combatendo a evasão escolar

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Recentemente participei do encerramento trimestral da ED na AD em Picos, cidade que fica há aproximadamente 350 quilômetros da capital do Estado do Piauí, Teresina. Tendo sido o comentarista das Lições Bíblicas do quarto trimestre de 2009, cuja temática se deu em torno de Davi, fui convidado para fazer o fechamento da revista naquele evento. Pois bem, alguém já disse que a “primeira impressão é a que fica”. Isto para mim se tornou uma verdade incontestável quando pude ver a estrutura que aquela igreja tem em relação a Escola Dominical. O evento ocorreu no Centro de Eventos da Assembleia de Deus (Ceade), um espaçoso ginásio coberto, que aquela igreja construiu para grandes eventos. Ali foi feita uma chamada nominal das mais de vinte congregações que formam aquela igreja, e o que se podia constatar facilmente era a presença em massa dos alunos. São mais de 1,2 mil alunos matriculados na ED e, pelo que pude observar, pelo menos, noventa por cento deles estavam ali naquela manhã. Algo que realmente me fez pensar. Por que aquela igreja, que fica em uma cidade de porte médio e no interior do Estado possui uma grande estrutura e outras que são até mesmo maiores não? Não estou aqui superestimando o trabalho daquela igreja, basta vermos que o Departamento de Escola Dominical dali já recebeu reconhecimento nacional em concurso promovido pela Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Mais uma vez me pergunto: Por que eles possuem uma Escola Dominical que funciona e outras não? Acredito que há uma resposta para isso. Todavia é bom esclarecer que embora eu esteja convencido de saber a resposta para o sucesso daquela igreja, o processo educacional é muito complexo e não admite soluções simplistas. Até mesmo o êxito dos irmãos daquela igreja não foge a essa rega. Quando nos propomos a avaliar qualquer processo educacional, seja ele eficaz ou não, precisamos levar em contra um conjunto de fatores responsáveis pela sua construção. Isso tem a ver com a ideologia ou filosofia da educação do sistema de ensino adotado, bem como a estrutura física, além, é claro, dos atores mais importantes desse processo – o educando e o educador. Passos para o sucesso da ED A eficácia do ensino da ED que se realiza eficazmente em qualquer igreja, obedece alguns princípios elementares. Aqui quero focalizá‐los. 1. Filosofia da Educação Nenhum sistema de ensino sobrevive sem um princípio filosófico que lhe dê sustentação. Por filosofia da educação me refiro ao embasamento teórico que dá sustentação a uma determinada ideologia ou cosmovisão. Isto não quer dizer que para uma igreja ter eficácia em sua missão educacional seu líder ou membros devam necessariamente serem filósofos ou algo parecido. Não! Quando falamos de uma filosofia da educação ou de qualquer outra ciência, seja ela empírica ou não, estamos nos referindo aos princípios que governam determinada disciplina ou ciência. Isto é muito importante porque determinará a forma

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Evasão escolar

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Page 1: Combatendo a Evasão Escolar

Recentemente participei do encerramento trimestral da ED na AD em Picos, cidade quefica há aproximadamente 350 quilômetros da capital do Estado do Piauí, Teresina. Tendosido o comentarista das Lições Bíblicas do quarto trimestre de 2009, cuja temática se deuem torno de Davi, fui convidado para fazer o fechamento da revista naquele evento. 

Pois bem, alguém já disse que a “primeira impressão é a que fica”. Isto para mim setornou uma verdade incontestável quando pude ver a estrutura que aquela igreja tem emrelação a Escola Dominical. 

O evento ocorreu no Centro de Eventos da Assembleia de Deus (Ceade), um espaçosoginásio coberto, que aquela igreja construiu para grandes eventos. Ali foi feita umachamada nominal das mais de vinte congregações que formam aquela igreja, e o que sepodia constatar facilmente era a presença em massa dos alunos. São mais de 1,2 milalunos matriculados na ED e, pelo que pude observar, pelo menos, noventa por centodeles estavam ali naquela manhã. Algo que realmente me fez pensar. Por que aquelaigreja, que fica em uma cidade de porte médio e no interior do Estado possui uma grandeestrutura e outras que são até mesmo maiores não? Não estou aqui superestimando otrabalho daquela igreja, basta vermos que o Departamento de Escola Dominical dali járecebeu reconhecimento nacional em concurso promovido pela Casa Publicadora dasAssembléias de Deus.  

Mais uma vez me pergunto: Por que eles possuem uma Escola Dominical que funciona eoutras não? Acredito que há uma resposta para isso. Todavia é bom esclarecer que emboraeu esteja convencido de saber a resposta para o sucesso daquela igreja, o processoeducacional é muito complexo e não admite soluções simplistas. Até mesmo o êxito dosirmãos daquela igreja não foge a essa rega. Quando nos propomos a avaliar qualquerprocesso educacional, seja ele eficaz ou não, precisamos levar em contra um conjunto defatores responsáveis pela sua construção. Isso tem a ver com a ideologia ou filosofia daeducação do sistema de ensino adotado, bem como a estrutura física, além, é claro, dosatores mais importantes desse processo – o educando e o educador.

Passos para o sucesso da EDA eficácia do ensino da ED que se realiza eficazmente em qualquer igreja, obedece algunsprincípios elementares. Aqui quero focalizá‐los.  

1.    Filosofia da EducaçãoNenhum sistema de ensino sobrevive sem um princípio filosófico que lhe dê sustentação.Por filosofia da educação me refiro ao embasamento teórico que dá sustentação a umadeterminada ideologia ou cosmovisão. Isto não quer dizer que para uma igreja ter eficáciaem sua missão educacional seu líder ou membros devam necessariamente serem filósofosou algo parecido. Não! Quando falamos de uma filosofia da educação ou de qualquer outraciência, seja ela empírica ou não, estamos nos referindo aos princípios que governamdeterminada disciplina ou ciência. Isto é muito importante porque determinará a forma

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como enxergamos o mundo a nossa volta. Na verdade, todo sistema possui sua ideologia ouforma de enxergar as coisas. Os comunistas, por exemplo, viam o mundo como matéria eessa forma de ver as coisas levou‐os a negar a realidade do espírito e a formar umasociedade de ateus. Por outro lado, muitas filosofias orientais atualmente fazemexatamente o oposto, negam a existência da matéria e afirmam somente a existência doespírito. 

A educação ocidental, da qual fazemos parte, tem sido dominada por dois paradigmaseducacionais – o moderno, que nos modelou nos últimos três séculos, e o pós‐moderno,que está procurando se firmar a partir dos anos setenta. O paradigma da modernidade,também conhecido como cientificista ou cartesiano, foi o responsável por uma educaçãomais técnica, mais racional e menos humanizada. Por outro lado, o modelo pós‐modernoou ainda holista, busca formar uma consciência sistêmica do mundo. A educação pós‐moderna não está interessada apenas nas partes como os modernos queriam, massobretudo no todo. 

É bom lembrar que nenhum modelo ou paradigma científico ou educacional é perfeito.Observo hoje que se tenta jogar pedra no modelo cartesiano, como se nada produzido pelamodernidade prestasse mais, que ficou obsoleto e que, por isso, deve ser totalmenteabandonado. Se fala hoje que um modelo de educação para ser eficaz precisa serconstrutivista, interacionista, sociocultural e transcendente. Eu também acredito, mascomo educador não posso aceitar como válidas todas as implicações geradas por essacosmovisão. Explico. Quando se fala, por exemplo, numa educação construtivista, a ideiaé aquela do aluno “fazendo sozinho”, isto é, ele mesmo vai construindo seus própriosvalores. Isto se explica quando se sabe que nessa forma de enxergar o mundo não existevalores absolutos e que, por isso, ninguém tem o direito de impor sua verdade ou verdadesa ninguém. O mesmo pode ser dito quanto se fala em uma educação sistêmica, que é aomesmo tempo interacionista, sociocultural e transcendente. A ideia aqui é de um universopanteísta onde o homem se funde com a própria natureza e esta com Deus ou deuses.Tudo faz parte de um único todo, desaparecendo quase por completo a ideia de sujeito eobjeto construído na modernidade. Isso, supostamente, estaria provado pela físicaquântica e pelo princípio da incerteza. Nada agora é absoluto e definitivo, tudo é relativoe depende de quem analisa os fenômenos. 

Vamos filtrar o que eu disse e trazer isso para uma compreensão mais simples. Quandoestive naquela igreja a qual já me referi anteriormente, pude ver que o pastor dela possuia cosmovisão correta da vida. Isso é mais verdade ainda em relação ao ensino cristão. Poracreditar que o crente necessita formar valores cristãos que são fundamentais na sua vidasocial e espiritual, ele investiu pesado no ensino teológico sistematizado através da ED. Seo pastor não gosta do ensino sistemático da Bíblia e não se envolve com ele, fatalmente asua ED será um colapso. É necessário o engajamento do pastor na ED. É por isso que faleique necessitamos ter uma correta filosofia ou cosmovisão da educação. Um pastor que nãose envolve com a ED, às vezes, nem mesmo assiste à Escola Dominical da sua igreja, revelanão ter uma correta compreensão da importância do ensino cristão. O que é pior: isso se

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refletirá em toda a igreja que produzirá crentes com problema de crescimento espiritualou com caráter deformado. Uma tragédia. 

2.    O educandoUma ED para ser eficaz evidentemente necessita possuir uma correta compreensão daimportância do educando. Os modelos convencionais de educação colocavam como atorprincipal no processo educacional a figura do educador. O educando ou aluno era apenas oreceptor do conhecimento ou conteúdo que eram despejados nele. Com o passar dos anosse verificou a anomalia desse processo. O educando passa agora a ser o ator principal daeducação. Mas há uma coisa que devemos prestar bem atenção nesse pensamento. Asteorias em voga hoje em dia que exaltam a figura do educando mais do que a do educadorestão impregnadas de conceitos anticristãos. A ideia é que o homem é um ser produto daevolução das espécies, destituídos de valores espirituais e até mesmo morais. A sua vidaserá construída por ele mesmo e, por isso, o educador precisa ter muito cuidado para nãointerferir ou interferir o mínimo possível nesse processo. É aí que os princípios religiosos setornam uma ameaça para esse modelo educacional. O homem deve ser educado tomandopor base apenas fundamentos humanistas e quando quiser, se quiser, adotará valoresespirituais que julgar necessário. É por isso que o ensino e símbolos religiosos estão sendosuprimidos do processo educacional.

Feita essa observação devemos, a bem da verdade, dizer que o aluno merece atençãoespecial. Quando observo que uma ED está agonizando, logo verifico que ali não se possuiuma compreensão correta do papel do educando. O aluno é negligenciado ou esquecido.Isto pode ser visto na estrutura arquitetônica de nossas igrejas, que muitas vezes nãopossuem salas de aulas adequadas para os alunos. Em muitos casos porque não se acha issoimportante. No outro lado, está a falta preparo adequado por parte dos professores. 

3.    O educadorAntonio Vieira, famoso escritor do século 17, fez uma pergunta para em seguidaresponder. Após analisar a parábola do Semeador, Vieira conclui que a razão da sementenão frutificar em determinados tipos de solos não foi culpa de Deus. De quem seria entãoa culpa? “Sendo pois certo de que a Palavra divina não deixa de frutificar por parte deDeus; segue‐se que ou é por falta do pregador, ou por falta dos ouvintes. Por qual será? Ospregadores deitam a culpa aos ouvintes, mas não é assim. Se fora por parte dos ouvintes,não fizera a Palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum fruto, e nenhumefeito, não é por parte dos ouvintes. Provo. Os ouvintes ou são maus ou são bons: se sãobons, faz neles grande fruto a Palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça nelesfruto, faz efeito (...) Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos daPalavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue‐sepor conseqüência clara que fica por parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, porquenão faz fruto a Palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, porque nãofaz fruto a Palavra de Deus? Por culpa nossa” (Antonio Vieira, Sermão da Sexagésima, Ed.Lelo & Irmãos, Porto, Portugal).

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Se trocássemos a palavra “pregador” por “educador” ou ainda “pastor” dava no mesmo.Muitas escolas dominicais não funcionam por culpa dos pastores. Lógico que isso é umaexceção, mas é uma verdade. Se o pastor não acompanha a ED, como ele irá fazer umacorreta avaliação das classes? Como ele saberá que professor necessita ser reciclado ouaté mesmo substituído? Se o pastor acompanha de perto o desenvolvimento de sua ED, eleterá condições de por à frente do trabalho um superintendente de ED à altura. Já substituicolegas em igrejas, que mesmo sendo homens sem muita cultura, demonstravam umgrande cuidado com a ED. O resultado era uma Escola Dominical bem assistida. Se oobreiro não demonstra essa interação com a igreja e a ED, então ele terá como freqüênciana Escola Dominical apenas Pedro, Tiago e João.

Fonte:www.cpadnews.com.br