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Pimenta - MG Café com Letras

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Pimenta - MGCafé com Letras

Editora Recanto das Letras

Comunicação e Expressão Artísticados Alunos da Escola Estadual

Padre José Espíndola

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Comunicação e Expressão Artísticados Alunos da Escola Estadual

Padre José Espíndola

Pimenta - MGCafé com Letras

Editora Recanto das Letras

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© 2017

Editora Executiva: Cássia Oliveira Projeto gráfico, Diagramação e Capa: Editora Recanto das LetrasImpressão: ImagemDigital

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Andreia de Almeida CRB-8/7889

Comunicação e expressão artística dos alunos da Escola Estadual Padre José Espíndola – Pimenta – MG: café com letras / organização de Kennedy Pimenta. – Sorocaba : Recanto das Letras, 2017. 120 p. : il.

ISBN: 978-85-69943-48-8

1. Poesia escolar brasileira 2. Crônicas brasileiras 3. Contos brasileiros 4. Arte na educação I. Pimenta, Kennedy II. Escola Estadual Padre José Espíndola17-0802 CDD 808.899282

Índices para catálogo sistemático:1. Poesia escolar brasileira

EDITORA RECANTO DAS LETRAS

Rua Laura Barbero Shimmelpfeng, 260 - Sorocaba - São Paulowww.recantodasletras.com.br/[email protected]

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor.

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Prefácio

O Kennedy é uma pessoa predestinada ao especial. Tem uma leveza para valorizar o potencial humano. Ama o que faz!

Traz a certeza de todas as possibilidades que cada ser carrega no desabrochar para a vida.

É o mestre do fazer e do deixar acontecer.Ter a bênção de conviver com você e a honra de participar

na realização deste livro e ainda poder compartilhar sua filosofia de trabalho é como viver um pouquinho de Deus na Terra.

Este livro é uma viagem por várias estradas de sucesso pela vida de muitas pessoas.

Comunicação e Expressão Artística dos Alunos da Escola Esta-dual Padre José Espíndola é uma coletânea dessa viagem pela vida de inúmeras pessoas.

Enriquece-nos, seduz-nos e nos faz acreditar que todo potencial pode ser lapidado.

Que tal deixar seduzir-se e encantar-se?

Carinhosamente,Iselene Aparecida Silva

(Professora de Língua Portuguesa)

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Introdução

Este livro é um projeto pedagógico idealizado por mim, Ken-nedy Pessoa Barbosa, durante o estágio de formação do curso de Letras na Escola Estadual Padre José Espíndola.

Teve como colaboradores o corpo docente e alunos da escola mencionada. Constituído por ilustrações e textos produzidos pelos alunos, professores e demais funcionários, é um projeto que visa valorizar e incentivar todas as formas de comunicação utilizadas pelos indivíduos, principalmente pelos educandos.

Trata-se, portanto, de uma oportunidade de aproximar os alunos dos escritores, livros e formas de arte, propiciando que as produções feitas durante o período letivo sejam eternizadas na escola.

Este volume também servirá como material de leitura e pes-quisa, base para novas edições e uma marca especial do bom trabalho desenvolvido por essa instituição escolar.

As correções dos textos dos alunos antes da publicação foram superficiais, conservando a realidade de suas produções do dia a dia escolar. Em algumas situações foi preservada a linguagem informal não padronizada. O objetivo não é a perfeição, mas simplesmente revelar a capacidade criativa dos novos escritores e artistas. Espero que gostem e se divirtam com a leitura.

Encontrar caminhos para um aprendizado significativo e eman-cipador torna-se essencial, pois educar é construir novos conheci-mentos em comunhão com seus pares, libertando-se da veracidade já constituída em prol da oportunidade de galgar novos saberes.

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Homenagem a Zé Alves

Nós, professores, funcionários e alunos da E. E. Padre José Espíndola, prestamos uma homenagem a alguém que marcou nossas vidas e acredito que de grande parte das pessoas que passaram por essa escola.

José Alves Garcia, o professor Zé Alves, e nas quadrilhas, san-foneiro do “arraiá”.

Nascido em 07 de fevereiro, José Alves formou-se em letras e começou a lecionar em 1974. Alguns de vocês talvez se lembrem do Zé Alves ainda novinho, muitos provavelmente foram amigos de infância ou colegas de classe. A maioria de nós se lembra do professor

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Zé Alves, era assim que ele gostava de ser chamado, demonstrando seu orgulho e amor à profissão.

Quem não o conhecia bem, poderia dizer, talvez sem entender, que ele vivia em um mundo paralelo, pois na sua irreverência ele muitas vezes dizia que havia pegado um congestionamento na Avenida Paulista antes de chegar à escola, ou mesmo que havia ficado preso em uma manifestação na Praça Sete. Esse era o lado irreverente do Zé. Mas e a elegância? Quem não se lembra das roupas e sapatos impecavelmente limpos e engraxados; o perfume que deixava por onde passava; elegância não só na aparência, pois também foi um grande admirador e incentivador da boa educação, da arte e de gestos de gentileza.

Por falar em arte, como foram animadas nossas festas juninas. Caracterizado com sua camisa xadrez e lenço no pescoço, lá estava ele: o sanfoneiro do “arraiá”, cantando na mesma noite, repetidas vezes as imortais: Moreninha Linda e Charrete Azul. Sempre com um sorriso no corado rosto, ele esbanjava uma alegria contagiante.

Dedicou sua vida à educação, mesmo depois de aposentado, poderia ter simplesmente deixado a escola e curtir o tão merecido descanso, mas parecia que a escola já fazia parte dele. E com o com-promisso de sempre, o professor Zé Alves desenvolveu um trabalho voluntário, dedicando parte de seu tempo para ajudar alguns alunos.

Sempre foi muito ligado às celebrações da Igreja. Já fez parte do coral, e todo mundo sabia o quanto ele era encantado pelas co-memorações da Semana Santa. As músicas dessas festividades eram cantaroladas por ele, em alto e bom tom, durante todo o ano, na sala dos professores, pelos corredores da escola e até mesmo pelas ruas da cidade.

Tinha uma verdadeira adoração por Jesus e nós nos despe-dimos dele em uma sexta-feira da paixão, quando celebrávamos a morte de Jesus.

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Uma pessoa marcante, inteligente, de grande presença, ir-reverente e muito alegre. Parece estranho que o seu lugar à mesa dos professores não será mais ocupado, é estranho pensar nas festas juninas sem sua presença, os alunos que você estava ajudando estão sentindo sua falta, nós não vamos mais ouvir você interpretar o canto de Verônica. E agora José?

Resta-nos dizer que o professor Zé Alves será eternizado em nossas memórias e corações, pedimos ao bom Deus que o guarde na sua infinita misericórdia.

Descanse em paz, professor Zé Alves!

Professora Lucélia Alves Vieira

Ilustração: Lívia Andrade de Oliveira - 9ª série

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Ilustração: Fernando Antônio da Silva - 2º ano

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Pessimismo

Sábio aquele pessimista dono do seu eu,Incrédulo o tal que vive com pessimismo.Vive sabendo o que pode dizer. É meu!E não se assusta com um mero abismo.

Sábio, percebe o que acontece,De mil esperanças, nenhuma tem.Difere do otimista e não parece,

Na solidão suporta não ter ninguém.

Surpreende-se com o inacreditável,Derrotista, quase pobre e miserável.Na verdade dolorosa tem a calma,Blinda-se em sua agnóstica alma.

Descrença resume tudo a seu respeito,Continua sábio ao lidar com a morte.

Racional até o fim em seu leito,Inerte e cético à sua sorte.

Lívia Lorena Marcelino - 1º ano

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Cidade de Pimenta

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Cidade de Pimenta

Do centro oeste mineiro és o tempero,O paladar de Minas simboliza com esmero.

Quem prova do teu tenro sabor,Relembrará da meiga cidade com amor.

Às margens do Lago de Furnas,E serras com grutas profundas.

Onde começa o utópico mar de Minas,Paisagens encantadoras e divinas.

Cachoeiras nascem nos teus montes,Jorrando as mais belas e puras fontes.

Em teus vastos e verdes campos floridos,Dos mais variados tons coloridos.

Cidade dócil e deveras infante,Sua glória a torna gigante.

Guarida de quem está de passagem,Berço de descanso da viagem.

Teus filhos, orgulhosos da naturalidade,Declamam teu nome com vaidade.Pimentenses, órfãos de tua estadia,

Clamam por retorno a cada dia.

Kennedy Pimenta

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Nordeste

O mundo do meu sertãoLá encontrei minha paixão.Nordeste cheio de animaçãoA mãe dele é brava igual um cão.O meu amor me deixou na solidãoPor favor, Nordeste, tenha compaixãoSua água sumiu igual a minha animação.Achei um poço, só tinha ingratidãoAvistei água, era apenas ilusãoO meu amor ficou lá no sertãoE com ele o meu coração

Maria Gabriela dos Reis Ferreira - 7ª sérieIlustração: Lívia Andrade de Oliveira

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Histórias do Nordeste Brasileiro

O Nordeste tem históriaQue logo vem à memóriaDe um povo cheio de glóriaQue canta a sua história

No interior do NordesteHá seca no sertãoQue entristece o coraçãoDe toda sua população

As praias vastas e bonitasDaquela imensidãoAtraem os turistasE encantam o coração

Lá tem festas de montãoQue enlouquece o povãoMuitas comidas típicasA melhor da região

Texto e Ilustração: Júlia Costa - 7ª série

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Vida de Retirante

Sou um menino retiranteNasci lá no sertãoMinha história vou contarPreste bastante atenção

Quando era pequeninoJá conhecia a vida duraQue leva o nordestinoComo sofre a criatura

Painho e mainha cansadosA chuva que não vinhaOs animais desanimadosComo era triste a vida minha

Faltava água e comidaA família teve que sairBuscar um rumo na vidaSaímos os três por aí

Texto e Ilustração:Giovana Lopes Caetano de Miranda - 7ª série

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Literatura de Cordel

No sertão nordestinoO clima é seco que dá dó

Povo sofrido com seu destinoImploram a chuva em Cabrobó

O Nordeste tem suas belezasAs praias mais lindas são as de Maceió

Tem também as praias de FortalezaE a hidrelétrica de Xingó

Laís Aparecida Caetano - 7ª série

Ilustração: Laís Aparecida Caetano

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Ilustração: Bruna da Costa Paula - 7ª série

Kennedy Pimenta

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Educador

Este mundo do ensinarÉ para quem abusa do amar.

Não discrimina o sujeitoAbomina todo preconceito.

Transformador da realidadeAmigo fiel da justa igualdade.

Mediador crítico do saberProfissão do eterno aprender.

Reconhece no discenteA simbiose do docente.

Letras do mesmo alfabetoAmante do pensar certo.

Provoca a indagação.Desperta a inquietação.Chave mestra do ajuizarAutonomiza o sonhar.

Arte de acender a menteFala, tem atitude coerente.Credor da grande utopia

Mudar a sina de uma cria.

Kennedy Pimenta

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Ilustração: Kailayne Gabriele da Costa - 7ª série

Ilustração: Mirella Vieira Perpino - 7ª série

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Ilustração: Alexandre Seabra - 7ª série

Ilustração: Lucas Emanuel - 7ª série

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Ilustração: Leandra Santos Macêdo - 7ª série

Ilustração: Camila Aparecida Oliveira - 7ª série

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Ilustrações: Lívia Andrade de Oliveira - 9ª série

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O Sequestro do P. C. Junior

PP. C. Junior é um menino de doze anos, mora no Rio de Janeiro, muito estudioso, inteligente e humilde, fato que enche de orgulho ao seu pai, Paulo César. Homem bastante rico e bem de vida, cuida sozinho de seu filho, pois sua esposa morreu quando P. C. Junior nasceu. O garoto gosta muito de ler livros, estudar e sempre tira ótimas notas na escola.

Ele e seu pai costumam ir a um parque de diversões nos fins de semana e de tarde sempre vão à banca de jornal de Fátima Zoraide, uma moça viciada em bombom e também vidente nas horas vagas. Os dois são sempre bem recebidos por ela quando aparecem para comprar revistas e jornais.

Em um dia normal como outro qualquer, Paulo César estava trabalhando em sua fábrica, era aproximadamente 10h e, de repente, recebeu pelo correio um bilhete anônimo falando o seguinte: “Seu filho foi raptado e está em nosso poder, se quiser o menino de volta são e salvo, siga as seguintes instruções: coloque quinhentos mil dó-lares em uma mala preta e deixe atrás da banca de jornal da estação de metrô às 10h50, depois de deixar a grana pegue o metrô das 11h

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e volte para sua casa. Se alguém ficar vigiando a mala, o menino morre”. O coitado do homem ficou desesperado.

Como tinha pouco tempo, rapidamente tirou o dinheiro do cofre, colocou-o em um saco plástico, ajeitou tudo dentro da mala e pegou o metrô. Às 10h50 em ponto estava no lugar para fazer a entrega. Quando já ia deixando a encomenda no local combinado, o celular dele tocou, quase o matando de susto. Olhou para a tela do aparelho e viu que era seu filho. Ao conversar com o menino percebeu que tudo não passava de uma armação mentirosa. Paulo César desligou o celular, retirou o saco de dinheiro de dentro da mala e a deixou completamente vazia atrás da banca. Ligou para seu amigo Dorisgleison Silva, um investigador, e também avisou a um policial que estava de guarda na estação do metrô.

O policial e o investigador acionaram reforços e ficaram es-condidos aguardando o espertalhão chegar. De repente, apareceu um rapaz bem vestido e começou a andar de um lado para o outro, aparentando nervosismo. Os policiais logo desconfiaram que se tra-tasse do bandido, quando ele apanhou a mala os homens da lei o cercaram e o prenderam. O investigador acabou com o plano do sequestrador que iria pegar o dinheiro e fugir.

Ao final tudo acabou bem, apesar do susto, P. C. Junior e seu pai ficaram muito felizes quando se reencontraram. Combinaram de tomar bastante cuidado para não serem apanhados no futuro.

Anaysa Catarina Inácio - 8ª série

Juvêncio e Maria Clara

Juvêncio era um homem muito preguiçoso, não gostava de trabalhar e nem tinha completado o Ensino Médio. Morava com seus pais em uma casa bem humilde. Ele namorava às escondidas

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com uma menina muito rica, chamada Maria Clara, que era muito estudiosa e, até o momento, obediente. O seu pai era um fazendeiro muito bem de vida, ciumento e bravo, não deixava sua filha namorar seja lá com quem quer que fosse.

Certo dia à noite em um encontro às escondidas, a moça e o rapaz decidiram uma coisa muito arriscada e crucial para suas vidas. Já que o pai dela não aceitaria o namoro de forma alguma, os dois decidiram fugir juntos no velho burro do pai de Juvêncio. Era o único meio de transporte que o rapaz tinha à sua disposição, e digo mais, o animal nem dele era.

No dia seguinte à noite, como haviam combinado, os dois fugiram, mas Maria Clara antes de ir ao encontro do príncipe en-cantado e do burro pardo deixou uma carta para seus pais dizendo que havia fugido com o amor de sua vida.

Assim que o pai de Maria Clara leu a carta, já ligou imediata-mente chamando o delegado que era seu amigo, acionou também o batalhão da Guarda e o regimento da cavalaria e foram todos seguindo as pegadas do burro para encontrar o casalzinho.

Juvêncio quando viu aquela tropa toda vindo atrás dele, per-cebeu que seu medo superou o amor bem rapidinho. Empurrou Maria Clara do burro para ganhar velocidade e partiu a galope no meio de um matagal. Até hoje ninguém sabe a cor do burro fugido e o paradeiro do “destemido” garotão.

O pai, quando chegou à sua casa, deu uma boa reprimenda na princesa abandonada, mas logo a sua mãe apaziguou a situação e tudo voltou à normalidade. A moça ficou muito triste por alguns dias, porém a decepção com aquela atitude fez com que a donzela nunca mais quisesse ver a cara do infeliz.

Anaysa Catarina Inácio – 8ª série

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Literatura de Cordel - Nordeste

No sertão e no agresteÉ muito seco e não chove láEssa é a região do Nordeste

Com a beleza do CearáMas também tem a Bahia

Com o seu carnavalPovo que tem muita alegriaOnde tocam o berimbau

Texto e Ilustração: Tamires Ferreira da Rocha - 7ª série

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Nordeste

Esse povo do NordesteSofre sem a plantação

Mas sempre se faz presenteIndependentemente da situação

As águas do velho Chico

As mais importantes da regiãoO pobre Rio São Francisco

Está sendo afetado pela poluição

Povo que luta pela sobrevivênciaImplorando a chuva na vegetação

Com muita insistênciaContinua com a plantação

Texto e Ilustração: Jennifer Flávia B. Silva - 7ª série

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Engolidos pelo Álcool

A bebida é uma belezaQuando engolida por você

Logo já perde a destrezaE você nem vai perceber

Tudo que sobe, desceTudo que entra, sai

Do seu corpo toma posseE num instante você cai

A galera acha legalA garotada adora

Mas quando você passa malTodo mundo vai embora

Depois se torna fatalDo seu corpo toma posseO jeito é ir para o hospital

Na base da glicose

Então, pense bemAntes que não tenha saídaPois você se torna refém

Sendo engolido pela bebida

Lorena Gomes de Andrade Souza2º ano

Combustível para Perder a Vida

De gole em gole,A bebida te engole.

Depois de embriagado,Desaba sem ver, oh coitado.

A “sofrência” sem namorada,Vem em líquida atração.Alcoolizar-se na balada,

Não servirá de consolação.

Então, reflita antes de tudo,Pense na família preocupada.

Não se engane, contudo,O álcool não recupera a amada.

A bebida é uma saída babaca,Engolida não diminuirá o sofrerNão pense que depois da ressaca,Seus problemas vão desaparecer.

Afinal, a bebida desmedidaFaz você perder a vida,

Não se perca ludibriado,Nem se afogue embebedado.

Lorena Gomes de Andrade Souza2º ano

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Alcoolismo

Não sou senhor de mim,A bebida apoderou-se enfim.Roubou-me o poder de decisão,Escravo, vil de uma ilusão. Outrora me conferia poder,Hoje tudo coloca a perder.Domina a indigente vida,Minha sina, confesso doída. Nada parece ter sentido,Arruinou a essência do ser,Perambulo, trôpego, perdido. Pela bebida jaz bebido,Sonhos mortos a perecer,Destino ao álcool vendido. Kennedy Pimenta

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Bullying

Preste atenção, eu vou te falarHoje você zoa a pessoa

Amanhã ela quer se matarPare de falar mal e vê se elogia

Dê boa noite, boa tarde ou bom diaTudo vale a pena se você não implicar

Faz dela sua amiga, pare de criticarMesmo mansa ela pode ficar má

Se não ajuda, pare de criticarNão liga pra esse ato imoral

Deboche é pura inveja, na moral

Ingride Aparecida de Oliveira - 8ª série

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Hino à Natureza

Vamos cuidar da natureza, da Mata AtlânticaRios, mares e oceanos

Vamos cuidar da nossa fauna e flora

Se unirmos nossas forçasConseguirmos plantar o que foi derrubado

Protegendo nossas florestasEstaremos garantindo o nosso futuro

Oh natureza amadaE devastadaSalve, salve!

Brasil de imensas matas e rios límpidosPelas mãos dos homens, vêm sendo destruídos

As consequências já estamos vendoE o mundo a cada dia mais se aquecendo

Ilustração: Lorraini, Julia e Márlon

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Unidos vamos salvar a naturezaO homem deve acordar

Pois o nosso futuro é a incerteza

Meio ambienteDevastado e poluído

Tu és lindo, és imensoE estás sendo destruído

Como filhos desta terra, não estamos sendo gentilDestruição

Como nunca se viu

Deitado à sombra de uma árvoreOlhando os pássaros no céu sobrevoandoFico pesando em nossa irresponsabilidade

E nossas florestas e matas derrubando

Nosso país é o mais lindoNossas florestas e matas têm mais cores

Nossos bosques têm mais vidaDevemos tratá-los com mais amores

Oh natureza amadaE devastadaSalve, salve!

Natureza amada seja preservadaPois nosso futuro depende de você

Nossas plantas e animaisPrecisamos proteger

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Oh natureza que se refazO mundo precisa de você

Vamos acordar e protegê-la

Meio ambienteDevastado e poluído

Tu és lindo, és imensoE estás sendo destruído

Como filhos desta terra, não estamos sendo gentilDestruição

Como nunca se viu

Texto e Ilustração: Lorraini Caroline Silva Costa, Júlia Karolina Arantes dos Santos e Márlon Ramires da Costa - 8ª série

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Ilustração: Diogo Lopes Vilela e Ivan Marcelino de Oliveira - 8ª série

Ilustração: Taís de Fátima e

Rafael Costa - 8ª série

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Praga Nacional

Ouviram o povo reclamandoDe um vilão, que a dengue transmiteEle nos prende em dez dias sofrendo

Está ameaçando a pátria neste instante

Se o senhor não cooperarNão podemos por essa fase passar

Se nos juntarmos, conseguiremos a liberdadeDesse mosquito que pode nos causar a mortalidade

Oh, pátria amada Idolatrada

Se salve

Brasil com o problema do mosquitoQue transmite várias doenças

Cito entre elas a perigosa Zika Vírus Que pode dar microcefalia em seu bebê

Gigante pelo seu problemaPequeno no seu tamanho

E no futuro sua saúde pode ser um dilema

Terra adorada Entre outras mil

És tu, BrasilQue está sofrendo com essa epidemia vil

Do filho com essa doença, há mãe preocupada

Praga odiada No Brasil

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Previna-se, não deixe água paradaPois é assim que o ciclo começa

Essa praga não está só no Brasil, mas espalhadaDestruindo o amanhã, meu camarada

O mosquito está tirando muitas vidasAs pessoas estão meio perdidas

Nossa pátria precisa de nós mesmosE com isso, o mosquito venceremos

Oh, pátria amada Idolatrada

Se salve

Brasil seja símbolo de superaçãoQue no futuro não haverá essa infestaçãoE que possamos dizer: inseto exterminado

Paz no futuro e glória no passado

Terra adorada Entre outras mil

És tu BrasilQue está sofrendo com essa epidemia vil

Dos filhos com essa doença, há mães preocupadasPraga odiada

No Brasil

Taís de Fátima e Rafael Costa - 8ª série

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Pátria Derrotada

Ouvimos o Brasil com os olhos embargadosDe políticos falsos e desavergonhadosE o sol da honestidade em dor profundaApagou-se no céu da pátria neste instante

Com o penhor da falsidadeConseguiram nos enganar com falas fortesEm teu seio, oh indignidadeTantas mortes enfeitam a impunidade

Oh pátria maltratadaAinda ignoradaSalve-se! Salve-se!

Brasil um bobo imenso, um raio tímidoDe angústia e sofrimento o povo padeceEm teu escuro céu, o imposto encareceA imagem do político denegrece

Era grande pela própria naturezaTornou-se árido pela safadezaNa tua história espelhava grandeza

Terra roubadaComo outras milEntre elas BrasilPobre infantil O filho desse não é mais gentilQue doa em quem a injustiça pariu

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Deitado eternamente em caixão esplêndidoAo som de choros e gritos profundosFuga do Brasil para o norte da AméricaFugindo do pior cenário do mundo

Oh pátria maltratadaAinda ignoradaSalve-se! Salve-se!

Brasil pode ainda ser um símboloDe luta e ter seu político investigadoDiga ao corrupto sempre toloCadeia no futuro a quem roubou no passado

Destroem e ainda nos querem fortesVerás que o filho teu está perdendo a lutaMas continuará até a própria morte

Terra roubadaComo outras milEntre elas BrasilPobre infantil

O filho desse não é mais gentilQue doa em quem a desonestidade pariu

Texto e Ilustração: Alexandre Junior e Paulo Junior - 8ª série

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Paródia do Hino Nacional Brasileiro

Ouviram de um lugar tão distanteAqui o povo pisado é uma constante

E o sol, que a liberdade acabou fugidoBrilhava no céu da pátria até instantes

Se terror e desigualdadeDomina e conquista o braço forte

Neste seio de impunidadeAcabam com as matas de verdade

Oh desmatada e encurraladaSalve! Salve-se!

Aqui o sonho intenso não é vívidoQuem morre sem esperança à Terra desce

Diziam: céu formoso, azul e límpidoAgora fumaça das queimadas é quem aquece

Meliantes culpam a pobre naturezaDizer: belo, forte e límpido é incerteza

Como cansa esperar a tal grandeza

Ilustração: Luara e Flávia

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Terra dourada para poucos milÉs tu, gentil terra devastadaPelos milhões que tu pariuÉs depredada por gente vil

Sustentado eternamente em berço esplêndidoAs mazelas, falcatruas do lado imundo

Figuras entre as mais corruptas das AméricasNão enganas o olhar do mundo

Como queres ser queridaSe acolhe em teu seio malfeitores?Como andas não há quem resista

Ninguém quer morrer por ti de amoresOh terra abandonada e desmatada

Salve! Salve-se!

Lugar que eternizou-se como símboloO amor que vem do povo não é sustentado

Tudo que se anuncia perdeu o coloridoFuturo… mas sem querer o mal passado

As injustiças resistindo a clava fortePor isso muita coisa não desfrutarásTalvez até a hora da própria morte

Terra douradaEntre outras mil, és tu Brasil

Oh terra amadaPara os filhos não basta um olhar gentil

Terra amadaBrasil

Luara Caroline da Costa e Flávia Alessandra de Oliveira - 8ª série

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Desenhos do aluno Wend Correa de Brito - 9ª série

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A Bebida me Bebeu

Saí de casa bem vestido, roupa e tênis da moda, com destino à felicidade. Nem sei quantas vezes conferi no espelho se es-tava tudo dentro do esperado e dei aquela retocada básica no perfume. Cheguei todo empolgado para encontrar com a turma, a balada já estava fervendo e os colegas um pouco alcoolizados e tagarelas. Naquele momento me senti óleo na água! E nada melhor do que um pouco de álcool para diluir o óleo e me dar o ânimo necessário para me embaralhar em meio. Ela estava deslumbrante e trocávamos sorridentes olhares, senti que aquele seria o dia de me aproximar da gata que há tanto tempo paquerava platonicamente. Dançávamos

freneticamente em um grupinho, todos sorridentes e aproveitando o som que rolava no ambiente.

Fui abusando do combustível que entendia ser minha salvação e logo já estava bem de fogo, completamente tomado pela circunstância festiva, sem perceber o quanto bebia. E nesse pique se passaram várias horas, os copos vinham cheios e voltavam vazios. Comecei a ficar com o estômago ruim e sentindo um pouco de enjoo, saí de fininho para o banheiro em busca de melhoras. Pensei, deve ser o chiclete que me fez mal, vou cortar essas gomas de mascar de minha vida!

No caminho, tropecei em minha própria sombra e quase caí, cheguei ao banheiro, lavei o rosto e me livrei de um pouco da bebida no mictório e o terrível chiclete foi para a lixeira, é claro. Respirei fundo em busca de sobriedade e a oxigenação me recobrou os sen-tidos. Algum instante depois já estava junto da galera, balançando

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o esqueleto e bebericando dos copos que rodavam continuamente entre nós. Enquanto isso, o “pancadão” corria solto nas caixas de som, o que quase não permitia a troca de palavras entre nós. De repente, tudo começou a girar muito rápido, as luzes começaram a piscar e se apagaram para mim, perdi completamente a noção do que acontecia em minha volta.

Algumas horas depois acordei no hospital com uma tremenda dor de cabeça, soro ligado em minha veia e algumas pessoas em volta do meu leito. Definitivamente, acho que minha carruagem virou abóbora e os ratos roíam meu cérebro, ou será que o “Cinderelo” perdeu o “sapatinho” de cristal!?

No final das contas, não me diverti praticamente nada, a garota dos meus sonhos acabou beijando outro sapo que a essa altura já se transformara em seu novo príncipe, para o meu desencanto. E eu, o gato borralheiro, acabei no hospital, em péssimo estado e levando bronca dos meus familiares.

Sempre nos achamos comedidos, poderosos e acreditamos dominar qualquer tipo de vício e situação, mas, nesse dia, confesso que acabei bebido pela bebida. Quantas vezes passamos por situações parecidas, incomodamos as pessoas, perdemos a noção do ridículo e, o pior, não aproveitamos o melhor da festa?

Texto e Ilustração: Kennedy Pimenta

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Pimenta, 20 de novembro de 2016.Olá, professora Carina!

Aproveito esta oportunidade para escrever um pouco sobre a importância da literatura em minha vida, como me influenciou para estar hoje quase concluindo o curso de Licenciatura em Letras. Como já sabe, eu nasci em uma cidadezinha muito pequena do interior, no centro oeste mineiro, chamada: “Pimenta”, e as minhas primeiras viagens além dos seus limites foram através da literatura. Ainda criança pude viajar nos braços das histórias lidas ou contadas por meus familiares e um pouco mais tarde por mim lidas. Mesmo não sendo um leitor afinco, o pouco contato que tive com os livros me moldou como pessoa.

Aquele momento inicial de minha formação enquanto leitor me marcaria de uma forma inesperada para o resto de minha vida, pois comecei a sentir a necessidade de escrever as minhas próprias histórias e também imortalizar os “causos” contados pelas pessoas de meu convívio diário. Sempre fui um apaixonado pelas rodinhas de amigos e familiares, onde eu ficava escutando histórias e piadas atentamente, pois naquela época ainda não era um contador ou escritor dessas passagens.

Durante a minha vida escolar confesso que não dominava muito a ortografia e a gramática da língua portuguesa, deficiência que tento corrigir até os dias atuais. Para driblar essa carência, em vez de redações, fazia poemas, pois há uma tolerância

Ilustração: Kennedy Pimenta

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maior na liberdade poética da escrita. Quando era obrigado a produzir um texto sempre surpreendia na criatividade e decepcionava na ortografia e gramática, essa dificuldade me tornou um escritor anônimo, que nunca gostava de expor seus textos para ninguém.

Um pouco depois comecei a minha vida profissional, viajei e morei em alguns lugares de Minas Gerais, o que me possibilitou conhecer muitas histórias e personagens inesquecíveis. Neste trajeto fui lendo, escutando, escrevendo, repetindo e memorizando vários acontecimentos cotidianos interessantíssimos, e para não caírem em esquecimento passei vários destes contos para o papel. Até então, eu só escrevia para mim mesmo e quase nunca mostrava para as pessoas os meus textos. Esta atividade era apenas uma solitária terapia! Um dia, já adolescente, escrevi uma poesia em uma atividade escolar, e a professora se encantou. Corrigiu alguns erros de português e me pediu para afixar a poesia nos murais da escola. Foi daí que de mero leitor passei a ser um escritor, mas naquele tempo não tinha muita noção sobre o poder da literatura e acredito que nem a professora tinha conhecimento da transformação que causaria em minha vida. Como professor tentarei fazer o mesmo: despertar o amor pela literatura em meus alunos.

Como já era de se esperar, a literatura continuou a me encantar, criei uma página virtual e comecei a publicar todos os meus textos nela. Sempre pedia para alguém corrigir antes! Essa exposição chamou a atenção de outros colegas escritores, e fui convidado a participar com alguns escritos na publicação de três livros. Foi só aí que comecei a sentir falta de produzir meus textos com maior qualidade, atendendo as regras semânticas, ortográficas, gramaticais etc. E agora, aqui estou “eu”, cursando a faculdade depois de muitos anos afastado do meio escolar. Chego à conclusão de que o desejo de escrever e ler me fez retornar ao ambiente acadêmico, o que me trouxe uma infinidade e variedade de gêneros literários!

Realmente a literatura fez muita diferença em minha vida, e teria sido muito mais marcante se os meus formadores entendessem a importância dela para mim enquanto estudante.

Espero que esta carta lhe encontre em alto astral, motivada pela sua profissão e que possa ainda mais fortificar a sua convicção do quanto a literatura é importante na vida de todas as pessoas. Lembre-se: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que ensinas”. Aguardo ansioso a sua carta de resposta me contando como a literatura entrou e transformou sua vida!

Abraços de seu quase colega de profissão!

Kennedy Pimenta

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Viver

Quando criança a única preocupação que se tem é saber se vai ou não tocar a campainha da casa ao lado, se reconciliará ou não com o amigo, estudar ou colar na prova, fazer ou copiar a tarefa… Escolhas simples, mas bem diferentes das que é preciso tomar quando se é mais velho.

A partir do momento que os adolescentes começam a sair de casa, o ato de viver se torna perigoso, pois há muita coisa fora do ambiente familiar que é novo e desconhecido, tornando-se, portanto, mais atraente.

Dentre o que é denominado “novo” estão as drogas, substâncias que modificam o organismo humano causando depressão, ansiedade e alucinações, que podem levar o usuário a cometer crimes e até ao óbito; prostituição, uma profissão exercida por muitas meninas que

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precisam ganhar dinheiro ao sair da casa dos pais; o início precoce das atividades sexuais, que aumenta o risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis, além da gravidez que gera maiores nú-meros de abortos e a desestruturação familiar por ser uma gestação indesejada e não planejada.

Com o passar do tempo, cria-se a maturidade, mas isso não quer dizer que o perigo de viver diminuiu e nem que as escolhas serão mais fáceis. A única diferença é que quando estamos mais maduros o modo de encarar os obstáculos e as dificuldades fica mais prático e ameno.

O melhor jeito de viver bem é não ter medo de viver, é sonhar e estar com os pés na realidade, é amar o que somos e o que não somos, é saber o que é perigoso e fazer a escolha certa, é, simplesmente, viver!

Lucilly Mayza do - 2º ano

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 1 Coríntios 13:4-7”

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Somos aquilo que amamos?

A existência das pessoas vai além daquilo que é amado. É também integrada por experiências, medos, escolhas e, ironicamente, por parte daquilo que se odeia ou rejeita. Através das experiências o homem é lapidado paulatinamente, elas vão definindo-o. Por exem-plo, se o samba é melhor que o rock, se a simplicidade é melhor que o orgulho e se ler é melhor que dançar, entre outras particularidades de cada indivíduo.

O medo se origina das escolhas que somos obrigados a fazer durante nossa vida. Ninguém nasce sabendo que o fogo machuca até presenciar ou sentir a queimadura em sua própria pele.

Os medos, por sua vez, apesar de serem importantes para a sobrevivência, limitam o indivíduo. O temor de não ser amado faz com que o outro endureça o coração, e acaba por interferir nas escolhas que definem o que será o seu amanhã.

Todos, ou melhor, a maioria da população tem algo em si que não gosta, odeia, seja na questão estética ou na personalidade. Por fim tudo isso faz parte do ser e como somos sociáveis, um depende do outro.

As experiências geram os medos, que definem as escolhas, e nos fazem optar por amar ou odiar. Assim, somos mais do que aquilo que amamos.

Dulciene Lopes - 2º ano

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A Volta de João Batista

Eu estava começando a exercer minha profissão de poli-cial quando recebi uma ordem de meu superior para atender uma ocorrência. Eu, juntamente com mais dois colegas de trabalho en-frentamos várias horas de tráfego intenso até a Ponte do Limão, sobre o rio Tietê. Nossa missão era deter um homem chamado João Batista, que parecia ter uns quarenta e poucos anos. Apa-rentemente era um inofensivo

desempregado que dizia ser um personagem bíblico e viera para batizar as pessoas.

O cidadão submergia diversos fies naquelas águas imundas, para torná-los puros. Acredita?

Nunca tinha me deparado com uma cena tão bizarra, não sei dizer quem era mais maluco: as pessoas ao seu redor ou o homem que se passava por um Messias. Já fazia várias horas que aquelas pessoas estavam expostas a todo tipo de contaminação, sem falar das suspeitáveis intenções daquele meliante.

Para acabar com aquela confusão e tirar as pessoas daquela situação de risco acabamos levando o senhor João direto para dele-gacia. Daí para frente já não era mais minha responsabilidade, e não fiquei mais sabendo qual foi o paradeiro daquela santidade.

Jéssica Marcela Domingos de Oliveira - 2º ano

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Homenagem à Madrinha Iselene

Ser madrinha é comprometer-se a cuidar e proteger seus afi-lhados, e ninguém além de você tem feito por nós, tão a fio, o que essa definição sugere. Escolhemos você, porque plantaste, dentro de cada um aqui presente, um elo de sinceridade. Escolhemos você porque sempre nos cobrou o máximo, mesmo que não acreditásse-mos poder oferecer.

Do seu jeito maternal nos tratou como se fôssemos mais do que alunos, sua maneira extremamente exigente nos direcionou para as escolhas corretas. E por todos esses detalhes fazemos esse humilde convite, acredite, vai além de um momento em nossas histórias. Queremos eternizar a nossa formatura com a sua presença, você ficará eternamente gravada em nossos corações.

É apenas uma pequena gratidão por todo o conhecimento, risadas e puxões de orelha que nos deu. Por acreditar que um “obri-gado” seja pouco diante da plenitude que esse tempo juntos nos proporcionou, a elegemos como madrinha para fechar com chave de ouro essa caminhada tão importante que trilhamos até aqui.

Alunos do 3º ano

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Desenhos do aluno Jeferson Ramon da Silva - 9ª série

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Desenhos do aluno Jeferson Ramon da Silva - 9ª série

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Desenhos do aluno Jeferson Ramon da Silva - 9ª série

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Chapeuzinho Amarelo

Era uma vez uma menina conhecida como Chapeuzinho Amarelo. Em um dia chuvoso sua mãe pediu que ela levasse uma cesta de bolo para sua tia que morava no outro lado do bosque. Caminhando pelo bosque, a menina encontrou um urso.

– Aonde vai, Chapeuzinho? – per-guntou o urso.

– Na casa de minha tia levar uma cesta de bolo – respondeu Chapeuzinho.

– Muito bem menina, por que não leva flores também?Enquanto Chapeuzinho colhia as flores o urso correu para a

casa da tia da menina. Bateu à porta e imitando a voz de Chapeu-zinho pediu para entrar.

Assim que entrou, deu um pulo e devorou a pobre mulher inteirinha. Depois colocou a touca, óculos e se cobriu esperando Chapeuzinho. Aí, a Chapeuzinho muito esperta, olhou pela janela e viu que era o urso que estava na cama no lugar de sua tia. Ela viu um homem caçando ali por perto e falou que um urso havia comida sua tia. O caçador logo matou o urso e tirou a tia da barriga dele.

Apesar do susto que a tia passou, tudo acabou terminando bem! E para comemorar, a tia, o caçador e a Chapeuzinho fizeram um delicioso banquete com o bolo.

FIM

Gabriel Rodrigues Costa – 7ª série

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Um Naufrágio Inesquecível

Estava tudo pronto para a viagem de navio, juntamente comi-go embarcavam milhares de pessoas, homens, mulheres e crianças. O mar era muito frio e ao redor do navio havia algumas pedras de gelo. Todas as pessoas que estavam embarcadas, assim como eu, iam para Londres.

Eu fazia minha refeição noturna antes de ir dormir, enquanto em outros ambientes aconteciam muitas festas. A viagem já durava várias horas, estava indo tudo muito bem com as pessoas, o capitão e o estado do navio. Eu me encontrava maravilhada com a viagem e a oportunidade de conhecer Londres.

Passados dois dias, o navio começou a apresentar problemas, e o pior ainda estava para acontecer. No dia seguinte o navio chocou--se com um iceberg e partiu-se ao meio, atirando todas as pessoas para fora do navio na água fria e afundando em seguida. O acidente provocou a morte de toda a tripulação, infelizmente todo mundo desapareceu naquela imensidão de água salgada, menos eu.

Para sobreviver, nadei e subi em uma espécie de porta que boiava, uma das poucas coisas que restaram do navio, e fui remando até encontrar uma ilha deserta. Quando cheguei à ilha já era noite, o cansaço, o frio e a fome me dominavam, então deitei sobre a areia

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e perdi a consciência. Recobrei os sentidos e percebi que estava sozinha naquela pequena ilha deserta. Fui sobrevivendo comendo bananas e cocos. Passei dois meses alimentando-me basicamente desses dois alimentos e o que chegava pelo mar e encalhava na praia. Para suportar o frio me cobria com muita vegetação e quase congelava durante a noite.

Quando já havia perdido a esperança de ser encontrada, fui localizada por um avião. Voltei para casa feliz por ter conseguido sobreviver e também triste porque perdi muitos amigos naquele naufrágio.

Samira Caroline Duque Alves - 7ª Série

Ilustração: Wend Correia de Brito.

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Aventura Fantástica

Em um dia normal como outro qualquer, João e Maria foram brincar no porão da casa de sua avó. Depois de explorar bastante todo o ambiente, João foi jogar a boneca de Maria para ela e sem querer a boneca se prendeu em uma alavanca na parede. A parede do porão começou a se mover para trás, e uma grande porta de um túnel se abriu, rangendo.

– Joao, vamos chamar a vovó? Estou morrendo de medo! – disse a menina assustada.

– Maria, não vamos perder a oportunidade de ver o que tem lá dentro, vamos descobrir do que se trata, e depois comentamos com a vovó.

Depois de pensar um pouco a menina não resistiu ao apelo de irmão.

– Tá bom, então vamos, mas com muito cuidado e ao sinal do menor perigo corremos de volta!

As duas crianças, enfeitiçadas pela curiosidade, foram em di-

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reção ao túnel bem estreito, um lugar escuro, muito sombrio e de arrepiar.

– Maria, tenho que admitir que agora estou com medo tam-bém, este lugar é mesmo muito assustador.

– Vamos voltar então Joãozinho, minhas pernas estão tremendo igual vara verde.

Mesmo assim, eles continuaram andando pelo túnel, a curio-sidade vencia todos os temores.

Sem perceber o quanto andaram, chegaram a uma pequena sala com uma mesa ao centro e sobre ela, um livro grandão. O livro nem esperou eles chegarem perto e já sugou os dois pra dentro de si, como em um passe de mágica. Assustados, eles começaram a gritar. Eles notavam um punhado de personagens dentro do livro, mundos diferentes e cheios de histórias fantásticas, porém continuavam com receio. Depois de percorrer por diversos contos a uma velocidade incrível, o livro os jogou para fora novamente.

Ao saírem do livro, foram correndo para o porão, encantados com o acontecimento inesperado e com o coração batendo a mil.

Contaram toda a história para sua vó, e ela acreditando que tudo não passou de uma fantasia dos pequenos leitores, simplesmente falou que a leitura é muito importante e vale a pena, e que cada uma é uma viagem ao desconhecido.

Deste dia em diante os dois sempre abriam todos os livros que encontravam pelo seu caminho, e passaram a ter um gosto especial pela leitura.

Luara Caroline da Costa - 9ª série

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Fantástica Aventura

Em um lugar distante, o Vale dos Sonhos, existia uma garota, filha de uma costureira e de um lavrador, chamada Lílian. Os seus pais tinham que deixá-la só em casa para ir até a cidade mais próxima.

– Vamos amor, você vai se atrasar – disse a mulher tentando apressar seu esposo.

– Calma querida, antes vamos conversar com a Lílian, preci-samos avisá-la para não abrir a porta para estranhos.

Depois de todas as recomendações próprias de pais preocu-pados, o casal saiu para seus afazeres.

Nesse meio tempo em que Lílian ficou sozinha em casa, ela resolveu ler uma história chamada As Aventuras no Paraíso. Ficou inerte, percorrendo as páginas do livro.

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– Que belo livro! Amei vou ler ele inteiro! – A garota estava cheia de pensamentos e devaneios.

Depois de começar a ler ela viajou para um novo mundo cheio de fantasias e coisas superinteressantes, repleto de acontecimentos que ela amava.

A leitura a levou para um lugar maravilhoso, cheio de águas cristalinas, árvores com frutos, gramados verdes, um verdadeiro oásis.

Depois de algumas horas lendo, ela escutou alguns passos do lado de fora da casa e uma batida na porta. Assustada ficou sem saber o que fazer, porém do outro lado da porta surgiu uma voz tranquilizadora:

– Filha chegamos! – disseram os pais com uma voz reconfor-tante.

Então, infelizmente ela voltou ao mundo real, mas descobriu o quanto o mundo da leitura é maravilhoso e decidiu ler mais livros, já que antes ela não era tão interessada na leitura. Descobrindo que a prática da leitura é algo único e surpreendente, depois de receber os pais, voltou para o mundo fantástico da leitura…

Lara Almeida Vilela – 9ª série

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O sono

Em um dia normal, daqueles bem chato, tipo uma segunda--feira, eu estava sentada em um banco da pracinha e observei um moço que estava inquieto.

Ele andava pra lá e pra cá, parecia estar esperando alguém. Depois de um tempo, de tanto andar de um lado para o outro, acho que decidiu descansar um pouco e sentou-se em um banquinho perto de mim, ao meu lado.

Fiquei mexendo no celular durante um bom tempo, mais ou menos uma hora e meia, e observando as reações do rapaz. De repente uma moça se aproximou do rapaz rapidamente, como se tivesse muito atrasada para o encontro. Tamanha era sua ansiedade que nem percebeu que ele já havia caído em um sono profundo. A moça chamava-o insistentemente, e ele nada de acordar. Mas, de repente, ele falou algo dormindo:

– O que você está fazendo aqui? Eu não gosto de você! A moça encheu os olhos de lágrimas e saiu correndo. Naquele

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momento ela sentiu-se envergonhada e não percebeu que ele poderia estar falando de outra pessoa.

Decidi ir conversar com aquele moço para tentar ajudar em alguma coisa. Cheguei perto dele e perguntei o porquê dele ter falado aquilo com ela, e com os olhos fechados ele repetiu o mesmo que havia falado com a garota. Percebi, então, que ele estava dormindo e o acordei-o com alguns toques. O garotão acordou um pouco assustado e meio trespassado. Contei para ele o que havia ocorrido, ele ficou espantado e disse que estava sonhando, por isso falou aquilo tudo.

Nesse momento ele se levantou, agradeceu-me, e foi atrás da moça para pedir desculpas. Só espero que ela acredite na história de sonâmbulo dele e que fique tudo bem.

Quase que o Belo-Adormecido perde seu “crush” porque caiu no sono em plena praça pública!

Luara Caroline da Costa - 9ª série

Ilustração: Jeferson Ramon da Silva

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O Rancho da Pimenta

Há muitos anos atrás, os tropeiros faziam o trajeto das cidades de Formiga, Arcos, Bambuí, Piumhi e outras cidades da região em direção a um porto que existia em Santo Hilário, onde passava o Rio Grande. Esse porto tinha o objetivo de escoar e receber mercadorias. As tropas vinham carregadas de mercadoria da região como milho, gado, porco, banha, casca de barbatimão, galinha, peixe, entre outros produtos que descarregavam no porto. Também carregavam outros tipos de mercadoria como querosene, remédio, sal, tecido, ferra-mentas, utensílios de alumínio… Enfim, produtos manufaturados para o trajeto de retorno.

Durante o percurso, paravam em vários lugares para darem água aos animais, fazerem suas comidas e descansarem. Sempre es-colhiam os mesmos pontos para passarem a noite. Um desses pontos era às margens de um pequeno córrego na fazenda do senhor Rufino.

Para atender à necessidade dos viajantes, foi construído um

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rancho às margens desse córrego, que cortava um serrado onde era nativa a pimenta Cumarim. Para identificarem em qual ponto do trajeto iriam dormir, ou para se encontrarem com alguém, os tropei-ros davam aos ranchos o nome de alguma peculiaridade da região. Então, para esse rancho foi dado o nome de “Rancho da Pimenta”. Como o lugar tinha bom pasto para os animais e água abundante de boa qualidade, os tropeiros, mascates e viajantes sempre paravam ali para dormir, mascatear e descansar.

Muitos destes tropeiros faziam a rota até o porto de Santo Hilário. Para chegar até lá, havia uma passagem estreita entre mon-tanhas (Serra da Pimenta), onde as pequenas estradas que provinham de outras localidades terminavam ali e recomeçavam do outro lado. Nesse ponto, como era passagem obrigatória para quase todos, o governo fazia a cobrança de impostos de todas as mercadorias. Com o tempo, e no intuito de cortar caminho e fugir da cobrança de impostos, fizeram outra picada muito estreita, perigosa e de difícil acesso, pela qual passavam durante a noite para não serem vistos. A ideia dessa picada era dar mais lucro ao dono da tropa e aos tropei-ros, pois poderiam dividir entre eles o dinheiro que o dono da carga entregava para pagar os impostos.

Numa certa ocasião, veio uma tropa carregada de mercadoria da cidade de Formiga, que combinou de se encontrar no Rancho da Pimenta com uma tropa um pouco menor para irem descarregar no porto de Santo Hilário. Essa grande tropa, carregada com apenas dois produtos muito comuns no arraial da Pimenta e na cidade de Formiga, resolveu passar por este caminho à noite para fugir dos impostos. Com muito medo e cuidado, os tropeiros se aventuraram por esse caminho. Não era comum passar por ali com uma tropa muito grande, pois não dava para vigiar todos os animais ao mes-mo tempo e, se estragasse a mercadoria ou perdesse algum animal, era por conta dos tropeiros. Depois de muita tensão, conseguiram passar pela parte mais difícil e perigosa, então toda a tropa se reuniu novamente e comemoram o fato.

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Nesse exato momento, apareceram vários policiais acompanha-dos de um fiscal e, com tochas e candeeiros acesos, abordaram a tropa grande. O susto foi geral, pois os tropeiros não esperavam por isso.

O fiscal, muito bravo, achando-se o dono da situação, exigiu falar com responsável pela tropa. Perguntou para ele na maior falta de educação o que estava carregando. O encarregado dos tropeiros, meio trêmulo e gaguejando, respondeu que era “banha de Formiga” e “casca de Pimenta”. O fiscal ficou muito ofendido e, desgostando do que ele supôs ser uma sacanagem, mandou prender o tropeiro. Além de estar tentando burlar a lei para não pagar impostos, queria tirar sarro da cara de uma autoridade. Só aí, um dos tropeiros percebeu o engano que estava acontecendo e pediu ao fiscal para explicar. O fiscal, muito bravo e acobertado por policiais armados, não quis dar ouvidos e ameaçou prender todo mundo. Então, o tropeiro gritou alto para todos ouvirem: “É banha de porco da cidade de formiga e casca de barbatimão, usada para curtir couro, do arraial de Pimenta”.

O fiscal não acreditou na gafe que tinha cometido e todo mudo caiu na risada com o acontecimento, pois uma tropa daquele tamanho tirar banha de formiga e casca de pimenta para carregar era coisa impossível mesmo. Depois de verificar qual era realmente a carga que estavam carregando, o fiscal ficou um pouco envergonhado com os excessos que cometera e acabou deixando a tropa ir embora sem cobrar os impostos. Na verdade, tais produtos nem tanto valor tinham e o fiscal havia abusado de sua autoridade.

Com o tempo foram aparecendo outros ranchos, já que havia necessidade de espaço, pois, a cada dia paravam mais pessoas. Essas pessoas reparavam as ferraduras dos animais, reorganizavam as cargas, compravam e vendiam, carregavam e descarregavam os carros de bois, cavalos e mulas. Os violeiros afinavam as suas violas, os cantores as suas gargantas e os peões ajeitavam as suas traias. Depois, foram aparecendo as primeiras casas e comércios para atender à necessidade dos fazendeiros locais e viajantes que passavam por ali. Várias famílias foram criando raízes e começaram a chamar a localidade de Arraial

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da Pimenta, que muito tempo depois se emancipou, tornando-se a cidade de Pimenta.

Esse “causo” saiu de boca em boca, era contado pelos tropeiros da região e, com o ocorrido, o Arraial da Pimenta não poderia ter outro nome no futuro a não ser Cidade de Pimenta. Muitos anos depois, veio a represa de Furnas que inundou o córrego, parte da Cidade de Pimenta e todo o arraial de Santo Hilário, acabando com o porto. Foram construídas pontes e estradas, o que modernizou o transporte da região. Com isso, foi acabando a profissão de tropeiro e as tropas pararam de percorrer a região. O antigo Zé Carreiro, também apelidado de Mazzaropi (apelido falado apenas nas suas costas), foi quem me contou essa história que ouviu de outros carreiros.

Kennedy Pimenta

Ilustração: Andreas Louis Cousin - 7ª série

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Ilustração: Wend Correa de Brito - 9ª série

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O Cavalo Negro

Um empregado de mão cheia trabalhava em um campo aberto, arando a terra, plantando para sustentar a fazenda e principalmente sua família. O nome do trabalhador era Henrique e o sonho dele era ter um cavalo e participar das corridas que sempre assistia em sua cidade.

O patrão de Henrique, o dono da fazenda, admirava o trabalho do moço: plantação grande e extensa, colheita aperfeiçoada, estoques grandes de comida, animais da fazenda bem-tratados etc. Um dia o fazendeiro decidiu premiá-lo com o tão sonhado animal, comprou um garanhão Negro com crina alta, rabo comprido, raça raríssima, um verdadeiro puro-sangue.

Depois que recebeu o presente, a rotina de Henrique como jóquei começou. Semanas de treino e bastante suor. A vida entre o trabalho e as corridas estava bem difícil. Os dias foram passando, o homem e o animal, o Relâmpago Negro, tonaram-se uma grande dupla.

Alguns meses depois, venceram várias corridas e ganharam muitos prêmios e numerosas medalhas. Mas o que ele não sabia é que algo ruim estava para acontecer na mais importante competição.

O corredor classificado em quarto lugar ficou enciumado de perder a corrida, então planejou vingança. No meio da corrida, o cavaleiro rancoroso sacou uma arma e atirou no peito de Relâmpago Negro. A dupla caiu na pista de corrida e Henrique, desesperado, tentou de todas as formas reanimar o pobre cavalo, mas já era tarde demais. Enquanto isso, o assassino saiu em disparada em seu animal e ninguém mais teve notícias deles.

Descanse em paz, escuro campeão!

Andreas Louis Cousin - 7ª série

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Ilustração: Gabriel dos Reis Lopes

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O Quilombo dos Carrancas

Numa região bastante montanhosa, de fauna e flora abundantes, havia o quilombo dos Carrancas, à beira do rio São Francisco, composto por vários negros que fugiram da escravidão, provenientes de várias fazendas. Próximo a esse quilombo, a uns seis quilômetros de distância, havia a tribo indígena Guararás,

nativos e donos das terras desta região. Em uma época bem remota aconteceu a lenda que vou narrar para vocês.

Grandes guerreiros conseguiam manter o Quilombo dos Car-rancas livre dos ataques inimigos – dos Capitães do Mato e índios – graças a sua astúcia e ao difícil acesso ao local onde ficavam quase confinados: todo cercado por enormes pedreiras intransponíveis, e uma praia de águas turbulentas e traiçoeiras que sumiam por baixo das pedras gigantes.

Só dava para chegar até o quilombo navegando pelas águas do Rio São Francisco, ou por meio de uma passagem secreta entre as rochas que dava para o lado externo. Esta passagem foi descoberta por acaso, por um dos moradores mais antigo do quilombo. A mata em volta da fortaleza era dominada pelos índios e ocasionalmente por patrulhas em busca de negros fugidos.

Essa passagem era mantida em segredo e revelada somente a alguns membros mais importantes do quilombo. O processo para

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se revelar esse segredo a um novo membro era feito em um ritual perante as carrancas. Nesse evento eram testadas todas as habilidades e limites do guerreiro em suportar a dor, prerrogativa necessária a uma possível captura e tortura para revelar como se entrava na for-taleza defendida por eles.

Essa passagem secreta começava em uma pequena gruta no fundo do quilombo, na qual havia um minúsculo poço de águas bem escuras, que ficava tampado por uma enorme pedra, pesada e bem disfarçada. Para se ir adiante, era necessário mergulhar nesse poço e depois de uns cinco metros mergulhando, saia-se em outra caverna que dava acesso ao rio e ao mundo exterior.

A área do quilombo era rodeada de paredões de pedras altís-simas por todos os lados, com formação negativa dando origem a um grande teto o qual servia de abrigo. O outro lado da fortaleza dava para o rio em uma pequena praia, num ponto em que havia corredeiras bem fortes.

O rio São Francisco descia caudaloso, e parte de suas águas desparecia por debaixo das rochas, onde formava um redemoinho. Aquele lugar tornou-se conhecido e perigoso, pois tudo que se apro-ximava das rochas, naquela margem, simplesmente desaparecia, su-gado pelas águas.

Portanto, quem quisesse descer o rio em segurança teria que seguir pela margem oposta ao Quilombo, ou vir direto para a praia sem descuido, o que tornava o indivíduo vulnerável e exposto aos negros Carrancas. Aquela fortaleza era constantemente vigiada por seus guerreiros, noite e dia sem o menor vacilo. Como tinha somente uma entrada pela água, era difícil serem atacados de surpresa pelos inimigos.

Os moradores do quilombo viviam da pesca e da caça que eram fartas naquela região. Esse excelente abrigo era motivo de vários conflitos em virtude do conforto e da proteção que tinham naquela pequena fortificação natural.

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Para segurança e sobrevivência dos Carrancas, uma fogueira era mantida constantemente acesa para o preparo dos alimentos, suas danças e oferendas aos deuses. Grandes esculturas de madeiras, deno-minadas Carrancas, eram colocadas de frente para rio, cujo objetivo era espantar os maus espíritos, inimigos e os caboclos d’águas. Esses caboclos tinham a reputação de engravidarem as moças virgens, e afundarem as embarcações ao longo do rio São Francisco.

Segundo as crenças dos quilombolas, quanto mais feias fossem as carrancas, mais espantavam o mal que se aproximasse do Quilombo ou de suas embarcações, nas embarcações, as carrancas ficavam em destaque na proa. Já as fogueiras, eram usadas para os aquecerem do frio e era nelas que acendiam suas flechas para atacar qualquer embarcação que se arriscasse a chegar perto sem a devida permissão.

Ao primeiro alarme, disparado pelo vigia sobre perigo eminente, todos os guerreiros, como que por encanto, apareciam de todos os lados e se punham em formação para a batalha, prontos para atacar. Até então, não tinham sofrido derrotas nas batalhas, que se tornavam cada vez mais frequentes.

O lugar oferecia uma considerável proteção contra o ataque de animais e de intempéries, como chuva e frio.

Como era de costume, ao anoitecer, pela passagem secreta saíram quatro dos melhores caçadores em busca de alimentos. Assim que mergulharam e sumiram nas águas, a boca do poço foi bloqueada com uma enorme pedra. A saída de maior número de guerreiros colocava em risco a passagem secreta e, consequentemente, o qui-lombo. Em duplas, sumiam na mata, rapidamente, como fantasmas negros e quase invisíveis.

A dupla formada por Zaki e Taú, depois de se afastarem bem da passagem, tiveram problemas. Foram emboscados por um grupo de índios, a luta seria demorada e só terminaria quando houvesse um vencedor. Porém, Zaki, mesmo ferido, conseguiu se livrar dos seus inimigos e fugiu. Já seu amigo Taú não teve a mesma sorte, foi capturado e imobilizado pelo grupo inimigo.

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A outra dupla escutou os ruídos da luta e com muito cuida-do, para não serem vistos, rumaram para a passagem. Era lei entre eles que, se alguém fosse pego, os outros voltariam, o mais rápido possível, para elaborarem um plano para o resgate. Era a única for-ma de preservarem a vida e o segredo da passagem. Zaki sabia que cometera um grande erro permitindo serem vistos e, pior, Taú foi capturado vivo apesar de um pouco ferido. Zaki estava muito longe da passagem, tinha que voltar com muito cuidado.

Taú, depois de uma longa caminhada, foi levado ao chefe indí-gena Roani, da tribo dos Guararás, que se localizava a uma légua do quilombo dos Carrancas. Logo começaram a interrogar e a torturar o prisioneiro, pois queriam saber como chegar até o quilombo por um caminho que não fosse o rio. Pelo rio, provavelmente, ele não teria saído. Taú sabia que se abrisse a boca, além de morrer, todos de seu povo também estariam em perigo. Roani contava com muitos índios bem armados, e só não tinha exterminado o quilombo, pois em barcos pela água ficavam muito vulneráveis. Em todas as tentativas que haviam feito não obtiveram sucesso. A descoberta da passagem que levava ao quilombo seria, com certeza, a vitória.

Não conseguindo arrancar nenhuma informação de Taú, mesmo debaixo de muito sofrimento, levaram-no para frente do quilombo dos Carrancas, do outro lado do rio. Amarraram-no em um tronco para que todo o quilombo visse o que aconteceria se ele não entregasse o segredo dos Carrancas.

Os três caçadores guerreiros voltaram para tribo e contaram para o chefe do Quilombo, Zaci, o que havia acontecido. Zaki, seu filho, podia ver nos olhos do pai o desespero. Cuidaram dos feri-mentos de Zaki, enquanto as mulheres lidavam com a pouca caça e alimentos que a outra dupla havia trazido. Todos no quilombo estavam alarmados e impotentes diante daquela situação. A passagem secreta foi bloqueada para que ninguém tivesse acesso ao quilombo caso fosse descoberta, ou caso Taú não resistisse às torturas e a revelasse.

O bloqueio era feito por uma enorme pedra empurrada por

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alavancas e depois calçada do lado de dentro do quilombo. Todos os guerreiros estavam a postos observando os acontecimentos e esperando as ordens do chefe Zaci sobre o que fazer. Saírem dali por água para tentar libertar Taú era suicídio, e era o que os inimigos esperavam.

Zaci chamou seu filho Zaki e se prepararam para partir, utilizan-do a passagem secreta sob as ordens de que ninguém mais deveria sair dali, independentemente do que acontecesse. Apesar dos ferimentos, Zaki era um excelente guerreiro, e o chefe do quilombo, um homem de coragem, escolheu o próprio filho para que partissem em uma missão quase impossível. Num ato de ousadia, que provavelmente custaria as suas vidas, pintaram-se com as cores da guerra, oraram aos pés das carrancas e imploraram sua proteção. Sabiam que se não voltassem antes do dia nascer, também seriam pegos e torturados até a morte, e Taú provavelmente já estaria morto devido às torturas. O chefe pediu ao curandeiro benzedor que pegasse veneno para os dois, pois se fossem apanhados sabiam que deveriam usar. Xoloni, o filho mais velho de Zaci, ficaria em seu lugar e tentaria negociar com os inimigos e ganhar o máximo de tempo possível até que o pai e irmão voltassem ou não.

Os dois partiram e a passagem foi outra vez bloqueada e só seria aberta com o retorno dos dois. Já do outro lado, na floresta completamente escura, pai e filho sabiam o que tinham que fazer. Precisavam capturar alguém que servisse como moeda de troca, ou sacrificar o amigo Taú que estava nas mãos do inimigo, o que poderia custar a vida deles também. Rumaram para a tribo dos Guararás que ficava a uma légua dali, tomaram um caminho diferente do usual, atravessaram o rio a nado e subiram na margem oposta o mais rápido que puderam. Na caminhada de ida Zaci falou a Zaki:

– Precisamos capturar um refém de menor tamanho possível!– Sei disso, meu pai, pois seria impossível transportar um

adulto.– Mesmo sendo contra nossos princípios, terá que ser uma

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criança – disse o chefe. – Não gosto nada disso, mas precisamos salvar Taú.

– O plano é o seguinte: você, Zaci, captura a criança, e eu coloco fogo em uma das palhoças no ponto oposto de sua ação. Enquanto a tribo se preocupa em apagar o fogo, nós fugimos e quando derem falta da criança, já estaremos longe.

Algum tempo depois, estavam de frente para a tribo dos Gua-rarás que tinha vários guerreiros em sua vigilância. Como era um descampado aberto, havia vários pontos vulneráveis. Pai e filho po-sicionaram-se contra o vento para não serem percebidos pelos cães.

– Pai, eu vou à palhoça de onde aquela criança está entrando e saindo.

– Meu filho, eu vou do lado oposto, onde tem a fogueira e atearei fogo na oca mais próxima. Se der tudo certo, vamos nos encontrar aqui, se algo sair errado, já sabe o que fazer.

Arrastaram-se até conseguir chegar bem perto de seus alvos, e mesmo em pontos opostos um conseguia perceber o outro. A criança saiu da oca e andou uns cinco ou seis metros até um monte de lenha que estava empilhado, apanhou um graveto e correu, novamente, para a palhoça. Foi o tempo de Zaki escorregar como um felino e se esconder atrás do monte de lenha, daí a pouco veio a criança novamente. Foi um golpe certeiro e rápido, a criança já estava em suas mãos desmaiada ou morta, não dava para saber ao certo. O pai de Zaki já tinha se posicionado do outro lado da tribo dos Guararás. Quando percebeu o êxito do filho, colocou fogo em uma oca, que ficava do lado oposto do qual fariam a fuga.

Os dois se afastaram rapidamente, antes do fogo se alastrar, e se reencontraram no local combinado. Ali perceberam que a criança estava viva, mas ainda desmaiada. Logo os índios dariam falta da criança, por isso precisavam voltar o mais rápido possível. Amor-daçaram a criança que foi colocada nas costas de Zaci. Quando atravessavam o rio, a água fria reanimou a criança, ela se mexeu

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com dificuldade devido às amarrações e à mordaça. Zaki percebeu no rosto da menina o pavor estampado e a incredulidade do que estava acontecendo. Eles, no entanto, eram acostumados a uma vida dura, o coração já estava calejado, e seu amigo estava em frente a sua aldeia precisando de socorro.

Na tribo, a mãe escutou barulhos e saiu para ver o que ocorria. Percebeu que havia fogo em sua aldeia e a sua criança não estava por perto. Correu para onde apagavam o fogo e o alarme do sumiço da criança foi dado. Dividiram-se na busca da criança que poderia estar em um qualquer lugar, e também na tarefa de apagar o fogo. Ninguém poderia imaginar a ousadia do inimigo diante de uma situação dramática. Como era noite, não dava para ver as pegadas; os cães latiam desorientadamente e ninguém percebeu de imediato o que ocorrera.

O chefe Zaci era realmente muito corajoso, não temia a morte e sabia que tinha que responder à altura se quisesse manter o respeito do inimigo. No caminho de volta, não tiveram muitos atropelos, apenas o cansaço, e logo estavam solicitando o desbloqueio da pas-sagem secreta através de sinais preestabelecidos. Já, do outro lado, tornaram a bloquear o acesso para o quilombo. Logo o sol começou a nascer e a criança foi libertada na beira do rio. Ela começou a chorar em total desespero. Colocaram-na de forma que o outro lado a visse. Quando começou a gritar o nome da mãe, os índios perceberam o que havia acontecido.

Alguém veio da tribo dos Guararás com mais informações sobre o rapto da indiazinha. Índios e negros começaram a preparar a negociação para a troca. Zaci havia conseguido, temporariamente, a salvação de seu guerreiro Taú, e uma pequena trégua. Ambos reféns foram colocados em barcos que navegavam para o meio do rio onde seria feito a troca. Não havia perigo de alguma parte aprontar uma surpresa para a outra, pois o meio do rio era vulnerável às flechas dos dois lados. Os dois chefes Roani e Zaci estavam nos barcos para garantir a segurança da troca dos reféns. Taú havia sido muito

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torturado, mas aguentou firme. E assim que souberam da captura da criança trataram de reanimá-lo, pois, se ele morresse, a criança também morreria.

Os chefes fizeram a troca dos reféns. Zaci, então, disse a Roani:– Precisamos de paz entre nossos povos ou, do contrário,

muitos morrerão. Estamos aqui fugidos da escravidão, não temos para onde ir.

– Essa região nos pertence há muitos anos e vocês são os in-vasores. Não os queremos aqui, trazem má sorte ao nosso povo e o homem branco virá atrás de vocês e nos trarão problemas também.

– Nós fomos capturados e vendidos como escravos e não nos restou outra opção a não ser fugir para esta região. Aqui vocês tam-bém são inimigos deles, além de terem difícil acesso para os nossos captores.

– Não estamos dispostos a dividir nossa terra com seu povo. Vocês têm dois dias para abandonarem nossa terra em segurança ou, do contrário, mataremos todos vocês ou qualquer um que vier a nossa terra.

Os barcos voltaram para as devidas margens e Zaci sabia que pelo semblante do seu rival não teria paz; de agora em diante a ten-são seria grande entre eles. Durante o dia ninguém do quilombo de Zaci poderia sair devido à vulnerabilidade do cerco, mas à noite, seriam obrigados por uma questão de sobrevivência. As opções não eram muito boas: de um lado a escravidão os aguardavam, do outro o eterno combate com os nativos daquelas terras.

Os Carrancas tinham uma pequena vantagem sobre o inimigo, sempre foram obrigados a sair à noite para caçar, buscar alimentos e atender as demais necessidades de sua gente. Eram muito melhores à noite do que a tribo rival. Poucas vezes arriscavam sair durante o dia pelo rio com seus barcos, e mesmo assim só depois de escalarem parte da encosta das pedras e avistarem toda a região.

Numa reunião com os guerreiros do quilombo, Zaci deu o

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recado de Roani para todos e, por unanimidade, resolveram que não entregariam sua fortaleza. Os índios teriam que conquistá-la com guerra e matar até o último dos Carrancas; morrer ainda seria melhor do que a humilhação da escravidão.

Aquela noite foi de festa e de muita comemoração pelo regresso de Taú e, como de costume, soltaram várias carrancas boiando rio abaixo, pedindo a proteção dos deuses. As aldeias, arraiais e tribos ribeirinhas muitas das vezes recolhiam as carrancas do rio e as pren-diam em seus barcos como troféus e amuletos da sorte. Corria à boca miúda que as carrancas protegiam os barcos e seus donos de toda má sorte, inclusive do caboclo d’água que vivia afundando barcos da região e deflorando as virgens.

Como num piscar de olhos, quatro dias se passaram e os dois lados se prepararam para a guerra, cada qual com suas estratégias. O prazo para deixarem a região havia vencido e o iminente ataque aos Carrancas poderia acontecer a qualquer momento.

No quinto dia pela manhã, Roani estava na margem oposta ao quilombo e preparava um ataque com barcos.

Como os negros do Quilombo das Carrancas não abandona-ram sua fortaleza, foram sitiados e, por água, não tinham como sair, somente poderiam utilizar a passagem secreta. Alguns índios tentaram a travessia por água, mas quando chegavam ao meio do rio, recebiam uma saraivada de flechas e acabavam voltando. Poderiam tentar des-cer pelas encostas de pedra utilizando cordas, porém, seriam presas fáceis. Roani resolveu fazer um ataque de cima das rochas, em dois pontos de acesso fáceis, pelo lado exterior. Realmente surtiu efeito e houve baixa dos dois lados. Alguns índios foram alvejados e caíram de cima das rochas, espatifando-se lá embaixo. Pelo lado de dentro, as rochas eram escaladas até certa altura e várias carrancas ocupavam pontos estratégicos como meio de defesa, de onde podiam ver boa parte da região e a formação do ataque. Durante quase um mês as coisas mudaram muito pouco, porém, os estoques de comida e as armas dos Carrancas foram diminuindo drasticamente.

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Zaci pensou em bater em retirada com todos do quilombo pela passagem secreta, que até então havia sido utilizada por poucos membros do quilombo. Mas a região toda estava bem vigiada e não conseguiriam ir muito longe. Cada dia que conseguiam defender a fortaleza era comemorado e novas carrancas desciam o rio em pedido de socorro aos deuses.

Traçaram, então, a estratégia de uns poucos ficarem sobre o comando de Zaki para defender o local, enquanto o restante tentaria um ataque à tribo dos Guararás. As mulheres e crianças fugiriam para um lugar conhecido que ficava bem distante, e aguardariam até que houvesse segurança para o retorno. Se fossem apanhados na fuga, seria o fim do quilombo. Refizeram e estudaram todo o plano, usariam disfarces para dar a impressão de que a fortaleza estaria sendo guardada por muitos.

Quando chegou a noite de executarem o plano, estavam todos muito tensos e preocupados, mas não havia outra solução. Apro-veitando a escuridão da noite, quase todos saíram pela passagem secreta usando cordas para guiar quem nunca havia feito aquilo. A passagem foi então e bloqueada, ficando apenas alguns Carrancas em pontos estratégicos para defender o quilombo. Até certo ponto, os que saíram do quilombo andaram juntos, afastando-se o mais rápido possível, distanciando-se rumo ao outro local onde idosos, mulheres e crianças ficariam escondidas. Depois se despediram e se dividiram: mulheres, crianças e velhos seguiram para o seu destino e os guerreiros que os acompanhavam voltaram rumo à tribo dos Guararás para um ataque.

A tribo dos Guararás não deveria estar muito bem protegida, pois a maioria dos índios estava no cerco do quilombo. A região tinha alguns índios como vigia, mas os Carrancas sabiam de várias rotas para chegar à tribo, e o melhor batedor ia à frente, escolhendo o caminho.

Atravessaram o rio e subiram para a tribo. Se tivessem sucesso, retornariam para defender o seu quilombo. Quando chegaram perto

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da tribo dos Guararás, o chefe Zaci deu ordens para que fizessem um cerco e se aproximassem o máximo possível das ocas dos índios que ali ficaram. Ateariam fogo e atacariam sem piedade a todos que ali estivessem: crianças, mulheres e velhos. Retornariam o mais rápido ao outro lado do rio e fugiriam de volta ao quilombo.

Ao comando de Zaci, todos acenderam suas tochas e as atira-ram sobre as ocas mais próximas, dando início ao ataque. A morte se espalhou pelos dois lados, a tribo estava um pouco protegida e a luta foi igual. Depois de alguns minutos, ao comando de Zaci, os que puderam partiram em retirada, outros tombaram diante das flechas de ambos os lados.

As baixas dos guerreiros de Zaci foram muitas, e a tribo dos Guararás também ficou em péssimo estado. Havia muitas crianças, mulheres, velhos e guerreiros mortos ou se contorcendo de dor pelo chão. A missão de Zaci tinha dado certo, porém, ele fora atingido, e o sangue escapava do seu corpo, já não conseguia acompanhar o grupo. Não tinha mais salvação para ele, aninhou-se atrás de uma árvore e ordenou que os outros retornassem imediatamente. Ele ficaria e, até a sua morte, lutaria com os que tentassem capturá-lo. Tomou o veneno que o mataria em algum tempo, contorcendo-se de dor pelos ferimentos e aguardando a chegada de sua morte agora inevitável. Instantes mais tarde percebeu a chegada do inimigo, o primeiro tombou com uma flechada no peito. Os demais pararam e se esconderam em sua volta. A noite estava muito escura e, por alguns instantes, nada se moveu. Com a flecha armada em suas mãos esperava por sua próxima vítima; jogou uma pedra a certa distância de onde estava e ela foi seguida por várias flechas. Com muita dificuldade viu um vulto entre os arbustos: mais um corpo tombou num grito pavoroso.

Os índios perceberam onde ele estava. Começou o cerco, es-cutava os movimentos longe da sua visão e sabia que a única coisa que podia fazer era atrasá-los ao máximo. Ficou imóvel e preparado para o pior. Algo se moveu, sua flecha saiu na mesma direção, mas

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desta vez só ouviu o barulho da flecha cortando a vegetação. Várias flechas vieram em sua direção.

Zaci foi atingido na perna e no pé, mas não saiu o menor som de sua garganta e sua flecha, logo em seguida, fez mais uma vítima. O seu tronco e cabeça estavam protegidos pelas árvores, teriam que vir pegá-lo. Não sentia mais dor, a hemorragia e o veneno o colo-caram em transe e as árvores o amparavam. Os índios perceberam que se atacassem mais, alguns morreriam. Para evitar mais mortes, colocaram fogo em volta do local onde ele estava. Em questão de minutos o fogo o alcançara já sem vida e o transformara em um monte de cinzas.

Não havia motivo para o grupo de índios continuar seguindo os Carrancas fugitivos, eles já estariam longe, e poderia acarretar em várias baixas. Regressaram à tribo para socorrer os feridos, e já encontraram Roani e alguns índios que faziam o cerco junto aos seus. Não podiam acreditar em um segundo ataque, afinal os Car-rancas estavam cercados. Mas mesmo assim eles conseguiram sair de lá. Por onde teriam passado? Era quase impossível furar o cerco montado, certamente algum índio foi morto ou não cumpriu direito sua guarda…

Neste momento os sobreviventes atravessavam a passagem secreta sem seu chefe Zaci e vários outros que morreram no com-bate. Novamente a passagem secreta foi bloqueada. Agora, estavam em número reduzido, mas o suficiente para guardar o quilombo. Sem as crianças, mulheres e velhos para dividir a comida restante aguentariam mais um tempo. As coisas para a tribo dos Guararás também não estavam boas, Roani ficou irado ao ver muitas de suas crianças, mulheres e anciões mortos.

Os Guararás preparam os rituais funerários e enterraram sua gente durante todo o dia, só no dia seguinte fariam uma represália ao acontecido.

Do outro lado, Zaki não tinha o corpo do pai e os demais guerreiros mortos para os rituais fúnebres, e foi obrigado a assumir o

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lugar de chefe. O seu irmão mais velho, Xoloni, também não retor-nou do ataque. Aterrorizado com sua responsabilidade, preocupado com os que haviam saído do quilombo para se esconderem em outro local, ajoelhou-se e pediu ajuda dos deuses.

Dançaram em volta das carrancas em pedido a um milagre, e em homenagem aos seus bravos guerreiros mortos. Aguardar os acontecimentos era a única alternativa que lhe sobraram, o resto da noite e o dia seguinte pareciam intermináveis, a ansiedade para sair dali e verificar como estavam os membros do quilombo que bateram em retirada era enorme.

Roani jurou vingança e não descansaria enquanto não ma-tasse todos os Carrancas. Sob as ordens de Roani, as buscas foram intensificadas por toda região, alguns índios encontraram pegadas, o que acharam muito estranho. Desconfiados de que alguns Carran-cas tinham deixado sua moradia, começaram a procurar por toda a região, até que, finalmente, encontraram o esconderijo.

O chefe Roani ordenou que fizessem um cerco e capturassem todos, só que não contavam com a reação de velhos, crianças e mulheres. Os Carrancas haviam montado uma estratégia de defesa e vários, que ainda conseguiam manusear arco e flecha, estavam escondidos, vigiando os demais, o que surpreendeu os índios em uma emboscada. Houve um conflito entre eles, o qual resultou na morte de vários índios e de todos os Carrancas que estavam naquele esconderijo.

No quilombo, Zaki estava muito desconfiado daquela calmaria e decidiu que à noite sairia em busca de notícias da sua gente. Saiu pela passagem secreta sozinho e, com toda a precaução para não ser visto, depois de algumas horas de caminhada, avistou o local onde estava sua gente. Não havia ninguém montando guarda e nada de fogueiras acesas. O seu coração gelou de terror pressentindo o que teria acontecido. Saiu em desespero para averiguar sua suspeita e o que encontrou o fez entrar em prantos: não havia nenhum sobrevivente.

O desespero tomou conta de sua alma e ficou de joelhos com

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os olhos esbugalhados sem reação, teve vontade de esganar todos os seus inimigos. Ficou algum tempo perambulando entre os mortos sem saber o que fazer, não podia deixar os corpos jogados sem um funeral digno. Juntou um monte de lenha seca, empilhou os corpos um por um e se despediu em oração. Colocou sobre a pilha de cor-pos uma pequena carranca que havia dependurada em seu pescoço e ateou fogo.

Teve que ir embora o mais rápido possível antes do dia nascer e a fumaça o denunciar. Sua chegada ao quilombo foi desoladora e todos os seus comandados puderam ver em seu rosto o que havia acontecido. Pintou-se em cores tristes e traços tortos, estampando o estado de seu espírito. Em volta das carrancas, na clareira da fogueira, cantaram o seu canto de vingança e dor. Tomar uma decisão seguida pela emoção só resultaria em mais tragédia, estavam em número muito menor do que os seus inimigos.

Zaki disse aos guerreiros sobreviventes que se alguém quisesse fugir, o momento era aquele, os que ficassem, provavelmente, lutariam até a morte. Nos dias que se seguiram não tiveram notícias de seus inimigos, mas sabiam que era uma questão de tempo para voltarem e lutarem até conseguirem matar todos os Carrancas.

Começaram a sair em pequenos grupos, montaram várias ar-madilhas em volta do quilombo e dentro também, pois sabiam que a fortaleza seria tomada a qualquer custo. Continuaram a montar guarda, esperando o ataque final, que em um triste dia pela manhã chegou.

Vários barcos cheios de sanguinários matadores começaram a travessia do rio, só restava a alternativa de lutar até a morte. Os barcos indígenas foram chegando em grande número, flechas voa-vam por toda parte, muitos caiam mortos ou feridos de seus barcos que desciam o rio sem destino e eram tragados pelo redemoinho, sumindo por debaixo das pedras.

O combate corpo a corpo no quilombo começou e vários guerreiros dos dois lados lutaram até a morte. O número de inimigos

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dentro do quilombo foi aumentando e os Carrancas diminuindo, até só restar os que estavam em pontos estratégicos nas encostas das pedreiras, onde era possível escalá-la internamente.

Os índios começaram a escalar a pedreira em busca dos últi-mos Carrancas. Quando formaram uma fila indiana pela encosta, algumas pedras foram jogadas em cima deles. Alguns conseguiram chegar e tomar os pontos estratégicos, até que só restou Zaki, ainda armado com flechas e resistindo às investidas. Estava em um ponto na pedreira sobre o rio, o acesso era muito difícil e ele resistia bra-vamente, todos que conseguiam chegar perto dele recebiam a morte como presente. Agora, sobrou apenas sua faca, já não tinha mais armas para lutar. Cansado e ferido, olhou para as carrancas e pediu para ser morto o mais rápido possível. Os índios queriam pegá-lo vivo, e quando o cercaram por todos os lados disse a si mesmo que não seria apanhado, jogando-se do alto do penhasco dentro do rio.

A corredeira começou a arrastá-lo para o redemoinho e ele, sem forças, começou a afundar e sumiu por baixo da pedreira. Era o fim do último dos Carrancas. Debateu-se e tentou várias vezes buscar uma saída, mas seus pulmões foram se enchendo de água e suas forças já minguadas. Arrastado pelo rio, era jogado contra as pedras. Seu corpo foi arremessado à superfície, buscou uma última respiração e se viu em um bolsão de ar dentro de uma caverna pequena. Segurou-se como pôde para não ser arrastado pelo rio novamente; para sua sorte sua roupa se enroscou em paus e pedras.

Tossindo ficou ali, sem forças para se mover e tentando levar ar aos pulmões, voltavam ar e água pela boca e pelo nariz. A consciência vinha e desaparecia rapidamente em vertigens. Num último esforço, Zaki se jogou em cima das pedras e apagou. Quando retomou a consciência sentia muito frio e fraqueza devido ao sangue que havia perdido. Na tentativa de se levantar para ir a um lugar mais seguro, começou a vomitar água e, novamente, perdeu a consciência.

A dor e o frio logo o trouxe de novo a vida. Agora, estava tudo escuro e não tinha noção de onde estava. Na ânsia da sobrevivência

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arrastou-se para longe da beira da água, e quando percebeu que não corria mais risco de cair no rio, entregou-se ao cansaço e entorpeceu. Muitas horas depois, acordou em desespero, tentando lembrar o que acontecera e ter noção de onde estava. Aos poucos foi voltando a sua memória o que lhe havia ocorrido. Alguns ferimentos estavam inchados e latejando. A revolta e o desespero pela perda de sua gente o deixavam muito abatido e desanimado. O que ainda o consolava eram alguns raios de sol que penetravam através de minúsculas fendas da caverna, deixando-a um pouco menos escura. Podia se ver o rio que brotava sob uma pedra e sumia em outra a poucos metros abai-xo. Sobre sua cabeça, um teto de pedra sem saída, apenas pequenas frestas deixavam entrar oxigênio e raios de luz. O rio trazia muitas folhas, paus, enfim, tudo que sumia em um redemoinho vários metros acima. Sua vista correu todo o ambiente, que não era muito grande, em busca de uma saída, de uma fenda maior que pudesse lhe dar alguma esperança de escapar dali.

Enquanto isso, os vitoriosos procuravam, por toda parte, uma saída do quilombo que não fosse por água. Em suas buscas perce-beram a enorme pedra calçada por paus e pedras e coberta de car-rancas. Depois de muito esforço conseguiram remover a pedra e se deparam com um pequeno poço de águas escuras. Não conseguiram entender que era ali a saída, acharam que era um lugar de cultuar os deuses. Essa saída também não tinha mais importância, Roani e seus aliados tomaram posse do que restara do quilombo e alguns objetos foram jogados no rio, assim como os mortos rivais. Todas as carrancas foram atiradas rio abaixo. Fizeram uma verdadeira limpeza no quilombo, tudo que não era útil ou fizesse referência aos antigos donos era jogado no rio.

Zaki, em sua catacumba, percebeu que muitas coisas apare-ciam e desapareciam no pequeno espaço do rio que corria dentro da caverna, e começou a juntar as coisas que passavam dentro daquele minúsculo poço: paus, bambus, folhas de coqueiro, coco, animais,

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peixes e corpos. Reconheceu um dos seus que boiou por instantes e foi levado pelas águas.

Os ferimentos de Zaki estavam inchados, com alguns focos de inflamação e tinha um pouco de febre. Quando a temperatura subia muito, banhava-se na água fria para melhorar. Na caverna havia também morcegos. Utilizando paus e pedras, Zaki conseguiu abater alguns. Era um dos poucos alimentos, e apesar da repulsão, conseguia comer o suficiente para se manter vivo. Pequenos cocos foram apanhados, partiu-os ao meio e comeu a castanha que não estava com um gosto muito bom.

Os dias passavam lentamente e à noite dormia muito pouco. Até então não vislumbrara uma forma de sair dali, lhe faltava coragem e forças para mergulhar nas águas, pois não sabia a que distância estaria a saída.

De repente, apareceu boiando na água uma minicarranca, ele a apanhou antes que sumisse novamente e se encheu de esperanças, só podia ser um sinal dos deuses. Zaki a colocou sobre uma pedra e a referenciou. Suas feridas começaram a cicatrizar e a febre deu uma trégua.

O tempo todo ele lutava contra os pensamentos e as lembranças ruins. Sentado, observando a água, percebeu algo nadando em sua superfície, era uma lontra. Pegou um pau pontiagudo e antes que se aproximasse ela sumiu. Ele entrou na água e verificou que havia pequenos buracos nas rochas que cabiam sua mão e parte do braço. Num desses buracos encontrou um peixe que cravou o ferrão em sua mão, e não soltou, ficou pendurado. A dor foi intensa. Teve dificul-dades para retirá-lo da mão, mas pelo menos arrumou uma refeição decente, depois de vários dias alimenta-se a base de coco e morcegos.

Zaki, então, pegou os ferrões do peixe e os prendeu na ponta de uma vara utilizando a fibra do coco. Agora, antes de levar a mão aos buracos, enfiava a vara com o ferrão para examinar se havia peixes. Estava emagrecendo muito rápido, pois conseguia pouca comida, mantinha-se de pequenos peixes, folhas, morcegos, sementes e algu-

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ma coisa comestível que descia pelo rio. Podia ouvir os uivados dos bichos do lado de fora da microcaverna, só não dava para precisar a que distância estaria da saída da caverna pela água.

Estava sentado e desanimado com a vida, quando percebeu que a lontra apareceu de novo. Ficou observando-a sumir e reapa-recer na água. Pensou: Será que ela está vindo de longe ou existem outros pontos com ar como aquele na pedreira rio abaixo? Arriscar um mergulho rio abaixo poderia ser seu fim. Tinha perdido a noção de quantos dias estava preso ali. Suas feridas cicatrizaram, ele não iria morrer de infecção nem de febre.

Mais uma noite chegou e percebeu que caia uma tempestade lá fora. Choveu a noite toda, dava para escutar e ver os clarões dos relâmpagos pelas pequenas frestas por onde entravam e saíam os morcegos. Se a chuva continuasse e o nível do rio aumentasse, com certeza inundaria a pequena caverna de pedra e ele morreria afogado.

Acordou cedo, a chuva continuava forte, o volume do rio au-mentara muito e corria muito rápido, se ficasse ali, seria questão de dias para a desnutrição matá-lo ou ter sua moradia totalmente cheia de água. Resolveu mergulhar e descer o rio. Quem sabe a corredeira o levaria rapidamente para longe ou para a morte. Não aguentaria ficar ali até que outra chuva caísse formando uma corredeira com aquela velocidade.

Os deuses estavam lhe mandando um aviso. Prendeu a carranca em seu corpo, respirou fundo várias vezes, oxigenando-se bastante. Quem sabe seria a última vez, ou com sorte aguentaria até sair de dentro da pedreira. Encheu os pulmões o máximo que pode e se atirou na água. Começou a descer rapidamente corredeira abaixo, ajudando com os braços e pernas para ir o mais longe possível. Foi de encontro às pedras várias vezes, enquanto descia o rio em grande velocidade, mas só iria emergir quando não tivesse mais oxigênio, seria terrível tocar a cabeça em uma pedra e não encontrar oxigênio. De repente, a água se tornou mais calma e clara pelos raios de sol, e já sem fôlego subiu a superfície e se encontrou no meio do rio, a

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poucos metros do fim da pedreira, descendo mais devagar. A pedreira havia ficado poucos metros atrás. Com o resto das energias que lhe sobrara foi se direcionando para a margem.

O rio estava muito cheio e a corredeira facilitou seu trabalho, foi descendo a favor da correnteza até alcançar a margem do rio. Exausto e sem forças para se levantar, ficou ali por um tempo, recuperando as energias e tomando sol depois de muitos dias de escuridão.

Seus olhos mal conseguiam se abrir diante de tanta claridade, suas pupilas foram se contraindo devagar até conseguir enxergar melhor. Examinou o local à sua volta e percebeu que o conhecia, não estava muito longe de seu quilombo, apenas uma enorme pedreira rio acima os separavam.

Precisava comer algo urgentemente. Levantou-se um pouco cambaleante e foi entrando mata afora, logo encontrou algumas folhas, raízes e frutos para comer e se fartou o quanto pode. Agora, precisava arrumar um lugar para passar o restinho da tarde e a noite e proteger-se de qualquer ameaça. Lembrou-se de um local perto dali em que já havia se refugiado numa certa ocasião. Ainda com um pouco de tontura, dirigiu-se para esse esconderijo. Chegando lá, teve dificuldades para ter acesso, tratou de arrumar a morada o melhor que pode, cobriu o chão com folhas e capim, e bloqueou sua entrada com paus e pedras. Ficou parecendo uma jaula, a diferença era que os animais ficavam de fora. Com uma lasca de pedra come-çou a fazer ponta em uma vara comprida, para se defender e caçar no outro dia, mal terminou de apontar a lança e caiu no sono.

Depois de vários dias, dormiu sem fome e sem frio, no meio de um ninho de folhas que, além de tudo, camuflava-o bem. Quando pintou no céu o anúncio dos primeiros raios de sol, acordou assustado de um pesadelo de mortes e torturas. Levantou-se e saiu de sua toca em busca de alimento e armas para se proteger melhor, ali era seu habitat natural e não teria dificuldades para se arranjar.

Os dias foram passando, enquanto ele recuperava sua forma e os primeiros desejos de vingança afloraram em sua mente. Era o único

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sobrevivente de um povo e simplesmente ficar vivo não o satisfaria. A grande vantagem é que ninguém sabia da sua existência, algo que lhe permitiria assombrar seus inimigos com toda a sua maestria de guerreiro dos Carrancas. Emboscaria, um por um, até o último dia de sua vida, ninguém teria paz naquela selva enquanto ele vivesse.

Alguns dias se passaram até ele começar a se aproximar de seus inimigos e vigiá-los de longe, arquitetando o que faria. Seguia cada passo dos índios em busca de sua vingança. No momento certo atacaria e desapareceria.

Ele estava no encalço de três de seus inimigos que saíram para verificar uma armadilha que haviam montado na floresta. Era um grande buraco, que outrora estava coberto de folhas, mas agora encontrava-se aberto, pois haviam capturado uma enorme onça. Os três nativos vibraram com a captura do enorme animal e ficaram em volta do grande buraco para matar sua caça. Juntaram-se em um determinado ponto da profunda vala. Zaki, então, saiu detrás de um arbusto como um relâmpago e empurrou os três dentro do buraco. Agora era só cuidar para que não saíssem, e ajudar o animal a matar os três.

A luta foi desigual e o elemento surpresa deixou seus inimigos como presas fáceis para o grande felino, que logo matou a todos. Voltou a se esconder e ficou aguardando alguém vir verificar o que havia acontecido. Passado um longo tempo, escutou barulho de alguém se aproximando. Eram apenas dois e tudo se repetiu como acontecera antes, foram parar no fundo do buraco e morreram na boca da onça.

Zaki, apanhou um arco e uma flecha na borda do buraco, e acertou a onça em um golpe fatal. Verificou se estavam todos mortos, pegou a faca de um deles e apagou todos os seus rastros, desaparecendo na floresta. Agora, não podia mais ficar por ali, pois viriam mais índios para verificar o que ocorrera, e nem podia levar todas as armas e objetos dos mortos pois chamaria muito a atenção.

Desta vez, foi muito discreto e não deixou rastros do que acon-

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tecera. Incrédulos, os índios que chegaram após algumas horas não acreditaram no que estavam vendo, não havia explicação; fora um acidente, pensavam. A represália de Zaki seria lenta e bem calculada para não ser pego em flagrante. Não precisava de pressa. Sua vida perdera todo o sentido, a vigília constante e o preparo da vingança era seu único alento.

Alguns índios sempre pescavam pelo rio, em duplas, e seriam as próximas vítimas. Bem longe do quilombo que haviam tomado posse, o rio despencava em uma cachoeira. A boca da cachoeira era um local bom para pesca. Zaki ficou vigiando vários dias até que uma dupla desceu rio abaixo e ficaram próximos à cachoeira. Um deles se embrenhou na mata em busca de algo para comer e fazer suas necessidades. Zaki saiu de onde estava e foi emboscar o índio. Colocou-se no caminho que ele faria na volta e ficou esperando. Quando o futuro defunto passou de volta com as mãos cheias de frutas, recebeu uma pancada na nuca, que quebrou o seu pescoço na hora. O barulho da cachoeira não deixou o seu amigo escutar nada. Impaciente com a demora de seu companheiro e o estômago reclamando algo para comer, o outro índio foi em busca do amigo. Chamava-o pelo nome despreocupadamente e ia se infiltrando pela trilha afora, no entanto, quando passou por Zaki, também levou uma pancada fatal na nuca.

Novamente, Zaki não podia deixar pistas, apropriou-se apenas do que lhe interessava, carregou os dois corpos, colocou-os no barco e empurrou cachoeira abaixo. No outro dia foram encontrados mortos e o barco todo despedaçado. Ficou claro que haviam se descuidado e caíram na cachoeira, ou fora obra do temível caboclo d’água, o que para a tribo era o mais provável.

Até aqui tudo corria bem se é possível dizer isso. Zaki estava em ótimo estado físico, só a ira e a tristeza pela perda dos seus o incomodava. Precisava arrumar um jeito de poder atacar mais rápido, com maior eficácia e não deixar pistas de sua existência.

Em uma de suas rondas, Zaki encontrou os restos de uma

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onça enorme, as patas, a cabeça e as tripas foram deixadas para traz. Era uma arma excelente, tinha grandes garras e presas afiadas. Nunca se aproximava muito da tribo, porém, quando uma criança, mulher ou índio saia sem proteção ele atacava, e, com as garras e mandíbulas do animal caracterizava um ataque de onça. Zaki deixava pegadas como se a onça tivesse fugido em uma direção. Depois de fazer várias vítimas em redor da tribo, todos começaram a sair bem armados e protegidos.

Roani promoveu várias caçadas à suposta onça, apesar de não entender como um animal tão arisco estava se aproximando tanto da tribo. Passados alguns dias, conseguiram capturar e matar uma onça das grandes. Com o tempo, as coisas se acalmaram e as pessoas começaram, novamente, a se descuidar, pois a suposta onça havia morrido. Outra vez, algumas vítimas foram atacadas e mortas, desta vez o contra-ataque veio rápido e foi feito uma devassa na região.

Zaki teve que abandonar a sua estratégia para não ser descober-to. Como atacaria novamente, precisava de uma maneira mais eficaz e que fizesse várias vítimas de uma só vez. O jeito seria arrumar uma forma de envenenar os nativos e provocar várias mortes ao mesmo tempo. Para isso, teria que ter acesso ao quilombo, sua antiga morada, o que não seria fácil, pois agora, estava sendo habitado por vários índios, inclusive o chefe. Zaki resolveu que deveria utilizar a passagem secreta para acessar a fortaleza que haviam lhe roubado, começou a estudar o dia a dia da fortaleza e os hábitos dos novos inquilinos.

Notou que em um local era armazenada uma bebida em grandes potes de barros, que utilizavam em suas festas religiosas. A bebida era de um sabor muito forte e apenas os guerreiros a utilizavam. A fortaleza era bem guardada e ter acesso ao local em que ficava a bebida era muito difícil. Precisava arrumar um jeito de chamar a atenção de todos para ter acesso às bebidas. Preparou um veneno, em quan-tidade suficiente para matar a todos que tomassem a bebida. Ficou matutando uma forma de tirar todos de dentro de suas moradas, o que seria complicado, pois teria que arquitetar um plano que fun-

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cionasse eficazmente. Antes, foi conferir se a passagem secreta estava bloqueada pela enorme pedra e calçada por dentro, mergulhou do lado de fora, apareceu do lado de dentro com o menor ruído possível e, para sua surpresa, a pedra havia sido retirada.

– Agora, sim, posso arquitetar um plano para exterminar em massa. Se for apanhado bebo o veneno e será o meu fim. Não tenho medo da morte e levo uma vida sem muito sentido.

Provocar um desmoronamento de pedras sobre a fortaleza seria um bom plano, subiu até o topo dos paredões de pedra pelo lado externo, escolheu um ponto oposto aos potes com as bebidas, começou a empilhar pedras, uma sobre a outra. A tarefa durou vários dias, pois só fazia isso durante a noite, e tinha que carregar pedras em um lugar muito acidentado, sem fazer barulho algum e nem ser percebido pelos guardas. Se caísse lá de cima seria seu fim, mas finalmente concluiu sua árdua tarefa.

O plano estava traçado, subiria nos paredões de pedra, pro-vocaria o desmoronamento, desceria, acessaria a entrada secreta, e colocaria o veneno nas bebidas. O grande dia chegou! Provocou o desmoronamento de pedras que atingiu algumas moradias próxi-mas ao rio. Foi um estrondo tremendo e todos correram para ver o que havia acontecido. Rapidamente, desceu dos paredões e entrou pela passagem secreta; os novos moradores estavam voltados para os acontecimentos na área oposta, onde caia as pedras. Com uma rapidez impressionante, chegou aos potes, colocou o veneno na be-bida, e correu de volta para a passagem secreta. Antes de ir embora colocou a carranca que resgatara na borda do poço de sua clausura na beira do poço. Mergulhou e desapareceu do outro lado, no meio da mata. Quando chegou ao seu esconderijo estava trêmulo, coração disparado, cansado e eufórico com a expectativa do que aconteceria. Agora, era aguardar a próxima reunião dos guerreiros que tomariam a tal bebida de acordo com suas crenças e datas.

Roani, ao amanhecer, escalou vários de seus melhores índios para verificar o que tinha causado o desmoronamento e os conduziu

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pessoalmente. Quando chegaram ao topo da pedreira perceberam que havia várias pegadas de onça em alguns pontos, um animal teria provocado o desmoronamento por acidente.

Zaki havia preparado tudo, deixou as pegadas da onça e apa-gado todos os vestígios de sua estadia naquele lugar. O chefe Roani estava aterrorizado com os acontecimentos. Isso só podia ser praga dos Carrancas! Logo marcou uma cerimônia preparada pelo pajé para espantar os maus espíritos. Uma grande fogueira foi armada no centro da fortaleza usurpada e começaram os rituais em volta dela, a bebida foi servida como de costume. O sabor quase não mudara, os homens beberam e cantaram em volta da fogueira a noite toda, sem perceber nada. A madrugada foi longa e assombrosa, todos que havia tomado da bebida entraram em convulsões devido ao veneno, os que haviam bebido mais, logo morreram. Vários agonizavam por todo lado, as mulheres e crianças entraram em desespero sem saber o que estava acontecendo. Roani também não suportou e morreu. Ao amanhecer, muitos estavam mortos e uns poucos se apegavam aos últimos fios de vida. Iara, filha de Roani, encontrou a carranca deixada na beira do poço e atribuiu a ela todo o mal causado.

Zaki, que observava tudo a uma distância segura, chegou a ter pena de tanta morte que havia causado e do sofrimento imposto aos sobreviventes. Poucos guerreiros escaparam da morte, e como nenhum deles havia tomado a bebida, não foi difícil deduzir o que havia acontecido. Quem teria feito isso? Será que realmente a bebida estava envenenada? Deram a bebida a um animal, que devido a seu pequeno tamanho morreu rápido. Todo o resto da bebida foi des-cartada, só não conseguiam entender como aquilo havia ocorrido. A bebida devia ter sido contaminada por acaso, pois alguns dias antes haviam bebido dela e nada ocorrera. Os mortos foram enterrados e cultuados por vários dias. Zaki se manteve a uma distância segura e não atacou mais. Ele próprio não havia ficado tão satisfeito quanto imaginara que ficaria.

Teçá e Iara foram os únicos filhos de Roani que sobreviveram,

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e seus súditos eram basicamente mulheres e crianças, que pouco po-diam fazer para ajudá-lo. Teçá desconfiava que algo errado estivesse acontecendo, mas todas as suas tentativas de descobrir a verdade não deram em nada. Resolveu voltar para antiga tribo, pois aquele lugar estava amaldiçoado pelas almas dos Carrancas. Aos poucos, as coisas começaram a se normalizar, as rotinas foram retomadas. Tudo na tribo dos Guararás passou a ser vigiado e testado antes do consumo. Mulheres tiveram que caçar e realizar vários outros afa-zeres atribuídos aos homens, e, aos poucos, tornaram-se guerreiras também. Teçá resolveu proibir a ida à fortaleza dos Carrancas, pois acreditava que ela trazia má sorte e mortes.

Zaki, depois de alguns dias, resolveu voltar em seu quilombo e ficou surpreso quando não encontrou mais ninguém, não teve coragem de se aproximar, pois podia ser uma emboscada. Dirigiu-se à tribo dos Guararás e encontrou todos morando nela. A sua vin-gança já estava concretizada e não queria mais mortes. Retornou à fortaleza e, ao sair do poço, reencontrou-se com sua carranca, da qual tomou posse novamente, já que era sua por direito. Defender o quilombo sozinho era quase impossível e desnecessário, o melhor era ficar no anonimato por enquanto. Construiu várias carrancas e colocou em pontos estratégicos, para espantar os maus espíritos e assombrar quem resolvesse adentrar a fortaleza.

Tudo transcorria sem surpresas, só a solidão afetava Zaki. Na tribo dos Guararás tudo foi se ajeitando sem grandes acontecimen-tos. Teçá percebeu que depois que havia saído do quilombo das Carrancas, nada de ruim voltara a acontecer, por isso determinou que ninguém mais voltasse àquela fortaleza, pois seria amaldiçoado e morto pelos espíritos dos carrancas.

As mulheres da tribo dos Guararás se revezavam na caça e pesca. A irmã de Teçá, Iara, era destemida como o pai e não gostava de se submeter às ordens do irmão. Não aceitara a morte do pai e muito menos que seu irmão mandasse em de tudo por ali, acredi-tava que tudo pertenceria a ela, se não fosse uma mulher, pois era

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mais velha do que Teçá. Os dois viviam se contrapondo nas ideias de como governar a tribo, e muitas vezes ela se recusava cumprir as ordens do chefe Teçá.

Certo dia Iara pescava em frente à fortaleza de pedra quando percebeu algo que lhe chamou a atenção, uma carranca próxima às pedreiras: era uma oportunidade de desobedecer Teçá. Contrarian-do as ordens do irmão, desceu à praia do quilombo dos Carrancas. Verificou que ninguém a seguia e começou a rondar pela fortaleza há muito abandonada. Zaki estava por lá, despreocupado em seus pensamentos, e quase perdeu o fôlego quando a viu. Será que o teria seguido ou o visto? Na dúvida, precisava se desfazer daquela índia intrometida, iria matá-la e jogaria o corpo dela e o barco cachoeira abaixo. Como um felino, foi se aproximando de sua vítima, que andava despreocupada examinando cada detalhe pelo caminho. A índia cometeu o grande erro de achar que aquele lugar estaria com-pletamente abandonado e despercebidamente, foi se aproximando do local onde Zaki estava escondido. Ele podia atirar a flecha dali mesmo e matá-la, e por causa da cachoeira assassina pareceria um acidente. Iara se aproximava cada vez mais, Zaki já podia sentir até seu cheiro. Algo o impedia de matá-la, não queria mais vingança. Pediu aos deuses que ela fosse embora e assim evitaria mais uma morte, mas Iara continuava verificando tudo com grande curiosidade. Ela chegou tão perto, que ele não podia mais ficar inerte esperando que a índia se retirasse, então, num ato impensado, levantou-se e apareceu em sua frente com uma faca empunhada em uma das mãos.

Iara ficou tão aterrorizada que não conseguia se mover, pensou que com certeza era a alma de algum guerreiro que viera se vingar dela. Seu coração disparou e o medo enorme a fez perder os sentidos e desmaiar momentaneamente. Antes de cair ao chão Zaki a segurou nos braços.

Teria que agir rápido, colocá-la no barco e se livrar dela. A beleza de Iara era estonteante e lhe faltava coragem para fazer algo de ruim à moça. Zaki molhou o rosto dela com água fria, o que a

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despertou lentamente. Iara percebeu que aquele fantasma era muito real, e por um tempo ficaram olhando um para o outro, sem dizer nada com ares desconfiados. Zaki era um guerreiro muito forte e alto, percebeu Iara devido às suas formas e robustez de seu corpo.

A atração entre os dois foi tão irresistível que nenhum deles conseguia falar nada, simplesmente ficaram hipnotizados, um pelo olhar do outro. Iara quebrou o silêncio perguntando:

– Como veio parar aqui, guerreiro? De onde você é? – Eu vim fugido de uma fazenda muito longe daqui, não tenho

mais nenhum parente vivo, estou só neste mundo.– Como é seu nome?– Zaki! E o seu?– Iara! Sou da tribo dos Guararás! Estava pescando aqui, em

frente, e tive curiosidade de visitar o local onde meu pai morreu, envenenado junto com muitos guerreiros. Eu sou mulher e não pude suceder o meu pai, meu irmão mais novo foi quem herdou o trono.

Iara narrou toda a sua história para Zaki, desde as guerras, as mortes misteriosas, tudo que havia acontecido com seu povo.

– Qual sua história? – perguntou-lhe Iara.– Eu não gosto de falar do meu passado, pois fui aprisionado

em minha terra que é muito longe daqui e vendido como escravo. Minha história é só de escravidão, morte e sofrimento, até que resolvi fugir e me esconder por aqui.

Depois de várias horas conversando, Iara lhe disse:– Eu preciso voltar para minha tribo!– Não posso deixar você ir embora, sua tribo vai voltar e me

matar, sei que não gostam de estranhos em suas terras. – Se eu não for embora logo virão à minha procura e, fatal-

mente, lhe encontrarão. Prometo-lhe que não vou contar nada a ninguém. E meu irmão não pode nem sonhar que eu desobedeci suas ordens entrando aqui!

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– Que garantias eu vou ter de que está dizendo a verdade?Iara olhou em seus olhos e percebeu o martírio e o sofrimento

estampado em seu rosto. Aproximou-se dele, frente a frente, e lhe deu um beijo em seus lábios. Zaki retribuiu, beijaram-se demoradamente.

– Essa é a garantia de que não vou delatar você, Zaki, chega de mortes e desavenças. Voltarei para revê-lo amanhã!

– Esperarei por você, Iara, que os deuses lhe acompanhem e abençoem!

De longe, alguém gritou o nome de Iara. Estavam à sua procura. Zaki se escondeu e Iara correu para seu barco na praia. Logo, apare-ceu outro barco com sua amiga dentro, que parou do lado do seu.

– Iara, você desobedeceu às ordens de Teçá?– Eu me senti mal e sem forças para continuar remando e tive

que parar na praia um pouco para descansar. Agora, já me sinto melhor!– Este lugar é mal-assombrado e você pode despertar a ira dos

Carrancas outra vez.– Promete que não vai dizer nada a Teçá?– É claro que não, desde que não volte aqui nunca mais.Navegaram rumo à tribo, o assunto foi esquecido rapidamente

e foram preparar o jantar antes que a noite caísse. Zaki não quis ficar no quilombo. Voltou para o seu esconderijo

no meio da mata, seria mais seguro, pois Iara poderia ser obrigada a contar o que havia acontecido. Mesmo que tivesse se afeiçoado por ela não poderia confiar em alguém que vira pela primeira vez.

No outro dia, ficou esperando que Iara começasse a navegar pelo rio, para fazer a visita que havia prometido, o que não aconteceu. Será que Iara tinha sido punida pelo chefe por ter desrespeitado as suas ordens? Então, tomou a direção da tribo de Iara para verificar o que havia acontecido. Para sua alegria e surpresa ela estava bem e parecia não ter revelado o seu segredo. No fundo, o que lhe incomo-dava era outra coisa, simplesmente o fato dela não ter aparecido. A solidão estava consumindo-o, depois de muito tempo sozinho pôde

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conversar com alguém, no íntimo queria a oportunidade de ficar ao lado de Iara e escutar sua doce voz.

Todos os dias, ficava vendo Iara de longe e nada dela sair para pescar. Certa vez, quando veio ver Iara, não a encontrou. Será que tinha ido à sua procura? Saiu em disparada para a fortaleza, pegou o caminho pela passagem secreta e, quando chegou lá, viu-a sentada na praia, desolada. Havia chegado bem cedo, enquanto todos em sua tribo dormiam, procurou Zaki por todos os lados e nem sinal. Ele pode ter ficado com medo de ser denunciado ou, como não voltei no dia seguinte, desapareceu, ela pensou.

Zaki se aproximou pelas costas de Iara, sem ser percebido e lhe deu um abraço, quase a matando de susto.

– Fiquei imaginando onde você estava – disse-lhe Iara –, pro-curei você por todos os cantos.

– De certo não procurou direito, pois não me encontrou!Beijaram-se e se abraçaram na maior felicidade.– Minha amiga ficou me vigiando e, para não colocá-lo em

risco, preferi não sair.– Vou esconder seu barco, pois alguém pode vê-lo na margem.

Abraçavam-se e se beijavam o tempo todo, felizes por terem se reencontrado e ficaram juntos por um bom tempo, sem fazer perguntas um ao outro. Nos olhos de Zaki e de Iara, novamente brotaram um pouco de esperança e de amor, ambos haviam sofrido em demasia e queriam aproveitar cada momento juntos. Tanto Zaki quanto Iara sabiam que não podiam ficar juntos por muito tempo, era necessário que Iara voltasse para a sua tribo. Despediram-se num beijo demorado e combinaram de se encontrar novamente, dois dias depois.

Iara chegou a sua tribo feliz da vida, era impossível alguém não perceber a mudança em suas atitudes e humor. Acreditavam que ela havia superado o trauma da morte de seu pai e as tragédias

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acontecidas com sua tribo. Teçá foi o que mais gostou, pois enfim ela lhe dava sossego.

Tanto Zaki quanto Iara não aguentavam mais a saudade, e não viam a hora de se reencontrar. O dia do encontro chegou. Zaki esperava ansioso para rever a sua amada. Quando avistou o barco, seu coração bateu mais forte, e com precaução, aguardou que ela chegasse à praia e a recebeu com um beijo. Ocultou a embarcação dela e se esconderam dentro da fortaleza.

– Iara, olha o que preparei para nós, espero que goste – dis-se-lhe Zaki.

– Sabe da impossibilidade de ficarmos juntos, minha tribo nunca aceitará – respondeu Iara.

– Sente-se aqui, comigo, e vamos aproveitar o tempo, deixemos nossas diferenças de lado, Iara. Depois, pensaremos no que fazer!

Zaki sentou-se à beira da cama, ela se aproximou e ficou de pé entre suas pernas, ele foi alisando o seu corpo todo e devagar foi tirando as suas poucas vestes. Ficou encantado com o que via, parecia uma deusa de conto de fadas. Com carinho a deitou sobre a cama e amaram-se por um longo período.

Quando estavam juntos o tempo corria rapidamente e a cada dia um precisava mais do outro, iam se apegando mutuamente. Eram vários encontros secretos, ninguém podia saber da existência daquele relacionamento, seriam sumariamente executados. Nasceram para serem inimigos, apesar de Iara desconhecer a origem de Zaki, e também saber que ele tivera participação nas mortes dos membros de sua tribo.

Sempre que era possível, os dois se encontravam, e a cada dia ficava mais difícil de esconder os acontecimentos e tornava-se insuportável ficar um longe do outro. Começaram a se encontrar fora do quilombo de Zaki, em alguns pontos da mata, cuidando para não serem seguidos.

Todos na tribo, principalmente seu irmão, começaram a perce-

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ber a mudança de Iara, seu sumiço cada vez mais constate e decidiram segui-la. Num lindo dia de sol, Iara aproveitou o descuido de todos e saiu para se encontrar com Zaki. A amiga de Iara, no entanto, percebeu que ela estava saindo e, preocupada com a segurança da amiga, informou a Teçá. Ele e outros índios saíram em seu encalço. Iara ia à frente e eles a seguiam com cuidado. Zaki, que sempre ficava em um ponto alto para ver de longe a chegada de Iara, percebeu que ela estava sendo seguida. Ele escondeu-se e ficou aguardando os acontecimentos. Ela chegou ao local combinado e não encontrou seu amado, algo estava errado. Ficou muito preocupada, pois, nas vezes anteriores, ele já estava à sua espera. Aguardou um bom tempo e nada, só restava voltar para a sua tribo.

Teçá e os outros, já impacientes e sem saberem o que estava acontecendo, apresentaram-se e começaram a interrogá-la. Iara levou o maior susto e ficou torcendo para Zaki não aparecer. Disse que não estava fazendo nada e que já ia voltar para casa. Os índios não acreditaram e ela foi agarrada pelo cabelo e levada de volta à tribo.

Zaki assistiu a cena de longe e não pode fazer nada, pois estavam todos bem armados e prontos para um ataque, além de estarem com sua amada nas mãos. Decepcionado, Zaki retornou para o quilombo, e ficou pensando no que aconteceria com sua amada. Iara, como era filha de um ex-chefe, não poderia ser torturada para contar a verdade, mas se tornou vigiada, dia e noite, sem parar.

Zaki já não aguentava mais de vontade de vê-la, e todos os dias de longe dava uma olhada para ver como estava. Aos poucos, a vigilância foi se afrouxando e permitiram que Iara saísse com sua amiga para pescar. Apanharam alguns peixes e Iara disse para a amiga que os limparia, o que fez com muita rapidez. Aproveitou o descui-do de todos e rumou para o quilombo de Zaki, tinha algo muito importante para lhe falar.

Atravessou o rio a nado até a praia do quilombo, e começou a gritar pelo seu nome. De repente ele apareceu e a tomou em seus braços, matando a saudade. Correram, então, para o local onde

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sempre ficavam. Quando sua amiga voltou à beira do rio, percebeu o sumiço de Iara e começou a procurá-la, o que foi em vão.

Ao regressar à tribo, Teçá percebeu o desespero da amiga de Iara e a pressionou para que lhe dissesse onde Iara estava. Ela os levou à beira do rio onde Iara ficara limpando os peixes, os quais estavam ali, limpos como que por encanto. As pegadas iam à beira da água e sumiam, a amiga foi obrigada a lhes contar que Iara havia retornado ao quilombo e poderia ter sido encantada pelos espíritos que moravam lá.

Teçá e outros índios resolveram ir até o quilombo, tudo indi-cava que Iara estaria lá. Os índios chegaram à praia em seus barcos, meio receosos, gritaram o nome de Iara. O casal levou um susto com aquela aparição imprevista.

Iara disse a Zaki que iria se entregar a Teçá, pois, assim, a le-variam e o deixariam em paz. Zaki a deteve, pois não havia garantia que eles colocariam fim à busca e temia pela sorte de sua amada. Zaki lhe disse que sabia como sair dali através de uma passagem secreta. Os dois fugiram pelos fundos da fortaleza sem serem vistos e entraram em uma caverna pequena.

Zaki explicou que aquele poço se comunicava com o rio na parte externa, os dois mergulharam no poço, mesmo com o medo de Iara em não encontrar a saída do outro lado. Não restava melhor opção a não ser confiar em Zaki. Depois de um rápido mergulho, apareceram do outro lado o mais rápido que puderam.

Logo Iara chegou à praia e pregou um susto em sua amiga, que temia que Iara tivesse morrido ou se perdido. A reação da amiga foi de espanto e começaram a gritar para Teçá e os outros que esta-vam no quilombo. Um deles havia ficado na praia e percebeu que Iara estava do lado oposto e chamou por Teçá e aos demais, e todos partiram para a margem oposta.

Teçá não estava com cara de bons amigos e a amiga de Iara foi logo justificando que cometera um erro. Iara havia parado na praia

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apenas por ter se sentido mal e nunca mais havia voltado a pescar em frente àquele tenebroso local. Recebeu algumas repreensões, e tudo voltou à normalidade.

Zaki observava tudo de longe e pronto para agir se algo desse errado, sua vida sem Iara não valia mais nada. Iara havia dito que queria falar algo para Zaki, mas no meio de tanta correria, não tive-ram tempo para conversar a respeito. Zaki ficou pensativo sobre o que seria. Iara, longe de Zaki, também pensava o tempo todo nele e tinha que arrumar um jeito de reencontrá-lo. Ela sabia que Zaki ficava de longe observando e, na primeira oportunidade, ela entraria mata afora e ele a encontraria. E assim ocorreu.

– Zaki estou esperando um filho seu, e não sei o que fazer!– Podemos fugir juntos, Iara, para bem longe daqui e ter

nosso filho.– Não posso deixar minha mãe e minha tribo, teremos pouca

chance sozinhos. Aqui, nosso filho pode ser criado em segurança, e não somos mais só dois.

– Iara, se tomar essa decisão nunca mais a verei, prefiro a morte!– Temos uma chance: enfrentar Teçá, quem sabe ele nos deixe

ficarmos juntos na tribo, Zaki.– Eu também não aguento mais fugir e me esconder – disse

Zaki –, enfrentaremos Teçá.– Nossa tribo tem poucos homens e precisam de guerreiros,

além disso, temos a tradição de acolher quem nos pede abrigo tem-porariamente. E você será o pai de um sobrinho do chefe Teçá, isso pode fazer toda a diferença.

O estado de gravidez de Iara preocupava ambos, então com-binaram que enfrentariam Teçá, pois ela esperava um filho do Zaki e a mistura dos dois povos se manifestaria em seu filho. Apesar de não saber qual seria a reação do chefe e da tribo, resolveram que, daquele dia em diante, não separariam mais suas vidas.

Os dois voltaram juntos para tribo e se apresentaram na oca

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de Teçá. Conversaram por horas, mas apesar de todas as explicações, Zaki foi preso e só não foi morto porque era pai de um descendente da tribo. Houve uma reunião entre todos os guerreiros remanescentes, o que não eram muitos, e foi decidido que Zaki poderia ficar até o nascimento de seu filho. Se, por acaso, a gravidez fosse interrompi-da, por algum motivo, Zaki perderia o vínculo com a tribo e seria executado. Um fio de esperança nasceu no coração de Zaki, mesmo estando enjaulado, podia ver Iara e o desenvolvimento de seu ven-tre. Foi uma gestação conturbada e com ameaças de aborto natural, mas, enfim, nasceu um menino com muita saúde. Um pouco antes do nascimento da criança, libertaram Zaki e o aceitaram na tribo.

A mistura das duas raças gerou o primeiro descendente cafuzo, o qual recebeu o nome de Roani, em homenagem a seu avô materno. Caso seu tio não tivesse filhos seria o próximo chefe da tribo. Zaki provou o seu valor para a tribo e resolveram que ele poderia ficar e criar seu filho. O amor de Iara e Zaki venceu todos os preconceitos e diferenças entre os povos.

Zaki, entre outras coisas, ensinou o seu novo povo a fazer as carrancas e cultuar os deuses dele e, com isso, as tradicionais carrancas se perpetuaram até os dias de hoje nos povoados ribeirinhos ao rio São Francisco. Zaki resolveu também levar para a tumba o segredo sobre os conflitos anteriores entre sua gente e a tribo de Iara, per-doando-se e perdoando aos seus antigos inimigos, que agora eram sua gente. Seu filho não merecia ser herdeiro de uma história tão triste, tinha o direito de construir a sua própria história. O segredo da passagem secreta para a fortaleza dos Carrancas seria mantido entre pai, mãe e posteriormente o filho Roani.

Kennedy Pimenta.

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Homenagem ao escritor Fernando Pessoa

Ilustração: Fernando Antônio da Silva - 2º ano

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BIOGRAFIA DO FUNDADOR DA ESCOLA: PADRE JOSE ESPÍNDOLA BITTENCOURT

Data de nascimento: 24 de abril de 1868 em Arcos - MGData de falecimento: 24 de outubro de 1951 em Belo Horizonte - MG (foi sepultado em Pimenta)Seus pais: Senhora Lucineide Claro de Castro e Senhor David Es-píndola BittencourtNacionalidade: Portuguesa

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Estudou na cidade de Mariana, sul de Minas, no seminário, onde se ordenou Padre. Residiu em Cristais por três anos, onde exerceu sua profissão, por último em Pimenta, por cinquenta anos.

Sua moradia se localiza até hoje na Praça da Matriz, onde era a antiga prefeitura.

Fundou a Escola Estadual “Padre José Espíndola e a Prefeitura Municipal de Pimenta”.

Trouxe muito progresso para a cidade de Pimenta, trazendo médicos, farmacêuticos, professores e ajudou a construir várias casas.

Relatos da vida do Padre Espíndola retirado do Livro de Tombo, manuscrito por Padre Aristides

Depois de outros sacerdotes, que foram vigários aqui em Pi-menta, no século passado, veio o Padre José Espíndola Bittencourt, que se ordenou padre no dia 9 de abril de 1893 e tomou posse desta paróquia no dia 6 de janeiro de 1902, ficando aqui até falecer em 24 de outubro de 1951.

Padre Espíndola trabalhou durante cinquenta anos. Fez o pa-trimônio da paróquia que era imenso.

Fundou as associações: Apostolado da Nação, União das Filhas

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de Maria, Damas do Coração de Jesus, Mães Cristãs, Liga da Santa Terezinha do Menino Jesus, Congregação Mariana, Sociedade das Vocações Eclesiásticas, fez o levantamento duas vezes das conferên-cias vicentinas, a pedido de Dom Silvério Gomes Pimentas, então Bispo Diocesano daquela época. Procurou fazer da capela de Santo Antônio, porém não conseguiu.

Padre Jose Espíndola tentou fundar a Congregação da Doutri-na Cristã e trouxe de Barbacena estatutos muito bem feitos, dentro da real pedagogia. Isto se deu em 1915, mas ele não conseguiu por causa da “moleza” das outras associações, que eram bem acomodadas.

Ele sofreu muito na cidade de Pimenta, por parte das autorida-des políticas, civis e pessoas das associações. Foi muito injuriado por doutor local e sua esposa. Conta-se que um dia, a esposa do médico atirou no rosto do padre um de seus sapatos. O sapato enganchou na janela de sua casa, que hoje é a antiga prefeitura, e o Padre José Espíndola com uma calma admirável, aproximou-se da janela, retirou o sapato e devolveu à satânica senhora.

Por causa da falsidade de alguns familiares e pouco cuidado das Associações Paroquianas, o Bispo suspendeu o Vigário da reza

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de ordens por alguns meses. O padre teve a moral abalada por causa de tantas calúnias. Mas também, ele não deixava escapar nada. No seu governo de cinquenta anos nesta paróquia, organizou o seu pa-trimônio. Eram muitas terras pertencentes à Igreja. O patrimônio desta paróquia se ainda existisse, seria milhões. Mas os próprios pimentenses o destruíram, aproveitavam-se da ingenuidade de um vigário italiano e desfizeram o patrimônio, comprando partes daqui, partes dali e assim, aos poucos, a Igreja ficou sem o seu patrimônio.

Dizem que o bispo deu a procuração para o vigário vender. Hoje a Igreja de Pimenta não tem patrimônio e nem sequer o local onde está construída lhe pertence. Pelo preço que foi vendido, podemos dizer que foi dado o patrimônio para uns ávidos dos seus interesses particulares, cobiçando até as coisas da Santa Igreja.

A paróquia nunca teve casa paroquial, cada vigário alugava ou comprava a sua casa particular.

O Padre Espíndola cuidou da parte espiritual de seu povo, apesar de ser nervoso, não descuidou do seu trabalho paroquial.

Padre Espíndola adoeceu de um câncer no rosto e aos poucos foi definhando até que precisou ir para Belo Horizonte e lá entregou sua alma a Deus. O seu corpo foi trazido para Pimenta, o povo, em lágrimas, foi ao encontro dele. O lugar do encontro deu-se no alto do morro, no caminho antigo que levava a Pains.

A política, já naquela época, era pouca e contrária; os políticos não prezavam o vigário, portanto no dia de seu enterro pouco mais de mil pessoas acompanharam seus restos mortais para o cemitério. Todos iam rezando o terço em sufrágio de sua alma. Os políticos pareciam muito misteriosos com a morte do padre. Houve até quem fosse armado para o cemitério a fim de proibir quem quer que fosse de fazer alguma homenagem a ele. Mas alguém veio de Piumhi, igno-rando a razão daquele silêncio, tomou a palavra e saudou o falecido. Falava-lhe como seu íntimo amigo e admirador, independentemente de interesses políticos.

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Sua morte deu-se no dia 24 de outubro de 1951. Seu sepul-tamento foi feito no cemitério da Igreja paroquial, quase no centro do cemitério.

O Padre Jonas Marfins preencheu sua falta, que pelos acen-tos de batizados permaneceu como vigário aqui, desde o dia 29 de outubro 1951 até 03 de fevereiro de 1952.

Depoimento da Professora Mércia Lopes

Padre Espíndola foi o maior bem-feitor da educação em nossa cidade, pois foi através dele que foi fundado o grupo escolar no qual fui inspetora. O prédio foi um presente do governador Benedito Valadares ao padre Espíndola devido a estima que tinha por ele.

No seu governo paroquial de cinquenta anos, teve papel im-

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portante na emancipação do município, pois trouxe para a cidade o correio e o telégrafo, além de formador religioso das famílias, investia na socialização e usava política para o beneficiamento de todos.

Residia no prédio onde era localizada a antiga prefeitura e quem o conhecia bem, sabia que seu bordão era “que só de passar pela porta de uma casa, sabia se a dona era caprichosa ou não”.

Na ocasião de sua morte, foi recebido no caminho pelos seus seguidores e de fundo a música da banda da cidade em sua home-nagem. Em relação a isso, há certas contradições, pois no Livro de Tombo, Padre Aristides relata que Padre Espíndola sofreu muito aqui e que em seu velório o povo foi proibido de prestar qualquer tipo de homenagem. Foi um padre que marcou a cidade, tanto que hoje a escola leva seu nome.

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Depoimento de dona Luzia do Zé Machado sobre a vida do Padre José Espíndola

O padre Espíndola era um homem muito sério e conservador, não admitia atos de pecado por parte de quem o cercava, tinha um gênio forte, mas nem por isso o povo deixava de admirá-lo.

Usava sempre uma batina preta, nunca ficava só de calça, que eram tecidas no tear, levava no bolso da batina um pacote de balas que era dado às crianças que primeiro lhe cumprimentassem.

Era muito agradável em sua casa e atraía a visita de muita gen-

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te, tinha um sítio e gostava muito de cavalos. Fazia muitas viagens, principalmente para Três Corações, era comum vê-lo acompanhado de um dos seus empregados, ambos a cavalo.

Quando a notícia de sua morte chegou a Pimenta, a Igreja foi enfeitada com panos pretos, embora já estragados por falta de cuidados. O povo foi ao encontro do corpo e neste local foi erguida uma cruz, de lá vieram em cortejo até a igreja. Foi recebido pela banda da cidade, com um toque melancólico em sua homenagem.

Depois de sua morte ficou a crença de que molhando o pé de sua cruz, chovia, mas hoje com passar do tempo, essa história vem se perdendo.

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Curiosidades:

• Gostava muito de pipoca, era o primeiro prato a lhe ser servido.• No bolso da batina levava um pacote de balas para dar à primeira criança que lhe cumprimentasse. Não deixava que na Igreja homens e mulheres ficassem juntos, assim dizia: “Saia pra baixo e calça pra cima.” • Dizia que só de passar pela porta da casa sabia se a dona era caprichosa ou não.• Tinha dois empregados, Tatão e Zé Calabanjo, um dos dois o acompa-nhava para quando chegasse a Santo Hilário trouxesse seu cavalo de volta.• Tinha um cavalo que chamava a atenção de todos por sua beleza.• Para chamar a atenção durante a missa, ele batia uma palma forte.• Após serem transferidos seus restos mortais do cemitério à Igreja, durante a missa, o Padre Aristides exibia seus ossos, a roupa, e conseguia arrancar lágrimas dos fiéis presentes.

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Dedicatória

Este exemplar é uma homenagem a todos os profissionais que dedicam suas vidas ao trabalho com a educação em todos os seus setores. Aproveito a oportunidade para nomear todo o quadro de trabalhadores da Escola Estadual Padre José Espíndola.

Adriana Aparecida Nunes, Adriana Regina Costa Silva, Adriana Regina Lopes de Moura, Ana Aparecida Oliveira e Silva, Beadilce Cristina Nunes Silva, Edineia do Rosário Garcia, Beraldo de Oliveira, Eliana Lourenço Rodrigues de Oliveira, Elida de Souza, Eliton de Oliveira Dias, Ellen Gomide de Oliveira, Engraça Maria Soares da Silva, Fabricia da Silva, Ferreira Teixeira, Fernanda Luiza de Souza, Flávio Manoel da Silva, Galiana Aparecida de Oliveira, Gisele Pessoa Barbosa Costa, Greice Pessoa Pinto, Guilherme Mateus Ferreira, Helena Aparecida Faria, Helena Maria de Oliveira, Inês Faria da Costa Cruz, Iselene Aparecida da Silva, Ivani de Paula Costa, Ivania Maria de Melo Belo, Janete Maria Costa de Paula, Jordana Karla Silva Campos, Juliana Silva Oliveira e Moreira, Larissa Nayara Fer-reira, Laurentina Resende Rodrigues Costa, Lenita Garcia, Lidiane Rodrigues Nunes, Liliane Cordeiro Costa, Lucas Anibal Faria Seabra, Lucélia Alves Vieira, Lucia Faria Ribeiro, Lucia Maria da Costa, Luciana Maria de Oliveira, Luciene Alves de Oliveira, Luciene Itá-lia Vieira, Marcia Cristina Souza de O. Santos, Margarete Maria Ferreira, Maria Aparecida Rodrigues Castro, Maria Aparecida Silva Rodrigues Costa, Maria Beatriz C. R. Andrade, Maria Clara Filho, Maria Cristina da Silva, Maria do Socorro de Oliveira, Maria dos Reis Lopes, Maria Espíndola Ferreira, Maria Geralda Lara Oliveira, Maria Lúcia Oliveira Costa, Maria Madalena Costa, Maria Ribeiro

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Seabra Alves, Marilene Freitas Lopes, Maristela Rezende Cunha, Mary Luce Almeida, Mateus Geraldo Garcia, Mateus Henrique Oliveira Faria, Mirian Resende Costa, Nágila Costa Lopes, Nair Garcia de Miranda, Oneida Maria Araújo Lopes, Primo Pessoa Pinto, Regislene Aparecida Camargos Silva, Rosa Augusta Costa Silva, Rosalina Tomé Gualberto Macedo, Rosalmira Bitencourt Costa Rezende, Roza Leal de Oliveira, Rozita Machado de Camargos, Sabrina da Silva Ferreira, Sandro Belchior Meneses, Selma Leal de Oliveira, Sibely Cambraia da Silva, Sonia Maria Domingos, Suely Gomes Lara Souza, Tais de Fátima Marques, Toninha Costa Bitencourt Macedo, Vilma Maria Miranda Camargos, Viviane Oliveira Souza, Walléria Pereira Alaião Contini.

São essas pessoas que fazem com que o ensino se propague, independentemente de seu cargo e importância. Para que tudo em uma escola funcione bem são necessários profissionais compromis-sados como vocês. Obrigado por me permitir compartilhar o mes-mo espaço de aprendizagem, e acreditem, foi uma grande honra trabalhar em parceria durante meu tempo de estágio. Saudações a todos os servidores que fazem com que esta empresa de mediação de conhecimento seja uma realidade.

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Despedida

“Ninguém nunca sabe quando aquele até logo poderá ser, na verdade, um adeus”

– Augusto Branco

No meio de tantas alegrias, conquistas e até mesmo confusões na minha rotina, de repente chegou a hora de me despedir. Nunca imaginei que seria tão difícil tomar essa decisão, mas às vezes é pre-ciso deixar algumas coisas para trás, para que novas possam chegar, afinal esse é o ciclo da vida.

Aposentar, deixar um local tão abençoado como esse, que durante muitos anos foi a minha segunda casa, nunca pude imaginar que esse momento chegaria tão depressa. Lembro-me como se fosse hoje que há quarenta anos, em fevereiro de 1977, cheguei aqui para fazer o quarto ano com a querida professor Eliana Maria de Oliveira sob a direção de Mércia Lopes. Estudei durante oito anos, em quais pude aprender e adquirir muitos valores até me formar no magistério em dezembro de 1985, foi nesse momento que encerrei com muita gratidão o meu primeiro ciclo na escola.

Voltei em 1997, graduada em Matemática para poder passar um pouco do que aprendi para meus queridos alunos. Lecionei du-rante quinze anos adquirindo uma bagagem ímpar para minha vida, até que no início do ano de 2010 recebi o convite da diretora Maria Gorete Araújo Costa para o cargo de vice-diretora, o qual aceitei e trabalhamos juntas durante dois anos, em quais pude aprender muito com a experiência e sabedoria dela, então, ela aposentou e

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me nomeou para assumir o seu cargo, e, com a aprovação do Cole-giado Escolar, tornei-me diretora em 04 de abril de 2013 e até hoje exercendo esse cargo com muita dedicação, tornando-me aprendiz durante todo esse tempo.

Agradeço a todos que de forma direta e indireta me apoiaram, confiaram e me ensinaram coisas boas de crescimento para a vida.

Assim encerro minha carreira na Escola Estadual Padre José Espíndola, onde cumpri uma das missões que Deus me concedeu, levo comigo a amizade e o carinho de todos vocês.

Abraços

Rosalina Tomé Gualberto Macêdo

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Agradecimentos

Nesta mesma escola iniciei minha caminhada rumo ao apren-dizado enquanto aluno. Como “o bom filho a casa torna”, agora esta mesma instituição de ensino auxilia em meu estágio para formação de Licenciatura em Letras. A Escola Estadual Padre José Espíndola assistiu e foi peça fundamental em minha metamorfose: de educando a educador. Agora, com a permissão de meus nobres colegas profes-sores, ainda que simbolicamente, adiciono a meu nome o honroso pronome de tratamento: Professor Kennedy Pessoa Barbosa.

Agradeço do fundo do meu coração a todos os funcionários, alunos e colegas desta escola, que fizeram e continuarão fazendo parte de minha vida. Sempre fui muito bem recebido por todos os membros deste estabelecimento educacional, o que facilitou imen-samente minha jornada acadêmica.

Rosalmira Bitencourt Costa Resende foi a primeira supervisora de meu estágio, abraçou com carinho este projeto e me deu todo apoio necessário. Uma pessoa simplesmente “encantadora”, resumindo em uma só palavra toda sua grandeza. Por motivo alheio a sua vontade, não pôde estar presente em todas as etapas deste livro, mas continua sendo a madrinha dessa ideia. Dedico a você esta humilde obra, meu sincero muito obrigado e que Deus lhe abençoe!

Aproveitando esta oportunidade deixo a seguinte mensagem a todos educadores: Educar é a difícil arte de aguçar com magia a curiosidade do educando pelo saber, e isso só acontece quando, cons-cientes, conseguimos encantar o outro com a magnitude e prazeres do aprendizado. Nesse momento a paixão inicial pelo conhecimento poderá transformar-se em amor eterno, perpetuando a evolução cognitiva do ser humano.

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Escola Estadual Padre José EspíndolaRua: Olinto Fonseca, 422 - centroCEP: 35.585-000 - Pimenta - MG

Tel: (37) 3324-1028E-mail: [email protected]

[email protected]

Este livro foi impresso pela gráfica ImagemDigitalpara Editora Recanto das Letras

em maio de 2017

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Este livro é um projeto pedagógico idealizado por mim, Kennedy Pessoa Barbosa, durante o estágio de formação do curso de Letras na Escola Estadual Padre José Espíndola.

Teve como colaboradores o corpo docente e alunos da escolaa mencionada. Constituído por ilustrações e textos produzidos pelos alunos, professores e demais funcionários, é um projeto que visa va-lorizar e incentivar todas as formas de comunicação utilizadas pelos indivíduos, principalmente pelos educandos.

Editora Recanto das Letras

...houve um começo e nos resta o eterno aprender e ensinar...

9 788569 943488

ISBN 978-85-69943-48-8