como escrever uma tese - sônia vieira - corrigida

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Page 1: Como Escrever Uma Tese - Sônia Vieira - Corrigida

Atenção – o texto não compreende a 5 ed.

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AGRADECIMENTOS

É obrigação do autor agradecer às pessoas que o ajudaram em seu trabalho. No caso deste livro, agradecer não é apenas uma obrigação, mas também um prazer. Pois foi um prazer discutir este texto com os alunos dos cursos de pós-graduação da FOP-UNICAMP. Interrompendo minha exposição repetidas vezes, eles comentaram, argüiram, criticaram, aplaudiram e repudiaram posições - sempre com muita vontade de ajudar. Mas é também com prazer que registro meus agradecimentos a José Merzel, Hélio Frota Vieira, Ivany Aparecida Lombardo, Maria Ignez Guerra Molina, Thomas Joseph Burke e Francisco Gomes de Mattos - professores que leram meus manuscritos, para dar as impressões de quem trabalha do lado de lá. Deles ouvi, em conversas compridas, a crítica justa e perspicaz que só pode ser feita por quem entende do riscado. A lista de agradecimentos não ficaria, porém, completa se eu não agradecesse, com satisfação, a ilustração do livro, feita com muita criatividade por Márcio Vieira Hoffmann, e os serviços de processamento de texto, feitos com a competência de sempre por Ives Antonio Corazza. As pessoas que concluem o curso de terceiro grau ou "curso superior" recebem um diploma que lhes confere o direito de exercer a profissão que escolheram. Algum tempo atrás o formando recebia, além do diploma, um "anel de formatura" com a pedra específica de sua profissão, e passava a ser chamado de "doutor". Hoje, recebem o tratamento precípuo de "doutor" apenas os médicos e - menos comumente - advogados e engenheiros. Já as carreiras mais modernas, como Computação e Estatística, não merecem do público tal distinção. Também não são chamados de "doutor" os profissionais de carreiras antigas como Farmácia, Enfermagem e Pedagogia. Mas quem deve ser considerado doutor, hoje, no Brasil? Na universidade, é doutor quem defendeu tese de doutorado. E o título de doutor vale para qualquer carreira acadêmica: Medicina, Estatística, Direito ou Psicologia. Em outros países, no entanto, e nos Estados Unidos, em particular, distinguem-se os doutores de áreas como Biologia, Arqueologia, Economia e Matemática, que recebem o título de PhD (Philosophiae Doctor ou Doctor of Philosophy) dos doutores da área médica que recebem o título de MD (Medicinae Doctor ou Doctor of Medicine). Mas o que significa "defender" uma tese? Tendo terminado o curso de graduação, o formando ou mesmo o profissional mais antigo - pode candidatar-se a um curso de pós-graduação. Não existem vestibulares. Os cursos mais procurados têm, no entanto, um sistema próprio para a seleção de alunos'. São candidatos naturais os professores universitários e os pesquisadores em início de carreira, além de estudiosos, em geral. Mas podem candidatar-se aos cursos de pós-graduação todos aqueles que pretendem aperfeiçoar-se em ramos específicos do conhecimento. Na escolha do curso, o candidato precisa levar em conta a própria formação. Por exemplo, só fazem pós-graduação em Ortodontia os dentistas, e em Fitopatologia os engenheiros-agrônomos ou profissionais de áreas muito afins. Certos "cruzamentos" são, no entanto, interessantes: um médico pode fazer pós-graduação em Bioquímica; um engenheiro-agrônomo, em Economia; um administrador de empresas, em Estatística. E esses profissionais "cruzados" são extremamente úteis, porque têm visão de duas carreiras. De qualquer forma, convém saber que existem cursos de pós-graduação em dois níveis, isto é, ao nível de mestrado e ao nível de doutorado. Os cursos de mestrado dão título de mestre. Em geral, exigem que os alunos cursem algumas disciplinas e defendam uma dissertação. Já os cursos de doutorado que são em menor número, dão o título de doutor. Em geral exigem que os alunos sejam

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portadores do título de mestre, cursem algumas disciplinas e defendam uma tese.l.l - O que é uma tese? Tese é o trabalho apresentado à universidade pelo candidato ao título de doutor, para a obtenção do título. O trabalho é..... Já existem até exames de seleção. Na área de Economia a seleção dos alunos é feita através de exame nacional, a cargo da ANPEC - Associação Nacional de pós-graduação em Economia. Mas na maioria dos cursos a seleção dos alunos ainda é feita dentro do próprio departamento em que o curso é ministrado. Os critérios de seleção variam, mas em geral se baseiam em notas de provas e entrevistas, além de cartas de recomendação. AS QUESTÕES BÁSICAS 3feito sob a orientação de um pesquisador experiente, denominado orientador. A tese é escrita de maneira convencional e

impressa em formato padrão. Depois, é submetida à apreciaçãode uma comissão julgadora e defendida publicamente.Durante a defesa de tese, cada componente da comissãojulgadora faz objeções ao trabalho do candidato, que então sedefende, contra-argumentando. Depois, a comissão avalia a atuação do candidato e dá o veredicto: a tese está ou não aprovada.Nas universidades brasileiras, convencionou-se usar o ter-mo tese para designar apenas trabalhos de doutorado. Os trabalhos feitos com a finalidade de obter o título de mestre - embora sigam o mesmo padrão das teses recebem o nome de dissertação. Mas nem toda tese é melhor do que qualquer dissertação. Existem teses ruins, que parecem ter sido escritas para irritar quem as lê, e existem dissertações excelentes, que demonstram trabalho meticuloso e inteligente.

1.2 - Em quanto tempo se escreve uma tese : Não se escreve uma tese em menos de seis meses. Tampouco é preciso mais de dois anos, para escrever uma tese. Se você está trabalhando há mais de dois anos e ainda não conseguiu escrever sua tese, faça uma avaliação honesta da situação. O calcanhar de Aquiles será identificado se for dada resposta negativa a uma das seguintes questões:a) você sabe fixar limites razoáveis para seu próprio trabalho?b) você tem boa redação?c) você tem gosto e aptidão para o trabalho acadêmico?

2. O orientador precisa ser credenciado pela coordenadoria do curso. Para isso, precisa ser doutor e já ter publicado alguns trabalhos. Na maioria dos cursos, apenas os professores são credenciados. Não se credenciam profissionais de outros departamentos ou instituições porque o serviço de orientação não é pago. Então, orientar é trabalho dos próprios professores do curso. Por outro lado, você só conseguirá defender uma tese de bom nível em período curto se tiver:a) acesso a uma boa bibliotecab) domínio do idioma em que estão publicados os principais trabalhos sobre o temac) redação fácild) conhecimentos básicos sobre metodologia de pesquisae) boa vontade do orientadorf) pessoal auxiliar (datilógrafos, desenhistas, encadernadores).

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1.3 - Como se escolhe o tema da tese? Quem escreve uma tese é, quase sempre, jovem - por voltados 30 anos - e tem alguma ambição acadêmica. Por conta dessas características, às vezes são propostos temas muito difíceis. Por exemplo, um estudante poderia pensar em escrever uma tese intitulada "A Economia brasileira hoje". O tema seria excelente para um livro, mas é ambicioso demais para uma tese. Então, seja razoável: escolha um tema delimitado e específico ou - que é o mesmo - siga este conselho, escrito em um livrinho destinado aos pesquisadores das áreas de ciências e relatado por Umberto Ecco: O tema "Geologia" é muito amplo. "Vulcanologia", que é um ramo da Geologia, ainda é por demais extenso. "vulcões do México" seria melhor, mas o trabalho resultaria superficial. Já "A história de Popocatepell" - o vulcão que provavelmente foi escalado por um dos homens de Cortez em 1519 e teve erupção violenta em 1702 - daria-tese de maior valor. No entanto, melhor seria um tema limitado a um período mais curto, como por exemplo, "O nascimento e a morte aparente de Parucutin", pois Parucutin é um vulcão que só durou de 1943 a 19523.Também é importante que o tema da tese esteja enquadrado na linha de pesquisa do orientador. Se seu orientador trabalha em genética de milho, não insista em estudar genética de abelhas. Você pode até achar que o tema é, basicamente,o mesmo. No entanto, você não teria as mesmas facilidades de financiamento, bibliografia e laboratório, mesmo que seu orientador superasse a si mesmo, ou que você superasse as deficiências dele. Para não arriscar o certo pelo duvidoso, escolha um tema de tese no âmbito de conhecimentos do seu orientador4.Depois de escolher o tema, verifique se, pelo menos em linhas gerais, suas posições coincidem com as do seu orientador. Profissionais de áreas distintas tratam o mesmo tema sob aspectos distintos, mas profissionais da mesma área podem tratar o mesmo tema sob pontos de vista totalmente divergentes. Por exemplo, o tema "O menino de rua" seria visto sob aspectos diferentes por psicólogos, médicos e advogados, mas poderia ser tratado sob perspectivas ideológicas diferentes por dois sociólogos da mesma instituição5. Então, escolhido o tema da tese se você achar que seu orientador tem opiniões opostas às suas, talvez seja melhor mudar de orientador.3. Diz Umberto Ecco que aconselharia o último tema desde - é claro - que o aluno escrevesse tudo que se sabe sobre o "maldito vulcão". In: ECCO, V. Como se faz uma tese. São Paulo, Perspectiva, 1983. 4. O processo de designar o aluno para o orientador, ou o orientador para o aluno,varia de instituição para instituição, mas em geral o aluno não escolhe - é escolhido, por critérios dos mais diversos: ao acaso, por recomendação ou por simpatia pessoal. Só algumas vezes leva-se em consideração, nesse processo, o tema que o aluno gostaria de desenvolver. 5. Em áreas técnicas também ocorrem discordâncias. Por exemplo, na área de Odontologia um orientador pode sugerir um projeto cientificamente correto, porém não-ético do ponto de vista do aluno. Mas o aluno só deve fazer o que pode e quer defender. 6. Embora o aluno

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possa pedir mudança de orientador, convém avaliar a atitude com cuidado. Em alguns departamentos acirram-se disputas internas, que podem prejudicar o aluno. E, para terminar, um conselho que vale o preço deste livrinho: se você quer escrever uma tese, escolha um tema limitado,um orientador razoavelmente competente e medianamente equilibrado, e trabalhe com afinco, mas sem muita pretensão. Afinal, você vai apenas escrever uma tese - não vai abalara ciência, nem salvar o mundo. 1.4 - De que partes se compõe uma tese? A estrutura de uma tese é sempre a mesma - não importa se a tese é na área de Odontologia, Agronomia, Química, Arqueologia,Psicologia ou Medicina. Recomendam-se as seguintes partes:a) Parte pré-textual ou preliminar Capa Página de guarda Página de rosto Dedicatória Agradecimentos Sumário Resumo Summaryb) Parte textual ou Texto Introdução Revisão da literatura Materiais e métodos Resultados Discussão Conclusõesd) Parte pós-textual ou Material de referência Referências Apêndice Índice Nem todas as subdivisões são, porém, obrigatórias. Por exemplo, uma tese pode não ter "Dedicatória" - é opção do autor -ou não ter "Summary" (resumo em inglês) por determinação da instituição. Também pode não ter "Índice" ou não ter "Apêndice", por não ser necessário. Por outro lado, as sub-divisões do texto - que são praticamente obrigatórias em ciências experimentais - podem não ser indicadas para desenvolver determinados temas em Ciências Exatas e em Direito.De qualquer modo, este livro ensina você como escrever uma tese. Não é, porém, um manual, nem deve ser seguido à risca: você terá sempre que consultar seu orientador. Mas este livro ensina por onde começar...

2,OS CAPITULOS USUAIS

Para organizar o conteúdo de cada capítulo da sua tese, convém que você veja sua pesquisa como resposta a uma pergunta. depois, tente responder: a) qual é a pergunta? b) como você procurou resposta para a pergunta? c) quais foram seus achados? d) o que significam esses achados? Você responde qual é a pergunta no capítulo "Introdução"; você diz como procurou a resposta para a pergunta no capítulo "Materiais e Métodos"; você mostra o que achou no capítulo "Resultados" e você discute o que significam seus achados no capítulo "Discussão".A penas como exemplo, imagine que um pesquisador quer saber se corpos sólidos com pesos diferentes caem, em queda livre, com a mesma velocidade. Você tem aí a pergunta que,na tese, seria colocada na "Introdução". Suponha agora que, para responder à pergunta, o pesquisador fez o seguinte experimento: soltou juntos dois corpos sólidos, um com 1 kg e outro com l0 kg, do alto da Torre de Piza. Você tem aí "Materiais1 e Métodos". Se as pessoas que circulavam ao pé da Torre viram os dois corpos chegarem ao solo praticamente ao mesmo tempo estão aí os "Resultados". E o que significam esses Resultados"? Bem, eles contradizem as idéias de

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Aristóteles, segundo as quais os corpos têm, em queda livre, velocidade proporcional ao próprio peso. Você tem aí a "Discussão". Além dos capítulos "Introdução", "Materiais e Métodos" "Resultados" e "Discussão", as teses têm, em geral, outros dois capítulos: "Revisão da Literatura" e "Conclusões". Alguns orientadores, no entanto, argumentam que a "Revisão da Literatura" é parte da "Introdução", porque ninguém pode fazer uma pergunta sem explicar o que já se conhece sobre o assunto. Outros acham que as "Conclusões são parte da Discussão'' porque dela decorrem. Mas existem orientadores que recomendam - além dos seis capítulos usuais - um outro, intitulado "Proposição" ou "Definição do Problema". Consulte seu orientador, para conhecer a opinião dele sobre essa questão. As divergências não param, porém, por aqui. Os capítulos "Resultados" e "Discussão" também geram controvérsia. Existem aqueles que os querem juntos, e aqueles que os quererem separados. O usual é separar o que se achou ("Resultados do que significam os achados ("Discussão"). Aqueles que os querem juntos dizem que é preciso explicar o significado do que se achou no momento em que se apresentam os achados.Também se discute a terminologia: há quem prefira "Revisão da Literatura" e "Metodologia" a "Revisão da Literatura" "Materiais e Métodos", respectivamente. Por isto tudo, antes começar a redigir a sua tese, discuta o assunto com seu orientador. Aliás, sua tese poderá ser organizada de maneira totalmente diversa se versar, por exemplo, sobre estudo de caso, e7. Todos os corpos caem. no vácuo, com a mesma velocidade e o espaço percorrido por um corpo, em queda livre, é proporcional ao quadrado do tempo de queda (eg. 2). Essa lei foi estabelecida por Galileo Galilei, no século XVII, com base no famoso experimento da Torre de Piza - um marco na história da ciência porque foi a primeira vez que um cientista fez um experimento prático para testar suas idéias. Na época, foi levado a sério. Acreditava-se na teoria de Aristóteles. In: RUSSEL, B.A. A perspectiva científica. 4' ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1977.12 disciplina clínica, ou demonstrar um teorema, na Matemática. Mesmo assim, as linhas mestras de organização, apresentada aqui - mais uma boa conversa com seu orientador - ajudará você a escrever sua tese. Então veja o que você deve escreve em cada capítulo.

2.1 – Introdução A "Introdução" deve dar ao leitor a informação necessária para entender de que assunto trata a sua tese, sem precisar recorrer outras fontes. Para ajudar você a escrever a Introdução aqui estão algumas perguntas que, se bem respondidas, darão forma a esse capítulo.a) de que assunto trata a sua tese? b) porque é importante tratar esse assunto? c) como você tratou o assunto? d) qual é o seu objetivo? É fácil entender por que estas perguntas precisam ser respondidas. Primeiro, lembre que a finalidade da "Introdução" é introduzir. Então, nada mais lógico do que começar explicando a que assunto trata a sua tese. Afinal, ninguém pode se interessar por um assunto - por mais interessante que ele seja - se não souber qual é o assunto. Então venda seu peixe já de início. Depois, explique a importância do assunto que

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você tratou, seja ela de natureza econômica, social, religiosa, histórica, científica ou prática. E busque todos os argumentos que possam convencer :O assunto é pouco conhecido? É desconhecido no Brasil? É controvertido? Melhora a qualidade de vida? Traz divisas para o País. Existem dúvidas sobre aspectos específicos? Enfim, ache as razões que levaram você a estudar tanto - e explique essas razões.Também não deixe de explicar como você tratou o assunto de sua tese. Não é preciso dar todos os pormenores da metodologia que é assunto do capítulo "Materiais e Métodos". Mas, pelo menos em linhas gerais, deixe claro o modus faciendi do seu. Depois, exponha o objetivo da sua tese, isto é, explique a proposição que você pretende defender. Em alguns cursos é até obrigatório que o objetivo da tese constitua uma seção à parte, sob o título "Proposição". Mas existe controvérsia sobre a forma de redigir o objetivo. Você pode escrever, por exemplo: "A finalidade deste trabalho é testar a hipótese de que duas aplicações tópicas de flúor, no decorrer do ano escolar, diminuem a incidência de cáries em crianças na idade de dentição mista".Essa maneira de redigir é bastante comum e talvez seja a maneira preconizada pelo seu orientador. Note, porém, que a redação sugere trabalho em fase de projeto. Mas, se você já começou a escrever sua tese, é porque o trabalho está em fase de execução, não é mesmo? Alguns orientadores no entanto argumentam que a "Introdução", por ser o primeiro capítulo da tese, deve ser escrita quando ainda se desconhecem os "Resultados". Mas ninguém deve começar a escrever um trabalho pelo primeiro capítulo, e – mesmo que o fizesse - capítulo de tese não é capítulo de novela de televisão, que não pode ser modificado depois que foi ao ar...Outros orientadores entendem que o objetivo não pode ser redigido como se a tese ainda estivesse em fase de projeto. Exigem então o verbo em outro tempo, isto é, no passado. Se for esta a opinião do seu orientador, você deve escrever, por exemplo: "O objetivo deste trabalho foi verificar se a inflação cresce com o déficit público". Mas o leitor não sabe, quando lê esse objetivo, que proposição você pretende defender. Afinal, a inflação cresce, ou não cresce, com o déficit público? Pois há quem use essa crítica como defesa. Argumenta-se que o objetivo deve despertar o interesse do leitor. Trabalho científico não é, contudo, novela policial. O interesse da literatura científica não é estabelecer um clímax, mas dar ao leitor condições para julgar a qualidade da informação, reproduzir o trabalho e verificar se as conclusões são convincentes. Nesse sentido, é bom que as cartas estejam na mesa. Ou seja, é melhor escrever, por exemplo: "Este trabalho mostra que o crédito rural favoreceu a modernização da agricultura, na década de 1970". Escrito dessa forma, o objetivo da tese exibe a proposição que você, de público, se propõe a defender para virar doutor. Mas não tenha dúvida: essa maneira de redigir o objetivo será criticada. Dirão que isso não é o objetivo - mas a conclusão da sua tese. A idéia de uma proposição inicial igual a uma conclusão final é, porém, antiga e corrente. Basta lembrar os teoremas de Matemática que tem uma tese - por exemplo: ` A soma dos ângulos internos de um triângulo é 180°"... - que deve ser demonstrada. E, quando isso acontece, escreve-se

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alegremente ao final c.q.d. (como queríamos demonstrar) ou, mais esnobemente, q.e.d. (quod eramus demonstrandum).Mas seu orientador deve ter opinião formada sobre o assunto9. E se ele acha que o objetivo de tese deve ser escrito com proposta de trabalho, adote a velha técnica de só identifica o assassino no final do último capítulo...

2.2 - Revisão da literatura Para escrever uma tese, é preciso ler. Então leia tudo o quanto puder sobre sua área de trabalho, mas leia também sobre assun8. Como bem colocou Robert A. Day que foi, durante 19 anos, editor da Sociedade Americana de Microbiologia: "Em ciência é preciso dizer já de início que o assassino é o mordomo...". In: DAY, R.A. How to Write and Publish a Scientific Paper. 2' Ed Filadélfia, Isi Press, 1983.9. Um aluno não deve atropelar seus princípios apenas para agradar - ou mesmo para obedecer seu orientador. Mas os aspectos meramente formais da tese devem ser decididos pelo orientador que, em geral, segue as regras da instituição ou, na falta delas, suas próprias idiossincrasias (e não há como mudá-las).OS Capítulos USUAIS 15tos correlatos e sobre assuntos básicos, como estatística e metodologia científica. Não encare a leitura como perda de tempo,mas como investimento na sua formação de pesquisador. Onde você acha o que ler? Nas bibliotecas e nas livrarias, é claro.As pessoas que gostam de estudar vão às bibliotecas e livrarias procurar livros e revistas que nem mesmo sabem que existem.Então aprenda a "ir à biblioteca" e "visitar as livrarias". Você pode procurar determinado livro que lhe foi recomendado, mas pode também só pesquisar. No início, seu orientador indicará o que você deve ler -livros, revistas, separatas. Afinal, ele é o especialista na área.Então ele fará a "pergunta" que deve dar origem à sua tese.Ao especialista na área ocorrem perguntas e respostas até mesmo nas horas mais impróprias. Basta lembrar a história da descoberta,feita por Arquimedes, de que a densidade de um corpo é inversamente proporcional ao volume de água por ele deslocado.Segundo se conta, Hieron, Rei de Siracusa, queria uma coroa. Entregou então um certo peso de ouro a um ourives,para que lhe fizesse uma coroa de igual peso. No prazo estipulado, o rei recebeu a coroa, que pesava o combinado. Surgiram,porém, rumores de que o ourives havia substituído parte do ouro por prata. O rei então encarregou Arquimedes de responderá questão: a coroa do rei é de ouro puro ou é de ouro e prata?Arquimedes passou a pensar no problema continuadamente. E certo dia, quando foi à casa de banhos e entrou na banheira cheia d'água, entendeu que o volume de água que transbordava era proporcional ao peso da parte de seu corpo imersa em água.Eufórico por ter atinado com a forma de resolver seu problema,pulou da banheira e, ainda nu, saiu correndo e gritando "Eureka!Eureka!" (que significa "Achei! Achei!"). Conta a história que Arquimedes provou assim que na coroa do rei havia muita prata.10. A história da descoberta da "Lei de Arquimedes" foi contada pelo arquiteto romano Vitruvius, que viveu no começo da era cristã, isto é, cerca de duzentos anos depois do famoso sábio. Mas os escritos de Arquimedes a corroboram. In: BEVERIDGE,W.J.B. Sementes da descoberta científica. São Paulo, T.A.

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Queiroz Editor-EDUSP, 1981.OS CAPÍTULOS USUAIS Pois você também irá gritar "Eureka!" quando encontrara resposta à pergunta feita pelo seu orientador. Mas, é preciso trabalhar. Então, a partir do material básico que seu orientador lhe forneceu, e de algumas sugestões adicionais, comece a revisar a literatura por conta própria. Para isso, procure nos artigos que seu orientador recomendou as palavras-chave ou uni termos (key words). Depois, vá à biblioteca e procure as palavras-chave no fichário por assuntos. É preciso, porém, certa intuição. Se você está interessado em "Ética na pesquisa médica", não procure apenas "Ética". Veja também "Pesquisa médica", "experimentação humana", "Experimentação com seres humanos","Experimentos médicos", "Cobaias humanas", "História da Medicina". Se achar um texto de interesse, veja as referências bibliográficas contidas nesse texto. Essas referências, por sua vez, vão proporcionar novas referências. E você logo verá que tem muito o que ler.Na dúvida, procure os bibliotecários que são sempre muito prestativos. Informe-se sobre os serviços que podem ser oferecidos a você - como empréstimos de livros de outras bibliotecas, cópias Xerox de artigos de revistas assinadas por outras bibliotecas, acesso à informação bibliográfica por computador.Peça, quando precisar, ajuda para a localização de documentos.E aprenda, com os bibliotecários, a usar obras de referência como catálogos, manuais, anuários e resumos.Não se restrinja, porém, a uma só biblioteca, nem busque bibliografia só na universidade. Procure outras fontes de informação. Afinal, se você pretende escrever uma tese sobre deter-minado assunto, precisa estar muito bem informado sobre ele.Procure informações na imprensa diária, como artigos de jornais se revistas, e programas de televisão. Ou, ainda, em atas de sociedades, em livros de empresas, em museus, em arquivos,se for o caso.Não basta, porém, procurar livros e revistas, nem basta ler tudo. Você precisa fazer uma revisão da literatura. Para isso, é preciso resumir e comentar o que você leu. Não pense em "ajuntar tudo", para depois começar a redigir. Faça o resumo enquanto lê. Ou faça uma ficha, com sua opinião. Ou tire18 uma cópia Xerox e anote nela o que achar necessário. Mas grife,anote, resuma. Não empilhe livros e cópias Xerox de artigos,sem comentá-los, porque, depois de algum tempo, você não saberá sequer se os leu.Se os livros são emprestados, não os rabisque. Tampouco rabisque livros raros ou antigos, mesmo que sejam seus. Mas aprenda que livros-texto são material de consumo. Se você tem alguma pretensão como pesquisador, compre livros, e faça neles suas anotações. E toda vez que encontrar informação de interesse para sua tese, anote de imediato. Use caneta do tipo "marca-texto", ou use marcadores de papel, ou qualquer outro sistema, mas anote o que você pensa, enquanto lê.Depois de ler e resumir, ordene o material que você dispõe,por tópicos. Releia, para saber se você precisa de mais informação. Complemente. E assim que puder, comece a relatar a evolução histórica do assunto que você estudou. Não ë preciso,porém, "começar do princípio", nem é preciso exibir conhecimento sobre "toda a literatura". Aliás, isso seria missão impossível. Mas mostre que você conhece um pouco do passado e está acompanhando a evolução do

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assunto na literatura, até o presente.Nesse relato, você deve expor contradições e dar a sua opinião. Pode até tomar partido em algumas controvérsias -mas dificilmente você fará uma crítica abrangente de toda a literatura internacional. Saiba, porém, que alguns orientadores cobram uma postura crítica em relação à literatura. Mas não se atreva a ir muito longe. Para isso, seriam necessárias a maturidade e a erudição que só se adquire depois de anos de trabalho" .Então, em seu primeiro trabalho, não exija demais de si mesmo:seja mais descritivo do que propriamente crítico.Para estar a par da literatura técnica, você precisa conhecer outro idioma, além do português. Não é preciso "falar inglês".11. Além dessas características, também é preciso independência profissional, pois ainda existem pessoas capazes de "cortar o contrato" do assistente que se atreve a criticar suas obras.OS CAPÍTULOS USUAIS 19Basta ser capaz de ler assuntos técnicos em inglês ou em outra língua - como alemão, francês ou japonês, por exemplo com auxílio de dicionário. O conhecimento de vários idiomas ajuda, mas não é essencial. De qualquer modo, tente ler, se tiver oportunidade, em espanhol e em italiano, ou em francês.Se teimar, é possível que, dentro de algum tempo, você adquira razoável habilidade para ler assuntos técnicos em alguma dessas línguas.Se o assunto de seu interesse está publicado apenas em determinado idioma, você precisa aprender a ler, com desenvoltura, nesse idioma. Se as traduções são controvertidas, é preciso ler, sobre o assunto, no original. Por exemplo, se sua tese versa sobre as obras de Freud, é preciso que você leia alemão. No entanto, para estar apenas informado sobre um artigo publicado em outra língua, use a tradução em português, encomendada a um tradutor.Finalmente, existem teses que ostentam pobreza franciscana no capítulo "Revisão da Literatura": poucas obras vistoriadas, ou apenas obras já desatualizadas, ou mesmo obras de uma só equipe. Um autor que gosta de controvérsia escreveu que gostaria de ter, por epitáfio, a seguinte frase: "Procurou sarna para se coçar- foi o que mais encontrou"'z. Nada espanta mais,em algumas teses, do que a pouca literatura referenciada. E os autores se justificam: "não há nada publicado na minha área".Na verdade, eles não procuraram sarna para não "ter que se coçar".2.3 - Materiais e Métodos No capítulo "Materiais e Métodos" você deve dar informação suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir seu trabalho. Isto porque só é considerado científico o trabalho que12. O autor é Kurt Kloetzel. A frase está na autobiografia do autor In: KLOETZEL,K. O que é Medicinn Preventiva. São Paulo, Brasiliense. 19A4.ZO é passível de reprodução. Mas para que possa ser reproduzido por colega de igual competência - seu trabalho precisa ser bem descrito. Comece descrevendo todos os materiais utilizados.se você fabricou ou produziu materiais, faça ilustrações, na forma de fotografias ou desenhos técnicos. Enfim, convém descrever:a) época e local do trabalho;b) tipo de instrumental utilizado;c) forma de obtenção do consentimento do participante da pesquisa, sempre que for feita experimentação com seres humanos;d) especificações técnicas, quantidade, fonte ou método de preparação dós materiais;e) equipamentos.No entanto, não descreva equipamentos comuns ou de uso

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geral, como balanças, microscópios, vidraria. Também não conforme nomes comerciais de drogas e similares, e de equipamentos, pois é inerente a tais nomes a propaganda. Existe algumas uma ressalva a esta regra: o nome comercial deve ser inspecionado se as diferenças entre as marcas forem críticas para reprodução do trabalho.Terminada a descrição dos materiais, passe à descrição e métodos, na ordem em que foram executados. Só abandone a ordem cronológica se foram executados métodos similares e diferentes períodos de tempo. Nesse caso, descreva-os juntos. Se existem métodos alternativos e você optou por deles, justifique, isto é, explique as vantagens do método utilizado. Mas não esqueça de citar as desvantagensl3.13. Alguns orientadores podem achar que tais justificativas devem ser apresentados no capítulo "Discussão". Mas o que deve ser discutido, no capítulo "Discussão",os resultados e, eventualmente, as limitações que materiais e métodos impõem aos resultados. As razões que levaram você a eleger determinado método devem ser apontadas quando você apresenta o método. Existe apenas uma ressalva a esta observação: se a tese tem, como objetivo, comparar métodos, discuta-os no capítulo "Discussão".OS Capítulos USUAIS 21Cuidado para não deixar margem à dúvida, isto é, escreva antecipando respostas às perguntas que poderiam ser feitas por examinadores durante a defesa da tese e por colegas, durante a eventual reprodução do seu trabalho. Por exemplo, se você colocou material na estufa, informe por quanto tempo e em que temperatura. Afinal, se essa informação não estiver escrita,quem for reproduzir seu trabalho terá a dúvida - e fará a pergunta.Para testar a exatidão de suas descrições, peça a um colega para ler seus manuscritos e pergunte a ele se saberia reproduzir seu trabalho. Ouça as dúvidas, responda às perguntas, e reescreva todo trecho dúbio. Com essa atitude, você não só melhora o texto como aprende a trocar informações - o que é muito importante porque, hoje em dia, progride em ciência quem sabe trabalhar em equipe.E não esqueça de mencionar a análise estatística, que também é método de trabalho. Se você desenhou gráficos, calculou médias e desvios padrões, cite o que fez. Não é preciso descrever o método, nem explicitar as fórmulas. Se, porém, você usou método estatístico sofisticado ou desconhecido em sua área,convém descrever o método e citar toda a bibliografia consultada.Mas não deixe de submeter seus dados à análise estatística,mesmo que você não tenha gosto pela Matemática. Se for necessário, procure um consultor. Mas é sua responsabilidade decidir- junto com seu orientador - a quantidade de estatística que deve ser apresentada em sua tese. Muitos problemas admitem mais de uma solução. É claro que as técnicas estatísticas mais elaboradas são excelente ferramenta de análise - desde que você as entenda. Mas se você não as entende - elas só irão rechear sua tese, sem abrir novos horizontesl4.De qualquer modo, não se aventure fazendo análises estatísticas desconhecidas, ou pouco usuais em sua área de trabalho,14. Como já disse alguém, a estatística às vezes serve ao pesquisador como o poste serve ao bêbado: simples ponto de apoio, ao invés de fonte de iluminação.22 já na sua tese de mestrado, a menos que você tenha muita aptidão para a Matemática. E trabalhe sempre sob a

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supervisão do seu orientador ou de profissional de estatística por ele indicado.Finalmente, é razoável começar a escrever a tese pelo capitulo "Materiais e Métodos". O pesquisador sente-se mais seguro descrevendo o que fez. Mas não faça um rol, redija. E não antecipe resultados, porque o capítulo "Materiais e Método deve trazer apenas a receita para a obtenção dos dados.2.4 - Resultados capítulo "Resultados" é, de certa maneira, a razão de sua tese. Você achou um problema interessante ("Introdução"), leu muito sobre ele ("Revisão da Literatura") e mostrou como se usa toda uma parafernália para resolvê-lo ("Materiais e Métodos"). Mas é só no capítulo "Resultados" que você mostra o que realmente conseguiu... Então, muito capricho!Comece apresentando os dados sem, no entanto, descrever métodos que você já descreveu - ou deveria ter descri tono capítulo "Materiais e Métodos". Ou seja, faça apenas uma rápida apresentação. E não sobrecarregue seu leitor com pormenores desnecessários'5. Se você fez poucas determinações e coloque-as no texto. Se você fez muitas determinações, arraje-ás em tabelas e gráficos. Nesta fase você deve consultar Estatístico ou - pelo menos - um bom livro de estatística.Apresentados os dados, passe à análise estatística. E lebre que a interpretação é essencial. O resultado do teste é,não ë, estatisticamente significante? Esta informação é resultado seu trabalho, embora alguns menos avisados insistam que é discussão. Está errado. No capítulo "Discussão" você deve apenas discutir o significado da estatística, mas a interpretados testes deve ser apresentada no capítulo "Resultados".15. Como já disse alguém, se o mapa da província contivesse todos os detalhes da província seria, necessariamente, do tamanho da própria província.24 Finalmente, lembre que os centros de computação coloca programas à disposição dos interessados. Essa situação, embora desejável, tem um risco sério. Aliás, existe na Medicina um paralelo que merece ser lembrado. Sabem os médicos os perigos da automedicação - principalmente quando feita por leigo-, mas as farmácias e drogarias continuam vendendo remédios sem a necessária prescrição, pondo em risco a saúde das pessoa Assim também são os Centros de Processamento de Dados que fornecem programas de computador sem o necessário diagnóstico. O usuário de tais programas pode dar determinado tratamento estatístico a seus dados e obter um resultado para por no papel =verdadeiramente estapafúrdio. Uma história do nosso folclore político ajuda a pôr os pingos nos i's.Conta-se que, para reinaugurar o Teatro Municipal de São Paulo, foi convidado um cantor de óperas italiano, com prestígio internacional. Mas o cantor acabou não vindo, porque pediu um preço muito alto pela apresentação. Na ocasião, o ente prefeito foi claro: "Por esse preço, eu canto". Não cantou Senhor Prefeito, em momento de bom senso. É esse bom senso que deveriam ter nossos pesquisadores. Só deve cantar ópera quem sabe cantá-las.2.5 - Discussão "Discussão" é, de longe, o capítulo mais difícil de escrevi porque é nele que você explica seus resultados. Para ajudar você redação desse capítulo, aqui está uma sugestão: escreva procurando dar respostas às seguintes perguntas:a) Que significam seus dados e suas estatísticas?b) Até que ponto seus resultados estão de acordo com resultados

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apresentados em trabalhos publicados?c) Que razões tem você para acreditar que seus resultados comprovam determinada teoria?d) Que razões tem você para acreditar que seus dados contradizem idéias prevalecentes ou permitem refutar determinada teoria?OS CAPITULOS USUAIS 25e) Que nova hipótese, ou que nova teoria, você pode lançar para explicar o fenômeno que você observou? (Mas tenha senso crítico, pois não se estabelecem teorias novas todos os dias. .. )f) Que tendências e generalizações sugerem seus dados,além da inferência estatística usual? Que novas linhas de pesquisa você pode propor?g) Que "solução mais simples" ou que "solução mais barata" você conseguiu para um problema real? Qual é a importância dessa solução?Além da sugestão, cabe também um lembrete: é na "discussão" que você exibe toda a sua competência e a sua (improvável!) incompetência. Mas - se você errar - aqui estão algumas histórias que podem servir como consolo ou advertência,e mostram como é difícil ser cientista.Durante muito tempo acreditou-se que o Sol girava entorno da Terra. Mas Galileo resolveu lançar a teoria de que a Terra gira em torno do Sol. Na época, a ousadia de discordar das teorias correntes era resolvida de maneira sumária: queimava-se o defensor das idéias esdrúxulas na fogueira. Galileo só não foi queimado vivo porque já estava velho e era de familiar importante, mas foi obrigado a negar a sua teoria, ajoelhado sobre ossos sagrados. Hoje já não se queimam as vozes discordantes na fogueira. Mesmo assim, um conselho: você deve ser elegante na crítica e dosar seu tom de discordância com a literatura, principalmente se, na literatura, estiverem os trabalhos do seu chefe...16. Este trecho do juramento de Galileo deixa claro que a autoridade não deve ser contestada: "Eu, Galileo Galilei, de 70 anos de idade, filho do falecido Vicenzio Galilei,de Florença, tendo sido trazido para ser julgado, estando ajoelhado perante vós, eminentíssimos e reverendíssimos cardeais, inquisidores gerais da República Cristã Universal contra a depravação herética, e tendo diante dos meus olhos os Santos Evangelhos que toco com as mãos, juro que sempre acreditei e que, com o auxílio de Deus, sempre acreditarei, em todos os artigos. que a Santa Igreja Católica e Apostólica de Roma prega. E,por que me foi ordenado pelo Santo Ofício abandonar a falsa opinião de que o Sol...Conta-se que, depois de jurar que a Terra estava parada, Galileo teria resmungado:"Eppur si muove!".26 Mas nem sempre é preciso discordar. Aliás, você pode ganhar popularidade, defendendo idéias da moda. Cabe, porém, lembrar os experimentos de transferência de memólque mostram como é perigoso o fascínio de certas idéias. Ir ante alguns anos, vários cientistas - considerando que o comportamento que se aprende deve estar, de algum modo, retrato no cérebro (a memória) - tentaram transferir o comportamento aprendido por um animal, para outro animal.Para isso, ensinavam comportamentos de esquiva a rede laboratório. Esses ratos eram, então, sacrificados e se preparava um extrato de seus cérebros. O extrato era injetado outros ratos, na esperança de que esses novos ratos aprendessem mais rapidamente os comportamentos de esquiva. A idéia cientistas era a de que o cérebro de ratos ensinados conte"registros" de comportamento

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aprendido que podiam"transferidos", para o cérebro de ratos não ensinados. De acordo com a revista Science, cerca de metade dos cientistas fez esse tipo de experimento considerou que realmente havia conseguido "transferir" a memória de um rato para outro rato que - sabe-se hoje - é impossível".Mas - além do fascínio de certas idéias - existe a teima do pesquisador, que às vezes insiste em provar determinada teoria, mesmo quando novos dados a colocam em dúvida que mostra a história de Paul Broca, um antropólogo e cirurgião francês do século passado, que acreditava que as pessoas seriam tanto mais inteligentes quanto mais pesados fossem acérebros. Broca chegou até a organizar uma escala onde do QI da pessoa em função do peso de seu cérebro.Muita gente, no entanto, duvidava da teoria. Para pôr à controvérsia, alguns professores da Universidade de Gõgen decidiram doar seus próprios cérebros, para que fos17. Veja a questão da transferência de memória em: KOHN, A. False Prophets:and Error in Science and Medicine. Nova York, Blackwell, 1987.18. Veja sobre o assunto: BROAD, W. e WADE, N. Betrayers of Truth: Fraudulent in the Halls of Science. Nova York, Simon & Schuster, 1983.OS CAPÍTULOS USUAIS 27pesados depois de suas mortes. Eles acreditavam que Broca refutaria a própria teoria, caso verificasse que pessoas inteligentes tinham cérebro com peso normal. Os cérebros dos professores revelaram-se, de fato, mais leves do que se previa, tendo em vista a inteligência deles. Mesmo assim, Broca não pôs em dúvida sua teoria. Preferiu concluir que os professores eram menos inteligentes do que se pensaval9... Pois esta história encerra um conselho: se seus dados apontam em direção contrária à esperada, olhe também nessa direção.Difícil, no entanto, é quando os dados não indicam qualquer direção e você precisa lançar hipóteses. Lembre apenas que as hipóteses mais plausíveis nem sempre são as verdadeiras.E o que sugere a história do Sábio Hans, um cavalo que ficou famoso porque teria aprendido a calcular2°. Isto porque, quando perguntado sobre o resultado de determinado cálculo, o cavalo dava batidas de casco no chão, até atingir o número que seria a resposta para o problema proposto.O treinador do Sábio Hans, um professor aposentado, tinha sua "hipótese" para o fenômeno: havia ensinado o cavalo a somar e a subtrair. Mas um psicólogo estudou o caso e observou que, toda vez que o cavalo atingia o número esperado de batidas, seu treinador involuntariamente movimentava a cabeça.O cavalo parava, então, de bater o casco - não porque soubesse calcular mas em resposta ao movimento de cabeça do treinador.E lembre que você deve fazer generalizações, mas com critério. Veja o tamanho da sua amostra. É conhecida a história do médico americano que testava todo tipo de droga em um único rato, aparentemente de estimação, porque o rato tinha até nome: Ebenezer2t. É claro que a estatística dá a possibilidade de inferência, mas dentro de certos limites.19. O argumento que talvez convencesse Broca s6 apareceu depois de sua morte.O cérebro dele foi pesado e o valor obtido correspondia, na escala do próprio Broca,a pouco acima de medíocre.20. Veja, sobre o assunto: BROAD, W. e WADE, N. Op. ci~.21. Veja, sobre o assunto: WADE, N. "Physicians who Falsify Drug Data". Science180

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(4090): 1038, 1973.OS CAPÍTULOS USUAIS 29Finalmente, se você testou um produto alimentício usando ratos de laboratório, discuta o efeito desse produto em ratos de laboratório. É claro que você pode fazer algumas generalizações. Por exemplo, é razoável argumentar que o que acontece com ratos pode - até certo ponto - ser estendido a outros animais. Mas cuidado: ratos não são homens! De qualquer modo, se morrerem todos os ratos que provaram do seu produto,ninguém porá seu produto na própria sopa, não é verdade?2.6 - Conclusões As conclusões decorrem da discussão, ou seja, até certo ponto, as conclusões devem estar contidas no capítulo de "discussão". Então verifique se você concluiu com base no que discutiu. Também deve haver consistência entre o objetivo proposto e a conclusão alcançada. Então verifique se você concluiu com base no que propôs. Mas cuidado para não se sentir possui-dor da "Grande Verdade" porque, afinal, você tem apenas um fragmento de evidência. E - para terminar - lembre-se deque sua tese é a sua contribuição para a massa de conhecimentos,existentes. Então, ao estabelecer suas "Conclusões" seja claro ou melhor, muito claro.3AS QUESTÕES PERTINENTESO Capítulo 2 dá idéia do que você deve escrever em cada capítulo de sua tese. Siga as sugestões da maneira mais conveniente,fazendo as modificações que julgar necessárias. Mas não basta saber o que escrever. É preciso saber como escrever um texto técnico, usando com propriedade a linguagem, a tradução, as citações, as notas de rodapé. E é preciso dar um bom título ao seu trabalho. Desses tópicos trata este capítulo.3.1 - Linguagem Algumas poucas regras não garantem boa redação. Mesmo assim, aqui estão algumas sugestões.a) Faça um plano de trabalho Antes de começar a escrever, faça um plano, isto é, divida o assunto que você pretende expor em capítulos e em seções.22. Consulte, sempre que redigir: O Estado de S. Paulo - Manual de Redação e Estilo organizado e editado por Eduardo Martins. São Paulo, O Estado de S. Paulo, 1990;Manual de Estilo Editora Abril: como escrever bem para nossas revistas. Rio de Janeiro,Nova Fronteira, 1490.32 Faça uma lista do que deve ser apresentado em cada seção.Depois comece a escrever pelo capítulo que quiser.b) Escreva de maneira impessoal Leia a literatura científica da sua área e observe. Ninguém escreve: "Pesei os ratos" ou "Eu concluo" mas "Os ratos foram pesados" "Concluímos" etc. Então, para escrever sua tese, use a terceira pessoa do singular ou a primeira pessoa do plural(plural majestático), mas tenha o cuidado de manter a mesma forma, em todo o trabalho. E não escreva, mesmo que alguém sugira: "O autor do presente trabalho considera... " E pernóstico demais!c) Evite o estilo empolado. Alguns autores acham que o texto científico precisa ser elegante e - para ser elegante - deve ter palavras difíceis Então abusam das palavras compridas. Nunca dizem usar, ma;utilizar; nem dizem acabar, mas finalizar; tampouco dizem seguinte, mas subseqüente. E chegam a salivar como os cães de Pavlov, quando pensam em substituir a palavra "droga" por "agente quimioterapêutico23. Prefira a palavra mais simples.d) Escreva com

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substantivos e verbos Alguns autores têm a mania de adjetivar. Toda loura tem que ser "curvilínea". Cuidado, porque alguns adjetivos, junta de certos substantivos, transformam-se em lugares-comuns"crítica construtiva", "inflação galopante", "rápidas pinceladas". A mania de adjetivar pode levar até a absurdos, com a falta de coerência. Não escreva "adolescentes jovens", "réplicas autênticas". Use adjetivos só quando forem necessários.23. /n: DAY, R.A. Op. cit.AS QUESTÕES PERTINENTES 33e) Use frases curtas. A eloqüência e a pompa têm lugar e hora. Não se imaginem novo Rui Barbosa. Escreva períodos curtos, seja simples e direto. Além de ser mais fácil, ajuda a evitar erros de gramática.f) Observe os tempos de verbo Quando você relata fatos científicos conhecidos ou descreve trabalhos publicados, use o presente do indicativo: "A adubação nitrogenada é essencial... ", "O trabalho de OLIVEIRA (1970) mostra... ". Quando você explica o que fez ou o que obteve, isso é o passado. "O paciente foi observado... ", "Os dados foram obtidos... ".Então, tipicamente, use o presente na "Introdução":"O objetivo deste trabalho é mostrar... "; na "Revisão da Literatura":"Os trabalhos recentes na área são unânimes. .. "Use o passado em "Materiais e Métodos":"Foram usados ratos machos Wistar..."O crescimento foi medido... "em "Resultados":'Observou-se maior crescimento... "Na "Discussão", use os dois tempos do verbo, quando souber:"O crescimento é sabidamente lento no período, mas no grupo tratado foram observadas altas taxas... "34 Existem exceções:a) se você atribui uma afirmativa a alguém, use o passado:"OLIVEIRA (1970) considerou. . . "b) se você apresenta, use o presente: "A tabela 5 mostra..."c) na análise estatística, use o presente: "O resultado é significante. . . "g) Observe a pontuação Você pode achar que a pontuação é coisa de somenos. Ma conta-se que um rei antigo queria ir à guerra. Muito sabiamente porém, consultou uma pitonisa e ouviu dela: "Irás. Voltarás Não morrerás". O rei foi, e morreu. A rainha resolveu então procurar a pitonisa, para saber o que ela havia dito. E a pitonisa repetiu o que havia dito ao rei: "Irás. Voltarás? Não! Morrerás"h) Não descreva o óbvio"Não comece a explicar onde fica Roma, para depois não explicar onde fica Timbuctu", ensina Umberto Ecco24. Ou seja não repita o que tudo mundo já sabe - só porque é fácil copiar trechos de livros didáticos - para depois deixar sem explicação pontos essenciais da sua tese. Explique o que você fez de novo) Reescreva Leia o que você escreveu. E reescreva. Depois, peça para alguém ler - e comentar. Se seu orientador é do tipo "muito ocupado" (que os há os há), peça para um colega ler. Hojl24. Na realidade, o autor vai um pouco mais longe. Ele escreve: "Dá-nos calafrios ler teses com frases do tipo: `O filósofo panteísta judeu holandês Spinoza foi definido por Guzzo...' Alto lá! Ou você está fazendo uma tese sobre Spinoza e então o já sabe quem é Spinoza e que Augusto Guzzo escreveu um livro sobre ele, ou está citam por acaso esta afirmação numa tese sobre Física nuclear e então não deve presumir que o leitor ignore quem é Spinoza mas saiba quem é Guzzo". In: ECCO, U. Op. cir.36 nem mesmo os

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gênios são incompreendidos e solitários. Então troque idéias. E reescreva todo trecho dúbio.3.2 - Tradução Ninguém precisa dominar a língua inglesa para escrever uma tese no Brasil. Mesmo assim, certos erros de tradução são imperdoáveis, pois mostram que o autor não entendeu o que leu.Veja, por exemplo:"SMITH (1940) provou, com dados atuais... "Ora, se o senhor Smith publicou em 1940, será que os dados dele são mesmo "atuais"? Talvez Smith tenha provado - seja lá o que for - usando dados "reais" (actual data).E difícil traduzir, principalmente quando surgem palavras na língua estrangeira semelhantes às palavras de nossa língua,mas com outro significado. Por isso, existe quem traduza ingenuity por ingenuidade. Mas existem "traduções" que, de tão usadas, já parecem consagradas como checar, em lugar de verificar suporte, em lugar de apoio. Mas está errado. O abuso das traduções esdrúxulas ocorre principalmente em áreas técnicas novas, como computação. Aliás, um autor que pretendia colocar seus programas à disposição dos interessados escreveu:"Os programas estão avaliáveis para... "Mas as dúvidas de "tradução" não param por aqui. Também existe a questão do ponto e da vírgula. "Dois ponto cinco"em inglês, significa dois e meio. Mas os computadores e as calculadoras escrevem "ponto' em substituição à vírgula - e muita gente já diz (e escreve) "dois ponto cinco" em lugar de dois e meio.Finalmente, existe o absurdo sistema inglês de unidades de medida, como milhas, libras, onças etc. Deve-se "traduzir"ou fazer a conversão? Se a unidade de medida varia, os valores AS QUESTÕES PERTINENTES 37numéricos não são comparáveis. Então é preciso converter -não basta traduzir. Aliás, é melhor manter as mesmas unidades(do Sistema Internacional de Unidades), em todo o trabalho.E é preciso prestar especial atenção às "palavras iguais" com valores diferentes. Por exemplo, a tonelada americana é maior do que a do Sistema Internacional de Unidades e o alqueire mineiro é maior do que o paulista.3.3 - Citações Você resume e comenta trabalhos relacionados à sua tese no capítulo "Revisão da Literatura". A identificação de cada trabalho é feita através da citação do(s) autor(es). Como isso é feito?Você pode fazer uma citação direta ou transcrição, isto é,copiar literalmente certo trecho de determinada obra. O trecho copiado deve, porém, aparecer entre aspas. Normalmente são transcritos leis, decretos, regulamentos ou trechos notórios de autores, principalmente na área de Literatura e Filosofia. também podem ser transcritos dados e tabelas. Mas evite as transcrições muito longas, mesmo que você aprecie o autor ou a suaobra26.Também podem ser feitas ou citação indireta ou citação de citação. Nesses casos, você reproduz as idéias de outro(s)autor(es), em suas próprias palavras. Para fazer uma citação indireta, é preciso ter lido a obra. Mas se você não teve acesso à obra - apenas leu sobre ela - faça uma citação de citação.De qualquer modo, é preciso citar o(s) autor(es) toda vez que você:25. Veja: MATTOS, F.G. "O cientista como citador". Ciênc. e Culr., 37(8): 1294-5,1985.26. Não tem sentido escrever: "De acordo com SILVA (1990)", abrir aspas e transcrever toda a Introdução da tese do Silva, como Introdução da sua própria tese, mesmo que o tal do Silva seja ótimo.3g a) trabalhar com hipóteses já

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levantadas em outras obras.b) concordar - ou discordar - de afirmativas feitas em outra(s) obra(s).c) utilizar técnicas, materiais ou métodos não usuais em sua área, sugeridas em outra(s) obra(s).d) comparar resultados seus com os resultados apresentados em outra obra.e) chegar às mesmas conclusões, ou a conclusões além divergentes das conclusões apresentadas em outra(s)obra(s).Existem dois sistemas consagrados de citação. Um deles consiste em citar o sobrenome do autor, em letras maiúsculas,seguido do ano da publicação da obra, entre parênteses. Por exemplo:"De acordo com OLIVEIRA (1970)... "Se o trabalho tiver dois autores, citam-se os nomes dos dois autores separados por &, em maiúsculas, e seguidos do ano da publicação da obra, entre parênteses. Por exemplo:"De acordo com SMITH & WHITE (1980)... "Se o trabalho tiver três ou mais autores, cita-se o nome do primeiro autor em maiúsculas, seguido de et alii, a expressão latina que significa "e outros", e do ano da publicação da obra entre parênteses. Por exemplo:"De acordo com BERNARDES et alii (1980)... "Se você cita duas ou mais obras, ligue-as por vírgulas ou pela conjunção "e". Por exemplo:"De acordo com EVANS (1970), SILVA (1980)e ANTUNES & SILVA (1985)"AS QUESTÕES PERTINENTES 39O outro sistema de citação exige que você organize os sobrenomes dos autores das obras referenciadas em ordem alfabética e confira um número a cada um deles. Depois, você cita apenas o número. É preciso, porém, certo cuidado na citação.Não escreva:"De acordo com (7)..: "mas; por exemplo:"Existe informação7~ de que... "A citação por números não permite que o leitor saiba, quando lê a informação, quem a assina, nem de que época é a informação. E isto pode ser importante, porque nomes e datas dão força a certas idéias'. A solução para o problema é, porém, muito simples. Você escreve no texto o nome do autor ou a época da publicação, sempre que julgar que isso é importante. Escreva, por exemplo:"De acordo com Einstein ""Em 1940 já se sabia ...Se você cita duas ou mais obras, escreva os números seqüencialmente, separados por vírgulas e entre parênteses:"Alguns autores 5,7,10) aCredltal72..."A grande desvantagem da citação pôr números é a possibilidade, sempre presente, de você precisar citar um autor ainda27. Como dizia Bernard Shaw: "Você não espera que eu saiba o que dizer sobre a peça quando não sei quem é o autor... Se o autor é bom, a peça é boa. Isto émio." In: DAY. R.A. Op. cir. não referenciado, depois de já ter feito toda a organização numérica das referências. Se a inicial do último sobrenome desse autor for letra do começo . do alfabeto, você precisará reorganizar quase toda a numeração o que dá trabalho.Os orientadores em geral recomendam a citação de autores,no texto, por sobrenome e data da publicação. Mas algumas revistas internacionais insistem no sistema de citação por números - porque economiza palavras, ou seja, dinheiro. Então talvez você queira começar a aprender o sistema... De qualquer forma, antes de começar a escrever, consulte seu orientador.Agora que você já sabe o que citar, saiba o que não deve citar.Evite a citação de obras que têm relação apenas longínqua com seu trabalho, mesmo que tenham sido escritas pelo seu chefe:..Também não cite livros didáticos - por melhores que eles

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sejam-se esses livros só discutem material conhecido na área. No entanto, se você usar métodos pouco conhecidos em sua área, convém citar a literatura especializada-mesmo que seja um livro didático.É preciso apenas certo cuidado no redigir, para não parecer que um autor, que descreve um método, inventou esse método.E, finalmente - evite referência a dados não publicados,trabalhos no prelo, resumos em congressos, comunicações pessoais, relatórios mimeografados em geral - a menos que isso seja essencial. Lembre que trabalho científico que não foi escrito não pode ter sido lido e avaliado.3:4 - Notas de rodapé Os livros e as teses com muitas notas de rodapé dão a impressão de erudição. Se essa erudição é falsa ou verdadeira, cabe ao leitor julgar - mas a impressão permanece. De qualquer forma,as notas são muito úteis para as seguintes finalidades:a) Reforçar as afirmativas feitas Se você quer fazer uma observação, mas considera que,no texto, essa observação seria repetitiva ou perderia impacto,faça a observação em nota de rodapé.AS QUESTÕES PERTINENTES 4ib) Contestar as afirmativas feitas Se você está seguro de sua opinião, mas sabe que o assunto é controvertido e existem opiniões contrárias, coloque a opinião contrária em nota de rodapé. Além de exibir erudição; você mostra "espírito aberto".c) Traduzir e verter Se você acha que a expressão ou citação em, língua estrangeira perdem a força quando traduzidas para o português, escreva na língua original, e coloque a tradução em nota de rodapé:Se quiser, faça ao contrário: deixe no texto em português, e coloque a expressão, ou citação, em nota de rodapé, na língua original.d) Fazer referências internas Se você quer remeter o leitor para outro capítulo da sua tese, use uma nota de rodapé) Dar indicações bibliográficas de reforço Se você quer aconselhar um texto didático, ou indicar onde seu leitor pode encontrar o assunto exposto de maneira adequada; coloque a referência da obra em nota de rodapé;como segue:`"Sobre esse assunto, veja o livro: OLIVEIRA, J.A.Noçõès de Física, São Paulo, Editora Universidade,, i 980° ~28,28. Seria absurdo escrever: "De acordo com OLIVEIRA (1980), a matéria atrai. amaCéfïà..:" Aliás você pode escrever:'"A matéria atrai a matéria..." etc. e, em nota de rodapé; indicar o texto didático de Oliveira; como mostra o exemplo. , f) Comentar autores. Se você quer fazer comentário sobre a vida de um autor, ou mesmo fazer uma referência geral sobre sua obra, ou dar algumas datas - como de nascimento e morte, ou o ano da

publicação da primeira edição de obra importante -, use notade rodapé: g) Citar informações obtidas através de

canais informais ~ Se você .quer citar comunicações pessoais, notas de aulas,correspondência, escreva no texto: "De acordo com SMITH (1990)~..."e, em nota de rodapé, escreva, por exemplo: SMITH, J.J. (Centro de Pesquisas Médicas, Rio `de Janeiro), Comunicação Pessoal, 1990.3.5 - Título Poucas pessoas lerão a sua tese. Dói, mas é verdade. Afinal,tese é um trabalho acadêmico - longo, minucioso, cansativo.E existem poucos exemplares disponíveis. Muitas pessoas, no entanto, lerão o título de sua tese. Quem são essas pessoas?Ora, sua tese, depois de entregue ao orientador, será encaminhada para a

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defesa. E passará por diversas instâncias, como departamento e congregação. Depois, o diretor convocará uma comissão - só para julgar sua tese. E a tese será lida, julgada,defendida, corrigida. Isso constará em ata. Pois ao longo de todo esse processo o título da sua tese será lido, escrito, falado.Aprovada, sua tese será referenciada, pelo título, em muitos currículos, como o seu e o do seu orientador, além dos currículos das pessoas que ajudaram você - colegas, professores,técnicos e dos membros da comissão julgadora. Sua tese também será referenciada nos relatórios do curso de pós-graduação e nos fichários das bibliotecas que tiverem a honra de receber um exemplar...Se você publicar um trabalho sobre o mesmo assunto, certa-mente fará referência à sua tese. Também farão referências à sua tese outras pessoas que a leram e trabalharam na mesma área, como seu orientador, colegas do curso e membros da co-missão julgadora.As bolsas de estudos, concedidas por agências financiadoras de pesquisa, exigem prestação de contas. Se você recebeu uma bolsa, na prestação de contas terá, fatalmente, que citar o título de sua tese. E o título da sua tese ainda será lido por todos que dela tomarem conhecimento, inclusive membros desta família e seus amigos. Numa contabilidade rápida: se sua tese for lida por meia dúzia de pessoas, o título será lido por seis dezenas. Certo? Então escreva o título com muito capricho.Aqui estão algumas recomendações. Um bom título deve ser:a) curto b) específico c) sem fórmulas de qualquer espécie Não se recomendam:a) títulos-frases6) títulos-perguntas O título deve ser curto, mas também deve ser específico.Por .exemplo, o título"AIDS no Brasil"é' suficientemente curto, mas não é específico. Que aspecto da AIDS trata a tese em questão: prevenção? tratamento? problemas sociais? estatísticas? Já o título: Aspectos estatísticos das funções de produção ajustadas aos ensaios fatoriais 3-~ de adubação NPK de milho"parece específico, mas é longo - e chato!O título não deve ter fórmulas ou símbolos de qualquer espécie; mesmo que essas fórmulas e símbolos sejam familiares para você. Já pensou quantas das pessoas que irão manusear sua tese lêem, com desenvoltura, a fórmula1 que todo estatístico sabe de cor? E quantas das pessoas que irão manusear sua tese sabem ler? Então, facilite. a vida dos outros!E não use títulos que são frases. Então, não escreva:"Adubação nitrogenada é essencial para o milho"Tampouco use títulos que são perguntas. Não escreva:"Que sabe você sobre prevenção de cáries?"Note que esses títulos são bons para a imprensa - ou mesmo para livros de divulgação - mas não são bons como títulos de tese. Também evite as palavras que são simples recheio e nada dizem, como "Introdução ao estudo de.. : " ou "Algumas observações sobre.. . "Finalmente, lembre que o título de sua tese será usado para referenciar sua tese na biblioteca, por assunto. Então use"palavras-chave", ou seja, palavras que remetam o leitor ao assunto tratado em sua tese. Se você quer que sua tese seja revista por outros autores, capriche no título! Porque :título é etiqueta: bem escolhida e bem usada, rende muito. ,4,AS QUESTÕES Técnicas dados são apresentados em tabelas e gráficos. Então, é bastante provável que, para escrever sua tese, você precise construir tabelas e gráficos. Mas também são usuais, nas teses, as

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ilustrações, como fotografias, por exemplo. Logo, é possível que você também precise se preocupar com ilustrações. Finalmente, muitas teses ostentam fórmulas e equações. É preciso saber escrevê-las. Pois destas questões trata este capítulo.4.1 · Tabelas Não construa tabelas - a menos que seja necessário apresentar dados repetitivos. Este conselho aparentemente estranho tem duas boas justificativas: primeiro, números valem pela informação que eles carregam. Então s6 apresente números que trazem informação relevante. Segundo, tabelas ocupam espaço e interrompem a leitura do texto. Então não desperdice papel nem interrompa o leitor - a menos que você precise dar informação de interesse, mas que é repetitiva.Se você precisa dar apenas um número, não faça uma tabela: dê a informação no texto. Veja a Tabela 1: é absolutamente54 4.3 : Outras figuras Às,vezes é preciso apresentar outras figuras, além dos gráficos.".Uma figura vale mil palavras", é voz corrente. Mas figuras custam dinheiro e, nem sempre, substituem palavras: De qualquer modo, que tipo de figura pode ilustrar uma tese? Existem várias opções que, obviamente, dependem da área: fotografias,foto micrografias, esquemas, plantas, desenhos técnicos, mapas.Antes, porém, de pensar em rechear sua tese com figuras; considere o preço e a necessidade delas para seu trabalho. Some,a essas considerações, a qualidade do material que você pode produzir e depois faça sua opção:Fotografias e fotomicrografias são caras, mas muitos centros de pesquisa já estão equipados para produzir material de boa qualidade. Mesmo que você precise arcar com a despesa do material de consumo, o preço nem sempre é proibitivo. O problema é saber o que você pretende fazer e se isso é necessário. Saiba, porém, que em certas áreas - como ciências morfológicas - a fotografia é material básico. Já outras vezes, as fotografias servem apenas para atestar a qualidade do material usado ou para comprovar a quantidade de trabalho realizado.E isto também pode ser essencial.Em certas situações, porém, é perfeitamente dispensável fotografar. Assim, não há necessidade de fotografar mesas de trabalho, microscópios, computadores e aparelhos convencionais, mesmo que recém-adquiridos ou `pouco usuais na área.Mas se você precisou inovar - por exemplo, fazer uma adaptação em uma mesa cirúrgica - avalie a necessidade da fotografia, pois, eventualmente, ela pode ser bastante útil para quem pretenda reproduzir seu trabalho.Se você fotografa pessoas, lembre que é razoável não identificá-las, principalmente se elas estiverem em situação íntima ou embaraçosa. Mas é claro que esse cuidado não cabe se seu trabalho enfoca, por exemplo, uma personalidade pública, ou pessoas em situações normais.Nem só fotografias são, porém, ilustrações de interesse.Muitas vezes são necessárias outras figuras - como esquemas,SG desenhos técnicos, plantas, mapas. Mas é sempre preciso avaliar- em cada caso - a necessidade da ilustração. E cuidado para não exagerar!4.4 - Notações,s convencionais Use a simbologia consagrada. Se você precisar escrever a fórmula química de um produto, escreva da maneira convencional,mesmo que você não seja químico. Não tente inovar. Se você apresenta fórmulas matemáticas, escreva da maneira

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correta.Para isso, observe livros da área. De qualquer modo, cabem algumas observações.Primeiro, as fórmulas matemáticas devem ser destacadas,para facilitar a leitura. Toda letra que representa número deve ser escrita em itálico. Use, se possível, tipos menores para indicar índices e expoentes. Os números e os operadores (comolim para limite, log para logaritmo decimal) não devem ser escritos em itálico. Se você precisar escrever várias fórmulas e equações, numere-ás com números arábicos consecutivos, escritos entre parênteses, na mesma linha da fórmula, e na margem à direita da página. Veja o exemplo:logY = bo + b, x +bz xz (1)Se você usa computador, lembre de informar o nome do programa, ou o centro que o utiliza, ou o nome de quem fez o programa. Se você é o autor do programa, coloque uma copiado programa no Apêndice.Finalmente, quem escreve uma tese enfrenta questões técnicas de toda ordem. Um bom costume é esclarecer as dúvidas com profissionais da área. É por isso que os cursos de mestrado e doutorado são ministrados em universidades. Se você souber improvisar, ótimo! Mas não se transforme em charlatão.5AS OUTRAS PARTES De acordo com a ABNT3l, uma tese tem, além da parte de texto - que está discutida no Capítulo 2 deste livro - duas outras partes: a parte preliminar ou pré-textual e a parte complementar ou pós-textual. É destas partes que trata este capítulo.5.1 - Parte preliminar A parte preliminar ou pré-textual, como diz o próprio nome,vem antes do texto. É formada por:Capa Página de guarda Página de rosto31'. A sigla ABNT significa Associação Brasileira de Normas Técnicas. A ABNT tem diversas publicações que visam normalizar documentos. Veja Associação Brasileira de Normas Técnicas -Apresentação de dissertações e teses: projeto 14: 02.02-002185, l5pp.5g DedicatóriaAgradecimentosSumárioResumoSummary5.1.1 - Capa, página de rosto e página de guarda A capa da tese deve ser impressa em cartolina ou similar.Tanto a capa como a página de rosto devem conter os seguintes elementos:a) título, em caixa alta b) nome completo do autor, em caixa alta, mas em tipo menor do que o usado para o título.c) instituição em que a tese está sendo apresentada e grau pretendido.d) local e data da publicação.O nome do orientador pode ser colocado na capa. Mas- antes de tomar qualquer providência - consulte seu orientador. Aliás, ele é a pessoa certa para informar você sobre as normas internas da instituição32. De qualquer modo, confira as informações, olhando outras teses. E, apenas como exemplo,veja esta capa de tese a seguir.Em livros, a página de rosto é idêntica à capa. Mas nas teses a página de rosto pode exibir o nome do orientador, mês-32. Muitas instituições universitárias têm normas internas bem elaboradas. Veja, por exemplo: ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ", piracicaba. Comissão de Pós-graduação. Normas para a elaboração de dissertações e teses. piracicaba, 1987.mo que não conste da capa. E você também pode colocar, na capa ou na página de rosto, sua qualificação profissional. Veja o exemplo dado em seguida.A8 QUE8TÃO DA HETER,OCEDASTICIA NA COMPARAÇAODE DUAS MÉDIASP,ONALDO SEICHI WADA Orientador: Prof. Dr. atira

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Ranceis Nogueira Dissertação apresentada à Escola8uperior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de 8àoPaulo, para obtenção do título de Mestre em Agronomia, Área de Concentração em "Estatística e Experimentação Agronômica".PIRACICABA Estado de São Paulo - Brasil Abril, 1988AS OUTRAS PARTES 61Se você quiser, ou a instituição exigir, apresente a ficha catalográfica da sua tese no verso da página de rosto. Veja o exemplo. Para fazer essa ficha, consulte um bibliotecário. Mas não se esqueça: antes de imprimir a capa e a página de rosto,verifique as normas da instituição e fale com o seu orientador.Ficha catalográ8ca preparada pela Seção de Livros da Divisão de Biblioteca e Documentação - PCAP/USP Wada, Ronaldo SeichiW118q A questão da heterocedasticia na comparação de duas médias.Piracicaba, 1988.108p.Diss. (Mestre) - ESALQ Bibliografia.1. Estatística matemática 2. Inferência estatística I. Escola superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba CDD 619.64A página de guarda é apenas uma página em branco que se intercala entre a capa e a página de rosto, por razões estéticas.Será útil para você escrever algumas palavras de próprio punho,caso queira oferecer um exemplar de sua tese a um professor,um colega, um amigo.5.1.2 - Dedicatória Todo autor pode dedicar seu trabalho a alguém. Os autores de tese geralmente fazem dedicatória, embora também exista quem não faça essa opção.Você pode dedicar sua tese a uma s6 pessoa da família.Por exemplo:"Para minha mãe".ou para várias. Por exemplo:62 "Para minha mulher, Helena, e para meus filhos,Carlos e Daniel".Reserve uma página inteira para a dedicatória. Se o texto for curto, coloque-o no terço inferior da página e ao lado direito,como mostra o esquema. Para meus pais Você pode redigir a dedicatória de maneira simples e direta, como nos exemplos, ou pode ser romântico, ou emocional. Mas evite dedicar sua tese a um número exagerado de pessoas:"Para meus pais, minha noiva, meus irmãos e minhas irmãs, meus cunhados e minhas cunhadas,meus sobrinhos e minhas sobrinhas".64 Também evite o gosto duvidoso:"Para minha mais fiel colaboradora e para os frutos dessa colaboração "E - sobretudo - não faça gracejos que não cabem:"A minhas mulheres e meus cachorros... "33 Você também pode dedicar sua tese a um mestre, um amigo, uma personalidade, ou mesmo às pessoas anônimas que ajudaram você, participando de sua pesquisa: "Aos bóias-frias da região de Piracicaba "Enfim, faça dedicatória se quiser e como quiser, mas -ao dedicar sua tese a alguém - lembre que o toureiro também dedica o touro para uma personalidade34. No entanto, a pessoa só se sente realmente homenageada se o touro é valente...5.1.3 – AgradecimentosOs Agradecimentos não obedecem normas nem têm caráter científico. Mas devem obedecer ao bom senso. Se alguém ajudou você a fazer sua tese, deixe registrado seu agradecimento na própria tese. Como diz Umberto Ecco - o agradecimento,33. Quem cunhou a expressão foi Tarso de Castro, jornalista, em suas crônicas na imprensa diária.34. Esta comparação foi feita por A.J. Bachrach, que dedicou seu livro a três pessoas.Na dedicatória, ele escreve: "A tradição manda esperar até o meio da tourada para dedicar o touro à alguém na platéia. Saber-se-á

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assim se o touro é suficientemente bravo para ser ou não oferecido. Infelizmente, não é possível fazer isto com um livro e, desta forma,tomo este livro pelos chifres e o dedico a estimados amigos e colegas que me ensinaram a pesquisar: Murray Sidman Joel Greenspoon e Frank Banghart" In: BACHRACH, A.J. Introdução à pesquisa psicológica, São Paulo, Herder, 1969.AS OUTRAS PARTES 6Salém de mostrar que você é cortês, também mostra que você tem trânsito no meio acadêmico, conseguindo ajuda cá e lá...Faça agradecimento explícito para todas as pessoas que ajudaram você, em seu trabalho. Mas quem são essas pessoas?Bem, comece pelo seu orientador35, mas também não esqueça de agradecer empréstimo de equipamentos e doação de material. Tampouco esqueça de agradecer ajuda na coleta de dados,na condução de experimentos ou na interpretação de resultados.E agradeça qualquer tipo de ajuda financeira -como uma bolsa de estudos, por exemplo - além da ajuda de técnicos de labora-tório, bioteristas, datilógrafos e outros.Seja sempre específico em seus agradecimentos, isto é, não deixe parecer que uma pessoa, que ajudou você em determinada parte do trabalho, é responsável por todo o trabalho. Agradeça especificamente cada tipo de ajuda, cada idéia relevante, cada empréstimo significativo, porque agradecimento é um crédito que a pessoa pode usar na hora de apresentar currículo, por exemplo.E - se uma pessoa não ajudou - não agradeça. Ainda existe servilismo e muita bajulação no meio acadêmico, que levam alguns a agradecer, por escrito, o "exemplo edificante"ou a "abertura de horizontes" para aqueles que ocupam cargos importantes na universidade. Se o reitor ajudou você, agradeça;se não ajudou, para que comprometê-lo?E tome cuidado com a redação. Alguns agradecimentos são frios ou - até mesmo - insuficientes. Veja, por exemplo:"Agradeço ao João Ribeiro, pela coleta dos dados, e à Marisa Fontes, pela interpretação".Talvez você se pergunte: se o autor não coletou os dados nem os interpretou, o que é que ele fez? Bem, a tese poderia35. Nas teses defendidas no Brasil, os agradecimentos ao orientador chegam a ocupar toda uma página, ultrapassando o limite do razoável. Em outros países, no entanto, isto nem sempre ocorre. Aliás, Umberto Ecco recomenda não agradecer ao orientador -porque é obrigação dele orientar. Veja: ECCO, U. Op. cit.66 ser, por exemplo, de um estatístico, que usou os dados para mostrar um método de análise. Mesmo assim, o agradecimento é insuficiente. É muito difícil, para um estatístico, obter bons dados para uso próprio e é muito mais difícil conseguir quem os explique. Então, as pessoas que têm essa grandeza - de colocar dados à disposição de interessados ou ajudar na interpretação - decididamente merecem mais aplauso!Por outro lado, cuidado com os agradecimentos demasiado efusivos, que causam mal-estar a quem os recebe. Veja, por exemplo, este agradecimento:"Nossa gratidão eterna ao Prof. João da Silva, que nos encontrou perdida nas trevas da ignorância e, com seus conhecimentos profundos, nos guiou segura para a senda do saber".Para evitar mal-entendidos, mostre a frase que você escreveu registrando seus agradecimentos à pessoa citada, e peça opinião. Não arrisque amizade ou futura colaboração por inabilidade de escrita. E não use a seção de

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Agradecimentos para tratar emocionalmente seus problemas com a linha teórica do curso. Então não escreva:"Sou grato aos professores - mesmo àqueles que renegaram a ciência e se transformaram em freudianos de carteirinha... "36Por outro lado, lembre que a tese é um trabalho acadêmico e, como tal, deve ser tratada. Então o estilo deve ser objetivo,mesmo nos agradecimentos. Não interessa, a quem lê uma tese acadêmica, a vida pessoal de seu autor. Então não misture agradecimentos profissionais com questões pessoais. Não escreva,por exemplo:36. A expressão é do "analista de Bagé", personagem criado por Luis Fernando Veríssimo. Veja: VERÍSSIMO, L.F. "O depoimento do analista de Bagé". In: Veríssimo,L.F. A velhinha de Taubaté, Porto Alegre, L.P.M., 1983.AS OUTRAS PARTES 67"Ao Professor Carlos Aguiar agradeço a orientação deste trabalho e a minha esposa Amélia, que é a Amélia de verdade, agradeço o amor e a abnegação. "Ou ainda:"Ao professor Carlos Aguiar agradeço a orientação deste trabalho e aos meus companheiros de tantas orgias etílicas, por estes rincões longínquos de minha terra natal, agradeço a compreensão e a amizade. "Finalmente, um problema real: o que fazer em relação à pessoa que ajudou você, mas que seu orientador não aprecia?Se seu orientador tem talento, ele separa questões pessoais de julgamento científico. Mas se é mau caráter, não vai gostar dever reconhecido o trabalho de um desafeto. O que fazer? Como diz Umberto Ecco, se seu orientador é mau caráter e você escolheu ser igual a ele... não agradeça a quem não interessa3'.5.1.4 - Sumário Entende-se por Sumário a enumeração das principais divisões ou partes da tese, isto é, a enumeração dos capítulos e suas divisões, com a respectiva paginação. Não se enumeram, no Sumário, apenas as partes da tese que o precedem, isto é, capa,página de guarda, página de rosto, dedicatória e agradecimentos.Veja o esquema dado em seguida, que mostra como se faz um "Sumário". Note os títulos dos capítulos, escritos em letras maiúsculas. Observe as linhas de pontos interligando os títulos dos capítulos e subdivisões com os números das página sem que se iniciam. Observe também a coluna com os números37. In: ECCO, U. Op. ci~.68das páginas que têm, em seu topo, a palavra Página. Veja apalavra Sumário, em maiúsculas, escrita no alto e no centro.Finalmente, note que a numeração das páginas, na parte pré-textual (com exceção da página de guarda e da página de rosto,que não têm números) é feita em algarismos romanos e com letras minúsculas e, nas demais páginas (a partir da primeira página de Introdução), em algarismos arábicos. SUMÁRIO

PáginaRESUMO.....................................................................................viSUMMARY ................................................................................vill1 -

INTRODUÇÀO .......................................................................... 12 - REVISÃO DA LITERATURA ....................................... .. 53 - Metodologia ....................................................................... 18 3.1 - Métodos matemáticos ............................................ 20 3.2 - Métodos estatísticos ................................................ 294 - RESULTADOS E

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DISCUSSÃO ............................................. 626 - REFERËNCIAS Bibliográficas ................................. 79

APËNDICE .................................................................................90Também podem ser apresentadas, no final do Sumário,listas de

tabelas e figuras. Nesse caso, indicam-se os números das páginas em que aparecem cada tabela ou cada figura. Veja o exemplo dado em seguida.LISTA DE TABELAS Página Tabela 1: População brasileira presente segundo o sexo, de acordo com o censo demográfico de 1970 ................................................... 85Tabela 2: População brasileira recenseada, segundo o sexo e a idade, de acordo com o censo demográfico de 1970 .............................. 87Tabela 3: População brasileira recenseada, segundo o sexo, a idade e a alfabetização, de acordo com o censo demográfico de 1970 .................. ..

... 90AS OUTRAS PARTES 69Convém lembrar que alguns autores e as editoras em geral referem-se ao Sumário como Índice mas - de acordo com a ABNT - não se deve confundir Sumário com Índice.5.1.5 - Resumo e Sumário "Resumo" tem a finalidade de apresentar uma descrição breve do problema estudado e das soluções encontradas. Então,no "Resumo" você deve:a) expor o objetivo da sua tese b) citar a metodologia c) apresentar os principais resultados d) dar as suas conclusões.Não coloque, no "Resumo":a) aspectos do trabalho não descritos no texto;b) tabelas, figuras e fórmulas;c) referências a outros autores.Tudo o que você pretende escrever no "Resumo" já deve ter sido escrito no corpo da tese. Portanto, nada de "idéias novas". Embora seu resumo deva ser auto-explicativo, não faça tabelas nem figuras. Também evite números e fórmulas. E não cite autores, a menos que sua tese proponha modificação de método consagrado. Nesse caso, cite o autor do método, até mesmo no "Resumo".Procure prender a atenção do leitor. Se seu leitor não gostar do "Resumo", será que irá se interessar pelo resto da tese?Use linguagem clara, familiar ao seu público. E - sobretudo- seja breve. De acordo com a ABNT, um resumo deve ter,no máximo, 500 palavras. Mas se você puder se limitar a 300palavras, por que escrever mais?Depois de feito o "Resumo" você pode vertê-lo para o inglês - e terá pronto o "Summary". Mas cabe aqui uma advertência: é no "Summary" que se encontra o maior número de tropeços com a língua - no caso, a inglesa. E tais tropeços muitas vezes são explicados pela imprecisão do texto em português. Então muito capricho ao escrever o "Resumo"! De qual-g " y"quer modo, não se esqueça de submeter o Sumário a um nativo da língua inglesa ou, pelo menos, a uma pessoa que tenha bom domínio dessa língua.E saiba que vale a pena fazer um "Summary". A idéia parece, à primeira vista, pretensiosa. No entanto, o Brasil está organizando um banco de teses e o resumo em inglês pode facilitar o intercâmbio de informações com profissionais de outros países. Mais ainda: pode ser, para você, a primeira experiência de escrever em língua inglesa. E se você tem vontade de ser pesquisador, está na hora de começar a escrever em inglês.Finalmente, lembre que certas instituições consideram obrigatória a inclusão de um resumo em inglês na tese, mesmo antes da defesa. Já outras instituições consideram

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que o resumo em inglês só deve ser feito se a tese for aprovada. E existem instituições que não exigem que a tese tenha um resumo em inglês... Então, veja as regras da sua instituição e as siga.5.2 - Parte complementar ou pós-textual A parte complementar ou pós-textual vem, como indica o nome,depois do texto da tese. Constitui-se dos segmentos elementos:Apêndice Índice Referências Bibliográficas.5.2.1. - Apêndice Coloque em "Apêndice" todos os elementos que não são essenciais à compreensão do texto e que cortariam o ritmo de leitura.São classicamente colocados em "Apêndice" um ou mais dos seguintes elementos, caso existam:AS OUTRAS PARTES a) questionários impressos, usados para o levantamento dedados.b) modelo do formulário de consentimento esclarecido do paciente que se submeteu ao experimento clínico, caso o trabalho de tese exija experimentação com seres humanos.c) dados brutos, desde que em grande número.d) detalhes das análises estatísticas.e) descrição adicional da metodologia.f) ilustrações que apenas atestam a qualidade ou a quantidade de material utilizado.g) fac-símiles de documento não-essenciais.h) programa de computador, se foi feito pelo autor da tese.5.2.2. - Índice O "Índice" é uma relação, em ordem alfabética, de assunto se autores, com indicação da página do trabalho onde o assunto é tratado ou onde o autor é citado. O "Índice" é remissivo,pois remete o leitor à página onde está o assunto ou o autor procurado. Veja o exemplo dado em seguida.N

RNeyman, J, 30 .Neyman, lema de Neyman Pearson, .vide Lema de Neyman - Pearson .Nível . de confiança, 80-82 de significância, 60-66Normal, distribuição, vide Distribuição normal Nulidade, hipótese da, vide Hipótese da nulidade Só se recomendam índices em teses longas com muitas citações, como são algumas teses feitas nas áreas de ciências humanas. Se as teses são de natureza experimental e têm cerca de100 páginas ou menos; o índice é perfeitamente dispensável.2 5.2.3. - Referências Bibliográficas literatura mencionada no texto do trabalho deve ser relacionada sob o título "Referências Bibliográficas". Para fazer as referências bibliográficas, é indispensável seguir normas técnicas. Siga as normas do seu curso ou de sua instituição, ou de periódicos importantes em sua área de trabalho. Ou siga as normas da ABNT3g.Lembre que as referências bibliográficas devem permitir ao seu leitor localizar o trabalho que você cita. Então, não seja descuidado. Releia o que você escreveu. Na dúvida, peça ajuda ao seu orientador ou ao bibliotecário da sua instituição. Os bibliotecários seguem as normas da ABNT e geralmente são pessoas bastante conhecedoras dessas normas. Eles podem ajudar você na normalização das referências bibliográficas.Mas o que é mais importante: olhe as "Referências Bibliográficas" criticamente. São suficientes? São abrangentes? São atualizadas? Que a resposta seja positiva porque, a esta altura dos acontecimentos...38. As normas da ABNT são as mais usadas. Veja: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRADE NORMAS TÉCNICAS. Referências bibliográficas: NB-66 CNBR 60230, Rio de janeiro, 1978 17 pp. que ainda estão em uso em muitas instituições. Mas seja também: ASSO-CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Referências

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bibliográficas NBR6023. Rio de Janeiro, 1989, 19 pp. que traz algumas mudanças na estrutura das referências,principalmente no que se refere aos periódicos.6, ,AS ULTIMAS DUVIDASA leitura deste livro pode ter deixado a impressão de que escrever uma tese é fácil - basta seguir um roteiro. Não é bem assim. Para escrever uma tese de bom nível é preciso que o aluno tenha feito pesquisa de bom nível. Então não basta a forma é preciso conteúdo. Porém, não basta o conteúdo - é preciso a forma. E aí está a razão deste livro: ensinar truques e estratégias para que você possa escrever sua tese. Mas convém discutir também outras poucas dúvidas, que assaltam o aluno que está fazendo curso de pós-graduação.6.1 - Aptidão para a pesquisa Você provavelmente já se perguntou se tem aptidão para o trabalho acadêmico. Pois um jornalista americano entrevistou dezenas dos mais importantes pesquisadores médicos dos estados Unidos e depois procurou descrever suas personalidade se opiniões 39. Veja se você tem os cinco traços de caráter que são característicos desses homens, segundo o jornalista.39. ROBINSON, P. The Miracle Finders: The Stories Behind the Most important Breakthroughs in Modern Medicine. Nova York, Mc Kay, 1974.4 Todo pesquisador tem curiosidade intelectual ligada a um impulso criativo, que o leva não apenas à indagação, mas à busca de respostas práticas para a própria indagação. Os pesquisadores têm, também, enorme entusiasmo pelo que fazem e contagiam as pessoas com esse entusiasmo. E têm independência mental, isto é, confiam no próprio julgamento até as raias da arrogância e da obstinação. Têm, também, grande capacidade de trabalho, chegando mesmo a dedicar pouco tempo à família e à recreação. E têm ambição, no sentido de buscar a fama e lutar por crédito para suas realizações.Note que essas características são importantes para pesquisadores americanos de destaque, que trabalham em situação altamente competitiva e precisam abrir espaço e conseguir verbas (grants). Mas não deixam de dar uma indicação - na falta de melhor - das qualidades que se espera de um pesquisador.Você acha que se encaixa no modelo?6.2 - Dificuldade na redação Que faz o candidato que quer apresentar sua tese mas não consegue escrevê-la? Bem, talvez encontre alguém que escreva a tese para ele... Não é fácil encontrar esse alguém, embora orienta-dores de primeira viagem, ou professores jovens que ainda não têm orientados e querem mostrar como são capazes de enfrentar esse tipo de trabalho, às vezes se prestem, mesmo que inadvertidamente, a esse serviço. Outras vezes, porém, são os velhos mestres que acabam dando mais do que ajuda na redação de uma tese, só porque o candidato é incompetente e o departamento quer, desesperadamente, se livrar dele...~°.Existem - é claro - diversos expedientes para conseguir que alguém escreva uma tese para você. Todos eles são, no40. É função do orientador dar ajuda na redação de uma tese. Mas não deve o orienta-dor, nem qualquer outra pessoa - colegas, professores ou mesmo pais equivocados -escrever a tese pelo candidato.( entanto, ilegais, porque é o candidato ao título acadêmico quem deve redigir a tese. Então - embora seja razoável alguma dificuldade - se você achar que não consegue redigir uma tese,desista da

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idéia de virar doutor...Se você não quiser desistir, talvez possa copiar uma tese,já apresentada em outro lugar, isto é, talvez você queira fazer um plágio4l. É preciso, porém, muita esperteza para embarcar nesse tipo de negócio. Só copie o que você (com alguma dose de boa vontade) poderia ter feito. Afinal, você não seria tão ingênuo a ponto de copiar uma tese sobre Literatura Inglesa e apresentá-la como tese em um Departamento de Tecnologia de Alimentos, não é mesmo? É preciso, portanto, algum capricho.Mas se você estiver resolvido a engrossar as fileiras do banditismo acadêmico, faça um plágio. Para isso, trabalhe com esmero! Não copie, parafraseie, isto é, mude o estilo. E não cometa os mesmos erros ortográficos, nem faça os mesmos erros nas referências bibliográficas... Mas - sobretudo - dê preferência às teses defendidas em outros lugares. Como diz Umberto Ecco,você pode apresentar em Milão uma tese defendida na Catânia...426.3 - Dúvida sobre o tema Quem está desenvolvendo uma tese na área de Agricultura achaque escrever uma tese na área de Estatística é fácil: basta um computador. Quem está desenvolvendo uma tese na área de Estatística acha que escrever uma tese na área de Farmacologia é fácil: bastam alguns ratos. Quem está desenvolvendo uma tese em Farmacologia acha que...Na verdade, é difícil (e é fácil) desenvolver uma tese -qualquer que seja a área. E o grau de dificuldade (ou de facilidade-41. O plágio deve ser punido. Aliás, está sujeito às penalidades legais. Veja: VIEIRA,S. e HOSSNE, W.S. "Fraude em Ciência". In: VIEIRA, S. e HOSSNE, W.S. experimentação com seres humanos. 2' ed. São Paulo, Moderna, 1988.42. In: ECCO, U. Op. cit.AS ÚLTIMAS DÚVIDAS 77dade) não está relacionado com a área de pesquisa, mas com uma série de outros fatores - como a aptidão do candidato para a pesquisa, o grau de envolvimento e a competência do orientador, as experiências do curso e - é claro - o tema da tese43.Sempre é mais fácil desenvolver uma tese na linha de pesquisa do orientador. A orientação se torna mais segura porque0 orientador sabe exatamente aonde quer chegar. Mas - por isso mesmo - o trabalho do aluno se torna menos criativo.Não existe sequer a necessidade de resolver as próprias dúvidas.Basta perguntar ao orientador... No entanto, o orientador que só aceita trabalhar em assunto muito específico corre o risco de se repetir indefinidamente.Então, se você quiser andar pelas próprias pernas, escolha um tema de pesquisa paralelo à linha de pesquisa do seu orienta-dor. Só assim se ampliam os horizontes! Saiba, porém, que você terá dificuldade em resolver as próprias dúvidas e terá maior probabilidade de erro. Mas também terá maior chance de fazer uma descoberta... Se seu orientador aceita desafios, por que não tentar? O especialista orienta de maneira estrita, mas o orientador que não é especialista sobre o tema de uma tese pode ser um leitor crítico, que um bom candidato ao título de doutor certamente saberá aproveitar.É possível, porém, que você enfrente alguma dificuldade para conseguir ajuda financeira para o seu projeto de pesquisa'.As agências financiadoras tendem a prestigiar especialistas da área que estão envolvidos em grandes projetos. Mas não desanime. Essa posição das financiadoras não implica na afirmativa deque não-especialistas, ou pesquisadores de centro menores, não possam produzir

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trabalho de bom nível. Mais ainda, quando só43. O aluno que pretende desenvolver tese sobre tema que o Departamento não tem especialista pode buscar orientação fora. A ajuda externa é, em geral, bem-vinda, mas pode melindrar os menos capazes.44. Muitas teses são subprojetos dentro do projeto de trabalho de toda uma equipe.Se não existem projetos que enquadrem determinada tese na instituição, o aluno pode até conseguir financiamento para uma pesquisa individual, mas sempre é mais difícil em um grupo produz determinado tipo de conhecimento, corre o risco de errar e persistir no erro. A competitividade é salutar.Então, mãos à obra!6.4 - O relacionamento com o orientador Embora a qualidade e a quantidade de orientação efetiva dada a um trabalho de tese sejam extremamente variáveis, o relacionamento do orientador com seu orientado é, em geral, bastante bom. Aliás, existem orientadores que ajudam mais do que se espera deles, se bem que também existam aqueles que não ajudam, nunca estão presentes e até exploram seus orientados45.Mas faça o possível para manter, com seu orientador, um relacionamento equilibrado.De qualquer modo, saiba que é difícil estipular a quantidade de ajuda que deve ser dada a um aluno de pós-graduação.Se é verdade que o orientador deve ter autoridade sobre a tese que orienta - afinal ele é co-responsável pelo trabalho - também é verdade que o aluno precisa ter certa autonomia. Onde começa uma e onde acaba outra? É claro que um orientador não deve colocar seu aluno dentro do laboratório e mandar que esse aluno siga a própria inspiração. Mas o orientador também não deve fazer com que o aluno vista seu método como uma camisa-de-força. Aluno e orientador devem trabalhar juntos, na tentativa de produzir conhecimento novo: Seria ingênuo pensar que toda tese representa real avanço da ciência,mas é justo esperar que toda tese traga alguma luz para o ambiente em que foi defendida. Afinal, tese é resposta a uma indagação - não mero instrumento para promoção no emprego.45. Boa parte dos alunos queixa-se da falta de orientação. Tais queixas nem sempre precedem, mas, às vezes, estas são mais do que justas. O aluno procura, então, a ajuda de pesquisadores na instituição de origem, de colegas e de outros professores, que não0 orientador.46. Veja: CASTRO, C.M. A prática da pesquisa, São Paulo, Mc Graw, 1972.gQ Por estas razões todas, parece que um critério para avaliar se uma tese é boa ainda é saber se, no final, o orientador aprendeu alguma coisa. Porque, se a tese.só comprova o que o orientador já sabia, ela é simples repeteco. Mas que você consiga acertar na dose è que, em breve, esteja recebendo cumprimentos pelo novo título. "Ao vencedor, as batatas!4~47. MACHADO DE ASSIS, J.M. Quincas Borba. Rio de Janeiro, Jackson, 1937.Este livro ensina você como escrever uma tese.Não é, porém, um manual que deve ser seguido à risca: consulte seu orientador. Mas este livro ensina por onde começar.COMO ESCREVER UMA TESE Sônia Vieira O que é uma tese? É o trabalho apresentado à universidade pelo candidato ao título de doutor, para a obtenção do título. O trabalho é feito sob a orientação de um pesquisador experiente, o orientador. A tese é escrita de maneira convencional e impressa em formato padrão. Depois, é submetida à apreciação de uma comissão

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julgadora e defendida publicamente.Como se escolhe o tema da tese? De que partes se compõe uma tese? Em quanto tempo se escreve uma tese? Cabe aqui uma recomendação que vai valer o seu tempo: escolhem um tema limitado, um orientador equilibrado e competente, e trabalhe com afinco, mas sem pretensões exageradas. Afinal, você vai apenas escrever uma tese - não vai abalar a ciência., nem salvar o mundo.Quais as virtudes desta obra? Uma bem expressa informalidade; um excelente senso didático; elevado grau de empatia da autora; ênfase à pesquisa de bom nível; abordagem humana da interação orientador-orientando; estilo bem exemplificativo e concisão; e uso integrado da ilustração realçando a exposição. Enfim, gostei muito e recomendo sua publicação. São as palavras do eminente Prof. FRANCISCO GOMES DE MATOS., Autora de vários livros publicados professora - Titular de Bioestatística na UNICAMP, inclusive, trabalhos publicados no Brasil e exterior LIVRARIA PIONEIRA