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Como é que insucessos foram transformados em sucessos? Mestrado Integrado em Engenharia Civil 2013/2014 Comportamento estrutural da Torre de Pisa e da Ponte Milénio Armando Sousa Francisco Piqueiro Equipa: Supervisor: Xavier Romão Monitor: Catarina Sá Machado Estudantes & Autores: Ana Barbosa ([email protected]) Pedro Santos ([email protected]) Diogo Silva ([email protected]) João Pimentel ( [email protected]) Diogo Rodrigues ([email protected])

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Como é que insucessos foram transformados em sucessos?

Mestrado Integrado em Engenharia Civil

2013/2014

Comportamento estrutural da Torre de Pisa e da Ponte

Milénio

Armando Sousa Francisco Piqueiro

Equipa:

Supervisor: Xavier Romão Monitor: Catarina Sá Machado

Estudantes & Autores:

Ana Barbosa ([email protected]) Pedro Santos ([email protected])

Diogo Silva ([email protected]) João Pimentel ( [email protected])

Diogo Rodrigues ([email protected])

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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Resumo: O tema do nosso trabalho no Projeto FEUP é “Como insucessos se transformaram em

sucessos?” e o subtema é “O comportamento estrutural da Torre de Pisa e da Ponte

Milénio.”. Durante este trabalho vão encontrar informações acerca da história da

construção de ambas as estruturas, a sua importância socioeconómica bem como os

problemas técnicos que sucederam a sua construção e as soluções para a sua resolução.

Na Torre de pisa o grande problema na sua construção foi o facto de esta ter sido

construída sobre um subsolo relativamente deformável para as suas dimensões, ou seja, o

subsolo não tinha condições para suportar o peso da construção sem que este sofresse a

alteração que sofreu.

Na Ponte Milénio o grande problema foi a falta de um mapeamento adequado da

resistência do material da ponte consoante as condições externas, como o peso colocado

em cima dela e as suas vibrações.

Concluindo, ainda é possível encontrar, neste trabalho, pequenas reflexões pessoais acerca

do problema que se sucedeu e da solução que para ele foi encontrada.

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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Índice Resumo:......................................................................................................................................... 2

Introdução ..................................................................................................................................... 4

2. Torre de pisa .............................................................................................................................. 5

2.1 Descrição Técnica da Torre de pisa ................................................................................. 5

2.2 Razão da construção da Torre de Pisa ............................................................................ 5

2.3 Contexto histórico da Torre de Pisa ................................................................................ 5

2.4 Problema técnico da Torre de Pisa.................................................................................. 6

2.5 Solução desenvolvida para o problema técnico da Torre de Pisa ................................... 7

2.6 Relevância socioeconómica da Torre de Pisa .................................................................. 8

3. Ponte de Milénio ................................................................................................................. 10

3.1 Descrição Técnica da Ponte de Milénio ........................................................................ 10

3.2 Contexto Histórico da Ponte Milénio ............................................................................ 10

3.3 Problema Técnico da Ponte Milénio ............................................................................. 11

3.4 Solução desenvolvida para o problema técnico da Ponte Milénio ............................... 12

3.5 Relevância socioeconómica da Ponte Milénio .............................................................. 13

4. Conclusão ............................................................................................................................ 14

5. Referências bibliográficas: .................................................................................................. 15

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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Introdução O objetivo deste trabalho é a realização de uma abordagem técnica e pormenorizada

acerca de duas grandes construções mundiais, a Ponte Milénio e a Torre de Pisa. Com esta

abordagem pretende-se compreender os erros técnicos da sua construção e as soluções

desenvolvidas para os resolver, bem como as consequências da ocorrência dos problemas.

Concluindo, a realização deste relatório permite-nos analisar situações que mesmo sendo

insucessos a nível técnico podem, tornar-se grandes sucessos a nível cultural e económico.

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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2. Torre de pisa

2.1 Descrição Técnica da Torre de pisa Dimensões e geometria:

Altura: 55 metros

Peso: 14.700 toneladas

Angulo de inclinação: 3.97 graus

Espessura das paredes da base: 2.4 metros

Diâmetro exterior da base: 15.484 metros

Diâmetro interior da base: 7.368 metros

Número total de sinos: sete

Número de degraus até ao topo: 296

Materiais utilizados na construção:

O material utilizado na construção da Torre de Pisa foi o mármore branco. Nas obras

de reconstrução foi também utilizado betão armado.

2.2 Razão da construção da Torre de Pisa A Torre de Pisa foi projetada para abrigar os sinos da catedral de Pisa, ou seja, para servir

como o seu campanário.

2.3 Contexto histórico da Torre de Pisa A construção da Torre de Pisa foi realizada em três fases.

1ª Fase:

Construção do primeiro andar começou no dia 9 de Agosto de 1173, devido

a um período de sucesso militar e prosperidade.

A Torre começou a inclinar-se após a progressão de construção para o

terceiro andar em 1178.

A construção foi paralisada dado que os habitantes de Pisa estavam

continuamente envolvidos em batalhas.

Este tempo permitiu que o solo subjacente se ajustasse.

2ª Fase:

Em 1272 a construção foi reiniciada por Giovanni Di Simone.

Os engenheiros construíram andares com um lado mais alto do que o outro

de modo a compensar a inclinação. A Torre começou a inclinar-se na

direção oposta tornando assim a Torre realmente curva.

A construção foi interrompida novamente em 1284, quando os Pisanos

foram derrotados pelos Genoveses, na Batalha de Meloria.

3ªFase:

O sétimo andar foi construído em 1319.

A sino-câmara acabou por não ser adicionada até meados de 1372 e foi

construída por Tommaso di Andrea Pisano.

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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2.4 Problema técnico da Torre de Pisa A ideia relativa à inclinação da Torre começou por ser que, apos a progressão da

construção do terceiro andar devido a uma fundação de alguns metros sobre um subsolo

fraco e instável a torre começou a inclinar-se ligeiramente para sul. No entanto, após

campanhas de caracterização geotécnica realizadas no local ao longo do séc. XX, não foram

encontradas provas sobre o facto de inclinação progressiva da Torre para sul estar

associada à heterogeneidade do terreno de fundação, isto é, a piores características

mecânicas do terreno nesse lado.

A inclinação progressiva da Torre pode ser explicada pelo fenómeno designado na

bibliografia de língua inglesa por “leaning instability”, que pode afetar estruturas que

combinam terrenos de fundação relativamente deformáveis com valores elevados da

razão da altura do centro de gravidade acima da fundação pelas dimensões desta em

planta.

Para uma estrutura nas condições mencionadas, uma incipiente inclinação (motivada por

uma eventual, ainda que reduzida e transitória, assimetria no carregamento ou por uma

muito pequena heterogeneidade do solo) vai produzir um momento derrubador que o

terreno de fundação tem dificuldade em equilibrar sem ocorrer uma certa deformação.

Esta permite o aumento da inclinação que, por seu turno, induz o aumento do momento,

gerando um fenómeno de inclinação continua e de taxa crescente. Dado o dilatado período

temporal ao longo do qual este fenómeno se desenvolveu no caso da Torre de Pisa, as

deformações processadas nos últimos séculos podem ser associadas á fluência

(consolidação secundária).

Sendo assim, a taxa crescente da inclinação ao longo do século XX constituía um forte

indício de que o colapso da torre acabaria por desencadear-se a menos que se realizassem

obras de estabilização.

Ora um dos aspetos que poderia ter sido acautelado no projeto inicial era a escolha do

local, pois se as pessoas que projetaram a obra tivessem escolhido um local mais estável,

muito provavelmente a Torre não teria os problemas estruturais existentes. Outro aspeto

que também poderia ser acautelado era o peso da estrutura (cerca de 14 500 toneladas).

Este peso excessivo contribuiu também para a inclinação da Torre, com a agravante de se

encontrar sobre solos instáveis.

Contudo, na época em que foi construída a Torre, os profissionais da construção tinham

muitas poucas ferramentas para elaborem um estudo geotécnico intensivo, entre outros

estudos fundamentais para a utilização de obras com altura elevada.

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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2.5 Solução desenvolvida para o problema técnico da Torre de Pisa

As obras de estabilização da inclinação sucessiva da Torre foram várias.

Durante a sua construção:

Na segunda fase, os construtores tentaram corrigir o desvio vertical ao

longo dos três pisos seguintes através de colocação de mais blocos na

alvenaria do lado sul.

O mesmo ocorreu durante a terceira fase de construção, conferindo à

Torre um perfil de “banana” com a concavidade virada para norte.

No verão de 1992 foram instalados cordões de aço, ligeiramente pré-esforçados,

cintando a alvenaria não tornando segundo nível. Esta medida visou prevenir uma

rotura por compressão do anel exterior da alvenaria.

Ente maio de 1993 e janeiro de 1994, foi aplicado um contrapeso de 600 ton do

lado norte da fundação. Construiu-se um anel de betão armado envolvendo a

fundação da torre, sobre o qual foram gradualmente colocados blocos de chumbo

do lado norte (ver Fig.1).

Por último, foi utilizada a técnica de sub-escavação, que consiste na remoção

localizada e progressiva de solo do interior de furos inclinados de pequeno

diâmetro realizados a partir da superfície do terreno (ver Fig.2). Os furos de onde é

retirado o terreno acabam por fechar, induzindo um assentamento suave e

controlado da superfície.

Fig. 1- Colocação do anel de betão armado na Torre

Fig.2- Técnica de sub-escavação utilizada na Torre

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2.6 Relevância socioeconómica da Torre de Pisa

Galileu Galilei, segundo uma tradição, deixou cair duas balas de canhão de massas

diferentes do cimo da torre para demonstrar que a sua velocidade da descida era

independente da sua massa (ver Fig.3).

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados descobriram que os nazis estavam a

usar a torre como um posto de observação. Logo o destino da torre foi confiado ao

Exército dos Estados Unidos, mas sua decisão de não recorrer a um ataque de

artilharia salvou assim a torre da destruição.

Em 27 de fevereiro de 1964, o governo da Itália solicitou ajuda para impedir a

queda da torre. Foi, no entanto, considerado importante manter a inclinação,

devido ao papel vital que este elemento desempenhou na promoção do turismo de

Pisa ( Ver Fig.4).

Fig.3- Experiência de Galileu na Torre

Fig.4- Turistas junto da Torre de Pisa

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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Em 1987 a torre foi declarada como parte da Piazza del Duomo e Património

Mundial da UNESCO, juntamente com a catedral vizinha, o batistério e o cemitério

(ver Fig.5).

Devido à estranha inclinação da Torre de Pisa, muitas são as culturas que tentam

construir edificações com o mesmo tipo de estrutura, nomeadamente a Alemanha

com a Torre inclinada de Suurhusen e a Torre sineira do século XIV,

nasproximidades da cidade de Bad Frankenhausen (ver Fig.6).

Fig.5- Torre de Pisa

Fig.6- Torre de Pisa e Torre de Suurhusen

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3. Ponte de Milénio

3.1 Descrição Técnica da Ponte de Milénio Com 320 metros de comprimento, apresenta um vão central livre de 144 metros entre os

dois pilares elípticos de concreto, fundidos no local. Neles estão fixados os braços de aço

que suportam os cabos de sustentação da ponte.

Esta é uma ponte suspensa, por 8 cabos de aço de 120 mm de diâmetro.

Devido ao perfil da ponte, estes cabos passam por cima dela nos braços fixados no topo

dos pilares, e 2,30 metros abaixo no vão central estando ancorados às margens por

contrafortes de concreto. Os braços elaborados de aço têm 8 metros de distância entre

eles.

A plataforma é construída em setores pré-fabricados de alumínio extrudado,

perpendiculares ao trânsito de pedestres e tem 4 metros de largura. Estes extrudados,

estão unidos entre sim por um sistema de encaixe tipo macho / fêmea, para aumentar a

rigidez do conjunto.

O fechamento lateral da ponte de 1,20 m de altura, está feita com cabos de aço de 6 mm de

diâmetro, sem emendas no comprimento total da ponte. Os corrimãos são tubos

arredondados de aço inox, formados por pressão.

3.2 Contexto Histórico da Ponte Milénio

O projeto da ponte foi objeto de um concurso organizado em 1996 pelo Conselho

Southwark e RIBA Competições.

A construção da ponte começou em 1998.

Inaugurada oficialmente em 10 de junho de 2000.

Devido a problemas de vibração lateral a ponte encerrou a 12 de Junho de 2000.

Reabriu em 2002.

A ponte foi fechada temporariamente em 18 de janeiro de 2007, durante a

tempestade Kyrill devido a ventos fortes.

Fig.7- Ponte Milénio

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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3.3 Problema Técnico da Ponte Milénio

Os movimentos da ponte foram causados por um fenómeno conhecido por ampliação

dinâmica. O movimento das pessoas a pé causa pequenas oscilações laterais na ponte. No

entanto o movimento contínuo de centenas de pessoas a andar ou a correr sobre a ponte

provocou uma intensificação da amplitude da vibração da ponte. Essa intensificação é

tanto mais quanto mais próximo estiver a frequência da vibração dos movimentos das

pessoas da frequência de vibração lateral da ponte (fenómeno da ressonância). No dia da

abertura da ponte, esta foi atravessada por 90.000 pessoas, sendo a combinação das

elevadas cargas verticais que circulavam sobre a ponte com as suas características

dinâmicas provocou o fenómeno de ressonância dinâmica que levou assim a um aumento

de movimento lateral da ponte, dado que esta não estava estruturada para aguentar com

grandes massas em movimento (ver Fig.8).

Fig.8- Construção da Ponte

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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3.4 Solução desenvolvida para o problema técnico da Ponte Milénio

Após o encerramento da ponte vários engenheiros investigaram e estudaram formas de

diminuir as oscilações tão acentuadas na ponte. O problema foi corrigido pela colocação

de:

37 Amortecedores viscosos que permitissem dissipar a energia das vibrações e

assim controlar o movimento horizontal.

52 Amortecedores de massa sintonizada controlam que as pequenas oscilações do

movimento vertical de modo a que não sejam sentidas.

Ambas as soluções foram bastante inovadoras para este tipo de construção. Nesta

construção, ao serem utilizados cabos de aço para suportar a estrutura da ponte

tornar mais leve e vulnerável aos movimentos horizontais e verticais. Ao utilizar os

amortecedores, as oscilações diminuem dado que estes vão estabilizar as vibrações

dos cabos (ver Fig.9).

Fig.9- Construção da ponte

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3.5 Relevância socioeconómica da Ponte Milénio A construção da Ponte facilitou o deslocamento da população dentro da área urbana (ver

Fig.11) e permitiu, com a sua inovadora estética, uma requalificação paisagística (ver

Fig.10).

Devido à história da sua falha construtiva e da sua estética atraiu uma maior procura

turística, bem como especialistas em áreas de construção e materiais constituintes da

Ponte para estudo, aumentado assim o reconhecimento cultural do país.

Fig.10- Entrada da Ponte Milénio

Fig.11- Pessoas a utilizar a Ponte como forma de travessia

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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4. Conclusão

Através da realização deste trabalho adquirimos conhecimento acerca de alguns aspetos

básicos acerca da construção de grandes infraestruturas, desde a forma de como as

diversas partes de uma construção devem estar interligadas até à importância do estudo

do meio onde se vai realizar a construção e as condições externas a que esta vai ser

imposta.

Em suma, tomamos ainda consciência de que por vezes apesar da falha na realização de

qualquer projeto este ainda se pode revelar útil pois a sua falha pode revelar-se uma

atração original e um símbolo histórico.

Como insucessos se transformaram em sucessos?

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5. Referências bibliográficas:

http://www.metalica.com.br/millenium-bridge-a-nova-ponte-de-londres

(consultado em 8/10/2013)

http://siteresources.worldbank.org/INTLAC/Resources/257803-

1351801841279/RodolfoCostaeSilva_.pdf (consultado em 8/10/2013)

http://en.wikipedia.org/wiki/Millennium_Bridge,_London (consultado em

16/10/2013)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Pisa (consultado em 16/10/2013)

http://veja.abril.com.br/190706/entrevista.html (consultado em 16/10/2013)

http://bethccruz.blogspot.pt/2008/11/capital-gate-dubai-mais-um-guiness-

book.html (consultado em 17/20/2013)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pisa_experiment.png (consultado em

17/10/2013)

Matos Fernandes, M. Mecânica dos solos, Volume 1. Edições FEUP (consultado em

24/10/2013)

http://vidaeestilo.terra.com.br/turismo/conheca-30-pontes-que-sao-cartoes-

postais-pelo-mundo,2cea392625237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html

(24/10/2013)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Millennium_Bridge(29/10/2013)

http://www.metalica.com.br/millenium-bridge-vento-e-etapas-da-construcao(29/10/2013)