comentário sobre o filem seven (7 pecados capitais)

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20 anos de “Seven - Os Sete Crimes Capitais”: veja como seu final chocante foi possível Yahoo Cinema International Setembro 17, 2015 2 notas yahoo-cinema-br-international : Vinte anos após seu lançamento, o drama sinistro e niilista de David Fincher ainda é considerado um clássico moderno. O filme fascinou a audiência, tornando-se uma feliz surpresa como a sétima maior bilheteria do mundo no ano de 1995. Parte do seu sucesso certamente foi graças ao seu chocante e intransigente final, que nos deixa de boca aberta até hoje. Para comemorar o aniversário de Seven este mês, estamos decididos a reconstituir a cena do crime, dando uma olhada por trás das cenas. Juntando novas entrevistas com o material previamente lançado, aprendemos como a cena da “cabeça na caixa” foi feita — e como foi quase um milagre ter dado certo.(Aviso: a seguir, spoilers de 20 anos atrás). Brad Pitt, Morgan Freeman, e Kevin Spacey em ‘Seven’

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Este artigo, lançado no site Yahoo, lembra os 20 anos de um dos melhores filmes da década de 90, e um dos melhores de todos os tempos.

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Page 1: Comentário Sobre o Filem Seven (7 Pecados Capitais)

20 anos de “Seven - Os Sete Crimes Capitais”: veja como seu final chocante foi possível

Yahoo Cinema InternationalSetembro 17, 2015

2 notas

yahoo-cinema-br-international:

Vinte anos após seu lançamento, o drama sinistro e niilista de David Fincher

ainda é considerado um clássico moderno. O filme fascinou a audiência,

tornando-se uma feliz surpresa como a sétima maior bilheteria do mundo no

ano de 1995. Parte do seu sucesso certamente foi graças ao seu chocante e

intransigente final, que nos deixa de boca aberta até hoje. Para comemorar o

aniversário de Seven este mês, estamos decididos a reconstituir a cena do

crime, dando uma olhada por trás das cenas. Juntando novas entrevistas com

o material previamente lançado, aprendemos como a cena da “cabeça na

caixa” foi feita — e como foi quase um milagre ter dado certo.(Aviso: a

seguir, spoilers de 20 anos atrás).

Brad Pitt, Morgan Freeman, e Kevin Spacey em ‘Seven’

Em Seven, Morgan Freeman é o detetive William Somerset, que faz uma

parceria com o jovem policial chamado David Mills (Brad Pitt). O impetuoso

Mills mudou-se para a cidade sem nome com sua esposa Tracy (Gwyneth

Paltrow) e ambos passam por várias dificuldades para se adaptar ao novo e

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decadente ambiente. Antes que Somerset pudesse pendurar o distintivo, os

dois detetives descobriram uma série de intrincados assassinatos, sempre

brutais, metodicamente executados por um serial killer sombrio, conhecido

apenas como John Doe. Logo, eles percebem que o assassino está encenando

os sete pecados capitais, perseguindo vítimas que representam cada um deles.

Mas antes que os policiais tivessem chance de chegar ao clímax da

investigação, Doe (Kevin Spacey) inesperadamente se entrega, levando o filme

a um desfecho impressionante.

Para o caso de a cena final não estar marcada a ferro e fogo em sua mente,

aqui vai uma recapitulação: Doe leva Somerset e Mills até uma propriedade

rural, onde promete mostrar os últimos dois corpos. Um helicóptero da SWAT

rastreia os movimentos dos parceiros, ouvindo através de escutas escondidas.

Do nada, um caminhão de entregas chega pela estrada de terra. Somerset vai

até o caminhão enquanto Mills mantém uma arma apontada para Doe. O

motorista do caminhão entrega uma caixa para Somerset, que a abre

imediatamente e fica horrorizado com o conteúdo. Enquanto Somerset corre

freneticamente até Mills, implorando que ele largue sua arma, Doe explica algo

assustador para o confuso detetive: ele cobiçava a vida de Mills com Tracy,

personificando o pecado da inveja. Doe confessa ter assassinado Tracy

naquela manhã e colocado sua cabeça decepada na caixa. Ele também conta

que ela estava grávida, o que Mills não sabia. Doe incita Mills a se tornar o

pecado final, a ira, um pedido que o policial atende prontamente, atirando em

Doe e o matando. Na sessão de comentários do DVD, o roteirista Andrew

Kevin Walker diz que a reviravolta nesta cena garantiu o sucesso do filme. “É

uma das razões pelas quais eu acho que Seven fez sucesso”, ele diz. “As

pessoas não sabiam como o filme ia acabar apenas assistindo os primeiros 10

minutos".

Talvez não seja surpresa o fato de que um final tão fantasticamente sombrio,

quase não aconteceu. Em primeiro lugar, Fincher soube da existência da cena

por acidente. Nos comentários do DVD, ele revela que seu agente lhe deu os

rascunhos de Walker, em vez de seu trabalho final, que tinha um final muito

mais convencional e aprovado pelo estúdio, no qual Tracy estaria no banho

enquanto Doe a espreitava. Fincher se lembra de ter perguntado ao seu agente

como fazer para mudar as coisas. Ele havia adorado aquele final! Por fim,

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Flincher assinou o contrato para o filme, sabendo que encontraria resistência

ao usar o final original, mas determinado em conseguir isso. Flincher diz se

lembrar do produtor Arnold Kopelson deixando as coisas claras para ele desde

o início, dizendo “olhe bem nos meus olhos. Este filme nunca vai terminar com

a cena da cabeça na caixa”.

Antes que as filmagens começassem, Fincher, Pitt e Freeman queriam a cena,

mas Kopelson ainda resistia bravamente. Fincher removeu todos os

impedimentos, fazendo um discurso apaixonado para o produtor, do qual ele

ainda se lembra: “muito tempo depois de estarmos todos mortos, daqui a uns

50 ou 60 anos, um bando de caras de 20 e poucos anos ainda estará falando

sobre o filme que assistiram na noite anterior… o filme que tinha a cena da

cabeça na caixa. Todas as pessoas com quem eu conversei sabem que este

filme precisa acabar com a cena da cabeça na caixa. Você não pode tirar a

cena que será o coração do filme”. Após pensar por sobre o assunto, ele sorriu

e disse “Ok. Vá em frente”.

Um trecho do final original de Fincher (Foto: New Line Cinema)

O plano inicial de Fincher pedia um final ligeiramente diferente, no qual

Somerset mataria Doe em vez de Mills. “Me pareceu que o filme devia acabar

com o sacrifício de Somerset, que salvaria o jovem Mills”, Freeman conta nos

comentários do DVD. Mas Pitt deixou claro que seu personagem, tão cheio de

ódio, não poderia deixar de matar Doe. O final até fazia parte do contrato de

Pitt. “Eu faço com uma condição: A cabeça vai continuar na caixa. Coloque isso

no meu contrato”, disse o ator em uma entrevista para a Entertainment Weekly,

em 2011. "Mills tem que matar o assassino no final”. Assim como Pitt, Spacey

também assinou com o filme por conta do imprevisível final. Ele conta que,

quando surgiu o convite para participar de Seven,pensou: “Morgan Freeman e

Brad Pitt! Eles sempre saem ganhando”, disse o ator para a Playboy em 1999.

“Ali, eles perderam. Perderam muito”.

Page 4: Comentário Sobre o Filem Seven (7 Pecados Capitais)

A sequência foi filmada em Lancaster, Califórnia. Sua localização específica,

perto de um conjunto de terminais de energia, foi importante para Fincher, pois

ele queria retratar estes terminais como fatores que dificultavam a

comunicação da polícia, um aspecto da cena que acabou sendo cortado no

final. Parte da força da cena final é que Spacey só foi revelado aos

telespectadores algumas cenas antes, quando ele fez uma entrada memorável

na delegacia, todo coberto de sangue. Fincher manteve a participação de

Spacey cuidadosamente em segredo: o ator não promoveu o filme, não

apareceu em qualquer propaganda e sequer foi incluído nos créditos iniciais. “A

aparição de Kevin foi simplesmente incrível”, diz John C. McGinley, que

interpretava o líder de equipe da SWAT na Califórnia, e assiste ao desfecho da

cena do helicóptero. “Tenho certeza que o motivo do meu destaque nos

pôsteres é que queriam despistar, para que eu parecesse o cara mau da

história”.

O nome de Spacey não aparece no pôster oficial.

Spacey fez o filme com a condição de não receber nada por isso. "Seria muito

mais uma surpresa”, disse ele na mesma entrevista para a Playboy. “Demorou

dois dias para vender a ideia (para o estúdio). Mais tarde, eles ficaram muito

Page 5: Comentário Sobre o Filem Seven (7 Pecados Capitais)

felizes. A parte boa foi que eu participei de um filme que arrecadou mais de 300

milhões de dólares em todo mundo sem dar uma única entrevista”.

O ponto principal da cena é o momento no qual Somerset abre a caixa de

papelão. O momento é tão poderoso e chocante que os espectadores muitas

vezes juram ter visto mais do que realmente viram. “A cabeça na caixa não

chega a aparecer realmente, mas muitas pessoas dizem que a viram. Isso é

apenas o poder da sugestão”, conta o editor Richard Francis-Bruce ao Yahoo

Movies. "Se você olhar atentamente, conseguirá ver um pequeno punhado de

cabelo”. O editor também coloca esta reação do público na conta da atuação

de Morgan Freeman ao olhar para a caixa. Mas o ator não pensa dessa

maneira. “Durante todo o tempo, eu sabia que teria que olhar para a caixa e

mostrar a reação apropriada”, diz Freeman no comentário do DVD. “Eu sei que

existem algumas maneiras de fingir…, mas não consegui encontrar o momento

certo para fazê-lo de uma forma que realmente funcionasse para mim. Se eu

tornasse a fazer a cena, ainda não sei se conseguiria”.

Morgan Freeman em ‘Seven’

Para Pitt, o fardo emocional era ainda mais complexo. “Brad é que estava em

uma situação e tanto”, diz Freeman. “Encenar uma carga emocional daquele

tamanho não é fácil”. Nos comentários, Pitt conecta a cena à aparição anterior

de Doe: “mais horrível do que vê-lo coberto de sangue é saber que este

sangue era da esposa e do futuro filho de Mills”. Pitt disse que encontrou

inspiração na performance de Sean Penn no drama Homens à Queima

Roupa (1986). “Quando ele estava no tribunal, a apenas poucos segundos de

sofrer uma completa mudança, ele nos fez sentir que tudo que vivesse a partir

daquele momento nunca faria com que ele fosse o mesmo novamente”, diz Pitt.

Page 6: Comentário Sobre o Filem Seven (7 Pecados Capitais)

Brad Pitt e Gwyneth Paltrow em ‘Seven’

Naquele momento, quando o verdadeiro horror recai sobre Mills, algumas

cenas do rosto de Gwyneth Paltrow aparecem na tela, sugerindo que aquelas

eram suas memórias da esposa. Nos comentários, Fincher diz se lembrar de

apenas duas cenas, mas Francis-Bruce diz ao Yahoo que foram quatro. “Isso

foi culpa do David. Ele disse que queria ter 4 cenas de Gwyneth ali. Não estava

planejado assim, tampouco estava no roteiro”.

Além da complexidade emocional da cena, Fincher também teve que lidar com

algumas dificuldades de logística: a primeira foi que o dinheiro acabou antes

que eles pudessem filmar o helicóptero da polícia voando. O estúdio New

Line disse que só daria mais dinheiro se eles julgassem que isso seria crucial

para o filme. Felizmente, eles acabaram cedendo, embora a produção tenha

precisado recorrer a alguns truques durante os close-ups. McGinley voou em

um helicóptero real durante as filmagens de longa distância, mas as filmagens

mais próximas não foram reais. “É o que chamamos de criatividade diante da

falta de dinheiro”, ele conta ao Yahoo. “Colocamos o helicóptero em cima de

um monte de molas e placas, usamos fumaça para cobrir tudo e filmamos”.

Fincher se lembra de ter pensado que “ninguém iria cair nessa”.

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John C. McGinley em ‘Seven’

McGinley também descreve sua última fala do seu personagem — “chamem

alguém!” (Somebody call somebody, do original) — estupefato, após

testemunhar Mills assassinar Doe do helicóptero. Era para ser a última cena do

filme antes de cortarem para os créditos. “David fez com que a fala fosse o

gatilho para aquela cena”, diz o ator.

No entanto, isso foi alterado, depois que o filme foi malsucedido em sua

primeira triagem. Fincher conta que três mulheres saíram do filme dizendo que

“as pessoas que fizeram aquele filme deviam ser assassinadas”. “As pessoas

que presenciaram tudo ficaram loucas. Não tinha como eles se sentirem mais

ofendidos”. Francis-Bruce recorda que o estúdio tentou inventar algumas

alternativas, como colocar a cabeça de um dos cães de Mills na caixa, em vez

da cabeça de Tracy. No final, a produção adicionou uma narração de Morgan

Freeman e outra cena curta mostrando um desalentado Mills sendo levado por

um carro de polícia. “Aquilo não foi fácil”, observa Freeman. “Eu não sei o

quanto estava realmente prestando atenção naquele momento”, diz Pitt.

Fincher diz: “é, você já estava mais do que ferrado naquela hora”.

Apesar destas concessões, o final anti-hollywoodiano de Seven mostrou o

quanto a determinação de Fincher em manter o final que todos assistimos,

valeu a pena. “Para mim, aquilo foi o mais próximo que eu estive de um filme

perfeito”, diz Pitt nos comentários. “Fosse como fosse, independente de como o

filme seria recebido pelo público, eu o faria da forma que eu o imaginei”,

acrescenta Fincher. O diretor se lembra de sair da estreia em Nova York e

Page 8: Comentário Sobre o Filem Seven (7 Pecados Capitais)

ouvir alguém dizer, “não fique deprimido, Você provavelmente conseguirá outro

emprego”. “Não tenho do que me desculpar”, ele respondeu.