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Bruno Glaab Página 1 BÍBLIA, CASA COM DUAS JANELAS - Como se formaram os livros da Bíblia - PEPE PPP

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BÍBLIA, CASA COM DUAS JANELAS - Como se formaram os livros da Bíblia -

PEPE PPP

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1 – INTRODUÇÃO

endo a Bíblia de forma descontextualizada, temos a impressão que estamos lendo

a história do mundo, desde a sua criação (Gn 1-4). Isto, no entanto, não corres-

ponde à realidade. Em primeiro lugar, convém lembrar que que a Bíblia não é um livro de

história, embora contenha elementos de história. Em segundo lugar, devemos lembrar que, o

que se narra na Bíblia, são relatos posteriores aos fatos acontecidos. Ou seja, muito tempo

depois de os fatos acontecerem, os escritores olham para trás e interpretam seu passado à luz

de sua fé. Neste caso, os fatos passados, muitas vezes refletem mais o momento da redação do

que propriamente a história, tal qual aconteceu. Mesmo os relatos do Gênesis que falam da

origem do mundo (Gn 1-4), nunca devem ser vistos como históricos, ou científicos; mas an-

tes, como interpretações teológicas, ou mesmo míticas.

ntão, o que a Bíblia tem a ver com a história? Muito pouco, se por história enten-

demos a trajetória do ser humano, desde sua origem até hoje. A Bíblia, tem sim,

relação com a história, no sentido de que ela acontece dentro da vida de um povo que viveu

numa determinada época e numa determinada localidade. No entanto, aqui se quer afirmar

que a Bíblia não serve como indicativo da história, de cujas páginas se possa tirar dados para

uma cronologia, num sentido objetivo do termo.

s cientistas, ao falarem da pré-história, fixam datas para certos acontecimentos,

que segundo as modernas ciências, estariam há muitos milhões de anos. Na ci-

dade da Mata, próximo a Santa Maria – RS, existem troncos de árvores fossilizados que se

estima, tem 200 milhões de anos. Na mesma região foram encontrados esqueletos de dinos-

sauros, estimados em 300 milhões de anos. Diante de tudo isto, convém lembrar que a história

do ser humano é muito recente. Nestas eras não havia, ainda seres humanos na face da terra.

m Bocaina do Sul - SC1 foram encontrados cemitérios indígenas estimados em 9

mil anos. No Pernambuco foram encontrados restos humanos de aproximadamen-

te 14 mil anos. Mas os cientistas calculam que o ser humano existe na terra há aproximada-

mente 1 milhão de anos.

a Pré-história da humanidade, ou seja, antes da escrita, não temos muitas fontes

de pesquisa. Os paleontólogos decifram fragmentos, como cerâmicas, fósseis,

rastros, etc., mas isto nunca deixa total clareza. Ficamos no terreno das hipóteses (GALBIA-

TI; ALETTI, 1991, p.51). Nestes períodos já existem cidades, como Jericó2 que remonta há 7

mil anos a.C.

história das civilizações, quando já se conhece a escrita, varia muito de região

para região. A civilização Suméria (Mesopotãmia) tem suas raízes em 5 mil anos

a.C.. A civilização Acádica pode ser fixada em 2.350 a.C. No Egito julga-se que a civilização

já existia há 5.500 a.C. (GALBIATI; ALETTI, 1991, p. 56-60).

1 Próximo à cidade de Lages – SC. 2 Alguns historiadores creem que Jericó seria a cidade mais antiga conhecida.

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Bíblia começa a se formar apenas há 1900 anos a.C.3 Ora, muitos milhares de

anos antes de a Bíblia se formar já existiam civilizações e milhões de anos antes

já existiam animais, vegetais, etc. Assim cabe dizer que a Bíblia não é livro para descrever de

forma científica a origem do mundo e da história, nem nos informa como e quando se deu a

origem da criação. Mostra, no entanto, que tudo vem de Deus. Como e quando foi? Isto os

escritores dos textos bíblicos não sabiam, pois eles não tinham a seu alcance os conhecimen-

tos científicos que nós hoje possuímos. Além do mais, a Bíblia não revela ciências.

2 – COMO ENTENDER A BÍBLIA

uando a Bíblia fala das origens, ou mesmo quando fala de história do povo de

Israel, ela nunca o faz de forma científica, pois nos tempos bíblicos não se conhe-

cia as ciências que hoje conhecemos e nem mesmo este é seu objetivo (DV 15). O que temos

na Bíblia não são atas dos acontecimentos, mas interpretações da realidade a partir da fé do

povo, quando os textos foram formados, muitos, como tradição oral, antes de se tornarem

textos escritos. Assim, ao lermos os textos bíblicos precisamos obedecer alguns critérios (DV

12):

Num primeiro momento precisamos demitologizar (BULTMANN, 1999,

p.5ss). Não podemos ler os textos bíblicos com critérios de hoje. O Ser Huma-

no bíblico não tinha nossa compreensão científica e, como a Bíblia não revela

ciências, mas revela o próprio Deus, então é mister que, ao lermos a Bíblia,

saibamos um mínimo do contexto sócio-cultural de então.

No segundo momento – e este é o objetivo deste estudo – devemos situar his-

tóricamente, tanto os textos bíblicos, como também as tradições onde os textos

se originaram. Nesta contextualização devemos levar em conta a cosmovisão

da época, principalmente a concepção teológica do momento.

om esta elucidação, vamos aqui tentar situar todos os textos bíblicos no seu mo-

mento de redação, sem esquecer sua tradição, quando for o caso. Nossa hipótese

é que existem basicamente três períodos que devem ser levados em consideração quando se

pretende contextualizar os textos bíblicos. Para o Antigo Testamento fixamos dois momentos:

os texto do Período Pré-Exílico (PPE)4 e os do Período do Exílio e do Pós-Exílio (PEPE).

Para o Novo Testamento só podemos falar no Período Pós-Pascal (PPP)5, pois nenhum texto

do NT é anterior a este período. Isto nos indica que, quando lemos a Bíblia precisamos estar

atentos, pois o Exílio e o Pós-Exílio condicionam os textos, mesmo quando eles refletem anti-

gas tradições que são muito anteriores ao seu tempo. Lendo Abraão (1850 a.C.) devemos per-

ceber o pano de fundo do Exílio, ou do Pós-exílio.

3 Os biblistas do nosso tempo creem que Abrão não é de 1900 a.C., mas apenas de 1400 a.C. 4 Os textos Pré-Exílicos (PPE) são pouquíssimos, se comparados com os demais. 5 Daqui para frente denominaremos o Período Exílico e Pós-Exílico de PEPE e o Período Pós-Pascal de PPP.

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3 – OS TEXTOS DO PERÍODO PRÉ-EXÍLICOS (PPE)

os tempos de Moisés, Josué, Juízes, etc. nada foi escrito, ou quase nada, pois a

escrita não era dominada, ou ao menos a grande maioria do povo não sabia ler e

escrever. No reinado de Davi e de Salomão a escrita começa a fazer parte de Israel, ao menos

da corte. É muito provável que alguns textos começam a ser escritos, mas não se deixou livros

prontos que hoje formam a Bíblia. Porém, bem mais tarde, já no século VIII a.C. começa nova

realidade, isto é, a profecia literária. “Nos últimos anos do Reino do Norte, quando no leste

avolumava-se a maré assíria, surgiu entre o povo eleito um novo tipo de profeta, o profeta

escritor” (ELLIS, 1985, p.192). Estes profetas escritores se distinguiam dos profetas anterio-

res (Josué, Samuel, Reis) que escreviam, mas não pregavam, bem como dos pregadores que

pregavam, mas não escreviam (Natã, Elias, Eliseu, etc.). Os profetas escritores pregavam e

escreviam.

egundo parecer dos estudiosos, é entre estes profetas escritores que estão os pri-

meiros livros do AT escritos e os textos mais antigos da Bíblia se encontram em

Amós, Oséias (no Reino do Norte), Proto-Isaías, Miqueias, Sofonias, Naum, Habacuc (no

Reino do Sul). Amós geralmente é entendido no período de 790-750 a.C., no reino do Norte

(MOTYER, 1986, p.444). Mesmo assim não se crê que o livro de Amós tenha saído das mãos

do profeta como o temos hoje, na Bíblia. Ao que parece, originalmente existiam apenas os

capítulos 3-6. Em etapas posteriores se teria acrescentado os demais capítulos e mesmo com-

pletado os capítulos originais. Algumas partes seriam do Exílio e mesmo do Pós-Exílio (GO-

TTWALD, 1988, p.337).

ambém Oséias é anterior ao PEPE. Boa parte dos estudiosos situam seus escritos

entre os anos 750-722 a.C. (SCHÖKEL; DIAZ, 1991, p.887). Já o Proto-Isaías

(Is 1-39) agiu em Jerusalém por volta de 740-701 a.C. (GOTTWALD, 1988, p.455). Miquéias

está entre 725-701 a.C, Seu livro original parece ser apenas Mq 1-3. O livro, como atualmente

consta na Bíblia, deve ser de diversos autores: a) um profeta judaíta teria escrito 1-3; b) um

profeta israelita (RN) teria escrito 6-7; o resto seriam acréscimos posteriores, talvez de copis-

tas (SCHÖKEL; DIAZ, 1991, p.1063).

á no limiar do Exílio na Babilônia, encontram-se Naum (668-612 a.C.). Sofonias

(639-609 a.C.), no tempo do rei Josias, bem como Habacuc, sobre o qual pairam

dúvidas, mas geralmente é visto como dos anos anteriores ao Exílio (GOTTWALD, 1988,

p.1063). ainda deste período são sã algumas partes de Jeremias. Sua missão vai dos anos 626

a 580 a.C. Portanto, antes e durante o Exílio (ELLIS, 1985, p.277).

Como podemos ver, os textos pré-exílicos são poucos. Tudo o mais do AT, embora

possa ter sua fase embrionária anterior e às vezes séculos antes, foi redigido durante o PEPE.

Daí que, o que aqui vimos, não chega a ser comparado a uma janela, apenas a umas frestas na

parede do edifício que forma a Bíblia.

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4 – PERÍODO DO EXÍLIO E DO PÓS-EXÍLIO (PEPE)

uase tudo o que hoje forma o Antigo Testamento foi escrito a partir do Exílio na

Babilônia (596-539 a.C.). Poucos livros existiam, e mesmo os que existiam (cf.

visto no cap. 3) receberam redação definitiva a partir do Exílio, com acréscimos e até modifi-

cações.

4.1 Textos do Exílio e do Pós

e não tivesse acontecido o Exílio na Babilônia, o Antigo Testamento seria muito

diferente daquilo que hoje está em nossas Bíblias. Até o Exílio, a maior parte do

AT era Tradição Oral. Talvez algumas destas tradições orais até já existissem em textos avul-

sos, mas não na disposição que hoje conhecemos.

os séculos imediatamente seguintes ao Exílio, como nunca antes floresceu em Israel a atividade

literária. O Pentateuco recebeu sua forma definitiva. Os escritos dos profetas foram coligidos e editados em livros. As numerosas coleções de salmos foram reunidas de modo a formarem o livro dos

salmos como hoje o conhecemos (ELLIS, 1985, p.417).

Exílio na Babilônia (2Rs 24 e 25) desarraigou uma boa parte dos moradores de

Jerusalém e os levou para a Babilônia, onde havia outra cultura, outra língua e

outras religiões. Foi neste contexto que os exilados começaram a se preocupar com sua reli-

gião, com sua cultura, enfim, com seus valores e com suas tradições. Para não perder seu

mundo simbólico, começaram a escrever suas memórias e tradições orais.

em o Exílio, provavelmente estas tradições teriam continuado a existir apenas

como memórias orais, sem registro escrito. E mesmo o que já existia como texto

escrito, talvez nunca tivesse sido compilado como foi no PEPE. Sem o Exílio, o AT não exis-

tiria e, mesmo que existisse, certamente seria muito diferente do que é. O AT recebeu sua

redação no PEPE. Embora usasse antigas tradições, antigas memórias e mesmo alguns antigos

textos, tudo é lido, escrito e reescrito pela lente e pela pena teológica de pessoas que experi-

mentaram o PEPE. Assim convém ressaltar que, fatos supostamente acontecidos em 1900 ou

em 1400 a.C. (Abraão), fatos acontecidos em1250 a.C. (Moisés), etc. receberam sua redação

no PEPE com pessoas que a partir desta experiência do Povo de Israel, releem o passado. Ao

ler o AT não estamos lendo atas de Abraão, de Moisés, etc., mas interpretações teológicas

sobre Abraão, Moisés e demais à luz do PEPE. Ao ler estes textos, não podemos apenas ter

presente os tempos destes personagens, mas o pano de fundo sempre deve ser o do PEPE. A

seguir veremos o contexto da escrita de cada grupo de livros que compõem o AT, bem como a

história de cada livro, ainda que, de forma muito abreviada. Com isto queremos situar as cor-

rentes, gêneros literários e também os autores que nos deixaram os livros que hoje formam

Antigo Testamento:

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4.1.1 – O Pentateuco

Pentateuco é um tanto complexo, pois reflete tradições e textos de diversos pe-

ríodos. Uma antiga tradição atribui a autoria do Pentateuco a Moisés6, mas isto

não resiste a uma crítica exegética, pois no Pentateuco temos tradições que vão desde a época

dos Patriarcas (1900 a.C. até o tempo de Esdras e Neemias (450 a.C. (BÍBLIA CNBB, 2001,

p. 11). Pode-se dizer que a Bíblia Hebraica se formou em três períodos:

a) Etapa de formação de unidades literárias, orais e escritas, entre 1200 a.C. e 100

d.C.;

b) Etapa de formação final da Bíblia Hebraica escrita: Lei, Profetas e Escritos, entre

400 a.C e 90 d.C.;

c) Etapa da preservação e transmissão da Bíblia Hebraica, de 90 d.C. até hoje (GO-

TTWALD, 1988,p.1910.

ntre os biblistas é quase unânime que o Pentateuco, tal qual hoje o temos, em

nossas Bíblias, é uma compilação de antigas fontes teológicas, ou seja, escolas

teológicas que tinham suas tradições orais, e talvez já alguns documentos escritos. Estas fon-

tes recebem o nome de Javista (J), Eloísta (E), Priester (P) e Deuteronomista (D). Estas ant i-

gas tradições foram coligidas e editadas no período da restauração pós-exílica, quando Israel

estava sob o jugo dos persas, isto é, por volta de 450-400 a.C. durante as reformas de Esdras e

Neemias (GOTTWALD, 1988, p.110).

ma hipótese plausível diz que o núcleo do Pentateuco se origina em Moisés, no

século XIII a.C. Este núcleo foi reproduzido oralmente por contadores e recita-

dores. Neste processo de reprodução oral, aconteceram acréscimos, decréscimos, mudanças e

alterações. Estas tradições receberam quatro formas de elaboração e transmissão:

a)Por volta do século X, nos tempos do rei Salomão, partes desta tradição oral foram

escritas7. Os textos escritos nesta época, ou mesmo apenas formulados como tradição oral,

recebem o nome de Javistas. Esta corrente se forma no sul, ou seja, nas imediações de Jerusa-

lém e recebe este nome, por sempre chamar Deus de YHWH, ou seja, Javé. Portanto, pode-se

definir o J como uma corrente teológica que transmite e redige as tradições do passado, no

sul, próximo à corte.

b) Mais tarde, com a separação de Israel em dois reinos (1Rs 12) em Reino do Sul (Ju-

dá) e Reino do Norte (Israel) houve uma certa separação teológica, pois o povo do Reino do

Norte não frequentava mais o templo de Jerusalém, nem suas festas e liturgias. Isto fez com

que também no norte não se usasse as tradições do sul (J). Lá se tinha as mesmas tradições

orais a respeito dos patriarcas, de Moisés, de Aarão, etc., mas contadas a partir do povo do

norte. Conta-se a mesma saga noutra perspectiva. Lá não se chama Deus de YHWH, mas sim

de ELOHIM, por isto, a história contada no norte recebeu o nome de Eloísta (E). Mais tarde,

com a deportação do Reino do Norte pela Assíria (2Rs 17) em 722 a.C., as tradições do norte

são levadas para o sul e lá se misturam com a tradição Javista (J).

6 Em algumas Bíblias alemãs e inglesas se chama o Gênesis de “Primeiro Livro de Moisés”, o Êxodo, de “Se-

gundo Livro de Moisés” e assim sucessivamente até o Deuteronômio, como o “Quinto Livro de Moisés”. 7 Salomão teria trazido sábios do Egito que sabiam escrever e eram incumbidos de fazer os anais da corte. Dalí

surge, ao que tudo indica, a primeira tentativa de escrita das tradições do povo.

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c) No Reino do Norte sempre houve um grande problema, pois a idolatria era forte.

Logo, um grupo de sacerdotes do norte se empenhou em combater de forma muito viva o mal

da idolatria. Lá nasceu o livro do Deuteronômio e, com base neste livro se originou toda uma

tradição teológica que recebe o nome de Deutoronomista (D)8.

d) Mas os sacerdotes do Reino do Sul, preocupados com o culto do templo, também

escreveram suas tradições, numa perspectiva diferente dos sacerdotes do norte. Como se pre-

ocupa muito com o culto, ritos, liturgia, recebe o nome de Priester (P)9, ou mesmo sacerdotal.

No século V e IV os editores usaram estas quatro tradições: J, E, D e P e elaborou o Pentateu-

co, tal qual hoje o temos (ELLIS, 1985, p.62). “Provavelmente foi um sacerdote o editor que

não só escreveu a tradição oral, como também deu ao Pentateuco sua forma final lá pelo sécu-

lo sexto a.C.” (ELLIS, 1985, p.79).

4.1.1.1 – O Gênesis

Gênesis inicia com o primeiro homem (Gn 1-3) e termina com as Doze Tribos

de Israel, ou seja, mostra a origem das Doze Tribos. O autor, ou melhor, o com-

pilador/redator ordenou antigas tradições (J, E, P, D10

) e as dispôs de tal maneira que facil-

mente os demais povos fossem eliminados e se chegasse ao povo da aliança (Israel). De Adão

se vai a Set, deixando de fora Caim e seus descendentes (Gn 4). De Noé se esquece Jafet e

Cam, mas se fixa em Sem e seus descendentes (Gn 10) até Abraão (Gn 11). Abandona-se Is-

mael (Gn 25,18), como também Esaú (Gn 36,40). Tudo culmina em Jacó e seus Doze filhos

(Gn 30ss). Todo Gênesis pode ser dividido em quatro partes: a) a história primitiva (Gn 1-11),

b) Abraão – Aliança (Gn 11-25), c) Isaac e Jacó (Gn 25-36), d) José e seus irmãos (Gn

37050).

Gênesis, como todo Pentateuco, deve ter uma primeira redação, ou compilação,

na Babilônia. Mas o livro foi completado nos tempos de Esdras e Neemias

(SELLIN; FOHRER, 1977, p.267s). Alguns estudiosos creem que Priester (P) que escreveu

sua tradição no Exílio, por volta de 550 a.C., mais tarde, já de volta a Jerusalém, escreveu o

Gênesis (VIVIANO, 1999, p.56). Assim podemos dizer que o livro do Gênesis se formou em

três etapas:

a) Tempos de Salomão (971-931 a.C.): primeiros textos, rascunhos

b) Tempos da Monarquia Dividida (931-586 a.C.): transmissão e retransmissão

c) Tempos do Exílio e do Pós-exílio (586-400 a.C): texto definitivo.

4.1.1.2 – O Êxodo

Êxodo, igual aos demais livros do Pentateuco, se baseia nas fontes acima men-

cionadas. Mas neste caso, apenas se inspira em J, E e P11

. Sua redação final se dá

por volta de 450 a.C., portanto, no período Pós-Exílico (BÍBLIA CNBB, 2001, p.73). Assim

8 O Deuteronomista tem partes no Pentateuco, mas vai além: Jz, Js, 1 e 2 Sm e 1 e 2 Rs. 9 Priester, em alemão, significa, sacerdote. Por isto, muitas vezes esta tradição também é chamada de sacerdotal. 10 Alguns autores creem que Gênesis só se baseia em J, E e P, sem nada do D. 11 Nem todos os autores concordam com estas três fontes. Há quem atribua alguns versículos ao D.

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podemos supor: o J escreveu por volta do século X a.C. (Tempos de Davi). O E escreveu por

volta do século VIII a.C. O P escreveu durante o Exílio, no século VI a.C (CRAGHAN, 1989,

p.91). De todas estas tradições foi formado o livro do Êxodo no pós-exílio.

4.1.1.3 – O Levítico

rata-se da obra dos levitas em relação ao culto. Colocam na boca de Moisés as

leis do culto, no entanto, sua redação é do século V a.C. quando os levitas reor-

ganizam o culto no Pós-Exílio (BIBLIA CNBB, 2001, p.123). Em grande parte reflete a tradi-

ção P, ou seja, velhas tradições oriundas do século VIII a.C., mas redigidas por volta de 450

a.C. (TURNER, 1999, p. 121). Neste livro não temos as tradições J, E e D, mas apenas o P.

foi elaborado no sul.

4.1.1.4 - O Números

ontém tradições antiquíssimas, mas a redação do texto como hoje o temos, re-

monta ao século V a.C. Saiu das mãos de escribas da linha sacerdotal (P), no sul

(BÍBLIA CNBB, 2001, p.158). “Embora o livro recolhe relatos e leis mais antigos, a opinião

comum é que o livro que hoje lemos foi escrito na terra, depois do Exílio” (BÍBLIA do Pere-

grino, 2002, p 229). Alguns autores situam Nm ainda no século VI a.C. na mão de sacerdotes

preocupados com a restauração do culto (MAINELLI, 1999, p. 145).

4.1.1.5 – O Deuteronômio

euteronômio quer dizer segunda versão da lei. Provavelmente oriundo do Reino

do Norte, talvez dos santuários de Betel e Siquém, iniciando sua formação no

século VIII a.C. Com a queda do RN (722 a.C.), alguns teólogos migraram para o sul trazen-

do consigo suas tradições. Lá chegando, seus escritos foram para a prateleira do templo. Só

nos tempos de Josias (620 a.C.) o livro foi redescoberto (2Rs 22-23). Mas até então, o Dt era

apenas uma parte daquilo que ele é hoje. Durante o Exílio e o Pós-Exílio recebeu acréscimos.

Assim, a redação, tal qual a temos hoje, é do pós-exílio, ou seja, do século VI a V a.C. (BI-

BLIA CNBB, 2001, p.206).

o Exílio (589-539 a.C.) um grupo de teólogos remanescentes releu a história de

Israel à luz do Dt, em vista da fidelidade a Deus. É uma reinterpretação de anti-

gas tradições para dar esperança de futuro (HOPPE, 1999, p.187). Assim sendo, além de

completar o livro do Dt, nasceu uma escola teológica, inspirada no Dt, ou seja, sua reflexão

teológica resultou em alguns livros: a OHD12

(Obra Historiográfica Deuteronomista. Isto é

assunto para o próximo subcapítulo.

12 OHD compreende Js, Jz, 1-2 Sm, 1-2 Rs. Estes livros, tem o Dt na sua base teológica.

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4.1.2 – A OHD (Obra Historiográfica Deuteronomista)

s livros de Js, Jz, 1 e 2Sm, 1 e 2Rs tem sua base no Dt. É a história de Israel à

luz da fidelidade à aliança. A teologia do Dt perpassa todos estes livros. A mes-

ma luta contra a idolatria que encontramos no Dt se encontra também nestes livros. Ou seja,

toda história de Israel é lida à luz do Dt. Esta coleção recebe o nome de OHD. Esta obra teria

sido elaborada durante o Exílio e logo depois pelos mesmos teólogos que elaboraram a reda-

ção final do Dt (MCKENZIE, 1984, p.234). Alguns autores creem que já houvesse uma pri-

meira edição nos anos de Josias (620 a.C.), mas a redação final seria de 550 a.C., tempos do

Exílio, entre os remanescentes (GRINDEL, 1999, p.217). “Embora os inícios desta literatura

se situem antes do Exílio babilônico, a redação aconteceu substancialmente no fim e depois

do Exílio” (BÍBLIA CNBB, 2001, p.254).

4.1.3 – A OHC (Obra Historiográfica Cronista)

OHC reflete a história do judaísmo sob o Império Persa. Compreende 1 e 2Cr,

Esd e Ne e tem por base os escribas que produziram as crônicas (suplementos).

Trata-se de uma releitura de 1 e 2Sm e 1 e 2 Rs, mas noutra perspectiva. O período de sua

redação deve estar entre 500 e 330 a.C. Se, para a OHD, o que contava era a fidelidade à ali-

ança, para a OHC, o que anima, é o templo e a liturgia. Assim, 1-2Cr é a história do primeiro

templo (971-589 a.C.). Já Esd e Ne refeltem o segundo templo (539ss). Tudo escrito no perí-

odo da restauração, durante o domínio Persa (BÍBLIA CNBB, 2001, p.224). Seriam os sacer-

dotes sulistas pós-exílicos que colocaram suas versões da história, no papel (LAFFEY, 1999,

p.333).

4.1.4 – Os Profetas do Exílio e do Pós-Exílio

o capítulo 3 vimos que poucos profetas têm textos anteriores ao Exílio. Aqui

veremos os profetas do Exílio e do Pós-Exílio. Aliás, o fenômeno dos profetas

escritores inicia antes do Exílio, mas floresce de forma muito viva no exílio e desaparece len-

tamente após o Exílio.

4.1.4.1 – Dêutero-Isaías (Is 40-55).

Segundo Isaías, também chamado de Dêutero-Ísaías, que compreende o Is 40-

55 está no contexto da quase volta do Exílio, quando Ciro, rei da Pérsia liquida

com o que restou da Babilônia e permite a volta dos exilados. Os textos devem ser escritos

ainda na Babilônia (COLLINS, 1999, p.14). O

Geralmente os estudiosossupõem a tarefa do 2º Isaías entre os anos de 553-539 a.C. (BÍBLIA

do Peregrino, 2002, p.1772). Trata-se de um discípulo do primeiro Isaías (Is 1-39), que inter-

pretou os fatos históricos à luz de Isaías. Ele percebe os novos ares favoráveis aos exilados.

Assim quer consolar o povo no Exílio, incutindo-lhes esperança (BÍBLIA CNBB, 2001,

p.953). Seu livro recebe também o nome de Livro da Consolação. Mais do que denunciar pe-

cados, anuncia a libertação, a alegria.

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4.1.4.2 – O Trito-Isaías (Is 56-66)

terceiro Isaías, ou seja, Is 56-66 se situa no período Pós-exílico, entre 535-515

a.C. Quer colaborar na reconstrução do povo, mas não quer apenas lidar com

pedras (templo, muro, cidade como os profetas Ageu e Zacarias e mesmo Esdras e Neemias).

Ele quer instaurar a justiça, quer uma religião comprometida com o pobre, com o órfão e a

viúva. Quer um culto que, antes de cerimônias pomposas, orações e jejuns, contemple o fa-

minto, o estrangeiro, o fraco, etc. Quer nova realidade (BÍBLIA CNBB, 2001, p.953). Ele está

próximo do Segundo Isaías, mas a realidade histórica já é outra. O povo já retornou do Exílio

9COLLINS, 1999, p.15). Ele experimentou a dureza, o pessimismo dos repatriados. O ar que

ele respira é o mesmo de Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias e Malaquias (ELLIS, 1985, p.353).

4.1.4.3 – Jeremias

omo já vimos no capítulo 3, Jeremias teve atuação ainda antes do Exílio, mas sua

missão se estendeu até os anos 580 a.C., portanto, sua última parte se situa dentro

do Exílio, embora seja provável que tenha morrido no Egito. “Sua vida atravessou os últimos

vinte anos do Império Assírio e os primeiros vinte anos do Império Neobabilônio” (ELLIS,

1999, p.45). Seus escritos estão entre 650-580 a.C. Jeremias assistiu à destruição de Jerusalém

e queria, junto com Godolias, reconstruir Jerusalém, mas com a morte do governador, o profe-

ta foge para o Egito, onde morre (SELLIN; FOHRER, 1977, p.588).

4.1.4.4 – Ezequiel

livro de Ezequiel é, na realidade, uma coletânea que vem do profeta e também

de seus seguidores. No seu livro há partes que antecedem ao Exílio (Ez 4-24). A

partir do capítulo 33 ele encoraja a reconstrução de Jerusalém (CRAVEN, 1999, p.67). O pro-

feta também era sacerdote e foi levado para a Babilônia em 597 a.C. e assentado junto ao Rio

Cobar. Sua missão vai até 571 a.C. Tem grande reocupação com seus companheiros de exílio

que agora estão longe do lugar de culto e também se preocupa com Jerusalém 9SELLIN;

FOHRER, 1977, p.606). Ele, assim como Jeremias, é o intérprete teológico do Exílio.

4.1.4.5 – Joel

mbora alguns autores situem o Profeta Joel antes do Exílio, a maioria dos exege-

tas atuais veem Joel no período persa, mais especificamente entre os anos 400-

350 a.C. (PAZDAN, 1999, p.101). Ele está numa fase de passagem entre o estilo antigo dos

profetas e o novo estilo, mais apocalíptico, como será mais tarde, Daniel. Isto tudo indica que

ele já está próximo do período grego, quando então este gênero literário se desenvolve (EL-

LIS, 1985, p.478). Embora o próprio profeta não deixe situar facilmente na história, sua de-

pendência de outros profetas, sua linguagem, bem como o fato de falar de anciãos e sacerdo-

tes, o situam no judaísmo tardio (SELLIN; FOHRER, 1977, p.646).

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4.1.4.6 – Abdias

profeta Abdias, assim como Joel é visto por alguns estudiosos, como pré-exílico

devido a sua referência a Edon, cuja animosidade vem do século IX a.C. Mas

analisando seu paralelismo com Jeremias, supõe-se que, tanto Abdias como Jeremias, usaram

antigas tradições em seus escritos, o que não necessariamente os coloca nos tempos de suas

tradições. Hoje a maioria o situa no período persa, ou mesmo babilônico ( PAZDAN, 1999,

p.117).

4.1.4.7 – Jonas

onas, na realidade não é um profeta, mas antes, uma novela do século V a.C. perío-

do em que Esdras e Neemias lutam pela pureza racial, ou seja, ojeriza contra os es-

trangeiros (Esd 9-10; Ne 13). Assim, a reação popular se faz sentir numa peça de teatro: Jonas

deve levar a Palavra de Deus a Nínive (fora de Israel, portanto, aos estrangeiros). Isto contra-

ria o conceito de pureza racial de Esdras (NOWELL, 1999, p.123). Assim, Jonas, fiel a ideo-

logia da pureza racial, foge da ordem divina com uma passagem de navio. Mas uma tempes-

tade o faz ser jogado no mar. Engolido por um peixe e vomitado por este, volta e novamente é

ordenado de levar a Palavra de Deus a Nínive. Contra sua vontade vai. Anuncia a palavra e o

povo se converte. O profeta fica triste com a conversão do povo. Ele, assim como Esdras,

queria que os estrangeiros fossem condenados. A novela mostra um Deus diferente que não

condena, mas quer a felicidade de todos.

m 2Rs 14,25 se fala de um profeta Jonas, mas o livro de Jonas usa linguagem do

século V a.C. e não do século VIII a.C. Portanto, Jonas é uma sátira contra o fe-

chamento dos judeus diante dos povos. No tempo em que esta novela foi escrita, Nínive não

existia mais (ELLIS, 1985, p.425).

4.1.4.8 – Ageu e Zacarias

ituar os profetas Ageu e Zacarias é relativamente fácil. Sua ação se dá a partir de

520 a.C. entre gente que voltou do Exílio Na Babilônia, liderada por Zorobabel

(PAZDAN, 1999, p.145). Sua grande preocupação é a reconstrução do templo e a realeza.

Eles julgam que umas das principais questões é refazer o templo (ELLIS, 1985, p.350). Na

realidade são profetas menos denunciadores de injustiças, mas a maior preocupação é com o

momento da volta do exílio quando Jerusalém está em ruínas. Zacarias está próximo de ageu,

mas tem um certo ar apocalíptico.

4.1.4.9 – Malaquias

alaquias trata de assuntos dos anos 465 a.C. Está muito próximo de Esdras e

Neemias, por assim dizer, completa seus livros (POZDAN , 1999, P.696). É o

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último dos assim chamados profetas menores. O livro é anônimo. Malaquias significa “Meu

Mensageiro”. Portanto, este não era o nome do profeta. A LXX13

traduziu “Meu Mensageiro”

em Malaquias (MCKENZIE, 1984, p.3200.

4.1.5 - Literatura Sapiencial

ogo após o Exílio, em Israel, proliferou a escrita de obras, novas e antigas, ou

seja, o que eram textos avulsos, tradições orais, agora são coligidos e transfor-

mados em livros (ELLIS, 1985, p.417). Assim nascem Jó, Ct, Jn, Tb, Dn, Est, Br.

urante o Exílio e os séculos seguintes, os antigos escritos dos historiadores de Israel, dos seus

profetas e dos seus salmistas foram sendo gradualmente coligidos e autenticados pela tradição

viva como palavra de Deus. É provável que no tempo de Esdras o Pentateuco tenha sido aceito como

canônico (Ne 8,1-9). Durante o período persa, a maioria dos outros livros do Antigo Testamento chega-

ram a receber o mesmo reconhecimento. A partir desse momento Israel tornou-se o povo do livro (EL-

LIS, 1985, p.421).

gora tudo muda. Fala-se pouco de idolatria, da Aliança, de deus e do templo. Fa-

la-se sobre a pessoa humana se sua maneira de agir. Passa-se do mundo teocên-

trico para o mundo antropocêntrico. Este gênero literário nasceu no momento em que, depois

do Exílio, se precisava traduzir e adaptar a mensagem das Escrituras para o povo. Surgem

assim os escribas como sábios das escrituras. As raízes deste gênero literário vêm do Egito,

Arábia e Mesopotâmia, mas se desenvolve agora em Israel, formando os Escribas ou Doutores

da Lei. Davi trouxe sábios do Egito e Salomão os patrocinou em vista de fazerem os anais da

corte. Com isto Salomão se tornou o patrono da literatura sapiencial14

. Muito antes do Exílio

já existiam já existem sábios exercendo suas funções ao lado dos sacerdotes e dos profetas,

em Israel (Jr 18,18), ou seja, o sacerdote cuida do culto, o profeta atualiza a experiência do

Deus do Êxodo em meio à sociedade e os sábios, escribas, ou doutores da Lei formulam, coli-

gem e escrevem a sabedoria do povo, numa perspectiva que vai além da tarefa dos sacerdotes

e dos profetas.

epois do Exílio, com o declínio da profecia, a literatura sapiencial toma conta e

se desenvolve, deixando escritas antigas obras e escrevendo novas. Antigas

obras, ou parte de antigas obras que existiam de forma avulsa são atualizadas e postas em li-

vros. Assim nascem:

Provérbios: século VI-III a.C.

Jó: século VI-V a.C.

Lamentações: século VI a.C.

Ruth: século V a.C.

Jonas: século V a.C.

Ester: século V a.C.

Cântico dos Cânticos: século IV a.C.

Eclesiastes: século IV-III a.C.

13 LXX é a tradução grega da Bíblia Hebraica feita por volta de 200 a.C. principalmente para os judeus de Ale-

xandria que já não sabiam mais o hebraico. 14 Muitos livros sapienciais são atribuídos a Salomão: Ecle 1,12; Pv 1,1; Ct 1,1; O livro da Sabedoria se chama

oficialmente de Sabedoria de Salomão.

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Baruc: século III a.C.

Eclesiástico: século II a.C.

Daniel: século II a.C.

Judite: século II a.C.

Tobias: século II a.C.

uitos destes livros têm origens anteriores ao Exílio, mas sua redação é posterior.

Estas datas nem sempre são vistas da mesma forma por todos os estudiosos,

mas aqui se reproduz o que mais está em voga entre os biblistas atuais (ELLIS, 1985, p. 439;

FISCHER, 1999, p.261).

inda convém dizer uma palavra sobre o Livro dos Salmos. Não se trata de um

livro escrito, como tal, mas antes, reflete um longo percurso de formação. Alguns

salmos são dos tempos bem antigos, do Êxodo, de Davi, de Salomão, do primeiro templo, do

Exílio e os últimos são do século III a.C. (ELLIS, 1985, p.114). A comunidade do Pós-Exílio

compôs alguns salmos, reutilizou antigos salmos e formou um livro. Portanto, o livro dos

salmos como hoje temos em nossa Bíblia, é do período Pós-Exílico, enquanto que, muitos

salmos são anteriores que existiam de forma avulsa (SELLIN; FOHRER, 1977, p.412).

5 - CONCLUSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO

Antigo Testamento, enquanto livro que hoje possuímos, começou a se formar a

partir do século VIII a.C. Provavelmente com o profeta Amós. Poucos escritos

são anteriores ao Exílio (589-539), até porque naquele tempo a escrita não estava ao alcance

da maioria do povo. No Exílio, devido à crise dos exilados que viviam em terras estranhas, em

meio a culturas pagãs e opressoras, um grupo de sacerdotes e sábios coloca por escrito aquilo

que antes eram apenas tradições orais e também escreve novos textos. Os profetas deste perí-

odo escrevem seus livros e completam alguns profetas anteriores ao Exilio. O principal intuito

destes escritores é recordar a tradição de Israel às novas gerações, preservar a memória do

povo da Aliança.

ogo após o Exílio, no período persa o serviço de restauração continua a obra dos

escritores. Muitas obras escritas no período exílico, tanto entre os exilados como

entre os remanescentes, são agora completadas, recebendo redação definitiva e novas obras

são escritas.

6 – OS ESCRITOS DO PERÍODO PÓS-PASCAL (PPP)

uando Jesus viveu, pregou e agiu, até mesmo na sua paixão, morte e ressurreição,

não havia nenhum secretário lavrando atas de seus feitos. Tudo era espontâneo.

Jesus, seus apóstolos e seus discípulos não se preocupavam em escrever algo. Sua preocupa-

ção era viver aquele momento, não escrever. Quando Jesus chegou à hora da morte, tudo o

que ele fez estava apenas na memória dos discípulos. Tudo, no entanto, muda a partir da res-

surreição. Uma vez feita a experiência da ressurreição, os apóstolos e discípulos saem a anun-

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ciar a boa notícia de Jesus (evangelho da salvação). Tudo o que se anuncia são testemunhos

de quem conviveu com Jesus. Como no Antigo Testamento, também parte do Novo Testa-

mento escrito nasceu como uma Tradição Oral e não como livros escritos. Com o passar do

tempo, as comunidades evangelizadas conservavam o que lhes foi transmitido pelos apóstolos

e discípulos. Isto tudo nada mais é do que tradição oral. Mas qualquer tradição oral está sujei-

ta a acréscimos, a novas interpretações, pois ao retransmitir a tradição oral, esta é enriquecida

com novos testemunhos, em novas situações, em novos contextos. Assim, à medida que a

cristologia avançava, os testemunhos da tradição oral iam se modificando. “Durante trinta ou

quarenta anos, o evangelho existiu quase exclusivamente sob forma oral” (CULLMANN,

1990, p.23s). Então, os textos que hoje compõem os quatro evangelhos estão construídos so-

bre esta tradição oral. Também é certo que os redatores finais dos textos, mais do que biogra-

far a pessoa de Jesus, o interpretavam à luz da experiência da ressurreição, ainda de acordo

cm as necessidades da pregação em seus respectivos contextos. “Os evangelhos não são pura

invenção de seus autores, mas contém uma tradição anterior, transmitida pelos discípulos de

Jesus às comunidades cristãs” (OPORTO, 1999, p.15). O redator final, profundo conhecedor

da tradição oral, a partir de sua experiência do ressuscitado, e conforme as necessidades da

comunidade para quem escrevia, fazia sua interpretação da pessoa de Jesus.

s quatro evangelhos foram escritos no período Pós-Pascal (PPP) de acordo com

a tradição oral, que aos poucos avançava à luz da experiência dos discípulos e de

acordo com as necessidades de cada comunidade à qual era destinada cada evangelho. Assim

concluímos que Marcos tem uma obra relativamente pobre. Mateus e Lucas já tem uma teolo-

gia mais avançada, pois nasceram 10 anos depois. João, o último a escrever seu evangelho,

traz a alta teologia, pois no seu tempo, a teologia cristã estava muito mais desenvolvida.

as já bem antes da redação dos evangelhos, nasceram alguns textos do NT. Es-

tes, sim, nasceram como livros. Trata-se das Cartas de Paulo. Ele, depois de

passar nas comunidades e anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo, motivado pelo seu impulso

missionário, partia para outras terras. Quando suas comunidades recém fundadas não conse-

guiam viver plenamente a mensagem evangélica, Paulo lhes escrevia cartas. Assim, desde os

anos 50 até 6315

d.C. Paulo escreve diversas cartas aos fiéis por ele convertidos. Portanto,

quando Paulo morre (67 d.C.) ainda não existia nenhum evangelho escrito. Tudo era apenas

tradição oral. Outrso apóstolos também escreveram cartas, ao que parece, bem mais tarde:

tiago, Pedro, Judas, João e Hebreus16

. O mesmo Lucas que escreveu o evangelho, escreveu

também Atos dos Apóstolos. Da escola Joanina, de onde saíram os evangelhos e as três cartas,

saiu também o Apocalipse. Não se sabe se foi a mesma pessoa, mas gente do mesmo grupo ou

da mesma corrente teológica.

ortanto, todos os escritos do NT nasceram a partir do ano 50 d.C. Isto quer dizer,

todos são do Período Pós-Pascal. O que nos permite afirmar: o Jesus que conhe-

cemos no NT não é exatamente o Jesus histórico que viveu na Palestina entre os anos 1-3317

.

É sim o mesmo Jesus, mas o conhecemos pelas lentes dos apóstolos e discípulos que fizeram

15 Estas datas variam de acordo com os estudiosos. Alguns julgam que 1Ts, primeiro texto do NT, foi escrito por

volta de 48 d.C. 16 Não se sabe quem escreveu Hebreus. 17 Estas datas são apenas para podermos falar em termos cristãos, pois há controvérsias. Provavelmente Jesus

nasceu 6 ou 7 anos antes. Neste caso também é de se supor que tenha sido crucificado entre 28 e 30 d.C.

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a experiência da Paixão, Morte e Ressurreição. Ou seja, não temos biografias da vida de Je-

sus, mas sim, interpretações teológicas feitas no PPP. Isto certamente influencia na leitura que

hoje fazemos da pessoa de Jesus, pois no PPP, os cristãos, animados pelo Espírito Santo, com

a experiência da ressurreição não estão interessados em escrever atas da vida de Jesus, mas

mostrar aos fiéis, o que significa este homem para a igreja e para todos os seguidores. Se exis-

tisse uma ata da vida de Jesus, certamente seria muito diferente dos evangelhos e dos demais

textos do NT.

6.1 – Os Quatro Evangelhos

vangelho é Boa Notícia da salvação em Jesus Cristo. Este termo (Boa Notícia ou

Boa Nova) inicialmente não se aplicava a um escrito, mas tão somente ao anún-

cio de Jesus. Marcos (1,1), por primeiro, escreve um livro e lhe dá o nome de Boa Notícia (em

grego, evangelho). A partir de então, evangelho começa a ser atribuído aos livros que hoje

formam os quatro evangelhos (CULLMANN, 1990, p.19s).

redação da tradição oral em quatro evangelhos se dá por muitos motivos: a) a

destruição do templo (70 d.C.) deixa os primeiros cristãos, que era judeus, ór-

fãos, perdidos e desorientados, b) os judeus que não aderiram a Jesus começam a perseguir

aqueles que seguem a Jesus (Jâmnia), lançando-os para fora das sinagogas, c) desaparecimen-

to dos apóstolos que conviveram com Jesus (BROWN, 2004, p.182).

iante deste quadro, cristãos que conviveram com os apóstolos de primeira hora,

se sentiram desafiados a registrar por escrito o que vinha de fontes seguras, isto

é, das testemunhas auriculares: os apóstolos. Nasceram assim, quatro versões do mesmo

evangelho (OPORTO, 2006, p.21s). Foi assim que nos anos 70 d.C. Marcos escreveu seu

Evangelho. Dez anos mais tarde, Mateus e Lucas retomam Marcos e o reescrevem, comple-

tando-o com base em outras fontes. Basicamente Marcos, Mateus e Lucas têm a mesma estru-

tura. Por isto eles são chamados de evangelhos sinóticos, ou seja, vistos numa mesma ótica. Já

o quarto evangelho, isto é, o de João, segue outro roteiro. Embora também ele tenha textos

comuns, sua estrutura difere muito dos evangelhos sinóticos.

6.1.1 – Marcos

rata-se supostamente de João Marcos (At 12,12.25; 13,5.13; 15,37ss; Cl 4,10;

1Pd 5,13). Ele teria acompanhado Pedro até Roma e lá teria escrito seu evange-

lho. No entanto, esta opinião hoje é bastante contestada. Alguns autores pensam que Marcos

escreveu no norte da Galileia (MYERS, 1992, p.68). Escreveu seu livro por volta do ano 70

d.C. (CULLMANN,1990, p.30ss). Marcos é o primeiro evangelho escrito. Foi ele quem deu

ao escrito o nome de evangelho (1,1). Mas como nenhum dos quatro evangelhos assina o no-

me, não sabemos se de fato foi João Marcos acima mencionado que escreveu, ou se o livro foi

atribuído a um certo Marcos. Desde o século II d.C. este evangelho é mencionado por autores

de então, como Evangelho segundo Marcos.

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6.1.2 – Mateus

ateus é judeu e escreve para evangelizar judeus, Por isto mesmo faz uma ponte

de ligação entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Seus critérios e

suas figuras de linguagem estão muito mais no mundo judaico que os demais. Apresenta Jesus

como o cumprimento das Escrituras. Alguns autores julgam estar Mateus, ou a comunidade

de Mateus, em Jerusalém, Galileia, Antioquia, ou mesmo Alexandria, por volta do ano 80

d.C., portanto, dez anos depois de Marcos. Pensam ser Mateus o apóstolo (Mt 9,9), o mesmo

que em Lc 5,27s e em Mc 2,13s é chamado de Levi. Mas esta hipótese não é confiável. Se o

evangelho é de 80 d.C., o apóstolo Mateus certamente já não vivia mais. Além do mais, Ma-

teus se valeu do Evangelho de Marcos para escrever sua obra. Se fosse mesmo o apóstolo

Mateus, deveria conhecer Jesus melhor do que Marcos e não precisaria usar o evangelho de

outro para escrever o seu, pois Marcos não parece ser discípulo de primeira hora (CULL-

MANN, 1990, p.27s). Mateus reproduz 80 % de Marcos que, às vezes ele copia, outras vezes

altera um pouco. Mas ele também usou outra fonte que para nós é desconhecida, que os bi-

blistas chamam de Fonte Q18

. Chegou-se a esta hipótese pelo fato de ter material semelhante

no Evangelho de Mateus e de Lucas, que não se encontram em Marcos. Os dois devem ter

consultado uma outra fonte e esta recebe o nome de Fonte Q. Hoje, alguns estudiosos colocam

Mateus entre os anos 70 e 100 d.C., sendo a cidade de Antioquia como lugar da redação. Tal-

vez fosse a comunidade onde Mateus marcou uma forte presença (BROWN, 2004, p.316).

6.1.3 – Lucas

Evangelho de Lucas reflete bem os traços de uma comunidade e também de um

autor, portanto, é fruto de uma comunidade helência e de um autor grego. Usou

três fontes para escrever seu evangelho (Lc 1,1-4): Várias narrações compostas (Mc e outros),

informações recolhidas junto à testemunhas oculares, e a tradição oral (fonte Q). Trata-se de

uma pessoa erudita, pois usa um grego fino. Seria Lucas, o companheiro de Paulo, menciona-

do em Fm 24; Cl 4,14; 2Tm 4,11? Tradicionalmente se afirma que sim, mas hoje se pensa

diferente diante da ausência de provas. Lucas é visto como contemporâneo de Mateus, portan-

to, também ele dos anos 80 d.C., mas certamente fora de Israel (CULLMANN, 1990, p.35s).

Alguns autores situam Lucas num momento histórico em que a escatologia iminente estava se

esvaziando, ou seja, entre 80-90 d.C., isto é, quando o primeiro ardor missionário estava esfri-

ando, pois o tão esperado fim (volta, ou segunda vinda de Cristo) não se realizou (GARCIA-

VIANA, 2006, p.183).

6.1.4 – João

quarto evangelho, ou o evangelho de São João é o último dos quatro e o mais

desenvolvido em termos cristológicos. Costuma-se dizer que o quarto evangelho

é o evangelho da alta cristologia. “Seu desígnio é por em evidência a identidade entre o Jesus

histórico e o Cristo presente em sua Igreja, de traçar as linhas que conduzem cada evento da

18 Fonte Q vem do alemão Quelle, que significa fonte (de onde brota água).

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vida de Jesus a cada manifestação da vida de Jesus Cristo, o Senhor glorificado, na Igreja”

(CULLMANN, 1990, p.39). Ele pressupõe os evangelhos sinóticos.

m João, Jesus é ao mesmo tempo humano e divino. Jesus é o Logos (Verbo) pré-

existente, mas é feito carne (1,1-14). Jesus é o Cristo (20,31). Em Jesus o Logos

se encontra com a carne. João, muito mais que os outros escritos do NT, insiste na dimensão

humana e na dimensão divina de Jesus. Sem seu evangelho, teríamos certa dificuldade de de-

finir Jesus.

ua redação é fixada, pela maioria dos estudiosos, entre os anos 90 e 95 d.C.. uma

velha tradição diz que foi escrito em Éfeso, onde o apóstolo teria ido morar, mas

outros julgam que seja de Antioquia (CULLMANN, 1990, p. 42). Já Brown (2004, p.508) crê

que o evangelho de João se formou em três etapas, entre 70 e 100 d.C.: a) memórias do ensino

e da ação de Jesus, b) memórias remodeladas nas comunidades joaninas, c) o redator final,

valendo-se destas duas etapas anteriores, as modela em seu evangelho. Portanto, são história e

teologia (BROWN, 2004, p.495).

oão foi um dos doze apóstolos. Mas aqui, como também em Mateus, estamos diante

de um problema. Se João tivesse mais ou menos a idade Jesus, ele seria agora um

idoso acima dos 90 anos, o que não era fácil acontecer naquele tempo. Além do mais, João era

um pescador da Galileia (Mt 4,21ss). Teria ele possibilidades de escrever um livro desta en-

vergadura? Ainda mais, se nunca escreveu livros, agora, aos 90 anos???? Não. Como já afir-

mamos acima, nenhum dos quatro evangelhos traz assinatura. É muito provável que o apósto-

lo João tenha evangelizado Éfeso, ou qualquer outra comunidade e esta sempre era a comuni-

dade do apóstolo São João, mesmo depois de sua morte. Bem mais tarde, quando o apóstolo

já não vivia, um grupo de escribas convertidos, produziu o quarto evangelho e por isto levou o

nome de evangelho de São João, pois era de sua comunidade.

último dos evangelhos canônicos é também o mais complexo e o mais profun-

do, pois com o passar do tempo a cristologia ia se desenvolvendo e os fiéis sem-

pre querem saber mais. É por isto que o grupo de escritores, ou escribas respondeu a pergun-

tas que ainda não existiam nos tempos dos sinóticos.

6.2 – Os Atos dos Apóstolos

mesmo Lucas que escreveu o evangelho também escreveu Atos dos Apóstolos

(cf. Lc 1,1ss e At 1,1ss). Certos estudiosos do NT chamam At de o quinto evan-

gelho. Seria, por assim dizer, uma analogia com o Pentateuco. Mais correto, porém, é dizer

que At é o segundo tomo do evangelho de Lucas. Tanto o evangelho, como At são dedicados

a Teófilo, daí se deduz que At é mais recente do que o evangelho, pois ele diz: “No meu pri-

meiro livro...”. At se situa entre 80 e 90 d.C. O mais comum é fixar At por volta de 85 d.C.

(CULLMANN, 1990, p.49). A hipótese é que o autor de At tenha sido um grego convertido

por Paulo e discípulo dele, mas aí nos deparamos com uma dificuldade: a teologia de At dife-

re muito da teologia de Paulo. Parece que Lucas não conhece a teologia paulina. Isto, no en-

tanto, poderia ser pelo fato de Lucas estar uns 20 anos depois de Paulo em contexto comple-

tamente diferente (KURTZ, 1999, p.143).

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6.3 – As Cartas Paulinas

epois de Jesus, Paulo é a pessoa mais influente no NT. Todos os cristãos de hoje

têm influência paulina 9BROWN, 2004, p.565). Sem Paulo a Igreja teria se cir-

cunscrito a um pequeno círculo judaico e provavelmente nunca teria saído de lá. Hoje seria

um pequeno raminho dentro do judaísmo.

ara conhecer Paulo temos três fontes:

Atos dos Apóstolos – fonte nem sempre clara.

Cartas paulinas – não fala muito de si, não dá detalhes

Cartas pseudo-paulinas – deixam transparecer algo de Paulo.

ssim sendo, o que afirmarmos sobre Paulo, em grande parte será hipotético: Pau-

lo nasceu entre os anos 5-10 d.C. Tinha dois nomes, o que era comum nas famí-

lias judaicas helênicas. Um nome hebraico (Saulo) e um nome grego/romano (Paulo). Nasceu

em Tarso (Cilícia), descendente da tribo de Benjamin. Era cidadão romano. Conhecia bem o

idioma grego e tinha bom nível cultural. Conhecia as religiões mistéricas gregas, mas também

conhecia muito bem as Escrituras judaicas (AT). Era fariseu. Bem familiarizado com os ju-

deus e com os gregos (BROWN, 2004, p. 565).

Egundo o quadro cronológico da Bíblia de Jerusalém (2002, p.2183ss), Jesus teria

sido crucificado no dia 07 de abril do ano 30 d.C. assim, entre 34-37 d.C. teria

ocorrido a conversão de Saulo/Paulo (At 9,1ss). Já Balancin (1987, p.41) situa a primeira via-

gem missionária de Paulo (At 13-14) entre os anos 46-48 d.C., a segunda viagem (At 15,39-

18,22), entre os anos 49-52 d.C. e a terceira viagem (At 18,23-21,16) entre os anos 53-57 d.C.

A última viagem (At 21,17-28,31) entre os anos 59-62 d.C19

. Paulo teria sido decapitado em

Roma, a mando do imperador Nero, por volta de 67 d.C.20

em Paulo, o cristianismo provavelmente não passaria de uma seita judaica, pois os

Doze apóstolos só anunciavam o evangelho aos judeus e nem sequer cogitavam

em formar nova religião. Paulo foi o primeiro apóstolo a abrir as porteiras do cristianismo aos

povos pagãos. Paulo percebeu que em Cristo as velhas coisas tinham passado e se iniciava um

Novo Testamento (2Cor 3,4-18; Ef 2,11ss). Esta percepção paulina deu novo rosto à Igreja

(GARCIA, 2006, p.391).

Aulo foi o missionário das comunidades e, foi para estas mesmas comunidades

que, num segundo momento, escreveu suas cartas para confirmar a fé que havia

implantado na primeira fase de sua missão, quando fundou as comunidades. A maioria destas

comunidades evangelizadas por Paulo eram helênicas (menos Roma) e por isto viviam no

contexto das religiões mistéricas e libertinas. Seus leitores, na sua maioria, têm procedência

gentílica e urbanos (GARCIA, 2006, p.394).

em todas as cartas paulinas são reconhecidas como autênticas. A maioria dos

autores contemporâneos concorda com sete cartas como sendo genuínas de Pau-

19 Quanto a estas datas é sempre bom lembrar que, os autores não são unânimes. Alguns avançam, outros recu-

am. Portanto, aqui colocamos uma data aproximada. 20 A Bíblia não fala da morte do apóstolo, nem de Pedro. Outras fontes, como Clemente de Roma citam estes

fatos.

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lo: 1Ts, 1 e 2 Cor, Gl, Fl, Fm, Rm. Três cartas são duvidosas21

: 2Ts, Ef e Cl. Três, com certe-

za não são dele, mas usam seu nome22

, são as chamadas cartas pastorais: 1 e 2 Tm e Tt

(COMBLIN, 1993, p.113).

6.3.1 – As Cartas Genuínas

ão as cartas sobre as quais não resta dúvida, serem elas de Paulo, embora possam

ter sido escritas por secretários, mas ditadas por ele:

6.3.1.1 – Primeira Carta aos Tessalonicenses

o que tudo indica, 1Ts é o primeiro livro do NT a ser escrito, ou seja, a obra mais

antiga, escrita, do cristianismo que hoje temos. Ainda não está bem no estilo

paulino, como veremos nas cartas posteriores. Ainda tem bastante vestígios literários do mun-

do grego, onde Paulo se formou23

. A carta deve ter sido escrita por volta do ano 50 ou 51

d.C.24

(HAVENDER, 1998, p. 269; MCKENZIE, 1983, p.925; BROWN, 2004, p.605). Sendo

a primeira carta de Paulo, ainda não reflete os grandes temas paulinos que surgirão mais tarde.

A teologia é um tanto incipiente (1Ts 1,9-10): passagem dos ídolos para o Deus verdadeiro e a

espera da libertação da ira de Deus pela vinda de jesus ressuscitado. Isto deixa os cristãos de

Tessalônica preocupados com os mortos que já não poderiam esperar a volta de Jesus (1Ts

4,13ss) (COMBLIN, 1993, p.114). Paulo ainda não desenvolveu a sua teologia própria, como

o faz em Gálatas e Romanos.

6.3.1.2 – Primeira Carta aos Coríntios

orinto era a principal cidade grega nos tempos de Paulo. Era cidade portuária,

pois ficava situada num estreito (mar dos dois lados). Sua população era hetero-

gênea25

e muito instável. Alguns autores creem que nesta época havia em Corinto aproxima-

damente 500.000 habitantes, dos quais dois terços eram escravos. Era uma cidade cheia de

vícios. O desprezo pelo corpo (filosofia grega) levava a dois extremos: estoicismo (nada pres-

ta, tudo é mau) e ao hedonismo (já que o corpo não conta, posso fazer com ele o que quiser).

Havia muito sincretismo e licenciosidade ao extremo. Cunhou-se um jargão: viver à la corín-

tia que era sinônimo de toda promiscuidade. Neste contexto libertino nada favorecia as comu-

nidades cristãs, pois velhos vícios que já estavam arraigados há muitas gerações, não são fa-

cilmente abandonados quando as pessoas se tornam cristãs: libertinagem sexual, orgias, rixas,

etc.

21 Provavelmente escritas por discípulo de Paulo. 22 Estas cartas sã posteriores a Paulo, mas usam seu nome, embora a linguagem e os conceitos teológicos sejam bem diferentes. 23 Segundo At 11,25; 22,3, Paulo nasceu em Tarso, na Cilícia, cidade de cultura grega, onde florescia a filosofia

estóica. Havia mistura do helenismo, anatólico e do sírio. 24 Alguns autores julgam ser ela de 48 d.C. 25 Por ser cidade portuária, havia bastante serviço, vinham pessoas de todos os povos vizinhos para trabalhar.

Seria uma São Paulo daqueles tempos, ou seja, uma grande cidade com imigrantes oriundos de todos os lados.

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Primeira Carta aos Coríntios deve ser dos anos 56-58 d.C. (GETTY, 1999,

p.153). Paulo esteve em Corinto em At 18,1ss e também em At 19,21. Quando o

apóstolo escreve a carta, parece estar em Éfeso e recebe notícias sobre a vida cristã da comu-

nidade de Corinto (GARCIA, 2006, p.445). Talvez originalmente fossem diversas cartas, ou

bilhetes, que mais tarde foram fundidas em uma única carta (BROWN, 2004, p.682). A carta

reflete a divisão da comunidade cristã entre pessoas da alta sociedade que se converteram e a

maioria do povo pobre e humilde. Os ricos pensam que seja possível ser cristão sem que o

evangelho incida em sua vida libertina. Querem ser cristãos sem mudar de vida.

6.3.1.3 – Segunda Carta aos Coríntios

lguns autores creem que a segunda Carta aos coríntios se a junção de quatro car-

tas, ou de quatro fragmentos de cartas, a saber: a) 6,14-7,1; b) 9,1-15; c) 10,1-

13,10 e d) o resto (GETTY, 1999, p.221). Seria, por assim dizer, uma reação diante do fracas-

so da Primeira Carta aos Coríntios. Algum membro da comunidade ofendeu ao apóstolo (2,6;

7,12). Paulo está em Éfeso ao escrever esta carta, quando envia Tito para serenar os ânimos

em Corinto. Paulo se alegra com isto e escreve a Segunda Carta aos Coríntios, provavelmente

em 57 d.C. (GARCIA, 2006, p.477).

xistem fortes interrupções entre 2,13 e 2,14; entre 6,13 e 6,14; ainda entre 7,1 e

7,2; bem como em 7,4 e 7,5. Parece que 7,5 seja a continuação de 2,13. Os capí-

tulos 8 e 9 não têm relação com o resto da carta. Isto tudo corrobora a ideia que acima colo-

camos: 2Cor é uma coleção de diversas cartas (quatro ou até cinco) que os copistas coligiram

num único documento, isto é, 2Cor (COMBLIN, 1993, p.136). Veremos uma hipótese de

Comblin (1993, p.137) sobre os diversos bilhetes:

a) 1,1-2,13 é a parte mais recente. Reflete um conflito grave que já foi superado;

b) 2,14-7,4 mais 6,14-7,1 fragmento interpolado. Trata-se de uma apologia do minis-

tério de Paulo. Assemelha-se a 1Cor. Faz apelo à reconciliação

c) 8-9 trata da coleta que Paulo encaminhou para ajudar os irmãos de Jerusalém (cf.

também At 11,27-30).

d) 10-13 apologia do ministério de Paulo. Denuncia apóstolos rivais.

6.3.1.4 – Carta aos Gálatas

rê-se, entre os estudiosos das cartas paulinas, que Gálatas, assim como 1 e 2Cor,

Rm e Fm, foi escrita em Éfeso, por volta dos anos 56-58. Porém, Gl deve ser

anterior a Rm e também a 1 e 2 Cor. Gl é a carta que melhor caracteriza a teologia paulina. A

carta é polêmica, pois havia conflito com outros missionários que eram judaizantes26

. Nela se

dá o rompimento com a velha Lei e a circuncisão. Tudo isto é superado pela adesão a Jesus

Cristo, pela fé (COMBLIN, 1993, p.116ss).

26 Judaizantes eram, praticamente, todos os Doze Apóstolos, ou seja, eles queriam anunciar o evangelho só aos

judeus e, se algum não judeu entrasse na igreja, deveria, antes, aderir ao judaísmo. Pensavam eles, que Jesus iria

completar a velha aliança feita por Deus e o povo de Israel, mediada por Moisés (Ex 19-24). Desta forma, no

entanto, Jesus seria apenas um revigorador da velha aliança. Paulo se insurge contra tais ideias. Ele mostra que o

Salvador é Jesus e não a velha Lei (Pentateuco).

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Galácia27

é uma região centro-norte da Ásia Menor (atual Turquia, próximo a

atual Ancara). Mais tarde também o sul, onde estão Listra e Derbe, foi chamado

de Galácia. Não se sabe exatamente se os destinatários da carta eram os sulistas ou os nortis-

tas. Os destinatários de Gl são, na sua maioria, gentios28

(PILCH, 1999, p.235).

6.3.1.5 – Carta aos Romanos

ogo após ter escrito Gl, o apóstolo Paulo escreveu Romanos, quando, suposta-

mente estava alojado, por três meses, na Acaia (Grécia), ou melhor, em Corin-

to29

. Provavelmente entre 56-58 d.C. (PILCH, 199, p.177). Paulo passou em Corinto nos anos

57-58 d.C e de lá ele teria escrito aos cristãos de Roma, que ele não conhecia, mas desejava

visitar em breve (BROWN, 2004, p.738).

omanos é a mais extensa das cartas paulinas, onde ele retoma, de forma calma e

profunda, todos os temas tratados em Gl. O Reformador Calvino dizia que Rm é

a mais importante epístola, a mais extensa, a mais rica em doutrina. Carta-tratado, bem estru-

turada, metodicamente exposta. “A história da Igreja se confundia com a interpretação desta

epístola” (TEB, 1987, p.369). Esta carta também serviu de inspiração para a Reforma de Lute-

ro, que via nela o coração e a medula de todos os livros bíblicos30

6.3.1.6 – Carta aos Filipenses

aulo está preso quando escreve esta carta. Por isto muitos estudiosos supõem que

a carta foi escrita em Roma, mas a tendência hoje é situar a prisão de Paulo em

Éfeso (COMBLIN, 1993, p.138). Também esta carta parece não ter sido, originalmente um

único escrito, mas provavelmente três cartas que foram justapostas. Percebe-se isto quando se

nota que há rupturas drásticas em 3,1ª e 3,1b. Assim, a hipótese é:

a) 4,10-20: bilhete de agradecimento

b) 1,1-3,1a: mais 4,2-7.21-23 notícias do cativeiro

c) 3,1b-4,1 mais 4,8-9: virulenta polêmica contra falsos apóstolos

Ilipos é a primeira cidade europeia evangelizada por Paulo (At 16,11ss), por volta

de 49 d.C. Nesta cidade residiam pessoas de origem latina e também alguns ju-

deus. Paulo escreve para agradecer por uma ajuda recebida enquanto está na prisão (GAR-

CIA, 2006, p.435). Alguns estudiosos que creem que a carta foi escrita em Roma a situam por

volta dos anos 61-63 d.C. Porém, hoje a tendência é crer que ela foi escrita em Éfeso por volta

do ano 56 d.C. (GARCIA, 2006, p.537).

27 Os gálatas são remanescentes de antigas tribos que emigraram do oriente e chegaram até a Europa: A França,

antigamente era chamada de Gália, na Grã-Bretanha tem o País de Gales e o nome do país lusitano traz sua raiz em seu nome: Portugal. 28 Gentios são os não judeus. 29 Acima, em 6.1.3.4 se afirma que Gl, 1 e 2 Cor, Rm e Fm foram escritos em Éfeso. Aqui se afirma que Rm foi

escrito em Corinto. Deve-se isto ao fato de não haver unanimidade entre os diversos autores pesquisados. 30 Lutero, em sua crise com a Igreja Católica, lendo Rm 4 chegou a uma nova compreensão da questão das obras

para a salvação.

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6.3.1.7 – Carta a Filemon

carta mais breve de Paulo, na realidade, só um bilhete, é a carta a Filemon. A

carta mostra como Paulo usa sua autoridade sobre um membro rico de suas co-

munidades em relação a um escravo foragido. É obra de persuasão. A questão da escravidão

era comum naquele tempo. Alguns donos de escravos, ao se converterem ao cristianismo, não

deixavam para trás este sistema de trabalho. Paulo não enfrenta o problema de forma ostensi-

va, mas pelos conselhos persuasivos que dá a Filemon, ele devia receber um escravo foragido

de volta, já não como escravo, mas como um irmão querido. Sabe-se que escravos foragidos

eram severamente punidos, mas Paulo pede que Filemon receba Onésimo, o escravo foragido,

de volta como irmão. Assim já não há mais lugar para escravidão. São novas relações basea-

das no amor ao próximo. Também, ao escrever esta carta, Paulo está no cárcere, talvez em

Éfeso, como ao escrever Fl. Neste caso, também Fm deve ser datada no ano de 56 e.C. (HA-

VENER, 1999, p.301).

uma carta dirigida a uma pessoa e não a uma comunidade, como as demais. Mes-

mo assim, a carta pode tratar de uma questão comunitária, pois Filemon parece ser

um líder comunitário de uma igreja doméstica que se reunia em sua casa (BROWN, 2004,

p.665ss). A carta tem forte parentesco com Cl, por isto alguns a situam em Roma, nos anos

60-62 d.C., o que os estudiosos atuais já não creem, pois creem que também ela vem da prisão

de Éfeso, dos anos 56-57 d.C. (GARCIA, 2006, p.603).

6.3.2 – As Cartas Dêutero-Paulinas, ou Psêudo-Paulinas

artas Dêutero-Paulinas são as cartas que trazem o nome de Paulo, mas provavel-

mente não foram escritas por ele, senão, por um discípulo dele e atribuídas a ele

(BROWN, 2006, p.769). Nesta categoria encontram-se seis cartas, a saber: 2Ts, Cl, Ef, 1 e

2Tm, Tt, sendo que 1 e 2Tm e Tt recebem o nome de Cartas Pastorais. Ao que parece, pelos

conceitos e pelas temáticas, estas cartas, ao menos em parte, são bem posteriores a Paulo. Jun-

to com estas cartas vamos colocar também Hebreus, pois antigamente Hebreus era vista como

carta de Paulo. Assim sendo, existem sete cartas de Paulo, sete cartas pseudo-paulinas e de-

pois teremos mais sete cartas católicas ou gerais, perfazendo três coleções de sete cartas.

6.3.2.1 – Segunda Carta aos Tessalonicenses

omo em 1Ts, o assunto tratado em 2Ts é a vinda iminente do dia do Senhor. Al-

gumas pessoas se assustaram e até abandonaram seu trabalho e incomodavam a

comunidade com este pavor. O autor acalma este afoitos, dizendo que o dia do Senhor ainda

não está tão próximo. Todos devem trabalhar com naturalidade. O autor supostamente se ins-

pirou em 1Ts, pois os motivos são semelhantes. Na realidade, nem o autor parece ser Paulo,

nem os destinatários parecem ser os tessalonicenses. O autor apenas quer atualizar os ensina-

mentos de Paulo para sua comunidade ((HAVENER, 1999, p.277).

s estudiosos tradicionais julgam que 1Ts abriu caminhos e que 2Ts vem para

completar. Talvez os leitores de 1Ts tivessem tirado consequências nefastas des-

ta carta, chegando a abandonar seu trabalho, já que, segundo criam, o fim estava próximo.

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Paulo, ou algum discípulo dele, alguns meses depois de 1Ts, teria escrito 2Ts para acalmar os

afoitos. Já os biblistas atuais veem 2Ts como obra de um discípulo de Paulo, muitos anos

mais tarde, talvez já na década de 70, quando Paulo não vivia mais (GARCIA, 2006, p.572).

Já Schnelle (2010, p.748) julga que 2Ts seja do fim do primeiro século da era cristã.

6.3.2.2 – Carta aos Colossenses

cidade de Colossos, na Ásia Menor (hoje Turquia) era centro têxtil. Nela havia

frígios, gregos e uns poucos judeus. Parece que Paulo não esteve em Colossos (cl

2,1). Foi Epafras quem evangelizou esta cidade (1,7; 2,1; 4,1).

m alguns manuscritos antigos falta o nome de Paulo (1,1; 2,3; 4,18). Além disto,

muitos termos usados em Cl não se encontram nas cartas genuínas. Não usa ter-

mos comuns da teologia paulina: justiça, crer, lei, liberdade, etc. O estilo da redação também

tem notáveis diferenças. A teologia, a cristologia e a escatologia são muito desenvolvidas e

indicam que a carta não é de Paulo. A luta contra falsos doutores, ou falsas doutrinas, parece

ser bem posterior aos tempos do grande apóstolo.

ssim, Cl deve ser, ou dos últimos tempos de Paulo, o que parece pouco provável,

ou de um tempo depois da morte de Paulo (ano 67 d.C.). se for de Paulo, deveria

ter sido escrita em Roma, ou em Éfeso, entre 61-63 d.C. Mas como se supõe quase impossível

ser de Paulo, então se fixa uma data por volta dos anos 80 d.C., talvez em Éfeso (BROWN,

2004, p.787ss). Já Mckenzie (1983, p.178) nos diz que Colossos foi destruída por um terre-

moto, em 64 d.C. o que depõe contra os anos 80, a não ser que Cl não seja estritamente aos

moradores da cidade com este nome.

carta aos Cl tem ideias paulinas. Tem parentesco com Rm, com Fm e serve de

base para Ef. A carta combate erros teológicos: tradições judaicas (2,11-22), an-

geologia (2,6ss. 18). Ritos de iniciação (2,2; 3,1). Estes erros obscurecem a figura de Cristo

(RODRIGUEZ, 2006, p.547s).

6.3.2.3 - Carta aos Efésios

feso era cidade portuária importante, na Ásia Menor, hoje Turquia. Paulo esteve

em Éfeso, isto se lê em At 18,19-21 e também em At 19,1ss; 20,31. A Carta aos

Efésios é uma carta do cativeiro e mais ampla em doutrina. Alguns autores pensam ser ela dos

anos 61-63 d.C., escrita em Roma, mas devido à linguagem, conceitos e conteúdo, julgam

outros, ser ela de um discípulo de Paulo, possivelmente escrita depois da morte do apóstolo,

entre 70 e 90 d.C. (RODRIGUEZ, 2006, p.517s). Alguns estudiosos chamam o autor de Efé-

sios de supremo intérprete dos apóstolos e melhor discípulo de Paulo. Em muitos manuscritos

antigos, quando se lê Ef 1,1, não consta “em Éfeso”, mas apenas “aos santos e fiéis em Jesus

Cristo”. Além desta falta, nada mais se refere diretamente a Éfeso, ou a cristãos de Éfeso,

como Paulo o faz em suas cartas. Logo, existe dúvida se o autor é mesmo Paulo e mesmo, se a

carta foi destinada aos cristãos de Éfeso (BROWN, 2004, p.813ss).

fésios é rica em desenvolvimento teológico, também em cristologia, bem como

em eclesiologia. Está muito próxima de Colossenses. Repete Cl de forma muito

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viva. Metade dos versículos de Ef está em Cl. Seria quase uma imitação de Cl com um enfo-

que mais eclesiológico (BÍBLIA do Peregrino, 2002, p.2802).

carta combate erros judeus e gnósticos que formaram um sincretismo (angeolo-

gia). São praticamente os mesmos erros encontrados em Cl. Erros resultantes da

miscigenação entre gregos e judeus, quando se transforma os espíritos cósmicos em anjos, que

acabam fazendo sombra sobre a pessoa de Jesus Cristo (RODRIGUES, 2006, p.319).

6.3.2.4 – A Primeira Carta a Timóteo

imóteo era de Listra, filho de pai grego e de mãe judia (At 16,3ss). Era compa-

nheiro de Paulo (At 19,22; 1Cor 4,1.17; 16,10s; Fl 2,19). Recebeu a incumbência

de cuidar e organizar a igreja da Ásia, sediada em Éfeso (1Tm 1,3-4). Os assuntos principais

são: a) A organização da igreja (1Tm 3 e 5), b) Combater falsas doutrinas (1Tm 3-11; 4,1-5),

c) Zelar pela vida dos fiéis (1Tm 1,2-20) (RODRIGUEZ, 2006, p.583s).

os últimos 200 anos os biblistas começaram a questionar a autoria de Paulo. O

estilo literário se distancia muito daquelas cartas genuinamente paulinas, bem

como os temas tratados: organização da igreja, combate a heresias. Estes assuntos não se en-

contram em Paulo, não existiam no seu tempo, parecem ser bem mais tardios. Ao que tudo

indica, algum discípulo, ou simpatizante do apóstolo teria usado o chão paulino para escrever

esta carta, entre 80-90 d.C., ou até mesmo no início do século II.

grande assunto tratado é a estruturação da igreja (bispos, diáconos, presbíteros,

viúvas). Estes temas nunca aparecem em Paulo31

. A falsa doutrina que se quer

corrigir (gnosticismo), não existia nos tempos de Paulo. Antes, é um retrato dos anos 80 em

diante, quando as heresias gregas se desenvolvem e a igreja, já sem os apóstolos de primeira

hora, precisa de institucionalizar para sobreviver (BROWN, 2004, p.853ss).

6.3.2.5 – A Segunda Carta a Timóteo

sta carta não tem parentesco com a Primeira Carta a Timóteo, nem se sabe se é

posterior a 1Tm. Tem o mesmo estilo literário, mas não trata da organização

eclesial. Tanto 2Tm, como 1Tm e Tt, não se enquadra na missão de Paulo, tal qual conhece-

mos através de Atos dos Apóstolos e de suas cartas genuínas. Aqueles estudiosos que creem

em uma segunda missão de Paulo, depois da prisão de Roma, situam a carta entre os anos 66 e

67 d.C. Outros supõem que 2Tm foi escrita alguns anos após a morte de Paulo, por alguém

que conheceu bem os últimos dias do grande apóstolo. Neste caso, tanto 1Tm como Tt seriam

bem posteriores e teriam sido escritas, tendo 2Tm como base. Porém, quanto a esta teoria, não

há consenso. Pode ser que 2Tm também seja do final do primeiro século da era cristã

(BROWN, 2004, p.880). Também 2Tm é uma das assim chamadas cartas do cativeiro e, em

comum com 1Tm e com Tt, tem a preocupação com a Sã Doutrina, bem como exorta a Timó-

teo a viver bem seu ministério (RODRIGUEZ, 2006, p.591).

31 Em Fl 1,1 há uma referência a epíscopos e diáconos, mas nada se diz sobre a organização, como tal.

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6.3.2.6 – A Carta a Tito

ssim como 1 e 2Tm, a Carta a Tito já não tem a preocupação missionária de ex-

pansão, como as cartas paulinas, mas sim, o cuidado com as comunidades já

evangelizadas. Por isto mesmo, elas são chamadas de pastorais. Tito não é mencionado em

Atos dos Apóstolos, mas em Gl 2,1-3; 2Cor 7,6s; 8,6ss; 12,17ss. Paulo o deixou em Creta

para corrigir erros doutrinais e designar presbíteros na comunidade (Tt 1,5) (BROWN, 2004,

p.835ss). Tito foi convertido por Paulo (Tt 1,4). Ele recebe a missão de organizar a igreja de

Creta, lutar contra falsos doutores e animar a vida cristã (RODRIGUEZ, 2006, p.599ss).

s mesmos argumentos aduzidos para firmar que 1Tm não vem de Paulo, podem

também ser usados aqui, uma vez que Tt está muito próxima de 1Tm. A carta

deve ser dos anos 80, ou no máximo, dos anos 100 d.C. (MCKENZIE, 1984, p.286).

6.3.2.7 – Hebreus

ntigamente se dizia: Carta de São Paulo aos Hebreus. Primeiramente Hb não é

carta. Em segundo lugar, não é de Paulo e depois, não é destinado aos Hebreus,

mas a cristãos. Então, a suposta carta de são Paulo aos Hebreus não é carta, não é de Paulo e

nem é destinada aos hebreus. Trata-se de um antigo escrito de origem desconhecida. Em mui-

tos aspectos destoa do NT. Faz muitas referências ao AT. Quanto à sua atribuição a Paulo,

convém lembrar que, chamar Jesus de Sumo Sacerdote é muito estranho. Paulo nunca fez isto.

Não inicia como carta, mas como discurso solene. Porém, no fim (13,22-25) parece ser carta.

Poderiam ser acréscimos. Supostamente seria uma peça de oratória que mais tarde foi trans-

formada em carta (MORAN, 2006, p.609s). Em nenhum momento o escrito se apresenta co-

mo paulino e também nunca cita os hebreus como destinatários. Antigas tradições orientais

julgavam o escrito como sendo de Paulo.

tema central de Hb é o Sacerdócio de Jesus Cristo. Pode-se ainda destacar: a)

Jesus é superior aos anjos (1-2), b) Jesus é superior a Moisés (3-4), c) O sacer-

dócio de Jesus é superior ao sacerdócio do Sumo Sacerdote judeu (5-7), d) O santuário celeste

onde Jesus entrou é superior ao templo judeu (8-9), e) O sacrifício de Jesus é superior aos

sacrifícios de animais do templo (10), f) a história salvífica de Jesus é superior à antiga histó-

ria da salvação (11-12), g) Epílogo epistolar (13), provável acréscimo posterior.

s destinatários parecem ser cristãos perseguidos. Supostamente há uma tentação

de desfalecer na fé e de voltar ao judaísmo. Percebe-se que sofrem perseguições

externas (12,1ss). Parece que estavam em Roma e foram saudados pelos italianos que mora-

vam fora (13,24). O escrito é citado pela primeira vez por Clemente de Roma em 96 d.C.,

portanro, deve ser de alguns anos antes. A hipótese é dos anos 80-90 d.C. Além de alguns

autores antigos que a atribuem a Paulo, há quem a atribua a Barnabé, Apolo, Áquila e Priscila

e mesmo a Lucas. Mas aqui ficamos no terreno das hipóteses, não podemos fechar a questão.

odemos dizer, com segurança apenas o seguinte: o autor é um cristão estudado de origem judaica que não somente domina melhor a língua grega que os outros autores

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do Novo testamento, mas ainda assimilou a fundo a cultura grega (CULLMANN, 1990, p.85ss).

á quem diga: “Começa como um tratado, continua como um sermão e termina

como uma epístola” (BROWN, 2004, p.899). Isto resulta na tese de que Hb é

uma mistura de gêneros e que, originalmente eventualmente não fosse um único documento,

mas três que foram justapostos. Digamos, alguém compilou diversos documentos e os trans-

formou num único escrito. Talvez, o compilador não seja o autor.

evemos satisfazer-nos com a ironia de que o mais sofisticado e mais elegante teólogo do Novo testamento é um desconhecido. Para empregar sua própria descrição de

Melquisedec (7,3), o escritor de Hebreus permanece sem pai nem mãe, nem genealogia (BROWN, 2004, p.906).

autor conhecia muito bem o Antigo Testamento, mas também a filosofia grega.

Está próximo de Fílon de Alexandria. Em suas citações do AT, parece usar a

LXX. Deixa claro ser de segunda geração (2,3).

6.4 – As Cartas gerais, ou Católicas

esde os primeiros séculos do cristianismo, as cartas de Tg, 1 e 2 Pd, 1-3Jo e Jd

recebem o nome de Cartas Católicas, por terem destinação universal, ou seja,

escritas com a intenção de atingir leitores em geral” (KÜMMEL, 1982, p.509). Na realidade,

só 2Pd e Jd poderiam levar este título com toda a justiça. 2Pd 1,1 diz: ”àqueles que recebe-

ram, pela justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.....”, enquanto Jd 1 diz: “aos que são

chamados, que são amados por Deus Pai e guardados para Jesus Cristo”. As demais cartas

deste grupo não se enquadram completamente dentro desta destinação universal. 1Jo não tem

destinatário, enquanto 2Jo 1 se dirige à senhora eleita e a seus filhos e 3Jo 1 ao ilustre Gaio.

1Pd 1,1 se dirige aos eleitos do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Tg se dirige às doze

tribos da dispersão. Menos 3Jo, todas as demais parecem, de certa forma, se dirigir de forma

genérica aos cristãos.

6.4.1 – A Carta de Tiago

difícil dizer quem é este Tiago, pois no Novo Testamento há cinco pessoas com

este nome:

a) Tiago, filho de Zebedeu (Mc 1,19; 3,17; 10,35ss e //; At 12,2).

b) Tiago, filho de Alfeu (Mc 3,18 e //).

c) Tiago, irmão de Jesus, filho de José e de Maria (Mc 6,3; 1Cor 15,7; Gl 1,19;

2,9.12; At 12,17; 15.13; 21,18; Jd 1).

d) Tiago, o Menor (Mc 15,40, filho de Maria Mc 16,1 e //).

e) Tiago, pai do apóstolo Judas (Lc 6,16; At 1,13).

iago, filho de Zebedeu e irmão de João, foi assassinado por Herodes nos anos 40

d.C. (At 12,2) bem antes da carta de Tg ser escrita. Tiago de Alfeu, o Menor e o

pai de Judas não tem citações que indiquem autoridade. Então resta Tiago, o irmão de Jesus, o

único bem conhecido. Ao que parece, a carta é atribuída a este Tiago, supostamente martiri-

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zado no ano 62 d.C. Em todos os casos, estamos no terreno das hipóteses (KÜMMEL, 1982,

p.540s).

utero chamava a carta de Tg de “epístola completamente de palha”, pois destoa

da teologia paulina quanto à questão da justificação pelas obras (Tg 2,14 e Gl

2,16). É a obra do NT com maior consciência social. Seu escrito tem parentesco forte com o

evangelho de Mateus. No seu todo, Tg traz ideias aleatoriamente concadenadas. Não tem mui-

ta doutrina.

Texto usa um grego fino, fora do alcance de um judeu como Tiago. Sempre que

usa o AT, usa a LXX. Isto tudo mostra que não foi Tg quem escreveu, mas al-

gum versado no grego, que atribuiu o texto a ele. Os escritos de Clemente (150-200 d.C.)

chamam Tiago de bispo dos bispos. Isto serve de base para alguém atribuir sua obra a ele.

Como Tiago conhece Mateus e conheceu também Paulo (Gl 2,16), supõe-se que a carta tenha

sua elaboração nos anos 80-100 d.C. (BROWN, 2004, p.965). A carta parece provir da Pales-

tina, mas dirigida ao público fora da Palestina.

6.4.2 – A Primeira Carta de Pedro

edro (Pétros - - em grego) Kefás - - em aramaico)foi o nome

dado por Jesus a Simão, o mais importante apóstolo dos Doze (Mc 3,16; At 1-5;

15,1-35). Paulo presta testemunho a favor da liderança de Pedro (Gl 2,1-10).

Provavelmente Pedro tenha sido assassinado em Roma, por volta de 67 d.C. Mesmo depois de

sua morte Pedro continuava figura proeminente na igreja.

m 1Pd 5,12s ele cita dois auxiliares: Silas (Silvano) e Marcos. Seria possível que

um destes tivesse escrito a carta, quando Pedro já não vivia e atribuído a Pedro

por motivos acima citados (proeminência de Pedro) (BROWN, 2004, p.921s). O autor se

apresenta como Pedro, apóstolo (1,1), destinando sua carta aos eleitos do Ponto, Galácia, Ca-

padócia, Ásia, Bitínia. Também se chama de presbítero (5,1) e que escreveu de Babilônia

(Roma), por meio de Silvano e que Marcos era como seu filho (5,12-13). Certamente Pedro,

um pescador da Galileia, não saberia escrever um grego fino, nem usaria a LXX, nem se diri-

giria às regiões da Galácia, onde Paulo pregou. Paulo diz que ficou decidido que Pedro evan-

gelizasse a judeus e ele, Paulo, os gentios (Gl 2,9). Por isto, supõe-se que, depois da morte de

Pedro, um missionário culto, conhecedor da missão da Ásia, Ponto, etc. escrevesse 1Pd e atri-

buiu a Pedro, já num tempo em que a cristologia estava bastante desenvolvida. Tanto a cristo-

logia, a eclesiologia e a escatologia da carta supõem os anos 80 d.C. (GABBARRON, 2006,

p.647s).

6.4.3 – A Segunda Carta de Pedro

texto da 2Pd está muito próximo da carta de Judas. A forma do texto se asseme-

lha e também o assunto: polêmica contra falsos doutores. Parece que o autor de

uma destas cartas tenha copiado a outra. 2Pd não usa os apócrifos do AT como Jd o faz. Por

isto se supõe que 2Pd foi escrita nos anos 90 d.C.32

Só por este fato a carta já não pode ser de

32 Alguns autores julgam ser ela de 120 e mesmo de 150 d.C.

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Pedro que morreu em 67 d.C. O texto é claramente tardio, pois se refere às cartas paulinas e às

demais Escrituras (2Pd 3,15-16). Isto demonstra um período em que já se conhece o corpus

paulinus. É a primeira vez que os textos no NT são chamados de Escrituras (CULLMANN,

1990, p.103s). Parece ser o último texto do NT (BROWN, 2004, p.989). Não parece que o

autor de 2Pd seja o mesmo de 1Pd, embora fale de sua primeira carta (2Pd 3,1). O vocabulário

está distante de 1Pd. Trata-se de pseudonímia de algum autor de tradição petrina. A carta foi

escrita de um lugar onde Pedro era visto como autoridade, muito provavelmente em Roma,

pois nesta cidade se harmonizou as figuras de Pedro e de Paulo, bem depois da morte destes

dois apóstolos. Já reflete bem a helenização do cristianismo.

carta tem o objetivo de harmonizar a teologia num tempo em que as correntes

petrinas, paulinas e tiaguinas estavam em choque. Trata-se de carta- testamento,

que quer prevenir seus leitores a permanecerem fiéis depois de sua morte (2Pd 1,14s), diante

dos abusos da gnose (GABBARRON, 2006, p.657s).

6.4.4 – A Carta de Judas

rata-se de uma carta destinada a todos os cristãos. Tem por objetivo atacar liber-

tinos que divulgam falsas doutrinas (v.3s). Existem diversas pessoas com o nome

de Judas, no NT: Judas Iscariotes (Mc 3,19); Judas, filho de Tiago (Lc 6,16; At 1,13); Judas,

irmão de Jesus (Mc 6,3); Judas, irmão de Tiago (Jd 1). Com certeza é não o Iscariotes, pois

este já está morto desde a cruz de Jesus (Mt 27,5). O Judas da carta refere-se aos apóstolos

(v.17), o que dá a entender que ele não era do grupo. Seria o irmão de Tiago (v.1)? Mas se

Judas é conhecido também como irmão de Jesus (Mc 6,3), por que ele inicia sua carta como

irmão de Tiago e não de Jesus (v.1 cf. Mc 6,3)? É difícil esclarecer devido ao tempo em que a

carta foi escrita (80-90 d.C.).

ita diversas vezes textos de livros apócrifos (Enoque). Provavelmente, quando

Judas escreveu sua carta, os judeus ainda não tinham eliminado o livro de Eno-

que do Cânon do AT (anos 90 em Jãmnia). Daí se deduz que Judas seja anterior a 90 d.C. Os

v.17 e 18 se referem aos apóstolos como gente do passado, o que situa o texto no período pós

apostólico. O autor domina bem o grego, mas reflete semitismos em sua redação (CULL-

MANN, 1990, p.100ss). O autor, provavelmente é um judeu-cristão, pois usa escritos judaicos

do AT, inclusive apócrifos: Ascensão de Moisés (v.9), Enoque (v.14), Lendas Judaicas (v.9 e

11). Contrapõe fé confiada aos santos e falsos mestres (v.3 e 4). Um galileu como os Judas

acima citados, não poderia escrever tal obra. Portanto, trata-se de um pseudônimo (KÜM-

MEL, 1982, p.559ss). Judas não usa a LXX, mas a Bíblia Hebraica, por ist se supõe que o

livro tenha sido escrito na Palestina (BROWN, 2004, p.983s).

6.4.5 – A Primeira Carta de João

autor, se não for o mesmo do 4º evangelho, é alguém do mesmo grupo. Trata

dos mesmos assuntos tratados no evangelho de João: Deus é luz, Jesus obtém o

perdão, Deus é amor, etc. “No estilo e no vocabulário existem tantas semelhanças entre 1João

e João que ninguém pode duvidar de que provenha da mesma tradição” (BROWN, 2004,

p.519).

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autor reinterpreta o quarto evangelho, combate heresias, provavelmente os do-

cetistas (dokéo = aparência). Esta filosofia herética ensina que Jesus tem apenas

aparência humana. Negam a natureza humana de Jesus. Além do mais, estes pré-gnósticos

colocam o conhecimento acima do amor (CULLMANN, 1990, p.106s). Trata-se de um com-

bate contra uma tendência que negava a materialidade de Jesus. Os docetistas supunham que

bastava crer no verbo encarnado (Jesus) sem se importar com seus ensinamentos, ou aquilo

que ele fizera na vida real. Assim, tanto 1J como 2Jo querem ser os verdadeiros intérpretes do

quarto evangelho (BROWN, 2004, p.571). O evangelho de João, às vezes é ambíguo. Isto

permite interpretações diversas daquilo que João de fato queria dizer. Os docetistas se vale-

ram destas ambiguidades e tiraram conclusões danosas. 1 Jo quer reinterpretar o evangelho de

João, dando-lhe o verdadeiro sentido. 1Jo realiza a correção daquilo que no evangelho não

ficou claro.

rê-se que 1 Jo, bem como 2 e 3 Jo tenham sido escritas depois do evangelho de

João. No evangelho, os adversários são os judeus. Nas três cartas, os adversários

são elementos internos: cristãos que interpretaram mal o evangelho joanino. Assim, a carta

deve ser depois do ano 90 (evangelho) e antes do ano 100 d.C. Diríamos, então, entre 90 e

100 d.C. (KÜMMEL, 1982, p.585).

6.4.6 – A Segunda Carta de João

2Jo está próxima de 1Jo. O autor se apresenta como Presbítero à Senhora eleita.

O presbítero reflete um período pós-apostólico e a senhora eleita reflete a Igreja.

Isto tudo demonstra uma eclesiologia já bastante desenvolvida. A carta retoma 1Jo. Realça o

amor recíproco e o cuidado com os anti-cristos, ou falsos doutores (MAZZAROLO, 2010,

p.121s).

uanto ao estilo de 2Jo obedece claramente ao gênero carta: traz remetente, desti-

natário, saudação final. O presbítero deve ser alguém das comunidades joaninas,

onde a figura do apóstolo não era assim tão clara, como também no quarto evangelho. Sua

redação deve coincidir com 1Jo, ou seja, na década de 90 d.C. (RAMOS, 2006, p.681s).

6.4.7 – A Terceira Carta de João

terceira carta de João se assemelha a 2Jo quanto ao formato e estilo, mas difere

no conteúdo. Condena relacionamentos eclesiais, não tanto, doutrinas. A carta

procede do Presbítero para Gaio. Fala de Diótrefes e de Demétrio (líderes da igreja comésti-

ca), o que reflete um modelo de igreja diferente das cartas pastorais (bispos, diáconos, presbí-

teros). Talvez Diótrefes representa um presbítero-bispo emergente que rivaliza a total ausên-

cia de estrutura eclesial dos escritos joaninos. Poder-se-ia ver em Diótrefes o modelo de Jo

21que já mostra uma certa institucionalização da igreja e harmonização com o modelo dos

Doze, conforme os sinóticos (BROWN, 2004, p.543s).

ode-se afirmar que o autor é o mesmo que escreveu 2Jo. Isto se constata pelas

expressões que só se encontram nestas duas cartas. Mesmo estilo, mesmo voca-

bulário (RAMOS, 2006, p.685). Mazzarolo (2010, p.129) supõe que a carta tenha certas ca-

racterísticas paulinas. A carta se situa entre 90-110 d.C. (KÜMMEL, 1982, p.593).

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6.5 - O Apocalipse

Apocalipse é o livro mais mal usado pelos fundamentalistas para fazer proseli-

tismo na base do medo, pois deste livro tiram ilustração para uma teologia do

medo (fim do mundo), para acusar o Papa de ser o Anti-Cristo, etc. Segundo suas crenças, o

Apocalipse seria um guia do fim do mundo. Jesus teria revelado todos os segredos da história.

Tudo o que acontece, de certa forma já estaria revelado no Apocalipse: guerras, atentados,

impérios, ida à lua, a moderna técnica, código de barras, etc. Interpretam o 666 de Ap 13,18

como sendo o número de Hitler, de Stalin, de Saddam Hussein e, principalmente para os mais

fanáticos, seria o Papa33

. Usam o Apocalipse como livro de magia que, inclusive alimenta

suas fantasias e até ódio contra seus adversários. Mas o Apocalipse não é nada disto, ou me-

lhor, é justamente o contrário disto (BROWN, 2004, p.1005).

pocalipse quer dizer Revelação. É a primeira palavra do livro no texto grego:

“Revelação de Jesus Cristo...” (Ap 1,1). O livro obedece ao gênero literário apo-

calíptico, comum no judaísmo tardio: Enoque, Ascensão de Moisés, apocalipse de Baruque,

Testamento dos Doze Patriarcas (apócrifos), Ezequiel, Daniel (AT) e muitos outros escritos,

como os do Mar Morto (Qumram). Portanto, o autor se vale de muitas fontes, inclusive da

astrologia e da mitologia pagã. Usa, também a linguagem cúltica, ou litúrgica.

gênero apocalíptico se destaca em Daniel e reflete tempos de dura perseguição,

no judaísmo tardio. Ou seja, no Antigo Testamento, quando um rei maltrata o

povo, surge um profeta que reage. Mas com o Exílio da Babilônia (589 a.C. – cf 2Rs 24 e 25)

os reis perderam seu trono. Com isto também os profetas desaparecem, aos poucos. No perí-

odo grego (331 a.C.) quem manda em Israel é o imperador grego (Alexabndre Magno), que

está distante. O Império Grego se divide em várias partes. Israel cai na mão dos Ptolomaidas e

mais tarde dos Selêucidas (sucessores de Alexandre Magno). Os Selêucidas, por volta dos

anos 180 a.C. querem impor a cultura e a religião gregas aos subjugados. Para isto têm de

destruir a religião e a cultura judaicas. Antíoco Epífanes (rei selêucida) é tão violento que

inicia a matança de quem não aceita sua política. Muitos, para não serem perseguidos, rene-

gam sua fé. Outros são cruelmente assassinados. Neste período não surgem profetas, pois não

havia rei em Israel. O rei estava lá na Babilônia (Antíoco). Não faz sentido um profeta denun-

ciar, pois o rei distante não fica sabendo. Além do mais, a perseguição é dura demais. Nin-

guém pode falar abertamente. Surge, neste período, a linguagem velada apocalíptica. Esta

linguagem era entendida pelos iniciados, mas se caísse nas mãos dos guardas do rei, nada en-

tenderiam. Daniel é o principal escritor desta época. Em resumo, o gênero literário apocalípt i-

co é fruto de tempos de dura perseguição, quando não se pode dizer as coisas abertamente.

Alguém, com profunda fé em Deus, de forma velada quer encorajar o povo. Para isto usa figu-

ras, símbolos, ilustrações. Em poucas palavras, quer encorajar o povo a permanecer fiel a

Deus e não temer os reis e poderosos (NESTERS, 2005, p.9ss).

33 Alguns destes fundamentalistas dizem que o Papa usa o solidéu ou a mitra para que as pessoas não vejam o

666 em sua cabeça.

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az parte deste gênero literário apocalíptico o uso de visões que revelam a salva-

ção. Há intervenção divina, ou um anjo que leva o agraciado a uma posição privi-

legiada de onde contempla os segredos revelados, que envolvem cataclismas que preparam o

futuro pelo julgamento divino. Acontecem momentos trágicos. Cheia de visões cósmicas,

anjos, demônios, etc. Há uma dependência do gênero da profecia, do qual o apocaliptismo é

filho. Em alguns livros proféticos já existem bastante resquícios apocalípticos: Ez, Is, Zc, Jl e

principalmente Dn. Envolve a política, a prática religiosa, a preocupação social. Dirige-se a

pessoas que vivem tempos difíceis de perseguição. Já não espera solução histórica, por isto

espera intervenção divina. Vê o mal da história como uma luta entre Deus, seus anjos e o de-

mônio com seu anjos. Citamos alguns textos do AT que servem de embrião deste gênero: Ez

1,-; 37; O livro de Joel está perpassado (gafanhotos (1-2); Zc 4,1-6,8; Dn 1-11.

livro do Apocalipse se inspira, principalmente no livro de Daniel, mas sua reda-

ção se dá numa perspectiva cristã. O assunto é a perseguição sofrida pelos cris-

tãos no Império Romano. Como o cristianismo é relativamente novo e o Império persegue

sem tréguas, muitos cristãos há pouco convertidos, renegam sua fé para não terem problemas

com a polícia do império. Assim, o livro do Apocalipse trata dos maus imperadores (bestas)

que recebem o poder do diabo (dragão (Ap 12 e 13). Trata principalmente de dois imperado-

res: Nero e Domiciano.

Cenário do livro se desenvolve na Ásia Menor (Ap 2-3). O texto grego não é

muito elegante. Há quem o defina como o pior grego do NT. O autor se auto

define como João (1,1.4.9; 22,8) que estava preso na Ilha de Patmos. A tradição supõe ser o

apóstolo João, filho de Zebedeu (Mc 10,35) e autor do quarto evangelho, mas desde o princí-

pio esta postura é questionada. O vocabulário difere muito, mas há conceitos comuns, como:

a) Testemunho (Jo 1,29-33 // Ap 5,6.14), b) Bom Pastor (Jo 10 // Ap 7,17)), c) Água viva (Jo

7,37-39 // Ap 21,6), etc. Há parentesco com o quarto evangelho, mas parece não ter sido a

mesma pessoa que escreveu o evangelho e o Apocalipse.

data mais provável de sua redação é fixada nos anos 95-96d.C, no auge do Im-

pério de Domiciano (CULLMANN, 1990, p.108), embora alguns biblistas crei-

am que o livro não foi escrito numa única vez, mas por etapas. Assim, talvez, os capítulos 4-

11 seriam dos anos 60 d.C., tempos de Nero e os capítulos 12-22 refletiriam os anos 90, tem-

pos de Domiciano, enquanto que os capítulos 1-3 seriam a parte mais nova, feita quanto tudo

já estava concluído (MESTERS, 2005, p.9-10).

7 – CONCLUSÃO

Bíblia, como hoje existe é uma coleção de 73 livros que se formou em longo

período. Se levarmos em conta a história que perpassa a Bíblia, diríamos que se

iniciou há 1900 ou 1400 a.C. e terminou aproximadamente no ano 100 d.C. Porém, convém

lembrar que a Bíblia não nasceu como livro, mas como tradição de um povo. Muitas de suas

partes existiram por séculos, apenas como tradição. Bem mais tarde estas tradições foram dei-

xadas por escrito para preservá-las em tempos de assimilação cultural no Exílio da babilônia e

logo depois.

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ssim fixamos dois períodos em que os textos bíblicos foram redigidos: Para o

Antigo Testamento, a data em que se começou a registrar as antigas tradições,

não vai além do período do Exílio (580-539 a.C. Pouca coisa do que hoje forma o texto bíbli-

co já estava escrito antes desta data: alguns textos proféticos como Is, Os, Am, etc. e talvez

certos textos avulsos, como Gn 2-3; 4, etc. Mas mesmo o que já existia, recebeu redação e

complementação no Exílio e no Pós-exílio. Para o Novo Testamento, não podemos fixar ne-

nhuma data antes do fim dos anos 40 d.C. As Cartas Paulinas são o início da reação de textos

do NT.

or isto mesmo, quando hoje queremos entender a Bíblia, não podemos esquecer

de que, a Casa da Bíblia tem duas janelas, por onde podemos vislumbrar toda a

casa. A janela que nos permite conhecer o AT, chama-se Exílio e Pós-Exílio. Tudo o que le-

mos no AT, ou foi escrito, ou foi reescrito neste período. Chamamos esta janela PEPE. Por-

tanto, o Exílio e o Pós são as lentes pelas quais lemos todo AT. A janela que nos permite

compreender o NT é o período Pós-pascal, quando os escritores dos livro do NT já tinham

feito a experiência da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Chamamos esta janela de PPP.

janela que nos dá acesso ao conteúdo da Bíblia é muito importante, pois é atra-

vés dela que compreendemos o conteúdo do interior da casa.

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