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COMPLEXIDADE E

COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE

PRODUÇÃO

Darlan José Roman (UFSC)

[email protected]

Rolf Hermann Erdmann (UFSC)

[email protected]

Este artigo é parte de dissertação de mestrado que encontra-se em fase

de desenvolvimento. Discute-se as contribuições da abordagem

complexa no contexto das organizações empresariais, focando a área

de produção. Inicia-se com a apresentaçãoo e discussão da

complexidade no âmbito das organizações. Em seguida, discute-se as

contribuições do pensamento complexo no sentido de melhorar o

desempenho de sistemas de produção. Destaca-se a importância das

relações complexas nos sistemas. Neste sentido, descreve-se a idéia dos

fatores de competitividade como elementos capazes de fortalecer as

inter-relações de um sistema de produção, potencializando, desta

forma, os resultados, conforme os princípios sugeridos pela

abordagem complexa. A identificação, caracterização e validação dos

fatores de competitividade é o objetivo a ser alcançado por este

trabalho. O processo de identificação dos fatores será feito a partir da

literatura vigente e a validação a partir de pesquisadores e

profissionais atuantes na área. O trabalho encontra-se em fase de

desenvolvimento. Sendo assim, os resultados apresentados neste artigo

são parciais. Após a validação dos fatores será possível a construção

das assertivas que irão compor um instrumento de análise em sistemas

de produção. Este instrumento de análise se fundamenta nas relações

complexas existentes.

Palavras-chaves: Teoria da Complexidade, Administração da

Produção, Desempenho Organizacional

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

Mesmo não sendo possível identificar a complexidade de forma clara na história das

organizações empresariais, certamente seus fundamentos estiveram presentes no seu

desenvolvimento que se deu ao longo do tempo. Nos dias atuais, é fato que a Teoria da

Complexidade assume caráter importante no ambiente organizacional, tanto nas ações

cotidianas como no direcionamento estratégico das ações futuras.

No atual cenário de competição estabelecido entre organizações, não é mais possível

conseguir diferenciação atuando com o foco "de dentro para fora". Ou seja, cada vez mais as

variáveis ambientais (cliente, meio ambiente, aspectos econômicos) aparecem como ponto

chave, muitas vezes assumindo importânca decisiva para a permanência no mercado.

Não raras vezes as empresas idealizam projetos complexos de melhoria do produto, alterando

processos e operações, imaginando serem essas mudanças exatamente o que o cliente almeja.

No entanto, essas mudanças podem se mostrar irrelevantes na percepção do cliente. Da

mesma forma, uma tecnologia de produção em desacordo com a legislação ambiental pode

causar consequências negativas no orçamento e imagem da empresa.

Desta forma, se evidencia a complexa relação que o sistema empresa estabelece com seus

subsistemas e com o ambiente. Neste sentido, este artigo tem o objetivo de analisar como as

inter-relações existentes em um sistema de produção podem se fortalecer e garantir melhor

desempenho e competitividade. O fortalecimento das relações se dá por meio de fatores de

competitividade, sendo estes o elo entre as partes. A identificação, caracterização e validação

dos fatores são o objeto de discussão nesta abordagem.

Para entender como se estabelece as relações em um sistema de produção e melhor explorar o

ambiente da produção a partir da ótica da complexidade, estabeleceu-se categorias de análise,

desenvolvidas pelo NIEPC (Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Gestão da Produção e

Custos) da Universidade Federal de Santa Catarina. a partir do modelo do professor Chris

Voss da London Business School sobre as boas práticas do Benchmarking Industrial

(HANSON; VOSS, 1995), em que a produção enxuta, os sistemas de manufatura, a

engenharia simultânea, a qualidade total e a organização e cultura formam a base dos

principais componentes do modelo.

Partindo-se da abordagem complexa, acredita-se que o fortalecimento das inter-relações entre

as categorias pode contribuir sobremaneira para o aumento da eficiência de um sistema

produtivo, e que essas relações são fortalecidas quando se atua com o foco em elementos

geradores de competitividade, chamados aqui de fatores de competitividade. A busca pelos

fatores de competitividade encontra-se em fase de desenvolvimento, sendo que serão

apresentados neste trabalho os resultados alcançados até o momento. Conhecidos os fatores, o

passo seguinte será a elaboração de um instrumento de análise organizacional, baseado em

assertivas.

2. Complexidade e Organizações Empresariais

Entrado no ambiente das organizações, admite-se que a organização está aberta ao

entendimento de novos comportamentos, modelos organizacionais e seus contínuos

ajustamentos, interagindo com sistemas e com seu ambiente. Assim, reconhece-se uma

estrutura composta de partes integradas: administração, pessoas, funções, onde cada alteração

em uma delas, afetará as demais..Um dos principais desafios organizacionais é a adaptação a

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um ambiente que se altera de maneira mais rápida do que as organizações. Esse aspecto se

torna ainda mais crítico em empresas orientadas pelo paradigma mecanicista.

Em algum estágio do desenvolvimento capitalista houve uma transformação do conceito de

organização. Esta transformação se inicia a partir do momento em que as organizações

passaram a ser fins em si mesmas. Em conseqüência, passa-se a usar máquinas como

metáforas para trabalhadores e o mundo se molda a partir de princípios mecanicistas. Logo, a

idéia de associação humana destinada a viabilizar a concretização de objetivos

predeterminados é distorcida pela exigência de horários rígidos, agressiva racionalização,

tarefas repetitivas e formas severas de controle.

Vivemos, no campo dos modelos administrativos e gerenciais, um período de

ruptura. E a maneira mais usual de caracterizar esta ruptura tem sido explorar o

esgotamento do modelo taylorista-fordista e o aparecimento de modelos de

especialização flexível, baseados em conceitos de sistemas abertos e cibernética. A

idéia de complexidade e caos ambiental, impondo configurações internas igualmente

instáveis e caóticas, tem um apelo irresistível para as organizações assoladas por

crises que procuram decifrá-las para sobreviver (WOOD JUNIOR, 2004, p. 45).

O Paradigma da Complexidade é complementado pela Teoria do Caos e a Teoria dos

Sistemas. As três abordagens englobam uma forma inédita de olhar os sistemas complexos.

Apesar de não serem campos impermeáveis, essas abordagens tem fronteiras mal definidas e

consideráveis interfaces, que compõem uma nova configuração de idéias para o estudo de

sistemas e organizações (WOOD JUNIOR, 2004).

Convencionalmente, uma organização é definida como um grupo de pessoas com um objetivo

comum. Uma entidade distinta, separada do seu meio. Há um limite claro separando-a do seu

meio. “As necessidades de mudança crescem no exterior da organização. Essa mudança é

prevista ou a organização reage ou adapta-se” (STACEY, 1995, p. 528). O meio está repleto

de possibilidades e a organização, para se manter em operação, estabelece mecanismos que

possibilitem a seleção das melhores alternativas.

Com o exemplo de uma tapeçaria, Edgar Morin esclarece a complexidade no ambiente

organizacional:

Tomemos uma tapeçaria contemporânea. Ela comporta fios de linho, de seda, de

algodão e de lã de várias cores. Para conhecer esta tapeçaria seria interessante

conhecer as leis e os princípios relativos a cada um desses tipos de fio. Entretanto, a

soma dos conhecimentos sobre cada um desses tipos de fio componentes da

tapeçaria é insuficiente para se conhecer esta nova realidade que é o tecido, isto é, as

qualidades e propriedades próprias desta textura, como, além disso, é incapaz de nos

ajudar a conhecer sua forma e sua configuração (MORIN, 2007, p. 85).

Nessa tapeçaria os fios não estão dispostos ao acaso, mas organizados em função de um

roteiro, de uma unidade sintética onde cada parte contribui para o conjunto. E a própria

tapeçaria é um fenômeno perceptível e cognoscível, orientado pela complexidade de funções e

interações, que não pode ser explicado por nenhuma lei simples (MORIN, 2007).

As constantes situações de mudança forçam cada vez mais as organizações a incorporarem

mecanismos de resposta, ou seja, mecanismos que ofereçam condições de adequação do

sistema levando em consideração a complexidade do meio. A partir disso, é possivel

visualizar as organizações empresariais como mecanismos redutores da complexidade.

Percebe-se que “a complexidade das estruturas socioeconômicas e a consequente

complexidade dos mercados em que as organizações interagem, praticamente obrigam as

organizações a adotar uma visão mais ampla de suas estruturas e métodos de gerenciamento”

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(CARDOSO; SERRALVO, 2009, p. 61). Em mercados cada vez mais turbulentos, o

gerenciamento de organizações deve buscar a integração entre o racional (eficiência,

produtividade, metas) e o irracional (fator humano).

Agostinho (2003) descreve as organizações como Sistemas Adaptativos Complexos (SACs),

pois exibem a capacidade de responder às pressões sem que a ação de cada integrante tenha

que ser prescrita por uma autoridade, isto é, o sistema possui capacidade para se auto-

organizar. O sistema adaptativo complexo, portanto, vislumbra subsistemas interligados que

se retroalimentam (mecanismos de feedback), tal que a modificação em um provoca efeito em

outro, além das modificações externas do meio ambiente. A organização não deve ser

considerada em partes isoladas, nem tão pouco vista apenas como o todo, ignorando as partes

(MORIN, 2007).

Sistemas adaptativos complexos são organizações em redes formadas por inúmeros

agentes, os quais são elementos ativos e autônomos, cujo comportamento é

determinado por um conjunto de regras e pelas transformações a respeito de seu

desempenho e das condições do ambiente imediato. Esses agentes aprendem e

adaptam seus comportamentos a partir das pressões de seleção presentes. O

comportamento global do sistema emerge, então, como efeito da combinação das

interações (não-lineares) entre os diversos componentes (AGOSTINHO, 2003, p.

28).

A auto-organização “é o processo em que os componentes comunicam espontaneamente entre

si e cooperam subitamente num comportamento comum, coordenado e concertado”

(STACEY, 1995, p. 545-546). No mundo dos negócios, isto significa a formação espontânea

de grupos de interesse e coligações à volta de determinados problemas, além da comunicação

sobre esses problemas, a cooperação e a formação de consensos e empenhos na resposta a

esses problemas.

Uma organização de tipo empresarial faz parte de um mercado. Ela produz objetos

ou serviços, coisas que se tronam exteriores a elas e entram no universo do

consumo. Ao produzir coisas e serviços, a empresa, ao mesmo tempo, se

autoproduz. Isto quer dizer que ela produz todos os elementos necessários para sua

própria sobrevivência e para sua própria organização. Ao organizar a produção de

objetos e de serviços, ela se auto-organiza, se auto-entreteém, se necessário se

autoconserta, e se as coisas vão bem, se autodesenvolve ao desenvolver sua

produção (MORIN, 2007, p. 86).

Nos sistemas adaptativos complexos, percebe-se que sua capacidade de responder às pressões

do meio deve-se, em grande parte, à autonomia de seus integrantes. Ainda que tal fato, até

certo ponto, entre em conflito com a idéia que se faz do que seja “ordem”, resultados globais

surpreendentemente ordenados emergem de interações entre indivíduos autônomos. “As

organizações vistas como sistemas complexos adaptativos devem exibir a capacidade de

responder às pressões sem que a ação de cada integrante tenha que ser prescrita por uma

autoridade, ou seja, elas devem ser capazes de auto-organizar-se” (AGOSTINHO, 2003, p.

10).

A Teoria da Complexidade é responsável pela disseminação da importância de promover uma

adequada interação entre as diversas partes que compõem um empreendimento, “de modo a

definir objetivos que atendam às necessidades básicas das partes, potencializem seus esforços

e levem a um melhor atingimento das metas propostas”.(CARDOSO; SERRALVO, 2009, p.

61-62). Logo, o fortalecimento das relações entre as diversas partes da organização emerge

como um ponto chave a ser considerado quando se fala em produtividade, competitividade e

lucratividade.

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Qualquer sistema, conforme Stacey (1995, p. 500), “constitui o meio ambiente para outros

sistemas, os quais, por sua vez, podem constituir uma parte do seu meio ambiente”. Assim,

uma mudança no interior de um sistema ocasionará perturbações em outros sistemas. Essas

perturbações acontecem simplesmente pelo fato de haver a interação entre sistemas. O meio

ambiente, portanto, não é algo adquirido e sim uma conseqüência da interação entre sistemas.

3. Contribuições da Teoria da Complexidade na Administração da Produção

A Teoria da Complexidade reforça o pensamento de que a maior interatividade entre as

diversas áreas que compõem um complexo organizacional, sendo processos ou pessoas,

promove melhores resultados frente à competitividade e mudanças bruscas incitadas por

variações ambientais. Como a abordagem complexa também prevê a evolução dos sistemas

interligados, há uma tendência de que a persistência destas relações acabe por gerar melhores

resultados.

O conhecimento interdisciplinar almeja ultrapassar o cartesianismo e a visão funcionalista da

simplificação e da dissecação, frequentemente usados como técnicas no universo científico.

Nesta linha, diferentes disciplinas encontram-se reunidas, onde existem trocas e cooperação,

configurando-se em algo orgânico. A abordagem interdisciplinar e multidimensional presente

no pensamento complexo não desconsidera o princípio de “separar para conhecer”, mas o

considera insuficiente. A partir de perspectivas particulares, conclusões parciais são obtidas.

Em outras palavras, não se pode conhecer o todo estudando as partes de forma isolada.

No sistema produtivo organizacional, a busca por eficiência é uma constante. Mudanças

ambientais obrigam a organização a se adequar e inovar em produtos e processos. Produção é

a geração de produtos que podem variar desde ferramentas e maquinaria até a recreação ou

informação, isto é, desde bens até serviços. “A administração da produção pode ser definida

como o gerenciamento dos recursos diretos que são necessários para obtenção dos produtos e

serviços de uma organização” (DAVIS; AQUILANO; CHASE, 2001, p. 24).

O sistema de produção compõe-se de subsistemas relacionando-se entre si. São partes que,

atuando segundo um conjunto de regras, atuam sobre as entradas, processando algo e

transformando-as em saídas, de acordo com os objetivos. Segundo Martins; Laugeni (2005, p.

12), “Sistemas de produção são aqueles que têm por objetivo a fabricação de bens

manufaturados, a produção de serviços ou o fornecimento de informações”.

Em um sistema produtivo ocorre uma série de inter-relações que se desencadeiam entre uma

gama variável de processos e operações que possibilitam a elaboração de um produto (bem ou

serviço). Para entender como se estabelecem as relações em um sistema de produção e melhor

explorar o ambiente da produção a partir da ótica da complexidade, o NIEPC (Núcleo

Interdisciplinar de Estudos em Gestão da Produção e Custos) da Universidade Federal de

Santa Catarina elaborou categorias de análise. As categorias criadas foram: Tempo de Ciclo;

Qualidade; Fábrica; Equipamentos e Tecnologia; Investimentos; Desempenho Operacional;

Gestão Ambiental; Política de Saúde e Segurança; Desenvolvimento de Novos Produtos;

Organização e Cultura.

Estas categorias foram estabelecidas com base no modelo do Professor Chris Voss da London

Business School sobre as boas práticas do Benchmarking Industrial (HANSON; VOSS, 1995),

em que a produção enxuta, os sistemas de manufatura, a engenharia simultânea, a qualidade

total e a organização e cultura formam a base dos principais componentes do modelo.

Partindo-se da abordagem complexa, acredita-se que o fortalecimento das inter-relações entre

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as categorias pode contribuir sobremaneira para o aumento da eficiência de um sistema

produtivo.

Num segundo momento, é oportuno considerar os benefícios da interdisciplinaridade. A perda

de uma visão do global pode resultar em prejuízos e conseqüências desastrosas. A razão

complexa, contudo, busca estabelecer um diálogo amplo entre as disciplinas, considerando o

fortalecimento do “todo” a partir da observância dos conhecimentos específicos das “partes”.

No sistema produtivo organizacional, as diversas categorias devem “conversar” entre si. A

interdisciplinaridade proporcionará, desta forma, a aproximação da multiplicidade de

processos e saberes que até então se encontravam separados. Como conseqüência, a fusão dos

saberes das diferentes categorias de um sistema produtivo resultará na configuração de um

novo conhecimento e maior capacidade para lidar com os problemas. Na Figura 1 podem-se

visualizar as diversas inter-relações presentes num sistema de produção.

Fonte: Elaborado pelos autores.a partir de dados secundários

Figura 2: Fortalecimento das relações por meio de fatores de competitividade

O fortalecimento das relações entre as partes que compõe um sistema produtivo irá contribuir

para a emergência do conhecimento interdisciplinar, ou seja, de um novo conhecimento.

Quando as partes se relacionam e discutem um determinado assunto surgem novas idéias e

sugestões que anteriormente não haviam ocorrido; ou seja, o todo em construção passa a ser

maior do que a soma de cada uma das partes.

4. Fatores críticos de competitividade vistos como elementos capazes de fortalecer as

inter-relações de um sistema de produção

O estudo do fator crítico é importante para que se consiga o método adequado para o

desenvolvimento de produtos, com a utilização das melhores práticas para excelência em

custos, qualidade e prazo e que possa capturar as necessidades dos consumidores, para que

estas sejam atendidas via o produto oferecido. A observação dos fatores críticos é

indispensável para que a organização consiga desempenhos melhores, atendendo assim as

exigências de sua missão. O Quadro 1 apresenta algumas definições para fatores criticos de

sucesso:

Gestão de Novos Produtos

Qualidade

Desempenho Operacional

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Autores Definição de Fatores Críticos de Sucesso

Hofer & Schendel

(1978)

Os FCS são as variáveis graças às quais a gerência pode influenciar, por sua

decisão e de forma significativa, a posição de cada firma em uma indústria. Esses

fatores variam geralmente de uma indústria para outra; mas, no interior de uma

indústria em particular, eles derivam da interação de dois tipos de variáveis: as

características econômicas e tecnológicas do setor e as armas competitivas sobre

as quais diferentes firmas do setor construíram suas estratégias;

Bouquin (1986) chamado FCS é tudo sobre o que a empresa conta para atingir seus objetivos de

longo prazo de resistir às forças do setor investigado (as cinco forças da tipologia

de Porter) para ser competitiva em seu grupo

estratégico e não submeter-se à concorrência de outros grupos. Ou, ao contrário,

se viável, preparar a passagem para um outro grupo.

Atamer & Calori

(1993)

Um FCS é um elemento de oferta que tem valor para os clientes (usuários,

distribuidores, especificadores) e um conhecimento e/ou vantagem de custo

essencial em uma cadeia de concepção – produção – e distribuição do produto

(ou serviço), que permite criar uma vantagem competitiva.

Fonte: VERSTRAETE, 2000

Quadro 1:Definições de fatores críticos de sucesso

Seguindo uma abordagem analítica por meio da identificação de fatores críticos, Agus;

Amahd; Muhammad (2009) analisaram as relações entre gestão da qualidade, produtividade e

rentabilidade em empresas de eletro-eletrônicos. Desta abordagem inferiu-se que

rentabilidade e produtividade estão diretamente ligados ao processo de medição e melhoria da

qualidade.

Estratégias efetivas de gestão da qualidade podem ser um dos mais importantes fatores de

sucesso da indústria eletrônica. Desta forma, a gestão da qualidade tem impacto positivo na

produtividade e rentabilidade. No mesmo sentido, alguns fatores estão fortemente ligados ao

sucesso da implantação da gestão da qualidade: o controle da qualidade, foco no empregado,

relação com fornecedores, benchmarking e treinamento.

No entanto, Agus; Amahd; Muhammad (2009) alertam que a empresa deverá alinhar a gestão

da qualidade com as necessidades dos clientes, porque, no fim, são eles que irão movimentar

as vendas e determinar a rentabilidade.

Seguindo o mesmo foco analítico, Nascimento; Segre (2006) exploraram a influência dos

fatores críticos no contexto da indústria automobilística. A abordagem descrreveu fatores

fundamentais para a compreensão da flexibilidade interna e externa neste setor no Brasil. As

flexibilidades externas e internas são sistêmicas, ou seja, não podem ser consideradas

isoladamente, por serem interdependentes. Na Tabela 1 apresenta-se um modelo de análise

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que integra as variáveis específicas (fatores) da flexibilidade externa e da flexibilidade

interna.

Flexibilidade Externa Flexibilidade Interna

Contexto das relações de trabalho Forma de organização dos sistemas produtivos

Atuação sindical Formas de gestão do trabalho

Condições físicas para a localização das plantas Formas de organização do trabalho

Fonte: Nascimento e Segre, 2006

Tabela 1 - Variáveis da Flexibilidade Externa e da Flexibilidade Interna na Indústria Automobilística Brasileira

Os fatores referentes à flexibilidade externa, ao se integrarem aos aspectos da flexibilidade

interna, propõem condições significativas de flexibilidade e competitividade para as empresas

do setor automobilístico (NASCIMENTO E SEGRE, 2006).

Os fatores críticos de competitividade não são um conjunto padrão de medidas, algumas

vezes chamados de “indicadores-chave”, que podem ser aplicados em todas as divisões da

empresa. Ao contrário, os fatores críticos são áreas de maior importância para uma

determinada divisão da empresa, em um determinado período no tempo.

A lógica de ação em que se baseiam as ações organizacionais encontra-se na

mensagem expressa pelos fatores de competitividade. Por exemplo: se a empresa

valoriza a agilidade, a coordenação e a redução de custos, a lógica que fundamenta

as suas ações é da eficiência; se ela visa à adequação aos padrões de design,

produção e distribuição, praticados no exterior, e se especializa em técnicas de

comércio exterior, indica que a sua lógica de ação está fundada no propósito de

inserção internacional, e assim por diante (MACHADO-DA-SILVA; BARBOSA,

2002, p. 19).

Neste trabalho, desenvolve-se a idéia de que o fortalecimento entre as inter-relações de um

sistema de produção pode contribuir sobremaneira para a melhoria dos resultados. O

fortalecimento dessas inter-relações está atrelado à existência de fatores de competitividade

empresarial. Na Figura 2 apresenta-se como o fator de competitividade influencia na relação

entre as partes de um sistema de produção.

Fator de Competitividade

Gestão de Novos Produtos

Qualidade

Desempenho Operacional

Gestão de Novos Produtos

Qualidade

Desempenho Operacional

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Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados secundários

Figura 2: Fortalecimento das relações por meio de fatores de competitividade

A partir da noção de fatores críticos de competitividade é possível perceber a estreita relação

que estes assumem com os resultados de uma organização. O conhecimento dos fatores de

competitividade possibilitará à organização trabalhar em sincronia com as exigências

ambientais, se estruturar internamente, reduzir os níveis de incertezas e melhorar o

desempenho.

5. Identificação, Caracterização e Validação dos Fatores de Competitividade

A identificação, caracterização e validação dos fatores de competitividade terá início a partir

da revisão da literatura vigente, mais especificamente, por meio do conteúdo apresentado nos

periódicos disponíveis no Portal da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior). Na sequência do trabalho, serão entrevistados pesquisadores da área de

Administração da Produção dos programas de mestrado e doutorado em Administração e

Engenharia de Produção, reconhecidos pela Capes. Para finalizar a busca pelos fatores de

competitividade, será feito uma pesquisa de campo junto com os profissionais da área de

produção.

O primeiro passo consistiu na identificação dos fatores de competitividade organizacional por

meio do levantamento de artigos no Portal da Capes. Para viabilizar a busca pelos artigos que

realmente tratassem do tema de interesse, utilizou-se o critério de busca com base em

palavras-chave. As palavras-chave utilizadas foram: Competitividade; Produtividade;

Eficiência; Desempenho Organizacional e Performance Organizacional.

Seguindo este caminho, identificou-se 486 trabalhos científicos, em língua portuguesa e

estrangeira, principalmente inglês. De posse dos artigos, seguiu-se com a leitura e

identificação de fragmentos do texto onde ficava explícita a menção de algum fator de

competitividade organizacional. Nesta fase do processo, alguns artigos foram descartados

pelo fato de não apresentarem de forma clara a ligação entre o fator mencionado e o

desempenho organizacional.

Nesta conformidade, foram identificados 198 termos que eram explorados nos textos como

fatores capazes de influenciar no desempenho organizacional. Em face a semelhança de

alguns destes termos, optou-se por agrupa-los. Como resultado, configurou-se 15 grupos, cada

grupo sendo representado pela palavra que se considera como sendo o fator de

competitividade. No Quadro 2 são apresentados os grupos formados para os fatores Capital

Humano e TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação).

Capital Humano Desenvolvimento de habilidades tecnicas e de reforcos, Investimento contínuo

no desenvolvimento do capital humano, melhorar a habilidade gerencial,

Planejamento futuro de liderança e sucessão; desenvolvimento de

competencias, desenvolvimento de pessoal, habilidades técnicas, gestão de

recursos humanos, Diversidade da força e local de trabalho, qualidade de vida

no trabalho, gestão de talentos, habilidades básicas, habilidade tecnicas e

gerenciais, harmonia nas relações de trabalho, emprego vitalício, educação e

formação, recursos humanos de alta habilidade, saúde no trabalho, seleção de

pessoas, especialização de trabalho, trabalhadores bem treinados e motivados,

treinamento, capital humano, ética, comportamento ético, Trabalho em equipe,

modo de atuação da equipe de altos executivos, competências.

TIC Aplicação e adaptação de TIC para melhorar a eficiência das operações

diárias; Desenvolvimento de web sites; canais abertos de comunicação, e-

business, estrategias tecnológicas, Internacionalização por meio do e-business,

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comunicação, sistemas de informação, sistemas de informação

interorganizacionais, tecnologia da informação para comunicação, gestão da

tecnologia, tecnologias apropriadas.

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados secundários

Quadro 2: Agrupamento de Fatores de Competitividade

Seguindo este procedimento identificou-se 15 fatores de competitividade por meio da análise

dos artigos científicos acessíveis no Portal da Capes e que tratavam do tema desempenho

organizacional. Os fatores identificados foram: Conhecimento; Sistemas de Controle; Fatores

Culturais; Inovação; Técnicas de Produção; Custo; Capital Humano; Rapidez; Flexibilidade;

Alianças Estratégicas; TIC; Qualidade; Cliente; Confiabilidade; Responsabilidade Social.

A próxima etapa se configura na validação dos fatores encontrados. A validação se dará por

meio de entrevista com os pesquisadores dos Programas de Pós Graduação Strictu Senso em

Administração e Engenharia de Produção reconhecidos pela Capes (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Ao todo foram identificados 198 pesquisadores, sendo 120 na área de Administração e 78 na

área de Engenharia de Produção. Para possibilitar que os pesquisadores tivessem alguma

ligação de conhecimento com o tema proposto seguiu-se alguns critérios durante o processo

de busca. A busca se deu num primeiro momento através da identificação dos cursos

reconhecidos pela Capes.

Em seguida, o procedimento foi acessar a home page de cada curso, sendo possível então

conhecer o respectivo corpo docente.. Neste momento começou o trabalho de filtragem, ou

seja, somente os componentes do corpo docente que tivessem alguma relação com o tema de

interesse foram selecioados. A filtragem se deu com base nas seguintes palavras-chave:

administração da produção; gestão da produção; desempenho organizacional; competitividade

organizacional; sistemas produtivos; eficiência opercional.

Com o respaldo dessas palavras-chaves, o processo seguinte foi observar as linhas de pesquisa

e áreas de atuação de cada pesquisador. As informações referentes a linha de pesquisa e área

de atuação, em alguns casos, estão disponíveis na própria home page do curso. No entanto,

nos casos onde não haviam essas informações, o procedimento foi acessar o Curriculo Lattes

do pesquisador e observar os campos referentes a área de atuação e linhas de pesquisa. No

Quadro 3 é apresentado uma seqüência das etapas de realização das atividades.

Objetivo Onde Como

Identificar os cursos de Pós

Graduação Strictu Sensu

Administração e Engenharia de

Produção reconhecidos pela

Capes

www.capes.org.br Link: Cursos Reconhecidos

Ter acesso ao corpo docente Home page de cada curso Link: Corpo Docente

Identificar pesquisadores que

possuam conhecimento com

relação ao tema de interesse

Home page de cada curso e

Currículo Lattes

Utilizando-se de palavras-chave

Elaborar planilha com dados do

pesquisador (telefone, e-mail)

Planilha Excel® Organizando os dados

levantados

Fonte: Elaborado pelos autores

Quadro 3: Validação dos fatores por pesquisadores

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A última etapa da validação dos 15 fatores encontrados será feita por meio de entrevistas com

profissionais da área de produção. Neste sentido, serão identificadas empresas de destaque na

respectiva área de atuação. De posse das informações dos pesquisadores e profissionais será

possível estabelecer quais são os fatores de competitividade organizacional.

6. Considerações finais

O objetivo deste artigo foi apresentar uma discussão sobre as contribuições da Teoria da

Complexidade em sistemas de produção. Desenvolveu-se a idéia de que o fortalecimento das

relações entre as partes de um sistema de produção pode contribuir para o aumento do

desempenho e melhorar a competitividade de uma forma global. O fortalecimento das

relações será conseguido por meio dos fatores de competitividade, sendo estes os mecanismos

de ligação entre as categorias de um sistema produtivo.

Este artigo é parte dos resultados atingidos até o momento no desenvolvimento de uma

dissertação de mestrado. Esta, por sua vez, é parte de um estudo maior que é desenvolvido

pelo NIEPC (Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Administração da Produção e Custos) da

Universidade Federal de Santa Catarina. O objetivo deste núcleo de estudos é desenvolver um

instrumento de diagnóstico em sistemas de produção. O instrumento se baseia em assertivas,

considerando as categorias de análise de um sistema produtivo e os fatores de

competitividade.

O foco de análise desta abordagem, no entanto, consiste em descrever, caracterizar e validar

os fatores de competitividade. Por meio de informações presentes na literatura sobre

competitividade e performance organizacional, descreveu-se 15 elementos que, acredita-se,

podem ser considerados fatores de competitividade. Os passos seguintes consistem na

validação destes fatores. Este processo se dará por meio de entrevistas com pesquisadores

(Universidades) da área de Administração e Engenharia de Produção, bem como profissionais

(empresas) da área Produção.

O processo de validação dos fatores encontra-se em fase de desenvolvimento. Sendo assim, os

resultados apresentados neste artigo são parciais. Após a validação dos fatores será possível a

construção das assertivas que irão compor o instrumento de análise em sistemas de produção.

Este instrumento de análise se fundamenta nas relações complexas existentes.

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