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O LIRISMO ERTICO DE OVDIO AMS COELHO DA SILVA (UERJ E ABRAFIL)Publius Ouidius Naso (43 a. C. 18 d. C.) educou-se em Roma e estudou retrica na Grcia. Embora o pai lhe tivesse apontado o caminho para o Direito, despertou bem cedo o seu interesse pela poesia. Algumas de suas obras so Remedia Amoris, Ars Amandi (Ars Amatoria), Amores, Heroides, Remedia Amoris, De Medicamine faciei (ou formae), Fasti, Tristia com versos em dsticos elegacos ou pentmetro datlico; Haliutica e Metamorfoses, em hexmetro datlico. Exemplo de pentmetro datlico: Donec e\rIs fE\lIx, // mUl\tOs nume\rAbis a\mIcOs; TEmpora \ sI (Tristes, I, 9-56) [Enquanto fores feliz, contars muitos amigos, se os tempos se tornarem nebulosos, ficars s.] Com Ovdio, na elegia ertica, a literatura mais refinada e maliciosa. (Paratore, 1983, p. 501). De fato, Ovdio o poeta do amor ertico e devido a isso mesmo enfrentou um relacionamento difcil dentro do Imprio Romano, sob o governo de Augusto, cuja etimologia se prende ao verbo augeo: fazer crescer, acrescentar, aumentar... Verbete do qual deriva augur: aquele que d os pressfue\rInt // nUbila, \ sOlus e\ris.

gios, assegurando o desenvolvimento de um empreendimento... O adjetivo Augustus, consagrado aos augures passou ao ttulo outorgado pelo Senado a Jlio Csar Otaviano e mais tarde se tornou um ttulo para os demais imperadores que lhe sucederam. Existe um correspondente avec sens du grec Sebasts (Ernout & Melleit, 1985, p. 57). No dizer de Jules Humbert, A nica coisa certa que o imperador lhe guardava rancor por ter escrito tantas obras imorais, e quanto ao erro, talvez insignificante, foi o suficiente para transbordar a sua clera. (Humbert, 1932, p. 229). Na funo de princeps, Augusto se esforou para restaurar a antiga moralidade do povo romano. Um poeta com tal comportamento poderia se tornar um transtorno poltico: na verdade, representava a contramo do trabalho de Verglio e Horcio; da, o exlio ptrio e a solido amargurada num rido pas de brbaros, o Ponto Euxino, nome antigo do Mar Negro. Por antfrase, euxinosignifica aquele que hospeda bem. Compulsemos algumas passagens poticas do Poeta: Em Tristia, onde concentrou os ltimos momentos desagradveis em Roma, as pssimas sensaes da viagem ao exlio, confessa sua personalidade ntima: Crede mihi, distant mores a carmine nostro: Vita uerecunda est, Musa iocosa mea. Crede-me, os meus costumes distam do nosso poema: A minha vida moderada; minha Musa, jocosa. (II, 354)

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Em Remedia Amoris, Remdios do Amor, exprime a sua indiferena aos detratores de sua arte: Nuper enim nostros quidam carpsere libellos Quorum censura Musa proterua mea est: Dummodo sic placeam, dum toto canter in orbe, Quod uolet, impugnent unus et alter opus! Traduo: que recentemente alguns censuraram os nossos livrinhos Sobre os quais (afirmam que) minha Musa libertina. Contanto que assim eu agrade, contanto que seja recitado em todo o mundo, Que um ou outro ataquem a obra se quiserem. Em Ars amatoria ou Ars amandi, A arte de amar, os seus versos elegacos delineiam uma teoria da seduo com instrues de expedientes de conquista masculina no livro I e, no II, orientaes para homem de como deve perdurar o relacionamento. Para que ambos, homem e mulher, ficassem bem providos de expedientes amorosos, escreveu um terceiro livro dedicado s mulheres. Veremos que a sua obra cheia de irreverncias, humor e encanto, enquanto aborda as dificuldades e problemas que podemos enfrentar nas nossas intimidades mais pessoais. No h, a nosso ver, pornografia na obra dele. No entanto, no se omite de falar sobre o nosso lado troglodita, ou seja, os nossos instintos, transbordando de l as nossas fantasias erticas mais pervertidas; de modo que ningum encontrar nos seus 3

escritos apologia, a favor ou contra, do homossexualismo masculino ou feminino. como se ele falasse de si mesmo, de sua escolha existencial perante a sua tendncia sexual, sem a preocupao de se identificar subjetivamente ou opinar que sua posio existencial seja a mais sbia. Livro I (dedicado aos homens) Logo no verso 101, Ovdio faz aluso ao Rapto das sabinas. Tendo Rmulo superado, com seu irmo, a prova do abandono num cesto deriva no rio Tibre, uma tentativa do desptico Amlio, usurpador do trono do av destes irmos gmeos, fundou Roma, proveniente do seu prprio nome, j que matou o seu irmo Remo porque este desrespeitou o recinto consagrado aos deuses. Mas como a populao fosse muito pequena, admitiu incluir neste povoado todos os homens que desejassem habit-lo. E como s havia homens, tratou Rmulo de organizar jogos, festa denominada Consualia. A um sinal, raptaram todas as jovens solteiras e uma nica casada, Herslia, cujo marido morreu neste combate. Teriam sido as sabinas raptadas que pediram um pacto de paz e a unio de romanos e sabinos. Ovdio nos narra, mais ou menos, assim: 101 Primus sollicitos fecisti, Romule, ludos, Cum iuuit uiduos rapta Sabina uiros. 115 Protinus exsiliunt, animum clamore fatentes, Virginibus cupidas iniiciuntque manus. 4

Vt fugiunt aquilas, timidissima turba, columbae, Vtque fugit uisos agna nouella lupos, Sic illae timuere uiros sine lege ruentes; 131 Romule, militibus scisti dare commoda solus: Haec mihi si dederis commoda, miles ero. Scilicet ex illo sollemni more theatra Nunc quoque formosis insidiosa manent. Traduo: Rmulo, pioneiro, fizeste os jogos agitados, Quando o rapto das sabinas tornou feliz os teus homens. 115De repente eles saltam, com clamor confessando o seu desejo, E lanam as mos vidas nas virgens. Assim as pombas fogem das guias, bando timidssimo, Assim, vistos os lobos, foge a cordeirinha jovem; Assim aquelas temeram os homens que se precipitavam sem lei. 131 Somente tu, Rmulo, soubeste dar vantagens aos teus soldados: Se me tivessem dado tais comodidades, eu seria um soldado. Certamente, por esse costume solene que os teatros Agora permanecem insidiosos para as mais belas. (O que ser que elas pensam quando se apresentam aqui e ali?) 5

253 Quid tibi femineos coetus uenatibus aptos Enumerem? Numero cedet arena meo. 263 (...) unde legas quod ames, ubi reti ponas (...) Prima tuae menti ueniat fiducia cunctas 270 Posse capi; capies; tu modo tende plagas. Vere prius uolucres taceant, aestate cicadae, Maenalius lepori det sua terga canis, Femina quam iuueni blande temptata repugnet; Haec quoque, quam poteris credere nolle, uolet. 275 Vtque uiro furtiua Venus, sic grata puellae; Vir male dissimulat; tectius illa cupit. Conueniat maribus ne quam nos ante rogemus; Femina iam partes uicta rogantis agat. Mollibus in pratis admugit femina tauro; Femina cornipedi semper adhinnit equo. Traduo: 253 Para que eu enumeraria a ti as reunies adequadas para a caa s mulheres? Os gros de areia so em menor nmero. 263 (...) onde escolherias o que amar, onde lanar as redes? O primeiro ponto para tua mente confiar que todas 270 Podem ser conseguidas; conseguirs, para tal estenda tuas armadilhas.

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Antes emudeam os pssaros na primavera, no vero as cigarras; Que o co (do monte) Mnalo (monte da Arcdia) d suas costas lebre, Do que a mulher solicitada com ternura repudiar a um homem, Mesmo essa, que poders crer que no quer, deseja. 275 Se o amor secreto agrada ao homem, do mesmo modo agrada mulher; O homem dissimula mal; ela deseja mais secretamente. Se os machos combinassem de no tomarmos a iniciativa, A mulher, vencida, assumiria tal papel. Nos prados verdejantes a fmea que muge para o touro; 280 Sempre a fmea relincha para o cornpede cavalo. (I, 253-4; 263; 269 - 80) (Para justificar fantasias erticas, Ovdio as relacionava com o mito) Pasiphae fieri gaudebat adultera tauri; Inuida formosa oderat illa boues. Nota cano: non hoc, centum quae sustinet urbes, Quamuis sit mendax, Creta negare potest. (...)et Minos a boue uictus erat. (...) Quo tibi, Pasiphae, pretiosas sumere uestes? Ille tuus nullas sentit adulter opes. 7

305 Quid tibi cum speculo Montana armenta petenti? Quid totiens positas fingis, inepta, comas? Crede tamen speculo, quod te negat esse iuuencam. Quam cuperes fronti cornua nata tuae! (I, 295- 300; 303-8) Traduo: 295 Pasfae (esposa do lendrio rei Minos) se alegrava em se tornar infiel com um touro (da, o Minotauro) E ela, ciumenta, odiava as bezerras formosas. Canto coisas conhecidas; nem as cem cidades que formam a ilha de Creta Poderiam sequer dizer que isso seria mentira. (...) e Minos foi vencido por um touro. 303 Para que te vestes, Pasfae, to esmeradamente? Aquele que tu amas, no percebe tais ornamentos, adltera. 305 Por que te miras no espelho no espelho, sempre que te diriges as manadas nas montanhas? Por que ajeitas tantas vezes os cabelos, louca? Acredita tu, entretanto, no teu espelho, que te nega ser uma novilha. Como desejarias ver nascer chifres em tua fronte! (O Poeta convida o leitor a compartilhar de sua autoconfiana) 8

605 Colloquii iam tempus adest; fuge rustice longe Hinc Pudor; audentem Forsque Venusque iuuat. (note a semelhana: Audentes Fortuna iuuat, Verg., Eneida X, 284} Non tua sub nostras ueniat fecundia leges. Fac tantum cupias: sponte disertus eris . Est tibi agendus amans, imitandaque uulnera uerbis; 610 Haec tibi quaeratur qualibet arte fides. Nec credi labor est; sibi quaeque uidetur amanda; Pessima sit, nulli non sua forma placet. Saepe tamen uere coepit simulator amare; Saepe quod incipiens finxerat esse fuit. 615 Quo magis oh! faciles imitantibus este, puellae; Fiet amor uerus qui modo falsus erat. Blanditiis animum furtim deprendere nunc sit, Vt pendens liquida ripa subitur aqua. Nec faciem nec te pigeat laudare capillos 620 Et teretes digitos exiguumque pedem. Delectant etiam castas praeconia formae; Virginibus curae grataque forma sua est. Nam cur in phrygiis Iunonem e Pallada siluis Nunc quoque non tenuisse pudet? 625Laudatas ostendi auis Iunonia pinnas; Si tacitus spectes, illa recondit opes. Quadrupedes, inter rapidi certamina cursus, Depexaeque iubae plausaque colla iuuant 9

Nec timide promitte; trahunt promissa puellas; 630 Pollicito testes quoslibet adde deos. Iuppiter ex alto periuria ridet amantum Et iubet aeolios irrita ferre Notos. Per Styga Iunoni falsum iurare solebat Iuppiter, exemplo nunc fauet ipse suo. 635 Expedit esse deos, et, ut expedit, esse putemus; Dentur in antiquos tura merumque focos! Traduo: 605 agora o momento do colquio; foge para longe daqui, Pudor; agrada ao Destino e deusa Vnus quem ousado. No venha tua lbia se esconder sob as nossas palavras: Faz somente o que desejares e sers eloqente espontaneamente. Deves proceder como amante e ostentando nas palavras tuas dores. 610 Inspira-te nesta convico, qualquer que seja tua arte. No custoso ser acreditado; cada uma delas a si mesmas se vem amadas; Seja ela horrvel, mas a sua prpria aparncia dela no a desgosta. Comumente, porm, aquele que simula, comea a amar de verdade; Muitas vezes tornou-se verdadeiro o que antes era fingido. 10

615 Por isso, jovens mulheres, sede mais fceis para os simuladores; H de se tornar amor verdadeiro o que antes era falso. Seja agora que, furtivamente, se conquiste a alma com palavras meigas, Assim como a margem que se inclina e mergulhada pela gua corrente. No seja preguioso em louvar o rosto, os cabelos, 620 Os dedos torneados e o pequeno p sedutor. Elogios deleitam at as mais castas: Tambm as virgens tm a sua beleza e o reconhecimento do cuidado. Por que, a este respeito, Juno e Palas (Aten), nos bosques da Frigia (sia Menor), Se envergonharam, ainda hoje, de perder o julgamento (de Paris/Alexandre)? 625 A ave de Juno (=pavo) ostenta suas penas quando louvadas; Mas se a olhares em silncio, ela esconde seus recursos. Os cavalos, nas competies de corridas, Gostam dos aplausos s suas jubas e dos penteados aos seus pescoos. Prometa, no sejas tmido! As promessas atraem as jovens mulheres. 630 Promete, toma qualquer dos deuses por testemunha. 11

Jpiter ri do alto (do Olimpo) dos juramentos dos amantes E ordena aos Notos de olo (ventos do sul e deus dos ventos) que os torne nulos. Jpiter costuma jurar pelo Estige (rio dos Infernos) a Juno falsamente: Encoraja-nos com seu prprio exemplo. 635 conveniente que os deuses existam, e, j que til, julguemos que existem. Homens, sejam levados incensos e vinho as antigas lareiras! (I, 605- 36) Livro II 12 Arte mea capta est: arte tenenda mea est. 107 (...) Vt ameris, amabilis esto, (...) Traduo: 12 Pela minha arte foi presa, pela minha arte deve ser conservada. 107 (...) Para que sejas amado, s amvel (...)

(As mulheres e a poesia) Quid tibi praecipiam teneros quoque mittere uersus? Ei mihi! non multum carmen honoris habet. 12

275 Carmina laudantur, sed munera magna petuntur; Dummodo sit diues, barbarus ipse placet. Aurea nunc uere sunt saecula: plurimus auro Venit bonos; auro conciliatur amor. Ipse licet Musis uenias comtatus, Homere, 280 Si nihil attuleris, bis, Homere, foras. Traduo: O que a ti recomendarei? Que envies versos amorosos? Ai de mim! O poema no tem muito prestgio. 275 Louvam-se os poemas, mas exigem grandes presentes. Se for rico, mesmo um brbaro agrada. Agora, de fato, a idade do ouro: As honras vm do ouro; o amor ficou reconciliado pelo ouro. Mesmo tu, Homero, ainda que viesses acompanhado pelas Musas, Se nada tivesses trazido, irias, Homero, para porta da rua!

(A constncia no amor) 347 Te semper uideat, tibi semper praebeat aures; Exhibeat uultus noxque diesque tuos. (...) 355 Penelopen absens sollers torquebat Vlixes; 13

() Sed mora tuta breuis: lentescunt tempore curae, Vanescitque absens, et nouus intrat amor. Dum Menelaus abest, Helena, ne sola iaceret, 360 Hospitis est tpido nocte recepta sinu. Quid stupor hic, Menelae, fuit? Tu solus abibas; Isdem sub tectis hospes et uxor erant. Traduo: 347 Que tua amante te veja sempre, que te oua sempre; Que a noite e o dia lhe mostrem o teu rosto. (...) A ausncia do solerte Ulisses atormentava Penlope (ficou fiel a ele, apesar do assdio), (...) Mas a curta demora segura: com o tempo os cuidados diminuem, O ausente desvanece e um novo amor entra (no corao). Enquanto Menelau (rei da Esparta e marido de Helena) estava ausente, Helena, para no ficar s, 360 De noite, acolheu-se no tpido regao do seu hspede. Que estupidez esta tua, Menelau! Partiste sozinho, Sob o mesmo teto estavam teu hspede e tua esposa! (347-8; 355; 360-2)

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Livro III (dedicado s mulheres) Arma dedi Danais in Amazonas; arma supersunt Quae tibi dem et turmae, Penthesilea, tuae. Ite in bella pares; vincat quibus alma Dione Fauerit, et, toto qui uolat Orbe, Puer. Traduo: Se contra as Amazonas dei armas aos gregos Tambm a ti Pentesilia (amazona a favor dos toianos) armas deverei dar. Marchai para as batalhas iguais; venam aos que a venervel Dione (=a deusa Vnus) Favorece, bem como vs, Menino (Cupido), que voa por todo Orbe.(III, 1-4) (No seja uma mulher fcil. Negue ao primeiro pedido.) Quod datur ex facili longum male nutrit amorem; 580 Miscenda est laetis rara repulsa iocis. Ante fores iaceat; crudelis ianua!clamet, Multaque summisse, multa minanter agat. Dulcia non ferimus; suco renouemur amaro; Saepe perit uentis obruta cumba suis. 585 Hoc est uxores quod non patiatur amari: Conueniunt illas, cum uoluere, uiri. 15

Traduo: O que se d com facilidade nutre mal um longo amor; Aos prazeres alegres deve-se misturar um pouco de recusa. Que o teu amante permanea diante da porta; clame porta cruel!, Que ele passe muitas momentos ora ameaando, ora submisso. No toleramos sempre coisas doces; com um suco amargo o nosso apetite renovado; Muitas vezes uma canoa perece esmagada com ventos propcios. Por essa razo as esposas impedem de serem adoradas: Os maridos unem-se a elas quando querem. (O perigo torna o encontro mais estimulante) Causa tamen nimium non sit manifesta doloris, 600 Pluraque sollicitus, quam sciet, esse putet: Incitet et ficti tristis custodia serui, Et nimium duri cura molesta uiri. Quae uenit ex tuto, minus est accepta uolaptas: Vt sis liberior Thaide, finge metus. 605 Cum melius foribus possis, admitte fenestra, Inque tuo uultu signa timentis habe. Callida prosiliat dicatque ancilla: Perimus; Tu iuuenem trepidum quolibet abde loco. Traduo: 16

No seja manifesta demasiadamente a causa de tua apreenso, 600 fictcio, E pelo cuidado molesto de um marido excessivamente duro. O prazer menos interessante se vem de um (porto) seguro. Para que sejas mais livre do que Tas (nome cortess clebres), finge teres medo. 605 Mesmo que possas receber mais comodamente o teu amante pela porta, faze-o entrar pela janela, E mantenha em teu rosto sinais de temor. Que uma criada esperta se precipite e grite: Estamos perdidas! E tu escondas o jovem trmulo em qualquer lugar. (599-608) (Seduo do proibido) (...) Cum minimo custos munere possit emi? Munera, crede mihi, capiunt homnesque deosque; Placatur donis Iuppiter ipse datis. 655 Quod sapiens, faciet stultus quoque; munere gaudet: Ipse quoque, accepto munere, mutus erit. Sed semel est custos longum redimendus in aeuum; Saepe dabit, dederit quas semel, ille manus. Traduo: 17 E ele solcito julgue existir mais coisas que sabe. Que fique estimulado e preocupado pela guarda de um criado

(...) Quando (o vigia) pode ser comprado por um presente barato? Os presentes seduzem os homens e os deuses; Jpiter mesmo ficou seduzido com oferendas. 655 No s o sbio como o idiota se alegram com um presente: Ao receber um mimo, (qualquer vigia) ficar mudo. Mas suficiente uma s vez que tu pagues ao vigia por um longo silncio; Ele te dar a mo muitas vezes, se j te deu essa ajuda uma vez. (652-8) (Dando armas ao inimmigo) Non auis aucupibus monstrat qua parte petatur, 670 Non docet infestos currere cerua canes. Viderit utilitas! Ego coepa fideliter edam Lemniasi et gladios in mea fata dabo. Efficite, et facile est, ut nos credamus amari; Prona uenit cupidis in sua uota fides. 675 Spectet amabilis iuuenem et suspiret ab imo Femina tam sero cur ueniatque roget; Accedant lacrimae, dolor et de paelice fictus, Et laniet digitis illius ora suis. Iamdudum persuasus erit, miserebitur ultro 680 18 Et dicet: Cura carpitur ista mei!

Praecipue, si cultus erit!, speculoque placebit, Posse suo tangi credet amore deas. Traduo: Uma ave no insinua ao caador de pssaros por que meio ser caada; 670 la. Que vantagem h de se obter! (Mas assim mesmo) fielmente eu prossiga neste projeto E s mulheres de Lemnos (ilha do mar Egeu, onde elas mataram todos os homens do local, inclusive os maridos) darei espadas contra o meu destino. Procedei de tal maneira, e fcil, que ns acreditemos ser amados loucamente: As pessoas apaixonadas crem facilmente naquilo que desejam. 675 Uma mulher deve olhar o jovem com ternura, suspirar do fundo da alma, E perguntar por que chega to tarde; Acrescenta umas lgrimas, sofrimento e representao de mulher magoada E arranha rosto dele com tuas unhas. Depressa ficar persuadido, por si mesmo ficar consternado 680 E dir: Ela se consome de cuidado por mim! 19 Uma cerva no ensina aos ces inimigos a persegui-

Principalmente, se for elegante e gostar de se olhar no espelho, Acreditar que poder comover com seu amor (at) as deusas. (Prazeres de Vnus) Si qua fides, arti, quam longo fecimus usu, Credite; praestabunt carmina nostra fidem. Sentiat ex imis Venerem resoluta medullis Femina, et ex aequo res iuvet illa duos; 795 Nec blandae uoces jucundaque murmura cessent, Nec taceant mediis mproba verba iocis. Traduo: Se algo merece confiana, crede vs na minha arte que a fiz (fruto) de longa prtica: Meus versos justificaro essa confiana. Que sinta a mulher imoderada o prazer venreo Vindo do fundo da medula, e que os dois se regalem igualmente. 795 Nem cessem os doces murmrios e as palavras carinhosas, E no meio do prazer no se calem aquelas palavras lascivas. (III, 793-6) A libido a pulso que impulsiona toda a existncia. Naturalia non sunt turpia, as coisas naturais no vergonhosas, e, para todos, sem exceo, o amor um fato natural. Uma criana despojada dessa vergonha. Mas o adulto, com sua cabea envolvida em 20

crenas e proibies, prefere encontrar mrito na guerra: In pace et in bello merita, na paz e na guerra h mritos. Os poetas personificam esse nosso desejo, traduzindo-o na concepo helnica como a deusa Afrodite, a Vnus dos romanos, ou, ainda, Eros da Hlade, o Cupido dos latinos, em portugus o Amor dos rcades, predominantes no sculo XVIII; pelo amor que a ferocidade, at de lees, se acalma; uma fora que transtorna e dilacera o juzo de todos os seres e os fora a uma unio dos opostos, complexio oppositorum. O amor supera todas as coisas: Omnia vincit amor et nos cedamus amori este hexmetro vergiliano da cloga X, 69 enfatiza o que dissemos acima pela explicitao do sujeito nooculto nos e dispensando traduo em portugus, mesmo para aqueles que no estudaram latim suficientemente. fonte de progresso. busca de harmonia. No entanto, se se torna uma apropriao, pode se perverter, o que consiste na destruio do outro, numa atitude egosta. O poeta Ovdio s exalta o lado sensual, ertico e sedutor do amor. Na expresso de Ettore Paratore a sua influncia perdura fortssima em todas as literaturas,(Paratore, 1983, p. 515), assim h sua presena desde Petrnio a William Shakespeare, como em Sonho de uma noite de vero e no final de Romeu e Julieta: Dizem que Jpiter ri dos perjrios de amantes, (Harvey, 1986, p. 373); citemos mais um local do mundo, para justificar a citao acima de em todas as literaturas: na Itlia, Bocaccio tambm se inspirou em Ovdio.

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