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Comitê de Sistemas de Liquidação e de Pagamentos Princípios gerais para serviços de remessas internacionais Janeiro de 2007 BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS Banco Mundial

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Comitê de Sistemas de Liquidação e de Pagamentos

Princípios gerais para serviços de remessas internacionais

Janeiro de 2007

BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS

Banco Mundial

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 ii

Tradução de Luciano Andrade Frois

Podem ser solicitadas cópias desta publicação (em inglês) ao: Bank for International Settlements Press & Communications CH-4002 Basel, Switzerland E-mail: [email protected] Fax: +41 61 280 9100 e +41 61 280 8100 O original desta publicação está disponível nos sítios do BIS (www.bis.org) e do Banco Mundial (www.worldbank.org). Bank for International Settlements e Banco Mundial, 2007. Todos os direitos reservados. Pequenos excertos podem ser reproduzidos ou traduzidos, desde que a fonte seja citada. ISBN 92-9131-732-2 (impresso, em inglês) ISBN 92-9197-732-2 (on line, em inglês)

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 iii

Prefácio

Nos últimos anos, várias organizações têm enfrentado questões relacionadas ao importante tópico das remessas internacionais. Entretanto, poucos desses relatórios se devotaram especificamente aos “aspectos de sistema de pagamentos” relacionados às remessas – isto é, dos aspectos práticos das transferências de dinheiro. O entendimento desses aspectos de sistema de pagamentos é crucial para compreender as remessas e para assegurar que os serviços relacionados são seguros e eficientes. Este relatório fornece uma análise dos aspectos de sistema de pagamentos relacionados com as remessas e estabelece princípios gerais desenhados para ajudar os países a desenvolverem o pertinente mercado.

O relatório foi inicialmente publicado em março de 2006 como um documento para consulta pública, e nós somos muito gratos às muitas pessoas que ofereceram comentários. Em conseqüência desses comentários, nós fizemos alterações no relatório para fortalecer a análise e aperfeiçoar a mensagem.

O relatório foi preparado pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e de Pagamentos e pelo Banco Mundial, por intermédio de uma força-tarefa da qual participaram representantes de instituições financeiras internacionais envolvidas com remessas, bem como de bancos centrais tanto de países remetentes quanto de países destinatários de remessas. O CPSS e o Banco Mundial agradecem aos membros da força-tarefa e aos co-presidentes do grupo, Massimo Cirasino e Marc Hollanders, pelo excelente trabalho realizado na preparação deste relatório.

Timothy F Geithner, Presidente Michael U Klein, Vice-presidente

Comitê de Sistemas de Liquidação e de Pagamentos Banco Mundial

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 iv

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 v

Índice 1. Introdução e sumário-executivo .......................................................................................................... 1

2. Uma descrição do mercado de remessas .......................................................................................... 5

2.1 Definição de uma remessa ........................................................................................................ 5

2.2 Provedores de serviços de remessa ......................................................................................... 6

2.3 Como as remessas são feitas ................................................................................................... 7

2.4 Tipos de serviços de remessa .................................................................................................. 8

3. Análise das questões-chave relacionadas com serviços de remessa ............................................... 9

3.1 Ausência de transparência e de compreensão ......................................................................... 10

3.2 Questões de infra-estrutura ....................................................................................................... 12

3.3 O arcabouço legal e regulamentar ............................................................................................ 14

3.4 Ausência de condições competitivas de mercado .................................................................... 16

3.5 Riscos ....................................................................................................................................... 17

4 Princípios gerais para serviços de remessas internacionais ............................................................. 17

4.1 Objetivos de política pública ...................................................................................................... 17

4.2 Aplicação dos princípios gerais ................................................................................................. 18

4.3 Os princípios gerais ................................................................................................................... 19

Transparência e proteção do consumidor ................................................................................. 19

Infra-estrutura de sistema de pagamentos ................................................................................ 19

Arcabouço legal e regulamentar ................................................................................................ 21

Competição e estrutura de mercado ......................................................................................... 24

Governança e gerenciamento de riscos .................................................................................... 24

4.4 Papéis dos provedores de serviços de remessa e das autoridades públicas ........................... 25

A. Papel dos provedores de serviços de remessa .................................................................. 25

B. Papel das autoridades públicas .......................................................................................... 25

5. Formulação de uma abordagem para a implementação dos princípios gerais .................................. 25

Anexo 1: Possíveis ações para a implementação dos princípios ................................................................. 28

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 1 (transparência e proteção do consumidor)... 28

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 2 (infra-estrutura de sistema de pagamentos).. 32

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 3 (ambiente legal e regulamentar) .................. 34

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 4 (estrutura de mercado e competição) .......... 35

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 5 (governança e gerenciamento de riscos) .... 36

Anexo 2: Elementos de uma remessa ......................................................................................................... 37

Captura ............................................................................................................................................... 37

Desembolso ........................................................................................................................................ 37

Mensageria ......................................................................................................................................... 38

Liquidação .......................................................................................................................................... 38

Liquidez ............................................................................................................................................... 39

Anexo 3: Exemplos de liquidação em serviços de remessa ........................................................................ 40

Descrição do exemplo inicial .............................................................................................................. 40

Análise do exemplo ............................................................................................................................ 42

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 vi

Variações do exemplo ........................................................................................................................ 43

Anexo 4: Interligações diretas entre sistemas de pagamentos .................................................................... 46

Anexo 5: Extratos do documento da cúpula do G8 ...................................................................................... 47

Anexo 6: Bibliografia selecionada ................................................................................................................. 49

Anexo 7: Glossário ........................................................................................................................................ 50

Anexo 8: Membros da força-tarefa ............................................................................................................... 51 Relação dos quadros Quadro 1: Os princípios gerais e os papéis relacionados ............................................................................ 3

Quadro 2: Alguns termos a respeito de PSRs que são utilizados em outros relatórios ............................... 6

Quadro 3: Regulação de remessas .............................................................................................................. 15

Quadro 4: Recomendações da Força-Tarefa de Ação contra Lavagem de Dinheiro .................................. 22

Quadro 5: O papel potencial dos bancos centrais na aplicação dos princípios ........................................... 27

Quadro 6: Transparência em relação ao remetente ..................................................................................... 28

Quadro 7: Remessas dos Estados Unidos para o México: uma comparação de preços ............................. 30

Quadro 8: Informações fornecidas pelas autoridades das Filipinas para os emigrantes ..............................30

Quadro 9: Garantia de recebimento de fundos ............................................................................................. 31

Quadro 10: Ampliando o acesso aos serviços bancários no Brasil .............................................................. 32

Quadro 11: Interligando câmaras de compensação automáticas de diferentes países ............................... 33

Quadro 12: Desenvolvimento de uma “marca de qualidade” ....................................................................... 35

Quadro 13: Serviços de remessa por telefones celulares e sua regulação ................................................. 35

1. Introdução e sumário-executivo

Introdução

1. O fluxo de remessas de trabalhadores migrantes para seus familiares nos países de origem é uma fonte importante de renda para muitas economias em desenvolvimento. Os destinatários dessas remessas freqüentemente dependem delas para cobrir as despesas do dia-a-adia, para formar um colchão para situações de emergência ou, em alguns casos, para custear pequenos investimentos.

2. O valor total das remessas tem crescido fortemente ao longo da última década, sendo estimado que em 2005 elas alcançaram, em termos globais, mais de USD 230 bilhões, envolvendo cerca de 175 milhões de migrantes. As remessas são, provavelmente, a principal fonte de financiamento externo atual em países em desenvolvimento. Em alguns países, elas podem responder por tanto quanto um terço do PIB. Além disso, o fluxo de remessas parece ser significativamente mais estável do que aquele de outras formas de financiamento externo1.

3. Entretanto, essas remessas podem custar caro à vista da renda freqüentemente baixa dos trabalhadores migrantes e dos pequenos valores enviados (tipicamente, não mais do que umas poucas centenas de dólares ou moeda equivalente de cada vez). Além disso, os imigrantes podem enfrentar dificuldades para fazer as remessas se eles não falam a língua local ou não têm a necessária documentação, enquanto a infra-estrutura financeira relativamente precária em alguns países pode dificultar o recebimento das remessas pelos destinatários. Em alguns casos, os serviços não são confiáveis, especialmente no que diz respeito ao tempo para conclusão das transferências. Adicionalmente, alguns mercados não favorecem a competição ou apresentam barreiras à provisão dos serviços de remessa.

4. A importância das remessas e as dificuldades que podem estar associadas a elas têm sido cada vez mais reconhecidas nos últimos anos. Em particular, em sua reunião de cúpula de Sea Island em junho de 2004, os países do G8 concordaram em agir em conjunto com os países em desenvolvimento com vistas à redução do custo de realização das remessas (ver o Anexo 5). Uma dessas ações foi a criação de uma força-tarefa para desenvolver princípios para os serviços de remessas internacionais. A força-tarefa foi constituída por especialistas nas áreas de sistemas de pagamentos e de desenvolvimento oriundos de bancos centrais tanto de países remetentes quando de países destinatários, bem como de instituições financeiras internacionais (ver o Anexo 8, que contém a lista dos membros da força-tarefa). O relatório é o produto dessa força-tarefa.

5. As remessas podem ser analisadas por várias razões: por exemplo, devido ao seu impacto sobre o desenvolvimento; devido a sua estreita ligação com questões politicamente sensíveis relacionadas com a migração; ou ainda devido à necessidade de monitorar os fluxos para propósitos de balanço de pagamentos. Todos esses aspectos das remessas estão inter-relacionados e não podem, assim, ser ignorados. Entretanto, em linha com a solicitação do G8, o foco deste relatório está nos aspectos de sistemas de pagamentos relacionados com as remessas. O termo “transferência relacionado com remessa” é utilizado neste relatório para enfatizar isso.

6. O propósito do relatório é analisar os aspectos das remessas que estão relacionados a sistemas de pagamentos, e oferecer princípios gerais que ajudem os países a desenvolver o mercado de transferências relacionadas a remessas, se assim desejarem. Os princípios não têm a intenção de serem prescritivos, mas sim a de fornecerem uma orientação. A aplicação dos princípios deve ajudar a alcançar os objetivos de política pública que objetivem serviços de remessa internacionais eficientes e seguros, o que requer que os mercados pertinentes sejam transparentes, acessíveis e sólidos, além de possibilitarem a contestação por novos competidores. O mercado de remessas 7. O relatório considera apenas as transferências internacionais relacionadas com remessas – excluindo, portanto, as remessas realizadas internamente --, mas, por simplicidade, faz normalmente referências a elas como “transferências relacionadas com remessas” e “serviços de remessa”, isto é, assume-

1 Fonte: Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento. Oficialmente, os fluxos em 2005, em termos globais, foram calculados como sendo de USD 232 bilhões, dos quais USD 167 bilhões foram direcionados para países em desenvolvimento. Entretanto, à vista de algumas incertezas em relação à mensuração desses fluxos, principalmente em razão da existência de remessas não registradas, os fluxos reais podem ser muito maiores – talvez 50% ou mais (ver “Perspectivas econômicas globais de desenvolvimento”, Banco Mundial, 2006).

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se que elas sejam internacionais. Para os propósitos do relatório, transferências relacionadas com remessas são definidas como pagamentos de pequeno valor feitos por pessoas residentes em um país para pessoas residentes em outros países. Na prática, trata-se de pagamentos recorrentes feitos por trabalhadores migrantes.

8. Do ponto de vista daqueles que fornecem serviços de remessa, as transferências relacionadas com remessas freqüentemente não se distinguem de qualquer outra transferência de baixo valor feita entre pessoas de diferentes países, incluindo pagamentos de pequeno valor de e para comerciantes, devido ao fato de que o provedor de serviços de remessa (PSR) é incapaz de identificar com certeza apenas aquelas que são feitas de pessoa para pessoa. Na medida em que eles afetam os PSRs (por exemplo, exigindo que eles sejam mais transparentes sobre seus serviços), os princípios gerais provavelmente terão que ser também aplicados a outras transferências de pequeno valor envolvendo diferentes países, e não se restringirão apenas às remessas. Entretanto, isso não deve ser uma desvantagem à vista de que, geralmente, não é desejável fazer distinção entre pagamentos segundo seus propósitos.

9. As transferências relacionadas com remessas podem ser feitas de diferentes maneiras, incluindo serviços oferecidos por pessoas físicas e baseados em dinheiro em espécie, serviços de operadores globais especializados em transferências de fundos, serviços oferecidos por esquemas de cartões e transferências de banco para banco2. Os princípios gerais visam todos os PSRs, exceto aqueles cujos serviços são baseados puramente em transferências físicas de dinheiro.

10. Os serviços de remessa podem apresentar complexidade maior ou menor, bem como diferentes velocidades. Entretanto, em todos os casos é necessário existir algum tipo de “rede” – isto é, pontos de acesso nos quais os consumidores de serviços de remessa pagam e recebem fundos. São também necessários procedimentos para interligar esses pontos de acesso, com vistas a permitir a troca de mensagens (transferência de informações sobre a remessa) e a liquidação (transferência dos fundos em si). Alguns PSRs, tais como os bancos globais, podem contar com redes de agências passíveis de uso para esse propósito (“serviço unilateral”). Outros, incluindo pequenos PSRs menores, podem utilizar uma rede fornecida, por exemplo, por um dos operadores globais de transferências de fundos (“serviço franqueado”), ou podem ter de cooperar para a criação de uma rede (“rede negociada”). Em todos esses casos, os PSRs têm um relacionamento direto entre eles, que os possibilita acordarem e divulgarem o tempo e o preço total do serviço (incluindo a tarifa cobrada do destinatário dos fundos). Um outro tipo de serviço, que é fornecido, por exemplo, pelos bancos em sua maioria, utiliza bancos correspondentes para enviar um pagamento para virtualmente qualquer outro banco no mundo (“serviço aberto”). Essa cobertura global quase que ilimitada é valiosa, especialmente para assegurar que mesmo as pequenas localidades tenham acesso ao serviço. Entretanto, uma desvantagem correspondente é que o PSR freqüentemente não tem um relacionamento direto com o banco para o qual os fundos são remetidos e não tem, portanto, conhecimento sobre a tarifa que poderá estar sendo cobrada do destinatário, ou do tempo total para conclusão da transferência. A abordagem do relatório

11. Este relatório é baseado na crença de que o melhor modo para reduzir o preço dos serviços de remessa e aumentar o acesso a eles é o encorajamento à competição – em particular, fazer com que o mercado de remessas seja mais aberto e, portanto, “contestável”. Um mercado que está aberto a um grande número de PSRs deve resultar em preços menores e maiores possibilidades de escolha de serviços. Entretanto, a competição precisa ser estabelecida em bases justas e contar com suportes legais robustos, tendo-se consciência de que alguma forma de regulação pode ser necessária, já que os mercados nem sempre funcionam de uma forma ótima.

12. A questão do tipo apropriado e do grau de regulação é um tema do relatório. Ao considerar a questão, é importante perceber que, a priori, os objetivos de política pública podem não apontar sempre para a mesma direção. Por um lado, um corolário importante de se encorajar a competição para reduzir preços e aumentar a acesso é que as barreiras para entrar no mercado de remessa devem ser reduzidas tanto quanto possível, e a regulação pode ser uma barreira significativa devido aos custos relacionados com sua observação. Por si, isto sugere que se estabeleça a regulação em um mínimo possível. Por outro lado, outros objetivos de política pública, tais como a necessidade de evitar lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, podem fazer com que alguma forma de regulação seja essencial. Que os objetivos relacionados

2 Em geral, o termo “banco” é utilizado neste relatório para se referir às instituições que recebem depósitos ou operam com crédito, ou qualquer que seja a definição que se aplique em uma determinada jurisdição.

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com as remessas podem conflitar deste modo não é surpreendente, uma vez que o mesmo provavelmente acontece em relação à política voltada para qualquer mercado.

12. Conforme mencionado acima, este relatório tem seu foco nos aspectos de sistema de pagamentos relacionados com as remessas. Outras questões de política pública, tais como lavagem de dinheiro, financiamento ao terrorismo e necessidade de estatísticas sobre finanças e balanço de pagamentos, estão fora do escopo do mandado dado pelo G8, bem como do escopo do relatório. Ao ressaltar os custos potenciais da regulação, o relatório sugere que as autoridades pertinentes precisam reconhecer a gama completa de questões relacionadas e cooperar entre si de modo que, à luz das prioridades gerais do país, elas possam estabelecer políticas que alcancem um balanço apropriado. Questões-chave relacionadas com serviços de remessa e com os princípios gerais 14. Em qualquer mercado, a disponibilidade de amplas informações – isto é, a existência de transparência – é importante porque isso possibilita que as pessoas tomem decisões embasadas sobre quais serviços utilizar, bem como ajuda a fazer com que o mercado como um todo seja mais eficiente. A transparência no mercado de remessas é particularmente importante porque o preço ao consumidor depende de dois elementos, isto é da taxa de câmbio utilizada e de quaisquer tarifas cobradas, e a maioria dos consumidores tem dificuldades de calcular, com a combinação desses elementos, qual serviço é o mais barato. Transparência, assim como adequada proteção do consumidor, é também importante porque, como migrantes de baixa renda vivendo em um país estrangeiro, muitos remetentes podem ter dificuldades de entender a língua local, ou de fornecer adequada identificação para abrir uma conta bancária, ou ter falta de tempo ou conhecimentos financeiros para pesquisar e comparar diferentes serviços de remessa. O Princípio Geral 1 é, portanto, no sentido de que o mercado de remessas deva ser transparente e oferecer adequada proteção ao consumidor (veja o Quadro 1 para uma lista de dos cinco princípios gerais e dos papéis relacionados). Os PSRs devem portanto ser encorajados a oferecer as informações pertinentes sobre seus próprios serviços de uma maneira que elas possam ser facilmente acessadas e compreendidas. As autoridades ou outras organizações talvez queiram divulgar informações de preços comparativos. Eles talvez queiram também realizar campanhas educacionais, para dar aos remetentes e aos destinatários suficientes conhecimentos básicos que os capacitem a entender as informações fornecidas.

15. A infra-estrutura necessária para dar suporte aos serviços de remessa é algumas vezes inadequada. Muitos serviços requerem que os PSRs cooperem para a criação de uma rede de pontos de acesso e eles nem sempre conseguem identificar potencias parceiros adequados para isso, particularmente em outros países. Além disso, o subdesenvolvimento da infra-estrutura financeira doméstica, particularmente nos países destinatários, pode significar que as transferências de fundos para os pontos de acesso sejam feitas de forma lenta e não confiável. Em alguns casos, os serviços de pagamento não feitos em espécie podem estar disponíveis apenas em localidades urbanas. Outro importante aspecto da infra-estrutura diz respeito ao uso de correspondência bancária, que é amplamente utilizada para transferências de fundos envolvendo diferentes países, esquema esse que, entretanto, pode ser caro para pagamentos de pequeno valor como no caso das remessas. O Princípio Geral 2 é, portanto, no sentido de que devem ser encorajadas melhoras na infra-estrutura do sistema de pagamentos que tenham o potencial de aumentar a eficiência dos serviços de remessa. A segurança e a eficiência dos serviços de remessa podem ser afetadas por sistemas de pagamento nos mercados pertinentes e pelo modo como esses sistemas são acessados e utilizados pelos PSRs ou pelos bancos que atuam em nome deles. Os serviços de remessa podem ser melhorados por iniciativas que se destinem a facilitar uma maior interoperabilidade dos sistemas e o processamento automático direto. Em muitos países destinatários, a expansão da infra-estrutura do sistema de pagamentos para áreas sub-atendidas e o aumento do acesso a ele poderiam beneficiar os serviços financeiros de entrega de fundos de todos os tipos, incluindo as remessas, embora isto seja uma tarefa de grandes dimensões.

Quadro 1 Os princípios gerais e os papéis relacionados

Os Princípios Gerais são destinados aos objetivos de política pública que visam atingir eficiência e eficiência nos serviços de remessas internacionais. Para esse fim, os mercados de serviços devem possibilitar a contestação e ser transparentes, acessíveis e robustos.

Transparência e proteção do consumidor

Princípio Geral 1: o mercado de serviços de remessa deve ser transparente e deve oferecer adequada proteção do consumidor. continua ...

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16. A indústria de remessas provavelmente florescerá melhor quando estiver sujeita a leis e regulamentos apropriados. Conforme já observado, as remessas devem ser reguladas por várias razões, incluindo a necessidade de se impedir sua má utilização para propósitos tais como lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, aspecto que talvez seja o mais importante. Entretanto, assim como em todas as leis e regulamentos, existe a possibilidade de que os dispositivos relacionados às remessas estejam mal desenhados e provoquem efeitos colaterais não desejados, bem como de que eles sejam desproporcionais para os problemas que procuram enfrentar, ou de que eles continuem a ser aplicados mesmo quando não são mais necessários. Além disso, regulamentar apenas por tipo de entidade, como algumas vezes acontece quando, por exemplo, os regulamentos são aplicados apenas aos serviços fornecidos por instituições licenciadas tais como bancos, pode tornar a regulamentação menos efetiva, por possibilitar brechas que podem ser exploradas para atividades ilegais, e distorcer os mercados, por possibilitar que alguns PSRs escapem dos custos da regulação e assim ofereçam serviços artificialmente mais baratos. Os regulamentos nacionais devem visar a criação de um ambiente de negócios que possibilite competição justa entre serviços de remessa equivalentes. O Princípio Geral 3 dispõe, portanto, que os serviços de remessa devem ser amparados por um arcabouço legal e regulamentar que seja robusto, previsível, não-discriminatório e proporcional em todas as jurisdições pertinentes.

17. A eficiência dos serviços de remessa depende de haver um ambiente de negócios competitivo. O Principal Geral 4 dispõe, portanto, que devem ser apoiadas condições de mercado que favoreçam a competição na indústria de remessas, incluindo o acesso apropriado às infra-estruturas domésticas de pagamento. A competição pode ser facilitada por várias ações como, por exemplo, desencorajando condições de exclusividade por intermédio das quais um PSR permite que seus agentes, ou outros PSRs, ofereçam exclusivamente os serviços de remessa dele, não sendo admitido que eles ofereçam também serviços de remessa de outros provedores. É importante que os PSRs sem acesso direto às infra-estruturas de pagamento necessárias para o fornecimento de serviços de remessa tenham condições de utilizar, em igualdade de condições, os serviços de pagamento fornecidos pelas instituições que tenham acesso direto a essas infra-estruturas.

18. Os valores relativamente pequenos envolvidos em transferências de remessa implicam que provavelmente não haverá risco sistêmico associado a elas. Entretanto, os PSRs enfrentam riscos financeiros, legais, operacionais, de fraude e de reputação. O Princípio Geral 5 dispõe, portanto, no sentido

Quadro 1 – continuação Infra-estrutura de sistema de pagamentos

Princípio Geral 2: devem ser encorajados melhoramentos na infra-estrutura de sistema de pagamentos que tenham o potencial de aumentar a eficiência dos serviços de remessa.

Ambiente legal e regulamentar

Princípio Geral 3: os serviços de remessa devem ser amparados por um arcabouço legal e regulamentar que seja robusto, previsível, não-discriminatório e proporcional nas jurisdições pertinentes.

Competição e estrutura de mercado

Princípio Geral 4: devem ser favorecidas as condições para a existência de um mercado competitivo na indústria de remessas, incluindo o acesso apropriado às infra-estruturas domésticas de pagamento.

Governança e gerenciamento de risco

Princípio Geral 5: os serviços de remessa devem contar com práticas adequadas de gerenciamento de risco e de governança.

Papéis dos provedores de serviços de remessa e das autoridades

A. Papel dos provedores de serviços de remessa: os provedores de serviços de remessa devem participar ativamente da implementação dos princípios gerais.

B. Papel das autoridades públicas: as autoridades públicas devem avaliar que ações devem ser adotadas, relativamente à implementação dos princípios gerais, com vistas a se alcançar os objetivos de políticapública.

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de que os serviços de remessa devem ser suportados por práticas apropriadas de gerenciamento de risco e de governança. Essas práticas, que devem ser apropriadas para o tamanho e o tipo dos negócios do PSR e para o nível de riscos, podem aumentar a segurança e a solidez dos serviços de remessa e, assim, ajudar na proteção aos consumidores.

19. A importância dos fluxos de remessa varia de país para país e, assim, embora os princípios sejam desenhados para serem aplicados por todos, alguns países podem decidir que o tamanho do mercado de remessas não justifica uma ação relevante, ou que não há necessidade de qualquer ação. Adicionalmente, na maioria dos casos, provavelmente os princípios serão aplicados nos países remetentes sem qualquer consideração sobre a destinação dos fundos, e nos países destinatários sem qualquer consideração sobre a origem deles. Entretanto, ao aplicar alguns aspectos dos princípios, tais como os programas de educação discutidos no âmbito do Princípio Geral 1, as autoridades poderiam priorizar seus esforços para os corredores bilaterais mais importantes, ou para corredores nos quais eles acreditam que os esforços serão mais produtivos. As autoridades dos países remetentes devem também ter em mente que, mesmo quando as remessas não são uma prioridade para eles, elas podem ser importantes para os países destinatários e esses últimos podem não ser capazes de implementar os princípios de uma maneira efetiva sem a contribuição dos países remetentes.

20. Nos países em que se decide adotar ações para implementação dos princípios, tanto os PSRs quanto as autoridades precisarão ser envolvidas. As autoridades devem avaliar qual ação deve ser adotada para que, por intermédio da implementação dos princípios, se atinja os objetivos de política pública, sendo que a própria implementação também precisará contar com a ativa participação dos PSRs. Por causa dos vínculos entre as remessas, o acesso a serviços financeiros e a redução da pobreza, e, portanto, da relevância das remessas para a implementação das Metas de Desenvolvimento do Milênio, instituições financeiras internacionais, tais como o Banco Mundial, os bancos de desenvolvimento regionais e o Fundo Monetário Internacional, têm um papel a cumprir no sentido de apoiar tanto as autoridades quanto os participantes do mercado, no que diz respeito à aplicação dos princípios. Estrutura do relatório

21. A Seção 2 descreve as principais características do mercado de remessas e a Seção 3 analisa as questões-chave que surgem. Os princípios gerais em si, juntamente com os papéis dos PSRs e das autoridades públicas relacionados com a implementação deles, são estabelecidos na Seção 4, enquanto a Seção 5 discute a formulação de uma abordagem para implementação dos princípios. Possíveis ações para implementação dos princípios e detalhes sobre como as transferências relacionadas às remessas são feitas, são tratados nos anexos. 2. Uma descrição do mercado de remessas

22. Esta seção descreve o mercado de remessas. Os anexos 2 e 3 contêm mais detalhes. 2.1 Definição de uma remessa

23. Transferências relacionadas a remessas podem ser domésticas ou internacionais. As remessas domésticas ocorrem, por exemplo, quando há migração das áreas rurais para as áreas urbanas dentro de um país. Em larga extensão, questões semelhantes surgem independentemente do tipo de remessa. Entretanto, o foco deste relatório está nas transferências relacionadas às remessas internacionais, as quais, para os propósitos do relatório, são definidas como pagamentos feitos de pessoa-a-pessoa e que envolve países diferentes e valores relativamente pequenos. Na prática, tipicamente, essas transferências são pagamentos recorrentes feitos por trabalhadores migrantes que, por exemplo, enviam mensalmente dinheiro às suas famílias nos países de origem. Por simplicidade, neste relatório tais pagamentos são usualmente referidos apenas como “transferências relacionadas a remessas”, isto é, assume-se que elas são internacionais3.

24. A definição é feita de forma a refletir os aspectos de sistema de pagamentos das remessas. A ênfase está nos pagamentos entre indivíduos, ao invés de em pagamentos de compras de mercadorias e serviços, ou em pagamentos entre firmas. Esses pagamentos entre indivíduos são tipicamente de valor relativamente pequeno quando comparados, por exemplo, com transferências interbancárias de atacado. Freqüentemente os fluxos são entre indivíduos de renda relativamente baixa e os remetentes, quando migrantes, podem não estar sempre bem integrados em todos os aspectos da economia e da sociedade do

3 Alguns outros termos utilizados no relatório são definidos no glossário que conta do Anexo 7.

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país hospedeiro. Adicionalmente, embora as transferências relacionadas a remessas sejam tipicamente recorrentes, na prática elas são usualmente feitas como uma série de instruções individuais, e não por intermédio de uma ordem-padrão4.

25. Embora na prática a maioria dos fluxos de remessas seja usualmente constituído de pagamentos recorrentes de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, a definição de transferência relacionada à remessa que é utilizada aqui é mais geral e, assim, contempla todas as transferências realizadas entre indivíduos residentes em países diferentes e que sejam de baixo valor. Por exemplo, a definição também cobre pagamentos que são específicos ao invés de recorrentes (por exemplo, dinheiro para cobrir uma emergência), ou pagamentos entre outros países que não aqueles mencionados5.

26. Além disso, embora as remessas sejam, de um ponto de vista econômico e social, de especial interesse como uma categoria de pagamento, deve ser ressaltado que, do ponto de vista dos fornecedores de serviços de pagamento, as transferências relacionadas a remessas serão freqüentemente indistinguíveis de outras transferências de varejo (isto é, de baixo valor) envolvendo países diferentes, incluindo pagamentos de pequeno valor entre comerciantes, porque o PSR é incapaz de identificar se elas são de pessoa para pessoa. Por exemplo, o remetente pode estar fazendo o pagamento não como um indivíduo, mas sim em nome de um pequeno negócio que ele opera, ou pode não estar claro se o nome (estrangeiro) do destinatário é nome de um indivíduo ou de uma firma6. 2.2 Provedores de serviços de remessa

27. Há muitas maneiras pelas quais as transferências relacionadas a remessas podem ser feitas, incluindo, entre outras formas, pagamentos em espécie por intermédio de indivíduos que fornecem esse serviço para suas comunidades locais de imigrantes, serviços oferecidos por operadores globais de transferências de dinheiro, transferências de banco para banco e pagamentos por intermédio de cartão. Neste relatório, qualquer pessoa ou instituição que fornece tal serviço como um negócio é chamado de provedor de serviços de remessa (PSR). Entretanto, o relatório não cobre aqueles cujos serviços são baseados unicamente em transferências físicas de dinheiro (por exemplo, quando uma pessoa viaja de volta para seu país de origem e transporta o dinheiro em espécie em nome do remetente, ou quando o dinheiro em espécie é remetido pelos correios de um país para outro).

28. Embora o termo PSR seja utilizado por conveniência neste relatório, a maioria dos PSRs na prática oferecerão também outros tipos de serviços de pagamento, incluindo outros tipos de serviços de pagamento entre países diferentes. Os PSRs podem ser considerados, assim, como um sub-conjunto dos provedores de serviços de pagamento7, que fornecem transferências de varejo entre países diferentes8 (ver o Quadro 2 para mais informações sobre terminologia relacionada a PSRs).

4 Uma ordem-padrão é uma instrução que um pagador dá a um banco, ou a outro provedor de serviço de pagamento, para que ele faça um pagamento regular, de um valor pré-determinado, para um destinatário especificado. O fato de que ordens-padrão são pouco utilizadas na prática, para fazer remessas, pode decorrer do fato de que os remetentes não têm acesso a PSRs tais como bancos e outras instituições recebedoras de depósitos, que são aquelas que efetivamente oferecem serviços de ordem-padrão. 5 Por exemplo, existem fluxos significativos entre Costa Rica e outros países da América Central, entre a Rússia e outros países da Comunidade dos Estados Independentes, e entre a África do Sul e outros países da Comunidade de Desenvolvimento do Sul da África. 6 Os PSRs usualmente também não saberão qual é o propósito do pagamento. Não saberão também se ele é um pagamento recorrente, caso ele seja um entre outros pagamentos individuais de uma série. 7 O termo “Provedores de serviços de pagamento” inclui tanto entidades que recebem depósitos e possibilitam a realização de transferências de fundos com base nesses depósitos (isto é, a maioria dos bancos e muitas instituições não-bancárias recebedoras de depósitos), quanto instituições não recebedoras de depósitos, mas que transferem fundos. Essas últimas instituições, por sua vez, podem incluir: (a) operadores de transferências de dinheiro (situação na qual o serviço é baseado em “pague agora” – por exemplo, em dinheiro ou por intermédio de uma transferência bancária do pagador para o operador do sistema), (b) aqueles que oferecem “transferências pré-pagas (por exemplo, via cheques de viagem ou cartões pré-pagos), ou (c) aqueles que oferecem serviços de transferência na base de “pague depois” (por exemplo, via cartões de crédito). O termo inclui indivíduos que fornecem serviços de pagamento. 8 Pagamentos de varejo podem ser distinguidos de pagamentos não-de varejo desde que, de modo um tanto arbitrário, um valor-limite seja estabelecido. Estabelecer essa distinção pode se justificar na extensão em que certas medidas de proteção ao consumidor podem ser apropriadas para pagamentos de varejo, mas não para pagamentos que não sejam de varejo.

Quadro 2 Alguns termos utilizados neste relatório que são relacionados com PSRs

Em outros trabalhos sobre remessas, uma distinção é freqüentemente feita entre os setores regulados e não-regulados da indústria, bem como entre os setores formal e informal. Este quadro explica porque essas distinções comumente feitas não são utilizadas neste relatório. continua ...

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29. O fornecimento de serviços de remessa implica a utilização de sistemas, arranjos e mercados diversos, conforme explicado nas seções 2.3 e 2.4. Os princípios estabelecidos neste relatório podem ser considerados como se aplicando, em última análise, aos “sistemas de remessa”, situação em que um sistema é definido como um todo organizado que é composto de partes que, embora diversas, são inter-relacionadas e interdependentes. Entretanto, de vez que os principais produtos de tais sistemas são os serviços de remessa, por simplicidade o relatório se refere diretamente a “serviços de remessa”. 2.3 Como as remessas são feitas

30. Os principais participantes em uma transferência relacionada a remessa são o remetente, o destinatário e o prestador do serviço de remessa. Na prática, freqüentemente haverá dois PSRs envolvidos, um no país remetente (o PSR que captura a transação) e outro no país destinatário (o PSR que desembolsa os recursos), os quais, de algum modo, precisam trabalhar em conjunto, para que o serviço seja oferecido como um todo. Além disso, os PSRs nem sempre utilizam seus próprios escritórios ou agências para a prestação do serviço. Algumas vezes, eles usam agentes para fazerem a captura ou desembolsarem os recursos em nome deles9. Os bancos e outras entidades recebedoras de depósitos, tais como as cooperativas de crédito, são também usualmente importantes em transferências relacionadas a remessas: os PSRs podem eles próprios ser os tomadores de depósitos mas, mesmo quando não são, eles provavelmente utilização instituições recebedoras de depósitos para fazerem transferências de fundos entre países.

31. Considerando a transferência completa desde o remetente até o destinatário, na prática a maioria das remessas são transferências de crédito – isto é, o pagamento é iniciado por uma instrução que é dada pelo remetente ao PSR10. Instrumentos de débito tais como os cheques são algumas vezes utilizados – isto é, o remetente entrega um cheque para o destinatário, que o saca no banco em que os dois são clientes, de

9 Por simplicidade, o relatório se refere aos agentes de captura e de desembolso independentemente das entidades envolvidas serem agências do PSR ou entidades separadas com as quais o PSR tem um contrato. 10 Uma transferência de crédito é normalmente definida como uma “ordem de pagamento --ou possivelmente uma seqüência de ordens de pagamento -- feita com o propósito de colocar fundos à disposição do beneficiário. Tanto as instruções de pagamento quanto os fundos a que elas se referem se movem do banco do pagador/originador para o banco do beneficiário, possivelmente por intermédio de vários outros bancos na qualidade de intermediários e / ou mais de um sistema de transferências de crédito” (destaques em itálico foram acrescentados) – ver o glossário de termos utilizados em sistemas de liquidação e de pagamentos, BIS, março de 2003. Entretanto, por simplicidade, o termo é também utilizado neste relatório para se referir a casos em que o PSR não é um banco.

Quadro 2 - continuação A distinção entre aqueles PSRs que estão sujeitos à regulação daqueles que não estão é razoavelmente clara em si mesma, mas as implicações disso não são assim tão claras. Em alguns países, a indústria como um todo pode, em teoria, estar regulada, mas alguns PSRs podem ignorar ou procurar burlar a lei, operando, nesse caso, ilegalmente. Em outros países, as regras existentes podem ser redigidas de um modo que elas se apliquem apenas seletivamente (por exemplo, as instituições recebedoras de depósitos), situação na qual o setor não-regulado é legal e a natureza incompleta do regime regulatório é permitida pelo próprio modelo. A distinção entre formal e informal é freqüentemente feita com o propósito de dar preferência ao uso do setor formal. Entretanto, a diferença entre formal e informal freqüentemente não é clara. Algumas vezes os termos são utilizados como sinônimos de “regulado” e “não-regulado”. Outras vezes, em vez disso, os termos são utilizados para fazer diferenciação entre tamanho e forma legal – isto é, para distinguir os PSRs que são pequenos e não são legalmente incorporados (por exemplo, pessoas físicas) em relação ao resto (por exemplo, bancos com atuação global). Ou, ainda, os termos são utilizados para distinguir PSRs que fornecem apenas serviços de remessa (por exemplo, operadores especialistas em serviços de transferências de fundos) dos que fornecem uma gama mais ampla de serviços financeiros (por exemplo, bancos e cooperativas de crédito, que também recebem depósitos e fornecem crédito). A última distinção pode ser importante sob um ponto de vista desenvolvimentista (na medida em que o objetivo desenvolvimentista possa ser o de aumentar o acesso a outros serviços financeiros, e encorajar as pessoas a fazerem remessas por intermédio de PSRs que também ofereçam outros serviços pode ser um meio de fazer isso). Entretanto, do ponto de vista de pagamentos, nenhuma dessas duas distinções de formal/informal é particularmenterelevante, nem pode haver a presunção de que o setor formal (embora definido) seja em algum sentido “melhor”. Na verdade, pode bem ser o caso de que PSRs pequenos ou especializados ofereçam, de fato, serviços de remessa mais baratos e mais rápidos e, desde que façam isso e estejam em conformidade com as leis, regulamentos e práticas pertinentes, eles podem então contribuir para aumentar a competição no mercado. Em razão da ausência de clareza dos termos, e tendo em vista julgamentos de valores conflitantes que podem estar associados com eles, nem os termos “formal/informal” e nem os termos “regulado/não-regulado” são utilizados neste relatório.

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modo que a instrução ao PSR (o banco do destinatário) é feita pelo destinatário. Outros instrumentos de débito, tais como os débitos diretos, não são utilizados normalmente.

32. O serviço em si envolve vários passos. Para os usuários finais, as partes visíveis do serviço estão no início e no fim – os processos de captura e de desembolso, nos quais, respectivamente, o remetente faz o pagamento ao agente de captura, e o agente responsável pelo desembolso faz o pagamento ao destinatário. Esses pagamentos podem ser feitos de diversas maneiras dependendo do serviço – por exemplo, em espécie, ou por intermédio de débito ou crédito a uma conta bancária, ou via utilização de fundos pré-pagos tal como dinheiro eletrônico. Os processos de captura e de desembolso envolvem a transferência de informação como também de fundos (por exemplo, o remetente deve fornecer informações para possibilitar que o agente responsável pela captura envie os fundos para o destinatário, e o agente responsável pelo desembolso tem de dizer ao destinatário quem é o remetente). Pode haver também diferentes maneiras por intermédio das quais as informações são transferidas – por exemplo, isso pode ser feito com a presença física do remetente ou do destinatário nas instalações do agente, ou pode ser feito com o uso de telefone celular ou pela internet.

33. O que acontece entre os processos de captura e de desembolso é menos visível para os usuários finais. Tal como no caso da maioria dos pagamentos não-em espécie, os pagamentos relacionados a remessas consistem de dois processos essenciais, nominalmente a mensageria e a liquidação. Os arranjos relacionados à troca de mensagens possibilitam que as informações sobre a remessa sejam passadas do agente da captura para o agente do desembolso. Os arranjos relacionados à liquidação possibilitam que os fundos em si sejam movimentados. Esses arranjos podem ser mais ou menos complexos, bem como podem apresentar velocidades correspondentemente variáveis dependendo do tipo do serviço de remessa. Em muitos casos, as remessas não são liquidadas individualmente. Ao invés disso, freqüentemente elas são liquidadas com base no valor total transferido em certo período, normalmente por valores líquidos (assumindo-se que há um fluxo de duas vias entre os países). Algumas vezes pode haver também arranjos de liquidez para possibilitar, por exemplo, que o agente responsável pelo desembolso faça o pagamento ao destinatário antes que os fundos provenientes do remetente tenham chegado. Informações adicionais sobre esses vários elementos das remessas podem sem encontradas no Anexo 2, enquanto que alguns exemplos são dados no Anexo 3. 2.4 Tipos de serviços de remessa

34. Para funcionar, um serviço de remessas precisa ter algum tipo de “rede” (isto é, pontos de acesso por intermédio dos quais os fundos possam ser capturados e desembolsados, e procedimentos para interligar esses pontos de modo a possibilitar liquidação e troca de mensagens). Os pontos de acesso podem ser de propriedade do PSR ou de seus agentes, e a rede pode ser grande ou pequena (no extremo, a rede pode compreender apenas um único agente de captura e um único agente responsável pelo desembolso). É possível dividir os serviços de remessa nas categorias “unilateral”, “franqueado”, “negociado” e “aberto”, os quais diferem primeiramente quanto ao modo como a rede de pontos de acesso é criada e interligada. As categorias não têm linhas divisórias absolutas, mas são úteis para ajudar a clarear algumas questões de pagamento que surgem com as remessas (ver a Seção 3). Serviços unilaterais

35. Um serviço unilateral é um produto próprio fornecido “internamente” por um único PSR, sem o envolvimento de outras entidades que atuem como agentes de captura e de desembolso. Isto é possível apenas se: (a) o próprio PSR tem pontos de acesso físico tanto no país remetente quanto no país destinatário; ou (b) a rede é virtual – isto é, os pontos de acesso não são agentes e sim dispositivos de comunicação tais como computadores pessoais (para acesso à internet) ou telefones móveis. Os serviços unilaterais baseados em pontos físicos de acesso não são amplamente disponíveis; muitos PSRs precisariam envolver outras entidades a fim de oferecerem um leque suficientemente amplo de pontos de acesso, mesmo para atender um único corredor de remessa. Redes virtuais são atualmente limitadas em termos de utilidade devido a problemas de acesso dos usuários (ver as seções 3.1 e 3.2), mas têm muito potencial para o futuro. Exemplos atuais de serviços unilaterais incluem aqueles providos por bancos com atuação global (com agências em muitos países) ou outros bancos que estabeleceram agências no exterior, em locais nos quais os migrantes do país de origem estão concentrados.

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Serviços franqueados 36. Tem-se um serviço franqueado quando um provedor central, que não necessariamente conta com pontos de acesso próprios, fornece um serviço próprio: o provedor central cria a infra-estrutura para suportar o serviço (compreendendo, por exemplo, mensageria, liquidação e propaganda), mas obtém os pontos de acesso necessários convidando instituições, tanto no país remetente quando no país destinatário, a oferecer o produto ou a agir como um franqueado em bases essencialmente padronizadas11. Operadores globais de transferência de dinheiro são exemplos de serviços franqueados, enquanto os esquemas internacionais de carão de crédito/débito podem ser adaptados para esse propósito.

37. Uma inovação relativamente recente é o que poderia ser chamado de serviço “parcialmente franqueado”, por intermédio do qual um PSR que oferece seu próprio serviço de remessa, utilizando para isso sua própria rede agentes, disponibiliza sua rede e os pertinentes arranjos de liquidação e de troca de mensagens para outros PSRs a fim de que eles também ofereçam produtos próprios. De fato, o PSR proprietário da rede disponibiliza sua infra-estrutura para outros PSRs, os quais podem utilizá-la para oferecer o serviço com uma marca própria sob condições que eles podem escolher (ao invés de utilizar uma marca padronizada e condições padronizadas, como aconteceria no caso do serviço franqueado normal). Serviços negociados

38. Em um serviço negociado, um PSR negocia com um número limitado de outras instituições em outros países a fim de criar uma rede adequada de pontos de acesso. Exemplos de serviços negociados incluem arranjos bilaterais entre bancos (um no país remetente e outro no país destinatário), esquemas de cooperativas de crédito, a maioria dos serviços “hawala”12, ou esquemas estabelecidos por empresas de correios. O arranjo pode envolver mais de uma instituição-parceira no país destinatário e o serviço pode ser prestado em múltiplos corredores de remessas, com a utilização de diferentes parceiros em cada um deles. Pode mesmo ser o caso de o serviço ser prestado por mais de um PSR no país remetente (isso pode acontecer quando os PSRs atuam em diferentes áreas geográficas dentro do país remetente, situação na qual existe uma competição apenas limitada entre eles). O essencial do serviço negociado não é o número de instituições envolvidas de per si, e sim o fato de que um produto próprio é negociado entre organizações que não competem em larga escala entre si. Serviços abertos

39. Em um serviço aberto, um PSR oferece um serviço próprio a seus clientes no país remetente e obtém pontos de acesso no país destinatário pela utilização de uma rede aberta, cujo acesso, direto ou indireto, é admitido para qualquer PSR13. Atualmente, a única rede da espécie que existe é a rede bancária internacional, e que consiste de sistemas nacionais de pagamentos que podem ser acessados a partir de outros países por intermédio de bancos correspondentes ou, o que é menos comum, por intermédio de interligações diretas entre os sistemas nacionais de pagamento. Essa rede torna possível o envio de um pagamento para virtualmente qualquer outro banco no mundo, a partir de qualquer banco que ofereça serviços de pagamento trans-fronteira. Não-bancos também têm acesso à rede como clientes de bancos. O serviço aberto é, provavelmente, o tipo de serviço de remessa mais comumente utilizado pelos bancos14. 3. Análise de questões-chave relacionadas com serviços de remessa

40. Esta seção analisa cinco possíveis características do mercado de remessas que podem levar a ineficiências na prestação de serviços de remessa. Tais ineficiências de mercado podem significar que o preço do serviço seja maior do que, na ausência das ineficiências, poderia ser, e/ou que os serviços prestados são de qualidade inferior. São essas as cinco características:

11 O termo “franqueado” é utilizado por conveniência. Na prática, a forma legal do arranjo pode não ser sempre o de franquia. 12 Um serviço “hawala” é um serviço de remessa prestado por uma pessoa física (ao invés de uma empresa). “Hawala” é o termo árabe para “transferência”. Esse serviço é também conhecido por outros termos, como por exemplo “hui kuan” (Hong Kong) ou “padala” (Filipinas). 13 Na verdade, o oposto também existe, isto é um PSR no país destinatário pode oferecer um serviço aos destinatários e obter pontos de acesso no país remetente por intermédio de uma rede aberta. Entretanto, de vez que as remessas são tipicamente transferências de crédito, iniciadas pelo remetente, na prática os PSRs nos países destinatários são tipicamente participantes passivos em uma rede aberta. 14 Outros tipos de serviços de remessa também utilizam a rede bancária internacional, mas para fazer transferências de fundos entre países e não para criar uma rede de pontos de acesso.

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• falta de transparência no mercado e de compreensão dos serviço pelos usuários;

• fragilidades na infra-estrutura que é utilizada para a prestação dos serviços de remessa;

• possibilidade de efeitos adversos decorrentes de regulação fraca ou desproporcional, ou de um ambiente legal frágil;

• falta de condições propícias para competição no mercado; e

• riscos. 3.1 Ausência de transparência e de compreensão

41. Seja qual for o serviço prestado, é útil para os remetentes (e para os destinatários) ter pleno conhecimento dos serviços com antecedência, isto é antes que eles próprios tenham que utilizar o serviço. Essa transparência possibilita que uma pessoa tome uma decisão fundamentada sobre qual serviço utilizar. Mas, o que talvez seja mais importante, a transparência pode ser um importante aspecto para fazer com que o mercado como um todo funcione de forma mais eficiente.

42. Particularmente relevante é a transparência acerca do preço total e da velocidade do serviço. Além da tarifa direta cobrada do remetente pelo PSR e de qualquer imposto que seja aplicável, o preço total da transação depende também da taxa de câmbio considerada (assumindo-se que o remetente paga em moeda diferente daquela que será paga ao destinatário), bem como, possivelmente, da tarifa cobrada do destinatário pelo PSR responsável pelo desembolso ou por um agente dele. Normalmente, tudo o que, em última análise, interessa aos usuários é quanto dinheiro o beneficiário receberá em contrapartida a um dado valor pago pelo remetente. Entretanto, porque as tarifas podem variar dependendo do montante enviado e porque a taxa de câmbio varia dia-a-dia, tipicamente os usuários precisarão entender esses componentes do preço total, se eles querem tomar uma decisão fundamentada antes de utilizar um determinado serviço. A velocidade do serviço diz respeito ao tempo que transcorre entre o momento em que o remetente faz o pagamento e aquele no qual os fundos são colocados à disposição do destinatário.

43. Na atualidade, o mercado de remessas nem sempre é transparente. Esta subseção examina algumas das razões que levam a isso, começando com a taxa de câmbio e examinando, depois disso, a tarifa cobrada pelo PSR responsável pelo desembolso, a velocidade do serviço e, finalmente, alguns outros fatores complicadores. A taxa de câmbio

44. A transferência relacionada à remessa normalmente envolverá uma transação de câmbio – tipicamente, a conversão da moeda do país remetente para a moeda do país destinatário. Para saber o preço total da transferência, o remetente precisa saber qual taxa de câmbio será utilizada, já que PSRs diferentes provavelmente usarão taxas de câmbio diferentes, as quais variam diariamente. Na prática, os PSRs tipicamente cobram do remetente uma taxa de câmbio que inclui uma margem sobre a taxa de câmbio atual do mercado interbancário. Em parte, a margem pode refletir as incertezas que o PSR enfrenta. Muitos PSRs negociam apenas volumes relativamente pequenos de moeda estrangeira e têm de perguntar a um banco ou a outro intermediário do mercado de câmbio qual a taxa de câmbio a que eles próprios estarão sujeitos (isso é explicado com mais detalhes no Anexo 3). Portanto, o PSR pode não saber qual será a taxa de câmbio à qual ele se sujeitará quando for enviar os fundos, e a margem dá a ele alguma proteção se a taxa se modifica de modo adverso para ele15. Entretanto, essa proteção poderia resultar da aplicação de uma tarifa específica ao invés da aplicação de uma margem. Assim, a margem é essencialmente uma outra forma de tarifa – uma tarifa que não é facilmente visível para o remetente, o qual provavelmente não sabe qual é a taxa de câmbio corrente do mercado interbancário. Tarifa cobrada pelo PSR responsável pelo desembolso

45. A capacidade de um PSR de ser transparente sobre a tarifa dos PSR responsável pelo desembolso depende do tipo de serviço, isto é se ele é unilateral, franqueado, negociado ou aberto. Os serviços dos tipos franqueados e negociados apresentam a vantagem de que o PSR responsável pela captura tem condições de

15 Muito embora no longo prazo, e na ausência de qualquer viés sistêmático, as perdas com as taxas de câmbio serão compensadas por ganhos com essas taxas, os PSRs provavelmente têm aversão ao riso de perdas no curto prazo (isto é, uma perda no curto prazo tem peso maior do que um possível ganho no curto prazo).

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receber informações antecipadas sobre a tarifa que será cobrada, pelo PSR responsável pelo desembolso, ao destinatário da remessa. Esta informação pode então ser prestada ao remetente de modo que ele estará ciente do preço total16. É claro que isso também é possível nos serviços unilaterais (situação na qual o PSR responsável pela captura e o PSR responsável pelo desembolso são a mesma pessoa). Entretanto, em um serviço aberto é difícil haver transparência sobre a tarifa do PSR responsável pelo desembolso, porque o PSR responsável pela captura não tem nenhum relacionamento com o agente responsável pelo desembolso, não tendo condições de saber, portanto, quanto esse agente cobrará. Na verdade, esta é a razão pela qual, em um serviço aberto, o agente responsável pelo desembolso precisa cobrar tarifa do destinatário, posto que, de outro modo, ele não receberia nada pelo serviço que presta. Velocidade do serviço

46. Tal como acontece no caso da tarifa cobrada pelo PSR responsável pelo desembolso, a rapidez da transação provavelmente é conhecida com maior facilidade nos serviços unilaterais, franqueados e negociados, do que em serviços abertos. A rapidez do serviço depende tanto da rapidez do processo de troca de mensagens quanto do processo de liquidação (ou se existe ou não provisão de liquidez ao agente responsável pelo desembolso, de modo que a liberação do pagamento possa ser feita antes da conclusão do processo de liquidação). O tempo efetivamente tomado pelo processo de liquidação depende de quão rápido é cada um dos passos intermediários do processo, sendo que, em serviços negociados, franqueados e unilaterais, isso poderia ser tanto padronizado quando conhecido (por exemplo, que um pagamento interno no país destinatário sempre demora um dia) ou, então, ser negociado (por exemplo, que o PSR no país destinatário processará o pagamento no dia seguinte ao do recebimento dos fundos). Além disso, na extensão em que existe alguma incerteza sobre o tempo (por exemplo, por causa da incerteza sobre quão rápido os bancos processarão as instruções de pagamento), o PSR pode ainda informar um prazo fixo para conclusão da transação, desde que os fluxos de informação e de liquidação sejam independentes entre si e que a velocidade do fluxo de informação seja conhecida (por exemplo, esse fluxo pode ser instantâneo se a informação é transmitida por computador com interligação direta). Nesse caso, o PSR pode então acertar com o agente responsável pelo desembolso que o pagamento seja feito ao beneficiário quando a informação é recebida ou após um prazo fixo depois que isso ocorre e, se necessário, que a liquidez será disponibilizada a ele para permitir que isso aconteça.

47. Em um serviço aberto, não há nenhum contato ou negociação direta entre os PSRs envolvidos e, dessa forma, o PSR responsável pela captura tem limitado controle sobre a velocidade do processo. Na verdade, esse tipo de serviço provavelmente é relativamente lento. Devido à ausência de relacionamento direto com o PSR responsável pela captura, a informação sobre a remessa transita em conjunto com os fundos, de modo que o agente responsável pelo desembolso normalmente não pode fazer a liberação do pagamento antes de receber os correspondentes fundos. Nesse caso, a velocidade da transação é, assim, determinada pela velocidade do processo de liquidação (o que provavelmente demorará vários dias segundo a maioria dos procedimentos bancários normais). Além disso, os bancos intermediários algumas vezes podem reter os fundos por um período antes de remetê-los, de modo que eles podem se beneficiar do float resultante. Entretanto, se apresentam desvantagens em razão da baixa velocidade e da falta de transparência mencionada anteriormente, os serviços abertos têm a vantagem significativa da cobertura global quase ilimitada. Por exemplo, muitos bancos e outras entidades recebedoras de depósitos possibilitam a seus clientes transferências de fundos para virtualmente qualquer outra instituição similar em qualquer lugar do mundo. Essa cobertura é provavelmente valiosa para corredores de remessa que são pequenos, situação na qual pode ser então anti-econômico prestar serviços dos tipos unilateral, franqueado e negociado. Comparação de serviços diferentes

48. Mesmo quando os PSRs individuais são totalmente transparentes, pode não ser fácil para os usuários finais comparar os preços dos diferentes serviços. Isso ocorre, em parte, porque as taxas de câmbio do mercado mudam constantemente, porque podem ser aplicadas diferentes margens a diferentes pares de moedas (por exemplo, para refletir diferenças na volatilidade delas), com as margens sendo então alteradas de tempos em tempos (por exemplo, na medida em que a volatilidade muda), e porque as margens podem ser acrescentadas a diferentes “taxas de referência” (por exemplo, a taxas do mercado aberto em diferentes momentos do dia). Dessa forma, o PSR mais barato em determinado dia e em um dado par de moedas pode não ser o mais barato em outro dia ou em um par diferente de moedas. É claro que os preços em todos os

16 Alternativamente, o arranjo pode ser no sentido de que o destinatário não pagará qualquer tarifa. Ao invés disso, o remetente paga uma tarifa maior ao PSR responsável pela captura e ele repassa parte da tarifa para o agente responsável pelo desembolso.

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mercados de consumo diferem dependendo dos produtos e mudam de tempos em tempos (embora isso normalmente não ocorra diariamente). Mas uma complicação adicional importante nas transferências relacionadas a remessas é que o PSR mais barato em termo de taxa de câmbio pode não ser o mais barato em de tarifa cobrada, sendo que para a maioria das pessoas é difícil fazer o cálculo para saber qual serviço é mais barato como um todo17. Problemas de acesso

49. Parar alguns usuários finais de serviços de remessa, os problemas de transparência podem ser seriamente exacerbados por problemas de acesso que decorrem, em grande parte, da situação econômica e social deles. Por exemplo, os migrantes de renda baixa em um país estrangeiro podem ter dificuldades com a língua local, o que faz com que eles tenham dificuldades para entenderem os serviços de remessa, bem como para provar sua condição de crédito (já que eles não têm registros de uso de crédito) ou para fornecer identificação apropriada com vistas ao acesso aos serviços (já que eles não têm os documentos necessários). Talvez eles também não tenham tempo disponível e conhecimentos financeiros que lhes permitam identificar e comparar serviços de remessa alternativos. De modo significativo, isso pode limitar a faixa de serviços a que eles podem ter acesso, mesmo quando o mercado é potencialmente competitivo.

50. Ao mesmo tempo, os próprios PSRs podem não contar com informações sobre o mercado. O conhecimento sobre as remessas está aumentando, mas muitos potenciais PSRs talvez não tenham conhecimentos sobre o tamanho do mercado nos principais corredores. Eles também podem considerar que os serviços de pagamento em geral são principalmente uma base a partir da qual outros serviços mais rentáveis possam ser vendidos e, desse modo, eles podem achar que alguns serviços (tais como aqueles baseados em contas bancárias) não possam ser prontamente colocados à disposição dos migrantes18. Custo da transparência

51. Transparência provavelmente implica alguns custos. Tal como no caso de custos diretos relacionados com a prestação de informações, pode haver custos vinculados aos serviços de que o PSR necessita para ser transparente. Por exemplo, como discutido acima, pode ser que, em serviços negociados, a fixação de prazo para a transação somente seja possível se forem colocados recursos à disposição do agente responsável pelo desembolso dos fundos, de modo que o pagamento ao destinatário possa ser feito em determinado prazo mesmo quando a liquidação não tiver sido ainda concluída, sendo que a provisão dessa liquidez tem um custo. E, quaisquer que sejam eles, os custos devem ser repassados para o consumidor. Entretanto, essa desvantagem provavelmente é suplantada por vantagens significativas, isto é, a transparência provavelmente faz com que a competição seja mais efetiva e provoque redução de preços, na medida em que os consumidores comparem o verdadeiro preço total de diferentes serviços. 3.2 Questões de infra-estrutura

52. Também pode ser difícil criar uma infra-estrutura adequada para suportar os serviços, o que constitui um outro problema no mercado de remessas. Geralmente, os PSRs utilizam tanto infra-estrutura própria (a rede de pontos de acesso deles, por exemplo) quanto as infra-estruturas de serviços de pagamentos do país remetente e do país destinatário. Esta sub-seção considera três possíveis dificuldades: a criação de uma rede de pontos de acesso; a fragilidade da infra-estrutura financeira nos países destinatários; e os arranjos de pagamentos de varejo trans-fronteiras que freqüentemente apresentam estágios de desenvolvimento relativamente baixos.

53. Para os PSRs, uma dificuldade-chave na prestação de serviços de remessa pode ser a criação de uma adequada rede de pontos de acesso (agentes de captura de transações e agentes responsáveis pelos desembolsos, além de procedimentos relacionados à liquidação e ao trânsito de mensagens) que possibilite a prestação de um serviço viável. Cada tipo de serviço (unilateral, franqueado, negociado e aberto) tem suas próprias vantagens e desvantagens em relação a esse aspecto.

17 Uma complicação adicional é que os PSRs, ou os intermediários que eles utilizam, podem algumas vezes utilizar o float como uma alternativa parcial a uma tarifa explícita. Nesse contexto, existe o float quando as instituições retêm os fundos dos clientes por tempo maior do que o que, de outro modo, seria necessário, com vistas a receber ganhos adicionais via investimento desses fundos. O resultado disso é que a tarifa explícita é menor do ela seria caso não houvesse o float, mas o serviço é ainda mais lento. 18 Isso pode ser verdade mesmo com métodos de acesso mais modernos. Por exemplo, para acessos à internet baseados em cartões de pagamento, esses instrumentos podem estar disponibilizados apenas para aqueles que têm uma conta bancária. Ou, em não havendo uma conta bancária para liquidação das contas, os pagamentos por intermédio de telefone celular teriam de ser feitos via cartões pré-pagos comprados com dinheiro em espécie.

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54. Em primeiro lugar, pode ser difícil criar todas as redes necessárias. Na atualidade, os serviços unilaterais têm sido oferecidos apenas por bancos com atuação global, ou por bancos especializados na prestação desses serviços para migrantes de uma nacionalidade específica nos diversos países onde eles estão residindo. No futuro, o uso de novos canais tais como a internet ou os telefones celulares pode eliminar a necessidade de pontos físicos de acesso e, assim, fazer com que seja mais fácil para os PSRs oferecerem um serviço unilateral. Entretanto, no momento, muitos remetentes e destinatários têm acesso limitado a esses canais. Se eles não têm acesso a uma conta bancária e, assim, utilizam apenas dinheiro em espécie, pode ser que não contem com nenhum meio para receber pagamentos do, e fazer pagamentos para, PSRs que oferecem apenas serviços baseados na internet ou em telefones celulares (isto é, provedores que não contam com pontos físicos de acesso). Até que isso mude, há limitações na utilidade desses novos canais de acesso.

55. Para os serviços negociados, talvez seja difícil identificar parceiros adequados, particularmente em outros países, o que dificulta a condução de boas negociações. Por causa disso, o escopo dos serviços negociados é freqüentemente limitado – isto é, os serviços envolvem um número relativamente pequeno de partes, embora isso possa ser pouco importante quando eles são desenhados para um corredor de remessas específico, ao invés de oferecer um serviço global. Dificuldades semelhantes provavelmente acontecem em um serviço franqueado até que uma massa crítica de agentes seja atingida. Enquanto uma rede adequada está sendo estabelecida, o serviço provavelmente se assemelhará mais com uma rede negociada, com o provedor central negociando simultaneamente com múltiplos agentes. Os serviços abertos dependem de uma rede que já existe – a rede bancária internacional19.

56. Entretanto, uma vez que tenham sido criadas, as redes abertas e as franqueadas facilitam a entrada no mercado de novos PSRs. Se o serviço franqueado tiver sido bem estabelecido, um novo PSR pode simplesmente se juntar à rede já existente do provedor central. Assim, virtualmente qualquer PSR pode abrir uma conta bancária que poderá ser utilizada para fazer e receber transferências relacionadas a remessas, destinadas a -- ou oriundas de -- qualquer outra conta que utilize a rede aberta20. Infra-estrutura financeira

57. Em muitos casos, a infra-estrutura financeira doméstica, particularmente em países destinatários, é pouco desenvolvida. Por exemplo, em países em desenvolvimento, a rede bancária ou outras redes potenciais de agentes podem ser pouco extensas, particularmente em áreas rurais, o que cria um problema sério de acesso físico para muitos destinatários. Mesmo quando os agentes existam de fato, o sistema nacional de pagamentos, necessário para as transferências de fundos para os agentes responsáveis pelo desembolso, pode ser lento ou pouco confiável, ou a cobertura geográfica pode não ser adequada. Por exemplo, problemas relacionados a custos e a velocidade das remessas podem ser causados por falta de padronização de certos tipos de instrumentos, ou pela ausência de interoperabilidade entre sistemas ou arranjos, o que significa que a cobertura geográfica potencial não é totalmente atingida. Isso pode ser particularmente verdadeiro para infra-estruturas de captura de transações, tais como aquelas relacionadas com máquinas de atendimento automático (ATM) e transferências eletrônicas de fundos a partir do ponto-de-venda (EFTPOS)21 22 Arranjos de pagamentos trans-fronteiras

58. Um aspecto particularmente importante da infra-estrutura para as transferências relacionadas com remessas diz respeito a interligações entre os sistemas de pagamentos de diferentes países. Na atualidade, essas interligações, que tipicamente são necessárias para liquidação de transferências relacionadas a remessas, são em muitos casos providas mediante serviços de correspondência bancária. Isso funciona bem para transferências de grande valor, o principal negócio relacionado com esses serviços. Entretanto, por causa do processamento manual – e, portanto, caro – que freqüentemente é necessário para a transferência e a liquidação das instruções de pagamento, esse tipo de serviço é, claramente, menos adequado para

19 Em corredores de remessa específicos, pode haver algum espaço para a criação de redes abertas, porque relativamente poucas autoridades, sistemas de pagamentos e potenciais PSRs estarão envolvidos e, dessa forma, pode ser mais fácil organizar a atinente ação coletiva – embora a necessidade de “organização” possa fazer com que o arranjo se pareça mais com um serviço franqueado. 20 Ver, entretanto, a Seção 3.4 sobre possíveis obstáculos para o acesso a infra-estruturas de pagamento. 21 Abreviações conforme denominação na língua inglesa (nota do tradutor). 22

Para maiores detalhes sobre o desenvolvimento de sistemas de pagamento, ver o relatório “Orientação geral para o desenvolvimento de sistemas nacionais de pagamento”, BIS/CPSS, de janeiro de 2006, e, em particular, a Orientação 11 relacionada com pagamentos de varejo.

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pagamentos de varejos tais como as remessas23. O uso de diferentes formatos de mensagens, que os diferentes países e sistemas utilizam, é particularmente problemático. Formatos padronizados, ou que possam ser facilmente convertidos, ajudariam os bancos a atingir um processamento automatizado e mais barato (straight through processing – STP). Por exemplo, a utilização de padrões acordados internacionalmente --- ao invés de padrões proprietários – nos sistemas nacionais de pagamento possibilita que os pagamentos trans-fronteiras sejam processados com mais facilidade. Entretanto, mudanças em formatos de mensagens não são fáceis. Dessa forma, o volume esperado de pagamentos trans-fronteiras tem de ser suficientemente grande para justificar o custo de utilização de STP, o que nem sempre é o caso.

59. A criação de uma interligação entre os próprios sistemas de pagamentos é uma alternativa aos serviços de correspondência bancária (ver o Anexo 4 para uma explanação sobre como isso funciona). Para que essa interligação seja possível, três questões-chave precisam ser atacadas. Primeiro, tal como em melhoramentos nos serviços de correspondência bancária, os formatos de mensagem têm que ser suficientemente padronizados para possibilitar conversão automática. Segundo, é necessário que haja um arranjo sobre a taxa de câmbio que é utilizada para converter o pagamento de uma moeda para outra. Terceiro, é necessário estabelecer arranjos de liquidação. Os benefícios potenciais das interligações diretas são significativos e há, correspondentemente, algum interesse em seu desenvolvimento. Entretanto, enfrentar as três questões mencionadas não é tão fácil e, assim, a criação de uma interligação pode ser onerosa. Por isso, os participantes do mercado podem relutar em adotar essa iniciativa, particularmente se, inicialmente, o volume de pagamentos trans-fronteiras é muito baixo para justificar o custo de desenvolvimento da interligação. Alcançar um acordo que faça com que o arranjo seja suficientemente atrativo para todas as partes envolvidas também pode ser difícil, dado que alguns podem ter reais interesses na manutenção dos arranjos existentes, enquanto outros podem relutar em investir porque eles não vêem um mercado significativo nos pagamentos trans-fronteiras. 3.3 A estrutura legal e regulamentar

O arcabouço legal e regulamentar

60. A indústria de remessas, tal como outra qualquer, floresce melhor quando o arcabouço legal geral, no qual ela opera, é robusto, previsível, não-discriminatório e proporcional. O fato de os contratos obrigarem as partes efetivamente ou não é uma questão particularmente importante, especialmente quando as partes do contrato estão em diferentes jurisdições. Essa é uma questão significativa que em grande parte está fora do escopo deste relatório, mas que deve ser enfatizada porque em muitos países tal estrutura ainda não existe. Custo da regulação

61. A existência de qualquer regulação relacionada a remessas é também um fator importante. O termo “regulação” é utilizado aqui para se referir a qualquer intervenção no mercado pelas autoridades na forma de leis e disposições que obriguem legalmente. Entretanto, é importante notar que as questões discutidas abaixo, relacionadas com regulação, podem também se aplicar a orientações, definição de melhores práticas, princípios ou recomendações que não obriguem legalmente, ao ponto que os PSRs se sujeitem apenas à pressão das autoridades ou do mercado para se adequar a tais políticas. A regulação das remessas pode existir por diferentes razões (ver o Quadro 3). Entretanto, como em toda regulação, há a possibilidade de que ela seja mal desenhada, com efeitos colaterais não intencionais, bem como que ela seja desproporcional para a escala do problema que ela pretenda enfrentar, ou que ela continue a ser aplicada mesmo quando não é mais necessária. 62. A regulação tem o objetivo-chave e crucial de prevenir lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. A Força-Tarefa de Ação contra Lavagem de Dinheiro (ver o Quadro 4 na Seção 4.3) estabeleceu recomendações sobre como isso pode ser feito.

23 O processamento manual pode significar que as instruções de pagamento sejam tratadas individualmente ao invés de por lotes, bem como que as contas de correspondentes são monitoradas manualmente, e que a conversão de um formato para outro é também manual. Isso pode não ser um grande problema em serviços de remessas unilaterais, franqueados ou negociados, nos quais as informações sobre as remessas individuais são passadas por intermédio de uma rede proprietária e em que os serviços de correspondente bancário são, portanto, necessários apenas para a liquidação periódica de qualquer saldo líquido. Entretanto, isso é um problema para serviços – incluindo os serviços abertos – que pretendam utilizar serviços de correspondência bancária para transferir em conjunto os fundos e as informações relacionadas às remessas individuais.

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63. Entretanto, os serviços de remessa também podem ser regulados por outras razões, as quais provavelmente variam de país para país. Sobre esse ponto existe menos consenso quanto ao que precisa ser feito, e, embora freqüentemente possam ser úteis, em alguns casos os regulamentos têm um impacto adverso sobre o mercado. Por exemplo, embora possam ser úteis para que as autoridades, tanto do país remetente quanto do país destinatário, possam monitorar os PSRs para entenderem e determinarem que regulação, se for o caso, é necessária, os dados coletados algumas vezes nunca são utilizados. Em alguns países, alguns tipos de instituições que são potenciais PSRs como, por exemplo, instituições não-bancárias que captam depósitos tais como as cooperativas, podem ser proibidas de prestar serviços de remessa ou outros serviços de pagamento, o que torna o mercado menos competitivo. As tarifas para licenciamento ou registro de PSRs podem ser muito altas e usadas principalmente para aumentar as receitas do governo. Finalmente, os serviços de remessa de per si não envolvem captação de depósitos como essa atividade é usualmente definida na legislação, sendo que eles atendem apenas uma pequena parte das necessidades gerais de pagamento dos usuários. A aplicação de pesadas regras prudenciais aos PSRs pode, portanto, ocorrer de forma desproporcional, principalmente tendo em vista que, conforme discutido abaixo, é improvável que a quebra de um PSR provoque risco sistêmico.

64. Regular as remessas apenas com base no tipo de entidade pode fazer com que a regulação seja menos efetiva, por criar brechas que podem ser exploradas parar atividades ilegais, bem como pode distorcer o mercado, por possibilitar que alguns PSRs, de forma não apropriada, evitem os custos da regulação e ofereçam, assim, serviços artificialmente mais baratos. Ao mesmo tempo, a regulação não deve ter o objetivo de criar condições justas de competição entre diferentes PSRs de per si, mas sim o de criar condições para uma competição justa entre serviços de remessa que são equivalentes. O objetivo da regulação é prevenir ou corrigir “falhas de mercado” na prestação dos serviços – isto é, circunstâncias que, se o mercado for deixado a funcionar por ele próprio, resultariam em um produto aquém do ótimo. Alguns PSRs também oferecem outros serviços além de remessas (por exemplo, eles podem captar depósitos e conceder créditos), podendo estar sujeitos a uma regulação mais intensiva por causa desses outros serviços. Dependendo de como seus preços são estabelecidos, os serviços prestados por eles podem ser mais caros do que aqueles de um PSR

Quadro 3 Regulação de remessas

A principal forma de regulação está relacionada a medidas contra lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, envolvendo exigências do tipo “conheça seu cliente” e registros/relatórios de transações individuais (principalmente as transações de maior valor ou suspeitas). Particularmente para esses propósitos, muitos países exigem que os PSRs sejam registrados ou licenciados. Em países que têm controles de câmbio, exigências de registro e informação provavelmente também se aplicam, juntamente com a de que o PSR (ou seu agente) verifique se o remetente tem permissão para fazer a transação. Além disso, em muitos países, os PSRs não têm autorização para desembolsar fundos em moeda estrangeira. Alguns países têm exigências prudenciais – isto é, requerimentos de adequação de capital ou regras de liquidez desenhadas para assegurar que os PSRs são financeiramente robustos. Na verdade, em alguns países, apenas bancos, que são regulados por razões prudenciais, têm permissão para prestar serviços de remessas. Algumas vezes, os serviços de remessas estão sujeitos à vigilância do banco central. Entretanto, isso pode estar mais focado nos sistemas de pagamentos utilizados como parte do processo para fazer transferências relacionadas a remessas do que no serviço de remessa de per si. Quando os serviços de remessa são objeto da vigilância, isso ocorre principalmente por razões de eficiência e segurança, e não por razões de estabilidade financeira (os valores relativamente pequenos processados por PSRs indicam que é improvável que eles sejam significativos sob o ponto de vista de risco sistêmico, principalmente no caso de países desenvolvidos). Ocasionalmente, medidas específicas de proteção ao consumidor se aplicam às remessas (por exemplo, exigindo que os PSRs forneçam antecipadamente certas informações para os remetentes, tais como o preço e a velocidade do serviço). Finalmente, embora não se trate propriamente de uma “regulação”, é importante assinalar que em alguns países existem taxas sobre transferências financeiras, incluindo as remessas, que aumentam os custos. -------- 1 Em termos gerais, existe o “registro” quando um PSR tem de se identificar para as autoridades e prestar certas informações sobre

ele próprio e seus serviços, com as autoridades fazendo poucas – ou nenhuma – exigência em relação à habilidade do PSR de fornecer seus serviços, enquanto que “licenciamento” existe quando condições substantivas se aplicam. Na prática, a distinção entre registro e licenciamento é um tanto difícil de perceber.

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que presta somente serviços de remessa. Entretanto, quando isso acontece, não se trata de uma distorção injusta. É, sim, o resultado do método que eles utilizam para alocar custos quando estão estabelecendo preços, ou de uma desvantagem comparativa por eles estarem prestando serviços de remessa de forma conjunta com outros serviços24. 3.4 Ausência de condições competitivas de mercado

Condições de exclusividade

65. Existem condições de exclusividade quando um PSR admite que seus agentes ou outros PSRs ofereçam os serviços de remessa dele somente com a condição de que eles não ofereçam qualquer outro serviço de remessa25. As condições de exclusividade ocorrem, algumas vezes, em serviços negociados ou franqueados, embora essas condições não se apliquem necessariamente a tais tipos de serviços26. Tais condições são problemáticas no sentido de que, ao restringirem a escolha, elas aumentam a probabilidade de que se criem monopólios locais. Assim, elas podem ser particularmente indesejáveis do lado dos países destinatários, onde, como observado anteriormente, a infra-estrutura financeira pode ser relativamente pouco desenvolvida. Por exemplo, se uma comunidade conta com uma agência financeira ou de varejo, a condição de exclusividade implicaria que apenas um serviço de remessa estaria disponível. A dificuldade é exacerbada se a condição de exclusividade é aplicada a agentes que têm grandes redes (por exemplo, agências dos correios, empresas de telecomunicação ou grandes redes varejistas) e, por isso, o impacto é amplificado. Infra-estrutura de acesso

66. Os PSRs, como acontece com todos os demais agentes econômicos, necessitam ter acesso aos sistemas de pagamentos domésticos27. Na maioria dos países, apenas os bancos têm permissão para ser participantes diretos de tais sistemas28. Os agentes que não são bancos têm que acessar os sistemas de forma indireta, como clientes dos bancos. Há argumentos a favor e contra esse arranjo. Por um lado, os PSRs que não são bancos algumas vezes argumentam que esse tipo de arranjo implica uma desvantagem comparativa para eles, quando comparados com os PSRs que são bancos. Esse pode ser o caso quando, por exemplo, o acesso indireto é mais caro devido ao custo adicional decorrente do uso de um banco para ter o acesso, ou, ainda, talvez, quando houver problemas de confidencialidade pelo fato de que, ao prover serviços de pagamento para o PSR que não é banco, o banco obtém informações confidenciais úteis sobre os serviços de remessa prestados por esse terceiro. Por outro lado, a fundamentação básica para restringir o acesso é que isso proporciona um balanço adequado entre eficiência e segurança na provisão de serviços de pagamento. Além disso, o acesso indireto não necessariamente caro. Na verdade, em muitos países, os próprios bancos (especialmente os pequenos) preferem ter acesso indireto porque isso é mais barato para eles. Os argumentos a favor e contra o acesso direto por parte dos PSRs que não são bancos precisam, então, ser considerados caso a caso, à luz das circunstâncias específicas de cada país29.

67. Talvez mais sérios sejam os casos em que os PSRs não-bancos enfrentam obstáculos indesejáveis ao acesso indireto à infra-estrutura de pagamentos – isto é, quando os bancos relutam em oferecer serviços de pagamento para eles, ou oferecem o acesso apenas sob condições indevidamente onerosas. Isso pode acontecer em casos individuais se determinados bancos relutam em ter, entre seus clientes, entidades que

24 Isso ilustra o fato de que alguns PSRs podem ser regulados de forma mais pesada que outros porque eles oferecem também outros serviços que requerem tal regulação. Na prática, a prestação de múltiplos serviços também pode implicar benefícios ao permitir, por exemplo, que custos fixos gerais sejam rateados de forma mais ampla. 25 Existe uma importante distinção entre condições de exclusividade, caso no qual a exclusividade é a única condição para que o serviço de remessa seja oferecido, e a situação na qual um os PSRs ou os agentes, individualmente, preferem oferecer apenas um determinado serviço de remessa. 26 Por definição, uma condição de exclusividade não pode ocorrer em um serviço unilateral, embora um PSR que preste tal serviço possa preferir oferecer apenas seus próprios serviços (ver a nota de rodapé anterior). Nos serviços abertos, também por definição, não há condições de exclusividade do lado do recebimento, embora provavelmente haverá no lado que dá origem à remessa se o PSR utilizar suas próprias agências como agentes de captura de transações, ou poderá haver se o PSR contrata outros agentes de captura e inclui a exclusividade como uma das condições do negócio. 27 O uso de sistemas de pagamentos pode ser evitado apenas se, tal como no caso de alguns serviços tipo hawala, a liquidação acontece por intermédio de transferência física de dinheiro, ou quando, após a compensação, o montante a ser liquido se aproxima de zero e, assim, não demanda liquidação. 28 Conforme observado anteriormente, o termo “banco” é geralmente usado neste relatório como referência a qualquer instituição de crédito ou que capte depósitos, ou qualquer outra definição legal que se aplique em determinada jurisdição. Na questão específica de acesso a sistemas de pagamentos, alguns países restringem o acesso a bancos segundo essa definição ampla, enquanto outros adotam uma definição mais restritiva. 29 Ver o relatório “O papel da moeda do banco central em sistemas de pagamentos”, BIS/CPSS, agosto de 2003.

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compitam com eles. Freqüentemente, os mercados bancários são suficientemente competitivos, de modo que, quando um banco não se dispõe a prestar esse serviço, outros bancos o farão. Entretanto, a situação pode ser mais problemática se a relutância é o resultado de regulamentos rígidos relacionados, por exemplo, com lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo internacional ou controles de câmbio, ou, ainda, é o resultado do modo como esses regulamentos são interpretados. Os bancos podem ter preocupações quanto a sua capacidade para cumprir tais regulamentos quando seus clientes são PSRs. Nesse caso, eles talvez prefiram simplesmente não oferecer serviços a eles.

3.5 Riscos

68. Os PSRs enfrentam riscos financeiros, legais, operacionais, de fraude e de reputação. Os valores relativamente pequenos que estão envolvidos nas transferências relacionadas a remessas indicam que elas provavelmente têm pouca importância sob o ponto de vista de risco sistêmico, isto é, a quebra de um deles provavelmente não provocará a quebra de outra instituição financeira. Dessa forma, é improvável que as remessas causem problemas sob o ponto de vista da estabilidade financeira. Entretanto, outros riscos financeiros podem surgir com as remessas, particularmente em mercados que não são transparentes, em que a base legal é frágil ou em que o sistema financeiro é pouco desenvolvido. Uma longa interrupção no fluxo de remessas poderia também causar problemas para um país que é altamente dependente do fluxo. Entretanto, tal interrupção, implicando incapacidade para múltiplos PSRs de transferir fundos, provavelmente estaria mais relacionada a eventos que estão fora de controle deles, tal como no caso de uma crise financeira que afete todas as instituições financeiras, do que com problemas prudenciais relacionados com os PSRs de per si.

69. Na realização de uma remessa, os remetentes (e os destinatários) enfrentam o risco potencial de que os fundos se percam enquanto eles estão em trânsito, devido, por exemplo, à quebra do PSR ou de um dos intermediários, a erros cometidos por eles, ou a fraudes. A magnitude do risco depende da natureza do contrato entre o remetente e o PSR e de onde o problema ocorre. Dessa forma, no caso de redes franqueadas ou unilaterais, a menos que o problema seja a sua própria quebra, o PSR provavelmente suportará todos os riscos: o contrato entre o PSR e o remetente provavelmente estabelece que será da responsabilidade do PSR fazer com que os recursos cheguem até o agente responsável pelo desembolso, respondendo o PSR por qualquer falha que ocorra. Nas redes abertas e nas negociadas, isso talvez seja menos claro: em algum ponto da transação, a responsabilidade pode ser transferida do PSR responsável pela captura para o PSR responsável pelo desembolso.

70. Para o próprio PSR, a magnitude do risco de perda de fundos em trânsito depende da natureza do serviço de remessa. Por exemplo, o tamanho de sua exposição à possibilidade de quebra do agente responsável pelo desembolso depende em parte se ele adianta ou não recursos para o agente. Assim como os riscos de crédito e de liquidez relacionados com os recursos em trânsitos, ou os riscos operacionais de uma falha dele próprio, o PSR também enfrenta risco de reputação, a menos que ele conte com arranjos adequados que lhe permitam assegurar que os destinatários conseguirão tempestivamente seus recursos mesmo quando houver problemas no trânsito da remessa. O risco de reputação também pode surgir do mau uso do serviço para propósitos ilegais, tal como lavagem de dinheiro. A ausência de práticas sadias de gerenciamento de risco e de governança por parte dos PSRs pode exacerbar tais problemas. 4. Princípios gerais para serviços de remessas internacionais

4.1 Objetivos de política pública

71. Para este relatório, foram definidos os seguintes objetivos de política pública relacionados com a provisão de serviços de remessa: os serviços de remessa devem ser eficientes e seguros. Para esse fim, os mercados de serviços devem ser sólidos, de fácil acesso, transparentes e devem possibilitar a contestação30.

72. O relatório se baseia na crença de que o melhor modo para conseguir redução de preço nos serviços de remessa é o de encorajar a competição no atinente mercado. Porque a competição na prestação de serviços de remessa ajuda a melhorar esses serviços, o mercado deve estar aberto à entrada de novos participantes (isto é, a indústria de remessas deve possibilitar a contestação). Além disso, esse mercado deve proporcionar aos remetentes e aos destinatários:

30 O mercado admite contestação quando há poucas barreiras à entrada de novos competidores e quando os potenciais novos competidores possam exercer pressão sobre os que já estão em atuação, forçando esses últimos a serem eficientes se eles quiserem manter suas posições no mercado. Dessa forma, mesmo um mercado que tenha um único competidor pode ser eficiente se houver a possibilidade de contestação.

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• informações claras quanto a preços e a outras características dos serviços (isto é, a indústria de remessas deve ser transparente);

• fácil acesso aos serviços de remessa (isto é, a indústria de remessas deve ser acessível); e

• razoável proteção em relação ao risco operacional e a abusos legais (isto é, a indústria de remessas deve ser sólida).

A competição deve ocorrer em bases justas, com suporte legal sólido, devendo estar claro que algum grau de regulação pode ser necessário, já que os mercados nem sempre funcionam de forma ótima.

73. Os serviços de remessas internacionais são parte do sistema nacional de pagamentos e freqüentemente dependem de determinados arranjos para fins de liquidação. Portanto, os objetivos de política pública para os serviços de remessas internacionais estão intimamente relacionados com os serviços para sistemas de pagamentos. 4.2 Aplicação dos princípios gerais

74. A fim de atingir os objetivos de política pública, o relatório estabelece princípios que cobrem cinco áreas: (1) transparência e proteção ao consumidor; (2) infra-estrutura de sistema de pagamentos; (3) ambiente legal e regulamentar; (4) competição e estrutura de mercado; e (5) gerenciamento de risco e governança. Os cinco princípios correspondem às cinco áreas que, conforme identificado na Seção 3, podem apresentar fragilidades. O propósito deles é ajudar a remover essas fragilidades a fim de se criar um mercado eficiente e seguro. Eles não têm a intenção de estabelecer padrões específicos de níveis de serviço para as transferências relacionadas a remessas, de vez que, para a maioria dos usuários, além de um certo nível básico de serviço e em circunstâncias normais, preço baixo pode ser mais importante do que alto nível de serviços. Além disso, a competição efetiva provavelmente contribui mais para um leque de serviços que ofereça combinações adequadas de preços e serviços, do que o estabelecimento de padrões de nível de serviço. Os princípios gerais estão direcionados a todos os serviços de remessa, exceto àqueles baseados exclusivamente em transferências em espécie, conforme observado na Seção 2.2.

75. Os princípios, que para serem efetivamente implementados demandam um esforço dos PSRs e das autoridades públicas, são desenhados para dar uma orientação aos países que pretendam aperfeiçoar o mercado de serviços de remessa. Isso se aplica tanto aos países remetentes quanto aos países destinatários. É claro que a importância dos serviços de remessa varia de país para país. Entretanto, embora os princípios gerais tenham sido formulados para serem aplicados de forma geral, alguns países podem concluir que o tamanho do seu mercado de remessas não justifica uma ação significativa, ou que não há necessidade de tal ação. Entretanto, ao tomar tal decisão, as autoridades devem ter em mente que, para ser completamente efetiva, a tentativa de melhorar o mercado em um determinado corredor de remessas exigirá cooperação entre o país remetente e o país destinatário. Dessa forma, os países destinatários podem ser prejudicados significativamente em sua capacidade de agir se eles não receberem o necessário apoio dos países remetentes.

76. Na maioria dos casos, os princípios serão provavelmente aplicados nos países remetentes independentemente da destinação dos fundos, e nos países destinatários independentemente da origem dos fundos. Entretanto, ao aplicar alguns aspectos dos princípios, as autoridades talvez direcionem seus esforços preferencialmente para os corredores bilaterais mais importantes, ou para corredores em relação aos quais elas acreditam que seus esforços serão mais produtivos31.

77. Conforme discutido na Seção 2, freqüentemente os PSRs têm dificuldades para fazer distinções entre as remessas e os outros pagamentos de varejo trans-fronteiras, incluindo os pagamentos de pequeno valor entre comerciantes, razão pela qual as autoridades responsáveis pela implementação dos princípios devem ter em conta que eles provavelmente terão de ser aplicados também a essas outras transferências. Entretanto, isso provavelmente não representa uma desvantagem, à vista de que geralmente não é desejável fazer distinções entre pagamentos segundo o propósito deles.

78. Finalmente, tendo em conta que as transferências relacionadas a remessas são pagamentos de varejo, além dos princípios de que trata este relatório e da orientação geral para desenvolvimento de sistemas nacionais de pagamento32, o relatório do CPSS sobre questões de política para bancos centrais a respeito de

31 Por exemplo, esse pode ser o caso do programa educacional discutido no âmbito do Princípio Geral 1, ou das possíveis mudanças de infra-estrutura discutidas no âmbito do Princípio Geral 2. 32 Ibid.

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pagamentos de varejo também pode ser útil33. Esse último relatório delineia várias ações que devem ser consideradas pelas autoridades pertinentes, as quais podem variar amplamente dependendo tanto das condições dos mercados pertinentes quanto do contexto institucional de cada país.

4.3 Os princípios gerais

Transparência e proteção ao consumidor

Princípio Geral 1. O mercado de serviços de remessa deve ser transparente e deve oferecer adequada proteção ao consumidor.

79. A transparência em serviços de remessa, combinada com adequada proteção ao consumidor, ajuda a promover um mercado competitivo e seguro para remessas.

Transparência por parte dos prestadores de serviços de remessa

80. A transparência de preços e de outras características dos serviços é crucial para que os consumidores tomem decisões fundamentadas na escolha entre diferentes serviços, bem como para a criação de um mercado competitivo. Os PSRs devem, portanto, ser encorajados a manter tais informações de uma forma que seja de fácil compreensão e em canais de fácil acesso. Tanto quanto isso for possível, tais informações devem incluir o preço total (isto é, as tarifas nos dois lados da transação, as taxas de câmbio utilizadas incluindo as margens aplicadas sobre elas e outros custos para o usuário), o tempo que a remessa demora para chegar até o destinatário e a localização dos pontos de acesso tanto nos países remetentes quanto nos países destinatários. Entretanto, qualquer recomendação ou exigência a respeito de transparência precisa levar em conta que os modelos de negócio adotados por alguns serviços de remessa (precisamente, os que utilizam redes abertas) podem fazer com que seja extremamente difícil para o PSR prestar todas essas informações (ver a Seção 3.1 acima).

81. Também deve ficar claro para o remetente se o preço ou outro aspecto do serviço varia de acordo com, por exemplo, o modo pelo qual o pagamento é feito ao destinatário (por exemplo, em dinheiro em espécie ou por intermédio de crédito em conta), ou com a capacidade de o remetente fornecer alguns dados sobre o destinatário (por exemplo, o pertinente número da conta bancária e o código do banco destinatário). Finalmente, a transparência completa implica a necessidade de que os PSRs prestem as informações sem a imposição de qualquer exigência para os consumidores, tais como a obrigação de abertura de conta ou o compromisso de utilização do serviço de remessas.

Capacitando os usuários a entender o mercado de remessas

82. Assim como em relação às informações prestadas pelos próprios PSRs, as autoridades poderiam apoiar esforços que visem capacitar os usuários finais para que eles entendam melhor o mercado de remessas. Por exemplo, as autoridades, ou outras organizações, talvez possam prestar informações comparativas sobre preços. Elas talvez decidam, também, realizar campanhas educacionais para dar aos remetentes e aos destinatários conhecimentos básicos suficientes para que eles possam entender as informações recebidas.

Proteção apropriada ao consumidor

83. Tanto os remetentes quanto os destinatários devem ter direitos adequados como consumidores de serviços de remessa, incluindo procedimentos de resolução de disputas. É possível que os PSRs tenham seus próprios procedimentos. Adicionalmente, muitos países contam com mecanismos de resolução de disputas relacionadas com consumidores que têm aplicação nacional, embora o fato de que as remessas impliquem transferências trans-fronteiras e a existência de barreiras culturais e lingüísticas possam fazer com que tais procedimentos se tornem complexos. Dessa forma, as autoridades talvez possam encorajar os PSRs a avaliarem a adequação de seus procedimentos de resolução de disputas. Quando apropriado, elas podem também querer verificar se os esquemas domésticos dão adequada proteção aos consumidores de serviços de remessa.

Infra-estrutura de sistema de pagamentos

Princípio Geral 2. Devem ser encorajados melhoramentos na infra-estrutura de sistema de pagamentos que tenham o potencial de aumentar a eficiência dos serviços de remessa.

33 Questões de política para bancos centrais em pagamentos de varejo, BIS, março de 2003.

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84. Os serviços de remessa, exceto talvez aqueles que são totalmente baseados em dinheiro em espécie, dependem em algum ponto da infra-estrutura doméstica de liquidação, inclusive, algumas vezes, para a transferência de informações. Em alguns países, particularmente em muitos países destinatários, os serviços de pagamento que não envolvam o trânsito de dinheiro em espécie somente podem ser disponibilizados em áreas urbanas. Freqüentemente, os PSRs poderiam utilizar melhor a infra-estrutura já desenvolvida se houvesse maior nível de padronização dos instrumentos de pagamento, maior nível de automação em seu processamento, e maior nível de interoperabilidade entre as redes associadas.

85. Conforme discutido no relatório “Orientação geral para o desenvolvimento de sistemas nacionais de pagamento”, melhoramentos em infra-estruturas de captura de transações, tais como as redes de caixas automáticos e de transferências eletrônicas a partir do ponto-de-venda, podem ser atingidos por intermédio: da adoção de padrões de uso comum para os instrumentos de pagamento (por exemplo, para os cartões de pagamento), utilizando-se preferencialmente aqueles acordados em âmbito internacional; da adoção de equipamentos e programas-padrão de uso comum, para possibilitar a interoperabilidade, nos pontos-de-venda, de redes concorrentes entre si (por exemplo, caixas automáticos e máquinas leitoras de cartões de pagamento); e da facilitação da interconexão de redes proprietárias que processam transações. O maior nível de automação pode ajudar na redução de custos e na prestação de melhores serviços aos usuários. Melhoramentos nas infra-estruturas de liquidação e de pagamentos também podem ser possíveis por intermédio do uso de padrões de uso comum de tecnologia da informação, o que facilita a interconexão das infra-estruturas existentes, ou mesmo a centralização ou a consolidação delas. Tais ações poderiam ajudar a aumentar a área de cobertura em um país destinatário, bem como a reduzir o custo efetivo para os usuários dos serviços de remessa, o qual inclui, entre outros, além do preço direto cobrado pelo PSR, o custo que o usuário tem para se deslocar para os centros urbanos a fim de receber a remessa, e o tempo gasto com essas tarefas. Quando pertinente, nos países em que a infra-estrutura é fraca ou em que a cobertura é limitada, as autoridades podem, à vista disso, encorajar melhoramentos na infra-estrutura doméstica de pagamentos, o que pode ocorrer via implantação de novas infra-estruturas ou com a melhor utilização daquelas existentes. É claro que tais melhoramentos poderiam trazer benefícios de um modo geral, e não apenas no que diz respeito às remessas. Arranjos de pagamentos trans-fronteiras

86. A segurança e a eficiência dos serviços de remessa podem ser afetadas pelos sistemas de pagamentos dos mercados pertinentes, bem como pelo modo como esses sistemas são acessados e utilizados pelos PSRs ou pelos bancos que atuam em nome deles. Adicionalmente aos melhoramentos na infra-estrutura de pagamentos doméstica, a segurança e a eficiência das remessas trans-fronteiras podem ser incrementadas ainda mais pela coordenação e/ou pela adoção, pelos sistemas de pagamentos pertinentes, de, por exemplo, padrões de comunicação e formatos de mensagem que facilitem maior nível de interoperabilidade, assim como de regras, procedimentos e grades horárias que possibilitem o processamento automático direto das transações.

87. Também pode ser possível interligar os sistemas de pagamentos domésticos de varejo do país remetente e do país destinatário, especialmente quando os sistemas de pagamentos dos dois países forem bem desenvolvidos e proporcionem ampla cobertura, e quando o volume de remessas entre os países é alto. Entretanto, tendo em vista a complexidade de tais interligações, é importante que haja uma análise cuidadosa de custo-benefício.

88. Algumas vezes tais iniciativas podem ser empreendidas pelo próprio mercado. Entretanto, tendo em conta, primeiro, a natureza diversa das instituições envolvidas, e por isso a existência de potencias conflitos de interesse, e, segundo, a incerteza quanto à escala dos fluxos futuros e, em conseqüência, também quanto ao retorno do investimento, em muitos casos as autoridades, e os bancos centrais em particular, podem contribuir para que essas possibilidades sejam consideradas. Em geral, iniciativas que envolvam diferentes países ou diferentes sistemas requerem um alto nível de cooperação bilateral, e possivelmente multilateral, sobre aspectos técnicos, de regulação e de vigilância. Da mesma forma, elas requerem o envolvimento dos bancos centrais, dos reguladores, dos operadores dos sistemas de pagamentos, dos PSRs e das associações da indústria em ambos países. Em alguns casos, os próprios bancos centrais têm estabelecido interligações bilaterais envolvendo os sistemas de pagamentos que eles operam.

89. Há muitas outras iniciativas em andamento para avaliar maneiras de expandir o uso das atuais redes e plataformas internacionais, como, por exemplo, no que diz respeito às maiores redes de cartões internacionais e à SWIFT, com vistas à prestação de serviços novos ou aperfeiçoados na área de serviços de remessa. Também poderiam ser particularmente importantes as iniciativas internacionais para padronizar os

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formatos de mensagens usados pelos sistemas de pagamentos e pela comunidade bancária internacional de um modo geral, uma vez que , mesmo sem interligações diretas entre sistemas de pagamentos de diferentes países, os formatos padronizados poderiam contribui muito no sentido de capacitar os bancos e outros PSRs a processarem as instruções de pagamento sem a necessidade de intervenções manuais, que são caras. Arcabouço legal e regulamentar

Princípio geral 3. Os serviços de remessa devem contar com um arcabouço legal e regulamentar que seja robusto, previsível, não-discriminatório e proporcional nas jurisdições pertinentes

90. O arcabouço legal e regulatório inclui tanto a infra-estrutura legal, incluindo, por exemplo, as leis relacionadas a contratos, pagamentos, títulos, atividade bancária, relações entre devedores e credores, e insolvência, quanto qualquer estatuto específico, jurisprudência, regulamentos ou contratos (regras de sistemas de pagamentos, por exemplo) relacionados com remessas. Conforme foi observado na Seção 3.3, os pontos cobertos por este princípio também podem ser pertinentes em relação a políticas que não obriguem legalmente, tais como recomendações, que são divulgadas pelas autoridades.

91. Este princípio não implica o estabelecimento de um regime legal específico para as remessas. As leis e regulamentos atuais do país talvez já tratem das questões relacionadas com o princípio, ou podem ser modificados com esse propósito. Em particular, a provisão dos serviços de remessa provavelmente é facilitada por uma base legal bem constituída relacionada aos pagamentos domésticos. Pré-requisitos para um arcabouço legal e regulamentar bem constituído

92. Para ser bem constituído, o arcabouço legal e regulamentar deve ser robusto, previsível, não-discriminatório e proporcional. Um arcabouço robusto, que seja bem compreendido, ajuda a minimizar os riscos enfrentados pelos PSRs e seus clientes. Um arcabouço previsível é aquele no qual existe clareza quanto às leis e aos regulamentos que se aplicam, em que não há freqüentes alterações nessas leis e regulamentos e quando os pertinentes dispositivos podem ser efetivamente aplicados pelas autoridades, incluindo os tribunais, de uma maneira consistente. A previsibilidade é um componente-chave para a criação de um clima que favoreça o investimento do setor privado. Isso é crucial para que se incremente a competição nos serviços de remessa, melhorando assim a qualidade deles.

93. Para ser não-discriminatório, o arcabouço legal e regulamentar deve ser igualmente aplicado aos diferentes tipos de PSRs na medida em que eles estejam prestando serviços equivalentes, isto é, a aplicação deve independer da natureza de outros serviços prestados pelo provedor de serviços. Isto ajuda a promover um ambiente justo envolvendo diferentes PSRs, o qual encoraja a competição sob bases justas e equilibradas. Além disso, no que diz respeito ao incentivo à competição, é desejável que o arcabouço legal e regulamentar seja flexível e suficientemente geral para cobrir todos os serviços de remessa e os correspondentes provedores. Por exemplo, algumas vezes é defendido que os serviços prestados por pessoas físicas, tal como no caso dos serviços tipo hawala, sejam proibidos, sob o argumento de que é difícil impedir o mau uso deles para crimes tais como o financiamento ao terrorismo. Entretanto, outros argumentam que, ao invés disso, talvez seja mais fácil exigir que esses serviços observem as exigências relacionadas à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo. Qualquer que seja o caminho, a dificuldade está em se identificar e processar aqueles que operam ilegalmente. Entretanto, colocar esses prestadores de serviços em situação legal regular, comparativamente a simples exclusão deles, tem a vantagem de aumentar o nível de competição.

94. Porque os serviços de remessa são oferecidos por diferentes tipos de provedores, uma estrutura institucional, ao invés de uma estrutura funcional, pode ser desejável para minimizar a possibilidade de tratamentos diferenciados a provedores que oferecem serviços similares. Entretanto, freqüentemente isso pode ser impraticável: muitos países já aplicam diferentes leis e regulamentos aos diferentes tipos de PSRs, sendo difícil alterar essa situação. Por exemplo, os PSRs que são bancos e os que não são bancos podem ser regidos por arcabouços legal e regulamentar já estabelecidos e diferentes ente si. Quando esse for o caso, o princípio subjacente pode ser atendido, de modo alternativo, ao se assegurar a existência de direitos e obrigações equivalentes, independentemente de qual seja a lei aplicável a uma instituição. Por exemplo, a exigência “conheça seu cliente” deve ser a mesma para bancos e para não-bancos mesmo se eles são governados por regulamentos que foram estabelecidos de forma separada.

95. Finalmente, a proporcionalidade implica que o arcabouço legal e regulamentar relacionado a remessas não deve ser excessivamente restritivo e oneroso em relação a possíveis problemas que ele pretenda enfrentar, ou ao número e valor das transferências envolvidas. É claro que isso depende muito do

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conteúdo das leis e regulamentos, o que é discutido abaixo. Ao considerar isso, é importante perceber que os objetivos de política pública talvez nem sempre apontem na mesma direção. Por um lado, um importante corolário relacionado com o encorajamento à competição com vistas à redução de preços é que as barreiras à entrada de novos participantes no mercado de remessas devem ser reduzidas, tanto quanto possível, e que a regulação em si pode ser uma barreira significativa por causa dos custos relacionados com sua observação. Por outro lado, objetivos de política pública, tal como o combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, requerem uma regulação que é potencialmente onerosa. A proporcionalidade implica que esses objetivos conflitantes sejam reconhecidos e resolvidos de uma maneira que, à luz das prioridades maiores do país, se atinja um balanceamento apropriado. Provavelmente, a regulação proporcional é mais efetiva no sentido de que os PSRs estarão menos propensos a operar de forma ilegal para, assim, burlarem as leis e os regulamentos, conforme discutido acima. Arcabouços legais e regulamentares múltiplos

96. Uma remessa envolve pelo menos duas jurisdições, quais sejam o país remetente e o país destinatário. Quando o PSR -- ou seus agentes – opera em outros países, outras jurisdições podem também estar envolvidas. As leis e os regulamentos das jurisdições pertinentes, que regem a prestação dos serviços de remessa, precisam ser bem estabelecidos para que sejam totalmente efetivos. As autoridades de um determinado país podem, é claro, ter influência direta sobre o arcabouço legal e regulamentar apenas em seu próprio país. Contudo, especialmente se elas têm ciência de uma questão legal significativa em outro país que seja parte de um importante corredor bilateral, as autoridades de um país poderiam trabalhar com as autoridades do outro país, para que a questão seja resolvida.

97. Para se atingir um arcabouço legal e regulamentar bem estabelecido em termos internacionais, a harmonização das estruturas legais e regulamentares talvez seja conveniente. Entretanto, as diferentes jurisdições têm diferentes prioridades e podem, assim, adotar diferentes abordagens legais. Dessa forma, a harmonização universal das leis e regulamentos de diferentes países é extremamente difícil de ser alcançada, além do que talvez não tragam benefícios adicionais se as leis e os regulamentos dos países tiverem os mesmos objetivos de política pública. Conteúdo do arcabouço regulatório

98. Ao considerar a maneira pela qual as remessas são reguladas em determinado país, uma questão importante de qualquer estrutura regulatória é se ela deve atender a padrões acordados internacionalmente. Particularmente importantes nesse contexto são os regulamentos que tratam das recomendações para o combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo, tais como aquelas formuladas pela Força-Tarefa de Ação contra Lavagem de Dinheiro (ver o Quadro 4). Todos os PSRs devem cumprir com as regras de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo que se aplicam a eles.

Quadro 4 Recomendações da Força-Tarefa de Ação contra Lavagem de Dinheiro - FATF1

Extratos das quarenta recomendações da FATF, conforme revisão de 22 de outubro de 2004

Recomendação 5: ... As instituições financeiras devem investigar seus clientes, inclusive identificando e verificando a identidade deles, quando ... eles estiverem fazendo transações ocasionais ... relacionadas com transferências eletrônicas nas circunstâncias enquadradas pela Nota Interpretativa da Recomendação Especial VII [ver abaixo]; ...

Recomendação 7: As instituições financeiras devem, em relação às atividades de correspondência bancária trans-fronteira e a outras atividades similares, além de realizarem as investigações normais: (a) reunir informações suficientes sobre a instituição respondente, para conhecer completamente a natureza de seus negócios e para determinar, com base em informações publicamente disponíveis, a reputação da instituição e a qualidade da supervisão, inclusive no sentido de identificar se ela está ou não sujeita a uma investigação ou ato regulatório relacionado com lavagem de dinheiro ou financiamento ao terrorismo; (b) avaliar os controles da instituição respondente relacionados com o combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo; (c) obter aprovação de sua administração sênior antes de estabelecer novos relacionamentos na área de correspondência bancária; (d) documentar as respectivas responsabilidades de cada instituição; (e) estar satisfeita, no que diz respeito a “contas por intermédio das quais são feitos pagamentos de terceiros”, que o banco respondente tem verificado a

continua ...

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 23

99. Em alguns países, algumas outras áreas que podem ser cobertas por regulação incluem as condições de transparência aplicáveis aos usuários finais (preços e tempo de execução, por exemplo), medidas de proteção aos clientes (mecanismos de resolução de disputas, por exemplo) e a adoção de medidas adequadas para mitigar os riscos enfrentados pelos PSRs (riscos legal, de crédito, de liquidez e operacional, por exemplo). Parar atender as recomendações contra lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo do FATF, os provedores têm de ser licenciados ou registrados; cabe às autoridades pertinentes decidirem se o processo de licenciamento ou registro deve ser utilizado também para implementar qualquer outra área coberta pela regulação.

100. Em qualquer regulação, é importante que seja feito um balanceamento dos benefícios de se ter aumento em termos de segurança e solidez contra os custos relacionados com a perda de eficiência, competição e inovação. O cumprimento da regulação freqüentemente é oneroso, podendo, portanto, implicar aumento do preço das remessas. Os regulamentos também podem representar uma barreira à entrada de novos participantes e, dessa forma, podem restringir a competição. As autoridades também poderiam evitar a regulamentação de instrumentos de pagamento ou canais de distribuição específicos, tendo em vista que as tecnologias empregadas na provisão dos serviços de remessa mudam rapidamente e tais inovações, tanto quanto possível, devem ser acomodadas facilmente, com custos baixos e sem alterações de regulamento. Finalmente, os benefícios relacionados com a obtenção de receitas via taxação das remessas e de outras transferências precisam ser ponderados contra o resultante aumento de custos.

Quadro 4 - continuação

identidade e continuamente examinado os clientes que têm acesso direto às contas do correspondente, e que ele é capaz de prestar dados de identificação de um determinado cliente para o banco correspondente quando for solicitado.

Recomendação 8: As instituições financeiras devem prestar especial atenção a qualquer possibilidade de lavagem de dinheiro que possa surgir como conseqüência de novas tecnologias, ou do desenvolvimento das que já existem, que possam favorecer o anonimato, de modo a, se necessário, evitar sua utilização em esquemas de lavagem de dinheiro. Em particular, as instituições financeiras devem contar com políticas e procedimentos que lhes permitam tratar qualquer risco associado com relacionamentos de negócio ou transações que não exijam a presença física.

Recomendação 23: .... Outras instituições financeiras devem ser licenciadas ou registradas e apropriadamente reguladas, e submetidas à supervisão ou vigilância para propósitos de ações contra a lavagem de dinheiro, tendo presente o risco de lavagem de dinheiro ou de financiamento do terrorismo nos setores em que atuem. Como condição mínima, as firmas que prestam serviços de transferência de dinheiro ou de valores, ou de troca de moeda ou de dinheiro, devem ser licenciadas ou registradas e se sujeitarem a sistemas efetivos de monitoramento, de modo a que se possa assegurar que elas cumprem as exigências do país relacionadas com o combate à lavagem do dinheiro e ao financiamento ao terrorismo.

Extratos das recomendações especiais da FATF sobre financiamento ao terrorismo, conforme revisão em 22 de outubro de 2004

VI. Remessa alternativa: cada país deve adotar medidas para assegurar que as pessoas físicas e as empresas, incluindo agentes, que prestam serviços de transferência de dinheiro ou de valores, incluindo a transmissão por intermédio de uma rede informal de transferência de dinheiro ou de valores, sejam licenciadas ou autorizadas e que elas se sujeitam a todas as recomendações da FATF que se aplicam aos bancos e às instituições financeiras não-bancárias. Cada país deve assegurar que as pessoas físicas e as empresas que realizem esse serviço ilegalmente estejam sujeitas a sanções administrativas, civis e criminais.

VII. Transferências a cabo: Os países devem adotar medidas para exigir que as instituições financeiras, incluindo entidades que operem com remessas de dinheiro, incluam, nas transferências de fundos e nas mensagens relacionadas que são enviadas, informações acuradas e significativas sobre o remetente (nome, endereço e número de conta), devendo essas informações constarem da transferência ou da correspondente mensagem durante toda a cadeia de pagamento.

Os países devem adotar medidas para assegurar que as instituições financeiras, incluindo os prestadores de serviços de remessa, conduzam escrutínios e monitorem atividades suspeitas de transferências de fundos, no sentido de que elas não contenham completa identificação do remetente dos recursos (nome, endereço e número de conta). Para mais informações sobre os dois relatórios, ver http://www.fatf-gafi.org. 1 conforme acrônimo da denominação em inglês. (nota do tradutor).

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101. A indústria de remessas deve ser consultada quando se pretende regular os pertinentes serviços, de modo a se assegurar que a regulação é proporcional e efetiva. Em alguns casos, a própria indústria pode desenvolver códigos de conduta ou regimes de auto-regulação que sejam tão efetivos, ou até mesmo mais efetivos (em razão dos custos menores relacionados com o cumprimento dos regulamentos e da maior flexibilidade), do que a regulação normal. Entretanto, a efetividade da auto-regulação provavelmente depende de muitos fatores, incluindo o estágio de desenvolvimento da indústria de remessas.

Competição e estrutura de mercado

Princípio Geral 4. Devem ser favorecidas as condições para a existência de um mercado competitivo na indústria de remessas, incluindo o acesso apropriado às infra-estruturas domésticas de pagamento.

102. A eficiência dos serviços de remessa depende da existência de um ambiente competitivo de negócios. Os mercados competitivos podem ajudar a limitar as práticas monopolistas e levar a preços mais baixos e a melhores níveis de serviços. Em alguns lugares, ou para certos corredores de remessas, a demanda por serviços de remessa pode ser insuficiente para suportar a existência de múltiplos PSRs, mas mesmo nesse casos, desde que o mercado admita a contestação – isto é, existam poucas barreiras à entrada de novos participantes --, os benefícios da competição devem ser percebido. A competição pode ser auxiliada quando os PSRs são desencorajados de imporem condições de exclusividade sobre os agentes. Isto é importante tanto em países remetentes quanto em países destinatários, mas é particularmente importante nos países destinatários se um mercado local, tal como uma pequena vila, tem apenas um único agente potencial (uma loja local, por exemplo) e, dessa forma, existe apenas um único serviço disponível e uma condição de exclusividade é imposta. Conforme discutido no âmbito do Princípio Geral 3, as autoridades precisam estar cientes de que seu próprio regime regulatório pode, ele próprio, levar a distorções no mercado e impor custos desnecessários, causando assim uma competição imperfeita.

103. Para prestarem serviços de remessa, os provedores normalmente têm necessidade de utilizar a infra-estrutura doméstica de pagamentos. O acesso a essa infra-estrutura pode ser tanto direta quanto indireta. As duas formas podem ser capazes de prestar aos PSRs serviços de pagamento adequados, e as vantagens e desvantagens de cada uma delas variam conforme circunstâncias específicas34. Seja qual for a forma de acesso, é importante que ele seja disponibilizado para os PSRs em condições de igualdade e em bases competitivas, especialmente porque eles competem uns com os outros e o acesso é um fator que pode interferir na capacidade de competição. Os PSRs que não têm acesso direto às principais infra-estruturas de pagamento devem ter a possibilidade de utilizar os serviços prestados por instituições que tenham acesso direto. Essas instituições devem prestar todos os serviços de pagamentos pertinentes, inclusive serviços de câmbio, em igualdade de condições com os PSRs. A esse respeito, os requerimentos relacionados com lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, tais como aqueles relacionados com “conheça seu cliente”, devem ser equivalentes para todos os PSRs. Além disso, os bancos e outras instituições, quando estão prestando serviços de pagamento, não devem aplicar esses requerimentos, de forma inapropriada, para prejudicar a atuação de outros PSRs.

Governança e gerenciamento de risco

Princípio Geral 5. Os serviços de remessa devem contar com práticas adequadas de governança e de gerenciamento de risco.

104. Práticas apropriadas de gerenciamento de risco e de governança podem melhorar a segurança e a solidez dos serviços de remessa, contribuindo, assim, para a proteção dos consumidores. As estruturas de governança podem ajudar os PSRs a cumprirem com as responsabilidades para com os consumidores. Uma estrutura de governança apropriada para um pequeno provedor de serviços de remessa provavelmente é muito diferente de uma que seja apropriada para as grandes instituições financeiras multinacionais. Contudo, seja qual for o caso, os PSRs devem se esforçar para adotar padrões de boa governança de acordo com as

34 No caso do acesso direto, o PSR é um participante direto do sistema, submete diretamente ao sistema suas instruções de pagamento e é responsável pela liquidação. O acesso indireto implica que o PSR não é um participante direto do sistema e, por isso, utiliza uma outra instituição, um participante direto, para atuar em nome dele – isto é, o PSR é um cliente do participante direto. Para mais detalhes sobre essa questão, ver o relatório “O papel da moeda do banco central em sistemas de pagamentos”, ibid.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 25

exigências legais dos países em que eles se localizam, bem como para seguir as melhores práticas relacionadas à prestação de serviços financeiros de varejo35.

105. Tal como no caso da indústria de pagamentos em geral, a indústria de remessas enfrenta riscos legais, financeiros, operacionais, de fraude e de reputação. Ao estabelecer medidas de controle de riscos, os PSRs devem fazer avaliações de nível de risco para se assegurarem de que as medidas de controle são apropriadas para o nível de risco e para o tamanho do negócio de um modo geral. Agindo dessa forma, eles devem adotar passos apropriados para protegerem a eles próprios e aos seus clientes contra os riscos relacionados com suas operações em diferentes jurisdições, em particular naquelas que apresentam falhas em seu arcabouço legal e regulamentar.

4.4 Papéis dos provedores de serviços de remessa e das autoridades públicas

106. Embora as circunstâncias variem de um país para outro, tanto os PSRs quanto as autoridades públicas têm responsabilidades com relação à implantação dos princípios, para que sejam alcançados os objetivos de política pública.

A. Papel dos prestadores de serviços de remessa: os prestadores de serviços de remessa devem participar ativamente da implementação dos princípios gerais.

107. Os provedores de serviços de remessa devem se empenhar com vistas à observação dos princípios gerais. Eles devem trabalhar seriamente para oferecer serviços competitivos que atendam às necessidades de seus clientes. Eles devem ser transparentes com relação a seus preços e a outras características dos serviços, de modo a que os consumidores possam tomar decisões fundamentadas. Como provedores de serviços de pagamento, eles devem ter uma responsabilidade particular no sentido de assegurar que tanto eles quanto quaisquer dos agentes que eles utilizam para captura de transações e desembolso de recursos cumprem as leis e os regulamentos aplicáveis, incluindo as exigências relacionadas ao combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo. Eles também devem implementar processos de gerenciamento de risco e de governança que ajudem a melhorar a segurança e a solidez dos serviços, e a satisfazer as responsabilidades que eles têm em relação a seus clientes.

B. Papel das autoridades públicas: as autoridades públicas devem avaliar que ações devem ser adotadas, relativamente à implementação dos princípios gerais, com vistas a se alcançar os objetivos de política pública.

108. Quando os formuladores de políticas públicas decidem adotar medidas relacionadas a remessas via implementação dos princípios, as pertinentes autoridades precisam contar com poderes e recursos apropriados. Há diversas ferramentas que podem ser utilizadas pelas autoridades públicas, dependendo do nível de envolvimento que elas pretendam ter. Essas ferramentas incluem monitoramento, manutenção de conversas com o setor privado e a prestação de informações ao público. As autoridades públicas poderiam recorrer à regulamentação para tratar de falhas de mercado, mas antes disso elas deveriam ponderar os possíveis benefícios de tal regulação contra os custos relacionados com o seu cumprimento e possíveis distorções de mercado.

109. Diversas e diferentes autoridades internas, com diferentes objetivos, podem estar envolvidas na implementação de políticas relacionadas a remessas. Isso inclui, por exemplo, as autoridades que tratam da efetiva aplicação da lei, os órgãos responsáveis por estatísticas, as agências de desenvolvimento, os serviços de proteção ao consumidor, os órgãos responsáveis pela supervisão do sistema financeiro e os bancos centrais. Quando a implementação dos princípios envolve múltiplas autoridades do país, os formuladores de políticas públicas devem assegurar-se de que as políticas internas são coordenadas e que haja cooperação das autoridades nos níveis de definição de políticas e de implementação. A cooperação em âmbito internacional – quer se trate de cooperação no âmbito de um corredor bilateral, de cooperação regional ou de cooperação global – também pode ser útil. 5. Formulação de uma abordagem para implementação dos princípios gerais

110. Tanto as autoridades públicas quanto o setor privado têm responsabilidades na implementação dos princípios (ver o Anexo 1 para algumas possíveis ações para implementação dos princípios, incluindo exemplos relacionados com as experiências de outros países). Entretanto, se decidirem pela implementação,

35 Para mais detalhes sobre governança em relação a serviços de pagamentos, ver o relatório “Princípios fundamentais para sistemas de pagamento sistemicamente importantes”, do BIS/CPSS, de janeiro de 2001, e em especial o Princípio Fundamental X. Embora esse relatório tenha como foco os sistemas sistemicamente importantes, muito do que ele preconiza é útil também em outras circunstâncias.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 26

as autoridades provavelmente terão de iniciar o processo e eles precisarão decidir sobre como isso deve ser feito. Ferramentas para implementação dos princípios gerais

111. As autoridades públicas podem adotar ações sobre serviços de remessa de várias maneiras, dependendo do nível de envolvimento que eles decidam adotar.

• o monitoramento será útil para dar curso aos objetivos de política pública e para decidir sobre ações apropriadas relativamente à indústria de remessas. O fato de que o mercado apresenta constantes mudanças aumenta a importância do monitoramento, o qual poderia se focar na maneira como os sistemas de remessas estão evoluindo. Pesquisas de mercado encomendadas a terceiros pelas autoridades podem constituir uma ferramenta adicional útil;

• a manutenção de conversas com o setor privado é uma ferramenta importante, que pode ser usada para entender as tendências do mercado e para influenciar os resultados. Essas conversas devem envolver todas as partes interessadas, incluindo os usuários finais, de modo que os pontos de vistas de todos os interessados sejam levados em conta;

• a comunicação e a extensão da divulgação estão relacionadas com a ferramenta anterior, mas essas ferramentas merecem uma atenção especial de vez que elas contribuem tanto para aumentar o nível de consciência dos PSRs no sentido de que eles são capazes de prestar serviços de remessa eficientes e efetivos, quanto para desenvolver o nível dos conhecimentos financeiros dos usuários finais e, assim, promover o uso dos produtos financeiros por eles;

• as autoridades podem ajudar o setor privado a desenvolver o mercado de remessas atuando como catalisador ou facilitador – isto é, situações nas quais elas utilizam sua influência para apoiar ou apressar a oferta de um produto de mercado. Por exemplo, elas podem encorajar a adoção de códigos de conduta apropriados ou, possivelmente, auto-avaliação;

• as autoridades públicas talvez possam utilizar, algumas vezes, a regulação para tratar falhas de mercado. Quando agem assim, elas devem tentar se assegurar de que as soluções regulatórias produzam benefícios líquidos, evitando criar barreiras desnecessárias à entrada de novos prestadores de serviços de remessa no mercado. As autoridades podem, também, rever seus regulamentos para se assegurar de que eles não impõem custos excessivamente onerosos aos prestadores de serviços de remessa, e que esses regulamentos não fazem discriminação, quanto à prestação dos serviços, em relação a certos tipos de provedores;

• a prestação direta de certos serviços pelas autoridades públicas – como, por exemplo, serviços de liquidação -- para apoiar serviços de remessa é, também, um possível instrumento, embora isso seja freqüentemente desejável apenas se outros instrumentos se revelarem ineficazes.

Coordenação de responsabilidades

112. Diferentes aspectos dos princípios estarão, provavelmente, sob a responsabilidade de diferentes autoridades públicas tais como o banco central, as autoridades de defesa da concorrência, as autoridades de defesa do consumidor, o ministério das finanças, os órgãos responsáveis pela supervisão do sistema financeiro e as autoridades que atuam contra a lavagem de dinheiro (ver o Quadro 5 para mais informações sobre o papel potencial dos bancos centrais). Além disso, conforme observado anteriormente, os objetivos prioritários de políticas públicas de diferentes autoridades algumas vezes podem ser conflitantes. Para que se consiga a necessária consistência de políticas públicas nesta situação, talvez seja necessária a identificação e a indicação de uma autoridade para liderar o processo, ou para coordenar a atuação das demais. As autoridades devem cooperar tanto no que diz respeito ao estabelecimento da política quanto na sua implementação.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 27

113. Em nível internacional – seja quando houver cooperação no âmbito de um corredor bilateral, cooperação regional ou cooperação global --, os esforços de cooperação poderiam incluir autoridades dos países pertinentes, que trabalhem em conjunto com vistas: à criação de políticas e sistemas regulatórios consistentes entre si; à criação de melhores ambientes de negócios; e à redução de barreiras de entrada.

114. Instituições financeiras internacionais (IFIs), tais como o Banco Mundial, os bancos de desenvolvimento regionais e o Fundo Monetário Internacional, têm um papel a desempenhar no sentido de apoiar as autoridades e os participantes do mercado no que diz respeito à aplicação desses princípios. Em particular, as IFIs têm experiência quanto às ações que os países têm adotado para melhorar o mercado de serviços de remessa, que podem ser úteis para outros países. Para que isso ocorra de forma efetiva, as IFIs devem coordenar suas ações entre elas próprias e com as ações das autoridades domésticas.

115. Todas as associações que representam diferentes tipos de PSRs, como por exemplo aquelas que representam bancos, cooperativas ou operadores de transferências de dinheiro, poderiam ser engajadas nas discussões relacionadas com questões e políticas que sejam de comum interesse. Essas associações poderiam ajudar tanto as autoridades quanto os PSRs a encontrarem meios práticos para a implementação dos princípios. Elas poderiam, também, preparar códigos de conduta baseados nos princípios, que sejam de observação obrigatória ou voluntária.

Quadro 5 O papel potencial dos bancos centrais na aplicação dos princípios

Os bancos centrais têm diferentes papéis no que diz respeito aos pagamentos de varejo, incluindo os serviços de remessas, dependendo das suas responsabilidades, políticas e poderes. Talvez seja desejável que eles monitorem os desenvolvimentos no mercado de remessas, com vistas a avaliar sua importância sob o ponto de vista de eficiência e segurança. Em alguns casos, as responsabilidades dos bancos centrais podem fazer com que seja apropriado que eles exerçam a vigilância de certos serviços de remessas. Quando o banco central presta serviços de pagamento, ele pode também, quando isso for apropriado, ampliar esses serviços para apoiar o funcionamento suave dos serviços de remessas. Isso pode incluir o desenvolvimento de novos serviços que dêem suporte a pagamentos trans-fronteiras, ou o melhoramento de serviços já existentes, para que possam ser mais úteis no sentido de facilitar esse tipo de pagamento. Nos países destinatários em que haja a necessidade de desenvolvimento da infra-estrutura local de pagamentos (não apenas para dar suporte às remessas e, sim, de um modo mais geral), o banco central provavelmente terá que exercer um importante papel (ver, por exemplo, a Orientação 1 do relatório “Orientação geral para o desenvolvimento de sistemas de pagamentos nacionais” , que é citado na nota de rodapé 22). Os bancos centrais podem estabelecer conversas com o setor privado e com outros bancos centrais, para que sejam atingidos os objetivos de política pública relacionados com os serviços de remessas, bem como para promover a cooperação internacional. Entretanto, conforme observado no texto principal, as autoridades de um país devem trabalhar em conjunto com vistas: ao tratamento dos pertinentes objetivos de política pública; à definição de responsabilidades para que esses objetivos sejam atingidos; e à coordenação das ações resultantes.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 28

Anexo 1: Possíveis ações para implementação dos princípios Esta seção contém algumas ações passíveis de adoção por países que desejem implementar os princípios. Essas possíveis ações são baseadas em experiências de vários países remetentes e destinatários de remessas. Entretanto, existem muitas diferenças (econômicas, culturais e políticas) entre os países, o que significa que ações que são úteis em um país podem não ser igualmente úteis em outro. As sugestões abaixo não devem ser, portanto, consideradas como uma lista pronta do que precisa ser feito para assegurar que os princípios sejam observados.

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 1 (transparência e proteção ao consumidor)

Transparência ao nível de cada PSR

1.1 Os PSRs podem utilizar uma combinação de métodos, tais como avisos em suas agências, folhetos, Internet e números de telefone de atendimento a clientes, para possibilitar que os usuários finais tenham informações gerais sobre os seus preços e serviços -- isto é, para que eles tenham acesso a essas informações sem a necessidade de fazerem perguntas sobre uma transação específica. Entretanto, na medida em que os preços e o tempo de execução variam conforme o montante e o destino, e tendo em conta que a taxa de câmbio muda constantemente, pode ser impraticável insistir em que avisos colocados nas agências, por si só, contenham toda a informação necessária para que se atinja transparência.

1.2 O Quadro 6 relaciona todas as informações que o PSR, para ser transparente, deve fornecer ao usuário final quando ele o aborda para solicitar informações sobre uma transação específica.

1.3 Quando o modelo de serviço de remessas é tal que o PSR de fato não tem condições de se comprometer quanto ao prazo de conclusão da transferência ou não tem condições de saber a tarifa que será cobrada do destinatário, como é tipicamente o caso nos serviços abertos, não podendo atender, assim, as exigências de que trata o Quadro 6, o conceito de transparência total implica que o cliente remetente deve ser cientificado das razões que determinam a falta de informações.

1.4 Nas situações em que são cobradas tarifas do destinatário, o PSR que pretenda ser transparente deve deixar isso claro para ele, por escrito ou por uma forma equivalente, no momento em que a remessa é cobrada ou entregue. Essa notificação não substitui a informação que deve ser prestada, no início da transação, para o cliente remetente.

1.5 As empresas que prestam serviços de remessa devem ser encorajadas a usarem uma mesma taxa de câmbio referencial (por exemplo, a taxa do mercado interbancário em determinado momento do dia), para ser utilizada como base no cálculo do preço do serviço de remessas. Adicionalmente à alínea “C” do Quadro 6, os remetentes podem então ser informados sobre o preço total da transação, incluindo tanto os custos/tarifas explícitos quanto a taxa de câmbio efetivamente utilizada pelo PSR (a título de exemplo, ver o cálculo do “custo total” no Quadro 7). Dessa forma, os remetentes teriam maior facilidade na comparação dos serviços.

1.6 Também pode ser desejável que os PSRs dêem ciência aos usuários finais do fato de que eles são registrados ou licenciados, bem como de que essa informação pode ser facilmente verificada junto às autoridades pertinentes. Isso poderia representar um passo no sentido de se desencorajar a utilização de PSRs ilegais, o que é desejável no que diz respeito às medidas relacionadas com o combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Entretanto, isso não representaria, necessariamente, um benefício significativo sob o ponto de vista de proteção ao consumidor, uma vez que, na maioria dos países, o fato de ser registrado ou licenciado diz muito pouco em relação à confiabilidade de um PSR e nada sobre o seu estado de solvência. Na verdade, são necessários cuidados para impedir que os usuários finais assumam, indevidamente, que o registro ou o licenciamento constitui um tipo de garantia quanto à confiabilidade ou à solvência do PSR.

Quadro 6 Transparência em relação ao remetente

Quando um cliente faz pesquisas sobre uma determinada transferência relacionada à remessa, o requerimento de completa transparência significa que o PSR deve prestar, de forma clara, as seguintes informações, sem exigir qualquer ação por parte do cliente no sentido de abrir uma conta ou de se comprometer a utilizar o serviço: continua ...

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 29

Capacitando os usuários a entenderem o mercado de serviços de remessa

1.7 Na ausência de um acordo que estabeleça o uso de uma determinada taxa referencial de câmbio (conforme mencionado no item 1.5), muitos remetentes terão dificuldades para combinar as informações sobre tarifa e taxa de câmbio, com vistas à escolha do serviço mais barato, mesmo quando há transparência. Entretanto, isso não representa uma negação dos benefícios dela tendo em vista que, com o passar do tempo, as informações sobre os PSRs que oferecem os melhores preços provavelmente se espalharão entre os usuários finais (isso pode ocorrer, por exemplo, por informações transmitidas boca-a-boca dentro de uma comunidade). Contudo, como uma abordagem mais direta, podem ser prestadas informações comparativas, de uma forma apropriada, sobre os preços de serviços específicos, especialmente no que diz respeito aos corredores mais importantes (ver o Quadro 7). Os seguintes meios de disseminação poderiam ser considerados: (1) uso dos canais de comunicação de uma determinada etnia, especialmente jornal e rádio; (2) mídia financeira; (3) associações nacionais e organizações de ajuda aos imigrantes; (4) órgãos públicos e privados voltados para os consumidores, com a utilização de material impresso e páginas na internet; e (5) consulados e embaixadas dos países destinatários de remessas. A disseminação de informações no país destinatário também deve ser considerada.

1.8 Para que a transparência seja efetiva, os remetentes e os recebedores precisam ter suficientes conhecimentos básicos de modo a que possam entender as informações fornecidas a eles e possam, assim, tomar decisões fundamentadas. Portanto, talvez como parte de uma campanha mais ampla de difusão de conhecimentos financeiros, as autoridades ou outras organizações poderiam empreender campanhas que expliquem as principais características dos serviços de remessa, os mecanismos existentes de proteção ao consumidor e como é que diferentes serviços podem ser avaliados (ver, por exemplo, o Quadro 8). Tais orientações podem ser fornecidas por intermédio de campanhas de esclarecimentos ou eventos públicos realizados por agências do governo, associações da indústria (tais como aquelas que representam os bancos, as cooperativas de crédito e os operadores de transferências de fundos), organizações não-governamentais e por outras agências. Nos países remetentes, os governos dos países recebedores podem prestar as

Quadro 6 - continuação

(A) o montante total na moeda de origem que será paga pelo remetente; (B) o montante total, na moeda que será utilizada na entrega dos recursos, que será pago ao destinatário; (C) as tarifas pagas tanto pelo remetente quanto pelo destinatário (e quaisquer outros custos pertinentes

como, por exemplo, aqueles relacionados a impostos) e a taxa de câmbio utilizada nos cálculos; (D) o momento em que a remessa será disponibilizada para o destinatário; (E) o local onde a remessa será colocada à disposição do destinatário.

Se as informações acima variam dependendo do modo como a remessa é liberada para o destinatário (por exemplo, em dinheiro em espécie sob solicitação do destinatário, em dinheiro em espécie mediante iniciativa do agente pagador, ou mediante crédito em conta do destinatário), ou dependendo da informação que o destinatário tenha condições de dar a respeito do remetente (por exemplo, na situação em será feito crédito em uma conta, se o remetente sabe o pertinente BIC ou IBAN1), isso deve estar claro para o remetente. No caso dos corredores mais importantes, pode ser apropriado prestar as informações tanto na língua do país remetente quanto na língua do país destinatário. Se o cliente decide utilizar o serviço de remessa, o PSR deve também prestar as informações acima (juntamente com os dados informados pelo remetente para identificação do destinatário) de forma escrita, para confirmação do serviço combinado. Para ser totalmente transparente, o PSR deve também prestar informações sobre quaisquer outros aspectos relevantes de seus serviços. Isso pode incluir, por exemplo: (a) a possibilidade, se for o caso, de o remetente revogar a transferência depois que o correspondente pagamento tiver sido feito; (b) se o destinatário será informado de que os fundos estão disponíveis para ele; (c) os direitos do consumidor caso ocorra algum problema (por exemplo, os procedimentos que deverão ser observados caso haja uma disputa em relação ao serviço); e (d) apropriadas informações sobre as pessoas do PSR que poderão ser contatadas em caso de necessidade. ------------------------------------------------- 1 O Código Identificador do Banco (BIC) e o Código Internacional de Conta Bancária (IBAN) são reconhecidos globalmente. O BIC é um código único que, em uma mensagem de telecomunicação, identifica a instituição financeira, enquanto o IBAN é um código que identifica uma conta mantida na instituição financeira.

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informações em suas embaixadas e consulados, ou nos locais em que os migrantes vivem e trabalham. Nos países recebedores, as iniciativas poderiam incluir informações sobre o uso de contas bancárias e de outros produtos financeiros.

1.9 Ao realizar programas educacionais, deve-se estar ciente de que em alguns casos os usuários finais de serviços de remessa podem não ter confiança nas instituições financeiras e, à vista disso, eles podem relutar em utilizar os serviços de remessa oferecidos por essas instituições, reduzindo, assim, o nível de efetiva competição. Talvez seja proveitoso examinar, tanto no país remetente quanto no país destinatário, as razões para essa falta de confiança, com vistas a se considerar possíveis melhoramentos nessa situação.

1.10 Nos países remetentes, os bancos poderiam dar assistência aos migrantes na obtenção dos documentos necessários para abertura de contas. Os empregadores poderiam desempenhar um papel na educação dos migrantes, fornecendo-lhes informações sobre os canais alternativos, ou fazendo negociações com determinados provedores.

Quadro 7 Remessas dos Estados Unidos para o México: uma comparação de preços

A PROFECO (Comissão Federal de Proteção ao Consumidor) é parte de uma agência administrativa do governo federal do México. Essa entidade publica semanalmente uma comparação de preços para remessas de USD 300 (acrescidos de tarifas) para o México a partir de nove cidades americanas. Como exemplo, são dadas abaixo as informações relacionadas com uma remessa de Chicago para o México, para uma determinada data (os nomes dos prestadores dos serviços foram omitidos). Prestador de serviço Tarifa para

transferência (USD) Taxa de câmbio utilizada pelo PSR (peso/USD)

Montante recebido pelo destinatário (valor equivalente em USD)

Custo total (USD)

PSR A 5,00 10,53 299,43 5,57 PSR B 8,00 10,55 300,00 8,00 PSR C 8,00 10,50 298,58 9,42 O “montante recebido pelo destinatário (valor equivalente em USD)” é o valor efetivamente recebido pelo destinatário em pesos (isto é, os USD 300 convertidos com base na taxa de câmbio utilizada pelo PSR), re-convertido para dólar dos Estados Unidos com base em uma taxa de câmbio de referência de 10,55 (uma média das taxas praticadas no dia por uma amostra de escritórios de câmbio). O “custo total” corresponde à tarifa cobrada pelo PSR, acrescida do custo da taxa de câmbio, esta última sendo a diferença entre os USD 300 e o “montante recebido pelo destinatário” – isto é, o custo da taxa de câmbio reflete a diferença entre a taxa de câmbio de referência e a taxa de câmbio efetivamente utilizada. No caso dos provedores considerados, nenhuma tarifa é cobrada do destinatário. Exemplo de cálculo para o PSR A: o montante efetivamente recebido em pesos equivale a 300 x 10,53 = 3.159. O “montante recebido pelo destinatário” equivale a 3.159 / 10,55 = 299,43. O custo do câmbio em dólares americanos equivale a 300 – 299,43 = 0,57. O “custo total” equivale a 5,00 + 0,57 = 5,57. De se notar que para o PSR B o custo total corresponde ao custo da tarifa (USD 8,00), porque no dia considerado este PSR utilizou uma taxa de câmbio igual à taxa de referência (10,55). Informações adicionais podem ser obtidas em http://profeco.gob.mx/html/envio/envio.htm.

Quadro 8 Informações fornecidas pelas autoridades das Filipinas aos emigrantes

Trabalhadores filipinos que estão no exterior podem comparecer a seminários de orientação antes de sua partida, que são conduzidos por diferentes agências do governo. Esse programa de seminários, que existe desde 1981, cobre não apenas tópicos relacionados a remessas (tal como a abertura de uma conta bancária antes da partida, a qual será utilizada para receber remessas), mas também outros tópicos específicos relacionados ao país de destino,do que são exemplos normas de viagem, procedimentos de imigração, diferenças culturais, questões de moradia, assuntos relacionados com emprego e previdência social, bem como os direitos e obrigações dos migrantes das Filipinas.

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Adequada proteção ao consumidor

1.11 É importante que haja um conjunto de procedimentos a serem observados em casos de disputas ou fraudes, que sejam claros, publicamente acessíveis e de fácil aplicação. No mínimo, os PSRs poderiam estabelecer individualmente seus próprios procedimentos, os quais poderiam ser observados pelos consumidores em casos de dificuldades, prestando informações claras a eles sobre esses procedimentos.

1.12 Quando esse já não for o caso, deveria ser considerada a possibilidade de se estender, à industria de remessas, a aplicação das regras do país para resolução de disputas relacionadas aos consumidores. Também pode ser útil a existência de uma entidade, tal como um ouvidor geral, que possa ajudar os PSRs e seus consumidores a resolverem problemas.

1.13 Alguns PSR talvez queiram considerar a possibilidade de ser oferecido algum tipo de garantia de entrega de fundos, de modo que, se os fundos não alcançarem o destinatário (devido à perda operacional ou à falência de uma das partes envolvidas, por exemplo), o remetente possa ter o seu dinheiro de volta. Isso é discutido em mais detalhes no Quadro 9. Mesmo se esse tipo de serviço não é prestado, os direitos dos usuários finais na hipótese de ocorrência de algum problema, e os procedimentos a serem seguidos, devem ser claramente informados ao remetente como parte da transparência do serviço, conforme discutido no Quadro 6.

Quadro 9 Garantia de recebimento de fundos

Uma garantia de recebimento de fundos tanto pode ser criada de forma voluntária pelos PSRs, quanto imposta a eles pelas autoridades. Os PSRs, individualmente ou em grupos, poderiam oferecer voluntariamente garantia de entrega de fundos a fim de que seus serviços sejam mais atrativos, especialmente quando se tratar de PSRs que estão tentando criar uma reputação de instituição segura. Essa tal garantia poderia ser atingida por alguma forma de seguro externo, auto-seguro por um grupo de PSRs via instituição de um fundo, ou com os PSRs segregando os fundos deles de alguma forma. Entretanto, a garantia poderia envolver custos, de modo que o aumento de garantia teria um preço, o que pode não ser desejável para muitos usuários finais. Muitos PSRs, particularmente aqueles que já tenham uma reputação de segurança e rapidez, podem, á vista disso, concluir que não é comercialmente atrativo oferecer talgarantia. Além disso, em alguns casos, poderia haver dificuldades práticas. Por exemplo, pode ser argumentado que tal garantia poderia ser mais útil em serviços abertos, os quais possivelmente envolvem vários intermediários que não são conhecidos pelo, ou não estão sob o controle do, PSR remetente, situação na qual, por isso, o risco de perda de fundos no trânsito da remessa pode ser maior. Mas essa falta de controle pode igualmente fazer com que o esquema de garantia seja mais difícil de implementar, especialmente por causa da dificuldade que o PSR remetente tem de identificar, de forma confiável, se os fundos alcançaram ou não a pessoa a que eles se destinam. Em razão dos custos e de dificuldades práticas, as autoridades provavelmente não desejarão impor tal esquema de garantia à indústria. Em particular, o esquema poderia representar um imposto sobre PSRs que são mais seguros e um subsídio àqueles que apresentam maior nível de riscos, exceto na situação, improvável, em que seja possível criar alguns meios confiáveis de se avaliar o risco de cada PSR, de modo a que eles se sujeitem a custos proporcionais na constituição da garantia. Na verdade, se não houver esse tal mecanismo de cobrança baseado no risco do PSR, os usuários finais teriam um incentivo para utilizar aquele que cobra os menores preços sem qualquer consideração sobre grau de risco, porque eles estariam protegidos pelo esquema de garantia. Isso, por sua vez, daria aos PSRs um incentivo para cortar custos mesmo quando isso resultasse em maior risco, porque na situação em que esses fundos se perdessem o custo seria suportado não por eles, e sim pela indústria como um todo (incluindo os PSRs que oferecessem serviços intrinsecamente seguros). Isto é um exemplo de "perigo moral", situação na qual os agentes agem individualmente em seu próprio interesse, em detrimento de outros, porque eles não respondem integralmente pelas conseqüências de suas ações1. ---------------------------------------------------- 1 Um exemplo similar de "perigo moral" pode ocorrer com o seguro de depósito relacionado a contas bancárias. Neste caso, entretanto, as conseqüências relacionadas com perdas são mais sérias para o sistema financeiro (por causa do risco de uma corrida bancária que poderia levar ao colapso do sistema financeiro) e os efeitos negativos do "perigo moral" são limitados pela supervisão bancária, a qual, embora imponha custos adicionais para a indústria bancária, limita a capacidade dos bancos de adotar estratégias excessivamente arriscadas.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 32

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 2 (infra-estrutura do sistema de pagamentos)

Infra-estrutura doméstica de pagamentos

2.1 Em linha com os relatórios do CPSS sobre questões de política para os bancos centrais relacionadas com pagamentos de varejo e sobre a orientação geral para desenvolvimento de sistemas nacionais de pagamento36, os bancos centrais podem atuar como facilitador e ter liderança, quando necessário, para o desenvolvimento da infra-estrutura doméstica de pagamentos.

2.2 Poderiam ser encorajados modelos de negócio que amparem, de modo viável, a expansão das redes de agências, de agentes ou de redes bancárias eletrônicas (por exemplo, redes de caixa automático e de atendimento bancário via internet) dos PSRs atuais ou potenciais, no sentido de atender às áreas rurais e às áreas urbanas menores.

2.3 A maior interoperabilidade de redes para instrumentos de pagamentos específicos, notadamente as redes de caixas automáticos e de cartões de pagamento, pode aumentar o acesso aos serviços de remessa quando tais tecnologias são utilizadas pelos PSRs.

2.4 As organizações que têm grandes redes de agências, tais como os grandes bancos e os serviços postais de âmbito nacional, são amplamente acessíveis em muitos países. Quando pertinente, particularmente em países recebedores, essas organizações poderiam ser encorajadas a desempenhar um papel maior na prestação de serviços de remessa.

2.5 Tanto nos países remetentes quanto nos países recebedores, os bancos e outras instituições tomadoras de depósitos poderiam ser encorajadas para desenvolver contas e serviços de pagamento básicos e de baixo custo para clientes de varejo, os quais poderiam então ser utilizados para remessas.

2.6 Um modelo que tem sido bem sucedido no sentido de estender a cobertura doméstica de serviços de pagamento é um arranjo no qual as contas são mantidas nos bancos ou em outras instituições tomadoras de depósitos, mas o acesso a essas contas é descentralizado. Para esse propósito, as instituições tomadoras de depósitos fazem contratos com outros tipos de instituições tais como agências de correio, casas lotéricas, drogarias e outros varejistas de menor porte que desejem atuar como agentes para prestar serviços de pagamento aos usuários finais (ver o Quadro 10).

Arranjos de pagamentos trans-fronteiras

2.7 As redes e as plataformas existentes podem ser adaptadas para acomodar as necessidades do mercado de remessas ou para interligar as câmaras de compensação automáticas do país a sistemas de pagamentos de outros países. A título de exemplo, o Quadro 11 apresenta vários exemplos de interligação de câmaras de compensação automáticas, incluindo o caso da interligação de duas que são operadas por bancos centrais. Iniciativas do setor privado estão também em andamento ou estão sendo propostas (por exemplo, a maior rede de cartão internacional, SWIFT). As autoridades podem monitorar esses desenvolvimentos e, na medida em que eles promovam a eficiência do mercado de remessas, encorajá-los.

36 Ibid.

Quadro 10 Ampliando o acesso aos serviços bancários no Brasil

Cerca de um terço dos municípios brasileiros não contam com qualquer agência bancária, mas dispõem de serviços bancários por intermédio de correspondentes bancários. Há cerca de 16,000 correspondentes bancários – quase o mesmo número de agências bancárias. Eles atuam em nome dos bancos e são autorizados, entre outras coisas, a receber depósitos e pagamentos, bem como a fazer pagamentos relacionados com as pertinentes contas. O principal correspondente bancário é a agência postal brasileira, a qual atende a quase todos os municípios em que não existe nenhuma agência bancária. Outros correspondentes bancários incluem casas lotéricas, supermercados, farmácias e outros pequenos varejistas. As atividades dos correspondentes bancários são reguladas pelo Conselho Monetário Nacional, um órgão governamental do qual o Banco Central do Brasil participa. As pertinentes normas estabelecem os tipos de instituições financeiras que podem usar serviços de correspondentes bancários, os tipos de serviços que eles podem oferecer, e os procedimentos de liquidação entre o correspondente bancário e o banco em nome do qual ele opera.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 33

2.8 Os PSRs que oferecem serviços abertos podem se deparar com um banco intermediário que, no processo de transferência de fundos, retenha os fundos por um período a título de float. Float é uma cobrança implícita: seu efeito é no sentido de retardar o serviço de remessas, sendo que o banco intermediário recebe juros sobre os fundos retidos37. Se o PSR desejar aumentar a velocidade de seu serviço e ele não mantiver um relacionamento direto com o banco intermediário com o qual ele opera (porque, por exemplo, o banco intermediário foi escolhido pelo seu banco correspondente), esse PSR talvez possa conversar com seu banco correspondente sobre a possibilidade de utilizar um intermediário alternativo, ou preferir um correspondente alternativo que deseje ser mais seletivo sobre os intermediários que ele utiliza. Nos países em que há amplo uso de float, as autoridades talvez possam considerar a possibilidade de influenciar uma mudança nas práticas de mercado, por exemplo via introdução de um código de conduta ou de regulação e preferencialmente com a cooperação da própria indústria bancária.

2.9 Quando o mercado achar difícil a introdução de mudanças que potencialmente seriam benéficas, as autoridades talvez possam agir como catalisador e facilitador, ajudando a realizar estudos sobre a viabilidade dos projetos e, quando tais projetos parecerem benéficos, podendo também auxiliar os participantes do mercado na implementação deles.

37 A redução do período de float pode, portanto, agilizar as remessas e, na verdade, todos os outros pagamentos aos quais o float se aplica na prática, incluindo pagamentos trans-fronteiras de grande valor. Entretanto, se não houver float, o banco intermediário pode compensar a perda de arrecadação via aumento do preço que ele explicitamente cobra para processar a transferência. Dependendo da estrutura de cobrança de taxas que é adotada (e, particularmente, se a cobrança é feita independentemente do valor), é possível que o resultante aumento no preço do serviço de remessas não seja significativo.

Quadro 11 Interligando câmaras automáticas de compensação de diferentes países

Em anos recentes, os Bancos da Reserva Federal dos Estados Unidos têm desenvolvido várias iniciativas para prestar serviços trans-fronteiras de câmara automática de compensação de baixo custo, interligando o sistema de câmara automática de compensação dos Estados Unidos ao de muitos outros países. Esses serviços estão atualmente limitados a transações relacionadas com transferências a partir dos Estados Unidos. Transferências implicando entrada de recursos atualmente estão proibidas até que o sistema de câmara automática dos Estados Unidos tenha condições de verificar se as entradas cumprem com as exigências relacionadas com lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.

Em 2001, os Bancos da Reserva Federal, em parceria com bancos privados do Canadá, começaram a oferecer serviços trans-fronteiras de câmara automática de compensação para aquele país. O serviço canadense de câmara automática de compensação permite que instituições depositárias dos Estados Unidos possam enviar transações de débito e de crédito a instituições depositárias do Canadá.

Em 2003, os Bancos da Reserva Federal começaram a oferecer serviços de câmara automática de compensação para cinco países da Europa Ocidental (Áustria, Alemanha, Holanda, Suíça, e Reino Unido). Esse serviço está limitado a operações de crédito, com as transações sendo originadas nos Estados Unidos e liberadas na moeda local do país europeu.

Em 2004, os Bancos da Reserva Federal e o Banco do México começaram a oferecer esse tipo de serviço, permitindo remessas dos Estados Unidos para o México sob o nome de "Direto ao México". O serviço utiliza a taxa de câmbio publicada diariamente pela Banco do México ("o fixo"). Os Bancos da Reserva Federal cobram das instituições depositárias americanas menos do que um dólar por pagamento. O Banco do México não cobra tarifa dos bancos mexicanos pelo serviço, mas recebe parte da tarifa cobrada pelos Bancos da Reserva Federal. Embora a vasta maioria esteja constituída de pagamentos do governo americano para pessoas físicas no México, o canal está disponível para uso pelas instituições depositárias que prestam serviços de remessas para o México. Estão sendo desenvolvidos esforços no sentido de expandir o alcance do serviço no México para também incluir contas em cooperativas de crédito.

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Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 3 (ambiente legal e regulatório)

O arcabouço legal deve ser robusto, previsível e não-discriminatório

Em cada país, a maioria dos aspectos legais que dizem respeito às remessas (por exemplo, a capacidade de fazer com que os contratos efetivamente produzam efeitos) tem aplicabilidade geral e, dessa forma, qualquer reforma necessária é um tópico que vai além do escopo deste relatório. Contudo, há algumas ações específicas, adicionais à regulação, que são contempladas a seguir e são particularmente relevantes para as remessas.

3.1 Na medida em que sistemas de pagamentos podem estar envolvidos em algum ponto do processo de transferência de remessas, é importante que a base legal que ampara esses sistemas seja bem alicerçada, como, por exemplo, no que diz respeito à compensação de obrigações e ao momento em que o pagamento se torna final. Da mesma forma, é importante que a base legal relacionada com os instrumentos de pagamentos seja robusta no que diz respeito, por exemplo, às transferências de crédito e aos cartões de pagamento.

3.2 As autoridades podem necessitar de poderes para atingir os objetivos de política pública que elas tenham estabelecido, dependendo da relevância do mercado de remessas e de outros fatores de cada país, sendo então apropriado, em alguns casos, que esses poderes sejam estabelecidos em lei.

Múltiplos arcabouços legais

3.3 Ao nível internacional, as autoridades poderiam avaliar se os arcabouços legais pertinentes são consistentes e completos.

O conteúdo de um arcabouço legal

As autoridades reguladoras poderiam:

3.4 evitar regulamentos que criem barreiras indesejáveis à entrada de novos participantes, bem como obstáculos à competição, como ocorre, por exemplo, quando a prestação de serviços de remessa é desnecessariamente limitada a determinados tipos de instituições (tais como as instituições que contam com uma licença bancária);

3.5 verificar, quando a regulação aplicável aos PSRs varia de acordo com o tipo de entidade (por exemplo, bancos versus não-bancos), se os requisitos regulamentares são equivalentes no que diz respeito à prestação dos serviços de remessa;

3.6 avaliar se é apropriado sujeitar os PSRs a exigências financeiras prudenciais (como por exemplo no caso de exigência de adequação de capital). Embora as conseqüências de uma perda de fundos associada à falha de um PSR sejam as mesmas da perda de um valor equivalente mantido como depósito, os serviços de remessa de per si não envolvem captação de depósitos e, dessa forma, a quebra de um PSR provavelmente não causa risco sistêmico;

3.7 observar procedimentos de registro e de licenciamento que sejam proporcionais ao tipo de serviço prestado, bem como tarifas, se elas existirem, que estejam em níveis razoáveis, já que as tarifas podem ser uma barreira significativa à entrada de novos participantes;

3.8 evitar estabelecer por regulamento o uso de determinadas tecnologias, de vez que elas podem mudar rapidamente. Na extensão em que isso for possível, as novas tecnologias devem permitir uma fácil acomodação, a custos baixos e sem mudanças regulamentares;

3.9 especificar, quando for aplicável, que informações os PSRs devem reter e sob quais circunstâncias elas devem ser encaminhadas às autoridades, tendo em vista que a retenção e o encaminhamento automático dos dados de todas as transações podem ser onerosos e não efetivos;

3.10 investigar meios alternativos de identificação de clientes que sejam tão efetivos quanto os passaportes e os documentos de identidade nacionais. Na prestação de serviços de remessa, a exigência de uso de documento de identidade de difícil obtenção por parte dos migrantes pode restringir a escolha do provedor pelo remetente dos fundos, ou encorajá-lo a utilizar serviços que talvez não sejam seguros, ou até mesmo ilegais;

3.11 manter consultas com a indústria de remessas e com outras partes interessadas, quando estiverem preparando regulamentação pertinente. Isso ajudará a assegurar que as legítimas preocupações deles estarão sendo consideradas, bem como que a regulação é tão efetiva quanto possível, sem a

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imposição de custos desnecessários. Este procedimento, provavelmente, também ajudará a indústria a entender porque a regulação é necessária e, dessa forma, sua implementação será mais efetiva. Em alguns casos, a própria indústria pode desenvolver códigos de conduta ou regimes auto-reguladores, os quais, desde que sejam apropriadamente desenhados e que contem com arranjos de governança e poderes sancionadores também apropriados, podem ser tão efetivos, ou possivelmente mais efetivos (por causa de custos menores relacionados com o seu cumprimento e de maior flexibilidade), do que a regulação formal – ver o Quadro 12 para um exemplo de desenvolvimento de um código de conduta;

3.12 conscientizar os PSRs sobre a importância do cumprimento às disposições regulamentares, bem como dar orientação sobre como isso poderia ser feito;

3.13 considerar a possibilidade de se adotar um período de transição para qualquer novo regime regulatório, durante o qual as empresas que ainda não tivessem sido anteriormente registradas ou licenciadas não estariam sujeitas a penalidades.

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 4 (estrutura de mercado e competição)

4.1 Quando apropriado, é conveniente que as autoridades responsáveis pela vigilância/supervisão do setor financeiro trabalhem em conjunto com as autoridades de defesa da competição, a fim de se assegurar o uso de abordagens consistentes.

Quadro 12 Desenvolvimento de uma "marca de qualidade"

No Reino Unido, o Departamento para o Desenvolvimento Internacional constituiu uma força-tarefa sobre remessas formada por representantes do setor privado, incluindo organizações de transferências de fundos, bancos internacionais, bancos domésticos, operadores de sistemas de pagamentos, e dos consumidores. Um dos possíveis resultados desse grupo-tarefa será um código de conduta ou "marca de qualidade". Para receber uma marca de qualidade, os PSRs deveriam ser transparentes quanto aos seus serviços pelo fornecimento de informações sobre, por exemplo, a tarifa a ser cobrada, a taxa de câmbio utilizada e quanto tempo demora para conclusão da transferência de fundos. Os PSRs também se comprometeriam a atender determinados padrões de qualidade, inclusive no que diz respeito a procedimentos de correção, sendo que a observação a esses padrões seria monitorada por um órgão para isso constituído.Os PSRs que recebessem a marca de qualidade provavelmente a exporiam ao público, havendo a expectativa de que, com o passar do tempo, os consumidores passariam a procurar a marca de qualidade quando desejassem utilizar os serviços de um PSR.

Quadro 13 Serviços de remessa por intermédio de telefones celulares e sua regulação

Nas Filipinas, duas companhias de telecomunicações estão competindo entre si para prestar serviços de remessa que utilizam telefones celulares e moeda eletrônica (valor armazenado). Os dois esquemas são do tipo rede negociada, no qual, para prestar o serviço, as companhias telefônicas recrutaram PSRs nos países remetentes que contam com importantes comunidades de pessoas oriundas daquele país. Para fazer uma remessa, o remetente entrega o dinheiro em espécie a um dos PSRs associados e ele, por sua vez, envia uma mensagem de texto segura para o telefone celular do cliente beneficiário nas Filipinas. O efeito dessa mensagem de texto é o de carregar moeda eletrônica naquele aparelho, a qual poderá ser então transferida, por intermédio de uma outra mensagem, tanto para o telefone de uma outra pessoa quanto para um agente da companhia telefônica. No último caso, o agente desembolsará os fundos para o beneficiário da remessa. A liquidação entre o PSR remetente e a companhia telefônica, e entre a companhia telefônica e os seus agentes nas Filipinas, é feita por intermédio dos canais bancários usuais. Os serviços de transferência eletrônica de dinheiro, dos quais esses serviços de remessa são parte, são regulados pelo banco central, o Bangko Sentral ng Pilipinas, na qualidade de vigilante do sistema de pagamentos. A regulação está focada principalmente em aspectos relacionados à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo, sendo que ela inclui, por exemplo, exigências do tipo "conheça seu cliente" e um limite de valor que pode ser transferido a cada mês.

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4.2 Os PSRs devem ser desencorajados de utilizar condição de exclusividade na oferta de serviços de remessa. No que diz respeito à oferta de um único serviço de remessa por parte dos agentes de captura e de desembolso, geralmente seria difícil, e provavelmente indesejável, restringir tal escolha. Entretanto, particularmente nos países destinatário, algumas vezes pode ser interessante encorajar as instituições com grandes redes e/ou monopólios locais de fato (como, por exemplo, as agências do correio, os grandes varejistas e os bancos) a oferecer múltiplos serviços quando isso for apropriado para eles.

4.3 É importante que a estrutura regulatória relacionada com remessas apóie condições competitivas de mercado. As pertinentes autoridades talvez devam monitorar fusões ou alianças que possam reduzir significativamente o nível de competição em uma parte importante do mercado.

4.4 Pode ser importante melhorar os conhecimentos dos PSRs acerca do mercado de remessas. Por exemplo, a menos que elas tenham conhecimento da escala dos fluxos em determinados corredores e das possibilidades da oferta de produtos de venda-cruzada, as instituições financeiras podem ver os remetentes de remessas como clientes de alo risco e de baixa renda, com pouca probabilidade de utilizar outros serviços, fazendo com que elas não se entusiasmem quanto à oferta de serviços de remessa. A divulgação sobre a escala e a importância dos fluxos, como, por exemplo, por intermédio de jornais especializados em comércio, ou em feiras comerciais, ou ainda sobre outras medidas adotadas para a implementação dos princípios, também pode ser útil, especialmente no caso de corredores de remessas em que atuem poucos PSRs. Esses provedores também podem ser auxiliados em sua comunicação com os principais grupos de migrantes.

4.5 Os operadores de sistemas de pagamentos e os vigilantes desses sistemas talvez queiram verificar se os requisitos para acesso direto, que eles estabeleceram, são consistentes com os princípios internacionais que visam assegurar a robustez e a segurança dos sistemas de pagamentos. Os critérios de acesso devem ser claros, bem definidos e justos, devendo o acesso ser concedido a todas as entidades, incluindo os PSRs, que atendam tais requisitos.

4.6 As autoridades pertinentes poderiam verificar se os PSRs que não têm acesso direto aos principais sistemas de pagamentos podem conseguir acesso indireto de forma justa. As instituições com acesso direto devem ser encorajadas a oferecer, aos PSRs, os pertinentes serviços de pagamentos, incluindo serviços de câmbio, em bases igualitárias com os demais clientes.

4.7 Embora sejam competidos entre si, os PSRs devem, quando isso puder ser feito de uma forma que não prejudique a competição, procurar cooperar no que diz respeito à infra-estrutura básica com vistas a se tirar vantagem de economias de escala e de efeitos de rede, para que, assim, haja redução de custos de processamento.

Possíveis ações relacionadas com o Princípio Geral 5 (governança e administração de riscos)

5.1 A indústria de remessas, talvez em cooperação com as autoridades pertinentes e com grupos de consumidores, poderiam estabelecer orientações gerais relacionadas a boas práticas de governança e administração de riscos, com vistas a aumentar a confiança nos serviços de remessa e a proteger os consumidores. Tais orientações poderiam ser baseadas naquelas já utilizadas no setor financeiro, devendo reconhecer, entretanto, a natureza diversa dos PSRs.

5.2 A indústria poderia também desenvolver maneiras para ajudar os PSRs a avaliar a natureza e o nível de riscos que eles enfrentam, para dessa forma ajudá-los a implementar qualquer orientação pertinente de uma maneira que seja apropriada para seus negócios.

5.3 Tendo em vista a especial importância das normas referentes à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo, as autoridades e as entidades da indústria poderiam cooperar a fim de que seja desenvolvida uma orientação sobre como atender tais normas, de uma maneira que seja efetiva e apropriada a diferentes tipos e tamanhos de PSRs.

5.4 No caso de terceirização de funções para entidades que atuam em nome deles (por exemplo, para os agentes responsáveis pela captura e desembolso), os PSRs devem estar certos de que essas entidades realizam as funções terceirizadas também atendam padrões apropriados de governança e de administração de riscos, bem como que elas cumpram as normas pertinentes.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 37

Anexo 2: Elementos de uma remessa 1. Este anexo detalha os cinco elementos que compõem uma remessa segundo o que foi estabelecido na Seção 2.3 – isto é, a captura, o desembolso, a mensageria, a liquidação e a provisão de liquidez.

Captura

2. O remetente pode pagar ao agente de captura utilizando qualquer meio de pagamento aceitável para ambas as partes. Mais comumente o pagamento é feito em dinheiro em espécie ou, quando o PSR é um banco ou outro tipo de instituição tomadora de depósitos, por intermédio de um débito na conta mantida pelo remetente no PSR. Entretanto, algumas vezes podem ser usados outros métodos tais como uma transferência de uma conta bancária (utilizando-se, por exemplo, um cartão de débito ou cheque), fundos pré-pagos (utilizando-se, por exemplo, moeda eletrônica, outros cartões pré-pagos, ordens monetárias, ou cheques administrativos) ou crédito (utilizando-se, por exemplo, crédito fornecido pelo PSR ou um cartão de crédito). Esta transação é simplesmente um pagamento doméstico padrão, e não existe nada de especial sobre o fato de que o serviço que está sendo comprado é uma remessa.

3. A identificação do remetente nem sempre é tecnicamente necessária no que diz respeito à realização da remessa de per si, mas usualmente será necessária para que o PSR ou seu agente possa cumprir as normas relacionadas com o combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Entretanto, o remetente normalmente precisa fornecer dados ao agente de captura que possibilitem a identificação do beneficiário. No mínimo, isso incluirá o nome do recebedor. No caso de desembolso via depósito em algum tipo de conta (uma conta bancária, por exemplo), então os detalhes dessa conta também precisam ser fornecidos. Para segurança adicional, especialmente no caso em que o desembolso é feito em espécie, o agente de captura pode fornecer ao remetente algum tipo de código da transação, ou o remetente pode ser solicitado a especificar uma questão cuja resposta é conhecida apenas pelo destinatário genuíno. O agente de captura envia essa informação para o agente responsável pelo desembolso, e o remetente passa essa mesma informação para o beneficiário. Este, por sua vez, tem que fornecer o pertinente código ou resposta para o agente de desembolso, para que possa receber os fundos.

4. Em certos arranjos envolvendo cartões, há uma exceção à regra de que o remetente precisa identificar o beneficiário. No âmbito desses arranjos, o remetente abre uma conta em um banco ou instituição depositária no país remetente com vistas a obter um cartão de pagamento (um cartão de débito, por exemplo) que possa ser utilizado internacionalmente. Este cartão é então enviado ao beneficiário, o qual o utilizará para realizar saques em terminais de atendimento automático localizados no país de destino. Embora sob o ponto de vista de sistemas de pagamentos esses arranjos possam ser muito efetivos, eles podem levantar questões do ponto de vista das normas de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo, já que não há nenhum modo seguro de se identificar o recebedor dos fundos, que pode ser qualquer um a quem tenha sido informada a senha de uso do cartão.

5. O local de realização da transação entre o remetente e o agente de captura (o "ponto de acesso") é geralmente um local físico tal como uma loja, uma agência de correio, uma agência bancária, um guichê de câmbio ou um posto especializado em serviços de remessa, mas novas tecnologias tornam possível, cada vez mais, a utilização de "locais virtuais" tais como a internet ou os telefones celulares. A natureza do ponto de acesso afeta as possibilidades de pagamento: para pontos de acesso virtuais, é provável que seja necessário o uso de cartão de pagamento, moeda eletrônica ou crédito, uma vez que instrumentos físicos, tais como dinheiro em espécie e cheques, não podem ser usados nesta situação.

Desembolso

6. Tipicamente, o agente de desembolso efetuará o pagamento ao beneficiário em dinheiro em espécie ou por intermédio de crédito em uma conta bancária, mas, tal como no caso da captura, outros métodos são possíveis. As possibilidades de pontos de acesso são também provavelmente similares. Entretanto, a infra-estrutura relativamente pouco desenvolvida de alguns países destinatários pode levantar questões sobre as possibilidades de desembolso (ver a Seção 3.2).

7. O agente de desembolso precisa saber a quem ele deve pagar e o quanto a ser pago. Ele também pode precisar de outras informações como, por exemplo, qual é a moeda na qual o pagamento deve ser feito ou o modo de pagamento (se é via crédito a uma conta, solicitação direta do beneficiário ou convocação para recebimento). Normalmente o remetente também será identificado. Algumas vezes o remetente poderá juntar alguma informação adicional, tal como o propósito do pagamento, a qual será repassada ao beneficiário.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 38

8. A identificação do beneficiário envolve uma combinação da autorização por parte do agente de captura, que deve ser tratada com a observação de alguns requisitos (alguma forma segura de mensagem que identifique o beneficiário, por exemplo), e o fornecimento de evidências por parte do beneficiário quanto a sua identidade, sendo válido para isso, por exemplo, um documento de identidade adequado e, talvez, o uso de um código de transação. Entretanto, se o beneficiário tiver uma conta no agente de desembolso, como ocorre, por exemplo, quando esse agente é um banco, os procedimentos para evidenciar a identidade provavelmente serão os mesmos para qualquer outro tipo de transação (no caso de saques de uma conta, por exemplo, o beneficiário poderia utilizar um cartão de pagamento e uma senha). No caso de arranjos específicos envolvendo cartão de pagamento, mencionados no parágrafo 4, apenas o remetente é efetivamente identificado e o beneficiário fica anônimo.

Mensageria

9. Algumas vezes, as informações do agente de captura para o agente de desembolso transitarão em conjunto com os fundos, isto é, as informações e os fundos serão conjuntamente repassados entre os diversos intermediários envolvidos no processo (ver abaixo). Esse pode ser tipicamente o caso em um serviço do tipo aberto38, no qual não existe um relacionamento direto entre o PSR responsável pela captura e os seus agentes, por um lado, e entre o PSR responsável pelo desembolso e os seus agentes, por outro (nesse caso, não existe nenhuma maneira para que os dois se comuniquem diretamente). A transmissão das informações em conjunto com os fundos pode ser difícil e demandar mais tempo, se os diferentes tipos de instruções na cadeia de liquidação utilizarem diferentes formatos de mensagem. Nessa situação, existirá a necessidade de transformação de um formato em outro, o que pode implicar uma onerosa intervenção manual.

10. Em outros serviços de remessa, as informações tipicamente serão repassadas de forma independente dos fundos (por exemplo, diretamente do agente de captura para o agente de desembolso, com uma cópia para o PSR), utilizando-se, para isso, uma determinada possibilidade entre várias outras (por exemplo, por intermédio de canais públicos tais como internet, correio eletrônico, telefone e correios, ou por intermédio de canais proprietários tais como intranets e interligações interbancárias).

Liquidação

11. A liquidação pode ser um procedimento complexo. Leitores que não estão familiarizados com sistemas de pagamentos e serviços de correspondência bancária talvez desejem ler o Anexo 3, o qual descreve várias possibilidades. Uma transferência de fundos relacionada a uma remessa provavelmente envolve uma "cadeia de liquidação" – uma seqüência de pagamentos, cada um dos quais podendo ser feito de forma diferente. Os pagamentos de e para os usuários finais já foram descritos. Para cada um dos pagamentos entre os agentes, a liquidação normalmente acontecerá por intermédio de uma transferência de crédito do pagador para o banco do recebedor, com um dos pagamentos sendo feito trans-fronteira (tipicamente por intermédio de banco correspondente).

12. Diferentemente dos pagamentos entre os usuários e os agentes, em que cada remessa usualmente requer um pagamento individual, os pagamentos entre agentes e PSRs podem ser feitos de forma agrupada e possivelmente por valores líquidos (por exemplo, todas as instruções de transferência do agente para o PSR em certo dia são compensadas contra as instruções de transferência do PSR, resultando disso um único pagamento). Freqüentemente, o escopo da liquidação pode ser limitado dada a natureza amplamente unidirecional dos fluxos de remessa. Contudo, em alguns casos, o fluxo pode ser suficientemente equilibrado em cada direção, de forma que, depois da compensação, o montante a ser liquidado é pequeno ou flutua próximo de zero, não havendo necessidade de liquidação.

13. Alguns PSRs podem ter contas bancárias tanto no país remetente quanto no país destinatário, situação na qual a questão de se tratar de pagamento trans-fronteira pode ser "internalizada". Nesse caso, os fundos do agente de captura para o PSR são creditados na conta dele no país remetente, enquanto os fundos do PSR para o agente de desembolso são pagos por intermédio da conta dele no país destinatário, e esses fatos são registrados internamente pelo PSR39. Entretanto, mais uma vez devido à natureza unidirecional dos fluxos de remessas, o PSR algumas vezes tem de transferir fundos do país remetente para injetar recursos em sua conta no país destinatário.

38 Os diferentes tipos de serviços, incluindo os do tipo aberto, são explicados na Seção 2.4. 39 Se o PSR atua também como agente de captura e de desembolso, então o processo é ainda mais internalizado.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 39

Liquidez

14. Embora o processo de liquidação seja uma "cadeia", as transações dentro dela não têm que acontecer em seqüência. Por exemplo, o agente de desembolso pode fazer o pagamento ao beneficiário antes de ter recebido os fundos do PSR responsável pelo desembolso. Isso é particularmente provável nos serviços, como é especialmente o caso dos serviços franqueados, em que o beneficiário tem a possibilidade de escolher o local onde ele quer retirar os fundos, situação na qual, portanto, o PSR só fica sabendo quem é o agente responsável pelo desembolso depois que os fundos foram retirados pelo beneficiário. Por sua vez, o PSR responsável pelo desembolso pode efetuar o pagamento ao agente responsável pelo desembolso antes que ele tenha recebido os fundos do PSR responsável pela captura.

15. Na extensão em que as transações na cadeia não acontecem em seqüência, algum risco de crédito é criado (alguém paga antes de receber os fundos correspondentes). Também há necessidade de liquidez. Por exemplo, se o agente de desembolso efetua o pagamento ao beneficiário antes de receber os fundos do PSR, esse agente precisa ter fundos suficientes ou crédito a sua disposição. A provisão de liquidez tem um custo – nominalmente, o custo de tomar fundos emprestados, ou o custo de oportunidade relacionado com o não investimento de fundos que estariam disponíveis. Portanto, quanto maior for a velocidade atingida em decorrência da provisão de liquidez maior será, provavelmente, o preço total do serviço.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 40

Anexo 3: Exemplos de liquidação em serviços de remessa 1. Este anexo utiliza exemplos estilizados de transferências de remessa da Itália para as Filipinas, para ilustrar como os serviços de remessa liquidam as transações. O exemplo inicial foi desenhado para mostrar que mesmo um serviço de remessas que aparenta ser simples para os usuários finais pode envolver arranjos de liquidação complexos. São também consideradas outras três variações do exemplo com procedimentos de liquidação menos complexos.

Descrição do estágio inicial

2. A Figura 1 ilustra um remetente (R) na Itália transferindo euros (digamos, 200 euros) para um beneficiário (B) nas Filipinas, que serão desembolsados em pesos. É assumido que o agente de captura e o PSR da captura, localizados na Itália, são diferentes entidades, bem como que eles, assim como o remetente, têm contas em euro em diferentes bancos. Da mesma forma, o PSR de desembolso e o agente de desembolso, localizados nas Filipinas, são entidades diferentes, bem como que eles, assim como o beneficiário, têm contas em pesos em diferentes bancos40

3. É também assumido que o PSR de captura e o PRS de desembolso são partes de uma rede negociada, nas qual a informação sobre a remessa é encaminhada separadamente dos fundos (por exemplo, por intermédio de um correio eletrônico criptografado), como é mostrado pela linha constituída por traços, e que ela passa de um lado para outro da cadeia mais ou menos no mesmo momento em que os fundos41. Figura 1

40 Em todo este exemplo, o termo "banco" é utilizado como uma forma abreviada para se referir a qualquer instituição depositária. 41 Os diferentes tipos de redes, incluindo as redes negociadas, são descritas na Seção 2.4.

Legenda

Remetente(R) e Beneficiário (B)

PSR (bancos e não-bancos) e seus agentes

Bancos intermediários

Sistemas de pagamentos

Fundos

Informações

E (a) E (b) P (b) P (a)

Bco E2 Bco E3 Bco P3 Bco P4 Bco E1 Bco E4 Bco P1 Bco P2

AgteE PSR E PSR P Agte P R B

Itália (euros) Filipinas (pesos)

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 41

Passo 1: Remetente para o agente de captura

4. No primeiro passo, o remetente R usa um cartão de débito para pagar euros ao agente de captura (Agente E). O correspondente valor em pesos dependerá da taxa de câmbio utilizada pelo agente42. A transação com o cartão de débito feita por R resulta em débito em sua conta em euros no Banco E1, bem como em crédito na conta em euros do Agente E no Banco E2, e, em algum momento que depende de como o sistema de pagamentos E(a) funciona, o Banco E1 faz a liquidação com o Banco E2 sobre contas que eles mantêm no banco central. Esse passo constitui um pagamento doméstico normal. Passo 2: Agente de captura para o PSR de captura

5. No segundo passo, o Agente E transfere os fundos para o PSR de captura (PSR E). É assumido que o agente faz isso apenas uma vez por dia, ocasião em que ele transfere todos os valores em euros que recebeu em nome do PSR E naquele dia (e não apenas os euros pagos por R). O agente faz uma transferência de crédito por intermédio do sistema de pagamento E(b), que resulta em débito em sua conta no Banco E2, e crédito na conta do PSR E no Banco 3. De novo, em algum momento que depende de como o sistema E(b) funciona, O Banco E2 e o Banco E3 liquidam sobre as contas que eles mantêm no banco central. Este é também um pagamento doméstico normal. Passo 3: PSR de captura para o PSR de desembolso

6. No terceiro passo, o PSR E transfere fundos para o PSR nas Filipinas (PSR P). Mais uma vez, assume-se que isso é feito apenas uma vez a cada dia, compreendendo todas as transferências da Itália para as Filipinas que ele processa naquele dia, o que pode incluir fundos provenientes de outros agentes de captura adicionalmente ao Agente E (também é possível que o PSR tem relacionamento com mais de um PSR de desembolso nas Filipinas, mas aqui é assumido que existe apenas um). Esse passo, que envolve vários sub-passos, utiliza correspondência bancária internacional. Sub-passo 3a: entre bancos na Itália

7. Para transferir fundos para o PSR P, o PSR E solicita ao seu banco, Banco E3, que ele faça uma transferência internacional em pesos para a conta do PSR P no Banco P2. Assume-se que, talvez por não ter muitos negócios no âmbito internacional, o Banco E3 não presta diretamente serviços de pagamentos internacionais e, para isso, utiliza um banco global, Banco E4, no qual o Banco E3 mantém uma conta em euros para esse propósito. O Banco E3 dá informações ao Banco E4 sobre a transferência, o qual, por sua vez, informa ao Banco E3 o valor em euros da transferência, o qual depende da taxa de câmbio que é utilizada pelo Banco E4 (ela não é necessariamente a mesma taxa de câmbio utilizada pelo PSR E e pelo seu Agente E para fazer a cobrança de R).

8. Para efetuar o pagamento, o Banco E4 debita a conta do Banco E3. Está sendo assumido que o Banco E3 tem fundos suficientes no Banco E4, ou que esse lhe concede crédito. Se não for assim, o Banco E3 terá que previamente transferir euros para sua conta. O Banco E3 pode ter vários negócios relacionados com essa conta, implicando entradas e saídas de recursos. O Banco E, portanto, monitora a conta e transfere euros para a conta ou saca euros da conta, conforme o saldo da conta se torne muito pequeno ou muito grande. Qualquer montante transferido naquele dia pode, portanto, não ter qualquer relação com o negócio do PSR E. Sub-passo 3b: transferência trans-fronteira entre bancos

9. É assumido que, para fazer e receber pagamentos para as/das Filipinas, o Banco E4 mantém uma conta em pesos com o Banco P1 (o chamado relacionamento internacional de banco correspondente). O Banco E4, portanto, dá uma instrução ao Banco P1 para fazer um crédito em pesos na conta do PSR P no Banco P2. Mais uma vez, o Banco E4 deter ter saldo suficiente em sua conta no Banco P1 ou contar com suficiente crédito para isso. De tempos em tempos, o Banco E4 pode precisar recorrer ao mercado de câmbio para comprar ou vender pesos, de modo a manter o saldo de sua conta em níveis razoáveis. Sub-passo 3c: entre os bancos nas Filipinas

10. O Banco P1 transfere então o dinheiro para o Banco P2, por intermédio de uma transferência de crédito, via sistema de pagamentos das Filipinas P(a), sendo que o Banco P2, por sua vez, credita os fundos

42 Para maior simplicidade nas discussões sobre os valores, as tarifas cobradas pelas partes envolvidas no processo são ignoradas.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 42

na conta que o PSR P mantém com ele. Dependendo de como o sistema P(a) opera, o Banco P1 faz a liquidação interbancária com o Banco P2 sobre contas que eles mantêm no banco central. Esse é um pagamento doméstico normal. Passo 4: do PSR de desembolso para o agente de desembolso

11. No quarto passo, o PSR P efetua o pagamento para o agente de desembolso nas Filipinas (Agente P). O PSR P pode trabalhar com diversos agentes, de modo que, dos pesos recebidos do PSR E naquele dia, apenas uma parte será destinada ao Agente P (do mesmo modo, o PSR P pode ter recebido fundos não apenas do PSR E, mas também de outros PSRs de captura ao redor do mundo, os quais são destinados ao Agente P). O PSR P solicita, então, ao seu banco, Banco P2, que ele faça a transferência do pertinente montante em pesos para a conta do Agente P no Banco P3. Esse é um pagamento doméstico normal, o qual é feito por intermédio do sistema de pagamentos P(b). Passo 5: agente de desembolso para o beneficiário

12. Finalmente, no quinto passo o Agente P entrega o dinheiro, em espécie, ao beneficiário B43. O Agente P, por intermédio de informações que lhe foram passadas pelo agente de captura, sabe quantos pesos ele tem que entregar ao beneficiário B. Análise do exemplo

13. O exemplo ilustra muitos dos pontos sobre como as remessas são feitas:

• pagamentos múltiplos: a transferência consistiu de um conjunto de pagamentos individuais – neste caso, de cinco pagamentos (de R para o Agente E, do Agente E para o PSR E, do PSR E para o PSR P, do PSR P para o Agente P, e do Agente P para B), cada um dos quais foi feito de uma forma diferente (por exemplo, utilizando um sistema de pagamentos diferente). Além disso, um dos pagamentos (do PSR E para o PSR P) envolve, ele próprio, três transações (do Banco E3 para o Banco E4, do Banco E4 para o Banco P1, e do Banco P1 para o Banco P2);

• velocidade: o processo como um todo pode demorar um tempo significativo. Isso depende em parte de certos horários fixos (por exemplo, da velocidade dos sistemas de pagamentos envolvidos) e da velocidade de cada uma das partes da transação (por exemplo, de quão rapidamente o Banco E4 passa as informações para o Banco P1, depois de recebê-las do Banco E3);

• liquidez: o processo foi descrito como se os passos ocorressem em seqüência, mas isso não é necessariamente assim. Os passos podem estar fora de ordem, desde que o pagador pertinente tenha a necessária informação, os necessários fundos (liquidez) e a vontade para agir assim (já que, se o pagamento for feito antes que ele receba os recursos, ele enfrenta o risco de perder o dinheiro). Por exemplo, alguns PSRs oferecem serviços quase imediatos, isto é, o beneficiário pode receber os fundos depois de poucos minutos após o início da remessa pelo remetente. Isso poderia ser possível neste exemplo (quando, como parte de uma rede negociada, as informações são imediatamente passadas do Agente E para o Agente P), desde que o Agente P se disponha a desembolsar os fundos para o beneficiário antes de tê-los recebidos do PSR P. Na prática, se ele desejar oferecer um serviço mais veloz, o PSR P pode fornecer liquidez ao Agente P. Ou então o Agente P teria de solicitar posteriormente os fundos que desembolsou naquele dia, mas ser compensado por isso via recebimento de uma tarifa maior, a ser paga pelo PSR P. O PSR P pode então utilizar sua liquidez própria para cobrir o período que decorre até que ele realmente receba fundos do PSR E (cujo custo estaria sendo cobrado via tarifas aplicadas a R e/ou S), ou o PSR E pode ser solicitado a manter saldo na conta na qual o PSR P pode realizar saques;

• processamento por lotes e compensação: porque se trata de transferências de pequeno valor, os pertinentes fundos provavelmente não são transferidos individualmente ou em tempo real ao longo do processo. Ao invés disso, os fundos relacionados a um conjunto de remessas serão provavelmente processados em lotes e transferidos em um único momento – neste exemplo, foi assumido que isso acontece uma vez a cada dia. O processamento em lotes é possível porque, como observado acima, assume-se que as informações relacionadas com as transferências individuais são transferidas à parte e assim elas não têm que acompanhar os fundos. Algumas

43 Alternativamente, se ele sabe que B tem uma conta no Banco P4, o Agente P poderia transferir o dinheiro para essa conta.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 43

vezes, os pagamentos também podem ser compensados (por exemplo, se existe um fluxo das Filipinas para a Itália) de modo que apenas um valor líquido menor precisa ser então transferido;

• taxas de câmbio: porque R paga em euros enquanto B recebe em pesos, o PSR E, por intermédio de seu agente, Agente E, precisa utilizar uma taxa de câmbio para decidir quantos pesos B irá receber. Para fazer isso, pode ser que seja útil que o PSR E saiba que taxa de câmbio o seu banco, Banco E3, utilizará, enquanto, por outro lado, pode ser útil que o Banco E3 tenha conhecimento da taxa de câmbio que será utilizada pelo Banco 4. Conforme mencionado, o Banco E4 não tem que necessariamente comprar pesos no exemplo (ele já pode ter fundos suficientes em sua conta no Banco P1). Contudo, tipicamente ele cobrará ao Banco E3 uma taxa próxima à taxa atual do mercado, e as taxas cobradas pelo Banco E3 e pelo PSR E estarão relacionadas a essa taxa. Entretanto, porque pode haver um lapso de tempo significativo entre o momento em que R inicia a remessa no Agente E e o momento em que o Banco E4 faz a conversão para pesos, talvez nem todas as taxas de câmbio possam ser conhecidas com antecedência e, assim, ao calcular as taxas que serão realmente cobradas, provavelmente será considerada uma margem para cobrir alterações desfavoráveis nas taxas de câmbio nesse lapso de tempo44

Variações do exemplo

14. O exemplo acima ilustra os passos que podem estar envolvidos na realização de uma remessa. Esses passos poderão ser diferentes em alguma extensão dependendo do tipo de rede que é utilizada pelo serviço, isto é, rede negociada, unilateral, fraqueada ou aberta. Freqüentemente, o processo também pode ser mais simples, ou pelo menos parecer ser mais simples, do que o que foi descrito. Entretanto, ao considerar as variações abaixo, deve ser notado que a "simplificação" freqüentemente significa que, ao invés de envolver instituições diferentes, os passos são simplesmente "internalizados" e os passos internos podem ser mais rápidos e/ou menos onerosos que os passos que envolvem entidades externas, mas isso nem sempre é assim. Utilizando uma rede negociada

15. Uma possível simplificação na rede negociada descrita anteriormente é aquela em que os PSRs e seus agentes utilizam o mesmo banco. Dessa forma, o Agente E e o PSR E poderiam os dois utilizar o Banco E3, de modo que a transferência entre eles aconteceria no âmbito do Banco E3. Da mesma forma, o PSR P e o Agente P poderiam utilizar o mesmo Banco P2. Além disso, a escolha de bancos pode ser determinada pelos serviços trans-fronteiras que eles podem oferecer. Assim, o Banco E3 e o Banco P2 podem ter sido escolhidos porque o Banco E3 tem um relacionamento direto de correspondência bancária com o Banco P2, eliminando a possibilidade de envolvimento do Banco E4 e do Banco P1. Isso é mostrado na figura 2. Figura 2

16. Uma simplificação adicional poderia ocorrer se os bancos fossem eles próprios os PSRs. Nesse caso, o Banco E3 seria o PSR na Itália, e o Banco P2 o PSR nas Filipinas. Isso é mostrado na Figura 3. Isso também assume que R agora tem uma conta com o Banco E3. Para que R possa utilizar o serviço, esse 44 As taxas de câmbio utilizadas pelas diferentes partes da transação podem também ser consideradas em uma margem adicional para cobrir outros custos da transação (isto é, custos não relacionados a taxas de câmbio) como uma alternativa à, ou adicionalmente à, cobrança de uma tarifa explícita.

Itália (euros) Filipinas (pesos)

E (a)

Bco E1 Bco E3 Bco P2

R AgteE PSR E PSR P Agte P B

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 44

normalmente será o caso uma vez que os bancos tipicamente disponibilizam serviços de pagamento apenas a seus próprios correntistas. Correspondentemente, assume-se que B mantém uma conta com o Banco P2. Figura 3 Utilizando uma rede unilateral ou franqueada

17. Uma outra variação é aquela da rede franqueada (e dessa forma PSR E e PSR P são a mesma entidade) ou a da rede unilateral (e dessa forma Agente E, PSR E, PSR P e Agente P são todos a mesma entidade). A Figura 4 mostra uma rede unilateral na qual o PSR é um não-banco45. Neste caso, o PSR tem suas próprias agências tanto na Itália quanto nas Filipinas e dessa forma ele não precisa utilizar agentes separados. Além disso, para simplificação adicional, é assumido que R entrega dinheiro em espécie ao PSR. Entretanto, como o PSR é um não-banco, ele precisa manter uma conta em euros com o Banco E3 na Itália, e uma conta em pesos com o Banco P2 nas Filipinas. Como na Figura 2, é assumido que o Banco E3 tem um relacionamento direto de correspondência bancária com o Banco P2.

Figura 4 18. Com esses pressupostos, R paga ao PSR em espécie, sendo o dinheiro então depositado (juntamente com outros fundos recebidos no dia) em sua conta no Banco E3. Imediatamente após, o PSR pode fazer o pagamento a B em espécie, utilizando pesos que já se encontram em sua conta no Banco P2. Se o negócio conduzido pelo PSR é predominantemente unidirecional (isto é, da Itália para as Filipinas), então o PRS , ao longo do tempo, acumulará euros no Banco E3 e finalmente ficará sem pesos (ou sem crédito) no Banco P2, de modo que em algum momento ele terá que solicitar ao Banco E3 que ele transfira algum montante em pesos para sua conta no Banco P2 (para isso, o Banco E3 debitará a conta do PSR em euros e dará uma instrução de crédito ao Banco P2). Tal como no exemplo inicial, se as taxas de câmbio se modificarem, a taxa que é cobrada pelo Banco E3 ao PSR pode ser significativamente diferente daquela que foi cobrada pelo PSR a R em algum momento anterior.

45 Se o PSR fosse um banco, a situação seria ainda mais simplificada no sentido de que, na Figura 4, o Banco E3 e o Banco P2 não seriam necessários.

Itália (euros) Filipinas (pesos)

BcoE3 BcoP2

R B

Itália (euros) Filipinas (pesos)

BcoE3 BcoP2

R B PSR

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 45

Utilizando uma rede aberta

19. Uma terceira variação do exemplo envolve uma rede aberta. Essa variação, que é mostrada na Figura 5, é similar à situação mostrada na Figura 1, exceto quanto ao fato de que, agora, é assumido que o serviço de remessa é oferecido por um banco, como tipicamente acontece no caso de redes abertas. Assim, assume-se que o PSR na Itália é o Banco E1. Além disso, assume-se que o Banco E1 utiliza o Banco E4 para fazer pagamentos trans-fronteiras em nome dele. Adicionalmente, não é considerada a existência de um PSR nas Filipinas. Ao invés disso, R solicita que o dinheiro seja transferido para a conta que B mantém no Banco P4 (nesse caso, o Banco P4 está atuando como um PSR nas Filipinas). As informações sobre a transferência são encaminhadas apenas em conjunto com os fundos.

Figura 5 20. Além de eliminar o envolvimento de muitas entidades, a diferença significativa aqui é que o PSR na Itália (Banco E1) não tem acordo ou relacionamento direto com a entidade que, de fato, atua como PSR nas Filipinas (Banco P4). O beneficiário B pode ter uma conta com qualquer banco nas Filipinas (ou, na verdade, em qualquer outro país) e o arranjo ainda se aplicará. Tudo o que o Banco E1 precisa conhecer é uma forma internacionalmente reconhecida que ele possa utilizar para identificar o banco e a conta que B mantém nele (tais como o BIC e o IBAN). Ele então utiliza um relacionamento indireto com o Banco P4, por intermédio do Banco E4 e do Banco P1, e confia na capacidade do Banco P1 de remeter fundos para outros bancos nas Filipinas (incluindo o Banco P4), utilizando-se, para isso, um sistema de pagamentos naquele país.

21. Em particular, o Banco E1 não tem nenhum arranjo para enviar informações diretamente ao Banco P4, o qual, portanto, não tem nenhuma informação sobre a remessa até que ele receba os fundos que lhe são encaminhados pelo Banco P1. R, portanto, não receberá o pagamento antes que seja transcorrido um certo tempo (vários dias, normalmente) após o momento em que os fundos foram remetidos por R46. Um serviço "rápido", considerado nas variações anteriores do exemplo, não é, portanto, factível.

22. Contra a desvantagem de uma velocidade menor, o arranjo de rede aberta tem como vantagem significativa sua cobertura global: é possível fazer um pagamento entre bancos quase que em qualquer lugar do mundo. Isso é particularmente importante no que diz respeito à competição em corredores de remessas nos quais o volume de transações pode ser muito pequeno para justificar a viabilidade de redes negociadas.

46 Mesmo na ausência de um arranjo padrão, o PSR E poderia em teoria enviar uma mensagem específica para o Banco P4 utilizando para isso, por exemplo, telefone ou um correio-eletrônico (no pressuposto de que conhece o número ou o endereço). Entretanto, além do custo de processamento de uma mensagem específica, o Banco P4 teria problemas para estabelecer a autenticidade da mensagem.

P (a)

Itália (euros) Filipinas (pesos)

BcoE1 Bco E4 Bco P1 Bco P4

R B

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 46

Anexo 4: Interligações diretas entre sistemas de pagamentos 1. O método normal para realizar um pagamento trans-fronteira, que utiliza correspondência bancária, é mostrado na Figura 6. Ele se baseia em partes das Figuras 5 e 6 do anexo anterior. São mostrados apenas os fluxos de liquidação (não os de informação). Figura 6 2. Em contraste com o método anterior, a situação em que existe uma ligação direta entre os dois sistemas de pagamentos é mostrada na Figura 7.

Figura 7 3. Uma alternativa ao método mostrado na Figura 7 consiste em não haver uma ligação entre os sistemas de pagamentos, mas sim entre os bancos centrais. Talvez isso seja particularmente provável quando os sistemas são operados pelos bancos centrais como é o caso, por exemplo, da ligação das câmaras de compensação automática Estados Unidos-México, que é descrito no Quadro 11 do Anexo 1.

País A (moeda A)

País B (moeda B)

Banco central Banco central

Banco A

Sistema nacional de pagamentos

Cliente

Sistema nacional de pagamentos

Cliente

Banco B1 Banco B2

País A (moeda A)

País B (moeda B)

Banco central Banco central

Banco A

Sistema nacional de pagamentos

Cliente

Sistema nacional de pagamentos

Cliente

Banco B1 Banco B2

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Anexo 5: Extrato do documento da cúpula do G8 Plano de ação do G8: aplicando o poder do empreendedorismo para a erradicação da pobreza (Mar da Islândia, 9 de junho de 2004) "...

Os países do G8 concordam sobre o seguinte conjunto de ações para encorajar e apoiar as políticas e os programas nacionais que promovam efetivo desenvolvimento liderado pelo setor privado com vistas a aliviar a pobreza, contribuindo desse modo para que se atinja as metas de desenvolvimento internacional da Declaração do Milênio. Os países do G8 trabalharão para assegurar que assistência bilateral e multilateral ajude a mobilizar capital e conhecimento para acelerar o crescimento e liberar recursos para uso produtivo pelo povo dos países em desenvolvimento. Esses programas inovativos têm a intenção de apoiar os esforços que os próprios países em desenvolvimento estão fazendo. Essa abordagem complementa a assistência oficial ao desenvolvimento, a qual permanece crucial para a redução da pobreza.

...

Facilitando as remessas que se destinam a ajudar famílias e pequenos negócios

O fluxo de remessas entre fronteiras internacionais, que em sua maioria têm valor individual de poucas centenas de dólares, está crescendo rapidamente e já totaliza aproximadamente $ 100 bilhões por ano. Esse dinheiro é o fruto do trabalho de imigrantes e desempenha um papel de crescente importância no financiamento do desenvolvimento em seus países de origem. As remessas podem desempenhar, portanto, um papel chave nos esforços de desenvolvimento do setor privado, possibilitando que as famílias recebam o capital necessário para, por exemplo, educação, moradia e início/expansão de pequenos negócios. Mas os custos dessas transações podem ser altos – tanto quanto 10 a 15% mesmo no caso de fluxos intensos para mercados urbanos.

Atrair os fluxos de remessas para os canais formais pode fortalecer os sistemas financeiros nos países em desenvolvimento, bem como reduzir o risco de que essas remessas venham a ser desviadas para propósitos ilícitos. Os países do G8 trabalharão com o Banco Mundial, FMI e outras instituições para melhorar os dados sobre os fluxos de remessas e para desenvolver padrões de coleta de dados tanto nos países remetentes quanto nos países destinatários. Os países do G8 também liderarão um esforço internacional para reduzir o custo de realização das remessas. O impacto desenvolvimentista desses fluxos pode ser favorecido pelo aumento das opções financeiras daqueles que são os beneficiários das remessas.

Para cumprir com esse propósito, nós adotaremos ações relacionadas às remessas, inclusive por intermédio de parceiras e programas pilotos, em conjunto com os países em desenvolvimento. Os programas do G8 .... :

1. criarão facilidades para que as pessoas dos países remetentes e beneficiários se engajem em instituições financeiras por intermédio de sistemas financeiros formais, inclusive fornecendo acesso a programas de educação financeira, quando apropriado, e trabalhando com o setor privado para estender o alcance e o leque desses serviços;

2. reduzirão o custo dos serviços de remessa por intermédio da promoção da competição, do uso de instrumentos de pagamento inovativos, e da melhora do acesso a sistemas financeiros formais nos países remetentes e beneficiários. Em alguns casos, os custos das remessas entre os países remetentes e os países beneficiários têm de ser reduzidos em 50% ou mais. Os países do G8 acreditam que reduções similares de custos poderiam ser realizadas no caso de outros países;

3. promoverão uma melhor coerência e coordenação das organizações internacionais que já estão trabalhando para melhorar os serviços de remessa e para elevar o impacto desenvolvimentista das remessas nos países em desenvolvimento;

4. encorajarão a cooperação entre os provedores de serviços de remessa e as instituições financeiras locais, inclusive as entidades de micro-finanças e as cooperativas de crédito, com ações que fortaleçam os mercados financeiros locais e melhorem o acesso das pessoas recebedoras de remessas aos serviços financeiros;

5. encorajarão a criação, quando apropriado, de cooperativas de crédito e de fundos de desenvolvimento orientados para o mercado, que dêem às famílias beneficiárias de remessas mais opções e incentivos para investir de maneira produtiva os recursos recebidos;

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 48

6. apoiarão o diálogo com os governos, a sociedade civil, e o setor privado com vistas ao tratamento dos impedimentos regulatórios e de infra-estrutura. Por exemplo, os governos devem assegurar o acesso não-discriminatório aos sistemas de pagamentos por parte de entidades do setor privado, consistentes com fortes padrões de supervisão, e trabalharão em conjunto para modernizar a infra-estrutura financeira geral."

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 49

Anexo 6: Bibliografia selecionada Esta bibliografia relaciona, por organização, algumas publicações que são particularmente importantes para os aspectos das remessas que estão relacionados a sistemas de pagamentos.

Committee on Payment and Settlement Systems. (1) Core principles for systemically impotant payment systems, BIS, January 2001. (2) A glossary of terms used in payments and settlement systems, BIS, March 2003. (3) Policy issues for central banks in retais paymens, BIS, March 2003. (4) The role of central bank money in payment sytems, BIS, August 2003. (5) General guidance for national payment system developments, BIS, January 2006.

Credit Union National Association. Voluntary principles for credit unions making wire transfers using the International Remittance Network (IRnet) system; issued in 2003 by the board of the Credit Union National Association, a trade association for credit unions in the United States.

Financial Action Task Force on Money Laundering. The forty recommendations, revised 22 October 2004. Special recommendations on terrorist financing, revised 22 October 2004.

Inter-American Development Bank – Multilateral Investiment Fund. (1) Recommendations issued by a group of representatives from the remittance industry, banks and NGOs convened by the IDB's Multilateral Investment Fund in Lima in 2004. (2) Beyond small change: making migrant remittances count, 2005.

United Nations Technical Group on Innovative Financial Mechanisms. A working document on remittances sent to the United Nations Secretary General in March 2005 from the ambassadors to the United Nations from Brazil, Chile, France, Germany and Spain following a meeting of the Technical Group on Innovative Financial Mechanisms.

World Bank. (1) Global economic prospects 2006: economic implications of remittances and migration, 2005. (2) Remmitances: development impact and future prospects, 2005. (3) Worker's remittances to developing countries: a survey with central banks on selected policy issues, Jose de Luna Martinez, Policy Research Working Paper 3638, June 2005. (4) Remmitance service providers in the United States: how remittance firms operate and how they perceive their business environment, Olé Andreassen, Financial Sector Discussion Series, June 2006.

CPSS/Banco Mundial – Princípios gerais para remessas – Janeiro de 2007 50

Anexo 7: Glossário É apresentado abaixo um pequeno glossário de termos-chave relacionados a remessas, que são usados neste relatório. Para termos mais gerais relacionados a sistemas de pagamentos, ver o Glossário de termos usados em sistemas de pagamento e de liquidação (BIS, março de 2003) em http://www.bis.org/pub/cpss00b.htm.

Agente (agente de captura ou de desembolso): qualquer entidade que capture ou distribua transferências relacionadas a remessas em nome de um provedor de serviços de remessa. "Capturar" significa receber do remetente o dinheiro e as informações relacionadas. "Desembolsar" significa entregar o dinheiro ao destinatário.

Condição de exclusividade: ocorre uma condição de exclusividade quando um PSR permite que seus agentes ou outros PSRs ofereçam os serviços de remessa dele apenas sob a condição de não oferecem qualquer outro serviço de remessa.

Operador de transferência em dinheiro: provedor de serviços de pagamento que não é uma instituição depositária e cujo serviço envolve pagamento por transferência (ou possivelmente pagamento para um conjunto ou série de transferências) pelo remetente para o provedor de serviços de pagamento (por exemplo, em dinheiro ou por transferência bancária) – isto é, em uma situação oposta àquela na qual o provedor de serviços de pagamento debita uma conta mantida pelo remetente no provedor de serviços de pagamento.

Ponto de acesso: locais onde os usuários finais enviam ou recebem transferências relacionadas a remessas. Os locais podem ser físicos (agências de banco, agências de correio e lojas, por exemplo) ou virtuais (telefone e endereços na internet, por exemplo).

Preço: o custo total para os usuários finais de remessas de transferências de fundos (incluindo as tarifas cobradas ao remetente e ao beneficiário, bem como a margem pela qual a taxa de câmbio é cobrada aos usuários finais está acima da atual taxa de câmbio interbancária).

Provedor de serviços de pagamento: entidade que fornece serviços de pagamento (remessas e/ou outros pagamentos). Isso inclui tanto entidades que tomam depósitos, o que possibilita que as transferências de fundos sejam feitas a partir desses depósitos (isto é, a maioria dos bancos e muito outras instituições tomadoras de depósitos e que não são bancos), quanto entidades que transferem fundos mas não tomam depósitos (operadores de transferências em dinheiro).

Provedor de serviços de remessa (PSR): entidade que, na condução de um negócio, presta serviços de remessa aos usuários finais em contrapartida a um pagamento, tanto diretamente ou por intermédio de agentes.

Serviços de remessa: serviço que capacita os usuários finais a enviar e/ou receber transferências relacionadas a remessas.

Transferência de remessa internacional: pagamento trans-fronteira de valor relativamente pequeno que é feito de pessoa para pessoa. Na prática, as transferências são pagamentos recorrentes feitos por trabalhadores migrantes (que enviam mensalmente dinheiro para suas famílias nos países de origem, por exemplo). Neste relatório, o termo "transferência relacionada a remessa" é usado por questões de simplicidade (é assumido que a transferência é internacional).

Usuário final: é o remetente ou o beneficiário da remessa.

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Anexo 8: membros da força-tarefa Co-Presidentes Massimo Cirasino Banco Mundial

Marc Hollanders Banco de Liquidações Internacionais Membros

Fundo Monetário Árabe Yisr Burnieh

Banco de Desenvolvimento da Ásia Austin Belton

Banco Central do Brasil Marcelo Deschamps d'Alvarenga

José Antonio Marciano

Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento Piroska M Nagy

Banco Central Europeu Tom Kokkola

Banco Federal da Alemanha Birgit Zeistchel

Autoridade Monetária de Hong Kong Osbert Lam

Banco de Desenvolvimento Inter-Americano Gregory Watson

Fundo Monetário Internacional Maud Bokkerink

Chee Sung Lee

Banco da Itália Veronica Fucile

Banco do México Ricardo Medina

Banco Central das Filipinas Evelyna C Ávila

Banco Central do Sri Lanka H A G Hettiarachchi

D Wasantha

Banco Central da República da Turquia Elvan Göçmen Ertem

Junta dos Governadores do Sistema da Reserva Federal Jack Walton

Jeffrey Yeganeh

Banco da Reserva Federal de Nova Yorque Sandy Krieger

Banco Mundial Mario Guadamillas

Secretaria

Banco de Liquidações Internacionais Isabel Cerqueiro

Robert Lindley

Departamento do Reino Unido para o Desenvolvimento Interna-

cional Seymour Fortescue

Banco Mundial Ole Adreassem José Antonio García