colonização portuguesa na américa

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Colonização Portuguesa na Colonização Portuguesa na América América A Colonização do Brasil foi um processo de A Colonização do Brasil foi um processo de povoamento, exploração e dominação do território, já povoamento, exploração e dominação do território, já que a Corte Portuguesa acreditava na hipótese de ter que a Corte Portuguesa acreditava na hipótese de ter o território brasileiro invadido e tomado caso não o território brasileiro invadido e tomado caso não fosse ocupado. Até 1530, como vimos, o território fosse ocupado. Até 1530, como vimos, o território teve menor interesse do governo, ficando exposto a teve menor interesse do governo, ficando exposto a comerciantes europeus de pau-brasil, expedições comerciantes europeus de pau-brasil, expedições exploradoras e degredados que se tornaram exploradoras e degredados que se tornaram conhecedoras da cultura indígena. conhecedoras da cultura indígena.

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Page 1: Colonização portuguesa na américa

Colonização Portuguesa na Colonização Portuguesa na AméricaAmérica

A Colonização do Brasil foi um processo de A Colonização do Brasil foi um processo de povoamento, exploração e dominação do território, já povoamento, exploração e dominação do território, já que a Corte Portuguesa acreditava na hipótese de ter que a Corte Portuguesa acreditava na hipótese de ter o território brasileiro invadido e tomado caso não o território brasileiro invadido e tomado caso não fosse ocupado. Até 1530, como vimos, o território fosse ocupado. Até 1530, como vimos, o território teve menor interesse do governo, ficando exposto a teve menor interesse do governo, ficando exposto a comerciantes europeus de pau-brasil, expedições comerciantes europeus de pau-brasil, expedições exploradoras e degredados que se tornaram exploradoras e degredados que se tornaram conhecedoras da cultura indígena.conhecedoras da cultura indígena.

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O interesse inicial era restrito devido a ausência de metais preciosos na região e a maior importância econômica das especiarias orientais. O Brasil virou uma espécie de ponto de parada das caravelas e expedições que iam rumo ao Oriente. Apesar disto, o extrativismo do pau-brasil (especiaria também encontrada na Índia e de importância econômica devido à madeira e à tintura) dava algum lucro aos aventureiros portugueses que por se especializarem neste comércio ficaram conhecidos como brasileiros. O trabalho era feito por [índios através do sistema conhecido como escambo, onde a troca da extração era feita por objetos importantes para os indígenas como espelhos e metais.

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Na primeira carta escrita sobre o Brasil, de Pero Vaz de caminha, ficam claros os interesses econômicos,políticos e religiosos em relação ao Brasil. Caminha afirma não haver ouro nas terras encontradas, maior preocupação mercantil. Além disto, declara ser esta a terra de Portugal, ampliando o Império colonial Português e disserta sobre a população aqui encontra. Os indígenas eram gentios, dóceis, apesar de exóticos, destinados a catequese católica.

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A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA - Sobre os interesses econômicos e catequéticos:

“Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!”(...)

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“E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.”(...)“Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé! E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe.

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No ano de 1530, Dom João III, rei de Portugal, enviou No ano de 1530, Dom João III, rei de Portugal, enviou Martim Afonso de Souza ao Brasil para explorar seu território Martim Afonso de Souza ao Brasil para explorar seu território em busca de minerais e ainda fazer demarcações em busca de minerais e ainda fazer demarcações estratégicas. Com total autonomia dada pelo rei, Martim estratégicas. Com total autonomia dada pelo rei, Martim Afonso designava autoridades e distribuía terras para Afonso designava autoridades e distribuía terras para aqueles que se comprometiam a realizar a missão aqueles que se comprometiam a realizar a missão determinada pelo rei. Assim, iniciava-se a colonização. No determinada pelo rei. Assim, iniciava-se a colonização. No litoral paulista foram firmados os primeiros povoados do litoral paulista foram firmados os primeiros povoados do país, onde as primeiras plantações de cana-de-açúcar foram país, onde as primeiras plantações de cana-de-açúcar foram formadas, além dos primeiros engenhos. Motivos para o formadas, além dos primeiros engenhos. Motivos para o início da colonização:início da colonização:

Tentativa de ocupação de outros países europeus – ameaças Tentativa de ocupação de outros países europeus – ameaças estrangeiras sobretudo a partir do interesse de franceses na estrangeiras sobretudo a partir do interesse de franceses na extração do pau-brasil.extração do pau-brasil.

Possibilidade de achar metais, já que a Espanha já explorava Possibilidade de achar metais, já que a Espanha já explorava a mineração em áreas americanas.a mineração em áreas americanas.

Declínio do comércio de especiarias do oriente – menor Declínio do comércio de especiarias do oriente – menor lucratividade e altos gastos.lucratividade e altos gastos.

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Administração colonial:Administração colonial:

Sistema de capitanias hereditárias – servia Sistema de capitanias hereditárias – servia ao interesse de proteção e exploração do ao interesse de proteção e exploração do território sem maiores gastos por parte do território sem maiores gastos por parte do governo, delegando tarefas a particulares governo, delegando tarefas a particulares através das cartas de doações e florais através das cartas de doações e florais (direitos e deveres do capitão donatário (direitos e deveres do capitão donatário que deveria dar lucro ao governo, através que deveria dar lucro ao governo, através de impostos do comércio dos bens de impostos do comércio dos bens produzidos na colônia em até 5 anos).produzidos na colônia em até 5 anos).

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Entre os anos de 1534 e 1536, o rei de Portugal D. João III resolveu dividir a terra brasileira em faixas, que partiam do litoral até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas. Estas enormes faixas de terras, conhecidas como Capitanias Hereditárias, foram doadas para nobres e pessoas de confiança do rei. Estes que recebiam as terras, chamados de donatários, tinham a função de administrar, colonizar, proteger e desenvolver a região. Cabia também aos donatários combater os índios de tribos que tentavam resistir à ocupação do território. Em troca destes serviços, além das terras, os donatários recebiam algumas regalias, como a permissão de explorar as riquezas minerais e vegetais da região.

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As dificuldades de As dificuldades de administração das capitanias administração das capitanias eram inúmeras. A distância de eram inúmeras. A distância de Portugal, os ataques indígenas, Portugal, os ataques indígenas, a falta de recursos e de apoio do a falta de recursos e de apoio do governo, além da extensão governo, além da extensão territorial dificultaram muito a territorial dificultaram muito a implantação do sistema. Com implantação do sistema. Com exceção das capitanias de exceção das capitanias de Pernambuco e São Vicente, Pernambuco e São Vicente, todas acabaram fracassando. todas acabaram fracassando. Desta forma, em 1549, o rei de Desta forma, em 1549, o rei de Portugal criou um novo sistema Portugal criou um novo sistema administrativo para o Brasil: o administrativo para o Brasil: o Governo-Geral. Este seria mais Governo-Geral. Este seria mais centralizador, cabendo ao centralizador, cabendo ao governador geral as funções governador geral as funções antes atribuídas aos donatários.antes atribuídas aos donatários.

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O documento do Regimento estabelecia O documento do Regimento estabelecia o governo geral e as normas jurídicas a o governo geral e as normas jurídicas a vigorar na Colônia. Deixa-se claro que a vigorar na Colônia. Deixa-se claro que a ação do Governo-geral seria complementar ação do Governo-geral seria complementar às dos donatários: sem maior interferência às dos donatários: sem maior interferência na administração das capitanias, deveria na administração das capitanias, deveria criar maior ligação entre elas, bem como criar maior ligação entre elas, bem como prestar-lhes o auxílio da Metrópole.prestar-lhes o auxílio da Metrópole.

A centralização administrativa vem não A centralização administrativa vem não só em auxílio as demandas dos donatários, só em auxílio as demandas dos donatários, mas para aumentar a fiscalização do pacto mas para aumentar a fiscalização do pacto colonial, e evitar os contrabandos e colonial, e evitar os contrabandos e sonegações constantes. sonegações constantes.

Page 11: Colonização portuguesa na américa

Os poderes centralizadores do governo geral Os poderes centralizadores do governo geral não diminuíram por completo o poder regional da não diminuíram por completo o poder regional da elite latifundiária do país. As Câmaras Municipais, elite latifundiária do país. As Câmaras Municipais, formada pelos chamados “homens bons”, formada pelos chamados “homens bons”, proprietários de terras e escravos, foram o proprietários de terras e escravos, foram o exemplo mais significativo da manutenção do exemplo mais significativo da manutenção do poder regional. Gozando de ampla autonomia, as poder regional. Gozando de ampla autonomia, as Câmaras tinham como funções a administração Câmaras tinham como funções a administração municipal, a regulamentação das feiras e dos municipal, a regulamentação das feiras e dos mercados, a execução de obras públicas como mercados, a execução de obras públicas como estradas e pontes, a limpeza e arborização, e a estradas e pontes, a limpeza e arborização, e a regulamentação dos ofícios e do comercio local. A regulamentação dos ofícios e do comercio local. A renda utilizada para gerir os negócios públicos renda utilizada para gerir os negócios públicos provinha do patrimônio municipal (em geral provinha do patrimônio municipal (em geral resultante do aluguel de prédios ou do resultante do aluguel de prédios ou do arrendamento de pastos) e dos impostos arrendamento de pastos) e dos impostos arrecadados à população.arrecadados à população.

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Economia ColonialEconomia Colonial

O Brasil se caracterizava como uma colônia de O Brasil se caracterizava como uma colônia de exploração, assegurada pelo pacto colonial, exploração, assegurada pelo pacto colonial, comércio exclusivo entre colônia e metrópole, e o comércio exclusivo entre colônia e metrópole, e o sistema produtivo à base de Plantation. A sistema produtivo à base de Plantation. A plantation tem como pilares de caracterização a plantation tem como pilares de caracterização a produção agrícola monocultora, feita em produção agrícola monocultora, feita em latifúndios (a grande propriedade da terra) e com latifúndios (a grande propriedade da terra) e com mão-de-obra escrava. Essa produção em larga-mão-de-obra escrava. Essa produção em larga-escala é voltada para a exportação monopolizada escala é voltada para a exportação monopolizada pela metrópole. Optou-se prioritariamente pela pela metrópole. Optou-se prioritariamente pela cana-de-açúcar, dado o conhecimento dos cana-de-açúcar, dado o conhecimento dos portugueses que já exploravam essa especiaria portugueses que já exploravam essa especiaria tropical nas ilhas das Antilhas, bem como sua tropical nas ilhas das Antilhas, bem como sua raridade e lucratividade no mercado europeu. raridade e lucratividade no mercado europeu.

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A mão-de-obra utilizada pela A mão-de-obra utilizada pela lucratividade foi a escrava. A questão da lucratividade foi a escrava. A questão da escravidão é um capítulo a parte. A escravidão é um capítulo a parte. A escravização da mão-de-obra indígena foi escravização da mão-de-obra indígena foi feita em larga escala no Brasil, apesar dos feita em larga escala no Brasil, apesar dos esforços das missões jesuíticas para a esforços das missões jesuíticas para a catequese dos índios a partir de 1550. A catequese dos índios a partir de 1550. A partir do século XVII, começaram a surgir, partir do século XVII, começaram a surgir, principalmente por pressões da Igreja, uma principalmente por pressões da Igreja, uma legislação de proteção do indígena contra a legislação de proteção do indígena contra a escravidão e venda dessas populações. Por escravidão e venda dessas populações. Por outro lado, a legislação deixava uma série outro lado, a legislação deixava uma série de brechas como o caso das de brechas como o caso das guerras guerras justasjustas. .

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Chamava-se guerra justa toda aquela Chamava-se guerra justa toda aquela feita contra tribos indígenas que não feita contra tribos indígenas que não aceitassem a imposição da catequese, o que aceitassem a imposição da catequese, o que era bem comum. A partir daí, dava-se a era bem comum. A partir daí, dava-se a justeza da guerra e essa tribo poderia ser justeza da guerra e essa tribo poderia ser escravizada. Acrescenta-se ainda o incentivo escravizada. Acrescenta-se ainda o incentivo de portugueses às rivalidades tribais. A de portugueses às rivalidades tribais. A cultura de tribos guerreiras existentes no cultura de tribos guerreiras existentes no Brasil foi apropriada pelos portugueses num Brasil foi apropriada pelos portugueses num esforço claro de criar prisioneiros que esforço claro de criar prisioneiros que poderiam ser escravizados. poderiam ser escravizados.

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As representações de As representações de banquetes canibais pintadas por banquetes canibais pintadas por Theodore De Bry nos mostra o Theodore De Bry nos mostra o espanto do olhar europeu sobre espanto do olhar europeu sobre o indígena americano. Para os o indígena americano. Para os

colonizadores era preciso colonizadores era preciso reprimir e escravizar essas reprimir e escravizar essas populações de hábitos tão populações de hábitos tão

diferentes e “aterrorizantes”.diferentes e “aterrorizantes”. A A América era como uma bela e América era como uma bela e perigosa mulher que tinha que perigosa mulher que tinha que ser vencida e domesticada para ser vencida e domesticada para ser melhor explorada. Para os ser melhor explorada. Para os jesuítas a missão era preciso jesuítas a missão era preciso

domesticar para depois inserir o domesticar para depois inserir o selvagem ao corpo cristão.selvagem ao corpo cristão.

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A resistência A resistência indígena à escravidão indígena à escravidão

era comum. As era comum. As guerras de resistência guerras de resistência aumentavam as taxas aumentavam as taxas de mortalidade que já de mortalidade que já

eram altas pelas eram altas pelas doenças e suicídios. doenças e suicídios.

Na gravura, vemos um Na gravura, vemos um ataque de indígenas a ataque de indígenas a

uma povoação de uma povoação de colonos.colonos.

Page 17: Colonização portuguesa na américa

O fato é que a densidade demográfica O fato é que a densidade demográfica indígena foi se escasseando. As guerras contra o indígena foi se escasseando. As guerras contra o colonizador e inter-tribais, as doenças européias colonizador e inter-tribais, as doenças européias que não encontravam anticorpos nos corpos que não encontravam anticorpos nos corpos indígenas, abortos e suicídios coletivos marcavam indígenas, abortos e suicídios coletivos marcavam a violência do massacre das populações indígenas. a violência do massacre das populações indígenas. A proteção jesuítica, ainda que questionada pelas A proteção jesuítica, ainda que questionada pelas práticas de “descimentos”, missões jesuíticas que práticas de “descimentos”, missões jesuíticas que alugavam o trabalho indígena, bem como o alugavam o trabalho indígena, bem como o extrativismo vegetal no norte do país, as extrativismo vegetal no norte do país, as chamadas drogas do sertão extraída pela chamadas drogas do sertão extraída pela exploração da mão-de-obra indígena em troca da exploração da mão-de-obra indígena em troca da catequese,catequese, foi um fator que dificultava a foi um fator que dificultava a escravidão indígena. escravidão indígena.

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Mais lucrativo já era o tráfico de negros Mais lucrativo já era o tráfico de negros na África. Traficantes lucravam com a na África. Traficantes lucravam com a venda de negros para os reinos escravistas venda de negros para os reinos escravistas sub-saarianos. Novas rotas de comércio de sub-saarianos. Novas rotas de comércio de negros são feitas para abastecer o negros são feitas para abastecer o mercado da mão-de-obra no Brasil. A mercado da mão-de-obra no Brasil. A chamada diáspora negra abastecia um chamada diáspora negra abastecia um lucrativo mercado e levava mão-de-obra lucrativo mercado e levava mão-de-obra gratuita ás Américas, Europa e Ásia.gratuita ás Américas, Europa e Ásia.

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““O modelo colonial O modelo colonial português se caracterizou português se caracterizou pelo escravismo colonial pelo escravismo colonial

que resultou da que resultou da combinação entre combinação entre

economia açucareira, economia açucareira, tráfico negreiro e tráfico negreiro e

exclusivismo metropolitano. exclusivismo metropolitano. Não se deve esquecer que Não se deve esquecer que

a escravidão era uma a escravidão era uma instituição forte em instituição forte em

Portugal, e era considerada Portugal, e era considerada justa, pois trazia os infiéis justa, pois trazia os infiéis

para o seio da Igreja.” para o seio da Igreja.” (Francisco Carlos T. da (Francisco Carlos T. da

Silva, Conquista e Silva, Conquista e colonização da América colonização da América

Portuguesa)Portuguesa)

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O comércio de O comércio de escravos era lucrativo em escravos era lucrativo em si e feito mesmo antes da si e feito mesmo antes da necessidade de mão-de-necessidade de mão-de-obra no Brasil. Traficantes obra no Brasil. Traficantes de várias partes da de várias partes da Europa compravam Europa compravam negros na África em troca negros na África em troca de produtos como tabaco de produtos como tabaco e Aguardente.Reis e tribos e Aguardente.Reis e tribos africanas passaram a africanas passaram a fazer parte dos lucros do fazer parte dos lucros do comércio. A maior parte comércio. A maior parte dos negros traficados dos negros traficados eram homens em idade eram homens em idade produtiva, o que gerava produtiva, o que gerava um problema ainda maior um problema ainda maior para as tribos africanas.para as tribos africanas.

Page 22: Colonização portuguesa na américa

A resistência negra no A resistência negra no Brasil também era grande e Brasil também era grande e

diversificada. Além das diversificada. Além das fugas e da formação de fugas e da formação de

vários quilombos vários quilombos (comunidade de negros (comunidade de negros

fugidos das senzalas), não fugidos das senzalas), não podemos esquecer da podemos esquecer da

resistência cultural através resistência cultural através de hábitos como a culinária de hábitos como a culinária

e a manutenção da e a manutenção da religiosidade africana. Claro religiosidade africana. Claro

que com muitas que com muitas apropriações e misturas, o apropriações e misturas, o

negro brasileiro vai negro brasileiro vai deixando de ser africano e deixando de ser africano e criando uma forma de ser e criando uma forma de ser e

sobreviver na colônia.sobreviver na colônia.

Page 23: Colonização portuguesa na américa

Na foto é claro Na foto é claro um processo de um processo de

absorção ou absorção ou apropriação dos apropriação dos

hábitos culturais dos hábitos culturais dos proprietários. Um proprietários. Um escravo de ganho escravo de ganho

podia ter meios para podia ter meios para vestir calças bem-vestir calças bem-postas, paletó de postas, paletó de

veludo, portar anel, veludo, portar anel, relógio de algibeira e relógio de algibeira e

chapéu-coco. Mas chapéu-coco. Mas tinha de andar tinha de andar

descalço, sinal do seu descalço, sinal do seu estatuto de escravo. estatuto de escravo. (Foto de Christiano (Foto de Christiano

Jr, c. 1860)Jr, c. 1860)

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Discussões historiográficas sobre a questão do latifúndio, da monocultura

e do pacto colonial

A nova historiografia vem criando A nova historiografia vem criando recentemente novas abordagens sobre o período recentemente novas abordagens sobre o período colonial que, se não contesta por completo essas colonial que, se não contesta por completo essas estruturas, deixa claro que a realidade colonial era estruturas, deixa claro que a realidade colonial era bem mais dinâmica e diversa do que as bem mais dinâmica e diversa do que as estruturas. Apesar dos esforços metropolitanos estruturas. Apesar dos esforços metropolitanos para a manutenção do pacto colonial, devemos para a manutenção do pacto colonial, devemos compreender que havia um amplo comércio compreender que havia um amplo comércio intercolonial, principalmente o que traficava intercolonial, principalmente o que traficava escravos na África ou os produtos ingleses que escravos na África ou os produtos ingleses que chegavam no Brasil. chegavam no Brasil.

Page 25: Colonização portuguesa na américa

A divisão de terras através da estrutura A divisão de terras através da estrutura latifundiária favorecida pela doação das capitanias latifundiária favorecida pela doação das capitanias hereditárias, bem como as chamadas seismarias, hereditárias, bem como as chamadas seismarias, ou seja, lotes que variavam de 6 a 24 Km doados ou seja, lotes que variavam de 6 a 24 Km doados pelos capitães donatários para a formação pelos capitães donatários para a formação principalmente de engenhos, também sofre principalmente de engenhos, também sofre abalos. Enquanto os latifúndios povoam o litoral abalos. Enquanto os latifúndios povoam o litoral brasileiro, a possibilidade de formação das brasileiro, a possibilidade de formação das chamadas chamadas brechas camponesasbrechas camponesas não é não é descartada. Tal produção cumpria a função de descartada. Tal produção cumpria a função de minimizar os custos de manutenção e de minimizar os custos de manutenção e de reprodução de trabalho para o dono do escravo, reprodução de trabalho para o dono do escravo, ao mesmo tempo em que permitia ao cativo ao mesmo tempo em que permitia ao cativo comprar suplementos à sua necessidade ou gosto, comprar suplementos à sua necessidade ou gosto, como bebidas, roupas, sapatos, jóias, tabaco e até como bebidas, roupas, sapatos, jóias, tabaco e até mesmo sua alforria ou a de seus familiares. mesmo sua alforria ou a de seus familiares.

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Sociedade PatriarcalSociedade Patriarcal

A família era tudo, nada menos. Seguindo a tradição A família era tudo, nada menos. Seguindo a tradição da época em que os portugueses se instalaram no Brasil, a da época em que os portugueses se instalaram no Brasil, a família não se compunha apenas de marido, mulher e família não se compunha apenas de marido, mulher e filhos. Era um verdadeiro clã, incluindo a esposa, eventuais filhos. Era um verdadeiro clã, incluindo a esposa, eventuais (e disfarçadas) concubinas, filhos, parentes, padrinhos, (e disfarçadas) concubinas, filhos, parentes, padrinhos, afilhados, amigos, dependentes e ex-escravos. Uma afilhados, amigos, dependentes e ex-escravos. Uma imensa legião de agregados submetidos à autoridade imensa legião de agregados submetidos à autoridade indiscutível que emanava da temida e venerada figura do indiscutível que emanava da temida e venerada figura do patriarca. Temida, porque possuía o direito de controlar a patriarca. Temida, porque possuía o direito de controlar a vida e as propriedades de sua mulher e filhos; venerada, vida e as propriedades de sua mulher e filhos; venerada, porque o patriarca encarnava, no coração e na mente de porque o patriarca encarnava, no coração e na mente de seus comandados, todas as virtudes e qualidades possíveis seus comandados, todas as virtudes e qualidades possíveis a um ser humano.a um ser humano.

Page 27: Colonização portuguesa na américa

"Era o patriarca de um grupo de famílias. (...) Era o "Era o patriarca de um grupo de famílias. (...) Era o Pai, o Sogro, o Avô; mas, antes de tudo, o Amigo e o Pai, o Sogro, o Avô; mas, antes de tudo, o Amigo e o Conselheiro. Jamais alguém ousou desrespeitá-lo, no lar Conselheiro. Jamais alguém ousou desrespeitá-lo, no lar ou fora dele. (...) Encamava a sabedoria e ninguém dele ou fora dele. (...) Encamava a sabedoria e ninguém dele se aproximava sem que, de imediato, se sentisse se aproximava sem que, de imediato, se sentisse envolvido pela confiança que irradiava de sua marcante envolvido pela confiança que irradiava de sua marcante personalidade". (Aroldo de Azevedo, referindo-se ao personalidade". (Aroldo de Azevedo, referindo-se ao fazendeiro Ignácio Cochrane.)fazendeiro Ignácio Cochrane.)

E quem era esse patriarca orgulhoso, a quem se E quem era esse patriarca orgulhoso, a quem se submetiam tudo e todos? Era o grande senhor rural, submetiam tudo e todos? Era o grande senhor rural, proprietário de terras incomensuráveis, onde se proprietário de terras incomensuráveis, onde se plantavam as bases da economia brasileira: café, cacau, plantavam as bases da economia brasileira: café, cacau, cana-de-açúcar e outras grandes lavouras. Era ele que cana-de-açúcar e outras grandes lavouras. Era ele que desde os tempos coloniais e imperiais presidia a única desde os tempos coloniais e imperiais presidia a única ordem perfeita e íntegra da sociedade brasileira: a ordem perfeita e íntegra da sociedade brasileira: a organizaçãoorganizaçãofamiliar. familiar.

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O homem branco é o senhor, dono, proprietário dos cinco O homem branco é o senhor, dono, proprietário dos cinco outros homens negros e mulatos. Os outros se encontram outros homens negros e mulatos. Os outros se encontram atrás. O primeiro à esquerda do senhor é mulato, está bem atrás. O primeiro à esquerda do senhor é mulato, está bem vestido. Ao contrário dos outros, deixou o cabelo meio liso vestido. Ao contrário dos outros, deixou o cabelo meio liso crescer, penteou-o, fez uma risca no lado esquerdo, como o crescer, penteou-o, fez uma risca no lado esquerdo, como o seu senhor. Mas não pode usar sapatos, privilégio e marca seu senhor. Mas não pode usar sapatos, privilégio e marca distintiva dos livres e libertos. Tirar fotografia era uma distintiva dos livres e libertos. Tirar fotografia era uma operação demorada. Ninguém podia se mexer durante quase operação demorada. Ninguém podia se mexer durante quase dois minutos. Outras tentativa já podiam ter falhado. dois minutos. Outras tentativa já podiam ter falhado. O O fotógrafo Militão, que fez essa foto em São Paulo, deve ter fotógrafo Militão, que fez essa foto em São Paulo, deve ter reclamado. Por isso ou por outras razões mais secretas, o reclamado. Por isso ou por outras razões mais secretas, o senhor está zangado, de cara amarrada. O escravo situado à senhor está zangado, de cara amarrada. O escravo situado à sua direita, assustado, encolheu-se. Na extrema esquerda, o sua direita, assustado, encolheu-se. Na extrema esquerda, o homem com a varinha na mão - pastor de cabras ou de vaca homem com a varinha na mão - pastor de cabras ou de vaca leiteira na cidade - tem um olhar altivo, talvez porque traga leiteira na cidade - tem um olhar altivo, talvez porque traga nas mãos o objeto de seu ofício, que o distingue dos outros nas mãos o objeto de seu ofício, que o distingue dos outros cativos, paus para toda obra. Na extrema direita, o homem de cativos, paus para toda obra. Na extrema direita, o homem de branco se mexeu: estragou a foto da ordem escravista branco se mexeu: estragou a foto da ordem escravista programada pelo seu senhor. Vai apanhar. No seu rosto fora programada pelo seu senhor. Vai apanhar. No seu rosto fora de foco vislumbra-se o medo. Vai apanhar.de foco vislumbra-se o medo. Vai apanhar.

(Luis Felipe de Alencastro. História da Vida Privada no (Luis Felipe de Alencastro. História da Vida Privada no Brasil, vol. 2, p. 18-19 )Brasil, vol. 2, p. 18-19 )

Page 31: Colonização portuguesa na américa

A fotografia feita no Recife por volta de 1860. Na época era

preciso esperar no mínimo um minuto e meio para se fazer uma foto. Assim, preferia-se fotografar

as crianças de manhã cedo, quando elas estavam meio

sonolentas, menos agitadas. O menino veio com a sua mucama, enfeitada com a roupa chique, o

colar e o broche emprestado pelos pais dele. Do outro lado, além do fotógrafo Villela, podiam estar a mãe, o pai e outros parentes do menino. Talvez por sugestão do fotógrafo, talvez porque tivesse

ficado cansado na expectativa da foto, o menino inclinou-se e

apoiou-se na ama. Segurou a com as duas mãozinhas. Conhecia bem o cheiro dela, sua pele, seu calor.

Page 32: Colonização portuguesa na américa

Fora no vulto da ama, ao lado do berço ou Fora no vulto da ama, ao lado do berço ou colado a ele nas horas diurnas e noturnas da colado a ele nas horas diurnas e noturnas da amamentação, que os seus olhos de bebê amamentação, que os seus olhos de bebê haviam se fixado e começado a enxergar o haviam se fixado e começado a enxergar o mundo. Por isso ele invadiu o espaço dela: ela mundo. Por isso ele invadiu o espaço dela: ela era coisa sua, por amor e por direito de era coisa sua, por amor e por direito de propriedade. O olhar do menino voa no devaneio propriedade. O olhar do menino voa no devaneio da inocência e das coisas postas em seu devido da inocência e das coisas postas em seu devido lugar. Ela, ao contrário, não se moveu. Presa à lugar. Ela, ao contrário, não se moveu. Presa à imagem que os senhores queriam fixar, aos imagem que os senhores queriam fixar, aos gestos codificados de seu estatuto. Sua mão gestos codificados de seu estatuto. Sua mão direita, ao lado do menino, está fechada no direita, ao lado do menino, está fechada no centro da foto, na altura do ventre, de onde centro da foto, na altura do ventre, de onde nascera outra criança, da idade daquela. nascera outra criança, da idade daquela.

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Manteve o corpo ereto, e do lado esquerdo, Manteve o corpo ereto, e do lado esquerdo, onde não se fazia sentir o peso do menino, seu onde não se fazia sentir o peso do menino, seu colo, seu pescoço, seu braço escaparam da colo, seu pescoço, seu braço escaparam da roupa que não era dela, impuseram à roupa que não era dela, impuseram à composição da foto a presença incontida de seu composição da foto a presença incontida de seu corpo, de sua nudez, de seu ser sozinho, da sua corpo, de sua nudez, de seu ser sozinho, da sua liberdade. liberdade.

O mistério dessa foto feita há 130 anos O mistério dessa foto feita há 130 anos chega até nós. A imagem de uma união chega até nós. A imagem de uma união paradoxal mas admitida. Uma união fundada no paradoxal mas admitida. Uma união fundada no amor presente e na violência pregressa. A amor presente e na violência pregressa. A violência que fendeu a alma da escrava, abrindo violência que fendeu a alma da escrava, abrindo o espaço afetivo que está sendo invadido pelo o espaço afetivo que está sendo invadido pelo filho do senhor. Quase todo o Brasil acabe nessa filho do senhor. Quase todo o Brasil acabe nessa foto.foto.

(Luis Felipe de Alencastro História da Vida Privada (Luis Felipe de Alencastro História da Vida Privada no Brasil, vol. 2, p. 439-440) no Brasil, vol. 2, p. 439-440)

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Claro que a sociedade Claro que a sociedade colonial brasileira não era colonial brasileira não era feita somente da família feita somente da família patriarcal dos grandes patriarcal dos grandes proprietários de terras e de proprietários de terras e de seus escravos. A sociedade seus escravos. A sociedade estava além de somente a estava além de somente a casa-grande e a senzala. casa-grande e a senzala. Quanto maior era o Quanto maior era o desenvolvimento da região, desenvolvimento da região, maior comércio interno e maior comércio interno e formação de vilarejos, maior formação de vilarejos, maior também eram os chamados também eram os chamados setores médios da sociedade. setores médios da sociedade. Ou seja, os que não eram Ou seja, os que não eram proprietários, mas também proprietários, mas também não eram escravos. não eram escravos.

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A existência de homens livres, ex-A existência de homens livres, ex-escravos que conseguiam ter uma pequena escravos que conseguiam ter uma pequena ou média propriedade de terra e produzir ou média propriedade de terra e produzir uma série de artigos agrícolas como milho, uma série de artigos agrícolas como milho, farinha para o abastecimento do mercado farinha para o abastecimento do mercado interno. O comércio interno, sobretudo em interno. O comércio interno, sobretudo em capitanias como a de São Vicente, também capitanias como a de São Vicente, também se destacava. Fortunas se criaram com o se destacava. Fortunas se criaram com o comércio e havia ainda a dinamização da comércio e havia ainda a dinamização da hierarquia social, a medida que grupos hierarquia social, a medida que grupos sociais médios não escravos e não sociais médios não escravos e não detentores de escravos surgiam. detentores de escravos surgiam.

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Novos grupos sociais Novos grupos sociais surgiam, principalmente surgiam, principalmente

em cidades e vilas. em cidades e vilas. Setores médios, Setores médios, comerciantes, comerciantes,

vendedores ambulantes, vendedores ambulantes, trabalhadores de grosso trabalhadores de grosso trato, escravos de ganho trato, escravos de ganho

e uma infinidade de e uma infinidade de profissões ganhavam profissões ganhavam forma na sociedade forma na sociedade

brasileira, contrariando a brasileira, contrariando a historiografia tradicional, historiografia tradicional,

que acreditava num que acreditava num Brasil branco (de Brasil branco (de

proprietários) e preto (de proprietários) e preto (de escravos). escravos).

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Escravidão não é tudo a mesma coisaEscravidão não é tudo a mesma coisa