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COMPACTAÇÃO DOS SOLOS E PRODUTIVIDADE NAS PROPRIEDADES
AGRÍCOLAS DO OESTE DA BAHIA
INTRODUÇÃO:
Nos últimos dois anos realizamos coletas de amostras de solos em grande
quantidade de propriedades agrícolas desta região, em torno de 800, amostras
para atender aos projetos: “Nematoides Fitoparasitas na Soja, Algodão, Café e
vegetação nativa do Oeste” e “Agricultura Sequestradora de Carbono em
Perímetros Agricultados com Algodão e Culturas acessórias”.
Estas amostras foram coletadas em um universo muito amplo, representando a
1.952.000ha, onde neste ano agrícola 2.016/17 81% é ocupado com soja,9,8%
com algodão e 9,02% com milho.
Chamou a atenção, a dificuldade de se conseguir coletar as amostras de solos,
em função da resistência e compactação dos mesmos. Decidimos analisar com
mais critério as condições das práticas de mecanização agrícola e distribuição
de adubos nos solos. Concluímos que há necessidade de se buscar alternativas
de usos dos solos visando a descompactação dos mesmo bem como corrigir a
fertilidade.
CLIMA:
A classificação do clima (Köeppen) é do tipo Aw tropical úmido, com inverno seco
e verão chuvoso. A estação seca é bem definida, cujo período chuvoso inicia-se
nos meses de outubro e termina nos meses de abril, com precipitação média
anual neste período de 852mm, dados da estação meteorológica de Barreiras.
Acrescenta-se que durante o período chuvoso é comum a presença de
“veranicos” interrupções das chuvas por mais de 15 dias. A janela de
oportunidade de desenvolvimento de lavouras é somente de 180 dias, fora deste
tempo os solos já se tornam com baixa umidade não permitindo uma boa
mecanização agrícola.
VEGETAÇÃO:
Cerrado típico do centro oeste do Brasil, com pequenas variações, entre campo
sujo, campo limpo e “grameal” específico desta região que é um cerrado com
plantas de porte baixo, arbustivos, muito denso composto com taboquinhas.
SOLOS:
Predominantemente por Latossolos Vermelho Amarelo, distrófico, arenoso a
franco arenoso, raramente argiloso. Presença em menor escala de solos
neoquatzarenos e solos hidromórficos. A granulometria varia de 60% a 70% de
areia, 20% a 35% de argila e cerca de 5% de silte. Ácidos, baixa matéria
orgânica, baixa fertilidade natural, planos e favorável a mecanização agrícola.
MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA:
A abertura das áreas na fase inicial de ocupação das terras desta região se dava
de modo muito simples e rápido: Supressão do cerrado era realizado com uso
de tratores de pneus atados em cabo de aço em algumas áreas fazia-se a
incorporação a vegetação direta, ou seja entrava-se com arado incorporado a
vegetação dos cerrado campo limpo. A seguir distribuição de calcário, grade
aradora, catação de tocos e raízes, distribuição de fosfato, niveladora e plantio.
Há alguns anos aboliu-se o arado, usando-se subsolador, grade pesada
niveladora e plantio. Registra-se que a subsolagem tem um efeito razoável
somente quando a umidade dos solos estão em capacidade de campo e este
período é muito curto, pois após a colheita em abril sobra somente o mês de
maio ainda com umidade.
EVOLUÇÃO DO USO DAS TERRAS;
As primeiras iniciativas de exploração comercial das erras desta região com o
plantio de grão se deu no início dos anos 80, 1982, com o plantio de 2,000ha de
soja. O sucesso do primeiro plantio provocou uma grande corrida para o Oeste
da Bahia, sempre tendo a soja como a cultura principal. Hoje, 2.017, estamos
plantando 1.580.000ha de soja, cuja área cresce 2% ao ano. Durante essa
evolução o milho começou a despontar como alternativa para rotação de cultura
e atualmente ocupa 180.000ha.Posteriomente o algodão apareceu como uma
opção comercial interessante e atualmente ocupa 192.000ha, ocupação
decrescente. As alternativas de rotação de cultivos se dá preferencialmente, soja
vs. milho e soja vs. Algodão.
EVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS:
Os primeiros tratores usados na região eram de baixa potência, onde ainda não
havia os traçados nas quatro rodas, fazia-se uma mecanização muito precária e
de baixo rendimento. As plantadeiras mal distribuíam as sementes de qualquer
modo, seguindo somente o alinhamento mais ou menos uniformes. Os stands
eram totalmente variáveis.
Com os megatratores atuais, conseguindo tracionar plantadeiras de48 linhas
com distribuição de sementes com alta precisão e plantio teleguiado com GPS’s,
permite-se a distribuição do adubo na linha no período ainda seco e se realiza o
plantio exatamente na linha do adubo, no período úmido, ganhando assim um
precioso tempo. Dessa forma o sistema torna-se altamente eficiente para
atender o pouco período disponível para o plantio. Toda a área mencionada
anteriormente é plantada em um período de no máximo 45 dias, ou seja inicia-
se o plantio, quando possível na segunda quinzena de outubro e encerra-se no
início de dezembro, fora deste período já ocorre o risco de falta de umidade nos
solos para concluir o ciclo das plantas.
EVOLUÇÕES AGRONÔMICAS:
Plantávamos variedades de soja, milho, feijão e tínhamos obviamente baixas
produtividades comparadas às produtividades atuais. Soja produtividade em
torno de 35 scs/há, atualmente 50scs, milho era 60scs, hoje é 135sc, e algodão
era 80@ e, hoje 230@/ha. Ou seja, grandes mudança nas produtividades graças
as sementes híbridas, geração BT atual, programas de vazios sanitários,
controle integrado de pragas e outras mais. Os custos de produção aumentaram
vertiginosamente, não dando margem de lucro aos produtores que não
obtiverem nas colheitas o mínimo das produtividades, soja, milho e algodão
EVOLUÇÕES NO MANEJO DOS SOLOS:
A minha experiência, de engenheiro agrônomo com especialização em
pedologia e agricultor desta região, bem como os 38 anos acompanhando o
desenvolvimento do Oeste da Bahia, me credencia, mesmo sem base em
trabalhos de pesquisas, a fazer as seguintes afirmações:
a) –O plantio direto não conseguiu se firmar na região, salvo alguns
exemplos bem sucedidos. Talvez o motivo seja o longo período seco que
não permite um bom desenvolvimento de sistemas radiculares de plantar
indicadas para estruturação dos solos;
b) –O plantio na palha, muito mais difundido, consiste em plantio de milheto
nas primeiras chuvas e depois de não mais que 60 dias é dissecado e
efetivado o plantio. É um meio termo que traz muito benefícios como a
proteção dos solos contra a erosão, diminuição da temperatura e retenção
de umidade, entretanto o sistema radicular desta plantação não é capaz
de realizar a quebra da camada compactada;
c) –A predominância de plantio de soja na região, cerca de 80% da área
total, contribui de forma decisiva para a compactação dos solos, já que
ela não tem sistema radicular agressivo e não é precedido de rotação de
culturas em consorcio com o braquiária, por exemplo, conhecido como a
gramínea mais eficiente em descompactação de solos;
d) –A granulometria dos nossos solos é altamente favorável a compactação
dos solos. Os percentuais de areia, argila e silte, bem como a calagem,
sob pressão de máquinas cada vez mais pesadas favorecem também a
compactação;
e) –A umidade dos solos, somente em 180 dias, não permite aos agricultores
desenvolverem a safrinha, levando- os a buscar uma safra única cheia.
Entretanto isto não é suficiente para serem competitivos com outras
regiões. Daí busca-se compensar aumentando as áreas de produção, que
por sua vez, exigem mais agilidade dos produtores para plantarem no
período ideal de umidade dos solos. As propriedades para serem
rentáveis devem cultivar pelo menos 3.000ha. Precisão de máquinas
grandes e ágeis. Este fato leva a necessidade de que todas as operações
na lavoura sejam também rápidas. Talvez essa seja uma das razões
porque as atenções com o desenvolvimento dos solos sejam
negligenciadas em um percentual significativo de propriedades;
f) – Conclui-se que os avanços tecnológicos obtidos os demais segmentos
não foram acompanhados pela evolução dos solos.
COMPACTAÇÃO DOS SOLOS e SUAS CONSEQUÊNCIAS:
Este é um fator, por demais conhecido, cuja solução não é tão simples de ser
alcançada porque muitas variáveis interferem na decisão de se destinar mais
atenção aos solos, principalmente a pouco remuneração financeira do setor, cuja
situação se agrava a cada ano com as consecutivas estiagens recentes.
a) –O plano agrícola das propriedades são montados em função das
perspectivas de lucros oferecidos pelo mercado. A soja tem sido ao longo
dos últimos anos a commodity com maior liquidez e isto leva a decisão
do produtor dar preferencia ao seu cultivo. Atualmente 80% da área
cultivada no Oeste da Bahia é com soja. O cultivo de soja constantemente
na mesma área sem rotação de cultura, torna-se um dos principais
fatores de compactação dos solos.
b) Cria-se um “ciclo perverso”. Onde tenta-se a cada ano, mais uma vez, ter
uma boa safra cultivando toda a sua área com soja, buscando equilibrar
as contas. Ocorre que nos últimos anos, com limitações à altas
produtividades, o produtor, encontra-se forçado a cultivar em solos
compactados, levando-o ao risco de ter novamente baixa produtividade.
Como raramente ocorre boas produtividades, principalmente pela
ocorrência de estiagens e combinado com bons preços, o endividamento
aumenta cada vez mais. Pelos elevados custo de produção praticado,
são necessários para cobrir os custos de produção: Soja 46scs. Milho
101scs e algodão98@. A quebra desse ciclo poderá acontecer se houver
possibilidade de acesso a um crédito que permita planejar a propriedade
a um prazo mais longo, destinando uma parcela da propriedade para a
recuperação dos solos.
c) –Estimamos, em função de diversas excursões realizadas na área
estudada que pelo menos 50% da área do Oeste da Bahia sob o cultivo
contínuo encontra-se com problemas grave de compactação e
desequilíbrio com fertilidade. O efeito desses fatores nos leva a estimar-
se que há perda anual de 1,2t de soja/ha; 1,44t/ha, de milho e 1,2t/ha de
algodão. Sem o efeito da compactação a produtividade deveria ser: soja
4,2t/ha; milho 9,6t; e algodão 4,5t:
Consideramos que 50% das terras cultivadas no Oeste da Bahia, estão
enquadrados na condições acima. Caso elas sejam recuperadas haveria a
redução de necessidade de supressão vegetal em 261.000ha. Se considerarmos
Cultura Área Ton/há Prod. Total-T Ton/há Prod. Total-T Diferença
Soja 790.000 4,20 3.318.000 3,00 2.370.000 -948.000,00
Milho 90.000 9,60 864.000 8,10 729.000 -135.000,00
Algodão 96.000 4,50 432.000 3,48 334.080 -97.920,00
Solos Não Compactados Solos Compactados
as demais áreas do Centro Oeste do Brasil, este problema deverá ter um peso
gigantesco na nossa produção agrícola.
No Plano ABC, criou-se o Programa 1: ”Recuperação de pastagens
degradadas”., e com isso busca-se justificar que não há necessidade de
supressão de novas áreas para a produção agrícola, bastando recuperar
pastagens degradadas. É de fato necessário recuperar pastagens degradadas,
mas esse fato não implica necessariamente que haverá aumento significativo de
produção agrícola, porque o pecuarista tem um sistema e produção própria. Ele
teria muita dificuldade em mudar seus sistemas de produção. Já a
descompactação dos solos agrícolas implica imediato no aumento da produção
agrícola.
SUGESTÕES PARA SOLUCIONAR O PROBLEMA
a) _ Primeiramente deveremos reconhecer que temos um problema muito
sério de desequilíbrio nos solos, tanto no aspecto de compactação como
fertilidade. É um processo crescente e temos que buscar
alternativas para corrigi-lo;
b) _Os produtores sem orientação técnica e assistência financeira também
não terão condições de quebrarem o “ciclo perverso”, continuando a
promover cada vez mais compactação dos solos.
c) –A questão do financiamento para o investimento nos solos, talvez não
seja via Plano ABC porque temos neste plano três situações
inadequados: 1º-O Plano ABC tem origem em atendimento à acordo de
redução de gases de Efeito Estufa, GEE. Que exige muita burocracia
para o acesso. A nossa proposta de recuperação de solos compactados,
uma vez realizando a sua recuperação tem um enorme apelo ambiental,
basta ver que poderemos reduzir o desmatamento no Oeste da Bahia
em 261.000ha. Entretanto o nosso objetivo com a recuperação desses
solos é primordialmente econômico, podendo flexibilizar as exigências
para acesso ao financiamento. 2º- O prazo de vigência do ABC encerra-
se em 2020 e nossa proposta exige um prazo mais longo, pois
entendemos que este é um problema permanente. Sempre teremos
solos a serem recuperados e 3º-O valor destinado a recuperação pelo
ABC é somente de R$ 1.000.000,00 por usuário. Este valor não é
suficiente para atender as demandas dos produtores.
d) – Poderemos criar um Grupo de Trabalho, talvez coordenado pela CNA,
para preparar um proposta de um novo plano, inspirado no ABC voltado
especificamente para a recuperação de solos compactados, ou seja:
PLANO DE RECUPERAÇÃO DE SOLOS COMPACTADOS-PRSC
e) –Sendo aprovado, o Banco Central Emitirá Resolução com orientações
prévias a serem discutidas com os segmentos representativos dos
agricultores para que haja sucesso no recuperação dos solos.
CONCLUSÕES:
Sendo criado PRSC, poderíamos aportar, inicialmente os recursos oriundos do
ABC que não foram aplicados.
Ao término do ABC, em 2.020, este poderia ser substituído pelo PRSC
transferindo os recursos para esse novo plano e desta forma garantir ao produtor
uma nova fonte duradora de financiamento para recuperação de seus solos e
consequentemente aumentarmos as produtividades de grãos, em pelo menos
20%.
O acesso aos recursos do PRSC, deverão ser flexibilizado, exigindo na área
ambiental somente a necessidade da propriedade ter realizado o CAR e para o
banco as garantias de praxe.
Barreiras - Bahia, 13 de fevereiro de 2017
José Cisino Menezes Lopes Diretor de águas e Irrigação – AIBA
(77)3613-8000 / 8053 www.aiba.org.br