como triunfar sobre a tentação - livro

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Page 1: Como triunfar sobre a tentação - livro
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A474 Alves, Silvio Dutra Como triunfar sobre a tentação./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 100p.; 14,8x21cm 1. Fé. 2. Vigilância. 3. Evangelho. 4. Graça. I. Título. CDD 207

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3

Sumário

Perigos da Juventude

4

Vencendo a Tentação

9

Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal." (Lucas 11.4)

18

Conforto para o Tentado

20

Interpretação da Sexta Petição da

Oração do Pai Nosso

27

Os Meios para Derrotar os Ardis de

Satanás

78

Antídoto contra os Desígnios de Satanás

83

Antídoto contra as Astutas Ciladas de

Satanás

92

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4

Perigos da Juventude

“Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que,

de coração puro, invocam o Senhor.” (2 Timóteo

2.22)

As paixões naturais da mocidade não são para

serem seguidas, mas contidas, ao que o apóstolo

chama de “fugir das paixões”.

Como a época da juventude é indizivelmente importante, por isso está exposta a perigos peculiares. De fato, cada período da vida tem

suas próprias provações e tentações. E como

este é um mundo de provação, seria estranho se

não houvesse tentações adequadas para cada idade e condição de vida. Pois as virtudes são

forjadas em nós especialmente pelo meio de se

vencer as tentações e suportar as provações. O

soldado é provado e aperfeiçoado no campo de batalha. E assim, os jovens cristãos o são de igual

forma através das vitórias que obtêm sobretudo

sobre as próprias tentações e provações.

O modo indicado pelo apóstolo para que o jovem se mantenha guardado das paixões naturais a esta faixa de idade, é seguindo a justiça, a fé, o

amor e a paz com os que, de coração puro,

invocam o Senhor.

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5

O mal do pecado é como um veneno mortal que age independentemente de termos consciência

ou não de que o estamos tomando.

E quão comum é se tomar tal veneno na fase da juventude, por não ter ainda o jovem todas as

suas faculdades exercitadas e amadurecidas

para discernir tanto o mal, quanto o bem, da

maneira adequada.

A explosão de sentimentos e de emoções, e a

grande energia pertinente a esta fase da vida, apresentam-se como grandes dificultadores

para se ser sóbrio e moderado conforme exigido

de todos por Deus, independentemente da faixa

etária, uma vez atingida a idade da consciência.

Deus tem regido o universo e deve reger nossas vidas por meio de suas leis fixas. Sobretudo, o

nosso comportamento deve ser regido por suas

leis espirituais e morais, mantendo-nos nós em

nossas respectivas órbitas. Todavia, há em todos uma predisposição natural para violar estas leis,

seja por negligência, ignorância ou

voluntariamente.

O descuido e negligência quanto ao dever de se seguir estas leis divinas conduz ao desperdício da graça que nos está sendo oferecida em Cristo

para nos capacitar ao cumprimento do dever

referido.

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6

De certo modo os jovens são também reféns de sua própria época, porque quando se

multiplicam os maus exemplos, eles se

espelham naqueles que elegeram como ídolos para serem imitados, e na falta de modelos

apropriados, seguem aqueles que mais excitem

suas emoções e seus sentimentos.

E assim somente a determinação de nadar contra a correnteza de suas disposições naturais, poderá lhes dar a vitória, por seguir, de

modo prático, a justiça, a fé, o amor e a paz com

os que, de coração puro, invocam o Senhor.

Seguir bons exemplos demanda então estar em companhia de quem invoca o Senhor com um

coração puro, e não em más companhias.

Não há força natural em nós, para nos dispor a estarmos satisfeitos na companhia de outras

pessoas que buscam se santificar e adorar a

Deus com um coração puro, mas a nossa

sinceridade em buscar este objetivo em oração fará com que a graça de Cristo nos seja

disponibilizada para nos dar a força necessária

para isto.

Temos visto em linhas gerais que tudo o que é bom e agradável a Deus deve ser obtido mediante esforço, sim, com grande diligência, e

sem uma mente e espíritos exercitados na

disciplina do Espírito Santo e na Palavra do

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7

Senhor, será impossível acertar o grande alvo da

vida, que temos dele recebido.

Não é de se admirar portanto que especialmente os jovens estejam tão mais predispostos a serem dominados por vícios, porque estes se instalam

onde falta diligência para um viver correto, que

é sempre trabalhoso e exigente de todo o

empenho de nossa atenção e faculdades, quer da corpo, da alma ou do espírito.

Os vícios chamam ao que é repetitivo e fácil, ainda que cause a nossa destruição pessoal, não

somente por ocuparem a maior parte do nosso

tempo, como também por nos desviarem

daquele comportamento aprovado que deveria ser visto em nós, bem como por nos

incapacitarem a um viver diligente, sóbrio,

disciplinado, e reto.

O padrão da medida de comportamento que

devemos seguir não se encontra no mundo, em outros, nem em nós mesmos, mas somente em

Cristo e na Sua Palavra.

Tudo deve ser medido por este padrão, e não por nossos sentimentos, por mais sinceros e

agradáveis que possam nos parecer. Se não estivermos conformados à vontade de Cristo, o

fruto de nossos pensamentos e ações não

podem ser bons e aprovados.

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Sem a justiça, a fé, o amor e a paz do evangelho de Cristo, existindo e crescendo em nossos corações, jamais poderemos ver vencidas as

paixões da mocidade, ou quaisquer outras.

O mal somente pode ser vencido com o bem. Votos e compromissos assumidos de forma

verbal quanto a uma melhoria dos nossos modos não serão eficazes por si só, e durarão

pouco tempo, enquanto estivermos sob o

domínio das paixões que nos têm governado.

Se não nos entregarmos ao trabalho progressivo da graça na destruição destas paixões nunca

poderemos ver um bom fruto sendo produzido em nós, no lugar dos maus hábitos, tentações e

influências que nos prendem.

Somente quando a Palavra de Cristo estiver habitando ricamente em nossos corações

poderemos estar certos da vitória.

“Sl 119:9 De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o

segundo a tua palavra.

Sl 119:10 De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos.

Sl 119:11 Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.”

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Vencendo a Tentação

“Adiante deles enviou um homem, José,

vendido como escravo;” (Salmo 105.17

Uma marca do herói de Deus é que ele é capaz

de vencer a tentação. Ele tem que passar por

várias tentações sujas, mas ele se mantém

limpo. Ele tem que peregrinar num mundo mau, mas ele guarda a si mesmo da corrupção

do mundo. Ele tem que enfrentar terríveis e

fortes tentações exteriores e interiores, mas o

Senhor o livra de todas. Assim fez José nos velhos tempos, e assim qualquer um de vocês

hoje.

A primeira lição que eu retiro da vida de José é que a pessoa que tentar fazer o que é certo a

qualquer custo não será popular entre os seus irmãos.

Tal é a perversidade da natureza humana, que os homens têm ciúme e inveja daqueles que são

mais puros, mais santos, mais sábios do que

eles. Todo homem tem que fazer a escolha solene entre a amizade de Deus e a amizade do

mundo. Nós não podemos ter ambas. O povo de

Deus se ama mutuamente, mas os ímpios são

sempre inimigos da santidade e da verdade. Se um homem quer ser popular com todos os tipos

de pessoas, ele deve desistir de seu dever para

com o seu Deus.

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"Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vocês; sereis odiados de todos por causa do

meu nome." O homem de mente pura não pode

ser popular com o maldizente e o homem de

vida impura. O homem sóbrio não pode escolher o viciado por companheiro. O homem religioso

nunca deve fazer amizade com aquele, cujo

lema é: "Eu não sei, e eu não me importo, e nada

significa." Todo homem que escolhe deliberadamente a Deus, que escolhe o

caminho estreito do dever, encontrar-se-á com

algum ódio, abuso e desprezo da parte de seus

irmãos descuidados. Tem sido sempre assim desde que o mundo começou, Noé e Ló foram

alvo de zombaria e escárnio. Os profetas que

falavam da vinda do Salvador sempre foram

desconsiderados, e muitas vezes mortos. Quando o Filho de Deus veio ao mundo para

trazer luz e verdade, eles disseram que ele tinha

um demônio, e o penduraram num madeiro. Aqueles que primeiro seguiram seus passos

santos ou eram ridicularizados como loucos, ou

cruelmente torturados e mortos.

Assim tem sido com quase todos os verdadeiros reformadores na religião, ou da ciência, ou da

moral pública. Eles foram chamados de ateus, ou sonhadores, e sua porção tem sido, por vezes,

a prisão.

A retidão de José lhe custou o ódio de seus irmãos, custou-lhe perseguição, prisão,

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escravidão, mas o Senhor estava com ele. Então,

se você tentar fazer o certo, você deve esperar se encontrar com a oposição, com o ridículo, talvez

insultos. Alguns o chamarão de hipócrita, ou

servo de ocasião, ou estraga-prazeres, porque

você evita o caminho da impiedade, e busca a Igreja do seu Deus. O que importa isso? Se você

tem o testemunho de uma boa consciência para

com Deus, se você pode sentir que o Senhor está

com você no caminho pelo qual você está indo, você saberá que é melhor sofrer perseguição

com o povo de Deus do que desfrutar o salário do

pecado por um certo tempo.

Eu também aprendo da história de José, que nossos problemas e desgraças muitas vezes são bênçãos disfarçadas. Deus nos leva para Si

mesmo e para o Céu por caminhos diferentes.

Um homem é provado pelas tentações da

riqueza, outro pelas provações da pobreza. Mas, para cada cristão o caminho da fé é um caminho

difícil, cheio de dificuldades e provações e

obstáculos, mas sempre nos leva mais alto, mais

perto de Deus. Antes que Moisés pudesse olhar as belezas da Terra Prometida, ele teve que

escalar a íngreme subida do Monte Pisga, e

antes que possamos ver claramente as coisas

concernentes à nossa paz, e as coisas boas que Deus tem preparado para nós, devemos viajar na

estrada pedregosa, e suportar as dificuldades

como bons soldados de Cristo.

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Em José, vemos um tipo de cada cristão. Ele foi odiado por seus irmãos porque ele amava o seu

pai, e abominava a iniquidade. Então, se nós amamos o nosso Pai Celestial, haverá uma

abundância de nossos irmãos na terra que irão

nos odiar por isso. Para José houve a inveja de

seus irmãos, o poço significava a sua própria destruição, escravidão, terrível tentação, uma

falsa acusação, uma prisão. No entanto, este

caminho de sofrimento, de provação, de

decepção, de cativeiro, levou-o a um trono, e fez dele governador do Egito; aquele calabouço foi o

trampolim para o palácio, os grilhões de ferro

estavam levando José para a cadeia de ouro, e

para o sinete da mão de faraó. Se José nunca tivesse sido lançado na cova ou vendido aos

ismaelitas, ou preso no Egito, ele nunca poderia

ter sentado à direita de faraó, e seu pai e irmãos

teriam perecido pela fome. Mas essas mesmas dores abriram o caminho para a sua grandeza, e

fez dele o salvador, não somente do Egito, mas

da casa de seu pai.

Meus irmãos, não murmurem, porque a forma pela qual Deus lhe conduz é uma maneira áspera. O caminho de cada homem verdadeiro

através da vida está manchado com sangue e

marcado por lágrimas. Deus nos traz em baixas

condições, como ele fez com José para ser lançado numa cova. Devemos nos encontrar

com as tentações de fogo, para que a nossa fé

possa ser provada como num forno, é preciso às

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vezes sofrer a prisão de homens e falso

julgamento, ou a ignorância, ou a injustiça, mas enquanto o Senhor estiver conosco, como foi

com José, não precisamos temer nenhum mal. O

Senhor, que liberta os homens da prisão nos

libertará, se não nesta vida, pelo menos quando a Morte, o Amigo, abrir a porta da prisão,

passaremos, como Jesus, nosso Mestre, pelo

caminho da tribulação para a glória que será

revelada.

"Doces são os usos da adversidade;

Que, como um sapo, feio e venenoso,

não obstante usa uma jóia preciosa em sua

cabeça.”

E ainda, eu aprendo da história de José, que uma mudança de fortuna muitas vezes traz uma nova

tentação.

José, quando era um simples pastor entre as planícies de Canaã, e habitando entre o seu

próprio povo, não foi colocado face a face com a terrível tentação que o esperava na luxuosa casa

do egípcio Potifar. José nunca estivera sob tal

perigo antes. Quando ele foi lançado na cova ele

corria o risco de perder sua vida, mas agora ele estava em perigo de perder a sua alma; quando

ele foi levado por seus irmãos para o ismaelitas

ele foi vendido como escravo a inimigos, agora

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ele estava em perigo de ser vendido para ser escravo de maus desejos e paixões e perder a

liberdade de inocência que ele nunca poderia

recuperar.

Todo jovem quando sai para o mundo, deixando um silêncio, numa boa casa, talvez, para um grande cidade, e na companhia de pessoas,

boas, ruins, e indiferentes, se encontrará com

uma nova e mais feroz tentação do que ele

jamais encontrou antes. Deixe o exemplo de José ajudá-lo a se manter impecável, imaculado pela

carne, invicto pelo diabo. O Senhor estava com

José em sua hora de provação, Ele estará com

você também. José gritou: "Como vou fazer isso, e pecar contra Deus? "

Ah, lembrem-se disto, meus irmãos. Quando você peca, você não somente faz o mal para si

mesmo e para outros, mas você peca contra

Deus. José fugiu para longe da tentação; na hora da provação devemos fazer o mesmo. Fugir da

má companhia, da conversa suja, da bebida

forte, dos vícios de toda sorte, da visão impura,

do livro e dos entretenimentos vis, afastemo-nos destas coisas como Ló fugiu das ruas da

condenada e amaldiçoada Sodoma. Não se

permitam procurar lugares de má fama; ou

ouvir maledicências; muitos têm morrido como viciados arruinados, sem esperança, que

começaram suas carreiras com um olhar sobre

as fontes de suas tentações. Você não pode tocar

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o campo do pecado mesmo com a ponta do seu

dedo, sem ser contaminado, você não pode ouvir uma palavra ruim, ou olhar para uma coisa

má, sem perder algo de sua pureza. Por isso, eu

digo, quando você puder, fuja da tentação,

quando isso é impossível, mostrem-se heróis lutadores de Deus, na força de Deus, contra o

pensamento mau e o desejo indigno.

"Bravos conquistadores! É para vocês,

essa guerra contra seus próprios afetos,

e o enorme exército dos desejos do mundo."

Ainda, a história de José nos ensina que a riqueza e prosperidade não fazem um bom

homem esquecer seus amigos dos dias menos

prósperos. José era um bom filho e um bom irmão, quando ele vivia a simples vida de pastor

em Canaã. Ele ainda era um bom filho e irmão,

quando ele se sentou no seu trono no lindo

palácio egípcio, a altura vertiginosa que ele tinha galgado não tinha virado a sua cabeça, ou

fez com que não se importasse com a família de

onde ele viera. Ele pensou em seu pai, o velho

Jacó, que estava de luto por ele entre as tendas de Canaã. Ele se lembrou e perdoou seus irmãos

que haviam conspirado contra a sua vida, e lhe

vendido como escravo.

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Agora, irmãos, poucas pessoas podem experimentar prosperidade súbita e inesperada

no caminho certo. Muitos que levavam uma boa

vida numa condição humilde, foram estragados

por serem transplantados para uma posição de riqueza e influência. A prosperidade tenta um

homem muito duramente. Se ele é um bom

homem, se o Senhor sempre estiver com ele,

como foi com José, está tudo bem, senão, riqueza, posição, poder, geralmente estragam

um homem, e o tornam orgulhoso, ocioso,

egoísta, injusto. É uma coisa ruim para um

homem quando ele se torna muito próspero e não se lembra de onde ele veio, e quando ele se

envergonha de seu pai e amigos dos dias

anteriores.

José, o grande governante do Egito, não teve vergonha de enviar provisões para o simples velho de cabelos brancos morador em tendas, a

quem ele amou e honrou como seu pai. José, que

viveu em meio aos luxos da coorte de faraó,

enviou alimentos para a família faminta de sua casa.

Finalmente, aprendemos com a história da beleza e da bem-aventurança do perdão. Que

imagem no Velho Testamento é mais bonita em

sua comovente simplicidade do que a de José chorando pelos seus culpados, mas

arrependidos irmãos, e lhes dando as boas

coisas do Egito em troca das coisas más que lhe

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haviam dado? Nós nunca poderemos ser felizes,

nós nunca poderemos estar em paz, não

poderemos ser prósperos no verdadeiro sentido, a menos que perdoemos livremente

todos aqueles quem nos têm ofendido.

Ao longo desta história de José, vemos a sombra de Jesus, o tipo desta compaixão divina que o

levou a orar por seus assassinos, que o fez enviar as coisas boas do céu a seus irmãos que

passavam fome num mundo de pecado, o que

proporciona para nós, que tantas vezes pecamos

contra Ele, contra a boa terra de Gósen, Sua Igreja na terra, e o melhor da terra além do "mais

querido país que ansiosamente nossos corações

esperam."

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra,de um sermão em domínio publico de Harry John Wilmot - Buxton

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“Não nos deixeis cair em tentação, mas

livrai-nos do mal." (Lucas 11.4)

O que somos ensinados a buscar ou a evitar na

oração, devemos também buscar ou evitar em ação.

Por isso devemos evitar muito seriamente a tentação, procurando andar tão cautelosamente

no caminho da obediência, que nunca

venhamos a tentar o diabo para nos tentar.

Nós não devemos entrar na mata em busca do leão. Poderíamos pagar muito caro por tal presunção. Este leão pode cruzar nosso

caminho ou saltar sobre nós a partir do matagal,

mas não temos nada a ver com caçá-lo. Aquele

que se encontrou com ele, mesmo que tenha ganho o dia, verá que é uma luta séria. Que o

cristão ore para que ele possa ser poupado do

encontro. Portanto, nosso Salvador, que tinha

experiência do que a tentação significava, admoestou seriamente seus discípulos: "Orai

para que não entreis em tentação."

Mas façamos o que façamos, seremos tentados; daí a oração: "livrai-nos do mal." Deus teve um

único Filho sem pecado, mas ele não tem um filho sem tentação. O homem natural nasce para

a tribulação, como as faíscas voam para cima, e

o homem cristão nasce para a tentação.

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Devemos estar sempre em vigilância contra Satanás, pois, como um ladrão, ele não dá

nenhuma indicação de sua abordagem. Os

crentes que têm tido experiência dos ardis de Satanás, sabem que há determinadas épocas

quando ele provavelmente irá atacar, assim

como em certas épocas do ano os ventos podem

ser esperados; portanto, o cristão se coloca em dupla guarda dupla por temor do perigo, e o

perigo é evitado por nos prepararmos para

encontrá-lo. É melhor prevenir do que

remediar: é melhor estar tão bem armado que o diabo não irá atacá-lo, do que suportar os

perigos da luta, mesmo que você saia da mesma

como um vencedor. Por isso o Senhor nos

ensinou a orar: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal." Ore esta noite,

primeiro para que você não possa ser tentado, e

depois, caso a tentação seja permitida, para que

você seja livrado do mal.

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

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Conforto para o Tentado

"Não vos sobreveio tentação que não fosse

humana, mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo

contrário, juntamente com a tentação dará

também o meio de saída, para que a possais

suportar "(I Coríntios 10.13)

(Ao dizer “tentação que não fosse humana” o apóstolo não está se referindo à fonte da

tentação, pois sabemos que há tentações que

são originadas do diabo, mas à nossa capacidade

de suportá-las humanamente se falando; ou seja, por exemplo, não são tentações cuja

natureza somente os anjos poderiam suportar –

nota do tradutor)

Os filhos de Deus estão sujeitos à tentação, alguns deles são tentados mais do que outros. Se alguém pudesse ter escapado, certamente teria

sido "o primogênito entre muitos irmãos", mas

você vai se lembrar como Jesus foi guiado pelo

Espírito, diretamente das águas do batismo, ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E o apóstolo

Paulo nos informa que Ele "em tudo foi tentado

como nós somos, mas sem pecado."

Verdadeiramente, o Senhor Jesus pode dizer para nós que somos Seus seguidores: "Se eu,

vosso Mestre e Senhor, tenho sido tentado, você

não deve esperar escapar à tentação, porque o

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discípulo não está acima do seu mestre, nem o

servo acima do seu Senhor."

O fato de que somos tentados deveria humilhar-nos, pois é a triste evidência de que há pecado

ainda permanecendo em nós.

O homem que acredita que é perfeito nunca

pode orar a Oração do Senhor - ele deve oferecer uma de sua própria criação, pois nunca estará

disposto a dizer: "Não nos deixeis cair em

tentação." Mas, amados, porque o diabo acha

que valeria a pena tentar-nos, podemos concluir que há algo em nós que é sujeito à tentação - que

o pecado ainda habita lá, apesar de que a Graça

de Deus tenha renovado os nossos corações.

A razão para a apresentação da petição: "Não nos deixeis cair em tentação." deve ser porque nós somos muito fracos e frágeis. Pedimos para que

não possamos ser sobrecarregados, para que a

nossa carga não seja forte, e rogamos que não

tenhamos o pecado colocado diante de nós, em quaisquer de suas formas atraentes, pois,

muitas vezes, a carne empresta força do mundo

e até mesmo do diabo! E essas potências aliadas

seriam demais para nós, a menos que a Onipotência de Deus, seja exercida em nosso

nome para nos segurar para não cairmos.

Alguns filhos de Deus, a quem eu conheço, ficam muito perturbados, porque eles são

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tentados. Eles acham que poderiam suportar a

provação se ela fosse dissociada do pecado, embora eu não vejo como possamos, como

regra geral, ter a provação separada da tentação,

porque cada provação que vem a nós tem em si

algum tipo de tentação.

Nós somos tentados pelas nossas misericórdias e somos tentados pela nossa miséria, isto é,

tentado no sentido de sermos provados por elas,

mas, para o filho de Deus, a coisa mais grave é

que, às vezes, ele é tentado a fazer ou dizer coisas que ele absolutamente odeia.

Sim, até mesmo quando você está em oração, pode ter pensamentos que sejam exatamente o

oposto do que é devocional, vindo misturados

em seu cérebro.

Essas tentações são terrivelmente dolorosas

para um filho de Deus. Ele não pode suportar o sopro envenenado do pecado e quando ele

descobre que o pecado está batendo à sua porta,

gritando sob a sua janela, perturbando-o dia e

noite, então ele fica extrema e gravemente perturbado.

Uma pessoa deve se lembrar que não há pecado em ser tentado. O pecado é do tentador, não do

tentado.

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Você não é, evidentemente, condenável por pensamentos que lhe entristecem - eles podem

provar que o pecado ainda permanece em você, mas não há nenhum pecado em ser tentado. O

pecado está em você ceder à tentação, mas será

bem-aventurado se você pode levantar-se contra ele. Se você pode vencê-lo, se o seu

espírito não se rende a ele, você deve mesmo ser

abençoado através deste processo! "Bem-

aventurado o homem que suporta a provação". Há uma bem-aventurança, mesmo na tentação

e embora por enquanto não parece ser motivo

de alegria, mas de tristeza, no entanto, mais

tarde, produz fruto abençoado para aqueles que são exercitados.

Além disso, há coisas piores no mundo do que ser tentado com tentações dolorosas. É muito

pior ser tentado com uma agradável tentação e

ser sugado para dentro da boca do destruidor - ser conduzido ao longo da corrente suave, e

depois ser arremessado sobre a catarata.

Isso é terrível, mas lutar contra a tentação, isso é bom. Digo mais uma vez que há muitas coisas

piores do que ser provado com uma tentação

que desperta toda a indignação de seu espírito.

A força para vencer a tentação vem de Deus, sozinho, e o nome do vencedor é o nome de

Jesus Cristo! Portanto, vá em frente nessa força

e nesse nome contra todas as suas tentações.

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Oh, o que palavra abençoada é esta: "Deus é fiel!" Portanto, Ele é fiel à sua promessa. Uma das

promessas de Deus é: "Eu nunca te deixarei,

nem te desampararei." "Deus é fiel", assim ele vai

cumprir a promessa! Aqui está uma das promessas de Cristo, e Cristo é de Deus. "As

minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as

conheço, e elas me seguem, e eu lhes dou a vida

eterna, e nunca hão de perecer, nem qualquer homem as arrancará da minha mão." "Deus é

fiel", porque a promessa será cumprida! Você

tem ouvido muitas vezes essa promessa, "como

os teus dias, assim será a tua força." Você acredita nisso, ou você vai fazer de Deus um

mentiroso? Se você acredita, então expulse de

sua mente todos os pressentimentos sombrios

com esta pequena frase abençoada, "Deus é fiel".

Observe, a seguir, que Deus não é somente fiel, mas Ele é o dono da situação, de modo que possa

manter sua promessa. Observe o que diz o texto.

"não permitirá que sejais tentados além das

vossas forças." Então você não poderia ter sido tentado se Deus não tivesse permitido que isso

acontecesse com você. Deus é infinitamente

muito mais poderoso do que Satanás. O diabo

não pode tocar Jó, exceto com permissão divina, nem pode tentá-lo, exceto com o que Deus lhe

permite. Ele deve ter uma autorização do Rei dos

reis, antes que ele possa tentar um único santo!

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E sem a permissão de Deus, o cão do inferno não

pode sequer abrir a boca para latir para um filho de Deus, e muito menos que ele possa vir e se

lançar sobre qualquer das ovelhas que o Senhor

chamou pela sua graça em Seu aprisco! Assim, então, Amado, você tem uma grande causa para

conforto no fato de que a tentação que lhe tenta

ainda está sob o controle do fiel Criador "que não

permitirá que seja tentado além do que você é capaz de suportar."

Há também grande bondade da parte de Deus na continuidade de uma provação. Se algumas

das nossas aflições durassem muito mais

tempo, elas seriam muito pesadas para nós

suportarmos.

Um outro conforto que encontramos no nosso texto relaciona-se com a ajuda que o Senhor dá

ao tentado "Deus é fiel, que ... com a tentação

dará também o meio de escapar."

O original grego diz, “que com a tentação dará também o meio de escapar", pois há mais de vinte maneiras impróprias para escapar e ai do

homem que faz uso de alguma delas! Mas só há

uma maneira correta de escapar de uma

tentação e esse é o caminho reto, o caminho que Deus fez para Seu povo viajar. Deus fez através

de todos as tentações o caminho pelo qual Seus

servos possam justamente sair delas.

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26

Quando os jovens judeus foram julgados por Nabucodonosor, havia um caminho pelo qual

eles poderiam ter se mantido fora da fornalha de fogo ardente. Eles tinham apenas que curvar os

joelhos diante da grande imagem. Essa maneira

de escapar nunca teria sido uma solução, pois

não era o caminho certo! O caminho para eles era serem jogados na fornalha e lá tiveram o

Filho de Deus, que passeava com eles no meio do

fogo que não poderia queimá-los! Da mesma

maneira, quando você está exposto a qualquer tentação, vigie para que você não tente fugir

dela de uma maneira errada.

Observe especialmente que o caminho certo é sempre o de Deus e, portanto, qualquer um de

vocês que agora estão expostos à tentação ou tribulação não tentem criar a sua própria

maneira de escapar delas. Deus, e somente

Deus, tem que fazer isso para você, então não

tente fazê-lo por si mesmo.

"Fique parado, e vede o livramento do Senhor."

Mantenha-se afastado do pecado, da tentação e

você não precisa temer o sofrimento da tentação.

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.

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Interpretação da Sexta Petição da Oração

do Pai Nosso

“E não nos conduza em tentação, mas livra-nos

do mal” - Mateus 6.13

O verbo eisfero, no original grego, traduzido no

nosso texto por conduzir, é usado em outras seis

passagens do Novo Testamento (Mt Lc 5.18, 19; 11.4; At 17.20; I Tim 6.7; Hb 13.11), com o mesmo

significado de conduzir, trazer para dentro ou

introduzir.

E a palavra para tentação no original grego é peirasmos, e significa experimento, tentativa,

teste, prova, adversidade, tribulação ou aflição enviada por Deus para testar ou provar o caráter,

a fé ou a santidade de alguém.

Esta petição da oração do Pai Nosso coloca diante de nós a seguinte questão: Porventura

Deus conduz alguém em tentação? A resposta óbvia com apoio em outros textos bíblicos como

Tiago 1.13 é que não, porque Ele a ninguém tenta

e nem pode ser tentado.

Mas se a ninguém tenta, no entanto pode conduzir Seus filhos a condições para que sejam provados. E o Senhor Jesus nos ensina a pedir a

Deus para que não nos conduza a tais provas em

que seremos testados.

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Uma chave para a compreensão desta petição da oração do Pai Nosso é I Pe 1.6,7:

“6 Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, se necessário, que estejais

por um pouco contristados com várias tentações,

7 Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado

pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória,

na revelação de Jesus Cristo;” (I Pe 1.6,7).

Neste texto é dito que somos contristados, por um breve tempo, com várias tentações, mas

somente se isto for necessário, a saber: Deus não

nos provará desnecessariamente caso andemos

em conformidade com a Sua vontade.

Quando a fé é provada, testada, Deus quer que conheçamos qual é a nossa real condição

espiritual, para que possamos entender o

quanto necessitamos progredir em santidade

pelo aumento da nossa fé.

O ponto é o seguinte: se formos achados

aprovados não necessitaremos ser submetidos a provas.

Entretanto, esta não é a condição normal que é encontrada na quase totalidade dos cristãos, e

de um modo ou outro, num ou noutro grau,

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todos são provados de alguma maneira para o

benefício da sua fé.

Então por que o Senhor ensinou a pedirmos a Deus para não nos conduzir em tentações, uma

vez que o apóstolo Tiago afirma que devemos ter por motivo de toda a alegria o passarmos por

várias provações?

A chave para a compreensão desta aparente contradição se encontra na continuidade do

texto de Mt 6.13 no qual Jesus também ensinou a

pedirmos a Deus que nos livre do mal. Então o tipo de tentação referido no texto se restringe às

provas em que o maligno estará atuando, como

a tentação à qual o próprio Jesus foi submetido

no deserto (Lc 4.1,2).

Em Gênesis 22.1 nós vemos o próprio Deus colocando a fé de Abraão a prova quando lhe

pediu que sacrificasse Isaque. Não houve

qualquer participação de Satanás nesta

provação da fé e do amor de Abraão. O Senhor queria comprovar para o próprio Abraão e para

todos nós o quanto ele O amava, de maneira que

a sua obediência tornou-se um exemplo a ser

seguido por nós, na demonstração de que os interesses do Senhor devem sobrepujar os dos

nossos afetos naturais pelos nossos familiares.

Há grande diferença portanto entre testar a graça dos cristãos, e permitir que as corrupções

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deles sejam excitadas pela própria natureza

deles corrompida pelo pecado ou pelo diabo.

Assim o pedido da oração do Pai Nosso tem a ver com o fato de sermos guardados por Deus em

não ficar sujeitos ao poder das várias tentações que há no mundo, e que são estimuladas pelo

pecado e pelo diabo, de maneira que nos dê

graça e força para vigiarmos e nos guardarmos

destas tentações, fugindo delas, resistindo a elas, e tendo o suporte de graça e poder do

Espírito Santo necessários para viver de modo

santo. O Senhor poderia ter dito: “livra-nos da

tentação”, mas disse “não nos conduza em tentação”, isto é, não nos deixe entrar nelas, não

permita que sejamos trazidos para dentro delas,

de maneira que um cristão fará muito bem em

se manter afastado de todas as possíveis fontes de tentação que poderão levá-lo a pecar.

É necessário contar e ter efetivamente o poder da graça de Deus no coração para poder resistir

às fontes de tentações.

E uma destas fontes flui de dentro de nós mesmos (Tg 1.14). O coração é a fonte de todo

pecado. O maior tentador é o nosso próprio coração, de maneira que todo homem é tentado

pela sua própria cobiça.

Mas além de virem de dentro de nós as tentações têm também uma fonte externa que é

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Satanás. Ele é chamado de o Tentador (Mt 4.3).

Ele arma ciladas para nos causar danos, e usa as

tentações como explosivos para explodir o forte da nossa graça.

Um cristão ficará exposto às tentações durante todo o curso da sua vida. E elas são numerosas e

variadas, de maneira que não é sem razão que o

Senhor nos ensinou a pedir ao Pai que não permita que sejamos conduzidos às tentações. E

é de se supor que aquele que não orar neste

sentido, conforme o Senhor nos ensinou ficará

muito mais exposto e sujeito a ser afligido por múltiplas tentações que procurarão

enfraquecer as suas graças e lhe furtar a paz.

A tentação é um grande molestamento para um filho de Deus, porque quanto mais formos

tentados pelo mal, mais somos impedidos de praticar o bem. Nós estamos em grande perigo

de receber constantes ataques do Inimigo, e por

isso devemos orar frequentemente: “não no

conduza em tentação”.

Se Deus não impusesse limites às tentações de Satanás e deixasse os Seus filhos sem o

fortalecimento de graça e à mercê do poder do

diabo, ele poderia facilmente levá-los até

mesmo à insanidade mental ou ao colapso nervoso, mas há um clamor no coração de cada

cristão que pede ao Senhor que O livre das

ciladas do diabo, e este clamor deve ser

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traduzido em orações verbais nas quais peçam humildemente a Deus que não os conduza em

tentação.

Por isso é algo que deve ser evitado a todo custo por todos os cristãos, não apostatarem da fé pela

prática deliberada do pecado, de maneira que sejam conduzidos por Deus em tentação, sendo

entregues a Satanás para a destruição da carne.

Se necessário for, que sejamos conduzidos em tentação somente para o cumprimento de Seus

propósitos elevados, em obediência à Sua vontade, assim como se deu no caso de Jó, que

foi entregue a Satanás por Deus, sendo assim

conduzido em tentação, mas para que ficasse

provado o caráter da fé e do amor genuínos que Jó possuía. E de igual forma o apóstolo Pedro, e

até mesmo o próprio Senhor Jesus no deserto,

mas vemos que isto é sempre por um breve

tempo, e segundo o controle e vontade de Deus, e não por exclusiva iniciativa do diabo, senão ele

teria motivo para se gloriar do seu poder diante

dos cristãos e do próprio Deus.

“Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará

também o escape, para que a possais suportar.”

(I Cor 10.13).

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Nós estamos vendo a complexidade deste assunto relativo a tentações. Há nuances nele e distinções de operações, que nos fazem

entender que nem todo tipo de tentação é um

motivo para nos gloriarmos nelas (como o caso

de ser entregue a Satanás para destruição da carne por motivo de desobediência deliberada a

Deus), mas para que nos envergonhemos da

nossa condição e nos arrependamos.

Veja o caso de muitos na Igreja de Corinto conforme se depreende das seguintes palavras

do apóstolo:

“17 Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor,

senão para pior.

18 Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em

parte o creio.” (I Cor 11.17,18).

“30 Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.

31 Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.

32 Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos

condenados com o mundo.” (I Cor 11.30,32).

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A Igreja de Corinto estava sendo vencida pelo engano do diabo, através de falsos apóstolos que exploravam financeiramente aquela Igreja que

havia sido fundada pelo apóstolo Paulo. Por

causa disto, para não ser considerado igual

àqueles apóstolos fraudulentos, ministros de Satanás (II Cor 11.3,13,14), Paulo havia servido a

Igreja de Corinto com o salário que recebia de

outras Igrejas, especialmente da Macedônia (II

Cor 11.7,8), e afirmou que continuaria pregando gratuitamente o evangelho em Corinto para

cortar ocasião de maledicência entre eles, por

inspiração satânica, de que pregava por

interesse financeiro como os demais “apóstolos” que estavam entre eles (II Cor 11.9),

e que triste coisa é esta, ter que fazer tal tipo de

afirmação que comprovava a infidelidade deles

para com os verdadeiros ministros de Deus. Não admira que tantos estivessem sendo

enfermados, enfraquecidos e mortos naquela

Igreja como forma de disciplina que o Senhor

estava usando para conduzi-los ao arrependimento.

Eles haviam caído no laço do diabo por causa do endurecimento no pecado. Eles estavam

inchados em sua sabedoria carnal e não

estavam se sujeitando à simplicidade do evangelho de Cristo, em plena obediência à

doutrina verdadeira. Assim, tornaram-se uma

presa fácil para o Inimigo, e deste modo bem

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faríamos em considerar quão perigosas são as

tentações de Satanás.

Satanás inveja com ódio mortal a felicidade que o cristão tem com Deus. É algo insuportável para ele ver que um ser feito do pó da terra venha a

ser glorificado enquanto ele será derrubado ao

mais profundo abismo, ele que uma vez foi um

querubim glorioso, expulso do paraíso divino. Em Apocalipse 12.12 é afirmada a grande ira com

que ele desceu à terra para tentar os seus

habitantes.

Então o maior prazer do diabo é encantar e arruinar almas e trazê-las à sua mesma condenação, e quando isto lhe escapa pela

conversão de alguns, estes serão

continuamente espreitados por ele, esperando

que fracassem em sua vigilância, de maneira que possa tragá-los, não para o inferno, porque

sabe que não poderá mais ter cristãos autênticos

em sua companhia no inferno, mas para

conduzi-los a uma condição de desobediência a Deus e à Sua Palavra, de maneira que fiquem

sujeitos à Sua disciplina e correção, enquanto

ficam privados da comunhão com Ele. Com isto

ele consegue ferir tanto o coração do cristão quanto o do próprio Deus.

Sendo Satanás um espírito vingativo, malicioso, traiçoeiro, enganador, nós devemos orar

continuamente: “não nos conduza em

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tentação”, para que Satanás não prevaleça sobre

nós.

Satanás anda inquieto como um leão à procura da sua caça. Ele rodeará o mar para fazer um

prosélito. Ele não desperdiça o seu tempo e está sempre ocupado e se nós o repelirmos ele não

desistirá, e virá novamente sobre nós com uma

tentação.

Se ele conseguir uma pequena vantagem sobre nós numa tentação, ele procurará a todo custo

levar isto até o seu ponto extremo.

Ele tem uma variedade de tentações para usar e não se limita a um único tipo de tentação. Se não

conseguir prevalecer com um tipo, ele usará

outro; se não puder tentar com cobiça, tentará

com orgulho; se não conseguir amedrontar o homem, ele o tentará com presunção; se não

conseguir levá-lo a profanar, tentará torná-lo

formalista; e se não conseguir conduzir ao vício,

tentará conduzir ao erro. Para isto enganará através de revelações falsas e toda forma de

artifício que estiver ao seu alcance. Por isso

precisamos orar: “não nos conduza em

tentação”.

Satanás é representado como sendo o grande dragão vermelho que lançou por terra a terça

parte das estrelas do céu (Apo 12.3,4); é chamado

também de valente (Lucas 11.21) e de príncipe

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deste mundo (João 14.30). Assim, embora ele

tenha perdido a sua santidade original, no entanto não foi retirado dele o poder que Deus

lhe havia dado.

Sendo um espírito ele pode influenciar a imaginação das pessoas envenenando-a com

pensamentos ruins. Foi ele quem colocou no coração de Judas o pensamento de trair a Cristo

(João 13.2).

Embora ele não possa compelir a vontade, no entanto pode apresentar objetos agradáveis aos

sentidos exercendo grande influência sobre eles. Ele pode usar as artes para gerar idolatria

nos corações das pessoas em relação aos

artistas. E faz isto especialmente com a música.

Ele pode seduzir o coração com riquezas terrenas tal como fizera com Acã fazendo-lhe

cobiçar as riquezas condenadas de Jericó nos

dias de Josué. Foi Satanás que influenciou Davi a

fazer o censo que lhe havia sido proibido por Deus (I Crôn 21.1). Ele pode fazer com que uma

faísca de cobiça se transforme numa chama.

Sendo um espírito ele pode encher as nossas mentes de tentações de maneira que tenhamos

dificuldade para discernir se elas vêm dele ou de nós mesmos. Assim com um pássaro pode

chocar o ovo de um outro pensando que seja

seu; nós podemos estar chocando as influências

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do diabo pensando que elas vêm dos nossos

próprios corações.

Quando Pedro tentou dissuadir Cristo de sofrer, morrendo na cruz, ele pensou que isto vinha do afeto que tinha pelo seu Mestre, sem saber que

a mão de Satanás estava naquilo (Mt 16.22).

E se Satanás tem este poder de instilar tentações sem que nós o saibamos, nós temos necessidade

de orar para não sermos conduzidos em tentação. É preciso orar a Deus por livramento

porque é muito difícil distinguir entre aquilo

que procede de insinuações diabólicas e aquilo

que procede de nós mesmos.

Mas podemos pelo menos tentar identificar a origem da tentação, se do nosso coração ou do

Inimigo, e uma das maneiras de fazer tal

identificação é que a tentação de Satanás nos

vem de maneira súbita, como um dardo que é atirado (Ef 6.16), e já a tentação que é originada

no coração começa através de graus, de maneira

vagarosa procurando obter o consentimento da

mente. Em segundo lugar, a tentação que é originada em nosso próprio coração não é tão

terrível e não agita e assusta a alma como as que

são de origem satânica, que chegam a insinuar

até mesmo blasfêmia e suicídio. Em terceiro lugar, quando são lançados maus pensamentos

na mente nós os detestamos e lutamos contra

eles, e fugimos deles como Moisés fugiu da

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serpente, e isto demonstra que a mão de Joabe

está nisto (II Sm 14.19), isto é, foi Satanás quem

produziu estes movimentos impuros.

O poder de Satanás na tentação é oriundo da longa experiência que ele adquiriu através dos séculos e milênios nesta arte. E esta experiência

do diabo aumenta o nosso perigo, e nós temos

portanto necessidade de orar: “não nos conduza

em tentação”.

Satanás usa de sutilezas e ciladas para enganar,

e nós citaremos algumas delas adiante:

1ª - Ele observa o temperamento e a constituição natural da pessoa que pretende enganar. Ele não

conhece os corações e os pensamentos dos

homens, mas conhece o temperamento deles, e

com base neste conhecimento escolhe o melhor tipo de tentação para semear em tal coração

para atingir os seus propósitos malignos.

2ª - Ele escolhe a melhor ocasião para atacar. Aos primeiros sinais de que alguém está sendo

convencido pelo Espírito Santo para que se converta a Cristo ele atacará com tentações

violentas. Ele tentará a todo custo impedir que

ocorra a conversão. Ele também atacará se nos

encontrar ociosos. Quando ele observar que estamos sem uma atitude vigilante e

descuidados, e desanimados e indolentes em

relação aos nossos deveres para com Deus,

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Satanás não perderá a oportunidade para

aprofundar ainda mais esta indolência e desânimo com suas tentações. Ele usará

argumentos para nos enganar dizendo que foi

inútil servir a Deus ou que é muito cansativo ou

impossível fazer a Sua vontade. Enquanto dormirmos ele semeará o seu joio (Mt 13.25).

Enquanto Davi descansava no palácio em tempo

de guerra, Satanás lançou o dardo da tentação sobre ele e prevaleceu (II Sm 11.2,3). Uma outra

ocasião apropriada para o diabo nos tentar é

quando a pessoa se encontra entregue a desejos

externos e dilemas. Quando Cristo estava jejuando e com fome Satanás o tentou (Mt 4.8).

Quando o dinheiro está curto ele também

tentará dizendo que a pessoa deve roubar, ou

então murmurar contra Deus por não lhe dar a subsistência merecida. E principalmente depois

de termos recebido uma bênção de Deus

Satanás costuma nos tentar. Jesus estava

jejuando e orando quando o tentador veio a Ele (Mt 4.2,3). O fervor de um santo desperta a fúria

de Satanás porque ele sabe que terá perdas em

seu reino quando alguém está consagrado a

Deus, porque fará com que o reino de Deus avance na terra com suas intercessões,

pregação, e tudo o mais que esteja relacionado à

obra de Deus. Ele costuma também tentar

depois de uma bênção porque muitos descuidam na vigilância e ficam presunçosos

por causa das bênçãos recebidas, sentindo-se

seguros e não mais necessitando pelo menos no

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período da bênção de continuarem orando para

não serem conduzidos em tentação. Isto é como

o soldado que tira a armadura depois de ter vencido uma batalha. É neste momento de

descuido que propiciará que o diabo tenha

vantagem no seu ataque. Ele sempre procurará

impedir que uma obra de Deus se estabeleça desde o seu princípio atacando-a violentamente.

Esta é a razão de muitos avivamentos terem

morrido na origem porque os cristãos foram

desestimulados a continuarem orando e perseverando em unidade. Quando Davi iria

começar a reinar em Jerusalém Satanás tentou

impedi-lo enviando os filisteus em grande

número contra ele, mas Davi consultou ao Senhor e prevaleceu. Ele também tenta

violentamente os cristãos quando eles estão

enfraquecidos, pensando que Deus não

pretende mais usá-los a Seu serviço, e quando as evidências parecem confirmar isto como sendo

uma verdade. O Inimigo se aproveita desta

condição de enfraquecimento para persuadir os

cristãos a apostatarem definitivamente da fé.

3ª - Satanás se transfigura em anjo de luz para distorcer o verdadeiro caráter de Cristo. Ele fala

através dos seus ministros aos homens e até

mesmo aos cristãos, usando lobos vorazes em

pele de ovelha, que são dificilmente discernidos como estando a serviço do diabo e não

propriamente ao de Deus. Ele fala de Cristo, da

Palavra, mas não do Cristo da Bíblia com a

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exatidão da verdade da Bíblia. Por isso Jesus

alerta a Igreja sobre a importância de provar os espíritos para ver por seus frutos, se procedem

de Deus ou não, de maneira que não sejamos

induzidos ao erro que é semeado por Satanás

através dos instrumentos humanos que ele costuma usar para tentar distorcer ou anular a

verdade do Evangelho. Não podemos esquecer

que ele tentou o próprio Jesus usando a Palavra

e afirmando: “está escrito”. A condição em que muitos se encontram dizendo Senhor! Senhor!

referindo-se a Jesus, ao mesmo tempo que

desconhecem ou negam as Suas Palavras é

gerada não raro por meio de engano satânico em que tais pessoas se encontram com uma

falsa convicção acerca da verdade que o Inimigo

conseguiu colocar em suas mentes.

4ª - Satanás tenta para que se peque gradualmente. Assim começa com um pequeno pecado visando chegar à maior forma de

expressão daquele pecado. Por exemplo, ele

começa com uma ofensa para causar depois um

grande crime. Ele coloca uma pequena suspeita para transformá-la depois numa grande

desconfiança e inimizade. O pequeno olhar de

relance de Davi em Bate-Seba produziu um

adultério e um assassinato. Primeiro ele tenta para que se ande em má companhia e depois

arruína os bons costumes, para conduzir à

mesma condenação dos maus companheiros.

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Ele começa com pequenas decepções visando ao completo endurecimento do coração.

5ª - Satanás usa o ardil de nos conduzir em tentações usando aqueles de quem nós menos

suspeitamos. Pode ser um amigo próximo, e até

mesmo líderes da Igreja, como se deu com a Igreja dos Gálatas e dos Coríntios nos dias do

apóstolo Paulo, cujos cristãos haviam sido

fascinados por falsos pastores que ministravam

a eles. Quando nossos amigos religiosos nos dissuadem de fazer nosso dever, Satanás está

sendo um espírito mentiroso nas suas bocas, e

tenta nos atrair para o mal por meio deles. A

Bíblia alerta para o aumento da atividade de falsos pastores e mestres nos últimos dias. Jó foi

tentado através de sua própria esposa e amigos.

6ª - Satanás tenta algumas pessoas mais do que outras, selecionando os seus alvos. (1) As

pessoas ignorantes. O diabo pode conduzir estes em qualquer armadilha. Você pode conduzir um

homem cego aonde quiser. Satanás sabe que é

fácil fazer com que aqueles que são ignorantes

da vontade de Deus tropecem e caiam no inferno. Um homem ignorante das realidades

espirituais não pode enxergar as armadilhas do

diabo. (2) Satanás tenta os incrédulos. Não há

ninguém mais fácil de se conduzir ao inferno do que aquele que não crê em Deus e que não dá

crédito à Sua Palavra. (3) Satanás tenta as

pessoas orgulhosas, e é sobre estes que ele tem

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maior poder. Ninguém está em maior perigo de

cair na tentação do que aquele que estava

elevado em sua própria vaidade. (4) As pessoas melancólicas. A melancolia abate o humor e

perturba a razão. Quando o espírito está triste e

melancólico o cristão estará desafinado para os

deveres espirituais que são caracterizados por fervor de espírito. Satanás diz ao melancólico

que Deus não o ama, que não se interessa por ele

e pelo estado de sua alma, e é comum que o

espírito abatido se renda aos argumentos falsos do Inimigo. Os que estão sempre descontentes

são também outro alvo preferido para os

ataques do diabo, porque o descontentamento

conduz a muitos pecados, como ingratidão e impaciência, por exemplo. Satanás procura

também selecionar para os seus ataques as

pessoas inativas. Satanás dará muito trabalho ao

ocioso, e ele se achará se ocupando de coisas vãs, pecaminosas, por ter a sua mente e vontade

debaixo do domínio do diabo.

7ª - Satanás insinua que se retirou e que nós o vencemos, e quando estamos nos sentindo

seguros e esquecidos de suas tentações, ele nos ataca. Esta estratégia é muito usada

especialmente para parar o avanço e

continuidade de avivamentos, porque quando a

obra de Deus se encontra no seu auge, e quando os cristãos pensam terem triunfado

definitivamente sobre o diabo, ele trabalha em

silêncio semeando o joio da discórdia e

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desconfiança entre os cristãos, especialmente entre os que são novos na fé, e assim detém o

avanço do movimento pela quebra de unidade

que normalmente surge de queixas,

murmurações, descontentamentos, etc, dirigidos especialmente contra os líderes do

movimento. Quando o povo de Israel obteve

grandes e poderosas vitórias, da parte de Deus

sobre os egípcios, eles logo foram achados em incredulidade e murmurações contra Moisés e

contra o próprio Deus. Parecia que o inimigo

havia sido definitivamente derrotado,

representado em faraó, mas o pior Inimigo deles estava oculto e levou o povo a se voltar

contra Deus. Por isso a Bíblia ordena que

estejamos revestidos em todo o tempo com

nossa armadura espiritual, vigiando e orando no Espírito, em todo o tempo.

8ª - Satanás tenta persuadir os homens que eles são impuros demais para se aproximarem de

um Deus que é perfeitamente santo. Ele não lhes

permite verem que o tipo de santidade que se espera deles neste mundo é evangélica, isto é

garantida pela graça de Cristo que perdoa aos

homens todas as suas ofensas, e assim ficam

desencorajados de buscarem a Deus, em sua ignorância da verdade do evangelho, que é

Cristo para a salvação de todo o que crê.

9ª - Satanás põe uma falsa imagem de virtude sobre o quadro sujo do pecado. Ele engana os

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homens fazendo-lhes crer que paixão

imoderada é zelo; que vingança é prudência; que

licenciosidade é liberdade; que cobiça e ganância são incentivos para ser produtivo; que

desperdício é generosidade etc.

10ª - Ele tenta nos enlaçar com coisas que são lícitas, levando-nos a fazer um uso desordenado

delas, como por exemplo excesso de recreações que nos afastam do nosso dever; alimentação

saudável, só que com glutonaria; etc.

11ª - Ele tenta nos ocupar em nossos afazeres normais sob o correto argumento de que isto é

nossa responsabilidade, só que produzindo um desequilíbrio em não darmos qualquer tempo

para o serviço de Deus, sob a alegação de que é

irresponsabilidade e desperdício de tempo. Por

outro lado ele pode também fazer com que o desequilíbrio penda para o lado de Deus sob a

alegação de que se deve viver somente e

exclusivamente pela fé, sem que haja

necessidade trabalhar para proverem suas famílias. A outros engana fazendo com que

deem apenas atenção ao cuidado que devem ter

com seus corpos, negligenciando totalmente o

cuidado que se deve ter com as suas almas.

12ª - Ele cria preconceitos contra a religião na mente dos homens, pintando-a como algo

melancólico, e que remove toda a alegria de

viver dos fiéis. Ele também pinta a santidade

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como algo penoso, uma carga que deve ser levada e que sujeita a pessoa ao fanatismo. Ele

representa os cristãos fiéis como pessoas

desprovidas de personalidade. O que é paciente

em suportar danos sem vingança ele representa como sendo um covarde; o cristão humilde

como sendo alguém deprimido e fraco; e o

piedoso ele chama de um bobo que está

desperdiçando os prazeres do mundo.

13ª - Satanás retira dos homens o amor à verdade para que abracem o erro (II Tes 2.11). Sendo um

espírito mentiroso ele luta para induzir a mente

do homem ao erro. Satanás engana a muitos

porque há muitos erros que são parecidos com a verdade. E o erro se propaga rapidamente como

uma epidemia. O erro do pelagianismo que

prega a salvação sem a necessidade da graça, e

somente pelas boas obras; o erro do arianismo que negava a divindade de Cristo; começaram

como uma fagulha e incendiaram o mundo

inteiro. O diabo semeia o erro porque ele produz

divisões na igreja. E quando o diabo consegue fazer com que o erro prevaleça a reforma é

impedida; e a igreja continua necessitando ser

continuamente reformada. E sem reforma o

avanço do evangelho é prejudicado.

14ª - Satanás encanta e enlaça os homens fixando iscas agradáveis diante deles; como as

riquezas, prazeres, e honras do mundo. Ele sabe

que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males

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e que o amor ao mundo impede a permanência no amor de Deus. Os que buscam prazeres

entregam-se ao governo dos sentidos físicos e

da alma, e assim ficam impedidos de serem

governados pelo espírito, e é somente em espírito e em verdade que se pode adorar a Deus.

15ª - Satanás tenta as pessoas alegando que certas atitudes são justificadas por necessidade

imperiosa. Ele faz as pessoas crerem que a

necessidade da ação desculparia o pecado. Ele usará situações extraordinárias citadas na Bíblia

justificadas apenas na época da sua ocorrência,

como o fato de Davi ter comido o pão que era

reservado pela Lei somente aos sacerdotes, como um procedimento válido para todas as

épocas, quanto às coisas consagradas a Deus.

16ª - Satanás tenta os homens para serem presunçosos. A presunção é uma confiança sem

base suficiente. Os homens pensam que são melhores do que são de fato. Satanás ilude a

muitos com presunção acalmando-os quanto

aos seus pecados e infundindo-lhes uma falsa

esperança de que tudo vai bem com suas almas diante de Deus. A presunção é a rede com a qual

Satanás puxa milhões para o inferno. Ele faz

também faz com que muitos cristãos se gloriem

nos seus privilégios espirituais e graças e não somente em Cristo. É usando a tentação da

presunção que Satanás consegue que muitos

cristãos pensem que ele é fraco, e que é

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facilmente derrotado por eles, sem que estes estejam vivendo por fé, e assim cria esta ilusão

neles enquanto os derrota espiritualmente

fazendo que vivam de modo contrário à Palavra

de Deus. Eles confiam presunçosamente por inspiração do diabo na própria força e ousadia

deles, enquanto vivem de modo desregrado e

desordenado contra as ordenanças de Deus

relativas à pureza, santidade, moderação, sobriedade, retidão, amor etc.

17ª - Satanás insinuará estar interessado no nosso bem estar tal como fizera com Cristo no

deserto dizendo-lhe que deveria saciar a sua

fome transformando pedras em pães. Com isto não somente quis mostrar-se amigo e

preocupado, como também dando a Cristo uma

aparente honra por reconhecer o seu grande

poder para até mesmo transformar pedras em pães. Cristo venceu a serpente nesta falsa

amizade com a espada do Espírito. Mas Eva caiu

no mesmo tipo de insinuação no Éden quando o

diabo lhe disse que comesse do fruto para se tornar como Deus, e assim alcançaria uma

condição superior à que ela e seu marido se

encontravam no jardim. Estes presentes de

grego devem ser rejeitados com a oração ”não nos conduza em tentação”.

18ª - Satanás coloca pessoas em posições de liderança para que possa cumprir os seus

desígnios através deles, tal como Datã, Coré e

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50

Abirão, príncipes da tribo de Levi, dentre os coatitas, que arrastaram uma multidão após si

nos dias de Moisés (Nm 16.2,10).

19ª - Ele instila inveja nos cristãos em relação a bênçãos ou dons espirituais que outros cristãos

receberam de Deus, gerando amargura e descontentamento. Foi assim com os irmãos de

José em relação a ele, e também os de Davi

quando souberam que ele foi ungido por Deus

para ser rei sobre Israel. Aquilo que era para ser motivo de grande alegria Satanás consegue

transformar em motivo de tristeza. E isto

começou no Éden quando Caim invejou seu

irmão Abel e o matou.

20ª - Satanás ataca a nossa fé, e ele a ataca porque é a principal das graças que nós temos

recebido de Deus. É a fé que traz o maior dano ao

diabo porque é com ela que resistimos a ele (I Pe

5.9). Nenhuma outra graça contunde mais a cabeça da serpente do que a fé. Ela é uma arma

tanto de ataque quanto de defesa. É com ela que

apagamos os dardos inflamados do maligno, e é

também a espada que fere o dragão vermelho. A fé é tão forte ao ponto de fazer Satanás bater em

retirada porque ela traz a força de Cristo à alma.

Quando somos atacados a fé corre e chama a

Cristo para nos defender, assim como uma criança apela para o seu pai quando está sendo

ameaçada. A fé tem promessas nas quais se

apoiar como Hebreus 13.5; Mt 12.20; I Cor 10.13;

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51

Rom 10.16; João 10.29. Estas cinco promessas são

como as cinco pedras que Davi tinha em sua

funda para derrubar Golias (I Sam 17.40). São pedras da fé com as quais o cristão pode ferir o

dragão vermelho. Satanás pode atacar a fé mas

não quebrá-la enquanto permanecermos firmes

nela. Por isso sempre espera ocasião oportuna para atacar, pois sabe que quando a fé está em

ação ele é ferido. Por isso ele procura golpear a

fé visando enfraquecê-la e destruí-la, porque

tem uma grande influência em todas as demais graças que dependem dela para o seu

crescimento e operação.

21ª - Satanás encoraja aquelas doutrinas que são agradáveis à carne. Ele sabe que a carne ama ser

satisfeita, que busca facilidade e liberdade, e que não suportará nenhum jugo, a menos que

não contrarie o ego. Então, ele usará a isca da

tentação para dar alegria à carne. A Palavra

ensina que a carne deve ser crucificada; que é por meio de tribulações e aflições que são

decorrentes principalmente da nossa luta

contra as tentações do diabo, que se entra na

glória, que devemos ser diligentes e fervorosos no serviço de Deus, e que o reino do céu é

alcançado mediante esforço, mas Satanás

sempre tentará debilitar estas verdades bíblicas

nas mentes e corações dos homens e procurará entretê-los lisonjeando a carne, e massageando

o ego deles. Ele sempre sugerirá um caminho

amplo e fácil para se chegar ao céu. Negará que

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52

o caminho que conduz à salvação seja apertado

e estreito. Chamará os mandamentos de Cristo

de pesados e acusará pejorativamente aqueles que são obedientes aos Seus mandamentos de

legalistas. Ele transformará a graça de Cristo em

luxúria, fazendo com que muitos cristãos a

usem como pretexto para viverem na prática deliberada do pecado. Este produto barato que o

diabo vende é comprado por muitos porque

doutrinas que agradam a carne são muito

baratas e atraem assim muitos clientes, no entanto jamais se poderá agradar a Deus crendo

em tais doutrinas e modelando a vida por elas.

22ª Satanás tentará impedir a execução dos deveres santos como orar, meditar na Palavra,

jejuar, congregar com os santos no culto público etc. Ele pode fazer o telefone tocar ou criar uma

emergência quando estivermos orando. Ele

pode criar desânimos, e toda sorte de

dificuldades para não irmos ao templo. Ele pode tornar a meditação da Palavra em algo

mecânico, enfadonho e formal, afastando o

coração da possibilidade de experimentar o

deleite que há na meditação piedosa da Palavra que conduz à Sua prática. Ele pode também levar

um cristão ao desespero sob a falsa convicção de

que não tem se humilhado o bastante. E assim

dará à mortificação de pecados uma ideia totalmente estranha à mortificação evangélica,

que leva em conta que enquanto estivermos na

carne será impossível erradicar completamente

Page 53: Como triunfar sobre a tentação - livro

53

o pecado de nossas vidas, porque a mortificação

é como a retirada das ervas daninhas de um

jardim, trabalho este que nunca cessa, porque elas sempre retornam e voltam a crescer, e

devemos continuar a retirá-las. Esta é a verdade

bíblica em relação à mortificação. A completa

remoção do pecado não é atingível nesta vida e nem Deus espera isto, porque sabe que é

impossível de ser atingido por pecadores. Nossa

confiança, esperança, e justiça é Cristo. Não

devemos buscar nada disto em nós mesmos, mas conforme a verdade do evangelho que nos

deu Cristo como nosso Salvador. Satanás quer

que olhemos para nós mesmos e que

desesperemos de maneira que não poderemos assim cumprir o nosso dever e nem nos

alegrarmos com Deus, por causa de uma

consciência dolorida.

23ª - Satanás por outro lado tenta levando a um outro extremo relativo ao que acabamos de comentar, que é vendendo a ideia de que o

arrependimento é fácil e barato, porque está

baseado na graça de Cristo. Nós já vimos em

nosso comentário anterior sobre a quinta petição do Pai Nosso – “perdoa as nossas dívidas,

assim como temos perdoado os nossos

devedores” que há condições para o perdão de

Deus, apesar do sangue de Cristo e os Seus méritos serem sempre a base do nosso perdão.

E dentre estas condições se inclui o dever de

perdoarmos aos nossos devedores, e de nos

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arrependermos dos nossos pecados, e nós

vimos que o arrependimento consiste

basicamente de três partes a saber: contrição,

confissão e conversão (II Crôn 7.14), para que possamos ser efetivamente perdoados e sarados

e ouvidos por Deus.

24ª - Satanás nos ilude com a ideia de que a vida cristã vitoriosa está sempre baseada em sucesso

neste mundo, tendo-se um coração continuamente animado e alegre para com as

coisas terrenas. Mas a vida cristã normal e

verdadeira nos imporá muitas vezes a condição

do Salmo 51.17 para agradarmos a Deus: ”Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado;

a um coração quebrantado e contrito não

desprezarás, ó Deus.” (Sl 51.17).

Mas por outro lado, ele pode também nos enganar com a ideia de que a condição de coração contrito deve ser um estado

permanente diante de Deus; quando a Bíblia

ensina claramente que a alegria do Senhor é a

nossa força e que temos o dever de nos alegrarmos nEle sempre. Assim, se há uma hora

de luto e de tristeza, não podemos permitir que

ela seja o fator prevalecente sobre o nosso modo

de viver. Devemos buscar consolação e auxílio no Senhor para que possamos ser achados

alegres na Sua presença, uma vez passado o

momento de contrição e dor, seja pelo pecado,

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seja pelas aflições que nos alcançam neste mundo.

25ª - Satanás persuade os homens para adiarem o seu arrependimento, para se voltarem para

Deus. Ele os ilude com a ideia de que devem

aproveitar o mais possível tudo o que o mundo tem para oferecer, para se ocuparem com as

questões da segurança eterna de suas almas

somente no final de suas vidas, quando não

tiverem mais nenhum vigor ou prazer nas coisas terrenas. Mas a Bíblia ensina o dever de se

converter no dia que se chama Hoje. Ninguém

sabe o que o futuro lhe reservará, mas o que vive

longe de Deus, ainda que não saiba por ter sido enganado pelo diabo, está fazendo a pior opção

que qualquer homem pode fazer, que é a de

viver longe de Seu Criador e contrariando a Sua

vontade. E considere-se que quanto mais uma pessoa vive longe de Deus, mais ela fica

endurecida pelo pecado, de maneira que

conversões são mais comuns na juventude do

que em pessoas com idade avançada. Quanto mais frio se torna o gelo, é mais difícil quebrá-lo.

Quanto mais um homem se torna impenitente

mais difícil será quebrar o seu coração de pedra.

Quando o pecado se aloja num abrigo, mais difícil será expulsá-lo.

26ª - Satanás, tenta, ataca e debilita a paz dos santos. Se ele não puder destruir a graça deles,

ele perturbará a paz deles. Ele tenta impedir que

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os cristãos tenham um céu na terra. Ele tudo fará para roubar a tranquilidade e paz de mente

do cristão, porque este é um dos bens mais

preciosos que alguém pode ter neste mundo.

Para isso ele tanto usará de ataques diretos contra a mente do cristão, como também agirá

nas circunstâncias exteriores produzindo

adversidades. O Espírito Santo é o Consolador,

mas o diabo é o desconsolador. Ele tudo fará para nos tentar com a mentira que estamos

desamparados por Deus em nossas dificuldades

e com isto, se lhe dermos crédito, ele conseguirá

roubar a nossa paz.

Com o intuito de tentar roubar a paz do cristão ele também lhe fará duvidar da certeza da sua

salvação, quando estiver vivendo de modo

indolente quanto aos deveres que contribuem

para o seu crescimento em santificação. Assim além da própria incerteza que a falta de

diligência trará consigo quanto à certeza da

eleição (II Pe 1.5-10), Satanás a reforçará

acusando o cristão de hipócrita e que está sujeito à condenação eterna no inferno.

Ele criará também entraves e injustiças no relacionamento entre os cristãos de maneira

que não somente quebre a unidade deles, como

também venham a fugir do dever de estarem congregados em nome de Cristo e por amor a

Ele e para fazer avançar o Seu reino na terra. E

esta é uma forma muito dolorida de se furtar a

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paz dos cristãos que eles devem a todo custo evitar orando a Deus: “não nos conduza em

tentação”.

Ele trará também temores e incertezas nas mentes dos cristãos fazendo com que pensem

em nada além das suas dificuldades, e que tentem resolver os seus problemas usando

apenas estratagemas humanos, que em vez de

solucionar, podem agravar os problemas.

Depois disto ele lançara a culpa em Deus que não cuidou devidamente dos Seus filhos e que

não lhes protegeu na hora da aflição e do perigo.

Entretanto, muitas destas aflições são

produzidas pelo próprio diabo (como no caso de Jó) e permitidas por Deus para o

aperfeiçoamento da fé dos seus filhos, de

maneira que, como Paulo possam estar

contentes em toda e qualquer situação (Fp 4.11,12; II Cor 12.10).

Quando o diabo consegue roubar a paz dos santos ele coloca uma pedra de tropeço a outros.

Eles ficarão atemorizados de se renderem a

Cristo pelo temor de passarem não pelas tribulações que os cristãos vivem, mas pelo

desespero que muitos deles mostram em suas

aflições. A serenidade e paz que havia na face de

Estevão quando era apedrejado conduziu Paulo à conversão. Cristo convence o mundo do Seu

poder dando-nos amor e paz na aflição. Mas

quando o cristão permite que Satanás furte tal

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58

testemunho, trocando-o por perturbação de

mente e de coração, poucos se sentirão

estimulados a se renderem a Cristo. Não admira

portanto que Cristo nos ordene carregar voluntariamente a nossa cruz e que não

andemos solícitos e preocupados com as coisas

desta vida, quanto ao que havemos de comer,

beber e vestir, sabendo que Deus cuidará de todas as nossas necessidades enquanto

trabalhamos honestamente e vivemos de modo

digno e modesto perante Ele e os homens.

27ª - Satanás tenta os homens a usarem de violência para com outros e até para consigo mesmos quando se sentem fracassados ou

contrariados. Esta violência pode ser moral ou

física. Mas isto se vence com o fruto do Espírito

do amor, da longanimidade, da mansidão e do domínio próprio. O aumento da violência nos

dias de Noé foi o motivo de Deus ter destruído o

mundo antigo com as águas do dilúvio. Satanás

é um espírito violento que espalha a violência, mas o cristão deve se guardar de toda forma de

violência e estar disposto a suportar danos por

amor a Cristo. É assim que se destrói as armas de

violência de Satanás. Não resistindo ao perverso e nem se entregando à prática da perversidade.

Eu lhe mostrei vinte e sete sutilezas usadas por Satanás em suas tentações para que você possa

conhecê-las melhor e evitá-las, bem como e

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principalmente orar a Deus para que não

permita que seja conduzido a elas.

Satanás é um assassino que está no mundo para roubar, matar e destruir, e devemos nos

prevenir dele vigiando atentamente os seus passos, de maneira que não venhamos a cair nos

seus laços.

Sigamos o conselho de Cristo vigiando e orando em todo o tempo para não entrarmos em

tentação (Mt 26.41).

Muitos perguntam por que Deus permite que os Seus santos sejam esbofeteados pelas tentações de Satanás.

Primeiro ele permite isto para que sejam provados. Satanás usa a tentação com o fim de

levar a efeito os propósitos malignos a que nos

referimos anteriormente, e Deus permite a tentação para que sejamos provados de modo

que possamos crescer na fé através da

resistência a Satanás e do aprendizado da

dependência e obediência ao Senhor para poder vencê-lo. E quando o diabo é vencido pela graça

e coragem do cristão em ficar firme no

testemunho da verdade contra as mentiras do

diabo o Senhor e o evangelho são honrados. Através das tentações Deus mantém os seus

filhos livres do orgulho espiritual, tal como

permitira que Paulo fosse esbofeteado por um

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mensageiro de Satanás para permanecer

humilde perante Ele depois de ter tido as visões

gloriosas do terceiro céu. Isto impediu que ele

se gloriasse em si mesmo, e soubesse que não foi por nenhum mérito pessoal e justiça própria

que lhe fora dada tal experiência gloriosa por

Deus (II Cor 12.7).

Deus também permite que Seus filhos sejam tentados para que possam adquirir experiência para poderem confortar a outros (II Cor 2.11).

As tentações também nos revelam que o céu não é aqui neste mundo. Que a terra foi

amaldiçoada por causa do pecado e não é

nenhum paraíso com as múltiplas operações do

diabo. Definitivamente o mundo não é o nosso lugar de descanso e devemos aspirar por uma

pátria superior que é o céu.

Mas enquanto caminhamos neste mundo devemos nos consolar com o pensamento

relativo à verdade que Satanás e até mesmo uma legião inteira de demônios não podem tocar

sequer um porco se Cristo não lhes der licença,

como bem aprendemos da história do gadareno.

Se Satanás e os demônios tivessem liberdade para agirem com total liberdade, nenhuma alma

seria salva.

E lembremos que se não é possível impedir a tentação, no entanto nunca será da vontade de

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Deus que nós caiamos nela. O peixe não será

fisgado pelo anzol se não morder a isca.

Vencendo a tentação nós pisamos na cabeça da serpente juntamente com Cristo. O diabo é

vencido quando usamos toda a armadura de Deus e estamos revestidos do Senhor e da força

do Seu poder.

Quanto mais um cristão for tentado mais ele lutará contra a tentação e ficará cada vez mais

experimentado nas batalhas espirituais,

amando a santidade e detestando as tentações através das quais o diabo procura afastá-lo da

sua firme posição na fé. Assim as tentações

cooperam indiretamente para o aumento da fé e

das demais graças de um cristão. E aquele que vence a tentação é confortado por Deus, assim

como Cristo foi servido pelos anjos depois de ter

vencido o diabo no deserto.

Mas ainda que um cristão autêntico caia numa

tentação, contudo a semente da vida eterna está nele (I João 3.9). A graça pode ser abalada mas

não destruída, e o diabo sabe muito bem disto.

Ele não tentará lançar um cristão no inferno,

porque sabe que isto é impossível, mas tentará neutralizar as suas ações contra ele.

Deus nos aperfeiçoa em força e poder vencendo as tentações. Que poder há num homem que

não consegue vencer a menor tentação?

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Veja consequentemente que a vida de um cristão não é nenhuma vida fácil. É uma vida

militar: há um Golias no campo de batalha para lutarmos contra ele na força do Senhor.

E não devemos estar nesta guerra contra as múltiplas tentações do Inimigo, lutando

sozinhos. Nós devemos estar na comunhão dos

santos para sermos bem sucedidos nesta guerra de muitas batalhas. A comunhão e a intercessão

dos santos é o melhor remédio contra a

tentação.

E se você não deseja ser vencido pela tentação esteja sóbrio (I Pe 5.8). A sobriedade consiste no uso moderado das coisas terrenas. Um desejo

imoderado destas coisas coloca os homens na

armadilha do diabo (I Tim 6.9). Aquele que ama

as riquezas imoderadamente as adquirirá injustamente. Acabe se apoderou do vinhedo de

Nabote derramando o seu sangue. Aquele que

está embriagado com o amor ao mundo, nunca

estará livre de cair em tentação.

Nós nos depararemos com o tentador em todos os lugares e por isso devemos estar sempre

empunhando a espada do Espírito que é a

Palavra de Deus. É com a verdade da Palavra que

se vence o pai da mentira. Quando usamos a Palavra em nossas tentações e nos amparamos

nas suas verdades e não nos nossos sentimentos

na hora da aflição e da tentação, o Inimigo

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baterá em retirada e Deus dará paz às nossas

mentes e corações.

“6 Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo

conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.

7 E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os

vossos sentimentos em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,7).

Não há qualquer tentação que não tenha uma resposta adequada na Bíblia pela qual podemos

enfrentá-la. Por exemplo, se o diabo insinuar a prática do adultério, nós podemos dizer que está

escrito: “não adulterarás”, ou que “Deus julgará

os adúlteros”. Se ele nos tentar a endurecer o

nosso coração contra qualquer pessoa, por algum dano ou ofensa que nos tenha causado

nós devemos dizer que está escrito: “Amai os

vossos inimigos”, “bendizei os que vos

perseguem“, “não vos vingais a vós mesmos”, “vençamos o mal com o bem” etc.

Fujamos também de toda fonte de tentação. Os nazireus não podiam comer ou beber qualquer

produto da videira, especialmente bebida forte,

para que isto não ocasionasse intemperança. Havia nesta prática de consagração da

dispensação da Lei uma clara figura de que os

cristãos que são nazireus de Deus, pela

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consagração a Ele durante todo o tempo de suas vidas, têm o dever de se guardarem da

intemperança em todas as suas formas. Se não

nos guardamos de intemperanças como a do

beber e do comer desordenadamente, por exemplo, nada adiantará orarmos para que Deus

não nos conduza em tentação.

Sendo criteriosos em todo o nosso modo de viver podemos então contar com o poder das

nossas orações. A oração atormenta o diabo e o coloca em fuga, livrando-nos de cair na

tentação. Mas sejamos humildes enquanto

oramos sabendo que é o poder de Jesus que faz o

diabo fugir, e não o nosso próprio poder. Lembremos que a quem se humilha Deus

concede maior graça.

Para não cairmos em tentação devemos fugir de argumentar com Satanás. Eva começou a entrar

em desvantagem com o Inimigo quando começou a argumentar com ele. Nós podemos

afirmar a verdade de Deus para o diabo mas se

entramos em considerações vãs argumentando

com ele ou com os seus instrumentos, nós poderemos acabar persuadidos e vencidos pelo

erro, ou abalados em nossas convicções se não

tivermos maturidade suficiente de fé. Mesmo

cristãos maduros que têm as faculdades exercitadas para discernirem tanto o bem

quanto o mal devem evitar contendas de

palavras com os que se opõem à verdade, para

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não ficarem expostos ao mal, e nem lançarem

pérolas aos porcos.

“23 E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas.

24 E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor;

25 Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará

arrependimento para conhecerem a verdade,

26 E tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão

presos.” (II Tim 2.23-26).

Satanás foi vencido por Cristo na cruz, e não há portanto o que se argumentar com um inimigo

vencido. Devemos fazer valer a vitória da cruz

sobre ele vivendo de modo santo em inteira

firmeza de fé. A vitória sobre o diabo está diretamente relacionada ao grau da nossa

sujeição a Deus e à Sua vontade.

Paulo não desconhecia os estratagemas de Satanás (II Cor 2.11) porque estava

experimentado em ver suas tentações tanto em sua vida como na vida dos seus irmãos em

Cristo. E de igual modo nós devemos estar bem

instruídos acerca dos movimentos do Inimigo

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para destruir a nossa fé, de maneira que

possamos neutralizar os seus intentos malignos.

Devemos ser gratos a Deus por nos dar a vitória por meio de Cristo Jesus (I Cor 15.57). É a graça

do Senhor que nos conduz em triunfo nas batalhas contra o Inimigo. Por isso somos

ensinados a orar: “não nos conduza em

tentação” porque isto não nos traz somente a

eficácia, como também o reconhecimento de qual é a fonte que nos garante a vitória sobre as

tentações.

A segunda e última parte da sexta petição da oração do Pai Nosso é: ”mas livra-nos do mal.”.

Há muito mais nesta petição do que é

expressado, porque o pedido para livramento do mal tem em vista que possamos fazer progresso

em nossa devoção a Deus.

“Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste

presente século sóbria, e justa, e piamente,” (Tito 2.12).

De um modo geral, quando nós oramos para sermos livrados do mal, nós estamos orando

para sermos livrados do mal do pecado, e

particularmente, como parece estar insinuado no nosso texto de Mt 6.13, da prática do pecado

que seria oriunda de cairmos em tentação, o que

se pode inferir do uso da conjunção adversativa

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67

“mas” do texto “mas livra-nos do mal” (allá, que

se encontra no original grego significa contudo,

mas, entretanto), indicando assim que ao pedirmos a Deus para não sermos conduzidos

em tentação, está implícito que Ele nos livrará

de muitas tentações, mas também, para o nosso próprio proveito, como vimos antes, permitirá

que sejamos provados com muitas tentações, e

neste caso, o Senhor nos ensinou a orar a pedir

a Deus que nos livre do mal, de maneira que não sejamos vencidos pelas tentações de Satanás,

que visam produzir danos e levar-nos a pecar.

Quando nós oramos para sermos livrados do mal nós não estamos orando obviamente para

sermos livrados de modo final e imediato do

princípio do pecado que opera em nós. Nós não podemos nos livrar de modo definitivo desta

víbora enquanto estivermos vivendo neste

mundo, mas podemos pedir a Deus para nos livre cada vez mais das suas picadas venenosas.

Quando nós consideramos o que é o pecado de maneira correta e fazendo uma justa avaliação

do mal execrável que ele é, nós entendemos

melhor porque devemos orar “mas livra-nos do

mal”.

O pecado é mau em sua natureza porque é uma transgressão contra Deus. É a transgressão da

Lei da Majestade Divina (I João 3.4). Assim é um

crime de lesa majestade.

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A palavra hebraica para pecado (hatat) significa ofensa, rebelião. E no grego, a palavra para pecado é amartia, e significa errar o alvo.

Assim o pecado é tanto uma rebelião contra Deus, como não acertar o alvo quanto à Sua

vontade em relação ao que deveríamos ser e o

modo de procedermos em nossa vida.

O pecado é um ato de alta ingratidão para com

Deus. Ele alimenta o pecador, é misericordioso e longânimo para com ele, mas o pecador se

esquece das Suas misericórdias e abusa da Sua

longanimidade para com ele.

O pecado faz com que o homem se torne escravizado à Sua própria vontade e à de Satanás. Somente o homem que estiver livre da

tirania do seu próprio ego e do diabo pode de

fato servir a Deus e viver de modo que exerça

domínio sobre sua vontade e sobre o diabo, ao invés de ser dominado por ambos.

O pecado produz um estado ruim na alma incompatibilizando-a de ter paz, harmonia e

comunhão com o Espírito de Deus. Quando o

pecado estiver reinando o Espírito Santo estará entristecido, mas quando é a graça que está

reinando o pecado é dominado e vencido pelo

Espírito.

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O pecado é a causa da aflição, e a causa é pior que o efeito. O pecado traz todo tipo de dano; doença,

espada, escassez e todo os julgamentos em seu

útero. Apodrece o nome, consome a propriedade e arruína o corpo. Causa motins,

divisões e massacres. Por causa do pecado tudo

morre no mundo, e o próprio mundo passará

pelo juízo de Deus por causa do pecado.

A aflição propriamente dita pode servir de alerta para que nos voltemos para Deus confessando

os nossos pecados; e assim, se produz tristeza

para arrependimento torna-se em algo

proveitoso para nós, porque se transforma num imã que nos puxa para perto de Deus. Assim no

meio da adversidade externa pode haver paz

interior.

Muitas aflições são o resultado das repreensões de um Pai de amor (Apo 3.9) que visa conduzir-nos através delas ao arrependimento. Nós

devemos então aprender a chorar não

propriamente pelas nossas aflições, mas pelo

que geralmente dá causa a elas que é o pecado.

Assim, os santos podem se alegrar em suas

aflições (I Tes 1.6; Hb 10.34), especialmente naquelas que lhes sobrevêm por causa do seu

testemunho em favor da verdade divina.

Nós podemos nos alegrar nas aflições, mas não no pecado, de maneia que não podemos nos

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alegrar naquelas aflições que foram originadas

por causa dos nossos próprios pecados. É

preciso saber distinguir entre aflições e aflições.

Nós podemos e devemos ser gratos a Deus por estas aflições originadas da prática do pecado

porque são como sirenes nos alertando para nos

arrependermos do mal, e pedirmos

humildemente a Deus que nos livre do mal que deu causa às nossas aflições, a saber, neste caso,

o pecado.

O pecado é questão de vergonha e aflição e não de alegria (Os 9.1; II Sm 24.10).

Agora os sofrimentos que suportamos por amor a Cristo, tal como os que Jó padeceu em sua

paciência, serão transformados numa coroa de glória, porque através deles nós testificamos da

nossa fidelidade e obediência à vontade de Deus

(Tg 5.2).

Com o pecado ocorre o oposto, porque se

transforma a glória em vergonha, tal como ocorreu com os filhos de Eli quando tinham

pecado e profanado o sacerdócio deles.

O zelo e a constância dos mártires em seus sofrimentos eternizaram os nomes deles.

Quando um cristão está sofrendo segundo a vontade de Deus como Pedro, quando estava na

prisão (At 12.5) Deus fará com que outros santos

intercedam em oração a favor dele. Mas quando

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71

um homem peca deliberadamente e de modo

escandaloso, ele terá as lágrimas amargas dos

santos e somente censuras, e ele se

transformará num fardo para os demais (Sl 31.2).

O aguilhão da morte é o pecado (I Cor 15.26), isto é, o pecado é a causa da morte. A morte física faz

apenas separação entre o corpo e o espírito, mas

o pecado sem arrependimento é uma morte

pior porque faz separação entre o espírito e Deus.

O pecado é pior que o inferno porque o inferno foi criado por Deus para juízo do diabo, seus

anjos caídos e dos homens impenitentes. Mas o

pecado não foi criado por Deus, antes é um

monstro criado pelo diabo. Os tormentos do inferno são um fardo apenas para os pecadores

impenitentes, mas o pecado é um fardo para

Deus. Como não oraríamos então pedindo a Deus que nos livre do mal que é o pecado?

Necessitamos orar assim porque há pecados de omissão e pecados ocultos que nem sempre

conseguimos reconhecer e que por conseguinte

não confessamos. Mas tal como Davi devemos

também pedir a Deus que nos livre destes pecados.

E devemos fugir não somente dos pecados aparentes, que aparecem, como também de

toda aparência de mal. A aparência do bem é

Page 72: Como triunfar sobre a tentação - livro

72

muito pequena mas a aparência do mal é muito

grande e deve ser evitada a todo custo, porque

ainda que algo não seja pecaminoso, mas parece ser pecado, deve então ser evitado. A aparência

do mal pode escandalizar a outros (I Cor 8.12).

O pecado original não pode ser erradicado, mas deve ser mortificado. Os pecados irrompem

porque não é mortificado o pecado no coração de onde procede todo tipo de mal. As primeira

evidências de orgulho, cobiça, impureza e

paixão devem ser suprimidos antes que

cresçam subjugando o espírito, a alma e o corpo. A expressão que o mal deve ser cortado pela raiz

bem se aplica à mortificação do pecado.

É preciso cultivar o temor de Deus no coração, sabendo que Ele tudo vê e julga, que daremos

contas de tudo o que tivermos feito por meio do corpo no Tribunal de Cristo, e isto muito nos

ajudará a ter o devido temor de viver no pecado.

E isto será saúde para nós mesmos e para muitos

outros que forem alcançados pelo nosso bom testemunho.

Aquele que tem o temor de Deus vigia os principais portais da alma que são os olhos e os

ouvidos, e também cuida de vigiar os seus

pensamentos, porque é por estas portas que o estímulo para o pecado costuma entrar. Um

simples pensamento de vingança pode conduzir

a um assassinato ou a uma ira e ódio

Page 73: Como triunfar sobre a tentação - livro

73

injustificados. Assim a maioria dos pecados são

decorrentes da falta de cuidado com a vigilância.

O amor a Deus sendo continuamente cultivado no coração é uma poderosa arma contra a força e insinuações do pecado. O amor pela glória e

santidade de Deus fará com que tenhamos um

objetivo nobre e elevado em nos cuidar não

pecando contra Ele.

Se você deseja ser livrado por Deus do mal

mantenha-se então ocupado em Sua obra e você sentirá de perto que é impossível servir a Deus

sem santificação. De outro modo seremos

hipócritas falando a outros de uma santidade

que falta em nós mesmos.

Devemos considerar que quando oramos para que Deus nos livre do mal, nós estamos pedindo

que Ele nos livre do mal do nosso coração,

porque é uma fonte envenenada de onde flui

todo tipo de pecados (Mt 7.21). Satanás não poderia prevalecer sobre nós tentando-nos a

praticar o pecado se nós não lhe déssemos

consentimento em nossos corações. Tudo o que

ele pode fazer é colocar a isca, e a nossa falta é mordê-la. Então oremos para que Deus nos livre

do mal do nosso próprio coração.

E também, quando fazemos esta oração pedindo a Deus que nos livre do mal nós estamos

Page 74: Como triunfar sobre a tentação - livro

74

pedindo para que nos livre do mal de Satanás (Mt 13.19; Ef 6.12; I Pe 5.8; Zac 3.1).

Satanás encheu o coração de Aananias para que mentisse ao Espírito Santo (At 5.3).

E finalmente, quando oramos para sermos livrados do mal, além de orarmos pelo

livramento do mal do nosso próprio coração e de Satanás nós estamos orando para sermos

livrados do mal do mundo. Em Cristo nós somos

livrados do pecado, do diabo e do mundo. A obra

de redenção consiste também em nos desarraigar deste mundo mau e tenebroso (Gál

1.4; Tg 1.27).

O mundo está cheio de armadilhas. Companhia é uma armadilha, bem como recreação e

riquezas são armadilhas.

A luxúria da carne é beleza e sensualidade; a

luxúria dos olhos é dinheiro e o orgulho da vida é fama e honra mundanos; esta é a trindade do

homem natural. O mundo é um inimigo

lisonjeiro que nos trai beijando. Os prazeres do

mundo são como o ópio que dão ao homem uma falsa sensação de segurança.

É difícil beber o vinho da prosperidade e não ficar embriagado com ele. Por causa da

corrupção do pecado original que está nas

Page 75: Como triunfar sobre a tentação - livro

75

massas em geral da humanidade, o mundo é mau.

O mundo nunca incentivará portanto que os homens vivam piedosamente e busquem a

Deus, e nisto se torna um grande perigo para os

cristãos que não são como os anjos eleitos, senão pecadores como os seus semelhantes,

que terão no mundo um forte atrativo para

retornarem ao velho modo de vida, porque o

mundo jaz no maligno, e o imenso imã do mundo exerce uma grande atração sobre o imã

do pecado que reside na nossa natureza terrena.

Os cuidados terrenos sufocam a semente da Palavra, conforme Jesus nos ensinou na

parábola do semeador. E um homem que tem a sua mente ocupada deste modo com as coisas

terrenas não consegue se ocupar com as coisas

celestiais, espirituais e divinas.

O mundo odeia portanto os cristãos (João 15.19) porque eles vivem num plano de vida (espiritual e na luz) que é diferente do plano em que o

mundo vive (somente terreno). O mundo odiou

a Cristo e também odiará os cristãos que são

fiéis a Cristo porque protestam contra o seu pecado, e a luz tanto de Cristo quanto dos

cristãos não pode ser amada por aqueles que

amam mais as trevas do que a luz.

Page 76: Como triunfar sobre a tentação - livro

76

Então nós devemos orar para que Deus nos livre do mal deste mundo mau.

Embora seja ordenado aos cristãos que amem os seus inimigos, este (o mundo) é um inimigo que

nós não devemos amar (I João 2.15).

E ainda está incluído indiretamente na nossa oração por livramento do mal que também

façamos o bem, porque não é suficiente que sejamos livrados do mal, porque isto tem um

propósito, conforme já comentamos

anteriormente, que é para que possamos fazer

progresso em santidade. Ser livrados de pecar não é o bastante, a menos que nós estejamos

apegados à virtude. A Bíblia assim une ambos os

deveres (Sl 34.14; Rom 12.9; 13.14; Is 1.16,17; II Cor

7.1).

Um homem pode se privar do mal, contudo ele pode ir para o inferno por não fazer o bem,

porque toda árvore que não der bom fruto será

cortada e queimada (Mt 3.10).

Oremos sempre então para que Deus nos livre do mal, para que possamos abundar no

testemunho da prática das boas obras que Ele preparou de antemão para que andássemos

nelas.

Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de

Page 77: Como triunfar sobre a tentação - livro

77

Thomas Watson, em domínio público,

intitulado A Oração do Senhor.

Page 78: Como triunfar sobre a tentação - livro

78

Os Meios para Derrotar os Ardis de

Satanás

“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso

adversário, anda em derredor, como leão que

ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos

iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa

irmandade espalhada pelo mundo.” (I Pe 5.8,9)

Há muitos que negam as influências do

Espírito Santo. Não é de admirar, portanto, se a

agência de Satanás seja posta em dúvida. Mas há

abundante prova nas Escrituras que Satanás exerce um poder sobre as mentes dos homens.

Pedro havia aprendido esta verdade por uma

amarga experiência.

Satanás é o grande adversário da humanidade. Foi ele que causou a queda de nossos primeiros pais, Gên 3.1-5. Ele tem exercido uma influência

semelhante sobre todos os seus descendentes.

Ele ainda mantém sua inimizade contra a

semente da mulher, Gên 3.15. Ele é corretamente comparado ao "leão que ruge". O

leão caça as suas presas com sutileza. Ele é assim

apresentado por Davi em sua descrição dos

ímpios, Sl 10.9,10. Satanás também usa vários dispositivos para destruir as almas, Ef 6.11. Ele

adapta as tentações que nos faz com um

trabalho surpreendente: ele nos atrai para o seu

Page 79: Como triunfar sobre a tentação - livro

79

laço antes que estejamos conscientes de seus

projetos.

O leão vai muito longe em busca de sua presa, e Satanás anda para lá e para cá ao longo da terra:

ele não abandona os seus esforços dia e noite, Apo 12.10. Ele é mais diligente quando sabe que

seu tempo é limitado! Ele tem legiões de

emissários atuando em conjunto com ele, Mc

5.9. Se em algum momento ele suspender seus ataques, isto é apenas por uma temporada, para

que ele possa retornar mais tarde com maior

vantagem.

O leão pouco se importa com as agonias que ele ocasiona; nem Satanás tem qualquer compaixão

pelas almas que ele destrói.

O animal selvagem mata para satisfazer os apelos da natureza, mas o nosso adversário não

colhe qualquer benefício da destruição dos

homens. Seu esforços servem apenas para

aumentar sua própria culpa e miséria, e ainda assim ele é insaciável na sua sede de nossa

condenação.

É fraca a resistência de um cordeiro contra o leão voraz: ainda mais impotentes são os

homens diante do "príncipe deste mundo". Os ímpios estão totalmente submetidos à sua

vontade; e nem os santos têm o menor poder de

resistir a ele, se Deus não livrá-los de suas mãos.

Page 80: Como triunfar sobre a tentação - livro

80

Por isso não podemos deixar de desejar conhecer os meios de derrotá-lo.

Nosso adversário, apesar de forte, não é invencível. Existe um mais forte do que ele, que

pode vencê-lo, Lc 11.21,22; e Deus tem prescrito

meios pelo quais nós também podemos vencê-lo.

A Moderação é um destes meios.

Um apego indevido às coisas do mundo lhe dão uma grande vantagem sobre nós. Ele não

deixará de nos assaltar em nosso lado fraco, mas

uma moderação em alguma medida, relativa ao mundo, irá desarmá-lo. Ele não prevaleceu

contra nosso Senhor, porque ele não encontrou

nenhuma afeição irregular nele, nem ele

poderia facilmente nos vencer, se formos desapegados das coisas terrenas.

Um desprezo da vida tem sido o meio principal pelo qual os santos e mártires em todas as

épocas triunfaram sobre ele.

A Vigilância é outro meio importante para vencê-lo.

A falta de vigilância, mesmo em um exército vitorioso, o expõe à derrota: muito mais do que isto, ficamos sujeitos ao poder de nosso inimigo

sutil, se nos faltar vigilância. Pedro tinha

experimentado seus efeitos perniciosos. Ele

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tinha sido avisado da intenção de Satanás

assaltá-lo. Jesus lhe tinha ordenado para orar e

vigiar para não cair em tentação, mas ele dormia

quando ele deveria estar orando. Ele agiu quanto a isto como a mulher de Ló, que se

tornou um monumento de alerta para as futuras

gerações, mas a vigilância de nossa parte irá

contrariar os desígnios de Satanás. O cristão armado, vigiando em oração, será vitorioso.

A Perseverança também é importante.

O cristão tímido cai em mil laços, Prov 29.25. A única maneira de obter a vitória é lutar

corajosamente, e isso é o dever de todo seguidor

de Cristo. Nunca devemos dar lugar a Satanás, Ef

4.27. Somos chamados a lutar e a enfrentá-lo; e nunca a nossa resistência será em vão, Tg 4.7.

A Fé deve ser também destacada.

A incredulidade é um poderoso instrumento nas mãos de Satanás. Ele a estimula em nós para

nos afastar da fé; nós devemos, portanto, manter

firmes as doutrinas da fé. Não deveríamos prejudicar a nós mesmos por nos deixarmos

mover da esperança do Evangelho, porque esta

é a nossa âncora pela qual devemos superar a

tempestade, Heb 6.19. Nós devemos também exercitar firmemente a graça da fé. Esta é a arma

pelo qual vencemos o mundo; I Jo 5.4, e por isso

triunfaremos sobre o próprio Satanás.

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Texto de Charles Simeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

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Antídoto contra os Desígnios de Satanás

Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha

feito. (Gn 3:1).

“Aquela velha serpente", chamada de diabo, Satanás, enganador e mentiroso, é aquela de

quem o Senhor Jesus falou aos judeus: "Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio,

porque é mentiroso e pai da mentira" (João 8:44).

Deus se alegrou ao criar as feras e em dar certa sutileza para algumas, esperteza combinada

com força e, para outras, instintos muito

aguçados - para a autopreservação e a busca de alimento. Mas todos os sábios instintos e

sutilezas das feras do campo são, em muito,

suplantados pela sutileza de Satanás. Mesmo o homem, muito mais astuto que qualquer outra

criatura, não é páreo para a astúcia de Satanás.

Ele é o mestre do engano e pode nos superar por diversas razões. Uma das razões pelas quais ele é

chamado de astuto é o fato de ser malicioso, pois

malícia é o resultado mais aparente da astúcia. É interessante ver quão astuto é um homem

vingativo quando procura encontrar uma

oportunidade de revidar.

Page 84: Como triunfar sobre a tentação - livro

84

Quando a inimizade possui totalmente sua alma e derrama veneno em seu sangue, ele

rapidamente se transforma num instrumento

que o inimigo usa para provocar e injuriar seu

adversário. Não, não há ninguém mais cheio de malícia contra o homem do que Satanás, fato

este provado cada dia, à medida que a malícia

aguça a sabedoria, de forma que Satanás se

torna cada vez mais sutil.

Satanás continua astuto hoje - e, com certeza, muito mais do que era nos dias de Adão -, pois já

vivenciou muitas experiências com a raça

humana. A tentação lançada sobre Eva foi a

primeira oportunidade que teve de lidar com a humanidade e, desde então, tem exercitado

todo seu grande poder e pensamento diabólico

para perturbar e arruinar o homem. Não há um

santo sequer que ele não tenha atacado, assim como nenhum pecador que não tenha

desencaminhado. Juntamente com suas tropas

de espíritos do mal, ele exerce um controle

contínuo sobre os filhos dos homens; é, portanto, hábil na arte da tentação.

Suponho que não haja nenhum aspecto da natureza humana que seja desconhecido de

Satanás. Contudo, sem dúvida, ele é o maior

insensato de todos os tempos, sendo que posso adicionar que ele é o mais astuto dos tolos, o que

de modo algum é um paradoxo, pois a

artimanha é sempre insensata e os artifícios

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85

usados nada mais são que outra forma de nos

afastar da sabedoria.

Primeiramente, vou definir as artimanhas e a sutileza de Satanás, bem como os métodos pelos quais ele ataca nossa alma. Depois, trarei

algumas palavras de admoestação com respeito

à sabedoria que devemos aplicar contra Satanás,

e o único meio eficiente que podemos usar para evitar que a sutileza dele se transforme no

instrumento de nossa destruição.

A artimanha e a sutileza de Satanás

Satanás revela sua artimanha e sutileza através dos métodos de seu ataque. Ele não ataca com

descrença e desconfiança o homem calmo e

tranquilo. Satanás o ataca num ponto mais vulnerável. Amor próprio, autoconfiança,

mundanismo - estas são as armas que Satanás

usará contra ele.

Creio que Satanás raramente ataca um homem em seu ponto forte, procurando, ao contrário, o ponto mais fraco, o pecado habitual. Ele diz: "É ali

onde vou atirar minha flecha". Que Deus nos

ajude na hora da batalha! De fato, não fosse o

Senhor a nos ajudar, este astuto inimigo acharia facilmente as junções de nossa armadura e de

pronto lançaria seus dardos em nossa alma, de

modo que caíssemos feridos diante dele.

Page 86: Como triunfar sobre a tentação - livro

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Estejam atentos: "Revesti-vos de toda a armadura de Deus" (Efésios 6:11) e "Sede sóbrios

e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em

derredor, como leão que ruge, procurando

alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé" (1 Pedro 5:8,9). Que Deus o ajude a prevalecer

contra ele!

Uma segunda coisa através da qual revela sua astúcia são as armas que ele frequentemente

usará contra nós. Em algumas situações ele atacará o filho de Deus com lembranças do

passado e dos dias de seu estado carnal. Em

outras ocasiões, Satanás usará a arma de nossa

própria experiência. Dirá: "Ah, no dia tal de tal ano, você pecou de tal maneira. Como é que

você pode ser um filho de Deus?". E ainda em

outro momento, ele dirá: "Você é um fariseu.

Portanto, não pode ser herdeiro dos céus". Então, ele começará a trazer à tona todas as

lembranças, das quais não tínhamos nenhuma

recordação, relacionadas com nossa falta de fé,

nosso passado sem Deus e assim por diante, jogando-as em nossa face e dizendo: "O que, você

é cristão? Mas que tipo de cristão você deve

ser!".

Ainda é possível que ele comece a tentá-lo através do exemplo de outros. "Fulano é crente e ainda assim fez; por que você não pode fazer o

mesmo? Sicrano fez, já faz um tempo, e continua

tão respeitado quanto você". Tenha cuidado,

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pois Satanás sabe escolher suas armas! Se você

for um gigante, ele não vai aparecer diante de

você com um estilingue e uma pedra. Virá armado até os dentes para derrubá-lo.

A artimanha de Satanás é revelada em outro detalhe: nos agentes que o diabo usa. O diabo

não faz todo o serviço sujo sozinho: para ele é

comum empregar outros para trabalhar por ele. Quando Sansão precisava ser derrotado,

Satanás tinha Dalila pronta para tentá-lo e levá-

lo ao chão. Satanás conhecia o coração de

Sansão, qual era seu ponto mais fraco e, assim, tentou-o através da mulher que Sansão amava.

Um ditado diz que "há muitos homens que tiveram a cabeça quebrada por sua própria

costela" e isto certamente é verdade. Em muitas

ocasiões, Satanás usa a própria esposa para lançar o marido à destruição, ou usa alguns

amigos próximos como instrumentos em favor

de sua ruína.

Satanás demonstra sua astúcia pelo número de vezes que nos ataca. Quando estive doente, pensei que, se pudesse apenas levantar de

minha cama novamente e ser fortalecido outra

vez, daria a mais terrível surra no diabo por

causa da forma como me atacou enquanto eu estava doente. Covarde! Por que ele não esperou

até que eu estivesse são? Mas sempre acho que,

se meu espírito afunda e meu coração não está

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88

em boas condições, Satanás escolhe estes

momentos para me atacar com descrença.

Ele que tente vir até nós quando as promessas de Deus estão frescas em nossa memória ou quando estamos gozando um tempo de doce

derramamento do coração em oração perante

Deus para ver como lutamos contra ele. Mas

não; ele sabe que, quando temos forças para resistir-lhe e prevalecer ao lado de Deus, temos

também forças para também prevalecer contra

ele. Portanto, ele vem até nós quando percebe

que há uma nuvem entre nós e Deus. Ele nos tenta quando o corpo está debilitado e o espírito

fraco, tentando tirar nossa confiança em Deus.

O que faremos com este inimigo ?

Nosso desejo é entrar no reino dos céus, mas não o faremos enquanto estivermos aqui. A

Cidade da Destruição está diante de nós e a Morte nos persegue. Devemos ansiar ir ao céu

logo, mas, diante de nós, está este "leão que

ruge, procurando alguém para devorar". O que

faremos? Ele tem grande sutileza; como poderemos vencê-lo? Devemos procurar ser tão

astutos quanto ele? Isto seria uma insensatez; na

verdade, seria um pecado. Procurar ser

malicioso como o diabo, seria tanto vil quanto fútil. Então, o que vamos fazer? Vamos atacar

Satanás com sabedoria? Ora, nossa sabedoria é

estupidez! "Mas o homem estúpido se tornará

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89

sábio" (Jó 11:12), mas, na melhor das hipóteses, o

homem é como "a cria de um asno montês".

Então, o que nos resta fazer?

A única forma de repelirmos as sutilezas de Satanás é obter verdadeira sabedoria. Digo

novamente o que já falei: o homem não a tem

dentro de si. Nisto está a verdadeira sabedoria. Se você pretende lutar contra Satanás para o

vencer, faça das Santas Escrituras sua comida

diária. Forje sua armadura e sua munição a

partir destas palavras santas. Apegue-se às gloriosas doutrinas da Palavra de Deus. Faça

dela sua comida e sua bebida. Assim você estará

sendo fortalecido para resistir ao diabo e vai se

alegrar ao ver que ele se afastará de você.

Acima de tudo, se realmente queremos resistir a Satanás, devemos olhar não apenas para a

sabedoria revelada, mas para a Sabedoria

Encarnada. Este deve ser o principal lugar de

refúgio para toda alma que sofre tentação! Devemos correr para ele, "o qual se nos tornou

da parte de Deus sabedoria, e justiça, e

santificação, e redenção" (1 Coríntios 1:30). É ele

quem deve nos ensinar, nos guiar e ser tudo em todos. Devemos nos aproximar dele em

comunhão.

O lugar mais seguro para a ovelha é ao lado do pastor. Não haverá no mundo um lugar mais

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90

seguro do que aquele onde estivermos com nossa cabeça recostada sobre o peito de nosso

Mestre. Cristão, ande de acordo com o exemplo

de nosso Salvador, viva diariamente em sua

companhia, confie sempre em seu sangue e, desta maneira, você será mais do que um

vencedor diante das sutilezas e artimanhas de

Satanás.

É uma grande alegria para o cristão saber que, durante nossa longa caminhada, todos os dardos de Satanás não terão efeito e que todas as

suas artimanhas serão derrotadas. Você não

anseia pelo dia em que todas as tentações

cessarão e você chegará ao céu? E então você olhará para este arqui-inimigo com um sorriso e

um menosprezo santos? Enquanto Satanás

tentava destruir a árvore, arrancando suas

raízes, ele era apenas um jardineiro cavando com sua pá e abrindo espaço para que as raízes

crescessem mais e mais fortes. Quando ele

tentava derrubar ou destruir a beleza das

árvores do Senhor com seu machado, o que ele foi, afinal, se não uma tesoura de aparar nas

mãos de Deus, cortando os galhos secos que não

produziam frutos e limpando os outros para que

dessem mais frutos?

Em um certo ponto de sua história, a Igreja nada mais era do que um pequeno riacho, fluindo

pelo fundo de um vale estreito. Apenas alguns

santos se reuniam em Jerusalém e, então,

Page 91: Como triunfar sobre a tentação - livro

91

Satanás pensou: " Vou colocar uma pedra no vale

e impedir o fluxo da água". Então, lá foi ele, colocando a grande pedra diante do riacho,

pensando que, com isto, interromperia o fluir da

água. Em vez disso, ele espalhou gotas por todo

o mundo e cada gota se tornou uma nascente de água fresca. Você sabe o que foi a pedra: a

perseguição, que fez com que os santos se

espalhassem. Contudo, "os que foram dispersos

iam por toda parte pregando a palavra" (Atos 8:4) e, assim, a Igreja se multiplicou, e o diabo foi

derrotado.

Satanás, eu lhe digo que você é o maior tolo de todos os tempos e vou provar isso no dia em que

eu e você nos virmos frente a frente como inimigos - inimigos jurados de morte, como

seremos naquele dia - junto ao grande trono de

Deus. É assim que você deve tratá-lo nos

momentos em que for atacado. Não o tema, mas resista firmemente na fé, e assim você

prevalecerá.

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.

Page 92: Como triunfar sobre a tentação - livro

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Antídoto Contra as Astutas Ciladas de

Satanás

"Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha

feito." (Gênesis 3.1)

Claro que entendemos que este verso refere-se

à “antiga serpente, que é o diabo e Satanás". Em

vez da palavra "serpente", a versão Samaritana

usa "enganador" ou "mentiroso". Embora esta

não seja a verdadeira tradução, no entanto, ela declara certamente a verdade. Aquele velho

enganador, de quem nosso Senhor Jesus tinha

dito aos judeus: "Quando ele profere mentira,

fala o que lhe é próprio; porque é um mentiroso, e pai da mentira ", era " astuto, mais do que todos

os animais do campo, que o Senhor Deus tinha

feito. " Agradou a Deus dar astúcia a muitos

animais, - a alguns malícia e astúcia combinadas com força para que pudessem ser mais

destrutivos para certos tipos de animais cujos

números precisam ser controlados. Outros, que

são desprovidos de muita força, foi do Seu agrado dar-lhes os mais maravilhosos instintos

de autopreservação e sabedoria para a

destruição de suas presas e sua aquisição de

alimentos; mas cada instinto sábio e toda a astúcia dos animais do campo são largamente

compensados pela astúcia de Satanás. Na

verdade, indo mais longe, o homem tem, talvez,

Page 93: Como triunfar sobre a tentação - livro

93

sido mais astuto do que qualquer mera criatura, ao que parece, por vezes, que o instinto animal

sobrepuja a razão humana; mas Satanás tem

uma maior astúcia em seu interior do que

qualquer outra criatura que o Senhor criou, inclusive o homem.

Satanás tem artimanhas abundantes e é capaz de vencer-nos por várias razões. Eu acho que há

motivo suficiente para que Satanás seja ardiloso

porque ele é malicioso; pois de todas as coisas, a malícia é a mais produtiva para seus intentos.

Quando um homem está determinado a se

vingar, é estranho quão ardiloso é para ele

encontrar oportunidades para desafogar sua malícia. Se um homem sente inimizade contra

outro e esta inimizade se apodera inteiramente

de sua alma e derrama veneno, por assim dizer,

no seu próprio sangue, ele vai se tornar extremamente desonesto com os meios

utilizados para maltratar e ferir o seu adversário.

Agora, ninguém pode estar mais cheio de

malícia contra o homem do que Satanás, como o tem demonstrado todos os dias; e essa malícia

aguça sua sabedoria inerente para que se torne

extremamente astuto.

Além disso, Satanás é um anjo, embora um anjo caído. Sem dúvida, por certas indicações nas Escrituras, que ocupara um lugar muito

exaltado na hierarquia dos anjos antes de cair; e

sabemos que esses seres poderosos são dotados

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94

de vastos poderes intelectuais que superam

quaisquer que já foram dados aos seres

humanos. Portanto, não devemos esperar que um homem sem ajuda do alto, seja páreo para

um anjo, especialmente um anjo cujo intelecto

inato foi aguçado por uma malícia

extremamente malévola contra nós.

Além disso, Satanás pode muito bem ser astuto agora - eu posso dizer confiantemente que mais

astuto do que foi nos dias de Adão – pois ele tem

tido largas relações com a raça humana. Quando

tentou Eva essa foi a sua primeira oportunidade de lidar com a humanidade; mas mesmo assim,

a serpente era "mais sutil que qualquer besta do

campo que o Senhor Deus tinha feito." Desde

então, ele tem exercido todo o seu pensamento diabólico e grandes poderes para perseguir e

arruinar os homens. Não há santo que não tenha

perseguido e nenhum pecador que não tenha

levado ao engano. Juntamente com as suas tropas de espíritos malignos ele tem exercido

um terrível controle sobre os filhos dos homens;

portanto, é muito hábil em todas as artes da

tentação. Nunca um anatomista entendeu tão bem o corpo humano, como Satanás entende a

alma humana. Ele não foi "tentado em todos os

sentidos", mas ele tem tentado outros em todos

os pontos. Ele tem procurado atacar a nossa condição humana desde o alto da cabeça até a

sola dos nossos pés; tem explorado cada obra

exterior da nossa natureza e inclusive as

Page 95: Como triunfar sobre a tentação - livro

95

cidadelas mais secretas de nossas almas. Tem

escalado a cidadela de nosso coração, e vivido

ali; tem explorado seus recessos mais íntimos e os tem submergido nos mais profundos

abismos. Eu acho que não há nada na natureza

humana que Satanás não possa desvendar; e, embora, sem dúvida, é o maior tolo que já viveu,

como continuamente o tempo demonstra,

contudo é um grande paradoxo, porque a

argúcia é sempre uma insensatez e a astúcia é apenas outra forma de se apartar da sabedoria.

E agora, irmãos, por alguns minutos, eu vou tomar seu tempo, primeiro notando os truques

e astúcia de Satanás, e as formas em que ataca

nossas almas; e, em segundo lugar, vou dar

algumas palavras de advertência sobre a sabedoria que devemos exercer contra ele, e o

único meio que podemos usar de forma eficaz

para impedir que a sua astúcia seja o instrumento de nossa destruição.

Notemos, em primeiro lugar, as artimanhas e astúcia de Satanás, como descobrimos em nossa

própria experiência.

E eu posso começar observando que Satanás revela a sua astúcia pelos modos de seu ataque.

Há um homem que é calmo e tranquilo; e está em paz; Satanás não ataca esse homem com

descrença ou desconfiança; lhe ataca de uma

forma mais vulnerável que isso; a autoestima,

Page 96: Como triunfar sobre a tentação - livro

96

autoconfiança, o mundanismo, essas coisas são

armas que Satanás usará contra ele. Há uma

outra pessoa que é notável por sua depressão e falta de vigor mental; não é pouco provável que

Satanás se esforce para inflá-lo com orgulho,

mas examinando-o e descobrindo onde reside

sua fraqueza, vai tentá-lo a duvidar de seu chamado, e se esforçará para leva-lo ao

desespero. Há um outro homem com um corpo

forte e uma saúde robusta, que tem todos os

seus poderes mentais em pleno e vigoroso exercício, apreciando as promessas e

deliciando-se com os caminhos de Deus;

possivelmente Satanás não pode atacá-lo com a

incredulidade, porque sente que tem uma armadura para aquele ponto particular, mas vai

atacá-lo com orgulho ou com qualquer tentação

à luxúria. Ele nos examinará inteira e

cuidadosamente, e se nos encontra como Aquiles, vulneráveis em nosso calcanhar, então

irá disparar suas flechas em nosso calcanhar.

Eu creio que Satanás não tem atacado frequentemente um homem em um lugar onde

viu que era forte; mas geralmente busca o ponto mais fraco, o pecado que assedia. "Ali", diz ele,

"vou dar o golpe ali"; e que Deus nos ajude na

hora da batalha e no tempo do conflito!

Precisamos dizer: "Deus nos ajude", porque, certamente, a menos que o Senhor nos ajude,

este astuto inimigo pode facilmente encontrar

articulações suficientes em nossa armadura, e

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em breve poderá enviar a flecha mortífera para

nossas almas; de modo que iriamos cair feridos

diante dele. E, no entanto, tenho notado, e é muito estranho que, por vezes, Satanás tenta os

homens com a mesma coisa que você suporia

que nunca lhes tentaria. O que você acha que foi

a última tentação de John Knox no leito de morte? Talvez nunca houve um homem que

entendesse mais plenamente a grande doutrina

de que "pela graça sois salvos," do que John Knox.

A trovejava do púlpito; e se você lhe tivesse perguntado sobre o tema ele lhe teria declarado

ousada e corajosamente, negando com todo o

seu poder a doutrina de salvação do mérito

humano. Mas você poderia acreditar, que esse velho inimigo das almas atacou John Knox com

a justiça própria quando jazia em seu leito de

morte? Ele veio até ele e disse: "Como tens

servido bravamente o teu Senhor, John! Você nunca ficou intimidado diante da face do

homem; você enfrentou reis e príncipes, e ainda

assim você nunca se abalou; um homem como

você pode caminhar para entrar no reino dos céus com seus próprios pés, e usar suas próprias

roupas no casamento do Altíssimo"; e aguda e

terrível foi a luta que John Knox teve com o

inimigo das almas por causa dessa tentação.

Os modos de ataque de Satanás, então, como aprenderão rapidamente, revelam a sua astúcia!

Ah, filhos dos homens, enquanto vocês estão

colocando seus capacetes, ele está olhando para

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enterrar sua espada de fogo em seu coração; ou enquanto você está inspecionando bem sua

armadura, ele está levantando seu machado de

guerra para dividir seu crânio; e enquanto você

está inspecionando tanto seu capacete e sua couraça, ele está buscando fazê-lo tropeçar. Ele

está sempre alerta quando você está cochilando.

Acautelai-vos, portanto; "Revesti-vos de toda a

armadura de Deus"; "Sede sóbrios; vigiai; o vosso adversário, o diabo, como um leão que ruge,

anda em derredor, buscando a quem possa

tragar; ao qual resisti firmes na fé "; e que Deus

lhes ajude a prevalecer contra ele!

A segunda coisa na qual Satanás revela a sua astúcia é a arma que muitas vezes usará contra

nós. Às vezes, ele ataca o filho de Deus, com a

memória de uma canção obscena, ou com um

discurso licencioso que possa ter ouvido nos dias de seu estado carnal; mas com muito mais

frequência ele vai atacar com textos da

Escritura. Ainda não descobriram que assim

sucede, queridos amigos cristãos? Ainda não foram tentados do modo como Satanás atacou a

Cristo com um "Está escrito", assim também

lhes tem atacado? E não têm aprendido a

estarem em guarda contra as perversões contra a Escritura, e a torção da Palavra de Deus, para

que nos conduza à destruição?

Em outras vezes, Satanás vai usar a arma da nossa própria experiência. "Ah," - dirá o diabo

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"em tal e tal dia, você pecou de tal maneira?

Como você pode ser um filho de Deus? " Em

outro momento ele vai dizer:" Você é hipócrita, portanto, não pode ser um herdeiro do Céu. "

Então, novamente, ele vai começar a

desenterrar todas as velhas histórias que temos

esquecido há muito tempo, de todas as nossas incredulidades passadas, nossas andanças

passadas, e assim por diante, e nos reprovará

por isso. Ele vai dizer: "O quê! Você é um cristão?

Então, o diabo vai te atacar com as armas tomadas a partir de sua própria experiência, ou

igreja da qual você seja membro.

A única maneira de repelir a astúcia de Satanás é adquirindo verdadeira sabedoria. Repito mais

uma vez, o homem não tem nada disso em si mesmo. Se você quiser lutar com êxito contra

Satanás, faça das Escrituras o seu recurso diário.

Deste livro sagrado poderá extrair

continuamente sua armadura e munição. Apega-te às doutrinas gloriosas da Palavra de

Deus; e faça delas a sua comida e bebida

diariamente. Então você vai ficar forte para

resistir ao diabo, e será feliz ao descobrir que ele fugirá de você. "Como limpará o jovem o seu

caminho?" Como um cristão se protegerá do

inimigo? "Guardando a Tua Palavra." Sempre

lutamos com Satanás com um "Está escrito"; porque nenhuma arma jamais afetará o arqui-

inimigo, tão bem como o fará a Escritura.

Satanás tenta lutar com a espada de madeira da

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razão, e ele facilmente te vencerá; mas use esta espada de Jerusalém da Palavra de Deus, com a

qual tem sido ferido muitas vezes e o vencerás

prontamente.

Mas acima de tudo, se desejamos resistir a

Satanás com sucesso, temos de olhar não apenas para a sabedoria revelada, mas para a

Sabedoria encarnada. Oh, amados, isso tem que

ser o principal ponto de encontro para toda alma

tentada! Devemos fugir para Ele "o qual tem sido feito para nós sabedoria, justiça, santificação e

redenção". Ele tem que guiar-nos ensinar, Ele

tem que nos guiar, Ele tem que ser o nosso tudo

em tudo. Temos que nos manter perto dEle em comunhão. As ovelhas nunca estão tão

protegidas do lobo como quando estão perto do

pastor. Nós nunca estaremos tão salvos das flechas de Satanás como quando temos nossa

cabeça descansando no peito do Salvador.

Crente, caminhe de acordo com o Seu exemplo; viva diariamente em Sua comunhão; confie

sempre em Seu sangue; e desta forma serás

mais do que vencedor mesmo sobre a sutileza e astúcia do próprio Satanás.

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.