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114 Companhia de Terras, Madeiras e Colonização de São Paulo

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Companhia de Terras,Madeiras e Colonização

de São Paulo

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“SOLUM PRO LABORE MERITUM”

A Companhia, totalmente brasileira, foi fundada em 17 de outubro de 1912, em São Paulo, por um grupo de 10 pessoas, entre as quais meu avô, Roberto Clark.

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O brasão da companhia.

O brasão da companhia continha o seguinte lema: ”SOLUM PRO LABORE MERITUM” (MÉRITO SOMENTE PELO TRABALHO). Este brasão permanece até hoje no frontispício de sua sede, no edifício ainda existente em Birigüi, à Rua Roberto Clark, 300.

É importante assinalar que vovô, Roberto Clark, junto com outros seis amigos, decidiram criar uma empresa para implantar o progresso e o desenvolvimento na Zona Noroeste do Estado de São Paulo, e para isso adquiriram, inicialmente, de Manoel Bento da Cruz, grande proprietário de terras na região, uma área de 6.460 alqueires.

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Tabela de preços de venda de terras.

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Registro da Escritura de Compra.

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Estas terras eram completamente cobertas pela Mata Atlântica e incluía trecho da Estrada de Ferro Noroeste, recém-construída, onde se situava a chave do desvio de Brigüi, e ainda estava parcialmente habitada pelos índios Coroados.

Assim, “Conforme escritura de 14 de outubro de 1912, James Mellor, o Dr. Presciliano Pinto de Oliveira, o Dr. Augusto Elysio de Castro Fonseca, Roberto Cla-rk, Edward Hamer, José Bento Sampaio e Francisco de Marchi, adquiriram, por compra, e pelo preço de 65.000$000 (sessenta e cinco contos de réis) a Manoel Bento da Cruz e sua mulher D. Leonor do Amaral Cruz – seis mil e quinhentos alqueires de terras, nas fazendas Baixotes e Baguassu” que passaram a se denominar Fazenda Perobal.

Em seguida, a 17 de Outubro foi constituída a Cia de Terras e Madeiras de São Paulo, transferindo-se a ela estas terras, para formação da nova empresa.

Constituiu-se a sociedade anônima “The San Paulo Land & Lumber Company” no dia 17 de outubro de 1912, por escritura nas notas do Segundo Tabeliona-to da cidade de São Paulo, do Dr. James Mellor e sua mulher D. Salviana Henriqueta Mellor; Edward Hamer e sua mulher D. Alice Hamer; Dr. Arlindo Alberto Lima e sua mulher D. Lavinia Marques de Lima; Francis-co de Marchi, solteiro; Dr. Augusto Elisio de Castro Fonseca e sua mulher D. Maria Marques de Castro Fonseca, domiciliados em São Paulo; Roberto Clark e

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sua mulher D. Harriet A. Clark; José Bento Sampaio e sua mulher D. Leonor de Vasconcelos Sampaio, resi-dente em Ribeirão Preto; Cel. Manoel Bento da Cruz e sua mulher D. Leonor do Amaral Cruz, de Penápolis; Dr. Presciliano Pinto de Oliveira e sua mulher D. Ana Cândida Costa Pinto; Dr. Frankllin Mariano Keffer e sua mulher D. Maria Antonia Keffer, de Rio Preto.

Além desta incorporação, conforme ata do dia 18, fo-ram ainda incorporados à Companhia, direitos creditó-rios por diversos títulos, no valor de cento e cinqüenta contos de réis, perfazendo os bens incorporados o total de oitocentos contos de réis.

Assim, foi a companhia constituída, com o capital de 800.000$000 (oitocentos contos de réis), dividido em 8.000 ações integralizadas, do valor nominal de 100$000 por unidade.

Os 10 sócios fundadores da Companhia, e suas parti-cipações, eram os seguintes:

James Mellor 176.000$000; 1.760 ações

Roberto Clark 173.000$000; 1.730 ações

Presciliano Pinto de Oliveira173.000$000; 1.730 ações

Manoel Bento da Cruz 173.000$000; 1.730 ações

Edward Hamer 30.000$000; 300 ações

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Arlindo Lima 15.000$000; 150 ações

Francisco de Marchi 15.000$000; 150 ações

José Bento Sampaio 15.000$000; 150 ações

Franklin Keffer 15.000$000; 150 ações

Augusto Elisio de C. Fonseca 15.000$000; 150 ações

Nota: Francisco de Marchi possuía um trolley de aluguel em Sarandy, e segundo tia Daisy, era a única pessoa em que vovô confiava para transporte de seus familiares, quando necessário.

A primeira Diretoria da Companhia foi assim consti-tuída: Arlindo Lima, Presidente; James Mellor, Diretor Gerente; Roberto Clark, Diretor Técnico; Manoel Bento da Cruz, Diretor Secretário; Edward Hamer, Augusto Elysio de Castro Fonseca e Franklin M. Keffer, membros do Conselho Fiscal.

Passaram a residir em Birigüi, meu avô Roberto Clark, Edward Hamer e James Mellor; Manoel Bento da Cruz residia em Bauru, onde também havia escritório da Companhia, que também possuía escritório em São Paulo, inicialmente na Rua do Hyppodromo, 219.

A seguir apresentamos fotos de alguns dos fundadores da Companhia.

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Francisco de Marchi.

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A 23 de junho de 1914, às 13 horas, em sua sede social, na Rua São Bento, numero 57, em São Paulo, reunidos os acionistas representando mais de dois terços do capital da companhia, em Assembléia Geral Extraor-dinária, foi aclamado para servir de presidente o Sr. Roberto Clark, que convidou para seus secretários os srs. George Rowland e Anor Garcia.

Nessa ocasião desistiu da presidência da companhia o Dr. Arlindo Lima, por ter transferido todas as suas ações.

Na ocasião, entre outras propostas feitas por James Mellor, foram aprovadas as seguintes:

- Modificar o título da Companhia, adicionando as palavras” & Colonization” e “Colonização”, depois das palavras “Lumber” e “Madeiras”, da seguinte forma : “The San Paulo Land, Lumber & Colonization Com-pany” – Companhia de Terras Madeiras e Colonização de São Paulo”.

- Que se modificassem as condições e prazo do contrato firmado com o Dr. Augusto Elisio de Castro Fonseca e sua mulher, em 16 de outubro de 1912 para a compra de 5.868 alqueires de terras situadas na Fazenda “Baguaçu”, pelo preço de 176.040$000, também contratar a compra de 3.068 alqueires anexos , a 30$000 o alqueire, sendo os pagamentos feitos à razão de 40% das rendas da companhia a começar de primeiro de janeiro de 1915.

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- Autorizar a Diretoria a comprar terras de diver-sos, nas vizinhanças de Birigüi, anexas às que a com-panhia possui ou venha a possuir, a fim de completar seu plano de colonização, podendo efetuar as compras pela melhor forma que uma maioria (a metade e mais um) da Diretoria julgar mais conveniente.

- Instalar um escritório em Birigüi para atender os interesses comerciais e as exigências técnicas da Companhia, sendo para esse fim remodelado e au-mentado o prédio existente.

- Auxiliar, mediante a contribuição de dez (10) tostões por alqueire de terras vendidas, na proporção que for vendendo, a construção de Estação, Posto Po-licial, escolas e mais edifícios necessários ao progresso do núcleo de Birigüi e o bem-estar de sua população.

- Fundar outros núcleos, ao longo da Estrada de Ferro Noroeste, entre os quilômetros 245 e 277, quan-do julgar conveniente, podendo combinar e contratar com a administração da referida Estrada as condições da colocação de desvios-chaves, postos ou estações e suas construções.

- Construir estradas que possam servir para o trânsito de veículos modernos: automóveis etc.

- Construir vias férreas ou fluviais, luz e força elétricas, linhas telefônicas, arrendar ou comprá-las, como bem assim quedas hidráulicas quando julgar

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conveniente.

- Beneficiar café e cereais, servir de comissários ou intermediários, fazer operações bancárias, fazendo parte como sócia comanditária de outras empresas ou firmas comerciais, estabelecer agências ou filiais den-tro e fora do País, fundando fazenda modelo, campo de experiência e tudo mais que julgar necessário para o desenvolvimento da colonização de suas terras.

A Companhia foi a executora de todo o loteamento das terras de Birigüi, Bilac, Coroados e parte de Araçatuba; promovendo a venda de terras (aproximadamente 60.000 alqueires de matas virgens, na sua totalidade entre as vertentes do Rio Tietê e do Rio Feio, atraves-sadas pela Estrada de Ferro Noroeste), divididas em lotes de 10, 20, 50, 100 e 200 alqueires, sendo que cada lote, independente de seu tamanho, tinha sem-pre uma divisa em um rio, garantindo o suprimento de água, e outra no espigão da gleba, terminando em uma estrada, garantindo livre acesso à propriedade.

A Companhia de Terras loteou todas as terras de Biri-güi, e usando igual procedimento loteou o restante, criando os patrimônios de Coroados (inicialmente pa-trimônio Recta Grande), Guatambu, Taquari, Baguassu e Nipolândia (posteriormente Bilac).

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Os primeiros compradores de terras da Companhia em Birigüi, foram:

Nicolau da Silva Nunes, português, 223 alqueires.Antonio Gonçalves, espanhol, 100 alqueires.Affonso Garcia, espanhol, 100 alqueires.Xinez Ponces e 2 sócios, espanhol, 60 alqueires.Antonio Lopes e 2 sócios, espanhol, 60 alqueires.José Moimaz, austríaco, 160 alqueires.Ricardo Deneri, austríaco, 40 alqueires. José Escarpini, austríaco, 120 alqueires.José Tonzar, austríaco, 120 alqueires.Francisco Martins, espanhol, 100 alqueires.Viúva Conde, Hespanhol, 100 alqueires.Francisco Galindo de Castro, espanhol, 30 alqueires. Antonio Munhoz, hespanhol, 15 alqueires.

Esta listagem de compradores é de 54 pessoas, e se supõe que estas 13 mencionadas, que encabeçam a lista, foram os primeiros compradores, pela ordem.

O anúncio menciona que, para informações: Roberto Clark, Villa Bomfim e em Birigüi (Estrada de Ferro No-roeste) James Mellor.

Os primeiros compradores de terra que vieram para Birigüi, quando chegaram, moraram inicialmente em um vagão da Estrada de Ferro Noroeste, posto à disposição em um desvio da chave de Birigüi e são os seguintes:

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Anúncio da Companhia no jornal de São Paulo, de janeiro de 1913.

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Nicolau da Silva NunesFrancisco Martins (Artilhas)Francisco Galindo de Castro (e seu empregado Manoel Inácio), eAntonio Munhoz.

Em seguida juntou-se ao grupo a Sra. Antonia Real Dias, esposa do Sr. Francisco Galindo de Castro, pri-meira mulher a morar em Birigüi.

O Sr. Nicolau da Silva Nunes construiu a primeira casa de Birigüi, para sua moradia.

Em anúncio da Companhia de Terras, em jornal de São Paulo, em 1913, mencionava-se que para informações deveriam dirigir-se ao Dr. Manoel Bento da Cruz, no escritório de Bauru, ou em Birigüi ao Dr. James Mellor, ou ao Sr. Nicolau da Silva Nunes.

Nota: O Sr. Nicolau não era sócio da Companhia.

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Anúncio com nome do Sr. Nicolau da Silva Nunes.

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Anúncio com nome do Sr. Nicolau da Silva Nunes.

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La Squilla, jornal da colônia italiana de São Paulo, em artigo datado de 31 de outubro de 1913, publi-cou o seguinte artigo: “Una iniziativa felice”, do qual destacamos o seguinte trecho - “Il programma dell´impresa su accennata é altamente altruistico, cioé colonizzare creando independenti piccoli e grandi PROPRIETARI , per cui ha comperato dopo maturo esame di titoli e case, immense estensioni di TERRENI FERTILISSIMI nella zona Noroeste, fra le stazione di G.Glicério e Araçatuba iniciando imme-diatamente la subdivisione, ... - Non è um anno che la Compagnia ha inco-minciato le sue opera-zione e giá ha fondata la futura cittá di Biriguy.”.

Em reportagem do PASQUI-NO COLONIALE, de São Paulo, de 22 de novembro de 1913, pode-se ler: “La prima cittadina fondata dalla Compagnia é quella di Biriguy, tra le stazioni di G.Glicério e Araçatuba, dove vivono già prosperamente um centinaio di proprietari, fra Inglesi, Tedeschi, Italiani, Portuguesi e Spagnioli.

Em outro anúncio da Companhia, em 12 de março de 1914, temos: “Começou-se o ano de 1913, com 8 casi-nhas, e no espaço de 12 meses construiu-se mais de 100.

A Companhia de Terras anunciava as terras de Birigüi nos principais jornais da cidade de São Paulo e do interior do Estado, dando ênfase à publicação de fotografias das diversas culturas já iniciadas, principalmente: café, milho, arroz e cana; conforme se vê em anúncios da época.

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Trecho do jornal La Squilla, de 31 de outubro de 1913.

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Trecho do jornal Pasquino Coloniale,de 22 de novembro de 1913.

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Anúncio de 12 de março de 1914.

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Do jornal “O Bauru”, numero 345, ano VIII, do dia 12 de julho de 1914, tiramos o trecho seguinte: “Birigüi pouco tempo atrás nada mais era senão um lugar temido, porque muito freqüentado pelos índios Co-roados. Depois da catequese, isto é, de 14 meses a esta parte quando a importante “The San Paulo Land & Lumber Comp” começou a venda das terras em pequenos lotes, tem a localidade progredido de tal forma que parece inacreditável.”.

Em 1922 a Companhia já havia aberto 700 quilômetros de estradas de penetração, sen-do que 141 eram próprios para automóveis.

Neste ano de 1922, a Companhia, já havia di-vidido em lotes 38.434 alqueires de terra, dis-tribuídos a 2.032 sitiantes, nacionais, portu-gueses, i tal ianos, espanhóis e japoneses.As terras da sociedade achavam-se localizadas de Penápolis a Araçatuba, servidas pelas Estações de Promissão, Capituva, Miguel Calmom, Pená-polis, Glicério, Coroados, Birigüi, Guatambu e Araçatuba, da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Inicialmente, Coroados, no loteamento feito pela Companhia, foi denominado Recta Grande.

Sendo a Estrada de Ferro Noroeste caracteriza-da pelo grande número de curvas, este trecho de Coroados destacava-se por ser uma reta bem grande, provavelmente a maior da Noroeste.

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Como dissemos, a promoção das vendas era feita através de anúncios nos principais jornais da Capital, como O Estado de São Paulo, e do interior, e isto incluía publicações em periódicos especialmente dedicados às colônias de imigrantes que procuravam o Brasil em busca de oportunidades.

Entre os jornais com foco nas colônias de imigrantes destacamos: A Fanfulla, Squilla, Il Pasquino Coloniale, La Nuova Itália da colônia italiana; Deutsche Zeitung für São Paulo, da colônia alemã; São Paulo Shimbum e Nippakusha da colônia japonesa; Diário Hespanhol; e outros.

Para redação e preparo dos anúncios em japonês, a Companhia contratou o imigrante Hachiro Miyazaki, que chegou ao Brasil em 1913 e, que passou a residir em Birigüi, de onde eram expedidos os anúncios pela Companhia.

Sem dúvida, não fosse o grande trabalho de planeja-mento de todo o loteamento desta região, e sua di-vulgação, totalmente feitos pela Companhia de Terras, Madeiras e Colonização de São Paulo, Birigüi não teria tido o progresso que tão rapidamente apresentou.

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Sr. Miyazaki e alguns anúncios, incluindo foto da família e da sede

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Sr. Roberto Clark num dos anúncios preparados pelo sr.Miyazakidirigidos à colônia japonesa.