como interpretar os desenhos das crianças

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Como interpretar os desenhos das crianças Mais de que uma actividade lúdica, fazer e colorir desenhos tem um papel muito importante no desenvolvimento de várias capacidades infantis , mas não só. Um desenho feito por uma criança exprime emoções, opiniões, medos, dúvidas e características da sua personalidade. Não é por acaso que os desenhos são uma ferramenta de trabalho preciosa nas avaliações psicológicas infantis e terapias posteriores. Saiba a que tipo de desenhos deve estar atento. A força de um desenho As crianças privilegiam uma folha de papel branca e lápis de cera para exprimir as suas opiniões, sentimentos e medos – muito mais do que a comunicação verbal. É esta a forma que a pequenada encontra para contar uma história que terá, invariavelmente, representações de cenas e de pessoas da

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Page 1: Como interpretar os desenhos das crianças

Como interpretar os desenhos das crianças

Mais de que uma actividade lúdica, fazer e colorir desenhos tem um papel muito

importante no desenvolvimento de várias capacidades infantis, mas não só. Um desenho

feito por uma criança exprime emoções, opiniões, medos, dúvidas e características da

sua personalidade. Não é por acaso que os desenhos são uma ferramenta de trabalho

preciosa nas avaliações psicológicas infantis e terapias posteriores. Saiba a que tipo de

desenhos deve estar atento.

A força de um desenho

As crianças privilegiam uma folha de papel branca e lápis de cera para exprimir as suas

opiniões, sentimentos e medos – muito mais do que a comunicação verbal. É esta a

forma que a pequenada encontra para contar uma história que terá, invariavelmente,

representações de cenas e de pessoas da sua vida real. Um desenho encerra um sem

número de significados, presentes em pequenos pormenores que podem não ser

imediatamente evidentes, mas que com um olhar mais atento podem revelar algo que

possa estar a afectar a criança de forma negativa.

Page 2: Como interpretar os desenhos das crianças

Meninos vs. Meninas

Quem já teve oportunidade de analisar desenhos criados por meninos e meninas

rapidamente verifica que, na maior parte dos casos, existem diferenças notórias. Por

norma, os desenhos de crianças do sexo masculino estão intimamente ligados à acção e

à força, sendo por consequência mais escuros e até mais agressivos (podem incluir

explosões, armas e monstros, por exemplo); enquanto os desenhos de crianças do sexo

feminino estão mais voltados para a natureza e a serenidade, sendo mais

contemplativos, belos e coloridos (incluem, não raras vezes, o sol, as nuvens, flores e

personagens fantasiosas como fadas, por exemplo).

Como interpretar desenhos

Uma área específica e alvo de estudo intensivo, os desenhos infantis são matéria

privilegiada no campo da psicologia, o que significa que nem os professores ou

educadores de infância estão completamente treinados para decifrar desenhos. Porém,

existem sinais de alerta, presentes nos desenhos das crianças, que podem despertar pais

e professores para situações anormais. Os terapeutas especialistas afirmam que a

interpretação dos desenhos deve ser feita consoante a idade da criança, ou seja, um

desenho todo preto feito por uma criança de 2 anos pode não ter nenhuma conotação

negativa, uma vez que esta ainda não tem uma consciência clara da escolha das cores,

ao invés de uma criança mais velha, com 4 ou 5 anos. No entanto, os psicólogos vão

mais longe nesta matéria e defendem ainda a importância de não avaliar o desenho

isoladamente, mas de considerar, para além da idade da criança, a sua personalidade, o

seu desenvolvimento cognitivo e ainda o seu historial de desenhos. Em adição, há,

naturalmente, o contexto do desenho, ou seja, sugere-se que o adulto fale

frequentemente com a criança sobre aquilo que desenha.

Deve estar atento a:

Cores utilizadas e vivacidade das mesmas

Força ou interrupção do traço

Existência de sombras

Isolamento de determinadas figuras (“fechadas” dentro de um quadrado ou de um

círculo, por exemplo)

Page 3: Como interpretar os desenhos das crianças

Ausência de determinadas figuras ou representação das mesmas numa escala muito

reduzida

Agressividade de determinadas figuras

A criança passa a desenhar, continuadamente, cenários de violência

Desenha repetidamente a mesma figura

Se alguma figura é riscada ou apagada, depois de desenhada

Desenha figuras sem cabeça ou sem rosto

Não consegue desenhar-se a si próprio, numa imagem de família por exemplo

Desenha cenários que não são adequados à sua idade

O que fazer?

Não entre em pânico, nem proíba a criança de desenhar. O desenho tanto pode revelar

algo negativo, como não. Mas, independentemente da conclusão final, é sempre

preferível saber e descobrir atempadamente algo que esteja menos bem na vida da

criança.

Como os adultos nem sempre vêem o que o imaginário das crianças (e a falta de técnica,

compreensível nos mais novos) transpõe para o papel, é essencial manter um diálogo

aberto sobre os desenhos infantis, sem recriminações, apenas muitos “porquês”. Procure

descobrir a “história” por de trás de cada desenho.

Se verificou um ou mais “sinais de alerta” (transcritos na lista acima), é importante

reunir os desenhos mais recentes da criança, para verificar se existe uma recorrência

desse padrão ou não. Se necessário, marque uma reunião com a professora, de forma a

poder também ter acesso aos desenhos efectuados na escola.

Fale com a criança sobre os desenhos em questão, tentando descobrir o que está por de

trás dos mesmos, ou seja, a criança pode ou não dizer-lhe exactamente o que se passa ou

o que se passou, por isso, será necessário estar atento às “entrelinhas”.

Se os desenhos da criança continuarem a alarmá-lo, procure ajuda profissional.

Acima de tudo, não desencoraje a criança de desenhar, esta é uma actividade lúdica,

criativa e educacional, que deve ser praticada continuamente, até porque os seus

benefícios são mais do que muitos.