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FATORES DE RISCO NO TRABALHO DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Taize Muritiba Carneiro1
Norma Carapiá Fagundes2
INTRODUÇÃO: O trabalho em enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é
desenvolvido, no Brasil, em condições peculiares, como ambiente fechado e frio,
presença constante de ruídos dos aparelhos, vivência com vida e morte, complexidade
das tarefas desenvolvidas e tensão nas relações interpessoais. A estas se associam
jornadas de trabalho longas e exaustivas e em turnos diversos, remuneração muitas
vezes incompatível com as necessidades básicas das trabalhadoras, rotinas rígidas,
dentre outras condições determinadas pelo modelo político e econômico adotado pelo
país. As condições para o desenvolvimento do trabalho em enfermagem na UTI
contemplam vários elementos, como os ambientes físico, químico e biológico e, nestes,
os riscos de acidentes. Nesse contexto, a Norma Regulamentadora n.o 91 considera
como riscos ambientais “[...] os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos
ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e
tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador”. De acordo
com essa norma, são riscos físicos os ruídos, as vibrações, as pressões anormais, as
temperaturas extremas, radiações ionizantes e não ionizantes, umidade, vibrações e o
infrassom e ultrassom presentes em maior ou menor intensidade na UTI; riscos
químicos são os medicamentos, como os quimioterápicos, os gases, os compostos ou
produtos que podem penetrar no organismo pela via respiratória, absorvidos pela pele
ou por ingestão; riscos biológicos são fungos, vírus, parasitas, bacilos, protozoários, os
quais estão presentes; há também os riscos de acidentes em decorrência da necessidade
de agilidade diante de algumas tarefas, dentre outras situações, e do perfil do paciente
hospitalizado na UTI. Pesquisa realizada por Nishide e Benatti2 em uma UTI de hospital
universitário concluiu que os riscos nessa unidade estão relacionados aos procedimentos
1Mestre em Enfermagem, enfermeira do Hospital Professor Edgard Santos. [email protected].
2Doutora em Educação, professora do programa de pós-graduação da Escola de Enfermagem da UFBA.
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de assistência aos pacientes e também aos decorrentes do próprio cotidiano do trabalho,
como o transporte de equipamentos para organização do leito, exposição aos materiais
contaminados, pérfuro-cortantes ou não, decorrentes de procedimentos invasivos, dentre
outros. OBJETIVO: Apresentar os fatores de riscos identificados pela equipe de
enfermagem de unidades de terapia intensiva de um hospital universitário. MÉTODO:
O referido estudo foi extraído da dissertação de mestrado Condições de trabalho em
enfermagem na unidade de terapia intensiva, apresentada na Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia. Trata-se de um estudo de caso único, descritivo,
exploratório, com abordagem quantitativa, realizado com base em um questionário
estruturado. A coleta dos dados foi realizada em duas UTI para adultos, identificadas
como UTI-A e UTI-B, de um hospital universitário da cidade de Salvador-BA, após a
aprovação do Projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da
UFBA, Parecer n.o 6/2011, da direção da Organização de saúde escolhida, e a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelas entrevistadas, no
período de 17 de outubro a 05 de novembro de 2011. Os dados coletados foram
inseridos em uma base de dados utilizando o Programa Microsoft Access e
posteriormente analisados pelo software STATA v.8. RESULTADOS: Nas UTI do
hospital lócus do estudo, atuam 89 trabalhadoras em enfermagem, sendo 38
enfermeiras, 25 técnicas e 26 auxiliares de enfermagem. Destas, 20 (63%) profissionais
da UTI-A responderam ao instrumento da pesquisa e 44 (71%) da UTI-B, totalizando
uma amostra de 64 entrevistadas. Ao serem questionadas como consideram a exposição
à radiação, as respostas das trabalhadoras em enfermagem foram discordantes: na UTI-
A, a maior parte das profissionais de enfermagem, 11 (55%), respondeu que é baixa; na
UTI-B, a maioria das respondentes, 23 (54,8%) considerou alta. Devido ao quadro
clínico dos usuários internados em UTI, e com isso a contraindicação de transporte à
unidade de radiologia, os exames de imagem, como Raio X de tórax, são realizados no
próprio leito do paciente através de um aparelho portátil e, em algumas situações, mais
de uma vez ao dia. A trabalhadora de enfermagem sempre acompanha o paciente e o
técnico em radiologia durante a realização do exame. Outro fator de risco para as
trabalhadoras de enfermagem é o biológico, muito presente no hospital, principalmente
nas unidades em que são realizados procedimentos invasivos, como, por exemplo, a
passagem de um cateter em veia central para administração de medicamentos, situação
que ocorre praticamente todos os dias na UTI. Sobre esse risco as entrevistadas das duas
unidades consideraram elevado, 11 (55%) na UTI-A e 36 (81,8%) na UTI-B. O
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conhecimento da equipe de enfermagem sobre esse risco é importante para que a
trabalhadora tenha mais atenção quanto à prevenção de acidentes e a contaminação com
vírus, como o da hepatite C e o da AIDS, principalmente porque esse hospital é
referência no atendimento a pacientes com essas patologias. Quando se perguntou às
profissionais se há exposição a riscos químicos durante a realização das atividades na
unidade, a maioria das entrevistadas nas UTI-A, 17 (85%), e UTI-B, 34 (77,3%),
responderam que sim. Como na UTI é comum a presença de pacientes com septicemia e
com prescrição médica de vários antibióticos, que são preparados e administrados pela
enfermeira, durante esse preparo e administração dos medicamentos há riscos de
inalação de pequenas partículas. Perguntou-se à equipe de enfermagem como é o nível
de ruídos nas unidades e, para a maior parte das profissionais, 13 (65%) na UTI-A e 38
(86,4%), é alto. Todas as unidades de cuidados intensivos possuem equipamentos para
acompanhamento da hemodinâmica dos pacientes. Esses aparelhos emitem sons,
alarmes, também chamados de ruídos tecnológicos. Como a UTI é um setor fechado,
esse barulho a todo momento pode causar prejuízo à realização das atividades por
interferir na concentração, obrigando os profissionais a interromperem o trabalho para
atender ao alarme que, muitas vezes, nada significa; essa interrupção provoca dispersão,
afeta o ritmo de trabalho e provoca maior esforço físico e mental na equipe de trabalho3.
CONCLUSÃO: os resultados encontrados, a partir da avaliação dos questionários
respondidos pelas trabalhadoras evidenciam a existência de riscos elevados ao
adoecimento, com necessidade de implementação de medidas imediatas com o objetivo
de prevenir e ou reduzir agravos à saúde e o bem-estar das trabalhadoras, bem como
àqueles que são a razão da existência da UTI – o paciente e seus familiares. Verifica-se
também a necessidade da promoção da educação permanente no intuito de desenvolver
a consciência do significado de fator de risco, interpretação do mapa de riscos de um
serviço e a partir destes trabalhar com as profissionais a importância do cuidado de si
para prevenir acidentes e adoecimentos relacionados ao trabalho.
DESCRITORES: Enfermagem; Fatores de Risco; Unidades de Terapia Intensiva.
ÁREA TEMÁTICA: Produção Social e Trabalho em Saúde e Enfermagem.
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REFERÊNCIAS:
Brasil, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n.o 9. Estabelece o
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) [internet]. Brasília, 1978. [citado
2010abr.20]. Disponível em: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/05/mtb/9.htm>.
Nishide VM, Benatti MCC. Riscos ocupacionais entre trabalhadores de enfermagem de
uma unidade de terapia intensiva. Rev Esc Enferm USP. 2004; 38(4):406-14.
Oliveira EB, Lisboa MTL. Exposição ao ruído tecnológico em CTI: estratégias coletivas
de defesa dos trabalhadores de enfermagem. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2009; 13(1):
24-30.
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