comentário a tessalonicenses - s. tomás de aquino

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Confira um trecho dessa belíssima obra. Já à venda no site da Concreta: https://editoraconcreta.com.br/crowdpublish/comprarcomentariotess/

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Page 1: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino
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Comentário a Tessalonicenses

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Santo Tomás de Aquino

Comentário a Tessalonicenses

Edição bilíngüe

Tradução:

Tiago Gadotti

Texto latino revisado por R. Busa S. J. (†) e E. Alarcón

Page 6: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

Comentário a Tessalonicenses, Santo Tomás de Aquino © Editora Concreta, 2015

Título original: Super I Epistolam B. Pauli ad Thessalonicenses lectura Super II Epistolam B. Pauli ad Thessalonicenses lectura

O texto latino utilizado nesta obra é o mesmo publicado no website Corpus Thomisticum da Fundación Tomás de Aquino (www.corpusthomisticum.org). Este texto está baseado na edição Marietti de 1953, transcrita por Roberto Busa S.J. e revisada por Enrique Alarcón. © 2015 Fundación Tomás de Aquino, Pamplona (Espanha). Reproduzido com autorização do titular.

Os direitos desta edição pertencem àEditora Concreta

Rua Barão do Gravataí, 342, portaria – Bairro Menino Deus – CEP: 90050-330 Porto Alegre – RS – Telefone: (51) 9916-1877 – e-mail: [email protected]

Editor: Renan Martins dos Santos

Coordenador editorial: Sidney Silveira

Tradução: Tiago Gadotti

Revisão: Carlos Nougué

Capa & Diagramação: Hugo de Santa Cruz

Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica

ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio.

www.editoraconcreta.com.br

Ficha Catalográfica

Tomás, de Aquino, Santo, 1225?-1274T655c Comentário a Tessalonicenses [livro eletrônico] / tradução de Tiago Gadotti,

edição de Renan Santos. – Porto Alegre, RS: Concreta, 2015. 176p. :p&b ;

ISBN 978-85-68962-04-6

1. Teologia. 2. Filosofia. 3. Filosofia medieval. 4. Metafisica. 5. Cristianismo. 6. Catoli-cismo. 7. Espiritualidade. I. Título.

CDD-230.2

Page 7: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

COLEÇÃO ESCOL ÁSTICA

Foram características marcantes do período escolástico a elevação da dialética a um cume jamais superado – antes ou depois, na história da filosofia –, o notável apuro na definição de termos e conceitos,

a clareza expositiva na apresentação das teses, o extremo rigor lógico nas demonstrações, o caráter sistêmico das obras, a classificação das ciências a partir de um viés metafísico e, por fim, a existência duma abóboda teológica que demarcava a latitude e a longitude dos problemas esmiuçados pela ra-zão humana, os quais abarcavam todos os hemisférios da ordem do ser: da materia prima a Deus.

O leitor familiarizado com textos de grandes autores escolásticos, como Santo Tomás de Aquino, Duns Scot, Santo Alberto Magno e outros, estranha ao deparar com obras de períodos posteriores, pois identifica perdas de cunho metodológico que transformaram a filosofia num enorme mosaico de idéias esparzidas a esmo, nos piores casos, ou concatenadas a partir de princípios dúbios, nos melhores. A confissão de Edmund Husserl ao discípulo Eugen Fink de que, se pudesse, voltaria no tempo para recomeçar o seu edifício feno-menológico serve como sombrio dístico do período moderno e pós-moderno: o apartamento entre filosofia e sabedoria – entendida como arquitetura em ordem ao conhecimento das coisas mais elevadas – acabou por gerar inúmeras obras malogradas, mesmo quando nelas havia insights brilhantes.

Constatamos isto em Descartes, Malebranche, Espinoza, Kant, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Husserl, Heiddegger, Ortega y Gasset, Wittgens-tein, Sartre, Xavier Zubiri e vários outros autores importantes cujos princípios filosóficos geraram aporias insanáveis, verdadeiros becos sem saída.

Page 8: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

Na prática, o filosofar que se foi cristalizando a partir do humanismo renas-centista está para a Escolástica assim como a música dodecafônica, de caráter atonal, está para as polifonias sacras. Em suma, o nobre intuito de harmonizar diferentes tipos de conhecimento foi, aos poucos, dando lugar à assunção da desarmonia como algo inescapável. As conseqüências desta atitude intelectual fragmentária e subjetivista, seja para a religião, seja para a moral, seja para a política, seja para as artes, seja para o direito, foram historicamente funestas, mas não é o caso de enumerá-las neste breve texto.

Neste ponto, vale advertir que a Coleção Escolástica, trazida à luz pela editora Concreta em edições bilíngües acuradas, não pretende exacerbar um anacrônico confronto entre o pensar medieval e tudo o que se lhe seguiu. O propósito maior deste projeto é o de apresentar ao público brasileiro obras filosóficas e teológicas pouco difundidas entre nós, não obstante conheçam edições críticas na grande maioria das línguas vernáculas. Tal lacuna começa a ser preenchida por iniciati-vas como esta, cujo vetor pode ser traduzido pela máxima escolástica bonum est diffusivum sui (o bem difunde-se por si mesmo). Ocorre que esta espécie de bens, para ser difundida, precisa ser plantada no solo fértil dos livros bem editados.

No mundo ocidental contemporâneo, plasmado de maneira decisiva na lon-gínqua dúvida cartesiana, assim como nos ceticismos de todos os tipos e matizes que se lhe seguiram; mundo no qual as certezas são apresentadas como uma es-pécie de acinte ou ingenuidade epistemológica; mundo que se despoja de suas raízes cristãs para dar um salto civilizacional no escuro; mundo, por fim, desfigu-rado pelas abissais angústias alimentadas por filosofias caducas de nascença; em tal mundo, não nos custa afirmar com ênfase entusiástica o quanto este projeto foi concebido sem nenhum sentimento ambivalente. Ao contrário, moveu-nos a certeza absoluta de que apresentar o Absoluto é um bálsamo para a desventurada terra dos relativismos.

Vários autores do período serão agraciados na Coleção Escolástica com edições bilíngües: Santo Tomás de Aquino, São Boaventura, Santo Anselmo de Cantuária, Santo Alberto Magno, Alexandre de Hales, Roberto Grossetes-te, Duns Scot, Guilherme de Auvergne e outros da mesma altitude filosófica.

Em síntese, a Escolástica é uma verdadeira coleção de gênios. Procurare-mos demonstrar isto apresentando-os em edições cujo principal cuidado será o de não lhes desfigurar o pensamento.

Que os leitores brasileiros tirem o melhor proveito possível deste tesouro.

Sidney Silveira Coordenador da Coleção Escolástica

Page 9: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

Agradecimentos aos colaboradores

Através de campanha no website da Concreta para financiar o “Comentário a Tessalonicenses”, 510 pessoas fizeram sua parte para que este livro se tornasse realidade, um gesto pelo qual lhes seremos eternamente gratos. Mais abaixo listamos aquelas que colaboraram para ter seus nomes divulgados nesta seção:

Adailso JaneskoAdriano Pereira SilvaAlan Ébano OliveiraAlan Marques da RosaAlexandre da Luz SilvaAlexandre RochaAllan Victor de Almeida MarandolaAluísio DantasAlvaro MendesÁlvaro PestanaAmantino de MouraAna Claudia SilveiraAna Larissa Dantas Santos SimõesAnderson Braz

Anderson CleitonAnderson Mello de CarvalhoAnderson RochaAndré Arthur CostaAndré Bender GranemannAndré Caniné de Oliveira MachadoAndré de Oliveira da CruzAndré Reis MirandaAndre RibeiroAndré Ricardo RodriguesAndrey Gomez KopperAnselmo Luís CeregattoAntonio Carlos Correia de Araújo Jr.Antonio Chacar Hauaji

Page 10: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

Antônio Murilo Macedo da LuzAntonio Paulo LemeArolldo MacielArthur DutraArthur JordanAugusto Carlos Pola Jr.Augusto MendesAureliano Caldeira Horta FrançaBernardo Augusto Sperandio FilhoBernardo Cunha de MirandaBernardo Jordão Nogueira de SáBruce Oliveira CarneiroBrunno Messina Ramos de OliveiraBruno Barchi MunizBruno Brasil LeandriBruno José Queiroz CerettaBruno ValliniCamila Maria S. BernardinoCarlos Alberto de MagalhãesCarlos Alberto Leite de MouraCarlos Alberto Lopes da CostaCarlos Alexander de Souza CastroCarlos CrusiusCarlos Eduardo de Aquino de PáduaCarlos Eduardo PaulukCarlos Frederico Gitsio K. T. da SilvaCarlos WolkarttChristopher StimamilioCláudia MakiaCláudio Márcio FerreiraCleber QueirozCleto Marinho de Carvalho FilhoClotilde GrosskopfCristiano EulinoCristina GarabiniDallima Um TsengDaniel de Athayde QuélhasDaniel PinheiroDanilo Cortez Gomes

Danilo MartinsDanilo MiyazakiDavid Saboia ValeDavide LanfranchiDelania Gomes VieiraDiego LuvizonDiego PessiDimitri MotaDiogo Ferreira Ribeiro LaurentinoDiogo FontanaDionisio LisbôaEdilia Cristina de CarvalhoEdilson LinsEdinho LimaEdnardo RodriguesEduardo dos Santos SilveiraEduardo Erminio MarinEduardo FernandesEduardo Moreira dos SantosElaine Cristina Moreira BatistaElaine EgidioElaine FerreiraElaine RizzatoEline SantosElizabeth DiasElpídio FonsecaElyelton CesarEmerson SilvaEnzo MarinniÉrico Raoni Santos da SilvaEstêvão Lúcio SobrinhoEvandro MaraschinEvanir Vieira Jr.Everton S. da SilvaEwerton CaetanoEwerton José WantrobaFabio DiasFabio LautonFabio Nascimento

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Fabio Rogerio Pires da SilvaFábio Salgado de CarvalhoFabrício Tavares de MoraesFabrício VieiraFelipe AguiarFelipe CâmaraFelipe Corte LimaFelipe DiasFelipe GeraldesFelipe MazzarolloFernando Alves de AlmeidaFernando LopesFernando Santos Simões FerreiraFernando SimõesFilipi MartinsFirmino AbreuFrancisco A. L. SilvaFrancisco Peçanha NevesFranklin Picirilo NakaFrederico Carlos FerreiraGabriel Henrique KnüpferGabriel Pereira BuenoGabriela Soares ArrigoniGedson Alves de SouzaGenesio da Silva PereiraGenésio SaraivaGeovan PetryGeovânia FeitozaGideon de BritoGilberto LunaGio Fabiano Voltolini Jr.Giovanni Wesley Campos SilvaGisleine Maria Franco de GodoyGiulia d’AmoreGiuliano Bastos EstrelaGiuliano CarvalhoGiuseppe Mallmann de SampaioGrazielli PozziGuilherme Batista Afonso Ferreira

Guilherme Ferreira AraújoGuilherme RanalGustavo BarnabéGustavo BertocheGustavo de AraújoGustavo Mendonça RezendeHaberlandt Pereira DuarteHeitor Dias Antunes PereiraHenrique Montagner FernandesHilário da SilvaHumberto Campolina França Jr.Ícaro PadilhaIvan Antonio PinheiroJackson Ferreira SilvaJackson ViveirosJairo BolzanJardel de Souza da SilvaJefferson Bombachim RibeiroJefferson Zorzi CostaJesus PereiraJoanees OliveiraJoão CastroJoão Marcelo Silva ZigurateJoão Marcos CostaJoão Paulo ArraisJoão Pedro da Luz NetoJoão Vitor Trivilin NunesJoaquim ResendeJoel PaeseJonas Faga Jr.Jonas Henrique Pereira MacedoJonatan DornelesJorge Roberto PereiraJosé AlexandreJosé Francisco dos SantosJose Marcio CarterJosé Max Lânio de Oliveira SouzaJosé MenezesJose Reis Pimenta

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José Ribeiro Jr.Juliano ErichsenJulius LimaKaye Oliveira da SilvaKennedy CostaKleberson CarvalhoLayse Caroline da Silva SantiagoLeandro CasareLeandro MarquesLenine MarquesLeo StenioLeonardo Carvalho ParanaibaLeonardo Henrique SilvaLeonardo MacielLiana NettoLucas Cardoso da SilvaLucas FreitasLucas GuelfiLucas Monachesi RodriguesLucas MoraisLucas OliveiraLuciana AntoniolliLuciana Cristina Oliveira Costa SilvaLuciano DinizLuciano R. Moura e SilvaLuciano SaldanhaLucio MedeirosLuis Henrique Galdino de MoraisLútio H. F. Cândido Lysandro SandovalMarciano SouzaMárcio André Martins TeixeiraMarcius Vinicius JúlioMarco Antonio BenitoMarcos Antonio do NascimentoMarcos CostaMarcos PauloMarcos SalomãoMarcus Michiles

Maria Rita Sulzbach de AguiarMarilia de SouzaMarinaldo CavalariMário Jorge FreireMarlon Rodrigo de OliveiraMartha GandraMateus CruzMateus R. C. de PaulaMateus Rauber Du BoisMatheus Batista SantosMauricio Lebre ColomboMaurício NogueiraMauro Sergio RibeiroMessias LeandroMichel PagiossiMilton Adolfo Santucci Jr.Mônica SiqueiraNatanael Pereira BarrosNazareno Delabeneta GualandiNei Afonso RibeiroNelmo FernandesNicolas Barbieri BeoniNikollas RamosOacy CampeloOdair FerreiraOdinei DraegerOrlando TosettoPamela DuartePaulo CruzPaulo Eduardo Coelho da RochaPaulo Henrique Brasil RibeiroPaulo Leão AlvesPaulo Roberto FariaPedro Chudyk HuberukPedro Henrique Pinto de AquinoPedro Theil Melcop de CastroPhilippe NizerPietro Augusto AiresRafael de Almeida Martin

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Rafael MartinsRafael PlácidoRafaella Casali RamosRaphael GarciaRaphael SepulcriRaul LabreRaul LemosReginaldo MagroRenato da Silva Leite FilhoRenato GuimaraesRicardo Antônio MohallemRicardo BelleiRicardo Mazioli JacomeliRicardo RangelRinaldo Oliveira Araújo de FariaRoberto KolbeRobson Gois CavalcanteRodolfo Melchior LopesRodolfo MirandaRodrigo de Abreu OliveiraRodrigo de MenezesRodrigo LuizRodrigo Naimayer dos SantosRodrigo Rocha SilveiraRodrigo Santana SilveiraRonald RobsonRonaldo Fernandes da SilvaRonaldo ValentimRonildo MonteiroRosele Martins dos SantosSamuel Cardoso SantanaSamuel da Silva MarcondesSamuel SantosSandra SalomãoSandro BastosSebastião LeiteSérgio EduardoSergio Paulo RobertoSilmar José Spinardi Franchi

Silvio José de OliveiraSilvio Livio Simonetti NetoTânia VieiraTatiana Ramos PradoTharsis MadeiraThiago AmorimThiago BorgesThiago JunglhausThiago RabeloTiago Arno Saldanha KloecknerTiago Bana FrancoTiago SfredoVanessa Sparagna Marques MaliciaVânia Maria de VasconcelosVicente do Prado TolezanoVictor Hugo BarbozaVinicius BarrosVinicius de Almeida AlvarengaVitor ColivatiVitor DuarteVitor Fonseca de MeloVitor Hugo Pontes ButragoWagner CavalcanteWellington FelicioWellington HubnerWellington Moreira FrutuosoWendel OrdineWendell Ramos MaiaWilliam BottazziniWilliam de Souza GuimarãesWilliam Gomes SilvaWilson Arnhold

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Page 15: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

Sumário

Apresentação 15O vetor teológico do comentário: mérito, graça e profecia 17

1.1 O mérito e os direitos da amizade (iure amicabili) 171.2 Preeminência da graça, começo da glória 201.3 Profecia: teologia de fundo metafísico 21

Conclusão: teologia para um mundo caótico 24

Notas prévias do tradutor 26

COMENTÁRIO A TESSALONICENSES

Comentário à 1ª Epístola de S. Paulo aos TessalonicensesPrefácio 29Capítulo i

Primeira Leitura – I Tessalonicenses 1, 1-10 31Capítulo ii

Primeira leitura – I Tessalonicenses 2, 1-12 43Segunda Leitura – I Tessalonicenses 2, 13-20 51

Page 16: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

Capítulo iii Primeira Leitura – I Tessalonicenses 3, 1-13 61

Capítulo iv Primeira Leitura – I Tessalonicenses 4, 1-11 69Segunda Leitura – I Tessalonicenses 4, 12-17 79

Capítulo v Primeira Leitura – I Tessalonicenses 5, 1-13 89Segunda Leitura – I Tessalonicenses 5, 14-28 101

Comentário à 2ª Epístola de S. Paulo aos TessalonicensesPrefácio 115Capítulo i

Primeira Leitura – II Tessalonicenses 1, 1-5 115Segunda Leitura – II Tessalonicenses 1, 6-12 121

Capítulo ii Primeira Leitura – II Tessalonicenses 2, 1-5 129Segunda Leitura – II Tessalonicenses 2, 6-10 141Terceira Leitura – II Tessalonicenses 2, 10-16 149

Capítulo iii Primeira Leitura – II Tessalonicenses 3, 1-9 155Segunda Leitura – II Tessalonicenses 3, 10-18 163

Bibliografia citada 171

S. Thomae de Aquino Opera Omnia 173

Page 17: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

Comentário à

1ª Epístolade São Paulo aoSteSSaloniCenSeS

(Super I Epistolam B. Pauli ad Thessalonicenses lectura)

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28 Santo Tomás de Aquino

Multiplicatae sunt aquae, et cetera. Gen. VII, 17. Haec verba competunt materiae huius epistolae. Ecclesia

enim figuratur per arcam, sicut dicitur I Petr. III, 20, quia sicut in arca, caeteris pereuntibus, paucae animae salvatae sunt, ita in Ecclesia pauci, id est, soli electi salvabuntur.

Per aquas autem significantur tribulationes. Primo quia aquae im-pellunt irruendo, sicut tribulationes. Matth. VII, 25: venerunt flumina, et flaverunt venti, et irruerunt in domum illam. Sed impulsu fluminum Ecclesia non movetur. Unde subdit et non cecidit.

Secundo aqua extinguit ignem. Eccli. XXX: ignem ardentem extinguit aqua. Sic tribulationes extinguunt impetus concupiscentiarum, ne homi-nes ad libitum eas sequantur, sed non extinguunt veram charitatem Ec-clesiae. Cant. VIII, 7: aquae multae non poterunt extinguere charitatem, nec flumina obruent illam.

Tertio aquae submergunt per inundationem. Thren. III, 54: inundave-runt aquae super caput meum. Sed Ecclesia non per has submergitur. Iona II, 6: circumdederunt me aquae usque ad animam meam, abyssus vallavit me, pelagus operuit caput meum, etc.; et post: rursum videbo templum sanc-tum tuum, et cetera.

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29Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola

PREFÁCIO

As águas cresceram, etc. (Gên. 7, 17). 1. Estas palavras competem à matéria desta epístola. A arca, com efeito, é

figura da Igreja, como diz I Pedro 3, 20, porque, assim como na arca, enquan-to outras pereceram, poucas almas foram salvas, assim na Igreja poucos, isto é, só os eleitos, serão salvos.1

As águas, porém, significam tribulações. Primeiro, porque as águas impe-lem combatendo, assim como as tribulações. Mateus 7, 25: Transbordaram os rios, e assopraram os ventos e combateram aquela casa. Mas a Igreja não é movida pelo embate dos rios. Por isso acrescenta: e não caiu.

Segundo, a água extingue o fogo. Eclo. 3, 33: A água extingue o fogo arden-te. As tribulações extinguem o ímpeto das concupiscências de modo que os homens não as sigam segundo seus caprichos, mas não extinguem a verdadeira caridade da Igreja. Cant. 8, 7: As muitas águas não puderam extinguir a carida-de, nem os rios terão força para a afogar.

Terceiro, as águas submergem pela inundação. Lam. 3, 54: Um dilúvio de águas veio sobre minha cabeça. Mas a Igreja não é por elas submersa. Jn. 2, 5: As águas me cercaram até a alma, o abismo me encerrou em si, as ondas do mar me cobri-ram a cabeça, etc., e após isso: eu contudo verei ainda o teu santo templo, etc. (v. 5).

1 Toda vez que, em sua vasta obra, Santo Tomás fala de “eleitos”, está referindo-se aos predestinados, ou seja, aos que se salvam graças a um beneplácito da vontade divina. Os dados de que se vale o Aqui-nate têm a Sagrada Escritura como fonte primária: 1- Existência da predestinação: Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde a criação do mundo (Mt. 25, 34); 2- Efeitos da predestinação (eleição, justificação e glorificação): E aqueles que [Deus] predestinou, também os chamou; e aqueles que chamou, também os justificou; e aqueles que justificou, também os glorificou (Rm. 8, 30); 3- Os predestinados são eleitos por Deus: Porque são muitos os chamados e poucos os escolhidos (Mt. 22, 14). Se não se abreviassem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; porém, serão abreviados aqueles dias em atenção aos escolhidos (Mt. 24, 22); 4- A predestinação é gratuita: quan-do a Sagrada Escritura ensina sobre este particular, há quatro proposições a considerar: a) A vontade divina é causa de todos os dons que Deus concede aos homens. Por conseguinte, todos esses dons são inteiramente gratuitos (eleição, vocação, conversão, perdão dos pecados, fé, justificação, salvação, glorificação, etc.); b) Deus não é apenas causa dos dons, pelos quais somos chamados, justificados, salvos, etc., mas é também causa de que creiamos, queiramos, obremos o bem e nos salvemos, etc.; c) Não é o homem quem se distingue de outro homem na perseverança final; é Deus quem os dis-tingue  fazendo a uns melhores que a outros; d) A glorificação é o último efeito da predestinação, e esta procede de um conhecimento amoroso prévio aos méritos e deméritos humanos, ou, em suma, de uma dileção de Deus. É, portanto, a dileção divina a causa de Deus predestinar à glória os eleitos; 5- A predestinação é certa, infalível e imutável: Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão alarde de grandes milagres e prodígios para enganarem, se fosse possível, até mesmo os escolhidos. (Mc. 13, 22). E a vontade do Pai que me enviou é que eu não perca nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia (Jo. 6, 39); 6- A predestinação se realiza com a nossa cooperação: Trabalhai na vossa salvação com temor e tremor (Flp. 2, 12). [N. C.]

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30 Santo Tomás de Aquino

Non ergo deficit, sed sublevatur. Et primo per elevationem mentis ad Deum. Gregorius: mala quae nos hic premunt, ad Deum nos ire compellunt. Os. VI, 1: in tribulatione sua mane consurgent ad me.

Secundo per spiritualem consolationem. Ps. XCIII, 19: secundum mul-titudinem dolorum in corde meo consolationes tuae laetificaverunt animam meam. II Cor. I, 5: sicut abundant passiones Christi in nobis, ita per Chris-tum abundat consolatio nostra.

Tertio per multiplicationem fidelium, quia tempore persecutionum Deus multiplicavit Ecclesiam. Ex. I, 12: quantoque magis opprimebant eos, tanto magis multiplicabantur et crescebant.

Sic ergo convenit huic epistolae, quia isti multas tribulationes passi, steterunt fortes. Videamus ergo textum.

CAPUT 1Lectio 1

1Παῦλος καὶ Σιλουανὸς καὶ Τιμόθεος τῇ ἐκκλησίᾳ Θεσσαλονικέων ἐν θεῷ πατρὶ καὶ κυρίῳ Ἰησοῦ Χριστῷ: χάρις ὑμῖν καὶ εἰρήνη. 2Εὐχαριστοῦμεν τῷ θεῷ πάντοτε περὶ πάντων ὑμῶν, μνείαν ποιούμενοι ἐπὶ τῶν προσευχῶν ἡμῶν, ἀδιαλείπτως 3μνημονεύοντες ὑμῶν τοῦ ἔργου τῆς πίστεως καὶ τοῦ κόπου τῆς ἀγάπης καὶ τῆς ὑπομονῆς τῆς ἐλπίδος τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ ἔμπροσθεν τοῦ θεοῦ καὶ πατρὸς ἡμῶν, 4εἰδότες, ἀδελφοὶ ἠγαπημένοι ὑπὸ τοῦ θεοῦ, τὴν ἐκλογὴν ὑμῶν, 5ὅτι τὸ εὐαγγέλιον ἡμῶν οὐκ ἐγενήθη εἰς ὑμᾶς ἐν λόγῳ μόνον ἀλλὰ καὶ ἐν δυνάμει καὶ ἐν πνεύματι ἁγίῳ καὶ [ἐν] πληροφορίᾳ πολλῇ, καθὼς οἴδατε οἷοι ἐγενήθημεν [ἐν] ὑμῖν δι’ ὑμᾶς. 6καὶ ὑμεῖς μιμηταὶ ἡμῶν ἐγενήθητε καὶ τοῦ κυρίου, δεξάμενοι τὸν λόγον ἐν θλίψει πολλῇ μετὰ χαρᾶς πνεύματος ἁγίου, 7ὥστε γενέσθαι ὑμᾶς τύπον πᾶσιν τοῖς πιστεύουσιν ἐν τῇ Μακεδονίᾳ καὶ ἐν

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31Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. I

2. Portanto, ela não desanima, mas é sublevada. Primeiro, pela elevação da mente a Deus. Gregório: as coisas más que aqui nos comprimem compelem-nos a ir a Deus.2 Os. 6, 1: Vendo-se na sua tribulação, dar-se-ão pressa a recorrer a mim.

Segundo, pela consolação espiritual. Sal. 93, 19: Segundo as muitas dores que provou o meu coração, as tuas consolações alegraram a minha alma. II Cor. 1, 5: Porque, à medida em que nos crescem as penas de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações.

Terceiro, pela multiplicação dos fiéis, porque em tempo de perseguições Deus fez crescer a Igreja. Ex. 1, 12: Quanto mais os oprimiam, tanto mais se multiplicavam e cresciam.

Assim, portanto, [aquelas palavras do Gênesis] convêm a esta epístola, pois, padecendo estes muitas tribulações, permaneceram fortes. Vejamos, pois, o texto.

CAPÍTULO IPrimeira Leitura – I Tessalonicenses 1, 1-10

[3]1Paulo, Silvano e Timóteo, à Igreja dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo. [6]2Graça e paz vos sejam dadas. Damos sempre graças a Deus por todos vós, fazendo continuamente memória de vós nas nossas orações, [10]3lembrando-nos, diante de Deus e nosso Pai, da obra da vossa fé, do trabalho da vossa caridade e da constância da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo. [11]4Com efeito, sabemos, irmãos amados de Deus, qual foi a vossa eleição; [13]5porque o nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com virtude e no Espírito Santo e em grande plenitude, como sabeis quais nós fomos entre vós, por amor de vós.[15]6E vós vos fi-zestes imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muita tribulação, com a alegria do Espírito Santo,[17]7de modo que vos tornastes modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia.

2 Há bastante divergência sobre a fonte desse suposto trecho de S. Gregório Magno, citado igual-mente por S. Boaventura e autores posteriores. Provavelmente trata-se de uma paráfrase de “Mali enim bonos magis ab hujus mundi desideriis expediunt, dum affligunt; quia dum multa eis hic violenta ingerunt, festinare illos ad superna compellunt” [“Com efeito, os maus livram mais os bons dos desejos deste mundo quando os afligem; pois quando lhes impõem muitas violências, compelem-nos a correr atrás das coisas superiores.”], in Exp. Vet. ac Novi Test. (PL 79, 725C), ou de “Acriores hostis insidiae, ad gratiae adiutorium postulandum nos compellunt” [“As insídias mais acerbas do inimigo compelem--nos a pedir o auxílio da graça.”], in Moralia (PL 75, 757A).

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32 Santo Tomás de Aquino

τῇ Ἀχαΐᾳ. 8ἀφ’ ὑμῶν γὰρ ἐξήχηται ὁ λόγος τοῦ κυρίου οὐ μόνον ἐν τῇ Μακεδονίᾳ καὶ ἐν τῇ Ἀχαΐᾳ, ἀλλ’ ἐν παντὶ τόπῳ ἡ πίστις ὑμῶν ἡ πρὸς τὸν θεὸν ἐξελήλυθεν, ὥστε μὴ χρείαν ἔχειν ἡμᾶς λαλεῖν τι: 9αὐτοὶ γὰρ περὶ ἡμῶν ἀπαγγέλλουσιν ὁποίαν εἴσοδον ἔσχομεν πρὸς ὑμᾶς, καὶ πῶς ἐπεστρέψατε πρὸς τὸν θεὸν ἀπὸ τῶν εἰδώλων δουλεύειν θεῷ ζῶντι καὶ ἀληθινῷ, 10καὶ ἀναμένειν τὸν υἱὸν αὐτοῦ ἐκ τῶν οὐρανῶν, ὃν ἤγειρεν ἐκ τῶν νεκρῶν, Ἰησοῦν τὸν ῥυόμενον ἡμᾶς ἐκ τῆς ὀργῆς τῆς ἐρχομένης.

Apostolus vult munire hic Ecclesiam contra tribulationes et primo contra tribulationes praesentes, et hoc in prima epistola. Secundo contra futuras, tempore Antichristi, et hoc in secunda. Prima dividitur in saluta-tionem et epistolarem narrationem, ibi gratias agimus. Item primo tangit personas salutantes; secundo Ecclesiam salutatam; tertio bona optata.

Notandum est autem, quod quia ubi non delinquimus, omnes pares sumus, ideo quia istis bonis scribit, non facit mentionem de officio suo, sed solum de nomine humilitatis, quod est Paulus. Sap. VII, 11: et innu-merabilis honestas per manus illius. Et adiungit duos, qui eis praedicaverunt cum eo, scilicet Silvanum, qui est Sylas, et Timotheum, quem circumcidit, ut dicitur Act. XVI, 3.

Salutat autem Ecclesiam, quae est congregatio fidelium. Et hoc in Deo patre et domino nostro Iesu Christo, id est, in fide Trinitatis, et divinitatis et humanitatis Christi, quia in horum cognitione erit nostra beatitudo. Tan-git autem personam patris et filii incarnati, in quibus intelligitur spiritus sanctus, qui est nexus amborum.

Bona optata sunt gratia, quae est principium omnium bonorum. I Cor. XV, 10: gratia Dei sum id quod sum. Et pax quae est finis, quia tunc est pax, quando appetitus totaliter pacatur. Deinde cum dicit gratias agi-mus, incipit epistolaris narratio, et primo commendat eos de praeterita perseverantia; secundo monet eos ad bene agendum in futurum, cap. IV, ibi de caetero. Item primo agit gratias universaliter de bonis eorum; secun-do ea commemorat in speciali, ibi scientes, fratres, et cetera. Circa primum duo facit, quia primo ponit gratiarum actionem; secundo eius materiam, ibi memores. Item primo pro eis gratias agit; secundo pro eis orat, ibi me-moriam vestri.

Page 23: Comentário a Tessalonicenses - S. Tomás de Aquino

33Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. I

[19]8Por meio de vós se difundiu a palavra do Senhor, não só pela Ma-cedônia e pela Acaia, mas também se propagou por toda a parte a fé que tendes em Deus, de sorte que não temos necessidade de dizer coisa alguma. [20]9De fato eles mesmos (os fiéis) publicam de nós qual foi a aceitação que tivemos entre vós, como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro [22]10e para esperardes do céu a seu Filho (a quem ele ressuscitou dos mortos) Jesus, o qual nos livrou da ira que há de vir.

3. O Apóstolo quer aqui munir a Igreja contra as tribulações; e, primeiro, contra as tribulações presentes, e isto na primeira epístola; segundo, contra as tribulações futuras, no tempo do Anticristo, e isto na segunda. A primeira epístola se divide em saudação e em narração epistolar: Damos graças a Deus (v. 2). Igualmente, primeiro trata das pessoas que saúdam; depois, da Igreja que é saudada; e, por fim, dos bens apetecidos.

4. Mas deve notar-se que, como quando não pecamos, somos todos iguais, por isso como escreve a estes bons,3 o Apóstolo não faz menção de cargo, mas somente do nome de sua humildade: Paulo. Sab. 7, 11: E inumeráveis riquezas vieram por suas mãos. E acrescenta mais dois, que lhes pregaram com ele: Sil-vano, que é Silas, e Timóteo, a quem circuncidou, como se diz em Atos 16, 3.

5. Saúda, porém, a Igreja, que é congregação dos fiéis. E faz isto em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo, isto é, segundo a fé na Trindade e na divindade e humanidade de Cristo, porque nossa beatitude consistirá no conhecimento delas. Mas menciona a pessoa do Pai e a do Filho encarnado, nas quais se intelige o Espírito Santo, que é o nexo dos dois.

6. Os bens apetecidos são a graça, que é princípio de todos os bens (I Cor. 15, 10: pela graça de Deus, sou o que sou), e a paz, que é o fim, porque há paz quando o apetite é totalmente pacificado.

7. Quando ele diz em seguida: Damos graças a Deus, etc., começa a narração epistolar. Primeiro, louva-os pela perseverança passada; segundo, admoesta-os a bem agir no futuro, cap. 4, 1: Quanto ao mais, etc. Igualmente, primeiro dá gra-ças universalmente por seus bens; segundo, lembra-os em particular: Sabemos, irmãos, etc. Com respeito ao primeiro, faz duas coisas: primeiro põe a ação de graças; segundo, a sua matéria: Lembrando-nos, etc. Igualmente, primeiro rende graças por eles; segundo, ora por eles: fazendo continuamente memória de vós.

3 “(...) quia istis bonis scribit”. Aqui se refere Santo Tomás aos homens bons, ou seja, aos que procu-ram andar na graça de Deus. [N. C.]

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34 Santo Tomás de Aquino

Quantum ergo ad primum dicit tria, quae debent esse in gratiarum ac-tione. Primo quod sit ordinata, scilicet ad Deum. Ideo dicit gratias agimus Deo. Ps. LXXXIII, 12: gratiam et gloriam dabit dominus. Iac. I, 17: omne datum optimum et omne donum perfectum de sursum est descendens a patre luminum. Item assidua, quia semper. Item universalis, ibi pro omnibus vo-bis. Infra V, 18: in omnibus gratias agite.

Deinde orat pro eis, dicens memoriam vestri faciens, etc., quasi dicat: quandocumque oro, habeo vos in memoria. Rom. c. I, 9: sine intermissio-ne memoriam vestri facio semper in orationibus meis.

Deinde cum dicit memores operis, ponit bona de quibus agit gratias, scilicet fidem, spem et charitatem. I Cor. XIII, 13: nunc autem manent fides, spes, charitas: tria haec, et cetera. Fidem praemittit, quia est substantia sperandarum rerum, et cetera. Accedentem enim ad Deum oportet credere, et cetera. Hebr. c. XI, 1 et 6. Haec autem non est sufficiens, nisi habeat ope-rationem et laborem. Et ideo dicit operis fidei vestrae et laboris. Iac. II, 26: fides sine operibus mortua est. Item quia qui laborando propter Christum deficit, nihil valet. Lc. VIII, 13: ad tempus credunt, et in tempore tentationis recedunt. Ideo dicit operis et laboris. Quasi dicat: memores fidei vestrae operantis et laborantis. Item, charitatis, in cuius operibus abundabant. Infra IV, 9: charitatem fraternitatis, et cetera. Item spei, quae facit patienter sustinere adversa. Rom. XII, 12: spe gaudentes, in tribulatione patientes. Et sustinentiae, quam spes facit. Iac. V, 11: patientiam Iob audistis, et cetera. Spei, inquam, domini nostri, id est, quam habemus de Christo, vel quam Christus dedit nobis. I Petr. I, 3: regeneravit nos in spem vivam, et cetera. Haec spes est ante Deum, non ante oculos hominum. Matth. VI, 1: atten-dite ne iustitiam vestram faciatis coram hominibus, et cetera. Hebr. VI, 19: quam sicut anchoram habemus animae tutam, et cetera. Spes enim in veteri testamento non induxit ad Deum.

Deinde cum dicit scientes, fratres, in speciali commemorat eorum bona, quos primo commendat, quod devote et prompte susceperunt praedicatio-nem, non obstante tribulatione; secundo quod propter tribulationem ab ea non recesserunt, in II capite, ibi nam ipsi scitis. Iterum prima pars dividitur in duas, quia primo ostendit qualis fuit ista praedicatio; secundo qualiter ab eis recepta, ibi et vos imitatores. Circa primum tria facit, quia primo os-tendit quid circa eos sciebat; secundo modum praedicationis suae, ibi quia Evangelium. Tertio quid ipsi sciebant de apostolo, ibi sicut scitis.

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35Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. I

8. Quanto ao primeiro, pois, diz três coisas que devem estar na ação de graças. Primeira, ela deve ser ordenada, ou seja, [deve dirigir-se] a Deus. Por isso diz: Damos graças a Deus. Sal. 84, 11: O Senhor dará graça e glória. Tia. 1, 17: Toda a dádiva excelente e todo o dom perfeito vem do alto e descende do Pai das luzes. Ademais, deve ser assídua, razão por que [diz] sempre. Por fim, deve ser universal: por todos vós. I Tess. 5, 18: por tudo dai graças.

9. Em seguida, ora por eles, dizendo: fazendo continuamente memória de vós, etc., como se dissesse: Toda vez que oro, tenho-vos na memória. Romanos 1, 9: Incessantemente faço menção de vós nas minhas orações.

10. Em seguida, quando diz: lembrando-nos da obra, põe os bens pelos quais rende graças, ou seja, a fé, a esperança e a caridade. I Cor. 13, 13: Agora, pois, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança, a caridade, etc. Antepõe a fé, porque é a substância das coisas que se esperam, etc. É necessário que o que se aproxima de Deus creia (Heb. 11, 1 e 6). Mas esta não é suficiente, se não tem operação e labor. Por isso diz: a obra e o trabalho da vossa fé. Tia. 2, 26: A fé sem obras é morta. Igualmente, porque se o que trabalha por Cristo é derrota-do, sua fé de nada lhe serve. Luc. 8, 13: até certo tempo crêem, mas no tempo da tentação voltam atrás. Por isso diz: a obra e o trabalho. É como se dissesse: lembrando-nos de vossa fé que opera e trabalha. [Lembra-lhes] também a caridade, em cujas obras abundam. I Tess. 4, 9: caridade da fraternidade, etc. Igualmente, a esperança, que os faz suportar pacientemente as adversidades. Rom. 12, 12: alegres na esperança, pacientes na tribulação. E a constância, que a esperança produz. Tia. 5, 11: Vós ouvistes falar da paciência de Jó, etc. A es-perança, diz ele, de Nosso Senhor, isto é, que temos em Cristo, ou que Cristo nos deu. I Ped. 1, 3: regenerou-nos para uma esperança viva, etc. Esta esperança é perante Deus, não perante os olhos dos homens. Mat. 6, 1: guardai-vos de fazer vossa justiça diante dos homens, etc. Heb. 6, 19: Temos a esperança como âncora segura da alma, etc. Com efeito, a esperança no Antigo Testamento não conduziu a Deus.

11. Em seguida, quando diz: sabemos, irmãos, lembra-lhes os bens em par-ticular. Primeiro, louva-os por terem devota e prontamente aceitado a prega-ção, não obstante a tribulação. Segundo, por não retrocederem dela por causa da tribulação, no cap. 2, 1: Efetivamente sabeis, etc. A primeira parte divide-se em duas, porque primeiro mostra de que sorte foi esta pregação; depois, como foi por eles recebida: E vós vos fizestes imitadores nossos, etc. Quanto ao primeiro faz três coisas: primeiro, mostra o que sabia acerca deles; segundo, o modo de sua pregação: porque nosso Evangelho, etc.; terceiro, o que eles sabiam sobre o Apóstolo: sabeis, etc.

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36 Santo Tomás de Aquino

Dicit ergo o fratres dilecti a Deo. Non solum communiter, inquantum dat esse naturae, sed inquantum specialiter ad bona aeterna estis vocati. Mal. I, 2: Iacob dilexi, Esau autem odio habui, et cetera. Deut. XXXIII, 3: dilexit populos, et cetera. Electionem vestram. Quasi dicat: certitudina-liter cognosco vos esse electos, quia hanc electionem non meruistis, sed a Deo estis gratuite electi. Et hoc scio, quia Deus dedit mihi magnum argumentum in praedicatione, scilicet quod illi, quibus loquor, sunt a Deo electi, scilicet quando Deus dat eis gratiam fructuose audiendi ver-bum eis praedicatum, vel mihi gratiam copiose praedicandi eis. Contra videtur esse quod dicitur Ezech. III, 26: et linguam tuam adhaerere fa-ciam palato tuo, et cetera.

Ideo primo commemorat quam virtuose eis praedicavit, secundo indu-cit eorum testimonium, ibi sicut scitis. Virtuose quidem, quia non fuit in sublimitate sermonis, sed in virtute. I Cor. II, v. 4: sermo meus et praedi-catio mea non in persuasibilibus humanae sapientiae verbis, sed in ostensione spiritus et virtutis. I Cor. IV, v. 20: non enim in sermone est regnum Dei, sed in virtute. Vel potest referri ad confirmationem praedicationis, vel ad modum praedicandi. Si ad primum, sic confirmata fuit praedicatio mea vobis, non argumentis, sed virtute miraculorum. Unde dicitur Mc. ult.: domino cooperante et sermonem confirmante sequentibus signis. Item in da-tione spiritus sancti; unde dicit: et in spiritu sancto. Act. c. X, 44: adhuc loquente Petro verba haec, cecidit spiritus sanctus super omnes, qui audiebant verbum, et cetera. Hebr. II, 4: contestante Deo signis et portentis et variis vir-

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37Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. I

12. Diz, pois, irmãos amados de Deus, não só em comum, enquanto Deus vos dá o ser da natureza, mas enquanto sois especialmente chamados aos bens eternos. Mal. 1, 2-3: Amei Jacó, mas aborreci Esaú, etc. Deut. 33, 3: Ele amou os povos, etc. Vossa eleição. Como se dissesse: com toda a certeza reconheço-vos eleitos, porque não merecestes a eleição, mas fostes eleitos gratuitamente por Deus. E isto eu sei porque Deus me deu um grande argumento na pregação, ou seja, aqueles a quem falo são eleitos de Deus, quando Deus lhes dá a graça de ouvir frutuosamente a palavra que lhes é pregada, ou quando me dá a graça de pregar-lhes copiosamente. Ezequiel 3, 26 parece, porém, contradizê-lo: e eu farei que a tua língua se pegue ao teu paladar, etc.

13. Por isso, primeiro, lembra quão virtuosamente lhes pregou; segun-do, induz a seu testemunho: como sabeis. Em verdade pregou virtuosamente, porque não o fez com sermão sublime, mas com virtude. I Cor. 2, 4: A minha conversação e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas da hu-mana sabedoria, mas na manifestação do espírito e da virtude. I Cor. 4, 20: O reino de Deus não consiste nas palavras, mas na virtude. Ou isto pode referir-se à confirmação da pregação, ou à maneira de pregar. Se se refere ao primeiro: minha pregação foi confirmada entre vós, não por argumentos, mas pela vir-tude dos milagres.4 Mar. 16, 20: Cooperando com eles o Senhor, e confirmando sua pregação com os milagres que a acompanhavam. Também foi confirmada pela doação do Espírito Santo. Por isso diz: no Espírito Santo. Atos 10, 44: Estando Pedro ainda proferindo estas palavras, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a pregação, etc. Heb. 2, 4: Comprovando Deus o seu testemunho

4 “Virtude” é um termo que, no glossário da metafísica tomista, possui o sentido geral de hábito ope-rativo bom, sendo este a realidade intermediária entre o ato e a potência que auxilia o ente a alcançar o fim ao qual está teleologicamente orientado. Mas no caso da “virtude dos milagres” se trata duma força vinda do alto, pois “milagre”, na acepção da palavra, é evento extraordinário que não obedece à ordem natural, nas coisas em que se dá. A etimologia do termo (do latim miror, ari = admirar-se) aponta tratar-se de algo que não sucede natural ou habitualmente. O milagre não é uma operação oculta da natureza, pois neste caso a sua fonte não seria divina; a propósito, ter uma causa oculta é aspecto acidental, e não essencial, do milagre. Santo Tomás arrola, na Suma Contra os Gentios (III, c.101) três gêneros de milagres: a) Quando Deus faz uma coisa que a natureza não pode realizar em nenhuma hipótese (ressurreição dos corpos, transubstanciação eucarística, etc); b) Quando Deus faz algo que, por princípio, a natureza poderia realizar, se não houvesse impedimentos acidentais (que um paralítico volte a andar e um cego volte a ver, considerando-se que andar e ver são possibilidades metafísicas inscritas na forma entis humana); c) Quando Deus faz algo servindo-se instrumentalmen-te das potências inscritas na natureza, para apressar um processo que ela mesma realizaria por virtude própria (a cura de uma febre, por exemplo). Leia-se a respeito do caráter sobrenatural dos milagres, na perspectiva tomista, em: http://contraimpugnantes.blogspot.com.br/2011/01/milagre-o-que-e-como-e-e-de-onde-provem.html [N. C.]

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38 Santo Tomás de Aquino

tutibus et spiritus sancti distributionibus. Et in plenitudine, et cetera. Et hoc addit, ne crederent se minus recepisse quam Iudaei; quasi dicat: spiritus sanctus non est personarum acceptor, sed in ea plenitudine fuit apud vos sicut apud Iudaeos. Act. II, 4: repleti sunt omnes spiritu sancto, et cetera. Sed si ad secundum, sic in virtute, id est virtuosam vitam vobis ostendens. Act. I, 1: coepit dominus facere et docere. Et in spiritu sancto, scilicet sugge-rente. Matth. X, v. 20: non estis vos qui loquimini, et cetera. In plenitudine multa, scilicet quia instruxi vos de omnibus ad fidem necessariis.

Inducit autem eorum testimonium ad hoc, cum dicit sicut vos scitis, etc., id est, qualia dona et virtutes ostendimus in vobis. II Cor. V, 11: spero autem in conscientiis vestris manifestos nos esse.

Deinde cum dicit et vos imitatores, etc., ostendit quomodo praedicatio-nem suam virtuose receperunt, nec propter tribulationes recesserunt. Et primo ostendit eorum virtutem in hoc, quod alios imitati sunt; secundo quod aliis se imitabiles praestiterunt, ibi ita ut facti sitis.

Circa primum duo facit, quia primo ostendit quos sunt imitati; secun-do in quibus sunt imitati, ibi: excipientes. Circa primum dicit, quod imitati sunt eos quos debuerunt, scilicet praelatos. Et ideo dicit imitatores nostri facti, et cetera. Phil. III, v. 17: imitatores mei estote, fratres. Sed imitati sunt non eo in quo delinquimus sicut homines, sed in quo imitamur Christum. Unde et dicitur I Cor. IV, 16: imitatores mei estote, sicut et ego Christi, id est, in quo imitatus sum Christum, scilicet in patientia tribulationis. Mat-th. XVI, 24: si quis vult post me venire, abneget semetipsum, et tollat crucem suam, et sequatur me. I Petr. c. II, 21: Christus passus est pro nobis, vobis relinquens exemplum, ut sequamini vestigia eius. Et ideo dicit in tribulatione multa cum gaudio, id est, quamvis multa tribulatio immineret propter ver-bum, tamen illud accepistis cum gaudio. Iac. I, 2: omne gaudium existima-te, fratres mei, cum in tentationes varias incideritis, et cetera. Act. V, 41: ibant apostoli gaudentes a conspectu Concilii, quoniam digni habiti sunt pro nomine Iesu contumeliam pati. Cum gaudio, inquam, spiritus sancti, non alio quocu-mque, qui est amor Dei, qui facit gaudium patientibus propter Christum, quia amant eum. Cant. VIII, 7: si dederit homo omnem substantiam domus suae pro dilectione, quasi nihil despiciet eam.

Et sic estis imitatores nostri, quod scilicet aliis estis imitabiles. Unde dicit ita ut facti sitis, et cetera. Circa quod tria facit, quia primo ostendit eos esse imitabiles; secundo quomodo eorum fama divulgata est, ibi a

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39Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. I

por meio de sinais, maravilhas, várias virtudes e distribuições de Espírito Santo. E em plenitude, etc. Acrescenta isto para que não creiam ter recebido menos do que os judeus. Como se dissesse: o Espírito Santo não faz acepção de pessoas, mas esteve convosco na mesma plenitude com que esteve com os judeus. At. 2, 4: foram todos cheios do Espírito Santo, etc. Mas se se refere ao segundo: em virtude, isto é, exibindo-vos uma vida virtuosa. At. 1, 1: Jesus começou a fazer e a ensinar. E no Espírito Santo, ou seja, por seu impulso. Mat. 10, 20: Não sereis vós que falais, etc. Em grande plenitude, porque vos instruí em todas as coisas necessárias à fé.

14. Induz, porém, o testemunho dos fiéis ao dizer: como vós sabeis, etc., isto é, quais dons e virtudes mostramos a vós. II Cor. 5, 11: Espero que também sejamos conhecidos das vossas consciências.

15. Quando diz em seguida: e vós vos fizestes imitadores nossos, etc., mostra como aceitaram sua pregação virtuosamente, sem recuar por causa das tribu-lações. Primeiro, mostra a sua virtude em imitar os outros; segundo, em se apresentarem como dignos de ser imitados: de modo que vos tornastes.

16. Quanto ao primeiro faz duas coisas; primeiro, mostra os que foram imitados; segundo, em que os imitaram: recebendo. Quanto ao primeiro diz que eles imitaram os que deviam ser imitados, ou seja, os prelados. E por isso diz: vós vos fizestes imitadores nossos. Fil. 3, 17: Sede meus imitadores, ir-mãos. Mas não nos imitaram naquilo em que prevaricamos como homens, e sim naquilo em que imitamos a Cristo. Por isso também diz em I Cor. 4, 16: Sede meus imitadores, como eu o sou do Cristo, isto é, naquilo em que imitei a Cristo, a saber, na paciência em tempo de tribulação. Mat. 16, 24: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. I Ped. 2, 21: Cristo também sofreu por nós, deixando-vos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. E por isso diz: no meio de muita tribulação, com a alegria, isto é, conquanto muitas tribulações os ameaçassem por causa da palavra, contudo vós a aceitastes com gáudio. Tia. 1, 2: Tende por um motivo da maior alegria para vós as tribulações que vos afligem, etc. At. 5, 41: Os apóstolos saíam da presença do conselho, contentes por terem sido achados dignos de sofrer pelo nome de Jesus. Com a alegria, diz ele, do Espírito Santo, e não de outro qualquer, pois ele é o amor de Deus, que engendra alegria nos que sofrem por Cristo porque o amam. Cant. 8, 7: Ainda que um homem dê todas as riquezas de sua casa pelo amor, ele as desprezará como nada.

17. E vós sois nossos imitadores de tal modo que podeis ser imitados por outros. Por isso diz: de modo que vos tornastes, etc. Quanto a isso enuncia três coisas: primeira, mostra que são imitáveis; segunda, como sua fama foi divul-

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40 Santo Tomás de Aquino

vobis enim diffamatus; tertio quomodo ab omnibus laudabantur populis, ibi ipsi enim annuntiant.

Dicit ergo: ita perfecte nos imitati estis, ut sitis facti forma, id est, exem-plum vitae, non solum in terra vestra, sed in aliis. Matth. V, 16: sic luceat lux vestra coram hominibus, ut videant opera vestra, et cetera.

Sed credentibus forma facti estis quibus fides vestra innotuit. Ad quod bonitas vestra accessit. A vobis enim diffamatus est sermo domini, id est, praedicandi dominum, id est, vestra fama diffusa est, non tantum in Mace-donia et Achaia, quae sunt vobis vicinae, sed fides vestra ad Deum perfecta, id est, quam Deus acceptat, et quae coniungit vos Deo, quae etiam est in omni loco divulgata. Rom. I, 8: fides vestra annuntiatur in universo mundo, et cetera. Et signum huius est, quia non est necesse, et cetera. Boni enim praedicatoris est bona aliorum in exemplum adducere. II Cor. IX, 2: vestra enim aemulatio provocavit plurimos.

Deinde cum dicit ipsi enim, etc., ponit eorum laudem qua ab aliis laudabantur, quia de nobis annuntiant, et cetera. Prov. ult.: laudent illam in portis opera eius. Laudant autem in vobis meam praedicationem et ves-tram conversionem. Annuntiant ergo qualem introitum habuerimus ad vos, quia cum magna difficultate et in tribulationibus. Laudant etiam vestram conversionem.

Et ostendit quomodo, a quo, et ad quid conversi sunt. Quo ad primum dicit et quomodo conversi estis ad Deum, id est, quam faciliter, et perfecte. Ioel. II, 12: convertimini ad me in toto corde vestro, et cetera. Eccli. V, 8: ne tardes converti ad dominum, et ne differas de die in diem. Quo ad secundum dicit a simulacris. I Cor. XII, 2: scitis quoniam cum gentes essetis, ad simula-cra muta prout ducebamini euntes. Quo ad tertium dicit servire Deo, scilicet servitute latriae, non creaturae, sed Deo. Contra quod dicitur Rom. I, 25: servierunt creaturae potius quam creatori, et cetera. Et dicit vivo, ut excludat idololatriae cultum, quia idololatrae colebant quosdam mortuos, quorum animas dixerunt deificatas, sicut Romulum et Herculem. Et ideo dicit vivo. Deut. XXXII, 40: vivo ego in aeternum. Item quia Platonici putabant quasdam substantias separatas deos esse participatione, dicitur vero, non participatione divinae naturae, sed quia servientes ei sunt remunerandi.

Ideo, quia sic estis, restat ut remunerationem expectetis. Unde dicit et expectare filium eius, scilicet Dei, de caelis descendentem. Lc. XII, 36: et vos similes hominibus expectantibus dominum suum quando revertatur a

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41Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. I

gada: por meio de vós se difundiu, etc.; terceira, como são louvados por todos os povos: eles mesmos publicam, etc.

18. Portanto, diz: vós nos imitastes tão perfeitamente de modo que vos tor-nastes modelo, ou seja, um exemplo de vida, não só em vossa terra, mas em outras. Mat. 5, 16: Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, etc.

19. Porém vos tornastes exemplo para os fiéis aos quais a vossa fé se fez conhecida, aos quais chegou a vossa bondade. Por meio de vós se difundiu a pa-lavra do Senhor, isto é, ao pregar o Senhor, propagou-se vossa fama, não só pela Macedônia e pela Acácia, que vos são próximas, mas a fé perfeita que tendes em Deus – aquela que Deus aceita e que vos une a Ele – propagou-se também por toda a parte. Rom. 1, 8: Vossa fé é celebrada em todo o mundo, etc. E um sinal disto é que não temos necessidade de dizer coisa alguma. Pois o bom pregador propõe o bem feito pelos outros como exemplo. II Cor. 9, 2: O vosso zelo tem estimulado muitos.

20. Ao dizer em seguida: De fato eles mesmos, etc., põe o louvor que eles recebem dos outros, pois são eles mesmos que publicam, etc. Prov. 31, 31: e as suas obras a louvam nas portas da cidade. Louvam, porém, em vós a minha pregação e a vossa conversão. Anunciam, pois, a aceitação que tivemos entre vós, pois padecíamos grande dificuldade e tribulações. Louvam também vos-sa conversão.

21. E indicam como, de que e a que fostes convertidos. Quanto ao primei-ro diz: como vos convertestes a Deus, isto é, quão facilmente e perfeitamente. Joel 2, 12: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, etc. Eclo. 5, 8: Não tar-des em te converter ao Senhor, e não difiras de dia para dia. Quanto ao segundo, diz: dos simulacros. I Cor. 12, 2: Sabeis que, quando éreis gentios, concorríeis aos simulacros mudos, conforme éreis levados. Quanto ao terceiro, diz: para servirdes a Deus, ou seja, prestando a Deus, e não à criatura, um culto de adoração. Isto é o contrário do dito em Rom. 1, 25: adoraram e serviram à criatura de preferência ao Criador, etc. Diz vivo para excluir o culto idolátrico, já que os idólatras adoravam alguns mortos cujas almas diziam ser deificadas, como a de Rômulo e a de Hércules. Deut. 32, 40: Eu vivo eternamente. Igualmente, porque os platônicos acreditavam que certas substâncias separadas eram deu-ses por participação, diz verdadeiro, não por participação da natureza divina, mas porque Deus recompensa os que o servem.

22. Por isso, como sois servos dele, resta-vos esperar a recompensa. Por isso diz: para esperardes a seu Filho, ou seja, o Filho de Deus, descendo do céu. Luc. 12, 36: Fazei como os homens que esperam o seu senhor quando volta das

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42 Santo Tomás de Aquino

nuptiis. Is. XXX, 18: beati omnes qui expectant eum. Illi autem sunt, qui sunt lumbis praecincti. Duo autem expectamus, scilicet resurrectionem, ut scilicet ei conformemur. Unde dicit quem suscitavit ex mortuis Iesum. Rom. c. VIII, 11: qui suscitavit Iesum Christum a mortuis, vivificabit et mortalia corpora vestra, et cetera. Phil. III, 21: reformabit corpus humilitatis nostrae configuratum corpori claritatis suae. Item liberari a poena futura, quae imminet reis. A causa autem poenae, scilicet a peccato, liberamur per Christum. Unde dicit qui eripuit nos, et cetera. Apoc. VI, 16: abscondite vos a facie sedentis super thronum et ab ira agni, et cetera. Ab hac ira nullus potest nos liberare nisi Christus. Matth. III, 7: quis demonstrabit vobis fugere a ventura ira?

CAPUT 2Lectio I

1Αὐτοὶ γὰρ οἴδατε, ἀδελφοί, τὴν εἴσοδον ἡμῶν τὴν πρὸς ὑμᾶς ὅτι οὐ κενὴ γέγονεν, 2ἀλλὰ προπαθόντες καὶ ὑβρισθέντες καθὼς οἴδατε ἐν Φιλίπποις ἐπαρρησιασάμεθα ἐν τῷ θεῷ ἡμῶν λαλῆσαι πρὸς ὑμᾶς τὸ εὐαγγέλιον τοῦ θεοῦ ἐν πολλῷ ἀγῶνι. 3ἡ γὰρ παράκλησις ἡμῶν οὐκ ἐκ πλάνης οὐδὲ ἐξ ἀκαθαρσίας οὐδὲ ἐν δόλῳ, 4ἀλλὰ καθὼς δεδοκιμάσμεθα ὑπὸ τοῦ θεοῦ πιστευθῆναι τὸ εὐαγγέλιον οὕτως λαλοῦμεν, οὐχ ὡς ἀνθρώποις ἀρέσκοντες ἀλλὰ θεῷ τῷ δοκιμάζοντι τὰς καρδίας ἡμῶν. 5οὔτε γάρ ποτε ἐν λόγῳ κολακείας ἐγενήθημεν, καθὼς οἴδατε, οὔτε ἐν προφάσει πλεονεξίας, θεὸς μάρτυς, 6οὔτε ζητοῦντες ἐξ ἀνθρώπων δόξαν, οὔτε ἀφ’ ὑμῶν οὔτε ἀπ’ ἄλλων, 7δυνάμενοι ἐν βάρει εἶναι ὡς Χριστοῦ ἀπόστολοι. ἀλλὰ ἐγενήθημεν νήπιοι ἐν μέσῳ ὑμῶν, ὡς ἐὰν τροφὸς θάλπῃ τὰ ἑαυτῆς τέκνα, 8οὕτως ὁμειρόμενοι ὑμῶν εὐδοκοῦμεν μεταδοῦναι ὑμῖν οὐ μόνον τὸ εὐαγγέλιον τοῦ θεοῦ ἀλλὰ καὶ τὰς ἑαυτῶν ψυχάς, διότι ἀγαπητοὶ ἡμῖν ἐγενήθητε. 9μνημονεύετε γάρ, ἀδελφοί, τὸν

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43Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. II

bodas. Is. 30, 18: ditosos todos os que o esperam. Estes são os que têm os rins cingidos. Há duas coisas, porém, que esperamos: primeira, a ressurreição, para que assim nos conformemos a Ele. Por isso diz: a quem Ele ressuscitou dos mortos, Jesus. Rom. 8, 11: Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, etc. Fil. 3, 21: Transformará o nosso corpo de miséria, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso. Segunda, a libertação da pena futura reservada aos réprobos.5 Mas somos libertos da causa da pena, ou seja, do pecado, por Cristo. Por isso diz: o qual nos livrou da ira que há de vir. Apoc. 6, 16: Escondei-nos da face daquele que está sentado sobre o trono e da ira do Cordeiro. Ninguém pode livrar-nos desta ira senão Cristo. Mat. 3, 7: Quem vos ensinou a fugir à ira vindoura?

CAPÍTULO IIPrimeira leitura – I Tessalonicenses 2, 1-12

[23]1Efetivamente sabeis, irmãos, que a nossa ida a vós não foi sem fruto, [25]2pois, tendo primeiro sofrido e tolerado afrontas (como sabeis) em Filipos, tivemos confiança em nosso Deus para vos pregar o Evangelho de Deus no meio de muitos obstáculos. [26]3A nossa exortação não pro-cedeu de erro, nem de malícia, nem de fraude, [28]4mas, como fomos aprovados por Deus, para que nos fosse confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus, que sonda os nos-sos corações; [31]5realmente a nossa linguagem nunca foi de adulação, como sabeis, nem um pretexto de avareza; Deus é testemunha; [32]6nem buscamos glória dos homens, quer de vós, quer de outros. [33]7Poden-do, como apóstolos de Cristo, ser-vos de algum peso, fizemo-nos peque-nos entre vós, como a mãe que cerca de ternos cuidados os seus filhos. 8Assim, amando-vos muito, ansiosamente desejávamos dar-vos não só o Evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias vidas, porquanto nos éreis muito queridos. [35]9Certamente vos lembrais, irmãos, do nosso

5 Em sentido teológico, predestinação à salvação e reprovação são tópicos da providência divina. Embora, para a escola tomista, seja verdadeiro que Deus nega a graça da perseverança final ao répro-bo, isto não significa que este estivesse predestinado a perder-se. Façamos referência a dois aspectos importantes: 1- Deus é causa indireta da impenitência final, porque, como castigo aos graves pecados precedentes de um homem, nega-lhe a graça eficaz pela qual ele poderia levantar-se do estado de pecado; 2- Deus é causa direta da imposição da pena eterna. Mas não se perca de vista que a causa da impenitência final é exclusivamente o pecado, nunca Deus. Ver Suma Teológica, I, q. 23, De Pre-destinatione. [N. C.]

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κόπον ἡμῶν καὶ τὸν μόχθον: νυκτὸς καὶ ἡμέρας ἐργαζόμενοι πρὸς τὸ μὴ ἐπιβαρῆσαί τινα ὑμῶν ἐκηρύξαμεν εἰς ὑμᾶς τὸ εὐαγγέλιον τοῦ θεοῦ. 10ὑμεῖς μάρτυρες καὶ ὁ θεός, ὡς ὁσίως καὶ δικαίως καὶ ἀμέμπτως ὑμῖν τοῖς πιστεύουσιν ἐγενήθημεν, 11καθάπερ οἴδατε ὡς ἕνα ἕκαστον ὑμῶν ὡς πατὴρ τέκνα ἑαυτοῦ 12παρακαλοῦντες ὑμᾶς καὶ παραμυθούμενοι, καὶ μαρτυρόμενοι εἰς τὸ περιπατεῖν ὑμᾶς ἀξίως τοῦ θεοῦ τοῦ καλοῦντος ὑμᾶς εἰς τὴν ἑαυτοῦ βασιλείαν καὶ δόξαν.

Supra commendavit eos, quod in tribulationibus verbum Dei recepe-runt, hic commendat eos, quod ab eo non recesserunt propter tribulatio-nes. Et circa hoc tria facit, quia primo commemorat eorum tribulationes; secundo ostendit quale eis remedium adhibuit, in III capite, ibi propter quod; tertio propter quid quia nunc vivimus. Quia vero supra dixit de eis nuntiari ab omnibus introitum apostoli ad eorum conversionem, ideo pri-mo agit de introitu suo; secundo de eorum conversione, ibi ideo et nos gra-tias. Circa primum tria facit, quia primo commemorat suam constantiam, quam habuit antequam ad eos veniret; secundo sinceritatem doctrinae per quam eos convertit, ibi exhortatio enim nostra; tertio sinceritatem suae conversationis cum conversis, ibi vos enim. Iterum prima in duas, quia primo praemittit tribulationes, quas passus est antequam ad eos veniret; secundo quomodo fiduciam ex hoc non amisit, ibi fiduciam habuimus.

Dicit ergo: dico quod annuntiat introitum nostrum, quem et vos scitis, quoniam non fuit inanis, etc., id est levis, sed difficilis, quia per multas tribulationes. Vel non inanis, id est vacuus, sed plenus. Gen. c. I, 2: terra erat inanis et vacua, et cetera. Vel non inanis, id est mobilis, sed stabilis. Phil. c. II, 17: non in vanum cucurri, neque in vacuum laboravi. Sed ante sumus passi passiones corporales. Prov. XIX, 11: doctrina viri per patien-tiam noscitur. Ps. XCI, 15: bene patientes erunt, ut annuntient. Item spiri-tuales, quia contumeliis ex hoc affecti in Philippis, ubi propter curationem pythonissae passus est tribulationes. Et haec civitas est Macedoniae.

Nec tamen propter haec fiducia praedicandi est extincta. Is. XII, 2: ecce Deus salvator meus, fiducialiter agam, et non timebo. Et haec fiducia fuit pra-

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trabalho e fadigas; trabalhando de noite e de dia para não sermos pesados a nenhum de vós, pregamos entre vós o Evangelho de Deus. [36]10Vós e Deus sois testemunhas de quão santa e justa e irrepreensivelmente proce-demos convosco, que crestes, [38]11assim como sabeis de que maneira a cada um de vós (como um pai a seus filhos) 12vos andávamos exortando, confortando e suplicando que andásseis de uma maneira digna de Deus, que vos chamou ao seu reino e glória.

23. Acima, ele os louvou por haverem recebido a palavra de Deus apesar das tribulações, aqui ele os louva por não haverem abandonado a palavra por causa das tribulações. Acerca disto, faz três coisas: primeira, lembra-lhes as tribulações; segunda, mostra qual remédio lhes ofereceu, no capítulo 3, 1: Pelo que, etc.; terceiro, qual foi o motivo (3, 8): Porque agora vivemos, etc. E, já que antes disse que todos publicam a vinda do Apóstolo até eles em vista de sua própria conversão, primeiro trata de sua chegada; segundo, da sua conversão: Por isso, também nós damos sem cessar graças a Deus, etc. Acerca do primeiro faz três coisas: primeira, comemora a sua própria constância antes de ter com eles; segunda, a sinceridade da doutrina pela qual os converteu: A nossa exortação, etc.; terceira, a sinceridade da sua conduta com os conversos: Porque vós, etc. Igualmente, a primeira parte se subdivide em duas: primeiro, antepõe as tri-bulações que padeceu antes de vir a eles; segundo, de que modo não perdeu a confiança por causa delas: tivemos confiança em nosso Deus, etc.

24. Diz, portanto: a nossa ida a vós é notável porque, como bem sabeis, ela não foi inane, etc., ou seja, não foi fácil, porém muito difícil por causa das muitas tribulações. Ou então: não foi vã, isto é, vazia, mas plena. Gên. 1, 2: A terra estava inane e vazia, etc. Ou ainda: não foi inane, isto é, passageira, mas foi estável. Fil. 2, 16: Não corri em vão, nem trabalhei em vão. Mas, tendo primeiro sofrido paixões no corpo. Prov. 19, 11: A doutrina do homem conhece--se pela paciência. Sal. 91, 15-16: E estarão cheios de vigor, para anunciar. Ou então tribulações espirituais, pois toleramos afrontas em Filipos, onde por causa da cura da pitonisa ele padeceu tribulações. E esta cidade é da Macedônia.

25. Nem por isso se extinguiu a confiança de pregar.6 Isa. 12, 2: Eis que Deus é o meu Salvador; viverei cheio de confiança e não temerei. Tivemos esta confiança

6 Para Santo Tomás, confiança é uma esperança fortalecida por inabalável convicção (cf. Suma Teoló-gica, IIª-IIª, q. 129, art. 6, ad.3). Está é a convicção da fé, que tem como uma de suas propriedades justamente a confiança – convicção espiritual sem a qual o cristão é incapaz de encontrar remédios para os dramas de sua própria alma, de suportar as injustiças, etc. [N. C.]

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edicandi ad vos Evangelium Dei in multa sollicitudine de vestra conversione. Rom. XII, 8: qui praeest in sollicitudine. II Cor. XI, 28: praeter ea quae extrin-secus sunt, instantia mea quotidiana, sollicitudo omnium Ecclesiarum.

Deinde cum dicit exhortatio, ostendit sinceritatem suae praedicationis. Et circa hoc duo facit, quia primo probat sinceritatem suae doctrinae; secundo quaedam quae dixerat, exponit, ibi non quasi hominibus. Circa primum duo facit, quia primo excludit corruptionem doctrinae; secundo ponit sinceritatem, ibi sed sicut probati.

Doctrina autem corrumpitur vel propter rem quae docetur, vel propter intentionem docentis. Propter primum dupliciter corrumpitur doctrina, scilicet vel per errorem, sicut docens salutem esse per Christum cum lega-libus. II Tim. III, 13: mali homines et seductores proficient in peius errantes, et in errorem alios mittentes. Ideo dicit exhortatio enim nostra non est, sicut aliquorum, de errore. Vel propter immunditiam, sicut dicentium vacan-dum esse voluptatibus, quae doctrina est a quodam Nicolao, qui permisit promiscua matrimonia, communicans alii suam uxorem; ideo dicit neque de immunditia. Ap. II, v. 20: permittis mulierem Iezabel, quae se dicit pro-phetam, docere et seducere servos meos fornicari, et manducare de idolotitis, et cetera. Iob VI, 30: non invenietis in lingua mea iniquitatem. Item nec est exhortatio in dolo sicut quorumdam, qui licet verum dicant, habent ta-men intentionem corruptam, quia non profectum auditorum neque Dei honorem, sed suum quaerunt honorem. Contra quod dicit neque in dolo. Ier. IX, 8: sagitta vulnerans lingua eorum, dolum locuta est, et cetera.

Sua ergo praedicatio non est corrupta, sed sincera. Sincerum autem ali-quid est, quod servat suam naturam. Tunc autem est praedicatio sincera, quando quis docet eo tenore et fine quo Christus docuit. Et ideo dicit sed sicut probati, id est, eo modo et ea intentione qua Deus nos elegit et appro-bavit ad praedicandum Evangelium loquimur. Gal. II, 7: creditum est mihi

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para vos pregar o Evangelho de Deus com muita solicitude de vossa conversão. Rom. 12, 8: o que preside, seja solícito. II Cor. 11, 28: Além destas coisas que são exteriores, tenho também a minha preocupação cotidiana, a solicitude de todas as igrejas.

26. Quando diz em seguida: a nossa exortação, etc., mostra a singeleza de sua pregação. Quanto a isto, faz duas coisas: primeira, demonstra a singeleza de sua doutrina; segunda, expõe certas coisas que disse: Não falamos para agradar os homens, etc. Quanto à primeira, faz duas coisas: antes de tudo, afasta a corrupção da doutrina; em seguida, afirma a sua singeleza: como fomos aprovados, etc.

27. Ora, a doutrina se corrompe ou pela coisa que se ensina, ou pela in-tenção daquele que ensina. Por causa do primeiro, a doutrina se corrompe de dois modos: primeiro, pelo erro; por exemplo, quando se diz que a salvação é alcançada por Cristo e pela observância da Lei. II Tim. 3, 13: Os homens maus e sedutores irão de mal a pior, errando e induzindo outros ao erro. Por isso diz: A nossa exortação não procede de erro, como a de alguns outros. Segundo, pela imundícia; por exemplo, a doutrina dos que permitem o entregar-se às volúpias, doutrina essa de um certo Nicolau,7 que permitia matrimônios pro-míscuos, em que a esposa era compartilhada com outros. Por isso diz: nem de imundícia. Apoc. 2, 20: Permites a Jesabel, que se diz profetisa, ensinar e seduzir os meus servos, para fornicarem e comerem das coisas sacrificadas aos ídolos, etc. Jó 6, 30: Não encontrareis iniqüidade na minha língua. Igualmente, a exortação tampouco é fraudulenta, como a de outros, que, embora digam a verdade, têm contudo intenção corrupta, porque não buscam o proveito dos ouvintes nem a honra de Deus, mas buscam sua própria honra. Contra estes diz: nem de fraude. Jer. 9, 8: A língua deles é uma seta que fere, e falou o dolo, etc.

28. Sua pregação não é, pois, corrupta, mas singela. Ora, algo é singelo quando conserva a sua natureza. Portanto, será singela a pregação que for conforme ao teor e ao fim com que Cristo ensinou. Por isso diz: como fomos aprovados, isto é, falamos segundo o modo e a intenção com que Deus nos elegeu e aprovou para pregar. Gál. 2, 7: Foi-me confiado o Evangelho para os

7 Não existem fontes primárias que nos dêem informações precisas acerca da origem e da natureza da seita dos nicolaístas. Vários Padres da Igreja a mencionam – como, por exemplo, Irineu de Lyon, Hipólito de Roma e Clemente de Alexandria. De acordo com Santo Tomás, o grupo incentivava a poligamia e o compartilhamento de esposas com mais de um homem. A opinião mais aceita é de que se tratava de um grupo heretizante dos tempos apostólicos, o qual não deve ser confundido com os nicolaístas de tempos posteriores, que na prática eram contrários ao celibato sacerdotal e cuja posição foi condenada no I Concílio de Latrão, que vetou o casamento de sacerdotes, diáconos, subdiáconos e monges. A propósito, o Papa Nicolau II proibiu leigos de assistirem a missas rezadas por padres amancebados. Sobre o tema, ver Dictionnaire de Théologie Catholique, vol. XI, Paris, Librairie Letou-zey et Ané, 1931, p.499-505. [N. C.]

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Evangelium praeputii, sicut Petro circumcisionis. Act. IX, v. 15: vas electionis est mihi iste, ut portet nomen meum coram gentibus, et regibus, et filiis Israel.

Deinde cum dicit non quasi hominibus, etc., ostendit quod sua pra-edicatio non est in dolo. Primo excludens illud per quod videretur esse dolosa; secundo manifestat per signum, ibi neque aliquando; tertio per causam, ibi neque in occasione.

Propter primum dicit: praedicatio mea non est quasi hominibus placens, scilicet finaliter. Ps. LII, 6: dissipata sunt ossa eorum, qui hominibus placent. Gal. I, 10: si hominibus placerem, Christi servus non essem. Aliquando tamen debent velle placere hominibus propter gloriam Dei, ut praedicatio magis fructificet, sicut dicitur I Cor. X, 33: ego per omnia omnibus placeo, et cetera. Sed Deo, et cetera. Prov. XVI, 2: omnes viae hominum patent oculis eius.

Huius autem signum est, quia non adulati sumus loquentes eis placen-tia. Is. c. XXX, 10: loquimini nobis placentia, videte nobis errores, et cetera. Prov. XXIV, 28: non lactes quemquam labiis tuis, et cetera.

Et idem ostendit per causam. Propter duo enim aliquis quaerit ho-minibus placere, scilicet vel propter beneficia, vel propter gloriam. Hoc autem hic excludit, et primo, primum, dicens neque fuimus, et cetera. Quia non solum adulationem devitamus, sed etiam omnem occasionem avaritiae. I Tim. VI, 5: existimantium quaestum esse pietatem. Ier. VI, 15: a minori quippe usque ad maiorem, omnes avaritiae student. Secundo, se-cundum, ibi neque quaerentes a vobis neque ab aliis gloriam de doctrina, cum haberemus unde possemus gloriari et accipere, imo oneri esse, quia debebant ei gloriam et sustentationem; unde dicit cum possemus. Et vocat onus, quia perverse eis praedicantes ultra modum haec ab eis quaerebant. Is. III, 14: vos enim depasti estis vineam meam, et cetera.

Deinde cum dicit sed facti sumus, etc., manifestat haec duo, et primo quod non quaerit humanam gloriam; secundo quod nec occasionem ava-ritiae, ibi memores enim estis.

Circa primum duo facit; quia primo ostendit suam humilitatem; secun-do sub similitudine ostendit suam sollicitudinem, ibi tamquam si nutrix. Ponit ergo primum, dicens quod facti sumus parvuli, etc., id est humiles. Eccli. XXXII, v. 1: rectorem te posuerunt? Noli extolli, sed esto in illis quasi unus ex ipsis. Quod ostendit in similitudine, dicens tamquam si nutrix, quae scilicet condescendit infanti balbutiendo ei loquens, ut puer loqui discat, et in gestibus ei etiam condescendit. I Cor. IX, 22: omnibus omnia factus sum.

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não circuncidados, como a Pedro para os circuncidados. At. 9, 15: Este é uma instrumento escolhido por mim para levar o meu nome diante das gentes, dos reis e dos filhos de Israel.

29. Quando diz em seguida: não para agradar aos homens, etc., mostra que sua pregação não foi fraudulenta. Primeiro, afasta dela o que poderia in-dicar fraude; segundo, dá um sinal disto: nunca foi; terceiro, indica a causa: nem um pretexto.

30. Quanto ao primeiro diz: a minha pregação não tem por fim agradar aos homens. Sal. 52, 6: Dissipou os ossos dos que procuram agradar aos homens. Gál. 1, 10: Se agradasse aos homens, não seria servo de Cristo. Às vezes, contudo, os pregadores devem querer agradar aos homens por causa da glória de Deus e para que a pregação frutifique mais, como se diz em I Cor. 10, 33: Eu em tudo procuro agradar a todos, etc. Mas, a Deus, etc. Prov. 16, 2: Todos os caminhos dos homens estão patentes aos seus olhos.

31. Um sinal disto é que não os adulamos dizendo-lhes coisas agradáveis. Is. 30, 10: Falai-nos de coisas agradáveis, posto que sejam erros, etc. Prov. 24, 28: Não seduzas a ninguém com os teus lábios, etc.

32. E igualmente indica a causa. Alguém busca agradar aos homens por duas razões: para obter ou algum benefício ou a glória. Mas ele exclui as duas, primeiro dizendo: nunca foi, etc., porque não só evitamos a adulação, mas também qualquer pretexto de avareza. I Tim. 6, 5: Pensam que a piedade é uma fonte de lucro. Jer. 6, 13: Desde o menor até ao maior, todos se entregam à avareza. Quanto ao segundo: Nem buscamos glória, quer de vós, quer de outros por pregar a doutrina, mesmo que pudéssemos esperar disto glória, um salário e ainda o sustento – uma vez que eles lhe deviam a glória e o sustento. Por isso diz: Podendo ser-vos de algum peso. Chama-o peso porque era isto o que os pregadores perversos exigiam deles desmedidamente. Is. 3, 14: Vós devorastes a minha vinha, etc.

33. Em seguida, ao dizer fizemo-nos, etc., manifesta estas duas coisas: pri-meira, que não busca glória humana; segunda, que não busca pretexto para avareza: Certamente vos lembrais, etc.

34. Quanto à primeira faz duas coisas: primeira, mostra a sua humildade; segunda, a sua solicitude, servindo-se de uma símile: como a mãe, etc. Esta-belece, portanto, a primeira dizendo: Fizemo-nos pequenos entre vós, isto é, humildes. Eclo. 32, 1: Puseram-te como chefe? Não te ensoberbeças por isso; sê entre eles um deles mesmos. Mostra isto por uma símile, dizendo: como a mãe, que condescende com o filho, balbuciando ao lhe falar para que a criança aprenda a falar, e que condescende até nos gestos. I Cor. 9, 22: Fiz-me tudo

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I Cor. III, 1: tamquam parvulis in Christo lac vobis potum dedi, non escam. Etiam animas. Io. X, 11: bonus pastor animam suam dat pro ovibus suis, et cetera. Quoniam charissimi, et cetera. II Cor. XII, 15: ego autem libentissime impendam et superimpendar ego ipse pro animabus vestris, et cetera.

Deinde cum dicit memores enim estis, ostendit, secundum, quod su-pra dixerat, scilicet item neque per occasionem avaritiae, quia nihil a vobis sumpsimus, sed de labore, quia laboris, et cetera. Et aliqui laborant qui-dem, sed ex solatio, sed nos non, sed cum labore. Ideo dicit laboris nostri, non propter exercitationem corporis, sed cum fatigatione. Unde dicit et fatigationis. Aliqui etiam laborant de die, nos vero nocte et die. Per hoc enim voluit arcere pseudo, qui nimis accipiebant, et propter otiosos inter eos. I Cor. IV, 12: laboramus operantes manibus nostris, et cetera.

Deinde cum dicit vos enim estis, ponit puritatem suae conversationis, et primo quomodo sancta, quo ad vitam; secundo quomodo sollicita, quo ad doctrinam, ibi qualiter unumquemque.

Dicit ergo: scitis quam sancte, id est pure. Lev. XI, 44 et XIX, 2: sancti estote, quia ego sanctus sum. Iuste, quo ad proximum. Tit. II, 12: sobrie et iuste, et pie vivamus in hoc saeculo. Sine querela, vobis qui credidistis, id est ex quo credidistis nihil agentes, unde quis posset scandalizare unumque-mque vestrum singulariter. Nota quod singularis praedicatio quandoque multum valet.

Tamquam pater. I Cor. IV, 15: in Christo Iesu per Evangelium ego vos genui. Deprecantes. Philem. 8: multam fiduciam habens in Christo Iesu im-perandi tibi quod ad rem pertinet, propter charitatem magis obsecro. Et conso-lantes per verba lenia. Contra quod dicitur Ezech. XXXIV, 4: cum austeri-tate imperabatis eis cum potentia. Is. LXI, 2: ut consolarer omnes lugentes, et ponerem consolationem lugentibus Sion. Et quid praedicasti? Ut digne, id est, ut vestra conversatio esset talis, qualis decet ministros Christi. Col. I, 10: ambuletis digne Deo per omnia placentes. Deo, qui, et cetera. Sap. VI, 21: concupiscentia itaque sapientiae deducet ad regnum perpetuum.

Lectio 2

13Καὶ διὰ τοῦτο καὶ ἡμεῖς εὐχαριστοῦμεν τῷ θεῷ ἀδιαλείπτως, ὅτι παραλαβόντες λόγον ἀκοῆς παρ’ ἡμῶν τοῦ θεοῦ ἐδέξασθε οὐ λόγον

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para todos. I Cor. 3, 1-2: Como a pequeninos em Cristo, nutri-vos com leite, não com alimento sólido. [Desejávamos dar-vos as] nossa próprias vidas. Jo. 10, 11: O bom pastor expõe a sua vida pelas suas ovelhas, etc. Porquanto nos éreis muito queridos, etc. II Cor. 12, 15: Eu de mui boa vontade darei o que é meu e me darei a mim pelas vossas almas, etc.

35. Quando diz em seguida: certamente vos lembrais, desenvolve o segun-do ponto referido acima, a saber: nunca foi um pretexto para avareza, porque nada recebemos de vós, mas sim do nosso trabalho, etc. Há alguns que de fato trabalham, mas com conforto; nós, porém, trabalhamos com fadiga. Diz ele: do nosso trabalho, não um trabalho que exercita o corpo, mas um trabalho fatigante. Por isso acrescenta: e fadigas. Alguns trabalham de dia, nós, porém, trabalhamos de noite e de dia. Por estas palavras, queria preservá-los dos falsos [apóstolos], que recebiam muito, e também dos ociosos. I Cor. 4, 12: Labora-mos, trabalhando com nossas próprias mãos.

36. Quando diz em seguida: vós sois, põe a pureza de sua conduta; primei-ro, como ela foi santa com respeito à sua vida; segundo, como ela foi solícita com respeito à doutrina: assim como sabeis de que maneira, etc.

37. Portanto, diz: sabeis quão santamente, isto é, com quanta pureza. Lev. 11, 44 e 19, 2: Sede santos porque eu sou santo. Quão justamente, com respeito ao próximo. Tit. 2, 12: Vivamos neste século sóbria, justa e piamente. Quão irrepreensivelmente procedemos convosco, que crestes, isto é, nada fiz, desde o momento em que crestes, que pudesse escandalizar alguém entre vós. Vede que a pregação de um só é às vezes muito forte.

38. Como um pai. I Cor. 4, 15: Fui eu que vos gerei em Jesus Cristo por meio do Evangelho, exortando-vos. Filem. 1, 8-9: Ainda que eu tenha muita liberdade em Jesus Cristo para te mandar o que convém, contudo peço-te por caridade. E confortando-vos com doces palavras, ao contrário do que diz Ezequiel (34, 4): Domináveis sobre elas com aspereza e com potência. Is. 61, 2-3: Para consolar todos os que choram, para conceder e dar consolação aos de Sião, que choram. E o que pregaste? Que andásseis dignamente, isto é, que vossa conduta fosse tal que conviesse aos ministros de Cristo. Col. 1, 10: Que andeis de um modo digno de Deus, agradando-lhe em tudo. Deus que [vos chamou ao seu reino e glória]. Sab. 6, 21: O desejo da sabedoria conduz ao reino eterno.

Segunda Leitura – I Tessalonicenses 2, 13-20

[39]13Por isso, também nós damos sem cessar graças a Deus, porque, tendo vós recebido a palavra de Deus, que ouvistes de nós, a abraçastes,

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ἀνθρώπων ἀλλὰ καθώς ἐστιν ἀληθῶς λόγον θεοῦ, ὃς καὶ ἐνεργεῖται ἐν ὑμῖν τοῖς πιστεύουσιν. 14ὑμεῖς γὰρ μιμηταὶ ἐγενήθητε, ἀδελφοί, τῶν ἐκκλησιῶν τοῦ θεοῦ τῶν οὐσῶν ἐν τῇ Ἰουδαίᾳ ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ, ὅτι τὰ αὐτὰ ἐπάθετε καὶ ὑμεῖς ὑπὸ τῶν ἰδίων συμφυλετῶν καθὼς καὶ αὐτοὶ ὑπὸ τῶν Ἰουδαίων, 15τῶν καὶ τὸν κύριον ἀποκτεινάντων Ἰησοῦν καὶ τοὺς προφήτας, καὶ ἡμᾶς ἐκδιωξάντων, καὶ θεῷ μὴ ἀρεσκόντων, καὶ πᾶσιν ἀνθρώποις ἐναντίων, 16κωλυόντων ἡμᾶς τοῖς ἔθνεσιν λαλῆσαι ἵνα σωθῶσιν, εἰς τὸ ἀναπληρῶσαι αὐτῶν τὰς ἁμαρτίας πάντοτε. ἔφθασεν δὲ ἐπ’ αὐτοὺς ἡ ὀργὴ εἰς τέλος. 17Ἡμεῖς δέ, ἀδελφοί, ἀπορφανισθέντες ἀφ’ ὑμῶν πρὸς καιρὸν ὥρας, προσώπῳ οὐ καρδίᾳ, περισσοτέρως ἐσπουδάσαμεν τὸ πρόσωπον ὑμῶν ἰδεῖν ἐν πολλῇ ἐπιθυμίᾳ. 18διότι ἠθελήσαμεν ἐλθεῖν πρὸς ὑμᾶς, ἐγὼ μὲν Παῦλος καὶ ἅπαξ καὶ δίς, καὶ ἐνέκοψεν ἡμᾶς ὁ Σατανᾶς. 19τίς γὰρ ἡμῶν ἐλπὶς ἢ χαρὰ ἢ στέφανος καυχήσεως ἢ οὐχὶ καὶ ὑμεῖς ἔμπροσθεν τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ ἐν τῇ αὐτοῦ παρουσίᾳ; 20ὑμεῖς γάρ ἐστε ἡ δόξα ἡμῶν καὶ ἡ χαρά.

Supra ostendit apostolus qualis fuit ad eos introitus suus, hic ostendit qualis fuit eorum conversio. Et circa hoc duo facit, quia primo ostendit, quod perfecte conversi sunt per fidem firmam; secundo quomodo fortiter perstiterunt in tribulationibus, ibi vos enim.

Ponit ergo primo bona eorum pro quibus gratias agit, et reddit ratio-nem. Dicit ergo ideo, quia sollicite vobis praedicavi, sicut pater filiis, ideo de bonis vestris gratias ago, sicut pater de bonis filiorum. III Io. II, v. 4: maiorem horum non habeo gratiam, quam ut audiam filios meos in veritate ambulare. Phil. IV, 6: cum gratiarum actione. Sed de quo? Quoniam cum ac-cepissetis a nobis, et cetera. Gratias debet agere praedicator quando verbum eius in auditoribus proficit. Et dicit verba auditus Dei a nobis, id est, per nos. Ps. LXXXIV, 9: audiam quid loquatur in me dominus Deus. Rom. X, 17: fides enim ex auditu, auditus autem per verbum Christi. Accepistis illud, id est, firmiter in corde tenuistis, non ut verbum hominum, quia vana verba hominis. II Cor. XIII, 3: an experimentum quaeritis eius, qui in me loquitur Christus? II Petr. I, 21: non enim voluntate humana allata est aliquando prophetia, sed spiritu sancto inspirati locuti sunt sancti Dei homines. Et quare gratias agitis? Quia hoc ipsum quod credidistis, Deus in vobis operatus est. Phil. II, 12: Deus est qui operatur in vobis velle et perficere pro bona voluntate. Is. c. XXVI, 13: omnia opera nostra operatus es in nobis, domine.

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53Comentário a Tessalonicenses · 1ª Epístola · Cap. II

não como palavra dos homens, mas (segundo é verdade) como palavra de Deus, a qual opera em vós que crestes. [41]14Porque vós, irmãos, tornastes-vos imitadores das igrejas de Deus, que há pela Judéia, das igrejas de Jesus Cristo, porque vós também sofrestes, de parte de vossa própria nação as mesmas coisas que elas igualmente sofreram dos ju-deus, [43]15que mataram o Senhor Jesus e os profetas, nos têm perse-guido a nós, e não agradam a Deus e são inimigos de todos os homens, 16proibindo-nos falar aos gentios para que sejam salvos, a fim de irem sempre enchendo a medida dos seus pecados; porque a ira de Deus caiu sobre eles até ao fim. [49]17Ora, nós, irmãos, privados por um pouco de tempo de vós, quanto à vista, não quanto ao coração, ainda mais nos apressamos, com grande desejo, para ver a vossa face. [51]18Pelo que quisemos ir ter convosco (pelo menos eu, Paulo) uma e outra vez, mas Satanás impediu-nos. [52]19Pois, qual é a nossa esperança, ou a nossa glória, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós diante do Senhor Jesus Cristo, na sua vinda? [54]20Sim, vós sois a nossa glória e alegria.

39. O Apóstolo, após relembrar como foi sua chegada a eles, mostra aqui a qualidade de sua conversão. Quanto a isto faz duas coisas: primeiro, mostra que se converteram perfeitamente por uma fé firme; segundo, de que modo perseveraram firmemente nas tribulações: porque vós, etc.

40. Primeiro, pois, põe as boas ações pelas quais rende graças e dá a razão. Portanto, diz: por isso, porque vos preguei solicitamente, como um pai aos filhos, dou graças pelos seus bens, como um pai pelos bens dos filhos. III Jo. 1, 4: Eu não tenho maior alegria do que ouvir dizer que os meus filhos andam no caminho da verdade. Fil. 4, 6: com ação de graças. Mas quais são estas boas obras? Tendo vós recebido de nós, etc. Deve o pregador dar graças quando sua pregação aproveita aos ouvintes. E diz as palavras: a palavra de Deus, que ouvistes de nós, isto é, por meio de nós. Sal. 84, 9: Ouvirei o que o Senhor me disser. Rom. 10, 17: A fé é pelo ouvido, e o ouvido pela palavra de Cristo. Vós a abraçastes, isto é, firmemente a guardastes em vosso coração, não como palavra dos homens, pois as palavras dos homens são vãs. II Cor. 13, 3: Porventura quereis pôr à prova Cristo, que fala em mim? II Ped. 1, 21: Com efeito, a profecia nunca foi dada pela vontade dos homens, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo. E por que vós dais graças? Pois aquele em que crestes, Deus, operou em vós. Fil. 2, 13: Deus é o que opera em vós o querer e o executar, segundo o seu beneplácito. Is. 26, 12: Senhor, és tu que fizeste para nós todas as nossas obras.

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Deinde cum dicit vos enim, ostendit quomodo fortiter perstiterunt in tribulationibus. Et circa hoc duo facit, quia primo ponit tribulationes eo-rum in quibus steterunt; secundo quod remedium proposuit adhibere, ibi nos autem. Item prima dividitur in duas, quia primo commendat eorum patientiam in adversis; secundo reprehendit eos, qui intulerunt adversa, ibi qui Christum.

Dicit ergo: accepistis verbum non ut est hominum, sed sicut est vere verbum Dei, quia exposuistis vos pro illo usque ad mortem. Per hoc enim, quod homo moritur propter Christum, testificatur quod verba fidei sunt verba Dei. Et ideo martyres idem est quod testes. In Iudaea. Ibi enim fides Christi primo est annuntiata. Is. II, 3: de Sion exibit lex, et verbum domini de Ierusalem. Ibi etiam primo persecutio fidei facta fuit. Act. VIII, 1: facta est autem in illa die persecutio magna in Ecclesia, quae erat Ierosolymis, et cetera. Hebr. c. X, 32: rememoramini autem pristinos dies, in quibus illumi-nati magnum certamen sustinuistis passionum. Et isti similes passiones passi sunt. Et ideo dicit eadem passi a contribulibus vestris, id est, ab infidelibus Thessalonicensibus. Matth. X, 36: inimici hominis, et cetera.

Deinde cum dicit qui et dominum, vituperat Iudaeos, a quibus incepit persecutio. Et primo commemorat eorum culpam; secundo rationem cul-pae, ibi ut impleant.

Circa primum tria facit: primo eorum culpam ponit in comparatio-ne ad Dei ministros; secundo ad ipsum; tertio ad totum genus huma-num. Ministri Dei sunt praedicatores. Praedicatio autem principaliter est a Christo, figuraliter a prophetis, executive ab apostolis. Contra hos tres insurrexerunt Iudaei.

Et primo dicit de Christo, ibi qui et dominum. Matth. XXI, 38: hic est haeres, venite, occidamus eum. Nec obstat si gentiles occiderunt eum, quia ipsi suis vocibus petierunt eum occidi a Pilato. Ier. XII, 8: facta est haere-ditas mea mihi, quasi leo in silva, dedit contra me vocem, et cetera. Secundo dicit de prophetis, ibi et prophetas. Act. VII, 52: quem prophetarum non sunt persecuti patres vestri? Et occiderunt eos, qui praenuntiabant de adventu iusti, cuius vos nunc proditores et homicidae fuistis. Tertio dicit de apostolis et nos, scilicet apostolos. Matth. X, 17: tradent vos in Conciliis, et cetera.

Secundo ponit culpam in comparatione ad Deum, ibi Deo non placent, licet crederent in hoc se obsequium praestare Deo Io. XVI, 2. Sed quia zelum Dei habent non secundum scientiam, ideo Deo non placent, quia

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41. Em seguida, quando diz: Porque vós, etc., mostra como perseveraram firmemente nas tribulações. Quanto a isto, faz duas coisas: primeiro, põe as tribulações a que resistiram; segundo, o remédio que lhes havia proposto: Nós, irmãos, etc. Igualmente, a primeira parte se subdivide em duas: primeiro lhes elogia a paciência nas adversidades; segundo, repreende os que infligiram as adversidades: Que mataram o Senhor Jesus, etc.

42. Diz, portanto: aceitastes a palavra, não como dos homens, mas (segun-do é verdade) como palavra de Deus, pois vos expusestes até à morte por causa dela. Com efeito, o homem que morre por Cristo dá testemunho de que as palavras da fé são palavras de Deus. Por isso a palavra “mártires” significa “tes-temunhas”. Na Judéia, onde primeiro foi anunciada a fé em Cristo. Is. 2, 3: De Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. Também ali se consumou a primeira perseguição contra a fé. At. 8, 1: Naquele dia levantou-se uma grande perseguição contra a Igreja que estava em Jerusalém, etc. Heb. 10, 32: Lembrai--vos dos primeiros dias em que, depois de terdes sido iluminados, sofrestes grande combate de sofrimentos. E estes padeceram sofrimentos similares. Por isso diz: vós também sofrestes, da parte dos da vossa própria nação, isto é, da parte dos infiéis de Tessalônica. Mat. 10, 36: os inimigos do homem, etc.

43. Em seguida, quando diz: Que mataram o Senhor, etc., acusa os judeus, que começaram as perseguições. E primeiro recorda a sua culpa; segundo, a razão de sua culpa: a fim de irem sempre enchendo.

44. Quanto ao primeiro, faz três coisas: primeiro, põe a sua culpa em com-paração com os ministros de Deus; segundo, em comparação com Deus; ter-ceiro, em comparação com toda a humanidade. Os ministros de Deus são os pregadores. A pregação procede principalmente de Cristo; os profetas figura-ram-na, e os apóstolos executaram-na. Contra os três insurgiram-se os judeus.

45. Primeiro, fala de Cristo: mataram o Senhor Jesus. Mat. 21, 38: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo. Não se pode objetar a isto que foram os gentios que o mataram, porque os judeus clamaram com suas palavras a Pilatos que ele fosse morto. Jer. 12, 8: A minha herança tornou-se para mim como um leão entre selvas; levantou a voz contra mim, etc. Segundo, fala dos profetas: ma-taram os profetas. At. 7, 52: A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram até os que prediziam a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas. Terceiro, fala dos apóstolos: a nós, isto é, aos apóstolos. Mat. 10, 17: Fá-los-ão comparecer nos seus tribunais, etc.

46. Segundo, põe a culpa em comparação com Deus: e não agradam a Deus, mesmo que cressem prestar a Deus um obséquio (Jo. 16, 2). Mas, por-que têm zelo de Deus não segundo a ciência, não lhe agradam, pois não agem

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non faciunt recta fide, et sine fide impossibile est placere Deo, Hebr. XI, 6. Is. V, v. 25: iratus est furor domini in populo, et cetera.

Tertio ostendit eorum culpam in comparatione ad totum genus huma-num, cum dicit omnibus hominibus adversantur. Gen. c. XVI, 12: manus eius contra omnes, et cetera. Adversantur autem in hoc, quia prohibent et impediunt praedicationem gentilium et conversionem. Act. XI, 2 re-prehenditur Petrus, quod ivit ad Cornelium. Item Lc. XV, v. 28 filius maior, scilicet populus Iudaeorum, turbatur, quia filius minor, id est, po-pulus gentilium recipitur a patre. Is. XLV, 10: vae qui dicit patri: quid generas? Num. XI, 29: quis det ut omnis populus prophetet?

Ratio autem huius culpae est ex divina permissione, qua vult ut im-pleant peccata sua. Omnium enim quae fiunt, sive bona, sive mala, est quaedam certa mensura, quia nihil est infinitum. Et omnium istorum mensura est in praescientia. Bonorum quidem, in eius praeparatione. Eph. IV, 7: quia unicuique nostrum data est gratia secundum mensuram donationis Christi. Malorum vero, in permissione, quia si aliqui sunt mali, non tamen quantum volunt, sed quantum Deus permittit. Et ideo ta-mdiu vivunt, quamdiu perveniant ad hoc, quod Deus permittit. Matth. XXIII, 32: implete mensuram patrum vestrorum, et cetera. Et ideo dicit ut impleant, et cetera. Deus enim dedit Iudaeis post passionem Christi spa-tium poenitentiae per quadraginta annos, nec conversi sunt, sed addebant peccata peccatis. Et ideo Deus non plus permisit. Unde dicit hic pervenit ira Dei, et cetera. IV Reg. XXII, 13: ira Dei magna succensa est contra nos, quia non audierunt patres nostri verba libri huius, et cetera. Lc. XXI, 23: erit enim pressura magna super terram, et ira populo huic, et cetera. Et non credas quod haec ira sit per centum annos, sed usque in finem mundi, quando plenitudo gentium intraverit, et cetera. Lc. XIX, 44 et XXI, 6 et Matth. XXIV, 2: non relinquetur lapis super lapidem, qui non destruatur.

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segundo a reta fé, e sem fé é impossível agradar a Deus (Heb. 11, 6). Is. 5, 25: Por isso o furor do Senhor se ascendeu contra o seu povo, etc.

47. Terceiro, mostra a sua culpa em comparação com todo o gênero hu-mano: e são inimigos de todos os homens. Gên. 16, 12: A sua mão se levantará contra todos, etc. São inimigos de todos os homens porque proíbem e impedem a pregação aos gentios e sua conversão. Em At. 11, 2, Pedro foi repreendido [pelos judeus] por ter ido até Cornélio. Igualmente em Lucas 15, 28, o filho mais velho – o povo judeu – indigna-se porque o Pai recebe o filho mais novo – o povo gentio. Is. 45, 10: Ai do que diz ao pai: Por que me geraste? Núm. 11, 29: Quem dera que todo o povo profetizasse?

48. Mas razão desta culpa é a permissão divina, que quer a consumação dos seus pecados. De fato, existe uma medida determinada de todas as ações, quer boas quer más, porque nada é infinito.8 E a medida de todas elas está na presciência de Deus. A medida do bem está na sua preparação. Ef. 4, 7: Mas a cada um de nós foi dada a graça segundo a medida do dom de Cristo. Mas a me-dida dos males está em sua permissão, porque, se alguns são maus, não o são, contudo, na medida em que querem, mas na medida em que Deus o permite.9 E por isto vivem tanto quanto Deus o permite. Mat. 23, 32: Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais, etc. E por isso diz: A fim de irem sempre enchendo, etc. Com efeito, Deus deu aos judeus um espaço de quarenta anos após a pai-xão de Cristo para fazerem penitência. Não se converteram, mas amontoaram pecados sobre pecados. E por isso Deus já não o permitiu. Por isso diz: porque a ira de Deus, etc. II Reis 22, 13: A ira do Senhor se ascendeu grandemente contra nós, porque os nossos pais não ouviram as palavras deste livro, etc. Luc. 21, 23: Haverá grande angústia sobre a terra e ira contra este povo, etc. Não creias que esta ira durará tantos anos, mas permanecerá até ao fim do mundo, quando entrar a plenitude dos gentios, etc. Luc. 19, 44 e 21, 6 e Mat. 24, 2: Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.

8 Nada, com exceção de Deus, que é infinitude simpliciter. [N. C.]9 “Si malum est, Deus est.” Santo Tomás de Aquino, Suma Contra os Gentios, III, Cap. 71, n.9. A famosa frase “se há o mal, Deus existe” dá por pressuposto que o mal é privação do bem devido; portanto, o mal está sempre inerido nalgum bem, visto não ter substância. O pecado, que é o mal na vontade, pressupõe a existência da vontade; a cárie pressupõe a existência do dente, etc. A possibili-dade metafísica do mal, em última instância, depende da atualidade inexaurível do bem absoluto, o qual não pode ser outro senão Deus. Assim, se per absurdum o nada absoluto se interpusesse na or-dem do ser, nada mais poderia vir a ser, pois o nada não tem potência operativa. A hipótese de aflorar o nada absoluto na ordem do ser supõe que todas as coisas são contingentes, o que é insustentável na perspectiva metafísica. Santo Tomás, em diferentes obras, demonstra que Deus permite os males em vista de bens incomensuravelmente superiores. [N. C.]

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58 Santo Tomás de Aquino

Deinde cum dicit nos autem, ostendit remedium, quod eis proposuit adhibere, scilicet quod personaliter iret ad eos. Et circa hoc duo facit, quia primo ponit propositum suae visitationis; secundo impedimentum, ibi sed impedivit; tertio causam quare volebat ire, ibi quae autem est.

Dicit ergo nos autem, fratres, desolati a vobis, a quibus eramus separati, vel propter tribulationes vestras, ore, id est, carentes collocutione, et aspec-tu, id est, carentes visione: propter haec enim duo necessaria est amici pra-esentia, quia est consolativa; sed non corde, quia corde sumus praesentes. I Cor. V, 3: ego absens quidem corpore, praesens autem spiritu. Abundantius festinavimus faciem, et cetera. Ut sicut corde, sic et corpore praesens esset. Rom. XV, 23: cupiditatem habens veniendi ad vos ex multis iam praeceden-tibus annis, et cetera. Festinavimus, dicit pluraliter, quia scribit ex persona trium, scilicet sui, Silvani et Timothei.

Ideo etiam voluimus venire ad vos, omnes forte semel, sed ego Pau-lus semel et iterum, id est, bis proposui, sed impedivit nos Satanas, id est, procuravit impedimenta, forte per aeris tempestates. Ap. VII, 1: isti sunt Angeli, qui tenent ventos.

Deinde cum dicit quae est enim, ostendit causam propositi. Primo quan-tum ad futurum; secundo quantum ad praesens, ibi vos enim, et cetera.

Dicit ergo: desidero videre vos, et gratias ago de bonis vestris, quae sunt spes nostra. Nam pro his speramus a Deo praemia, quando reddere venerit unicuique secundum opera sua. Maxima enim est retributio praedicatori ex his quos convertit. Aut gaudium, quia gaudium illorum est gaudium apostoli, sicut bonum eorum est bonum apostoli; bonum enim effectus reducitur in bonum causae. Aut corona gloriae, quia pro certaminibus eorum et iste, qui induxit ad certandum, coronatur. Dux enim, qui induxit milites ad pugnam coronabitur. Eccli. XXX, v. 2: qui docet filium, laudabitur in illo, et in medio domesticorum in illo gloriabitur, et cetera. Haec, inquam, spes, quae est? Nonne vos? Imo sic in futuro ante dominum nostrum Iesum Christum in adventu eius.

Sed etiam in praesenti vos enim estis, apud omnes fideles, gloria nostra. I Cor. c. IX, 15: melius est mihi mori, quam ut gloriam meam quis evacuet. Et gaudium, quo laetor de bonis vestris in praesenti.

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49. Em seguida, quando diz: Ora nós, etc., mostra o remédio que lhes ha-via proposto, ou seja, o ir até eles pessoalmente. Quanto a isso faz três coisas. Primeira, põe o propósito de visitá-los; segunda, o impedimento: mas Satanás impediu-nos; terceira, por que razão queria ir: Pois qual é.

50. Portanto, diz: Ora nós, irmãos, privados de vós, de quem fomos separa-dos por causa de vossas tribulações, quanto à palavra, isto é, não pudemos falar convosco, e quanto à vista, isto é, não pudemos vê-los. Por estes dois motivos, faz-se necessária a presença do amigo, porque é consoladora. Porém não fomos separados quanto ao coração, porque de coração estamos presentes. I Cor. 5, 3: Quanto a mim, embora ausente de corpo, mas presente com o espírito. Ainda mais nos apressamos para ver a vossa face, etc., para que estejamos presentes de corpo, assim como estamos de coração. Rom. 15, 23: Desejando há muitos anos ir ter convosco, etc. Apressamo-nos, di-lo no plural, pois escreve em nome de três pessoas: de si mesmo, de Silvano e de Timóteo.

51. Por isso quisemos ir ter convosco, nós todos, pelo menos uma vez, mas eu Paulo, uma e outra vez, ou seja, duas vezes o propus, mas Satanás impediu-nos, isto é, suscitou obstáculos, talvez tempestades. Apoc. 7, 1: Estes são os anjos que detêm os ventos.

52. Quando diz em seguida: Qual é, etc., mostra a causa do propósito. Pri-meiro, quanto ao futuro; segundo, quanto ao presente: vós sois, etc.

53. Diz, portanto: desejo ver-vos, e dou graças pelos vossos bens, que são nossa esperança. Ora, por estes esperamos de Deus nossa recompensa, quando ele vier retribuir a cada um segundo as suas obras. Com efeito, a maior recompensa do pregador são aqueles que converteu. Ou a nossa alegria, porque a alegria deles é a alegria também do Apóstolo, assim como o bem deles é o bem do Apóstolo. Com efeito, o bem do efeito reduz-se ao bem da causa. Ou a coroa de glória, porque aquele que os conduziu ao combate também recebe a coroa por seus combates. Com efeito, o general que conduz os soldados na batalha será coro-ado. Eclo. 30, 2: Aquele que instrui o seu filho será louvado nele, e nele mesmo se gloriará entre os seus conhecidos. E digo: Qual é a nossa esperança? Porventura não sois vós, no futuro, diante do Senhor Jesus Cristo, na sua vinda? (v. 19)

54. Mas já no presente, vós sois a nossa glória, perante todos os fiéis. I Cor. 9, 15: Tenho por melhor morrer, antes que alguém me faça perder a minha glória. E a nossa alegria, pois desde já me alegro com os vossos bens.

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