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Educ Med Salud, Vol. 25, No. 3 (1991) COLETA DE DADOS PARA PESQUISAS EM ENFERMAGEM NO BRASIL - ESTRATEGIAS, VALIDADE E CONFIABILIDADE Silvia Helena de Bortoli Cassiani 1 e Nilza Teresa Rotter Pelá' INTRODU(AO A pesquisa científica brasileira, com menos de 80 anos, é bastante recente quando comparada com os 450 anos da ciencia. Foi ela introduzida no país no início deste século a fim de ajudar o estudo para combater a peste que assolou a cidade do Rio de Janeiro (1). A investigaaáo científica em Enfermagem é ainda mais recente, com menos de 30 anos (2-5). Seu propósito é aumentar o cabedal de conhecimentos da profissáo visando melhorar a qualidade da assisténcia que esta presta ao ser humano. Nas investigaçóes científicas é necessario utilizar certas estraté- gias de coleta de dados 2 para que estes possam ser corretamente coletados, analisados e para que produzam conhecimentos. Sáo quatro as técnicas básicas aplicadas para a coleta de dados: questionários e entrevistas, regis- tros, observaçóes e experimentaçáo (6). Cada uma destas contém numerosos tipos de instrumentos, que poderáo ser táo inovátivos quanto seja a capa- cidade do pesquisador de os criar. Nas pesquisas em enfermagem as estratégias mais utilizadas sao os questionários e as técnicas de observaaáo ou de revisao cle registros (7- 9). Observa-se a pouca utilizaaáo de outras estratégias, tais como: as escalas, as técnicas de Delphi, a metodologia Q e a técnica do grupo nominal nas Docente, Escola de Enfermagem de Ribeiráo Preto, Universidade de Sáo Paulo. Endereço: Avenida Bandeirantes, 3.900, Campus da USP de Ribeiráo Preto, 14.049 Ribeiráo Preto, SP, Brasil. 2 A justificativa para o emprego, neste trabalho, do termo estratégia de coleta de dados está no fato dos autores o considerarem mais abrangente do que os termos método ou instru- mento. 241

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Educ Med Salud, Vol. 25, No. 3 (1991)

COLETA DE DADOSPARA PESQUISAS EM ENFERMAGEMNO BRASIL - ESTRATEGIAS,VALIDADE E CONFIABILIDADE

Silvia Helena de Bortoli Cassiani1 e Nilza Teresa Rotter Pelá'

INTRODU(AO

A pesquisa científica brasileira, com menos de 80 anos, é bastanterecente quando comparada com os 450 anos da ciencia. Foi ela introduzidano país no início deste século a fim de ajudar o estudo para combater apeste que assolou a cidade do Rio de Janeiro (1).

A investigaaáo científica em Enfermagem é ainda mais recente,com menos de 30 anos (2-5). Seu propósito é aumentar o cabedal deconhecimentos da profissáo visando melhorar a qualidade da assisténciaque esta presta ao ser humano.

Nas investigaçóes científicas é necessario utilizar certas estraté-gias de coleta de dados2 para que estes possam ser corretamente coletados,analisados e para que produzam conhecimentos. Sáo quatro as técnicasbásicas aplicadas para a coleta de dados: questionários e entrevistas, regis-tros, observaçóes e experimentaçáo (6). Cada uma destas contém numerosostipos de instrumentos, que poderáo ser táo inovátivos quanto seja a capa-cidade do pesquisador de os criar.

Nas pesquisas em enfermagem as estratégias mais utilizadas saoos questionários e as técnicas de observaaáo ou de revisao cle registros (7-9). Observa-se a pouca utilizaaáo de outras estratégias, tais como: as escalas,as técnicas de Delphi, a metodologia Q e a técnica do grupo nominal nas

Docente, Escola de Enfermagem de Ribeiráo Preto, Universidade de Sáo Paulo. Endereço:Avenida Bandeirantes, 3.900, Campus da USP de Ribeiráo Preto, 14.049 Ribeiráo Preto,SP, Brasil.

2 A justificativa para o emprego, neste trabalho, do termo estratégia de coleta de dados estáno fato dos autores o considerarem mais abrangente do que os termos método ou instru-mento.

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pesquisas realizadas por enfermeiras sendo, consequentemente, pouco co-nhecidas e divulgadas.

Para que as estrateigias empregadas para a coleta de dados sejameficazes, é necessário que forneçam informaçóes que sejam náo só rele-vantes mas isentas de erros sistemáticos, i.e., válidas e confiáveis (10). De-fine-se validade de uma rnediaáo como sendo o grau com que urn instru-rriento mede aquilo que se propóe a medir; e confiabilidade, o grau deconsistencia ou exatidáo com que o instrumento mede o seu atributo.

Com o passar dos anos aumenta a preocupaçao com relaaáo ávalidade e á confiabilid.ade das medidas tomadas em enfermagem e, mesmona década de 80, a maioria dos pesquisadores ainda falhavam ao detalharos testes e as medidas de validade empregadas (11). Diante deste quadro,evidencia-se a necessidade de dirigir a atençao dos pesquisadores em en-fermagem, brasileiros, especificamente para a etapa da coleta de dados afim de que especifiquem como foram obtidas as medidas utilizadas naspesquisas.

Com este objetivo, elaboraram-se duas questóes-proble:mas:

* Quais as estiratégias de coleta de dados (ECD) utilizadas nas pes-quisas em enfermagem?

* Que fazem os pesquisadores para garantir a validade e a con-fiabilidade cla estratégia de coleta de dados que utilizam e, con-sequentemente, os resultados que obtém?

Determinou-se que para atingir os propósitos estabelecidos serianecessário:

* Preparar urna lista das estratégias de coleta de dados rnais uti-lizadas pelos pesquisadores;

* verificar que procedimentos os pesquisadores utilizavam paradeterminar a confiabilidade e a validade da ECD e

* discutir e relacionar os procedimentos utilizados com aquelesrecomendados pela literatura consultada.

MATERIAL E MÉTODO

O universo deste trabalho constituiu-se das dissertaçoes de mes-trado e teses de doutorado defendidas no período de 1977 a 1986 na Escolade Enfermagem da Universidade de Sáao Paulo (USP), na Escola de En-fermagem de Ribeiráo Preto da USP e no Departamento de Enfermagemda Escola Paulista de Medicina, assim como as pesquisas publicadas na

Coleta de dados para pesquisas em enfermagem no Brasil / 243

Revista Brasileira de Enfermagem entre 1977 e 1986, exceçao feita aoprimeiro volume do ano de 1977 por se tratar do Índice Cumulativo.

Fez-se um levantamento de cada um dos trabalhos escolhidoscolhendo-se deles informaó6es sobre as estratégias para a coleta dos dadose sobre os procedimentos utilizados para assegurar sua validade e confia-bilidade.

Para facilitar e dinamizar a coleta dos dados, elaborou-se umformulário para registrar as seguintes informaçoes: título do trabalho, anoe local da defesa ou publicaaáo, tipo de trabalho, tipo de estratégia de coletade dados utilizada e os procedimentos citados pelos pesquisadores paracomprovar a validade e a confiabilidade da ECD.

A fim de assegurar a qualidade e a confiabilidade do formulárioproposto, foi o mesmo submetido a duas aplicaçóes, ou seja: dez trabalhosforam revistos duas vezes, com um intervalo de trés semanas entre asaplicaçóes, e comparados os resultados obtidos nas duas aplicaçóes. Obteve-se uma concordancia de 92,8%.

RESULTADOS

Dos 542 trabalhos examinados, 339 (62,5%) utilizaram estraté-gias de coleta de dados sendo que em 337 (62,1%) destes últimos haviacitaçáo sobre a estratégia e em 2 (0,5%) náo havia. Os restantes 203 (37,5%)dos trabalhos náo utilizaram ECD por se tratarem de monografias, relatosde experiencias e outros tipos de trabalhos.

Das 224 dissertaçóes e teses defendidas, 120 (53,6%) foram daEscola de Enfermagem da USP, 70 (31,3%) da Escola de Enfermagem deRibeiráo Preto da USP e 34 (15,1%) do Departamento de Enfermagem daEscola Paulista de Medicina. Durante o período estudado náo foram de-fendidas teses de doutorado neste último.

Para o presente estudo, consideraram-se como sendo trabalhosque utilizaram um tipo de estratégia de coleta de dados, aqueles em que opesquisador cita a utilizaçáo de somente um tipo de estratégia, e trabalhosque utilizaram mais de um tipo de estratégia de coleta de dados aqueles onde opesquisador cita ter utilizado duas os mais estratégias para a coleta dosdados.

Os dados numéricos apresentados nas tabelas que se seguem,referem-se áqueles trabalhos que utilizaram algum tipo de estratégia. Comopoderá ser observado, 194 dos trabalhos aqui analisados foram dissertaó6esde mestrado, 13 teses de doutorado e 130 publicaó6es da Revista Brasileirade Enfermagem. O baixo número de teses de doutorado deve-se ao fatode que somente em 1983 ter sido defendida a primeira tese de doutoradonas escolas estudas.

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TABELA 1. Distribuiaáo dos trabalhos que utilizaram um único tipo de estratégiade coleta de dados. Freqijencia e porcentagem.

Trabalho

Tipo de estratégia de Mestrado Doutorado Publicaó6es Totalcoleta de dados Fa % Fa % Fa % Fa %

Entrevista 93 59,2 5 45,4 25 21,2 123 43,0Questionário 21 13,3 1 9,1 35 29,6 57 20,0Medidas fisiológicas 20 12,8 2 18,2 12 10,2 34 11,9Formulário 9 5,8 14 11,9 23 8,1Revisáo de registro 4 2,5 12 10,2 16 5,6Observaçáo 7 4,5 2 18,2 7 6,0 16 5,6Fichas 2 1,3 4 3,4 6 2,1Estudo de caso 1 0,6 1 9,1 2 1,7 4- 1,4Processo de enfermagem 3 2,5 3 1,1Levantamento 1 0,8 1 0,3Orientaçáo de

enfermagem 1 0,8 1 0,3Escala diferencial

semántica 1 0,8 1 0,3Scciodrama 1 0,8 1 0,3

Total 157 100,0 11 100,0 118 100,0 286 100,0

aFreqü^ncia.

Examinando a tabela 1 observa-se que entrevistas, questionários,medidas fisiológicas e formulários foram as estratégias mais empregadaspelos pesquisadores que utilizaram somente um tipo de ECD (43,0, 20,0,1 :1,9 e 8,1%, respectivamente). A ECD mais empregada nas dissertaçóes demestrado foi a entrevista (59,2%), enquanto que nas publicaçóes consul-tadas da Revista Brasileira de Enfermagem a estratégia mais utilizada foio questionário (29,6%). Nas teses de doutorado foram as entrevistas (45,4%),seguidas das observaçóes (18,2%) e das medidas fisiológicas (18,2% ) as ECDmais utilizadas.

Em relaáo a;os trabalhos que aplicaram mais de um tipo de ECDas mais utilizadas foram entrevista e observaçáo (23,5%), seguindo-se ob-servaçáo e questionário (9,8%) e formulário e observaçáo (9,8%), sendoque 29,7% das dissertaçóes de mestrado utilizaram entrevista e obseirvafáo,conforme se poderá ver na tabela 2.

Validade e confiabilidade das ECD

Da análise dos trabalhos que utilizaram estratégias de coleta dedados, extrairam-se 23 operaçoes que os autores dos trabalhos citaram terempregado para testar a estratégia proposta.

Coleta de dados para pesquisas em enfermagem no Brasil / 245

TABELA 2. Distribuiçáo das dissertaçoes de mestrado, teses de doutoradoe publicaçóes que utilizaram mais de um tipo de estratégia de coleta de dados.Frequencia e porcentagem.

Trabalho

Tipo de estratégia de coleta Mestrado Doutorado Publicaoóes Totalde dados Fa % Fa % Fa % F- %

Entrevista e observaçáoObservaçáo e questionárioFormulário e observaaáoEntrevista e processo de

enfermagemEntrevista e questionárioEntrevista e revisáo de

registroObservaçáo e fichaObservaçáo, entrevista,

teste e questionárioRevisáo de registro e

questionárioQuestionário e processo

de enfermagemEntrevista, observaaáo e

questionárioEntrevista e medida

fisiológicaEntrevista, levantamento e

questionárioEntrevista e formulárioLevantamento e

questionárioMedida fisiológica e

formularioObservaçáo, entrevista e

técnicas sociaisObservaçáo e processo de

enfermagemQuestionário e testesEntrevista, observaçáo e

medidas fisiológicas

Total

11 29,72 5,45 13,5

3 8,13 8,1

1 2,72 5,4

1 2,7

1 2,7

1 2,7

1 2,7

1 2,7

1 2,7

1 2,7

1 2,71 2,7

1 2,7

37 100,0

1 8,4 12 23,53 25,0 5 9,8

5 9,8

1 8,4 4 7,83 5,9

2 16,6 3 5,92 3,9

1 50,0 2 3,9

1 8,4 2 3,9

1 50,0 2 3,9

2 16,6 2 3,9

1 2,0

1 2,01 8,4 1 2,0

1 8,4 1 2,0

1 2,0

1 2,0

1 2,01 2,0

1 2,02 100,0 12 100,0 51 100,0

aFreqeéncia.

As informaçóes obtidas foram agrupadas a fim de permitir adistribuiçáo dos dados em tabelas para análise. Esses agrupamentos acham-se descritos no quadro 1 onde, sob o título procedimentos agrupados, estáorelacionados os 23 procedimentos em questáo.

A tabela 3, que apresenta a distribuiçáo dos trabalhos analisadosquanto ao procedimento adotado pelo pesquisador para evidenciar a va-lidade e a confiabilidade da ECD, permite observar que em 194 (57,5%)trabalhos o pesquisador náo descreveu o procedimento empregado e que

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QUADRO 1. Agrupamentos dos procedimentos coletados para evidenciar a validadee a confiabilidade das estratégias de coleta de dados.

Categoria Procedimentos

1. Pesquisador náo descreveu oprocedimento

II. Teste prévio

III. Anterior utilizaçáo de pesquisasexploratórias

IV. ECD utilizada anteriormente

V. Validade aparente e/ou deconteúdo

VI.VII.

VIII.

Recorreu a perito no métodoMedidas de validade e deconfiabilidadeAferiçáo da examinadora

- Pesquisador citou que náo testara por considerar oinstrumento satisfatório

- Pesquisador mencionou náo ter validado oinstrumento

- Pesquisador nao citou nenhum instrumento- Pesquisador mencionou náo ter testado o

instrumento- Estudos preliminares- Teste ou plano piloto- Ensaios- Experimento e avaliaçáo- Pré-teste do instrumento- Instrumento testado anteriormente- Teste e reteste de compreensáo da linguagem- Exame dos itens e correspondencia corn a variável- Todos os itens testados- Pesquisador citou a realizaçáo prévia de pesquisas

exploratórias como indicaçáo da adequaçao doinstrumento

- O pesquisador citou ter baseado o instrumento emum já utilizado por outro autor

- O pesquisador mencionou que o instrumentoutilizado já o houvera sido em outro trabalho

- O pesquisador baseou seu instrumento em umpreviamente utilizado por outro autor e realizouensaios

- Teste piloto e análise por juizes- Utilizou juizes na análise do instrumento- Utilizou validade aparente e/ou de conteúdo- Recorreu a perito no método- Utilizou validade aparente e de conteúdo bem

como o método de consistencia interna- Aferiçáo feita pela examinadora

em 1I2 (33,2%) trabalhos um teste fora realizado antes de utilizada a ECD.Em um único caso, um artigo, preocupou-se o pesquisador em evidenciara validade e a confiabilidade da ECD que utilizou.

Nesta mesma tabela observa-se também que enquantlo nos tra-balhos de dissertaçáo de rmestrado o teste prévio da ElCD é efeituado commaior freqeéncia (47,4%), as publicaó6es (84,6%) raramente descrevem oprocedimento utilizado, se é que o teste foi feito.

Onze dissertaçóes de mestrado (5,7%) tarmbém descreveram autilizaaáo de pesquisas exploratórias como um procedimento a se:r realizadoantes da coleta de dados, a fim de garantir sua validade e confiabilidade.

Coleta de dados para pesquisas em enfermagem no Brasil / 247

TABELA 3. Distribuiçáo dos trabalhos consultados quanto aos procedimentosutilizados pelo pesquisador para evidenciar a validade e confiabilidade daestratégia de coleta de dados.

Trabalho

Mestrado Doutorado Publicaçóes TotalTipo de procedimento Fa % Fa % Fa % Fa %

I. Pesquisador nao descreveo procedimento 79 40,7 5 38,5 100 84,6 194 57,5

II. Teste prévio 92 47,4 5 38,5 15 11,5 112 33,2III. Utilizaçao anterior de

pesquisa exploratória 11 5,7 11 3,3IV. ECD utilizada

anteriormente 5 2,6 1 7,7 3 2,3 9 2,7V. Validade aparente ou de

conteúdo 5 2,6 2 15,4 1 0,8 8 2,4VI. Pesquisador recorreu a

perito no método 1 0,5 1 0,3VII. Pesquisador utilizou

medida de validade ede confiabilidade 1 0,8 1 0,3

VIII. Aferiçáo daexaminadora 1 0,5 1 0,3

Total 194 100,0 13 100,0 130 100,0 337 100,0

aFreqeéncia.

A tabela 4 indica que dos 123 trabalhos que utilizaram a entre-vista como ECD, 60 (48,8%) aplicaram o teste prévio para assegurar suavalidade e confiabilidade. Dos 57 trabalhos que utilizaram o questionáriocomo ECD, 32 (56,2%) náo descreveram o procedimento utilizado. Somenteum trabalho (1,8%) evidenciou as medidas de validade e confiabilidade doquestionário proposto.

Pela tabela 5 constata-se que em 55% dos trabalhos que utili-zaram mais de um tipo de ECD, o pesquisador náo descreve o procedimentoempregado para evidenciar sua validade e confiabilidade. A estratégia maisempregada foi entrevista e observaçao, sendo que em 50% dos casos opesquisador náo citou o procedimento utilizado.

DISCUSSÁO

Pelo exposto, os resultados obtidos neste estudo acompanhamos da literatura que afirmam serem a entrevista, o questionário, a revisáode registros e a observaçáo as estratégias de coleta de dados mais utilizadasnas pesquisas em enfermagem.

Observa-se que na maioria dos trabalhos analisados o investi-gador desenvolve sua própria estratégia de coleta de dados a ser empregada

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Coleta de dados para pesquisas em enfermagem no Brasil / 249

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na pesquisa. Embora pareja ser evidente que a utilizaáao de uma estratégiade coleta de dados já desenvolvida e validada facilitaria o trabalho dopesquisador -por náo ter de, invididualmente, desenvolver suas própriasestratégias- somente em nove (3,2%) trabalhos a estratégia tinha sidoutilizada anteriormente.

Em alguns dos trabalhos analisados, observou-se haver preo-cupaçáo por parte do pesquisador de desenvolver uma estratégia, eviden-ciar suas confiabilidade e validade e apresentá-la a seus pares.

Observou-se, principalmente nas teses e dissertaó6es estudadas,que o pesquisador normalmente descreve os itens do instrumento e fazuma breve mençáo ao teste aplicado, em geral um estudo piloto, pré-testeou ensaios. Dos 337 t:rabalhos que utilizaram estratégias de coleta de dados,somente nove (2,7%) submeteram seus instrumentos á análise de juízes ouautoridades, assini evidenciando a validade do conteúdo. Convém ressaltarque o termo validade de conteúdo náo foi citado nesses trabalhos, embora:osse relevante dar esta explicitaçáo como forma de assegurar o rigor me-lodológico aplicado.

A necessidade dos pesquisadores evidenciarem a confiabilidadee a validade das estratégias de coleta de dados torna-se ainda mais impor-clante quando se verifica, conforme demonstrado, que em 57,5% dos tra-balhos analisados n5o há citaçáo de nenhum teste a que o pesquisador:ivesse submetido a EiCD.

O teste prévio, conforme já foi dito, foi evidenciado em 33,2%dos trabalhos analisados; porém o mesmo náo pode ser visto isoladamentecomo meio indicativo da validade e confiabilidade da ECD. A relaá5o es-t:abelecida entre a realizaçáo de um teste prévio e a ECD se assemelha áiinter-relaçao entre os0 dados de campo preliminares e as operaó6es da pes-quisa posterior (12). 0 pré-teste deve ser sempre aplicado, seja qual for aestratégia escolhida. Ao pré-testar a entrevista, o questionário, etc., o pes-quisador torna-se mais familiarizado com o procedimento e comr o grupo.[sto o capacita a efetiuar mudanças no procedimento, a fazer adiçoes ou

alteraç6es nos quesitos, ou a esclarecer os procedimentos da observaçáo(i13).

Tal como o teste prévio, a pesquisa exploratória, por si só, náopode ser considerada como indicaçdo de fidelidade da ECD. As funó6esdo estudo exploratório (10) sáo:

* intensificar a farniliaridade do pesquisador com o fenómeno quedeseja investigar em estudo subsequente, de contextura maiselevada, ou do ambiente em que pretende realizar tal estudo;

Coleta de dados para pesquisas em enfermagem no Brasil / 251

* esclarecer conceitos;* estabelecer prioridades para pesquisas posteriores e* colher informaó6es sobre as possibilidades práticas de realizar

pesquisas no meio ambiente em questáo.

Nada na literatura menciona a utilizaçáo da pesquisa exploratória comoforma de assegurar a validade e confiabilidade das ECD.

CONCLUSOES

Após analisar os resultados obtidos, chegou-se á conclusáo queas respostas aos dois questionamentos que nortearam o presente trabalho,quais sejam:

* Quais as estratégias de coleta de dados (ECD) utilizadas nas pes-quisas em enfermagem?

* Que fazem os pesquisadores para garantir a validade e a con-fiabilidade da estratégia de coleta de dados que utilizam e, con-sequentemente, os resultados que obtém?

foram:

* cerca de 88,6% das pesquisas em enfermagem utilizam entre-vistas, questionários, formulários, medidas fisiológicas e obser-vaç6es como estratégias de coleta de dados;

* dos pesquisadores analisados, 57,5% náo citam a utilizaaáo deprocedimentos para demonstrar a validade e a confiabilidadedas ECD; mesmo quando há alguma citaçáo, esta refere-se arealizaçao de um teste prévio;

* dos trabalhos analisados, 90,7% ou citam o teste prévio ou náocitam o procedimento utilizado para evidenciar a validade e aconfiabilidade das ECD, tornando impossível relacionar os pro-cedimentos utilizados com os mencionados na literatura.

SUGESTOES

Os autores julgam ser de suma importancia adotar as seguintesmedidas:

* Incrementar os estudos metodológicos visando o desenvolvi-mento de estratégias de coleta de dados com comprovaçáo dasua validade e confiabilidade. A divulgaçáo dessas ECD e a des-criaáo de como foram efetuadas as mediç6es de validade e con-fiabilidade sáo indispensáveis.

* Estimular, entre os pesquisadores em enfermagem, a busca de

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estratégias de coleta de dados previamente desenvolvidas, inclu-sive a utiliizaçáo de estudos de reaplicaçáo que avaliern sua con-fiabilidade e validade.

* Requerer que os pesquisadores, ao publicarem seus trabalhos,citem a confiabilidade e a validade das ECD.

* Que os cursos de Metodologia Científica enfatizem a importanciade evidenciar a validade e a confiabilidade das estratégias decoleta de dados utilizadas nas pesquisas.

Conforme dito acima, observou-se que em um dos artigos ana-lisados o pesquisador se preocupou em evidenciar a validade e a confia-bilidade das estratégiias que empregou; isto parece indicar que os caminhosacertados come5 am a ser percorridos.

RESUMO

Para o presente estudo, cujo objetivo foi encontrar respostas paraas duas questóes: quais as estratégias de coleta de dados (ECD) utilizadasnas pesquisas em enfermagem? e que fazem os pesquisadores para garantira validade e a confiabilidade da estratégia de coleta de dados que utilizame, consequentemente, os resultados que obtém?, examinaram-se 542 tra-balhos - defendidos e ou publicados entre 1977 e 1986. Destes, 207 foramdissertaçóes de rnestrado, 17 foram teses de doutorado e 328 foram artigospublicados na Revista Brasileira de Enfermagem.

Os autores concluíram que 88,6% das pesquisas utilizaram en-trevistas, questionários, formulários, medidas fisiológicas e observaaáo comoestratégia para a coleta de dados. A maioria dos pesquisadores nao citarama utilizaçáo de procedimentos para evidenciar a validade e a confiabilidadedas estratégias empregadas. Nos casos em que houve alguma menaáo, estareferia-se á realizaçao de um teste prévio. Observaram, também, que grandeparte dos pesquisadores desenvolveu sua própria estratégia para a coletados dados, havendo pouca utilizaçao de estratégias previamente desenvol-vidas.

Os autores sugerem que se incrementem os estudos metodoló-gicos a fim de desenvolver estratégias de coleta de dados com evidenciagarantida de sua validade e confiabilidade.

Coleta de dados para pesquisas em enfermagem no Brasil / 253

REFERENCIAS

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