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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DE FLORESTAS TROPICAIS Como a participação do extrativista e o uso do GPS podem contribuir para o manejo da castanha ( Bertholletia excelsa)? JULIANNA FERNANDES MAROCCOLO Manaus, Amazonas Julho, 2013

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DE FLORESTAS TROPICAIS

Como a participação do extrativista e o uso do GPS podem

contribuir para o manejo da castanha (Bertholletia excelsa)?

JULIANNA FERNANDES MAROCCOLO

Manaus, Amazonas

Julho, 2013

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JULIANNA FERNANDES MAROCCOLO

Como a participação do extrativista e o uso do GPS podem

contribuir para o manejo da castanha (Bertholletia excelsa)?

ORIENTADOR: DR. PAULO DE TARSO BARBOSA SAMPAIO

Dissertação apresentada ao

Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia como parte dos requisitos

para obtenção do título de Mestre em

Ciências de Florestas Tropicais

Manaus, Amazonas

Julho, 2013

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AGRADECIMENTOS

Primeiro, agradeço à vida que tenho, à minha família e amigos, que dão sentido ao

meu viver. Sair do conforto para se arriscar por ideais não é fácil, mas a certeza de que o amor

prevalece independente da distância e de que quanto mais eu caminho por esse mundo, mais

amor está se criando dentro de mim e dentro daqueles com quem convivo, isso até então tem

sido suficiente para seguir adiante... e essa experiência com o mestrado não foi diferente.

O trabalho que fiz só foi possível pela união de muitas pessoas, que abraçaram sua

causa. Agradeço ao pessoal da COVEMA que sempre esteve disposto a me ajudar com o que

eu precisasse, especialmente Seu Getúlio, Pitica e Seu Domingos. Ao Edmar, presidente da

CAAD, por me colocar em contato com sua família de Jatuarana, e à Silvia, gestora da RDS

Rio Amapá, que me recebeu em sua casa, me ajudou no que precisei e que me levou à Boa

Esperança. Agradeço também à Luciane que me recebeu em sua casa e compartilhou os dados

de sua pesquisa na RDS.

Agradeço especialmente às pessoas da comunidade de Jatuarana e Boa Esperança que

confiaram em mim e contribuíram para a realização deste projeto. De Jatuarana, sou muito

grata ao Ney, Nira, Thaís e Naná por serem minha família ali, especialmente ao Ney, por me

mostrar outras formas de observar a floresta, compreender o mundo e os desafios que ele nos

coloca à frente, sendo verdadeiro, franco e amigo. Ao Marcos, Valcinei e Barrelo por terem se

interessado pelo trabalho, vendo nele uma perspectiva de adquirirem novos aprendizados, e ao

Seu Bit, por estar sempre disposto a contribuir e conversar sobre histórias da vida e castanha.

Reservo um parágrafo (o que poderia ser um livro) só para a minha família de Boa

Esperança. Não tenho palavras suficientes para demostrar tudo o que aprendo com vocês e

quanto sou grata por terem me ensinado a alegria e a arte de viver de uma forma mais simples

e de que a importância de tudo está na organização do trabalho, na união e no amor entre as

pessoas. Muito obrigada por me receberem como uma filha, por terem adequado suas

atividades rotineiras para realizarmos o trabalho juntos, por terem se identificado com a

importância deste trabalho, por confiarem plenamente em mim e por terem cuidado de mim

até quando estive doente. Foram demonstrações de carinho que levarei comigo para toda a

vida. Sou muito grata por ter conhecido pessoas tão unidas, que ainda hoje vivem da floresta e

passam esse gosto por estar no mato a seus filhos e a mim. Eternamente grata à Dona

Mercedes e Seu Valdecir, por serem eles a razão da união entre todos nós da comunidade, à

Baixa e Alício, Solia e Sidvan, Bel e Rivelino, Nil e Izael, Marenilse e Preto, Cleide e Careca,

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Rosana e Naia; às crianças e aos jovens Aline, Ivan, Lucinha, Nando, Alisson, Drica, Brener,

Alex (Gin), Letícia, Denner, Clarinha, Tata, Gigi, Clebinho, Júnior, Tati, Bosco, Colau, Lane,

Moça, Natalina, Bruno, Fra e Degão, que com sua alegria, seu brilho e carinho me davam a

certeza de que eu não poderia estar em outro lugar que não ali.

Pela contribuição neste trabalho, também gostaria de agradecer ao amigo Henrique

Nascimento que me ajudou a analisar os dados; ao Dani Xis que fez com que a vivência no

Acre fosse a mais prazerosa possível, me apresentando a lugares e pessoas incríveis que

tiveram grande importância para o rumo que o trabalho tomou. Ao meus pais, Romulo e

Santuzza, que me ajudaram a revisar este texto. À Raquelzinha pela elaboração dos mapas e

pela paciência em me ensinar tudinho. Ao Zanatta, Carol, Danette e Jonas pelas longas

conversas de reflexão e estímulo de que podemos ser os atores das mudanças que queremos, e

ao pessoal lá de casa, Estopa, Jerê, Pimentinha e Suiço, que fazem da nossa casa, o melhor

lugar para estar em Manaus.

Como filha da UnB, sou eternamente grata à formação que tive e aos grandes amigos

que se criaram dali. Ao INPA por reunir, em um mesmo ambiente, pessoas com diversos

conhecimentos que contribuíram muito para a minha formação como pessoa. À Val, pela sua

capacidade de administrar tanta burocracia e fazer com que as coisas aconteçam, ajudando a

todos e mantendo sempre a paciência. Agradeço também ao Paulo de Tarso pelo apoio

financeiro e por ter acreditado no meu potencial para desenvolver esta pesquisa. Sou muito

grata também ao IEB por contribuir com a minha formação política.

E agradeço a todos os brasileiros pela minha bolsa de pesquisa e à CAPES por

gerenciá-la.

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RESUMO

O extrativismo de castanha (Bertholletia excelsa), além de ser uma atividade tradicional dos

povos amazônicos, que gera renda e contribui para a conservação da floresta, é a principal

forma de aquisição desse alimento de grande importância local, regional e até mesmo

internacional. No entanto, o funcionamento do sistema extrativista num marco da

sustentabilidade está determinado em grande parte pelo conhecimento ecológico dos

extrativistas sobre a distribuição espacial, produtividade e suas formas de exploração e

manejo. Assim, tanto os mapeamentos e inventários como a participação dos extrativistas nas

diversas etapas da cadeia de valor da castanha se tornam essenciais para o manejo desta

espécie. Diante das inovações tecnológicas e da necessidade de serem estabelecidas diretrizes

técnicas para o manejo desta espécie, este trabalho buscou identificar quais contribuições

podem ser adquiridas a partir do uso de GPS e da participação do extrativista, seja ele como

indivíduo ou organização. Para tanto, este trabalho foi estruturado em quatro objetivos: 1-

mapear a produção de castanha em diferentes escalas espaciais; 2 – avaliar variáveis que

possam estar interferindo na variação da produção de frutos das árvores de B. excelsa; 3 –

analisar a estrutura demográfica desta espécie em quatro castanhais com diferentes históricos

de uso recente; e 4 – elaborar trilhas para coleta de castanha. Todo o trabalho foi desenvolvido

no município de Manicoré – AM, especialmente em castanhais das comunidades

agroextrativistas Jatuarana e Boa Esperança, ambas localizadas na RDS Rio Amapá. Os dados

do mapeamento da produção de castanha foram coletados a partir de registros da Cooperativa

Verde de Manicoré (COVEMA), registros do paioleiro e mapeamento das árvores de B.

excelsa, em que foram registrados basicamente o DAP, a localização e produção histórica das

árvores. Essas informações foram essenciais para planejar o censo de todas as árvores de B.

excelsa com DAP ≥ 10 cm nesses castanhais, avaliar variáveis que podem estar interferindo

na produção das árvores nos dois castanhais de Jatuarana e elaborar trilhas de coleta nos

castanhais de Boa Esperança. Toda a metodologia foi adaptada do Modelo Digital de

Exploração Florestal (MODEFLORA) e para isso foi imprescindível a participação dos

extrativistas e o uso de aparelhos de GPS. A análise dos dados foi basicamente descritiva,

sendo que para compreender a variação da produção das árvores foi utilizado o teste

estatístico Qui-quadrado e regressão linear múltipla. Os resultados nos indicam que esse tipo

de trabalho é possível de ser feito junto com os extrativistas e que as informações geradas

podem contribuir para as discussões e pesquisas atuais sobre manejo de castanha e da espécie

B. excelsa, bem como para uma melhor gestão do território e da cooperativa. Além de disso,

ao integrar os extrativistas, faz com que eles e suas famílias, especialmente os jovens, passem

a ter outro olhar sobre a floresta e sobre suas atividades, promovendo maior valorização do

seu conhecimento e de seu trabalho.

Palavras chave: castanhais, COVEMA, mapeamento participativo, MODEFLORA, produção

histórica, trilhas de coleta.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 9

OBJETIVOS .......................................................................................................................................... 12

Geral .................................................................................................................................................. 12

Específicos ......................................................................................................................................... 12

MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................................... 12

Área de estudo ................................................................................................................................... 12

Breve histórico da castanha em Manicoré ........................................................................................... 15

Histórico de uso dos castanhais em estudo .......................................................................................... 17

OBJETIVO I - Mapeamento da produção ............................................................................................... 20

Coleta de dados .................................................................................................................................. 20

Análise dos dados .............................................................................................................................. 22

Resultados ......................................................................................................................................... 22

Discussão ........................................................................................................................................... 27

OBJETIVO II - Análise da produção ...................................................................................................... 31

Coleta de dados .................................................................................................................................. 31

Análise dos dados .............................................................................................................................. 31

Resultados ......................................................................................................................................... 32

Discussão ........................................................................................................................................... 35

OBJETIVO III - Estrutura da população ................................................................................................. 40

Coleta de dados .................................................................................................................................. 40

Análise dos dados .............................................................................................................................. 42

Resultados ......................................................................................................................................... 43

Discussão ........................................................................................................................................... 45

OBJETIVO IV - Elaboração de trilhas ................................................................................................... 49

Coleta de dados .................................................................................................................................. 49

Análise dos dados .............................................................................................................................. 49

Resultados ......................................................................................................................................... 49

Discussão ........................................................................................................................................... 51

CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 57

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização do município de Manicoré, da RDS Rio Amapá e das duas comunidades

agroextrativistas onde foram realizados os estudos em campo deste trabalho. ......................................... 13

Figura 2. Gráfico da quantidade de castanha produzida ( ) e o número de cooperados ( ) nas 16

localidades do município de Manicoré, no Amazonas, que comercializaram castanha para a COVEMA

durante a safra de 2012. ......................................................................................................................... 23

Figura 3. Mapa das localidades e quantidades de castanha comercializadas com a COVEMA durante a

safra de 2012 no município de Manicoré - AM. ...................................................................................... 24

Figura 4. Gráfico das áreas de coleta de castanha (quintal de casa e castanhais) durante a safra de 2012

e quantidade de castanha comercializada com a COVEMA por cada castanheiro da comunidade

agroextrativista de Jatuarana (representada pelas variações nas tonalidades de cinza), RDS Rio Amapá,

município de Manicoré – AM. ............................................................................................................... 25

Figura 5. Mapa de localização dos castanhais e quantidade de castanha explorada na safra de 2012 por

castanheiros da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré -

AM. ....................................................................................................................................................... 25

Figura 6. Mapa da produção histórica de castanha dos dois castanhais em estudo, ambos explorados

por castanheiros da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de

Manicoré - AM. ..................................................................................................................................... 26

Figura 7. Proporção de frutos em relação às diferentes categorias de porcentagem de cipó na copa (A),

formato da copa (B) e posição da copa em relação ao dossel (C) em que se encontram as árvores de

Bertholletia excelsa no Castanhalzinho ( ) e Paraíso ( ), castanhais da comunidade agroextrativista

de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM. ............................................................... 33

Figura 8. Regressão parcial mostrando a relação entre a quantidade de frutos produzidos por árvore e

a quantidade de árvores produtivas encontradas em um raio de 100 m (NP 100) de cada uma das141

árvores de Bertholletia excelsa mapeadas em dois castanhais da comunidade agroextrativista de

Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM. .................................................................... 34

Figura 9. Mapa da produção de castanha das 49 árvores de Bertholletia excelsa selecionadas como

matrizes produtivas em dois castanhais da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá,

município de Manicoré – AM. ............................................................................................................... 35

Figura 10. Proporção de árvores de Bertholletia excelsa nas diferentes classes de produção de

castanha referente às 49 matrizes produtivas selecionadas no Castanhalzinho ( ) e Paraíso ( ),

castanhais da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré -

AM. ....................................................................................................................................................... 35

Figura 11. Imagens dos impactos diretos do fogo em uma árvore produtiva de Bertholletia excelsa

após uma queimada realizada no ano de 2012 para a abertura de roçados próximo ao Castanhalzinho,

castanhal localizado na comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de

Manicoré - AM. (Fotos: Julianna F. Maroccolo) ..................................................................................... 36

Figura 12. Fotografia de duas sementes de Bertholletia excelsa onde se destaca (em cor laranja) a

característica que distingue a semente fêmea da semente macho (à direita). (Foto: Julianna F.

Maroccolo) ............................................................................................................................................ 40

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Figura 13. Polígono do castanhal (em cor alaranjada) elaborado a partir das trilhas de coleta de

castanha (cinza) registradas no aparelho de GPS (Garmin 69csx). Em destaque, as picadas virtuais

(amarelo), distantes 50 m uma das outras, e seus respectivos pontos de início e fim para guiar a

atividade de inventário. .......................................................................................................................... 41

Figura 14. Distribuição dos diâmetros de 311 árvores de B. excelsa inventariadas em dois castanhais

próximos à comunidade agroextrativista de Jatuarana (CPx= ) e dois distantes da comunidade de Boa

Esperança (CDt= ), todos localizados na Zona de Amortecimento da RDS Rio Amapá, município de

Manicoré - AM. ..................................................................................................................................... 44

Figura 15. Planejamento elaborado para a coleta de castanha no castanhal Chagas de São Francisco,

explorado por castanheiros da comunidade agroextrativista de Boa Esperança, localizada na Zona de

Amortecimento da RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM. ....................................................... 50

Figura 16. Planejamento elaborado para a coleta de castanha no castanhal São Silvestre, explorado por

castanheiros da comunidade agroextrativista de Boa Esperança, localizada na Zona de Amortecimento

da RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM. ................................................................................ 51

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INTRODUÇÃO

Diante da enorme especulação por terras e recursos naturais da Amazônia (Fearnside

2012, 2013, Fearnside et al. 2013, Little 2013), o extrativismo de produtos não madeireiros é

visto como uma atividade promissora para promover o desenvolvimento sustentável da região

e conter o acelerado ritmo de desmatamento (Balzon et al. 2004, Belcher et al. 2005, Diniz

2008). Outra estratégia que vem sendo implementada no Brasil é a criação de Áreas

Protegidas, principalmente aquelas com uso concedido às populações extrativistas tradicionais

para garantir a proteção de seus meios de vida e de sua cultura (Bensusan 2006, Brasil 2000).

Muito se discute sobre estes temas, especialmente quanto à baixa produtividade de áreas

protegidas e à sustentabilidade das atividades extrativistas (Hardin 1968, Homma 1993,

2012), mas muitos esforços estão sendo feitos para compreender como essas atividades são

tradicionalmente realizadas, quais seus impactos no meio ambiente e quais as oportunidades e

limitações existentes que possam fomentar o desenvolvimento local ou regional (Castro 2000,

Lescure 2000, Santos 2011, Stoian 2004, Ticktin 2004, Zanatta 2012).

Dentre as espécies de uso não madeireiro da Amazônia, a Bertholletia excelsa é

considerada uma espécie-chave para a conservação da floresta e desenvolvimento dessas

reservas extrativistas (Ortiz 2002, Wadt et al. 2005). Popularmente chamada de castanha-do-

brasil (que neste trabalho será referenciada apenas como castanha para facilitar a leitura e

evitar conflitos referentes às diferentes denominações), as sementes desta espécie são o seu

principal produto e o único alimento consumido internacionalmente que depende basicamente

do extrativismo em florestas tropicais (Clay 1997, Ortiz 1995).

A ocorrência das florestas naturais de castanha, conhecidas como castanhais, são áreas

de florestas com maior densidade de árvores de castanha (Dubois 1996, Azevedo 2009) e

existem fortes evidências de que estas sejam florestas antropogênicas (Scoles & Gribel 2011,

ShepardJr. & Ramirez 2011). Diante disso, estudos mais recentes vêm demonstrando que, ao

contrário do que se especulava (Peres et al. 2003), a coleta de castanha não tende a causar a

extinção dos indivíduos de B. excelsa (Wadt et al. 2005). Pelo contrário, promovem a

dispersão de suas sementes (Ribeiro 2011) e a abertura de espaços que aumentam a entrada de

luz no sub-bosque da floresta, criando condições propícias para o estabelecimento desta

espécie nessas áreas (Salomão et al. 1995, Scoles & Gribel 2012, Wadt et al. 2008).

A produção anual de frutos de B. excelsa é uma característica economicamente

interessante (Vieira et al. 2008) e seus valores nutricionais peculiares (Ferreira et al. 2006,

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Freitas & Naves 2010) fazem com que a castanha seja comercializada preferencialmente in

natura, o que dificulta a quebra do mercado pela substituição por produtos sintéticos. Apesar

da variação anual da produção de frutos ser uma característica das árvores de B. excelsa,

parece que a produção dos castanhais como um todo permanece constante (Wadt et al. 2005).

Dessa forma, o maior risco do extrativismo da castanha tende a ser a flutuação de seus preços

de mercado que dependem muito do mercado internacional. Para contornar isso, o governo

brasileiro vem investindo tanto em políticas que garantam a fixação de um valor mínimo de

venda (Brasil 2008) e a compra do produto (Amazonas 2009, Brasil 2008b), como em

políticas que promovam o desenvolvimento, geração de renda e justiça social a partir do

fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade, em que a castanha e o babaçu

são os produtos prioritários (Brasil 2009). Essas características e o fato de ser uma atividade

tradicional que traduz a identidade cultural dos povos amazônicos (Ortiz 1995) fazem com

que o extrativismo da castanha seja uma atividade fundamental para o desenvolvimento local

e regional, assim como para o desenvolvimento de áreas protegidas.

O Amazonas é o maior produtor de castanha no Brasil, responsável por 39,7% da

produção nacional (16 mil toneladas) (IBGE 2010). Também é o maior Estado brasileiro, com

74,1% do seu território florestado (PRODES 2011) e 19 milhões de hectares em Unidades de

Conservação (www.sds.am.gov.br). Na região Sudeste do Amazonas está localizado o

município de Manicoré, com três Unidades de Conservação de Uso Sustentável e sete Terras

Indígenas representados por 1,57 milhões de hectares (SDS 2008). Ali, tanto o processo de

criação de Áreas Protegidas como o de organização das comunidades agroextrativistas podem

ser considerados conquistas de uma mobilização comunitária (Amaral et al. 2012).

O processo de associativismo que neste município culminou com a criação da

Cooperativa Verde de Manicoré (COVEMA) em 2006 foi o que nos despertou para realizar

este trabalho. Fundada para viabilizar a comercialização de produtos agroextrativistas, esta

cooperativa tem como o seu principal produto a castanha. Ao longo desses anos, juntamente

com outras instituições, promoveu cursos de Boas Práticas da Castanha e investiu na

construção de paióis1 comunitários. Um dos resultados desses esforços foi que nos últimos

anos, Manicoré passou a ser considerado um dos municípios brasileiros com maior produção

de castanha, chegando a ocupar a 11ª posição em 2010, com 1.125 toneladas comercializadas

1 Paióis são construções feitas com o propósito de armazenar temporariamente a castanha em um ambiente de

menor umidade, evitando a contaminação destas por fungos que possam produzir aflotoxinas (ACCA 2009a).

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(IBGE 2010). Agora em 2012, todo o processo de beneficiamento da cooperativa foi

industrializado, aumentando a produção de castanha e, consequentemente, a demanda por essa

atividade extrativista.

Dessa forma, essa região tem potencial para se desenvolver com extrativismo florestal,

mas o funcionamento desse sistema extrativista num marco de sustentabilidade está

determinado em grande parte pelo conhecimento ecológico dos extrativistas sobre a

distribuição espacial dos recursos e as formas de exploração e manejo (Hanazaki, 2003).

Assim, o conhecimento sobre a viabilidade de coleta das áreas (Zanatta 2012), bem como

sobre a estrutura e a produção das populações de castanha é um dos passos iniciais do para o

seu manejo (Peters 1994, 1996). Isso torna essencial a coleta de dados em campo e a

participação dos extrativistas nas diversas etapas da cadeia de valor2 da castanha.

Uma das metodologias desenvolvidas recentemente para o manejo madeireiro é o

MODEFLORA - Modelo Digital de Exploração Florestal, uma inovação tecnológica criada

para otimizar os trabalhos de campo, reduzir custos e dar maior confiança aos dados. Seu

diferencial está no uso do GPS e nas informações por ele geradas para planejar, executar e

monitorar as atividades de manejo de uma forma mais harmônica com a floresta (Figueiredo

et al. 2008). A tendência é que esta metodologia passe a ser adotada em planos de manejo

florestais, e embora seu aprendizado demande conhecimento específico, a capacitação para o

uso de GPS em campo é viável e já vem sendo realizada no Acre (www.funtac.org.br).

Diante deste contexto, este trabalho busca inserir o uso do GPS em mapeamentos e

inventários participativos de castanha na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio

Amapá, no município de Manicoré. O intuito da pesquisa é mostrar que o uso de aparelhos de

GPS e a participação do extrativista podem gerar informações importantes tanto para o

manejo da castanha como para a gestão dos territórios e da COVEMA. O texto foi

subdividido em partes que tratam especificamente de cada um dos objetivos propostos:

mapeamento da exploração de castanha em diferentes escalas espaciais, análise da variação da

produção de frutos, análise da estrutura demográfica dos castanhais e elaboração de trilhas

para coleta de castanha.

2 Cadeia de valor abrange os conceitos de uma cadeia produtiva, mas além de representar meramente a sequência

dos processos produtivos, considera a agregação de valores não monetários ao produto ao longo de suas etapas

de produção e pressupõe que os parceiros envolvidos devem desenvolver relações de coordenação, colaboração e

cooperação (GTZ 2009).

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OBJETIVOS

Geral

Apresentar informações geradas a partir do uso do GPS e da participação do

extrativista que contribuam para o manejo da castanha.

Específicos

1. Mapear a produção de castanha em diferentes escalas espaciais;

2. Avaliar a relação entre a produção histórica de castanha e as características do

ambiente e das árvores e selecionar matrizes;

3. Comparar estrutura de populações de Bertholletia excelsa em castanhais com

diferentes históricos recentes de uso;

4. Elaborar trilhas para a coleta de castanha.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

Este estudo foi realizado no município de Manicoré, na região do Médio Rio Madeira.

O clima ali é do tipo tropical chuvoso (Am de Köppen), com um período seco de poucos

meses e temperatura variando entre 25 e 27 °C. A umidade relativa do ar é superior a 80% e a

precipitação média anual é de 2.600 mm, sendo que o período chuvoso inicia em outubro e

prolonga-se até junho (Sombroek 2001), época em que ocorre a coleta de castanha (Maués

2002, Tonini 2011, Vieria et al. 2009).

A população do município é de aproximadamente 48 mil habitantes, com quase 60%

em áreas não urbanas (IBGE 2012). Sua principal economia é baseada em atividades

agroextrativistas, sendo considerado um dos principais municípios da região Norte na

produção deste setor (SEPLAN 2012). Com 48.242 km², pelo menos 32,6% do território

(15.714 km²) está dentro de Áreas Protegidas (SDS 2008). Atualmente estão demarcadas ali

oito Terras Indígenas (TI Pinatuba, TI Rio Manicoré, TI Lago Jauari, TI Torá, TI Tenharim-

Marmelos, TI Ariramba, TI Lago Capanã) e quatro Unidades de Conservação (Parque

Estadual do Matupiri, RDS Rio Madeira, RDS Rio Amapá, RESEX Capanã Grande).

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Dentre as Unidades de Conservação de Uso Sustentável, a Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Rio Amapá é considerada uma das áreas de relevante

importância para a conservação da biodiversidade, com 216,1 mil hectares composto

basicamente por florestas de terra firme, campinas, campinaranas e florestas de várzea (SDS

2010). Criada em 2005, fruto da iniciativa da Central das Associações Agroextrativistas de

Democracia (CAAD) formada pelas dez associações das comunidades locais, a RDS surge da

necessidade de se conservar as áreas de castanhais e conter, principalmente, a grilagem de

terras, a caça indiscriminada e a forte pressão madeireira na região (SDS 2010). O fato das

comunidades da RDS Rio Amapá estarem bem organizadas e de ser uma das regiões que mais

produz castanha para a COVEMA foi crucial para a seleção desta como sendo o cenário dos

castanhais em estudo. (Figura 1).

Figura 1. Localização do município de Manicoré, da RDS Rio Amapá e das duas comunidades agroextrativistas

onde foram realizados os estudos em campo deste trabalho.

Atualmente, todas as dez comunidades que compõem a RDS Rio Amapá, embora não

residam dentro do perímetro da RDS, são consideradas beneficiárias por utilizarem os

recursos naturais da área para suprir suas necessidades de uso doméstico, alimentares e

econômicas. A pesca e a caça, o roçado e os quintais e a exploração de recursos da floresta

são as fontes básicas de sustento e a renda dessas famílias, sendo que a extração de óleo de

copaíba e a coleta de açaí e castanha são consideradas suas principais atividades de

extrativismo vegetal (SDS 2010).

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Assim como os castanhais em estudo, todas as dez comunidades beneficiárias da RDS

Rio Amapá estão na Zona de Amortecimento da RDS. Ali, segundo a Lei nº 9.985/2000

(Brasil 2000), as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o

propósito de minimizar os impactos negativos na área. Como a coleta de castanha é uma das

principais atividades locais, no Plano de Gestão da Unidade foram estabelecidas regras de uso

e foram identificados os fatores que devem ser aprimorados para melhorar a comercialização

da castanha na Reserva, dentre os quais se destacam os altos custos na logística, a falta da

infraestrutura necessária nos castanhais e a falta de tecnologias adequadas para os processos

de coleta, armazenamento e transporte da castanha.

Por indicação da gestora da RDS, a proposta do trabalho foi apresentada aos

extrativistas das comunidades de Jatuarana e Boa Esperança. Formada em 1820 (ITEAM

2006), a comunidade de Jatuarana tem hoje 45 famílias com aproximadamente 200 habitantes

no total e é a comunidade da RDS que está mais próxima da cidade de Manicoré (15 km). Já a

comunidade de Boa Esperança tem sua fundação mais recente, no ano de 1964, mas as 32

famílias que ali residem (ITEAM 2006), antes faziam parte da Água Azul, outra comunidade

desta mesma RDS e muito próxima à Boa Esperança. Tanto Jatuarana como Boa Esperança

são essencialmente formadas por famílias de agricultores e parte delas também desenvolvem

atividades do extrativismo vegetal para seu uso pessoal e como fonte de renda alternativa, que

contribui com pelo menos um terço da renda anual dessas famílias (Silva no prelo).

Os extrativistas que se mostraram interessados em participar do trabalho tiveram a

oportunidade de participar de uma oficina sobre GPS. A oficina foi feita para que pudessem

compreender melhor sobre essa tecnologia e aprendessem a manipular o aparelho de GPS

durante coletas de dado em campo, destacando a importância da participação deles nesse

processo. E diante do interesse desses extrativistas e dos diferentes históricos de uso, foram

selecionados quatro castanhais para este estudo, dois em cada comunidade.

A coleta de dados deste trabalho foi realizada entre os meses de fevereiro de 2012 e

março de 2013. Ao todo, foram 108 dias, divididos em cinco viagens a campo. A primeira

viagem foi para conhecer a área e as pessoas que iriam colaborar com o trabalho e as demais

viagens foram realizadas para coletar os dados de mapeamento, inventário e acompanhamento

da atividade de coleta da castanha. Em todas as atividades, a participação dos extrativistas e o

uso da tecnologia do GPS/SIG foram essenciais para o desenvolvimento do trabalho.

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Breve histórico da castanha em Manicoré

A história de colonização da Amazônia sempre esteve vinculada a diferentes ciclos

econômicos dependentes de produtos agroextrativistas (Ribeiro 1995). A exportação de

produtos naturais através do rio Madeira fez com que, em 1797, portugueses e caboclos

fundassem o povoado de Crato (atual cidade de Manicoré) como um lugar propício para

facilitar esse comércio (Reis s.d.).

Dependentes dos patrões, a população ribeirinha da região era obrigada a pagar-lhes

parte dos produtos retirados da floresta em troca do direito a permanecer no local. Quando os

ribeirinhos eram os donos da terra, o entrave da venda da produção substituía a figura dos

patrões pela figura dos regatões (ou atravessadores), em sua maioria judeus. Estes regatões

eram um mal necessário para essas famílias ribeirinhas, uma vez que escoavam seus produtos

e ao mesmo tempo forneciam itens que se faziam essenciais à sobrevivência dessas

populações locais (Amaral et al. 2012).

Com a quebra do comércio da seringa no início do século XX, a extração da castanha

passa a se constituir como a principal atividade econômica da região amazônica e Manicoré

torna-se um polo de exportação dos produtos regionais (Reis s.d.). Porém, a forma como o

mercado era estruturado isolava e desarticulava os castanheiros da região de Manicoré e estes

não tinham condições de modificar essa realidade, sendo obrigados a vender a castanha a

preços baixíssimos: um hectolitro (quatro latas de castanha3) chegava a custar R$ 2,50 naquela

época. Para piorar a situação dos extrativistas, na década de 1990, o preço da castanha diminui

ainda mais, principalmente por restrições internacionais devido à presença de aflotoxina4 nas

castanhas comercializadas (Amaral et al. 2012).

Além do êxodo rural causado pela queda do preço da castanha nos anos 90, famílias

extrativistas foram obrigadas a buscar outros meios de produção para sua existência. Muitos

castanheiros, ainda que continuassem coletando para sua alimentação, pararam com a extração

da castanha e, neste momento, muitos dos castanhais distantes, de difícil acesso e logística de

coleta, foram abandonados. Nesta mesma época, a situação fundiária do município era muito

indefinida e, ao mesmo tempo, a empresa Gethal se instala na região e começa a comprar

3 Uma lata corresponde a ≈ 10 kg de castanha com casca.

4 Considerada cancerígena para seres humanos e animais, a aflotoxina é uma substância produzida principalmente por fungos do gênero Aspergillus sp., comumente encontrado em amendoins e castanhas (Caldas

et al. 2002).

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grandes extensões de terras para explorar madeira certificada, destruindo muitas áreas de

coleta de castanha.

Preocupados com esse cenário, dois manicoreenses iniciaram um processo de

mobilização e transformação social que foi responsável pelo ordenamento de grande parte do

território e pelo início das discussões sobre criação de áreas protegidas como uma maneira de

garantir os direitos territoriais, econômicos e sociais dessas populações rurais. Outro resultado

dessas lutas sociais foi a estruturação da cadeia de valor da castanha, com o aumento do seu

preço de mercado (que na safra de 2012 chega a pagar até R$ 25,00 ao extrativista por cada

lata de castanha) e a melhora na qualidade da castanha comercializada através do Programa

Boas Práticas da Castanha5 (Amaral et al. 2012).

Em algumas comunidades agroextrativistas, essa abertura da participação social, a

adoção de novas tecnologias e o apoio de agentes externos foram fundamentais para a

transformação de um sistema tradicional para um novo sistema de coleta de castanha. O

investimento em formação de capital humano e a participação efetiva das pessoas envolvidas

em todos os processos de tomada de decisão resultaram no empoderamento das comunidades,

que passaram a se organizar coletivamente e ter uma maior eficiência de seus sistemas

produtivos, inclusive no da castanha (Cortez 2011).

Diante da diversidade de produção dessas famílias agroextrativistas e da importância

desses produtos para o mercado local, regional e até mesmo internacional, é enorme a

dificuldade que elas encontram em escoar seus produtos e obter, a partir desse comércio, uma

renda justa para melhorarem sua qualidade de vida, evitando o êxodo rural, a perda da

identidade cultural e ao mesmo tempo contribuírem para a conservação da floresta. Dessa

preocupação, todo o processo de organização social culminou com a criação da Cooperativa

Verde de Manicoré (COVEMA) em 2006, destinada principalmente a comercializar e

melhorar a qualidade desses produtos agroextrativistas. Embora trabalhe com outros produtos,

o forte da cooperativa está no comércio de castanha, que atualmente conta com mais de 500

castanheiros cooperados, com uma usina de beneficiamento de castanha e certificação

orgânica da produção. Apesar das dificuldades, principalmente àquelas relacionadas à

administração, financiamento, escoamento da produção e gestão participativa da cooperativa,

5 O Programa Boas Práticas da Castanha, criado em 2003, visa fortalecer a cadeia produtiva da castanha no

Estado do Amazonas a partir da adoção de procedimentos nas etapas de coleta, armazenagem e beneficiamento

da castanha, visando diminuir os riscos de contaminação da castanha por aflotoxinas e melhorar a qualidade do

produto final (IDAM 2011).

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a COVEMA pode ser vista como uma iniciativa econômica coletiva de sucesso que se baseia

no associativismo através de relações sociais e culturais.

Histórico de uso dos castanhais em estudo

No final do século XIX foi quando as terras de Jatuarana e Boa Esperança passam a ser

ocupadas para o estabelecimento de um comércio extrativista na região. Em sua maioria, eram

terras devolutas do Estado, mas em cada uma dessas áreas o processo de regularização foi

diferente. Enquanto muitos comunitários conseguiram ter o título de suas terras em Boa

Esperança, na região de Jatuarana, a situação imposta foi o patronato. Mas nos dois casos, as

famílias locais dependiam ou do regatão ou do patrão para sobreviverem.

Ao todo, existia quatorze colocações6 para coleta de castanha em Jatuarana, sendo que a

distância e o tempo de deslocamento para chegar a cada uma delas era bem diferente e vale

lembrar que todo o percurso era feito com remo e a pé. Mas mesmo com melhores condições

de transporte e com o aumento no preço da castanha na safra de 2012, três dessas colocações

já não foram coletadas. Os extrativistas dizem que isso está acontecendo porque os mais

jovens não se interessam em ir para a floresta; querem ir para a cidade, pois lá podem ter a

felicidade e qualidade de vida que não encontram no interior. Como o Castanhalzinho e o

Paraíso são os menores castanhais e os mais próximos à Jatuarana, nunca deixaram de ser

coletados e as árvores e as trilhas coletadas hoje em dia são praticamente as mesmas

percorridas antigamente.

Naquela época do patronato, muitas famílias viviam onde é hoje o Castanhalzinho e o

caminho velho que ligava Jatuarana à comunidade de Democracia também passava por dentro

deste castanhal, que nem era considerado uma colocação. Devido à facilidade de acesso e à

presença de terra preta de índio7, quase toda a área do Castanhalzinho já foi desmatada,

principalmente para ser destinada à agricultura. O extrativista do Castanhalzinho conta no

caminho mais antigo, a parte da floresta mais voltada para o baixio era onde se encontravam

6 Colocações era o nome dado para áreas de coleta de castanha e outros recursos florestais em áreas de terra

firme mais adentro da floresta. Cada colocação tinha suas picadas/trilhas e um acampamento com os recursos

mínimos para que os extrativistas pudessem passar semanas se dedicando às atividades.

7 Terra Preta de Índio são solos de coloração preta, restos de material arqueológico e fertilidade química

significativamente superior à maioria dos solos amazônicos, que indicam a presença do homem pré-histórico

naquela área (Kern et al. 2003).

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as castanheiras mais produtivas do seu castanhal, mas que quase todas elas já morreram, em

sua maioria, derrubadas ou queimadas para abertura dos roçados e algumas poucas morreram

causa de ventos ou raios.

Há uns 40 anos, as famílias que viviam no Castanhalzinho se mudaram para onde é hoje

a comunidade de Jatuarana. Isso aconteceu por causa da dificuldade em se conseguir água

para o abastecimento das famílias ali alocadas. Mas mais que isso, a dificuldade de se viver no

interior e a desvalorização dos preços dos produtos agroextrativistas fizeram (e ainda fazem!)

com que muitas famílias de Jatuarana se mudassem principalmente para Manicoré, Humaitá,

Manaus ou Porto Velho. Com isso, muitas roças no Castanhalzinho foram abandonadas e a

floresta foi se reconstituindo novamente, embora ainda existam muitos roçados entremeando

toda a área deste castanhal, e é visível o mosaico de estágios sucessionais em que se encontra

a floresta deste castanhal hoje em dia.

Já no Paraíso, ainda que muito próximo de Jatuarana (500 m) e do Castanhalzinho, a

história ali foi outra. O patrão proibiu as famílias de se instalarem nas terras daquele lado do

lago Jatuarana onde se localiza o Paraíso e decidiu implantar naquela área uma criação de

gado. Há pelo menos quarenta anos que essa criação foi abandonada e como apenas uma parte

do castanhal foi utilizada para pastagem, parece que a intensidade e o tempo desta atividade

não foram suficientes para inviabilizar a recuperação da área, pois hoje em dia encontramos o

Paraíso em meio a uma floresta com características estruturais de floresta madura.

Em Jatuarana, apesar de os comunitários não terem o título das terras, cada extrativista,

ou grupo de extrativistas, tem seu castanhal e todos sabem quem é responsável por cada

castanhal e onde começa e termina a área de coleta de cada um. Sabendo da importância que

é a coleta de castanha para as famílias extrativistas, geralmente esses limites são respeitados

pelos moradores de Jatuarana. Assim, ainda que existam algumas roças ao redor da área do

castanhal e esta também se mostre uma terra promissora para a agricultura devido à presença

de terra preta de índio, as pessoas respeitam os limites do castanhal e não adentram a área e

nem abrem mais áreas de roçado, ainda que por ventura o fogo nos roçados possa atingir e

danificar algumas árvores de castanha que se encontrem próximas.

Em Boa Esperança, a situação é diferente. Grande parte das famílias de Boa Esperança

têm títulos das terras, de modo que quem não tem esses títulos ou se submetem a trabalhar na

terra dos outros ou são obrigados a ir para os castanhais mais distantes, sem titulação. No

entanto, para acessar essas terras sem título, o percurso é de pelo menos quatro horas

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caminhando e uma hora e meia de barco rabeta (obs. pessoal). Imaginando que há vinte anos o

acesso a esses castanhais era muito mais difícil, podemos compreender o porquê desses

extrativistas terem abandonado a coleta de castanha nesses castanhais mais distantes quando o

preço de quatro latas de castanha caiu para R$ 2,50.

Como essas famílias de Boa Esperança são agroextrativistas, passaram a se dedicar a

outras atividades que não a castanha. Em alguns castanhais mais próximos, como é o caso do

Chagas de São Francisco (13 km de Boa Esperança), alguns extrativistas ainda iam coletar

castanha para o consumo de suas famílias, ou utilizavam a área para caçar e explorar “leite de

pau”, derrubando e anelando principalmente as árvores de sorva (Couma sp.), amapá

(Brosimum sp.) e maçaranduba (Manilkara sp.). Entretanto, quanto mais distantes, mais

abandonados foram esses castanhais, especialmente o São Silvestre. O curioso é que apesar de

estar distante de Boa Esperança (18 km), este castanhal se localiza muito próximo (< 100 m)

de um dos acampamentos e ainda assim foi mais abandonado que outros castanhais mais

distantes. A questão é que a principal atividade que florestal dessas famílias é a caça e para

elas, devido à proximidade do acampamento, poderia ser muito perigoso percorrer as trilhas

do São Silvestre para caçar. Por isso, há pelo menos vinte anos as trilhas de coleta de castanha

nesse castanhal foram completamente abandonadas, assim como a coleta de castanha.

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OBJETIVO I - Mapeamento da exploração

Coleta de dados

Foram coletadas informações sobre localização das áreas de coleta de castanha,

quantidade de castanha coletada e número de extrativistas envolvidos na atividade, sendo que

estes dados foram adquiridos de diferentes maneiras, de acordo com a análise espacial em

questão. Como intuito deste trabalho foi mapear a produção de castanha comercializada com a

COVEMA, vale destacar que os dados aqui coletados não representam a quantidade total de

castanha produzida pelas localidades, pois não necessariamente toda a castanha coletada foi

comercializada com a cooperativa; parte pode ter sido destinada à alimentação das famílias ou

vendidas a atravessadores, além do que nem todo coletor de castanha é cooperado da

COVEMA8. Mas para reduzir esses vieses, foram selecionados os dados de produção relativos

à safra de castanha do ano de 2012, quando a cooperativa estava mais bem organizada e com

maior numero de cooperados. Também foi um ano de alta produção de castanha no município

como um todo e safra recorde da cooperativa, em que o preço pago ao extrativista era em

média 25 reais por lata de castanha, maior valor desde 2006 quando a cooperativa foi criada

(Amaral et al. 2012), o que estimulou muitos castanheiros a se tornarem cooperados da

COVEMA e venderem castanha a ela.

Em se tratando do mapeamento em escala regional, a quantidade de extrativistas

cooperados e a produção comercializada por comunidade foram obtidas a partir de registros

da COVEMA9 para todo o município de Manicoré. A localização dessas comunidades, assim

como o fato de pertencerem ou não a Unidades de Conservação (UC) ou Terras Indígenas

(TI), foram informações obtidas de representantes da própria cooperativa e gestores de UC do

município, que fizeram o reconhecimento dessas localidades em um mapa digital.

Comunidades de um mesmo rio/igarapé foram agrupadas como sendo parte de uma mesma

localidade, uma vez que a logística de transporte e comercialização da castanha pela

COVEMA é organizada desta forma e também porque é uma maneira mais prática de

visualizar a origem da castanha.

8 De acordo com o seu Estatuto, qualquer pessoa pode se tornar cooperado da COVEMA, basta mostrar interesse

e se comprometer em doar duas latas de castanha a cada safra e participar das reuniões semestrais da cooperativa.

9 Nos registros da COVEMA também constam informações sobre o nome dos castanheiros, data de entrega da

castanha no galpão da cooperativa, preço pago pelas latas comercializadas e identificação das castanhas

manejadas (aquelas que passaram pelos processos das Boas Práticas da Castanha).

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Em escala de comunidade, a produção de castanha pela comunidade agroextrativista

de Jatuarana foi obtida através de registros do paioleiro10 da comunidade, onde constam

informações sobre o nome do extrativista, data, quantidade e preço pago pela castanha

armazenada no paiol. Para conhecer a localização dos castanhais de Jatuarana, foi realizado

um mapeamento participativo com alguns extrativistas. Primeiramente foi feito um registro

em campo da hidrografia local: enquanto o igarapé Jatuarana era percorrido por um

conhecedor da região em seu rabeta11, o percurso ia sendo gravado no aparelho de GPS

(modelo Garmin 69csx). Esta informação foi transferida ao computador e a partir de sua

visualização foi possível desenhar um mapa da hidrografia em uma folha de cartolina, onde as

áreas de coleta de castanha foram reconhecidas pelos extrativistas da comunidade.

Dois castanhais de Jatuarana foram selecionados para a análise em menor escala, a

nível de castanhal. Nos castanhais Paraíso e Castanhalzinho, as informações foram obtidas

com um maior esforço de campo, percorrendo o trajeto comumente feito pelos extrativistas

durante a coleta de castanha. O registro das trilhas e coordenadas de interesse no aparelho de

GPS foi usado para obter uma ideia do esforço de coleta, localização precisa do castanhal e

das árvores de B. excelsa coletadas. Em uma planilha, também foram registrados os dados de

produção de frutos e circunferência do tronco a 1,30 m do solo (CAP) de cada árvore

coletada, sendo que, para a informação sobre a produção das árvores foi considerado que a

experiência do castanheiro em coletar naquela área há mais de cinco anos seria uma

informação relevante e segura sobre a produtividade daqueles indivíduos. Essas informações

sobre o conhecimento do extrativista quanto a produção de castanha foram analisadas por

Wadt et al. (2005) com castanheiros da Reserva Extrativista Chico Mendes e elas

apresentaram elevada correlação com a produção anual de frutos mensurada durante os cinco

anos de pesquisa. Sendo assim, levando em consideração a grande variação na produção anual

de frutos de B. excelsa (Kainer et al. 2007), a produção histórica, como foi aqui denominada,

ela pode ser uma informação útil principalmente em trabalhos de curto prazo que não possam

mensurar a produtividade de árvores desta espécie.

10 Paioleiro é a pessoa da comunidade destinada a cuidar do paiol comunitário. Em Manicoré, todo paiol

comunitário que entrega castanha para a COVEMA tem um paioleiro que cuida das castanhas enquanto

estiverem no paiol, mantendo o paiol limpo e secando as castanhas, quando preciso. Cada paioleiro tem um

caderno de registro e recebe por seu trabalho R$ 1,00 por lata de castanha que depois deverá ser destinada à

COVEMA.

11 Rabeta são embarcações de pequeno porte, geralmente canoas de madeira, com motor de potência náutica que

varia entre 10 e 30 km/h.

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Análise dos dados

Todas as informações obtidas foram digitalizadas e organizadas em planilhas do Excel,

possibilitando a análise descritiva da produção por localidade, castanhal, cooperado e também

por árvore. Dessa forma, depois que os dados foram espacializados em um banco de dados de

SIG e georreferenciados no programa ArcGIS 10.0, foi possível elaborar mapas de produção

de castanha para cada escala espacial de modo a facilitar a compreensão da situação em cada

caso. Shapefiles do Macrozoneamento Econômico-Ecológico do Estado do Amazonas de

2009 foram inseridos nos mapas de modo a facilitar a visualização daquelas localidades

beneficiadas direta ou indiretamente pelas Áreas Protegidas do município de Manicoré.

Resultados

O mapeamento da produção de castanha em Manicoré identificou que 213 cooperados

de 16 localidades do município comercializaram com a COVEMA um total de 13.757 latas

(137,57 toneladas) de castanha durante a safra de 2012, o que gerou uma renda de R$ 271 mil

para essas famílias agroextrativistas. A produção de castanha dessas localidades variou de

15,5 latas no Igarapezinho a 3.135,5 latas de castanha no Capanã Grande, mas o número de

cooperados também variou bastante entre as localidades, sendo que São João e a RDS Rio

Amapá (Polo I) foram as localidades que tiveram, respectivamente, o mínimo de um e o

máximo de 48 cooperados.

Enquanto três dessas localidades (Lago Atininga, Matupiri Grande, RDS Rio Amapá -

Polo I) foram responsáveis por mais de um terço da produção (36,7%) e mais da metade do

total de cooperados (52,6%), quase metade das localidades (Alto Atininga, Baetas,

Igarapezinho, Lago Acará, Marmelo, Mataurá, São João) tinham no máximo cinco cooperados

cada (com 6,1% do total de cooperados) e produziram juntas 18,6% do total de castanha. No

entanto, a quantidade de cooperados parece não ter influência direta na produção de castanha

das localidades (Figura 2). Ao mesmo tempo em que cinco localidades (Capanãzinho, Lago

Jenipapo, Manicoré, Matupirizinho, RDS Rio Amapá - Polo II), representando 37,1% do total

de cooperados, produziram juntas 21,9% da castanha comercializada em 2012, no Capanã

Grande foi produzido 22,8% do total de castanha com apenas quatro cooperados (1,8%).

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Figura 2. Gráfico da quantidade de castanha produzida ( ) e o número de cooperados ( ) nas 16 localidades do

município de Manicoré, no Amazonas, que comercializaram castanha para a COVEMA durante a safra de 2012.

Metade das localidades está legalmente vinculada a Unidades de Conservação ou

Terras Indígenas, sendo elas: RDS Rio Amapá (Polo I e II), RDS Rio Madeira (Lago Jenipapo

e São João), RESEX Capanã Grande (Capanã Grande), TI Ariramba (localidade Baetas), TI

Pinatuba (Mataurá) e TI Torá (Marmelo) (Figura 3). Representadas por 87 cooperados, essas

famílias extrativistas comercializaram 9.248,5 latas de castanha durante a safra de 2012. Isso

significa que 40,8% dos cooperados da COVEMA são diretamente beneficiados pelo uso

dessas terras para o extrativismo da castanha, sendo que mais de dois terços da castanha

comercializada em 2012 (67,2%) foi procedente dessas áreas protegidas e gerou para essas

famílias extrativistas um total de R$ 195.793,00 (72,2% do total). Esses números demonstram

a importância dessas áreas para o mercado de castanha no município e para o sustento da

atividade e das famílias extrativistas desses locais.

A RDS Rio Amapá é uma dessas áreas protegidas e uma das que mais comercializa

castanha com a COVEMA. Com 57 cooperados (26,6% do total), esta Unidade foi

responsável por 23,9% (3.282 latas) da produção total de castanha durante a safra de 2012.

Embora existam ali dez comunidades agroextrativistas, mais da metade da produção da RDS

(53,9%) foi proveniente da comunidade de Jatuarana, que produziu um total de 1.768 latas de

castanha e obteve dessa comercialização R$ 34.795,00 acrescidos na renda das famílias de

seus 29 cooperados.

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Figura 3. Mapa das localidades e quantidades de castanha comercializadas com a COVEMA durante a safra de

2012 no município de Manicoré - AM.

Embora alguns poucos cooperados (cinco) coletem castanha no quintal de suas casas,

o que lhes rendeu entre 1 a 34 latas de castanha comercializada na safra de 2012, a maior parte

dos castanheiros de Jatuarana coleta em castanhais. Ao todo, a coleta de castanha nessa safra

ocorreu em onze castanhais diferentes, sendo que a produção nessas áreas variou entre 39 e

398 latas e a produção dos seus extrativistas variou de 11 a 157 latas de castanha (média de 67

± 34 latas por castanheiro). Como geralmente nos castanhais mais distantes os extrativistas

coletam em grupos de até sete pessoas, embora a quantidade de castanha coletada possa ser

muito diferente entre os integrantes dos grupos (Figura 4), provavelmente isso explique a

maior produção oriunda dessas áreas (Figura 5). Entretanto, é interessante notar que alguns

castanhais distantes e de elevada produção de castanha são coletados por apenas um

extrativista cada, como é o caso do Arumanzal e Garrafão; isso também ocorre com o Paraíso,

que apesar de ser coletado por apenas um extrativista, se destaca em termos de produção de

castanha diante dos outros castanhais mais próximos à Jatuarana (Figura 5).

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Figura 4. Gráfico das áreas de coleta de castanha (quintal de casa e castanhais) durante a safra de 2012 e

quantidade de castanha comercializada com a COVEMA por cada castanheiro da comunidade agroextrativista de

Jatuarana (representada pelas variações nas tonalidades de cinza), RDS Rio Amapá, município de Manicoré –

AM.

Figura 5. Mapa de localização dos castanhais e quantidade de castanha explorada na safra de 2012 por

castanheiros da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM.

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Em uma escala mais detalhada, analisamos a produção histórica das árvores do

Castanhalzinho e Paraíso. Esses dois castanhais, que juntos contribuíram com 8,2% (145,5

latas) do total de latas de castanha produzidas em Jatuarana durante a safra de 2012, são os

castanhais mais próximos à Jatuarana e a coleta em cada um deles é realizada por apenas um

extrativista. Apesar dessas similaridades, o mapeamento nesses castanhais nos mostrou que

tanto o número de árvores coletadas como a produção histórica das árvores diferiu muito entre

eles (Figura 6). Enquanto no Castanhalzinho a coleta é feita em 95 árvores de B. excelsa, no

Paraíso ela ocorre em 46 árvores, mas por outro lado, a produção histórica total do Paraíso

(4.998 ouriços = 100 latas de castanha) é mais que o dobro da produção do Castanhalzinho

(2.275 ouriços = 45,5 latas de castanha).

Informações sobre o esforço de coleta também foram obtidas a partir desse

mapeamento. Enquanto no Castanhalzinho o extrativista percorre 7,2 km de trilhas para

coletar castanha, no Paraíso esse percurso é de 11,1 km. Isso mostra que o rendimento dessa

atividade, em termos de quantidade de árvores coletadas, é três vezes maior no

Castanhalzinho (13 árv./km) que no Paraíso (4 árv./km) e por isso o esforço de coleta de

castanha é consideravelmente maior no Paraíso.

Figura 6. Mapa da produção histórica de castanha dos dois castanhais em estudo, ambos explorados por

castanheiros da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM.

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Discussão

O mapeamento da produção em Manicoré identifica quais localidades do município

comercializam castanha com a COVEMA, quantas pessoas estão envolvidas formalmente

neste processo e quanto contribuem para o comércio de castanha e para a economia do

município. Houve grande variação na produção entre as localidades e uma das explicações

pode estar na diferença entre o número de pessoas cooperadas da COVEMA em cada uma

dessas localidades (Figura 2) e, mais do que isso, nem todos os extrativistas em atividade se

interessam em ser cooperados. Não que esta seja uma atitude muito custosa para o

castanheiro, mas muitos parecem não ter se sensibilizado pela importância em ser um

cooperado, não compreenderam o potencial que a cooperativa pode ter e não se sentem donos

dela (Amaral et al. 2012). No entanto, o histórico de mobilização social em Manicoré nos

indica que os locais em que a organização social foi mais forte, onde investiram na construção

de paióis comunitários e capacitação em Boas Praticas de Manejo, estão presentes o maior

número de cooperados e é o que acontece no Lago Atininga, Lago Jenipapo, Matupiri Grande

e na RDS Rio Amapá (Figura 2). Dessa forma, os investimentos em formação e a participação

dos extrativistas parecem ter resultado em uma melhor organização das pessoas, que passaram

a acreditar na cooperativa e agir coletivamente e prol de uma maior eficiência do extrativismo

de castanha (Cortez 2011).

Mas nem sempre a quantidade de cooperados de uma localidade esteve diretamente

relacionada com a produção das áreas. Locais com elevada produção de castanha e poucos

cooperados, como ocorre no Capanã Grande, Mataurá e Marmelo, podem ter poucos

extrativistas atuando e/ou pode ser que suas áreas de coleta (ou até mesmo as árvores) sejam

muito produtivas. Ao mesmo tempo, parece quase inviável que tão poucos castanheiros (11)

tenham conseguido coletar tamanha quantidade de castanha (≈ cinco mil latas) e observando a

localização espacial dessas localidades em relação à cidade de Manicoré (Figura 3) podemos

imaginar que um problema comumente encontrado na Amazônia esteja também interferindo

aí. Ou seja, provavelmente a logística de coleta nessas áreas distantes inviabilize a adesão de

todos os extrativistas e poucos cooperados podem estar, na verdade, representando os demais

extrativistas das localidades.

No entanto, 40% dos cooperados e quase 70% da produção de castanha da COVEMA

durante a safra de 2012 são diretamente vinculados a Áreas Protegidas (representadas pelas

localidades Baetas, Capanã Grande, Lago Jenipapo e São João, Marmelo, Mataurá e RDS Rio

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Amapá - polo I e II) e provavelmente isso seja um reflexo do histórico de mobilização social

paralelamente atrelado ao processo de criação dessas áreas. Embora algumas dessas

localidades estejam sendo representadas por poucos cooperados, a organização e o interesse

daquelas populações que estiveram envolvidas no histórico de mobilização social e na luta

pela criação de áreas protegidas podem ter viabilizado uma logística de transporte nessas áreas

a ponto de conseguirem comercializar grandes quantidades de castanha com a COVEMA,

diminuindo a interferência dos atravessadores. Ao contrário do que alguns autores acreditam

(Homma 1993, 2002), esses dados nos indicam que essas áreas não são improdutivas e que

contribuem, sim, para o desenvolvimento das comunidades envolvidas (ver Cortez 2011) e do

município como um todo. Essa hipótese fica ainda mais consistente quando observamos que

localidades muito próximas a Manicoré que não são Áreas Protegidas, como é o caso do Alto

Atininga, Igarapezinho, Lago Acará e Manicoré, a logística de transporte é mais fácil,

entretanto tiveram poucos cooperados e baixa produção de castanha.

Para compreender melhor sobre as variáveis que podem estar interferindo na produção

de castanha nessas localidades, as informações devem obtidas em uma escala espacial menor.

Uma análise mais detalhada permite compreender se, além da organização social por si só, o

sistema de coleta, o tamanho, a distância e até mesmo a viabilidade e capacidade produtiva

das áreas de coleta estão interferindo nesse panorama. Para isso, selecionamos uma das dez

comunidades da RDS Rio Amapá, Reserva responsável pela produção de pelo menos um

terço da castanha comercializada com a COVEMA em 2012 e onde se encontra mais de um

terço dos seus cooperados.

Mais da metade dos cooperados e da produção de castanha da RDS são oriundos da

comunidade de Jatuarana e a maior parte dos extrativistas coleta castanha em castanhais

(Figura 4). Menos de 20% dos castanheiros ali coletam em árvores de B. excelsa de seus

quintais, mas somente nesses locais é que as mulheres participam efetivamente do processo de

coleta e isso também foi observado por Pereira (2000) na TI Kokama, região de Tefé, Alto

Solimões. Isso demonstra a importância dessas áreas para a manutenção da biodiversidade,

segurança alimentar e participação feminina na economia da família (Kumar & Nair 2004,

Oakley 2004, Rosa et al. 2007, Salim 2012).

Dos quinze castanhais existentes em Jatuarana, onze foram coletados na safra de 2012.

O mapeamento dessas áreas dá uma ideia da distância desses castanhais (Figura 5) e,

consequentemente, da viabilidade de coleta de castanha naquelas áreas (ver Zanatta 2012).

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Enquanto castanhais de mais fácil acesso geralmente são coletados por apenas um castanheiro,

nos castanhais mais distantes, onde a logística de coleta é mais complicada, normalmente eles

se reúnem em grupos e passam dias acampados coletando castanha e realizando outras

atividades de extrativismo essenciais à sua permanência na floresta durante aquele período. O

fato dessas áreas mais distantes serem as áreas mais produtivas pode ser explicado pela área

de floresta de terra firme ser muito maior que nos castanhais mais próximos ao lago Jatuarana,

onde a rede hidrográfica e a presença de roçados delimitam a extensão e o formato dos

castanhais (obs. pessoal). Além disso, a dinâmica de coleta nessas áreas mais distantes

envolve grupos de pessoas desenvolvendo a atividade durante vários dias e isso exige uma

maior organização e otimização do trabalho (Pereira 2000), que foi diferente em cada

castanhal.

De modo geral, quanto maior o grupo de coleta, mais castanha é coletada. A exceção a

esta regra ocorre no castanhal Liandro, em que dois extrativistas coletam juntos 50 latas de

castanha, enquanto as outras duplas que coletam em áreas mais distantes chegam a coletar

cerca de 200 latas (Figura 4). O fato de o Liandro ser um desses castanhais mais próximos e

com menor extensão de terra firme pode ser a causa da sua baixa produção, além do que seus

extrativistas dizem que as árvores deste castanhal produzem poucos ouriços e que grande

parte delas produzem ouriços de pequeno tamanho, possivelmente com menos castanha ou

com castanhas menores (Camargo et al. 2010). É interessante notar que muito próximo a ele

se encontra o castanhal Paraíso, coletado por apenas um castanheiro e com uma produção de

castanha que pode ser equiparada à produção dos castanhais mais distantes (Figura 5), sendo

que ali grande parte das castanheiras é muito produtiva e os ouriços, assim como as castanhas,

podem ser considerados de tamanho grande (obs. pessoal). Isso demonstra que apesar de

estarem geograficamente próximos, a pequena distância entre esses dois castanhais pode estar

expressando diferentes variabilidades genéticas entre essas populações (Camargo et al. 2010,

Sujii et al. 2013).

Voltando à questão dos grupos de coleta, notamos que a dinâmica empregada em cada

grupo pode ser bem diferente (Figura 4) e que os acordos de divisão da produção envolvem

relações de parentesco e confiança entre os membros dos grupos (obs. pessoal). Enquanto

alguns grupos decidem que cada um é responsável pelo que coleta, como ocorre no Ceará,

Galeno e Santa Rosa, outros optam por dividir entre as partes a produção total, que é o que

acontece nos castanhais Liandro, Três Irmãos e Vai quem quer.

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Como a herança da coleta nos castanhais é preferencialmente passada para os

familiares dos castanheiros, muitos ali aprenderam a coletar castanha e a se orientar nas trilhas

com seus parentes. Mas também existem casos de herança de coleta entre pessoas sem

parentesco em comum, assim como existem casos em que, se ninguém se interessar em

coletar na área, os castanhais ficam abandonados e pode ser por isso que grandes áreas de

floresta, localizadas entre os castanhais próximos e os castanhais distantes, não são exploradas

para a coleta de castanha (Figura 5). Mas esse tipo de informação só pode ser obtida através

da coleta de dados ainda mais detalhados.

Dessa forma, o mapeamento realizado nos castanhais Paraíso e Castanhalzinho, nos

fornece uma melhor compreensão sobre como a produção dos castanhais pode estar sendo

afetada pela estrutura e produção de suas populações. Mesmo sendo coletados por apenas um

castanheiro e estando muito próximos entre si e da comunidade de Jatuarana, estes castanhais

apresentaram enormes diferenças na densidade de árvores de B. excelsa e produção de

castanha (Figura 6). Apesar de ter menos da metade do número de árvores, o castanhal Paraíso

é duas vezes mais produtivo e isso significa que as árvores ali produzem em média quarto

vezes mais castanha que as árvores do Castanhalzinho. Essa grande produção das árvores do

Paraíso possivelmente compensem o maior esforço de coleta de castanha neste castanhal em

relação ao Castanhalzinho. Este mapeamento indica que somente conhecendo as populações

de diversos castanhais, da história de sua exploração ao longo do século e dos ciclos

individuais de frutificação é que poderemos avaliar a produção de castanha, a pressão de

coleta e a demografia desta espécie (Mitja & Emperaire 2000). Mas as análises mais apuradas

destes dados de produção serão discutidas mais adiante.

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OBJETIVO II - Análise da produção

Coleta de dados

A partir do uso de aparelhos de GPS (modelo Garmin 69 csx) e orientação do

extrativista foi possível registrar as trilhas percorridas e castanheiras coletadas no

Castanhalzinho e Paraíso, ambos localizados próximos à comunidade de Jatuarana. Assim, foi

possível reconhecer a localização desses castanhais, a altitude e a coordenada geográfica das

árvores ali coletadas, sendo que desta ultima informação, através do uso de ferramentas do

programa ArcGIS 10.0, foram obtidas as distâncias médias entre as árvores de cada castanhal.

Cada árvore teve sua produção histórica registrada e seu CAP (circunferência medida à altura

de 1,30 m) mensurado com auxilio de uma fita métrica.

Outras variáveis que caracterizam as árvores e o ambiente também foram registradas

durante as atividades de campo. A forma da copa foi classificada em perfeita (forma circular),

tolerável (meia-copa) ou pobre (alguns galhos formando menos que metade da copa). A

infestação por cipós foi categorizada em 0-25% da copa com cipós, 25-75% da copa coberta

por cipós e mais que 75% da copa com cipós. A posição da copa em relação ao dossel foi

diferenciada em dominante (luz do sol atinge toda a copa da árvore), codominante (luz atinge

apenas a parte superior da copa), intermediária (luz na lateral da copa) e suprimida (apenas luz

do sol indireta). Todas essas categorias foram adaptadas de Wadt et al. (2005) e Staudhammer

et al. (2013) e para auxiliar na seleção das matrizes produtivas também foram observadas

algumas características referentes à sanidade das árvores, como presença de cupins, fungos,

tronco queimado, oco ou podre.

Análise dos dados

Para avaliar se a razão produção total de frutos (ouriços)/número de árvores

reprodutivas é independente dos castanhais com respeito à infestação por cipós, formato da

copa e posição são independentes dos castanhais foi usado o teste do Qui-quadrado (2).

Regressão linear múltipla foi usada para testar a magnitude do efeito de DAP, altitude,

distância média entre as castanheiras produtivas e a densidade de árvores reprodutivas num

raio de 100m sobre a produção de castanha. Além disso, foi feita uma análise descritiva

comparando as características e o histórico de uso da terra dos dois castanhais em estudo.

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A seleção das matrizes produtivas foi baseada nas recomendações do Manual para

Castañero desenvolvido por um programa de conservação de castanhais na Reserva Nacional

Tambopata e no Parque Nacional Bahuaja Sonene de Madre de Diós, Peru (ACCA 2009b).

Dessa forma, foi considerada como matriz produtiva a árvore com características visuais

saudáveis e com uma produção mínima de uma lata de castanha por safra, dando preferência

àquelas com castanhas de tamanho médio/grande. A capacidade produtiva das matrizes foi

determinada pela quantidade de latas de castanhas coletadas em cada árvore por safra,

lembrando que uma lata corresponde a ≈ 50 frutos. Para uma melhor visualização da

localização das matrizes e sua produção, foi elaborado um mapa no programa ArcGIS 10.0

através da espacialização dos registros de campo.

Resultados

A produção de frutos é aproximadamente quatro vezes maior no Paraíso (109±76,6

ouriços/árvore) quando comparado ao Castanhalzinho (24±16,5), sendo que uma das árvores

do Paraíso chegava a produzir mais que 500 ouriços por safra. Dessa forma, enquanto são

necessárias duas árvores do Castanhalzinho para produzirem o equivalente a uma lata de

castanha, no Paraíso uma só árvore produz duas latas por safra. Apesar da produção de

castanha no Paraíso ser maior, seu castanheiro tem que caminhar mais para acessar as árvores,

isso por que distância média entre as 46 árvores produtivas deste castanhal foi de 677,8 m (±

133,7), enquanto no Castanhalzinho a distância entre as 95 árvores foi de 595,3m (± 133,9).

Os dois castanhais analisados diferiram significativamente quanto à porcentagem de

cipó na copa (² = 40,32; p < 0,001), formato da copa (² = 18,53; p < 0,001) e posição da

copa em relação ao dossel (² = 53,47; p < 0,001). No geral, as árvores mais produtivas foram

aquelas em categorias com menor porcentagem de cipó, com copas mais frondosas e aquelas

que atingiram os estratos mais altos da floresta. Provavelmente isso também interfira no fato

de o Paraíso ter maior produção de castanha, uma vez que este castanhal, quando comparado

ao Castanhalzinho, contém maior percentual de árvores com copas menos infestadas por

cipós, com melhor formato e dominantes em relação ao dossel (Figura 7).

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Figura 7. Proporção de frutos em relação às diferentes categorias de porcentagem de cipó na copa (A), formato da copa (B) e posição da copa em relação ao dossel (C) em que se encontram as árvores de Bertholletia excelsa

no Castanhalzinho ( ) e Paraíso ( ), castanhais da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá,

município de Manicoré - AM.

DAP, altitude, distância média entre as árvores produtivas e a densidade de árvores

produtivas em um raio de 100 m juntas explicaram 32,6% da variação da produção de frutos

entre as árvores (F=17,91; p < 0,001). No entanto, apenas a distância média e a densidade de

árvores de B. excelsa contribuíram significativamente para o modelo, sendo que a magnitude

do efeito da densidade de árvores foi mais alto, pois o valor absoluto do coeficiente

padronizado foi maior (Tabela 1). A produção de frutos foi positivamente e negativamente

relacionada com a distância média e a densidade de árvores, respectivamente, indicando que

quanto maior a distância média entre as árvores de B. excelsa maior a produção de frutos e

que quanto menor a densidade dessas árvores em um raio de 100m maior a produção de frutos

(Figura 8).

A B

C

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Tabela 1. Resultados do modelo de regressão múltipla relacionando o DAP, altitude, distância média entre os

indivíduos e a densidade de castanheiras em um raio de 100 m à variação na produção de frutos de 141 árvores

de Bertholletia excelsa mapeadas em dois castanhais da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio

Amapá, município de Manicoré - AM.

Efeito Coeficiente Erro

padrão

Coeficiente

padrão Tolerância T P

Constante 0,374 0,478 0,000 - 0,783 0,435

DAP 0,002 0,001 0,135 0,920 1,872 0,063

Altitude 0,011 0,006 0,153 0,696 1,838 0,068

Distância média 0,001 0,000 0,290 0,711 3,523 0,001

Nº de castanheiras a 100 m - 0,057 0,010 - 0,422 0,882 - 5,716 0,000

Figura 8. Regressão parcial mostrando a relação entre a quantidade de frutos produzidos por árvore e a

quantidade de árvores produtivas encontradas em um raio de 100 m (NP 100) de cada uma das141 árvores de Bertholletia excelsa mapeadas em dois castanhais da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio

Amapá, município de Manicoré - AM.

Das 141 árvores coletadas, selecionamos 49 matrizes produtivas (de acordo com os

critérios da ACCA (2009b) – produção mínima de uma lata de castanha por safra e aspecto

saudável), sendo 15 do Castanhalzinho (15,8% do total de árvores produtivas do castanhal) e

34 do Paraíso (73,9%) (Figura 9). A produção de castanha das matrizes diferencia-se muito

entre os castanhais. No Castanhalzinho, 66,7% das 15 matrizes selecionadas produzem uma

lata de castanha e nenhuma matriz produz quatro latas ou mais, ao passo que no Paraíso há

pouca variação na proporção de árvores nas classes de produção, sendo que 44,1% das árvores

produzem mais que três latas de castanha e mais que um quarto (26,5%) produz quatro ou

mais latas de castanha (Figura 10).

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Figura 9. Mapa da produção de castanha das 49 árvores de Bertholletia excelsa selecionadas como matrizes

produtivas em dois castanhais da comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de

Manicoré – AM.

Figura 10. Proporção de árvores de Bertholletia excelsa nas diferentes classes de produção de castanha referente

às 49 matrizes produtivas selecionadas no Castanhalzinho ( ) e Paraíso ( ), castanhais da comunidade

agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM.

Discussão

No castanhal Paraíso, o extrativista percorre quase quatro quilômetros a mais e visita

menos da metade do número de árvores que o extrativista do Castanhalzinho. Isso acontece

porque a distância entre as árvores produtivas é maior no Paraíso e seu extrativista tem que

caminhar mais para acessá-las. O fato de ter que caminhar mais para coletar castanha em

menos árvores seria de desanimar o extrativista se não fosse a maior produção das árvores

deste castanhal, que é aproximadamente quatro vezes maior que as do Castanhalzinho. Ainda

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que a média de ouriços produzidos a cada safra esteja dentro do intervalo de 23 a 184

frutos/árvore encontrado em estudos em Roraima e na Amazônia Oriental (Tonini et al. 2008,

Baider 2000) e mesmo estando geograficamente próximos, vimos que a produção de frutos e a

densidade de árvores foram muito diferentes entre eles.

De modo geral, a maioria das árvores de B. excelsa produz menos de 100 frutos por

safra e são poucas as árvores muito produtivas, como o encontrado em outros estudos (Kainer

et al. 2007, Tonini et al. 2008b, Zuidema 2003). Mas ainda assim, a diferença entre os

castanhais foi gritante e acreditamos que, além de fatores bióticos e abióticos relacionados, o

histórico de uso recente dessas áreas interfira nas características dessas populações. O fato de

grande parte do Castanhalzinho já ter sido desmatado nos últimos 40 anos pode explicar o

aumento na densidade das árvores de B. excelsa (Cotta et al. 2008, Paiva et al. 2011),

principalmente pelo fato de ali ter sido uma área de roçados, com seus diversos ciclos de

pousio, característicos da agricultura praticada na Amazônia (Witkoski 2007). Por outro lado,

a intensidade de exploração da terra e o fato de a mesma ainda estar entremeada e rodeada de

roçados talvez tenham reduzido a disponibilidade de nutrientes do solo (Coutinho 1979,

Kaufmann et al. 1994, Pivello & Coutinho 1992, Redin et al. 2011), afetando negativamente a

produção de frutos dessas árvores. Além disso, a presença constante do fogo agride

diretamente as árvores produtivas (Figura 11) e também pode ser uma das causas da baixa

produção de frutos dessas árvores em relação às do Paraíso.

Figura 11. Imagens dos impactos diretos do fogo em uma árvore produtiva de Bertholletia excelsa após uma

queimada realizada no ano de 2012 para a abertura de roçados próximo ao Castanhalzinho, castanhal localizado

na comunidade agroextrativista de Jatuarana, RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM. (Fotos: Julianna F. Maroccolo)

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Independente do histórico, sabemos que a produção dos frutos de B. excelsa depende

das árvores atingirem o dossel da floresta. Isso ocorre porque o ciclo de vida das árvores desta

espécie é dependente da disponibilidade de luz do ambiente e só depois de alcançar o dossel e

eliminar essa limitação de luz é que outras variáveis passam a atuar em seu desenvolvimento

(Staudhammer et al. 2013, Zuidema 2003). Uma vez que no Castanhalzinho a floresta é

visivelmente mais aberta, a maior entrada de luz no seu sub-bosque é maior e provavelmente

por isso, nem todas as árvores precisam atingir o dossel da floresta para serem produtivos,

diferentemente do que ocorre no Paraíso (Figura 4), um ambiente mais florestal em que todas

as árvores produtivas são dominantes.

A presença de cipós também influencia na variação da produção, principalmente de

árvores mais jovens, por interferir no formato e tamanho de suas copas (Wadt et al. 2005,

Tonini et al. 2008a, Staudhammer et al. 2013), além de limitar seu crescimento pela

competição por recursos acima e abaixo do solo (Staudhammer et al. 2013). A maior

proporção de árvores com cipós (Figura 4), juntamente com o fato de ter mais árvores jovens

(Tabela 2), podem justificar a menor produção do Castanhalzinho. Esses resultados só

corroboram com as práticas de manejo (corte) de cipós tradicionalmente aplicadas pelos

extrativistas com o intuito de aumentar a produção de frutos (Santos 2011, Viana et al. 1998).

Podendo retardar o desenvolvimento de folhas e inflorescências, a presença de cipós

também altera o formato e tamanho das copas (Kainer et al. 2006), que além de indicar a

capacidade fotossintética e o potencial de produção de carboidratos, servem como suporte

estrutural para a produção de frutos (Staudhammer et al. 2013). Por isso, árvores mais

produtivas geralmente têm copas boas e mais regulares (Tonini et al. 2008 a,b). Tentando

compreender os fatores que interferem nessa variação, alguns estudos identificaram que o

formato da copa e o DAP são as variáveis que mais explicam esse fenômeno (Kainer et al.

2007), sendo que o formato da copa foi mais indicado para explicar a variação na produção de

frutos de árvores mais velhas e o DAP, de árvores mais jovens (DAP < 100 cm). Mas de

modo geral, quanto maior o DAP, maior a produção entre as árvores (Tonini et al. 2008) e

esta tendência também foi observada neste estudo.

A alocação de recursos no desenvolvimento da B. excelsa varia ao longo do seu ciclo

de vida. As compensações entre crescimento e reprodução, e os fatores que aí interferem,

também variam de acordo com a classe de DAP, ou seja, com a idade das árvores

(Staudhammer et al. 2013). Estes mesmos autores analisaram a alocação de recursos em 190

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árvores de B. excelsa na Reserva Extrativista Chico Mendes (Acre) ao longo de seis anos de

pesquisa e concluíram que o desenvolvimento de árvores com DAP ≤ 150 cm depende muito

mais das condições ambientais locais (pluviosidade, disponibilidade de luz e nutrientes no

solo) e da presença de lianas, sendo que o maior investimento da planta nesse estágio da vida

está em seu crescimento e na estruturação da copa para sustentar os frutos que virão. Em

árvores mais velhas (DAP ≥ 150 cm), a taxa de crescimento basal tem influência direta na

produção de frutos do próximo ano e se saudáveis, tendem a continuar crescendo e

produzindo bem por centenas de anos (Brien & Zuidema 2006).

O regime pluviométrico e a disponibilidade de água explicam o crescimento em área

basal em todas as classes de DAP (Staudhammer et al. 2013) e isso também pode estar

ocorrendo com a reprodução. Como a quantidade de chuvas em determinado período está

diretamente relacionada com a frutificação do próximo ano para árvores com DAP ≥ 150 cm

(Staudhammer et al. 2013), podemos dizer que quantidade de água disponível em um ano

interfere na produção de frutos dois anos depois. Esta é uma informação muito importante,

pois revela um fenômeno sutil de ser observado pelo extrativista e que pode ser mais

pesquisado.

O fato de a altitude interferir diretamente na produção de frutos pode estar

expressando uma das características da B. excelsa, que é a de sua ocorrência estar vinculada a

regiões de terra-firme (Müller et al. 1995). Mas o que observamos neste estudo é que a

proximidade entre as árvores é um fator que deve ser considerado quando analisamos a

produção de árvores desta espécie. Ao mesmo tempo em que a polinização e,

consequentemente, a produção de frutos e a diversidade genética são inviabilizadas quando as

castanheiras estão isoladas entre si e da floresta (Maués 2002, Cavalcante 2008), este estudo

observou que, quando estas estão em ambientes florestais, quanto maior a proximidade entre

elas, mais este fator interfere negativamente na produção de seus frutos. Além das árvores

mais próximas terem menor variabilidade genética (Sujii et al. 2013), quando muito próximas

elas podem estar competindo pelos recursos essenciais ao seu desenvolvimento,

principalmente no que tange à disponibilidade de nutrientes do solo e espaço ocupado pela

copa (Staudhammer et al. 2013, Tonini et al. 2008).

Notamos que é muito difícil afirmar quais fatores explicam essa variação na produção

entre as árvores e, apesar dos esforços em tentar entender o assunto, são muitas as variáveis

envolvidas neste fenômeno. Pensando no fato de que as características genéticas também

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podem estar interferindo na produtividade dessas árvores (Kainer et al. 2007, Ortiz 2002) é

que neste estudo fizemos a seleção de matrizes produtivas, o que nos indicou mais uma vez

que as árvores de B. excelsa do Paraíso são bem mais produtivas e saudáveis. No

Castanhalzinho, mesmo com o dobro de árvores produtivas, ¾ delas não produziam nem uma

lata de castanha e/ou apresentavam deformações no tronco, principalmente causadas pela

incidência de fogo (obs. pessoais) que podem comprometer a qualidade e quantidade de

castanhas por elas produzidas.

Em relação a essa seleção, gostaríamos de deixar registrado aqui algumas observações

que acreditamos serem muito relevantes para este processo. Alguns estudos baseados no

conhecimento de extrativistas revelaram que aspectos morfométricos da B. excelsa, como o

DAP, tamanho e peso dos frutos e sementes, podem variar muito entre as matrizes e podem

até mesmo distinguir morfotipos com produções de frutos significativamente diferentes, o que

indica que esses aspectos devem ser considerados durante a seleção de matrizes produtivas

(Fernandes 2007, Camargo et al. 2010). Em campo, notamos que para abrir um ouriço

considerado duro, sem levar em consideração a força física a mais despendida, o extrativista

gastava o dobro do tempo (10 segundos) neste processo. E como muitas vezes se opta por não

coletar esses ouriços duros quando o preço de mercado da castanha está baixo (obs. pessoal), a

dureza dos ouriços parece ser uma característica muito importante de ser considerada na hora

de selecionar matrizes produtivas e deve ser melhor pesquisada.

Outro ponto que nos chamou muita atenção foi o fato de os extrativistas acreditarem

que existem árvores macho e fêmea de B. excelsa. Esta também é uma informação

disseminada nos cursos de Boas Práticas de Castanha oferecidas pelo Instituto de

Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM) e

também se fala sobre isso em outras regiões da Amazônia (obs. pessoal). Os castanheiros

dizem que muitas árvores adultas não produzem frutos por serem macho, mas a presença delas

no castanhal é essencial para a produção das fêmeas. O mais intrigante é que eles reconhecem

o sexo da árvore já na semente, sendo que sementes com invaginações em uma das pontas são

fêmeas e as demais são macho (Figura 12). Além disso, parece haver uma proporção muito

maior de sementes macho que de sementes fêmea (obs. pessoal), mas precisamos de pesquisas

que se certifiquem disso.

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Figura 12. Fotografia de duas sementes de Bertholletia excelsa onde se destaca (em cor laranja) a característica

que distingue a semente fêmea da semente macho (à direita). (Foto: Julianna F. Maroccolo)

OBJETIVO III - Estrutura da população

Coleta de dados

Para conhecer a estrutura de populações de B. excelsa, foram realizados censos em

quatro castanhais previamente selecionados para este estudo. A área de abrangência desses

castanhais foi determinada a partir de um caminhamento prévio nesses locais com o uso de

aparelhos de GPS de alta sensibilidade (Garmin 69csx), aonde iam sendo registrados os

trajetos, pontos de interesse e localização espacial dos castanhais. Nos dois castanhais de

Jatuarana (Castanhalzinho e Paraíso), as trilhas de coleta já haviam sido mapeadas por esse

estudo e nos de Boa Esperança (Chagas de São Francisco e São Silvestre), em que as trilhas

de coleta haviam sido abandonadas há mais de vinte anos, o caminhamento foi conduzido

pelos próprios comunitários que, a partir das histórias dos antigos12 ou lembranças da infância

de quando acompanhavam seus familiares em atividades na floresta, apontavam determinada

área da floresta como sendo prováveis castanhais.

Todas as informações registradas nessa etapa do trabalho foram transferidas do GPS

para o computador pelo programa TrackMaker Pro®. Com base nesses dados, e através do

programa ArcGIS 10.0, foram determinados os limites dos castanhais, sempre englobando as

trilhas de coleta e considerando a presença dos caminhos e cursos d’água. Depois de

elaborados os polígonos dos castanhais, foram desenhadas picadas virtuais, com 50 m de

distância entre elas, e seus respectivos pontos de partida e chegada (Figura 13). Feito isso,

toda informação essencial à etapa de inventário, gerada no ArcGIS 10.0, foi inserida como um

mapa no aparelho de GPS.

12 Antigos é como as pessoas dali fazem referência a seus antepassados.

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No aparelho de GPS, por meio da navegação entre pontos foi possível saber a

localização e orientação da picada, a distância e os caminhos percorridos, além do percurso

restante até a outra extremidade da picada, direcionando e otimizando a coleta de dados do

inventário em toda área delimitada (Figueiredo et al. 2008). Vale lembrar que toda a

preparação e execução da coleta de dados em campo foram baseadas e adaptadas do Modelo

Digital de Exploração Florestal - MODEFLORA (Figueiredo et al. 2008) que visa inserir a

tecnologia do sensoriamento remoto e o uso de GPS em atividades florestais madeireiras.

Figura 13. Polígono do castanhal (em cor alaranjada) elaborado a partir das trilhas de coleta de castanha (cinza)

registradas no aparelho de GPS (Garmin 69csx). Em destaque, as picadas virtuais (amarelo), distantes 50 m uma

das outras, e seus respectivos pontos de início e fim para guiar a atividade de inventário.

Para realizar o inventário foram formadas equipes de três ou quatro pessoas. Em cada

equipe, uma pessoa era responsável por anotar os dados nas planilhas, as outras se

responsabilizaram em orientar a equipe nas picadas virtuais do GPS e fazer as anotações

necessárias em uma planilha de campo. Durante o caminhamento na área delimitada (que foi

de aproximadamente 25 m para cada lado da picada), cada castanheira avistada (DAP ≥ 10

cm) foi identificada com uma placa de alumínio numerada e seu CAP (circunferência à altura

de 1,3 m do solo), mensurado com uma fita métrica.

Diferente da metodologia para exploração madeireira (Figueiredo et al. 2008), o censo

de árvores de B. excelsa foi mais prático e menos rigoroso. O fato desta ser uma espécie que

se destaca na floresta por suas características facilmente reconhecidas, muitas vezes não foi

preciso percorrer rigorosamente toda a área delimitada pelas picadas virtuais para conseguir

fazer o censo da área.

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Análise dos dados

Todas as informações coletadas em campo foram digitalizadas no programa Excel e

transferidas para um banco de dados de um Sistema de Informação Geográfica (SIG). Os

registros feitos nos aparelhos de GPS foram transferidos para o programa ArcGIS 10.0 e a

partir de suas ferramentas foi possível calcular as distâncias e a área inventariada em cada

castanhal. O cálculo das distâncias médias, máximas e mínimas entre as árvores foi baseado

nas coordenadas geográficas e altitudes de cada castanheira; o cálculo da área baseou-se na

estimativa de 25 m como sendo a visibilidade média para cada lado da trilha e esse valor foi

estipulado em acordo com todos os participantes das equipes de campo. Dependendo do

caminho percorrido em campo, houve sobreposição de áreas, mas nesses casos, as áreas

sobrepostas foram fundidas em uma mesma área para evitar que as áreas inventariadas fossem

superestimadas.

A estrutura populacional foi descrita e comparada a partir da quantidade e densidade

das árvores inventariadas, distâncias entre elas, área basal, DAP (estipulado a partir dos

valores de CAP) e distribuição dos diâmetros em classes de tamanho baseadas nas etapas de

vida da B. excelsa (Scoles & Gribel 2011): árvores jovens (10 ≤ DAP < 40 cm), jovens adultas

(40 ≤ DAP < 80 cm), adultas reprodutivas (80 ≤ DAP < 160 cm), adultas amadurecidas (160 ≤

DAP < 200 cm) e adultas senescentes (DAP ≥ 200 cm). A comparação entre os castanhais

também foi feita através do teste Qui-quadrado aplicado para as classes de diâmetro.

A comparação descritiva entre cada um dos castanhais também levou em consideração

os históricos recentes de uso dos castanhais. Além disso, diante da atual discussão sobre as

diferentes características estruturais existentes entre castanhais próximos (CPx) e distantes

(CDt) de assentamentos humanos (Scoles & Gribel 2011,REF), e diante do fato de termos um

par de castanhal para cada uma dessas situações, a comparação entre os castanhais pôde ser

feita entre dois grupos: os distantes de Boa Esperança - CDt (Chagas de São Francisco com ±

10 km de distância; São Silvestre com ± 15 km) e os próximos à Jatuarana - CPx

(Castanhalzinho e Paraíso ± 200m de distância cada).

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Resultados

Nos quatro castanhais, foram percorridos 71,7 km de trilhas no total, o que

corresponde a uma área de aproximadamente 200,1 hectares de floresta. Ao longo de todo

percurso, identificamos 311 árvores de B. excelsa com DAP ≥ 10 cm e a grande maioria

destas (86,8%) são consideradas árvores adultas (DAP ≥ 40 cm), sendo que a densidade média

total foi de 1,6 árv./ha e as árvores jovens representam 13,2% do total de árvores. Entretanto,

ao comparar CPx e CDt, observa-se que a estrutura demográfica de suas populações é bastante

diferente. Mesmo que nos CDt a área tenha sido 22,5 ha maior (12,7% a mais que nos CPx), a

proporção de árvores total, tanto jovens quanto adultas, foi maior nos CPx (Tabela 2). Dessa

forma, os CPx têm maior densidade média total de árvores e de jovens (2,4 árv./ha e 0,4

jov./ha) que os CDt (0,9 árv./ha e 0,1 jov./ha).

Tabela 2. Parâmetros do inventário e da estrutura populacional de árvores de B. excelsa com DAP ≥ 10 cm em dois castanhais próximos à comunidade agroextrativista de Jatuarana (CTZ = Castanhalzinho; PRS = Paraíso) e

dois distantes da comunidade de Boa Esperança (CHG = Chagas de São Francisco; SSV = São Silvestre), todos

localizados na Zona de Amortecimento da RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM.

Próximos (CPx) Distantes (CDt)

CTZ PRS

Total

CPx CHG SSV

Total

CDt

Caminhamento

(km) 10,5 18,4 28,9 32,4 10,4 42,8

Área

(ha) 26,8 62 88,8 86,7 24,6 111,3

indivíduos

Jovens 19 15 34 7 0 7

Adultos 109 67 176 56 38 94

Densidade

(n/ha)

Jovens 0,7 0,2 0,4 0,1 0 0,1

Adultos 4,1 1,1 2,0 0,6 1,5 0,8

DAP

(cm)

Médio 97,8

(± 40,4)

89,6

(± 41,0) 94,6

(± 40,8)

96,2

(± 33,5)

121,4

(± 24,4) 105,7

(± 31,3)

Máximo 208,8 234,0 234,0 206,9 187,8 206,9

Mínimo 12,1 12,1 12,1 17,5 61,4 17,5

Distância

entre as

árvores (m)

Média 635,9

(± 130,5)

684,8

(± 81,9) 655,0

(± 116,7)

694,0

(± 95,2)

261,8

(± 50,0) 531,4

(± 202,9)

Máxima 1.662,9 2.033,4 2.033,4 1.746,6 608,9 608,9

Mínimo 2,5 3,1 2,5 2,5 19,1 2,5

Área Basal

(m²/ha) 0,9382 0,8224 0,8930 0,8630 1,2294 1,009

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A distância média total entre as árvores foi maior nos CPx (655,0 ± 116,7 cm versus

531,4 ± 202,9 cm nos CDt), embora a densidade de árvores seja 2,6 vezes maior que nos CDt.

Provavelmente isso é, em parte, resultado do formato do castanhal e da menor área basal das

árvores dos CPx, principalmente representada pela maior quantidade de árvores jovens, de

menores diâmetros (Tabela 2). E ainda que as árvores com os maiores diâmetros pertençam

aos CPx, sua média total é menor (94,6 ± 40,8 cm) que nos CDt (105,7 ± 31,3 cm).

Em geral, grande parte das árvores inventariadas são consideradas árvores adultas

reprodutivas (80 ≤ DAP < 160 cm), no entanto, estas tem maior peso na estrutura demográfica

dos CDt (69,3%) em relação às do CPx (47,6%). Outra indicação de que os CPx têm uma

estrutura demográfica mais jovem que nos CDt pode ser observada na distribuição das classes

diamétricas (Figura 14), que apresentou diferença significativa entre esses grupos de

castanhais (x² = 13,78; p < 0,01). Ainda que a maior parte das árvores nos CPx (60,0%) e nos

CDt (76,2%) tivessem DAP ≥ 80 cm, a porcentagem de árvores jovens (16,2%) e jovens

adultas (40,0%) foi aproximadamente o dobro nos CPx em relação aos CDt (6,9% e 23,8%

respectivamente), e essa situação se mantem nas classes de DAP ≥ 160 cm (12,4% nos CPx

versus 6,9% nos CDt).

Figura 14. Distribuição dos diâmetros de 311 árvores de B. excelsa inventariadas em dois castanhais próximos à

comunidade agroextrativista de Jatuarana (CPx= ) e dois distantes da comunidade de Boa Esperança (CDt= ),

todos localizados na Zona de Amortecimento da RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM.

Observa-se aqui que nos castanhais próximos a Jatuarana, onde a coleta de castanha é

mais intensa, suas populações tendem a ter mais árvores e mais árvores jovens, ao contrário

do que foi encontrado para os castanhais distantes de Boa Esperança, que encontram-se com

maior tempo de abandono. No entanto, ao olharmos com maior detalhe, notamos que ainda

assim existem grandes diferenças estruturais dentro desses grupos de castanhais,

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principalmente em relação ao Castanhalzinho (CTZ) e São Silvestre (SSV), os mais

diferenciados dentre os castanhais em estudo. Isso sugere que fatores relacionados aos

históricos recentes de uso dos castanhais podem estar interferindo na estrutura populacional

dessas árvores de B. excelsa.

Embora tenham áreas muito próximas, a densidade de árvores encontradas no CTZ

(4,8 árv./ha) foi pelo menos três vezes maior que no SSV (1,5 árv./ha). A distância mínima

entre as árvores é muito maior no SSV que nos outros castanhais e por sua vez, a distância

média e também seu desvio padrão foram bem menores (261,8 ± 50,0 cm), indicando que as

árvores estão distribuídas no espaço de forma mais homogênea. Além disso, a distancia média

e a densidade de árvores é a menor dentre todos os castanhais (Tabela 2), o que pode ser

explicado pela maior área basal de suas árvores (1,229 m²/ha).

Apesar da proporção de árvores nas classes de diâmetro não serem significativamente

diferentes entre os quatro castanhais, a comparação entre os diâmetros destas áreas nos indica

que o SSV apresenta uma estrutura demográfica com árvores mais velhas. Isso porque o

diâmetro médio das árvores do SSV é consideravelmente maior que o dos outros castanhais

(Tabela 2) e o diâmetro mínimo (61,4 cm) chega a ser cinco vezes maior que nos CPx (12,1

cm), sendo que o desvio padrão do diâmetro médio do SSV é menor (± 24 cm) e indica que ali

as árvores têm diâmetros, ou idades, mais próximas. No SSV também não foram encontradas

árvores jovens e nem árvores senescentes (DAP ≥ 200 cm), mas havia onze árvores de B.

excelsa mortas em pé (obs. pessoal). Nos outros castanhais também foram encontradas

árvores mortas, mas foram cinco árvores ao todo em uma área muito maior: três mortas por

incidência de fogo nos CPx e duas no CHG, uma morta em pé e outra caída.

Discussão

A estrutura populacional das árvores de B. excelsa com DAP ≥ 10 cm diferiu entre os

castanhais estudados, sendo que os castanhais mais próximos à comunidade agroextrativista

de Jatuarana (CPx) apresentaram quase o triplo da densidade total de árvores e uma densidade

de jovens quatro vezes maior do que o encontrado nos castanhais mais distantes da

comunidade de Boa Esperança (CDt). A distância dessas áreas de coleta de castanha em

relação aos assentamentos humanos está diretamente relacionada à logística e aos esforços

empregados na coleta (Scoles & Gribel 2012), que por sua vez dependem muito do custo-

benefício do extrativista (Pereira 2000, Zanatta 2012). Nos casos em estudo, em que os CDt

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foram praticamente abandonados na década de 1990 devido à queda no preço da castanha,

podemos pensar que a manutenção da atividade de coleta nos CPx foi a causa destes terem

estruturas demográficas mais jovens (Ribeiro 2011). Mas não só a coleta como também as

atividades humanas em geral foram e são muito mais intensas nos CPx.

A aparência de floresta madura disfarça o fato de que há 40 anos parte do castanhal

Paraíso era área de pastagem e roçados, sendo que estes roçados permanecem ainda nos dias

de hoje nas bordas deste castanhal. E essa interferência foi ainda mais intensa no

Castanhalzinho, não só porque era ali onde viviam algumas das famílias da comunidade de

Jatuarana e onde faziam seus roçados, mas porque até hoje, esses roçados não só bordeiam,

como entremeiam toda a área florestada do castanhal. Além disso, a estrada entre as

comunidades de Jatuarana e Democracia atravessa o Castanhalzinho permitindo com que ele

seja mais facilmente acessado e explorado; e a casa do seu extrativista está a menos de 300 m

deste castanhal possibilitando o manejo mais constante das trilhas e das árvores de B. excelsa.

Esses distúrbios provenientes das atividades humanas aumentam a intensidade de luz no sub-

bosque, favorecendo o estabelecimento de mudas da espécie (Scoles & Gribel 2012) que,

mesmo não sendo dependentes de luz, se desenvolvem melhor em ambientes sob dossel mais

abertos (Salomão et al. 1995, Scoles 2010). E pode ser que a presença humana nessas áreas

implique em uma maior dispersão de sementes (Ribeiro 2011), aumentando a probabilidade

de regeneração da espécie na área.

Embora a agricultura itinerante tradicionalmente praticada em toda região amazônica

(Witkoski 2007) possa prejudicar as populações de B. excelsa, principalmente pelos danos

diretos causados pelo fogo (Mori 2001), e isso pode interferir na produção das árvores, parece

que seus ciclos de pousio indiretamente favorecem a dispersão e o estabelecimento da espécie

nessas áreas de descanso do roçado (Cotta et al. 2008, Paiva et al. 2011). Isso pode ser uma

explicação para a maior densidade de árvores, tanto jovens como adultas, encontrada nos CPx,

especialmente no Castanhalzinho. E o fato de ser uma atividade itinerante também pode

explicar as maiores distâncias entre as árvores e as maiores amplitudes dessas distâncias nos

CPx; já no Chagas de São Francisco (CDt), onde os valores desses parâmetros de distância

também foram altos e onde não há histórico recente da abertura de roçados, a extensão da área

inventariada é que pode estar interferindo nesses elevados valores de distâncias entre as

árvores.

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Assim como em outros estudos (Scoles & Gribel 2011, Viana et al. 1998, Wadt et al.

2005, Zuidema & Boot 2002), grande parte das árvores inventariadas é adulta em estágio

reprodutivo (80 ≤ DAP < 160 cm). Entretanto, a distribuição diamétrica das árvores revelou

diferenças que foram significativas entre CPx e CDt. Com exceção da classe das adultas

reprodutivas, em todos os outros estágios de vida a proporção de árvores nos CPx foi

aproximadamente o dobro em relação aos CDt, especialmente entre as árvores mais jovens

(DAP < 80 cm). Isso sugere que nesses CPx a dinâmica da população esteja em maior

equilíbrio, pois existem mais jovens que futuramente venham a substituir os mais idosos, mais

árvores produtoras de sementes e melhores condições para o estabelecimento da espécie.

Apesar de ambos os castanhais distantes de Boa Esperança terem sido abandonados

na década de 1990, o Chagas de São Francisco periodicamente era visitado por extrativistas,

principalmente em busca de caça, e isso não ocorreu no São Silvestre. Neste castanhal,

observamos que apesar da menor densidade de árvores, elas estão mais agrupadas e mais

homogeneamente distribuídas; e como são árvores de grande porte, a distância mínima entre

elas deve ser suficiente para que possam coexistir ali, principalmente por causa do tamanho

das copas das árvores adultas dessa espécie (Tonini et al. 2008). Alguns autores afirmam que

os indivíduos se B. excelsa estão distribuídos de forma agrupada (Mori & Prance 1990b), mas

estudos mais recentes sugerem que essa distribuição dos indivíduos é aleatória e que

indivíduos mais jovens (DAP < 50 cm) são mais agregados que indivíduos adultos (Wadt et

al. 2005, Tonini et al. 2008b). Mas como a distribuição espacial da B. excelsa depende da

interação de diversos fatores bióticos e abióticos, principalmente àqueles relacionados à

abertura de clareiras e dispersão da espécie, pode ser que a ausência humana no São Silvestre

não favoreceu a entrada de luz na floresta e que apenas a dispersão realizada pela cutia

(Dasyprocta sp.), que parece não dispersar sementes a grandes distancias (Tuck Haugaasen et

al. 2010), não foi suficiente para o estabelecimento de novas árvores nesse castanhal.

Entretanto, estudos sobre a regeneração teriam que ser feitos ali para podermos afirmar isso

com maior certeza.

Mas pensando na dinâmica dos castanhais, o São Silvestre é o caso mais preocupante.

Ali não existem árvores jovens, a estrutura demográfica é a mais envelhecida e apesar de ser

uma das menores áreas inventariadas, encontramos mais que o dobro da quantidade de árvores

mortas em pé que em todos os outros castanhais. Uma causa provável da morte dessas árvores

em pé pode ser o seu envelhecimento (Carey et al. 1994, Fontes 2012). Além disso, a maior

proximidade entre suas árvores sugere que estes indivíduos também tenham menor

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variabilidade genética (Sujii et al. 2013). É como se esse castanhal estivesse envelhecendo e

morrendo, estruturalmente e geneticamente. Para contribuir com a conservação da B. excelsa

em castanhais envelhecidos, Scoles & Gribel (2012) sugerem que se faça um manejo, como

corte de cipós e enriquecimento, que auxilie na manutenção e desenvolvimento desses

castanhais.

Os resultados deste trabalho sugerem que a sobrevivência dos castanhais não depende

somente da longa vida das árvores em estágio reprodutivo (Silvertowm et al. 1993). E mais do

que o histórico da atividade extrativista (Peres et al. 2003), a presença humana nessas

florestas parece determinar a estrutura das populações de B. excelsa e favorecer sua dinâmica

populacional, semelhante ao que foi encontrado por Scoles & Gribel (2012), e isso pode estar

contribuindo para a conservação da espécie in situ (Junqueira et al. 2010). Mais uma vez aqui

se fortalece a ideia de que a distribuição dessa espécie pela região amazônica está relacionada

com a presença humana (Scoles & Gribel 2011, ShepardJr & Ramirez 2011) e que não só a

ocupação humana pretérita está associada à formação dos castanhais, mas também a forma

atual de exploração da castanha interfere na estrutura demográfica e na dinâmica de suas

populações (Scoles 2010, Wadt et al. 2005).

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OBJETIVO IV - Elaboração de trilhas

Coleta de dados

Os dados coletados nos censos realizados nos castanhais Chagas de São Francisco e

São Silvestre foram utilizados como base para a elaboração das trilhas de coleta nessas áreas

mais abandonadas, onde as antigas trilhas de coleta de castanha já não são mais encontradas.

Além das informações sobre o DAP (diâmetro à altura de 1,30 m do solo) e a localização das

árvores de B. excelsa, os pontos de interesse, como localização dos acampamentos, portos,

hidrografia e caminhos utilizados, também foram informações muito uteis para esta parte do

trabalho. Lembrando que esta etapa também foi baseada e adaptada da Modelo Digital de

Exploração Florestal - MODEFLORA (Figueiredo et al. 2008).

Análise dos dados

A primeira etapa para a elaboração das trilhas de coleta de castanha foi fazer a

modelagem no programa ArcGIS 10.0 de uma imagem SRTM da área para obtenção de

informações complementares sobre a hidrografia local. Desta mesma imagem também foi

possível elaborar um arquivo com as curvas de nível e uma imagem tridimensional do relevo.

Os dados da hidrografia, relevo, localização e tamanho (DAP) das árvores também

foram interceptados no ArcGIS 10.0 e possibilitaram a elaboração virtual dos percursos

visualmente mais adequados para serem abertas as trilhas em campo. A partir daí e da

experiência em campo, foi possível elaborar mapas dessas trilhas e sugerir locais de

construção de paióis de armazenamento temporário da castanha e locais importantes de serem

construídas pequenas pontes para melhorar a logística de transporte da castanha.

Resultados

Elaboramos 8,61 km de trilhas para a coleta de castanha nos dois castanhais, sendo 6,25

km no castanhal Chagas de São Francisco (Figura 15) e 2,36 km no São Silvestre (Figura 16).

Diante das 56 árvores adultas no Chagas e 38 no São Silvestre, o rendimento médio estimado

para essas trilhas de coleta é de uma árvore de B. excelsa a cada 111,6 m de trilhas no Chagas

de São Francisco e 62,1 m no São Silvestre.

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Para reduzir o esforço e o desgaste físico das castanheiros e melhorar as condições de

transportes de castanha, sugerimos que sejam construídas quatro pequenas pontes ao longo

dos caminhos e trilhas de coleta. Duas dessas pontes seriam construídas no caminho central, o

que beneficiaria o transporte nos dois castanhais e também facilitaria o acesso dessas famílias

extrativistas ao seu acampamento, e outras duas pontes seriam construídas no igarapé

intermitente que corta o castanhal Chagas de São Francisco, beneficiando apenas o transporte

dentro de sua área.

Também sugerimos a construção de dois paióis para o armazenamento temporário da

castanha. Um deles está localizado ao lado do acampamento central, sendo útil para as

castanhas coletadas no castanhal São Silvestre e em outras áreas mais próximas a casa, e o

outro foi planejado para ser construído perto do porto, o que favoreceria o armazenamento de

castanha tanto do castanhal Chagas de São Francisco como do São Silvestre e de outras áreas.

Figura 15. Planejamento elaborado para a coleta de castanha no castanhal Chagas de São Francisco, explorado

por castanheiros da comunidade agroextrativista de Boa Esperança, localizada na Zona de Amortecimento da

RDS Rio Amapá, município de Manicoré - AM.

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Figura 16. Planejamento elaborado para a coleta de castanha no castanhal São Silvestre, explorado por

castanheiros da comunidade agroextrativista de Boa Esperança, localizada na Zona de Amortecimento da RDS

Rio Amapá, município de Manicoré - AM.

Discussão

Para a elaboração das trilhas para a coleta de castanha utilizamos como base a

metodologia do MODEFLORA, no entanto, toda a lógica teve que ser pensada de maneira

bem diferente em se tratando do manejo de castanha. Enquanto no manejo madeireiro devem

ser planejados pátios de estocagem e estradas para suportar e viabilizar a atividade de grandes

maquinários (Figueiredo et al. 2008), o planejamento do extrativismo não madeireiro, da

castanha neste caso, parece ser bem mais simples. As trilhas não precisam ser elaboradas

calculando-se ângulos de abertura, mas precisam ser pensadas de modo que o castanheiro

ande o mínimo possível e, ao mesmo tempo, que as trilhas se cruzem entre si, dando mais

liberdade ao caminhamento do extrativista. Pensamos assim porque ainda não se sabe qual a

produtividade dessas árvores adultas e, ainda que se tenha essa informação, a quantidade de

ouriços que o castanheiro vai encontrar embaixo de cada árvore é imprevisível. Quanto mais

opções o castanheiro tem para se locomover na mata, mais ele poderá otimizar o seu

caminhamento diante da sua realidade em campo.

Mas mais do que a elaboração das trilhas, o resultado principal deste objetivo está na

implementação das trilhas planejadas, pois isso foi o que mais motivou os castanheiros a

participar desta pesquisa. Isso porque a trilha, além de orientar caminhamento, representa o

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espaço conhecido da floresta (Postigo 2010). Por isso, neste momento de abertura das trilhas

planejadas, os castanheiros devem participar e o interesse deles em relação à direção das

trilhas também devem ser respeitados; serão eles que irão percorrê-las. De acordo com nossa

experiência em campo, muitas vezes o castanheiro prefere fazer um caminho mais longo e

passar por ambientes ou até mesmo árvores diferentes. Um exemplo disso aconteceu durante a

abertura da trilha principal no castanhal Chagas de São Francisco. Quando os castanheiros

encontraram uma árvore de Uixi (Endopleura sp.), que eles apreciam muito o fruto e que é

muito visitada por animais que eles gostam de caçar, eles decidiram que a trilha de acesso às

castanheiras deveria conectar diretamente o caminho principal à essa uixizeira, uma vez que

ela se encontravam no meio das árvores de B. excelsa que estávamos marcando. E a partir do

consenso entre eles, abrimos os 963 m de trilha.

Durante o tempo de convivência com as famílias no acampamento Boa Hora, tivemos a

oportunidade de testar a viabilidade da metodologia. Enquanto fazíamos o inventário de B.

excelsa, aproveitamos para registrar a localização de outros produtos não madeireiros de

interesse para aquelas famílias (açaí (Euterpe precatoria), cipó-titica (Heteropsis sp.), cipó-

ambé (Philodendron sp.), copaíba (Copaifera sp.), cumaru (Dipteryx odorata), pequiá

(Caryocar villosum), sorva (Couma sp.) e uixi) e algumas vezes tivemos que voltar nas áreas

para encontrar aqueles produtos que lhes interessavam. Para retornar ao local, fizemos uso do

aparelho de GPS e em todos os casos, encontramos o que buscávamos. Embora confiem muito

mais em sua orientação na mata, esse processo foi muito importante para que as pessoas

acreditassem que a tecnologia do GPS funciona.

Voltando na questão da logística de coleta, como esses dois castanhais são muito

distantes da comunidade de Boa Esperança, provavelmente os castanheiros fariam poucas

viagens para coletar o máximo de castanha possível. No entanto, nem sempre eles conseguem

carregar todas as castanhas de uma só vez e a construção de paióis seria muito importante para

que pudessem armazenar temporariamente as castanhas coletadas. Especialmente o paiol

planejado para ser construído perto do porto, este poderia facilitar muito a logística de

transporte deles, pois uma vez armazenada perto do porto, os castanheiros podem voltar na

área só para buscar a castanha, sem terem que se deslocar por terra. Além disso, a construção

de paióis faz parte das ações sugeridas pelas Boas Práticas de Manejo da Castanha (IDAM

2009, Pinto et al. 2010).

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Para viabilizar a coleta de castanha de modo a melhorar as condições de trabalho dos

extrativistas, seria ideal que pequenas pontes fossem construídas. Além disso, duas dessas

pontes seriam importantes para facilitar o acesso das famílias ao acampamento central. É

relevante destacar a importância que esse acampamento (chamado de Boa Hora) tem na

valorização e transmissão do conhecimento tradicional dessas famílias que o frequentam. Para

elas, o contato com a floresta é muito glorioso e prazeroso. É da floresta que eles extraem

alimento, remédios e materiais para construção de suas casas e utensílios. Mas mais do que

isso, é no Boa Hora que as famílias se unem para passar as férias escolares das crianças e ao

mesmo tempo é o local de aprendizado e transmissão de seus conhecimentos, das técnicas e

tecnologias utilizando produtos florestais e seus modos de fazer, dos caminhos e das espécies

uteis a eles. Pode ser considerado o lugar sagrado daquelas famílias, onde as histórias, os

mitos e as superstições são transmitidas entre cada uma dessas pessoas e, principalmente aos

jovens e às crianças.

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CONCLUSÃO

O mapeamento da produção de castanha nos fornece informações sobre quais os locais

onde se produz castanha para a COVEMA, quanto é comercializado, quantas pessoas estão

envolvidas e quanto cada uma dessas pessoas contribui para a atividade extrativista da

castanha. Dessa forma, indica quais as áreas (ou até mesmo, árvores) mais, ou menos,

produtivas, o esforço de coleta nessas áreas, onde investir recursos para desenvolver a

produção de castanha e quanto essa atividade extrativista contribui para a geração de renda às

famílias desses extrativistas e para a economia do município. Os resultados do mapeamento

ainda nos mostram que as localidades que participaram dos processos históricos de formação

e organização social foram as localidades com maior produção de castanha e geralmente com

maior numero de cooperados. Paralelo a isso, a criação das Áreas Protegidas em Manicoré

contribuiu para que a maior parte da castanha do município seja proveniente dessas áreas,

indicando que provavelmente a mobilização das pessoas seja crucial para o desenvolvimento

dessas Reservas e da região como um todo. De modo geral, todas as escalas de mapeamento

geram informações importantes para os extrativistas e para todos os atores envolvidos na

cadeia de valor da castanha, contribuindo para uma melhor gestão do território, da cooperativa

e do recurso. No entanto, o nível de detalhamento requerido é que vai demandar a escala de

mapeamento a ser priorizada.

As orientações sobre o manejo da castanha e da espécie dependem de estudos sobre a

produção, estrutura demográfica das populações de Bertholletia excelsa e viabilidade de

exploração. A partir dos dados do mapeamento de castanhais e do conhecimento do

extrativista sobre a produção histórica das árvores e sobre o histórico de uso do castanhal é

possível identificar quais características podem estar interferindo na variação da produção das

árvores, um tema que vem sendo discutido dentro do manejo desta espécie. Neste estudo,

observamos que a distância média e a densidade de castanheiras contribuíram

significativamente para explicar a variação na produção de ouriços das árvores, de modo que,

quando muito próximas entre si, podem estar competindo por recursos e tendem a ser menos

produtivas. Algumas características das árvores também parecem interferir em sua capacidade

produtiva, sendo que a maior produção de frutos parece ser favorecida quando as árvores têm

copas dominantes, com melhor formato e menos infestadas por cipós.

A abertura de roçados e o uso do fogo, embora possam estar contribuindo para o

estabelecimento de novos indivíduos e aumento na densidade de árvores das populações,

dependendo do tempo e intensidade, também podem ter empobrecido o solo e prejudicado

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fisicamente as árvores de B. excelsa a ponto de reduzir a sua capacidade produtiva.

Provavelmente isso explique o fato de no Castanhalzinho, apesar de ter mais árvores, uma

pequena quantidade delas podem ser consideradas matrizes produtivas. E em relação a seleção

de matrizes, este estudo sugere que o conhecimento tradicional sobre a dureza dos ouriços

também seja considerado e que se investigue melhor sobre a questão das sementes macho e

fêmea.

Assim como na produção de frutos, o histórico de uso recente do solo parece ter grande

influência na estrutura demográfica dos castanhais. Os castanhais em estudo apresentaram

estruturas demográficas diferentes, principalmente quando comparados castanhais distantes e

próximos às comunidades agroextrativistas. Parece que quanto maior a presença do ser

humano nessas áreas, mais ele propicia condições para o estabelecimento de indivíduos jovens

de B. excelsa, de modo que áreas mais distantes das comunidades agroextrativistas têm

maiores chances de serem abandonadas e por isso tendem a ter populações mais envelhecidas,

como é o caso do castanhal São Silvestre. Áreas com maior presença humana tendem a ter

maior densidade de árvores desta espécie, inclusive de indivíduos mais jovens. Sugerimos

aqui que, para contribuir com a conservação da espécie in situ e com a sustentabilidade da

atividade de coleta, devem ser realizadas ações que promovam o manejo desta espécie nesses

locais mais abandonados.

A viabilidade da coleta de castanha depende da decisão do extrativista frente ao custo-

benefício de seu esforço. Para viabilizar a coleta de castanha e, consequentemente, o manejo

nesses castanhais mais distantes e abandonados, elaboramos trilhas de coleta e indicamos

locais propícios para a construção de pontes e paióis. A implementação do planejamento da

coleta é a contra partida de maior interesse para os extrativistas que participaram deste

trabalho, pois além do acesso, também irá contribuir para a manutenção e transmissão de sua

cultura às novas gerações.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de aparelhos GPS para as atividades de mapeamento e inventário foi facilmente

compreendido pelos que participaram da coleta de dados em campo. Talvez fosse interessante

que eles entendessem melhor sobre a tecnologia do GPS, mas o manuseio essencial para

registrar dados e se orientar nas picadas virtuais foi rapidamente incorporado por eles. Diante

dos altos custos de se fazer inventários e mapeamentos florestais na Amazônia e da falta de

diretrizes técnicas para o manejo de espécies de produtos não madeireiros, o uso do GPS e o

envolvimento dos comunitários (seja ele como indivíduo ou organizado em associação ou

cooperativa, por exemplo) se mostram como interessantes ferramentas para viabilizar estudos

de manejo e monitoramento desses recursos e, até mesmo, dessas terras públicas. Se houver

interesse por parte dos órgãos gestores, o uso do GPS para registrar as atividades das pessoas

poderá gerar, a baixo custo, informações mais confiáveis para o zoneamento das áreas e

monitoramento dos recursos. Além disso, é uma forma de garantia da origem dos produtos.

Para nós, o conhecimento sobre a produção histórica foi uma forma de valorizar o

conhecimento do extrativista e parece ser uma maneira interessante de se obter uma

informação de difícil mensuração, como é o caso da produtividade das árvores de Bertholletia

excelsa que tem grande variação da produção ao longo dos anos e entre seus indivíduos.

Ademais, observamos que os participantes que se envolveram com o trabalho passaram a

contar e monitorar a produção de suas árvores, mostrando que eles mesmos podem ser

pesquisadores de campo.

Gostaria de deixar claro aqui, que não só os extrativistas, mas também as mulheres e

os jovens participaram das diferentes etapas deste trabalho e isso possibilitou um maior

envolvimento das famílias e melhor compreensão de todos sobre o trabalho. Mas como

mulher, senti certa dificuldade que os extrativistas de Jatuarana participassem deste trabalho,

o que não aconteceu em Boa Esperança. Dentre muitas questões que podem estar interferindo

nisso, o fato das famílias serem mais unidas e das mulheres de Boa Esperança também irem

para o mato foi crucial. Para evitar esse tipo de empecilho e favorecer a participação de todos,

é importante que a equipe de campo seja formada por homens, mulheres e jovens em geral.

Enfim, a partir das nossas experiências, a adaptação da metodologia do

MODEFLORA para o levantamento de informações e planejamento da coleta de castanha é

viável, principalmente se houver mobilização e envolvimento dos participantes, e pode ser

aplicada a outros produtos florestais não madeireiros.

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