começou com um beijo

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Romance, Comédia.

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Page 1: Começou Com Um Beijo
Page 2: Começou Com Um Beijo

Capítulo 1 - Sandeul

- Sandeul! - uma voz me chamou a atenção. Era Jiwon, meu melhor amigo.

Eu estava no meio de um grupo de garotos que conversavam já que o professor ainda

não tinha chegado.

- Hm? - desviei minha atenção do celular para olhar pra ele.

- O que está fazendo tão entretido no celular? - ele perguntou.

Um sorriso torto e malicioso surgiu nos meus lábios.

- Nada demais. - dei de ombros.

Jiwon levantou uma sobrancelha sorrindo e puxou o celular da minha mão. Leu o

conteúdo por alguns segundos, revirou os olhos e me devolveu.

- Fala sério! Como você pode estar dando em cima de cinco garotas ao mesmo tempo?!

- A sexta ainda não respondeu. - dei de ombros de novo.

Meu amigo bufou.

- Você devia procurar um psiquiatra! Você deve ter algum tipo de distúrbio sexual, ou sei

lá o quê. Mas o que mais me choca é que elas ainda.. Aish...

- Você vê... Não é culpa minha se elas aceitam. Eu deixo bem claro que não quero

compromissos. - cruzei os braços. - Não me faça parecer um vilão.

- Eu sei. Essa é que a parte mais chocante. - ele suspirou.

Os outros garotos pareciam ter sua atenção em nós agora.

- Ei, Sandeul! Quer saber uma coisa interessante? - perguntou um deles. Eu não

lembrava o seu nome.

- O quê?

Ele fez um sinal para que nos aproximássemos para que ele pudesse falar em um tom

mais baixo.

- Tem uma garota aqui na sala...

Inclinei-me para ouvir melhor.

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- Ela... Nunca beijou um garoto em sua vida inteira!

Os outros pareceram não acreditar e deram alguns tapas em suas costas, rindo.

- Mas é verdade! - ele insistia.

- Ah, qual é? Nós estamos na universidade já. E você diz que tem uma garota aqui na

sala que é boca virgem? - levantei uma sobrancelha pra ele.

- Eu acidentalmente ouvi umas garotas da sala conversando. Elas estavam falando sobre

isso. Ouvi o nome da menina que... - ele deu uma risadinha. - nunca beijou, e então descobri

quem ela era.

- Nossa! - todos nos surpreendemos.

- Como isso é possível? - perguntou um perplexo.

- A única explicação para isso é que... Ela deve ser muito, mas muito feia! - disse um outro

revelando o pensamento de todos. Rimos.

- Bom, eu não acho que ela seja feia. Na verdade, eu diria que é bonita sim. - disse o que

nos deu a inusitada informação.

- Sério? - perguntamos em uníssono. - E quem é?

- Hm... - ele vistoriou a sala com o olhar. - Ah! É aquela ali!

Ele apontou com o queixo na direção da menina que acabava de entrar na sala. Eu nunca

tinha realmente parada pra notá-la. Eu evitava ficar com garotas da mesma sala porque elas

geralmente se apegavam e era muito incômodo depois. Hm... Realmente. Não era má. Na

verdade, talvez por causa na nova informação, a garota parecia ter uma aura pura e atraente. Ri

para mim mesmo. Eu ia fazer um favor pra ela. Estava me sentindo caridoso hoje.

- Qual o nome dela? - perguntei, quebrando o silêncio que envolvia a análise dos homens

sob o pobre alvo.

- Minah. Jang Minah.

- Hm... - inclinei levemente a cabeça para melhor observá-la. Eles parecerem entender

que eu fiquei interessado.

O professor entrou na sala. Os garotos se dispersaram para suas cadeiras. Jiwon deu um

tapa em minha cabeça ao passar por mim.

- Não faça isso com a coitada. - disse ele, descobrindo planos que nem mesmo eu tinha

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feito ainda.

Fingi uma cara inocente. De qualquer forma, Jiwon sabia que eu não iria seguir seu

conselho. Esperei a hora do intervalo para agir. Assim que tocou observei a tal Minah.

- Vamos comprar o lanche na cantina. Você vem? - perguntaram-lhe as amigas.

- Hm... Já já estou indo. Preciso terminar de ler um material aqui. - disse o meu alvo.

- Ok. - as amigas saíram. Esperei os meninos saírem também. Perfeito. Jiwon soltou um

suspiro frustrado antes de se dirigir à porta e me lançou um olhar que dizia "Você é mesmo um

mané. Espero que se dê mal". Ahh, esse era o pior defeito do meu melhor amigo. Era bonzinho

demais.

Levantei quando vi que ela também estava levantando.

- Oh, Minah... É esse o seu nome, certo? - usei meu melhor sorriso.

A garota olhou pra mim, as sobrancelhas se juntando um pouco. Dava quase pra ver em

sua testa escrito "o que você quer comigo? nós nunca nos falamos antes."

- Sim, é o meu nome. - ela respondeu. Então sorriu de forma simpática. - Você tem algum

assunto a tratar comigo?

- Ah, sim... Mas antes... Você sabe meu nome, certo?

Claro que devia saber. Como não saberia? - sorri confiantemente.

- Hm... - Minah pareceu sem graça.

O quê?! Ela realmente não sabia meu nome?! - limpei a garganta. Ok, isso era quase

mais chocante do que ela nunca ter beijado. Eu era conhecido como o "cavalheiro da sedução"

da universidade. Era um apelido - meio ridículo, eu sei - que as meninas tinham inventado para

tratar de mim. E eu não podia negar o título. Mas a garota estudava em minha sala! Então, ou

essa tal de Minah era uma ótima atriz, ou era simplesmente alheia a tudo ao seu redor.

- Meu nome é Sandeul. - dei o meu sorriso de conquistador.

- Ah... Prazer.

- O prazer é meu... Então, Minah eu vou direto ao ponto.

- Sim?

- Eu ouvi que você é boca virgem. Isso... é verdade?

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A garota corou, e empinando o nariz, respondeu como se tivesse acabado de ouvir um

desaforo:

- O que você tem a ver com isso?!

- Pela sua reação, deduzo que é verdade... - me aproximei dela.

- Você ainda não respondeu o que você tem a ver com isso! Se for verdade ou não, eu

acredito que não seja da sua conta!

Minah tinha o rosto inteiro de uma cor avermelhada, e parecia completamente

envergonhada tanto quanto determinada a esconder a vergonha.

- Eu apenas... Quero te ajudar.

- Me ajudar?! - ela bufou. - E quem disse que eu preciso de ajuda?! - demandou,

cruzando os braços.

- Eu vou te dar um presente. - falei.

Mostrei meu punho fechado, fingindo estar segurando algo em minha palma.

- Presente? - ela agora parecia confusa. Baixou o olhar para a minha mão. Levantei-a na

altura de seu queixo e virei a mão pra cima.

Abri e revelei minha palma, sem nada.

- Mas, não tem n-.. - não deixei ela terminar.

Num movimento rápido, com a mesma mão, tomei seu queixo, e plantei um beijo em seus

lábios incrivelmente macios. Eu agora percebia que nunca tinha beijado uma garota que nunca

tinha beijado alguém antes. Era um pensamento divertido. Talvez por isso a sensação tivesse

sidodiferente de todos os outro beijos que eu já tinha dado. Ao me afastar, olhei para seu rosto.

Eu não conseguia ler sua expressão. Comecei a me preocupar. E se ela pensasse que eu

queria algo sério com ela ou algo assim? Eu deveria esclarecer as coisas.

- Olha-.. - comecei a dizer, mas fui interrompido.

Ahn... Digamos apenas que eu esperava uma reação um pouco diferente. Ela parecia...

irritada?

- O que.você.acabou de fazer? - Minah perguntou com alguma dificuldade, seu corpo

parecendo tremer um pouco. Ok, ela realmente estava irritada.

- Hm... Eu beijei você? - falei em tom de obviedade. - Por que você parece irritada? Não

Page 6: Começou Com Um Beijo

deveria me agradecer?!

Por um segundo, imaginei que o olhar em seu rosto pudesse me pulverizar naquele

mesmo segundo. Mas então, ela estendeu de repente a mão em minha direção, com a palma

para cima.

- Devolve. - ela falou entredentes.

- Devolve o quê?!

- O meu primeiro beijo! Eu não acredito que foi desse jeito! Que espécie de idiota iria-..?!

Ai, meu Deus! Devolve agora mesmo!

Eu tive que rir. Quanta histeria! Como assim devolver um beijo?! Ela era algum tipo de

lunática?!

- Olha, sei que você não é muito entendida desses assuntos, por isso irei te dizer isso:

beijos não se devolvem. - falei em tom sarcástico. - E mais. Pra quê tanta comoção por algo

desse tipo? Para tudo há uma primeira vez. Eu só quis te dar um presente, deixando que seu

primeiro beijo fosse comigo, ent-..

Senti uma dor lancinante no meio das pernas. A pior que eu já tinha sentido em toda a

minha vida. Gritei. AQUMinah LOUCA TINHA ACABADO DE CHUTAR MINHAS ...!

- SUA.., SUA..! - eu não conseguia achar uma palavra ruim o suficiente para xingá-la. A

dor percorreu minha espinha e espalhou um calor por todo o meu corpo, deixando

formigantemente dolorida a parte atingida. Eu só tinha percebido agora que estava de joelhos

no chão.

Minah agachou-se para ficar na altura dos meus olhos.

- Foi a primeira vez que fizeram isso em você?! - ela perguntou, parecendo preocupada.

- CLARO QUE FOI! QUEM IRIA CHUTAR MI..-

- Ótimo. - seu rosto de preocupação sumiu instantaneamente. - Minha primeira vez foi

tirada por você. A sua por mim. Estamos quites. Afinal, para tudo há uma primeira vez... certo?

E dizendo isso, levantou-se e caminhou para fora da sala com o nariz erguido. Ficamos

apenas na sala eu, meu choque e minha dor.

Ah! E meu último pensamento...

Essa garota não perdia por esperar!

Page 7: Começou Com Um Beijo

Capítulo 2 - Minah

Saí da sala pisando forte tentando ao máximo preservar meu orgulho restante. Corri pro

banheiro pra lavar a boca. Considerei desinfetá-la com álcool ou desinfetante, mas imaginei que

os produtos químicos produziriam um dano pior. Tive que me contentar com água e sabão.

Enquanto a água escorria levando a espuma e qualquer vestígio de partícula salivar que

pudesse ter restado daquele maldito, conclui que um simples chute em suas bolas não era

castigo suficiente. Pensei comigo... Quando eu tivesse filhos no futuro, eu provavelmente iria

querer contá-los: "Ah, meu primeiro beijo foi assim...". Enquanto que ele provavelmente não

contaria a seus filhos "Oh, meu primeiro chute nas bolas foi desse jeito..."!

Ele tinha manchado uma preciosa memória do meu passado, que teria sérias

consequências pras memórias que eu poderia ter no futuro! Mil vezes maldito! Eu deveria

amaldiçoá-lo até a morte! Ou fazer um boneco voodoo dele! Com certeza aquele chute não

tinha sido o suficiente! Desliguei a torneira e olhei meu rosto no espelho, as gotas d'água

gradualmente cessando de cair.

- Eu vou me vingar de você! Apenas espere! - resmunguei em voz alta.

- De quem você vai se vingar? - perguntou minha melhor amiga Lee Kah. Dei um leve

pulo de susto.

- Por que está tão assustada? Nós vimos você correr pro banheiro parecendo um furacão

e vinhemos ver o que tinha acontecido. - explicou Jin Young, minha outra melhor amiga.

- Vocês não vão acreditar! - exclamei ainda com ódio na voz só de ter de relembrar o que

tinha acontecido.

Contei tudo a elas em detalhes. No final, elas se dividiam entre rir da minha cara, festejar

por eu ter perdido meu bv e se compadecer com a minha situação.

- Ya! Vocês são realmente minhas amigas?! - finalmente perguntei com raiva enquanto

observava elas rirem.

- Ah, mas Minah! Veja pelo lado bom... O cara é gato! Ele é bem famoso mesmo aqui na

faculdade. Você tem sorte por seu primeiro beijo ter sido com um cara bonito. - disse Lee Kah.

- Verdade. - concordou Jin Young.

- Ah, tá! E por que vocês não ficam com ele, então?! - exigi, colocando as mãos na

cintura.

- Porque não gosto de coisa muito rodada. - Jin Young deu de ombros e Lee Kah

Page 8: Começou Com Um Beijo

concordou com ela.

- Exatamente! E o meu primeiro beijo foi com um fusca de trocentos milhões de

quilômetros rodados!

- Ah, um fusca não, amiga. Uma ferrari, vai. O cara é g-a-to. - comentou Lee Kah, rindo.

Fiquei com mais raiva de mim mesma porque não podia contradizê-la. Ele realmente era

bonito.

- De qualquer forma! - empinei o nariz. - Foi o meu primeiro beijo! Eu tinha alguns sonhos

sobre como deveria ser isso, e, acreditem, não envolviam um idiota que simplesmente me

beijava por ter pena de eu ser bv! Vocês não acham que eu ainda devia ter minha vingança?

- Claro! Pode contar com a gente se precisar de ajuda. - sorriu Lee Kah.

- Super válido. - Jin Young apoiou. - Mas você já pensou no que quer fazer?

- Bom... Ainda não. - ficamos todas pensativas por alguns segundos até que me veio um

estalo. - Já sei! Na hora do intervalo vocês distraem ele...

- Sim... - elas me incentivaram a continuar.

- E daí eu ponho tálio* em sua bebida! - sorri, encantada com minha própria ideia.

(*Dentro do nosso corpo, os íons de tálio “se fazem passar” por potássio – elemento

essencial para o organismo. Eles se instalam nas células, cujo funcionamento é prejudicado.

Isso ocorre principalmente no sistema nervoso: o resultado é insônia, depressão profunda,

queda de cabelos e desejo de morrer. O tálio também ataca os testículos e o coração, e causa

paralisia muscular, podendo levar à morte.)

- Minah... Você vê que sua brilhante ideia tem dois problemas, certo? - perguntou Lee Kah

com uma sobrancelha erguida.

Neguei com a cabeça.

- Primeiro: onde você conseguiria tálio? Segundo: você cometeria um homicídio?

- Espera aí! Lee Kah, tem uma coisa errada nisso tudo. O problema da morte do garoto

não devia estar em primeiro lugar?! - perguntou Jin Young.

- Não necessariamente. - deu de ombros Lee Kah. Encaramo-nos por um segundo ou

dois e então caímos na risada juntas.

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- Ok, ok! Eu acho que tenho uma ideia bem melhor! - disse Jin Young com um sorriso

malicioso nos lábios.

- Que ideia? - perguntamos em uníssono eu e Lee Kah.

Eu não gostava nem um pouco da expressão de Jin Young. Comecei a ficar com medo

quando ela me encarou com aquele sorriso, deixando o suspense no ar.

- Minah, você vai seduzir ele! - finalmente ela revelou. Bufei.

- Ah, claro! Porque a melhor solução para castigar um cara por ter me beijado é seduzir

ele!

- Você não entendeu! - reclamou ela empurrando minha cabeça. - Você o seduz, faz ele

se apaixonar por você e depois dá um pé na bunda!

Esperei pra ver se ela estava brincando. Como parecia estar falando sério, resolvi explicar

calmamente as pequenas falhas do plano da minha amiga.

- Isso nunca daria certo! Eu não poderia seduzir ele. Lembre que estamos falando do

famoso "cavalheiro da sedução". Eu provavelmente ia ser a única a cair na minha própria

armadilha! Além disso... Sou eu. Eu! Lembra? Era era bv até meia hora atrás! Como você

espera que eu seduza um cara que já pegou metade das garotas da faculdade?!

- Na verdade... Talvez até mais da metade. - acrescentou Lee Kah.

- Obrigada!

- Não seria tão difícil assim! Nós iremos te ajudar! - ela fez sinal pra si e pra Lee Kah.

- Não seria impossível. E desde que você coloque na cabeça que não vai se apaixonar

por ele, acho que o resto podemos fazer. - Lee Kah entrou na onda. - Mas... Você tem confiança

pra isso..?

- Claro que sim! - exclamei, lembrando do ódio que ainda pulsava dentro de mim. Me

apaixonar por aquele.. aquele... ser! Nunca!

- Então, você aceita o plano?! - Jin Young perguntou com os olhos brilhando. Mordi o

lábio.

- Eu não disse isso... - balbuciei.

- Vamos, Minah! Vai ser interessante! - exclamou Lee Kah.

Olhei para as carinhas sorridentes e ansiosas das minhas amigas, e suspirei, derrotada.

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- Ok! Mas se vamos fazer, vamos fazer bem feito!

- Ah! - Jin Young soltou um gritinho feliz. - Eu sempre quis fazer algo assim!

Perguntei-me vagamente se eu não deveria ficar irritada por ela querer se divertir às

custas do meu sofrimento, mas resolvi deixar passar. Fui levada por uma sensação de

excitação e determinação em cumprir meu plano com louvor.

- Então, a operação "Knight Hunter" começará a partir de amanhã! - festejou Jin Young

estendendo a mão para colocarmos as nossas em cima.

- "Knight Hunter"?! - Lee Kah e eu perguntamos ao mesmo tempo.

- É... Sabe... Tipo... Ela vai "caçar" o "cavalheiro" da sedução - Jin Young explicou fazendo

as aspas no ar. Rimos muito da ideia e apoiamos nossa mão em cima da dela.

- Então, 3, 2, 1... - Lee Kah contou.

- "Knight Hunter"! - exclamamos juntas.

Em casa, deixei meus produtos de beleza preparados e ouvi os infinitos conselhos das

minhas amigas pra como me arrumar pro outro dia de aula. Concluímos que a melhor estratégia

seria talvez o "puxa e empurra", já que se eu parecesse oferecida demais ele não se

apaixonaria por mim, e se eu parecesse desinteressada demais, ele provavelmente não daria

nenhum passo em minha direção. Seria difícil, mas estava me sentindo confiante. Deitei na

cama, esgotada.

- Sandeul! Cavalheiro da sedução ou sei lá o que for! Se prepare! Estou indo te ganhar no

seu próprio jogo! - gritei pro além.

- Minah?! Filha?! - perguntou a voz da minha mãe do outro lado da porta. - Você está

bem?! Eu ouvi um grito..

- Estou bem, mãe! - gritei de volta, corando. - Estava apenas exercitando minhas cordas

vocais!

- Ah... ok. - minha mãe não parecia muito convencida, mas fiquei grata que ela tinha

resolvido deixar pra lá.

Suspirei. Enfiei-me debaixo das cobertas e dormi bem, pois sabia que o próximo dia

prometia.

Page 11: Começou Com Um Beijo

Capítulo 3 – Sandeul

Eu ria enquanto esfregava minhas mãos uma na outra.

- O que você achou do meu plano de vingança, Jiwon?

Meu amigo me encarou por um segundo ou dois, então cruzou os braços sobre o peito.

- Não acredito que você realmente pensa em fazer isso...

- O quê?! Você não acha que ela merece?! Como uma coisinha daquele tamanho ousa

machucar meu precioso?! - rebati indignado.

- Ainda assim... Não foi você mesmo quem procurou por isso? - perguntou meu amigo

levando a xícara de café a boca.

- Como eu procurei por isso?! Eu fiz um favor à ela!

- Talvez ela não tenha pensado nisso como um "favor"... - Jiwon revirou os olhos.

- Como não?! Eu sou..-

- .. o "cavalheiro da sedução"? - completou meu amigo arqueando uma sobrancelha. -

Talvez você não seja tão sedutor para ela.

Fiquei em silêncio. Eu lembrava que ela sequer sabia meu nome antes de eu ir falar com

ela.

- Pelo menos esse plano é melhor do que o que eu tive na sala. Pensei em matá-la. - fiz

uma careta, bebendo meu próprio café.

Jiwon suspirou.

- Certo... Seduzir uma garota como forma de vingança por ela ter chutado suas bolas

parece bem razoável. - ironizou meu amigo.

- Ainda é melhor que matá-la.

- Como se você fosse fazer isso.

Dei de ombros. Jiwon suspirou de novo.

- Por que você me chama no meio da noite pra um café? Nada do que eu te diga vai te

fazer mudar de ideia, certo? Você não está me consultando sobre isso. Está me informando.

Soltei uma risadinha. Ele estava certo.

- Ótimo. Faça como quiser. Mas não conte comigo para ajudá-lo.

Page 12: Começou Com Um Beijo

- Eu já sabia antes de vir aqui que você não faria isso. - respondi.

- Então por qu-..? Aish! Eu podia estar estudando agora!

- Como se você precisasse disso. - ri.

- Claro que preciso. E você também. - riu meu melhor amigo apontando pra mim. - Estou

indo embora. Você paga o meu café.

- Ya! - reclamei, mas ele já tinha caminhado pra fora do café, acenando de costas.

- Tch! Essa criança podre... - resmunguei.

Vi um movimento na mesa, e percebi que uma mão deslizava um papel sobre ela. Pensei

que era a conta, mas tinha muitos números pra ser o total de dois cafés e duas fatias de bolo de

chocolate. Olhei para cima. Era a garçonete. Ela mordeu levemente o lábio inferior.

- É o meu número. - revelou ela. Era um tipo mais ou menos. Fiz uma vistoria rápida com

o olhar. Não era de se jogar fora. Abri meu melhor sorriso. Peguei o papel e coloquei-o no meu

bolso. Levantei para ir pagar a conta e fui pra casa.

Girei a maçaneta e dei com a sala escura e vazia. Como sempre. Não sabia porque toda

vez eu ainda ficava com alguma expectativa.

- Porque você é um idiota. - respondi pra mim mesmo em voz alta me jogando no sofá.

Encarei o teto por alguns minutos e quando percebi que as lembranças ruins beiravam

minha consciência, resolvi pensar no meu plano. Eu tinha decidido fazer aquela garota... Nina?

Yayah? Como era o nome dela? Espera... Começava com Mi? Mi... Mi... Minah? Sim! Era isso!

Eu iria fazê-la se apaixonar por mim, e então terminar com ela sem piedade. Ela iria chorar por

uns bons meses. Eu arcaria com as consequências disso. Mesmo se ela ficasse atrás de mim

depois disso, uma hora ela ia entender que eu não queria nada com ela. E iria desistir. Seria o

maior prazer que teria na vida, vê-la chorando por minha causa. Afinal, até eu tinha derramado

uma lágrima ou duas com a dor que ela tinha me causado. Tinha que admitir que eu fiquei

impressionado com a força do seu chute. Meu sangue voltou a ferver lembrando do episódio.

Arrastei-me pro banheiro e tomei um longo banho quente. Saltei na cama e dormi, sentindo-me

ansioso para o outro dia.

---

Avistei a minha presa sentada em um lugar que tinha vaga na sua frente. Caminhei em

direção à ela.

- Bom dia, Minah. - sorri. - Tem alguém sentado aqui? - apontei para a cadeira.

Page 13: Começou Com Um Beijo

Ela olhou pra mim e para a cadeira.

- Estou com cara de medium? - ela perguntou, e depois de trocar olhares com uma garota

que sentava a seu lado, riu. - Estou apenas brincando! Pode sentar aí. Fique à vontade.

- Tudo bem. - sorri, e sentei.

Ela estava realmente brincando ou tinha acabado de me dar um fora?! Respirei

fundo.Lembre do seu plano, Sandeul. Você deve ser um cavalheiro perfeito.

Virei pra ela.

- Eu queria pedir desculpas por ontem... Não fui legal com você e agi imprudentemente.

Espero que você possa me perdoar... - fiz uma cara fofa de arrependido.

- Tudo bem. Eu já esqueci isso. - ela sorriu, e se inclinou para frente, com o rosto a

poucos centímetros do meu. - Até que perder o bv não é tão ruim quanto pensei.

Sua respiração roçou em meu rosto e seu hálito cheirava a menta. Engoli seco.

- Que bom, então. Estamos de bem? - perguntei sorrindo.

- Claro. - ela sorriu. Seus lábios brilhavam e estavam rosados. Na verdade, agora que eu

notava, ela estava maquiada. Nos encaramos por alguns segundos deixando uma tensão no ar.

Virei quando ouvi a voz do professor dando 'bom dia'.

- Eu vou fazer um trabalho em dupla pra vocês entregarem daqui a um mês. Então,

apenas juntem-se com quem tiver na frente de vocês e não vamos perder tempo com isso.

Tenho muito assunto atrasado. No final da aula, explico o tema do trabalho melhor, ok? Então

vamos começar com...

Virei-me pra Minah.

- Parece que vamos trabalhar juntos. - comentei.

- É... - ela concordou não parecendo nem um pouco animada.

- A não ser que você não queira...

- Não. Tudo bem. Minhas melhores amigas vão fazer juntas, então eu não tinha nenhuma

outra opção mesmo.

- Então sou sua última opção, você quer dizer? - perguntei sem conseguir controlar minha

raiva.

Essa garota-..! Essa garota me tirava do sério! Há apenas alguns segundos estava toda

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sorrisos e eu diria até quase flertando comigo, e agora eu era sua última opção?!

Ela me encarou alguns segundos parecendo saborear minha raiva. Então sorriu, sem

graça.

- Foi assim que pareceu? Eu não quis dizer isso. Vamos trabalhar bem juntos, Sandeul.

- Desculpe. Fiquei um pouco sentido. Gostaria de ser sua primeira opção, na verdade... -

balbuciei de forma charmosa.

Ela corou, parecendo desconcertada. Bingo! Era minha deixa pra me virar de volta. Não

falei mais com ela até o intervalo. Quando a vi se levantando, chamei-a.

- Minah, podemos conversar sobre o trabalho?

- Ah... - ela olhou incerta para as duas amigas que a acompanhavam.

- Vá lá. Nós vamos conversar sobre nosso trabalho também. - uma delas falou, sorrindo

pra ela e dando uma rápida olhada em mim.

- Verdade. Não queremos que você fique ouvindo pra copiar nosso trabalho. - brincou a

outra. Minah lhe mostrou a língua. Então me seguiu até um banco mais afastado.

- Desculpe. Parece que vou ter que te monopolizar por algum tempo. - sorri, sentando

mais perto dela.

- Não tenho escolha, tenho? - ela perguntou séria e depois pareceu se arrepender. Riu

disfarçadamente. - É brincadeira. Temos um trabalho pra fazer, então é natural...

Ela estava me deixando louco com essas "brincadeiras" que não pareciam brincadeiras,

mas demonstrações do que ela realmente pensava. Se ela realmente não gostava de mim, pra

que se forçar a isso? Eu não entendia... Fiquei intrigado. Ri, fingindo acreditar.

- Então... Como podemos fazer? - perguntei, finalmente.

- Ah... Acho que precisamos nos reunir em algum lugar pra fazer isso. Pode ser aqui na

faculdade mesmo. A gente ficava alguns dias até mais tarde...

- Podia ser. Ou então...

Deixei o suspense no ar. Eu sabia que ia levar um fora, mas ainda assim precisava tentar.

- Ou então o quê? - perguntou ela, curiosa.

- Ou então você podia ir pra minha casa. É bem tranquilo lá...

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Nem eu mesmo acreditava que estava propondo isso. A garota era bv até ontem e eu

estava chamando-a pra ir à minha casa. Como se-..

- Tudo bem. - ela aceitou, indiferente. Pisquei rápido algumas vezes sem acreditar.

- Tudo bem? - repeti. Ela assentiu.

- Tudo bem. Precisamos fazer o trabalho. Minha casa é meio barulhenta. A sua é tranquila

e está disponível. Então por quê não?

- Bom... É que... Não tem ninguém na minha casa. Eu moro sozinho, basicamente.

- Você está tentando dizer que planeja me atacar contra minha vontade se eu for? -

perguntou ela com as sobrancelhas erguidas.

- Não! - neguei rapidamente, sem graça. - Não é isso! Eu não ataco ninguém contra sua

vontade. Apenas se quiserem...

Sorri, um misto entre presunçoso e brincalhão.

- Então não tem perigo nenhum. - ela afirmou, sem rodeios.

Arfei, forçando um riso. Como assim 'perigo nenhum'?! Ela certamente não me conhecia!

Eu teria certeza de fazer com ela implorasse por um beijo meu!

- Então, amanhã podemos ir direto da faculdade pra minha casa? - sugeri.

- Pode ser. Está marcado, então.

- Ótimo. Nós almoçamos na minha casa, então não perdemos tempo. Ok pra você?

- Ok. - ela concordou. - Então vou indo encontrar minhas amigas. Até mais.

Ela caminhou pra longe e não conversamos muito durante o resto do dia.

Então amanhã ela iria pra minha casa... Hm... Eu teria muitas chances de mostrar meu

charme desse jeito. Eu estava mais sorridente do que o normal, maquinando diversos planos

em minha cabeça, e Jiwon percebeu essa excitação. Quando contei pra ele, meu amigo apenas

balançou a cabeça em desaprovação.

- Você não tem jeito, Sandeul.

- Eu não obriguei ela a ir! Decidiu por si só. - me defendi, sem perder o bom humor.

- Tch... Essa criança... - Jiwon por fim riu, e pareceu desistir de me repreender.

Page 16: Começou Com Um Beijo

Amanhã, hm? Se prepare pra cair nos charmes de Sandeul, senhorita Minah. Você vai

ver que não foi à toa que recebi o codinome de 'cavalheiro da sedução'!

Ri sozinho antes de cair no sono aquela noite.

Page 17: Começou Com Um Beijo

Capítulo 4 – Minah

- Repete o que você disse! - pediu Lee Kah incrédula.

- Eu vou pra casa do Sandeul hoje. - repeti, sentando num banco.

- Como assim?! - Jin Young exigiu.

- Não entendo por que vocês parecem tão impressionadas! Eu disse que iria porque

imaginei que fosse o que vocês iriam dizer pra eu fazer!

- Ir pra casa de um garoto que mora sozinho?! - perguntou estupefata Jin Young.

- Que tipo de amigas você acha que tem?! - Lee Kah perguntou, com a mão no peito.

- Eu pensei que... - comecei a ficar assustada.

- Tá. Calma. Calma. Não é como se ele fosse fazer realmente alguma coisa. Afinal, ele

estuda aqui. Todo mundo sabe quem ele é. Não seria difícil descobrir onde ele mora.

- Verdade. Passado o primeiro susto, se olharmos bem, não tem muito com o que nos

preocuparmos. Eu acho... - Jin Young quase fez uma prece. - Vocês só vão fazer o trabalho.

- Não só! Se a Minah tem essa chance, então deve usá-la bem! Mas lógico que você deve

ser o mais sutil possível, já que deve haver um quarto a poucos metros de onde vocês vão

estar. - Lee Kah observou.

- Quarto! Isso! Minah, aja o que houver, não vá para o quarto dele! Entendeu? - Jin Young

orientou.

- Ok! Pelo menos isso eu sei! Não sou assim tão ingênua! - fiz beicinho, cruzando os

braços.

- Sabemos que não é. - Jin Young me deu um sorriso malicioso.

- Por isso que estamos falando. - Lee Kah acompanhou a amiga com a malícia.

- Ya! - reclamei. - Vocês estão dizendo que eu sou uma pervertida?!

Elas riram em conjunto, e logo eu também ria com elas. As aulas passaram mais rápido

do que achei que deveriam, e quando me dei conta, já era hora de ir pra casa. No meu caso,

pra casa de Sandeul. Ele esperou eu guardar os materiais e me disse para segui-lo. Eu não

lembrava de já tê-lo visto num ponto de ônibus, e tive a confirmação quando ele me levou ao

estacionamento. Paramos em frente a um carro.

- Ah... - deixei minha boca cair. - Uma BMW.

Page 18: Começou Com Um Beijo

Quem diabos andava com um carro desses para a faculdade?!

Agora eu entendia porque ele era um completo idiota. Deus não podia dar a beleza, o

dinheiro e a inteligência a uma pessoa só. Seria injusto. Por isso Ele privou Sandeul da última

qualidade.

- Não é só uma BMW. - ele fez uma careta. - É uma BMW 760Li. - disse com orgulho.

- Claro. Porque isso fez toda a diferença pra mim e pra minha vida. - revirei os olhos.

- Tsc. Garotas. - ele bufou, com desprezo.

- Mas, como é? Eu posso realmente sentar nessa coisa ou preciso passar por algum tipo

de ritual estranho de higienização?

Sandeul soltou uma gargalhada e abriu a porta do veículo branco pra mim, como um

cavalheiro. Entrei.

- Não sou perturbado a esse ponto. - ele sorriu ao fechar a porta.

Como eu sempre me sentia estranha em estar num ambiente só com outra pessoa sem

ter assuntos, resolvi perguntar a primeira coisa que me veio à cabeça.

- Então... Você disse que íamos almoçar na sua casa. E que você mora sozinho.

Ele assentiu enquanto eu falava.

- O que me leva a deduzir que... Você cozinha?

- Ah, não. - ele balançou a cabeça enfaticamente. - Eu só compro comidas prontas ou

como aquelas congeladas que você põe no microondas.

- O quê?! Sério?! Sempre?! - a cada pergunta ele assentia confuso. - Você deveria comer

comida feita em casa de vez em quando! Sabe-se lá o que se põe nessas comidas

industrializadas? Por que você não cozinha?!

- Porque eu não sei. - ele respondeu simplesmente.

- Ora, aprenda! Aish! Pare ali. - apontei para o supermercado que havia no caminho.

Sandeul embora confuso, me obedeceu e parou o carro no estacionamento do

estabelecimento.

- Não sai daqui! Se eu chegar e você não estiver, eu te mato! - ameacei, saindo do carro.

Comprei alguns ingredientes e voltei para o carro em pouco tempo. Ele ainda estava lá.

Page 19: Começou Com Um Beijo

Tinha colocado alguma música para tocar no som, e acompanhava o ritmo tamborilando com os

polegares no volante e cantando.

- Não está funcionando. Pare de fingir. Eu sei que você me quer. Vamos conversar.

(Música: GOT7 - A)

Mas que droga! Ele cantava bem! Limpei a garganta pra chamar sua atenção e esperar

que ele abrisse a porta. Ele teve um leve sobressalto enquanto me observava curioso. Quando

finalmente entrei no carro, comentei:

- Até as músicas que você canta tem que ser presunçosas, não?

- Você acha? - ele perguntou com os lábios puxando num sorriso convencido. Bufei.

Então ele nos levou para seu apartamento.

- Então, você vai me dizer o que você comprou? Ou é uma daquelas coisas de mulher

que..? - perguntou ele insinuativamente, enquanto abria a porta para eu entrar.

- Não! - rebati, corando. - É que nós vamos fazer o almoço hoje. - expliquei.

- Nós? - ele repetiu com as sobrancelhas arqueadas, num misto de alegria e surpresa.

Depositei as sacolas em cima da bancada da cozinha depois dele me indicar o caminho.

- Sim. Nós. - confirmei enfaticamente.

Era a forma sutil mais brilhante do meu plano de sedução. Não diziam sempre que o

caminho para o coração de um homem era pela barriga? Sorri diante da minha própria

inteligência. Minhas amigas ficariam orgulhosas de mim. Mas também, de jeito nenhum eu ia

ficar cozinhando enquanto ele ficava de bunda pra cima sem fazer nada!

- Nós vamos fazer macarronada. - informei, retirando os produtos das sacolas.

- Hm... - ele não parecia muito confiante, apesar de parecer feliz com a ideia. Adorei ver

esse lado (de não parecer confiante), já que ele geralmente não se expressava no dia a dia

normal.

- Você vai fazer o molho, enquanto eu corto as salsichas e coloco o macarrão na panela.

Quer dizer... Você tem panelas, certo?

- Você está exagerando. Eu ainda vivo aqui, sabia? - ele acusou, divertido. - Estão ali. -

ele apontou para um armário num nível um pouco acima da minha cabeça.

Assenti.

Sandeul apresentou-me onde ficava todo o material necessário e decidi iniciar o

Page 20: Começou Com Um Beijo

trabalho.Certo. Primeiro, a panela. Estiquei-me para alcançar o objeto no armário, até que senti

uma presença atrás de mim, um calor humano foi identificado encostando-se em minhas costas.

Sandeul pegou com facilidade o que eu queria e me entregou, deixando-me corada e com o

coração acelerado. Mas que droga de proximidade foi aquela?! E por que meu plano de

sedução estava se voltando contra mim?! Isso é que não podia acontecer! Foco, Minah! Foco!

- Obrigada. - tentei parecer o menos afetada possível.

- Por nada... Mas, Minah... Você sabe que eu não sei fazer molho, certo? Eu nem lembro

de alguma vez que uma coisa diferente de miojo foi feita em panelas nessa cozinha.

Como podia ser uma coisa dessas?! Apenas nesse momento eu me dava conta de que eu

não sabia nada sobre sua família. E que talvez ele não tivesse uma. Mas então, de onde

provinha seu dinheiro? Na verdade, eu não sabia nada dele. E isso me incomodou.

- Ué! Aprende. - respondi enchendo a panela da água e colocando pra ferver.

- Eu realmente acho melhor.. - ele ia dizendo, mas o interrompi.

- Eu vou te dizendo o que fazer, ok? Coloque aquele pacote de molho de tomate e a

caixinha de creme de leite numa panela.

Sandeul me obedeceu e, apesar de tentar se mostrar enfadado com a tarefa, ele

claramente parecia se divertir com a nova experiência.

- E agora?

- Agora, põe uma pitada se sal, uma colher de sopa de manteiga e uma colher de sopa de

açúcar.

- Você tá brincando! - ele se surpreendeu, com os olhos arregalados, e parecendo até

mesmo desconfiado. Neguei com a cabeça, rindo de sua reação. Sandeul vistoriou a gaveta de

talheres por um tempo.

Suspirei.

- Esta é uma colher de sopa. - falei finalmente, pegando uma.

- Pra mim não tem diferença. - ele deu de ombros. - Eu poderia tomar sopa com qualquer

uma dessas colheres, então por que essa tem que se chamar de colher de sopa?

- Ah, pare de resmungar e trabalhe! - apontei com o queixo para a panela. Ele me

ofereceu uma careta.

Inspecionei para que o molho não queimasse e quando estava tudo pronto, colocamos as

Page 21: Começou Com Um Beijo

coisas na mesa.

- Então, vamos comer! - disse Sandeul esfregando as mãos, parecendo ansioso.

- Você realmente não faz comida em casa?

Ele negou com a cabeça, colocando porção de comida primeiro no meu prato e depois no

seu. Sandeul me fez rir enquanto olhava de forma desconfiada para sua comida antes de enfiar

uma garfada na boca.

- Waaa! Isso está bom! Oh, Deus! Eu que fiz esse molho!

Pensei em lhe lembrar que ele só tinha seguido uma receita, mas desisti ao ver sua cara

de orgulhoso. Tsc tsc tsc. Ele era uma criança ou o quê?

- Obrigado, Minah. Fazia um bom tempo desde que tinha comido uma refeição realmente

caseira. - ele sorriu tão sincera e docemente que fui pega de surpresa.

- Não fiz nada demais. Sabe, você pode encontrar milhões de receitas na internet.

Quando você as faz em casa, elas são comidas caseiras. Não é nenhuma mágica. - ri.

- Mas fazer comida sozinho para comer por si só não é a mesma coisa. - ele riu, mas não

havia diversão em sua voz.

- Ah, vamos lá! - tentei suavizar o clima. - Você deve trazer várias garotas pro seu

apartamento! Por que não cozinha pra comer com elas? Aposto que você ganharia uns pontos à

favor. - pisquei pra ele.

- Eu não trago garotas pro meu apartamento. - ele deu um meio sorriso.

- E você quer que eu acredite nisso? - perguntei, cética, com uma sobrancelha só erguida.

- Ei! Não sou um cara sem escrúpulos no final das contas. - ele se defendeu. - Eu penso

que o ambiente familiar deve ser respeitado.

- Bem. Isso é surpreendente... Mas você não mora só? - fiquei confusa.

- Às vezes meu pai aparece. - Sandeul disse com um sorriso fraco.

- Ahhh! Então é por que você não quer ser pego! Seu pai deve vir sem avisar, certo? - ri.

- Ya! - ele gargalhou. - É tão difícil assim acreditar que tenho meus princípios?!

- Tudo bem. Admitamos que está falando a verdade. Mas então, o quê?! Eu sou um

menino, por acaso?!

Page 22: Começou Com Um Beijo

- Mas é trabalho. É diferente. - ele piscou, divertido.

- No entanto, aposto que você já fez trabalhos com outras garotas antes.

- Mas eu sabia quais intenções teriam se viessem aqui.

- Convencido. - acusei. Ele apenas sorriu, sem nem se dar ao trabalho de se defender. -

Ao menos você sabe que não tenho nenhuma dessas intenções.

Senti-me um pouco culpada por dizer isso. Mas era apenas uma meia-mentira. Na minha

cabeça não devia passar nem 1% do que aquelas garotas deviam pensar em fazer com ele.

Tive um súbito tremor de repúdio ao imaginar tais coisas.

- Eu sei. Ainda não. - ele respondeu com um grande sorriso presunçoso. Então todos os

resquícios de culpa foram varridos de minha mente.

Atirei-lhe uma bolinha improvisada feita de guardanapo na cabeça. Sandeul não esperava

por isso e após ser atingido, jogou a cabeça pra trás rindo do meu ato.

- Estou apenas brincando! Apenas brincando! - ele se desculpou entre risos e procurou

mudar de assunto. - Mas, devo dizer... Realmente, comida feita em casa tem um gosto

diferente! Parece com o sentimento de... Lar. - ao perceber a última palavra que tinha usado,

seu humor pareceu desvanecer, no que ele disfarçou dizendo que ia pegar uns sucos pra gente

na geladeira.

O que isso significava?

Depois do almoço, sentei-me no sofá enquanto ele foi trocar de roupa. Sem querer

tropecei na mesinha de centro, derrubando sua carteira. Quando a apanhei, vi que um papel

plastificado e retangular se encontrava no chão. Sua identidade devia ter caído da carteira com

a queda. Não resisti e olhei a foto, bem na hora em que ele saía de seu quarto. Ao perceber o

que eu via, correu para tomar das minhas mãos, mas eu me levantei primeiro e mantendo o

sofá como obstáculo entre ele e mim, balancei seu RG na mão.

- Então, quer dizer que até mesmo Sandeul, o "cavalheiro da sedução", sai feio em foto

de identidade. - observei divertida.

- Ya! Devolve isso! - ele era um misto de embaraço e diversão. Sandeul correu pra me

pegar, mas então feito duas crianças idiotas começamos a correr ao redor do sofá, com ele

tentando me alcançar.

Enfim, ele teve a brilhante ideia de fazer o caminho inverso. Acabamos trombando, e

caindo no sofá, com ele em cima de mim. Oh, inferno! Encaramo-nos por um tempo, com uma

tensão sexual impregnada no ar. Ambos respirávamos com dificuldade por causa da corrida.

Page 23: Começou Com Um Beijo

Quer dizer... Foi por causa da corrida... certo?

Maldita hora em que decidi vir! E maldita hora em que resolvi olhar sua identidade e

correr com ela feito uma estúpida!

Esse era provavelmente o tipo de situação que minhas amigas me instruíram a evitar. E

era exatamente o que eu estava fazendo.

Sandeul se movimentou um pouco e pensei que ele fosse sair de cima de mim, mas ao

invés disso, seu olhar desceu para a minha boca. Droga, droga, droga!

Seu rosto se aproximou do meu e eu podia sentir sua respiração pesada fazer cócegas

em meus lábios. Meu Deus! Ele ia me beijar...

Page 24: Começou Com Um Beijo

Capítulo 5 – Sandeul

Deus, estava tão perto de beijá-la! E cara... Ela era linda. Eu me perguntei por um momento

porque não a tinha notado antes.

Mas quando vi sua expressão: os olhos pressionados com força, e então a mão levantada

na frente da boca para cobri-la, levantei de cima dela, ajudando-a a sentar. Ela não queria me

beijar. Era chocante. Mas agora era uma questão de orgulho. Corrigindo... Ela não queria me

beijar - ainda. Eu definitivamente faria ela se apaixonar por mim. Soltei uma risadinha

brincalhona.

- Eu não te beijaria contra sua vontade. - defendi-me quase me sentindo ofendido por sua

reação extremamente cautelosa.

- Seu passado te condena. - ela proferiu olhando-me pelo canto dos olhos.

Não pude evitar uma gargalhada que irrompeu pela minha garganta.

- Hey! Mas eu não sabia que você não queria.

- E você sabia agora?

- Bom, quando uma garota coloca a mão na frente da boca se uma cara está a menos de

10cm de seu rosto, eu imagino que ela esteja tentando evitar qualquer tipo de contato labial. -

falei pegando minha bolsa e retirando uns papeis de dentro, tentando parecer indiferente.

Ela assentiu. Mesmo já sabendo que essa seria sua resposta, não esperava me sentir tão

incomodado com a confirmação. Minah limpou a garganta, chamando minha atenção.

- Então, vamos começar o trabalho?

- Claro. - sorri.

Começamos a escrever esboços em folhas de papel e compartilhar as ideias que

tínhamos sobre o assunto e como fazer o trabalho. Eu estava distraído lendo alguns materiais e

pedi, sem prestar muita atenção:

- Minah, você pode pegar meu notebook? Está em cima da minha cama no quarto.

Percebi pelo canto do olho que ela congelou. Voltei minha atenção a ela.

- O que foi? - perguntei.

- É melhor você ir. Sabe, quarto é algo muito pessoal e-..

- Você está com medo de ir no meu quarto? - perguntei, interrompendo-a e levantando

Page 25: Começou Com Um Beijo

uma sobrancelha.

- Qu-que? - ela gaguejou. - Medo? Não, imagina! Eu só..

- Você obviamente não confia em mim. Não entendo por que está aqui então. - falei

sentido-me ofendido.

Então o quê? Ela pensava que eu era um estuprador?

- Não confio mesmo. Como poderia se nem te conheço direito? - ela falou lentamente. -

Mas também não desconfio a esse ponto. Você não seria burro de tentar algo quando está em

um apartamento super chique e todo mundo sabe quem é você, e onde mora... É só que... Me

sinto estranha indo no quarto de um garoto...

- Então, é só por isso? Você não pensou que eu ia te atacar ou algo assim?

- Na verdade, não. Talvez eu devesse ter pensado. - ela respondeu, constrangida. - Ah,

enfim! Vamos apenas fazer um trabalho, certo? Seu quarto é aquele? Estou indo buscar seu

notebook!

Ela falou tudo num jato e levantou depressa.

Suspirei. Bom, isso era um alívio pelo menos. Não que eu realmente me importasse com

o que ela achava de mim... Era só que ela ter uma imagem minha de pervertido poderia

atrapalhar meus planos - repeti pra mim mesmo. E por falar em meu plano, eu precisava

começar a agir.

Minah saiu do meu quarto trazendo o notebook em uma mão e um porta-retratos em

outra. Parecia mais calma.

- Seu pai? - perguntou apontando pro homem ao meu lado numa foto de anos atrás.

Assenti num meio-sorriso.

- Vocês se parecem. - ela sorriu. - Se você mora sozinho, onde ele mora?

- Ele ainda mora aqui... teoricamente... - meu sorriso sumiu um pouco e Minah arregalou

os olhos.

- Oh, Deus! Sinto muito! Eu, eu-.. - seu rosto fichou em chamas.

- Calma! Ele está vivo! - desfiz o mal entendido, rindo. - Ele realmente mora aqui. O que

eu quis dizer é que ele vive viajando por causa do trabalho, então raramente está em casa.

- Ah... - seu rosto começou a voltar à coloração normal. Ela voltou a meu quarto pra

devolver o porta-retratos ao seu lugar, e voltou para a sala.

Page 26: Começou Com Um Beijo

- Você não se sente solitário aqui? - perguntou. - Quer dizer... Supondo que eu acredite

que você não traz garotas e tal.. - ela brincou.

- Ya! - recamei. Depois ri, coçando a parte de trás da cabeça. - Não é tão ruim. Estou

acostumado.

Ela assentiu. Então tocou a parte de trás de seu pescoço, que parecia estar

incomodando. Sorri. Era minha chance.

- Quer que eu faça uma massagem? - perguntei, e sem esperar uma resposta, virei-a de

costas pra mim.

Minah começou a protestar, mas eu continuei mesmo assim.

- Eu sou bom nisso, certo? - sorri, enquanto apertava seus ombros de maneira ágil. Eu

quase podia ver ela revirar os olhos.

- Tem alguma coisa em que você não se ache bom? - perguntou, irônica.

- Tem algumas coisas em que me acho excelente, na verdade. - respondi, dando de

ombros.

Minah gargalhou, sem acreditar no quão convencido eu poderia ser. O som de sua risada

era algo meio que contagiante.

- É o suficiente, obrigada. - ela parou minhas mãos delicadamente, com um leve rubor

acusando seu acesso de risos há alguns segundos atrás.

Sentei no chão pra escrever melhor sobre a mesinha, usando o sofá como encosto.

Comecei a fazer pesquisas no notebook, enquanto discutíamos alguns tópicos. Então, de

repente Minah passou a mão em meus cabelos. Olhei pra ela, surpreso.

- É macio. - ela sorriu gentilmente, continuando a afagar e brincar com meus fios.

Ok. Ok. Ok. Apenas o que estava acontecendo?! Ela tinha sido possuída?!

Eu acho que tinha esquecido de como era bom receber afagos na cabeça. É que era um

tipo de carinho tão ingênuo que eu nem lembrava de quem ou quando eu tinha recebido pela

última vez.

- Isso é bom... - sussurrei, deixando minha cabeça cair no assento do sofá. Meu corpo

inteiro se sentiu leve por alguns segundos.

Minah soltou uma risadinha baixa, e por alguma razão aquilo parecia como música aos

meus ouvidos. Talvez eu só estivesse relaxado demais.

Page 27: Começou Com Um Beijo

- Ok. Vamos voltar ao trabalho. Nós não progredimos muito e eu daqui a pouco tenho que

ir embora. - disse ela interrompendo o movimento das mãos.

Quase soltei um suspiro. Quase. Quando me dei conta do quão estúpido eu devia ter

parecido, forcei-me a lembrar do meu plano e de trancar quaisquer outras coisas que eu

pudesse ter sentido. Não perca o foco, Sandeul. O alvo já está na mira. A caça não podia se

transformar em caçador. De qualquer forma, durante toda a tarde esbanjei meu charme e

ofereci meu melhor sorriso sempre que pude. Ela pareceu fazer o mesmo, o que estranhei.

Talvez meu plano estivesse funcionando melhor do que eu esperava... Sorri com o pensamento.

Depois de mais algum tempo, acreditamos ter feito o suficiente por um dia, e Minah

anunciou que ia embora. Era um pouco decepcionante, mas realmente estava ficando tarde.

Entramos no elevador, sozinhos.

- Eu irei te levar de carro. - anunciei apertando o botão T.

- Quê? Aquela BMW setecentos sei lá o quê? Não, obrigada. - ela recusou sem nem

pensar duas vezes.

Fiz uma careta.

- É 760Li. E você sabe, a maioria das pessoas faria questão de andar nesse carro...

- Um: eu não sou a maioria. E dois: realmente não tenho a intenção de andar por aí em

um carro como esses. O mundo já é perigoso o suficiente sem as pessoas acharem que sou

uma esbanjadora de dinheiro. - ela explicou enumerando os motivos com os dedos.

- Não sou um esbanjador. - minhas sobrancelhas se juntaram.

- Usar um carro como esses pra ir pra faculdade, sendo que você ainda é um estudante

faz de você um esbanjador. Isso chama a atenção das pessoas, mesmo que você não perceba.

Eu nunca usava esse carro pra ir à faculdade. Ele tinha sido um presente do meu pai

quando eu tinha feito 18 anos. Tinha levado especialmente hoje pra impressioná-la. Porque eu

realmente estava tentando conquistá-la pra completar o meu plano e não aceitaria uma derrota.

Mas não diria isso à ela.

- Você está se preocupando comigo? - perguntei fingindo surpresa.

- Sonha.- ela bufou. E parecia séria, o que me irritou levemente.

Coloquei-a contra a parede espelhada do elevador, quase sem deixar espaço entre nós.

- Você realmente não se preocupa comigo? Nem um pouco? - perguntei fingindo uma

Page 28: Começou Com Um Beijo

cara fofa de cachorrinho abandonado, olhando-a nos olhos.

Minah levantou o olhar pra mim e achei que vi algum tipo de decisão de formando através

de sua íris escura. Ouvi um plim da porta do elevador se abrindo. Minah ficou nas pontas dos

pés e se inclinou pra mim. Beijou o canto da minha boca e deu um sorriso torto.

- Talvez um pouco. - ela sussurrou e caminhou pra fora do elevador, me deixando

chocado e com a respiração presa na garganta. Desde quando ela tinha se tornado... Sexy?

Observei sua silhueta se afastando e a porta do elevador se fechou. Encostei a cabeça

numa das paredes metálicas. Essa garota estava me deixando louco!

Eu tinha que começar a jogar meu jogo pra valer o quanto antes ou então... Deus sabia o

que podia acontecer. Fui dormir aquela noite cheio de pensamentos dela e quando me peguei

fechando os olhos desejando que ela estivesse ali pra acariciar meus cabelos pra dormir,

balancei a cabeça freneticamente. Que diabos estava acontecendo comigo?

Precisava seduzir Minah o quanto antes e depois dar um pé na bunda dela. Relembrei a

mim mesmo o motivo da minha vingança e ao recordar da dor que senti em meu órgão, minha

cabeça pareceu voltar a funcionar normal novamente, quando meu sangue voltou a ferver de

raiva. Sim, era esse sentimento que eu precisava manter em mente.

Page 29: Começou Com Um Beijo

Capítulo 6 – Minah

- Bom dia. - disse uma voz masculina acima do som que eu estava ouvindo.

Eu estava tentando me distrair dos pensamentos do que tinha acontecido no dia anterior.

O elevador tinha sido a pior parte. Achei que um espírito satânico tivesse me possuído. Como

assim eu beijei perto da boca dele?! Eu sabia que devia estar parecendo uma louca com

personalidades múltiplas para Sandeul e cheguei à conclusão de que devia reprimir melhor a

parte da minha personalidade que odiava ele, se eu quisesse que ele se apaixonasse por mim.

E eu iria até o fim com isso, então eu deveria ser doce com ele. Só de imaginar isso me dava

arrepios, mas eu precisava fazer isso, e fazer isso bem. Eu tinha pesquisado sobre formas de

seduzir, mas oGoogle me trouxe ideias pouco proveitosas visto que eu não tinha intenção de ir

pra cama com ele.

- Bom dia. - finalmente falei ao ver quem era que tinha me cumprimentado. Aquele amigo

do Sandeul. Eu nem sabia o nome dele, apesar de estudarmos juntos e me senti mal com isso.

- Você vem sempre tão cedo? - perguntou ele depositando sua mochila em cima de uma

banca.

- Não, na verdade foi porque eu acordei cedo demais e não consegui voltar a dormir. -

sorri sem graça. - E você?

- Só às vezes. - respondeu sorrindo, voltando a encaixar seu headphone nas orelhas.

Abaixei os meus, deixando-os em torno do pescoço e me aproximei da carteira em frente

a dele. Sentei.

- Desculpa. O seu nome é...

Quando ele pareceu confuso com a minha pergunta inesperada, resolvi explicar.

- É que estudamos na mesma sala, e percebi que nunca nos falamos...

- Ah, é verdade. - ele assentiu com um movimento de cabeça lento. - Jiwon. - respondeu

simpaticamente. - Meu nome é Chang Ji Won.

- Oh, Chang Ji Won. - experimentei nos lábios. Era um bom nome. - Meu nome é Minah!

Jang Min Ah.

Estendi a mão pra ele, que a pegou e movemos pra cima e pra baixo.

- Eu sei. - ele disse em tom divertido que eu não entendi.

- Então, o que você está ouvindo? - perguntei quando um silêncio estranho tomou conta

Page 30: Começou Com Um Beijo

do ambiente.

- Ah, isso... Nada demais. - ele pareceu muito envergonhado. Suas bochechas estavam

vermelhas.

- Ohh safadeza?! - saiu da minha boca sem que eu pudesse evitar.

- O quê?! Não! - Jiwon explodiu em risadas ainda mais ruborizado.

- Desculpa. - inclinei a cabeça, cometendo um suicídio mentalmente.

- Não é isso. É só que... - ele pigarreou. - É uma gravação minha.

- Uma gravação? - levei um segundo para entender. - Ahh, você canta?

Ele assentiu com a cabeça levemente.

- Mas não é nada demais, por isso..

- Posso ouvir? - perguntei empolgada.

Ele me observou alguns segundos e depois suspirou.

- Tudo bem, mas não me responsabilizo pela poluição sonora.

- Ei, você precisa ter mais confiança em si mesmo! - falei dando um tapinha incentivador

no seu ombro. Jiwon bufou com uma risadinha.

- Você nem mesmo ouviu ainda. - ele comentou colocando seu headphone em minha

cabeça.

A melodia começou a soar.

- Waa, você toca também?

- Só violão. - ele respondeu rapidamente, parecendo sem graça.

Descobri que conhecia a música, quando sua voz começou a soar:

O momento em que eu te vi pela primeira vez foi como um sonho

Porque seu sorriso era tão lindo, como o de um anjo

Como seria ter você como o meu amor?

Eu me sinto tão feliz apenas imaginando isso

Nós compartilhamos fones de ouvido

Page 31: Começou Com Um Beijo

Nesse momento, acho que fiquei vermelha, porque parecia com o que estávamos

fazendo. Fechei os olhos, fingindo fazer isso para me concentrar na música, quando na verdade

foi para disfarçar a vergonha. Wow. Mas a voz dele era realmente muito boa!

E eu sorrio quando nós olhamos um para o outro debaixo do sol brilhante

Não se preocupe com as outras pessoas

Não há tempo suficiente para olhar apenas para mim, eu deixarei você saber

Senti os pelos do meu braço se arrepiarem no refrão.

Eu imagino você sorrindo pra mim

Eu imagino você segurando minha mão, oh oh

Lanço um feitiço e desejo que você se torne o meu amor

Eu imagino você dormindo nos meus braços

Eu imagino você me beijando, oh oh

Que imaginação mais doce...

(CNBlue – Imagine)

Tirei os fones lentamente e abri os olhos.

- Jiwon, você está em alguma banda ou algo assim? - perguntei seriamente.

- Ah, não. Eu só toco por hobby mesmo.

- Sério? - fiz uma careta. - Isso é um desperdício, acho. Você canta muito, muito bem! De

verdade! - exclamei de forma sincera.

Segurei suas mãos entre as minhas.

- Se alguma vez você fizer um show, ou algo assim, você tem que lembrar de me avisar!

Você promete?

Mostrei o meu mindindo. Jiwon pareceu um pouco confuso e envergonhado, mas assentiu

sorrindo. Entrelaçou seu mindinho com o meu, e depois colamos nossos polegares. Pink

promisse!

- Obrigado. Mesmo. Mas eu não canto tão bem assim.

- Aish! - dei um leve tapa em suas mãos. - Vamos lá de novo! Primeira coisa que você tem

que ter: confiança em si mesmo! Dessa vez eu já ouvi sua voz, e estou te dizendo claramente:

você canta pra caramba!

Page 32: Começou Com Um Beijo

- Obrigado. - ele sorriu, mostrando os dentes brancos e bem alinhados.

Wow. Ele era bonito. Senti minhas bochechas arderem quando seu olhar pesou sobre

mim.

- Você toca algum instrumento? - perguntou ele.

- Ah, sim! Eu toco piano! - sorri. - É que tem um piano que foi da minha avó lá na minha

casa, mas antes ele só servia pra juntar poeira, porque ninguém sabia tocar, mas ninguém

queria se desfazer dele também. Então, eu resolvi aprender pra que ele pudesse ter alguma

utilidade. Foi bem difícil no começo, mas consegui.

- Ah... Você parece ser uma boa garota. - Jiwon falou bagunçando meu cabelo, e eu fiquei

sem entender porque seu tom parecia triste, apesar do elogio.

- Você também parece ser um bom garoto. - comentei. - Por isso não entendo sua

amizade com Sandeul. Achei que "os opostos se atraem" só funcionasse para casais.

Falei e ao mesmo tempo pensei numa possibilidade.

- A não ser que... - deixei no ar.

Será que Sandeul fingia ficar com várias meninas para esconder seus verdadeiros

sentimentos?! Será que o amor da vida dele era o Jiwon?! Então, eles eram... gays?!

- Ya! - Jiwon reclamou provavelmente imaginando onde minha linha de pensamento tinha

dado. - Não somos gays! Somos amigos! Acontece que Sandeul não é tão mau assim uma vez

que você o conhece de verdade...

- Ah, é isso? - perguntei rindo para disfarçar o momento embaraçoso.

Jiwon bufou e riu, bagunçando meu cabelo de novo, enquanto eu protestava. Estávamos

assim quando uma voz masculina soou pela sala.

- Bom dia... Uau! Tanta diversão logo cedo pela manhã! Posso participar também ou estou

atrapalhando alguma coisa?

Eu e Jiwon viramos na mesma hora pra ver Sandeul com um grande sorriso aberto e a

mochila jogada atrás das costas, encostado na soleira na porta. Sua voz tinha um tom divertido,

mas por alguma razão, seu sorriso não parecia chegar aos olhos.

Por que diabos de repente eu tinha o sentimento de estar fazendo alguma coisa errada?

Page 33: Começou Com Um Beijo

Capítulo 7 – Sandeul

- Bom dia. Não está interrompendo nada, Sandeul. Você sabe disso. - Jiwon sorriu, mas

percebi que me repreendia com o olhar.

Aproximei-me e depositei minha mochila na carteira em frente ao que identifiquei ser a

bolsa de Minah.

- Enfim. Vou na biblioteca devolver uns livros. Já deve estar aberta a essa hora. - falou o

meu amigo, levantando-se.

- Ah, eu também tenho um livro pra devolver. Me espera? - Minah pediu, retirando-o de

dentro de sua bolsa.

- Eu posso fazer isso por você. - ofereci, ficando de frente pra ela.

Minah me mediu de alto a baixo, mas então concordou. Entregou-me o volume e

agradeceu com um sorriso.

- Sem problema. - sorri de volta, e num movimento rápido beijei sua bochecha. Ou melhor,

o canto da sua boca. Exatamente como ela tinha feito comigo no dia anterior. Depois, retirei-me

da sala sem olhar pra trás. Vai que eu levava outro chute?

Eu e meu amigo caminhamos pelo corredor. Jiwon então quebrou o silêncio.

- Aquilo foi desnecessário, você sabe.

- O que foi desnecessário? O meu bom dia ou o meu beijo?

Meu amigo rolou os olhos.

- Eu só estava falando do bom dia. Mas agora que penso melhor, os dois.

- E por quê? - perguntei fingindo inocência.

- Primeiro, você fez nós dois ficarmos constrangidos, quando não estávamos fazendo

nada demais. Segundo, - ele parou, forçando-me a olhar pra ele. Então riu. - Você pareceu mais

um namorado ciumento beijando ela na minha frente. Parecia querer dizer: “Ela é minha.” -

Jiwon bufou, rindo.

- Amigo, você ainda tem muito o que aprender sobre as mulheres. - falei dando leves

tapinhas em suas costas, quase fazendo-o derrubar seus livros. Depois de ele me xingar,

voltamos a caminhar. - Não sabe que as garotas gostam de um pouco de ciúmes?

- Oh, sim? - ele revirou os olhos.

Page 34: Começou Com Um Beijo

- Claro!

Jiwon suspirou.

- Sei que disse que não ia me meter, mas... Sandeul. Ela é uma garota legal. - disse ele

ao pararmos na porta da biblioteca.

- É... Ela pode ser bem legal quando não chutou suas partes íntimas. Eu sei o que estou

fazendo Jiwon. Não se preocupe.

- É por isso mesmo que me preocupo. - disse ele ao me observar abrir a porta para uma

garota passar, com um sorriso flertativo nos lábios.

---

- Minah. - chamei-a, quando estava perto de terminar a última aula. - Precisamos

conversar.

- Sobre? - ela ergueu uma sobrancelha.

- O trabalho. - fiz uma pausa, um sorriso lentamente se espalhando em meu rosto. -

Esperava ser outra coisa?

- Claro que não! - ela rebateu com tanta vivacidade que o professor pediu para fazermos

silêncio.

Virei-me pra frente me segurando pra não rir.

Minah saiu mais rápido do que eu e me apressei para jogar meu material dentro da bolsa

e ver se ainda a alcançava, mas para minha surpresa, ela estava me esperando do lado de fora

da sala.

- O quê? - perguntou ao perceber que eu não esperava vê-la aqui. - Sou uma pessoa

responsável. O que quer dizer sobre o trabalho?

- Ah, sim. - Minah umedeceu os lábios e tive que me fazer um esforço extra para falar sem

ficar olhando para o leve brilho dos seus lábios hidratados. - Podemos nos reunir amanhã de

novo?

Ela pareceu vistoriar uma agenda mental, e acabou assentindo.

- Mesmo local? - sugeri, desejando que parecesse tão indiferente quanto fosse possível.

- Tudo bem. Então se não há mais nada, nos vemos amanhã.

Page 35: Começou Com Um Beijo

Minah virou-se para ir embora, e acabou trombando com uma outra garota no movimento.

Ela era de outro período e conhecida por seus maus modos. Mas eu já tinha pegado ela.

- Desculpe. - pediu Minah, com um sorriso sem graça.

- Desculpe?! Ao invés disso, querida, por que você não olha por onde anda primeiro?!

Eu estava pronto para interferir, mas Minah mesma respondeu:

- Quando eu desenvolver olhos nas costas, talvez, querida. Por enquanto, vou continuar a

me valer da minha boa educação.

Virou-se pra mim, que estava tão incrédulo quanto a garota.

- Tchau, Sandeul. Nos vemos amanhã. - sorriu e passou pela menina, com o seu típico

nariz empinado.

Eu tive um acesso de riso enquanto a garota ficava vermelha feito um pimentão de raiva e

se retirava pisando forte.

Ao chegar em casa, me joguei no sofá. Com preguiça, alcancei meu celular que estava

tocando. Quando vi o nome no visor, porém, atendi com pressa.

- Pai!

- Deuldeul! - disse aquela voz familiar, fazendo-me sorrir ao ouvir o apelido que só ele me

chamava. - Como você está?

- Estou bem! E você? Como está? Não, melhor: Onde você está?

Meu pai riu.

- Estou bem. Estou na Itália! Sandeul, um dia você tem que experimentar essas massas!

Eu comi uma macarronada outro dia simplesmente espetacular!

- Ah, eu fiz macarronada ontem! - falei sem pensar.

- Espera. Você? Cozinhando? - meu pai se surpreendeu.

- Na verdade, só o molho.

Não satisfeito com a resposta, ele esperou que eu continuasse. Suspirei.

- Outra pessoa fez a parte do macarrão e das salsichas. Mas, pai.. - eu ia mudar de

assunto.

Page 36: Começou Com Um Beijo

- Outra pessoa? Quem? - ele interrompeu.

Não respondi.

- Uma garota! - ele deduziu.

- Sim, mas não fique tão agitado. Ela é apenas minha parceira de trabalho.

- Oh, sim. Só uma parceira de trabalho e vocês até cozinham juntos! Imagina..

Foi a minha vez de interromper.

- Pai, você sabe que eu não sou assim.

- Sei... Por isso mesmo me surpreendi. Nunca soube de nenhuma garota que foi aí em

casa. Você nunca me apresenta nenhuma amiga, nem namorada...

- Isso é porque eu realmente não tenho nenhuma dessas coisas.

Houve uma breve pausa.

- Deuldeul, você sabe que me sinto culpado por isso, não sabe? Não é porque-..

- Pai, não quero falar sobre isso. Ok? Vamos ao que interessa: Quando você volta?

Ele suspirou.

- Voltarei próximo mês, mas... O quê? Ah! Ok. Estou indo. - ele pareceu dirigir essas

palavras a alguma pessoa do outro lado da linha. - Deuldeul. O dever me chama. Nos falamos

depois?

- Claro.

- Ah! Mande lembranças minhas à sua parceira de trabalho.

- Não, eu não farei isso. - resmunguei, me amaldiçoando por ter aberto a boca.

Meu pai riu.

- Ok, ok. Fica pra próxima vez. Então, é isso.Tchau, filho. Se cuide.

- Você também!

E a chamada foi encerrada.

---

Page 37: Começou Com Um Beijo

No outro dia, eu cheguei mais cedo do que de costume na faculdade. Não porque eu não

queria que a cena do dia anterior se repetisse, mas apenas porque senti vontade de chegar

cedo. Só isso. Jiwon não tinha chegado ainda. Estava sozinho na sala. Li qualquer coisa até

que os outros alunos começaram a chegar. Depois de um bom tempo, Minah apareceu. Quase

senti raiva dela por eu ter chegado cedo para vê-la e ela só chegar a essa hora, mas lembrei a

mim mesmo que não foi por isso que eu o tinha feito. Eu ia chamá-la para sentar atrás de mim,

mas não precisei fazê-lo.

- Bom dia. - sorriu ela depois de um bocejo, sentando na carteira. Fiquei satisfeito com

isso. Queria dizer que ela sentia vontade de estar perto de mim. Ri internamente. Eu estava

começando a ganhar terreno.

- Bom dia. - falei com uma voz tão charmosa que qualquer uma se derreteria. Sim,

qualquer uma. Menos esse ser diabólico.

- Jiwon! - exclamou ela ao ver meu amigo entrar. Levantou-se e foi conversar com ele em

particular.

Ah, não. Isso não era nada bom. Se ela se tornasse amiga do Jiwon, seria uma coisa ruim

a se fazer seguir com o meu plano. E isto absolutamente não podia acontecer. Eu tinha que

realizar o meu plano.

Chegou a hora do intervalo e procurei saber de Jiwon o que eles tinham conversado.

- Nada importante. - respondeu ele num falso tom casual.

- Eu pensei que fôssemos melhores amigos. - comentei, com uma careta. Jiwon riu.

- E somos. Você sabe. Mas é só que... Bem. Se der certo, eu te falo depois. Só não quero

criar expectativas. - falou ele, percebi, acanhado.

Se der certo? Criar expectativas?! Deus, eu não acreditava que meu amigo estava se

apaixonando por Minah! Isso não era uma... Traição?! E pior... Ele não sabia o que eu estava

fazendo?! Ele planejava interferir?! Ou antes... O que eu faria? Eu sabia que teria que desistir

do meu plano se isso fosse verdade, em nome da nossa amizade.

- Você conversou com ela uma vez e já está assim? Ou entraram em contato mais vezes

sem que eu soubesse? - perguntei relutante e levemente irritado. Não sabia se queria mesmo

ouvir a resposta.

- Já estou assim? - ele repetiu, parecendo não entender. – Do que está falando?

- Ah, por favor, Jiwon! Quer que eu te ensine o abecedário da Xuxa tambem? Estou

Page 38: Começou Com Um Beijo

falando de estar gostando dela, apaixonado, de quatro, com os pneus arriados.. Quer alguma

outra expressão?

- Mas o quê..?! - Jiwon não conseguiu completar sua pergunta. Caiu na gargalhada, o que

me deixou ainda mais irritado. - Eu não estou gostando, apaixonado, de quatro ou com os

pneus arriados por ela, cara! Não tem nada a ver com isso! Deus, Sandeul! De onde tirou essas

ideias? Ah, deixa pra lá. O que aconteceu é que ela quis me informar de um concurso de

talentos que irão promover aqui na faculdade. Minah descobriu que eu toco e canto ontem,

então estava me incentivando a participar. Só isso.

- Ah... - foi o que pude dizer. Estava me sentindo um pouco... meio... um completo idiota.

Jiwon me deu uns tapas nas costas como forma de liberar a tensão que ali tinha se

instalado.

- Por acaso já me envolvi com algum de seus “alvos”? - ele fez as aspas no ar. - Mesmo

que eu não planeje me envolver com Minah nesse sentido, ainda gostaria de te persuadir a não

cumprir com o plano. Eu já te disse antes. Ela é legal. Não merece isso.

Eu ia falar, mas Jiwon me interrompeu.

- E mais uma vez, você agiu como o namorado ciumento. Cuidado. Pode acabar caindo

na própria armadilha. - comentou e me deixou sozinho antes que eu pudesse rebater. Tch!

---

Caminhei com Minah até meu carro. Propositalmente, eu havia levado o outro, que não

era minha BMW, para mostrar a ela que eu tinha sim algum senso.

- Desistiu da sua esposa? - perguntou ela levantando uma sobrancelha.

- Jamais! Essa, - bati no capô do meu C3 vermelho de leve. - É a minha amante.

Minah bufou.

- Eu sabia que os homens não eram dignos de confiança. Ainda mostra com orgulho a

traição. - ironizou.

- Eu diria que isso se aplica melhor às mulheres. - eu planejava usar um tom

despreocupado ao falar isso, mas saiu de uma forma tão acusatória e ressentida que Minah

analisou em silêncio meu rosto por alguns segundos antes de entrarmos no carro. Droga.

- Me pergunto se você teve uma má experiência no passado... E talvez, se não será por

isso que você é um pegador completamente averso a compromissos.. - sua fala saiu em forma

Page 39: Começou Com Um Beijo

de pergunta.

Uma pergunta que eu não queria responder, mas que assombrava-me há anos.

Page 40: Começou Com Um Beijo

Capítulo 8 – Minah

- Não quero falar sobre isso. - ele deixou claro.

- Como quiser...

Imaginei que tinha forçado a barra, uma vez que não podíamos ser considerados nem

amigos. Depois de uma pausa, Sandeul resolveu falar:

- Desculpe. Não quis ser rude com você. Eu só... Não quero falar nisso.

- Não, tudo bem. - dei um meio sorriso. - No entanto, se me permite dizer... Seja como for

que tenha sido a traição... Acho que não podemos nunca generalizar os comportamentos

humanos. Se pudéssemos fazer isso, a maioria das ciências humanas nem precisaria existir. -

dei de ombros. - Mas enfim... Imagino que seja mais fácil falar do que realmente pensar isso

quando se viveu uma situação assim.

Sandeul assentiu lentamente. Mas eu não era tão convencida a ponto de achar que

aquelas palavras tivessem quaisquer efeitos. Parecia que tinha sido uma experiência muito

ruim, e de muito tempo atrás.

- Coloque o cinto. - Sandeul me tirou dos meus devaneios. Ele se inclinou sobre mim,

nossos rostos ficando a apenas alguns centímetros um do outro. Não sei quanto tempo ficamos

assim, se um segundo ou dois, mas pareceu uma eternidade pra mim. Mal conseguia respirar,

porque quando inspirava, o cheiro de sua colônia masculina preenchia meus pulmões e quase

me deixava tonta. Senti as bochechas arderem. Por fim Sandeul sorriu, puxou o meu cinto de

segurança e o colocou ele mesmo, finalmente se afastando.

Maldito cavalheiro da sedução! Então era assim que ele agia!

Ele ligou o som do carro, preenchendo o silêncio que havia se instalado entre nós dois.

Mas então começou a tocar a música 'Imbranato' de Tiziano Ferro. O começo era um pouco - ou

muito - constrangedor quando havia apenas um garoto e uma garota no ambiente.

A música era em italiano, mas ao trocarmos um rápido olhar constrangido, percebemos

que ambos conhecíamos a tradução. Tomei a liberdade de mudar a estação e deixei tocar uma

outra música qualquer.

Pensei que iríamos direto para seu apartamento, mas ele fez uma parada no caminho: o

supermercado. Ele desceu do carro, e então abriu a minha porta.

- Então, o que vamos comer hoje? - perguntou parecendo excitado.

Page 41: Começou Com Um Beijo

Eu o encarei ainda sentada.

- Ya, você acha que porque ajudei a cozinhar uma vez, que sou sua cozinheira?

- Eu nunca tive uma. Deveria te contratar? Eu pagaria bem!

Levantei e observei seu segundo carro e suas roupas de grife.

- É, eu imagino que sim... - comentei.

Então nos dirigimos pra dentro do supermercado.

- O que vamos fazer? - ele tornou a perguntar.

- O que você gostaria de comer? - perguntei distraída, observando um garoto bonito

passar. Ele olhou pra mim e sorriu.

Sandeul segurou minha mão e saiu me puxando dali.

- Quero comer lasanha! - informou.

- Você sabe que demora um pouco pra fazer lasanha, certo?

- Tudo bem. Podemos comer alguma besteira se estivermos com fome. - e dizendo isso,

saiu jogando alguns pacotes de salgadinho e biscoito recheado. Bufei.

- Ah, ótimo.

Não sei como mantêm esse corpo sarado - pensei.

- Eu vou pra academia. - respondeu Sandeul sorrindo. Levei alguns segundos para

compreender.

- Eu falei em voz alta?! - finalmente perguntei com um tom pelo menos uma oitava acima

do normal.

Seu sorriso ampliou, e eu tive minha resposta positiva. Desviei o olhar. Pegamos o

material necessário e finalmente fomos para casa. Não que sem antes eu observasse o olhar

das garotas no supermercado para ele. Uma vez a garota olhava tão insistentemente pra ele,

mordendo o lábio e mexendo nos cabelos, que me irritou a ponto de eu repetir o ato de Sandeul

de mais cedo: segurei sua mão e o arraste dali com a desculpa de que precisávamos pegar um

produto em outra seção. Será que não podiam ser mais... Discretas pelo menos?

Estava recordando dessas coisas enquanto cozinhava, quando fui despertada por um

grito de Sandeul. Ele chupava o dedo com força e percebi que tinha se cortado.

Page 42: Começou Com Um Beijo

- Aish! O que você é? Uma criança?! Vem cá! - reclamei.

Peguei seu dedo e deixei alguns segundos em água fria corrente. Depois perguntei aonde

ficava o remédio e ele me mostrou a caixinha de primeiros socorros. Usei o remédio em spray

em seu dedo, e ele reagiu com um pequeno grito.

- Que bonito! O homem desse tamanho! - zombei, mas não pude deixar de rir. Soprei o

machucado como minha mãe fazia, para aliviar a dor. - Pronto? - perguntei quando percebi que

ele me observava. Sandeul assentiu.

Então envolvi o corte com um band-aid.

- Ah, fica aí, que eu termino. Não falta muito. - disse, levantando para voltar à cozinha. Ele

segurou meu braço.

- Obrigado. - seu tom foi tão sincero, que meu interior ficou agitado. Soltei-me depressa a

fim de que ele não visse meu rubor.

- Não foi nada, bobão. - disse, pelas costas.

Mas logo ele estava atrás de mim.

- O quê? - perguntei.

- Quero ver você cozinhando.

- Vem cá! Por acaso você tem algum fetiche com empregadas?!

- Nunca tive... - ele se aproximou lentamente de mim. - Até agora.

- Ya! - soquei seu braço, minhas bochechas ardendo de vergonha e raiva.

- É brincadeira! É brincadeira! - ele correu de volta pra sala. Acabou por fim, se inclinando

sobre a bancada pra ver o que eu fazia de qualquer forma.

Convenci a mim mesma de que ele só queria aprender a cozinhar e terminei o trabalho

mais tranquila. Enfim a lasanha foi servida e comemos até ficarmos cheios.

- Eu sinceramente não lembrava que comida feita em casa tinha um gosto diferente. É

bem melhor! Por que a indústria não faz esse gosto também? Devia ter esse sabor! Será que eu

deveria inventar? Waa, eu ficaria rico com isso!

- Como se já não fosse. - revirei os olhos. - E além do mais, você não acha que já

tentaram antes de você? É apenas que não tem como reproduzir fielmente o sabor. Aceite isso.

Page 43: Começou Com Um Beijo

Retirei os pratos da mesa, enquanto Sandeul guardava o resto da comida na geladeira.

Depois fomos pra sala levando nossos materiais de pesquisa para o trabalho. Fizemos o que

podíamos e achamos que era suficiente por um dia. Sentamos no sofá, e fizemos algumas

observações de como tinha começado a chover forte do nada. Já estava tarde. Estava tudo

bem e eu me preparava para ir embora, até que de repente...

Todas as luzes se apagaram. Pulei e me agarrei a coisa mais próxima que havia de mim.

Acho que não fiquei assim durante nem um minuto, mas pareceu pra mim tempo suficiente para

que todo o universo fosse criado de novo. Imaginei que deveria sentir repúdio ou ficar mais

nervosa quando me dei conta de que na verdade, eu estava abraçada com força a Sandeul.

Mas ele ficava falando coisas tranquilizantes no meu ouvido, enquanto devolvia o abraço de

forma protetora, de maneira que acabei me acalmando.

- Ei, calma. Eu estou aqui. A luz vai voltar logo. Temos gerador. - ele dizia.

Quando a luz voltou, no entanto, senti-me completamente constrangida. Soltei-me dele

rapidamente.

- Desculpe. - pedi, desviando o olhar. - E obrigada.

- Você tem medo de escuro? - perguntou. Voltei a olhar pra ele, e como diferente do que

eu pensava, não vi nenhum sinal de zombaria, respondi a verdade.

- Sim. Acho que é um trauma da infância. - tentei rir.

Sandeul observou meu rosto, esperando que eu continuasse.

- Vai me contar seu trauma? - perguntei. Ele negou com a cabeça. - Então também não

irei contar o meu.

Ele fez uma careta.

- Isso não é justo. - disse.

- Isso é justo. - ri, finalmente aliviada.

Como a chuva tinha ficado mais forte de forma anormal, resolvemos ligar a TV para ver se

dizia algo sobre isso, antes de eu ir embora. Um bombeiro apareceu na tela do jornal.

- É uma tempestade inesperada. Pedimos que os cidadãos não saiam de casa, do

trabalho ou do ambiente em que estiverem de maneira alguma. Não sabemos quanto vai durar,

mas é arriscado demais. Já estamos decretando estado de calamidade pública. As ruas estão

inundadas e há risco de desmoronamento em algumas áreas. O corpo de bombeiros mais uma

vez pede que se mantenham em ambientes fechados e seguros, até que a tempestade passe e

Page 44: Começou Com Um Beijo

o tempo se estabilize.

- Nossa. Parece sério... - foi o que Sandeul pôde dizer. Eu não encontrava palavras.

Precisava dar o fora daqui já.

- Então, eu já vou indo antes que piore. - anunciei.

- Indo? Antes que piore? Se piorar mais que isso nossa cidade vai deixar de existir da

face da Terra. Talvez seja melhor você esperar melhorar. Eu te levo no C3.

Fiquei indecisa. E se não melhorasse? Enquanto ponderava o assunto, meu celular tocou.

- Mãe? - atendi.

- Filha, graças a Deus você está bem! - exclamou a voz quase deseperada do outro lado

da linha. - Você ainda está na casa da sua amiga, certo?

- S-sim... - menti. Claro que meus pais não deixariam eu ir para casa de um garoto que

mora sozinho fazer trabalho.

- Ótimo! Filha, você já viu os noticiários, certo? Você pode pedir a sua amiga para passar

a noite aí?

- Quê?! - praticamente gritei.

- Não quero que você saia em um tempo como esses. Se você tem vergonha de pedir,

passe o telefone para ela que eu falo!

- N-não, não precisa!

- Filha, isso é uma ordem. Não. Saia. Daí. Entendeu?

Eu entendia que minha mãe estava preocupada, mas... Dormir aqui?! Como no mundo eu

iria pedir isso?! E pior... Como assim dormir na casa de um garoto que tem o apelido de

“cavalheiro da sedução”?!

- Não tenho nenhuma outra opção? - me agarrei a meu último fio de esperança.

- Segundo o corpo de bombeiros, não. Então essa também é minha resposta. -

respondeu, irredutível, aniquiliando meu vislumbre de luz no fim do túnel. - Filha, quando estiver

tudo bem amanhã, vá direto pra casa mudar de roupa, ou então peça roupa emprestada a sua

amiga para ir pra faculdade. Mamãe te ama. Lembre de esc-.. dent-..

A voz dela começou a ficar entrecortada por alguns segundos e depois sumiu. Olhei a tela

do celular. Sem sinal. Suspirei pesadamente. Fechei os olhos, pensando no que dizer.

Page 45: Começou Com Um Beijo

- Sua mãe mandou você ficar aqui? - perguntou Sandeul surpreso, fazendo-me olhar pra

ele.

- S-sim... É que ela viu os noticiários e é superprotetora. - falei nervosamente.

- Superprotetora? E deixa você dormir na casa de um gar..? Ahh... Ela não sabe que eu

sou um garoto, sabe?

Pressionei meus lábios em uma linha fina, negando com a cabeça. Sandeul riu.

- Bom. Se eu sou uma garota, provavelmente ela te disse pra dormir aqui, certo?

Assenti, corando.

- Mas não vou fazer isso. Vou para casa de uma das minhas amigas agora e ela nunca

saberá. Tenha uma boa noite. Até amanhã. - falei, virando-me em direção a porta. Já tinha

alcançado a maçaneta, e estava abrindo a porta, quando Sandeul a fechou e me virou pra ele,

fazendo-me encostar na porta.

Ele aproximou seu rosto a um ponto em que nossos narizes se tocaram. E eu não tinha

como desviar.

- Você quer me beijar? - ele perguntou sussurrando, com uma voz intensa.

Engoli seco.

- N-não! - rebati, e quase ergui o nariz, mas se eu fizesse isso, teria o beijado. Sorte que

parei o movimento no meio. Nossos olhos se encontraram. Sandeul me fitou por alguns

segundos enquanto eu cerrava os dentes e aceitava o desafio de sustentar o olhar, então riu.

- Então por que tem medo de ficar aqui? - perguntou se afastando finalmente.

- Não tenho medo. Só acho impróprio uma menina de família dormir na casa de um cara

que mora sozinho. - limpei partículas invisíveis de poeira da minha roupa.

- Impróprio? Garota de família? Em que século você vive? - ele riu. - Escuta. Eu sei que

minha fama não é das melhores, mas você alguma vez já ouviu falar que eu forçei alguma

garota a qualquer coisa?

- Não, mas..

- Você não confia em mim, é isso?

- Não acho que você faria nada. É só... Uma situação estranha.

Sandeul chegou perto de mim outra vez, e ficando a milímetros do meu rosto, pensei que

Page 46: Começou Com Um Beijo

fosse fazer alguma coisa, mas então ouvi um barulho metálico.

- Ya! - reclamei quando percebi o que havia feito. Ele girou as chaves no dedo indicador e

foi em direção ao seu quarto, dizendo:

- Não vou deixar você sair com esse tempo. Apenas aceite isso.

Sentei no sofá de braços cruzados. De fato, se as coisas estavam assim, nem os ônibus

deviam estar circulando, e eu não poderia ir para lugar algum de qualquer forma. Tentei me

acalmar, mas meu coração começou a ganhar algumas batidas a mais. Sandeul voltou

perguntando se eu não queria tomar banho. Apenas encarei ele.

- O banheiro tem tranca, sabe? E eu não sou um pervertido completo. - ele se ofendeu. -

Bom, se quiser, é por ali. - disse ele apontando para uma porta e jogando uma toalha em meu

colo. - Nunca foi usada. - acrescentou, antes que eu pudesse dizer algo.

Então voltou para seu quarto. Encarei a toalha por alguns segundos e levantei-a com a

ponta dos dedos, em dúvida. Cheirei rapidamente e percebi que tinha mesmo cheiro de nova.

- Aqui. Pode usar isso. - Sandeul me atirou um par de calças de pijama e uma camisa de

manga branca. E voltou ao quarto novamente.

Finalmente, resolvi tomar um banho quente e rápido, pois me sentia suja e cansada

depois do longo dia. Certifiquei-me umas quatro vezes se a porta estava mesmo trancada, ou

se havia janelas ou qualquer tipo de abertura no banheiro que desse para enxergar lá dentro.

Não que eu achasse realmente que ele faria algo, mas parecia ser o mínimo necessário ter uma

atitude como essa. Não molhei nem o cabelo, pois planejava que o banho fosse o mais rápido

possível. Coloquei apenas a camisa que ele tinha me dado e meus próprios jeans. De maneira

alguma eu vestiria uma calça dele! Sabe Deus se ele não dormia pelado? Tive calafrios só de

pensar.

Saí do banheiro e coloquei meu casaco amarelo para evitar o choque de temperatura.

Esperei um pouco, mas como ele não voltava, olhei rapidamente para seu quarto. A porta

estava totalmente aberta, então deduzi que ele não devia estar fazendo nada demais. Bati

levemente na porta mesmo assim, mas não obtive resposta. Resolvi entrar para chamá-lo, mas

não vi ninguém. Ouvi um clique de porta que não vinha da da entrada. Virei para o lado do

barulho involuntariamente e vi a porta do banheiro dele abrindo.

Ai. Meu. Deus.

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Capítulo 9 – Sandeul

Minah tinha os olhos arregalados e assumiu uma posição defensiva com os braços na

frente do corpo. Em um segundo desceu o olhar para meu abdome - devo dizer, definido - e

voltou para o meu rosto. Sua sorte era que eu tinha minha toalha branca amarrada à cintura.

- Ya! Vire-se! - gritei constrangido.

Ela abafou um grito com a mão, fechou os olhos e se inclinou num pedido de desculpas.

Depois saiu do quarto praticamente correndo antes de eu fechar a porta do banheiro atrás de

mim e encostar-me nela, sentindo a madeira fria pressionada em minhas costas. Droga!

Mas que diabos?! Por que eu tinha reagido assim?! Afinal, eu nunca tive problemas em

deixar as garotas verem - e babarem - pelos meus músculos esculpidos com tanto trabalho na

academia por anos. Aliás, sempre que surgia a oportunidade, eu usava isso como parte do meu

charme para conquistá-las. Aish...

Isso é porque você foi pego desprevenido, Sandeul. Não pense demais sobre isso. -

repeti pra mim mesmo. Lembrei então da reação de Minah, de sua posição defensiva, e ri

sozinho. Pelo menos ela tinha uma consciência! Dormir na casa de um menino...

Não! Não vamos pensar sobre isso! - agitei a cabeça para afastar os pensamentos

indevidos. Não em casa. Suspirei e finalmente sai do banheiro para me trocar.

Sai do quarto e vi Minah no sofá. Ela nem sequer virou para me ver chegando, mas

percebi que suas bochechas assumiram imediatamente uma coloração mais viva.

- Minah. - chamei.

- Hm? - respondeu depois de um tempo, ainda sem virar pra mim.

- Hey, não é como se você já não tivesse visto algo assim antes, certo? - aproximei-me

dela, percebendo seu desconforto. Sentei ao seu lado e abaixei o rosto procurando olhá-la nos

olhos.

- Desculpe. - ela finalmente falou. - Eu não sabia que..-

- Eu sei. - interrompi, sorrindo. - Mas, você sabe... Quando quiser ver meus músculos,

basta pedir. Não precisa entrar sorrateiramente no meu quarto para..-

- Quê?! - levei um soco no braço e um olhar mortal.

- Finalmente, você voltou ao normal. - sorri, esfregando a área dolorida. - Mas precisava

bater tão forte? Sério...

Fiz uma careta, com um beicinho.

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- Tch! - ela tentou esconder uma risada.

- Então, pode ir dormir no meu quarto. Eu durmo aqui no sofá. A não ser que queira dormir

abraçadinhos ou, quem sabe... Algo mais... - brinquei lançando-lhe um sorriso malicioso.

Minah segurou meu queixo e virou para ela, aproximando seu rosto do meu, e estreitou os

olhos.

- Eu não faria isso nem por todo o dinheiro do mundo multiplicado pelas gotas do oceano

elevado a quantidade de grãos de areia existentes na Via Láctea.

- Isso... Parece ser muito. - consegui sorrir, mas me senti rejeitado e ofendido. - Eu só

quero dizer que você pode dormir na cama. Já que eu sou um cavalheiro, não posso deixar

você dormir no sofá.

Seus olhos pareceram suavizar. Minah então apertou minhas bochechas de forma

dolorosa.

- Eu não vou dormir na sua cama. E não precisa se preocupar em ser cavalheiro comigo. -

disse olhando diretamente nos meus olhos.

Apertei as bochechas dela também.

- Pu quê voxê tem que sê tão teimoja?!

Minah soltou meu rosto, reclamando da dor do meu aperto, e eu soltei o dela também.

Encaramo-nos por alguns segundos.

- Eu vou apenas dormir no sofá. Não vou mudar de ideia. - falou finalmente, e não parecia

que ia ceder de forma alguma.

Olhei para o sofá, então pra ela. Minah pensou que eu tinha desistido, mas ao invés

disso, peguei-a no braço e joguei-a por cima do ombro, carregando-a até meu quarto.

- Ya! O que está fazendo?! Me solta! - ela se rebateu, mas só a soltei em cima da minha

cama.

- Minah... Fica aí e deixa de ser teimosa. Estou tentando ser legal aqui.

- Legal?! - ela rosnou. - Que tipo de pessoa legal age feito um homem das cavernas e-..

Inclinei-me sobre ela e pressionei meu indicador em seus lábios macios, fazendo-a

silenciar.

- Posso saber o motivo de ter meu orgulho masculino ferido pelo menos?

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Minah respirou fundo e afastou minha mão.

- Eu me recuso a dormir na cama de um garoto que tem o apelido de "cavalheiro da

sedução". - ela fez as aspas no ar, e bufou. - Se é que me entende.

- Eu nunca trouxe garotas aqui. Já te disse isso! - me senti ofendido.

Não era porque eu era um casanova, que eu não tinha princípios. Meu pai, apesar de

raramente estar em casa, ainda morava aqui. Minah pareceu me estudar por um momento, e

por fim falou:

- Mesmo que seja verdade, ainda não quero dormir na cama de um garoto. - ela fez uma

careta. - Eu vou ficar bem no sofá. De verdade. Pode ir dormir. - ela levantou-se. - Além disso,

não me sentiria bem fazendo o dono da casa dormir desconfortavelmente por minha causa.

Olhei pra ela claramente insatisfeito.

- Obrigada pela oferta, de qualquer maneira. - Minah disse. Então se inclinou para beijar

suavemente minha bochecha. - Boa noite.

Por alguma razão meu estômago revirou. Será que eu estava com disenteria ou algo

assim? No entanto, era uma dor agradável... Se é que isso fazia algum sentido. Eu

provavelmente estava apenas ficando louco. Agarrei o pulso de Minah antes dela sair. Ela virou-

se surpresa. Seus lábios levemente entreabertos e rosados. Lembrei-me da sensação deles em

meu dedo e tentei recordar qual foi a sensação de sua boca contra minha boca em nosso

primeiro beijo. Como não tivesse um memória clara, desejei poder fazer isso de novo.

- O que foi? Não está acostumado a dormir sozinho? - um sorriso zombeteiro surgiu em

seus lábios lentamente. - Quer que eu cante uma canção de ninar pra você dormir?

Fui acordado dos meus devaneios.

- Você faria isso por mim? - perguntei com uma sobrancelha arqueada, sorrindo em uma

ingenuidade fingida.

- Espere aqui. - pediu ela fazendo um sinal com o indicador.

Minah deixou o quarto e eu fiquei confuso se ela voltaria ou não, ou que ela faria.

- Aqui. - voltou ela com seu ipod e headphone.

Minah encaixou os fones na minha cabeça e me entregou o aparelho.

- Bons sonhos. - ela sorriu de maneira maldosa acenando um tchauzinho pelas costas

Page 50: Começou Com Um Beijo

antes de sair.

- Tch! Essa garota! - resmunguei.

Fiquei curioso sobre os tipos de música que ela ouvia e apertei o play.

Meus tímpanos quase estouraram com o som de uma pesada batida de rock com

grunhidos gulturais. Tirei o headphone mais como um movimento de reflexo do que qualquer

outra coisa. Ouvi uma risadinha que se eu não soubesse de quem vinha, diria ser angelical,

vinda da porta.

- Ops! Sinto muito. Esqueci de dizer que o volume estava no máximo... - Minah piscou pra

mim antes de voltar pra sala.

- Ya! - reclamei num grito.

Deitei na minha cama, recusando-me a fazer mais alguma coisa por ela. Fiquei em um

debate interno até tomar uma decisão.

Por fim, decidi que para prosseguir com meu plano, eu ainda deveria ser gentil com ela.

Levantei e pegando um travesseiro e uma colcha, arrastei-me até a sala.

Encontrei Minah já dormindo no sofá quase em uma posição fetal e com mechas de

cabelo cobrindo o rosto. Ri baixinho de como ela parecia um anjo de candura dormindo e no

quanto as aparências enganavam! Senti-me culpado por ter deixado ela dormir sem travesseiro,

e cuidadosamente levantei sua cabeça e introduzi-o ali. Depois cobri-a com a colcha, e parei

para observá-la dormindo. Afastei as mechas de seu rosto delicadamente.

- Boa noite, bela adormecida. - sussurrei baixo o suficiente para não acordá-la.

"Ela é uma garota legal." - lembrei a voz de Jiwon dizer.

Ela era. Não na maior parte do tempo. Mas era.

Mas agora não podia desistir do meu plano. Fosse pelo orgulho ou pelo sentimento de

vingança. Não ia desistir agora. Mas precisava ter muito cuidado também para não me

envolver...

Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi Minah murmurar algumas coisas

ainda dormindo. Estava provavelmente sonhando. Ri baixinho. Entre algumas palavras

ininteligíveis, consegui ouvir:

- Hm gmhm. Fsmm.. Sandeul bobão..

...

Page 51: Começou Com Um Beijo

Bem, inferno! Eu realmente precisava ter muito cuidado. O sorriso espontâneo que surgiu

no meu rosto indicou isso claramente.

Page 52: Começou Com Um Beijo

Capítulo 10 – Minah

Estava terminando de colocar os talheres na mesa, quando Sandeul saiu do quarto com a

cara amassada e olhos praticamente ainda fechados. Ele tinha lavado o rosto pelo menos, -

percebi pelo cheiro de sabonete que emanou quando ele se juntou a mim na cozinha, e pelas

raízes do cabelo da frente molhadas. Ele desejou 'bom dia', e então arregalou os olhos ao ver a

mesa.

- O que é isso?! - perguntou surpreso.

- Café da manhã. - respondi em tom de obviedade.

- Tsc, eu sei. Mas por quê?

Olhei para a mesa, os pratos com panquecas e os copos com leite. Levantei a cabeça

para olhá-lo nos olhos.

- É minha forma de agradecer por eu ter dormido aqui, pelo travesseiro, por ter me

coberto e por ter mantido sua palavra... - agradeci de forma sincera.

- Ah... Não precisava. - ele percorreu a mesa com os olhos nitidamente com fome, depois

suas sobrancelhas se juntaram. - Mas... Eu tinha ingredientes para tudo isso em casa?

- Eu fui num mercadinho aqui perto. - respondi. - Não vai sentar?

Sandeul sentou e fez sinal para que eu fizesse o mesmo. Ele fez uma careta.

- Você saiu por aí provavelmente antes de seis para fazer isso, certo?

Olhei para ele sem entender onde queria chegar.

- É perigoso. - ele explicou.

Revirei os olhos.

- Apenas coma. - apontei para seu prato.

Sandeul enfiou o garfo em sua pequena torre de panquecas e introduziu em sua boca.

- Waa... É bom! - elogiou ainda de boca cheia.

- Fico feliz que tenha gostado. - sorri, e comecei a comer também. - Se você não fazia

almoço, imagino que não fazia café da manhã também.

- Não. - concordou. - Quer dizer, eu geralmente como cereal, ou tomo um copo de

Page 53: Começou Com Um Beijo

achocolatado. Mas às vezes como na universidade também. - ele apontou o garfo pra mim. - E

você o quê? Quer estudar gastronomia?

- Não. - ri. - Minha mãe me fez aprender a cozinhar desde que era menor. Sabe, o

machismo, sociedade patriarcal, essas coisas... - abanei as mãos no ar significando 'etc'.

- Ah, claro... - ele riu, tomando um longo gole de seu leite. Fiz o mesmo.

Sandeul começou a me encarar.

- O quê? - perguntei, desconfortável.

Seu olhar desceu para minha boca, e ele levantou-se da cadeira, inclinando-se sobre a

mesa e aproximando-se do meu rosto. Segurou meu queixo e o ergueu até que nossos olhos

ficassem na mesma altura. Sandeul então beijou meu lábio superior delicada, mas

intensamente. Foi um beijo doce, o que me assustou. Meu coração batia em um ritmo

acelerado, enquanto senti minhas bochechas incendiarem e meu estômago virar um enorme

iceberg. Quando separou nossos lábios e voltou a se sentar, um sorriso espalhou-se em seu

rosto. Eu não conseguia fazer nenhuma pergunta ou dizer algo que expressasse o que eu

sentia. Aliás... O que eu sentia?

- Você estava com um bigodinho de leite. - ele se justificou e eu achei que seus olhos

pareciam diferentes dos da primeira vez que ele tinha feito isso. Talvez tenha começado a

gostar de mim?

Eu estava muito confusa e com um conflito de sentimentos internos naquele momento,

mas escolhi a raiva para representar todos eles. Levantei abruptamente da cadeira. Ia sair da

casa, mas antes que fizesse isso, parei por um segundo, voltei para ele, que pareceu confuso e

talvez um pouco.. triste? Eu não sabia, mas abaixei para encontrar seus olhos.

- Isso é um beijo.

Pressionei meus lábios nos seus, parte superior com superior, inferior com inferior,

diferente do que ele tinha feito antes. Uma onda de adrenalina percorreu minha espinha, mas a

ignorei.

- Pensei que soubesse pelo menos isso. - dei um sorriso torto e provocador e saí, não

sem antes ver sua cara de desnorteado e suas bochechas corando.

E o placar estava empatado mais uma vez.

Dentro do elevador, escondi meu rosto nas mãos e abafei um grito. O que eu tinha

acabado de fazer?! Ai meu Deus! Eu queria ser morta e enterrada ali mesmo! Minah, você devia

ser internada em um hospício! - xinguei a mim mesma.

Page 54: Começou Com Um Beijo

Depois de passar em casa e trocar de roupa, fui para a faculdade desejando que Sandeul

tivesse resolvido ficar em casa. Não foi o caso. Mas resolvi ignorá-lo, ficando grudada às

minhas amigas o tempo inteiro.

- Minah! Sabe o que vai ter esse fim de semana?! - perguntou Lee Kah em tom super

animado.

- O quê?! - perguntei, contagiada com sua animação.

Minhas duas melhores amigas fizeram um suspense antes de Jin Young contar, excitada:

- Um festa com o tema baile de máscaras!

- Sério?! - perguntei maravilhada.

- Sim! E o melhor... A roupa é de gala!

Pulamos as três e nos abraçamos. Sempre quisemos ir a um baile de máscaras e agora

finalmente iríamos a um!

- Mas, gente! - interrompi. - Não temos tempo para arrumar as coisas!

- Vamos fazer tudo essa semana! Ficamos sabendo há pouco tempo, mas temos que dar

um jeito! - Jin Young exclamou.

- Certo! - assenti.

- Sentimos em lhe informar que não poderá ver seu namoradinho essa semana. Vamos te

monopolizar. - Lee Kah brincou.

- Ya! Que namoradinho?! Aish! - reclamei, arrependendo-me momentaneamente de contar

tudo o que acontece pra elas.

E de fato, ele veio me procurar depois da aula para saber quando nos reuniríamos para

terminar o trabalho.

- Essa semana não posso. Na próxima, nós iremos terminá-lo de certeza. Mas esses dias

estarei ocupada. - expliquei para ele, feliz de as coisas não estarem tão estranhas quanto

pensei que ficariam.

- Oh, sério? Ok. - respondeu ele, parecendo não se importar.

Eu e minhas amigas conseguimos arrumar as coisas até o dia do baile.

---

Page 55: Começou Com Um Beijo

- Ya, Minah! Você está pronta? - ouvi a voz de Lee Kah chamar da sala.

Passei uma camada de gloss nos lábios e olhando-me no espelho uma última vez, sai do

quarto para onde minhas duas amigas me esperavam.

- Wow! - Jin Young bateu palmas. Lee Kah assoviou feito um homem.

- Ah, parem. Vocês cansam minha beleza. - falei brincando numa tentativa frustrada de

esconder a vergonha, abanando-me. - E vocês estão muito gatas também!

- Sabemos. - Jin Young disse simplesmente. Lee Kah deu de ombros, concordando.

Rimos juntas, e enfim saímos de casa.

- Nossa, pelo menos a decoração de fora está ótima! - falei olhando pelo vidro do carro a

entrada com um tapete vermelho estendido e cercado por decorações douradas.

Descemos do carro, e uma última vez passando a mão pela minha roupa, entregamos

nossos convites e entramos. Eu usava um vestido branco com detalhes em brilhante abraçando

meu corpo pela diagonal*. Era franzido, o que acentuava minhas curvas e como não era longo,

evitava que eu pisasse em sua bainha ou algo assim, e caísse. Inalei fundo e senti o cheiro forte

de diversos perfumes misturados. Um monte de garotos e garotas mascarados se reuniam em

grupos ou dançavam no meio do salão decorado numa tentativa de parecer luxuoso. Risinhos e

vozes eram ouvidas em toda a parte do ambiente e eu notei que algumas luzes foram

propositalmente apagadas para dar um ar misterioso à festa, uma vez que tinha como tema

'baile de máscaras'. Os homens pareciam muito mais bonitos em seus ternos, e nós três

comentávamos sobre isso, vasculhando o local em busca do mais bonito. Finalmente chegamos

a conclusão de que era um do outro lado do salão que parecia apenas observar as pessoas,

sozinho.

- Vou tomar alguma coisa. Minha garganta está seca. - falei para minhas amigas. Elas

disseram que iam me esperar onde elas estavam para não perder “o local estratégico para

rastrear caras bonitos”. Fui até o pequeno bar improvisado sozinha e pedi uma soda.

- Hey. - um cara mascarado falou ao meu lado.

Santo Deus! Era o que tínhamos escolhido o mais gato da festa. Engasguei com um gole

da bebida.

- O-oi. - amaldiçoei a mim e minhas próximas vinte gerações internamente.

- Tudo bem? - perguntou parecendo preocupado, colocando uma mão em minhas costas.

Bem, talvez não tivesse sido tão mal assim.

Page 56: Começou Com Um Beijo

- Estou bem. Foi o susto. Você chegou do nada.- sorri.

O garoto riu. Que estranho... Ele parecia familiar. A voz estava um pouco abafada por

causa dos outros sons, mas jurava que já tinha ouvido antes.

- Desculpe. - ele pediu. - Você veio só ou..?

Entendi rapidamente o significado. Minhas amigas já tinham me ensinado sobre isso.

- Não. Com minhas amigas. - expliquei rapidamente. - E você?

- Estou esperando meu sempre atrasado melhor amigo. - suspirou.

- Ah... - então ele estava solteiro. Sorri.

Ficamos em silêncio por um tempo, enquanto ele pedia uma coca cola. Vasculhei na

minha mente qualquer assunto que pudesse falar, mas não achei nenhum.

- Então... - ele iniciou. - Como está indo o trabalho?

- Quê?

- Você sabe... Aquele que é pra entregar próximo mês.

Stalker?!

- Mas como você..? - fui interrompida por uma voz vinda em nossa direção.

- Jiwon!

Virei a cabeça apenas para ver outro garoto mascarado e aparentemente bonito se

aproximando. Ele acenou para o amigo. Chegou perto de nós dois e depois olhou de mim para

Jiwon e depois de volta pra mim.

- Que surpresa vê-la aqui, senhorita Minah. - falou em tom galanteador, retirando

momentaneamente a máscara dourada.

Page 57: Começou Com Um Beijo

Capítulo 11 – Sandeul

Retirei minha máscara lentamente com um sorriso malicioso nos lábios.

- Vo-você também? - ela gaguejou.

- Não precisa ficar tão feliz em me ver. Também senti sua falta. - dei o meu melhor sorriso.

Como a máscara de Minah só cobria seus olhos, percebi que fez uma careta.

- Isso é uma baile de máscaras. - comentou ela, apontando com o queixo para a máscara

em minha mão.

Suspirei.

- Eu sei... Mas como você pode ficar vendo meu rosto lindo se eu usar isso? - perguntei

parecendo frustrado.

- Ah, por favor, poupe-me de ver o "seu rosto lindo" hoje. - disse Minah bufando.

- Tudo bem. Já que você admitiu que meu rosto é lindo... - dei de ombros e coloquei a

máscara de volta.

- Quem disse?! - ela rosnou baixinho.

Jiwon riu e só agora eu lembrava que ele também estava lá.

- Vocês parecem um casal de namorados. - ele comentou, dando um gole em sua bebida.

Aquilo me pegou desprevenido e rejeitei essa ideia da minha mente por impulso,

- Não parecemos não! - rebatemos ao mesmo tempo.

- Ainda não somos. - sorri, lembrando que eu ainda tinha um plano a cumprir.

Minah não respondeu. Bingo! Pedi uma bebida pra mim e quando me virei, estava

sozinho com Jiwon. Minhas sobrancelhas se uniram, procurando-a.

- Ela voltou pras amigas. - Jiwon informou, com um sorriso irônico.

- Eu não perguntei nada... - devolvi o sorriso.

- E precisava? - ele arqueou uma sobrancelha.

Não respondi. Mordi minha bochecha interna, enquanto olhava as garotas do salão. Todas

bonitas, cheirosas e arrumadas. Sim, era disso que eu precisava! Mas... Será que não ia

atrapalhar o plano de fazer com que a Minah se apaixonasse por mim? Mas que droga! Por que

ela tinha que ter vindo para essa festa?!

- Está levando mais tempo do que eu pensei. - comentou Jiwon ao meu lado, me retirando

Page 58: Começou Com Um Beijo

dos meus pensamentos. Perguntei-lhe do que diabos ele estava falando. - Conquistar a Minah,

quero dizer. - ele explicou.

- Isso é porque estou levando devagar, para que ela se apaixone perdidamente por mim. -

respondi, altivo.

- Ah, sério? - perguntou, despreocupado tomando um gole de sua coca. - E depois que

conseguir isso? O que fará?

- Eu irei fazer ela se arrepender amargamente do que fez. - respondi impaciente. Não é

como se ele já não soubesse.

- Ah... E se... - Jiwon deixou um suspense no ar, obrigando-me a olhar pra ele, que olhava

para a frente. - Outro garoto conseguir ela primeiro?

- O que você quer dizer com isso?

- Exatamente o que eu disse. De ela se apaixonar por outro, que realmente goste dela.

Bufei.

- Não tem ninguém gostando dela. - falei incisivamente, começando a ficar irritado com

aquela conversa.

- Tem certeza? - Jiwon ergueu as duas sobrancelhas.

Cerrei os dentes. Não, eu não tinha certeza.

- Ela é bonita, Sandeul. Aposto que já percebeu. - Jiwon fez um sinal em direção à

multidão. - E os outros garotos também não são cegos. - ele fez uma pausa, esperando que eu

entendesse aonde ele queria chegar. - Só estou dizendo isso para que você não se arrependa

depois. - disse ele, seu tom suavizando, enquanto erguia a garrafa e levava à boca mais uma

vez.

- Me arrepender? Do que eu me arrependeria? - perguntei de forma presunçosa.

- Bom, isso você vai descobrir por si só. - Jiwon sorriu e me deixou só no bar, indo em

direção à pista de dança.

Isso era meu melhor amigo?! Eu devia pensar melhor as minhas amizades! Viado! -

xinguei mentalmente. Soltei uma risadinha com o ar que tinha ficado preso na garganta. Jiwon

era um viado legal, no entanto.

Puxei uma garota bonita qualquer para dançar comigo.

Page 59: Começou Com Um Beijo

- Você não pode tirar a máscara? Eu quero ver sua boca... - disse ela se insinuando com

uma mordida no lábio inferior.

- Então deixaria de ser um baile de máscaras. - sorri, mesmo que ela não visse.

- Gosto dos seus músculos. - disse ela se apoiando com mais força em meu ombro. - Mas

queria muito ver seu rosto agora.

- Bom, quem sabe você não dá sorte com outro garoto? - perguntei me soltando dela. -

Aproveite a festa.

Virei e andei pelo meio do mar de gente. Ok, fingi estar procurando Jiwon, quando na

verdade estava procurando Minah. Aquilo que ele tinha dito ficou na minha cabeça. Achei sua

cabeleira castanha, e percebi que um grupo de três meninos conversava com ela e suas

amigas. Aproximei-me me misturando aos corpos que se moviam ao ritmo da música. Consegui

ouvir o que conversavam.

- Vocês são encantadoras! - disse um deles, cortejando. As meninas riram.

- E olhem que coincidência! Estamos em três, assim como vocês... O que acham de

dançarmos? - perguntou o segundo.

- Prometemos não pisar nos seus pés. Mas se fizermos, podem descontar! - brincou o

terceiro.

Obviamente... Flertando.

- Acho que não vamos morrer por isso. - disse uma voz feminina, alguma das amigas de

Minah.

- Por mim tudo bem. - disse a outra, com o sorriso perceptível até na voz.

- Eu tamb-.. - a voz de Minah começou, mas então eu apareci e surgi na sua frente,

interrompendo sua fala.

Bem nessa hora começou a tocar “I've had the time of my life”. Retirei minha máscara

para olhar em seus olhos e abri o meu melhor sorriso.

- Minah... Você me concederia a honra dessa dança? - perguntei com a mão estendida

pra ela.

Page 60: Começou Com Um Beijo

Capítulo 12 – Minah

Droga! Como eu poderia recusar quando tinha a Operação Knight Hunter a cumprir?

Sandeul continuou sorrindo, mas tinha murchado o sorriso um pouco até o ponto de não

mostrar mais os dentes com a demora da minha resposta. Troquei olhar com minhas amigas,

que tenho certeza, entenderam o que se passou na minha cabeça. Ou não... Pareciam mais

animadas do que o necessário.

- Claro. Eu adoraria. - respondi finalmente, sorrindo e pegando sua mão grande e quente.

O sorriso de Sandeul se ampliou e ele me levou para o meio do salão onde outros casais

dançavam. Coloquei minha mão livre em seu ombro, enquanto ele deslizou a sua para minha

cintura, me puxando mais pra perto dele. Meu coração acelerou. Só podia rezar pra que ele não

ouvisse.

- Obrigado por ter aceitado dançar comigo. - sussurrou próximo do meu ouvido. - Teria

ficado com meu orgulho profundamente machucado se dissesse que não.

- Não aceitei por isso. - respondi.

E com isso quis dizer que eu não me importava com seu orgulho ferido ou o quê, mas ele

não pareceu levar nesse sentido. Percebi isso pelo jeito que encostou sua bochecha nos meus

cabelos, parecendo feliz. Num momento mais agitado da música, Sandeul me soltou, apenas

para me fazer girar uma vez e trazer pra ele de novo. Sua mãos estavam em minhas costas

agora, forçando um maior contato entre nossos corpos.

- Gosto de como nossos corpos ficam juntos. - sussurrou ele no meu ouvido.

- Isso é algo muito estranho de se dizer, você sabe disso? - perguntei, grata por ele não

poder ver minhas bochechas corando.

- No entanto, você não nega. - ele observou.

- Claro que nego! - rebati. Sandeul jogou um pouco a cabeça pra trás, rindo.

- Dizem que quanto mais difícil é uma coisa, mais se quer. - ele voltou a sussurrar no meu

ouvido.

- Acho que o correto seria: quanto mais se sabe que não pode ter uma coisa, mais se

quer. - não consegui evitar responder

- Hmm... Não gosto desse pensamento. - disse ele roçando uma vez o nariz em minha

bochecha. Eu me afastei involuntariamente.

Page 61: Começou Com Um Beijo

Sandeul riu perto dos meus cabelos.

- Ahh, já disse como gosto de você? - perguntou divertido.

Revirei os olhos, mas tentei considerar a veracidade do que dizia.

- Nunca gostei muito de dançar. Mas isso é divertido. - tive que admitir depois de ele me

girar uma terceira ou quarta vez. O ritmo da música parecia que entrava em minhas veias e com

meus batimentos cardíacos acelerados, eu estava animada apesar de estar dançando com ele.

- Digo o mesmo. - disse ele rindo tão perto da minha orelha, que me fez arrepiar. Engoli

seco.

Dançamos mais algumas músicas juntos, e quando percebi que minhas amigas estavam

no bar sozinhas, me libertei de Sandeul agradecendo a dança.

- Ei! E aí? - perguntei a elas.

- Eu dancei com o carinha, mas simplesmente não rolou a química. - suspirou Jin Young

bebendo uma água.

- Pelo menos o seu não tinha bafo! - reclamou Lee Kah frustrada, fazendo-nos rir.

- Mas já você, hein? - Jin Young mexeu as sobrancelhas insinuativamente.

- Nem vem! - avisei.

- Como 'nem vem'? Só há três hipóteses... Um: - Lee Kah começou a enumerar com os

dedos. - Você está caidinha por ele. Dois: Ele está caidinho por você. Três: Vocês estão

caidinhos mutuamente.

- Bom, levando em conta que eu não estou caidinha por ele, só nos resta uma opção. -

sorri. - Mas mesmo assim, acho que essa também está errada. Por enquanto. - acrescentei.

Decidimos ir no banheiro, mas antes de chegar lá, percebemos que Jiwon e Sandeul

estavam sentados em uma mesa escondida por uma parede. Eles não podiam nos ver, mas

paramos ao ouvir meu nome ser citado na conversa. Aguçamos os ouvidos.

- Jang Minah não é impossível. Eu não te disse, Jiwon? Que devagar eu conseguiria?

Acho que posso dizer que estou... No meio do caminho? Talvez até mais. - era a voz de

Sandeul. Ele riu.

Outra voz masculina – Jiwon – suspirou.

- Você realmente não sente nada? - ele perguntou.

- Além do meu desejo de vingança? Claro que não. - Sandeul respondeu.

Page 62: Começou Com Um Beijo

- E você realmente vai seguir com o plano?

- Deixa eu te lembrar: ela chutou minhas preciosas bolas. Então, sim, irei seguir com meu

plano. Quantas vezes já te disse isso, Jiwon? - perguntou a voz de Sandeul agora um pouco

irritada.

- Eu sei, eu sei... É que talvez eu pense que se eu perguntar muitas vezes, uma hora

você vai ter uma resposta diferente.

- Bom, acostume-se com o fato de que não vou mudar de ideia. Agora, Minah pode até

me rejeitar, mas em breve estará implorando para que eu fique com ela. Você vai ver. Meu

plano de sedução já está correndo às mil maravilhas.

Jiwon pareceu ter bufado.

- Você é um grande idiota, sabia disso? - perguntou.

- Eu sei... Você sabe. Assim como nós dois também sabemos que você é um manezão.

Ainda assim, somos melhores amigos. Podemos conviver com isso.

Nesse momento, eu e minhas amigas nos afastamos até um local em que não

poderíamos ser ouvidas. Elas me olhavam entre tristes, preocupadas e irritadas - esse último

sentimento provavelmente dirigido a Sandeul.

- Minah... Você está bem? - começou Jin Young.

- Isso é uma droga... - falou tristemente Lee Kah.

- Gente, isso é perfeito! - exclamei, e elas me olharam como se eu tivesse acabado de

bater a cabeça em algum lugar.

- Minah... Sabemos que isso pode ter sido uma experiência traumatizante, mas por favor

volte aos seus sensos! - pediu Lee Kah preocupada, segurando meus ombros.

- Não, vocês não estão entendendo! - falei entre impaciente e excitada.

Minhas amigas se entreolharam.

- Então, por favor, nos explique... - pediu Jin Young como se estivesse lidando com uma

débil mental.

- Prestem atenção. Agora que eu sei que Sandeul está com esse plano, eu não me

sentirei mais culpada de continuar com o meu! Para falar a verdade, eu estava pensando que

ele estava realmente começando a gostar de mim e estava me sentindo mal por isso. Mas

agora não mais! Além disso, eu agora estou com a vantagem de que eu sei sobre o seu plano,

enquanto ele não sabe sobre o meu! - as palavras saíram num jato.

Minhas amigas me olharam por alguns segundos, estudando-me e refletindo minha fala.

Page 63: Começou Com Um Beijo

- Eu pensei que você estivesse começando a gostar dele também, Minah. - disse Lee Kah

lentamente.

- Eu também! E até pensei que você seria aquela garota das histórias que consegue

conquistar de vez o coração do playboy conquistador... - comentou uma triste Jin Young, com os

olhos brilhando.

- Mas isso não é uma história, Jin Young. - falei com pena da minha amiga ter suas

ilusões destruídas. - Não se preocupe! Eu vou me vingar por nós! Definitivamente não irei

perder!

Minhas amigas sorriram pra mim. Depois suspiraram.

- Tem certeza que consegue sem cair em tentação, Minah? - Jin Young perguntou

preocupada.

- Não queremos ver você se machucando. Talvez fosse melhor deixar as coisas do jeito

que estão. Fingir que isso tudo nunca aconteceu... - sugeriu Lee Kah.

- Estão brincando?! Isso é tão excitante! Parece que estou vivendo a Guerra Fria! Não

gosto da ideia de ser a parte capitalista vitoriosa, mas ainda assim eu irei ser o lado que ganha

com certeza! - eu falava atropelando as palavras, com a adrenalina percorrendo minhas veias.

Talvez fosse a raiva.

- Guerra Fria? - Lee Kah levantou uma sobrancelha. - No seu caso, parece mais uma

Guerra Quente. Se é que me entende...

Nós três rimos, e saímos sem nos despedir de Jiwon ou Sandeul. Não queríamos ver a

cara desse último por enquanto.

- Ah, Lee Kah. - chamei depois de descer do carro. Ela olhou pra mim, curiosa. - Parece

que no final havia uma quarta hipótese. - dei um último sorriso desejando 'boa noite' às minhas

amigas e fechei a porta do carro.

Quando cheguei em casa, tomei um bom banho quente, limpei a maquiagem e caí na

cama com meus pijamas confortáveis. Olhei para o teto. Meu peito parecia pesado, e ao

lembrar das palavras de Sandeul, meus olhos começaram a arder. Uma lágrima, ou duas (ou

mais) escaparam dos meus olhos. Eu devia estar com muita raiva mesmo! Enxuguei o rosto

com a manga da camisa. Bem, pelo menos eu ainda teria dois dias sem ter que olhar para a

cara do infeliz e fingir sentir algo bom por ele pra fazê-lo se apaixonar por mim. Meu plano

agora parecia ser mais difícil do que eu imaginava.

Page 64: Começou Com Um Beijo

Capítulo 13 – Sandeul

- Ela realmente foi embora. - falei chocado.

- Sim. Você já disse isso.

- E ela nem se despediu.

- Você já disse isso também. - Jiwon estalou a língua. - E daí se ela foi embora e não se

despediu? Por que está criando um caso sobre isso?

- Bom... Depois que a gente dançou pensei que... que...

- Vocês se beijaram?

- Não, mas... Hm... Pelo menos não agora. - acrescentei com um sorriso malicioso.

Jiwon levantou uma sobrancelha.

- Eu a beijei na minha casa. E ela também me beijou. - recordei convencido. - Lembra?

- Ah, sim. Isso.

- Ela não deveria ter pelo menos me avisado que ia embora?

- Por que ela faria isso? Vocês estão namorando por acaso?

Tive um leve tremor no corpo. Não precisava negar em voz alta. Jiwon sabia que não.

Mas não sabia dizer o que éramos. Deixei Jiwon em sua casa e voltei pra minha. Depois do

banho, deitei em minha cama. Tateei pelo lençol e achei meu celular. Foi aí que percebi que não

tinha o número dela, o que significava que teria que esperar até segunda-feira para nos

falarmos de novo. Comecei a desenhar uma espiral na tela com o dedo e percebi que criava um

efeito legal ao bater a luz sobre as marcas deixadas pela gordura natural da pele.

Minah estava gostando de mim, certo?

Suspirei, e deitei usando meus braços como travesseiro.

Lembrei de novo do beijo que ela me deu na cozinha. Isso vinha acontecendo com

frequência nos últimos dias. Era só que tinha sido tão... Não sabia nem explicar. Eu tinha ficado

tão surpreso. Na verdade, quando me descontrolei e a beijei, imaginei que ganharia no mínimo

um tapa na cara. E ao invés disso, ela simplesmente me beijou! Lembrei de como depois disso,

ela tinha me ignorado por completo na faculdade. Estava confuso. E definitivamente não

esperava encontrá-la naquela festa. E não tão bonita como estava. Droga. Precisava começar a

agir mais rápido.

Page 65: Começou Com Um Beijo

Dormi e acordei no outro dia com vontade de comer panquecas. Por isso, me vesti e fui

até um café próximo da minha casa.

- Você nem me ligou. - disse uma voz feminina decepcionada ao me entregar o cardápio.

Levantei o olhar para a garçonete. Fiz uma vistoria com o olhar. Hmm...

- Devo ter perdido o seu número. Desculpe. - sorri. - Você poderia me dar de novo?

Gostaria de uma companhia para amanhã à noite. Você está livre?

Um sorriso se desenhou em seus lábios.

- Já sabe o que vai pedir, senhor? - perguntou, o sorriso nunca deixando sua boca.

- Quero panquecas com mel, e um cappuccino. Por favor. - pisquei.

Ao trazer o meu pedido, a garota deslizou um papel branco com alguns números

anotados numa caligrafia elegante. Sorrimos um para o outro. E ela se retirou.

Viu só como era fácil? Desde quando as coisas tinham se tornado difíceis pra mim? Só

aquela garota demorava tanto tempo para perceber o meu charme!

- As panquecas estavam boas? - perguntou a garçonete ao vir entregar minha conta.

- Já comi melhores, na verdade. - sorri, limpando o canto da boca com o guardanapo.

- Sério? Devem ter sido muito boas. Dizem que essas são uma das melhores da cidade. -

ela respondeu demonstrando um pouco de surpresa.

Bom, ótimo! Aquela garota maluca tinha me estragado para as boas comidas!

Saí e caminhei pela cidade. Resolvi passear pelo centro. Comprei algumas roupas novas,

aparei o cabelo... Flertei com algumas garotas que passavam... Então vi um gatinho meio

escondido entre as sombras de um beco. Parecia um pouco assustado, mas achei que parecia

fofo e tive pena ao ver que vasculhava o lixo. Tentei atraí-lo, inclinando-me e estalando os

dedos.

- Ah, cuidado! Essa aí é uma gata selvagem! Se você se aproximar, ela vai avançar! -

avisou um ambulante ao observar o que eu fazia.

Senti uma certa familiariedade com a descrição do animal, mas que não pude identificar

no momento. Aproximei-me apesar do aviso do ambulante. A gata a princípio eriçou os pelos

das costas e arqueeou o corpo como se fosse saltar sobre mim. Ela ainda arranhou um pouco

meu ombro quando consegui pegá-la, mas depois se acalmou. Levei-a a um veterinário e ele

fez alguns exames nela. Estava complemente saudável. Depois fui a um pet shop, comprei

Page 66: Começou Com Um Beijo

materiais necessários para sua criação, esperei darem-lhe um banho e levei-a pra casa.

Suspirei ao ver aquela bola de pelos tricolor lambendo a pata dianteira no meio da sala. Há um

segundo estava toda desconfiada, mas agora parecia já morar ali há anos. Balancei a cabeça

negativamente. O que eu tinha acabado de fazer? Liguei para meu pai. Ele atendeu pelo 5º

toque.

- Oi? Sandeul? Aconteceu alguma coisa? - sua voz veio afobada.

- Oi, pai. Não. Está tudo bem.

- Ah... É que é raro você ligar. - percebi, mesmo pelo outro lado da linha que ele sorriu

com alívio.

- Não é que aconteceu nada demais, é só que... Liguei pra dizer que trouxe um bicho de

extimação pra casa.

- Sério?! Isso é uma coisa boa! Vai te fazer companhia! Eu já tinha te dito tantas vezes

para conseguir um! E o que é? Só não me diga que é um peixe porq-..

- Não é um peixe, pai. - ri.

- Então o quê? Aposto que é um cachorro!

- Na verdade, não. É um gato. Ou melhor... Uma gata. - falei com uma careta, observando

o bicho em questão espreguiçar-se no tapete.

- Hm? Uma gata? Por essa eu meio que não esperava...

- É... Eu só a vi no meio da rua e trouxe pra casa.

- Ah... Foi um ato bom. Mas tem certeza que ela não é doente ou algo assim?

- Tenho. Já levei ao veterinário e talz. Está tudo certinho com ela. - acalmei-o.

- Mas por que resolveu do nada ter um bicho de estimação? - sua voz era curiosa.

- Não sei. Eu só... fiz.

- Ok, ok. Agora ficarei um pouco mais relaxado que você vai ter companhia em casa. - ele

riu.

- Não é como se eu precisasse. - revirei os olhos. - Mas, enfim. Só liguei pra dizer isso.

- Ah, certo. Mas Deuldeul...

Page 67: Começou Com Um Beijo

- Sim?

- Como está sua namorad-.. digo... Sua parceira de trabalho?

Bufei.

- A minha parceira de trabalhos está muito bem. - olhei para a gata, depois para as

marcas vermelhas com formato de linhas paralelas em meu ombro. E finalmente percebi a

semelhança.

“Ah, cuidado! Essa aí é uma gata selvagem! Se você se aproximar, ela vai avançar!” -

lembrei das palavras do ambulante. Era definitivamente isso. Jang Minah.

- Fico feliz. - ele riu. - Filho, preciso ir agora. Tenho um relatório enorme pra ler até

amanhã.

- Tudo bem, pai. A gente se fala. Tchau. - ele se despediu e desliguei o telefone.

Encarei a gata por alguns segundos. Baguncei meus próprios cabelos tentando não ter

raiva do animal que eu tinha acabado de adotar. Tudo bem. Amanhã eu sairia com... Peguei o

papel branco do bolso. “Seo Hyun”. Sorri. O cavalheiro da sedução não estava morto. Muito

pelo contrário. Estava mais vivo do que nunca.

Page 68: Começou Com Um Beijo

Capítulo 14 – Minah

- Bom dia. - ouvi a voz familiarmente irritante cumprimentar.

Vamos lá, Minah. Você ensaiou isso diversas vezes ontem a noite. Você consegue ser

simpática.

- Bom dia. - respondi. Só havíamos nós dois na sala. Algumas pessoas já tinham

chegado, mas apenas deixado a bolsa e saído.

- Nossa. Acho que alguém acordou de mal humor hoje. - Sandeul sorriu, colocando sua

bolsa na carteira vazia a minha frente como de costume.

Ok. Talvez eu precisasse ensaiar mais um pouco. Algo me dizia, no entanto, que mesmo

que eu treinasse por séculos, a resposta teria sido a mesma. Ouvir a voz dele me fez lembrar

tudo o que ele tinha falado naquele dia. E em parte eu também sentia raiva de mim mesma por

ter me deixado abalar tanto. Afinal, o que ele planejava fazer, não era exatamente a mesma

coisa que eu planejava? Dizer que ele era horrível era como admitir que eu era uma pessoa

horrível também. E de maneira alguma eu queria fazer isso.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou ele procurando meus olhos, tirando-me dos meus

murmúrios internos.

- Não. Está tudo bem comigo. É só que dormi tarde ontem e acordei cedo hoje. - dei de

ombros. - Está tudo bem com você? - perguntei de forma mais simpática.

- Estou bem. - ele respondeu, deitando a cabeça em seus braços cruzados sobre a minha

mesa. - Mas... Foi dormir tarde fazendo o quê? - perguntou com um sorriso malicioso nos

lábios.

Aproximei meu rosto do seu até fazê-lo sentir meu hálito propositalmente de menta ou

hortelã – sabe Deus diferenciar.

- Estava vendo pornô. - sussurrei. - Você não?

Seu rosto ficou da cor de uma cereja.

- Sério? - ele perguntou com os olhos arregalados. Dei um tapa em sua cabeça.

- Claro que não, bobão!

Sandeul explodiu em risadas. Que tipo de garota ele achava que eu era?

- Oh, sim. Eu quase esquecia. - disse ele enquanto enxugava uma lágrima do canto do

olho. - Minah. Qual seu número? - perguntou ele sacando o celular do bolso.

Page 69: Começou Com Um Beijo

Encarei-o. Imaginei vagamente quantos números de garotas dispostas a correr pra ele no

segundo em que ligasse ele devia ter no celular. Ter meu nome entre uma dessas qualquer me

enojou.

- Pro trabalho, você sabe. Precisamos ter o contato um do outro. - ele justificou.

Ditei um número pra ele. Sandeul teclou os dígitos em seu aparelho. Colocou em cima da

banca e tocou na opção do viva-voz. Uma voz feminina falou em alto e bom som:

“O número chamado não existe. Por favor, verifique o número chamado e tente

novamente.”

Sandeul não deixou de me olhar nos olhos nem por um segundo.

- Por favor, Minah. Eu não sou um amador. - disse com um sorriso torto.

Eu ri. Fail.

- Estava só brincando. Sou responsável. Sei que realmente precisamos trocar números

por causa do trabalho.

- Me dá seu celular, por favor. - pediu ele com a palma estendida na minha frente.

Depositei meu aparelho em sua mão a contragosto.

Ele discou o número dele e salvou meu número em seu celular. Depois aparentemente

salvou seu número no meu. Quando o peguei de volta, não achei nenhum contato com o nome

'Sandeul' e estranhei, franzindo o cenho.

- Ei. Você não salvou seu número? - perguntei, ao que Sandeul reagiu com um sorriso

travesso.

- Claro que sim. - respondeu colocando seu celular na orelha. Estava ligando pra mim.

'Amor platônico' – apareceu na tela.

- Ha ha ha. Muito engraçado. - me esforcei pra não rir, sem sucesso. Então modifiquei seu

nome de contato.

'BOBÃO'

- Assim fica melhor. - sorri satisfeita. Sandeul fez uma careta. - Agora me dá seu celular.

- Não. - ele negou rapidamente. Estranhei a reação. Ele com certeza devia ter salvado

meu número com algum nome estranho. Levantei para tentar alcançar o aparelho. Ele levantou-

se e esticou a mão pra longe. Pulei pra tentar pegar. Sandeul balançou o objeto no ar e

começou a andar pra trás me provocando. Continuei seguindo-o e pulei para pegar o celular,

Page 70: Começou Com Um Beijo

quando ele tropeçou em alguma coisa – acho que uma mochila jogada no chão, e caiu pra trás,

comigo em cima dele.

- Ouch. - ele reclamou esfregando a cabeça.

- Você está bem?!

- Sim. Você está? - perguntou ele me analisando rapidamente.

- Eu estou! Só... - corei ao perceber como estávamos. Eu em cima dele! Meu coração

estava acelerado. Não sabia se tinha sido impressão minha ou eu tinha sentido o dele bater

igualmente rápido. Levantei num impulso e bati a cabeça em algo duro. A mesa. - Ai! - gritei

baixinho, voltando a posição de antes involuntariamente.

- Meu Deus! Você é louca?! - perguntou Sandeul exasperado. Ele esfregou a mão na

minha cabeça rapidamente provavelmente a fim de não deixar nascer um galo no local. Gemi

de dor.

- Sandeul! Isso dói! Para... - reclamei.

- Mas o que..? - ouvi uma voz diferente e chocada adentrar o ambiente. Viramos em

direção a voz. Isso devia parecer tão errado pra quem estivesse chegando agora. Ignorei esse

pensamento.

- Jiwon! - exclamei com surpresa ao mesmo tempo que bati novamente minha cabeça na

mesa. - Ai! De novo!

Levantei depressa, esfregando eu mesma o recém-formado calombo.

- Bom dia. - cumprimentei Jiwon rapidamente. - Vou buscar algum gelo. Você quer? -

perguntei com uma careta pra Sandeul.

- Eu vou com você. - respondeu se levantando. Antes de sair, deu uns tapas cordiais no

ombro do amigo.

---

- Acho que machuquei meu ombro também. Você é pesada! - Sandeul acusou puxando a

camisa pro lado, tentando ver se havia algum hematoma.

- Eu sou o quê?! Ei, espera! - puxei sua camisa um pouco mais pro lado ao ver umas

marcas vermelho-escuras. Pareciam... Marcas de unha. E recentes. - Isso não fui eu...

Finalmente soltei sua roupa constrangida com a compreensão. Sandeul me olhou

confuso.

Page 71: Começou Com Um Beijo

- Parece que seu fim de semana foi agitado. - comentei com sarcasmo.

- O quê? - ele perguntou sem entender direito, mas parecendo por alguma razão, culpado.

- Esquece... Foi tudo culpa sua! - reclamei, mudando de assunto ao colocar o saco de

gelo que conseguimos na cantina sobre o pequeno monte dolorido no topo do meu crânio.

- Minha?! Quem mandou ser curiosa? - Sandeul respondeu pressionando um saco de

gelo na parte de trás da cabeça. Ele também não quis entrar no assunto, percebi.

- Curiosa?! Eu não sou-..

- Oi, Sandeul... - cumprimentou uma garota jogando seus longos cabelos dourados pra

trás. - Oh, meu Deus. Você se machucou?

Ela se aproximou tocando seu braço suspenso. Retirei-me de cena, provavelmente

revirando os olhos. Talvez essa tinha sido a dona das marcas de unhas. Ou talvez tenha sido

alguma outra. Quem poderia saber? Afinal, era de Sandeul que estávamos falando. Fui pra sala

e sentei em minha banca.

- Você está bem? - tomei um leve susto com a presença de Jiwon.

- Estou, obrigada. Com sorte, esse galo some até amanhã. - sorri. Ele retribuiu.

- Mas o que aconteceu?

- Ah, é uma longa história. - fiz um sinal negativo com a cabeça, querendo esquecer. -

Mas... E você? Se inscreveu naquele concurso de talentos?

- Hm... Na verdade, não. Eu não acho que estou pronto pra encarar um palco sozinho,

sabe?

- Ué, mas se você quiser eu toco teclado. E também posso fazer backing-vocal. Não

tenho voz pra cantar. Isso é um fato. Mas como backing-vocal até que fica legal. Eu brincava de

karaokê com meus primos quando era menor e tirávamos notas bem altas. - falei orgulhosa

incentivando.

Jiwon riu.

- Mas ainda assim...

- Quer saber? Vamos fazer sua inscrição agora! - falei, mas o professor entrou. - Ou

talvez depois da aula. - sorri.

Page 72: Começou Com Um Beijo

O resto dos alunos entraram depois dele. Incluindo Sandeul. Jiwon voltou pra sua carteira.

Ao fim da aula, arrastei ele pra a secretaria onde fariam as incrições. E fizemos a dele. Não

sabia nem que música ele ia tocar. Só que eu ia estar no teclado e fazendo backing-vocal.

Atravessamos o estacionamento no caminho de volta ao nosso bloco.

- Obrigado, Minah. Não precisava fazer isso por mim. - ele sorriu.

- Eu sei que não precisava. Mas quis fazer mesmo assim. - brinquei, dando de ombros.

Jiwon bagunçou meus cabelos. - Que mania! Você vai me despentear toda! - ri.

- Jiwon! Estava te procurando e.. Ah. Oi Minah. Você também está aqui. Hm... Na

verdade, pelo visto estavam juntos? - Sandeul apareceu.

- Sim. Estava acompanhando ele em uma coisa. - pisquei pro meu recente amigo. Se é

que podia chamá-lo assim.

- Ah... O concurso?

Jiwon fez que sim, coçando a parte de trás da cabeça.

- Por que não me disse? Eu teria ido com você! - perguntou Sandeul passando um braço

ao redor do pescoço do amigo, claramente tirando-o de perto de mim.

- Enfim... Não vou ficar no meio da DR (discussão de relacionamento) de vocês. Nos

vemos depois, Wonie? - perguntei sorrindo.

- Wonie? - repetiu Sandeul incrédulo.

- Ele é meu amigo também. - segurei a mão livre de Jiwon. - Por quê? Só pode ser seu?

- É. Só pode ser meu! O que quer com ele?

- O mesmo que você! Quer dizer... Não sei suas reais intenções e-..

- O quê?! O que você quer dizer isso?

- Exatamente o que insinuei!

- Ora, eu já te mostro o que-..

- Ok, ok. Eu é que não quero ficar no meio da DR de vocês. A gente se vê depois. - disse

Jiwon se libertando de nós dois e se afastando. Olhamos um para a cara do outro, respirando

com dificuldade e viramos o rosto na direção oposta. Fala sério. O que nós éramos? Crianças

do jardim de infância?

Page 73: Começou Com Um Beijo

- Nós nos conhecemos há mais tempo. - resmungou Sandeul.

Esperei para que ele continuasse seu raciocínio.

- E a única outra coisa que você me chama é de 'bobão'. - ele virou-se pra mim, com os

braços cruzados.

- Bom, isso é porque você é mesmo. - observei. Ele rolou os olhos. - Mas então o quê?

Quer que eu te chame de Deulie? Isso é muito estranho. Sandie? Sansan? Deuldeul?

Percebi um leve tremor no corpo de Sandeul ao ouvir o último apelido.

- Não. Você tem razão. Sandeul está ótimo. - ele sorriu nervosamente. Dei de ombros.

- Enfim, precisamos terminar o trabalho, lembra? - mudei o assunto.

- Sim, quando você pode ir pra minha casa?

- Ah... Acho melhor terminarmos aqui na faculdade mesmo. Já fizemos a maior parte de

qualquer forma. Só precisamos finalizar, então...

De forma alguma eu ia de novo pra seu apartamento! Eu tinha escapado - quase – ilesa

da última vez. Sabe Deus o que poderia acontecer se eu abusasse da sorte.

- Tudo bem, então. - Sandeul deu de ombros, mas pareceu um pouco decepcionado. - Ah,

e sobre as marcas que você viu... - ele sorriu travessamente.

- Ah, por favor. Não me explique. - fiz sinal com a mão para que parasse.

- Mas é que-..

- Não. - impedi-o de falar, cobrindo-lhe a boca com a mão. - Não quero ouvir sobre isso.

Sério. Posso dormir tranquilamente sem ouvir suas histórias devassas.

Sandeul retirou minha mão, mas continuou a segurá-la.

- E pode dormir tranquilamente sem ouvir uma explicação?! - perguntou me fitando com

olhos profundos.

- Por que não poderia?! - rebati. Um sorriso torto brincou em seus lábios.

- Por isso. - disse simplesmente.

E pressionou-me junto dele, enterrando uma mão em meus cabelos e outra nas minhas

costas me trazendo mais pra perto dele – como se fosse possível. Um beijo. Um beijo de

verdade como nos filmes. Ou melhor... Não como nos filmes, porque não era técnico. Foi tão

Page 74: Começou Com Um Beijo

estranho. Eu devia ter dado uma joelhada em suas partes baixas, mas me sentia febril e fraca

nas pernas. Havia algo macio e quente, mas estranho dentro da minha boca. Passeava por

dentro dela, como se já a conhecesse há anos, num ritmo compassado e lento, como se o

tempo simplesmente tivesse parado. Em contraste, podia quase ouvir as batidas do meu

coração nos ouvidos, latejando. Talvez tivesse alcançado a marca da frequência cardíaca de um

beija-flor. Eu não sabia o que pensava, nem o que estava fazendo. Sempre havia me

perguntado, como seria um beijo de verdade. Imaginei que não saberia o que fazer na hora,

mas no momento, parecia que meu corpo era programado pra fazer isso. Ou talvez não. Apenas

tentei seguir o fluxo dos movimentos do outro, sentindo correntes elétricas percorrerem meu

corpo e um profundo buraco aberto no meu estômago. Sentia-me um pouco tonta e semi-

consciente de que havia uma mão desalinhando meu cabelo. O mundo rodopiava em uma

espiral de um redemoinho sem fim. Foi aí que me lembrei que se eu fosse sugada pra dentro,

seria mais tarde cuspida pra fora sem misericórdia alguma. Parei tudo abruptamente. Dessa vez

não consegui dar um chute no meio de suas pernas. Minha visão estava embaçada.

Eu não podia... Não podia me apaixonar por ele. Não... podia...

Estava frustrada. Confusa. Triste. Com raiva. Perguntei-me vagamente quantas bocas (ou

quantas vezes) ele poderia ter beijado só no espaço de tempo do fim de semana pra o dia de

hoje. Uma lágrima teimosa caiu pesada em minha bochecha. Contive um soluço e a limpei

rapidamente com as costas da mão. Então saí dali com passos que eu desejava, com todas as

minhas forças restantes, fossem firmes.

Page 75: Começou Com Um Beijo

Capítulo 15 – Sandeul

Apenas... O que diabos eu acabei de fazer?

A cena de Minah e Jiwon voltou a minha cabeça repetidas vezes. Será que ela tinha

ficado assim porque gostava dele? Ou talvez ela simplesmente não gostava de mim como eu

pensava?

Mas que inferno! Por que toda vez Minah reagia de uma forma diferente?! Ela tem

múltiplas personalidades ou o quê?! Da primeira vez, me deu um chute nas bolas. Da segunda,

devolveu o beijo. E agora, chorava?!

O que eu deveria fazer? E por que aquilo me incomodava tanto?

Meu primeiro impulso, e contrange-me dizer, foi abraçá-la. Por um segundo pensei em

correr, abraçá-la, enxugar suas lágrimas e implorar desculpas. Mas então... Quem era esse e o

que tinha feito com o verdadeiro Sandeul? Por que eu nunca, eu toda a minha vida, fiz algo

semelhante ou considerei que faria. Talvez porque meus beijos antes eram correspondidos de

forma boa e favorável? Eu não sabia dizer. Não sabia, e isso era o que me deixava mais louco!

Não fiquei para a última aula. Tinha muita coisa na cabeça e resolvi voltar pra casa. Deitei no

sofá com tudo, encarando teto. Fiquei um tempo assim, até que senti algo macio roçar em

minha mão caída.

- Ei. - peguei a gatinha que ronronava em meu colo. Ergui-a. - Nem te dei um nome ainda,

né? Depois eu penso nisso. Já comeu?

Ah, que ótimo. Agora estava falando com animais. Estava realmente começando a

questionar minha sanidade mental, enquanto colocava ração e continuava murmurando para

aqueles olhinhos redondos e amarelos. Foi quando meu celular tocou.

- Sandeul? - era a voz de Jiwon.

- Sim?

- Precisamos conversar. Venha para aquele café perto da sua casa em 20 minutos. - e

desligou.

---

- O que houve? Você raramente chama alguém pra sair, e quando o faz é com um

homem? Você realmente está precisando de uns conselhos meus, amigo. - comentei

sarcasticamente, sentando-me na cadeira em frente a Jiwon.

- Seus conselhos? - ele ergueu uma sobrancelha. - Eu acho que não. - disse, depositando

sua xícara de café no pires.

Page 76: Começou Com Um Beijo

- Será que perdeu meu número outra vez? - perguntou uma voz meio sentida ao meu

lado. A garçonete.

- Estive um pouco ocupado esse fim de semana. Desculpe. - sorri fracamente. Ela abanou

as mãos, como que pedindo pra eu esquecer o assunto.

- Já sabe o que vai pedir, senhor?

- Um café.

- Não vai comer nada? - perguntou Jiwon encarando-nos com os olhos semi-cerrados.

- Estou sem fome. - respondi. A garçonete foi e voltou em pouco tempo. Dei um gole na

minha bebida. Queimei minha língua de leve. Droga.

- Bonita... - começou ele. Levantei a cabeça pra olhá-lo. Ele fez um sinal com queixo para

a garçonete que já se dirigia a outra mesa. Assenti com a cabeça, desviando o olhar.

- Então... esteve ocupado fim de semana?

- Um pouco. - fiz pouco caso do assunto.

- Hm... Pensei que tivesse reclamado no domingo que não tinha absolutamente nada pra

fazer quando me ligou chamando para jogarmos videogame.

Respirei fundo.

- Onde quer chegar?

- Sandeul. Vou ser bem sincero. Hoje mais cedo, quando deixei você e Minah sozinhos,

acabei voltando porque precisava falar com você. Deixei meu controle na sua casa. - ele fez

uma pausa. - E acabou que eu vi a cena.

Tive um pouco de dificuldade para engolir o líquido escuro. Despositei a xícara na mesa,

esperando que ele continuasse.

- O beijo, quero dizer. E a reação dos dois depois disso. Foi bem estranho, na verdade. -

falou com as sobrancelhas se unindo, parecendo estar vendo o replay agora mesmo.

- E daí? Você ficou com ciúmes? - perguntei com um ar divertido. Por dentro no entanto,

meu estômago revirou. Será que eu tinha comido algo ruim hoje?

- Minah saiu chorando. - continuou ele, me ignorando por completo. - Você parecia que

tinha acabado de ver sua BMW ser desmantelada.

Esperei.

Page 77: Começou Com Um Beijo

- Não é bem essa a reação que eu esperava de alguém que planejava dar o pé na bunda

da menina. - Jiwon finalmente ergueu o olhar pra mim. - O que você acha? - perguntou dando

uma mordida num pão de queijo.

Eu não tinha uma resposta para aquilo. Abri a boca e fechei algumas vezes. Fechei os

olhos e pressionei a ponte nasal entre o polegar e o indicador. Eu estava tentando com todas as

minhas forças não pensar nisso. Eu realmente acreditava que se eu fingisse que não sabia, eu

iria esquecer eventualmente. Mas essa constatação já estava me perseguindo há algum tempo.

Como um bandido à espreita na escuridão da cadeia a espera da primeira oportunidade para se

libertar e voltar para a luz. E o gatilho tinha finalmente sido apertado. Ou melhor... A cela

rompida.

- Você acha que eu estou...? - estremeci e não consegui continuar a frase.

- Apaixonado por Minah? - Jiwon completou por mim. - Bom, só o fato de você estar me

perguntando isso, já diz muito pra mim que te conheço há anos.

Segurei meu rosto entre as mãos. Ficamos em silêncio alguns segundos. Eu não queria

estar apaixonado. Não por Minah, nem por nenhuma outra garota. Mas eu estava. Sem nem

perceber, tinha me apaixonado pela garota que chutou meus bens mais preciosos.

- Então... O que pensa em fazer? - perguntou Jiwon por fim.

- O que você acha? - perguntei, dando o último gole em minha bebida. Joguei o dinheiro

da conta em cima da mesa e saí a passos apressados. Eu não podia esperar até amanhã pra

resolver isso.

- Minah, vamos nos encontrar agora. Não, você não pode recusar. Por favor. Onde você

está? Em casa? Que bairro? Sei. Pode ir pra praça Gwang? Fica perto, certo? Ok. Nos vemos

daqui a pouco. - deslizei o dedo sobre o botão vermelho.

“Ligação com 'Gata Selvagem' encerrada” - apareceu no visor.

- Ei, espera! - Jiwon me alcançou, enquanto eu abria a porta do meu C3. - O que vai

fazer? Não me diga que...

Não precisei dizer nada. Meu melhor amigo entendeu com apenas um olhar. Ele se

afastou passando a mão pelos cabelos. Pisei no acelerador e pus o carro em movimento.

Precisei esperar 12 minutos e 37 segundos para Minah aparecer - não que eu estivesse

contando. Levantei do banco ao vê-la se aproximar. O clima entre nós estava estranho e tenso.

- Oi. - falei finalmente. Droga. Estar apaixonado, e estar apaixonado tendo consciência

disso são coisas bem diferentes. Esperava que meu coração não tivesse batendo tão alto como

Page 78: Começou Com Um Beijo

eu imaginava estar.

- Oi. - ela falou cautelosa. Não parecia muito amigável, mas parecia nervosa. Silêncio.

Aproximei-me mais dela e pude ver em seus olhos o momento de hesitação entre ficar no lugar

e se afastar de mim. Enfim, decidiu por ficar onde estava.

- Eu queria te pedir desculpas pelo... Você sabe... O beijo. - sorri.

Ela pareceu que ia dizer alguma coisa, mas continuei.

- Não vai acontecer de novo. Na verdade, eu só queria me vingar. Por você ter me

chutado naquele dia. Mas não está mais divertido, e não quero ficar perto de você mais tempo

que o necessário, por isso eu irei parar de te perseguir. Na verdade, eu irei preferir se nos

tratássemos como se não nos conhecêssemos mais de agora em diante. - disse, cada palavra

atingindo-me de uma maneira que eu não esperava. Doía. Sim, era nisso que se resumia o

amor. Tomei um último fôlego e concluí. - Eu te chamei pra dizer isso.

- Ah... - foi o que ela pôde dizer. Então um riso irrompeu em sua garganta. - Eu já sabia do

seu plano, na verdade.

- V-você..?

- Sim, eu ouvi você e Jiwon falando sobre isso no dia do baile.

Eu estava chocado. Então talvez tenha sido por isso que ela foi embora sem me falar...

- Mas quer saber? O que me deixa mais irritada é você achar que eu me importo com

isso! Acontece que eu tinha o mesmo plano que você. Não é engraçado? - ela riu, mas foi uma

risada sem humor. - Eu planejava me vingar por você ter roubado meu primeiro beijo, fazendo

você se apaixonar por mim e depois me separando de você.

- O quê?! - eu não podia acreditar.

- Ou você acha que eu era burra o suficiente para acreditar que você queria alguma coisa

séria comigo? Eu não me apaixonaria por alguém assim! Muito menos.. - ela lutava contra suas

próprias emoções. - Muito menos deixaria levar meu outro primeiro beijo! Aish!

- “Não se apaixonaria por alguém assim”, você diz?! Eu que não me apaixonaria por

alguém como você! Mulheres não merecem confiança! Disso eu sei!

- Ah, sabe?! Que engraçado! Aprendi com você o contrário!

- Pois eu aprendi muito bem, quando minha mãe deixou o meu pai e foi embora com outro

homem! Ou quando uma garota me fez apaixonar por ela pensando no meu dinheiro! Pensa

que é a primeira a tentar me enganar? Sinto muito, mas.. Mas..

Page 79: Começou Com Um Beijo

Deus! Eu estava louco! Só podia estar louco! Por que diabos aquelas coisas tinha saído

da minha boca?!

- E aí você simplesmente acha que toda mulher no mundo é assim e se acha no direito de

fazer o mesmo com elas?! - Minah exigiu, mas seu tom tinha abrandado um pouco. Talvez fosse

impressão minha.

- Eu não faço isso. - falei entredentes.

- E como isso pode ser menos ruim do que o que você planejava fazer comigo?

- Como você pode exigir isso de mim se pretendia fazer a mesma coisa?!

- Você roubou meu primeiro beijo! Acredite, entre as coisas que pensei, essa foi a

menosruim. - revelou ela, cruzando os braços.

- O que você pensou em fazer comigo? - arfei, chocado. Minah desviou o olhar. - Tudo

isso por causa de um primeiro beijo?!

- É muito importante na vida de uma mulher! - retorquiu.

- Pff! - bufei. - Que besteira! Que importa se é o primeiro, o segundo ou o último?

- Importa que eu queria que pelo menos o primeiro fosse com alguém que eu... - ela

pausou, corando levemente. - Com alguém que gostasse de mim.

- Bom, você está com sorte então. - ironizei em voz baixa.

- O quê?

- Nada.

- De qualquer forma! O primeiro e último beijos são os mais importantes. - ela me

encarou, a raiva indo e voltando. - Aish! Eu deveria apenar te beijar e depois te matar pra você

ver o que se sente, mas aí você já não sentiria mais nada. - ela resmungou.

- Ya! Você acabou de pensar em me matar?!

Minah fez uma careta pra mim. Passei a mão pelos cabelos. Ela era completamente

louca!Eu estava ficando completamente louco! O que diabos estávamos fazendo?!

- Se terminou o que tinha de dizer, eu vou embora. - anunciou ela. Meu estômago se

contorceu. - E não se preocupe. Vou fazer de conta que não nos conhecemos, como você

pediu. Passar bem.

Page 80: Começou Com Um Beijo

Capítulo 16 – Minah

Caminhei para longe de Sandeul, sentindo meu coração ficar mais pesado a cada passo, mas

não demonstrando sentimento algum. Voltei pra casa, ignorando as perguntas da minha mãe se

eu queria comer e deitei de costas na cama, esgotada mentalmente. Uma coisa era saber; outra

bem diferente era ouvi-lo dizer aquilo tudo na minha cara, com todas as palavras atingindo-me

como estilhaços de vidro após uma explosão. Encarei o teto, prendendo a repiração alguns

segundos a fim de evitar o choro. Consegui. Escutei minha própria respiração profunda algumas

vezes antes de um toque familiar soar e sentir uma vibração no bolso da minha calça. Esperei

algum tempo esperando que a pessoa desistisse, mas quando a música começou a me irritar,

atendi sem nem ver quem era.

- Alô. - falei, minha voz saindo mais ríspida do que eu planejava.

- Alô? Minah? - a pessoa do outro lado hesitou. - Não é uma boa hora?

- Quem é? - perguntei, sem vontade.

- Jiwon. Da faculdade. - falou. - Da sua sala, mais especificamente.

Soltei uma risada fraca.

- Só precisava ter dito seu nome, sabe? Eu reconheceria. - informei.

- Ahh... Bem. Eu não sabia se você conhecia outros Jiwons. - ele riu.

- Não. Só você mesmo. - sorri, mesmo que ele não visse. - Mas... Por que ligou?

- Ah! Sobre isso! Queria saber se poderíamos nos encontrar hoje para ensaiar. Sabe, é

que falta pouco tempo pro concurso e estou começando a ficar um pouco preocupado com

minha falta de preparo...

- Ahh... - soltei um gemido mentalmente. Não queria fazer mais nada hoje, na verdade.

- Se você não quiser, tudo bem. Mas eu realmente gostaria. - acrescentou.

Suspirei.

- Muito bem. Vamos ensaiar. Mas aonde seria isso?

- Eu tenho um lugar. - disse Jiwon, com um sorriso maroto na voz.

---

- Então esse é o lugar? - perguntei olhando ao redor as paredes cor de caramelo um

pouco enegrecidas de poeira. Jiwon assentiu. Segurei melhor a alça da capa do meu teclado,

Page 81: Começou Com Um Beijo

porque era pouco pesado. Jiwon pegou de mim e depositou em cima de uma mesa, que parecia

limpa.

- Até ontem era só o sótão abandonado da minha casa. - disse ele, abrindo os braços ao

redor do cômodo abafado. - Mas eu limpei para que virasse nosso estúdio.

Deslizei um dedo por uma das paredes, depois olhando como a ponta se tornou cinza

escura.

- Acho que não seria um bom dono de casa. - caçoei divertida enquanto batia as mãos

uma na outra para afugentar as partículas.

- Não pensei em limpar aí. - disse com os olhos um pouco arregalados, como se a ideia

só lhe surgisse agora.

- Tudo bem. De qualquer forma, não é como se fôssemos o homem-aranha para sair

escalando e esfregando nossos corpos pelas paredes. - ironizei. Jiwon riu.

- Aposto que isso impressionaria os jurados. - brincou, fazendo-me rir também.

- Então, - bateu suas palmas e esfregou-as ansioso. - vamos começar o ensaio?

---

Eu me sentava no lugar que sempre sentei nas aulas, pra deixar claro para Sandeul que

ele não tinha me afetado em absolutamente nada. Já ele, voltou ao lugar nas últimas bancas

em meio aos outros meninos, como fazia antes de me conhecer. Não trocamos mais nenhuma

palavra que não fosse estritamente sobre o trabalho, e, logo que este estava terminado, a

comunicação cessou, como uma corda rompida. Um rápido, e preciso corte.

Foi uma ótima coisa que Jiwon ocupou-me durante a maioria dos meus dias. Não tinha

sequer tempo de pensar em outras coisas além de estudar, ou me dedicar a ensaiar para a

apresentação no concurso de talentos. Antes, parecia uma data longe, mas num piscar de

olhos, o dia chegou e eu me encontrava atrás do palco, com Jiwon ao meu lado. Ele segurou

meus ombros e procurou meus olhos.

- Sandeul vai estar aí. Você ficará bem? - perguntou, e eu encontrei preocupação em seus

olhos.

- Claro que sim. Que importa que ele esteja aí? - bufei, despretenciosamente.

Até agora, Jiwon nunca tinha mecionado o amigo, e me perguntei de repente o quanto ele

saberia da história toda. Será que me via com maus olhos agora? Se sim, não deu um sinal

sequer disso. Eu deveria simplesmente esquecer toda essa história – pensei.

Page 82: Começou Com Um Beijo

- E você? Nervoso? - perguntei, segurando suas mãos. Estavam com a temperatura um

pouco abaixo do normal.

- Um pouco. - ele riu, revelando a veracidade de sua confirmação.

- Apenas toque sua música. Vai ficar tudo bem. - sorri, apesar de eu mesma sentir como

se uma bolsa de gelo tivesse se instalado por dentro do meu abdome.

Jiwon assentiu, enquanto ouvíamos nossos nomes serem chamados ao palco. Sentei no

banco, com o meu teclado já previamente arrumado em seu suporte. Jiwon ajeitou seu

microfone, e preparou os dedos em seu violão.

Quando a luz cegante da manhã chega

Eu abro meus olhos com amor e canto

Apenas para você

Para você, eu te amo, apenas você

Preenchido com meu coração inquieto

Com palavras mais suaves que a fragrante essência do café

Eu olho para você

Você sabe?

Eu sei que você sente isso também

A palavra em seu coração é “amor”

Eu escuto isso agora

Eu vejo isso agora

Esse tímido sentimento que é mais bonito do que qualquer flor

Olhe para mim

Segure firme minhas mãos

Um sentimento tão feliz

Um destino tão cegante

Eu sorrio com a essência do amor

Toda vez que o vento sopra

Eu gentilmente fecho meus olhos

E sussurro um feitiço de amor

Para que assim você possa sentir meu coração

Olhe em meus olhos

Que está preenchido com meu coração inquieto

Tão caloroso quanto um mágico beijo

Por favor aceite meus sentimentos

Eu prometerei

Page 83: Começou Com Um Beijo

Que nossas mãos estarão sempre unidas

Um sentimento tão feliz

Um destino tão cegante

Vamos ficar bêbados com a essência do amor

Pra sempre

Eu amo você e apenas você

Saímos do palco finalmente, depois de sermos bastante aplaudidos. Nos bastidores,

Jiwon me pegou nos braços e rodopiou comigo algumas vezes.

- Você sentiu essa energia?! - perguntava frenético. Assenti, empolgando-me junto com

ele.

- Jiwon, você foi incrível! Simplesmente incrível! O melhor! - mostrei meu polegar

levantado pra ele, com um grande sorriso.

- Eu não teria vindo se não fosse você. - riu, me abraçando. - Obrigado. - sussurrou nos

topo da minha cabeça. - Obrigado. - repetiu olhando em meus olhos.

Mas que diabos...? Senti as bochechas arderem.

- Ayoo, não precisa agradecer! - empurrei-o com o ombro de leve, rindo para disfarçar a

vergonha. - Mas se bem que, se você ficar famoso um dia, quero ter algum reconhecimento.

Ok?

Jiwon revirou os olhos, demonstrando não acreditar naquilo.

- Grande Jiwon! - saudou um garoto um pouco mais alto que Jiwon, abraçando-o com um

aperto de urso. Depois, soltou-o e deslizou um braço ao redor de seu pescoço. - Foi muito bom.

Estou orgulhoso. - disse, piscando.

- Hyung*. - Jiwon sorriu, encabulado. - Valeu.

- Oh, e essa é sua parceira de palco? - perguntou o outro parecendo ter finalmente me

notado.

Jiwon assentiu, trazendo-me pra perto deles.

- Esse é Siwon. Meu irmão mais velho. - disse pra mim. - E essa, é minha amiga da

faculdade, Minah. - falou, se dirigindo ao irmão agora.

- Ah, Minah... É um prazer. - ele estendeu sua mão pra mim. Sorri e peguei-a

educadamente. - Jiwon, por que não me disse que tinha amigas tão bonitas assim? - perguntou

ao mais novo, parecendo ofendido.

Page 84: Começou Com Um Beijo

Jiwon abriu a boca pra responder, mas o irmão o interrompeu, com um sorriso maroto.

- A não ser que... - ele deixou no ar. Desviei o olhar, certa de ficaria ainda mais vermelha

se encontrasse com os olhos de qualquer um dos dois.

- Não é nada disso, hyung. Pára, ok? - pediu Jiwon. Siwon pareceu estudar o menor por

um segundo, então segurou minhas mãos.

- Então não tem problema se nos conhecermos melhor, certo? - perguntou olhando pra

mim, com um grande sorriso nos lábios.

- Jiwon, parabéns cara! Não sabia que guardava tanto talento e-..Oh, hyung! Você veio! -

falou uma terceira voz masculina. Engoli seco.

- Sandeul! - Siwon passou o braço pelo meu ombro para cumprimentar o amigo com a

mão livre. - Como você está, cara?

- Eu estou bem! E... - o olhar de Sandeul baixou para mim. - Você?!

Revirei os olhos.

- Você também conhece a Minah? - perguntou Siwon olhando de mim para Sandeul.

- Eu..-

- Sandeul também estuda na minha classe, esqueceu? - interveio Jiwon em nosso

socorro.

- Ah, é verdade... - o mais velho bateu em sua própria testa.

Troquei o peso da minha perna, um pouco nervosa com o clima, e ajeitei a alça da capa

do meu teclado.

- Está pesado? Quer que eu segure? - perguntou Sandeul de repente.

- Deixa que eu seguro. - disse Jiwon, já levando as mãos ao grande volume.

- Eu seguro. - Siwon tomou o aparelho das mãos do mais novo. - É o dever do mais velho.

- sorriu.

Que tenso...

- Eu seguro. - sorri, tentando pegá-lo de volta. - Já estava indo embora mesmo.

- Embora? - repetiram os três. Olhei de um para outro, apreensiva. Meu estômago estava

se sentindo revirado ou era impressão minha?

- Minah! - ouvi vozes me chamar. Virei na direção das mesmas.

Page 85: Começou Com Um Beijo

- Jin Young! Lee Kah! Vocês vieram! - corri para abraçá-las. - Gente, me tira daqui pelo

amor de Deus! - sussurrei em seus ouvidos.

As duas olharam para meus acompanhantes e soltaram uma risadinha conjunta.

- Me empresta um pouco dos feromônios, gata. - Lee Kah sussurrou de volta.

- Isso não é justo. Também quero. - reclamou Jin Young no mesmo tom, divertindo-se.

Voltamo-nos para os três garotos. Eles cumprimentaram minhas amigas.

- Minah. - começou Jiwon. - Você vai embora mesmo? Não vai nem esperar pelos

resultados?

- Eu irei esperar pelos resultados, sim. Esqueci por um momento que eles davam no

mesmo dia. - sorri. “Ou talvez eu só quisesse fugir daquela situação mega estranha com vocês

três” – acrescentei mentalmente.

- Ah, maninho. Queria falar uma coisa com você. Vai ser rápido. - pediu Siwon ao irmão.

Mas não parecia uma oferta que pudesse ser recusada. - Assunto de família. - piscou para nós.

- Segura aqui pra mim, por favor. - entregou meu instrumento para Sandeul e se afastou com

Jiwon.

Oh, que ótimo!

- Pode me devolver agora. Obrigada. - informei, estendendo a mão.

- Não precisa se incomodar. É pesado. - Sandeul recusou, dando de ombros.

- Eu não deixo pessoas que não conheço segurarem meu teclado. - falei sem conseguir

conter o sarcasmo. Aquilo o atingiu. Não sabia bem como, ou em que proporção, mas atingiu.

- Você conhece Siwon tão bem assim, então? - devolveu ele com ironia.

- Na verdade, não. Mas ele parece legal.

- Oh, sim? Duvido que continuasse a ser, se você tivesse chutado as bolas dele!

- E eu duvido que ele teria me beijado contra minha vontade como você fez!

- Quando eu fiz isso?!

Sentia-me estúpida por perceber que o último beijo não tinha sido contra a minha

vontade, mas apenas acusei a verdade:

- No meu primeiro beijo!

- Mas eu não sabia que você não ia querer! - ele respondeu exasperado.

- Oh, que grande desculpa! - joguei as mãos para o alto.

Page 86: Começou Com Um Beijo

Minhas amigas pigarrearam. Tinha esquecido completamente que elas estavam ali. Tentei

controlar minha respiração agitada. Ficamos todos calados, até os irmãos voltarem.

- O que perdemos? - perguntou Jiwon, olhando para nós, e lendo o clima tenso.

- Nada. - respondemos em uníssono, deixando tudo ainda mais suspeito. Siwon nos

encarou com olhos semicerrados.

- Minah, você dançaria comigo? - perguntou então, mudando o assunto, e estendendo-me

a mão. Enquanto os juízes deliberavam, colocaram algumas músicas para tocar e havia

pessoas dançando no espaço.

- Hyung, desculpe, mas não quero ficar segurando isso o tempo todo, então... - falou

Sandeul devolvendo meu teclado ao mais velho.

- Ah, o que faço? Não posso dançar com isso.

- Não se preocupe. Eu posso segurar para vocês dançarem. - apressou-se Jin Young.

Siwon lhe deu um sorriso agradecido.

Muito obrigada, amiga. Quer dizer, ele era muito bonito e tal, mas... Que vergonha! E eu

acabei de conhecê-lo.

- Vamos? - perguntou, conduzindo-me com uma mão em minhas costas. Começamos a

nos movimentar com a música lenta. - Eles estão olhando pra nós?

Estiquei-me um pouco na ponta dos pés para ver por cima do ombro dele.

- Sim. - falei. - Mas por que quer saber?

Siwon sorriu, colocando uma mecha de cabelo solta atrás da minha orelha delicadamente.

- Minah, você é do tipo que prefere ações ou explicações primeiro? - perguntou, com um

olhar maroto. Senti meu estômago dar uma cambalhota.

- O que você quer dizer com isso? - perguntei, enquanto ele se aproximava do meu rosto.

Page 87: Começou Com Um Beijo

Capítulo 17 – Sandeul

Quando dei por mim, estava puxando Minah dos braços do Siwon. Por quê?! Ele tinha acabado

de beijar ela! Sim, isso mesmo! Beijar! Como não sabia o que fazer, simplesmente levei-a pra

fora do auditório e a encostei numa parede. Passei a mãos pelos cabelos, sem saber direito o

que estava fazendo.

- Você está louco?! - exigiu ela, libertando-se de mim.

- Por que você não deu um chute no meio das pernas dele?! - perguntei, enfim, irônico.

- Por que eu deveria? - perguntou ela, cruzando os braços sobre o peito.

- Bom, foi isso o que você fez quando eu fiz o mesmo!

- Não. Você roubou meu primeiro beijo.

- Será que você nunca vai esquecer essa história?! - perguntei girando sobre os

calcanhares, e dando alguns passos pra longe.

- Eu só quero saber o que você tem a ver com isso!

- Com isso o quê? - voltei-me pra ela.

- Por que foi lá e atrapalhou o beijo?!

- Ah, então você estava gostando?!

- Responde minha pergunta. - respondeu já impaciente.

- Porque eu...

Não consegui terminar. Segurei sua mão e levei-a até um banco próximo para nos

sentarmos.

- Minah. Me escute bem.

Ela inclinou levemente a cabeça pra cima, o nariz ficando empinado – sua marga

registrada.

- Eu... - suspirei. - Eu tenho um problema em confiar nas mulheres.

Minah pareceu confusa por alguns segundos. Não parecia esperar esse tipo de conversa.

Sua expressão se abrandou um pouco.

- Eu sei. Por causa da sua mãe e de alguma ex, certo?

Page 88: Começou Com Um Beijo

- Sim... A minha mãe, ela fugiu com um cara quando eu ainda era pequeno. Meu pai a

amava muito e só eu sei o que ele sofreu. Por causa disso, depois de um primeiro momento de

depressão, ele se focou totalmente em seu trabalho. Para esquecer a realidade, eu acho. Por

isso, hoje ele é um grande empresário de sucesso. Fez bastante dinheiro. Mas graças a isso,

acho que ficamos meio afastados também... De qualquer forma, eu conheci uma garota, e ela

me tratava muito bem. Eu cheguei até a pensar em pedi-la em casamento. - ri, sem humor -

Então, quando eu estava indo fazer uma surpresa pra ela, ouvi sem querer ela conversar com

sua amiga. Resumindo a história, ela estava comigo apenas por causa do dinheiro. Não parecia

ter nenhum tipo de sentimento afetuoso por mim, e na verdade me achava mimado. “Talvez

Sandeul pense que eu sou a mãe que ele não pôde ter.”, lembro dela falar.

Engoli seco. Nunca pensei que fosse contar essa história a outra pessoa que não fosse

Jiwon. Houve um breve silêncio.

- Você é mesmo mimado. - comentou Minah por fim, embora desse pra perceber que ela

só queria suavizar o clima. Eu ri baixinho. - Mas... Por que está me contando isso?

- Por quê? Na verdade não sei... Decidi isso agora.

Minah deu de ombros, como se dissesse que não importava o motivo. Ela passou a

observar o céu. Estava estrelado, e muito bonito.

- Era mentira! - exclamei.

- O quê? Aquela história toda..?! Sadeul, sério, eu-.. - Minah ia levantando do banco, mas

puxei seu pulso, para que ela voltasse a se sentar.

- Não, eu quero dizer... Eu sei exatamente porque falei essas coisas por você.

- Ah, é? - perguntou com uma sobrancelha levantada, em desafio. - E por quê?

Encostei minha testa na sua. Ah, pro inferno com tudo!

- Porque eu gosto de você. - respondi.

- Q-quê? - parece que eu tinha pego Minah de guarda baixa.

- É, é isso. Estou apaixonado por você. Eu não queria. E juro que tentei com todas as

minhas forças não gostar. Mas você não pode esperar que simplesmente alguém te beije na

minha frente e eu não faça nada! Isso foi quase como me forçar a reagir!

- Do que diabos você está falando? - sua voz saiu num sussurro.

Segurei seu rosto entre minhas mãos.

Page 89: Começou Com Um Beijo

- Você é meio lenta, hein? Eu disse que gosto de você. Gosto muito. - repeti. - Quero me

arriscar e voltar a confiar nas mulheres. Ou melhor... Confiar em você.

- Você é completamente maluco... - ela sussurrou, abismada.

Deixei minha mão cair de volta no banco.

- Sinceramente não sei porque me apaixonei por alguém assim. - resmunguei.

Minah bufou e deu um peteleco em minha testa.

- Eu digo o mesmo. - resmungou.

Olhei pra ela confuso.

- Quero dizer... Estamos na mesma situação. - explicou ela fazendo sinais pra mim e pra

ela.

Minah encarou-me por alguns segundos, quando eu não respondi, com medo de entender

errado.

- Você é meio lento, hein? - falou, imitando minha voz.

Minah pegou meu rosto entre suas mãos, e puxou-me para um beijo. Meus braços

envolveram sua cintura, e apertei-me contra ela. Queria estar tão próximo dela quanto fosse

possível, e mesmo estando colados um ao outro não parecia ser suficiente. Não tinha percebido

o que quanto tinha sentido falta dela até aquele momento. O quanto eu tinha sentido falta dos

seus lábios macios contra os meus, do seu cheiro, do seu toque. Droga! Eu já estava muito,

muito perdido, cara. Tinha caído num poço mais profundo do que o da Samara do Chamado e

não parecia haver meio de voltar. Finalmente nos separamos. Olhamo-nos por alguns

segundos, absorvendo as informações. Afinal, aquilo tudo era muito novo. Há apenas algumas

semanas aparentemente nos odiávamos. Passamos outro bom tempo sem nos falar. E agora,

isso.

- V-você preferiu o meu beijo ou o dele? - perguntei finalmente a primeira coisa que me

veio à cabeça.

- Hmm... Bom, não sei direito. Você interrompeu o beijo, lembra? Talvez eu devesse beijá-

lo de novo para te dar uma resposta?

- YA!

- Não?

- Como você pode sequer pensar nisso?!

Page 90: Começou Com Um Beijo

- Por que você parece tão chocado? Aposto que já ficou com muito mais do que duas

meninas em uma noite.

- Bom, sim! Mas eu não... Quero dizer, elas não...

- Além disso, não estamos namorando, certo?

Franzi a testa.

- Não... - respondi a contragosto. Minah gargalhou.

- Você fica fofo com ciúmes. - falou, apertando minha bochecha.

- Eu não estou com ciúmes! - rebati.

- Ah, não? Que bom. Fico mais tranquila agora. Então, deixa eu ir ver onde está o Siwon..

Puxei uma Minah que já se levantava, pro meu colo, e a abracei, impedindo-a de sair.

- Y-ya! O que está fazendo?! - perguntou, e mesmo sem ver seu rosto, sabia que estava

com as bochechas em chamas.

- Não vá... - resmunguei, apertando mais o abraço, e pressionando minha bochecha

contra suas costas.

- Criança mimada...

- Namorado ciumento. - corrigi. Minah se soltou e ficou de pé de frente pra mim.

- Quem disse que estamos namorando? - perguntou com os braços cruzados.

- Eu.

- Hahaha. Não sei de que planeta machista você veio, mas por aqui as coisas funcionam

diferente. Tem que haver o consentimento de ambas as partes para haver um namoro, sabe?

- Hm... Dizem que uma mentira contada diversas vezes acaba se tornando uma verdade.

- Quê?

Levantei e coloquei Minah em cima do ombro, levando-a de volta pro auditório – não sem

algum esforço. Então coloquei-a no chão, e segurei sua mão com firmeza para entrar. Ela

tentou se soltar mas eu não deixei. Subi no palco e pedi o microfone do DJ emprestado.

- Gente, eu gostaria de fazer um anúncio público. - sorri. Minah olhou para mim com um

Page 91: Começou Com Um Beijo

olhar de quase desespero. Seu rosto estava como uma cereja. - Eu, Sandeul estou namorando

a Minah.

- Ah, não, não! Isso não.. - a voz de Minah foi encoberta por uma chuva de aplausos e

gritos de suporte. Pelo menos da maioria. Algumas garotas pareciam emburradas e não muito

felizes.

Descemos do palco e Minah soltou minha mão quase com violência.

- Eu te odeio! Não pense que estamos namorando só porque você anunciou e-..!

- Eu sei. - interrompi. - Vou tentar te fazer ser minha namorada do jeito tradiconal. Mas, eu

precisava ter certeza de que os outros não iriam tentar o mesmo, sabe?

- O quê?! - seu rosto estava vermelho, mas dessa vez parecia raiva. - Ai meu Deus! Eu te

odeio tanto!

Eu sorri.

- Mas quer saber? Talvez o seu tiro saia pela culatra. - disse Minah depois de respirar

fundo algumas vezes. - Agora que o “cavalheiro da sedução” está “namorando”, os outros

garotos vão querer saber quem é a garota que fez ele querer um compromisso sério. E aí,

quando eu disser que não estou namorando você, eles vão perceber que é unilateral, e ficarão

ainda mais curiosos a meu respeito!

- Não, não. Nós garotos temos uma ética bem respeitada por aqui. “Namorada de amigo

meu pra mim é homem”. Nunca ouviu falar?

- Mas não sou sua namorada. - respondeu entredentes.

- Minah, por que ser tão teimosa? - perguntou uma voz feminina chegando em nossa

direção.

Era uma das amigas de Minah. Lee Kah – identifiquei.

- Não é? Eu achei tão fofa a declaração em público. - disse uma outra. Jin Young.

- Vocês não estão entendendo! Ele-.. - Minah ia protestar, mas foi interrompida.

- Acredite. Sandeul não é de fazer coisas assim. Na verdade, nunca vi ele fazer algo

assim - Jiwon chegou em minha defesa.

- Peço desculpas aos pombinhos. Meu maninho aqui pediu uma ajuda para juntar os dois.

- Siwon falou, escorando o braço no ombro do irmão.

Page 92: Começou Com Um Beijo

- Mas eu não achei que você fosse beijar ela! Francamente, hyung... - repreendeu Jiwon.

- Situações extremas, medidas extremas. - Siwon piscou. - Mas devo dizer que não foi

nenhum sacrifício. Sandeul, tome bem conta dela. Ou outro rapidamente o fará.

Meu sangue ferveu.

- Vocês armaram tudo isso?! - eu e Minah perguntamos ao mesmo tempo.

Todos os acusados deram de ombros.

- Eu não acredito nisso! Pensei que fossem minhas amigas! - reclamou Minah dirigindo-se

as companheiras.

- E somos. Por isso fizemos isso. - respondeu Jin Young simplesmente.

- Vocês dois obviamente sentiam algo um pelo outro. E depois de conversamos com

Jiwon, decidimos que precisávamos dar uma mãozinha pra os mais cabeça-duras que já

existiram. - explicou Lee Kah.

- E você? O que tem a dizer em sua defesa? - perguntei a Jiwon.

- O mesmo que elas. Mas pedi a ajuda do meu irmão. Não sabia que ele ia beijar a Minah,

mas pelo menos teve o efeito desejado.

- Eu me sinto completamente manipulada! - arfou Minah.

- Eu também! - concordei. Olhamo-nos na mesma hora. Então encaramos os nossos ditos

amigos.

Aquela situação estava tão errada... Tão absurda que simplesmente...

Começamos a rir histericamente. Cara, que loucura!

Quando finalmente tudo se acalmou, olhei para Minah com expectativa, esperando uma

resposta.

- Ok, ok. Eu namoro com você. - disse Minah enxugando uma lágrima do canto do olho. -

Mas apenas me irrite, e você vai ver só! Eu juro que-..

Beijei-a uma vez, muito mais demorado do que o necessário pra um selinho.

- Entendi. Entendi. - concordei, rindo. Dei um beijo no topo de sua cabeça. - Ah, e quanto

a você, hyung. - voltei-me pra Siwon.

- Hm?

Page 93: Começou Com Um Beijo

- É assim que se beija. Só pra você saber. E não precisa mais fazer nenhum plano. Pode

deixar que eu vou tomar conta dela muito bem a partir de agora.

Siwon levantou as mãos pra cima em sinal de inocência, com um sorriso divertido no

rosto.

- Olha só, você tem que parar com isso de ciúmes, sério, cara. - Minah disse voltando-se

pra mim.

- Mas ele te beijou! - argumentei.

- Eu sei, mas não estávamos namorando. Além do mais, eu é que devia estar irritada com

ele por ter sido usada.

- Tudo bem. Você quer bater nele? Eu posso segurar.

- Não, tudo bem. Vou perdoar dessa vez.

- Sério? Tem certeza?

- Eu tenho.

- Tudo bem, então.

- Tudo bem?

- Tudo bem. - assenti.

- Ai, meu Deus! Olha só isso! Olha como eles já estão! - Lee Kah brincou.

- Parecem muito fofos enquanto discutem se vão bater em mim ou não. - ironizou Siwon.

- São muito fofos, mesmo! - Jin Young concordou, rindo. - Mas não estou a fim de segurar

vela.

- Nem eu. - Jiwon disse por fim, com um sorriso zombeteiro no rosto. - Vamos então

dançar, garotas?

Jiwon levou Lee Kah pra dançar, enquanto Siwon levou Jin Young.

- Hm... Casais interessantes. - comentei olhando para os mesmos.

- Concordo plenamente. - assentiu Minah, com um sorriso maroto. - Deveríamos dar uma

mãozinha, também?

Passei o braço por sua cintura.

Page 94: Começou Com Um Beijo

- Estou de total acordo. Afinal, dívida é dívida.

- Mas sem a parte do beijo. - comentou Minah, com um sorriso divertido.

- A parte mais divertida você quer tirar? - brinquei.

- Oh, devemos deixar então? Pode ser. Aproveito e tiramos aquela prova sobre o beijo do

Siwon...

- YA!

Minah gargalhou. Virei-a pra mim. Olhamo-nos nos olhos e sorrimos. Então nos beijamos.

Que forma tão estranha de se apaixonar. Tudo era uma aventura. Tudo muito novo e repetino. E

tudo tinha começado com um beijo.

Page 95: Começou Com Um Beijo

Capítulo 18 – Minah

- Feliz aniversário! - uma voz familiar exclamou.

Virei-me pra ele mal-humorada. Sandeul estendia à minha frente uma caixa do que

parecia ser um mini bolo caro e um buquê de flores na outra mão.

Peguei a caixinha muito bem embalada com fitilho rosa e lutei contra o impulso do meu

orgulho. Fiquei de ponta de pé para depositar um beijo suave em seus lábios e então

resmunguei:

- Você está atrasado meia hora, sabe disso?

- Eu sei. A garota da floricultura demorou mais do que devia para fazer o buquê. Talvez

ela quisesse me prender lá por mais tempo? - perguntou com seu usual sorriso presunçoso.

Revirei os olhos. Ele me estendeu as flores. Rosas de cores champagne e pink estavam

arrodeadas de pequenos ramos amarelos e brancos. Com certeza, tinha sido um trabalho bem

feito.

- Você quer realmente que eu aceite isso agora? - arqueei uma sobrancelha.

Seu sorriso cresceu. Ele deu de ombros. Tomei o ramalhete nos meus braços. O cheiro

das flores penetrou em minhas narinas. Era doce e agradável.

- Até que ela fez um bom trabalho. - comentei ao inspirar o aroma mais uma vez.

A mão de Sandeul deslizou para minha cintura. Ignorei as batidas frenéticas do meu

coração com a simples proximidade.

- Ei, mas... Eu vou ter que ficar carregando isso por aí? - perguntei freando. As pessoas

ao redor começavam a nos olhar com sorrisinhos insinuadores e algumas até soltavam um

'onww' ao passar por nós.

- Quer deixar no meu carro? - sugeriu Sandeul. Deixamos as flores no banco dianteiro.

- E então... Pra onde vamos? - perguntei ao voltarmos à praça.

- O que você quer fazer? - perguntou Sandeul sentando num banco. Contrai a testa.

- Eu não sei. O que você sugere?

- Mas é o seu aniversário. Você tem que dizer onde quer ir ou o que quer fazer.

- Tenho o direito de dizer o que quero fazer? Qualquer coisa? - testei.

Page 96: Começou Com Um Beijo

Sandeul assentiu, um pouco receoso.

- Então... - retirei um papel dobrado do bolso, trocando a caixinha do bolo para a outra

mão.

- O que é isso? - perguntou Sandeul se levantando.

Desdobrei o papel e li o título pra ele.

- "Lista de coisas a fazer quando tiver um namorado"

- O quê?! - Sandeul tentou puxar o papel, mas estiquei o braço afastando dele. - Não

acredito que você fez mesmo uma lista.. - ele ia começar a rir.

- Se você rir, você morre. - avisei. Sandeul engoli seco, mas não teve sucesso em fingir

seriedade.

- Ok, ok. O que você tem aí?

- Bom... Vamos fazer as coisas do final para o início.

- Eu posso pelo menos ver a lista?

- Não. - respondi categoricamente. - Então... Vamos ao item número 13.

- Por que tem 13 itens? Esse não é o número do azar?

- Na verdade, tinham 12. Depois que comecei a namorar com você, adicionei mais um.

Acho que veio bem a calhar.

- Ya! Você está dizendo que tem azar de namorar comigo?!

- Brincadeira. - ri, dando um rápido beijo em seu nariz.

Sandeul pigarreou.

- Tudo bem, tudo bem. É seu aniversário. Então, vamos lá. Diga. O que tem nesse item

número 13?

- O item número 13 é... "Ir a uma sorveteria tomar milk shakes...

- Ahh, então até você tem pensamentos femininos normais às vezes.

- ...e falar mal dos outros casais." - completei.

- O quê? - Sandeul perguntou confuso.

Page 97: Começou Com Um Beijo

- Eu disse: "Ir a uma sorveteria tomar milk shakes e falar mal dos outros casais."

- O que você quer dizer com isso? Falar mal dos outros casais?!

- Sim. Nós observamos eles e se tiverem fazendo alguma cena melosa demais, nós

resmungamos sobre isso. - expliquei. - Vamos? - puxei sua mão, animada.

- Você é uma psicopata, sabia disso? - perguntou Sandeul ainda chocado.

Chegamos enfim a uma sorveteria, que escolhi depois de ver que havia vários casais.

Sandeul disse que ia ao banheiro antes e eu escolhi uma mesa estratégica. O garçom se

aproximou e entregou-me o cardápio. Sorri pra ele simpaticamente. O garçom se inclinou pra

mim.

- É seu aniversário? - perguntou, apontando para a caixinha de bolo em cima da mesa.

Fiz que sim com a cabeça, envergonhada.

- Nós temos um tratamento especial para aniversariantes aqui. - ele sorriu.

- A sorveteria ou você dá o tratamento especial? - perguntou uma voz séria atrás dele.

O garçom virou-se de sobressalto.

- A-a sorveteria, senhor. - respondeu.

- Sendo assim, nós aceitamos. - Sandeul sorriu, com olhos ameaçadores.

- S-sim, senhor. - o garçom fez uma breve reverência antes de nos deixarmos a sós.

- Fala sério. Eu te deixo sozinha um minuto e os caras já caem em cima. - ele resmungou

baixinho, sentando. Bufei.

- Ele só estava sendo simpático e fazendo o trabalho dele. - expliquei.

- Claro... Só você pra não perceber a indireta de "um tratamento especial". - ele fez as

aspas no ar. Revirei os olhos.

- Ah, por favor. O que você acha que ele poderia fazer?

- Ah, eu não vou mesmo te contar. - bufou.

- Você acha que ele estava mesmo dando em cima de mim?

- Claro que estava! Ficou bem óbvio.

Page 98: Começou Com Um Beijo

- Esquisito... Isso não acontecia antes de eu namorar. - refleti.

- Ou você não notava que acontecia. - Sandeul revirou os olhos.

- Talvez seja porque eu me arrumei? - a pergunta era mais retórica, mas mesmo assim

Sandeul respondeu.

- Como assim?

- Eu não me arrumava realmente antes de namorar.

- E agora você se arruma?

- Bom, claro! Quando a gente vai sair, eu.. - comecei a dizer, e então percebi o quão

constrangedor estava ficando. Droga! Eu e minha mania de falar o que penso.

Sandeul não deixou passar isso e um sorriso torto enorme se desenhou em seu rosto.

- Você se arruma pra mim, você quer dizer? - ele desafiou.

Empinei o nariz, mordendo minha bochecha interna. Sandeul riu.

- Você fica uma graça com vergonha. - ele comentou ainda sorrindo. - E então, já

escolheu o que vai pedir?

Olhei o cardápio sem realmente ver. Ainda estava com vergonha.

- Um milk shake de morango.

- Ok. - Sandeul chamou o garçom e fez o pedido por dois milk shakes do mesmo sabor.

Quando finalmente nosso pedido chegou, apoiei meus cotovelos na mesa e perguntei

com a sobrancelha arqueada:

- Então... Vamos começar a brincar?

Page 99: Começou Com Um Beijo

Capítulo 19 – Sandeul

- Isso pode ser entendido de várias maneiras, sabe disso? - perguntei com um sorriso

malicioso.

- Eu sei. - Minah devolveu o sorriso. - Por isso é ainda mais divertido. Já que você sabe

que não é de uma maneira pervertida que estou falando.

Fiz uma careta decepcionada. Minah jogou uma bola de guardanapo em mim.

- Olha só. Aquele casal ali. - ela apontou com o queixo.

Virei na direção indicada pra ver. Sugamos o líquido gelado pelo canudo ao mesmo

tempo.

- Ya! - ela gritou baixinho. - Seja discreto!

Olhei para o casal sem me importar com isso. Eles estavam tomando o mesmo sundae e

um colocava a colher na boca do outro entre sorrisinhos envergonhados.

- Você quer fazer isso? - perguntei à Minah.

Ela me encarou. Nós dois tivemos um arrepio ao mesmo tempo.

- Isso definitivamente não se parece com a gente. - concordei em voz alta.

- Mas... - Minah se inclinou sobre a mesa pra ficar mais perto de mim. - Você já fez isso

antes?

- Hm?

- Quero dizer... Com outras garotas. Não estou perguntando por ciúmes, apenas por

curiosidade.

- Ah... Já fiz sim. - assenti.

O que eu já não tinha feito para conquistar garotas? Quando eu queria uma, ia até o fim

para consegui-la.

- Sério? - perguntou Minah surpresa. Depois balançou a cabeça, rindo. - Não te imagino

fazendo isso. Queria ter visto.

- Quer que eu te mostre agora? - desafiei.

- Quê?

Page 100: Começou Com Um Beijo

- Eu já disse. É seu aniversário. Se você quiser, eu te mostro como eu fazia. Está vendo

aquelas meninas? Quer me ver em ação? - apontei pra uma mesa no canto oposto com duas

amigas tomando sorvete sozinhas. Já estava prevendo a reação de Minah. Ela apenas olhou na

direção que eu dizia, reprimiu um sorriso e assentiu.

- Tudo bem. Vai lá. - disse sorrindo. Não vi qualquer indício de brincadeira em seu rosto.

- É-é sério? Você quer mesmo que eu vá?

- Sim. Quero ver "você em ação".

- Bom... - ok. Por essa eu não esperava. Levantei lentamente. - Você está falando sério? -

perguntei uma última vez.

- Sim, estou. Sério. Vai lá. - falou séria fazendo sinal com a mão.

- Hm... Então... Estou indo mesmo. Você não vai poder reclamar depois. - avisei.

- Eu sei, eu sei. Vai lá. - disse sorrindo.

Fui devagar olhando para trás de vez em quando pra ver se Minah ia levantar e fugir, mas

ela apenas continuou ali com uma expressão divertida no rosto. Cheguei na mesa das duas

garotas.

- Oi. - sorri, de forma galanteadora. - Posso me sentar com vocês?

- Ahn... Tudo bem. - responderam estranhando.

- É que, sabe... Estava vendo vocês tomarem o sundae de vocês e pareciam tão

solitárias... Então pensei "Por que não pergunto se posso me juntar a elas?". E aqui estou eu.

- Ah... Mas e aquela garota? Você não estava naquela mesa? - uma das garotas indicou

Minah.

- Sim. Ela é minha prima. Como ela viu que realmente fiquei interessado em vocês, ela

disse simplesmente que eu viesse. Oh, e meu nome é Sandeul. Que indelicadeza a minha. -

ofereci minha mão.

- Meu nome é Jay Ra. - disse uma delas.

- E o meu é Soo Kya. - disse a outra e cada uma apertou minha mão.

- Hmm... - analisei qual das duas parecia ser mais fácil. Escolhi Soo Kya. Dirigi-me a ela. -

Eu poderia provar um pouco do seu sundae? Queria saber que gosto tem. Eu tive que pedir um

milk shake por causa da minha prima, mas eu realmente queria um sundae desses... - pedi de

Page 101: Começou Com Um Beijo

forma charmosa e em meu ponto de vista, irresistível.

- Hm... Sandeul, certo? Olha... Não sei bem o que você está tentando, mas... - ela fez

sinal para que eu me aproximasse. Ela apontou pra ela e a amiga. - Nós somos um casal. Sinto

muito.

- Ah... - ri sem graça. - Obrigado de qualquer forma... Eu vou... Vou voltar... - nem é

preciso dizer que saí de lá com a cara no chão.

- E aí? Como foi? - perguntou Minah mais animada do que o normal.

- Elas... Rejeitaram. - admiti a contragosto.

- Por quê? O que houve? - ela perguntou em fingida inocência.

- Elas são lésbicas. - expliquei, tomando um longo gole do meu milk shake.

- Pff... - Minah teve uma crise de risos.

- Você sabia disso, certo? - perguntei entredentes.

Ela deu de ombros, ainda rindo.

- Mas você realmente sabia?! E me deixou ir lá? Ou apenas achava?

- Vem cá. - chamou ela. Aproximei-me ainda irritado e ela colou a bochecha à minha,

sacando o celular para tirar uma foto nossa. - Pronto. Item número 12. Feito!

- Uma foto comigo? Ou me irritar? O que era o número 12?

- Era uma foto numa ocasião especial. Algo diferente de um sorriso. Sua cara de raiva é

fofa. - ela sorriu, olhando satisfeita nossa foto. Roubei o celular dela e coloquei nossa fotografia

como papel de parede.

- Ya! Você tirou o Ian do meu papel de parede?! - ela reclamou, pegando-o de volta.

- Quem é Ian?!

- O meu cachorro! O meu cachorro! - ela riu.

- Ya! Ian é aquele Ian Somerhalder?!

- De qualquer forma, nossa foto ficou melhor. - Minah sorriu e pressionou minhas

bochechas nas mãos, beijando-me os lábios.

Page 102: Começou Com Um Beijo

- Pra quem nunca tinha beijado há uns meses atrás, até que você está sabendo muito

bem como contornar situações no namoro. - brinquei.

- Pra que você acha que existem revistas adolescentes? - Minah riu entrando na

brincadeira.

- Você realmente lia aquelas coisas? Waa... Aposto que tinha até aqueles pôsters de

garotos de banda colados no seu guarda-roupa! - caçoei.

- Aposto que você tinha fotos de revistas bem piores do que isso escondidas em seu

guarda-roupa. - ela arqueou uma sobrancelha, em desafio.

- Bingo! - dei um sorriso brincalhão, embora ache que tenha corado um pouco.

- Me dá seu celular. - pediu Minah de repente.

- Por quê? - perguntei confuso.

- Como por quê? Vou colocar nossa foto no seu papel de parede também. Não é justo que

só eu tenha.

- Você fala como se fosse uma coisa ruim! Saiba que se você mostrar essa foto por aí,

você será nada menos do que a garota mais invejada do país. - falei, convencido. - Falo 'do

país' porque sou humilde. Apenas pra deixar claro. - sorri.

Minah estalou a língua, impaciente.

- Apenas me dê o celular. - pediu, ignorando meu discurso narcisista.

Passei meu aparelho pra ela. Após alguns segundos com ela mexendo ali, percebi que

suas bochechas estavam coradas, mas não parecia feliz.

- O quê? - perguntei me ajeitando na cadeira.

- Desculpe. Você acabou de receber uma mensagem. Não pude evitar ler. - confessou

ela, voltando a tela pra mim.

"Sandeul, quando vamos nos encontrar de novo? Já estou com saudades! Ontem

foi muito bom~~ Sempre sua. G."

Putz. Ferrou tudo.

Minah levantou da mesa e saiu da sorveteria. Levantei pra ir atrás dela, mas lembrei que

tinha que pagar a conta antes. Fui até o caixa e apressei o máximo possível a operação. Deixei

uma nota alta e disse que eles podiam ficar com o troco, embora não merecessem por conta da

Page 103: Começou Com Um Beijo

lentidão.

Corri para fora. Pelo vidro da sorveteria eu tinha visto ela tomar a direção direita, mas não

conseguia acá-la em lugar nenhum. Passei por um beco e ouvi algumas vozes femininas. Parei

ao escutar meu nome.

- ...que Sandeul quer algo sério com você, querida? Por favor! Não me faça rir!

- O que você pensa que é dele? Namorada?

Entrei, mas parei novamente e me escondi quando ouvi a voz de Minah.

- Eu não penso. Eu sou a namorada dele. E realmente agradeceria se não mandasse

mais mensagens estúpidas como aquela.

- Estúpidas?! Aish, sério! Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver, mas isso já

é-..!

- Eu não sou burra. Vi vocês do lado de fora da sorveteria. Vocês nos viram e resolveram

tentar criar uma confusão.

- Acha que é isso realmente?! Você disse que não era burra, mas pelo visto é mais do que

eu pensava!

- Não conhece seu próprio namorado, "florzinha"? - falou uma terceira voz feminina.

- Porque conheço, confio nele. - respondeu Minah, e eu senti meu corpo inteiro arrepiar

com essas palavras. - Sei que não faria isso. Até porque se fizesse... Pior do que morto,

estariaimpotente.

Até eu engoli seco. Minah não parecia brincar quando disse isso.

- Hahaha! Você está tentando nos assustar?!

- Você merece é uma boa lição! - disse uma das duas garotas que estavam discutindo

com Minah. Segurei seu pulso, que estava no alto provavelmente para dar um tapa nela.

- Sandeul! - exclamaram as meninas surpresas.

- Chega de brincadeira. - falei secamente. - Se vocês encostarem um dedo na minha

namorada, eu não respondo por mim.

- Eu não acredito que você realmente está namorando uma coisinha sem sal dessas! -

choramingou uma.

- Por favor, vão embora agora. - cortei, frio. - E passem o recado que dei a vocês para

qualquer outra que pense em fazer o mesmo.

Page 104: Começou Com Um Beijo

As garotas saíram reclamando e praguejando.

- Deve estar se achando o super-herói, hein? - Minah brincou. Meu sangue ainda fervia.

Abracei Minah com força, então a afastei do meu corpo, lembrando que devia estar com

raiva dela.

- Por que você saiu sem dizer nada?! - exigi.

- Eu vi aquelas meninas olharem pra gente com um celular na mão do lado de fora da

sorveteria e fui atrás delas. Eu sabia que elas que tinham mandado. Se era pra fazer isso,

deviam fazer bem-feito pelo menos. - ela revirou os olhos.

- Você sabe como fiquei preocupado?! Eu pensei que você tinha acreditado na mensagem

e simplesmente ido embora!

- Ah... Eu não parei pra pensar que pareceria assim. Foi mal...

Olhei em seus olhos.

- Parece que as revistas adolescente não te ensinaram tudo. - caçoei. Minah bufou, e

então sorriu. Olhamo-nos por alguns segundos.

Peguei seu rosto entre minhas mãos e beijei-a. Tudo no mundo pareceu desaparecer. Só

havia eu, ela e nossa estranha relação. Minha língua pediu passagem em sua boca, e travamos

nossas próprias brigas ali mesmo. Sua mão brincava com meus cabelos, e eu me sentia o dono

do mundo por tê-la em meus braços.

- Cara, se as pessoas virem um casal sozinho num bequinho se beijando, com certeza

não vão pensar coisas muito legais. - Minah riu, enfim, contra meus lábios. Soltei-a e segurei

sua mão.

- Vamos voltar pra sorveteria. Esqueci a caixinha de bolo lá.

Quando enfim voltamos, resolvemos ficar por lá mesmo mais um tempo, já que Minah

ainda queria curtir com a cara dos casais ao nosso redor. Descobri que era divertido fazer isso.

Alguns eram simplesmente tão melosos, que dava arrepios. E então, de repente, todas as luzes

foram apagadas e o garçom veio trazendo um cupcake com uma velinha em cima cantando

"parabéns pra você". Todas as outras pessoas na sorveteria acompanharam. Eu me juntei ao

coral. Minah assoprou a vela, e acenderam novamente as luzes.

- Viu? Esse era o tratamento especial! - exclamou Minah quando o garçom tinha se

afastado. - Cara ciumento. - resmungou.

Page 105: Começou Com Um Beijo

- Disse a garota que falou "Não penso. Eu sou a namorada dele". - imitei sua voz

confiante.

- Continua a ser ciumento. - Minah insistiu, empinando o nariz.

- Não sou ciumento. - neguei, brincando com um guardanapo. - Mas você vai comer o

meubolo primeiro, certo?

Minah riu e revirou os olhos.

- Tudo bem, tudo bem. Vamos comer o seu bolo primeiro. Posso abrir? - perguntou ela,

tocando o laço da caixinha que eu tinha dado.

- Espera, espera. Eu abro. - puxei a caixinha pra mim. Abri o laço, revelando um mini bolo.

- Wow... Parece gostoso. - Mina sorriu, feliz.

- Tenta comer. - desafiei.

- Como assim? - Minah enrugou a testa. Tentou tocar o que parecia ser uma cobertura de

marshmallow, mas voltou com o dedo limpo. - Não é de comer!

- Não. - confirmei. Então toquei um botão na parte lateral que fez a parte de cima abrir.

Tirei um colar delicado de dentro e expus em minha mão. - E então, o que acha?

Page 106: Começou Com Um Beijo

Capítulo 20 – Minah

- Wow! Que lindo! - exclamei ao ver o delicado colar. O pingente era um pinguim super fofo.

- Você gostou? - perguntou Sandeul, animado.

- Claro! - confirmei. Ele então se levantou para colocá-lo em volta do meu pescoço.

- Mas por que um pinguim? - perguntei curiosa, ao vê-lo se sentar.

- Oh, sobre isso... É que li uma vez que para dizer a uma fêmea que deseja acasalar, o

pinguim macho atira uma pedra em sua cabeça. Quando ela o aceita, os dois se abraçam e

fazem uma canção de amor juntos. Acho que o pinguim macho me lembrou de você. - explicou,

como se fosse a coisa mais romântica do mundo.

- Quê?! Acasalar?! - joguei uma bola de guardanapo no meio de sua cara. - Quando eu

disse que queria acasalar com você?! E "acasalar"?! Por acaso sou um animal?!

- Ei, ei, calma! Não quis dizer isso. - Sandeul ria, o que só me deixou mais irritada.

Levantei da minha cadeira num ímpeto. - Eu realmente não quis dizer isso!

Fuzilei-o com o olhar. Sandeul segurou meu braço.

- Minah. O que eu quis dizer, é que para chamar a atenção um do outro, acabamos sendo

um pouco... Violentos no início. Mas agora estamos apaixonados e namorando. É só isso. Juro

que fui bem intencionado. - explicou, com as mãos para cima numa demonstração de inocência.

- Você não podia ter feito essa explicação antes?! - exigi, tentando me acalmar. Sandeul

tentava esconder o riso sem muito sucesso.

- Desculpa. - pediu, pressionando os lábios juntos para evitar outra risada. Como eu

odiava esse cara! Odiava que mesmo odiando ele, não conseguisse realmente odiá-lo. Droga!

- Deixa pra lá. O colar é bonito. Obrigada. - baguncei seu cabelo, numa forma de

reconciliação. - Agora vamos pra casa. Minha mãe disse para eu não voltar muito tarde.

- Tudo bem. - assentiu ele, parecendo satisfeito.

Chegamos em frente à minha casa. Eu já tinha dito aos meus pais que estava

namorando. A primeira reação deles foi de choque. Meu pai não tinha ficado muito contente,

mas aceitou de qualquer forma. Minha mãe me apoiou mais.

Eu tinha o plano de fazê-los conhecer melhor Sandeul, por isso resolvi convidá-lo a entrar

comigo, o que ele aceitou, um pouco nervoso.

Page 107: Começou Com Um Beijo

- Mãe? - chamei ao bater na porta. Esta se abriu dentro de alguns segundos.

- Minah! Você não vai acreditar em quem está aqui! - falou minha mãe, ignorando minha

saudação. Ela abriu mais a porta, me dando ampla visão da sala de visita.

Bem ali, parado, e com o mesmo sorriso brincalhão de sempre, estava ele. Meu melhor

amigo de toda a vida.

- Min Ho! - gritei e correndo pela sala, pulei para um abraço.

- Minha pequena Minnie! - riu ele, afagando meus cabelos.

- Que droga, Min Ho! Por que você não me avisou que tinha voltado?!

- Quis fazer uma surpresa no dia do seu aniversário! - exclamou ele no mesmo tom

animado que eu tinha sentido tanta falta.

- Mesmo assim, eu... - fui interrompida por um pigarro da minha mãe.

Droga! Tinha esquecido do Sandeul. E ainda estava abraçada com Min Ho. Soltei ele.

- Ah! Vem cá, Sandeul! - chamei o mesmo, que ainda estava na soleira da porta e parecia

deslocado. - Min Ho! Este é o Sandeul, meu... Namorado.

Isso era simplesmente tão estranho de se dizer. E na verdade, era a primeira vez que eu

o apresentava dessa forma. Eu não tinha precisado dizer "meu namorado" quando o apresentei

aos meus pais, porque já tinha informado a eles sobre isso, e portanto tinha apenas me limitado

a dizer o seu nome. Mas então, agora para Min Ho... Falar dessa forma era tão estranho.

- Namorado? - repetiu Min Ho, e eu sabia que ele me repreenderia por não ter contado a

ele antes.

- Sim. E você é...? - Sandeul ofereceu a mão.

- Min Ho. Lee Min Ho. Sou amigo de infância e vizinho da Minah. Fui estudar fora do país

desde o ensino médio, e voltei essa semana pra casa. - explicou meu amigo timidamente,

sorrindo e pegando a mão de Sandeul.

- Ahh... Entendo. - Sandeul sorriu.

Percebi que minha mãe tinha saído de fininho em algum momento da conversa.

- Então, acho que venho aqui amanhã para falar melhor com você e te dar seu presente.

As coisas da minha mudança ainda estão loucas. Preciso voltar pra casa agora, se não minha

Page 108: Começou Com Um Beijo

mãe me mata. Você sabe como ela é. - falou Min Ho se dirigindo a mim. Revirou os olhos ao

falar da mãe, e eu dei um sorriso cúmplice. Eu sabia que ele estava indo embora para não ficar

um clima estranho ali.

- Tudo bem. Boa sorte com isso. - eu caçoei.

- Ah, foi um prazer te conhecer, Sandeul. - sorriu Min Ho.

- Igualmente. - sorriu de volta o meu namorado.

Depois que Lee Min Ho tinha ido embora, sentei no sofá com Sandeul.

- Ele parece legal. - comentou ele, sem qualquer vestígio de ironia na voz.

- Ele é! - confirmei, rindo.

- Vocês se conhecem há muito tempo?

- Desde que me entendo por gente. - balancei a cabeça, lembrando de fotos antigas de

nós bebês juntos.

- E onde ele estava durante todo esse tempo?

- Nos estados unidos. Nós perdemos um pouco contato graças ao fuso horário e às

nossas ocupações normais do dia a dia.

- Ahh...

- E você? Nenhum amigo antigo, além do Jiwon?

- Não realmente. Acredite ou não, eu era tímido durante a infância.

- Sério?! - perguntei com os olhos arregalados.

Sandeul riu, assentindo.

- Não consigo acreditar nisso! Bom, com Min Ho aconteceu o processo inverso. Era um

pestinha durante a infância, e depois que cresceu ficou mais tímido para falar com as pessoas. -

balancei a cabeça negativamente, refletindo.

Sandeul riu e depois me olhou nos olhos.

- Hmm, Minah... Posso te fazer uma pergunta?

- Sim?

Page 109: Começou Com Um Beijo

- É quase uma afirmação, na verdade...

- Como assim?

- Lee Min Ho foi o seu primeiro amor?

Mas. Que. Droga! Isso era tão óbvio assim?!

- Ah, do que você está falando? - tentei mudar o assunto, rindo loucamente.

- Minah. Tudo bem. Prometo que não vou ficar zangado. - ironizou ele, brincando. - Só

estou curioso pra saber como era você antes de te conhecer.

Inspirei. Expirei. Tudo bem. Não teria problemas falar sobre isso, certo?

- Bom, então sim. Você acertou. Lee Min Ho foi o meu primeiro amor.

Ouvi um barulho metálico no chão atrás de nós. Viramos na mesma hora apenas a tempo

de ver Min Ho com o rosto vermelho e chocado.

- E-eu... Minha mãe me mandou trazer um bolo para a sua, mas eu tinha esquecido de

pegar a fôrma de volta. - falou apanhando o objeto do chão, sem olhar para nós sequer uma

vez. - E-então, vou indo agora. Desculpe interromper vocês.

- Espera. Lee Min Ho. Vamos conversar. - Sandeul o parou no meio do caminho.

E agora?

O que eu faço?

Fiquei lá parada no mesmo canto tentando absorver as informações.

Meu amor platônico de anos tinha acabado de ser revelado na frente deste mesmo e do

meu atual namorado.

E agora os dois iam "conversar"?

Oh, ótimo. Essa seria uma ótima ocasião para eu treinar as técnicas de desmaio que

aprendi nas aulas de teatro do colégio.

Page 110: Começou Com Um Beijo

Capítulo 21 – ESPECIAL: Lee Min Ho

- Ah... Eu preciso ir pra casa agora. Tenho certeza de que teremos outra chance de nos

encontrarmos. Então... até. - falei, olhando apenas para aquele tal de 'Sandeul', e me retirei em

seguida, sem nem olhar pra trás.

Caminhei quase correndo pra casa. Minha mãe gritou alguma coisa pra mim quando

entrei, mas não dei atenção. Entrei no meu quarto, e ao fechar a porta atrás de mim, encostei

minhas costas nela, e deslizei até sentar no chão.

Minah era apaixonada por mim. Ela falou com todas as letras. Eu fui o primeiro amor dela.

E agora... Agora estava namorando um cara que eu nunca nem tinha visto na vida!

Mas o que eu esperava? Que ela ficasse me esperando fielmente durante todo esse

tempo em que eu fiquei fora? Pior que egoísmo, isso seria burrice! Ela não sabia como eu me

sentia. Ela não devia ter ideia do quanto senti falta dela enquanto estive nos Estados Unidos.

Não sabia o quanto não queria largá-la, quando ela me abraçou mais cedo. Acho que nem eu

sabia realmente quanta saudades eu tinha tido dela até vê-la pessoalmente mais uma vez. Seu

cheiro, sua voz, o calor do seu toque... Sua pele exalava o mesmo aroma de baunilha e rosas

brancas de sempre. Seus cabelos, o mesmo cheiro único que era só dela. Da minha Minah.

Não...

Não era mais minha Minah.

Eu não quis tentar nada com ela antes de viajar, porque sabia que seria complicado e

sofrido um relacionamento à distância, e quando eu ia ficar anos lá. Então, pensei comigo

mesmo: "Quando eu voltar, não há nada que me separe dela. Irei fazer minha confissão."

Talvez, em alguma parte do meu subconsciente, eu soubesse que isso poderia

acontecer... Era intragável pensar nisso mesmo agora... Que Minah poderia estar apaixonada

por outro alguém. Talvez, eu soubesse dessa possibilidade. Mas nunca me permiti pensar mais

do que na possibilidade de ela não me querer. Afinal, eu poderia tentar conquistá-la. Minah estar

apaixonada por outro cara, ou pior ainda... Namorando ele, não é algo com o que poderia lidar.

Não antes. Não agora.

O que eu deveria fazer?

Doeu.

Apertei meu peito esquerdo, porque meu coração se sentia pesado e aquela dor era

quase insuportável. Tirei do bolso a pequena caixinha. Estava um pouco torta, porque eu já

havia comprado há meses, e estava aguardando para entregá-la hoje. Perdi a conta de quantas

vezes abria ela e imaginava se Minah iria gostar e me perdia em memórias.

Page 111: Começou Com Um Beijo

Retirei cuidadosamente o anel do acolchoado vermelho. "Best Friends" - dizia a inscrição

por dentro da pequena argola, enquanto um símbolo de infinito tomava a parte de cima*.

Sim, éramos melhores amigos. Mas eu queria mais. Eu planejava tão mais que isso... O

que eu deveria fazer agora?

Apoiei a cabeça na porta, e fechei os olhos com força. Algumas lágrimas pesadas e

quentes percorreram minhas bochechas. Enxuguei-as com as costas da mão, quando minha

mãe bateu na porta perguntando se eu estava bem. Abri.

- Filho, o que houve? Vou passou tão depressa e... Min Ho! Está chorando?

Não respondi.

- O que foi, querido? - perguntou-me ela com aquela voz preocupada que só uma mãe

pode fazer.

- Eu perdi ela, mãe! Eu realmente perdi! E nem tive chance de lutar! Cheguei atrasado

demais! - soluçei quando ela me abraçou.

- Sh... Vai ficar tudo bem... - repetiu ela várias vezes, enquanto acariciava meus cabelos.

Fiquei envergonhado depois dessa cena, e dizendo à minha mãe que estava cansado, fui

deitar. Minha cabeça estava latejando e não sei dizer a que horas consegui dormir. Quando abri

meus olhos, um par de familiares íris escuras me encaravam.

- Minah... - sussurrei, sorrindo.

- Bom dia, bundão! - uma risada deliciosa tomou conta do ambiente.

Eu devia estar sonhando, certo? Meu sorriso se ampliou.

- Ya, você realmente não vai levantar?! - a voz perguntou levemente irritada.

- Ah, não. Eu quero sonhar mais um pouco... - grunhi, puxando meu lençol.

- Aish! Sério! Quando eu digo pra você levantar, você tem que lev-..

De repente, o lençol foi puxado de mim com tudo. Levantei de súbito, finalmente

percebendo que estava acordado, quando um grito rompeu pelo cômodo.

Minah estava no meu quarto. E bem, eu dormia de cueca box. E só.

- Desde quando você dorme assim?! Você não fazia isso antes! - Minah gritou virada de

costas e tapando os olhos.

Page 112: Começou Com Um Beijo

Pulei da cama e coloquei rapidamente uma bermuda e uma camisa.

- Podia ser pior, acredite. Tinha garotos nos eua que dormiam totalmente pelados e até-..

- Eu não quero saber disso! Obrigada! Já se trocou? - perguntou Minah já olhando pela

brecha entre seus dedos.

Eu não podia acreditar que ela estava realmente aqui. Será que a cena de ontem não

tinha passado de um sonho ruim?

- Por que está aqui? - perguntei.

- Sua mãe me chamou. Ela pediu ajuda para fazer seu bolo preferido, e agora que está

tudo pronto, ela pediu para eu vir acordar você.

- Ah... E o Sandeul não se importa? - testei.

- Se importa com o quê? - perguntou-me ela, corando. Dammit. Era verdade.

- Sei lá... Você vir para casa de um cara e entrar no quarto dele... - dei de ombros, aquela

dorzinha incômoda do peito se arrastando lentamente de volta.

- Ah, mas nós somos amigos. Amigos de infância, certo? - Minah continuou corada. - Por

falar nisso, sobre o que você ouviu ontem...

- Min Ho! Você já acordou? - a voz da minha mãe entrando no quarto a interrompeu. -

Desça logo, que eu sei que você gosta de comer o bolo enquanto ainda está quentinho. Minah

vai comer conosco. Como nos velhos tempos. - ela piscou para nós dois.

Descemos e sentamos na mesa para tomar café.

- Mas... Eu ouvi um grito mais cedo... Vocês não estavam fazendo nada demais, certo,

crianças? - minha mãe deu um sorriso quase inocente. Quase.

Minah engasgou com seu café, ficando vermelha.

- É que eu fingi que estava dormindo e depois dei um susto nela. - menti, rindo.

- Ah, foi isso? - minha mãe perguntou olhando de um para outro com o olhar afiado.

Minah assentiu com a cabeça, rindo, depois me lançou um olhar agradecido.

Comemos e conversamos, sempre nos divertindo bastante.

Como se eu nunca tivesse ido embora.

Page 113: Começou Com Um Beijo

Como se eu nunca tivesse saído daqui.

Como se eu nunca soubesse que Minah estava namorando.

Mas ela estava. E eu sabia.

Só não sabia ainda o que faria a esse respeito.

Page 114: Começou Com Um Beijo

Capítulo 22 – Sandeul

Mas o que diabos...?!

Reli a mensagem.

“Oi, Sandeul! Estou na casa do Min Ho. Mais tarde nos falamos!”

Está na casa do Min Ho?! Simples assim?

Bom, tudo bem. Eles são amigos de infância. Eu não deveria me importar. Até porque não

sou ciumento. Mas... As coisas não mudavam um pouco quando havia o fato de que o tal Min

Ho era o primeiro amor dela?

Ok, ok. Sandeul, você tem que se acalmar. Você é um cara legal e confiante, lembra?

Respondi a mensagem.

“Ah, sim. Ok. Mas o que faz aí?”

Alguns segundos depois, minha resposta.

“A mãe dele me chamou para ajudar a preparar o café dele. Uma coisa meio que de boas

vindas, sabe?”

Oh, sim. Agora até mesmo ajudava a preparar o café dele! Tudo bem. Está tudo bem.

“Sei...” - digitei. Encarei tela do celular por mais alguns segundos, então acrescentei -

“Nós nos veremos hoje?”. Apaguei. Parecia que estava mendigando tempo com ela. What the

hell!Esfreguei as mãos no cabelo efusivamente. Senti algo felpudo no meu pé. Baixei o olhar e

vi que era minha gatinha.

- Ei. - peguei-a no colo. - Pelo menos você está comigo. Você não é uma traidora!

“E mais uma vez, eu estou falando com um animal” – pensei, erguendo-a contra a luz.

O celular vibrou em cima da mesa de centro. Coloquei-a no chão.

“Você gosta de bolo?”

“Sim. Por quê?” - respondi.

“Farei um pra você, já que estou de bom humor.” - Minah respondeu. O sorriso idiota se

espalhou pela minha cara.

“Se quiser...” - mandei, tentando manter a compostura.

“Claro que é se eu quiser! Se eu não quisesse, você acha que eu faria?!”

Ri sozinho.

“Então iremos nos encontrar hoje?” - enviei.

Page 115: Começou Com Um Beijo

“Irei à sua casa às 16h. Espero que esteja vestido. P.S: pare de sorrir maliciosamente!”

Um sorriso malicioso realmente estava nos meus lábios e voltei a rir.

“Hmm... Será que você não está usando psicologia inversa comigo para ter uma chance

de ver meu corpo escultural outra vez? P.S: pare de corar. de revirar os olhos. E de empinar o

nariz.”

Um minuto se passou sem resposta. Então o celular vibrou de novo.

“*estou te ignorando nesse momento* u_u” - dizia a mensagem.

Ri e espriguiçei-me no sofá. Liguei a TV e assisti a um jogo qualquer de futebol. Pedi o

meu almoço, porque já tinha aprendido que mesmo eu fazendo exatamente como tinha

aprendido, a comida não ficava com o mesmo gosto quando Minah não estava aqui. Talvez ela

fosse uma bruxa ou algo do tipo. Comi, e depois de descansar algum tempo, resolvi tomar

banho.

Ainda tinha alguma esperança de que a cena da outra vez se repetisse, mas ao sair do

banheiro com a toalha amarrada na cintura, percebi que ainda eram 14:47h. Coloquei uma

camisa preta e jeans, e passei meu perfume preferido, cantarolando.

Cara, eu estava virando uma garotinha! Uma garotinha que tinha se apaixonado pela

primeira vez e ia sair pela primeira vez em um encontro! Senti-me meio – ou totalmente –

ridículo. Mas enfim, deixei pra lá, uma vez que só eu sabia disso. Avisei ao porteiro que uma

garota viria e que deixasse ela entrar imediatamente. Depois, fiquei sem ter o que fazer.

O tempo se arrastou de forma incrivelmente lenta e eu já estava batucando impaciente

quando deram 15:59h. O toque na porta só veio às 16:11h. Pulei do sofá, ajeitei a camisa,

passei a mão uma vez pelo cabelo, e abri a porta. Dei um sorriso torto para Minah.

- Está atrasada. - informei-a. Ela revirou os olhos.

- Olá para você também. - sorriu ironicamente. Minah vestia um short jeans, e uma regata

branca. O cabelo preso em um rabo de cavalo, deixava seu pescoço à mostra. Absolutamente

linda.

Dei passagem para ela entrar.

- Eu não queria dizer nada, mas acho que você deveria chamar a atenção do porteiro. Eu

entrei sem que ele nem me visse. Quer dizer, esse é um apartamento super caro, certo?

Poderia haver pessoas mal intencionadas que entrassem com a mesma facilidade. - disse ela,

dando de ombros.

- Vou falar com ele depois. - garanti, seguindo-a até a cozinha.

Page 116: Começou Com Um Beijo

Minah depositou a sacola que trazia em cima da bancada.

- É o meu bolo? - perguntei dirigindo-me à sacola. Minah assentiu, de repente parecendo

envergonhada. Abri e entendi o por quê. O bolo tinha o formato de um coração!

- N-não foi porque eu quis! Acontece que todas as fôrmas da minha casa estavam

ocupadas e só sobrou essa, e como eu já tinha prometido que ia trazer o bolo, eu-..

Dei um selinho demorado nela, para que parasse de falar. Sorri, olhando-a nos olhos.

- Obrigado. - meu sorriso expandiu. - Vamos comer? - perguntei esfregando as mãos.

- Tudo bem. - ela concordou, sorrindo.

- Ah, e como foi na casa do Lee Min Ho? - perguntei como quem não quer nada.

- Ah, foi normal. Como nos velhos tempos. - Minah deu de ombros, ajudando a tirar o bolo

da sacola.

- E como era nos velhos tempos? - indaguei, desejando parecer despreocupado.

- Fazíamos de tudo juntos. Brincávamos bastante.

- E vocês fizeram isso lá? - arqueei uma sobrancelha.

- Não. - ela riu. - Conversamos bastante. Sobre a viagem dele, sobre como as coisas

estão por aqui... Esse tipo de coisa.

- Ahh, entendo... - falei, enquanto pegava uns pratos e talheres.

- Você está com ciúmes, não está? - perguntou Minah parando abruptamente na minha

frente.

- O quê? Ciúmes? Eu? Ah, não! Por favor!

Minah continuou a me encarar, com as sobrancelhas arqueadas. Suspirei.

- Tudo bem. Talvez um pouco. Quer dizer... Eu apenas pensei... Se você deu um chilique

por causa do primeiro beijo, imagino o quanto um primeiro amor não poderia te afetar...?

Minah me examinou por alguns segundos.

- Sandeul... - ela ia começar a falar, mas a campainha tocou.

- Vou atender. - avisei, me esquivando do que ela iria dizer. Era estranho que a

Page 117: Começou Com Um Beijo

campainha tocasse, sendo que o porteiro não tinha ligado para me avisar nada. Talvez fosse

algum vizinho?

Cheguei na porta, e girei a maçaneta. Então, paralisei.

- Quem é? - perguntou Minah se aproximando.

Eu nunca esperava encontrar essa pessoa outra vez. Definitivamente não.

Page 118: Começou Com Um Beijo

Capítulo 23 – Minah

Uma garota alta, de cabelos loiros e olhos claros, pulou no pescoço do Sandeul, assim que o

viu.

- Sandeul! Por favor, você tem que me escutar! Eu juro que tentei! Mas não consigo te

esquecer! Eu sei que fiz burrada, e eu achava realmente que só queria você por causa do

dinheiro, mas não é assim! Eu sinto sua falta! Sinto tanto! Eu me arrependi amargamente todo

dia em que não estivemos juntos. Sei que podemos dar certo, então, volta pra mim? Eu farei de

tudo pra-...

- So Hee. Por favor. - Sandeul afastou, finalmente, a garota.

Então, essa devia ser a famosa “ex”. Eu encarava a cena boquiaberta. Quando percebi

que estava assim, me recompus.

A garota se separou dele com seus malditos olhos verde-esmeralda marejados. E enfim,

me percebeu.

- Ah, eu não sabia que estava com companhia. - falou olhando-me de cima a baixo.

Como Sandeul não respondeu, resolvi falar:

- Pois é. Está. E muito bem acompanhado. Sou a namorada dele, Minah. Prazer. E você

é?

- Sou So Hee. - disse mal olhando pra mim. Voltou sua atenção a Sandeul. - Deuldeul, eu

vejo que o que dizem é verdade. Você anda ficando com várias e qualquer uma, - ela olhou pra

mim por um segundo - desde que nos separamos, não é? Você não precisa mais disso. Estou

aqui para você! Podemos começar de novo e-..

- Espera! Você disse o quê?! Qualquer uma?! Qualquer uma é você e tua mãe te cria,

garota! Como você sequer conseguiu chegar aqui?! Sandeul, você estava esperando essa

“visita”?! - carreguei no sarcasmo na última palavra.

- O porteiro disse que Sandeul estava me esperando. - So Hee respondeu.

- Não perguntei nada a você. - fuzilei ela com os olhos. - Sandeul?!

Aquela criatura parecia que estava no mundo das nuvens. Ou do inferno. Não sei. Parecia

perturbado e não acreditar que aquela cena estava ocorrendo.

- Eu não esperava... - ele falou finalmente.

- Mas, enfim. Deve ser o destino! Porque consegui chegar e falar com você! - So Hee ia

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pegar a mão dele, mas ele a afastou.

- Olha, não sei se você entendeu da primeira vez que falei, ou se tem algum tipo de

deficiência mental, mas eu sou a namorada dele. E você está dando em cima do Sandeul bem

na minha frente. Não tem o mínimo de educação não?!

- Não preciso da sua aprovação! - os olhos verde-esmeralda brilharam perigosamente, o

que apenas me incitou.

Ri pelo nariz, sem humor. A loira jogou seus cabelos para trás. Droga. Ela era bonita. Por

alguma razão, isso me irritou mais ainda.

- Você poderia nos deixar a sós, querida? Já que tem tanta educação assim? - ela

sugeriu.

- Vou te mostrar a educação-.. - eu ia falando, enquanto me aproximava dela.

Não era ciúmes. Juro que não era. Eu só estava irritada com a falta de noção daquela

garota! E aquele demente do Sandeul não fazia nada!

- Minah! Pare. - ele me parou com a mão. - Vou conversar com ela. A sós.

A loira me deu um sorriso triunfante e sarcástico. Eu estava tão irada!

- Ótimo! Converse o quanto quiser! Não quero ter mais nada a ver com isso! - falei, com

raiva. Virei-me para ir embora. Ouvi alguns passos atrás de mim, mas que depois pararam.

- Nós nos falamos depois! - Sandeul gritou, quando eu já estava no meio no corredor.

- Não mesmo! Não quero falar com você nunca mais! - gritei de volta sem me virar.

Apertei no botão no elevador. Graças a Deus, ele já estava no andar, e eu não ia precisar

esperar.

- Deixa de ser infantil, Minah! - ouvi a voz de Sandeul reclamar.

Talvez eu estivesse sendo mesmo. Mas só de escutar ele falar aquelas coisas na frente

daquela garota, fazia meu interior tremer de raiva! A porta do elevador abriu. Virei na direção de

Sandeul, dei o sorriso mais irônico que já tinha dado na vida – e olha que já foram muitos! - e

mostrei-lhe o meu dedo do meio. Depois, entrei no elevador e apertei no “P”. Ok, aquilo tinha

sido ridículo. Mas podia ter sido pior. Eu podia ter dado língua pra ele. Dar dedo era algo mais

digno. Pelo menos foi isso que eu quis pensar pra preservar meu orgulho. Assim que saí do

apartamento de Sandeul, liguei para as minhas amigas. Depois, pra minha mãe, avisando que

não ia dormir em casa. “Noite das meninas” - expliquei. Cheguei na casa de Lee Kah, e Jin

Young já estava lá, me esperando também – elas moravam próximas. Entrei no quarto, me

Page 120: Começou Com Um Beijo

joguei na cama e comecei a chorar - provavelmente de raiva. Elas esperaram meu acesso

passar, acariciando meus cabelos, para então me perguntar o que tinha acontecido. Contei a

elas do início ao fim. Ficaram tão revoltadas quanto eu com o ocorrido, mas a decisão de que

eu exagerei foi unânime. Eu não queria aceitar isso, apesar de já saber também.

- Ah! Não quero mais perder meu tempo falando do passado! - exclamei, tomando uma

colherada de sorvete de chocolate. Sim, eu tinha as melhores amigas do mundo.

- Passado? - Lee Kah estranhou, enfiando a colher no pote.

- Sim. Eu terminei com Sandeul. - dei de ombros, tomando mais uma colherada.

- O quê?! Você não contou essa parte da história! - Jin Young pulou na cama.

- Bom, não foi explícito. Não sei se ele sabe ainda. Mas da forma que saí, só se ele for

burro pra não entender o recado! - cruzei os braços.

- Minah, todas concordamos que ele agiu errado em ficar lá parado e não te dar

explicações, mas você não acha que devia esperar para pelo menos ouví-lo? - Jin Young

perguntou.

- Minah, dessa vez concordo com a Jin Young. - Lee Kah falou.

- Eu não quero voltar pra ele! Sandeul é um idiota! Só tenho três opções na minha vida!

Ou eu vou pra um convento, ou eu caso com o Ian Somerhalder, ou eu caso com esse pote de

sorvete! - abraçei o pote, mas logo soltei, porque gelou meu peito.

- Aish, essa menina! Por que não faz teatro logo de uma vez?! - Lee Kah surgeriu, rindo.

- Se o Ian estiver por lá, eu faço. - falei, fazendo beicinho.

- Minah. - Jin Young chamou minha atenção. - O Ian já é meu. O sorvete é da Lee Kah.

Ou seja... Boa sorte no convento! Iremos te visitar de vez em quando. - ela deu de ombros.

- Se tivermos tempo e disposição. - concordou Lee Kah, balançando a cabeça.

- Ya! - reclamei, jogando travesseiros nelas, que logo virou uma guerra. Acabamos

derrubando sorvete em uma das almofadas, e tivemos que trocar a fronha, ainda rindo. Até que

as risadas foram interrompidas pelo toque de mensagem do meu celular. Nós nos

entreolhamos. Olhei para me celular como se ele fosse uma cobra pronta a me atacar.

- Olha logo!

- Ele não vai saber!

Page 121: Começou Com Um Beijo

Incentivaram minhas amigas, tão curiosas quanto eu. Quer dizer... Eu não estava curiosa.

Peguei meu aparelho mesmo assim. Limpei a garganta e li em voz alta.

“Não liguei porque tenho a leve impressão de que você não atenderia.” - bom, ele estava

certo. - pensei enquanto empinava o nariz. “Mas precisamos conversar. Vou à sua casa

amanhã de 15h.”

- O que eu falo?! Não quero vê-lo! Vou mandar uma mensagem dizendo pra ele não ir! -

exclamei, digitando ferozmente.

- Não faça isso, Minah! - Jin Young tomou o celular da minha mão.

- Mesmo que seja pra vocês terminarem, você deveria se encontrar com ele. - Lee Kah

falou, com uma careta.

Passei um bom tempo refletindo em silêncio, e por fim, suspirei.

- Mas olha a hora em que ele manda mensagem! São quase 23h! Será que ela ficou lá

até essa hora?! Ou talvez ela ainda esteja lá! Quem sabe?! Quem liga?! - deitei na cama com

tudo colocando o travesseiro na cara.

- O que acham de vermos filmes com caras gatos? - Jin Young sugeriu pra quebrar o

clima.

- Não! A maioria dos caras gatos fazem filmes de romance! - recusei, voltando a me

sentar, mostrando nojo por essa palavra.

- Então, que tal filmes de terror? - Lee Kah sugeriu.

Nós três tivemos calafrio ao mesmo tempo antes de concordar. Três medrosas vendo

filmes de terror. Seria uma noite épica!

---

E realmente foi. Mal conseguimos dormir!

Eu fui embora depois do almoço, agradecendo silenciosamente minhas amigas por serem

minhas amigas, com um abraço apertado. Eram quase 15h, quando eu ia entrar em casa. Sim,

eu tinha me demorado na casa de Lee Kah para evitar ficar ansiosa. Elas me distraíram. Quer

dizer, era a primeira vez que eu ia terminar um namoro! Minhas mãos estavam suando.

- Minnie! - ouvi uma voz familiar me chamar ao tocar na maçaneta da porta de entrada.

Virei.

- Min Ho! - sorri.

Page 122: Começou Com Um Beijo

- Hmm... Está voltando agora pra casa? Desde quando virou menina de baladas? - ele

perguntou levantando as sobrancelhas de forma estranha e cutucando minha barriga.

- Ya! - reclamei, rindo. - Como você pode ficar tanto tempo fora, e ainda lembrar os meus

principais pontos de cócegas?!

- Eu lembro de tudo sobre você. - ele disse, simplesmente, um sorriso brincando nos seus

lábios.

- Você quer dizer, que lembra de tudo que possa ser usado contra mim, certo?!

- Isso também. - ele deu de ombros, rindo.

Foi a minha vez de fazer cócegas nele.

- Não se engane! Também lembro dos seus pontos de cócegas! - me gabei. - Lembra que

daquela vez, marcamos com hidrocor vermelho esses pontos?!

- Claro! Você ficou parecendo que tinha catapora! - Min Ho gargalhou.

- Quê?! Não tenho cócegas em tantos lugares assim!

- Ah, tem sim!

- Não tenho não! - cruzei os braços. Min Ho arqueou uma sobrancelha, com um sorriso

maroto no rosto. - Ah, não! Nem vem! - fui me afastando, até encostar na porta, mas ele me

alcançou e começou a fazer cócegas em vários lugares diferentes. Eu achava que ia fazer xixi

nas calças, quando uma voz interrompeu:

- Desculpe interromper, crianças! - a voz da mãe do meu amigo soou travessa. - Min Ho,

seu tio Jeong do interior chegou pra te ver. Você precisa vir.

- Ah, certo. Estou indo, então. Tchau, Minnie. - Min Ho se despediu de mim. A mãe dele

sorriu pra mim, e depois foram pra casa.

Eu, finalmente entrei na minha. Encontrei um bilhete dos meus pais dizendo que tinham

saído para visitar minha vó. Troquei de roupa, não sem antes perguntar-me vagamente - como

uma boa leiga no assunto - se havia um certo estilo de roupas que se devia usar na ocasião de

romper relacionamentos. Decidi me vestir lindamente - pra passar na cara dele o que tinha

perdido. E aí a campainha tocou. Prendi o cabelo num rabo de cavalo alto e fui atender.

Cheguei em frente à porta, respirei fundo, e abri...

Page 123: Começou Com Um Beijo

Capítulo 24 – Sandeul

Minah abriu a porta e... putz! Ela estava muito linda. Não sei se foi proposital ou não, mas eu

levei um segundo ou dois pra lembrar do por quê estava ali. Limpei a garganta e perguntei:

- Posso entrar?

Minah não falou nada. Apenas abriu mais a porta e virou o corpo pra me dar passagem.

Entrei e esperei ela fechar a porta pra sentar no sofá.

Será que ela estava tentando me provocar? A roupa dela expunha uma generosa

quantidade de pele. Não de uma forma vulgar, como eu era acostumado a notar em algumas

garotas, mas de uma forma “sei o que você quer ver, mas não é minha intenção mostrar”. Seu

pescoço esteva totalmente à mostra, já que ela tinha prendido o cabelo num rabo de cavalo.

Senti vontade de cobrir o pescoço dela de beijos quando ela sentou-se no sofá de frente pra

mim. Sim, de frente, não ao meu lado. Isso me fez acordar mais uma vez para o fato de que eu

tinha vindo aqui pra ter um conversa com ela. Uma conversa séria. Talvez nossa primeira

discussão de verdade como casal? Nós nos encaramos por um longo tempo, antes de eu

começar.

- Então... - iniciei.

- Então...? - Minah inclinou levemente a cabeça para o lado com um olhar desafiador. Os

braços estavam cruzados sobre o peito, criando uma espécie de barreira entre nós dois.

- Você pode me explicar o que foi aquilo? - perguntei calmamente.

- Aquilo o quê? - perguntou com uma expressão fria.

- Você quer que eu dê os detalhes ou que desenhe também?! - explodi. Sua tentativa de

mostrar indiferença me deu nos nervos. Só eu tinha estado preocupado com o nosso

relacionamento?!

Ela pareceu travar os dentes. E explodiu também.

- Por que você está me perguntando?! Você é que-..! - então mordeu o lábio sem

continuar e desviou o olhar de mim.

- Ok, ok. Eu talvez tenha algumas explicações a fazer, mas eu não acho que-..

- Talvez? - ela repetiu com sarcasmo. - E você acha que eu te devo explicações?!

- Bom, eu te pedi pra esperar enquanto eu conversava com a So Hee a sós, então você

me deu dedo e foi embora!

Page 124: Começou Com Um Beijo

Minah bufou.

- Ah, então você queria que eu ficasse esperando enquanto você conversava a sós com

sua ex, que obviamente estava flertando com você na minha frente? Enquanto você não fazia

absolutamente nada para contê-la?!

- Minah, entenda, eu-..

- Eu não quero saber! Eu pensava que você odiava a garota que tinha partido seu

coração por estar com você pelo dinheiro! Mas a cena que eu vi foi bem diferente. - Minah disse

a última frase, segurando um olhar irônico em mim.

- Meu Deus, Minah! Você vai deixar eu falar?!

- Se você veio aqui pra dizer que vai voltar pra ela, não precisava ter se dado ao trabalho.

Porque como já deve ter percebido, não estamos mais namorando. - Minah virou o rosto.

- Ah, é? Segundo quem? - perguntei arqueando uma sobrancelha.

- Segundo eu mesma. - respondeu ela, voltando-se pra mim com um sorisso afetado.

- Eu não sei se você sabe, mas para um casal se separar precisa haver o consentimento

dos dois. - falei, encostando de forma relaxada no sofá.

Pelo brilho de diversão que atravessou seus olhos, vi que ela entendeu que eu estava

usando o que ela tinha falado quando eu a tinha pedido em namoro. Só que ao contrário.

- Segundo quem? - perguntou ela, com a sobrancelha arqueada.

- Segundo eu mesmo. - imitei seu sorriso afetado.

Minah mordeu o lábio pra não rir.

- É uma pena que essa informação não proceda. - Minah disse simplesmente, relaxando

no sofá também. Mas um sorriso estava à espreita.

- Minah, me escuta. Tá? Eu realmente fiquei surpreso, tipo, em choque, quando So Hee

apareceu, mas... Foi só isso. Cara, eu não gosto dela. Eu achava que quando a encontrasse de

novo, sentiria muita raiva, mas isso também não aconteceu. Passei a noite pensando nisso.

Acho que esse assunto se tornou de alguma forma irrelevante pra mim. Porque eu não sinto

mais nada por ela. Quer dizer... Minah! Eu não posso acreditar que você achava que sentiria

algo por ela quando eu estou perdidamente apaixonado por você. Eu peço desculpas se eu te

ofendi. Eu não achei que você fosse entender mal a situação. Eu não sabia que fazia você se

sentir insegura. Mas eu conversei com a So Hee. E tinha que ser a sós, porque era um assunto

Page 125: Começou Com Um Beijo

que precisava ser terminado entre nós dois. Mas ela não vai voltar a aparecer. Acho que fui bem

claro no que disse à ela. - lembrei de So Hee chorando. Não foi uma cena nada agradável.

Minah ficou em silêncio durante eternos segundos.

- Você acabou de dizer que é perdidamente apaixonado por mim? - finalmente perguntou

com os olhos bem abertos.

- O quê? - acho que corei. Nunca tinha falado isso dessa forma. Nem percebi que tinha

falado. Que droga. - De tudo o que falei, você só absorveu isso?!

Minah me observou por alguns segundos, provavelmente se divertindo com um dos meus

raros momentos de vergonha. Então, voltou a defensiva:

- Bom, de qualquer forma... Você não me defendeu.

- Mas você sempre soube se defender sozinha...

- E nem protestou quando tinha uma garota se esfregando em você... - continuou Minah

com sua lista.

- Ela não estava se esfregando em mim...

- Ela me deu vários sorrisos cínicos e me chamou de qualquer uma!

- Bom...

- E você me parou quando eu ia me defender!

- Você provavelmente teria batido nela! Minah, conheço você bem o suficiente pra saber

que ela teria levado uma surra, se fosse lutar com você.

- E daí?! Ela que me provocou!

- Mas, Minah..

- E além de tudo isso, você praticamente me enxotou de lá!

- Eu não fiz isso! Minha intenção não era que você fosse embora! Só que esperasse eu

conversar e mandar a So Hee embora!

- Bom, não foi isso que pareceu!

- Tudo bem. Tudo bem. Eu peço desculpas. Reconheço que fui-..

- Um idiota. - Minah completou.

Page 126: Começou Com Um Beijo

- Eu ia dizer desatento. - bufei. - Mas ok, vamos dizer, que fui um idiota. Me desculpe.

Minah mordeu as bochechas internas.

- Tudo bem. - ela falou lentamente. - Só porque você admitiu que era um idiota. E porque

disse que era perdidamente apaixonado por mim.

Eu ri.

- Você é muito boba mesmo. - falei baixinho.

- O quê?

- Nada. Então... - comecei lentamente. - Você não vai pedir desculpas também?

- Pelo quê? - Minah perguntou desentendida. Rolei os olhos.

- Por ter me dado dedo, talvez? - esclareci com tom de obviedade.

- Não. - ela deu de ombros. - Você tem sorte que eu não dei outro chute nas suas bolas.

- Quê?! Ya! - eu ia levantar pra alcançá-la, mas ela foi mais rápida e pulou do sofá.

Corri atrás dela e depois de algumas tentativas fracassadas, consegui segurá-la.

Encostei Minah na parede, talvez com um pouco de brutalidade, e prendi seus braços

acima de sua cabeça. Consegui segurar seus dois pulsos pequenos com uma só mão. Usei a

outra para trazer seu corpo mais pra perto do meu, com a mão em suas costas. Aproximei meu

rosto do seu lentamente. Nossas respirações estavam ofegantes por causa da perseguição.

Logicamente, agora não só por isso. Fiz meus olhos ficarem na altura dos seus. Observei seus

lábios rosados e cheios. Rocei o nariz no dela.

- Você realmente não vai pedir desculpas? - perguntei baixinho. Minha voz estava um

pouco rouca.

- E-eu...

Comecei a roçar meu nariz subindo e descendo em sua bochecha até chegar em seu

ouvido. Mordi delicadamente seu lóbulo, e perguntei:

- Não vai responder?

Senti que um leve tremor tomou conta do corpo dela.

- Tá, tá, eu vou pedir. Agora me solta! - ela pediu, mas sua voz não parecia querer que eu

realmente fizesse isso. Ri baixinho ainda em seu ouvido.

Page 127: Começou Com Um Beijo

- Estou ouvindo. - sussurrei. Minah engoliu com dificuldade.

- D-desculpa por ter dado dedo. Mas você merec-..!

Nesse momento, eu já tinha começado a distribuir beijos em seu pescoço e o fim de sua

frase ficou perdido no ar cheio de tensão sexual ao nosso redor. Meus beijos passaram a seu

rosto.

- Mas que garota teimosa. - provoquei entre beijos ao redor de sua boca. Minah soltou

suas mãos de mim, e me fitou com olhos que pareciam ter chama por dentro deles. Seria

irritação ou...?

- Cala a boca, e me beija de verdade! - ordenou, e sem esperar uma resposta, trouxe

meus lábios pros dela, puxando meu cabelo.

Wow.

Seus lábios macios e quentes se sobreporam aos meus. Pedi passagem a sua boca com

a língua e ela concedeu. Travamos uma luta interna literalmente, enquanto nossas mãos

passeavam confusas, apressadas e curiosas pelos corpos um do outro. De repente, a sala da

casa dela parecia uma sauna.

Aquilo estava começando a ficar perigoso. Se ela não parasse, eu não sabia o que

poderia acontecer. Será que Minah fazia alguma ideia do efeito que tinha sobre mim?! Mais uma

vez, me perguntei como ela poderia sequer pensar que eu ainda gostava de So Hee. Afastei o

rosto de Minah com um leve puxão nos seus cabelos sedosos.

- Eu te amo. - falei sem pensar. Minah arregalou os olhos, surpresa.

Ela definitavamente não esperava por isso. Nem eu esperava por isso! De onde diabos

isso tinha saído?!

Mas que droga eu tinha acabado de falar...?! Inferno! E agora...? O que eu deveria

fazer...?

Page 128: Começou Com Um Beijo

Capítulo 25 – Minah

“Eu te amo” - Sandeul havia dito. Eu estava em choque. Quer dizer... Esse era mesmo o

“cavalheiro da sedução” que eu tinha conhecido meses atrás? Definitivamente não.

Algo subiu pelo meu corpo quando ouvi aquelas palavras. Algo que eu nunca tinha

sentido antes. Uma mistura que brincava no limiar entre gelo e fogo que me deixou zonza por

um momento. Meus ouvidos zuniam. E ele ainda estava lá. E esperava uma resposta. Nunca

tinha visto suas bochechas tão vermelhas.

- Eu.. Hm.. Apenas... Esq-.. - ele ia dizer. Pousei dois dedos sobre seus lábios.

- Shh... - fiz. - É minha vez de responder.

Deslizei os dedos para seu queixo e trouxe sua boca pra mim de novo. Beijei lenta e

intensamente seus lábios quentes e macios, que já estavam mais inxados e rosados por conta

do nosso último beijo. Passei os braços por seu pescoço e à medida que nosso beijo se

intensificava, Sandeul me levantou, e cruzei minhas pernas em sua cintura. Ele me encostou

com força na parede. Nós dois ofegamos. Comecei a beijar seu pescoço. Sandeul retribuiu, e já

estava com a respiração pesada quando mordi seu lóbulo de leve. Ele reprimiu um gemido.

- M-Minah... - ele tentou falar, a voz rouca de repente.

- Hmm...? - perguntei enquanto beijava a linha de seu maxilar.

- Se c-continuarmos assim.. - ele engoliu com dificuldade. Afastei-me para olhar em seus

olhos.

- Eu-..

A porta abriu de repente. Dois gritos femininos penetraram no ambiente.

- Ah, meu Deus! - Jin Young miou. Eu e Sandeul nos separamos rapidamente, meio

desengoçados.

- Desculpem, vocês dois! Podem continuar o que.. o que estavam fazendo! - Lee Kah

disse meio atrapalhada e as duas começaram a sair.

- Ei! Não! Voltem! Voltem aqui! - chamei, morrendo de vergonha. Elas hesitaram, mas

viram algo em mim que as fez mudar de opinião e voltaram olhando para qualquer lugar menos

pra mim ou Sandeul. Olhei para ele, que estava hiperventilando. Quando percebeu meu olhar

constrangido, piscou como se dissesse que estava tudo bem.

E bom, eu não tinha cometido nenhum crime, certo?

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Respirei fundo. Lee Kah limpou a garganta.

- Pelo visto, vocês não terminaram... - disse suavizando o clima. Nós todos rimos.

- Ya! Você realmente ia terminar comigo por causa daquilo?! - Sandeul exigiu, mas eu

sabia que não estava sério.

- Claro! - cruzei os braços.

- Tch... Acho que superestimei seus sentimentos por mim. - resmungou, sentando com

tudo no sofá e colocando um travesseiro em cima do colo.

- Ai, vocês dois! Desse jeito vão acabar casando. - Jin Young riu sarcásrica, revirando os

olhos.

- Eu?! Casar com o Sandeul! Pff... - ri, entrando na brincadeira.

Graças a Deus o clima estranho tinha acabado.

- O que tem de errado em casar comigo? Não sou eu quem deveria estar falando isso?!

Você nem confia em mim! - Sandeul olhou pra mim.

- Não foi falta de confiança. - esclareci. - Só fiquei irritada com você. Muito.

- Ah, é! Eu percebi isso quando me mostrou o dedo médio.

- Ya! Você não vai ficar calado?

- Você quer vir aqui me calar? - ele joga um sorriso malicioso.

- Ah, por favor! Nos poupe de mais uma cena como a de mais cedo! - Lee Kah abanou o

ar, fazendo-nos rir nervosamente.

- Mas, afinal. Por que vocês vieram aqui? - perguntei.

- Bom... Queríamos saber o que tinha dado essa conversa. Quer dizer, se vocês tivessem

terminado mesmo, íamos ficar aqui para dar uma força pra você. - Jin Young explicou.

Minhas amigas são as melhores.

- Quem disse que eu iria precisar de força só por ter terminado com ele?! - aponto com o

polegar pro cara sentado no meu sofá, que já estava assistindo um canal de luta na TV.

- Porém... Quando entramos aqui, acho que foi num horário meio ruim. - Lee Kah me

ignorou. - Quero dizer, ruim para nós porque vimos. Bom pra vocês. - sorrio maliciosamente.

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- Não, não. Foi bom terem aparecido. - me curvo na direção delas, para falar em voz

baixa. - Meus pais poderiam ter chegado a qualquer momento.

- Sua louca! - Jin Young me bateu de brincadeira.

- Eu sei. - concordo, balançando a cabeça em desaprovação para mim mesma.

- Mas o que foi que ele te disse para te deixar tão... animadinha? - Jin Young pergunta,

curiosa.

Ajeito minha postura.

- Nada demais. - assopro minha franja imaginária na testa.

- Hmm... Sei! - Lee Kah e Jin Young olham com malícia pra mim.

Eu reviro os olhos e sussurro: “Depois”.

- Então, tá. Já fizemos nossa parte de bombeiras aqui. - Lee Kah bate palmas.

- Estamos de saída. Mas, por favor crianças, - Jin Young levanta o dedo indicador, como

que dando bronca. - ...Juízo!

- Quê?! - nós dois rimos.

Minhas amigas se retiraram e fiquei com vergonha de ficar perto de Sandeul, por algum

motivo. Tá. Eu sei o motivo. Mas isso é ainda pior.

- Vem cá, Minah. - ele chama, batendo no lugar vazio ao seu lado no sofá.

Eu sento o mais longe possível dele. Sandeul ri baixinho.

- Bo-ba! - ele caçoa alongando as sílabas.

- Quem é boba?! - pergunto, virando pra ele, mas ao encontrar seus olhos, sinto meu

rosto esquentar e desvio o olhar.

- Minah, não precisa ficar envergonhada. - Sandeul diz depois de um tempo.

Eu suspiro.

- Sandeul. - chamo, um pouco hesitante.

- Sim? - ele perguntou um pouco apreensivo, sem tirar os olhos da TV. Fico irritada.

- Olha pra mim, seu bobão!

Page 131: Começou Com Um Beijo

Ele me encara, surpreso.

- Eu também te amo. - digo e beijo seus lábios rápido. Então, viro para a TV,

resmungando 'idiota!'.

Sandeul pegou meu rosto entre suas mãos e sorriu tão docemente, que eu achei que ia

evaporar, pulando a fase de ficar líquida.

- Por um momento, pensei que ia terminar comigo. - falou e eu podia sentir dor. Mas antes

que eu pudesse dizer algo doce pra ele, completa: - Mas claro que você não faria isso. Quer

dizer, sou eu, Sandeul. O “cavalheiro da sedução”. Isso não é nenhum pouco possível.

Ele revirou os olhos. Eu bati de leve em seu ombro.

- Você acha mesmo que eu não seria capaz?! - pergunto entre irritada e divertida.

Sandeul me fita por alguns segundos a mais do que o necessário. Então, abaixa as mãos.

- Não sei. Essa coisa de “amor” é uma droga! Sinto que fico menos confiante e mais

desesperado.

Eu rio.

- É uma droga mesmo! Me sinto ficando assim também. Mas deve ser porque somos

jovens. - falo, enquanto me aconchego nos seus braços.

- Será? - pondera Sandeul. - Acho que finalmente entendo porque as pessoas se casam.

Sempre pensei que era uma coisa possessiva. E quer saber? Não estava nenhum um pouco

errado.

Eu rio.

- Mas e então... - Sandeul começa.

- Sim?

- Você falava sério quando disse que não casaria comigo?

Respiro devagar, deixando a tensão no ar.

- Não. - respondo finalmente, rindo. Sandeul me dá um cutucão como punição. - Mas, e

você?

- Booooommm.... - Sandeul brinca, olhando pra cima.

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- Ya! - devolvo a cutucada de antes. Ele ri.

- Não, estava brincando. - responde rápido.

- “Não estava brincando”? - repito incrédula.

- “Não”. Vírgula. “Estava brincando”. - Sandeul diz pausamente rindo da minha cara.

Dou língua pra ele, que entende como um convite à minha boca, e me beija.

Sandeul é um bobão. Apenas.

E estou começando a achar que também sou, porque retribuo, feliz.