como estudar a obra de lenine - o estado e a revolução

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    Edies Progresso Moscovo

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    L.LEBEDNSKAIA

    . COMO ESTUDAR

    AOBRA VLLENINE ESTADO

    REVO-LUO"

    Materia l didctico e metodologico

    A

    , , ) X a MOSCOVO^PROGRESSO'

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    Traduo de G. Mlnikov

    Jl. JleeAHHCKaflKAK H3yWATfa PABOTy B. M. JIEHHHAroCyflAPCTBO H PEBOJIKiUHIH a nopryaaAbCKoM H3biKe

    A/,7 / ? > - J/f

    Edies Progresso, 1983Impresso na URSS

    A 04W0DpCh-298 ,rJ. --^u 18483'V , 014 (01)83

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    AO LEITOR

    Se voc, estimado leitor, no presidente nem lider de ne

    nhum partido poltico pode parecer-lhe que as questes relativasao Estado e Revoluo so demasiado elevadas e mesmo distantes para que se ocupe delas. Mas em realidade no assim.

    Nenhum de ns se limita a viver num determinado Estado,mas sente constantemente em si prprio o funcionamento favorvel ou traumatizante de seu aparelho de Estado com todos osseus parafusos, engrenagens, correias de transmisso e prensas.

    Os funcionrios pblicos respeitveis empenhados nas difceis questes, digamos, da organizao da economia, os empregados deescritrio que arquivam nas pastas as cpias dos projectos dispendiosos; os procuradores inflexveis ao servio da Constituio(Lei Fundamental) do pas, os policieis chamados a manter aordem pblica e a segurana; os soldados que intervm sob abandeira nacional estas e muitas outras pessoas so os execu-tantes da poltica do Estado qu regula a vida sociaJ no interesse

    de certas classes, ou seja, no interesse de grandes grupos depessoas.Todos ns, se no quisermos viver retirado e mesmo aque

    les que gostam de ter uma vida solitria em breve deixaro deencontrar ermos no nosso planeta , contactamos com representantes de diferentes classes da sociedade que se encontra emdesenvolvimento, em luta e, em muitos pases, numa fase detransformaes revolucionrias baseadas nos princpios da igualdade e justia social. Entretanto, as questes da revoluo so,acima de tudo, as questes da reorganizao do Estado.

    Se voc no indiferente s idias e s preocupaes dosmelhores espritos do mundo relativas eleminao da opressosocial, nacional e racial e remodelao justa da sociedade no ,interesse das massas trabalhadoras, deve pegar no livro de Vla-

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    dmir Ilitch Lnine,O Estado e a Revoluo, e analis-lo con-nosco. *

    Para isto o presente itrabalho ser-lhe- til. O seu objectivoe destino familiarizar o leitor com as teses tericas da doutrinamarxista-leninista sobre o Estado e a revoluo socialista, almde fornecer pontos de referncia adequados situao contempornea para estudo desta obra genial de Lnine. O opsculoque oferecemos ao leitor contm material metodolgico que sedestina a facilitar o estudo da teoria do comunismo cientficoe mostrar em que base e como os seus fundadores a criaram,bem como oque h de mais valioso na obra de V. I. Lninepara a prtica revolucionria contempornea.

    de destacar que o presente maiterial didctico pode sertil para o estudo municioso do objecto do comunismo cientfico no s nas aulas com o apoio do professor como tambm o que ainda mais importante na aprendizagem individualdos fundamentos desta cincia.

    A tarefa da autora deste opsculo foi chamar a ateno doleitor para os postulados mais importantes e fundamentais daobra leninista, pode-se at dizer, obrigatrios para os revolucionrios de todos os pases. Isto refere-se principalmente tesebsica do livro de V. I. Lnine, o binmio revoluo socialista Estado. A autora aborda esta questo de um modo multilate-ral, relacionando-a com acontecimentos histricos do passado edo presente. A nosso ver, tal mtodo de apresentao do material contribui para uma assimilao mais profunda e eficaz domesmo.

    O carcter cientfico coerente e a ligao com a vida de hojee com as necessidades da luta revolucionria contempornea,constituem a base metodolgica sugerida pela autora deste opsculo para o estudo da obra leninista.

    Ao mesmo tempo, de sublinhar que o opsculo no maisque material didctico que deve facilitar o estudo da obra deV. I. Lnine e, por isso, nem todas as ideias do guia da revo

    luo socialista so nele reflectidas. Portanto, o leitor ter decompreend-las e assimil-las individualmente. Ao ler algunscaptulos do livro de V. I. Lnine, voc certificar-se- de queos problemas abordados pelo seu autor so acessveis compreenso, embora, contudo, bastante difceis. O ltimo pe-se em relevo quando se trata da necessidade de aliar os postulados te

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    ricos gerais situao poltica concreta. Aliar a teoria prtica o mais difcil, mas necessrio e valioso. E precisamente porisso que convm tomar a leitura do livro, estud-lo e procurara aplicao das ideias descobertas para si prprio vida real.

    A estrutura do opsculo corresponde em linhas gerais daobra leninista. A leitura da obra e do opsculo pode ser feitade vrias maneiras: * ler o livro de V. I. Lnine e depois a apostila; ler o material didctico e depois a obra; l-los paralelamente, captulo a captulo.

    Ao nosso ver, a ltima variante a mais eficiente, pois destemodo mais fcil para o leitor confrontar as ideias deV. I. Lnine com os problemas de hoje. difcil supor que o leitor conseguir imediatamente dominaro pensamento leninista em toda a sua profundidade e abordartodas as questes examinadas no livro. Por isso, recomendvelrever amide o material lido. Em funo do carcter profundo,vital e multiforme da teoria marxista-leninista, acabar por des-eobrir algo novo para si.

    Se achar necessrio e indispensvel tirar apontamentos paracompreender melhor o texto, recomendvel prestar a sua atenos palavras em itlico. Elas foram destacadas no intuito dechamar a ateno do leitor para as teses mais importantes quea autora achou conveniente assinalar.

    Sem dvida, seria ainda melhor se, antes de proceder leitura da obra de Lnine e do opsculo presente, o leitor estudasse as questes mais importantes que nela se abordam emmanuais do comunismo cientfico. Em todo caso, esta leiturapressupe um certo nvel de conhecimentos polticos e do pensamento terico por parte do leitor.

    Contudo, como j foi dito, o presente material pode serutilizado de uma forma autodidctica. O importante que oleitor tenha interesse pelos problemas polticos da actualidadee pelas obras de V. I. Lnine.

    A propsito, a autora destas linhas de opinio que seriaprefervel adoptar neste caso a seqncia seguinte: primeiro lera obra para formar a sua prpria ideia (se for errada ou divergente, pode ser corrigida mais tarde, mas de todas as maneirasser uma ideia pessoal do leitor!) acerca do livro, depois os comentrios que para o leitor podem ser aceitveis ou dis-

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    cutveis e, s depois, o manual que sistematizar os seus conhe-ciments. Alis, esta questo pode ser resolvida de acordo comas suas habilidades e a sua preparao geral.

    A meta mais importante que deve ser atingida com o estudo

    da obra de V. I. Lnine enraizar em si prprio uma profundaconvico ideolgica e dominar todos os ensinamentos verdadeiros do marxismo-leninismo. Na confernciaSobre o Estado V. I. Lnine disse, dirigindo-se ao auditrio: S quando tiver-des aprendido a orientar-vos por vs prprios nesta questo po-dereis considerar-vos suficientemente firmes lias vossas convices e podereis defend-las com suficiente xito perante quemquer que seja e em qualquer momento1.

    A capacidade de pensar de modo criador adquirida emresultado de um enorme trabalho individual. O estudo desteopsculo dever igualmente contribuir para criar em si esta aptido. Da pode-se dizer que o material didctico presente um auxiliar no sentido mais vasto da palavra.

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas em Trs Tomos, Edies Avante!(Lisboa) Progresso (Moscovo), 1977, t. 3, p. 177.

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    V. I. Lnine declara abertamente que se trata da necessidadeda destruio revolucionria do regime social ento existente,da tomada do poder de Estado pela classe operria em alianacom o campesinato trabalhador e da luta pela libertao dasmassas trabalhadoras da influncia da burguesia em geral e,sobretudo, da burguesia imperialista, pois esta com apoio doEstado explora tanto os operrios dos seus pases evoludos, comotambm muitos outros povos do mundo economicamente menosdesenvolvidos que dela dependem.

    Deste modo, ao abrir o livro, j na primeira pgina se tornavisvel quais os interesses defende o seu autor, para quem destina o seu livro e quem ajuda a compreender a estrutura do mecanismo de Estado da opresso social e de classe. classeoperria, ao proletariado, que o autor tenta esclarecer, no campoterico, prtico e poltico, a questo deque maneira a revoluo socialista pode assegurar a passagem do poder de Estadopara as mos da classe operria, das massas camponesas, de todos os trabalhadores e de que tipo ser o novo Estado, o Estadodos trabalhadores.

    Torna-se tambm claro um outro aspecto: o autor pronuncia-se contra os capitalistas e as suas alianas organizadas escala nacional e internacional. Condena o capitalismo monopolista de Estado, as guerras imperialistas, a poltica de partilhae repartilha do saque praticada pelas chamadas grandes potncias do mundo capitalista que exploram os povos dependentes.

    Na sua anlise cientfica V. I. Lnine parte dos postuladostericos descobertos por Karl Marx e Friedrioh Engels, fundadores de comunismo cientfico em relao essncia do Estadoe da revoluo socialista, s tarefas desta revoluo no perodohistrico em que a opresso dos trabalhadores se torna to insuportvel que os compele a levantar-se em luta aberta peloderrube do Estado burgus.

    Alis, a luta pela afirmao dos verdadeiros princpios nodeturpados do marxismo na conscincia das amplas massas

    trabalhadoras e pela sua correcta compreenso de modo que pudessem levar a revoluo socialista a uma vitria completa,exigiu de V. I. Lnine um combate intransigente s deturpaes sociais-reformistas, sociais-chauvinistas e anarquistas dadoutrina marxista do Estado e da revoluo socialista.

    Como se sabe, os idelogos burgueses e os oportunistas ten

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    taram sempre e continuam a tentar inculcar na conscincia dasmassas revolucionrias a ideia da transformao pacfica do capitalismo em socialismo mediante a adaptao do Estado burgus para estes fins.

    Quanto aos anarquistas, estes continuam at hoje a negartotalmente qualquer Estado inclusive o conceito da necessidadehistrica do Estado em que *o poder poltico se encontra nasmos de operrios e de todo o povo trabalhador.

    No essencial, as duas tendncias, embora partindo de posies contrrias, afirmam, deturpando a realidade, que o Estadonada tem a ver com as relaes que existem entre classes reciprocamente opostas e no produto da luta entre elas nemo seu instrumento. Consideram que o Estado pode ser abolidosem ser substitudo por algum sistema de organizao polticada sociedade real, ou utilizado como uma forma neutra do pontode vista de classe.

    V. I. Lnine deixou clara a diferena de princpios entreo marxismo e o oportunismo. O seu livro um brilhante exemplo da luta contra as falsificaes burguesas do problema da

    opresso de classe e do problema de Estado e da revoluo. uma lio clara do combate aos preconceitos oportunistas emtorno do Estado, de como se deve criticar as iluses utpicas erelativas paz entre as classes vigentes at agora.

    O Estado e a Revoluo uma obra clebre da esfera criativa do marxismo. Pela primeira vez foi exposta de modo toclaro e sistematizado a doutrina de Marx e Engels sobre o Estado, desenvolvidos os seus elementos principais em relao scondies existentes na poca do imperialismo e das revoluesproletrias, enunciados os mtodos e as solues da questo datomada do poder de Estado e do seu usufruto pelas massas trabalhadoras e, em primeiro lugar, pela classe operria.

    A obra ajudou os revolucionrios da Rssia dirigidos pelopartido leninista a obter uma vitria de ressonncia universale histrica em Outubro de 1917 e a construir a sociedade socialista. Ajudou os comunistas dos pases socialistas a levar avanterevolues socialistas vitoriosas.

    Esta obra, relacionada como est com a nossa actualidade,ajuda tambm os nossos contemporneos revolucionrios detodos os pases e continentes a adaptar a teoria de Marx--Engels-Lninej nos seus traos fundamentais e principais postu

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    lados que j adquiriram a fora da lei objectiva, s condieshistricas concretas existentes em cada pas, luta pela edificao da sociedade socialista e comunista.

    QUANDO E COMO V. I. LNINEESCREVEU A SUA OBRA

    A teoria do marxismo-leninismo o produto da prtica daluta revolucionria. Como j foi dito, o livro de V. I. Lnine resultou tambm da necessidade prtica de restabelecer a verdadeiradoutrina de Marx e Engels sobre a atitude do proletariado face aoEstado, maculada e conspurcada pelos oportunistas, com vista aadapt-la s condies da Rssia revolucionria de 1917 e armara classe operria e os trabalhadores russos que ergueram em luta,com a teoria marxista.

    Isso passou-se num perodo emque toda a Europa se encontrava em efervescncia com a guerra mundial e se desmoronavao regime0 monrquico da priso para os povos, a Rssia imperialista. A Rssia estava prenhe de revoluo.

    Numa biblioteca sossegada de Zurique, na Sua, para ondeV. I. Lnine se viu obrigado a emigrar pelas perseguies do regime tsarista, estudava as obras de Marx e Engels referentes squestes do Estado. Com uma caligrafia miudinha e compactatomava apontamentos no seu fam oso caderno azul que tinha escrito na capa Marxismo sobre o Estado.

    Alm das citaes, ora breves ora extensas, das obras de Marxe Engels e das suas prprias observaes e generalizaes,

    V. I. Lnine completava as suas anotaes com extractos dos livrose artigos dos principais tericos do oportunismo do movimentooperrio internacional de ento K. Kautsky, E. Bernstein eoutros.

    A crtica s suas concepes errneas e s falcificaes conferiu ao trabalho de Lnine um carcter marcadamente polmico.O livro de V. I. Lnine mostrou mais uma vez que o marxismocomo cincia se desenvolve no contexto de uma luta inflexvelcontra todas as manifestaes da sua deturpao consciente, aconfuso e as tentativas de ajustar a teoria revolucionria do proletariado s concepes burguesas sobre o desenvolvimento dasociedade, limitadas do ponto de vista de classe.

    possvel que as longas e numerosas citaes que contm o

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    mearam as detenes macias de operrios. Em 7 de Julho, foiemitida uma ordem especial sobre a deteno de V. I. Lnine.Durante vrias semanas, V. I. Lnine asilou-se a 20 km de Petro-grado beira do lago Razliv. Depois, nos finais de Agosto, quandochegou o frio, mudou para Helsingfors (actualmente Helsnquia),onde permaneceu cerca de trs semanas.

    Naquele perodo, apesar das condies da clandestinidade,V. I. Lnine dirigia pessoalmente a preparao do Partido e doproletariado para a insurreio armada que na situao que seproduziu, era o nico caminho possvel para a tomada do poderde Estado pela classe operria. E foi justamente naquele peridoque escreveu o livroO Estado e a Revoluo.

    Segundo o projecto inicial do autor, o livro devia compor-sede sete captulos. No entanto, no conseguiu escrever o ltimo,o stimo, captulo com o ttulo de A experincia das revoluesrussas de 1905 e 1917. No posfcio primeira edio lemos oseguinte: . . .No tive tempo para escrever uma nica linha destecaptulo: impediu-me a crise poltica, a vespera da Revoluode Outubro de 1917. S ns podemos alegrar com tal impedi

    mento.1Gomo um navio veloz, a Revoluo Socialista de Outubroavanou vitoriosa pelo tempestuoso mar da histria, deixandopara trs as runas de estruturas sociais caducas e arrastando ospovos para o futuro comunista.

    Neste movimento, a bssola precisa que permite aos revolucionrios verificar o rumo, sair das tempestades e contornaros recifes a doutrina do marxismo-leninismo na qual uma dasquestes-chave a questo do Estado.

    A ALMA REVOLUCIONARIA DO MARXISMO (COMO V. I. LNINE RESTABELECEU A TESE DE MARX E ENGELS SOBRE A ESSNCIA DE CLASSE DO ESTADO)

    O marxismo-leninismo como cincia da transformao revolucionria do mundo no interesse dos trabalhadores bastanteacessvel s massas de qualquer pas que desejam compreenderas leis de desenvolvimento social contemporneo e dirigi-lo con

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 305.

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    scientemente rumo ao progresso e justia social, para que possamdomin-lo. Contudo, a clareza e a acessibilidade desta grandedoutrina no tm nada em comum com o primitivismo, a eclcti-ca ou a acentuao de um s aspecto do problema, desprezandoos outros.

    O marxismo-leninismo est organicamente ligado anlisedialotica de qualquer fenmeno social, isto e, a anlise objectiva,multilateral, que considera as condies e a dinmica do desenvolvimento, bem como a luta dos contrrios que fazem partedeste fenmeno.

    esta caracterstica do marxismo-leninismo que se pe emrelevo no que diz respeito essncia do Estado e do seu desenvolvimento histrico.

    J no primeiro captulo, V. I. Lnine reabilita a verdade descoberta por Marx e Engels, dizendo: O Estado o produto e amanifestao docaracter inconcilivel das contradies da classe1. Este postulado que figura como ttulo do piargrafo e desenvolvido mediante anlise pormenorizada, o mais importante eessencial na doutrina do marxismo sobre o papel histrico e o

    significado do Estado.V. I.Lnine invoca antes do mais a famosa obra de F. Engels A Origem da Famlia, da Propriedade Privada e do Estado (1884), em que o autor fez anlise histrica da questo debruando-se sobre as causas do surgimento do Estado, indagandoa sua essncia e mostrando o trajecto futuro de seu desenvolvimento. O leitor interessado na anlise das formas sociais anteriores ao regime burgus tirar, sem dvida, muito proveito e ser-4he- til a leitura do referido livro de F. Engels, onde este examinou a questo do Estado atravs do prisma dos interesses daclasse operria e de todos os trabalhadores pela realizao darevoluo socialista e conseqente edificao da sociedade comunista sem classes. Isto no passou despercebido a V. I. Lnine queem seguida deu a entender que este aspecto da questo tambmera importante para ele, pois ajudava os leitores oriundos das

    massas trabalhadoras, os leitores com esprito revolucionrio acompreender com profundidade a essncia do Estado burguscontemporneo.

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 226. *

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    Alis, prosseguindo o nosso exame da obra leninista e acompanhando lgica do seu pensamento e do texto, falaremos nascausas das relaes especificadas no prprio ttulo do primeirocaptulo, entre o Estado e a sociedade de classe em geral, e entreo Estado e a sociedade burguesa em particular.

    Com base nos numerosos factos histricos fica irrefutavelmenteprovado que, nos diferentes povos do mundo, o Estado surge emdeterminada etapa do desenvolvimento da sociedade como resultado e produto natural e lgico deste desenvolvimento.

    Todos ns, estimado leitor, somos testemunhas e contemporneos do facto de em resultado da luta revolucionria de libertaonacional, os povos do antigo mundo colonial terem formado nosltimos trs decnios sobre as runas dos imprios coloniais, mais

    de 100 Estados novos. As bandeiras destes Estados soberanosdesfraldam-se orgulhosamente em frente da sede das Naes Unidas como smbolo de igualdade e independncia dos povos que selibertam.

    No entanto, regressemos a um perodo histrico um poucomais distante, quando os Estados no se formavam do mesmomodo como hoje das chamas das revolues e guerras de libertao nacional (ainda que as guerras deste tipo desempenhassem tambm um papel importante neste processo histrico) ,mas sim em resultado de guerras entre classes opostas dentro damesma sociedade.

    O Estado representa um fenmeno social temporrio no cenrio histrico. Por exemplo, o regkne comunitrio primitivo noconheceu o Estado. Este surgiu como resultado da diviso social do trabalho, do aparecimento da propriedade privada e da diviso da sociedade em classes.

    Ao se dividir em classes antagnicas, algumas das quais seassenhoraram dos meios de produo (terra, instrumentos detrabalho, etc.) e prosperaram custa da explorao das outrasclasses sem posses, a sociedade gerou uma fora que aparentemente se sobrepe a ela. O Estado representa o poder poltico daclasse dominante com vista estabilizao do seu domnio eco

    nmico e social.V. I. Lnine destacou clara e dialeoticamemte os dois aspeotosda questo do surgimento e dos objectivos a que destina o Estado: O Estado surge precisamente onde, quando e na medidaem que as contradies de classe objectivamenteno podem

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    ser conciliadas. E inversamente: a existncia do Estado prova queas contradies de classe so inconciliveis1.

    Invocando os factos histricos irrefutveis colhidos por Marxe Engels, as suas concluses e generalizaes, V. I. Lnine provade modo convincente que o Estado o rgo de dominao dasclasses exploradoras poderosas sobre as exploradas e sem posses.So precisamente as classes exploradoras que criam o Estadopara oprimir as outras alegadamente com base na lei e no quadro da ordem extensiva a todos indiscriminadamente que chamada a reprimir e abafar, na medida do possvel, os confrontos de classe abertos e agudos.

    Por toda a parte, onde a sociedade se dividiu em classes anta

    gnicas quanto aos seus interesses econmicos e onde se travauma luta de classes, surge o Estado.Aqui no vamos especificar a organizao da vida humana

    numa comunidadp, onde existe uma determinada igualdade nadistribuio dos produtos do trabalho social e, por conseguinte,os interesses econmicos dos membros da comuna, no divididaem classes antagnicas, so em geral convergentes. As comunidades deste tipo, embora espalhadas por zonasrurais do continente africano, tendem a desinitegrar-se, caindocada vez mais em declnio.

    Isto acontece por dois motivos. Primeiro, devido estagnaoeconmica, poltica e cultural, falta de dinamismo e perspectivana organizao da vida interna da comunidade e ao nvel dodesenvolvimento dos meios de trabalho e da produo profundamente distante da civilizao do mundo contemporneo. Segundo,

    devido irupo dinmica da civilizao mundial na estruturacomunitria e tradicional de vida. Inicialmente foi o resultadoda penetrao dos elementos do capitalismo nos imprios coloniais.

    Para os trabalhadores dos pases em vias de desenvolvimentoos xitos dos pases do socialismo vitorioso tm um grande papelaliciador e as relaes polticas, econmicas e culturais com estestm uma importncia de destaque na sua iniciao na civilizaosocialista.

    No seu livro, V. I. Lnine chama a ateno do leitor principalmente para Estado burgus. Isto natural porque os Estados

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 226.

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    burgueses, apesax da diversidade dos seus tipos e estruturas, continuam* a ser numericamente dominantes, inclusive entre muitospases que se libertaram do colonialismo. justamente contraos Estados burgueses que legalizaram, atravs dos rgos do poderpoltico e escala nacional, o sistema de domnio de classe do

    capital sobre os trabalhadores da cidade e do campo, que se destina a revoluo socialista.Se fosse possvel conciliaras classes, uma das quais relativamen

    te pouco numerosa, que se assenhora injustamente dos produtos dotrabalho da outra, oprimindo e humilhando milhares e milhesde pessoas, o Estado no teria sido necessrio. Mas no difcilcompreender que impossvel conciliarestas classes e chegar auma harmonia pela qual uma classe se resignaria voluntria epacificamente com a sua condio de ser pilhada por outra. Edaqui resulta a necessidade de Estado. Daqui resulta tambm ocarcter de classe do Estado. Daqui, a necessidade das massasrevolucionrias que lutam contra a injustia de classe e contrao regime burgus, definirem a sua atitude face a Estado e, depois, concretizarem-na.

    Levando o leitor a compreender a necessidade de derrubar0 aparelho de Estado burgus pela via revolucionria, V. I. L-nine depurou a alma viva do marxismo das inmeras deturpaes, do lixo verbal e das profanaes tendenciosas.

    Depois de Marx e Engels, reafirmou postulado .pelo qualcada revoluo, ao destruir o aparelho de Estado, mostra-nosuma luta de classes descoberta1 e provou que a libertao dasclasses exploradas inconcebvel sem a destruio revolucionria

    e violenta do aparelho de Estado montado pela classe dominante.V. I. Lnine viu-se obrigado a acabar o livro rapidamente, tendo em conta as necessidades prticas da revoluo iminente naRssia de 1917. o que explica as suas numerosas refernciasbastante agudas a respeito dos oportunistas no movimento operrio russo de ento que nos momentos crticos da revoluo democrtica russa, quando se punha no plano prtico a questo daatitude face ao Estado, escorregavam sempre para a teoria daconciliao das classes mediante o Estado.

    Todavia, Lnine no foi apenas o dirigente do proletariadorusso: o seu pensamento operava com categorias do desenvolvimento social universal, do processo revolucionrio mundial.1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 228.

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    No livro, deu uma caracterstica ponderada e precisa dasua poca: a transformao do capitalismo monopolista em capitalismo monopolista de Estado acelerada pela guerra imperialista; como resultado disso, a opresso crescente dos trabalhadores em todos os pases capitalistas por parte dos seus respectivos Estados estreitamente fundidos com as unies capitalistas;a escravizao e a explorao do povos coloniais e dependentespor parte das chamadas grandes potncias imperialistas1.

    Ao mesmo tempo, condenou05 oportunistas do movimentooperrio internacional que deturpavam a doutrina marxista sobreo Estado. Estigmatizou-os porque, enoobrindo-se com uma fraseologia socialista, acabaram por identificar-se de facto com osinteresses da sua prpria burguesia nacional, do seu prprioEstado burgus responsvel pela guerra de rapina, pelo direitode escravizar e explorar os outros povos. Deste modo, ao pronunciar-se contra o Etado burgus e, sobretudo, imperialista eao defender o marxismo dos atentados do oportunismo internacional, V. I. Lnine defendia os povos das colnias e dos pasesdependentes.

    Finalmente, Lnine previa e pressentia o incremento da revoluo mufidial e, encontrando-se ligado a esta por mltiploslaos, queria que, tanto a classe operria russa como a internacional e todos os trabalhadores conscientes compreendessem a suamisso nesta revoluo necessidade de tomar fora o poderde Estado.

    QUAIS ELEMENTOS DA MQUINA DE ESTADO?

    Baseando-se em Engels e fazendo questo de restabelecero postulado marxista sobre a essncia e as formas reais da existncia e do funcionamento do Estado dividido em classes, Lnineespecificou as suas duas caractersticas: a diviso dos cidados deacordo com o critrio administrativo e territorial dentro de umpas e, sobretudo, a instituio de um poder pblico espeoial, o

    qual no coincide com a populao e se lhe ope como uma foraarmada.V. I. Lnine intitula o segundo pargrafo do primeiro cap

    tulo Destacamentos Especiais de Homens Armados, Prises, etc..So estes os instrumentos da fora, do poder de Estado nascidos* Ver: V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 223.21672 17

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    da sociedade precisamente na etapa em que esta se divide emclasses inconciliavelmente hostis e, para evitar a luta armadaentre estas, foram criados, de acordo com a vontade de classe quepossui o poder, destacamentos especiais de homens: o exrcitopermanente, a polcia, o funcionalismo, etc.

    O aparelho de funcionrios pblicos do poder supremo e local(de acordo com a diviso administrativa e territorial), o tribunal,

    o exrcito, a polcia, a priso e as instituies de coaco, tudo isto,tomado em conjunto, ope-se populao, sob a forma do Estadona sociedade dividida em classes antagnicas.

    Para a maior parte dos europeus e isto no passa despercebido a V. I. Lnine , a existncia destes elementos do aparelho

    de Estado j parece to natural, to habitual e at mesmo sagrada que at hoje se mantm cativos dos falsos pretextos dos acti-vistas burgueses e oportunistas que tentam adormecer a conscincia das massas com falas mansas e discursos de aparncia cientfica, sobre a necessidade eterna da existncia do Estado e daconciliao das classes dentro deste mesmo.

    E estas objeces e ataques tornam-se ainda mais requintadose vis, quando os marxistas-leninistas definem com toda a clarezaas tarefas das classes oprimidas \em que se encluem a destruio por via revolucionria do Estado burgus existentee a criao de uma nova organizao de Estado, ao servio dosprprios trabalhadores e no das classes opressoras.

    No contexto da luta de classes aberta, cada revoluo socialde grande envergadura pe, com evidncia e convico peranteas massas, no plano prtico das aces concretas esta questo fun

    damental a questo das relaes especiais entre as foras armadas estatais, a polcia, o exrcito, etc., por um lado, e a organizao armada espontnea da populao, por outro.

    Citando os fundadores do comunismo cientfico e invocandocomo prova exemplos da histria de diferentes povos, V. I. Lninesublinha que a fora do Estado que cumpre a vontade das classese dos grupos dominantes na sociedade consiste, em primeiro lugar,nestes destacamentos especiais de homens armados. Mas, apesar de toda a sua importncia, no so a nica fora da qual oEstado dispe. Alis, este tema ser abordado mais adiante.

    Em paralelo com a agudizao da luta de classes e das contradies dentro do Estado e medida que os Estados com fronteirascomuns se tornam maiores e mais populosos refora-se cada vez

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    mais um poder pblico afastado das massas, multiplicando pormuitas vezes os modos e os mecanismos da sua actuao sobre apopulao do seu prprio pas e de outros pases, contra os quaislana as foras armadas disponveis.

    V. I. Lnine deu nfase previso cientfica de F. Engels que

    h cem anos atrs, quando a passagem para o imperialismo(omnipotneia dos maiores bancos etrusts, grandiosa polticacolonial etc.) ainda estava no seu* incio, escreveu [que a lutade classes e a concorrncia de conquistas fizeram subir o poderpblico a um plano em que ele ameaa devorar toda a sociedadee mesmo o Estado. . .\

    A importncia do papel que desempenhou o Estado burgusna conquista de outros povos e territrios torna-se evidente pelofaoto de que precisamente no incio da segunda dcada do sculoX X , quando o capitalismo j se encontra em plena fase imperia^lista, o mundo ficou partilhado entre uma srie das maiores potncias. Esta partilha de rapina foi possvel devido interveno doexrcito, forca do capital e nos interesses deste ltimo.

    O Esitado e a guerra um tema especial, bastante extensoe complexo. Mas, apesar da sua amplitude, convm sublinhar

    aqui o vigor da concluso leninista pela qual foi precisamenteo poder de Estado rapace da burguesia imperialista que, aodevorar todas as foras da sociedade e ao coloc-las ao serviodos interesses das classes exploradoras, levou concorrncia naextenso das suas colnias e nas esferas de influncia at talponto que o mundo, j altamente internacionalizado no sentidoeconmico e poltico, foi submerso por uma catstrofe militar deflagrou a guerra mundial.

    Munidos de potente material blico, os exrcitos dos Estadosimperialistas contemporneos esto ao servio das classes dominantes. Ao longo deste sculo estes exrcitos j por duas vezesintervieram em guerras mundiais. So incontveis vezes que foramlanados para as guerras locais injustas em quase todos os continentes do nosso planeta. Estes exrcitos, paralelamente ao aparelho interno ramificado de represso nos prprios pases capita

    listas, so o instrumento da burguesia monopolista para conteros movimentos revolucionrios das massas populares e reprimirrovolues.

    ' V. I. /nine. Obras Escolhidas, t. 2, p. 229.

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    Alis, os exrcitos so os operrios, camponeses e empregadosfardados, chamados pelo Estado a prestar servio militar e compelidos muitas vezes a defender os interesses egostas da classecapitalista a que so alheios.

    por isso que o trabalho dos revolucionrios para esclarecimento do verdadeiro papel do exrcito junto dos soldados nosEstados capitalistas to importante para o desfecho da lutarevolucionria tanto nos seus prprios pases como nos pases paraonde estas tropas so enviadas.

    Foi por essa razo que os comunistas da Rssia, dirigidospor V. I. Lnine, se empenharam no esclarecimento da conscincia dos soldados e marinheiros que desempenharam um grande

    papel para a vitria na Revoluo de Outubro.A atitude do exrcito, apesar de toda a heterogeneidade dasua composio social e de classe, face revoluo muitas vezes determinante para o desfecho da mesma. Mais ainda, as forasprogressistas e patriticas no seio do exrcito podem at ser capazes de organizar por si prprias uma insurreio revolucionriacaso no pas ter amadurecido a crise poltica.

    Um exemplo evidente dista foi a recente experincia daRevoluo de Abril de 1974 em Portugal, onde o Movimentodos Capites, aliado s foras democrticas do pas e aos comunistas, capitalizou o descontentamento profundo dos soldadosem redao s guerras coloniais para derrubar o sistema fascistapodre e proceder renovao revolucionria do pas em basesdemocrticas,

    A poltica de Estado capitalista no interesse dos monoplios conduziu muitas vezes a guerras e crises nacionais que puseram em relevo e de modo particularmente agudo as contradies de classe. Apesar de todos os desastres que as guerras imperialistas trazem s massas, num determinado contexto propiciamo surgimento da revoluo. Por exemplo, V. I. Lnine escreveuque a revoluo na Rssia, cuja primeira etapa de desenvolvimento estava a terminar quando foi escrito o livro (incios de

    Agosto de 1917) s pode ser compreendida como um dos elosna cadeia das revolues proletrias socialistas provocadas pelaguerra imperialista1.

    O marxismo-leninismo examina diaiecticamente o problema

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 224.

    2 0

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    da guerra e da revoluo. As guerras imperialistas provocamo protesto das massas trabalhadoras contra o seu carcter derapina e pilhagem. As foras revolucionrias progressistas concebem o papel histrico destas guerras como fenmenosque pem a n essncia de classe e antipopular do capitalismomonopolista de Estado. Nos pases imersos na guerracomeam a amadurecer as condies para revoluo socialista. A necessidade da organizao revolucionria das massas a fim deproceder com xito transformao do Estado explorador emEstado dos operrios, das massas camponesas e de todos os trabalhadores, impe ao partido marxista-leninisita a tarefa de esclarecer s massas a estratgia e a tctica da revoluo socialista.

    Actualmente, em paralelo com o exrcito e a polcia queexistem j tradicionalmente, nos pases capitalistas evoludos tam--se constitudo uma rede bastante ramificada de diferentes instituies do aparelho repressivo, cujas funes tendem a se ampliar.Hoje em dia, a misso deste aparelho, alm de reprimir e prevenir as aces das massas contra as classes governantes, consiste eminfluenciar das mais diversas maneiras a conscincia das pessoase afast-las da luta de classes.

    V. I. Lnine chama a ateno para uma fora do Estadocapitalista que se sobrepe sociedade, o funcionalismo.

    A fase imperialista do desenvolvimento do Estado burguscaracteriza-se pela combinao orgnica, pela fuso do poderdo capital e do poder de Estado, assim como pela plena subordinao do Estado e de todas as suas instituies aos interesses daclasse dominante e economicamente mais potente, a burguesiamonopolista, e aos interesses da obteno do lucro capitalista.

    Para que o Estado possa efectuar esta funo, imprescindvel uma legio de funcionrios que exerce directamente o poderde Estado.

    Debruando-se sobre o problema dos funcionrios pblicos,V. I. Lnine invoca F. Engels, salientando a diferena entre o livrerespeito voluntrio das pessoas pelos rgos do poder que vigorou

    na sociedade gentlica, por um lado, e o conjunto de leis especiaisacerca da imunidade e autoridade dos funcionrios que lhesfacilitam a possibilidade de serem instrumento executivo ao servio do sistema contemporneo de Estado que garante a omnipotn-fia da riqueza.

    D que pe os funcionrios acima da sociedade?

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    Debruando-se sobre a sua situao privilegiada no Estadburgus, V. I. Lnine definiu este problema como fundamenta

    Os privilgios legalizados dos funcionrios de Estado, dburocracia, tal como os do exrcito permanente, da polcia e dtribunal resultam do domnio, no s no campo econmico, mtambm poltico, da classe exploradora.

    A existncia duma mquina de Estado bem organizada adaptada a servir os interesses de classe dos exploradores fadesta ltima uma classe dominante no campo poltico, oferecedo-lhe novos meios, mecanismos e possibilidades de reprimir explorar as massas oprimidas.

    Ao concluirmos que a mquina de Estado burgus no mais que uma mquina militar e burocrtica, cujas peas so omilitares, polcias e funcionrios da administrao pblica, podmos passar para a questo do papel deste Estado em relao classe oprimida.

    UM PEQUENO PARGRAFO SOBRE

    UM GRANDE PROBLEMA *(V. I. LNINE SOBRE O ESTADO NAS CONDIES DO EQUILBRIO DINMICO

    DAS CLASSES EM LUTA)

    Na histria de alguns Estados, escreveu V. I. Lnine no tercero pargrafo, existem perodos relativamente curtos em que as clases em luta alcanavam um equilbrio temporrio das foras. Omotivos desta situao podem ser diversificados. Ora, pode-sverificar o afrouxamento das posies da classe dominante rsultante de derrotas na guerra com os Estados vizinhos. Oraem resultado de uma actividade social crescente e reforo dorganizao das classes oprimidas.

    Alis, em todo caso se as classes exploradas ainda no posuem fora suficiente para a vitria da revoluo , produz-se umsituao temporria em que nenhuma das classes opostas em

    luta tem a superioridade incondicional sobre o seu adversrioa qual indica clara e definitivamente a quem serve neste perodhistrico do Estado o mecanismo do poder pblico.

    Citando F. Engels, V. I. Lnine nomeia fenmenos deste gnero na histria da Frana e Alemanha, qualificando-os comuma espcie de excepo, porque nestes perodos se cria um

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    iluso, uma aparncia de que o poder de Estado, tendo alcanado uma certa autonomia face s classes em luta, se torna ummediador entre elas.

    Aqui vamos lembrar um antigo ditado: as excepes confirmam as regras. E no nosso caso, a ateno de V. I. Lninepara o problema do Estado nas condies do equilbrio temporrio das foras armar-nos- com a ptica indispensvel para analisar dois postulados tericos e prticos de suma importncia.

    Um deles terico e vem especificado no prprio ttulo dopargrafo O Estado Instrilmento de Explorao da ClasseOprimida. O outro ajuda os revolucionrios a elaborarem umatctica acertada em relao s formas republicanas existentes

    do Estado burgus e decorre da anlise do mecanismo estatalda repblica burguesa, que de modo mais requintado ocultaos objectivos de classe deste mecanismo.

    Diga-se de passagem que o problema do equilbrio temporrio das foras foi um problema palpitante para a Rssia mesmo antes de Lnine terminar o seu livro, quando os democrataspequeno-burgueses, que dirigiam os Sovietes de ento, eram j impotentes, e a burguesia no eraainda suficientemente forte,facto que produziu no pas o fenmeno conhecido como dualidade de poderes.

    Para o leitor contemporneo que procura encontrar solues apropriadas para os problemas actuais da transformaorevolucionria da sociedade burguesa, so especialmente valiosas as observaes de V. I. Lnine a respeito da essncia de classee do funcionamento do Estado burgus republicano que aspira

    va ao papel de uma instituio independente e acima dasolasses.Ora, a repblica! Esta forma de organizao de Estado tem

    actualmente a maior divulgao no mundo. Alis, vamos vercomo V. I. Lnine pe a nu a verdadeira essncia de classe darepblica burguesa.

    Com base nas observaes de F. Engels relativamente repblica democrtica burguesa, V. I. Lnine prova progressivamentenos captulos seguintes que, no capitalismo, a forma republicanado poder pblico uma forma que assegura a possibilidade dumaexplorao dissimulada e indirecta e, por conseguinte, particularmente segura e requintada das massas exploradas por partedo capital. ,

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    V. I. Lnine frisa que F. Engels aponitou dois mtodos pormeio dos quais os capitalistas defendem e pem em prtica oseu poder com ajuda do Estado: primeira, a corrupo directados funcionrios e segundo, a aliana entre o Governo e a BolsaAmbos os mtodos desenvolveram-se no contexto do imperialismo e graas ao capitalismo monopolista de Estado, at setornarem numa arte extraordinria.

    O mais importante, assinala aqui V. I. Lnine, que no contexto do Estado burgus na sua forma republicana democrtica, o poder do capital sente-se mais seguro e estvel em comparao com as demais formas polticas, porque no dependede determinados defeitos do mecanismo poltico, de determi

    nadas pessoas, instituies ou partidos burgueses.A repblica democrtica escreveu V. I. Lnine a este propsito o melhor invlucro poltico possvel para o capitalismo. . -1.

    No pargrafo em questo, V. I. Lnine no_ recorre s vastasfundamentaes econmico-polticas desta tese. Todavia, toda aanlise marxista-leninista da essncia de classe da sociedade capitalista leva-nos a esta concluso. Enfim, o capitalismo representa um sistema de relaes sociais, em que um assalariado politicamente livre entra em contacto com um capitalista politicamente livre. Aparentemente, ambos no dependem um deoutro, embora, no essencial, nem o capitalista como capitalista que extrai lucro do capital e se apropria da parte no pagado trabalho do assalariado pode viver sem operrio, nem ooperrio pode subsistir, na sociedade burguesa, sem capitalista,

    sem vender a este mesmo a sua mo-de-obra.A forma da repblica democrtica na organizao de Estado a mais apropriada para esta independncia externa e aparente das duas classes antagnicas que se situam nos paios opostos da sociedade burguesa. S a revoluo socialista capaz deromper as algemas da escravido assalariada e separar estasclasses uma da outra.

    Sem dvida que a referida forma da organizao de Estado historicamente mais progressista, por exemplo, em comparaocom a monarquia, e contm vrios elementos que podem seraproveitados pelas foras revolucionrias para o fortalecimento

    1 V. I. Lnine,Obras Escolhidas, t. 2, p. 231,

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    das posies dos trabalhadores, as aces de classe com vistaao melhoramento substancial da sua situao. A experinciarica da classe operria dos pases capitalistas evoludos colhidaneste sculo, confirma de modo evidente e irrefutvel esta ideia.

    Todavia, a repblica democrtica, sendo apenas uma forma,no altera a essncia do sistema social, do sistema de explorao de uma classe por outra. Por muito profunda que seja ademocratizao da vida poltica no quadro da repblica burguesa e no obstante as forma$ historicamente progressistas deque se possa revestir, o que se mantm invarivel o sistemade opresso de classe que pode ser liquidado atravs da revoluo social que pe no centro dos interesses pblicos e do desen

    volvimento social a classe dos trabalhadores, que a classe operria.No pargrafo citado, V. I. Lnine chama ateno especial pa

    ra a tese de F. Engels de que, na sociedade burguesa, mesmo osufrgio universal no mais que o instrumento de domnio daburguesia.

    Citando F. Engels, o autor estipula que este direito barmetro da maturidade poltica da classe operria. O proletariadoe todos os trabalhadores devem utilizar o mais plenamente possvel todas as possibilidades de luta legal pelos seus interesses declasse que lhes oferece o sufrgio universal e o sistema eleitoralem geral. V. I. Lnine mostra-se intransigente em relao aosoportunistas em todos os pases que incutem no povo essa falsaideia de que o sufrgio universal poderia revelar a vontade damaior parte das massas trabalhadoras e assegurar a sua concre

    tizao.Um s facto, simples e evidente, confirma a justeza dos fundadores do marxismo-leninismo. Em vrios pases, o sufrgiouniversal existe j h mais de cem anos, mas em nenhum destespde garantir e defender efectivamente os interesses dos trabalhadores.

    V. I. Lnine dirige a sua crtica iracunda contra os tericosoportunistas dos partidos socialistas que, na sua propaganda,elogiavam o sufrgio universal, deturpavam o marxismo e incul-cavam ao povo uma mentira notria a este respeito a fim deafast-lo da luta revolucionria pelo derrubamento do jugo docapital.

    Hoje em dia, o que caracterstico dos verdadeiros marxistas-

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    -leninistas o seu esprito intransigente em relao s deturpaes do marxismo na questo do sufrgio universal. Refutam asiluses dos oportunistas e reformistas de todos os carizes sobre apossibilidade de transformar, s atravs do sufrgio universal,o Estado burgus existente em socialista, evitando uma revolu

    o violenta.

    VICISSITUDES DO ESTADO APS A REVOLUO SOCIALISTA

    K. Marx, F. Engels e V. I. Lnine, baseando-se nas leis de desenvolvimento social profundamente estudados por eles, predisseram e fundamentaram teoricamente a viragem revolucionriada Humanidade para a organizao comunista de Estado quese verifica diante dos nossos olhos.

    O comunismo representa uma organizao da sociedade emque o desenvolvimento livre de cada indivduo se tornar umacondio indispensvel do desenvolvimento livre de todos, emque a produo ser organizada com base na associao livre eigual dos produtores e em que desaparecero as classes e, com

    elas, se extinguir o mecanismo social de opresso de classe, oEstado.Voltando anlise do problemade Estado em termos hist

    ricos empreendida por F. Engels, V. I. Lnine sublinha que oEstado no uma categoria eterna. Surgiu no momento em quea sociedade se dividiu em classes opostas uma a outra, tornandopatente a necessidade objectiva do Estado. Mas, quando a prpria existncia das classes passou a ser um entrave para o desenvolvimento da produo social e o progresso histrico, chega otempo de obliterao inevitvel das classes no ardor das transformaes de revoluo socialista, cujo objeotivo final criaruma associao livre de trabalhadores livres. Esta associao jno tem a necessidade do Estado eeste, tal como as classes, tende necessariamente aextinguir-se, passando a ser um objecto aexpr nos museus de Histria.

    V. I. Lnine reproduz uma passagem de F. Engels a respeitodesta concepo, chamando a ateno especial do leitor para aenvergadura e a profundidade do processo revolucionrio histrico universal mostradas pelo grande companheiro de K. Marx.

    Ao mesmo tempo, V. I. Lnine critica severamente os adep

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    tos do marxismo que tentavam vestir a toga do marxismo ssuas concepes reformistas do Estado.

    Os reformistas sempre tentaram e continuam a tentax propagar a teoria da possibilidade do desenvolvimento lento egradativo atravs das reformas, sem abalos e revolues. Fazem

    questo de alimentar as massas com as iluses da superao pacfica das contradies antagnicas de classe, faloificando concepo marxista sobre o futuro do Estado burgus.

    De modo to categrico como faziam anarquistas quandodeclaravam que a prosperidade e a igualdade universais sobreviriam logo aps a abolio do Estado, os reformistas proclamamque o bem-estar e a igualdade chegariam gradativamente, comnovas e novas reformas implantadas graas aotividade conciliadora do Estado burgus que, com o passar do tempo, desapareceria, se extinguiria, ao resolver sucessivamente todas as contradies.

    V. I. Lnine mostra-nos como os reformistas parasitam nomarxismo, deturpando-o e atribuindo postulados caractersticos deum perodo histrico a outro, radicalmente diferente. E mais,pretende-se atingir deste modo dois objectivos. Primeiro, da anlise

    da questo do Estado suprime-se, como que subtilmente e a pretexto de ser desnecessria, a questo fundamental da revoluosocialista. Segundo, sem este mago, esteio, eixo, o marxismo nopassa de uma corrente oportunista no pensamento socialista.

    J na vida de V. I. Lnine, as palavras de F. Engels sobre aextino do Estado serviram de arma para aqueles elementos burgueses e oportunistas que se disfaravam de marxistas como fito de ganhar os trabalhadores para o seu lado. At agora os que procuram confundir a conscincia de classe das massaspopulares recorrem falsificao do marxismo.

    por isso que a anlise leninista do problema terica relativamente extino do Estado e revoluo violenta toimportante para elaborar concepes correctas sobre as tarefasda luta de classes em relao ao Estado, revoluo socialista eao porvir do Estado.

    Ao invocar o insigne raciocnio de F. Engels aduzido no seulivro Anti-Dhring (1876) sobre a interligao entre a revoluo socialista e o Estado, V. I. Lnine na sua minuciosa anlise d destaque a cinco pontos tericos fundamentais referentesao problema da extino do Estado.

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    No primeiro ponto, V. I. Lnine presta a ateno questoprincipal, fundamental da revoluo socialista, a conquista dopoder poltico e de Estado que a classe operria utilizar, antesde mais, para transformar os meios de produo em propriedadesocial.

    V. I. Lnine mostra as profundas mudanas revolucionriasrelacionadas com este acto histrico violento: a classe operria,ao tomar posse do poder de Estado, deixa de ser uma classe oprimida e explorada. Gomo dizia F. Engels a este propsito, o proletariado suprime-se a si prprio como proletariado, suprimeos antagonismos de classe.1

    Com efeito, se a revoluo pe termo burguesia e a todasas classes exploradoras, suprime-se a necessidade social de conservar o Estado que cultive as condies de represso dos trabalhadores anteriormente explorados, os cidados do antigo Estadoburgus.

    Todavia, a classe operria, ao tomar posse do poder em funo da revoluo socialista por ela realizada, enfrenta muitastarefas que pode e deve resolver st5 com ajuda do mecanismoestatal do poder pblico antes de concluir a edificao da orga

    nizao comunista tanto na escala nacional como internacional.Por isso V. I. Lnine, comentando e completando as ideiasde F.Engels sobre a revoluo socialista, precisa e frisa a importncia de ver adiferena das vicissitudes histricas dos Estadosradicalmente diferentes:o Estado burgus suprime-se e destri- -se por via violenta mediante a revoluo proletria, ao passoque o Estado proletrio que surge inevitavelmente sobre as minas do precedente,se extingue progressivamente com passar do tempo, depois de resolver as tarefas destrutivas e construtivas deimportncia histrica, ou citando propriamente F. Engels,vai adormecendo'.

    O que caracterstico dos oportunistas e dos falsificadoresda doutrina marxista-leninista sobre o Estado, que esvaziam oseu contedo revolucionrio, confundirem as etapas histricasde princpios deferentes, ultrapassarem a poca da revoluo

    socialista e desprezarem a diferena qualitativa na natureza declasse do Estadoantes e depois desta revoluo.Perscrutando e desenvolvendo a tese de F. Engels, V. I. Lnine

    * V. I. Lnine,Obras Escolhidas, t. 2, p. 232.

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    dedica o segundo ponto da sua anlise ao problema que dizrespeito relao entre a revoluo socialista e a funo principal do Estado como fora especial para a represso.

    Quem reprime quem com ajuda desta fora especial,antes e depois da revoluo socialista?

    Antes da revoluo socialista, o Estado um instrumentonas mos da burguesia e dos latifundirios ou seja, de um punhado de ricos para reprimir os operrios e todos os trabalhadores.

    Aps a revoluo socialista, o Estado um instrumento nasmos da classe de operrios e trabalhadores para reprimir a burguesia e outros opressores. V. I. Lnine define este Estado como aditadura do proletariado, como o domnio poltico da classe ope

    rria, acrescentando ainda que uma tal substituio de umafora de represso de classe por outra no pode de maneiranenhuma ter lugar sob a forma de uma extino tranqila.

    Aqui V. I. Lnine vincula directamente o problema do Estadocom o da revoluo da classe operria e de todos os trabalhadores.Demonstra de que maneira esta revoluo altera radicalmenteo contedo e a orientao de classe do Estado, destri o Estadoburgus e edifica sobre as suas runas o poder da classe operria,cujo objectivo reprimir o poder do capital e liquidar qualquerdesigualdade social.

    No terceiro ponto da anlise da concepo marxista acercado Estado, V. I. Lnine indaga em linhas gerais uma das maisimportantes caractersticas do novo Estado socialista que surgeaps a revoluo: o seu carcter verdadeiramente democrtico.Aqui sublinha o fundamental: a revoluo socialista inaugura a

    poca em que o Estado se torna o representante autntico de todaa sociedade e perde progressivamente, uma aps outra, as funes repressivas. A forma poltica dum Estado deste tipo a maisplena, inconcebvel nas condies do domnio da burguesia, democracia. No futuro comunista, quando desaparacer tambm oEstado socialista, obliterar-se- a democracia que o Estadosocialista propriamente dito. Vir a ser substituda pela associao de homens livres, dentro da qual, em vez do governo dasrelaes sociais, vigorar o sistema de disposio racional das coisas e da gerncia dos processos de produo, pois j se trata daera de igualdade social completa.

    A citao de F. Engels referida por V. I. Lnine contm umaprofunda e brilhante ideia: O primeiro acto em que o Estado

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    surge realmente como representante de toda a sociedade atomad de posse dos meios de produo em nome da sociedade , ao mesmo tempo, o seu ltimo acto autnomo como Estado1.

    Este acto a revoluo socialista. Assim, s a abordagem,panormica do processo histrico de desenvolvimento da sociedade humana possibilitou aos clssicos do marxismo-leninismo aperscrutar o futuro e mostrar a perspectiva do progresso e da extino do Estado, uma vez resolvidas as tarefas da revoluosocialista.

    O quarto ponto da anlise leninista refere-se palavra deordem do Partido Social Democrata da Alemanha nos anos 70do sculo passado sobre o chamado Estado livre do povo. Foi

    uma palavra de ordem, ento bastante divulgada, pelo partidoem oposio ao governo que continlha, segundo V. I. Lnine, umaaluso legal repblica democrtica. Naquela altura, F. Engels,por razes de matiz propagandstica, estava pronto a justificaresta palavra de ordem, apesar de esta ltima embelezar a democracia burguesa e apresent-la como supostamente popular.

    Ns j analismos a atitude dos fundadores do comunismo

    cientfico face repblica democrtico-burguesa, dizendo que, para a burguesia, a forma mais conveniente de organizao estatalda sociedade. V. I. Lnine, por sua vez, concentrou a sua atenono outro aspecto, mais concretamente: no capitalismo, a repblicadeste tipo tambm a melhor forma de Estado para os operrios,pois, ainda que no liquide a servido assalariada, este sistemade Estado oferece em comparao com os outros sistemas, maiores possibilidades de utilizar as formas legais de organizao daclasse operria e dos trabalhadores na preparao da revoluosocialista.

    s por isso e s em certas circunstncias histricas que oscomunistas do apoio, por motivo da ordem histrica e concreta, palavra de ordem da repblica democrtica.

    O ltimo,o quinto, ponto da anlise leninista do problema daextino do Estado introduz-nos na questo central da teoria de

    comunismo cientfico o problema de revoluo socialista propriamente dita que por via violenta, e no por qualquer outra,destri o Estado burgus, substituindo-o pelo proletrio.

    V. I. Lnine pergunta: como possvel aliar o elogio, at o

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 233.

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    panegrico da revoluo socialista violenta, feito por F. Engels, sua tese referente extino do Estado? E respondendo a estapergunta, d ao leitor uma lio da anlise dialctica, mostrandocomo possvel compreender profunda e integralmente os processos de desenvolvimento social.

    V. I. Lnine opera com o raciocnio de F. Engels sobre o significado histrico da revoluo violenta, no qual aparece umacomparao metafrica, retirada deO Capital (1843-1883) deK. Marx, da violncia com a parteira de toda a velha sociedadeque anda grvida com uma nova1. A violncia o instrumentocom o qual se realiza o progresso histrico e o desenvolvimentoda sociedade e se destroem as formas politicamente velhas e

    fsseis. Esta a dialctica da vida.Cada revoluo vitoriosa que abala fora as instituiespolticas velhas, dinamiza a conscincia social e inculca no povotrabalhador confiana nas suas prprias foras criadoras.

    V. I. Lnine dedica uma ateno especial necessidade deeducar constante e sistematicamente as massas no esprito revolucionrio e de esclarecer-lhes a inevitabilidade e a necessidade

    histricas da revoluo violenta. Refere-se para o leitor as numerosas obr^s de K. Marx e F. Engels, nas quais esta ideia vem fundamentada e oposta s posies oportunistas dos reformistas.

    Concluindo o primeiro captulo, V. I. Lnine expe de maneiraconcisa a essncia da questo. A substituio do Estado burguspelo proletrio escreveu impossvel sem revoluo violenta. A supresso do Estado proletrio, isto a supresso de todoo Estado, impossvel a no' ser pela via da extino2.

    Deste modo, o primeiro captulo da obra leninista introduz-nosnos postulados tericos gerais da doutrina marxista-leninista sobreo Estado e a revoluo. Resumindo, o contedo deste captulopermite-nos compreender a necessidade de: primeiro, a ptica de classe na anlise do problema em questo; segundo, a ptica histrica ampla e panormica;

    terceiro, a ptica dialctica, isto , a que examina processo emquesto luz da interligao entre as suas foras principais eda luta dos contrrios;

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 235.1 Ibidem., p. 236.

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    quartoj ser intransigente e irreconcilivel em relao s concepes oportunistas e anarquistas e s deturpaes da doutrinamarxista-leninista.

    Uma vez armados com estes conhecimentos tericos, vamosprosseguir, seguindo o autor, a nossa anlise da experincia concreta das revolues feita por K. Marx e F. Engels e aprofundadapelo gnio do seu eminente continuador.

    EM QUE CONSISTE O PAPEL REVOLUCIONRIO DO PROLETARIADO NA HISTRIA?

    No segundo captulo, V. I. Lnine examina, na ordem cronolgica e de acordo com a experincia concreta da luta revolucionria do sculo X IX e as generalizaes tericas de K. Marxe F. Engels, o desenvolvimento dos postulados principais da suadoutrina da revoluo socialista e do Estado. Desenvolvendo estespostulados, V. I. Lnine enriquece-os com concluses suas provenientes da anlise da experincia da luta revolucionria no perodo histrico posterior e confirma g.ssim o carcter imorredouro

    e imperecvel do marxismo.O II captulo dedicado experincia das revolues demo-crtico-burguesas na Europa Ocidental no perodo de 1848 a1851, consta de trs pargrafos, cujos ttulos especificam as etapasdo desenvolvimento da revoluo e as etapas correspondentes aodesenvolvimento da doutrina de K. Marx sobre a revoluo e oEstado.

    Todavia, de notar que o pensamento leninista no se limitaa acompanhar o curso dos acontecimentos de modo automtico.V. I. Lnine aprofunda no plano terico o problema da fora revolucionria principal oposta ao Estado burgus o proletariado. A anlise do problema comea de forma mais geral e prossegue atravs da anlise histrica das tarefas que se foram colocando perante o proletariado revolucionrio de acordo com asmodificaes do Estado burgus e o desenrolar das revolues

    burguesas. V. I. Lnine termina a sua anlise provando de modoirrefutvel a inevitabilidade da instaurao de poder poltico revolucionrio da classe operria, quer dizer, acentua claramenteo problema fundamental de toda a teoria marxista-leninista, oproblema da ditadura do proletariado.

    J pertencem histria as greves dos teceles da cidade france-

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    sa de Lion e as batalhas dos operrios nas barricadas das cidadesalems nos meados do sculo passado. No entanto, continuam aser vivas e revolucionrias as concluses tericas de K. Marx eF. Engels resultantes da anlise destas aces organizadas da classe operria que pela primeira vez, embora no quadro das revolu

    es democrticas burguesas, declarou o seu direito remodelao da organizao social e profetizou a sua misso histrica.V. I. Lnine retira das primeiras obras do marxismo maduro

    da Misria da Filosofia de K. Marx e do Manifesto do Partido Comunista escrito em co-autoria com F. Engels, ambas criadasem 1847, precisamente nas vsperas das revolues democrticasburguesas as teses gerais sobre o objectivo final da revoluosocialista, as tarefas imediatas do Estado da classe operria gerado por ela, os motivos que permitem classe operria, e s a ela,solucionar as tarefas histricas que se colocam perante a sociedadeem geral e o destino do partido proletrio.

    Descrevendo em linhas mais gerais a associao comunista,que em virtude dos esforos revolucionrios da classe operriae dos trabalhadores vir a substituir a sociedade burguesa,K. Marx esboa o panorama da futura extino do

    Estado em geral. Mostra o objectivo final e a perspectiva darevoluo socialista a supresso total das classes e dos seus antagonismos, o definhamento progressivo do poder poltico no futuroenquanto manifestao formal do antagonismo das classes.

    Falando da revoluo socialista operria, K. Marx e F. Engels,no trecho do Manifesto do Parti/lo Comunista citado por Lninenas pginas da sua obra, frisam que os seus primeiros passossero a instaurao do domnio poltico da classe operria, a suatransformao em classe governante e a conquista da democraciapara os trabalhadores.

    O proletariado organizado em Estado como classe dominante,utiliza a sua posio para:

    primeiro, ir arrancando todo o capital das mos da burguesia;

    segundo, centralizar todos os meios de produo escala

    do pas; terceiro, assegurar o desenvolvimento mais rpido possveldas foras produtivas.

    Deste modo, o poder poltico serve para resolver antes demais nada, os problemas econmicos que determinam em ltima

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    instncia a carcter e a essncia de todas as relaes sociais.V. I. Lpine qualifica es-te postulado como uma das ideias maisinsignes e importantes do marxismo na questo do Estado porexplicar o conceito da ditadura do proletariado como poder daclasse operria.

    V. I. Lnine sublinha as seguintes palavras:O Estado, isto , o proletariado organizado como classe dominante1e acrescenta que esta definio do Estado resultante da prpria essnciada revoluo socialista e da misso histrica do proletariado, absolutamente inconcilivel com o reformismo, porque destrias iluses oportunistas sobre a transformao pacfica e norevolucionria do capitalismo em socialismo.

    A crtica leninista aos pseudo-socialistas que tentam substituir a luta de classes por iluses sobre a conciliao e a convenodas classes, bem como s utopias pequeno-burguesas sobre a possibilidade da subordinao voluntria de um punhado de capitalistas maioria ajuda at agora a desmascarar a traio dosoportunistas no movimento operrio. Os oportunistas, como antes,procuram os meios para inculcar s massas a ideia do suposto carcter de estar acima das classes, do Estado burgus. E, comoantes, tentam esvaziar a teoria do comunismo cientfico do seucontedo revolucionrio e afastar a classe operria explorada daluta pelo poder poltico.

    E, como antes, no contexto da confrontao contemporneadas duas ideologias de classe escala mundial, impe-se a necessidade de desmascarar os subterfgios oportunistas, levando aanlise da luta de classes na sociedade burguesa at concluso

    revolucionria sobre o imperativo do poder poltico da classeoperria organizado escala do Estado.Porque que K. Marx, F. Engels e V. I. Lnine, nos seus ra

    ciocnios relativamente necessidade do indispensvel da existncia do Estado para os trabalhadores oprimirem as classes exploradoras na revoluo socialista, pem no primeiro plano a classeoperria? Porque que a consideram a nica classe intransigentemente revolucionria capaz de dirigir este processo de opresso,aglutinando em seu torno todos os trabalhadores na luta contraa resistncia desesperada dos capitalistas at liquidao de todaa explorao? Porque que justamente a classe operria que

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 238.

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    pode representar, mediante aces decisivas e de modo coerente,os interesses da maioria esmagadora do povo?

    As respostas a todas estas perguntas podem ser encontradasno livro de Lnine.

    No capitalismo, de acordo com as leis objectivas do desenvolvimento econmico da sociedade, o proletariado, diferentemente de outras classes e camadas qpostas ao grande capital emcrescimento contnuo torna-se a nica classe, cujas condieseconmicas de vida a preparam para esta misso histrica e lhedo a fora para o derrube revolucionrio da burguesia e doslatifundirios. O papel econmico da classe operria na grandeproduo tal que a prpria burguesia, embora contra sua von

    tade, que mediante a centralizao e concentrao da produo,citando aqui V. I. Lnine, agrupa, une, organiza o proletariado1.

    No obstante a opresso do capital e a sua fora com. queesmaga o campesinato e as camadas pequeno-burguesas serem svezes superiores explorao do proletariado, esta presso sos fracciona, pulveriza e provoca a sua desunio. Arrunam-se

    individualmente ou em massa, no entanto no se mostram aptospara a luta independente e vitoriosa pela sua libertao social.

    S a classe operria, ao tomar conscincia do seu lugar nasociedade e o seu papel histrico de libertador de todos os trabalhadores da explorao e desigualdade social, capaz de derrubar a burguesia. Ao se transformar em classe dominante, reprime a resistncia inevitvel das classes derrubadas e organiza todosos trabalhadores para a edificao da economia socialista e remo

    delao justa da sociedade.Ao examinar o papel social e histrico da classe operria,V. I. Lnine passa a seguir para o problema do papel do partidoda classe operria armado com a teoria do marxismo. Mostra aoposio radical entre o marxismo e o oportunismo no que serefere educao dos dirigentes da classe operria. Educandoo partido operrio, o marxismo educa uma vanguarda do proletariado, capaz de conduzir todo o povo pelo caminho revolucionriorumo ao socialismo e organizao justa da vida social sem a burguesia, sem os exploradores. Em contrapartida, o oportunismotem influncia no partido operrio entre representantes dos traba

    1V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 239.

    s* 35

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    lhadores mais bem pagos, que se desligam das massas trabalhadoras, ocupam posies relativamente privilegiadas, so alimentadospela burguesia e, enfim, traem os interesses da sua classe.

    A falta de unidade necessria no seio do movimento operrio contemporneo em muitos pases capitalistas, reflecte-se negativamente na situao dos operrios e trabalhadores e explicada consideravelmente pela longevidade do oportunismo, contrao qual devem lutar os marxistas-leninistas.

    A CONCLUSO PRINCIPAL DA DOUTRINA MARXISTA SOBRE O ESTADO

    J esclarecemos que os Estados burgueses representam umamquina aperfeioada para organizar a vida da sociedade no interesse da represso e explorao da maioria da populao porparte da classe capitalista. Esta mquina representa, antes demais, o poder parlamentar que lhe assegura a mxima concentrao, e o poder executivo materializado na organizao burocrti-co-militar: o exrcito regular, o aparelho repressivo ramificadoe uma enorme hoste de funcionrios. K. Marx qualificou todoeste mecanismo burocrtico-militar como um terrvel corpo deparasitas no organismo da sociedade.

    Seguindo a histria do desenvolvimento do Estadoburgus at poca da transformao do capitalismo monop'olista em capitalismo monopolista de Estado, V. I. Lnine prova que todasas transformaes da mquina de Estado burgus resultantes dasrevolues burguesas s levavam ao aperfeioamento e fortalecimento do aparelho militar e do funcionalismo, alis do aparelhorepressivo contra o proletariado e todos os trabalhadores.

    V. I. Lnine reala que cada revoluo democrtico-burguesaacaba por fazer apenas redistribuio dos lugares burocrticosentre os diferentes partidos burgueses e pequeno-burgueses e,atravs desta renovao do aparelho do poder executivo, ascamadas superiores da pequena burguesia so atradas para o

    lado do grande capital. Como resultado, toda a sociedade burguesa manifesta uma hostilidade irredutvel em relao s classesoprimidas, sobretudo, ao proletariado. O proletariado, por suavez, chega a compreender a necessidade de destruir e suprimirpor via revolucionria a mquina de Estado burgus, que lhe hostil no sentido de classe.

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    A concluso de que o objectivo da classe operria na revoluosocialista no o aperfeioamento da mquina do Estado burgus,mas a sua demolio, a sua destruio, segundo V. I. Lnine, a concluso mais importante da doutrina marxista sobre o Estado.Esta concluso diz V. I. Lnine o principal, o funda

    mental na doutrina do marxismo sobre o Estado1.No II captulo do livro, V. I. Lnine, apoiando-se no raciocnio de K. Marx e na sua prpria anlise da histria subsequente,pe a questo: por qu substituir a mquina destruda de Estadoburgus? E responde: pelo Estado proletrio. Destaca sem equvocos que doutrina sobre o Estado proletrio que h-de substituir o aparelho destrudo do poder poltico burgus, cabe de factoum lugar central no marxismo.

    Cita um famoso extracto da carta de K. Marx ao seu companheiro de luta Weydemeyer, onde, primeiro, exprime a diferena fundamental e radical entre o marxismo e a cincia dos pensadores progressistas burgueses de ento e, segundo, lapidarmente,em vrias linhas, expe a essncia da doutrina sobre o Estado.

    Seguindo V. I. Lnine, cumpre-nos citar as palavras deK. Marx: O que fiz de novo foi, 1., demonstrar que a existn

    cia das classes est meramente ligada a fases histricas determinadas do desenvolvimento da produo...;2 , que a luta de classes conduz necessariamente ditadura do proletariado; 3., queesta mesma ditadura constitui apenas a transio para a aboliode todas as classes e para uma sociedade sem classes.. .2.

    Segundo a definio de V* I. Lnine, s marxista aquele quealarga o reconhecimento da luta de classes at ao reconhecimentoda necessidade de instaurar o poder poltico do proletariado, atao reconhecimento da sua ditadura que, mediante a revoluosocialista, substitui violentemente a ditadura da burguesia3.

    Ao destacar a enorme variedade das formas dos Estadosburgueses que j existiram e possiveilmente existiro ainda,V. I. Lnine sublinha que todos eles sem excepo representamno essencial uma ditadura, isto , uma mquina social do poderda burguesia.

    Lanando o seu olhar para o futuro, V. I. Lnine prev

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 240.2 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 244.a Ver: V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, pp. 244-245.

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    que, a transio do capitalismo para o comunismo no podenaturalmente deixar de dar umaenorme abundncia e variedadede formas polticas, mas a sua essncia ser necessariamentuma s: a ditadura do proletariado, isto o domnio polticoda classe operria que exprime os interesses das massas trabalhadoras1.

    A transio do capitalismo para o comunismo representauma poca histrica sem precedentes no desenvolvimento daHumanidade e exige que o Estado que derruba a burguesia esuprime completamente a sua resistncia, seja democrtico deuma maneira nova, quer dizer, assegure a mais plena democraciapara os operrios e trabalhadores, e ditatorial de uma maneira

    nova, o que significa levar a represso em relao burguesiat ao fim, at ao seu desaparecimento como classe.O conceito da ditadura da classe operria revolucion

    ria, com que opera amplamente a literatura marxista-leninista,no embebe de modo algum o contedo misantrpico ou a essncia anti-humana e antidemocrtica, o que gostariam de lheatribuir os inimigos desta grande doutrina.

    o contrrio, necessrio que na anlise desta obra, assimcomo de todas as demais obras de V. I. Lnine, os leitoreprestem a ateno especial quela parte da vasta caractersticada ditadura do proletariado que reala o facto de ser a democracia para a maioria e que a funo principal desta ditadura, por outras palavras, o poder da classe operria em alianacom as massas camponesas e ourtras camadas consiste em criaas condies de uma organizao social mais humana e da

    associao livre dos trabalhadores criadores, livres e iguais.Os crticos e falsificadores do marxismo-leninismo, procurando suscitar nas massas um repulso, embora que meramente emocional, contra esta doutrina, especulam sobre as associaes negativas deste conceito na conscincia comum da populao dopases capitalistas com os regimes ditatoriais, totalitrios e atmesmo fascistas para predispor os trabalhadores do mundo capitalista contra a revoluo socialista que instaura a ditadura isto , o poder da classe operria , contra os pases do socilismo vitorioso.

    A prtica da luta recolucionria e a divulgao em todo

    1 Ver: V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 245.

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    o mundo da verdade sobre o socialismo real e as suas vantagenspermite combater com xito estas invectivas mistificadoras dosanti-comunistas. Milhes de pessoas convencem-se na prticada justeza das palavras leninistas que dizem que a ditadura deuma s classe necessria no s para qualquer sociedade declasses em geral, no s para o prole tariado que derrubou a burguesia, mas tambm para a totalidade do perodo histrico quesepara o capitalismo da sociedade sem classes, do comunismo1.

    A PRATICA REVOLUCIONRIA NUTRE A TEORIA REVOLUCIONRIA

    O terceiro captulo da obra leninista talvez abunde, maisdo que todas as pginas anteriores, em material histrico concreto: contm a anlise da Comuna de Paris de 1871, os razoamen-tos sobre as revolues democrtico-burguesas de 1905 e 1917 naRssia e a crtica aos oportunistas no movimento operrio.

    Operando invariavelmente com o mtodo histrico objeoti-

    vo de estudo, V. I. Lnine examina no referido captulo os problemas principais acentuados e desenvolvidos de modo fundamental por K. Marx durante a anlise da experincia da primeira revoluo proletria na histria da Humanidade que proclamou a Comuna de Paris.

    No captulo seguinte, IV, o autor perscruta o desenvolvimento da teoria marxista do Estado e da revoluo empreendidopor F. Engels com base na considerao da experincia revolucionria posterior.

    Contudo, tal como os captulos precedentes, este texto le-ninista to abundante em raciocnios prprios, generalizaestericas e concluses concretas importantes para aces revolucionrias prticas na revoluo iminente, que s um cego no veria,por um lado, a unidade orgnica da doutrina de K. Marx eF. Engels e da doutrina de V. I. Lnine que compem de modo

    indivisvel a teoria marxista-leninista integral, e por outro, o contributo personalizado valioso j no do discpulo de K. Marx eF. Engeils, mas do seu continuador genial para o desenvolvimento criador da teoria.

    1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 245.

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    O mrito histrico particular de V. I. Lnine foi depurar asconcepes autnticas de K. Marx das ideias falsificadoras quesaram das penas dos numerosos e ento bastante conhecidosoportunistas e reformistas no movimento operrio. O esprito polmico do livro de Lnine torna-se particularmente evidente noIII captulo. O leitor encontrar aqui um brilhante exemplo daptica de princpios em relao s posies antimarxistas e anticomunistas sobre o problema central da revoluo social, o problema do poder e do Estado.

    V. I. Lnine prova irrefutavelmente ao leitor que a teoriade desenvolvimento social de K. Marx est estreitamente vinculada com a prtica do movimento revolucionrio. K. Marx de-

    diicou-se analise da experincia, corroborao, precisao e areviso de certos pontos da sua teoria de acordo com o desenvolvimento do progresso revolucionrio.

    V. I. Lnine, tal como K. Marx, toma como exemplo a Comuna de Paris para mostrar-nos qual deve ser a atitude paracom o movimento revolucionrio de massas, mesmo que no alcance oseu objectivo concreto. Em plena unanimidade com K. Marx, vneste movimento uma experincia histrica de grande importncia,muito mais valiosa que meras teorizaes, bem como um passoem frente na prtica do desenvolvimento do processo revolucionrio mundial.

    Ao comear pelo exame da lio principal da Comuna noque concerne atitude do proletariado revolucionrio face aoEstado, V. I. Lnine fixa novamente a ateno no imperativo dedemolir a mquina burocrtica e militar de Estado e no se li

    mitar simplesmente sua conquista.Nas pginas do livro que se seguem na anlise concreta dosproblemas da direco da sociedade encontraremos as palavras deV. I. Lnine sobre . . .um mecanismo de elevado equipamentotcnico, liberto do parasita, as de K. Marx sobre a necessidadede amputar os rgos meramente repressivos do velho podergovernamental e outras expresses leninistas, como amputaro parasita1.

    Tal como na poca de V. I. Lnine, h quem tente destacarprocessos meramente tcnicos de organizao racional das coisasno contexto da sua centralizao completa no capitalismo mono

    1 V. I. Lnine. Obras Escolhidas, t. 2, pp. 256 e 258.

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    polista de Estado, por exemplo, o funcionamento dos correios.Assim procura-se camuflar o caracter de classe do mecanismo deEstado burgus hostil aos trabalhadores. Gomo dantes fixa-seportanto um determinado objectivo de classe: apresentar comodesnecessria a ideia de liquidar completamente o pntano lamacento e sangrento, .. ., das instituies burocrtico-militares,que tudo subjugam, que tudo esmagam1. Foi assim queV. I. Lnine caracterizou metaforicamente o mecanismo do Estado burgus.

    No que respeita organizao racional detoda a economianacional, V. I. Lnine sublinhou que o objectivo imediato da revoluo socialista fazer com que seja organizada como os cor

    reios, estabelecendo para os tcnicos, contabilistas e outros funcionrios um vencimento que no exceda um salrio do operrio esob o controlo e a direco da classe dominante no pas, a classe operria.

    Ao mesmo tempo frisou que, no imperialismo, o mecanismode gesto social j est pronto. Liberto da necessidade de serviros monoplios capitalistas, o mecanismo de elevado equipamentotcnico destes monoplios pode servir perfeitamente os trabalhadores do Estado socialista2.

    Para o leitor contemporneo, sobretudo nos pases com populao principalmente camponesa, de grande valor a anliseleninista da revoluo popular includa no III captulo. O autorprova que o marxismo no pode ser reduzido anttese simplese primitivista: revoluo burguesa e revoluo proletria.

    Numa seco relativamente pequena consagrada ao problema

    de revoluo popular, encontramos dois pontos extremamente importantes. Primeiro, sobre a participao das massas populares,isto , das classes exploradas na revoluo democrtica burguesa,que devido a este facto pode transformar-se em revoluo socialista. Segundo, a ideia claramente expressa sobre o aliado principalda classe operria, o campesinato trabalhador.

    V. I. Lnine mostra que, face presso da mquina buro-crtico-militar do Estado burgus, o proletariado se une com amaioria das massas camponesas e, da, a sua tarefa comum ser adestruio desta mquina. Prova tambm que sem aliana dos camponeses e da classe operria no se pode conceber nem uma demo1 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 248.2 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, pp. 255 e 256. '

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    cracia verdadeira, nem as transformaes socialistas que conduzem sociedade sem classes.

    Tanto K. Marx, em que V. I. Lnine se apoiou quando desenvolvia esta tese geral, como o prprio V. I. Lnine no se enganavam com respeito natureza dplice da figura do campons que,por um lado, proprietrio, mas por outro, trabalhador. esta circunstncia que eles tiveram sempre presente na anlise decada caso concreto.

    No contexto da referida questo terica geral, a aliana voluntria da classe operria e do campesinato trabalhador foi econtinua a ser um dos problemas centrais da doutrina do marxismo-leninismo sobre a destruio revolucionria do Estado bur

    gus, da doutrina do socialismo.V. I. Lnine chama especialmente a ateno do leitor para facto de que maneira K. Marx procurou e encontrou na prtica daluta revolucionria e na experincia concreta da Comuna de Paris a resposta questo relativa ao modo de como levar a cabo atarefa principal, j definida no campo terico,- da revoluo socialista destruir a mquina de Estado burgus e substitu-la por uma nova, adequada ao perodo qualitativamente diferentena histria da sociedade, o perodo do domnio poltico da classeoperria.

    Por qu e como o proletariado revolucionrio substitui aexcrescncia parasitria no corpo da sociedade eis o queinteressou prioritariamente V. I. Lnine na anlise das concepesde K. Marx sobre o problema do Estado.

    Partindo da experincia da luta revolucionria das massas

    que desembocou na fulgurante Comuna de Paris, K. Marx tiroulies de importncia histrica universal sobre a organizao doEstado da classe operria que realiza plena e coerentemente ademocracia conquistada na efervescncia da revoluo.

    luz da anlise de K. Marx, V. I. Lnine examina os maisimportantes decretos da Comuna e estuda como as tarefas definidas neles foram includas posteriormente nos programas dospartidos polticos da Europa Ocidental. Mostra que as mesmastarefas figuraram em outras condies, sobretudo, no perodo dasrevolues russas de 1905 e 1917. V. I. Lnine depura da vulgarizao e deturpaes oportunistas a primeira forma histrica doEstado proletrio descrita por K. Marx, a forma descoberta peloscommunards de Paris que assaltavam o cu em 1871.

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    Com base na anlise das obras de K. Marx, V. I. Lnine prestauma ateno especial aos decretos postos em prtica pela Comuna,dando-lhes a sua classificao.

    Coloca no primeiro plano o problema da transformao revolucionria da democracia burguesa em socialisita. Neste contexto,d-se destaque aos decretos que diziam respeito supresso doexrcito permanente do Estado burgus e sua substituio pelopovo armado. Este decreto foi o primeiro da Comuna de Paris.

    A histria das revolues socialistas vitoriosas do nosso sculorepetiu vrias vezes esta aco, "confirmando assim o seu significado transcendente. A supresso do exrcito da autocracia russa e aconstituio no decorrer da guerra civil do Exrcito Vermelhodos operrios e camponeses foi um dos primeiros actos do Podersovitico gerado pela Grande Revoluo de Outubro na Rssia.Todas as revolues socialistas vitoriosas ulteriores, como sobejamente sabido, respeitaram as palavras profticas de V. I. Lnineque rezam: Uma revoluo vale algo, quando sabe defender-se1.

    Outro acto da Comuna de Paris que teve ressonncia histrica universal, foi a supresso do parlamentarismo burgus. AComuna escrevia Marx devia ser no um corpo parlamentar mas um corpo de trabalho, executivo e legislativo ao mesmotempo.. .2

    V. I. Lnine submeteu a uma crtica demolidora o parlamentarismo burgus, pondo a nu todos os seus vcios: mostrou adegenerao da liberdade de palavra e dos debates nos parlamentos burgueses em mero engano, pois os prprios parlamentares no trabalham, no executam as leis adaptadas por elesprprios e no so directamente responsveis perante os seus eleitores.

    Na sua obra, V. I. Lnine continuou e completou as referncias crticas de K. Marx ao parlamentarismo burgus feitas aindaem 1871 como as suas prprias, apontando-as conjtra os oportunistas que apareceram mais tarde e se pronunciaram em defesadeste parlamentarismo.

    O autor chama a ateno para a atitude dialctica de Marxface ao problema do parlamentarismo burgus, sublinhado quena falta de situao revolucionria, os comunistas devem saber

    1 V. I. Lnine.Obras Completas, t. 37, p. 122, 5 ed. em russo.2 V. I. Lnine.Obras Escolhidas, t. 2, p. 252.

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    utilizar mesmo a pocigla do parlamentarismo burgus1, nose deixando aos estados de esprito anarquistas, para a propaganda das suas ideias.

    A revoluo socialista pe termo ao parlamentarismo bur-'gus. Isto no significa, sem dvida, que se suprimem as instituies representativas e todo o sistema eleitoral. Pois, no. Porm, o sufrgio universal, a partir da, pe-se ao servio do povo,os seus representantes eleitos por via verdadeiramente democrtica podem ser amovidos de acordo com vontade do povo eo vencimento dos funcionrios pblicos mais responsveis est emharmonia com o salrio dos operrios altamente qualificados.

    As medidas do gnero V. I. Lnine qualifica de modo se

    guinte: estas medidas democrticas simples e compreensveis porsi mesmas... servem... de ponte que conduz do capitalismopara o socialismo2.

    Mas como prudente V. I. Lnine nas suas comparaes! Aousar a comparao com a ponte, explica logo que as medidasmencionadas relativamente organizao puramente poltica deEstado s adquirem todo o seu sentido quando se trata da transformao da propriedade privada capitalista em propriedade social, quer dizer, quando se trata da transformao econmica radical que determina a essncia da revoluo socialista.

    Por isso o leitor j no pode alimentar as iluses de que seriapossvel construir esta ponte no quadro estreito das instituies polticas representativas da sociedade burguesa, sem revoluo violenta, sem expropriao da propriedade privada.

    V. I. Lnine faz meno de uma outra circunstncia extremamente importante, quando se refere ao sentido da democratiza-co das instituies polticas, q