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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012 FEUP, 24-26 de outubro de 2012

Compatibilidade cimento-adjuvante: fator de homogeneidade dos betões autocompactáveis

João Custódio1 Sónia Coelho1 Joana Catarino1 Manuel vieira1 António Bettencourt Ribeiro1

RESUMO Neste estudo foi avaliada a compatibilidade entre três cimentos e cinco adjuvantes, todos produtos comerciais. Os cimentos e os adjuvantes foram selecionados por apresentarem características químicas e físicas distintas para que a avaliação das pastas, com eles produzidas, permitisse determinar quais as propriedades que mais influenciam a compatibilidade entre ambos. Os resultados permitiram identificar alguns parâmetros que influenciam a compatibilidade cimento-adjuvante, nomeadamente o teor de álcalis, de SO3 e de C3A do cimento. As informações obtidas são de grande utilidade ao meio técnico pois permitem responder às solicitações que ocorram durante a produção do betão, no entanto apontam para a necessidade do desenvolvimento de um indicador da compatibilidade cimento-adjuvante que possa ser utilizado na produção e desenvolvimento dos BAC e para a necessidade de aprofundar o estudo da ação dos adjuvantes, dado que os resultados preliminares obtidos neste estudo preliminar não permitiram ainda estabelecer quais as características do adjuvante que mais influem na compatibilidade cimento-adjuvante. Palavras-chave: adjuvantes, cimento, compatibilidade, fluidez, consistência. 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento da tecnologia do betão autocompactável (BAC) deve-se, em grande parte, à interação dos adjuvantes, nomeadamente dos superplastificantes, com o cimento, constituinte fundamental do ligante nos betões. Qualquer alteração da composição do cimento ou do adjuvante afetará a interação entre estes materiais e consequentemente produzirá uma variação da consistência dos betões [1-6]. Uma interação, entre cimento e adjuvante, que responda aos objetivos pretendidos pode ser definida por compatibilidade cimento-adjuvante. Ainda que seja obrigatória a utilização dos adjuvantes na produção dos BAC, ainda existe grande falta de conhecimento acerca dos factores que influenciam a compatibilidade cimento-adjuvante [2, 7]. Esta falta resulta em grande parte pela dificuldade em quantificar, de um modo fundamental, os parâmetros dos materiais, em particular os dos adjuvantes. Assim, será difícil a avaliação das causas de variações que possam ocorrer na trabalhabilidade devido à falha de compatibilidade cimento-adjuvante. Resulta então que o desenvolvimento de procedimentos de avaliação da compatibilidade cimento-adjuvante e do conhecimento dos parâmetros que afetam a interação destes materiais é importante para garantir a regularidade na produção dos betões autocompactáveis. Neste sentido, apresentam-se nesta comunicação os resultados preliminares de um estudo, em curso no LNEC, em que se avalia o comportamento de superplastificantes comerciais de diferentes constituições químicas com cimentos Portland comerciais.

1 Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Departamento de Materiais, Núcleo de Betões. Lisboa, Portugal.

[email protected]

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Compatibilidade cimento-adjuvante: fator de homogeneidade dos betões autocompactáveis

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2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Materiais 2.1.1 Cimentos Neste estudo foram avaliados três cimentos comerciais, dois cimentos CEM I 42,5R de fabricantes diferentes e um cimento CEM I 52,5 R, doravante designados por CEM 1C, CEM 1S e CEM 2C, respetivamente. Nos quadros seguintes apresenta-se a análise química efetuada de acordo com a NP EN 196-2 (Quadro 1), a composição potencial Bogue (Quadro 2) e algumas características físicas dos cimentos determinadas de acordo com a NP EN 196-6 (Quadro 3).

Quadro 1. Análise química dos cimentos.

Propriedade CEM 1C CEM 1S CEM 2C Perda ao rubro 1,74 2,91 1,61 Resíduo insolúvel 0,77 0,84 1,04 SiO2 19,28 19,77 19,19 Al 2O3 5,69 5,2 5,93 Fe2O3 3,53 3,61 3,36 CaO 63,70 64,32 63,64 MgO 1,77 1,27 1,79 SO3 2,51 2,66 3,08 K2O 1,04 0,66 1,04 Na2O 0,84 0,22 0,14 Na2Oeq. 1,53 0,65 0,82 Cl- 0,05 0,03 0,02

Quadro 2. Composição Bogue potencial.

Propriedade CEM 1C CEM 1S CEM 2C C3S 62,36 63,91 59,81 C2S 8,23 8,47 9,90 C3A 9,11 7,67 10,03 C4AF 10,74 10,99 10,22

Quadro 3. Propriedades físicas dos cimentos.

Propriedade CEM 1C CEM 1S CEM 2C Massa volúmica (kg/m3) 3140 3140 3130 Finura (cm2/g) 3290 4020 4430

2.1.2 Adjuvantes Os adjuvantes utilizados correspondem a cinco superplastificantes comerciais (SP A, SP B, SP C, SP D e SP E) de dois fornecedores diferentes (B e G). Os adjuvantes SP AB, SP CB, SP DG e SP EG são do tipo poli(éter carboxílico), PCE. O adjuvante SP BB é um poli(sulfonato de naftaleno), PNS. As principais características físico-químicas dos adjuvantes foram determinadas experimentalmente e são apresentadas no Quadro 4.

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J. Custódio, S. Coelho, J. Catarino, M. Vieira e A. B. Ribeiro

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Quadro 4. Propriedades físico-químicas dos adjuvantes.

Propriedade SP AB SP BB SP CB SP DG SP EG pH 6,46 6,23 6,28 6,00 5,72 Condutividade (µS/cm) 6100 16430 2500 2800 2600 Teor de resíduo seco (%) 20,23 36,06 26,59 21,80 21,69 Teor de cloretos (%) < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 Teor de álcalis (Na2Oeq., %) 0,712 1,392 0,345 0,470 0,491 Massa volúmica (g/cm3) 1,050 1,178 1,068 1,044 1,044 Teor de sulfatos (%) 0,16 0,05 0,02 0,05 0,06

2.2 Métodos A campanha experimental preliminar consistiu em determinar o teor de saturação de cada adjuvante com cada um dos três cimentos e depois realizar ensaios de escoamento, consistência e exsudação a pastas fabricadas com uma razão água/cimento de 0,4 e utilizando o adjuvante respetivo no seu teor de saturação. O teor de saturação de um adjuvante é o teor mínimo a partir do qual se considera não existir ganho significativo de eficiência. No presente estudo, optou-se por avaliar a eficiência dos adjuvantes comparando o comportamento de pastas em que os adjuvantes são utilizados no seu teor de saturação ao invés de se utilizarem pastas com iguais dosagens de adjuvante (em termos de teor de resíduo de polímero seco) ou, mesmo, pastas com iguais espalhamentos; porque quando se avalia o comportamento de pastas que envolvem diferentes adjuvantes e diferentes cimentos é importante que em todas as misturas se assegure, tanto quanto possível, que todas as superfícies disponíveis das partículas da mistura incorporaram ou adsorveram o adjuvante. Isto é particularmente importante quando se pretende perceber e quantificar os efeitos de dispersão de adjuvantes de naturezas químicas diferentes, como é o caso do presente estudo. Se um adjuvante for utilizado numa dosagem inferior á de saturação, então a sua eficiência a essa dosagem particular vai estar indubitavelmente ligada à quantidade consumida por interações e reações químicas, o que significa que quanto maior for o seu consumo, menor será a quantidade que permanece disponível para induzir a dispersão através da adsorção nas partículas de cimento. Para além disso, diferentes adjuvantes podem ter diferentes cinéticas de adsorção, pelo que não é possível garantir que permaneça em solução algum polímero até que a adsorção se complete. Como já foi referido, para aferir a compatibilidade cimento-superplastificante, foram realizados ensaios de escoamento, espalhamento e exsudação às pastas. O ensaio de escoamento foi realizado para avaliar a capacidade do adjuvante em melhorar a fluidez da pasta cimentícia no estado fresco (i.e., baixar a sua viscosidade). O escoamento da pasta, expresso em segundos, consiste no tempo necessário para que 0,220 l de pasta escoem através de um cone. O procedimento utilizado baseou-se na norma NP EN 445, contudo utilizou-se um funil de vidro mais pequeno, nomeadamente com 7 mm de diâmetro interno no tubo de saída e 95 mm de diâmetro no bocal. O ensaio permitiu avaliar o teor de saturação do adjuvante e a perda de fluidez das pastas com o tempo. O ensaio de espalhamento, realizado sobre pastas comentícias contendo o adjuvante no seu teor de saturação, permitiu avaliar a capacidade do adjuvante em diminuir a tensão de cedência da pasta no estado fresco (i.e., a tensão mínima necessária para que a pasta flua). O resultado deste ensaio, expresso em centímetros quadrados, consiste no valor da área da pasta após ter sido libertada do molde em forma de cone truncado, com 57,0 mm de altura, 38,1 mm de diâmetro interno na zona de saída e 19,0 mm de diâmetro no bocal. O ensaio permitiu avaliar a variação da consistência com o tempo. O ensaio de exsudação foi realizado para avaliar se as pastas comentícias contendo o adjuvante no seu teor de saturação apresentavam uma exsudação significativa. A exsudação foi determinada através da medição do volume de solução aquosa que emerge da superfície de 0,100 l de pasta após esta ter repousado durante 3 horas numa bureta selada cujo diâmetro interno é de 25 mm. Os ensaios foram todos realizados a 20 ºC.

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3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 3.1 Curvas de saturação Para determinar o teor de saturação dos superplastificantes realizou-se uma série de ensaios de escoamentos a pastas de cimento em que o teor de adjuvante variou entre 0,2 % e 3,2 % do peso de cimento. Esta gama de dosagens foi escolhida para satisfazer as dosagens recomendadas nas fichas técnicas de produto (Quadro 5).

Quadro 5. Dosagem de adjuvante recomendada na ficha técnica de produto [%].

Propriedade SP AB SP BB SP CB SP DG SP EG Percentagem mássica de adjuvante em relação ao cimento [%]

1.0–1.6 0.9–1.4 0.8–1.5 0.4–0.8* 0.4–0.8*

NOTA: * 0.2 % – 0.4 % quando utilizado como redutor de água; 0.4 % – 0.8 % quando utilizado como forte redutor de água; 0.9 % – 3.0 % quando utilizado como muito forte redutor de água.

Os resultados obtidos são apresentados nas Figs. 1 a 3. Observa-se imediatamente que a eficiência de cada adjuvante varia consideravelmente com o tipo de cimento (e.g. adjuvantes SP AB, SP DG e SP EG com os cimentos CEM 1C e CEM 2C) e também com cimentos de proveniências diferentes mas do mesmo tipo (e.g. adjuvantes SP AB, SP DG e SP EG com cimentos CEM 1C e CEM 1S). Se for considerada a gama de dosagens recomendada pelos fabricantes, verifica-se que em alguns casos a fluidez varia consideravelmente entre os limites mínimo e máximo desse intervalo (e.g. cimento CEM 1C com adjuvantes SP AB, SP DG e SP EG); enquanto noutros casos a fluidez permanece praticamente constante ao longo do intervalo de dosagens recomendado (e.g. SP BB com cimentos CEM 1C, CEM 1S e CEM 2C). Por conseguinte, as dosagens recomendadas de adjuvante deverão ser sempre confirmadas antes da sua utilização em obra, mesmo nos casos em que se está a utilizar o mesmo tipo de cimento e apenas um produtor. Verificou-se, também, que os adjuvantes foram mais eficazes com as pastas produzidas com o cimento CEM 1S, o qual possui uma finura Blaine intermédia (4020 cm2/g), o menor teor de C3A e de álcalis e um teor intermédio de SO3. O adjuvante que mostrou ser menos sensível ao cimento foi o adjuvante SP BB (PNS), o qual possui a maior massa volúmica, o maior teor de resíduo seco e de álcalis e a maior condutividade (Quadro 4). As combinações cimento-adjuvante mais robustas (i.e. as pastas que demonstraram uma menor variação no tempo de escoamento com a variação da dosagem de adjuvante) foram as produzidas com cimento CEM 1S e com os adjuvantes SP BB e SP CB.

050

100150

200250300

350400450500

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.23.4

Esc

oa

men

to /

s

Dosagem de adjuvante / %

CEM 1C - SP ABCEM 1C - SP BB

CEM 1C - SP CB

CEM 1C - SP DGCEM 1C - SP EG

Figura 1. Influência da dosagem de adjuvante no escoamento de pastas fabricadas com CEM 1C. Para uma

dosagem de 0,2 % nenhuma pasta escoou completamente.

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J. Custódio, S. Coelho, J. Catarino, M. Vieira e A. B. Ribeiro

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050

100150

200250300

350400450500

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.23.4

Esc

oa

men

to /

s

Dosagem de adjuvante / %

CEM 1S - SP ABCEM 1S - SP BB

CEM 1S - SP CB

CEM 1S - SP DGCEM 1S - SP EG

Figura 2. Influência da dosagem de adjuvante no escoamento de pastas fabricadas com CEM 1S. Para uma

dosagem de 0,2 % apenas a pasta contendo o adjuvante SP BB não escoou completamente.

050

100150200250300350400450500

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.23.4

Esc

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Dosagem de adjuvante / %

CEM 2C - SP ABCEM 2C - SP BBCEM 2C - SP CB

CEM 2C - SP DGCEM 2C - SP EG

Figura 3. Influência da dosagem de adjuvante no escoamento de pastas fabricadas com CEM 2C. Para uma

dosagem de 0,2 % nenhuma pasta escoou completamente, sendo que a pasta com o adjuvante SP AB deixou de o fazer para dosagens inferiores a 2,1 %.

A determinação da dosagem de saturação foi efetuada de acordo com o método desenvolvido por Larrard (1999) [10]. Analisando os resultados obtidos (Quadro 6) verifica-se que, dos três cimentos avaliados, o CEM 1S é aquele que requer a menor quantidade de polímero de adjuvante para atingir a proporção de saturação. Os cimentos CEM 1C e CEM 2C requerem sempre uma quantidade muito maior de adjuvante. Este facto parece indicar que, no caso do cimento CEM 1C, o seu maior teor de C3A se sobrepõe à sua menor finura (3290 cm2/g) relativamente ao CEM 1S (4020 cm2/g). Os cimentos CEM 1C e CEM 2C, apesar de possuírem finuras muito diferentes e o CEM 2C possuir um maior teor de C3A, ambos requerem quantidades semelhantes de adjuvante SP AB SP BB para atingir a proporção de saturação. Contudo, esta situação já não se verifica com os adjuvantes SP CB, SP DG e SP EG.

Quadro 6. Dosagem de saturação determinada pelo ensaio de escoamento [%].

Cimento SP AB SP BB SP CB SP DG SP EG CEM 1C 0,65 0,43 0,32 0,63 0,52 CEM 1S 0,24 0,29 0,32 0,15 0,11 CEM 2C 0,61 0,40 0,56 0,33 0,30

NOTA: Os valores apresentados correspondem à dosagem de saturação expressa como a percentagem mássica de resíduo seco de adjuvante em relação à quantidade de cimento da pasta. Os valores sublinhados correspondem aos que estão fora do

intervalo de dosagem recomendado na respetiva ficha técnica de produto. Comparando as dosagens de saturação obtidas em termos da quantidade de polímero adicionada à pasta (Quadro 6) com as dosagens recomendadas nas fichas técnicas do produto (Quadro 7) observa-se que das quinze situações avaliadas, a dosagem de saturação se encontra abaixo da dosagem recomendada num caso, acima da dosagem recomendada em oito casos e dentro da dosagem recomendada em apenas seis casos. O único cimento para o qual a dosagem de saturação se encontra sempre dentro da gama de dosagens recomendadas foi o CEM 1S.

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Quadro 7. Dosagem de polímero adjuvante recomendada na ficha técnica de produto [%].

Propriedade SP AB SP BB SP CB SP DG SP EG Percentagem relativa à massa de ligante

0.20 – 0.32 0.32 – 0.50 0.21 – 0.40 0.09 – 0.17* 0.09 – 0.17*

NOTA: Os valores apresentados correspondem ao teor de saturação expresso como a percentagem mássica de resíduo seco de adjuvante relativamente ao teor de cimento da pasta. * Intervalo de valores correspondente à utilização do adjuvante como

forte redutor de água. 3.2 Compatibilidade Os resultados dos ensaios realizados para determinar a compatibilidade e robustez das combinações cimento/adjuvante são apresentados nos Quadros 8 e 9. A compatibilidade é aqui considerada como a capacidade de uma pasta com um determinado par cimento/adjuvante preservar as suas propriedades reológicas num nível elevado com o tempo sem que a pasta apresente exsudação ou segregação significativas. A partir do Quadro 8 é possível constatar que nenhuma das combinações produziu perdas significativas de fluidez até aos 60 minutos. Apesar disso, duas das combinações, nomeadamente a CEM 1S – SP AB e CEM 1S – SP BB, evidenciaram uma ligeira perda de fluidez nesse intervalo de tempo. Quatro das combinações, CEM 1C – SP AB, CEM 1C – SP DG, CEM 1C – SP EG e CEM 2C – SP AB, chegaram mesmo a exibir uma ligeira melhoria da fluidez no período considerado.

Quadro 8. Resultados dos ensaios de escoamento [s].

Cimento Tempo SP AB SP BB SP CB SP DG SP EG CEM 1C 5 min 126 24 64 109 53 10 min 125 26 58 102 29 30 min 102 28 61 89 28 60 min 90 29 62 82 28 CEM 1S 5 min 31 25 26 24 26 10 min 35 32 18 22 20 30 min 40 37 23 25 23 60 min 46 41 23 25 23 CEM 2C 5 min 161 46 n/d 34 22 10 min 116 42 n/d 36 21 30 min 97 46 n/d 40 22 60 min 86 51 n/d 42 23

NOTA: n/d – não determinado. Os ensaios foram realizados sobre pastas contendo o adjuvante no seu teor de saturação com a exceção da pasta CEM 1C – SP AB, em que o adjuvante foi utilizado com um teor de 1,8 % ao invés de 3,2 %. Os valores sublinhados com linha simples correspondem a uma melhoria da fluidez com o tempo, enquanto os valores sublinhados com

uma linha dupla correspondem a uma perda de fluidez com o tempo.

Quadro 9. Resultados dos ensaios de espalhamento [cm2].

Cimento Tempo SP AB SP BB SP CB SP DG SP EG CEM 1C 10 min 88 280 151 130 173 30 min 92 300 149 142 174 60 min 106 285 161 162 180 CEM 1S 10 min 169 345 398 230 205 30 min 190 267 392 239 206 60 min 192 221 390 237 217 CEM 2C 10 min 95 173 n/d 207 173 30 min 104 157 n/d 176 196 60 min 115 159 n/d 214 208

NOTA: n/d – não determinado. Os ensaios foram realizados sobre pastas contendo o adjuvante no seu teor de saturação com a exceção da pasta CEM 1C – SP AB, em que o adjuvante foi utilizado com um teor de 1,8 % ao invés de 3,2 %. Os valores sublinhados com linha simples correspondem a uma melhoria da fluidez com o tempo, enquanto os valores sublinhados com

uma linha dupla correspondem a uma perda de fluidez com o tempo. Relativamente ao espalhamento das pastas, apenas uma das combinações avaliadas (CEM 1S – SP BB) exibiu uma diminuição significativa com o tempo, embora aos 60 minutos ainda possua um valor de

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J. Custódio, S. Coelho, J. Catarino, M. Vieira e A. B. Ribeiro

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espalhamento relativamente elevado (Quadro 9). Cinco combinações apresentaram um ligeiro aumento da área de espalhamento durante o período avaliado (CEM 1C – SP AB, CEM 1C – SP DG, CEM 1S – SP AB, CEM 2C – SP AB e CEM 2C – SP EG). As restantes combinações não exibiram variações significativas durante este período. Verificou-se que todas as pastas exibiram alguma exsudação ao fim de três horas (Quadro 10). As combinações cimento-adjuvante que exibiram a maior exsudação foram as que incluíam o cimento CEM 1C e os adjuvantes SP BB, SP CG e SP EG. Os resultados demonstraram que não parece existir relação entre o nível de exsudação e a dosagem de adjuvante ou tipo de adjuvante (PCE ou PNS). Contudo, a maior exsudação verificou-se para o cimento que apresentava o menor teor de SO3, o maior teor de álcalis e um teor elevado de C3A.

Quadro 10. Resultados dos ensaios de exsudação [ml].

Cimento SP AB SP BB SP CB SP DG SP EG CEM 1C 1,1 3 3 2 3 CEM 1S 1 1 1 2 1 CEM 2C 1,5 1 n/d 1 n/d

NOTA: n/d – não determinado. Os ensaios foram realizados sobre pastas contendo o adjuvante no seu teor de saturação com a exceção da pasta CEM 1C – SP AB, em que o adjuvante foi utilizado com um teor de 1,8 % ao invés de 3,2 %. Os valores

apresentados correspondem ao teor de saturação expresso como a percentagem mássica de resíduo seco de adjuvante relativamente ao teor de cimento da pasta.

CONCLUSÕES Através do presente estudo verificou-se que as indicações acerca da compatibilidade e da robustez das misturas produzidas com os adjuvantes estudados, indicadas nas fichas técnicas dos produtos, nomeadamente tempo de trabalhabilidade muito longo sem perda de eficiência e sem segregação ou exsudação e boa compatibilidade com todos os tipos de cimento foram, em geral, verificadas para os três cimentos. Contudo, constatou-se que a eficiência de cada adjuvante varia consideravelmente com o tipo e a proveniência do cimento. Os resultados dos ensaios de escoamento realizados para determinar o teor de saturação dos adjuvantes permitiram concluir que a fluidez pode variar consideravelmente entre os limites mínimo e máximo da gama de dosagens recomendada pelos fabricantes, pelo que as dosagens recomendadas de adjuvante deverão ser sempre confirmadas antes da sua utilização, mesmo nos casos em que se está a utilizar o mesmo tipo de cimento e apenas um produtor. Observou-se ainda que os adjuvantes foram mais eficazes com as pastas produzidas com o cimento que possuía uma finura Blaine intermédia, o menor teor de C3A e de álcalis e um teor intermédio de SO3, i.e. o CEM 1S. Este cimento foi aquele requereu a menor quantidade de polímero de adjuvante para atingir a proporção de saturação. O adjuvante que mostrou ser menos sensível à variação do cimento foi o que possuía a maior massa volúmica, o maior teor de resíduo seco e de álcalis e a maior condutividade, i.e. o SP BB. Este adjuvante e o CEM 1S produziram as combinações cimento-adjuvante mais robustas. Os resultados destes ensaios, evidenciaram ainda que para atingir o comportamento reológico indicado nas fichas técnicas por vezes é necessário utilizar dosagens de adjuvante superiores às recomendadas pelo fornecedor. Por último, estes ensaios mostraram que as dosagens de saturação, em termos da quantidade de polímero adicionada à pasta, se pode encontrar dentro, abaixo ou acima das dosagens recomendadas nas fichas técnicas do produto consoante o cimento, pelo que ao seguir-se a recomendação da ficha técnica sem a realização de ensaios para confirmar o comportamento da mistura, poder dar-se a situação de se estar a subaproveitar as potencialidades do adjuvante e, também, a potenciar problemas de compatibilidade cimento-adjuvante. Em termos de compatibilidade, os resultados dos ensaios de escoamento, espalhamento e exsudação realizados em pastas preparadas com o adjuvante na sua dosagem de saturação, demonstraram que nenhum adjuvante apresentou igual compatibilidade com os três cimentos. O adjuvante mais consistente foi o SP BB (PNS) pois apresentou uma boa eficiência com a dosagens dentro ou

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Compatibilidade cimento-adjuvante: fator de homogeneidade dos betões autocompactáveis

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ligeiramente abaixo das indicadas na ficha técnica. Dos vários adjuvantes estudados, este possui a maior massa volúmica, o teor de resíduo seco mais elevado, o teor de álcalis mais elevado e a maior condutividade. Os adjuvantes SP CB, SP DG e SP EG também obtiveram resultados aceitáveis, contudo com dosagens muito superiores às indicadas nas fichas técnicas. Apesar disso, todas as pastas produzidas com estes adjuvantes apresentaram exsudação. Em termos da natureza química do adjuvante, verificou-se que, tal como esperado, os adjuvantes de PCE e de PNS se comportaram de forma diferente com os vários cimentos, dado que os mecanismos de ação de ambos não são idênticos. O adjuvante PNS demonstrou ser menos sensível a variações na composição da pasta, dado que estas apresentaram valores consistentes de escoamento para várias dosagens e para diferentes cimentos. Os adjuvantes PCE, por outro lado, apresentaram valores de escoamento muito diferentes consoante o teor de adjuvante e tipo e proveniência do cimento utilizados na pasta. Os resultados obtidos evidenciam que os principais parâmetros dos cimentos que condicionam a compatibilidade entre estes e os adjuvantes do tipo PCE e PNS e a robustez das respectivas misturas são o teor de C3A, o teor de sulfatos e a finura do cimento. Este conhecimento, permite que possam ser efetuadas estimativas acerca da potencial compatibilidade entre um cimento e um adjuvante dos tipos aqui estudados. Contudo, como não foi possível estimar o peso que de cada um dos parâmetros referidos tem na compatibilidade cimento-adjuvante e dado que este irá variar consoante a composição química do polímero e fase aquosa do adjuvante utilizado, é ainda imprescindível que se realizem sempre ensaios para aferir a compatibilidade entre o adjuvante específico escolhido para uma determinada aplicação e a composição da mistura a utilizar em obra. Estes resultados preliminares não permitiram evidenciar, tal como sucedeu para os cimentos, quais as características do adjuvante que mais influenciam a compatibilidade cimento-adjuvante, pelo que são necessários mais ensaios químicos para que se obtenha uma melhor perceção das diferenças existente entre os vários adjuvantes avaliados. Estes ensaios estão previstos no estudo em curso no LNEC e os resultados serão divulgados assim que possível. REFERÊNCIAS [1] Ramachandran, R. S., "Concrete admixtures handbook: properties, science, and technology", in

Building materials science series, vol. 2 ed., Noyes Publications, 1996. [2] Rixom, R. & Mailvaganam, N., "Chemical Admixtures for Concrete", 3 ed., E & FN Spon:

London, 1999. [3] "ACI 212.3R-10 Report on Chemical Admixtures for Concrete". American Concrete Institute

(ACI): Farmington Hills, MI, 2010. [4] "ACI 212.4R-04 Guide for the Use of High-Range Water-Reducing Admixtures

(Superplasticizers) in Concrete". American Concrete Institute (ACI): Farmington Hills, MI, 2004. [5] Ramachandran, V. S., Malhotra, V. M., Jolicoeur, C. & Spiratos, N., "Superplasticizers:

properties and applications in concrete". Canada Centre for Mineral and Energy Technology - CANMET Publication MTL 97-14 (TR): Ottawa, 1998.

[6] Spiratos, N., Pagé, M., Mailvaganam, N. P., Malhotra, V. M. & Jolicoeur, C., "Superplasticizers for Concrete: Fundamentals, Technology, and Practice". Supplementary Cementing Materials for Sustainable Development, Inc.: Ottawa, 2003.

[7] Dodson, V. H., "Concrete Admixtures", 1st ed., Van Nostrand Reinhold: New York, 1990. [8] Taylor, H. F. W., "Cement Chemistry", 2nd ed., Academic Press: London, 1997. [9] Hewllet, P., "Lea's Chemistry of Cement and Concrete", 4th ed., Butterworth-Heinemann:

Oxford, 2004. [10] Larrard, F., "Concrete mixture proportioning: a scientific approach". E & FN Spon: London,

1999.