como formar rede de escolas solidárias

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  • 8/14/2019 Como formar rede de escolas solidrias

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    Rev. FAE, Curiti ba, v.6, n.2, p.125-136, maio/dez. 2003 | 125

    Revista daFAE

    Como formar rede de escolas sol idrias

    Helosa Lck*

    Resumo

    A parceria, a formao de redes, o intercmbio e a troca de experinciasentre escolas so considerados como condio fundamental para querealizem o seu t rabalho educacional. Esse processo colocado no contextode uma prtica milenar: a da solidariedade, sem a qual as redes de parceriasse transformam em meros negcios, ou em formalidades vazias designificado educativo e transformador. De modo a contribuir para oentendimento de possibil idades e atuao sobre tal condio, analisam-se

    aqui as perspect ivas e demandas para a formao de redes, no contextode um mundo em transformao; ademais, o artigo visa mostrar o sentidode solidariedade e suas implicaes quanto educao e s parceriaseducacionais, assim como pressupostos, princpios e estratgias orientadoresdo estabelecimento dessas redes e os fundamentos e prticas dasolidariedade como um conceito fundamental para orientar a vida humana.

    Palavras-chave: formao de redes; escolas solidrias; solidariedade.

    Abstract

    Partnership, network gathering, changing and exchanging experiencesamong schools are considered basic condit ions to fulf il t he educationaltask. This process is placed in a millenarian practical context: the solidarity,without which network partnerships become mere businesses, or an emptyformality that lacks educational meaning. Adding to the understandingof the possibil it ies and action under t hese condit ions, perspect ives anddemands in network gathering are analysed in an ever changing w orld; itis analysed the solidarity feeling and its implications in education andeducational partnerships, as well as presuppose, principles and strategiesorientating establishments in networks, its fundaments, solidarit y practicesas a main concept to guide human beings lives.

    Key-words: network gathering; solidarit y schools; solidarity.

    * Doutora em Educao pelaColumbia University e DiretoraEducacional do Centro deDesenvolvimento HumanoAplicado (CEDHAP).E-mail: [email protected]

    Um galo sozinho no tece a manh:

    Ele precisa

    Sempre de outros galos...

    Para que a manh se v tecendo,

    desde uma teia tnue,

    entre todos os galos .

    (Cantiga popular Cear)

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    Introduo

    As escolas e os profissionais da educaoenfrentam, a cada dia, novos e mais instigantesdesafios para envolver seus alunos em experinciaseducacionais significativas sua formao. Osprojetos educacionais delineados nas escolas,respondendo aos desafios e s demandas de umasociedade que se sofistica e se diversifica,concomitantemente sua globalizao e seu

    desenvolvimento cientfico e tecnolgico, estabe-lecem novas responsabilidades educacionais,como por exemplo, a de oferecer aos alunosambiente escolar desafiador, capaz de estimulare orientar sua curiosidade para que conheam omundo e se conheam nesse mundo. A partirdesse conhecimento, propem-se a tornar osalunos capazes de resolver problemas, atuar emequipe, ser empreendedores, largar seus

    horizontes pessoais e culturais, dentre outrosaspectos. Tal proposio demanda visoabrangente, experincia fundamentada eperspectivas inovadoras, perspiccia ecompromisso com resultados educacionais.

    Verifica-se, pois, uma crescente demandapela renovao da escola quanto renovao de

    seu currculo, atualizao de seus processos e dos

    mtodos e tecnologia para sua efetivao, assim

    como a contnua capacitao de seusprofissionais. No entanto, ao mesmo tempo em

    que os profissionais da educao se defrontamcom essas demandas e desafios, enfrentam

    tambm problemas igualmente instigadores,

    como, por exemplo, casos de tenso derelacionamento entre eles e o corpo diretivo das

    instituies educacionais, assim como entre

    escola e famlias; dificuldades de se manterematualizados para o seu exerccio profissional;

    expresso de comportamentos agressivos entre

    jovens e o seu esprito de contestao e

    irritabilidade; falta de motivao para a aprendi-

    zagem escolar e, at mesmo, a prpria falta deorientao de todos, incluindo os prof issionais da

    educao, pelo iderio educacional.

    Tendo em vista as situaes complexas,adversas e em certas condies problemticas e

    diante, portanto, do aumento da responsabilidadepela educao, em paralelo ao aumento dos seus

    desafios, percebe-se, muitas vezes, a expresso de

    perplexidade e, at mesmo, de imobilidade dos

    profissionais da educao no enfrentamento deseu trabalho.

    Portanto, ao se verem diante de novos desafiosna efetivao de seu trabalho e de suas escolas,

    alm da necessidade de desenvolvimento da

    qualidade do seu ensino, os educadores sentemque no bastam as competncias tradicionais que

    eram consideradas como fundamentais para aqualidade do ensino. Essas funcionavam em um

    mundo com poucas mudanas, que ocorriammuito lentamente; em um mundo conservador, em

    que a educao era uma virtude e necessidade deuma elite; um mundo em que a educao seria

    orientada para legitimar papis e funes na

    sociedade e no para abrir espao nessa sociedadee, at mesmo, contribuir para a sua transformao.

    Em um mundo considerado como dado e certo,

    os profissionais e as escolas podiam voltar-se parasi mesmos e para dentro de suas organizaes,

    como estratgia para o melhor enfrentamento dosproblemas vivenciados. Atualmente, precisam abrir-se para o mundo mediante o estreitamento de

    relaes, a troca, a reciprocidade e o intercmbio.

    Diante de uma nova ordem de coisas e

    situaes, caracterizadas pela dinmica, pelamaior exigncia da participao competente, asinstituies de ensino, como ocorre com todo tipo

    de organizaes, so desafiadas a voltarem-se

    para o seu ambiente externo, e no apenas oprximo, como tambm o mais distante. Essa

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    Rev. FAE, Curiti ba, v.6, n.1, p.127-136, maio/dez. 2003 | 127

    Revista daFAE

    estratgia depende, no entanto, para seu sucesso,

    da prt ica de uma cultura de rede, que pressupeum contnuo intercmbio e inter-relao, para odesenvolvimento de um iderio conjunto.

    De modo a contribuir para o entendimentode possibilidades e atuao sobre tal demanda,neste artigo analisam-se as perspectivas edemandas para a formao de redes, no contexto

    de um mundo em transformao; ademais, oartigo visa mostrar o sentido de solidariedade esuas implicaes quanto educao e asparcerias educacionais, assim como pressupostos,princpios e estratgias orientadores doestabelecimento dessas redes e os fundamentose prticas da solidariedade como um conceitofundamental para orientar a vida humana.

    A parceria, a formao de redes, ointercmbio e a troca so considerados como

    condio fundamental para a formao do serhumano como pessoa plena, e so colocadas nocontexto de uma prtica milenar: a dasolidariedade, sem a qual as redes de parceriasse transformam em meros negcios, ouformalidades vazias de significado educativo etransformador. com este enfoque que soanalisados o significado e a formao de redes eparcerias como base para o entendimento de suaexpresso nesse processo solidrio recproco.

    Por outro lado, a formao de redes deparceria solidria proposta como consistindo em

    estratgia fundamental de interao e troca entre

    instituies e profissionais. No mbito dasinstituies de ensino, ela constitui-se emprocesso pelo qual as escolas envolvidas nesseprocesso se apiam reciprocamente em seutrabalho, mediante o intercmbio de experinciase conhecimentos, de modo a melhor e maisefetivamente realizarem seus objetivoseducacionais. Trata-se de uma nova perspectivade atuao que se torna fundamental pararesponder s constantes necessidades de

    adequao evoluo e complexidade do atualambiente socioeconmico-cultural. A part ir dessaperspectiva, promovem a transformao emelhoria contnua de suas prticas.

    A partir da formao de redes, as escolas,acima de tudo, cumprem o preceito maisfundamental para o qual as instituieseducacionais e seus profissionais devem sefundamentar para legitimar o seu papel social: ode contribuio para o desenvolvimento doesprito de humanidade pelo qual, solidariamente,todos se ajudam reciprocamente a despertar e adesenvolver as dimenses pessoais e sociais quetornam a todos efetivamente seres humanos emais plenos. Da mesma forma como praticadaentre pessoas, as escolas realizam esse processo apartir do esprito de reciprocidade na realizaode seus objetivos comuns.

    1 Demanda pela formao de

    redes e resgate dos valores

    da solidariedade

    Uma escola de sucesso era, no h muitotempo atrs, aquela que, fechada em si mesma,

    procurava preservar e perpetuar seus padres de

    qualidade, de modo individual e zeloso. Professorescompetentes eram aqueles que se bastavam a si

    A partir da formao de redes, as

    escolas cumprem o preceito mais

    fundamental para o qual as

    instituies educacionais e seus

    profissionais devem se

    fundamentar para legitimar o seupapel social: o de contribuio

    para o desenvolvimento do

    esprito de humanidade

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    mesmos e julgavam-se bons profissionais

    trabalhando isoladamente seu compromisso eracom seus alunos e no com a escola. Esseentendimento estava associado a uma compre-

    enso de escola no como um ambiente unitrio,

    uma organizao social e interativa de formaode alunos e promoo de sua aprendizagem, mas

    sim como um conjunto de turmas de alunos e

    servios. Esse modelo de escola funcionou bemdurante o perodo de tempo em que havia muito

    mais estabilidade e verticalizao na sociedade,

    caractersticas orientadas por um paradigmasimplif icador e fragmentador.

    O isolamento, o hermetismo, a conservaoe a preservao de padres de funcionamentoconstituam-se em seu modo de ser e de fazercotidiano em todos os segmentos da sociedade.As organizaes em geral tinham reserva demercado, eram protegidas da competio, pelatradio e esprito de lealdade irrestrita e

    incondicional construdos ao longo do tempo,e, assim, sobreviviam tranqilamente, semmudar seus padres de funcionamento. Isto ,podiam ser conservadoras, no se importandomuito com o que acontecia ao seu redor, nemcom novos desafios e demandas. Isto porque seconcebia que os elementos mais importantes deuma organizao eram as suas estruturas fsicas,materiais e funcionais e no as pessoas, da

    porque ser adotado, de forma explcita ouimplcita, em nome dos padres e normasestabelecidos, um sistema seletivo, protecionistae elitista muito forte. Nesse contexto, cabia spessoas adaptarem-se s organizaes em queatuavam e no o contrrio, e aquelas que no seenquadravam eram descartadas.1

    Os tempos, porm, mudaram de forma

    significativa. Mudou o paradigma e alteraram-seas demandas sobre as organizaes em geral e

    conseqentemente sobre as instituies

    educacionais. Inseridas na sociedade tecnolgica

    e da informao, sofrem diretamente e devem

    responder, em seu processo educacional, s suasdemandas. Dentre as mudanas ocorridasregistram-se o deslocamento do foco da forma

    de atuao, por exemplo, do princpio da

    permanncia e cont inuidade, para o da mudana;do princpio dos controles internos, para o da

    articulao com o ambiente externo; da fora que

    limitava o passado, para as foras queimpulsionariam o futuro (NAISBITT e ABURDENE,

    1990). Peter Drucker (1992) afirma que tudo que

    deu certo at agora est fadado ao fracasso nonovo contexto das organizaes, orientado pela

    dinmica, pela tecnologia e pelo conhecimentoe pela agregao de valor, como uma condiode sua sobrevivncia. Dito de outra forma, Toffleraponta que a primeira regra da sobrevivncia

    bem clara: nada mais perigoso do que o sucessode ontem (1990, p.14).

    A partir de tal orientao para e pela

    mudana, do ponto de vista humano, so revistosos preceitos de relacionamento entre pessoas e

    instit uies, sendo aprovados cdigos de direitos

    humanos, a fim de serem respeitadas as pessoasem si e em sua dimenso social, impondo-se

    limites explorao da atividade humana e o

    reconhecimento de seu direito a desenvolver-secomo ser social atuante e ativo. A capacidade de

    atuar de forma colaborativa passa a ser no apenas

    um valor, mas uma necessidade e orientao notrabalho. E, finalmente, vislumbra-se nesse

    contexto a necessidade de se evidenciar o esprito

    de solidariedade entre instituies e de seestabelecerem cdigos de tica entre elas (NAISBITT

    e ABURDENE, 1987; HARMAN e HORMANN, 1992).

    1Alis, seguindo esta lgica que se mant iveram, atmesmo considerados como legtimos, os elevados ndices dereprovao e excluso de alunos da escola.

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    Rev. FAE, Curiti ba, v.6, n.1, p.129-136, maio/dez. 2003 | 129

    Revista daFAE

    O estabelecimento de redes e de parcerias

    passa a constituir-se em uma necessidadefundamental, que vai alm da solidariedadeconvencional e de senso comum. Organizaesque eram competidoras ent re si reconhecem queseu isolamento muito mais um problema doque uma soluo. Precisam associar-se, noapenas para sobreviver, mas para tambm sedesenvolverem. Assim que se registramhistrias diversas de sucesso entre organizaesque se associaram. As experincias demonstram

    que quando os problemas so comuns a todos,no faz sentido isolar-se na busca de umasoluo, para ver quem resolve primeiro, nemmelhor. Isso porque, problemas so umaconstante, so recorrentes, e surgem cada vezmais complexos, exigindo maior sofisticao emseu enfrentamento; a duplicao de esforos e algica de reinventar a roda apenas provocamaumento de custo, associado ao retardamento e

    enfraquecimento de resultados. Alm do que,deixa de contribuir para o alargamento dehorizontes do conjunto das organizaeshumanas e seus participantes.

    As organizaes educacionais, fazendo parte

    do amplo contexto socioeconmico-cultural, no

    podem ser diferentes das demais organizaes.Os desafios de desenvolvimento e de gesto para

    esse fim so basicamente e em sua essncia os

    mesmos, embora os objetivos especficos do seutrabalho sejam muito diferentes. Porm,

    sobretudo porque a prpria educao pressupeum sistema educacional, simultaneamente uno emlt iplo, segundo indicado por Drkheim (1984),no qual existem tantas e diferentes espcies de

    educao, quantos diferentes meios da sociedade,e esta variao pressupe a interao para a

    superao de aes limitadas e ocasionais. Esse

    pensador refora ainda que a educao envolve

    um pensamento social amplo, em vista do queno se pode pensar que seja possvel promov-la

    a partir de ticas e experincias restritas, sendo

    necessrio para a observao de diferentescontextos, situaes e experincias.

    Assim que os colgios e seus profissionais sedefrontam com a situao ou de se associarem,formando uma rede de apoio mtuo paraenfrentarem os novos desafios e alcanarem umcrescimento conjunto, ou de correrem o risco deperder espao e de passar por srios problemas desustentao. Isolado ningum sobrevive nummundo em globalizao. A sociedade est cadavez mais exigente sobre os resultados educacionais,uma vez que se complexif ica a demanda no sentidode que as pessoas, para dela participaremefetivamente, sejam capazes de competnciascomplexas e mltiplas. Isto porque os seusprocessos esto se tornando cada vez maiscomplexos, tecnologizados, rpidos e dinmicos.Dentre outros aspectos, a formao profissional, ainovao dos mecanismos de gesto, a

    dinamizao do currculo escolar, a relao famlia-escola, o marketing institucional, a compreensoe atendimento a uma srie de fatores, como oestresse social que repercute nas famlias, nascrianas e nos profissionais da educao,constituem-se em algumas das questes sobre asquais os estabelecimentos de ensino e osprofissionais podem com muito proveito cooperar.

    2 O sent ido de solidariedade

    e suas impl icaes quanto

    educao e parcerias

    A solidariedade consiste na responsabilidadeque se estabelece entre pessoas e organizaes,

    caracterizada por laos duradouros, mot ivados por

    um reconhecimento de que, apesar de diferenasparticulares, a igualdade as une. Essa responsabi-

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    lidade um lao ou ligao mtua e fraternal,

    motivada por um sentimento de unioestabelecido pelos mesmos interesses, em vista doque as pessoas e organizaes se ajudam

    reciprocamente. Compartilham os mesmos

    problemas, desafios e objetivos e com um carterde reciprocidade, e ao mesmo tempo de

    interdependncia, pelo reconhecimento de que

    sobrevivem todos apenas em interao de uns comos outros. Tratar-se-ia de uma ao cooperativa

    de desenvolvimento recproco, caracterizada por

    um processo de ganha-ganha, tal como indicadopor Covey (1997).

    A verdadeira solidariedade aquela que tem

    como fim a eqidade que, em ltima instncia,busca a distribuio inteligente de oportunidades

    e dos recursos bsicos para uma vida decente, de

    tal forma que cada pessoa e cada organizaosocial possam realizar-se em sua singularidade e

    desenvolver-se para contribuir o mais plenamente

    possvel para o desenvolvimento humano dasociedade como um t odo. Ela, portanto, est para

    alm da distribuio considerada justa , pela

    qual todos recebem o mesmo da mesma forma,sem considerar suas diferenas e particularidades.

    Cabe lembrar que a palavra solidariedade

    vem do latim solidusque signif ica slido, inteiro, e

    est associada ao termo grego holos, que significa

    inteiro, global, constitui hoje um movimento

    paradigmtico importante de nossa poca oholismo. Portanto, o termo solidariedade no

    representa apenas um ato de bondade daquele

    que d ao necessitado, ou o esforo pelo convvio

    amistoso ou at mesmo amoroso com o prximo,

    ou o respeito s necessidades dos outros, como

    em outros tempos fora o entendimento, chegando

    o mesmo a ser associado ao assistencialismo. Muito

    menos representa a caridade que expressa a

    superioridade da pessoa que d em relao que recebe.

    A partir daquele entendimento, fundamental

    em uma sociedade que se desenvolve democrati-camente e pelos princpios de eqidade, o conceitode solidariedade deve ser revisto no sentido de

    ultrapassar uma conotao assistencialista e

    humanitria voltadas ao atendimento dasnecessidades bsicas do ser humano, para alcanar

    o seu sentido pleno de atendimento das

    necessidades humanas plenas de dignidade e derealizao como pessoa, no contexto de suas

    organizaes sociais, tambm plenamente

    desenvolvidas. Ela passa pelo princpio dedesenvolvimento do potencial humano como ser

    social pleno e pelo de igualdade entre todos. Nessesentido, a solidariedade passa a demandar umexerccio que exige organizaes slidas e inteiraselas mesmas e, o que mais importante, passa

    sempre pela educao, pois por meio da qualque as pessoas se tornam slidas e plenas.

    Oferecer educao de qualidade constitui,

    portanto, em si uma tarefa eminentementesolidria pela qual se propicia s pessoas

    assegurar os seus direitos essenciais, assim como

    os seus deveres bsicos estabelecidos pelo

    regime natural e social de interdependncia. E

    nada melhor para realizar esse trabalho do que

    estabelecer, entre as escolas que assumem essa

    responsabilidade, uma rede solidria de apoio

    recproco na realizao de seus objetivos

    educacionais que, por si, pedaggica, uma vezque cria um ambiente educativo em seu modode ser e de fazer.

    Esse entendimento de solidariedade,

    portanto, v no trabalho de construo de redes

    e de parcerias a sua objetivao, isto , deixa deser apenas uma aspirao, um sentimento e uma

    atitude e passa a representar aes concretas que

    promovem diferenas significativas no fazer

    humano.

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    Rev. FAE, Curiti ba, v.6, n.1, p.131-136, maio/dez. 2003 | 131

    Revista daFAE

    3 O significado de rede na

    const ruo de ambienteseducacionais solidrios

    A concepo de rede corresponde a uma

    nova metfora iluminadora da realidade, queprocura apreender as relaes caractersticas

    entre elementos, atores, ambientes e cenrios

    que a constituem. Essa metfora faz parte de um

    conjunto de novas concepessobre a realidade, ao qual esto

    associados conceitos comoecologia, interdisciplinaridade,

    holismo, globalizao, gesto,

    dentre outros.

    A idia de rede tem como

    pano de fundo a compreenso

    da realidade como um sistema,

    no qual todos os elementosesto interl igados por um

    princpio de interdependncia,

    de maneira que o que acontece

    em um elemento do sistema

    afeta a todos os demaiselementos que o compem.

    Dessa forma, estabelece-se

    sobre o reconhecimento de que

    todos so complementares esuplementares entre si, mas que somente

    usufruem dessas condies mediante a

    capacidade de organizao e interao marcadas

    pela interao cooperativa e solidria. Esta

    associao foi identif icada como coeso, referida

    por Robow (1972) como capacidade de manter

    solidariedade. Em estudos realizados por Emile

    Durkheim, conforme citado por McGee et al.

    (1977), pesquisando diversas sociedades,2

    identificou-se haver nelas um sistema de coeso

    social, sistema esse diferente nas sociedades

    primitivas, onde ele se manifestaria como coeso

    mecnica, tendo em vista serem caracterizadaspelo sentido da permanncia e conformidade

    tradio, pelo ordenamento da vida por valores

    religiosos e sentimento de pertencer; j nas

    sociedades complexas, industriais, marcadas por

    diversidade social e moral, pelo encorajamento

    diversidade, em que as pessoas se associam por

    sua interdependncia, ela seria uma

    solidariedade orgnica.

    Essa coeso social,conforme j previsto por

    Durkheim, foi-se enfraque-

    cendo na sociedade industrial

    e ps-industrial, sendo, no

    entanto, substituda por outras

    formas de interao, mais

    espontneas, e desenvolvidas

    a part ir de bases ocupacionais.

    Conforme proposto por estepensador, se o hom em

    conseguiu ultrapassar a fase

    em que os outros animais se

    detiveram, foi antes do mais

    por no se ter reduzido ao

    simples frut o dos seus esforos

    pessoais, antes cooperando

    regularmente com os seus

    semelhant es (DRKHEIM ,1984, p.23). Da porque a forte emergncia e a

    grande importncia de redes que superam at

    mesmo a solidariedade social orgnica proposta

    por Durkheim.

    A formao de redes no se trata portanto

    de uma estratgia ou de uma soluo tcnica de

    A idia de rede tem

    como pano de fundo a

    compreenso da

    realidade como um

    sistema, no qual todos

    os elementos esto

    interligados por um

    princpio deinterdependncia, de

    maneira que o que

    acontece em um

    elemento do sistema

    afeta a todos os

    demais elementos que

    o compem

    2A publicao original dessas idias foi feita na obraclssica de Drkheim, intitulada A diviso do t rabalho social, em1893, conforme citado por Doby, Boskoff e Pendleton (1973).

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    problemas de interao, mas, sim, de uma

    concepo maior e mais profunda, que emana deum novo paradigma, uma nova concepo demundo, uma nova epistemologia pela qual secompreende a realidade e se age sobre ela, tendo,no entanto, como base a prpria natureza do tecidosocial, que construdo por uma obra coletiva ecooperativa de todas as pessoas e organizaessociais. Diz respeito a um novo norteamento deaes que se traduzem em todos os mbitos e reasde atuao. Atravs dele, busca-se no apenas a

    maior eficcia e eficincia em aes, mas,sobretudo, a transformao de prticas paratransformar instituies, de modo a tornarem-semais plenas e autnticas no empreendimentohumano que desenvolvem. Em seu sentido pleno,

    as redes estariam para alm da solidariedade.

    4 Pressupostos que embasam

    as aes em rede

    importante compreender os pressupostosque sustentam a idia de rede, a fim de, ao seprocurar constru-la, faz-lo de modo maisadequado e efetivo. Como sustentadores da idiade rede, podem ser citados, dentre outrosaspectos fundamentais, o reconhecimento e a

    compreenso de que: todos os elementos da realidade so

    interligados, funcionando em cadeia,fazendo parte de um sistema, uma vezque nada isolado e cada unidade doconjunto se explica apenas por suainterao com o conjunto;

    a proatividade e a tica do ganha-ganha,caracterizada pela lgica da reciprocidade,

    produtiva, enquanto a reatividade e atica do perde-ganha negativa, porpressupor que numa interao, para

    algum obter alguma vantagem, a outra

    parte tem que perder alguma coisa, destaforma promovendo o enfraquecimentogeral do sistema em que praticada;

    a realidade social construda socialmen-te, mediante a interao dos agentessociais que a compem;

    a transformao das organizaes e daspessoas ocorre a partir da interaosinrgica entre elas e nelas se revitalizaem carter de reciprocidade;

    a colaborao, troca e reciprocidadefuncionam como mobil izadoras emotivadoras para o trabalho produtivoe comprometido;

    o conjunto de organizaes, pessoas,processos e aes muito mais do que asoma das partes, isto , em interaoconstituem processos que superam asimples soma de esforos, promovendo

    result ados inesperados quando as aesso realizadas isoladamente;

    O desenvolvimento e a superaosignificativa de estgios limitados dedesenvolvimento somente so promovi-dos a partir de esforos coletivos ecompartilhados;

    A diviso do trabalho, que resulta emorganizaes e ncleos profissionais

    diferentes, no representa um fim em simesma, mas sim uma forma artificial dedar conta de problemticas complexas,em vista do que no prescindem dainterao, de modo que se complemen-tem reciprocamente e interativamentecom outros segmentos semelhantes e atmesmo diversos.

    Esses pressupostos evidenciam sublimi-narmente a fora das aes de interao eintercmbio como base de construo deorganizaes e processos sociais.

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    Rev. FAE, Curiti ba, v.6, n.1, p.133-136, maio/dez. 2003 | 133

    Revista daFAE

    5 A const ituio de parcerias

    e a formao de rede: aobjet ividade da solidariedade

    Comumente, quando se fala em redes, fala-

    se tambm em parcerias. Parcerias e redes so doisconceitos comuns que esto mobilizando a

    ateno das organizaes. Muitas vezes, eles so

    tomados como similares. Mas tm significado e

    alcance diferentes, que vale a pena analisar.Torna-se necessrio esclarecer o significado desses

    conceitos, de modo a, pela sua clareza, tirarmelhor proveito das aes por eles orientadas.

    A parceriadiz respeito associao que asorganizaes estabelecem entre si, com o objetivo

    de se apoiarem reciprocamente e tirarem alguma

    vantagem dessa associao. Por exemplo, umaescola de ensino fundamental e uma pr-escola

    podem fazer parcerias pelas quais esta secompromete a encaminhar alunos para estudarem

    naquela, em t roca de orientao pedaggica paraseus professores, de alguma forma de marketing

    ou consultoria peridica. Ambas as escolasganham alguma coisa, mas no se transformam,mantendo um certo distanciamento entre si,preservando a sua individualidade. Eventualmen-

    te, podem romper a parceria a qualquer momento,uma vez que sint am que seus interesses no esto

    sendo atendidos com a associao. Os seus

    vnculos tendem a ser formais e superficiais, umavez que centrados em aes especficas.

    As parcerias so feitas com nmero fechadode parceiros, mediante contratos em que so

    estabelecidos os objetivos e os resultados

    pretendidos de parte a parte. Cada uma dasorganizaes tem seus objetivos especficos,

    diferentes da(s) outra(s).

    Uma forma de parceria mais ou menos rpidae eventual a do benchmark, ou apoio recproco

    na busca de referncias posit ivas para a realizao

    de seu trabalho. Buscam-se em outros colgiosprticas promissoras, cuja metodologia essasescolas disponibilizam e do a conhecer. Por

    exemplo, uma escola que teve sucesso com a

    realizao de maratonas intelectuais com os seusalunos e com essa prtica aumentou a motivao

    e o comprometimento deles para os estudos, pode

    disponibilizar informaes e orientaes sobreessa prt ica. Em t roca, poder receber, mesmo de

    outra escola, informaes sobre programa de

    estreitamento da relao escola-pais. Projetospedaggicos especiais podem ser realizados por

    um conjunto de escolas, de modo que seusprofessores e alunos construam conhecimentosde modo interativo.

    Parcerias podem ser formadas a partir do

    objetivo de realizar capacitao de seusprof issionais em conjunto, de modo a maximizar

    recursos. Para uma escola pode ser muit o caro e

    impraticvel cont ratar um curso para um nmeropequeno de seus prof issionais, porm, juntando-

    os com os de outra escola, podero ter a

    possibilidade de organizao e sustento de talcurso, como tambm a vantagem da troca de

    experincias entre os prof issionais, estratgia que

    muito enriquecedora profissionalmente econdio para o alargamento dos horizontes de

    todos, pela troca de sua viso e conhecimentos.

    importante, no entanto, que essas parceriassejam realizadas, no mbito educacional, no no

    sentido interesseiro, mas sim tenham um cunho

    de solidariedade verdadeiro, de convvio e trocagenunos pelo sentido do reconhecimento de que

    nesse convvio que nos realizamos como seres

    humanos e aprendemos a s-lo de forma maissignificativa.

    A rede, por sua vez, diz respeito intercomu-

    nicao constante entre organizaes eprofissionais, que comungam dos mesmos

  • 8/14/2019 Como formar rede de escolas solidrias

    10/12

    134 |

    propsitos e ideais, no sentido de construrem

    em conjunto uma ao social, em vista do queesto continuamente trocando idias a respeitode como podem se apoiar reciprocamente para

    realizarem os objetivos comuns.

    As redes so abertas e dinmicas. So

    iniciadas a partir do reconhecimento de

    propsitos e do entendimento comum de que

    querem juntos alcanar uma transformao e se

    propem a apoiar-se reciprocamente na

    realizao desses objetivos. Portanto, no sopontuais, eventuais, ou estabelecidas a partir de

    interesses conservadores e limitados. Dessa

    forma, a rede objetivaria a solidariedade para

    alm da simples coeso e voltada para o sentido

    de realizao plena do seu conjunto, em

    interao recproca com a sociedade.

    6 Princpios para ofuncionamento de redes

    No basta, portanto, o estabelecimento de

    objetivos e propsitos comuns, para se construir

    a rede. Tornam-se necessrios dedicao contnuae ateno especial ao seu funcionamento. A rede

    s existe pela ao constante de comunicao,

    associao, intercmbio e reforo recproco quefazem entre si as partes componentes das redes,

    no sentido de sustentar, alimentar e promover o

    seu iderio e identidade comum.

    A seguir so lembrados alguns princpios

    importantes a serem assumidos para suaefetivao. fundamental que sejam norteadores

    na formao e promoo de redes:

    Identificao, por parte dos estabe-

    lecimentos de ensino e de seus prof issio-nais, de que fazem parte de um sistema,

    pelo reconhecimento de que o que

    acontece em um afeta os demais e oconjunto todo.

    Reconhecimento de igualdade de valor

    entre todos os colgios, independen-

    temente de seu tamanho, tempo de

    existncia e localizao, ou entre

    profissionais, independentemente de

    sua rea de atuao, tempo de servio e

    nvel de formao, de modo a se evitar a

    concepo de hierarquia entre eles. Aproveitamento dos valores, competncias

    e experincias recprocas, que so

    importantes, do ponto de vista cultural,

    independentemente de sua abrangncia.

    Ident if icao de necessidades comuns, de

    carter construtivo e estratgico, como

    elemento concreto de manuteno do

    iderio de rede.

    Estabelecimento de um compromisso

    conjunto para o atendimento dessas

    necessidades e cultivo de entusiasmo e

    prt icas de intercmbio e reciprocidade.

    7 Est ratgias para a

    promoo de rede int ra

    e entre escolas

    De modo a sugerir maior objetividade para

    as aes em rede, algumas estratgias podem

    ser t eis:

    1. Realizao de projet os especiais de

    desenvolvimento de inovaes em gesto,

    segundo os princpios da participao,

    proatividade, competncia e promoode resultados avanados.

  • 8/14/2019 Como formar rede de escolas solidrias

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    Rev. FAE, Curiti ba, v.6, n.1, p.135-136, maio/dez. 2003 | 135

    Revista daFAE

    2. Manuteno de contactos contnuos com

    profissionais e instituies como formade troca de experincia e dinamizaode subprojetos conjuntos, a partir de

    referenciais mais avanados.

    3. Estabelecimento de intercmbio entreoutros sistemas de ensino e instituies,

    na busca de referncias positivas para a

    transformao do prprio t rabalho.

    4. Promoo de seminrios e cursos de

    atualizao sobre desdobramentossignificativos da gesto do sistema emconjunto.

    5. Formao de grupos de estudo e reflexosobre assuntos de gesto, tendo por base

    a anlise de experincias diversificadas e

    inovadoras na rea, bem como a expansodo seu significado e de sua aplicao.

    6. Divulgao de conhecimentos produzi-

    dos no contexto da rede e fora dela, demodo a incentivar a construo de

    conhecimento a partir das bases,

    seguindo o princpio de que a autonomia

    se faz com o desenvolvimento da

    competncia e autoria.

    7. Promoo de visitas de estudo e intercm-

    bio de experincias em instituies de

    ensino de alto nvel e centros de estudos

    em gesto educacional, nacionais e

    internacionais.

    8. Participao em eventos nacionais e

    internacionais de educao e gesto

    educacional e disseminao de seus

    resultados na rede.

    9. Realizao de fruns temticos, visando

    ao debate, melhor entendimento e

    encaminhamento para a resoluo deproblemticas especficas.

    10.Manuteno de intercmbio constante,

    troca de informaes e divulgao eintercomunicao, por meio de corres-

    pondncia, newsletters, fax, telefone e

    e-mail.

    As estratgias para a formao e manuteno

    de redes no se esgotam a. Essas so apenas

    alguns exemplos de possibilidades. De acordo

    com a criatividade estimulada pela prpria

    interao, novas estratgias podem surgir.

    importante ter em mente, no entanto, que elas

    no valem por elas mesmas e sim pelos result ados

    que promovam no sentido do enriquecimento e

    fortalecimento da experincia humana.

    Palavras f inais

    A prtica da solidariedade pela formao deredes no necessariamente fcil. Para

    estabelecer esta cultura, preciso que se cultive

    um esprito de colaborao recproca, marcado

    pela lgica do ganha-ganha, pela qual se entende

    que, para ganharmos alguma coisa que possa ser

    til, sustentvel e duradoura, necessrio que os

    benefcios que desejamos para ns mesmos sejam

    compartilhados com as instituies e pessoas que

    formam o nosso ambiente. Por outro lado, essacolaborao condio inerente construo e

    desenvolvimento do prprio tecido social. Para

    tanto, fundamental reconhecer e manter vivos

    o princpio da solidariedade, assentado no

    entendimento de que a dimenso de ser humano

    se alcana pela plenitude do ser e pelo

    reconhecimento de igualdade entre todos, por

    sobre as diferenas de expresso observadas.

    necessrio, tambm, que nos mantenhamosem contnua comunicao e interao, trocando

  • 8/14/2019 Como formar rede de escolas solidrias

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    136 |

    Referncias

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    HARMAN, Will is; HORMANN, John. O t rabalho criativo . So Paulo: Cultrix, 1992.

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    NAISBITT, John e ABURDENE, Patrcia. Reinventar a empresa: transformar o trabalho e a empresa para anova sociedade de informao. Lisboa: Presena, 1987.

    NAISBITT, John e ABURDENE, Patrcia. Magatrends 2000. So Paulo: Amana Key, 1990.

    ROBOW, Jerome. Sociology, student s and society. California: Goodyear Publishing Company, 1972.TOFFLER, Alvin. A empresa f lexvel. 2ed. Rio de Janeiro: Record, 1990.

    informaes, criando sinergia e estimulando-nos

    reciprocamente na realizao dos objetivoscomuns de contribuir para a formao da

    sociedade brasileira.

    Atuar em rede representa reconhecer o fato

    de que juntos, mediante a combinao dos nossos

    talentos e energia, podemos construir muito maise melhor do que isolados e, dessa forma, podemos

    nos realizar mais plenamente. A troca e a

    reciprocidade so elementos substanciais para anecessria formao de sinergia que transformaorganizaes e lhes d vitalidade. Estas condies,em lt ima instncia, so elementos fundamentaisda estimulao dos nossos talentos potenciais que,do contrrio, ficariam adormecidos deixando,portanto, de virem a nos ajudar a sermos pessoase organizaes plenas.