combate violencia escolas

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Muitos educadores e parte da opinião pública pen- sam que a violência na es- cola é um fenômeno novo, que teria surgido na década de 1980 (quando houve um grande incremento da crimi- nalidade violenta no Brasil) e se intensificado nos anos se- guintes. Mas, para o sociólogo francês Bernard Charlot, desde o século XIX há relatos de violência na escola. O que mudou foi sua forma de manifestação. O que há de novo nesse fenô- meno? As agressões agora são muito mais graves: homicídios, estupros e a presença de armas no ambiente esco- lar. Os envolvidos são cada vez mais jovens. Há um aumento do número de intrusões externas na escola - e até mesmo nas salas de aula -, para acer- tos de conta que se iniciam nas suas proximidades e, por último, os so- bressaltos a que são submetidos conti- AMAE educando - 374 . Setembro . 2010 8 VIOLÊNCIA – UM PROBLEMA COM SOLUÇÃO Um novo modelo de enfrentamen- to da violência na escola precisa usar o diálogo como arma e a hu- manização como estratégia. Robson Sávio Reis Souza é professor da PUC Minas e pesquisador do Crisp/ UFMG; Ângela Maria Dias Nogueira Souza é pedagoga e especialista em Políticas para a Juventude (Belo Hori- zonte – MG). PENSANDO A ESCOLA Konvyt

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Artigo sobre a relação entre educação

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Muitos educadores e parte da opinião pública pen-sam que a violência na es-cola é um fenômeno novo, que teria surgido na década de 1980 (quando houve um grande incremento da crimi-nalidade violenta no Brasil) e se intensificado nos anos se-

guintes. Mas, para o sociólogo francês Bernard Charlot, desde o

século XIX há relatos de violência na escola. O que mudou foi sua forma de manifestação.

O que há de novo nesse fenô-meno? As agressões agora são muito mais graves: homicídios, estupros e a presença de armas no ambiente esco-lar. Os envolvidos são cada vez mais jovens. Há um aumento do número de intrusões externas na escola - e até mesmo nas salas de aula -, para acer-tos de conta que se iniciam nas suas proximidades e, por último, os so-bressaltos a que são submetidos conti-

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VIOLÊNCIA – UM PROBLEMA COM SOLUÇÃO

Um novo modelo de enfrentamen-to da violência na escola precisa usar o diálogo como arma e a hu-manização como estratégia.

Robson Sávio Reis Souza é professor da PUC Minas e pesquisador do Crisp/UFMG; Ângela Maria Dias Nogueira Souza é pedagoga e especialista em Políticas para a Juventude (Belo Hori-zonte – MG).

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nuamente os profissionais das escolas que estão localizadas em áreas muito violentas.

Para problematizar as várias formas de manifestação dessa vio-lência no ambiente escolar, Bernard Charlot considera necessário fazer al-gumas conceituações. Primeiro, pela distinção desses tipos de violência. A violência “na escola” se refere às violências que acontecem dentro da instituição escolar, mas não estão li-gadas às suas atividades. São exem-plos os roubos, invasões e acertos de contas por grupos rivais. Neste caso, a escola é um local onde a violência ocorre. A violência “à escola” está ligada à natureza e às atividades da instituição educacional. Ela acontece quando os alunos provocam incêndios e agridem os professores, por exem-plo, ou seja, a violência contra a insti-tuição escolar ou o que ela representa. Por fim, considera, ainda, a violência “da escola”, ou seja, a violência ins-

titucional e simbólica. Como a insti-tuição escolar define, por exemplo, os modos de composição das classes, as formas discricionárias de atribuição de notas, etc. Para este autor, a escola possui grande margem de ação fren-te às violências da e à escola. Porém, se a escola tem poucos recursos para solucionar os problemas de violência que não estão ligados às atividades da instituição, ou seja, se a violência vem de fora, ela deve buscar o auxílio de outras agências públicas.

Refinando os conceitosAinda segundo Charlot, é pre-

ciso distinguir as diferenças entre violência, agressão e agressividade. Agressividade é uma disposição bio- psíquica reacional, agressão é um ato de brutalidade física e/ou verbal e, por fim, a violência remete a uma carac-terística deste ato, mas com o uso da força, do poder, da dominação. Estas distinções são necessárias, porque é impossível acabar com a agressivi-dade e o conflito entre as pessoas. Na nossa cultura, certa dose de agressivi-dade é valorizada e incentivada, por exemplo, em áreas como o esporte e a arte. Os conflitos são também impor-tantes; eles expõem as diferenças, de-marcam posturas e posicionamentos frente às adversidades, estimulam a ação. A questão é saber como canali-zar a agressividade e trabalhar os con-flitos de forma saudável e não sim-plesmente abafá-los ou reprimi-los. O que acontece é que, muitas vezes,

Num cenário de corresponsabilidade, envol-vendo a comunidade, os profissionais da educação e outros atores sociais, os educadores devem assumir a educação como um direito de todos, acolhendo os alu-nos e suas famílias e incentivando-os a participarem ativamente dos trabalhos desenvolvidos pela escola.

A escola pode atuar em outras questões que ex-trapolam o ensinar e o aprender. Uma dessas é com relação à violência que necessita com urgência entrar na pauta de discussões dos educadores para que eles possam construir um outro olhar sobre ela. Que não seja simplesmente o olhar da criminalização de seus agentes. Deve-se analisar a violência como algo com-

plexo e não apenas como um ato isolado, procurando descriminalizar os conflitos e trabalhá-los pedagogi-camente.

É necessário vencer os obstáculos impostos pe-las diferenças de geração; ajudar na articulação dos programas e políticas públicas focados para os ado-lescentes e jovens, com o objetivo de ouvir esses su-jeitos, entender suas angústias e transformar suas rei-vindicações em demandas legítimas. Dar conta de que esta nova ordenação de mundo supõe novos contratos sociais mais flexíveis e baseados na negociação e não mais na imposição de normas ditadas pelos adultos.

Mural da prática

Os problemas da violência são

complexos e nenhuma instituição

sozinha poderá resolvê-los.

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os alunos (e inclusive os educadores) não sabem como lidar com a agressi-vidade e com os conflitos, utilizando da violência como uma saída para a superação de quaisquer problemas. Cabe à escola, então, encontrar uma forma de trabalhar os conflitos e a agressividade de seus alunos, regulan-do-os através da palavra e da clareza das normas e das regras.

Ainda distinguindo os concei-tos com o objetivo de pensar ações de superação da violência, é necessário diferenciar o que é violência, trans-gressão e incivilidade. A violência é uma infração à lei, na maioria das ve-zes com o uso da força (lesões, extor-sões, tráfico de drogas, insultos gra-ves). A transgressão é o desrespeito ao regulamento da escola (absenteís-mo, não realização de trabalhos esco-lares), e a incivilidade é o desrespeito às regras de boa convivência (desor-dens, empurrões, grosserias, palavras ofensivas). Estas distinções são ne-cessárias para não se correr o risco

de confundir tudo como uma única categoria, tomando medidas despro-porcionais e equivocadas. Cada fenô-meno merece um tratamento diferen-ciado, pois transgressão e incivilidade devem ser vistas como atos de indis-ciplina e, como tal, a escola tem (ou deveria ter) mecanismos pedagógicos eficientes de superação dessas dificul-dades.

Por fim, é fundamental que a comunidade escolar - e principalmen-te os educadores - superem o precon-ceito que, sem fundamento objetivo na realidade, rotula os jovens como os principais culpados pela violên-cia. Primeiro, porque a violência é uma característica da nossa sociedade (portanto, está disseminada em todas as classes e faixas etárias) e, ainda, porque é preciso reconhecer as vá-rias violências a que são submetidos os jovens, pois se eles são os princi-pais autores, também são as princi-pais vítimas, como indicam várias pesquisas. Este reconhecimento ajuda

a compreender melhor a adolescência e a juventude que frequentam a escola e não somente culpá-las por todos os problemas que fazem parte do univer-so escolar.

A escola e a comunidade: parceria indispensável

Considerando o resultado de pesquisas sobre violência nas escolas, como a realizada pelo Centro de Estu-dos de Criminalidade e Segurança Pú-blica da UFMG (Crisp) entre os anos de 2003 e 2004, em Belo Horizonte (MG), percebe-se, pelas característi-cas dos locais onde as mais diferentes escolas – públicas ou privadas – se en-contram, que sinais físicos ou sociais de desordem, bem como a presença de agentes que produzem tumulto, estão associados à frequência de depreda-ção e outros eventos de vitimização (na escola). Portanto, a violência está muito mais relacionada à desorgani-zação social do que às desvantagens econômicas. Segundo o Crisp, a vio-lência nos estabelecimentos escola-res “refere-se às características dos locais onde as escolas se encontram. Observou-se que as regiões que apre-sentam sinais de desordem, bem como a presença de agentes que a produ-zem, estão associadas à percepção que os alunos constroem acerca dos níveis de segurança, do mesmo modo como ocorre na sociedade como um todo.”

Outro ponto de destaque na re-ferida pesquisa é sobre as considera-ções acerca da pertinência de relações de parceria entre escolas e comunida-des, independente de se tratar de es-colas públicas ou privadas. Neste con-texto, disponibilizar as escolas para

Alunos são a prova de que conflitos e agressividade podem ser bem trabalhados: alegria é marca da paz em sala de aula

Nin

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na

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que membros da comunidade (exter-na) possam se associar politicamen-te, ou usar seu espaço para eventos de lazer, pode trazer bons resultados, mesmo nas áreas com presença mais intensa de sinais de desordem.

Não são exclusivamente os eventos violentos que afetam a per-cepção da violência pelos alunos. As percepções da violência prejudicam o comportamento de todas as pessoas. Neste sentido, essa percepção pode ser afetada quando o cidadão toma conhecimento de um evento de cri-minalidade ou quando é vítima dele, ou seja, não é apenas o crime, mas também o medo que influencia os comportamentos, atitudes e tomadas de decisões. Deste modo, quando a pesquisa aponta que quase 90% dos alunos (de escolas públicas e/ou pri-vadas) viram ou ouviram falar de de-sentendimentos ou xingamentos nas escolas e quase 70% viram ou ouvi-ram falar de arruaças nas escolas, não foram contabilizados os eventos em si, mas o percentual de indivíduos que tomaram conhecimento desses fatos.

Quando se analisam as escolas com altos índices de violência, verifi-ca-se uma situação de forte tensão. Os incidentes são produzidos neste fundo de tensão social e escolar onde um pe-queno conflito pode provocar uma ex-plosão. As fontes de tensão podem es-tar ligadas ao estado da comunidade e do bairro, mas dependem também da articulação da escola com este públi-co e suas práticas de ensino, conforme nos aponta Bernard Charlot.

Muitas vezes, as inúmeras quei-xas dos professores são transformadas em discursos de vitimização. E, como vítimas, eles colocam-se como impo-

tentes frente aos problemas da violên-cia e da aprendizagem de seus alunos. Como dizia Paulo Freire, “educar exige do educador, além do compro-metimento, a convicção de que a mu-dança é possível e a compreensão de que a educação em si já é uma forma de intervenção no mundo”. Portanto, não se trata aqui de minimizar ou ne-gar os problemas enfrentados pelos professores no cotidiano escolar. Eles são graves e precisam ser enfrentados. Porém, é possível encontrar alternati-vas para a solução dos eventuais pro-blemas, quando os profissionais da educação se colocam como sujeitos responsáveis pelos processos educati-vos dos alunos.

A união faz a forçaTrabalhando de forma isolada,

a escola não encontrará soluções pos-síveis e ainda correrá o risco de entrar num círculo vicioso de perpetuação da lógica da violência, que poderá transformá-la em vítima impotente da criminalidade. Os problemas da violência são complexos e nenhuma instituição sozinha poderá resolvê-los, sendo necessário um trabalho em rede, no qual cada instituição dará a sua contribuição.

Muitos professores dizem que não possuem qualificação para tra-

balhar com os jovens agressivos, indisciplinados, ou seja, aqueles alu-nos que causam muitos transtornos e conflitos na escola. Neste sentido, Ar-royo afirma que o conhecimento para lidar com problemas de convivência entre os jovens não é adquirido nas faculdades. É aprendido no dia a dia, com a infância e a adolescência com a qual trabalhamos. Os educadores têm muito a aprender com a pluralida-de de ações pedagógicas dos projetos sociais: “Esses profissionais aprende-ram no convívio com a infância ne-gada e roubada... Foram reeducados pela infância com que convivem. Não por compaixão para a sua barbárie e miséria, mas porque vão descobrin-do as outras imagens de resistências múltiplas, de valores e de tentativas. Resistências feitas de brotos de huma-nismo.” (Arroyo, 2000)

Portanto, antes de condenar os jovens é necessário compreender a sociedade na qual eles vivem. Acres-centa ainda Arroyo, que as violências praticadas por crianças, adolescentes e jovens assustam a sociedade por-que incomodam o imaginário pessoal e social. “Não é o locus onde se dá a violência que nos assusta, mas os sujeitos. Esses sujeitos infantis. Ver e conviver com adultos violentos é normal. Pais violentos, companheiros violentos, chefes de governo e de Pen-tágonos usando a violência preventi-va, matando inocentes ou pré-culpa-dos sem julgamento... Tudo de acordo com ‘a moral’ dos adultos. Porém, crianças violentas onde estiverem, em casa, na rua, nas escolas é assustador e ameaçador. Não porque ameacem mais do que os adultos, mas porque ameaçam os imaginários sociais, co-

É necessário um reordenamento

escolar que considere os tempos

e as vivências dos educandos.

““

letivos, pedagógicos e docentes sobre a infância-adolescência.” (Arroyo, 2004)

Arroyo considera impor-tante vencer a concepção dua-lista de “anjos e capetas” que se tem sobre as crianças, ado-lescentes e jovens, pois este pa-radoxo impede de enxergá-los como sujeitos reais, com com-plexas trajetórias existenciais.

Os atores responsáveis pela superação dos problemas

Alguns profissionais da educação ainda pensam que os problemas de violência da esco-la são consequências das ações (ou melhor, da falta de ações) de outras instituições, principal-mente da família. E, ao entende-rem que a família e a escola são as instituições mais importantes, senão únicas capazes de educar as crianças e os adolescentes, acreditam que, quando a família não cumpre sua função – que é a de formação de caráter e de normas disciplinares –, a escola, possivelmente, não poderá também exercer o seu papel, porque a educa-ção oferecida pela instituição de ensi-no e pela família são complementares.

Sentindo-se impotentes frente à violência no âmbito escolar e levadas pelo descrédito em outras instituições, essas escolas fecham-se com muros, cercas elétricas e grades, ou recorrem à polícia, que é chamada para resolver desde os problemas complexos, como o tráfico de drogas, até os mais banais, como desaparecimento de objetos ou brigas entre alunos. E mesmo perce-bendo que a intervenção da polícia é

repressiva e pontual e que, algumas vezes, pode piorar a situação, crian-do constrangimentos (como os casos envolvendo crianças que são detidas à revelia da lei), algumas escolas con-tinuam utilizando esta estratégia, para solução de todos os tipos de dilemas escolares.

É necessário entender que o modelo de funcionamento da socieda-de tradicional, no qual os papéis das instituições eram predeterminados e bem-definidos, não se encaixa na rea-lidade contemporânea. As promessas de que o desenvolvimento técnico e científico nos livraria da miséria, das

guerras e de outros males, se re-velaram falsas, gerando incerte-zas sobre a vida futura. Vivemos hoje numa sociedade fluida, das inseguranças e das incertezas. As instituições que, de acordo com a sociologia clássica, fo-ram as responsáveis primárias pela socialização do sujeito na sociedade tradicional (que era feita através da reprodução da ordem) não detêm mais os me-canismos de controle, pois o indivíduo contemporâneo tem uma grande capacidade de refle-xividade e maior possibilidade de questionamento das normas. Por isso, o modelo anterior para analisar (e enfrentar) os proble-mas com os quais lidamos hoje nas escolas está caduco, numa sociedade globalizada, plural, diversa e complexa.

Atualmente, as crianças, até mesmo as mais novas, têm contatos com muitas instituições (família, mídia, escola, projetos sociais, igrejas) ao mesmo tem-po e cada uma delas repassa

hábitos, valores, regras e saberes di-ferenciados. Com isso, elas adquirem grande capacidade para refletir sobre os valores transmitidos por estas insti-tuições. Assim, é necessário dialogar com os jovens sobre esses valores para que eles deem conta de interpre-tar o mundo em que vivem e possam agir com responsabilidade nele.

Miguel Arroyo aponta que a escola não dará conta de reverter so-zinha o processo de desumanização no qual são submetidos os jovens; porém, ela não poderá continuar a ser um espaço que legitima e reforça esta

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Crianças aprendem, em ambiente sem violência, a com-partilhar tarefas: educação e companheirismo

Nina Alexandrina

desumanização. É necessário um re-ordenamento escolar que considere os tempos e as vivências dos educandos. As formas de organização das escolas, com uma estrutura seriada e a rigidez dos conteúdos, reforçam mais a de-sumanização a que são submetidos as crianças, os adolescentes e os jovens, principalmente das periferias. Muitas situações de vida de nossos alunos, tais como a rua, a moradia, o traba-lho forçado, a violência e a fome são questões muito pesadas para sujeitos ainda em desenvolvimento.

A escola é fundamentalAtualmente, temos muitos pro-

gramas e serviços de apoio às famí-lias. É importante que os gestores escolares conheçam estes serviços e saibam como acessá-los, mobili-zando-os como parceiros nos mo-mentos nos quais a escola esbarra nos limites de sua atuação. Faz-se necessário, também, reconhecer a educação como um fator de proteção para muitas crianças, adolescentes e jovens pobres que enfrentam cotidia-namente dificuldades para se mante-rem vivos.

“[Há] uma evidência substan-tiva a favor de manter as crianças na escola, mesmo se a aprendizagem de conteúdos ficar abaixo das expecta-tivas, já reduzidas, da sociedade. Há um discurso recorrente contra políti-cas educacionais que visam à perma-nência na escola, (...) há evidências de que, mesmo que uma criança de baixo status socioeconômico fre-quentando uma escola (...) não esteja aprendendo português ou matemática a contento, ela está aprendendo um modo de socialização que eventu-

almente poderá salvar-lhe a vida. E mais: é possível que, ao ensinar esta criança a como lidar com o conflito de modo não letal, a escola esteja também salvando a vida de terceiros. A conclusão inexorável é que a políti-ca educacional deve fazer tudo ao seu alcance para manter a criança na es-cola, mesmo que a aprendizagem de conteúdos acadêmicos seja aquém do desejado.”(Soares, 2007)

A reflexão de que é possível construir um outro olhar sobre os jo-vens e o reconhecimento da importân-cia de dialogar com outras instituições para dividir as angústias e as respon-sabilidades, tendo a consciência das funções e limites destas instituições, possibilita a construção de um traba-lho conjunto para garantir maior pro-teção às crianças, aos adolescentes e aos jovens. Esta, talvez, seja uma das alternativas que a escola tem para o enfrentamento da violência.

Bibliografia

ARROYO, Miguel G., Imagens que-bradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.________. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. Petrópolis: Vozes, 2005.________. Violência nas escolas: uma disputa entre imaginários de infância e de docência. Trabalho apresentado no Congresso Ibero-americano sobre violência nas escolas, promovido pela Unesco, Brasília. (mimeo).

CHARLOT, Bernard. “A violência na escola: como os sociólogos fran-ceses abordam essa questão”, in Bernard Charlot, Relação com o saber, formação dos professores e globalização – questões para a educação hoje. Porto Alegre: Art-med, 2005.

SETTON, M. das Graças Jacinto. “A particularidade do processo de socia-lização contemporâneo”. Tempo So-cial, v.17, n.2. ,2005.

SOARES, Sergei Suarez Dillon. Edu-cação: um escudo contra o homicídio. Ipea: 2007. Disponível em <http://www.ipea.gov.br>. Acessado em agosto/2010.

Obs.:Neste texto, os autores não consideraram

as violências associadas ao bullying.

Contato:[email protected]

[email protected]

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No contextoDesde 2003, a Secreta-

ria de Estado de Educação de Mi-nas Gerais mantém o projeto “Escola

viva, comunidade ativa”, com o objetivo de levar tranquilidade a escolas, localizadas em

áreas urbanas, que apresentam altos índices de violência. O projeto combate, por meio de ações pedagógicas, culturais, esportivas e artísticas, a vulnerabilidade social, repensando o processo educativo, para que a educação de fato acon-teça em escolas mais inclusivas e abertas à

comunidade. Hoje, 480 mil alunos são atendidos em 503 instituições de

102 municípios mineiros. (CM)