como interpretar corretamente a bíblia

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COMO INTERPRETAR CORRETAMENTE A BÍBLIA Prof. M.Sc. Hugo Hoffmann [email protected] Lei a e entenda sozinho (a) o maior de todos os livros

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Prof. M.Sc. Hugo Hoffmann

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COMO INTERPRETAR CORRETAMENTE A

BÍBLIA

Prof. M.Sc. Hugo Hoffmann [email protected]

Lei a e entenda sozinho (a) o maior de todos os livros

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SUMÁRIO

POSSO ENTENDER A BÍBLIA SOZINHO (A)? ........................................... 2

I. REVELAÇÃO, INSPIRAÇÃO E ILUMINAÇÃO .......................................... 3

1. Revelação................................................................................................................................................................... 3

Revelação Geral ........................................................................................................................................ 3

Revelação Especial ................................................................................................................................... 6

2. Inspiração .................................................................................................................................................................. 7

I. Modo ..................................................................................................................................................... 8

II. Locus ................................................................................................................................................... 9

III. Extensão ............................................................................................................................................. 9

3. Iluminação ............................................................................................................................................................. 10

II. REGRAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA ............................................ 12

1. Hermenêutica ....................................................................................................................................................... 12

2. Princípios fundamentais para interpretação das Escrituras ....................................................... 13

3. Diretrizes específicas para interpretação das Escrituras.............................................................. 14

I. Texto e tradução ...................................................................................................................................14

II. Contexto histórico ...............................................................................................................................15

III. Análise literária ..................................................................................................................................15

IV. Análise verso a verso .........................................................................................................................24

V. Análise teológica .................................................................................................................................24

VI. Aplicação do verso .............................................................................................................................24

4. Considerações importantes .......................................................................................................................... 25

Página | 2

POSSO ENTENDER A BÍBLIA SOZINHO (A)?

Esta tem sido a dúvida de muitas pessoas. Na Idade Média, a Igreja Católica afirmava

que apenas um sacerdote oficial poderia ler e interpretar a Bíblia para o povo. Por muito

tempo as missas foram proferidas em latim (língua que não era comum ao povo). Graças à

Reforma, cada pessoa pode ter a Bíblia em suas mãos e se maravilhar com o que Yahweh

tem a falar através deste inspirado registro. Todavia, nos dias atuais, com uma imensa

quantidade de igrejas e cada uma delas ensinando (ou manipulando) a Bíblia como bem

entende, um material como este se faz necessário.

Aqui não há compromisso com nenhuma igreja, com nenhum pastor e com nenhum

canal de TV ou patrocinador. O nosso compromisso é com a Bíblia e o Autor dela, por isso

não há ensino de doutrinas, mas somente palavras cujo objetivo é auxiliar sinceros

estudantes das Escrituras a encontrar o verdadeiro sentido do texto bíblico e permanecer

fiel na interpretação do texto sagrado, deixando que a Bíblia fale o que ela deseja falar e não

o que você gostaria de ouvir. A regra é simples: texto sempre dentro do contexto.

O material está dividido em duas partes. Primeiro, estudaremos as diferenças e

peculiaridades existentes entre os conceitos bíblicos de revelação, inspiração e iluminação,

dos quais muitos cristãos desconhecem e, depois, conheceremos algumas regras básicas de

interpretação bíblica que nos fornecerão um método adequado de considerar os textos

bíblicos em nossas leituras, meditações, devocionais e até sermões.

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I. REVELAÇÃO, INSPIRAÇÃO E ILUMINAÇÃO

1. Revelação

As Escrituras, tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento, apresentam um

relato da maneira pela qual Deus Se manifestou na história humana. Sem a revelação divina,

sem o devido conhecimento do verdadeiro caráter e da vontade de Deus, a humanidade

pereceria alienada por causa da culpa e do pecado.

A palavra revelação vem do latim revelare, ou seja, retirar o véu, descobrir algo que

estava oculto. Deus se revela em de palavras e ações, através de muitos diferentes canais,

embora mais plenamente na pessoa de Jesus Cristo. A intenção de Deus é que, através desta

revelação, os seres humanos possam conhecê-Lo e estabelecer com Ele uma relação

salvadora, que trará a vida eterna. Vejamos alguns textos onde o conceito de revelação é

encontrado:

Daniel 2:19-23

Jeremias 47:1

Levíticos 19:1

Hebreus 1:1-2

Apocalipse 1:1

Gênesis 15:1

A revelação de Deus pode ser dividida em duas partes para melhor a

compreendermos: REVELAÇÃO GERAL e REVELAÇÃO ESPECIAL. Iremos abordar cada uma

delas.

Revelação Geral

A revelação geral de Deus também pode ser subdividida em três áreas: mundo

natural, seres humanos e história. Abaixo, consideraremos as principais características de

uma delas.

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A) MUNDO NATURAL

O DNA de uma única célula humana é formado por 6 bilhões de estruturas moleculares

microscópicas (pares de bases: A, T, G, C) e se for esticado alcançaria 2 metros de

comprimento. Isso considerando uma única célula, todavia, nosso corpo possui 10 trilhões

de células. Como o DNA cabe dentro de uma célula invisível a olho a nu? O núcleo onde o

DNA se encontra possui 10 micrômetros de diâmetro. 1 micrômetro é 1 milímetro dividido

por mil. Diante de maravilhosas obras da engenharia molecular e biológica contemplamos a

existência de um Criador. Inclusive, todos os aspectos do Universo em que vivemos são

manifestações da glória e da sabedoria divina.

“Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir.” (Salmos

33:9).

A natureza encontra-se deturpada pelo pecado e da mesma forma que demonstra a

sabedoria e a glória divina, também demonstra decadência, doença, desastre e morte. Por

este motivo, não pode mais ser a única fonte de revelação de Deus. Todavia, quando

estudamos o complexo funcionamento de um DNA ou os finos ajustes do Universo,

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podemos ter uma razoável compreensão que há um Criador, um Projetista Inteligente por

trás de tudo isso, pois o acaso não produz informação.

B) SERES HUMANOS

Mesmo em sua condição caída, os seres humanos carregam as marcas de sua origem

divina. As Escrituras sugerem que os seres humanos possuem um conhecimento intuitivo de

Deus: a consciência e o senso do bem e do mal.

“Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores

atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque, passando e

observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual

está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer

é precisamente aquele que eu vos anuncio.” (Atos 17:22-23).

Os gregos já adoravam a Yahweh, ainda que de forma deturpada e sem muito

conhecimento, antes mesmo de Paulo ir pregar o evangelho em Atenas. Uma escritora cristã

afirma o seguinte sobre o entendimento que Deus tem nos oferecido:

“Nossa posição diante de Deus depende, não da quantidade de luz que temos

recebido, mas do uso que fazemos da que possuímos. Assim, mesmo o pagão

que prefere o direito, na proporção em que lhe é possível distingui-lo, acha-se

em condições mais favoráveis do que os que têm grande luz e professam

servir a Deus, mas desatendem a essa luz e, por sua vida diária, contradizem

sua profissão de fé” (Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações, p. 239).

C) HISTÓRIA

As Escrituras apresentam Deus como o Senhor tanto da natureza quanto da história da

Terra. Os relatos proféticos e históricos da Bíblia sempre retratam Deus como dirigindo os

negócios das nações e julgando-as e a seus governantes.

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“Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. Esta

é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele.

TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. PERES: Dividido foi o teu

reino e dado aos medos e aos persas.” (Daniel 5:25-28).

Revelação Especial

Na condição caída, a humanidade precisava desesperadamente de uma nova revelação

de Deus. Essa revelação necessitava não só restaurar o relacionamento rompido entre Deus

e o ser humano, mas também pusesse todo o Universo novamente em harmonia com Deus.

A revelação especial de Deus é a Bíblia. Na revelação geral Deus Se fez conhecido como

Criador, Mantenedor e Senhor do Universo, na revelação especial Ele Se apresenta de uma

forma pessoal para remir a humanidade do pecado.

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e

vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai. [...] Ninguém jamais viu a

Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” (João 1:14,

18).

Sob impulso e guia do Espírito Santo, os profetas e apóstolos não somente

proclamaram, mas também consignaram por escrito aquilo que Deus lhes revelou. Sob a

mão orientadora da divina providência, os escritos deles foram finalmente reunidos para

formar o Antigo e o Novo Testamento. A revelação especial possui três características:

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É seletiva, pois Deus se comunicou a seres específicos de forma pessoal. É redentiva

porque seu objetivo é promover a redenção do pecador, a quem Deus deseja salvar e

adaptativa porque Deus se fez homem e nos falou através de homens. Deus se adaptou a

nós para nos alcançar.

2. Inspiração

Embora o conceito seja bíblico, a palavra “inspiração” não é porque não aparecem nas

línguas originais.

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a

repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o

homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

(2 Timóteo 3:16-17).

Paulo afirma, no texto acima, que toda Escritura é theopneustos, ou seja, soprada por

Deus. As Escrituras devem sua origem a uma atividade de Deus Espírito Santo, sendo no

mais elevado e mais verdadeiro sentido, criação desse mesmo Espírito.

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A palavra inspiração não é uma tradução precisa de nenhuma palavra grega usada na

Bíblia para descrever o processo pela qual a Escritura chegou à mente humana. Ainda assim,

o termo é apropriado para representar o processo pelo qual o Espírito Santo trabalhou em

seres humanos selecionados por Deus no sentido de movê-los a proclamar as mensagens

recebidas.

“Sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém

de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por

vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus,

movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:20-21).

Visto que essas pessoas (profetas e apóstolos) foram inspirados ou movidos pelo

Espírito Santo, suas falas e seus escritos também são considerados inspirados. Para ser

melhor compreendido o processo da inspiração, é necessário conhecer seus três aspectos:

I. Modo

A iniciativa é inteiramente do Espírito Santo: É Ele quem chama, concede revelações,

move ou inspira.

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“No quarto ano de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá, veio esta palavra do

SENHOR a Jeremias, dizendo: Toma um rolo, um livro, e escreve nele todas as

palavras que te falei contra Israel, contra Judá e contra todas as nações, desde

o dia em que te falei, desde os dias de Josias até hoje.” (Jeremias 36:1-2).

“Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos

fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o

princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra,

igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo

desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição

em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste

instruído.” (Lucas 1:1-4).

A experiência de Jeremias e Lucas demonstra que os profetas e apóstolos não

escreviam seus livros na condição de meros copistas. Embora fossem movidos pelo Espírito

Santo enquanto escreviam, envolviam-se de corpo e alma nesta tarefa.

II. Locus

Quem ou o que é inspirado? Esta pergunta é válida porque no meio cristão adventista

do sétimo dia é erroneamente usado o termo: “pena inspirada”. O locus de atuação do

processo de inspiração foram os seres humanos escolhidos por Deus a quem Ele se revelou e

os moveu a registrar os Seus ensinamentos. “Homens santos falaram da parte de Deus” (2

Pedro 1:21).

III. Extensão

Existem partes da Bíblia mais inspiradas que outras? O quanto das Escrituras é

inspirado? Existem algumas partes destituídas de inspiração? Os escritores bíblicos deixam

claro que suas palavras são as palavras de Deus. As palavras escritas pelos autores bíblicos

são palavras humanas e entendíveis. Por isso a Bíblia é um livro divino-humano. Não há na

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Bíblia nenhuma evidência de trechos mais inspirados que outros. Toda Escritura é inspirada

(2Tm 3:16). Dentro deste contexto, as citações abaixo nos ajudam a compreender melhor o

assunto:

“O Ser infinito, por meio de Seu Santo Espírito, derramou luz no

entendimento e coração dos Seus servos. Deu sonhos e visões, símbolos e

figuras; e aqueles a quem a verdade foi assim revelada concretizaram os

pensamentos em linguagem humana. [...] A Escritura Sagrada, com suas

divinas verdades, expressas em linguagem de homens, apresenta uma união

do divino com o humano. União semelhante existiu na natureza de Cristo, que

era o Filho de Deus e Filho do homem” (Ellen G. White. O Grande Conflito, p.

5-6).

O quadro abaixo nos ajuda a compreender todo o propósito da atuação do Espírito

Santo através do processo de inspiração.

QUEM FOI INSPIRADO QUAL FOI O PRODUTO A QUEM DEVE ALCANÇAR

Escritores bíblicos Revelação Especial Toda humanidade

3. Iluminação

É o processo através do qual o Espírito Santo atua sobre o ser humano, capacitando-o

a compreender a revelação de Deus, inspiradamente registrada. Portanto, a leitura da Bíblia

desacompanhada do Espírito Santo pode ser prejudicial.

“Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não

ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías:

Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos

e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está

endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para

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não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com

o coração, se convertam e sejam por mim curados. Bem-aventurados, porém,

os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem.” (Mateus

13:13-16).

Sendo assim, necessitamos do Espírito Santo para que compreendamos corretamente

a Palavra de Deus. Por isso, a exortação abaixo nos é conveniente:

“Sem a ação do Espírito Santo, porém, estamos continuamente sujeitos a

torcer as Escrituras ou a interpretá-las mal. [...] Quando se abre a Palavra de

Deus sem reverência nem oração [...] a mente fica obscurecida por dúvidas e

ceticismo.” (Ellen G. White. O Grande Conflito, p. 110).

O apóstolo João, ao se referir a Jesus na introdução do evangelho que levou seu nome,

afirma que Jesus é “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina todo homem” (João

1:9). Teologicamente, não nos cabe ser inspirados por Deus, mas ser iluminados para

compreender o texto inspirado. Podemos resumir este assunto no esquema abaixo:

Em muitas igrejas, vários irmãos afirmam ter recebido “uma revelação de Deus”. Não

quero dizer aqui que estas revelações não sejam verdadeiras, não irei fazê-lo, pois não cabe

a mim julgar ninguém. Todavia, devemos analisar a mensagem, pois se procede de Deus não

irá contradizer em nada daquilo que está nas Escrituras. O coração do homem é enganoso

(Jeremias 17:9), portanto, fiquemos com as Escrituras.

REVELAÇÃO

INSPIRAÇÃO

ILUMINAÇÃO

Profetas e Apóstolos

Todos os cristãos

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II. REGRAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

“Nunca se deve estudar a Bíblia sem oração. Somente o Espírito Santo nos

pode fazer compreender a importância das coisas fáceis de se perceberem, ou

impedir-nos de torcer verdades difíceis de serem entendidas” (Ellen G. White.

E Recebereis Poder, p. 114).

Deus concedeu aos profetas uma revelação de Sua pessoa e vontade em declarações

específicas da verdade. Depois inspirou os escritores bíblicos, por meio do Seu Espírito.

Através da inspiração os escritores bíblicos foram movidos pelo Espírito Santo a registrar a

revelação divina como a fidedigna e autorizada Palavra de Deus.

1. Hermenêutica

O processo interpretativo se faz necessário devido ao nosso distanciamento dos

autógrafos bíblicos nos aspectos de tempo, espaço, língua e cultura. O estudo dos princípios

e procedimentos básicos para interpretar a Bíblia de maneira fiel e precisa chama-se

hermenêutica bíblica.

A tarefa dessa disciplina é compreender o que pretenderam comunicar os escritores

humanos e o Autor divino da Escritura, bem como a maneira correta de aplicar a mensagem

bíblica a nós hoje.

“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o

que a seu respeito constava em todas as Escrituras.” (Lucas 24:27).

O texto acima descreve o método que Jesus utilizou para estudar a Bíblia com dois dos

Seus discípulos. A palavra grega traduzida por “expunha-lhes” é e significa

literalmente “interpretava”.

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O objetivo principal de quem interpreta a Bíblia é fazer a aplicação prática de cada

passagem à sua própria vida. Para isso, é necessário compreender que existe diferença entre

o significado e a significância do texto bíblico.

SIGNIFICADO

O significado é obtido ao haver

INTERPRETAÇÃO do que o autor quis

dizer. Cada texto da Bíblia possui apenas

um significado: aquele que o autor quis

dizer inspirado por Deus. Se houver mais

de uma interpretação, uma delas não

condiz com o que o texto, de fato, está

dizendo.

SIGNIFICÂNCIA

A significância do texto bíblico é a

APLICAÇÃO que podemos fazer do texto,

de forma prática, para nossas vidas. O

mesmo texto pode ter mais de uma

aplicação. A significância nunca deve

preceder o significado. Todo texto da

Bíblia tem algo a nos dizer. Deus sempre

tem algo a nos falar.

2. Princípios fundamentais para interpretação das Escrituras

A seguir, destacamos quatro princípios para que o estudante da Palavra de Deus, de

fato, ouça a voz do SENHOR sem os ruídos e contaminações externas.

PRINCÍPIO TEXTO BASE PREMISSA

A Bíblia interpreta a si mesma. Isaías 8:20 A Bíblia é superior e suficiente.

A Palavra de Deus teve escritores humanos, mas seu autor é Yahweh,

nosso Deus.

2 Timóteo 3:16-17

A Bíblia é um livro divino-humano. Ela não tem a Palavra de Deus, ela

é a Palavra de Deus.

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A Bíblia é tanto Antigo como Novo Testamento.

2 Timóteo 3:16-17

As Escrituras podem ser entendidas por todos. Existe uma unidade e

harmonia em toda Bíblia. A Escritura é considerada um todo

inseparável.

A Bíblia não pode ser lida como um livro comum. É necessário discernimento espiritual.

1 Coríntios 2:11, 14

A influência regeneradora e iluminadora do Espírito Santo não é

opcional ao cristão. A vida espiritual do intérprete das

Escrituras precisa estar em sintonia com Deus.

3. Diretrizes específicas para interpretação das Escrituras

Após ter em mente os princípios fundamentais, estas diretrizes auxiliarão o pregador e

o estudante da Palavra de Deus a ter uma compreensão clara do texto bíblico e,

consequentemente, da vontade do SENHOR para sua vida.

I. Texto e tradução

Consultar o texto na língua original.

Consultar o mesmo verso em diferentes traduções.

Exemplo: Mateus 5:17

1. ARA - “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim

revogar, vim para cumprir.”

2. NVI - “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir,

mas cumprir.”

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3. BJ - “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir, mas

dar-lhes pleno cumprimento.”

II. Contexto histórico

Determinar seu significado no ambiente original.

Todo texto tem um contexto.

Epístola de Paulo aos Romanos

1. Onde Paulo estava quando escreveu esta carta?

2. Quando Paulo escreveu esta carta?

3. Porque Paulo escreveu esta carta?

4. Qual era o objetivo desta carta de Paulo?

5. Como era a Igreja Cristã em Roma?

III. Análise literária

É preciso reconhecer o contexto literário do texto.

A Bíblia é um livro repleto de estilos literários.

Estilos literários encontrados nas Escrituras

1. POESIA/SAPIENCIAL: Salmos, Jó, Provérbios, etc.

2. HISTÓRIA/NARRATIVA: Pentateuco, Josué, 1 e 2 Crônicas, Daniel, etc.

3. PROFECIA: Daniel, Apocalipse, Ezequiel, etc.

4. EVANGELHOS: Mateus, Marcos, Lucas e João.

5. EPÍSTOLAS: De Paulo, Pedro, Tiago, etc.

Abaixo, seguem algumas características dos gêneros literários que o estudante e

pregador da Palavra de Deus precisam considerar quando analisam um texto:

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POESIA

Um terço do Antigo Testamento e uma boa parte do Novo Testamento aparecem em

forma poética. Todos os estilos literários usam figuras de linguagem, mas os livros poéticos

as apresentam com maior frequência. Figuras de linguagem são certos recursos não-

convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem.

Para surpresa de muitos, somente sete livros do Antigo Testamento não contém

qualquer poesia: Levítico, Rute, Esdras, Neemias, Ester, Ageu e Malaquias. Apesar da

quantidade de poesia contida na Bíblia, os intérpretes das Escrituras muitas vezes

desconhecem as exigências hermenêuticas especiais da poesia. O paralelismo hebraico

consistia em uma das formas mais comuns de fazer poesia nos tempos bíblicos. O

paralelismo existe quando um verso ou linha possui correspondência com o outro. Existem

três tipos de paralelismo como podemos ver no quadro abaixo:

PARALELISMO

SINÔNIMO

A segunda linha da forma poética repete a ideia da primeira linha sem fazer qualquer adição ou subtração significativa a ela. Ex: Provérbios 1:20; Gênesis 4:23; Lucas 1:46b-47a.

PARALELISMO

ANTITÉTICO

A segunda linha da poesia contrasta ou nega o pensamento e sentido da primeira linha. Ex: Provérbios 10:1; 27:6.

PARALELISMO

SINTÉTICO

Esta não exibe uma rima de pensamento e um paralelismo de ideias, como as outras duas formas de paralelismo. Apesar de as linhas poéticas no paralelismo sintético poderem ser paralelas na forma, elas não estão harmonizadas em pensamento ou ideias como estão as linhas dos dois tipos anteriores. Ex: Salmos 148:7-12.

Adaptado de Walter Kaiser Jr e Moisés Silva em Introdução à hermenêutica bíblica (2009, p. 84-85).

NARRATIVA

Ocupa mais de um terço de toda Bíblia e depende da seleção dos detalhes, da forma

como os acontecimentos são organizados e dos recursos retóricos (retórica = conjunto de

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regras relativas à eloquência; oratória) para determinar os princípios que deseja comunicar.

Os elementos mais importantes da narrativa são a cena, o ponto de vista, o diálogo e os

recursos retóricos como a repetição, a inclusão e o quiasmo. Cada elemento ajuda o

intérprete a compreender da maneira mais adequada qual era o significado e o propósito de

se incluir cada episódio narrado nas Escrituras.

A narrativa em seu sentido mais amplo é um relato de acontecimentos específicos no

tempo e no espaço com participantes cujas histórias são registradas com um começo, meio e

fim. Os principais elementos-chave de uma narrativa estão descritos no quadro abaixo:

A CENA

É a característica mais importante de uma narrativa. A ação da história é dividida em uma sequência de cenas, cada uma apresentando o que aconteceu em um determinado tempo e lugar. O autor usa cenas para concentrar a atenção em um conjunto de ações ou palavras que ele quer que examinemos. Cada cena normalmente não tem mais do que dois personagens. Quando há um grupo presente em uma das cenas, tende a funcionar como um dos personagens. O livro de Gênesis é rico neste detalhe. No capítulo 3, encontramos Deus e Adão. No capítulo 4, Deus e Caim. No capítulo 6, Deus e Noé e no capítulo 12, Deus e Abraão.

O PONTO DE VISTA

As cenas tem um padrão básico, incluindo uma série de relações com um começo, meio e fim. Normalmente, chamamos essa disposição de trama da narrativa. A trama traça o movimento dos incidentes, episódios ou ações de uma narrativa, enquanto normalmente giram em torno de algum tipo de conflito. Em algum ponto na narrativa, o autor traz ao clímax toda a série de episódios das várias cenas, suprindo, desse modo, todo o ponto de vista da história. Esse ponto de vista forma a perspectiva da qual toda a história é contada. A narrativa de 1 Reis 17, por exemplo, apresenta, abruptamente, ao leitor um certo “Elias, o tesbita, dos moradores de Gileade”. Podemos facilmente identificar quatro cenas individuais nesse capítulo:

1. Elias no palácio perante Acabe, o rei israelita (v. 1);

2. Elias sendo alimentado pelos corvos junto à torrente de Querite (v. 2-

7);

3. Elias pedindo à viúva, à porta da cidade de Sarepta, Fenícia, para

alimentá-lo, seguido pelo milagre da multiplicação do azeite e da

farinha (v. 8-16);

4. A morte do filho da viúva na casa da própria viúva e Elias restaurando-o

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à vida com a ajuda de Deus (v. 17-24).

O ponto de vista do narrador, em 1 Reis 17, era demonstrar que a Palavra de Deus era digna de confiança em cada uma das circunstâncias da vida descritas nas quatro cenas.

DIÁLOGO

O terceiro elemento principal da narrativa bíblica é o diálogo. O tema da passagem, que o ponto de vista expressa, é geralmente transportado juntamente com seu movimento progressivo pelo diálogo. Existe duas regras úteis que alertam os intérpretes para a significância desse movimento do diálogo:

1. O lugar em que o diálogo é primeiramente introduzido será um

importante momento na revelação do caráter de seu locutor – talvez

mais na maneira do que na substância daquilo que é dito.

2. Observe onde o narrador escolheu introduzir o diálogo em vez da

narração. O ritmo especial do mover-se entre o diálogo e a narrativa,

enquanto se centraliza em alguma troca verbal direta entre os

personagens, ajudará a observar a sua relação com Deus e entre si.

Raramente um narrador inicia uma narração diretamente – como, por exemplo, para dar a moral da história. Mas o narrador, com grande frequência, faz um discurso resumido em uma conjuntura particularmente crítica na narrativa.

O RECURSO RETÓRICO

É comum narradores bíblicos utilizarem certos recursos retóricos que aparecem também em outros tipos de prosa (modo natural de falar ou escrever) e na poesia. Três importantes recursos retóricos são:

REPETIÇÃO: É um dos recursos retóricos favoritos na narrativa

hebraica. A repetição de palavras era especialmente significativa. Em

muitos casos, o autor usava palavras repetidas ou até mesmo

sentenças para expressar certa ênfase, sentido ou desenvolvimento do

texto. Ex: “Que fazes aqui, Elias?” (1Rs 19:9). “Disse-lhe o capitão:

Homem de Deus” (2Rs 1:9).

INCLUSÃO: É uma forma de repetição. A inclusão se refere a uma

repetição que marca o início e o fim de uma seção, colocando entre

parênteses ou cercando o material assinalado. Em Êxodo 6:13 e 26-27,

a inclusão nos ajuda a manter o foco sobre o fato de que o chamado e

os dons de Deus para a liderança tinha muito pouco a ver com herança,

habilidades naturais ou linhagem humana.

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QUIASMO

Trata-se de um recurso retórico no qual há o cruzamento, ou inversão, dos elementos relacionados em construções paralelas. Os quiasmos podem envolver a inversão de qualquer coisa desde palavras ou cláusulas em duas linhas paralelas de poesia até uma série de diálogos ou mesmo uma série de capítulos de narração. É mais fácil identificar os quiasmos onde as mesmas palavras, cláusulas ou expressões encontram-se invertidas. Um exemplo claro pode ser percebido em Isaías 11:13:

a b c

“Efraim não invejará a Judá,

c b a

e Judá não oprimirá a Efraim.”

Outro tipo de quiasmo vai além do paralelismo simples visto no exemplo acima. Existe também em capítulos, seções, e algumas vezes até mesmo em livros inteiros da Bíblia. Longe de ser meramente um ornamento superficial decorativo, o quiasmo é uma das convenções mais artísticas usadas nas narrativas bíblicas. Como tal, pode ser uma chave para detectar os alvos do autor, pois o acontecimento ou ideia principal aparece tipicamente no ápice – ou seja, no meio da história. Uma clara ilustração de quiasmo em uso numa seção de um livro bíblico pode ser vista na seguinte análise de Daniel, capítulo 1 a 7:

Introdução: Daniel 1

A. Daniel 2: Quatro impérios gentios no mundo.

B. Daniel 3: Perseguição dos gentios sobre Israel.

C. Daniel 4: Providência divina sobre os gentios.

C. Daniel 5: Providência divina sobre os gentios.

B. Daniel 6: Perseguição dos gentios sobre Israel.

A. Daniel 7: Quatro impérios gentios no mundo.

De acordo com essa estrutura quiástica, portanto, o centro dos primeiros sete capítulos surge em Daniel 4 e 5. Daniel 4 foi a palavra final de Deus proferida a Nabucodonosor, e Daniel 5 foi a palavra final de Deus proferida a Belsazar. Para todos os intentos e propósitos, esses dois reis consistiam na monarquia inicial e concludente da dinastia babilônica. Como tal, contribuíram tanto para encorajar como para alertar (ou seja, uma mensagem de advertência) todas as nações do mundo. Daniel foi escrito em dois idiomas, hebraico (8-12) e aramaico (2-7). O aramaico era a língua popular daqueles dias (como o inglês atualmente).

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PROFECIA

Uma surpreende porção da Bíblia (27%) trata de previsões acerca do futuro.

Estudiosos calculam que existam 8.352 (AT = 6.641; NT = 1.711) versículos que contem

algum tipo de previsão, de um total de 31.124 (AT = 23.210; NT = 7.914) versículos em toda

Bíblia. Os únicos livros que não possuem previsões no Antigo Testamento são Rute e

Cantares e, no Novo Testamento, apenas 3 João. Os livros do Antigo Testamento com a mais

alta porcentagem de profecias acerca do futuro são Ezequiel (65%), Jeremias (60%) e Isaías

(59%), do seu total de versículos. No Novo Testamento, os três primeiros são Apocalipse

(63%), Mateus (26%) e Lucas (23%).

Talvez por isso muitos relacionam a palavra profecia a ideia de futurologia. Mas em sua

grande parte, tanto a profecia dos profetas mais antigos (Pentateuco, Josué, Juízes, Samuel e

Reis), quanto dos profetas mais recentes (Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e os doze

menores) e dos profetas do Novo Testamento, na verdade envolve os mensageiros de Deus

na proclamação da Palavra do SENHOR para a cultura contemporânea que precisava ser

transformada de modo a deixar de resistir ao Espírito Santo. As profecias bíblicas tem o seu

próprio conjunto de características e aspectos que as distingue de qualquer imitação:

1. A profecia bíblica prevê de maneira clara as coisas que estão por vir, sem

envolve-las em ambiguidades como faziam os oráculos das nações pagãs.

2. A profecia bíblica é destinada e pretendida para ser uma previsão e não uma

declaração retrospectiva, uma profecia não intencional, ou uma adivinhação

que por um acaso acabou acontecendo.

3. Ela é escrita, publicada ou proclamada antes da ocorrência da eventualidade e

é um acontecimento que não poderia ter sido previsto pela simples sagacidade

humana.

4. Ela é cumprida, subsequentemente, de acordo com as palavras da previsão

original.

5. Ela não causa o seu próprio cumprimento, mas mantém-se como testemunha

até que o acontecimento tenha ocorrido.

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6. Uma profecia bíblica não é uma previsão isolada, mas pode estar relacionada a

outras profecias e, como tal, torna-se parte de uma longa série de previsões.

As profecias da Bíblia podem ser classificadas, tomando-se como base o seu

cumprimento. Como podemos observar nos três tipos abaixo:

PROFECIA INCONDICIONAL

A lista de profecias deste tipo não é muito longa, mas elas ocupam algumas das posições mais cruciais na história da redenção. Essas promessas são unilaterais no sentido de que não dependem de forma alguma da obediência ou do comprometimento humano para que venha a se cumprir. Ex: Gn 8:21-22; 2Sm 7:8-16; Jr 31:31-34; Is 65:17-19; 66:22-24.

PROFECIA CONDICIONAL

A maior parte das profecias do Antigo Testamento é condicional. Quase todas essas previsões estão baseadas em Levítico 26 ou Deuteronômio 28-32. Esses dois textos enumeram as consequências específicas que resultam da obediência ou desobediência à Palavra de Deus. Os dezesseis profetas literários do Antigo Testamento citam ou fazem alusão a esses dois textos centenas de vezes. A característica mais marcante dessas profecias é de que cada uma tem um “se” ou um “a menos que”, quer ele apareça de forma explícita ou, como mais frequente, implicitamente. Jeremias 18:7-10 identifica explicitamente o aspecto condicional que muitas vezes aparece implícito, ao colocá-lo na forma de um princípio geral.

PROFECIA SEQUENCIAL

As previsões contidas nessas profecias colocam vários eventos juntos em uma única previsão, mesmo que venham a ser cumpridos numa sequência e numa série de acontecimentos que podem se estender ao longo de vários séculos. Ex: Os 4 reinos de Daniel 2 que aparecem em Daniel 7 com mais detalhes.

EVANGELHO

A primeira questão da qual precisamos tratar no estudo dos evangelhos está associada

à sua historicidade. Apesar de não ser incomum os estudiosos argumentarem que as

narrativas dos evangelhos não são confiáveis, não podemos, de fato, preservar a mensagem

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do Novo Testamento se minimizarmos seu fundamento histórico. Ainda assim, os

evangelhos não foram escritos apenas para comunicar informações factuais e nem foram

criados de acordo com os métodos e expectativas da narrativa histórica moderna. Os

autores foram bastante seletivos quanto ao material que escolheram incluir (João 21:25) e,

além disso, apresentaram-no de modo que refletisse sua própria (inspirada) interpretação e

aplicação dos fatos. Eles escreveram tanto na condição de historiadores como na condição

de teólogos.

Para interpretação dos evangelhos é de especial importância o papel desempenhado

pelas parábolas nos ensinamentos de Jesus. Apesar de estas histórias terem como intenção

instruir o povo em termos claros e concretos, elas também atuavam como um instrumento

de julgamento, pois endureciam o coração dos desobedientes (Mt 13:15). Além do mais,

uma compreensão correta das parábolas exige que prestemos muita atenção em seu cenário

histórico; se observarmos os detalhes culturais, provavelmente compreenderemos sua

mensagem. Por fim, precisamos levar em consideração o contexto literário das parábolas,

pois os escritores dos evangelhos não estavam interessados apenas no papel de uma

parábola durante o ministério de Jesus, mas também em como ela se aplicava à igreja cristã.

Ex: As parábolas de Mateus 25 demonstram como o cristão deve aguardar a volta de Jesus.

EPÍSTOLA

Nossa tendência é ler as epístolas como se fossem livros de referência que são

consultados através da leitura de um trecho de cada vez, isso certamente distorce nossa

percepção da mensagem. Devemos ler cada carta do Novo Testamento integralmente para

compreenda-la corretamente. Estes escritos surgiram em ocasiões históricas reais e isso

significa que devemos aprender a ler nas entrelinhas de modo a entender o texto dentro do

seu contexto original.

Entre as terríveis deturpações surgidas com a leitura isolada de trechos das epístolas,

temos o uso de 1 Timóteo 4:4-5 para “provar” que o consumo das carnes imundas de

Levítico 11 passou a ser permitido no Novo Testamento, quando Paulo estava se referindo,

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na verdade, à carnes sacrificadas aos ídolos, pois este era o contexto histórico da época.

Paulo escreveu as duas cartas a Timóteo pouco antes de seu martírio, em 66 d.C., portanto,

1 e 2 Timóteo e Tito contém instruções especiais para jovens pregadores do evangelho. A

mãe de Timóteo era judia e o seu pai era grego (At 16:1). Foi sua mãe que o instruiu no

Antigo Testamento (2 Tm 1:5) onde Deus ensina o que deve ou não servir de alimento

humano (Levítico 11).

Foi justamente Paulo, escrevendo justamente a Timóteo (3:16) que disse que toda

Escritura é inspirada por Deus, ou seja, Deus é o Autor primário. Só que, quando Timóteo

recebeu as cartas de Paulo a única “Escritura” que havia, até então, era o Antigo Testamento

(o novo ainda seria formado após algumas décadas), reforçando a impossibilidade de Paulo

dizer algo contrário às Escrituras. Quando Timóteo recebeu as cartas de Paulo estava em

Éfeso. Nesta cidade havia uma das sete maravilhas do mundo antigo: o templo de Ártemis.

O culto a esta deusa (Diana para os romanos) era famoso na antiguidade e dez desta

cidade um lugar muito visitado por pessoas do mundo todo. É conhecido de todos que

diversas adorações pagãs do tempo de Paulo envolviam o sacrifício de animais e a carne

destes sacrifícios poderia ser consumida pelos cristãos, com algumas ressalvas (1 Coríntios

8:1-13).

Infelizmente, muitos se esquecem da veemente admoestação de Pedro sobre a leitura

de trechos isolados das cartas de Paulo:

“Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como

também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus

lhe deu. Ele [Paulo] escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando

nelas destes assuntos [salvação pela graça]. Suas cartas contêm algumas

coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem [texto

fora do contexto], como também o fazem com as demais Escrituras, para a

própria destruição.” (2 Pedro 3:15-16).

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IV. Análise verso a verso

Devemos buscar o significado simples e direto.

Versos difíceis são entendidos à luz dos fáceis.

Tipos de traduções:

1. Traduções Mecânicas: É a tradução, tanto quanto possível, mais próxima

ao original, ainda que não soe bem em nossa língua (ARA).

2. Traduções Dinâmicas: É a tradução palavra por palavra, está preocupada

mais com o sentido das frases (NVI e NTLH).

3. Traduções Livres: São paráfrases do texto bíblico e se preocupam apenas

em conservar as ideias originais (VLH e A MENSAGEM).

V. Análise teológica

1. Buscar o significado teológico do texto.

2. Ler o livro inteiro para entender o verso.

3. Determinar a perícope: começo e fim do assunto (Isaías 53).

4. Estudos temáticos (ex: pecado, salvação, santuário, sábado, etc.).

5. Nunca esquecer que o tema central das Escrituras é Jesus Cristo.

VI. Aplicação do verso

1. Todo verso das Escrituras tem algo a nos falar (humildade de coração).

2. Os ensinamentos bíblicos são atemporais.

3. A Bíblia não está presa a uma cultura.

4. O conhecimento bíblico deve promover mudança.

5. Não confundir aquilo que a Bíblia relata com aquilo que ela aprova.

6. Levar em consideração as expressões idiomáticas existentes.

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4. Considerações importantes

1. O cristão deve ser um profundo conhecedor das Escrituras.

Texto base: 2 Timóteo 2:15

2. O Espírito Santo deve ser o nosso maior professor das Escrituras.

Texto base: João 14:26

3. Precisamos aprender o certo para ensinarmos o verdadeiro.

Texto base: Atos 8:30-31