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COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

Como ESCREVI meu primeiro LIVRO:

guia prático para novos autores

Copyright © Mariana Pereira – 2014

Todos os direitos reservados. Proibida a cópia total ou parcial sem

autorização.

www.marianapereira.com

[email protected]

Trademarks: esse eBook identifica produtos por seus nomes ou

marcas registradas. A menção desses produtos tem propósito

meramente ilustrativo, sem apelação comercial.

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

Introdução ........................................................................................... 4

Por que escrever um livro? ................................................................ 5

Organização é a palavra .................................................................... 9

A criação dos personagens .............................................................. 12

O reino do seu conto de fadas ........................................................ 15

Pesquisar é preciso ............................................................................ 18

Mais dicas para você ......................................................................... 21

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

No ano de 2014, publiquei oficialmente meu primeiro livro. Intitulado Ao

meu ídolo, com amor, a ficção tem romance, comédia, aventuras e tiros por

todos os lados. Não foi fácil chegar até aqui e, se você está lendo este

eBook, acredito que tenha um mínimo de interesse no mundo editorial.

Seja para escrever seu próprio livro, ou apenas por curiosidade, você vai

encontrar nessas páginas as respostas às perguntas que sempre me fizeram:

como é escrever um livro? Como se escreve um livro? Você escreve do

começo ao fim, do fim ao começo, do meio para frente ou para trás? Quais

as técnicas e os segredos de um bom livro?

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

Os motivos que levam uma pessoa a passar horas do dia escrevendo um

livro podem variar, mas adianto que são muito pessoais. Alguns encaram

como uma terapia, outros como um sustento ou apenas por hobby mesmo.

Independentemente da razão, escrever um livro é uma grande forma de se

conhecer e de entender quem realmente somos e o que queremos de

nossas vidas.

No meu caso, escrevi um livro pelo simples prazer da escrita. Sempre li

muito e comecei a sentir a necessidade de me expressar quando tinha 14

anos. Na época, tentei escrever um livro sobre as aventuras da minha

família durante as viagens de férias. Era difícil explicar o que acontecia e o

que me impedia de seguir adiante com a história. Talvez tenha sido o fato

de eu mesma não acreditar que aqueles acontecimentos fossem

interessantes o suficiente para serem lidos ou por não achar muita graça.

Tem coisas que vivemos que parecem legais, mas quando contamos a

alguém, a história tem outro sentido e desperta outros sentimentos.

Tentei escrever esse livro duas ou três vezes, todas elas sem sair do

primeiro capítulo. O problema é que a necessidade de colocar minhas

ideias para fora continuava a me acompanhar. Foi então que comecei a

pesquisar sobre blogs. No ano de 2003, quem tinha um Blogger ganhava

muito mais crédito do que os que hospedavam seus sites no Weblog, por

exemplo. As assinaturas eram gratuitas, mas muito restritas. Lembro de ter

virado noites para me cadastrar no Blogger, que mais tarde se tornaria o tão

famoso Blogspot. Eram os sacrifícios que fazíamos, sem saber que os blogs

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se tornariam ferramentas tão poderosas e até mesmo fontes de renda para

muita gente.

É claro que o Diário de Adolescente, minha página na época, não durou

muitos anos. Para minha sorte, logo surgiram os Fotologs e eu continuei

a escrever, dessa vez descobrindo uma outra paixão: a fotografia. Os papos

continuavam os mesmos, as mesmas reclamações de quem tem 15 anos e

está vivendo os primeiros amores e os conflitos das amizades. O lado bom

da história é que eu continuava a escrever. E quanto mais eu o fazia, mais

eu queria alcançar. Não demorou muito e logo vieram as FanFics, ficções

escritas por fãs, que retratam a vida de seus ídolos de acordo com suas

ideias e seus sentimentos. Quem diria que esses textos, vistos por muitos

pais e mães como “coisa de adolescente”, seriam a porta de entrada para

a minha vida como escritora?

Ao todo, escrevi sete fanfics, sendo cinco finalizadas e publicadas no portal

Fanfic Addiction. Na mesma época, ingressei na universidade de

Jornalismo e lancei meu blog, o MarianaPereira.com, que foi o maior

exercício de paciência e perseverança da minha vida. Eu não podia deixar

aquelas pessoas que me acompanhavam nas mãos. Eu tinha que manter o

blog atualizado, já que os indicadores de novas visitas não paravam de

subir. Em pensar quem eu antigo blog não alcançava mais de 10 leitores

por dia, ver o MarianaPereira.com chegar a 200 visitantes diários era

espantoso e muito bom.

Veja, eu não forcei nada. Fui acompanhando as mudanças das redes

sociais, me aperfeiçoando aqui e ali, sempre buscando maneiras de

satisfazer uma vontade minha: escrever, escrever e escrever. Quando parei

e me dei conta de que minha paixão estava se tornando uma profissão, me

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senti realizada e muito feliz. E as coisas continuaram a caminhar cada vez

mais em direção ao mercado editorial.

Essa parte da história poucas pessoas sabem, mas vou contar nesse eBook

porque pode te ajudar. Muitas vezes, nosso destino está ali, bem diante

dos nossos olhos, mas nós não nos damos conta. Quando eu estava no

segundo ano do Ensino Médio, antes mesmo do mundo das FanFics

chegar à internet e explodir como uma das leituras mais procuradas pelos

jovens, eu inventava minhas histórias nas aulas de Matemática, Física e

Química. Usava os atores brasileiros Fernanda Lima e Bruno Garcia, que

na época protagonizavam a novela Bang Bang. Ao contrário das histórias

de hoje, eu não era uma personagem, apenas narrava os acontecimentos

que os dois viviam. Escrevia freneticamente, como se o mundo fosse

acabar. Tão logo finalizava uma página, entregava para minha colega de

classe, que lia e me dava o feedback. Depois da aula, corria para casa,

digitava aqueles capítulos enormes e distribuía para minhas amigas via

internet. Mal sabia eu que, por trás disso, existia um grupo que aguardava

ansiosamente por cada capítulo. Eu era roteirista da minha própria novela,

que se passava na minha cabeça e na de quem lesse meus textos. Minha

carreira já estava se formando, mas eu não tinha a menor ideia disso.

O momento em que Ao meu ídolo, com amor surgiu em minha mente foi

natural e aconteceu da noite para o dia. Não fiquei mais diante do

computador, como fazia aos 14 anos, na tentativa de criar uma boa

história. Quando dava na telha, pegava um pedaço de papel e uma caneta,

ou abria o editor de textos e escrevia por horas a fio. Juntei todos aqueles

anos de leituras, todos os sentimentos e os momentos que eu vivia e me

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deixei levar pelas palavras que, muitas vezes, eu me espantava por ter

escrito. A sensação era muito estranha e, ao mesmo tempo, prazerosa.

Encontrei na escrita uma Mariana que eu nem sabia que existia. Uma hora

estava rindo, na outra chorava feito criança, totalmente envolvida naquelas

vidas que só existiam dentro da minha própria cabeça. Descobri em mim

sentimentos adormecidos, que eu tinha suprimido por conta dos

acontecimentos que estava vivendo (meus pais se divorciavam na época e

não era da maneira mais amigável do mundo). Coloquei para fora raivas e

angústias, transformando-as em cenas tensas e perigosas, que hoje são

consideradas o clímax da minha história. Escrever um livro fez de mim

uma pessoa melhor, muito mais centrada e disciplinada, que consegue

levar um projeto do começo ao fim. Mas vale lembrar que esse processo

pode ser lento e até mesmo doloroso. Quando escrevemos, nos

conhecemos, ficamos frente a frente com nossas fraquezas. E isso não é

nada fácil.

Antes de mais nada, de digitar ou escrever suas primeiras palavras, pense

em você. Quem é você? Quem você quer ser? Por que você quer escrever?

São essas as respostas que vão te levar ao ponto final da sua história.

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Você resolveu escrever um livro, tem uma história bacana e quer que o

mundo a leia. A pergunta é: por onde começar? Nem sempre a resposta é

“pelo começo”, então se você estava com ela prontinha na ponta da língua,

desista. Você vai começar o seu livro organizando a sua vida e o seu

espaço. De nada adianta correr com o seu notebook por todos os cantos

da casa, isso não vai fazer com o que o seu produto fique pronto. Na

verdade, só vai atrasar o seu trabalho. O que você precisa é estipular metas

e manter o foco no seu objetivo.

Enquanto escrevia Ao meu ídolo, com

amor, mantive ao meu lado um caderno

que apelidei carinhosamente de

“caderninho de histórias” (foto). Ele

não estava ali por acaso. Era meu fiel

escudeiro, onde anotei os esboços do

primeiro ao último capítulo. Tudo

aquilo que eu lia e odiava, fazia questão

de tomar o cuidado de fazer diferente. Me sentia enganada quando lia um

livro e ele não fazia sentido. A história começava em Janeiro, o autor falava

que 10 meses haviam se passado e, quando eu passava para um novo

capítulo, estava em Agosto. Não eram 10, eram sete meses. Como o autor

não prestou atenção nesses detalhes? E foi aí que me tornei o que pode se

chamar de “a psicopata das datas e dos acontecimentos”. Se a minha

personagem respirava às cinco da manhã, eu anotava. Dias, horários,

cenários, tudo ali, rabiscado no meu caderno que só saiu do meu lado

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quando eu terminei de escrever meu primeiro livro. Isso me rendeu ótimas

resenhas, com comentários sobre a leitura fácil e o texto bem organizado.

As anotações também me situavam quando, por algum motivo, eu

precisava parar. Não adianta achar que você vai sentar numa noite e

escrever o livro inteiro em algumas horas. É um processo lento, que cansa

e exige muito dos autores. Embora muita gente ache absurdo, pensar

também esgota as energias de qualquer um. Como eu disse no capítulo

anterior, escrever foi um enorme exercício de paciência para mim, que não

conseguia levar nada adiante.

Embora eu estivesse inspirada e conseguisse escrever quatro ou cinco

capítulos de uma vez, eu precisava parar. Andar um pouco, respirar,

descansar os olhos da luz do monitor e, é claro, encher meu copinho de

Coca-Cola. Sempre trabalhei melhor durante a noite, então virava

madrugadas escrevendo. Chegava uma hora que o meu corpo pedia por

algumas horas de descanso. E essas pausas e sonecas jamais seriam

possíveis se eu não tivesse plena certeza do que tinha acabado de escrever

e de onde queria chegar naquele capítulo. Ter tudo anotado fez com que

eu tivesse mais liberdade e não precisasse ficar 100% do meu dia grudada

no computador. Isso sem mencionar a parte das pesquisas, que era o

momento que eu abria 30 abas no meu navegador. Se não anotasse

qualquer coisinha, perdia no meio do mundo de informações e não acharia

nunca mais. Fora as informações que eu coletava com profissionais da

área, fatos importantes e experiências deles que me ensinaram e ajudaram

a compor os personagens. Manter os arquivos e ideias em seus devidos

lugares me ajudou muito a escrever e organizar a história, sem deixar esses

detalhes de fora.

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Também tenho um pequeno problema de “qualquer ordem é ordem”.

Hoje eu posso escrever o primeiro capítulo, mas amanhã pode acontecer

alguma coisa que vai se encaixar perfeitamente no meio do livro. E aí?

Deixo passar e tento lembrar depois? Negativo. Cada hora escrevo um

pedaço e se não tiver tudo marcado e organizado, nunca vou conseguir

colocar os capítulos em ordem e o fim vai parar no começo do livro.

Organizar, organizar e organizar. Percebeu o quanto escrever já mudou

minha forma de viver? Além de me conhecer, aprendi a ter paciência e a

manter meus arquivos em ordem. E isso não se resume apenas ao

caderninho, viu? Também vale para o seu ambiente de trabalho, que

consiste na sua mesa e no seu computador. Escolha um local confortável,

uma cadeira boa e uma mesa que caiba tudo que você precisa. Como

ficamos muito tempo numa mesma posição, coloque almofadas nas

costas, apoios de braço, fique confortável. Também é importante deixar o

seu desktop organizado. Como os arquivos são muito frágeis e qualquer

problema no computador pode acabar com todo o trabalho, abri uma

pasta no Dropbox, uma conta no Evernote e mantenho um HD externo

e um pen drive atualizados. Qualquer vírgula que eu acrescente ou altere,

todos os arquivos são modificados. Eu sei que parece coisa de gente doida,

mas eu me sentiria pior ainda se perdesse as mais de 300 páginas do meu

livro. É melhor pecar pelo excesso do que pela falta de cuidados, certo?

Encontre a sua maneira de manter seus arquivos e seu espaço organizados.

Faça com calma, cuidado e tenha a certeza de que, quando você terminar

seu livro e tudo estiver em seu devido lugar, você vai agradecer por todo

o esforço investido nessa parte. E quer saber? A sensação de reler essas

anotações anos depois é a coisa mais deliciosa do mundo. Vale a pena!

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Quando contamos uma história, não existe nada mais importante do que

um bom personagem. Ele transforma um cenário feio em bonito, uma

história chata em engraçada e faz com que os leitores viagem pelos

caminhos que os autores quiserem. Tudo neles é crucial: nome,

personalidade, comportamento, família. Um bom personagem é aquele

que amarra uma situação sem deixar pontas soltas, sem confundir o leitor

e mantendo-o focado nos acontecimentos.

Tenho certeza que já aconteceu de você começar um livro e o personagem

ser tão chato, que você desistiu. Acertei? Digo isso sem medo porque já

aconteceu comigo também. Para o meu espanto, com uma das minhas

autoras favoritas. A protagonista da história era tão chata que não consegui

terminar de ler o primeiro capítulo. Muitas vezes nos enganamos e,

quando finalizamos o livro, achamos tudo lindo e incrível. Mas a chance

de um leitor seguir adiante numa história contada pelo personagem errado

é bem pequena. É a velha história da impressão: a primeira, é a que fica.

Quando decidi escrever meu livro, antes de qualquer coisa peguei um

caderno e uma caneta. Fechei os olhos e imaginei como seria o rosto de

cada um dos responsáveis por contar os acontecimentos que eu tinha

criado. Quem seria o chefe? Quem seria o galã? Quem seria a mocinha?

Claro que, com o passar do tempo e conforma a história vai

amadurecendo, as anotações também mudam. Até porque, já dizia um dos

maiores personagens da minha época, Alvo Dumbledore, criado pela

escritora britânica J.K. Rowling para Harry Potter, “naturalmente está

acontecendo dentro de sua cabeça, mas por que isso deveria significar que

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não é real?”. Logo, até mesmo as pessoas que vivem em nossas mentes

estão susceptíveis a mudanças.

Em Ao meu ídolo, com amor, a primeira personagem a ser construída foi a

Ana Maria, uma investigadora durona, com um passado difícil. Ela

carregava a dor de ter perdido os pais aos sete anos, fator que moldou

grande parte da sua personalidade. Por mais bondosa que Ana fosse, seu

coração não abria para nada além de seus amigos, sua profissão e seu

cachorro Bublé. Sem pensar duas vezes, anotei tudo o que eu queria sobre

ela, até mesmo o tipo de carro que ela dirigia.

Não posso dizer que usei todas as informações ou que elas jamais

mudaram, mas qualquer dúvida que eu tinha era rapidamente sanada com

as minhas anotações. Por melhor que seja a sua memória, em

determinados momentos ela vai falhar. Ao meu ídolo, com amor tem 17

personagens, sejam eles vivos, mortos ou que apareçam eventualmente. É

Anotações sobre a personagem de "Ao meu ídolo, com amor"

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quase impossível memorizar detalhes de cada um, bem como suas

histórias e em que momento eles começaram a participar do livro. Ter

tudo anotado e ao alcance das mãos facilitou meu trabalho e garantiu que

o livro tivesse sentido. Até porque, não tem nada que me incomode mais

do que começar a história com um personagem assim para, do nada, ele

ficar assado.

Outro fator que considero importante é o nome. Antes de escolher Ana

Maria, testei inúmeras opções e, por algum motivo, nenhuma delas deu

certo. Eu queria algo simples, fácil de lembrar e comum. Não adiantava

nada a história se passar no Brasil e a minha protagonista se chamar

Maggie, né? Alguma coisa não encaixaria e daria um ar estranho ao livro.

Depois de noites quebrando a cabeça, optei por Ana Maria. Qual não foi

minha surpresa quando, depois que o livro já tinha sido publicado, inverti

a ordem e descobri que formava o meu nome? Maria Ana, Mariana. Tinha

que ser esse mesmo. A escolha do sobrenome dela foi ainda mais pessoal,

já que Paviani vem da família da minha avó materna. Minha maneira de

homenagear parte das pessoas que tanto me ensinaram.

Não tenha pressa em formar a sua “equipe” e, se quiser mudar uma

característica ou outra, não espere. Ao criar personagens que te satisfaçam,

você automaticamente cria uma leitura confortável e fácil para os maiores

críticos da sua obra: os leitores. Se não estiver contente com o resultado,

mude. Estude as opções, estude minuciosamente a vida de cada um deles,

faça com que eles se encaixem na sua vida e que criem uma boa impressão

para você. Só depois apresente-os ao mundo. As chances de serem bem

recebidos pelo público só vai aumentar.

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

Bom, já temos fatos importantes e local de trabalho organizados, seus

personagens já foram criados e você não vê a hora de começar. Agora é a

hora de decidir em qual cidade as suas ideias vão ganhar vida.

Criar um local te dá ainda mais autonomia para escrever sobre ele, afinal

você está no controle. Se quiser uma árvore que fale, então coloque uma

árvore que fale. No caso de uma ficção, tudo é possível e não temos

compromisso com a realidade (embora muitos leitores mais chatinhos

adorem criticar e dar palpite, esquecendo do verdadeiro fundamento de

uma ficção). Mas ainda assim, a coerência é importante e deve ser mantida.

Se optar por ter a tal árvore, não se esqueça de anotar se é só ela que fala,

se todas falam, se é só aquela espécie e todos os detalhes. Não queremos

que a floresta toda comece a falar do nada, certo?

Inventar um lugar, apesar de legal, demanda uma quantidade enorme de

detalhes que só você pode acrescentar. Cultura, leis, tudo depende da sua

imaginação. Cuidado para não abandona-los no meio do caminho e deixar

sua história sem nexo. Até mesmo J.K. Rowling manteve os pés no chão,

mesmo tendo criado um lugar tão fascinante quanto Hogwarts.

O problema maior, no entanto, é quando resolvemos usar uma cidade real,

como eu fiz. Ana Maria e sua turma moram e trabalham em São Paulo

que, apesar de não ser um lugar que eu conheça muito, é uma cidade onde

já vivi algumas experiências. Sei a língua que falam por lá, sei como é o

trânsito e já passei boas horas rodando pelas ruas inclinadas e cheias. Já

peguei metrô, ônibus e já visitei shoppings, teatros e cinemas. Embora

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meu conhecimento não se compare ao de um paulistano, minha

experiência como paulista me salva.

Voltando a falar sobre coerência, cuidado para não escolher uma cidade

brasileira e colocar todos os seus personagens com nomes e sobrenomes

estrangeiros. O contrário também é válido e colocar uma Conceição que

veio de uma família 100% americana, nascida e criada em Nova Iorque,

vai ficar estranho. Inventar ruas e parques também deixa a história um

pouco confusa. Se você ainda não teve essa experiência, eu te conto: é

muito legal ler um livro e visitar o lugar depois. Muito mesmo.

Em Ao meu ídolo, com amor o meu foco não era, nem de longe, turístico.

Grande parte da história se passa dentro de uma delegacia ou de um

apartamento. Evitei dar detalhes sobre a cidade justamente por não ter um

grande conhecimento sobre a vida na capital paulista. Achei que seria

melhor caprichar em coisas que eu realmente sabia ou tinha aprendido a

respeito, fosse em pesquisas ou entrevistas. Por exemplo, como sou

formada em Jornalismo e tenho experiência com Assessoria de Imprensa,

pude montar um capítulo inteiro da personagem Agatha divulgando fatos

sobre os protagonistas. Falar sobre o que sabemos e sobre lugares que

conhecemos é a nossa maior arma para prender o leitor.

Se ainda assim você quiser mandar seus personagens para um lugar que

você não conheça, estude muito. Em meu novo livro, ainda sem título e

sem data de lançamento, a história se passa em Portugal. E sabe quantas

vezes fui até lá? Nenhuma. Mas já recrutei um amigo que morou por seis

meses em Lisboa para me ajudar. Se estou com medo de escrever algo fora

da realidade? Com certeza. Por isso que já abri milhares de abas no meu

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navegador, li textos e dicas de turismo e estou contando com as

experiências dele para montar a história.

Agora, se o seu livro se passa em um ambiente fechado, como uma

delegacia ou um apartamento, não se esqueça de contar os detalhes aos

seus leitores. Dê a eles informações detalhadas, ajude-os a visualizar o

ambiente dos seus personagens. Conte a eles até mesmo a cor da moldura

do porta-retratos, se o corredor da sala até o quarto é longo ou se é

possível ir de um cômodo ao outro em poucas passadas. Não se esqueça

que os livros não tem figuras, precisamos imaginar cada centímetro e cada

detalhe. Quanto mais informações, mais rica será a imagem que o seu leitor

formará do seu local e mais interessado ele ficará na história.

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Bom, a essa altura você já deve ter percebido que eu falo muito em

pesquisa, não é? Eu sei que pareço um papagaio, mas essa é uma das

principais chaves de um bom livro. Quando pesquisamos, aprendemos e

quando escrevemos sobre o que sabemos, a mágica acontece. As palavras

saem mais fáceis, o texto flui, a leitura se torna prazerosa e você conquista

mais e mais leitores.

É claro que, quando falamos em pesquisa, automaticamente pensamos no

Google. E você não está errado se fez isso. Tem mais é que recorrer a essa

ferramenta incrível que temos, mas não se prenda somente a ele. Existem

inúmeras maneiras de aprender mais sobre o que estamos escrevendo.

Enquanto eu escrevia FanFics, usava a linguagem de comédia romântica,

que é o gênero que eu mais leio. Ao escrever Ao meu ídolo, com amor, que

envolve mistério e ação policial, eu precisava aprender como eles se

comportam e como falam. Recorri a livros, documentários e até mesmo

seriados, que me deram total suporte e me mostraram mais ou menos o

caminho a seguir. Claro que a narração foi toda minha, mas é muito mais

fácil quando você sabe o que se espera que a sua personagem grite quando

todos os policiais da equipe dela devem atirar. Sem contar a linguagem de

médico legista, que é confusa e bastante técnica. Se eu não tivesse

pesquisado e aprendido, não teria condições de escrever sobre o assunto

Também aproveitei que uma grande amiga se formou em Direito e tirei

minhas dúvidas com ela, que me deu dicas valiosas. Sem contar o pai de

uma outra amiga, que é policial e também me ajudou bastante. Mas não

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foi só isso que pesquisei. Bernardo Monteiro, outro personagem

importante de Ao meu ídolo, com amor, é ator e leva uma vida agitada, com

fãs caindo de postes em cima de seu carro. Observei durante meses a vida

do ator Taylor Lautner, acompanhei sua agenda e a ação de repórteres e

fotógrafos em cima dele. O que para uns parecia apenas uma “ação de fã

maluca”, para mim era aprendizado e material de trabalho.

Outra coisa que tem me ajudado a escrever o novo livro (aquele que ainda

não tem nome) é buscar imagens de roupas, joias e tudo que eu possa usar

para me inspirar. Até mesmo frases de efeito podem te ajudar a compor

capítulos de qualidade e cheios de emoção.

Pesquisar é tão importante quanto anotar e organizar seus arquivos. Ter

esse material e essa bagagem de conhecimento vai te ajudar não só com

esse livro, mas em seus futuros projetos. Não estipule um período de

pesquisa, busque novas informações o tempo todo. No meu caso,

enquanto escrevia Ao meu ídolo, com amor, lia os portais de notícias com

frequência e me mantinha informada dos acontecimentos ao redor do

mundo. Estudei sobre os protestos de 2013, acompanhei as coberturas de

TV e li matérias positivas e negativas.

Também podemos aproveitar para abordar temas que nos incomodem e

que sejam de utilidade pública. Em Ao meu ídolo, com amor, abordo um

pouco sobre o desrespeito com os policiais (tanto por parte do Governo

quanto por parte da população) e como devíamos lutar por uma segurança

de qualidade. Mas para falar sobre isso, eu precisava primeiro ter

conhecimento, não posso simplesmente jogar a informação de qualquer

jeito e achar que vai ficar tudo bem.

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

Palavras tem força e, se nós temos o dom para usa-las, por que não tentar

alertar nossos leitores sobre o que acontecem por aí? Se conseguirmos

motivar uma ou duas pessoas a quererem um Brasil melhor, já estamos

fazendo a nossa parte e todo esse tempo de trabalho terá valido a pena.

Mas lembre-se: pesquisar não é copiar, ok? Um livro só é seu mesmo se

saiu da sua cabeça, não de relatos que você encontrou pela internet. Leia

bastante, aprenda, mas capriche na criatividade e na originalidade. Seus

leitores e o mundo da literatura agradecem.

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

Separei os tópicos que considero mais importantes e que sempre

funcionam comigo na hora de escrever um livro. Mas é claro que eu não

poderia deixar de dar mais algumas dicas espertas para facilitar o seu

processo de criação.

▫ Mantenha a calma: volto a bater na tecla de que escrever um livro

requer paciência. Se você perceber que não está mais produzindo

como há alguns minutos, pare. Vá fazer alguma outra coisa, navegue

na internet em sites que não sejam relacionados ao seu livro. Brinque

com o seu animal de estimação, saia para uma caminhada, qualquer

coisa que te distraia e te faça esquecer um pouco do que estava

escrevendo. Essas pausas são, além de necessárias, saudáveis e vão

te ajudar a recuperar o fôlego.

▫ Crie um ambiente confortável: já citei esse fato acima, mas estar

num local fresco e bem iluminado também ajuda. Sou super

calorenta, então meu ar condicionado é meu melhor amigo nessas

horas. Também deixo minha caneca abastecida com Coca-Cola. Sei

que não é saudável, que eu devia beber água, que isso e aquilo, mas

enquanto estou criando, nada me motiva e me dá mais energia do

que uma Coca bem gelada. Você gosta de chocolate? Deixe um

pedacinho por perto. Mas não se esqueça de fazer suas refeições

diárias. Esses “petiscos” devem ser moderados e você precisa se

alimentar bem. Já dizia minha avó, saco vazio não para em pé.

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

▫ Música, maestro: quem nunca ouviu a mãe dizer que estudar com

música atrapalha a concentração? Pois eu te digo o contrário. Faça

uma seleção de músicas para cada tipo de cena que você for escrever.

Se for uma parte romântica, escolha as mais calmas, que falem de

amor. Para as mais agitadas, um rock ajuda bastante. Vai rolar uma

festa? Solta o pagodão. Use seus cantores e bandas favoritos a seu

favor e compartilhe isso com os seus leitores. Eles vão adorar saber

o que te inspirou na hora de escrever.

▫ Boca de siri: não saia por aí divulgando muito sobre o seu novo

trabalho. Você não quer correr o risco de alguém pegar sua ideia,

terminar de escrever antes de você e te chamar de plagiador depois.

Durante todo o processo de criação e produção, não espalhe por aí

o tema do seu livro. Isso cria um suspense legal para os seus amigos

e futuros leitores. O segredo também é a alma do negócio.

▫ Marketing é sempre marketing: um livro pode ser bom o quanto

for, sem uma boa divulgação, ele não vai a lugar algum. Comente

sobre ele nas redes sociais (lembre-se de não falar do tema, diga

apenas que está escrevendo), atice a curiosidade das pessoas.

Quando seu livro estiver pronto e você já tiver um título definido,

crie uma página sobre ele no Facebook e compartilhe com seus

contatos. Peça ajuda a eles para divulgar e, se preciso for, impulsione

uma publicação. Seu livro é um produto e você precisa leva-lo o mais

longe possível. Não tenha vergonha de dizer que pagou um anúncio

aqui ou ali. Grandes autores fazem, por que você não faria? Se for

COMO ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO – guia prático para novos autores | Mariana Pereira

preciso, contrate alguém para te ajudar. Existem profissionais que

fazem trabalhos como freelancer e cobram precinhos camaradas.

▫ Conheça sua narração: parece meio estranho, mas nem sempre a

maneira que escolhemos para escrever é a que melhor nos

representa. Comecei Ao meu ídolo, com amor em terceira pessoa, sendo

uma narradora que vê a história de fora. Claro que não deu certo.

Eu não conseguia realmente sentir e passar o que a personagem

estava vivendo, o que fez com que o livro fosse frio e sem emoção.

Foi só depois de ter mais de 200 páginas prontas que eu percebi que

precisava mudar. Apaguei tudo e comecei do zero, dessa vez

escrevendo em primeira pessoa. Meu trabalho fluiu de forma leve e

tranquila, sem traumas e com muita emoção. Teste diferentes

narrativas e escolha a que mais combina com você.

▫ Sinta orgulho: escrever um livro não é fácil. Quando pegamos uma

obra pronta na livraria, achamos que é só sentar e digitar até os dedos

doerem, mas é muito mais do que isso. É pensar, criar, enfrentar os

nossos medos e, pior, nós mesmos. Tenha muito orgulho do seu

trabalho e não sinta vergonha de dizer que você é um escritor.

Valorize o seu esforço e não deixe de mostrar ao mundo sua nova

obra de arte. Você ralou para chegar até aqui, então aproveite o seu

mais do que merecido sucesso. E que esse seja apenas o primeiro de

muitos livros que você vai escrever!

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