisitos mecânicos clássicos como rigidez e resistência, pedem propriedades de resistência
ao impato muitas vezes incompatíveis com essas exigências de projeto. Como aplicações
concretas referentes ao tema em estudo, poderiamos sugerir os garfos dianteiros também
designados por forquetas.
A estas, geralmente se pede o máximo de rigidez à flexão e torcional, nomeadamente para
aplicações de competição em estrada. Contudo, existem atualmente competições que em termos
técnicos exigem ao ciclista aspetos idênticos às corridas em estrada, mas que se realizam
propositadamente em terreno semi-irregular. Ora, as únicas bicicletas tecnologicamente
preparadas para essa tarefas são bicicletas hardtail com suspensão dianteira de baixo curso.
Naturalmente sobredimensionadas para este fim, estas estão preparadas para terrenos bastante
mais acidentados. A redução de peso hipotética por utilização de uma forqueta rígida em material
compósito de matriz elastomérica, poderia ser significativa. Sendo obviamente necessário
responder a questões como flexibilidade excessiva, resistência mecânica, tolerância à radiação
solar, etc...
Olhando agora mais para os processos de fabrico. Analisando em primeiro lugar os
processos de fabrico de quadros. Seria interessante estudar possíveis soluções de automatização
do processo de pré-forma das folhas de pré-impregnado.
Tal como foi referido ao longo do projeto, a utilização de matrizes termoplásticas de
elevada performance é praticamente insignificante na indústria do ciclismo, limitando-se
essencialmente a aplicações no setor aeronáutico. Possivelmente, ainda num futuro próximo, com
o avanço dos pré-impregnados de matriz termoplástica, poderemos assistir ao fabrico de quadros
recorrendo precisamente a estes semiprodutos. Mostrando-se a equipa de trabalho
suficientemente motivada para iniciar estudos neste campo.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
112
MNM 2015/2016
Referências Bibliográficas
Bea Green Commuter: http://beagreencommuter.com/
Akiba, M. and A. S. Hashim (1997). "Vulcanization and crosslinking in elastomers." Progress in
Polymer Science 22(3): 475-521.
António, T. M., et al. (2013). Materiais de Construção, PubLindústria.
Antunes, V. (2007). Introdução aos Polímeros.
Askeland, D. and P. Fulay (2008). Essentials of Materials Science & Engineering, Cengage
Learning.
Bike Helmet Safety Institute (2015).
Buckley, J. D. and D. D. Edie (1993). Carbon-carbon materials and composites, William
Andrew.
Campbell, F. C. (2010). Structural Composite Materials, ASM International.
Carley, J. F. (1993). Whittington's Dictionary of Plastics, Third Edition, Taylor & Francis.
Cha, K. K. (2013). Composite Materials: Science and Engineering, Springer New York.
Chawla, K. K. (2012). Carbon Fiber/Carbon Matrix Composites. Composite Materials,
Springer: 293-307.
Cheremisinoff (1989). Handbook of Polymer Science and Technology, Taylor & Francis.
Coddington, D. M. (2001). Elastomers, Butylene. Encyclopedia of Materials: Science and
Technology (Second Edition). K. H. J. B. W. C. C. F. I. J. K. M. Veyssière. Oxford, Elsevier:
2456-2457.
Composi, A. S. (1994). American Society of Composites, Ninth International Conference
Proceedings, Taylor & Francis.
da Silveira, M. O. (2010). Mobilidade Sustentável: A bicicleta como um meio de transporte
integrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Design, G. (2015). CES Edupack.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
113
MNM 2015/2016
Eric Holroyd, H. L. P., Anthony Gerald Goodfelow (1976). Method of manufacturing tire inner
tubes.
FAA, U. S. (2012). Aviation Maintenance Technician Handbook-Airframe. U.S.A, U.S
Department of Transportation Federal Aviation Administration.
Gagliardo, D. P. and N. T. Mascia (2010). "Análise de estruturas sanduíche: parâmetros de
projeto." Ambiente Construído 10: 247-258.
Gates (2015).
Geocities (2015). Geocities.
Gomes, J. S. (2004). Mecânica dos Sólidos e Resistência dos Materiais, INEGI.
Goodman, S. W. (1999). Handbook of Thermoset Plastics, 2nd Ed, Elsevier Science.
Hammami, A. and A. Al Zarouni (2006). "INVESTIGATION OF THE RTM/BLADDER
MOLDING PROCESS."
Harris, D. K. (1953). "Health problems in the manufacture and use of plastics." British journal
of industrial medicine 10(4): 255.
Hendrick, D. (2006). The Possibility of Mobility: Women. American Studies Program,
University of Virginia.
How It's Made (2014).
Kraton (2015).
Kricheldorf, H. R., et al. (2004). Handbook of Polymer Synthesis: Second Edition, CRC Press.
Lee, H. and K. Neville (1967). Handbook of epoxy resins, McGraw-Hill.
Lee, S. M. (1992). Handbook of Composite Reinforcements, Wiley.
Lee, S. M. (1995). Dictionary of Composite Materials Technology, Taylor & Francis.
MadeHow (2015).
Mazumdar, S. (2001). Composites Manufacturing: Materials, Product, and Process Engineering,
CRC Press.
Componentes e Associados de Bicicletas Produzidos em Materiais
Poliméricos e Compósitos de Matriz Polimérica
114
MNM 2015/2016
Milner, D. (2014). Revealing the Secrets behind Carbon Frame Manufacturing. Mountain Bike
Rider. United Kingdom, TimeInc.UK. 2015.
Morgan, P. (2005). Carbon Fibers and Their Composites, Taylor & Francis.
Peters, S. T. (2013). Handbook of Composites, Springer US.
Potter, K. (2012). Resin Transfer Moulding, Springer Netherlands.
Rezende, M. C. and E. C. Botelho (2000). "O uso de compósitos estruturais na indústria
aeroespacial." Polímeros 10(2): e4-e10.
Ribeiro, P. M. T. (2013). Análise Dinâmica de um Quadro de Bicicleta. Engenharia Aplicada.
Porto, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
Royalciclo (2008).
Sarin, V. (2014). Comprehensive hard materials, Newnes.
Schwalbe (2015).
Semegen, S. T. (2001). Natural Rubber (Hevea): Elastomeric Properties. Encyclopedia of
Materials: Science and Technology (Second Edition). K. H. J. B. W. C. C. F. I. J. K. M.
Veyssière. Oxford, Elsevier: 5957-5959.
Shimano (2015).
Silva, J. (2005). Pré-Impregnados de Matriz Termoplástica: Fabrico e Transformação por
Compressão a Quente e Enrolamento Filamentar. Engenharia Mecânica, Universidade do Porto.
Mestrado.
Silva, L. F. M. d. (2012). Comportamento Mecânico dos Materiais.
Speedplay (2015).
Technomic (1998). SPI/CI International Conference and Exposition 1998, Taylor & Francis.
Wang, R. M., et al. (2011). Polymer Matrix Composites and Technology, Elsevier Science.
Wikipedia (2015). Wikipedia.
Witten, D. E., et al. (2014). Composites Market Report 2014: 44.