coleção primeiro amor 17 - o segredo de malory - diane namm-

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O segredo de Malory

Contra Capa

 Todo mundo sabe que o amor é um risco - que a gente arrisca quandoentrega o coração à pessoa amada. Mas será que Ben tinha mesmo idéia decomo era perigoso se apaixonar?

Amor, mentiras e segredos

Malory percebeu que estava olhando para si mesma. A reprodução eraexata: ela ao piano, as mãos finas em movimento. A figura, desenhada alápis, parecia estar tocando em meio a um sonho, cercada por um halo deluz difusa.

- Mas esta sou eu - murmurou incrédula. - Como conseguiu?Ben encolheu os ombros.- Não tem nada demais.- Como não? Tem sim, e muito - disse ela, erguendo os olhos rumo aos

dele, cheia de admiração.- Obrigado - Ben desviara rapidamente o olhar, como se estivesse

constrangido.Onde ela estava com a cabeça? Não podia permitir que retratos seus

circulassem pela cidade, nem mesmo no caderno de desenhos do Ben. E sepor acaso alguma pessoa visse? A pessoa errada?

A voz do pai ecoou-lhe muito nítida na lembrança: "Nada de retratos,nada de fotos".

- Eu meio que gostaria que você não tivesse feito isso - Malory pegou-sedizendo.Ben olhou para ela, espantado.- Como assim?Malory quis dizer alguma coisa, qualquer coisa, para explicar-se, mas

tudo que conseguiu foi dar de cara com o olhar magoado de Ben. Não podiacontar a ele. Nem agora. Nem nunca.

Prólogo

O dedo de Malory Hunter tremia de forma incontrolável ao discar onúmero do escritório da mãe. O vento gelado do Nebraska açoitava seuslongos cabelos loiros, soprando-os para o rosto. Encolheu-se na cabinatelefônica, tiritando de frio e de medo.

- Vamos, mãe - implorava ela, batendo os dentes -, atenda!- Carole Russell - a mãe respondeu finalmente.- Oi, mãe, sou eu, Chelsea.- Chelsea... - repetiu ela, e logo soube que havia algo errado. - Onde você

está?- Temos visitas - Malory tentou controlar a voz. - Eu levo as flores. Você

compra o pão. Vamos nos encontrar no armazém da esquina.E, tendo dado o alarme, desligou imediatamente. A mãe conhecia o

código. Ligaria para o marido e logo todos estariam "mobilizados", como

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dizia o pai. Tremendo inteira, Malory ajustou melhor o anoraque preto depluma em volta do corpo.

Mesmo assustada, pensava na mãe. Sabia que, naquele momento,estaria morrendo de medo. Coitada, pensou. Ela simplesmente não foi feita

 pra isso.Malory tinha de pensar rápido. Não podia se dar ao luxo de cometer um

erro quase fosse... seria fatal.Deu uma boa olhada na rua. O trânsito estava diminuindo, depois do

movimento da manhã. A maioria das pessoas já tinha ido para o serviço,quase todo mundo trabalhava numa das cidades maiores da redondeza. Osmais jovens já estavam no colégio e seus irmão gêmeos, Mike e Tom,tinham sido deixados às oito horas na escola primária. Malory conferiu orelógio: 8h35. Calculou que os meninos já deviam estar dentro da classe, oque dificultava tudo. Agora teria de dar alguma desculpa, uma morte nafamília ou algo parecido, para tirá-los da escola. Odiava mentir, mas nãotinha outro jeito...

Fez um esforço para sair da cabina telefônica, os dentes batendo e a

adrenalina correndo solta pelo sangue. A calçada ainda estava coberta dogelo da última neve e o chão estalava sob suas botas pesadas, O medoameaçava dispersar seus pensamentos, de modo que se concentrou com omaior cuidado naquilo que precisava fazer.

Evite Lincoln... pegue os meninos... evite a casa... vá pelas ruas de trásaté o cemitério... aja com normalidade.

Colocou a mochila verde EMS nas costas, saltou para a bicicleta eagradeceu aos céus o fato de o leito das ruas estar sem neve nem gelo,bem coberto de areia. Enquanto pedalava em direção à escola dos meninos,sentiu a frustração crescer dentro dela, junto com o medo. O FBI garantiraque eles estariam a salvo ali! E fazia um ano apenas!

Súbito, teve um pensamento aterrador.

Onde estava o FBI?Dessa vez, ela é que dera o alarme. Ela é que descobrira que não

estavam mais a salvo. Não havia nem sinal do FBI. A coisa toda ficara acargo de uma garota de dezesseis anos chamada Malory Hunter,atualmente conhecida como Chelsea Russell.

E fora pura sorte. Estremeceu e pedalou mais rápido. Pura esimplesmente sorte.

Malory não pôde evitar de reconstituir mentalmente os acontecimentosda manhã. Como de hábito, saíra de casa por volta de quinze para as oito,de bicicleta, rumo à escola. Lá pelas oito, parara no banco da praça, emfrente ao café. E como fazia de vez em quando, antes das aulas, dera uma

descansada, tomara uma água e jogara um pouco de pôquer com as placasde carros parados no farol.Malory adorava jogar pôquer com as placas dos carros. Acabara de visitar

uma JJR-88S, o que significa um par de valetes e um par de oitos, numaBlazer azul quando notou um sedã preto. De início não dera maiorimportância, ainda que um carrão preto daqueles em Lincoln, Nebraska,fosse quase tão normal quanto uma palmeira na Antártica. Continuaraconcentrada nas placas de licenciamento, jogando. QQQ-33A. Um full house.Sorrindo consigo mesma, satisfeita, Malory conferira de novo a placa, sópara ter certeza.

As placas de licenciamento de Nebraska eram brancas, com uma faixaazul reconfortante na borda de cima. Já as placas de Nova York, ela sabia

por experiência própria, eram brancas mas tinham uma faixa vermelha,

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utilitária e, na sua opinião, muito feia na borda. Era fácil imaginarpresidiários fabricando placas de licenciamento de Nova York.

Aquela placa era de Nova York.Os olhos de Malory foram direto para o motorista. Uma olhada apenas e o

 jogo de pôquer foi totalmente esquecido.O motorista era um pavor, e não se tratava de uma questão de opinião.

 Tinha um rosto grande, meio torto, como se já tivesse recebido mais que oquinhão devido de murros. Até mesmo a cabeça do homem parecia já terlevado muita pancada, o cabelo crescendo em tufos esparsos no topo docrânio encaroçado. Num estranho contraste com esse aspecto repugnante,usava uma camisa pólo azul-marinho de grife, impecável. E olhava fixo paraa frente, com um falso sorriso estampado na cara.

O indivíduo no banco ao lado era magro e de rosto pequeno. Estavatomando um refrigerante de lata, com canudinho.

Uma outra pessoa poderia tê-los confundido com policiais à paisana. MasMalory sabia que não eram.

Eram eles. Estavam ali. E a cidade já não era mais segura para ela.

Malory estremeceu ao se lembrar dos bandidos que vinham perseguindosua família desde que se conhecia por gente. Tentando afastar essaimagem da cabeça, pedalou o mais rápido que pôde até a escola primáriados irmãos. Passou zunindo pelos grandes pinheiros ao longo da rua,sentindo o cheiro de seiva e de lenha queimando. Dizia a si mesma queLincoln Hills era uma cidade calma e pacífica, mas ao se aproximar deLincoln Hills High, seu colégio, foi ficando cada vez mais inquieta. Oshomens com certeza estariam lá, esperando que ela aparecesse. E depois?

 Talvez simplesmente a derrubassem com um tiro, no estacionamento. Ouquem sabe resolvessem seqüestrá-la. Mas pensamentos como esses nãoajudavam. Sabia o que tinha a fazer - e, com um pouco de sorte, teriatempo de fazê-lo.

Malory contornou o colégio por trás, seguindo pelas ruas que aprendera aconhecer como a palma da mão nos doze últimos meses. Os homens nãosabiam quem tinham sido vistos, Malory garantia a si mesma, pedalandosem parar. Ao vê-los, ela simplesmente "sumira" do banco da praça, como opai lhe ensinara a fazer. Estava começando a virar uma perita na arte de setornar invisível.

Conferiu o espelhinho retrovisor da bicicleta. Nada. Tentou relaxar. Teriade aparentar um certo autocontrole, caso contrário a sra. Carter, asecretária da escola primária, jamais a deixaria levar os meninos consigo.Se desse a impressão de estar meio fora de si, sra. Carter insistiria em ligarpara sua mãe, no trabalho, para obter maiores explicações.

Pois então que tente telefonar para o serviço dela, pensou.Fazia dez minutos que ligara do telefone público, dando o alarme. Sabiaque a mãe e o pai àquela altura já estariam a caminho do ponto de encontro- o velho cemitério nos arredores da cidade.

Quando parou em frente à escola primária, encostou a bicicleta no murode tijolos e respirou fundo. Lembrou-se de que era preciso aparentar adevida consternação com a "morte" havida na família e não parecerapavorada por estar sendo seguida pela Máfia.

- Senhora Carter - disse ela para a mulher de cabelos grisalhos nadiretoria -, eu sinto muito, mas vou ter de levar Tommy e Mike comigo.Nosso avô morreu esta manhã e a família precisa ir até lá, tomar asprovidências para o enterro.

Por mais que detestasse mentir, Malory tinha ficado boa nisso, com ocorrer dos anos.

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A sra. Carter saiu apressada, em busca dos meninos. Seguindo atrás dasecretária, Malory deu uma espiada na rua pela janela do hall. Porenquanto, nem sinal do sedã preto. No vidro, obteve um breve reflexo de simesma: cabelos longos e loiros, ondulados; olhos azuis, nariz reto, lábioscheios. Sentiu curiosidade de saber qual seria sua próxima encarnação. Poracaso teria cabelos de cor de cenoura? Quem sabe uma nova cor para osolhos? Será que conseguiria reconhecer a si mesma?

Quando chegou à sala de aula, os gêmeos relutaram um pouco. Nãoqueriam ir embora. Mike estava entretido num jogo ultracompetitivo.

- Só um segundo! - disse ele a Malory, mal piscando os olhos verdes paraela. Tommy, o mais moleque dos dois, entretinha-se com um jogo de suaprópria invenção, chamado "beije as meninas". Se havia alguma regra nabrincadeira, só Tommy sabia qual era. Por mais tensa que estivesse, Maloryfoi obrigada a sorrir ao ver o irmãozinho, com seus cabelos espetados corde areia, perseguindo um bando estridente de meninas pela classe. Mas nãoera hora para brincadeiras e jogos.

- Tommy - Malory agarrou-lhe o braço com firmeza e agachou-se a seu

lado, cochichando em seu ouvido. - Tommy eu vim apanhar as flores. - Elanão queria assustá-lo com o código, mas o que poderia fazer? Tommy ficou paralisado. Em seguida, sem mais uma palavra, foi até Mike

e cochichou no ouvido do irmão. Os gêmeos juntaram-se rapidamente a elana porta.

- Eu sinto muitíssimo - falou a sra. Carter. Obviamente, confundira areação assustada dos meninos com dor. - Eles voltarão às aulas amanhã?

- Não creio que seja possível - Malory respondeu, tirando os irmão àspressas da classe e levando-os para fora do prédio de tijolos, para o friocortante.

Os meninos pegaram suas bicicletas, estacionadas entre várias outras,perto da porta de entrada, e imediatamente saíram pedalando a todo vapor

atrás de Malory, rumo ao ponto de encontro.Malory olhou o relógio: 8h55. Os homens no sedã preto já teriam

percebido há muito que ela não foi ao colégio. A essa altura, estariamprovavelmente a caminho da escola primária. Depois iriam até a casa, ouaté o trabalho da mãe - dependendo de quanta informação conseguissemarrancar da sra. Carter.

Malory estremeceu. Seus olhos iam até o espelhinho retrovisor a todomomento, mas tudo que via atrás dela eram os dois irmãos menores,pedalando o mais rápido que podiam.

Por fim o velho cemitério apareceu ao longe. Malory quase desatou numpranto alívio ao ver o pai parado ao lado da velha caminhonete Chevrolet

branca. A mãe, ela sabia, estava esperando dentro do veículo.Sem qualquer saudação, o pai de Malory colocou as três bicicletas nacarroceria, depois deu uma ajuda para que os meninos e Malory subissem ese acomodassem o mais confortavelmente possível no metal duro. Antes depuxar o encerado preto por cima, disse a Malory:

- Vamos parar daqui a quatro horas. - E foi só.Por uma fenda no encerado, Malory viu quando deixaram Lincoln Hills

para sempre. Lincoln Hills, a cidade que o contato deles no programa deproteção a testemunhas do FBI prometera ser tão pequena e perdida nomeio do nada que jamais seriam encontrados. A cidade onde, finalmente,estariam perfeitamente seguros.

Seguros, Malory pensou, com amargura. Perfeitamente seguros.

Mas jamais houve um lugar seguro. Desde o tempo em que tinha cincoanos e os meninos eram nenês, nunca houve uma pessoa, lugar ou objeto

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que pudesse chamar de seu, para sempre. A única coisa com que podiacontar era a música. Mas ficava meio difícil levar um piano nas costas. Deu-se conta, com um aperto no coração, de que até mesmo as partituras quecolecionara não faziam mais parte de sua vida. Todas elas estavamempilhadas bem direitinho numa prateleira em seu quarto. Não é mais meuquarto, Malory lembrou, sufocando os soluços que começavam a se formardentro do peito.

Não era justo. Não tivera tempo sequer de dar uma passada em casapara pegar suas preciosas coisas. Não tivera tempo de dizer adeus aosamigos e professores. A sra. Solit, a professora de música de voz suave,ficaria se perguntando onde ela fora parar. Ficaria preocupada alguns dias,depois chegaria à conclusão de que Malory não tivera sequer a delicadezade ir se despedir. E que dizer de Melissa, a menina da quinta série paraquem dava aulas particulares, nos fins de semana? Será que conseguiriaencontrar outra professora antes dos exames da próxima semana? Malorydeu um suspiro. Sabia que não era culpa sua, o ter de partir assim derepente, sem deixar traços, como se nunca tivesse existido.

Quando é que isso vai terminar? Malory se perguntou, tristonha. Quando?

Um

- Ei, vê se olha por onde anda! - gritou um garoto.Preocupada em se orientar por entre a multidão ruidosa e turbulenta que

se dirigia às salas de estudos, onde os alunos se reuniam antes do início dasaulas, Malory foi abalroada por uma leva mais apressada, fazendo com quetodos seus livros, cadernos e canetas se esparramassem no chão.

Embora tivessem saído de Lincoln Hills havia quatro dias, apenas, os paise o FBI já tinham conseguido matriculá-la no segundo colegial do Roosevelt

High, na parte oeste de Los Angeles.Mas que sorte a minha, pensou Malory, soturna, vendo seus pertences

todos ricochetearem pelos armários de metal.. Parecia-lhe que todos os doismil e quatrocentos alunos do Roosevelt estavam pisoteando suas coisas. Ecom sapatos caros. Foi uma batalha, apanhar tudo, sempre tomando omaior cuidado para não perder os dedos debaixo da interminável maré depés implacáveis.

Pelo menos conseguira começar numa sexta-feira. Um dia de escola jáseria trauma suficiente. Provavelmente precisaria do fim de semana inteiropara se recuperar.

Carregando livros, cadernos e papéis numa pilha precária, Malory saiu do

corredor principal e foi para um menor. Ali, encostou-se à parede pararecuperar o fôlego. Uma mecha de seu cabelo agora preto caiu-lhe no olho.O Black Crowes esgoelava a plenos pulmões na sala à esquerda. Olhou

para o número em cima da porta. 1034. A sala do professor Griffin. Aprimeira parada em mais um primeiro dia de escola.

Malory não suportava a sensação de ser aluna nova, de ser umaestranha. Mas acabara se acostumando. Em todas as muitas mudançashavidas nos últimos onze anos, jamais, nem uma vez sequer, pudera sesentir de fato à vontade nesse ou naquele lugar, qualquer que fosse otempo que conseguissem ficar antes de ter de fugir outra vez. Nem emLincoln Hills, nem em Jacksonville, na Flórida, nem em Saint Cloud, emMinnesota... e duvidava que fosse ser diferente em Los Angeles.

Espiou pela porta aberta para ver o que se passava lá dentro. Na frenteda sala havia um homem alto, que supunha ser Griffin, sentado na cadeira

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do professor, com sapatos tamanho gigante cruzados em cima da mesa e orosto enterrado no Los Angeles Times. No fundo, um grupo de meninos emeninas amontoados sobre as carteiras ouvia um CD portátil no volumemáximo. Os garotos, todos eles, pareciam meninos bem-nascidos fazendo omodelo "rua", com calça jeans folgadona e bonezinho de beisebol viradopara trás. As meninas pareciam ser todas "patricinhas", na opinião deMalory. Uma patricinha sempre se vestia com minissaia, tênis plataforma ecamiseta curtinha, grudada no corpo, ou qualquer outra coisa que estivesseno auge da moda. E em geral tinha cartão de crédito em seu nome e carropróprio.

Claro, as patricinhas de Los Angeles eram diferentes das de Lincoln,sobretudo na forma de vestir. Estavam no começo de março, ainda erainverno em Lincoln Hills. As garotas de lá estariam usando roupasestudantis pesadas: malha cinza e meias até o joelho. Mas em Los Angelestodo mundo usava roupa de verão o ano todo, como Malory não demorou aperceber. Tudo em cores cítricas, xadrezes vivos. Algumas usavam tonsprimaveris: cores foscas, pastéis, cinzas frios e azuis pálidos.

Malory deu uma olhada rápida nos próprios trajes. Não podia evitar de sesentir deslocada, com sua blusa pólo cinzenta, de mangas compridas, jeanspretos pesados e botas de solas grossas. Não que algum dia tivesse sevestido de forma especial, seguindo a última moda, ou tivesse feito muitocaso do que usava. De certa forma, estava tão acostumada a ser uma dasexcluídas que nem se incomodava mais em lutar contra a situação. Derepente, deu-se conta de que aquela era a roupa que estava usando quandosaíram de Lincoln Hills. Sim, porque com a viagem de três dias, parandoapenas para ligar para o FBI, e ajudando os pais a montar o novoapartamento, Malory não tivera chance de comprar nenhuma roupa, antesde começar a nova escola. Pelo menos estava limpa, de modo que não sesentia um lixo total - mas de todo modo aquele seu traje fora de estação a

fazia sentir-se como a Babaca que o Tempo Esqueceu.O sinal tocou. À volta toda, os alunos saíram em disparada, feito baratas,

rumo a suas classes. Na sala de estudos, o barulho diminuiuconsideravelmente à medida que os fones de ouvido foram sendo plugadosno aparelho portátil de CD, mas as conversas e risadas continuaram. Os pésdo professor Griffin permaneceram sobre a mesa. Quer dizer então que éisso, deduziu Malory. A sala de estudos é a sala para fazer a lição que nãose fez em casa. Que perda de tempo. Eu tenho de mostrar a cara, mas nãovou conseguir muito por aqui.

Uma coisa era certa: aquele lugar não se parecia em nada com suaantiga escola em Lincoln Hills.

- Está procurando alguma coisa? - O professor Griffin baixara a pontinhade cima do jornal e examinava Malory por cima dos óculos. Uma bolota depapel passou zumbindo bem no meio dos dois. Ele ignorou o fato, sem nemsequer piscar um olho.

- Na verdade, estava procurando o senhor. Eu sou... - Malory titubeou.Apesar do treinamento intensivo que o pai lhe dera, ainda não seacostumara com o novo nome. - Meu nome é Maddy Mailer - conseguiudizer por fim. O professor Griffin olhou-a sem qualquer expressão no rosto.

- Sou aluna nova - explicou ela.- Entendo. Prazer em conhecê-la, senhorita Mailer. Ache um lugar. - O

Times voltou à posição inicial e, por trás do jornal, ele disse: - Classe... estaé a senhorita Mailer. Por gentileza, recebam-na bem.

Se a algazarra diminuiu, foi imperceptível... As bolinhas de papelseguiram zunindo pela classe. Apenas uns dez garotos olharam em sua

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direção. Um menino, no fundo, soltou um assobio. Malory não fez caso eencontrou uma mesa ao lado da janela, na frente.

Havia uns poucos jovens na sala que não entravam nem na categoria daspatricinhas nem no modelito rua. Uma menina de rabinho-de-cavalo,parecendo muito jovem para o colegial, estava sentada na fileira do meio,na frente, trabalhando com afinco em alguma coisa, usando umacalculadora. O garoto sentado atrás de Malory se mantinha inclinado sobreum caderno espiral, fazendo uns rabiscos intrincados. Tudo que Malory viudele foi seu cabelo ondulado, castanho. Com certeza não iria incomodá-la,pensou. Esses caras que ficam desenhando na aula em geral são do tipocalado, fissurados em computador.

As conversas tinham recomeçado com força total e Malory pegou alguns,comentários dirigidos a ela, bem no estilo habitual. As meninas do fundotinham levado alguns minutos para avaliar sua aparência. Agora já estavamprontas para comunicar ao mundo o que achavam da recém-chegada.

- Só pode ser bolsista - disse uma voz ardida, de uma menina de rabo-de-cavalo, loira.

- Olha só - comentou uma morena de maquiagem preta nos olhos eesmalte combinando. Uma onda de risadinhas femininas chegou até Malory.Você já passou por isso tudo, disse ela consigo mesma, lutando contra asensação de raiva e isolamento que ameaçava dominá-la. Você sabe comolidar com a situação.

- Uau, que sala mais durona - resmungou baixinho. Tinha o costume detransformar seu desconforto em piada. Em geral, fazia com que se sentissemelhor. A maioria das pessoas não apreciava seu sarcasmo nem suapresença de espírito.

Ouviu um riso abafado vindo da carteira de trás. Era o desenhista, masaté ela se virar para ver, ele já tinha voltado ao desenho. Será que ouviraseu comentário? Ou estaria apenas rindo de sua roupa, junto com os

outros?Mas não tinha importância, lembrou a si mesma. Não iria fazer nenhum

amigo na classe. Ou na escola inteira, pensando bem. Os pais sempre adesaconselhavam. "Não é seguro", diziam eles. Estar em segurança era oque importava, mais ainda do que ter amigos e dividir, segredos... não quealgum dia pudesse dividir os dela.

Malory pegou o livro da primeira aula: inglês. Era A revolução dosbichos... de novo. Fosse qual fosse a série ou a escola em que estivesse,parecia que eles estavam sempre lendo A revolução dos bichos. Claro que oromance tinha seus méritos, sem dúvida. Ela sempre acabava virandovegetariana uns tempos, quando lia o livro. Pelo menos faz bem para a

silhueta, pensou, sorrindo consigo mesma.Abriu o livro no trecho em que o Velho Major, o grande porco branco,canta "As Bestas da Inglaterra" aos outros bichos. Malory, como sempre,tentou imaginar a melodia. O livro dizia que era um cruzamento entre"Clementine" e "La Cucaracha". Ó querida cucaracha? Malory achava meioesquisito. Não demorou muito para que começasse a cantarolar na cabeça.Era um hábito adquirido durante os muitos anos em que aprendera a tocarmúsicas sem um piano de verdade, e não conseguia rompê-lo.

- Essa musiquinha pega - uma voz atrás dela falou baixinho em seuouvido.

- Hein? - Malory acordou de seu devaneio. Somente então percebeu queestivera cantarolando em voz alta. Sentiu o rosto avermelhar. Era seu

primeiro dia na escola... e agora o cara de trás estava no seu pé.

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- Não sabia que eles tinham feito uma versão musical disso - continuou odesenhista, baixinho.

Malory suspirou. Se havia uma coisa que aprendera durante todosaqueles anos de Aluna Nova era que ataques diretos tinham de sercombatidos na hora. Mas Malory estava contando em poder adiar seuprimeiro grande confronto em Los Angeles pelo menos até o almoço. Poismuito bem. Sabia exatamente o que dizer e fazer com tipos como esse. Erauma questão de colocá-los em seu devido lugar, rápido, e eles a deixariamem paz pelo resto do ano letivo. Ou até que chegasse à hora de mudaroutra vez, o que acontecesse primeiro.

Devagar e com muita confiança, virou-se para seu torturador...E pegou-se cara a cara com um dos garotos mais lindos que já vira na

vida. Os olhos castanhos cintilavam divertidos e um sorriso preguiçosoiluminava-lhe o rosto todo. O coração de Malory deu um salto. Ela não o viradireito, ao entrar na sala. De repente, esqueceu o que ia dizer. Sentiu osangue subindo ao rosto e virou-se depressa de volta para o livro.

Ele é lindo, pensou surpresa. Virou uma página de A revolução dos bichos

e fingiu ler com toda a atenção. Mas só porque uma pessoa tem uns olhosde matar e um sorriso bárbaro e um cabelo fantástico não lhe dá o direitode...

- Com licença - falou o rapaz, com voz provocadora. - Ia me dizer algumacoisa?

 Ah, ótimo, pensou Malory. Ele não vai sossegar até a gente chegar àsvias de fato. Indignada, virou-se para encará-lo, decidida a enfrentar abatalha.

Ele não se mexera, exceto para descansar o queixo na mão. Os olhoscintilavam ainda, mas agora ele observava a nova colega com umaexpressão de curiosidade. Uma mecha rebelde de cabelo lhe caíra na testa.Por algum motivo, Malory sentiu um impulso quase irresistível de afastá-la

de sua testa. Controle-se, falou consigo mesma, brava.- E então? - ele provocou. - Você não estava prestes a me contar sobre a

versão musical da Revolução dos bichos?Malory reprimiu um sorriso.- Olha aqui, você com certeza é uma pessoa muito engraçada... a seu

modo, quero dizer - disse ela, com frieza.Ele sorriu. Ela se pegou de olho pregado em seu olhar escuro, profundo.

Isso não era nada bom. A proposta era pô-lo em seu devido lugar. Qual erao problema? Confusa, desviou o olhar.

- Eu tenho muita coisa para estudar e... - começou a dizer. Estava lutandopara encontrar um comentário bem ácido com que terminar, mas não

conseguiu. - E é só - concluiu ela, sem muita convicção, virando-se nacarteira.- Bom, eu não quero interromper seus estudos - disse ele, naquele

mesmo tom baixo de voz, provocador. - Mas você sabe... até que eu possoser bem engraçado, quando quero.

Malory hesitou. O que ele estava fazendo? Não chegava a ser umamaldade, exatamente. Munindo-se de coragem, virou-se de novo para ele.

- Então prove.- E o que você me dá em troca? - ele desafiou.Mas antes que pudesse lhe responder, aquela mesma voz ardida lá do

fundo separou-os.- Be-en! O que você está fazendo? - a garota loira do rabo-de-cavalo

gritou para ele.

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Malory aproveitou a chance para dar uma olhada no desenho. Esperavaver figurinhas toscas com pernas de palitinho, ou uns rabiscos. Mas eraobviamente o início de algum tipo de paisagem. Tentou focar a vista, masantes que pudesse decifrar o que era, ele já tinha fechado o caderno.

A garota do rabo-de-cavalo afastou-se do grupo e veio até ele. Usavauma minissaia xadrez, azulada, e uma camiseta curtinha branca. Um colarde lindas pedras azuis faiscava em volta do pescoço. O batom era vermelhovivo. Malory sentiu-se de repente muito, mas muito mais velha. E mais feia.

- Ben... a gente ficou esperando você a noite inteira! - a moça esganiçou.- O que aconteceu? - continuou ela, sentando-se na ponta de uma outracarteira ocupada e estendendo as pernas compridas à frente.

Ben, Malory repetiu consigo mesma. Uma emoção estranha, inexplicável,percorreu seu corpo todo.

Ben parecia não saber do que ela estava falando.- Como é que é? - perguntou, franzindo os olhos para a moça.- Ontem à noite, seu idiota! Os pais da Shella não estavam! Foi todo

mundo para lá.

- Ah, sei! - Ben deu um tapinha na testa. - Eu esqueci completamente!Sinto muito, Erin - Malory observava tudo. Definitivamente, ele estava sendosarcástico. Obviamente não sentia nem um pouco ter perdido a festa, masErin não parecia perceber isso.

- Foi tudo uma chatice enorme - disse ela. - Por onde você andou? Foitudo tipo assim tão inesperado! - Ela abanou a cabeça, dramaticamente,para indicar a profundidade de seu desespero. O professor Griffin ergueu avista, girou os olhos e voltou ao jornal.

Ben deu de ombros. Malory teve a impressão de que ele estava um tantoimpaciente ou até mesmo, quem sabe, irritado. Mas Erin não parecia se darconta da falta de interesse do rapaz. Manteve a pose, que provavelmentepraticava em casa, na frente do espelho, para ter certeza de mostrar o

máximo possível das pernas. Por trás dela, a morena de delineador pretonos olhos apareceu.

- Honestamente, Ben - censurou a morena, cutucando o esmalte pretodas unhas. - Shella ficou um verdadeiro trapo porque você não apareceu.

- Bom, eu meio que sinto muitíssimo mesmo, Emily, mas é que fiqueienrolando o cabelo, ontem à noite.

Malory não conseguiu evitar um sorrisinho de esguelha.- Tá, claro! - Erin passou a mão pelos cabelos dele e riu. Malory voltou ao

livro. A garota era ridícula. Não percebia nem quando estava sendoridicularizada.

Por que um cara como o Ben perde tempo com garotas como essa?,

pensou. Mas de repente franziu a testa. Não fazia a menor idéia de que tipode cara Ben era.Antes que percebesse, o sinal tocou, ensurdecendo-a temporariamente e

despachando o resto da classe porta afora. Todos eles sabiam exatamenteonde tinham de ir em seguida. Malory, claro, não fazia a menor idéia.

Sentiu o coração apertado ao ver Ben saindo no meio de todas asmeninas. Curvando a cabeça para esconder a decepção, procurou entre ospapéis da bolsa para saber onde seria a primeira aula.

Inglês, sala 2.207. Malory deu uma olhada para o professor Griffin, quecontinuava totalmente absorto no jornal. Será que ele lia daquele jeito o diainteiro? Será que deveria lhe perguntar onde ficava a outra sala? Decidiuque era melhor não, só de imaginar que com toda certeza teria de se

apresentar de novo. Não valia a pena. Além do quê, pensou, era veteranaem descobrir o caminho em escolas desconhecidas. Seria perfeitamente

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capaz de achar a sala de aula sozinha e, com sorte, antes que o período damanhã acabasse.

Subindo as escadas para o segundo andar, viu-se rodeada por estudantesque passavam correndo na sua frente. Grudou-se aos livros e cadernos,avaliando o dia até ali. Fizera uma entrada clássica deixando cair todo seumaterial no chão, antes do início das aulas. Conhecera o elenco habitual depersonagens na sala de estudos. E pelo visto iria ler A revolução dos bichospela quinta vez.

E havia também esse cara legal que até que fora gentil com ela.Ben, pensou ela. Ben do quê?Era tolice ficar pensando nele, mas quanto mais tentava não pensar, mais

atraente ele lhe parecia. Claro, estava completamente fora do seu alcance,em termos da hierarquia social da escola. Até onde dera para perceber,parecia ser o rei do pedaço, cercado pelas melhores garotas.

Mas, de todo modo, que importância tinha? Malory abanou a cabeça.Amigos estavam fora de cogitação, que dirá namorados. Nenhum laço, nadade relacionamentos. Essa era a regra. Relacionamentos não eram seguros.

Curiosamente, essa idéia a deixou mais alegre. Se não havia razão paratentar fazer amigos, para começo de conversa, então a rejeição não eraassim tão má. Não havia como sair magoada.

Malory parou do lado de fora da sala 2.207. As patricinhas de sua classetinham armários no corredor bem em frente à sala de inglês. Erin, a moçado rabo-de-cavalo, estava examinando com todo o cuidado o estado de seubatom num espelho colocado do lado de dentro da porta do armário. Amorena, Emily, espirrava spray no cabelo, para que ficasse ainda maisespetado e alto. Uma outra garota, de cabelos ruivos lisos, conversava e riacom elas enquanto mascava em série um pacotinho inteiro de chiclete.

De repente, Erin virou-se na direção de Malory e fez um movimento brevecom o queixo. Emily e a ruiva olharam na mesma direção e depois as três

caíram na gargalhada. Por mais que tentasse evitar, Malory sentiu-sehumilhada. Mordeu o lábio e virou-se para entrar na sala 2.207.

- Uau, que turma mais durona, hein? - perguntou uma voz familiar derapaz, imitando o que ela própria dissera antes.

Malory voltou-se... e lá estava Ben, encostado na parede, atrás dela. Dooutro lado, Erin cutucou a ruiva e as três trocaram cochichos.

- Você tem o costume de sempre abordar as pessoas por trás? - Maloryperguntou, o coração batendo forte. Depois tentou se entreter com oshorários, fazendo o possível para parecer relaxada sob o olhar fixo dele.

- Nem sempre - respondeu ele, descontraído. – É você que parece estarsempre na minha frente. Quer dizer, eu sempre me sento naquela carteira,

na sala de estudos.Malory teve de admitir que ele estava certo. Do outro lado do corredor, asmeninas cochichavam. Malory fingiu não ter visto, mas Ben parecia captarseu estado de espírito.

- Quanto a essas garotas... Assim que você ficar conhecendo bem...- Sim? - indagou Malory, esperançosa.- Verá que são ainda piores - completou Ben, rindo.Malory explodiu na risada. As meninas do armário espiaram.- Por falar nisso, meu nome é Ben.Malory teve de pensar um pouco antes.- Maddy - lembrou-se. - Hum... é um apelido para Madeline.- Nome bonito - disse ele, simplesmente.

Malory enrubesceu loucamente.- Preciso ir - disse meio de supetão e correu para a classe.

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Dois

O período de almoço no primeiro dia de aula numa nova escola erasempre o pior.

Depois de ficar dez minutos na fila dos pratos quentes, Malory teve achance de dar ela mesma uma olhada de perto no macarrão cinzento comqueijo empelotado e nas salsichas gordurosas. Decidiu optar por uma maçãe um pacote de salgadinhos. De agora em diante, traria o almoço. Olhandoem volta, viu que a maioria fizera isso, ou então comprara alguma coisa narotisseria ali perto, na mesma rua da escola.

A aula de inglês lhe parecera interminável. A professora embarcara numalengalenga sem fim sobre A revolução dos bichos, muitas vezes usando asmesmíssimas frases e palavras da professora Lemana, que ensinava inglêsno colégio de Lincoln Hills. Eles devem ter todos o mesmo manual, Maloryconcluiu.

Durante a aula, seus pensamentos vagavam a todo instante de volta paraBen. Era obviamente um garoto muito benquisto, pelo menos entre asmeninas. Bom, também, quem não notaria aqueles olhos? Malory sorriu. Eleera diferente, muito diferente, de todos os garotos que conhecera. Paracomeço de conversa, era inteligente e gentil. E sensível. Quase pareciasaber o que ela estava pensando. Não era um babaca. Nem metido a besta.Era difícil achar uma categoria para ele.

Um artista, Malory decidiu. Um espírito criativo.Mas aí seu sorriso murchou. Fizera um papelão no corredor. Soltou um

suspiro. O que ele pensaria dela? Com certeza não grande coisa. Não tinhacausado exatamente uma primeira impressão fantástica.

Deu uma olhada em volta do refeitório. As mesas estavam todas

tomadas, com gente conversando, berrando, rindo, na maior farra. Todomundo parecia à vontade, fazendo com que Malory se sentissedefinitivamente ainda mais por fora. Erin, Emily e a ruiva sentaram-se comoutras meninas e meninos vestidos de modo semelhante numa mesa quepelo visto devia ser o epicentro do restaurante. E a ruiva era o grande focoda mesa, obviamente a líder do grupo. Essa deve ser a Shella, Malorypensou.

Em vez de abrir caminho até uma mesa cheia de jovens desinteressadosem conversar com ela, Malory atravessou o refeitório e foi para o pátio. Aum lado, havia um banco solitário rodeado de moitas de madressilva.

Perfeito, pensou, abraçando o destino do almoço solitário. Bom, Los

 Angeles tem duas coisas ótimas. Primeiro, não é preciso usar casacão e,segundo, dá para almoçar ao ar livre, sem ter de lidar com o refeitório.Enquanto mastigava devagar a maçã, os pensamentos de Malory

vagaram de volta a sua última casa, em Lincoln Hills.A sra. Solit provavelmente ainda estaria se perguntando onde é que ela

se metera. Malory piscou forte, sentindo de repente um nó na garganta. Orostinho rechonchudo da professora de música, com seus olhos azuisbondosos e o cabelo loiro todo crespo, era uma imagem que nunca maisveria na vida real.

Uma voz atrás dela dispersou esses pensamentos.- Vejo que também é fã da dieta macrobiótica.Malory virou-se e viu Ben espiando por sobre as moitas de madressilva.

- Ah, oi - ela desviou a vista, tentando não parecer tão agitada em vê-lo.

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- Importa-se se eu lhe fizer companhia? - ele perguntou e, sem esperarresposta, afastou a vegetação e sentou-se a seu lado.

- Você continua aparecendo por trás das pessoas - ela murmurou com amaçã grudada no rosto, na esperança de ocultar seu rubor.

- Assim elas não podem fugir de mim - ele retrucou. Depois esfregou aprópria maçã no peito da camisa. - Bom... então, você tem algumsobrenome, Maddy?

Malory ficou calada uns instantes. O novo nome que os pais lhe haviamdito para usar não lhe vinha com muita facilidade.

- Mailer - falou ela, meio rígida. Sentiu-se estranha ao dizê-lo.Ben olhou bem fundo nos olhos azul-claros de Malory, enquanto pensava

no nome. Durante um momento de pânico, Malory achou que ele estavaenxergando tudo que se passava dentro dela, por baixo do cabelo negrotingido e do nome falso, bem lá dentro, lá no fundo. Direto naquela parteque continuava sendo Malory Hunter, a parte que nunca mudara, apesardos vários nomes que fora obrigada a assumir. Aquele olhar penetrante fezseu pulso acelerar. Era como se a qualquer momento ele fosse dizer: "Eu sei

quem você é, então por que não pára de fingir?"Mas o rapaz simplesmente estendeu a mão e disse, solene:- Maddy Mailer. Eu me chamo Ben. Só Ben, na verdade. Não é Benjamin,

não é Ben Júnior, não...- Já entendi, já entendi - Malory riu, apertando a mão dele. - Só Ben.Quando as duas mãos se tocaram, ela deu uma olhada para o rosto de

Ben. Ele parecia ter se debruçado um pouco mais para ela. Ela tirou a mão.O coração continuava disparado.

Ben pigarreou.- Você se muda muito? - perguntou ele, dando uma mordida na maçã.- É, mudo, bom... hum... quer dizer, não - gaguejou ela. - Não.Ele deu uma risadinha.

- E aí, muda ou não muda?- Um pouco, não muito - Malory murmurou, atrapalhada. Abriu a bolsa e

começou a remexê-la, sem nenhum motivo. – E você?- Eu? - Ben recostou-se de novo no banco, comendo a maçã, e olhou a

escola com ar filosófico. - Não. Eu nasci aqui, me criei aqui e, se forextremamente azarado, talvez acabe vivendo aqui a vida inteira.

- Gosta de viajar?- Teoricamente, sim - ele sorriu para ela. Uma vez mais, o coração de

Malory bateu forte. As mãos continuavam remexendo desesperadamente ascoisas da bolsa. Ele de fato tinha uns olhos fantásticos. E um cabelo quedava vontade de passar a mão, e...

- E de onde você é?- Ah, de um monte de lugares - Malory deu-lhe a resposta padrão, depoismudou de assunto. - Quer dizer então que você desenha?

- Pois é - respondeu Ben. - Posso saber o que exatamente estáprocurando nessa bolsa?

Malory ergueu a vista. Os olhos dele cintilavam. O rosto dela estavafervendo. Ela tirou a primeira coisa que sentiu nos dedos.

- Isto! - Era manteiga de cacau.- Compreendo. Uma busca furiosa atrás do batom.- É manteiga de cacau, para lábio rachado. Eu tenho o lábio muito seco.

Racha à toa. Quer dizer, se eu não usar manteiga de cacau. - Ai, Deus meu,Malory, vê se pára de falar asneira!

- Compreendo. E, claro, você não vai querer que eles rachem. - Ele sorriu.

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Malory passou a manteiga de cacau desajeitadamente pelos lábios,depois enfiou o bastão de volta na bolsa.

- Deve ser meio difícil fazer amigos quando se muda muito de um lugarpara outro. - falou ele, casualmente. Malory sentiu o rubor lhe subindo pelorosto de novo. Ela não conseguia controlar isso. Se ao menos ele não fossetão simpático e delicado.

- Bom... - A frase ficou incompleta, vaga, e ela franziu os olhos e fixou-osno pátio da escola, como se estivesse acontecendo alguma coisa muitointeressante por lá.

- Já é bem duro quando a gente é de um lugar só - disse ele, numa vozdistante.

Malory lançou-lhe um olhar furtivo.- O que está querendo dizer com isso? - pegou-se perguntando.Ben entortou de leve a cabeça e olhou-a bem de perto.- Bom... Los Angeles é um lugar meio estranho. Todo mundo aqui passa

um tempão sozinho, só com um telefone e um carro fazendo a ponte com omundo exterior. De modo que, quando a gente resolve sair, quer criar uma

boa impressão nos outros, que vivem, do mesmo jeito, isolados. Vocêarruma um belo carro, roupas bonitas, cabelo legal e... bom, eu desconfioque isso acaba sendo uma forma de vida. Sabe o que estou querendo dizer?

Malory riu.- Sei, sim. - Ela se sentia tão à vontade, era tão fácil conversar com ele;

pela primeira vez, naquela semana, sentia-se em paz. - Então...Mas antes que pudesse acrescentar mais alguma coisa, um sujeito alto e

loiro aproximou-se de onde estavam sentados. Estava de bermuda,camiseta e sandálias. Com aquele cabelo desgrenhado, parecia ser oclássico surfista. Malory acreditava tê-lo visto sentado na mesa de almoçodas patricinhas.

- Oi, Ben, o que você está fazendo aqui fora? Deu o bolo na gente no

almoço?Ben deu uma olhada em Malory e depois voltou a encarar o amigo. Ela

teve a impressão de ver um certo rubor em seu rosto. Não, provavelmentefoi só vontade de vê-lo corar, disse consigo mesma.

- Ah, desculpe, cara, é que eu esqueci. Estava tão bom aqui fora e... - Benolhou outra vez para Malory e sorriu, parando de falar. Ela sentiu um calafriopela espinha. - Seth, esta é Maddy. Maddy, Seth.

- Oi - falou Malory, em tom agradável.- Muito prazer. - Seth sorriu para Malory, depois virou-se para Ben. - Tudo

bem, sem problema. É que a gente estava se perguntando onde você teriase metido... mas depois eu vi que estava sentado aqui fora e tive a idéia de

vir chatear um pouco.Ben e Malory riram.- Gostei da idéia - falou Ben.- Claro, tenho certeza que sim. - Seth acomodou-se ao lado de Ben. - Mas

sem problema; uma garota é sempre uma desculpa aceitável para nãoalmoçar com os colegas. - Agora era a vez de Malory corar. Seth estava sóbrincando, mas não podia evitar de se perguntar se haveria de fato muitasoutras garotas com quem Ben passava o tempo. - Você é nova aqui? - Sethperguntou.

- Sou. - Malory torceu para não ter de responder a muitas perguntas.- De onde você é?Bem na hora em que ela achou que teria de continuar mais uma vez com

as mentiras, foi salva pelo sinal. O almoço estava terminado. Ela juntou suascoisas para a aula seguinte.

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- Tenho que ir para a aula de matemática. Não quero me atrasar logo noprimeiro dia. Até qualquer hora - disse aos dois.

Ambos disseram tchau.Enquanto ainda se afastava, virou de leve a cabeça e deu mais uma

olhadinha em Ben: ele estava sorrindo para ela. Sorriu de volta. Talvez nãotivesse feito um papelão muito grande, no fim das contas.

Malory conseguiu sobreviver ao resto da tarde, impaciente para assistir àúltima aula do dia: apreciação musical. - Ali finalmente poderia se soltar ecurtir o que mais amava, a coisa que nunca a deixara na mão, a música.

Apesar de todos os pesares, torcia para que houvesse um velho piano deescola onde pudesse tocar... inclusive na orquestra da escola, por que não?Até a aula de apreciação musical começar, mal podia conter sua emoçãodiante da perspectiva de poder se sentar na frente de um teclado.

Boa parte da aula foi ocupada revisando uma prova que os alunos tinhamfeito no dia anterior. Depois a professora Lerner se pôs a dar pancadinhas

leves com a batuta de regente na estante de música, pedindo atenção, oscabelos castanhos cacheados balançando ao ritmo dos golpes.Quero que ouçam com toda atenção esse trecho da Nona Sinfonia de

Beethoven - disse ela, com um sorriso de encorajamento no rosto e a batutaem riste. Malory já começara a gostar da professora Lerner. Pela maneiracomo os outros alunos estavam agindo, percebeu que era uma professoramuito querida.

E então ela ligou o gravador e, na mesma hora, Malory perdeu-se nosesplêndidos acordes da bela sinfonia. As chateações de ser outra vez alunanova, o medo daqueles homens que estavam atrás de sua família, todas aspreocupações lhe sumiram da cabeça. Seu corpo parecia absorver a música,que vinha em ondas envolvê-la toda.

De repente, a música parou.A professora Lemer olhou para a classe com ar de curiosidade.- Será que alguém seria capaz de me dizer como Beethoven conseguiu

compor essa sinfonia, tendo-se em vista o fato de que era surdo?Um silêncio pesado encheu a classe toda e alguns carinhas meio

apatetados no canto deram uma risadinha de constrangimento. Ninguémlevantou a mão.

A professora consultou a lista de chamada.- ... Raymond. Quer tentar arriscar uma resposta? - Um garoto asiático

muito alto, no fundo, deu um salto ao ouvir seu nome.- Hum... bom, vai ver ele não estava nem aí para o som que ia sair...? - O

garoto parecia esperançoso. A professora sorriu.- Teoria interessante, Raymond, mas não.Uma mão se ergueu na sala.- Pois não, senhorita Ippolito - falou a professora. – Por favor, esclareça-

nos.- Bom para começo de conversa – começou a menina, que tinha cabelo

loiro curto - Beethoven tinha um ciúme enorme dos compositores italianosda época e...

- Sei, sei, mas acredito que já ouvimos esse argumento seu, muitoobrigada – A professora Lemer girou de leve os olhos. A garota loira sorriu evoltou a sentar. A professora de música olhou de novo a lista de chamada.

- ...Mailer, a aluna mais nova da classe. Talvez possa nos dar algum

esclarecimento sobre o processo criativo de Beethoven.Malory de início não respondeu.

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- Mailer? - perguntou de novo a professora, olhando atentamente paraMalory.

Assustada, Malory se deu conta de que a professora estava falando comela.

- Bem... - Malory hesitou.Era uma pergunta fácil para ela. Tinha lido tudo sobre Beethoven. Mas

não queria parecer exibida. Sobretudo no primeiro dia.- Estamos esperando, Mailer - disse a professora, batendo de leve com o

pé no chão de cimento, a cabeça inclinada de lado, na expectativa.- Bom, Beethoven não nasceu surdo. - Malory falava baixinho,

atropelando um pouco as palavras, que saíram num jorro. - De modo queele sabia qual era o som das notas e dos instrumentos. Além disso, como amaioria dos compositores, também era capaz de ouvir a música primeiro nacabeça, antes de escrevê-la. E ele também costumava encostar a cabeça nopiano, quando tocava. Desse modo sentia as vibrações e, a seu modo, ouviaa música que tinha criado na cabeça. - Quando Malory terminou, estavacerta de que falara demais.

Fez-se um silêncio espantado na classe. Malory sentiu os olhos de todossobre ela. A professora Lemer sorriu.- Muito bem, Mailer - disse ela, em voz baixa. - Muito bem.Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, deu o sinal. A aula de

música terminara. Malory respirou aliviada. Tinha sobrevivido ao primeirodia. Agora tudo que tinha a fazer era perguntar à professora se havia umpiano na escola.

A professora estava juntando suas anotações e partituras da estante demúsica quando Malory se aproximou.

- Sua resposta foi muito boa, Madeline - falou a professora, levantando osolhos dos papéis. - Você falou como alguém que conhece o assunto, no quese refere à composição musical. Você já estudou música?

- Eu toco piano - respondeu Malory, tímida.- É mesmo? Está interessada na orquestra?Malory fez que sim com a cabeça.- Talvez. - Hesitou uns instantes. - Se eu fizesse parte da orquestra, daria

para eu estudar no piano da escola?- Você não tem piano em casa?- Bom, hum, não... na minha antiga escola, em geral eu me exercitava no

piano de lá. - Malory gaguejou com a mentira.- Entendo. – A professora Lerner inspecionou-a com os olhos. - Mas acho

melhor irmos por partes. Primeiro, deixe-me ouvi-la tocar.Malory seguiu-a até o auditório, que ficava ao lado da sala de música e

que, àquela hora, achava-se mergulhado em sombras.- Este é um pouquinho melhor, embora, para ser sincera, nenhum dosdois seja grande coisa - disse a professora, acendendo as luzes.

Malory aspirou os odores poeirentos do auditório. Lá estava ele: um pianode cauda num canto do palco. Seus olhos perpassaram o móvel todo,famintos.

A professora destrancou e descobriu o piano, depois foi sentar-se naprimeira fila, ocupada em ajeitar bloco, caneta e partituras. Malory correu osdedos sobre a madeira polida, antes de se sentar.

Abriu a tampa e pousou as mãos finas de leve sobre os teclados frios demarfim. Bênção total.

A professora Lerner pigarreou bem alto.

- O que vai tocar para mim, Madeline?Não levou um segundo para que Malory decidisse.

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- A Sonata Pathétique de Beethoven. - Estava com essa peça na cabeçahavia uma semana já. - Hum... - ela parou a tempo. - Eu estava estudando

 justamente essa sonata, quando nos mudamos, mas ainda não terminei,espero que a senhora não se importe.

- Tudo bem.Uma vez mais, Malory pousou os dedos de leve nas teclas. Depois fechou

os olhos e lembrou-se de onde aprendera essa peça de Beethoven. Lá emLincoln Hills, numa saleta de estudo poeirenta. No corredor em frente,outros alunos riam, berravam e brincavam, fazendo com que Malory sesentisse mais isolada do que nunca. Embora não tivesse vivido nem ametade dos anos de Beethoven, aquela sonata fazia todo o sentido para ela.A melancolia... o isolamento...

De repente, perdera toda e qualquer noção de tempo e lugar. Era só ela,a música e o piano, tecendo juntos uma história, roçando todas as sutilezas,embalados pela emoção...

Quando soou o último acorde, Malory devagar foi retomando consciênciade onde estava. A professora Lerner a observava com um sorriso no rosto.

- Madeline, foi simplesmente adorável. Quem era mesmo sua professoralá em... - Ela mexeu em alguns papéis, para ver de onde Malory vieratransferida.

- Little Rock - mentiu Malory. - Eu tive uma porção de professores.Ninguém por muito tempo.

A professora Lerner tirou os óculos.- Está me dizendo que não chegou a ter uma educação musical de fato?Malory corou.- Bom, é, é verdade, acho eu - resmungou ela, remexendo-se

desconfortável no banco.- É espantoso. - Depois de uns instantes a professora sorriu meio irônica. -

Na verdade, acho meio difícil de acreditar nisso.

Malory não conseguiu pensar numa resposta, de modo que apenasencolheu os ombros.

- E você me diz que não tem piano em casa. E como é que você seexercita sem um piano?

Malory pesou a resposta para essa pergunta. Seria embaraçoso demaisadmitir que praticava num teclado de papel grudado no chão do quarto,imaginando o som das notas, bem à maneira de Beethoven.

- Eu me exercito sempre que posso - respondeu. E foi então que escutouum leve ruído no balcão superior. Na mesma hora deu um salto dabanqueta e foi se esconder atrás do piano.

A professora franziu o cenho.

- Madeline, o que foi?- Ah, nada. - Malory deu uma olhada para o balcão superior, sorriu e saiude trás do piano. - Acho que é nervoso... primeiro dia de escola, essa coisatoda... - Sua voz foi sumindo.

- Bom, minha cara - falou a professora Lerner, com um sorriso quente norosto -, nós ficaríamos muito orgulhosos de tê-la na orquestra. Só tem umprobleminha.

Malory preparou-se para o inevitável: eles já tinham prometido o lugarpara uma outra pessoa.

- Eu só acho que você ficaria bem mais feliz com um piano melhor -concluiu a professora. - Como pôde ver, este aqui é só brilho e nenhumasubstância.

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Malory concordou com um gesto de cabeça, o alívio inundando todo seuser. Entendia o que a professora Lerner estava querendo dizer. Oinstrumento tinha um timbre metálico que afinação nenhuma seria capaz deconsertar.

- Você pode se exercitar na sala de música ou aqui, sempre que estiver

desocupado - continuou a professora -, mas por que não vai praticar lá emcasa uma vez por semana, digamos aos sábados à tarde? Eu tenho umpiano muito bom.

Malory mal podia acreditar nos seus ouvidos.- É mesmo? Nossa, eu adoraria...quer dizer, tudo bem? Bom, a senhora

sabe o que estou querendo dizer.- Claro, acho que sim. Então estamos combinadas. Podemos começar

neste sábado mesmo, ou seja, amanhã. Eu moro na Baden Lane, número318; eu explico onde é. Que tal ao meio-dia?

Malory estava sem fala.- Seria ótimo - conseguiu dizer por fim.A professora Lerner sorriu de orelha a orelha.- Ótimo. Agora vamos trancar este elefante e ir para casa.

Três

Quando Malory chegou em casa, o carro "novo" da mãe, um velho DodgeDart, estava parado na porta. Sinal de que já voltara de seu primeiro dia detrabalho como contadora de um dos médicos da região.

De todos os apartamentos onde haviam morado, ao longo do tempo,aquele era sem dúvida nenhuma o pior, pensou Malory. A começar pelalocalização: Crescent Drive era uma rua feiosa, curta e sem saída, quecomeçava no posto de gasolina da Unocal 76, bem na confluência darodovia interestadual 10, e terminava com vista para um terreno baldio. Ehavia também o prédio. Um bloco deprimente, inteirinho cor de cinza, dedois andares apenas. Parecia um presídio em pequena escala, na opinião deMalory. Havia sete outros apartamentos ali, mas os Hunter ainda nãoconheciam os vizinhos. Ao lado de tudo o mais que havia na parte oeste deLos Angeles, o lugar era definitivamente um lixo. Malory lembrou-se de

 Jeffrey Laurence, o agente do FBI que os levara até lá, dizendo: "Não éexatamente o lugar mais luxuoso do mundo".

- Não resta a menor dúvida - resmungou ainda uma vez, com seusbotões.

Ao entrar no vestíbulo estreito que levava ao apartamento, sentiu os

odores do que os outros inquilinos estavam fazendo para o jantar. Quaseque só frituras. Os vizinhos do lado haviam optado por algum tipo de peixeempanado e o senhorio, no primeiro andar, obviamente fazia seushambúrgueres na gordura velha. Mais adiante no corredor alguémcozinhava repolho e batatas. Aqueles aromas azedos fizeram franzir o narizde Malory.

Ela abriu a porta do apartamento 8J, o de esquina, que dava diretamentepara o posto da Unocal 76, em toda sua glória de néon.

- Maddy, é você? - gritou a mãe da sala de estar, usando seu novo nomefalso. - Venha até aqui e me conte sobre seu dia.

Malory evitou cuidadosamente a kitchenette, um mero corredor comlinóleo rachado no chão e um ridículo papel de parede cheio de cornucópias,símbolo de "abundância", e foi até a sala. Deixou a mala no chão.

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- Oi, meu bem - falou a mãe, abrindo espaço no sofá para ela e baixandoseu livro de bolso, com certeza mais um mistério de Agatha Christie, pensouMalory. Mike e Tommy estavam esparramados na frente da televisão,assistindo a um desenho animado dos X-Men, com os restos de duas tigelasde sucrilhos perigosamente próximas dos pés. Malory beijou-os na cabeça.O cabelo dos dois meninos estava agora tingido de castanho, uma cor maispróxima do tom natural deles. Ambos a ignoraram por completo, felizes eentretidos, rindo com as aventuras do desenho. Ela não era páreo para os

 X-Men. Os gêmeos eram sortudos, ela pensava muitas vezes. Tinham um aooutro. Mike e Tommy se mostravam sempre mais ou menos satisfeitosfazendo isso ou aquilo, desde que estivessem juntos.

A mãe de Malory deu-lhe um beijo no rosto e suspirou, ao levantar-se dosofá.

- Só um segundo, meu bem, eu comprei uma coisa para você. - Foi até oquarto, poucos passos mais adiante.

Malory deitou-se no sofá verde desbotado, fitando as paredes. Eram deum tom inusitadamente horrendo de bege. Ou talvez tivessem sido brancas

um dia e adquirido aquele matiz adorável por causa da fumaça da rodovia.Malory fez uma careta.Ao lado do velho sofá havia uma espreguiçadeira igualmente velha,

estofada, e uma cadeira simples, de encosto reto. Todas três encaravamuma televisão em cores vagabunda, antiga, acomodada sobre ummovelzinho instável, de compensado. Um tapete cheirando a mofocompletava o quadro. Uma janelinha tosca abria-se para a rua e para oposto de gasolina.

 Jeffrey falou que o apartamento já vinha mobiliado, mas isso não chega aser mobília. Malory estava se sentindo deprimida.

- Aqui está, meu bem. Me dá um lugar. - A mãe de Malory despencou nosofá e entregou-lhe um saco plástico da Gap.

- Puxa, mãe. - Era provavelmente sentimento de culpa e Malory sabiadisso. A mãe sempre se sentia muito mal, toda vez que eram obrigados aarrebanhar as coisas e mudar. Pela talvez milionésima vez, Malory seperguntou: Como seria ter uma vida normal?

Dentro do saco havia uma bela calça jeans desbotada, com os joelhosligeiramente rasgados (devia ter sido o maior sacrifício, para a mãe,comprar roupas pré-estragadas) e uma camisetinha linda.

- A escolha foi bárbara, mãe. - Malory sorriu.- Não há dúvida de que estamos meio apertados, Mal, mas eu achei que

não daria para você esperar até conseguir arranjar trabalho para ter pelomenos uma muda de roupa. Sobretudo porque aqui é verão. - Conferiu o

relógio. - Tommy, querido, quer por favor pôr no canal sete? O noticiário jácomeçou.Os pais estavam sempre assistindo aos noticiários. Sempre. O que

estariam procurando? Será que achavam que haveria uma reviravoltafantástica na família Carlotti, que algum dia poderiam ligar a televisão eouvir o âncora dizendo "Hunters, se estiverem me ouvindo, agora já podemvoltar para casa"?

Malory abanou a cabeça. Casa. Mal se lembrava de Nova York. Era aindamuito pequena quando saíram fugidos, no meio da noite, e entraram nocarro do FBI. Para Malory, Nova York significava os pilares de entrada dacasa onde morara e sua cama branca de dossel. Eram suas únicaslembranças.

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Recostou-se outra vez no sofá e fechou os olhos. Como já fizera tantasoutras vezes, reviveu mentalmente os acontecimentos que haviamcondenado a família a uma vida cheia de medos e mudanças constantes.

O pai era contador. Não chegava a ser uma profissão emocionante, masMalory lembrava-se de que ele sempre tivera muito orgulho de seu trabalho.Nunca se considerara nenhum tipo de santo, mas era um bom cidadão.

 Tudo que ele queria era dar uma vida normal e confortável à família,trabalhando, criando os filhos e saindo de férias de vez em quando.

Um dia, no serviço, reparou que as somas nos livros de contabilidade nãobatiam. Havia um monte de depósitos sem explicação. Seu colega, JimmyMoorhead, disse que os números também não estavam batendo do seulado. De modo que os dois começaram a fazer perguntas. Não demoroumuito tempo para que recebessem ordens expressas para ficar de bicocalado. Foi então que Hunter percebeu para quem estava trabalhando: aMáfia. Nesse ponto, decidiu que sua vida e a de sua família eram bem maisimportantes do que tomar alguma providência, e calou-se. Planejava apenasdar o fora e arrumar outro emprego.

Mas Jimmy não quis saber. Continuou botando a boca no mundo. E foiassassinado, baleado na cabeça, em frente de casa. Quando isso aconteceu,Hunter percebeu que teria de fazer a denúncia. Ele não queria pôr a famíliaem perigo, mas não podia deixar o assassinato do colega passar em branco,sem lutar. Não queria que os filhos crescessem à sombra de seu própriomedo.

Mais uma vez, Malory fez questão de lembrar que o pai era apenas umhomem decente e honesto que tentara fazer a coisa certa. Mesmo quemuitas vezes pusesse a culpa nele, sabia que não fora ele o autor daconfusão toda. A grande ironia era que assim que resolvera defender o queera certo, vira-se obrigado a fugir pelo resto da vida.

Encostada ao braço do sofá, olhou para a mãe, que assistia à televisão.

Ela parece tão cansada, pensou. Kathryn Hunter tinha apenas quarenta equatro anos e era decididamente uma mulher bonita, mas, como o restanteda família, tinha um aspecto pálido, assustado.

Agora que já estava mais velha, ficava óbvio de quem Malory herdara asfeições. Ela e a mãe tinham ambas os mesmos lábios vermelhos cheios eum narizinho reto, fino. Eram ambas esbeltas, embora Malory, com seu ummetro e sessenta e nove, fosse mais alta que a mãe.

Olhando para ela agora, pareceu-lhe que se sacrificara um bocado. EmNova York, vivia rodeada pela família: irmãos, irmãs, primos. Os pais aindaeram vivos. Formavam um grupo muito chegado, concentrado na família,religioso. Agora, separada dos seus, Kathryn Hunter não freqüentava

nenhuma igreja, nenhuma organização. As únicas pessoas com quem serelacionava regularmente eram o marido e os filhos. De repente a mãe lhedeu uma olhada e Malory desviou os olhos. Não havia como conversar sobretudo aquilo. Uma vez tentara e a mãe caíra no choro. Malory fizera opossível para consolá-la, mas era uma sensação estranha, bancar a mãe daprópria mãe.

- Olá, olá!Era o pai que chegava, todo alegrinho como sempre. Ela sentiu o cheiro

de comida chinesa antes mesmo de ver a sacola nas mãos dele.- Vocês não vão acreditar no que me aconteceu no serviço, hoje - falou

ele, indo em direção à cozinha. O pai sempre tinha uma história engraçadapara contar do escritório. Essa dava a impressão de ser sobre alguma

competição entre os funcionários. Malory sabia que teria de fazer algum tipo

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de comentário a respeito, mais tarde. A mãe ria, enquanto o pai falava efalava.

Isto parece até algum filme esquisito de ficção científica, filosofou Malory,onde todo mundo sabe que os alienígenas vão tomar conta da Terra, mastodos continuam agindo normalmente e fingindo que as coisas estão comosempre estiveram.

- ... enquanto isso - dizia o pai, com um sorriso amplo no rosto e osbraços cheios de caixinhas de comida chinesa -, José tinha feito ummostruário só com alimentos derivados de laranja. Oi, Maddy. - Ele beijou-lhe atesta. - Oi, Todd. Oi Mark!

O pai de Malory fazia questão de usar sempre os nomes falsos da família. Tentava fingir que era algum jogo divertido, ou coisa parecida. Ninguémmais achava engraçado. Ela odiava quando ele a chamava por um nomefalso.

- Oi, pai. - Malory lhe deu um sorriso. Até meu sorriso é falso, pensou.- Eu disse "só com alimentos derivados de laranja!" - instigou o pai. -

Cadê minhas gargalhadas? A história acabou!

- Muito engraçada mesmo, pai. - Malory sorriu de novo, torcendo paraque o assunto morresse por ali mesmo.- É, muito engraçada mesmo, pai. - Mike atacou a caixinha com carne e

brócolis, comendo com garfo. Tom usou suas habilidades nos pauzinhospara pescar comida do prato de todo mundo. Malory sorriu para ele. Tomtinha hábitos alimentares muito estranhos. Uma vez eles até tiveram quelevá-lo ao médico porque ele só queria comer uva, isso durante duassemanas inteiras. Mike, ao contrário, comia tudo que lhe aparecesse pelafrente. Uma vez comeu um prato todo de tortinhas de carne de porco, semreparar que tinha engolido junto a forminha de papel em que vinhamembrulhadas. "Bem que eu achei meio borrachento", foi tudo que ele disse.

- Então, Maddy - o pai falou, sem prestar atenção na reação que o nomefalso provocava -, conte-nos como foi seu primeiro dia na escola.

- Não tem muita coisa para contar - falou Malory, comendo seu macarrãolo mein. - Levei quase um ano procurando minhas salas de aula e quasemorri pisoteada nos primeiros cinco minutos. A escola toda está cheia desocialites e ninguém reparou que eu estava viva, fora um cara que...

Os pais concordaram com um movimento de cabeça, compreensivos.- Os primeiros dias são sempre difíceis.- Muito perturbadores - o pai resmungou, concordando. Malory sentiu

vontade de gritar. Às vezes eles tentavam ser tão, tão compreensivos que adeixavam maluca. Como é que ela podia crescer e se rebelar contra um pai

e uma mãe que compreendiam tudo? Sobretudo quando era tudo culpadeles que as coisas fossem sempre assim tão difíceis?Soltou um suspiro. Nada daquilo era normal e, provavelmente, nunca

seria.Passou em revista o dia que tivera. Pelo menos as aulas particulares

eram algo para se esperar com ansiedade, o jeito que arranjara de ganharalgum dinheiro e fazer uma ponte entre o isolamento em que vivia e omundo exterior.

- Também dei uma conferida nos anúncios do quadro da escola -prosseguiu. - Vou dar aula para um garoto chamado Joey Pataki. Já meencontrei com ele; é uma gracinha de menino...

Mike fez cara de quem não gostou.- Mas não tanto quanto você. - Pegando um pouco do brócolis, ela

continuou. - Bom, mas a melhor parte do dia foi a aula de apreciação

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musical. - A professora, chama-se Lerner, diz que eu posso entrar para aorquestra. - Malory sorriu, triunfante. - E que eu posso estudar piano nacasa dela, aos sábados, e já tenho uma pilha de novas músicas!

- Isso é fabuloso, meu bem - o pai falou, em voz baixa.- Parece bem divertido - a mãe acrescentou rapidamente. Malory sabia no

que os dois estavam pensando de fato. Era perigoso demais para elaparticipar de qualquer clube ou atividade extracurricular. Era especialmenteperigoso entrar para a orquestra, por causa do seu talento inegável. Elasempre se destacava de todos os outros, em qualquer bandinha escolar.Mas nem um nem outro tinham a coragem de lhe negar aquilo que mais lheimportava na vida, sobretudo porque lhe restava tão pouco de tudo o mais.

- Eles não têm salas de música na escola? - a mãe de Malory perguntou,fingindo animação. - Aposto como têm. Por que você não pergunta a suaprofessora de música sobre isso, e aí eu tenho certeza de que...

- É uma ótima idéia - interveio o pai. - Eu sei que quase todo músicoprecisa de muita privacidade e...

Malory não agüentou muito tempo. Se sua música punha a vida de todos

eles em perigo, essa era uma responsabilidade que não desejava.- Se vocês não querem que eu toque piano - interrompeu, sem alteraçãona voz, tentando controlar a indignação -, eu digo à professora Lerner quenão posso tocar, levo as partituras de volta e todos nós continuaremos sãose salvos nesta nossa bela cela penitenciária.

Os pais olharam-na em silêncio.Malory levantou-se da mesa, tentando não parecer perturbada demais,

para não inquietar os gêmeos.- Com licença - falou baixinho -, tenho lição de casa para fazer. - E, com

isso, saiu correndo para o quarto.- Mal... - O pai ia começando a dizer, mas sua voz calou-se ao ouvir a

porta do quarto minúsculo bater com força.

Me deixem em paz, é só o que eu peço, ela implorou silenciosa, enquantose atirava na cama. Fechou os olhos; as paredes beges pareciam estaravançando sobre ela. O lugar era de fato um presídio. Não havia diferençaalguma. Ficou meio curiosa em saber o que as vozes abafadas dos paisestariam dizendo. Depois de alguns instantes, ouviu uma batida leve naporta.

- Pode entrar - resmungou. Malory evitou os olhos do pai, enquanto ele seacomodava na ponta do colchão.

- Mal, eu sei como isso é duro - começou ele.- O que está querendo dizer? - ela perguntou, relutante.- Quero dizer... bom, para começo de conversa, você assumiu mais que

seu quinhão de responsabilidade na família.Malory ficou calada.- E agora tem de crescer mais depressa que a maioria dos jovens da sua

idade.- De certa forma, é, acho que sim - Malory mexeu-se na cama,

desconfortável. O que ele iria fazer? Restituir-lhe os onze anos perdidos? Porque não ficava quieto e pronto?

- Não era assim que eu imaginava ver você crescendo de jeito nenhum. -A voz dele estava tensa.

- Eu sei.- Sempre imaginei você como uma mocinha de cidade bem ajustada. - Ele

pigarreou e forçou um sorriso. - Do tipo que chega em casa depois da

escola, encontra os amigos e tem muitas atividades, namorados, e que está

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sempre curtindo tudo que uma grande cidade pode oferecer. Concertos,museus, o que seja.

- É... parece uma boa - Malory concordou, desanimada- Ninguém é perfeito, Malory. Principalmente o FBI.- Não me diga - disse ela, sentindo a raiva crescer de novo. - Se eu não

tivesse visto aquela placa de Nova York, em Lincoln Hills... - Mas nãocompletou a frase.

- E ainda bem que você viu. Sabe de uma coisa, foi fantástica a maneiracomo você pegou os meninos e nos tirou da cidade antes mesmo queaqueles homens soubessem o que estava acontecendo. Estou muitoorgulhoso de você.

- É, bom, eu já tive prática que baste. - A voz de Malory saiu sem inflexão.- Maddy... Malory, meu bem, escute...- Deixa pra lá, pai. Não se preocupe com isso. Eu me viro.- As palavras saíam tensas de sua boca.O pai calou-se. As costas encurvaram. Depois levantou-se da cama.- Mal, o FBI diz que isso não vai durar para sempre.

- Pois é, e as informações deles têm sido sempre tão confiáveis - veio aresposta imediata. Mas na mesma hora, ao ver a expressão no rosto do pai,arrependeu-se do que tinha dito.

- Não, você tem razão, Mal - disse ele, parando na porta. Eles não têmsido muito confiáveis. Foram seis mudanças, já, em onze anos, e você temtodo o direito de se sentir furiosa... comigo, com eles. Mas eu não poderiaviver em paz comigo mesmo se não tivesse feito o que fiz em Nova York. -Eu sei que os Carlotti continuam na ativa... e não conheço nenhuma outramaneira de manter nossa família a salvo. Nem o FBI.

- Eu sei, pai. Eu sei. Desculpe.Ele sacudiu a cabeça.- Não precisa se desculpar. Às vezes acho que é paranóia demais da

minha parte. Não quero que se sinta ameaçada o tempo todo. Mas tomecuidado para não se sobressair, seja igual a todo mundo. Nada de fotos,nada de retratos... integre-se e não chame a atenção. - Dando uma olhadapara seu novo cabelo preto, ele sorriu pesaroso. - Faça o possível para nãodespertar curiosidade, Branca de Neve.

Em seguida fechou a porta atrás de si.Malory estirou-se de novo no colchão encaroçado. Estava exausta. Um

milhão de idéias diferentes martelavam-lhe o cérebro. Talvez fosse verdade. Talvez isso não fosse durar para sempre. Talvez então pudessem voltar aNova York e viver como uma família normal, naquela bela casa de pedras,com uma cama branca de dossel.

Ou talvez não.Malory olhou pela janela do quarto para a grade horrível da saída deincêndio. O luminoso de néon do Unocal 76 bateu-lhe direto na cara. LosAngeles era uma cidade enorme. Milhões de pessoas passavam por elatodos os dias. Eles estariam seguros ali. Por enquanto.

Ou será que não?Malory perguntou-se o que Ben estaria fazendo naquela noite. Fosse o

que fosse, com toda a certeza estaria rodeado de garotas lindas, sem umprobleminha na vida, todas vestidas com roupas incríveis.

Sacudiu a cabeça, decidida a manter Ben longe de seus pensamentos.Sabia que o pai tinha razão. O mais importante era não chamar a atenção,manter a família tão em segurança quanto possível. Muito tempo atrás,

prometera a si mesma que faria qualquer coisa, abdicaria de qualquer coisapara garantir que ela, os pais e os irmãos continuassem seguros.

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Resolvida a fazer apenas isso, Malory fechou os olhos e procurou pegarno sono.

Quatro

No dia seguinte, sábado, Malory acordou cedo. Os númerosfosforescentes do relógio digital diziam 8h03. Muito cedo ainda, resmungou,fechando os olhos de novo. Mas não conseguiu pegar no sono outra vez.Depois de alguns minutos revirando na cama de um lado para outro,levantou-se, foi até o banheiro e escovou os dentes.

Examinou seu reflexo no espelho. Estava começando a se acostumar comaquele cabelo negro retinto. Os primeiros dias depois de assumir, uma novaidentidade eram sempre meio estranhos. Tinha de se habituar a uma novaaparência e um novo nome, além de lembrar o dos irmãos e o dos pais. Erauma barra.

Suspirando, entrou debaixo do chuveiro. O jato de água quente relaxou-a

e chegou a pensar em voltar para a cama, mas sabia que não conseguiriadormir mais. Por isso, pegou a calça e a camiseta novas que a mãe lhe dera.Vestida, sentiu-se um pouco menos desenturmada que antes. Pelo menosnão tinha mais aquele ar de refugiada que saiu do frio.

O pai já fora trabalhar, tinha um emprego de fim de semana numrestaurante italiano, em Santa Monica, ali perto. Jeffrey Laurence conseguirauma colocação para ele como gerente substituto. Hunter não tinha muitaexperiência com restaurantes, mas aprendia rápido. O programa deproteção a testemunhas o forçara a ser pau para toda obra. A cada vez quea família se mudava, era obrigado a pegar um emprego diferente.

Para ser franca, a ausência do pai chegava a ser um alívio. Aqueleapartamento era simplesmente acanhado demais para os cinco. Além do

mais, Malory se ressentia um pouco de ter de virar "Maddy" sempre que eleestava em casa. Era quase tão ruim quanto ir ao colégio.

Saiu do quarto calçada com as velhas botas e foi em direção à porta.Mike e Tommy estavam assistindo a Gladiadores 2000 e Malory atravessoutranqüila a saleta, sem chamar a atenção dos irmãos. Agora, se a mãe nãoestivesse na cozinha...

- Mas olha só que madrugadora – comentou Kathryn Hunter, encurvadasobre o fogão, preparando os ovos mexidos. – Está com fome?

Malory olhou para o linóleo rachado e todo manchado do chão. O lugarera um lixo.

- Não, obrigada mamãe – resmungou.

- Você dormiu bem?- Dormi... Mas acho que estou meio ansiosa para tocar piano na casa daprofessora Lerner.

A mãe sorriu.- Aposto que está, meu bem.Kathryn Hunter parecia especialmente alegre naquela manhã. Malory

sabia o que isso significava. A mãe devia estar ainda mais preocupada quede hábito, mas decidiu que o mais prudente era guardar a suspeita consigo.Começou a pôr a mesa da cozinha, cantarolando baixinho seu concertinofavorito de De Falla.

- Sempre gostei dessa música – disse-lhe a mãe, melancólica. – E vocêinterpreta tão bem. É a minha predileta.

- Verdade? – Maloty estava surpresa que a mãe se lembrasse. – Acho queé a minha predileta também.

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Desviando a vista, a mãe começou a mexer os ovos com fúria.- Quando isso tudo estiver acabado, Mal, você vai ter uma vida normal.

Um piano em casa, amigos, namorados... tudo.Por alguns instantes, Malory prendeu a respiração. Não queria começar o

dia dessa forma, com culpas, promessas vãs e falsas esperanças. Mas sabiaque a mãe estava fazendo apenas o melhor que podia.

"Um piano em casa, amigos, um namorado..." Afaste-se de todos os acima citados, Malory pensou, deixando que a raiva

levasse a melhor. Porém por alguma razão, o rosto de Bem apareceu-lhesem mais nem menos na lembrança. Talvez porque ele fosse o que tinha demais próximo de um amigo. E olhe que mal trocara uma dúzia de frasescom o garoto. Mas lhe parecera bom sujeito. Também lhe parecera ansiosoem conhecê-la. E era inegavelmente bonito...

Nesse momento exato o som estridente do telefone veio perturbar seuspensamentos. Sentiu o coração acelerar. Olhou para a mãe. Os olhos delaestavam arregalados... e Malory sabia o motivo.

O número do telefone deles não constava da lista.

Sem hesitar, Kathryn Hunter tirou o fone do gancho, preso na parede dacozinha.- Alô - disse ela, calma.Será possível que seja o papai?, Malory perguntou-se. Talvez tivesse se

perdido a caminho do trabalho.- Alô? - repetiu a mãe, com um pouco mais de ênfase. Depois olhou o

telefone alguns segundos, franziu a testa e desligou. - Deve ter sido engano- resmungou.

Malory engoliu em seco.- Deve ser isso.Com uma voz animada que não correspondia a sua preocupação, Kathryn

falou:

- Bom, então vamos comer, assim podemos começar o dia.

Com o vento soprando em seus cabelos e o sol forte da Califórnia lhebatendo em cheio, Malory quase conseguiu esquecer o quanto detestavasua nova casa.

Para ir até a casa da professora Lerner pelo caminho mais curto terialevado no máximo uns quinze minutos, mas preferira sair cedo e seguir pelotrajeto mais longo e sinuoso, em grande parte para escapar doapartamento. Depois do café, a mãe a encarregara de vigiar os gêmeos,enquanto fazia umas compras. Malory não se importava com a

responsabilidade, mas a depressão por estar naquele lugar, mais apreocupação com o telefonema misterioso deixaram-na tensa e irritadiça.Assim que a mãe voltou das compras, pulara na bicicleta e saíra.

Mas agora sentia-se bem melhor. Aquela região de Los Angeles eraespecialmente boa para pedalar: plana, cheia de árvores, espaçosa, compouco trânsito. Se pudesse rodar bastante, talvez conseguisse se acostumarcom a cidade, pensou. Dois estudantes passaram por ela, na calçada, indona direção oposta, e Malory de repente se viu observando a fisionomia deambos. Abanou a cabeça. Por mais tolo que fosse, estivera secretamenteesperando dar de cara com Ben. Quais eram as chances de que issoacontecesse, numa cidade de oito milhões de habitantes? Afinal, LosAngeles não era Lincoln Hills.

Antes que se desse conta, estava entrando em Baden Lane, a rua daprofessora. Não pôde evitar de notar a diferença entre aquela e a rua onde

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morava: havia casas grandes, térreas, com amplos gramados verdes ecerquinha branca na frente; tudo tinha um ar calmo, de coisa bem-cuidadaem volta. Malory olhou os números: 324, 316... ali.

A casa de número trezentos e dezoito da Baden Lane não era dasmaiores e tinha uma fachada de pedra amarela. Havia flores roxas, rosas ebrancas ladeando a entrada que levava até a porta. Malory sentiu umapontada de tristeza ao estacionar a bicicleta. O gramado, o cesto debasquete no alto do portão da garagem, a prancha de skate encostada àparede, tudo tinha um ar de ter sempre estado ali, e de que sempre estaria.

 As coisas são permanentes aqui, disse com seus botões. E permanência éalgo que eu desconheço.

- Oi, tem alguém em casa? - ela chamou, pela porta de tela da frente. -Olá? - chamou de novo, comprimindo o rosto na tela. Lá dentro, estavafresco e escuro.

- Olá, Madeline!Malory teve um sobressalto. Atrás dela estava a professora Lerner,

remexendo dentro de uma bolsa enorme com um ar meio atarantado.

- Tenho que sair correndo... e vou demorar um pouco. Não consigo achara chave sobressalente. Meu marido e meu filho devem aparecer em algummomento. Olha, pode deixar destrancada; tudo bem, não tem problema.Deixei umas partituras no piano para você. Divirta-se! - E, dizendo isso, saiuàs pressas rumo à calçada.

Malory sorriu e sacudiu a cabeça.Ao entrar, parou alguns momentos no hall, os pés sobre o chão lajeado

de ardósia, reparando como tudo ali tinha um lugar. À direita ficava a salaíntima da família. Tudo parecia tão aconchegante, com um sofá macio decouro marrom e outro, de dois lugares diante de uma televisão enorme,cercada de estantes repletas de livros, jogos e videocassetes.

À esquerda do hall ficava a sala de visitas. Aninhado num canto do

enorme aposento, a uma distância correta da lareira de pedra, havia umlindo piano de cauda compacto, de cerejeira. A luz que penetrava na sala,filtrada pelas cortinas brancas das janelas panorâmicas, dava ao ambienteuma sensação ao mesmo tempo de amplitude e de paz.

Permanência, Malory repetiu consigo mesma, de novo, sentindo umainveja dolorida das pessoas que podiam viver vidas assim tão normais ecomuns. Por instantes, desejou de coração poder trocar de lugar e ser parteda família da professora Lerner.

Caminhou até o piano e, com todo o cuidado, quase com ternura, folheouas páginas das músicas que a professora separara para ela. Praticamentetodas suas favoritas estavam ali, inclusive o concertino que estivera

cantarolando pela manhã. Abriu a partitura de De Falla e tirou a coberta depano de sobre o teclado.Desde pequena, todo mundo sempre dissera que era um prodígio. Malory

sabia que era dotada. Martelara o piano de armário de segunda mão, queficava no vestíbulo da casa de pedra de Nova York, desde o momento emque conseguira sentar-se sozinha na banqueta, e já aos quatro anos tocavahinos de Natal. Aos cinco, começara com os exercícios de nívelintermediário, e chegara inclusive a ganhar um prêmio em seu primeirorecital, pela interpretação de "Era uma vez três pescadores". Como se nãobastasse, informara à professora que a peça era na verdade um estudo es-crito por Ludwig van Beethoven.

Devagar, sem pose nenhuma, aproximou os dedos do piano e, segundos

depois, sua mente já estava num lugar muito distante. Como sempre,Malory deixou que a música a inundasse e a levasse para lugares

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longínquos e há muito esquecidos, onde era ainda Malory Hunter, nãoMaddy Mailer ou algum outro nome idiota que nada tinha a ver com ela.

 Tocando, seu rosto se iluminava, e os timbres sonoros do piano vibravampor seu corpo todo. Ela oscilava de lá para cá na banqueta, levada peloritmo do pequeno concerto. Os dedos ágeis dançavam alegremente peloteclado. Lá pela metade da peça, em terreno conhecido, Malory fechou osolhos, passando a tocar de cor, sem recorrer mais às notas escritas.

O tempo parou de existir. Durante o que lhe pareceram horas, Malorytocou peça atrás de peça, algumas lendo as partituras que a professoraLerner lhe deixara, mas a maior parte de memória. Enquanto tocava, a dorde seu isolamento diminuía um pouquinho.

No meio de um trecho especialmente lírico, a imagem do amplo sorrisode Ben apareceu-lhe de repente na cabeça. Esse trecho sempre lhe soaraum pouco como uma risada e por algum motivo seu subconscienteassociara aquela passagem com a única outra coisa capaz de fazê-la rirnessa altura da vida: um rapaz que ela mal conhecia.

Por fim, as mãos se juntaram em uníssono no acorde final. Os olhos

continuaram fechados à medida que as harmonias onde estivera engolfadadesapareciam aos poucos.Palmas calorosas lhe deram um sobressalto.Os olhos se abriram na hora. O coração batia forte e os cílios

pestanejavam de incredulidade. Ela não estava sozinha. Lentamente, tirouas mãos do teclado e ficou ali sentada, paralisada, de olhos cravados nasilhueta indistinta num canto da sala.

- Não pare - disse a imagem, em voz baixa. E ela já sabia quem era.- Ben? - gaguejou ela. - O que... o que você está fazendo aqui?- Bom, para começar - falou Ben, saindo das sombras -, eu moro aqui. E

você? - acrescentou ele, com um sorriso.- Você... você mora aqui? - Malory levantou-se de modo tão brusco que

quase derrubou a banqueta.- Difícil de acreditar, não é mesmo? - perguntou o rapaz, com um

sarcasmo bem-humorado. - Sei que não é grande coisa, mas é minha casa.Deixe-me adivinhar. Você deve ser a aluna especial que minha mãe estavaesperando.

De repente, tudo se encaixou. Ben era filho da professora Lerner. Maloryespiou de novo seus cabelos castanhos despenteados pelo vento, os olhoslímpidos cor de amêndoa, as maçãs do rosto coradas de sol. Sim, agorapercebia, podia ver, sem dúvida, a semelhança entre Ben e a mãe. Masmesmo assim, era tudo tão... estranho.

- Desculpe se a incomodei. - Malory sacudiu a cabeça.

- Não, não incomodou não. - Olhou-o mais intensamente. Ele tinha asmãos nas costas, como se estivesse escondendo alguma coisa. – O que temaí...?

- Espero que não se incomode. - E, com um gesto repentino, mostrou-lheo caderno de esboços.

Malory teve um choque. Percebeu que estava olhando para si mesma. Areprodução era exata: ela ao piano, as mãos finas em movimento. A figura alápis parecia estar tocando em meio a um transe sonhador, cercada poruma poça de luz difusa.

- Mas essa sou eu - murmurou incrédula. - Como conseguiu?Ben encolheu os ombros.- Não tem nada demais. Quer dizer, eu faço isso o tempo todo -

acrescentou, talvez tentando explicar por que era tão bom naquilo. - Vocêficou ali sentada tanto tempo que eu não pude resistir...

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- Como não tem? Tem sim, tem muita coisa sim - disse ela, erguendo osolhos cheios de admiração para Ben.

- Obrigado. - Ben desviara rapidamente o olhar, como se estivesseconstrangido. - Para falar a verdade, tive vontade de desenhá-la desde aprimeira vez em que a vi. E quando percebi que você estava aqui, dentro daminha própria sala de visitas, bom, hum, eu tinha de aproveitar a chance...

Naquele instante, o coração de Malory congelou.Onde estava com a cabeça? Não podia permitir que retratos seus

circulassem pela cidade, nem mesmo no caderno de esboços de Ben. E sepor acaso alguma pessoa visse? A pessoa errada?

A voz do pai de Malory ecoou-lhe muito nítida na lembrança: "Nada deretratos, nada de fotos".

- Eu meio que gostaria que não tivesse feito isso – Malory pegou-sedizendo.

Ben olhou para ela, espantado.- Como assim?- Sabe, na verdade você não devia fazer isso, a menos que tivesse pedido

permissão antes, para retratar a pessoa - falou Malory, meio sem graça.Sabia que Ben devia estar achando sua atitude muito estranha, mas nãohavia nada que pudesse fazer a respeito.

- Bom, eu não... eu não achei que você fosse se importar... - Bengaguejou.

- Mas me importo - e a frase saiu talvez um pouco mais ríspida do que opretendido. - E, na verdade, vou ter de lhe pedir para me dar esse esboço,se você não se importa. - E estendeu a mão, numa atitude de expectativa.

- Tudo bem. - A resposta de Ben veio num tom quase brusco. Arrancandoa página do caderno, entregou-a a ela. - Eu teria dado a você de toda forma,se soubesse que ia querê-la - resmungou, fechando o caderno e guardandoos lápis.

Malory quis dizer alguma coisa, qualquer coisa, para explicar-se, mastudo que conseguiu fazer foi encarar o olhar magoado de Ben. Não havia amenor possibilidade de ele poder saber o que estava acontecendo com ela.A coisa que mais queria na vida era contar-lhe por que não podia permitirretratos seus. Sabia que se lhe dissesse o motivo real, Ben seria solidário,compreensivo. Talvez até a envolvesse nos braços, para consolá-la. Só depensar nisso, seu coração disparou. Olhou de novo para o rapaz, ainda aremexer no caderno e nos lápis.

Mas Malory não podia contar a ele. Nem agora. Nem nunca. Pelo bemdele, e pelo bem e segurança de sua família. Lá bem no fundo, sabia que omelhor seria cortar todo e qualquer laço de vez, bem ali, naquele momento.

Olhou para o esboço que tinha nas mãos. Seus dedos tremiam. Depoissentiu os olhos de Ben em cima dela, queimando. Sabia que deveria rasgaro desenho em pedacinhos, mas não foi capaz de fazê-lo.

Eu me livro disto depois, pensou.Enrolou a folha com um gesto rápido e enfiou-a na bolsa. Depois saiu

quase correndo em direção à porta da frente.- Agradeça a sua mãe por mim, por favor e... - Deu uma espiada por

sobre o ombro. - Hum... a gente se vê no colégio.Ainda tivera tempo de dar uma olhada breve para o rosto amuado de

Ben, ao afastar-se. E antes mesmo de se dar conta do que estavaacontecendo, sentiu as lágrimas inundando-lhe os olhos.

- Ei, Maddy... espere!

Ela hesitou e ele se aproximou por trás.

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- Olha, você tinha toda razão. - O tom era de súplica, a voz não tinha maisnenhuma raiva.

- Não se preocupe com isso - ela conseguiu sussurrar. Agora nunca mais vou poder voltar aqui, disse para si mesma,

amargurada. Nunca mais vou poder tocar este piano fantástico, porque Benmora aqui. Com certeza ele nunca mais iria falar com ela, nem olhar paraela, depois do que fizera. E não podia culpá-lo. De certa forma, fora essa suaintenção, não fora?

Até ali, Malory ainda não percebera o quanto ansiava para que ela e Benpudessem ser... bem, pelo menos amigos.

Esqueça o assunto, pensou tristonha. E, sem mais uma palavra, saiucorrendo da casa.

Cinco

Até chegar a hora de ir para a biblioteca encontrar-se com Joey Pataki, omenino de dez anos a quem ficara de dar aula particular, parte do

constrangimento e do remorso já se fora. Malory tinha saído da casa dosLerner havia quase duas horas e gastara o tempo vagando pela cidade, debicicleta e a pé, dando vazão às frustrações. Não devia nem ter falado comBen, para começo de conversa. Na verdade não devia falar com ninguém desua idade e ponto final. O silêncio evitaria que se magoasse.

Eram quase cinco horas da tarde. As pernas estavam começando a doer,mas ao menos seu humor melhorara. Malory dobrou a esquina e entrou naavenida larga que dava na biblioteca.

Mas, assim que começou a descer a ladeira, experimentou aquelasensação já muito familiar de estar sendo seguida.

Automaticamente, saiu da ciclovia, foi para a calçada e parou. Ali,remexeu na mochila, fingindo ajustar as alças, enquanto com o canto do

olho observava os carros que passavam.Um jipe Cherokee preto, de vidro fumê, vinha bem devagar pela rua.Ela prendeu a respiração. O coração bateu dolorido no peito.Não entre em pânico. Suba na bicicleta e comece a pedalar, com calma.

Não olhe para o carro. Aconteça o que acontecer não olhe para o carro...O jipe foi reduzindo a velocidade e parou a seu lado. O vidro fumê baixou.Malory agarrou o guidão com tanta força que os nós dos dedos

branquearam. Muito rapidamente, virou a bicicleta para o outro lado,sentou-se, pôs os pés nos pedais, prestes a dar a largada, quando ouviuuma voz dizer:

- Que tal uma carona? Ela parou a bicicleta de supetão. Conhecia aquela

voz.- Eu... eu... - gaguejou ela, fechando a boca em seguida.Ben estava na direção. Com os olhos cravados nele, Malory não sabia se

ficava alegre, aliviada, envergonhada ou brava.- Tudo bem com você? - Ben perguntou, pondo a cabeça para fora da

 janela. Ele parecia preocupado.- Claro, claro que sim. - A voz estava sumida. Malory tentava se

recuperar.- Quer uma carona até em casa? Assim você me dá chance de me

desculpar por ter feito o desenho e de pedir licença para fazer um outro, dapróxima vez.

Malory mordeu o lábio. Por que ele se comportava desse jeito, tão doce?

Será que não percebia que isso não levaria a nada?

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- Bom, é que eu ainda não estou indo para casa. - A resposta foicuidadosa.

- Então que tal uma carona para seja lá onde for que esteja indo? - Bensorria.

- Hum, eu estou indo para a biblioteca. Não fica muito longe...- Para a biblioteca? - interrompeu o rapaz. - Mas que coincidência. Estou

indo na mesma direção.Sem dar mais nenhuma chance para que Malory levantasse outra

objeção, Ben saltou do carro, pôs a bicicleta na traseira e abriu a porta comum gesto cavalheiresco para que entrasse.

- Você não aceita um não por resposta, não é mesmo? - resmungou ela,sentando-se no banco do passageiro, sem conseguir conter um sorriso.

- De jeito nenhum. - Ele entrou do outro lado e deu a partida.Depois virou-se e pôs a mão de leve na dela. - Olha, eu sinto muito ter

feito aquele desenho. E não tive intenção de parecer bisbilhoteiro. Eu só nãoqueria perturbá-la. Você parecia tão... feliz.

Malory olhou para os dedos de Ben, borrados de lápis preto e carvão. Não

pôde evitar uma emoção intensa ao toque daquela pele. Mas ele a olhavacom uma expressão tranqüila, amistosa. Seria apenas um gesto dedesculpa? Ou será que havia uma outra intenção?

- Você me perdoa? - Ben insistiu. Ela fez que sim, erguendo a vista paraaqueles grandes olhos castanhos. Por instantes, esqueceu-se de queestavam sentados no carro dele, parados no meio do trânsito. Naquelemomento, Malory experimentou o mesmo de quando tocava piano: pareciaflutuar, segura e livre. Sem querer pensar, num gesto involuntário, sorriu defelicidade.

A buzina estridente de um carro atrás deles quebrou a magia. Malory deuum pulo. Os dois riram, depois Ben pôs as mãos no volante e pisou noacelerador. A comunicação fora interrompida.

- Olha, Ben, desculpe por ter explodido com você. Eu... eu... é que... - Elaparou de falar. Não queria mentir para ele. Mas também não podia lhe dizera verdade.

- Esqueça o assunto. - Ben continuava de olho no trânsito. - Tudo bem,sério. Eu compreendo.

Malory soltou um suspiro e seguiram em silêncio o restante do caminho.Quando chegaram à biblioteca, Ben tirou a bicicleta de Malory da traseira docarro e ajudou-a a pôr o cadeado, no estacionamento das bicicletas. Pelasegunda vez, em menos de cinco minutos, Malory se perguntou: Por que eleestá sendo tão gentil comigo? E chegou à conclusão de que com certeza eleera assim por natureza. Com todo mundo.

- Hum... foi legal - falou ela, assim que viu a bicicleta com o cadeado.Ele lhe lançou um sorriso confuso.- Quer dizer, a carona - ela acrescentou depressa. - Obrigada.- Não foi nada. Eu estava vindo para cá mesmo.Malory olhou para o chão, durante o silêncio embaraçoso que se seguiu.- Quer dizer... hum, para estas bandas. Vou me encontrar com o Seth e

uns outros caras na loja de discos, logo ali adiante - disse Ben, dando umaolhada para as grandes portas duplas da biblioteca. - Eu acompanho vocêaté lá dentro.

Malory sorriu.- Obrigada. - Sentiu que começava a enrubescer, de modo que saiu

rapidamente na frente, em direção à entrada. – Tenho um encontro, aqui.

Ben olhou-a com o rabo do olho, enquanto mantinha a porta aberta paraque passasse, e perguntou, erguendo uma sobrancelha:

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- Algum namorado, é?Malory olhou-o de novo. Não saberia dizer se aquilo era ciúme, ou se ele

estava apenas brincando com ela, como um irmão mais velho brincaria coma caçula.

- Pode-se dizer que sim.O rosto de Ben denunciou-o. E Malory não pode evitar o estranho alívio

que a invadiu. Ele não teria ficado decepcionado se estivesse apenasbrincando.

Ele suspirou.- Bom, então acho que eu vou... .- Madeline! - gritou uma vozinha aguda, de dentro da biblioteca.- E lá está ele - falou Malory.

 Joey Pataki certamente se sobressaía naquele ambiente. Seu jeito era ode alguém que deveria estar num parquinho, e em nenhum outro lugar. Acamiseta encardida pendia solta e larga no corpo magricela e elétrico, ocabelo loiro todo desgrenhado, espetado para todas as direções. Ele acenoupara ela, animado. Algumas pessoas nas mesas próximas estavam

começando a fazer carranca para ele.Ben olhou para Joey. Depois começou a rir- Quieto! - alguém estrilou.- Aqui, Madeline! - berrou Joey. .- Psiu! - uma outra pessoa cochichou com firmeza.Malory deu uma olhada em Ben e, de repente, caiu na risada.- Eu volto já - falou, tentando em vão recobrar o controle.- Preciso dar um jeito de ele não berrar de novo. Da última vez em que o

vi, ele estava impossível. - Apressando-se até a mesa onde Joey se achava,ajoelhou-se a seu lado.

- Qual é graça? - Joey sussurrou.- Nada, nada - Malory sussurrou de volta, tentando ignorar os olhares

furibundos das pessoas em volta. - Escute, eu só vou me despedir de umamigo e volto já, já, certo?

 Joey fez que sim.- Certo.Madeline saiu depressa atrás de Ben e imediatamente começou a rir de

novo.- Eu bem que podia aprender algumas coisas com esse moleque - disse

Ben, em tom sarcástico. - Olha que ele sabe como conseguir a atenção dealguém. É seu irmãozinho?

Malory abanou a cabeça. Ela já estava com os olhos cheios de água, detanto rir.

- Não... ele é o menino para quem eu vou dar aulas particulares.Ben sorriu, parecendo impressionado.- Quer dizer então que você além de ser uma pianista fantástica é

também professora particular. Uau! O que mais você faz? Corre emmaratonas?

À menção da palavra corre, os últimos vestígios de risada sumiram nagarganta de Malory. Eu não corro em maratonas, mas corro. Estou correndobem agora.

Ben parecia intrigado.- Ei, tudo bem com você? Será que eu a ofendi, por acaso? Disse alguma

coisa que não devia?Malory respirou fundo.

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- Não, é só que... - Deixou a frase por terminar. É só que nunca vou poder ser sincera com você. Espiando a porta de entrada da biblioteca, falou: -Agora é melhor eu entrar.

- Escute - Ben interveio depressa. - Eu gostaria de vê-la de novo. Só paraa gente conversar mais um pouco. Eu não vou desenhá-la nem nada...

- Aquilo foi tudo culpa minha - interrompeu ela, por sua vez. - Não tive aintenção de ser tão grosseira...

- Isso significa um sim? - Ben arqueou uma sobrancelha, esperançoso.Malory não sabia o que dizer. Mantinha os olhos grudados no chão. Uma

parte dela queria sair com Ben mais que qualquer outra coisa no mundo.Mas a outra parte tinha medo... de responder perguntas, de se sentir muitopróxima... de se machucar.

Foi justamente nesse momento que o rosto redondo de Joey apareceu naporta.

- Ei Madeline... você não vem?Ela olhou para Joey, depois para Ben. O rosto ansioso dele exigia uma

resposta.

- Eu gostaria de sair com você - pegou-se dizendo, em voz- Legal! Que tal quando você acabar de dar aula?Um sorriso espalhou-se pelo rosto de Malory. Ele definitivamente não

perdia um segundo.- Eu venho apanhá-la daqui, hum... uma hora.Ela assentiu de cabeça.- Claro. Tudo bem.- Certo - disse Ben, feliz da vida. - A gente se vê daqui a pouco, então.

 Tchau, Maddy.Malory viu quando ele entrou de novo no jipe e sumiu na avenida. Foi

tomada por uma mistura estonteante de euforia e desespero.O que eu fui fazer? Pensou, desesperada. Não podia se aproximar dele.

Era o mesmo que enganá-lo. Jamais poderia haver qualquer coisa entre osdois.

Ele não sabe sequer meu nome verdadeiro.

Seis

- Que tal se a gente fosse até a minha casa? – Ben sugeriu, guardando abicicleta de Malory no carro. – Meus pais não se incomodam.

Malory sacudiu a cabeça, recusando, e entrou no jipe. O sol já começara abaixar e sentia-se cansada. Sabia que se a mãe dele estivesse em casa fariaum monte de perguntas sobre seus antecedentes musicais. E seria obrigada

a manter um fluxo constante de mentiras. Simplesmente não estava comenergia para isso. Durante a aula particular, Joey Pataki encarregara-se deacabar com o pouco de força que lhe restara.

- Então vamos até a sua? – Bem perguntou.- De jeito nenhum! – E até ela assustou-se com o som ardido, áspero, da

própria voz. Fantástico, pensou, arrependida. Essa resposta não levantou amínima suspeita.

Ben ficou meio espantado.- Bom, tudo bem – falou devagar.Malory deu um sorriso apagado.- Que tal uma pizza? – O tom foi casual. – A gente pode ir no Alonzo. Fica

bem na esquina da Avenida Highland.

- Claro. – Naquela altura, Malory estava pronta a concordar com tudo.- Ótimo. – Bem sorriu. – Não fica muito longe daqui.

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Enquanto seguiam até a pizzaria, Malory foi espiando pela janela aberta.O sol era uma bola de fogo no horizonte e a brisa fresca despenteava-lhe ocabelo. Permitiu-se um sorriso. Então era assim que uma pessoa normal sesentia? Indo junto com um rapaz comer uma pizza numa bela tarde desábado?

- Então como foi seu encontro? – Bem perguntou, depois de algunsinstantes.

Malory riu.- Muito bom. Na verdade, Joey é um menino muito esperto. O único

problema é que não consegue ficar sentado tempo suficiente para seconcentrar em nada.

Ben balançou a cabeça.- Sei... Acho que entendo o problema dele.- É mesmo? - Malory virou-se no banco e deu-lhe uma olhada rápida. Ben

dirigia no trânsito intenso com uma expressão pensativa, concentrada. -Engraçado, mas você me parece do tipo que consegue ficar horas a fiosentado quieto.

- Só quando estou desenhando. - A voz era longínqua. Depois, virando-separa ela, sorriu e disse: - Ou em companhia de alguém interessante.Malory desviou rapidamente o olhar para a janela. Sua mente era um

redemoinho de idéias. Uma hora, conversar com Bem lhe parecia a coisamais fácil do mundo. Logo em seguida, ficava toda confusa, não conseguianem mesmo formar uma frase coerente. Sobretudo quando ele a olhavacom aqueles seus grandes olhos castanhos.

- E você mora onde? Ai, é agora.- Ah, num prédio, não muito longe daqui - Malory respondeu, querendo

encerrar o assunto. - Sua casa é fantástica, sabia? - continuou, naesperança de falar de outra coisa, qualquer coisa, que não fosse sua própria

vida.Ele deu uma risada curta.- Acha mesmo?- Sério. É como se ela sempre tivesse estado ali.- Por todos os séculos e séculos - concordou Ben, melancólico. Depois

encolheu os ombros. - Acho que já enjoei um pouco. Passei minha vida todanela. Mas, de todo modo, obrigado.- Ele parou num sinal fechado e olhoupara ela. - Agora me conte sobre os lugares onde morou e me deixe viver aexperiência por tabelinha - disse ele, com um sorriso aberto.

Malory engoliu em seco. Manteve os olhos fixos no sinal.- Ah, eu nunca estive em nenhum lugar bom mesmo, só em cidades

pequenas. - As palavras lhe saíam apressadas. Era preciso mudar aconversa de rumo, era preciso parar de falar dela e falar sobre Ben. - Então,que tipo de pizza você vai querer...

- Pô, Maddy, qual é? - interrompeu Ben, com suavidade. - Não é possívelque você não tenha morado em algum lugar interessante.

- Não. - O tom foi decidido. - Nenhum.O semáforo abriu e o carro avançou.- Bom, mas me diga o nome de uma cidade, pelo menos. Deixa que eu

decido.Malory sentiu que a raiva ia invadi-la, mesmo sabendo perfeitamente que

não tinha o menor direito de se sentir irritada. Era a coisa mais ridícula domundo. Ben estava apenas curioso a seu respeito, era natural e

compreensível.- Oak Bluffs, Iowa - mentiu.

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- Não me diga! - exclamou ele, com animação exagerada. - Que incrível!Malory riu.- Escuta... é verdade que nas cidades pequenas todo mundo se conhece

de nome?- Hum... acho que é, para algumas pessoas - resmungou.- Mas com você isso nunca aconteceu, certo?Malory sacudiu a cabeça, enfática.- Nem pensar.- Eu bem que gostaria de viver assim - Ben declarou, pelo visto sem

reparar no tom estranho e magoado da voz dela. – Eu gostaria de viver numlugar onde ninguém me conhecesse. Num lugar bem distante. Num lugaronde ninguém falasse inglês.

Malory olhou-o incrédula.- Fala sério? - A ela parecia tamanho privilégio, poder ter o tipo de vida

que ele tinha. Morria de inveja dele.Bem sacudiu os ombros de leve.- Pois é. Na verdade, eu adoraria ir morar uns tempos em Viena, algum

dia.- Por quê?- Bom, eu tenho uma bisavó e um tio-avô lá. Viena seria um lugar bárbaro

para desenhar. Mas vamos falar de alguma coisa mais importante. Que talcalabresa e cogumelo?

***

Malory limpou os dedos engordurados num guardanapo, depois recostou-se no espaldar estofado do banco e suspirou de contentamento.

Ben sorria do outro lado da mesa.- Pronta para outra?

- Está brincando? - disse ela, rindo. - Eu não agüento nem mais uma fatia!- Bom, então acho que vou ter de me contentar comendo as suas

casquinhas. - Ben estava examinando o prato.Malory concordou com um aceno de cabeça e Ben mais que depressa se

pôs a mastigar as crostas de massa que ela deixara. Um sorrisinho ligeirobrincava nos lábios dela. Ele era tão gracioso quando comia, feito umgarotinho, quase. Num contraste evidente com o restante de suapersonalidade, que lhe parecia bem madura, para dezessete anos.

Pelo menos não lhe fizera mais nenhuma pergunta pessoal, lembrou-seagradecida. Talvez tivesse entendido o recado. Passaram o jantar todofalando de Los Angeles - e dos chatos da escola. Ao que tudo indicava, ela

estava certa: Ben detestava Shella e as demais integrantes do grupo depatricinhas, mas elas não o deixavam sossegado. Ben era amigo de Seth emais uns dois outros caras, mas preferia ficar sozinho, mais do que sair comos rapazes.

Ele é desenturmado, como eu, Malory percebeu. Talvez por isso seja tãofácil para nós conversarmos.

- Tem certeza de que não quer mais nada? - Ben perguntou, de bocacheia.

- Não, mais nada. - Malory olhou pelo janelão de vidro da pizzaria. O sol játinha afundado bem abaixo do horizonte. – Eu disse a minha mãe queestaria de volta antes do escurecer e vou ter de sair correndo, se quiserchegar a tempo em casa.

- Que tal dar uma ligada para ela dizendo que nós vamos a um cinema?

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O coração de Malory teve um pequeno sobressalto. Pizza de tardezinhaera uma coisa. Ela já tinha saído para comer uma pizza antes - não muitasvezes, uma ou duas, no máximo, com meninos da sua idade. Mas pizza ecinema? Decididamente isso entrava na categoria de "possibilidade denamoro". Ela nunca tivera um namorado de verdade, nenhum encontro navida. Mordeu o lábio. Não podia sair com Ben, pelo menos não naquelanoite. Os pais com certeza já estariam em pânico, àquela altura. Precisavavoltar.

- Quer dizer, se não estiver ocupada, coisa assim – Bem acrescentou. Seutom confiante falhou por uns segundos.

Malory estava calada. Estendeu a mão e colocou-a de leve sobre o braçode Ben. A pele macia estava quente. É tão bom tocá-lo. Os olhos do rapazarregalaram-se, esperançosos.

- Ben, eu acho que não... - Malory começou a dizer, em tom de desculpa.- Ei, tudo bem - falou Ben, na hora, tirando o braço de sob sua mão para

pegar o dinheiro no bolso e deixar sobre a mesa. - Um outro dia, quem sabe.Está quente aqui dentro. Vamos dar o fora. - Levantou-se rápido do banco e

saiu contornando as mesas apertadas e cheias, a caminho da porta.- Ben... - Malory chamou-o, saindo atrás dele para o ar fresco do poente.- Olha, acho melhor levar você para casa antes que escureça de fato. - O

tom foi prosaico. - Não quero que sua mãe fique preocupada.Parada ali na calçada, Malory apoiou-se num pé, depois noutro, sentindo-

se desajeitada e tentando olhá-lo de frente, mas Bem manteve o olhardesviado. Sentia-se muito mal por tê-lo magoado.

Será que não haveria alguma forma de mostrar que queria muito, muitomesmo, passar mais tempo com ele?

- Não precisa me levar até em casa - disse, tímida. – Eu volto de bicicleta.Ele lançou-lhe um olhar penetrante. Por alguns instantes seus olhos

pareciam faiscar de raiva. Mas depois, de uma hora para outra, sua

fisionomia suavizou-se.- Só porque você não quer ir ao cinema comigo não significa que eu vou

deixá-la aqui. Eu jamais faria uma coisa dessas.Malory meneou a cabeça, sem dizer palavra. Era verdade; e ela sabia

disso, não precisava ele ter dito. Ben jamais faria uma coisa dessas. Ben jamais faria qualquer coisa para magoar alguém de propósito.

Ele sorriu.- Vamos. Eu levo você.Puseram-se a caminho do jipe em silêncio, lado a lado. De repente,

Malory deu-se conta de que havia uma maneira de mostrar a Ben que nãoestava lhe dando o fora. O coração pulsou mais rápido. Podia mostrar a ele

que tinha curtido cada segundo, e que gostaria de vê-lo de novo, em breve.E, melhor de tudo, não teria que dar um pio.Esticou o braço e pegou na mão do rapaz.Ben não disse nada, não deu um sorriso, não ficou nervoso nem diminuiu

o passo. Nem sequer olhou na direção dela. Simplesmente apertou sua mãodelicadamente, depois deixou que os dedos se entrelaçassem nos dela.

Malory suspirou. O jipe estava a poucos metros dali. Ela gostaria que nãohouvesse carro nenhum, que os dois pudessem apenas continuar andandopara sempre, de mãos dadas...

Ben retirou a mão para destrancar a porta.- Foi tudo uma delícia - disse ela em voz baixa, entrando.Ben concordou.

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- Também achei. - Deu a partida, pôs o carro em movimento e ligou orádio. Por algum motivo, ficou virando de uma estação a outra, sem pararem nenhuma, por uns dois, três segundos.

- O que você está procurando? - Malory perguntou por fim.- Hum... uma estação de música clássica - Ben admitiu, reticente. - Eu

não ouço muito música clássica, mas já que você está aqui no carro...Malory sorriu.- Ei, eu também ouço música do século vinte. Eu inclusive toco música do

século vinte.- Ufa. - Ben deixou o dial sossegado e optou por uma estação de rock

alternativo.Pelo resto do caminho, ficaram escutando rádio. Malory olhava pelo vidro

fumê da janela do jipe. A magia dos breves instantes em que ficaram demãos dadas estava começando a sumir. Agora a preocupação era sobre oque fazer para que Ben fosse embora sem subir até seu apartamento.

Depois de ver a casa dele, decididamente não queria que visse o interiordaquele buraco triste onde morava. E não estava com a menor vontade de

explicar a respeito de Ben para a mãe e, depois, para Mike e Tommy.O jipe parou devagar no meio-fio, em frente ao prédio de apartamentos.- Bom, cá estamos - falou Malory, fingindo animação e saltando do carro

assim que ele parou. - Eu tiro a bicicleta.Ben apenas riu.- Não se preocupe. Eu mesmo tiro.Por hábito, enquanto Ben retirava a bicicleta de dentro do veículo, Malory

deu uma espiada na rua toda para ver se havia alguém suspeito rondandopor ali. Mas as ruas estavam vazias, não havia uma alma à vista, embora devez em quando algum carro passasse ligeiro.

- Aqui está - falou Ben.- Obrigada. - Malory pegou a bicicleta. - E muito obrigada pela carona e

pela pizza.- Quer que eu a acompanhe até em casa?- Não obrigada, tudo bem - Malory assegurou-lhe mais que depressa.- Tem certeza? - Ben deu uma olhada meio duvidosa para o prédio feio,

escuro, com uma única lâmpada nua na entrada.- Olha, eu não me importo.Malory limitou-se a olhá-lo.- Não, é que... - Mas não terminou a frase. Nem mesmo sabia o que

estava tentando dizer.Ben sorriu com tristeza. A expressão de seu rosto parecia acenar para

ela, chamando-a... os olhos grandes, os lábios cheios e macios. Quando deupor si, tinha se inclinado um pouco mais para ele.

Ele deu um passo na direção dela.Malory conteve a respiração. Receava que Ben pudesse ouvir seu coraçãobatendo acelerado. Queria que ele a beijasse. Queria que ele a abraçasse.Queria estender os braços e envolver seu pescoço, sentir a mão deslizandopelos cabelos macios e densos. De repente percebeu que estava segurandocom tanta força o guidão da bicicleta que as mãos doíam.

Ele curvou-se e depôs um beijo delicado em seu lábios.Ela fechou os olhos... mas o beijo terminara.- Ben, eu preciso ir agora... preciso mesmo.- Eu sei. Eu sei.- Hum... te vejo na segunda, acho.Ben limitou-se a olhá-la, quase como se não acreditasse nela.

- Tomara, Maddy Mailer. Tomara mesmo.

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Sete

Na segunda-feira de manhã, Malory entrou com mais calma na sala deestudos, passando habilmente pelo bando de jovens que bloqueavam aporta. Vestida com a calça jeans desbotada da Gap e uma camiseta justinhaazul-turquesa, um pouco acima da linha da cintura, já não se sentia mais aanomalia ambulante de antes.

Mas continuava intimidada. Reparou que o uniforme escolhido por Shellae companhia para aquele dia era composto por minissaia, meias trêsquartos, camisetinha mínima e blusa transparente.

As meninas lhe deram uma olhada de cima a baixo, não tão desdenhosaquanto na semana anterior, mas Malory sabia que suas roupas ainda nãoestavam à altura do padrão exigido. Não que tivesse a menor importância.

 Jamais se vestiria como elas. Mas mesmo assim, seu rosto queimou sobaquele escrutínio crítico.

Ben gosta de mim do jeito que eu sou, consolou-se. Depois, acomodando-se na carteira, sacudiu a cabeça. Do jeito que eu sou... E que jeito é esse?

Ben gostava de alguém chamado Maddy Mailer, não Malory Hunter. Umamenina de cabelo preto, não acaju. Por alguns momentos perguntou-se seele gostaria dela se soubesse quem era de fato. Se soubesse quantossegredos guardava e que não poderia jamais contar.

Passara o domingo inteiro pensando na tarde de sábado, revivendoaquele beijo umas mil vezes. Uma hora a mãe a pegara olhando para onada, um sorriso bobo no rosto.

- Eu não fazia a menor idéia de que dar aulas particulares pudesse seruma experiência assim tão inebriante - comentara a mãe, secamente.

Será que desconfiava de alguma coisa? Com certeza não. Provavelmenteestava apenas dando graças a Deus que Malory estivesse de bom humor.

Em geral ela suspirava e resmungava durante as tarefas dominicais. Em

parte porque ainda lembrava de como eram especiais aqueles domingosantigos, quando era pequena: almoço com os avós e brincadeiras com osprimos. Mas eram memórias tão velhas que tinham uma qualidade irreal,quase onírica.

A lembrança do beijo de Ben estava marcada a fogo em seu cérebro, comtal intensidade que quase podia sentir os lábios dele roçando os seus.

Cerca de um minuto antes do início da primeira aula, Bem apareceu nasala. Seus olhos foram direto para a carteira dela. Depois o rosto abriu-senum sorriso amplo. Malory parou de se perguntar se Ben gostaria dela decabelo acaju. O coração bateu-lhe forte no peito, quando ele se aproximou.

Ben passou reto por Shella e as outras, sem nem sequer olhar na direção

delas.- Ei, Ben! - Shella começou a dizer. - Como foi de...?- Oi, Maddy - ele disse.- Oi. - Malory deu uma olhada para Shella, cujos olhos fuzilavam.Ben acomodou-se na carteira atrás dela.- Eu curti muito, no sábado - falou ele, quase num cochicho.Ela virou-se para trás, sem se importar mais com o que Shella estivesse

pensando.- Eu também.- Quer almoçar comigo?Malory fez que sim.- Encontro você no banco em frente ao refeitório, na hora do almoço.

- Certo, fechado. - Os olhos de Malory brilhavam.Ben sorriu.

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- Fechado.O sinal tocou. Malory sentiu como se estivesse andando nas nuvens, ao

sair da sala rumo à primeira aula, de inglês. Era espantoso, e ela sabiadisso. Nunca se sentira assim na vida, tão feliz, tão livre, tão viva. Bom,quase nunca. Mas dessa vez não havia nenhum piano por perto.

***

Foi preciso conter o ímpeto de sair em disparada pelo corredor para ir aoencontro de Ben. Não queria ser a primeira a chegar, mas também nãoqueria deixá-lo esperando muito tempo.

Quando se viu no banco em frente ao restaurante, olhou em volta. Nãohavia nem sinal dele. Sentiu-se constrangida. Mas não ia deixartransparecer que estava à espera de alguém, de modo que sentou-se pertoda sebe de madressilvas e desembrulhou o almoço.

De repente, ouviu risadinhas ardidas. Gemeu baixinho. Shella, Emily eErin estavam reunidas bem atrás dela, só que do outro lado das moitas.

Malory mordiscou de propósito o sanduíche de pasta de amendoim com melque levara, fingindo que almoçar sozinha era a coisa mais natural domundo. A impressão era de que as meninas não estavam nem aí com suapresença.

- Então eu meio que disse tipo assim "Paizinho, você é tão patético" - Erinexclamou. - Tipo assim, acha que eu vou gastar seu dinheiro em cerveja?Que desperdício! Eu quero essa grana para comprar uma malha da DKNY!

- Bom, o meu é pior ainda - começou a dizer Shella, mastigando altoalguma coisa. - Ele não aumenta minha mesada para roupa de jeitonenhum, nem mesmo tipo assim vinte dólares! É patético. E sabe o quemais que ele me falou?

- Vai tra-ba-lhar! - entoaram as três em uníssono, depois caíram na

risada.Malory arrepiou-se toda. Parecia estar escutando alguma série cômica de

quinta categoria. Não conseguia acreditar que as pessoas de fato falassemdessa forma.

- Pois sim que eu vou perder meu tempo tipo assim servindo hambúrguerou perguntando o tamanho da meia de alguém - Shella continuou. - Nemmorta!

As outras meninas riram de novo.- Ei, escuta, onde foram parar os gatinhos da sua festa? - Emily

perguntou, tomando seu refrigerante ruidosamente.- Engraçadinha - Erin resmungou. - Tinha um monte de gatos na festa.

- Falando em gatos - Emily prosseguiu -, qual é a do Bem com aquelaidiota?Malory sentiu o corpo paralisado. Parecia estar ligeiramente zonza. Com

todo o cuidado, girou de leve a cabeça e deu uma espiada por entre asmoitas. Mas era óbvio que elas não faziam a menor idéia de sua presençabem ali do outro lado.

- Ah, o Ben está sempre atrás das desenturmadas. - O tom de voz deShella era zombeteiro. - Não sei muito bem qual é a dele. Acho que ele achaque fica mais tipo assim profundo como artista, ou coisa parecida.

- Não sei não! - disse Erin. - Está me parecendo que é sério.- Imagine. - A voz de Shella era firme. - Ele faz isso todo ano. O Ben gosta

de fingir que é tipo assim um artista incompreendido. Aí ele vai e escolhe

alguma solitária esquisita e finge que é namorado dela. Nunca dura muito

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tempo. Pode crer, já vi esse filme. Mas, mudando de assunto, vocês viram oque a Bradley estava usando...

Malory já não estava mais escutando. Sua tontura transformara-se emnáusea, sentia ânsia de vômito. Não podia acreditar que Ben fosse do tipode "escolher alguma solitária esquisita". Por outro lado, Shellaprovavelmente considerava qualquer menina que não usasse roupas degrife estrondosamente caras e usasse a expressão tipo assim quatrocentasvezes por hora como uma "solitária esquisita". Mas doía pensar em Bensaindo com outra menina...

Por onde andaria ele, falando nisso?Olhou o relógio. 12h40. Ele já estava dez minutos atrasado.Será que lhe dera o bolo?

 Justamente na hora em que estava pensando se devia ir dar uma voltapelo restaurante, para procurá-lo, sentiu-se encoberta por uma sombra.

Ergueu os olhos. E quase morreu de medo.Viu-se olhando direto para os olhos estrábicos de um homem de rosto

bexiguento e pálido. Ele usava uma camisa grossa preta e calça jeans

escura.Sentiu o coração apertar-se. Estava aterrorizada demais para falar.Estava aterrorizada demais até para respirar. Seu único pensamento era:Eles me encontraram. Estou morta.

- Será que poderia me fazer um favorzinho? - falou o homem, com suavoz forte, rascante.

Malory olhou em volta desesperada, procurando ver se haveria algumaforma de escapar. Havia estudantes passando por perto, mas ninguémpróximo o suficiente. Shella e as outras meninas tinham ido embora semque eu tivesse sequer reparado. Se pudesse derrubar o cara e passarcorrendo por ele, talvez conseguisse chegar até a escola, pegar a bicicletae...

- Pode me dizer onde encontro um telefone, por aqui? - O homem sorriude leve. - Estou com um pneu furado logo aqui na frente da escola e vouprecisar de um guincho.

O queixo de Malory caiu. Sentiu como se tivesse desmaiado.- Ei, tudo bem com você? - perguntou o sujeito, com jeito preocupado.- Está, tudo bem - Malory conseguiu dizer num sussurro tremido. É só

 paranóia total.Ele bateu com os pés na grama.- Então, hum...- Desculpe. - Ela balançou a cabeça. - Na verdade eu não sei. Mas, hum...

a diretoria fica bem em frente àquelas portas. Acho que eles não vão se

importar de emprestar o telefone.O homem sorriu.- Obrigado, jovem.O corpo de Malory arreou ao vê-lo desaparecer dentro do prédio da

escola. A respiração estava ofegante, desigual. Mas havia uma explicaçãoperfeitamente lógica...

Espera aí.Pneu furado? Se estivesse com um pneu furado, não seria mais fácil

procurar um telefone público na rua? Espiou uma vez mais em volta. Deviahaver pelo menos uns cem estudantes por ali. Por que o homem viera falar

 justamente com ela?De repente, não estava mais aliviada. De repente, sentiu que estava

aterrorizada.

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Sem mais um segundo de hesitação, levantou-se do banco e tomou adireção do restaurante. Sabia que estaria muito mais segura dentro doprédio da escola. Eles não tentariam fazer nada lá dentro, não é mesmo?

Ao chegar mais próximo das portas, deu-se conta de que havia alguémberrando:

- Maddy! Maddy!Maddy? Tinha esquecido; essa era ela. Girou o corpo e viu Ben correndo

até ela, acenando.- Ei! - Ben estava sem fôlego. Sorriu ao alcançá-la.- Ah, é você. - Malory lançou um olhar furtivo para a porta do restaurante.- Estou chamando você há bem um minuto! Você não me ouviu?Ela engoliu em seco.- Não, desculpe, não ouvi.Ben franziu a testa.- O que houve, Maddy? É por causa do meu atraso? Desculpe, mas não foi

culpa minha. O professor Nordgren teve um ataque por causa de umdesenho que eu estava fazendo na aula. Ele me mandou para a diretoria e...

- Não. - Malory sacudiu a cabeça. Gotas de suor estavam se formando emsua testa. Sentia-se tão vulnerável ali, tão desprotegida. Podia haveralguém de tocaia no telhado de algum prédio vizinho bem naquelemomento, olhando para ela pela mira telescópica de um rifle...

- Puxa, me desculpe - disse Ben, abrindo um sorriso. - Nunca mais vou meatrasar! Mas foi inevitável! Por favor, me desculpe!

Malory tinha uma vaga consciência de que ele estava fazendo troça, masachava-se incapaz de reagir. Simplesmente saiu andando.

- Ei, eu só estava brincando - insistiu Ben, atrás dela. - Puxa, Maddy, nãofique brava.

- Escute. - Malory parou de chofre e olhou-o de frente. Estava ofegante,com o rosto vermelho. - Você não precisa ser meu amigo. - As palavras

saíram atropeladas. - Eu nem sequer posso ter amigos... - Seu corpo tremiade modo incontrolável. Por que fazer isso com ele? Não tinha o menorsentido. O rosto de Ben ficou cinza, a expressão era de aturdimento. - Ben...Eu sinto tanto... você não pode... - Malory olhou para os olhos dele e fez aúltima coisa no mundo que desejava fazer... desatou a chorar.

O rapaz estendeu o braço e pôs a mão no seu ombro.- Por favor, Maddy, me conte o que está havendo - murmurou ele.- Eu não posso. - Ela engasgou. Incapaz de se controlar um minuto mais,

inclinou-se para a frente e enterrou o rosto no ombro de Ben. Ele a enlaçoucom firmeza.

- Tudo bem - disse ele, tentando acalmá-la. - Está tudo bem.

Mesmo ali chorando, grudada nele, percebeu que Ben com toda certezapensaria que ela era louca. Será que estava agindo assim só porque tinhadó dela? Será que achava mesmo que ela era uma desenturmada, alguémcom quem se envolver uns tempos e depois descartar? As palavras deShella lhe passaram pela cabeça:

Nunca dura muito tempo. Se ao menos Shella soubesse como eramverdadeiras as suas palavras. Mas, pelo menos, por enquanto, nos braçosde Ben sentia-se em segurança.

Por fim respirou fundo e afastou-se dele.Reparou que algumas pessoas estavam olhando com uma certa malícia

para eles, quando passaram, mas Ben não parecia se incomodar nem umpouco.

- Você está bem? – perguntou, olhando bem para ela.Malory balançou a cabeça.

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- Olha, desculpa isso tudo. Não sei o que me deu.- Não se preocupe com isso.Ela sabia que teria de dar algum tipo de explicação, mesmo que fosse

mentira. Ela lhe devia ao menos isso. Mas estava difícil inventar umadesculpa plausível.

- Olha, Bem, eu gostaria de vê-lo mais tarde - disse por fim.- Aí a gente pode conversar um pouco melhor. Sério. Bom... se você

quiser, claro.Ele lhe deu aquele sorriso preguiçoso que a intoxicara por inteiro, desde o

primeiro instante.- Claro que eu quero - foi a resposta em voz baixa.- Ótimo. - Depois, tentou se controlar. O estranho trajado de preto que

sumira dentro do prédio da escola estava agora muitíssimo distante de seuspensamentos. Se estivesse com Ben, estaria segura. Tinha certeza.

O rosto de Ben iluminou-se.- Ei... eu tive uma ótima idéia. Por que você não vem comigo à festa dos

bombeiros, hoje à noite?

Apesar de seu estado de espírito perturbado, Malory sorriu.- Festa dos bombeiros? Eu pensava que isso Já tivesse acabado lá pelosanos cinqüenta.

Ben ergueu uma das sobrancelhas.- Há certas áreas de Los Angeles que ficaram paradas no tempo. Vamos,

venha. Vai ser divertido.Uma risadinha sem som escapou dos lábios de Malory. Pouco antes

aquela moça esquisita estivera chorando desesperada em seus braços eagora era convidada para a festa dos bombeiros.

- Então, que me diz?- Na verdade eu não devia sair à noite em dia de semana - Malory falou,

evitando seus olhos. Era como se uma fita de gravador lhe rodasse dentro

da cabeça, cuspindo respostas prontas. A reação era automática. - Tenho detomar conta dos meus irmãos depois da escola... e ajudar no jantar. Edepois fazer meus deveres de casa e...

- Mas você acabou de dizer que queria me ver.- Eu sei, eu sei. - Ela balançou a cabeça. - Eu... eu sou louca, Ben.- Até aí, não resta a menor dúvida - disse e ele mas o tom era leve e

gentil. - Escute, eu não aceito não como resposta, esta lembrada? Vocêmesma é que disse.

Ela riu.- Está bem. Fechado.

Oito

Em casa, Malory disse aos pais que precisava ir à biblioteca.Até conseguir sair, já estava escuro. Deixou o prédio correndo e viu Ben

estacionado do outro lado da rua, esperando por ela. Sabia que não seriacapaz de esconder o brilho dos olhos. Mas não se importou. A verdade é queestava emocionada. Pela primeira vez na vida, Malory Hunter ia ter umencontro. As circunstâncias eram menos que perfeitas. Tivera de mentir aospais, afinal de contas, mas de certa maneira isso aumentava ainda mais ofrisson.

- Tudo bem com seus pais? - ele perguntou, assim que ela entrou nocarro.

- Mais ou menos. - Ela sorriu. - Eu não lhes dei chance para dizer não.

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Ele lhe respondeu com um sorriso malandro, engatou a marcha e pôs ocarro em movimento.

- Assim é que se faz, Maddy.Malory encostou-se no assento e suspirou feliz.- Que ótimo que seu humor melhorou.- Eu acho que eu estava sentindo saudade da minha casa antiga. - De

certa forma, era isso mesmo; estava sentindo saudade da velha casa, dacasa que ficara em Nova York. Sentia saudades dela há onze anos. E sentirade novo aquele dia, na escola, ainda que, claro, não fosse esse o motivo detamanha perturbação. Mas ao dizer que sentia saudades também nãoestava mentindo, com certeza. Ela tomara a decisão de sempre quepossível dizer a verdade a Ben, ainda que incompleta.

Ele hesitou.- Deve ser difícil mudar toda hora.- E é - ela admitiu, baixinho. Por favor, não faça mais nenhuma pergunta

a respeito do meu passado, implorou silenciosa. Por favor. Antes que eletivesse a chance de abrir a boca de novo, ela disse: - Quer dizer então que

sua mãe sempre deixa você sair à noite nos dias de semana? Muito legal,considerando-se que ela é professora. Ela é ótima, na verdade. A aula dela éa minha favorita, por enquanto. - As palavras pareciam jorrar-lhe da boca.

Ben deu de ombros.- Quando ela soube que eu ia sair com você, ficou maluca.- Como assim? - Malory perguntou, de testa franzida.- Ela estava lhe fazendo os maiores elogios, hoje no jantar. Estamos com

visita, um amigo dela, de Nova York. Professor do Conservatório Juilliard.Minha mãe estava contando para ele que nunca viu ninguém da sua idadecom tanto talento.

Malory enrubesceu. A professora Lerner estava falando bem dela paraalguém que ensinava no Juilliard? Incrível. Ela mesma nunca tinha visto sua

habilidade musical como talento; era apenas uma parte integrante de seuser, tão natural quanto respirar ou andar. Mas as palavras a lisonjearam,mesmo assim.

- Claro que viu - falou, limpando a garganta. - Ela já viu você desenhando.Ben riu, como se não acreditasse nela.- Isso é diferente, Maddy.Ela lhe deu uma olhada rápida.- Diferente como?- Bom... qualquer pessoa pode desenhar. Eu suponho que eu

simplesmente desenhe mais que os outros, só isso.- Pára com isso, Ben. - Ela sorriu. - Eu não conheço ninguém que saiba

desenhar como você. E, seja como for, acontece a mesma coisa comigo e opiano. Eu simplesmente pratico mais que os outros.- Agora é você que está sendo modesta. Minha mãe me disse que você

nem tem piano em casa. Admita: você tem um dom.- Bom, e você também - ela retrucou.Ben lançou-lhe um sorriso amplo.- Tá certo, eu admito. Sou um gênio.Malory riu. Teve uma vontade repentina de atirar os braços em volta de

seu pescoço e beijá-lo. Como é que ele conseguia fazê-la se sentir desse jeito, tão livre, tão segura de si e tão contente tudo ao mesmo tempo, comuma piadinha tão simples, tão boba.

O jipe chegou ao topo de uma colina e Ben apontou para a frente.

- Olha só aquilo.

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Malory teve de se esforçar para tirar os olhos de cima dele. Uma enormeroda-gigante foi surgindo aos poucos diante dela, juntamente com as luzesde outros brinquedos e barracas.

- Puxa. E não é que a festa dos bombeiros é um parque de diversões?- Pelo jeito como fala, até parece que nunca viu um parque de diversões

antes. Lá de onde você vem não tem disso? - Bem perguntou, mexendo comela.

Claro que tem - mas eu nunca pude ir , Malory pensou.- Acho que nunca tive a oportunidade de visitar um - falou ela.O rosto de Ben ficou sério. Obviamente não estava esperando uma

resposta assim tão sóbria.- Bom, hum... então que bom que esteja tendo a chance - falou o rapaz,

um tanto incerto.Malory arrependeu-se do comentário feito. Não queria dizer nada que o

deixasse sem jeito, constrangido. Quem sabe mentir fosse melhor, se isso afizesse parecer um pouco mais normal. Estendendo o braço, pôs a mão emseu joelho.

- Eu também acho ótimo.Quando Ben estacionou o carro, Malory sentiu uma pontada denervosismo. Havia tantas caras estranhas por ali, tantas pessoas quepoderiam vê-la. E numa multidão assim, seria muito fácil perder-se, ver-seseparada de Ben...

 Trancaram as portas e tomaram o caminho do parque. Malory sentiu amão de Ben apertar a sua.

- O que gostaria de fazer primeiro? - ele perguntou.- Que tal a roda-gigante? - Malory sugeriu.Ben sorriu.- Estava torcendo para você dizer isso.De repente, ele parou de andar. Malory seguiu seu olhar. Franziu o cenho.

Shella e a gangue estavam ao lado da roda-gigante, discutindo quem ia emque carro.

- Quem sabe a gente experimenta uma outra coisa, antes - Benresmungou.

- Boa idéia.Ben pegou-lhe no braço e começou a abrir caminho entre todo aquele

povo até o carrossel. No mesmo instante Malory sentiu-se claustrofóbica,acalorada. Vir a este parque não foi uma boa idéia, pensou, olhando com orabo do olho para as pessoas que transitavam de um lado a outro. Tinha aimpressão de que estavam todos olhando para ela, o tempo todo. Por fimbaixou a cabeça e ficou olhando para os pés das pessoas batendo no asfalto

negro.- Você gosta de carrossel? - Ben perguntou.Malory limitou-se a acenar que sim com a cabeça. A verdade é que os

carrosséis lhe lembravam a própria vida: um movimento constante,correndo em círculos e mais círculos, sem nunca chegar a nenhum lugar defato. Quase riu. O que Ben pensaria, se lhe dissesse isso?

- Então, como é que vão vocês - uma voz masculina soou atrás dela.A cabeça de Malory deu um tranco para cima, assustada, mas era apenas

Griffin, o professor da sala de estudos, ali parado, ao lado de uma mulherbonita, segurando um algodão-doce.

- Oi, professor. Senhora Griffin - disse Ben, rapidamente.Malory não disse nada, apenas sorriu. Sua respiração saía apressada e

irregular.

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- Passeando em dia de semana, é? - perguntou o professor Griffin, comuma sobrancelha erguida, provocativo.

Ben encolheu os ombros.- Eu perguntaria o mesmo ao senhor.Griffin riu.- É. Acho que sim. Sua mãe também veio?- Não - Ben balançou a cabeça. - Ela nunca sai em dia de semana.- É uma política sábia - falou o professor, com um sorriso irônico. - Bem,

divirtam-se, vocês dois. E até amanhã bem cedinho. E bem despertos, osdois.

Malory continuava estatelada, enquanto o professor Griffin e a mulherdesapareciam em meio à multidão.

- É sempre muito divertido dar de cara com os professores, você nãoacha? -Ben perguntou, em tom sarcástico. Depois olhou para ela. - Ei, tudobem com você? - Pegou na mão dela. – Até parece que viu um fantasma.

- Não, é só que, hum... - Malory não continuou a frase. Era só o quê? Erasó que por alguns instantes confundira o professor Griffin com um atirador

da Máfia?- Ele não se incomoda de estarmos aqui - Ben disse para tranqüilizá-la. -Minha mãe também é professora, esqueceu? Eu tenho alguns privilégios.

Malory apenas sorriu. Ben achava que ela estava preocupada porque umprofessor os vira na rua, num dia de semana. Era tão doce, tão inocente. Ai,se suas preocupações pudessem ser assim tão banais!

Ben olhou-a mais de perto, os olhos castanhos faiscando com as luzestodas do parque de diversões. Na mesma hora, Malory sentiu uma vontadeimensa de beijá-lo. Seus lábios adiantaram-se e encontraram os dele e, aospoucos, a paranóia foi sumindo. Enquanto Ben Lerner a tivesse nos braços,poderia esquecer das tristezas da vida. Enquanto pudesse tocá-lo, nadapoderia tocá-la.

Por fim, separaram-se.Ben respirou fundo.- Você é uma coisa, Maddy. Sabia disso? - ele sussurrou roucamente.À menção do nome "Maddy", Malory quase desatou a chorar. Certo, eu

sou uma coisa, pensou ela. Uma coisa e um alguém que você não conhecee jamais poderá conhecer.

Nove

No dia seguinte, bastou o período da manhã para Malory perceber quedecididamente cometera um grande erro ao concordar em ir ao parque de

diversões com Ben. Não que não tivesse passado algumas horas mágicas,maravilhosas e extraordinariamente românticas. Não, de jeito nenhum.Haviam andado de roda-gigante de mãos dadas e houvera até um beijo láno alto, por sobre as luzes todas faiscantes na parte oeste de Los Angeles.Ela conseguira inclusive esquecer temporariamente de seus problemas,quer dizer, até ter de voltar para casa e contar aos pais sobre a "biblioteca".

Não. A decisão fora a mais errada possível porque passara do completoanonimato a um estranho tipo de fama. Começara a perceber o quanto Benera benquisto por todos. De repente, vários professores sabiam seu nome.

 Jovens que não conhecia passaram a sorrir-lhe nos corredores. Seth e outrosbons amigos de Ben começaram a tratá-la como se fizesse parte da turma.A rede de boatos entre o corpo docente devia ter operado de modo muito

parecido ao que vigorava entre os alunos, sobretudo por se tratar do filhoquerido de uma professora.

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Era divertido, por um lado, ser mais do que uma Nova Aluna sem nome.Por outro, era assustador saber que metade do colégio seria capaz dereconhecê-la. Malory começou a perceber por que os pais insistiam tantopara que aprendesse a agir como se fosse invisível.

Mas muito pior que os cumprimentos e sorrisos era aquela sensação queestava tendo, aquela sensação estranha e arrepiante de que vinha sendoobservada.

 Já sentira isso antes, muitas vezes. Mas por algum motivo, dessa vez aimpressão era mais pronunciada. Sentia como se estivesse sendo vigiada debinóculos; como se cada nuança de seu rosto estivesse sendo estudada e

 julgada. Quatro horas tinham se passado e ainda não fora capaz de notar,nem sequer de relance, qualquer pessoa suspeita. Mas tinha certezaabsoluta de que havia alguém ali.

Ao sentar-se em seu lugar costumeiro, na frente do restaurante daescola, Malory vistoriou todo mundo que estava almoçando. Podia ser que ocara do pneu furado do dia anterior tivesse mudado de aparência eestivesse se fazendo passar por professor..

- Ei!Malory teve um sobressalto.Ben sentou-se a seu lado.- Terra para Maddy. Pode me ouvir? Estamos perdendo contato. - Em

seguida enfiou a mão num saco de papel e tirou um pacote de salgadinhos.Malory forçou um sorriso.- Como vão as coisas? - Tinha uma idéia muito vaga de que Ben estava ali

a seu lado, falando havia bem um minuto, mas não conseguira ouvir umapalavra.

- Hum... - Ele a olhou com ar duvidoso. - Você ouviu o que eu acabei defalar?

Malory corou.

- Bom, fico satisfeito em ver que acha minha conversa tão empolgante -disse ele, sarcástico. - De qualquer maneira, como eu ia dizendo, tem umlugar onde eu quero muito que vá comigo, no sábado. É meio fora de mão,mas é, bom, meu lugar predileto. Você estaria a fim? - Ele olhou para elaansioso.

- Claro. - Esperava que a resposta tivesse soado entusiasmada. Nãoqueria que ele percebesse o quão perturbada estava de fato. Talvez lheperguntasse se havia alguma coisa errada. De novo. Lutou para manter osolhos sobre aquele rosto bonito, mas eles não paravam de dardejar de lápara cá, como se tivessem uma vontade própria.

Ben riu.

- Não quer pelo menos saber onde fica?- Como? Claro que sim. Lógico. - Malory ouviu-se dizendo essas palavras,mas seu cérebro estava cada vez mais distante. Onde a pessoa que aestava vigiando se posicionaria, para vê-la melhor? No telhado? Não, játinha olhado umas vinte vezes para lá. Na quadra de basquete? Ridículo. Foientão que uma mancha preta chamou-lhe a atenção. Ali! Pela vidraça dorefeitório viu, na parte de trás, um homem que não conhecia. Estava comum terno escuro.

Em instantes, Malory se pusera de pé.- ... E aí nós vamos... - Ben parou de falar. - Maddy?Malory deu uma olhada para o rosto aturdido de Ben, mas voltou

instantaneamente a se concentrar no desconhecido, como se atraída por

um ímã. Ele estava sentado a uma das mesas, com alguns alunos,conversando amigavelmente.

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Nesse momento, o homem ergueu a vista e cruzou o olhar com ela.Ela queria muito poder desviar a vista, mas estava hipnotizada,

paralisada de medo, qual um animal selvagem preso pelos faróis altos deum carro na estrada. O homem lançou-lhe então um sorriso vagaroso,indolente, e levantou-se da mesa. Seus olhos não se desgrudaram ummomento do rosto de Malory.

- Eu tenho de ir - ela falou de chofre, e começou a se afastarrapidamente. Posso pôr a vida de Ben em perigo, pensou. Se aquele sujeitome vir conversando com ele, pode pensar que Ben sabe de alguma coisa.Naquele momento, seu desejo era interpor o máximo de distância possívelentre ela e Ben.

- Espere! - Ben gritou atrás dela. - Onde você vai? Pensei que quisessesaber mais sobre o sábado. O que deu em você?

- Eu... eu acabei de me lembrar de uma coisa que tenho de fazer. É muitoimportante... desculpe! A gente se vê depois das aulas! - E saiu emdisparada.

Ofegante, atravessou as portas duplas do prédio da escola e subiu as

escadas até a sala 2.007, onde teria sua aula de estudos sociais. A classeestava vazia e ela entrou. Sentou-se no fundo, de frente para a porta.Levaria ainda uns quinze minutos, até todos os alunos chegarem, mas pelomenos ali estaria segura. Tinha certeza absoluta de que o homem iriaprocurá-la primeiro no pátio.

Na mesma hora, viu-se envolvida por uma sensação peculiar de calma.Era estranho: sempre que se achava diante de algum tipo de perigo real,conseguia relaxar. Era só quando a imaginação levava a melhor que entravaem pânico. Mas agora tinha certeza de que estava correndo perigoiminente. A Máfia estava ali. O homem a vira. Tinha sorrido. E agora viriaatrás dela.

Como foi que eles nos encontraram? perguntou a si mesma. Será que

eles têm algum informante dentro do FBI? Tinha de ser isso. Depois da experiência em Lincoln Hills, estava

começando a achar que o FBI e a Máfia não eram necessariamente duasorganizações diferentes. Ninguém da Máfia poderia tê-los encontradonaquele fim de mundo. A menos que alguém de dentro tivesse passado ainformação.

Levantou-se da carteira e foi até a janela. Os alunos já tinham começadoa voltar para o início do segundo período. Não havia nem sinal do homemde terno escuro. Malory começou a andar de lá para cá, agitada. Por umbreve momento, voltou os pensamentos para Ben. Ele provavelmentecontinuava sentado no banco, perguntando-se por que fora se meter com

uma esquizofrênica.Como poderia fazê-lo saber que não era louca?Não havia maneira, tinha consciência disso. E, além do mais,

provavelmente ela era louca.

O dia arrastou-se de maneira interminável até a aula de apreciaçãomusical da professora Lerner. Pelo menos Maddy não vira mais o homem deterno escuro. Mas fora totalmente incapaz de se concentrar nos estudos. Emvárias ocasiões, os professores chamaram sua atenção por não estarescutando. Alguns inclusive mencionaram alguma coisa sobre "sair à noitenum dia de semana" - para grande alegria de alguns outros alunos. Malory

não podia crer. Como é que todo mundo descobrira seu encontro da noiteanterior assim tão depressa? Por que será que os seres humanos não

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conseguiam ficar de bico calado? Ela passara a vida mantendo o bicofechado. Algumas daquelas pessoas podiam aprender umas coisinhas comela. Mas as pessoas gostam de fofocar.

Quem sabe dessa vez as futricas tolas tivessem chegado aos ouvidoserrados... a pessoa errada escutara alguma coisa sobre a família Hunter eera por isso que estava sendo seguida. Tudo se resumia nisso, no fato de aspessoas contarem o que não deviam a outras pessoas.

Ao entrar no corredor que levava à sala de música, parou, estatelada. Aprofessora Lerner conversava com o homem de terno escuro. Estavam rindoe papeando como se fossem velhos amigos que tivessem se encontrado poracaso. Depois a professora apertou a mão do homem calorosamente.

De repente, Malory sentiu uma raiva danada. Será que a professora nãoconseguia enxergar por trás da fachada? Aquele cara com quase todacerteza era um assassino frio, alguém lançando mão de tudo e todos parachegar até ela. Mas de que adiantava ficar ali, remoendo essas coisas? Fezmeia-volta e saiu correndo, bem na hora em que a professora percebeu suapresença no fundo do corredor.

- Malory, espere, quero falar com você! - a professora gritou para ela. - Tem alguém aqui que eu quero que você...Mas Malory não parou. Deu uma espiada por sobre o ombro... felizmente,

o homem não saíra atrás dela. Pegou a escadaria de trás, que levava diretoaté a saída do subsolo, desesperada para chegar o mais rápido possível aoestacionamento de bicicletas. Se pedalasse bem rápido, talvez conseguissealcançar a escola dos meninos antes do homem. Isso se ele estivessesozinho.

Mas aí estancou.Por que estava correndo? O homem simplesmente a seguiria, onde quer

que fosse. O mais seguro seria ficar na aula da professora Lerner. Sim, elavoltaria calmamente para a sala de aula e ficaria sentada ali, continuaria ali

sentada até o homem ir embora.Mas, ao subir de novo a escadaria, viu algo que fez seu coração parar de

bater um instante.Ali, bem no topo da escada, estava Ben. E ele conversava com o homem

de terno.Malory congelou no meio da escada. Estava paralisada de medo. Como

fora envolver pessoas inocentes, como Ben e a mãe, numa história dessas?E como é que eles tinham chegado até os Lerner, para começo deconversa? Depois teve um pensamento horroroso: eles provavelmentetinham visto quando fora estudar piano na casa da professora. Eles sabiamonde os Lerner moravam.

Ben viu que ela estava ali parada. De início sorriu para ela, mas o sorrisosumiu-lhe do rosto ao ver a expressão de Malory.- Maddy, vem cá - chamou ele. - Quero que conheça uma pessoa.Malory ficou sem saber o que fazer. Não tinha tempo para pensar. De

modo que simplesmente virou-se e saiu desabalada escada abaixo. OuviuBen chamando seu nome, mas continuou correndo, descendo a escadaria,até o corredor do térreo, lotado de alunos. Sentia que estavam todosolhando para ela, mas não se importou. Tudo que queria era escapar.Quando já estava quase no fim do corredor, tropeçou numa mochila e seesborrachou no chão.

Ben estava atrás dela. E agora ela o via ajoelhado a seu lado, no chão,com uma cara muito espantada.

- Maddy - chamou ele - qual é o problema? Eu ia apresentá-la ao amigoda minha mãe, John Slattery.

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Os olhos de Malory arregalaram-se. Ela toda tremia.- John Slattery é também um dos integrantes do comitê de admissão para

o conservatório Juilliard de Nova York. Eu falei dele para você outro dia. -Ben pegou a mão de Malory. - Por que saiu correndo desse jeito?

Malory viu quando John Slattery aproximou-se deles com um arespantado. Depois olhou de novo para Ben. Amigo da mãe dele, professor do Juilliard? Sentiu uma onda violenta de ânsia de vômito invadir-lhe o corpotodo. Por breves instantes, tudo a sua volta pareceu-lhe estranho, ondeado.Ouviu um ruído sibilante nos ouvidos. Depois o mundo desapareceu numfunil escuro. Sentiu-se caindo e a vista escureceu...

- Maddy? Maddy... você está bem?Malory piscou várias vezes. Viu-se olhando de baixo para cima para o

rosto de Ben. Mas por algum motivo estava tudo meio esquisito. O rosto deBen flutuava de lado, como se estivesse no ar. Piscou de novo e percebeuque sua cabeça repousava em algo macio.

- Tudo bem com você? - ele repetiu.De repente, deu-se conta de que estava deitada no colo de Ben. Ou, maisespecificamente, estava deitada no chão, ao lado dos armários do corredor,com a cabeça no colo de Ben. Sentou-se no mesmo instante e viu que haviauma pequena multidão em volta. John Slattery do Conservatório Juilliard nãoestava entre os curiosos.

- Ai, não - gemeu Malory.- O que houve? - Ben perguntou, cheio de ansiedade. - Você se

machucou?- Não, não... está tudo bem - sussurrou ela. O grupo de alunos

amontoados em volta começou a se dispersar. - Não acredito que eu fizisso. - A voz saiu mais alta. - Eu sou uma idiota completa!

Ben continuava olhando atordoado para ela.Malory não sabia se devia rir histericamente ou cair no choro. Um homem

do Conservatório Juilliard fora até lá para vê-la... e ela fugira dele como umalouca, depois desmaiara. Fantástico. Com certeza a essa altura ele estariafazendo figa para vê-Ia inscrita como candidata a aluna. Balançou a cabeça.- Para onde foi, hum...?

- Para onde foi John Slattery? - Ben completou para ela. - Bom, depoisdesse episódio meio lunático, acho que ele percebeu que você não queriavê-lo.

Malory conseguiu dar um sorriso amarelo.- Não. Na verdade acho que ele foi avisar minha mãe que você não está

em condições de assistir à aula, hoje - Ben continuou, tirando uma mechasolitária de cabelo tingido do rosto de Malory.Por sua vez, ela enterrou a cabeça nas mãos. Acabara de ter a

oportunidade de conhecer alguém que trabalhava no lugar onde a vida todadesejara estudar. E estragara tudo. Começou a ficar brava de novo, mas aira desapareceu logo. De que adiantava, de toda maneira? Mesmo que nãotivesse feito aquele papelão, mesmo que não tivesse bancado a boba, nãohavia a menor chance de poder ir para lá. O conservatório era apenas umsonho bom. Estava completamente fora de cogitação. Não podia voltar aNova York, não podia mais morar lá. Em Nova York decididamente nãoestaria a salvo.

Ben sorriu, compreensivo.

- Bom, eu... hum... acho melhor ir para casa e deitar um pouco - falouMalory, levantando-se e alisando as roupas.

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- O que foi que houve? - Ben perguntou.Ela sacudiu os ombros.- Eu tive um desmaio.- Isso eu sei, Maddy. O que eu quero saber é por que você fugiu desse

 jeito de John Slattery?- Ah... - Malory desviou a vista. Tentou pensar numa desculpa, mas a

cabeça ainda estava meio zonza, os pensamentos nublados. - Eu, bom... eupensei que fosse outra pessoa.

Ben riu.- Claro, isso deu para sacar. Quem sabe... um assassino em série que

você conheceu numa outra vida?- Algo parecido. - Malory estava constrangida demais para enfrentar o

olhar de Ben.O rapaz abriu a boca como se fosse perguntar mais alguma coisa e

tornou a fechá-la.- Vamos, Maddy, deixe eu levar você para casa.Ela olhou para ele.

- E a sua aula? Você não tem aula, agora?- Minha mãe é professora, está lembrada? - E deu-lhe uma piscada. - Eusou intocável. Se eu perder alguma coisa, minha mãe me arruma asrespostas da próxima prova.

Malory sorriu, apesar de tudo. Deu-se conta de repente de que deviaalgum tipo de explicação a ele. Ben merecia pelo menos algum tipo dedesculpa, considerando-se a grosseria que cometera com um amigo dafamília. Ele e a mãe tinham tentado lhe fazer um favor e ela simplesmenteagira feito uma louca. E agora

Ben ia perder uma aula para levá-la em casa. Sentia-se doente.Mas o que poderia inventar para ele? O único remédio seria mentir outra

vez.

- Tem certeza de que não quer ser apresentada a John Slattery, bemrapidinho, antes de irmos embora? - Ben sugeriu, em voz baixa.

Malory abanou a cabeça.- Esqueça. Quer dizer, eu sei o que tentou fazer, e agradeço muito, mas

foi tudo embaraçoso demais. - E começou a n para a escada.- Mas e o conservatório?O que tem ele? pensou Malory, acabrunhada.- Maddy, escute, você precisa me dizer o que foi tudo isso - Ben alcançou-

a e sondou-lhe o rosto. - Por favor, Maddy. Você pode confiar em mim.Malory olhou impotente para Ben. Eu sei que posso confiar em você. Só

não quero colocá-lo em perigo. Era tão difícil mentir para ele. Por fim,

quando chegaram à escadaria, ela parou.- Isso é o melhor que eu posso fazer - começou, torcendo para conseguircontar-lhe ao menos algum vestígio da verdade. - Existe um certo grupo depessoas de quem a minha família e eu não gostamos muito - falou ela,desajeitadamente. - Eu os conheço faz muito tempo... quase que a vidatoda. Eles me assustam e... bom, eu não aprovo a maneira como fazem ascoisas.

Ben franziu o cenho.- Você diz, algo assim como um grupo político ou coisa parecida?- É... mais ou menos. Está mais para um clube secreto. Bom, mas seja

como for, sempre que eu vejo alguém desse grupo, ou mesmo quandoapenas penso ter visto alguém - resmungou -, eu meio que entro em

parafuso.- Quer dizer então que achou que John Slattery fazia parte desse grupo?

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Malory fez que sim, esperançosa.Mas Ben limitou-se a dar risada.- Então é isso? E espera que eu engula essa historia. Tão furada!Malory recuou, contrita. Ele tinha razão. Provavelmente achava que

estava brincando.- Sei que parece totalmente ridículo, mas é a verdade e o máximo que

posso lhe contar por enquanto.Ben soltou um suspiro e resmungou.- Certo. São os Hare Krishnas que deixam você desse jeito.Malory aproximou-se mais. Pobre Ben. Por que perdia tempo com alguém

como ela? Ele devia ir procurar alguém que fosse normal, alguém quepudesse lhe oferecer a honestidade que merecia.

Quando deu por si, estava abraçada nele. Tocá-lo não era bem umaresposta às perguntas feitas. Mas pelo menos a fazia sentir-se forte obastante para chegar ao fim do dia sem ter um colapso nervoso.

Dez

Depois do incidente do começo da semana, o tempo passou até quedepressa. Malory não sentiu mais aquela presença a espiá-la em tudoquanto era canto. E ainda que tivesse de voltar para casa a tempo de cuidardos gêmeos e ajudar no jantar, deu um jeito de poder se encontrar com Bentodos os dias, na saída da escola. Felizmente, ele não fez mais perguntas.Os dois gastavam o tempo falando de música, de arte, das coisas que Shellae as amigas com certeza estariam aprontando, ou de qualquer outro temacapaz de fazê-los rir.

Até chegar o sábado, por mais incrível que pudesse parecer, já estava sesentindo na verdade quase semidecente.

O dia amanheceu nublado, com um chuvisco constante. Malory vistoriou

as nuvens pesadas pela janela, enquanto passava a ferro a camiseta azul-turquesa.

- Eu pensei que não chovesse nunca na Califórnia – Tommy resmungoude mau humor, assistindo desenho animado no sofá, ao lado de Mike.

- Só chove quando você quer muito ir lá fora - Malory respondeubrincalhona, desligando o ferro e tirando o fio da tomada. Estava decidida anão deixar que nada, nem mesmo o tempo horrível estragasse seu dia.

- Detesto ter de lhe pedir isso, Mal, mas acha que pode ficar em casa,hoje? - a mãe lhe perguntou como quem não quer nada, enquanto punha amesa do café. - Se os meninos vão passar o dia aqui dentro de casa, vouprecisar de um pouco de ajuda.

Malory ficou gelada. Ia se encontrar com Ben às dez horas. Eu não voucancelar esse encontro de jeito nenhum. Respirou bem fundo.- Desculpe, mãe - respondeu, baixinho. - Já tenho planos para hoje.- É mesmo? - A mãe parecia ligeiramente surpresa. – O que é que você

vai fazer?- Bom, vou até a casa da professora Lerner às dez. – Malory tinha a

mentira pronta. - Ela disse que eu podia estudar piano o dia todo, hoje, casoeu quisesse. Depois eu ia dar um pulo à biblioteca para estudar.

- Bom, e por que você não estuda aqui mesmo em casa? - a mãe sugeriu.- Porque estou fazendo um trabalho de escola e preciso usar os livros de

referência da biblioteca. Além do mais, mãe – Malory acrescentou, semfaltar com a verdade -, as coisas estão meio congestionadas por aqui. É

meio difícil concentrar.

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Malory já tinha inclusive um falso assunto para seu trabalho: dez páginassobre Mozart, para o professor de história. Sabia que a mãe engoliria amentira. Mas a mãe limitou-se a sorrir e dizer:

- Está certo, querida. Eu compreendo.- Obrigada. - Malory tentou não soar aliviada demais. Sabia que a mãe

estava mais preocupada que de hábito; sempre ficava mais sobressaltadanos fins de semana, quando tinha o tempo menos estruturado. Mas nadairia impedir Malory de passar o dia com Ben.

Quase que para compensar o engodo, Malory pôs-se a limparfuriosamente. Poliu a mesinha da sala, que Tommy e Mike viviam deixandogrudenta e nojenta. Daria mais dez minutos do seu tempo aos afazeresdomésticos, depois sairia para encontrar-se com Ben, no lugar marcado.

 Justamente nesse momento, o interfone tocou. Havia alguém na porta láembaixo.

Malory parou de esfregar. E olhou apreensiva para a mãe.Quem poderia ser? Ninguém sabia onde moravam. Ninguém a não ser

algumas pessoas do FBI. Tinham apenas um número de caixa postal, para

receber a correspondência da escola.Com toda cautela, Kathryn Hunter tirou o fone do gancho e perguntou:- Quem é?Através da ligação toda cheia de estática estalou uma voz familiar pela

sala.- Ben Lerner. Sou amigo da Maddy.O medo fugaz que Malory sentira foi substituído por um tipo diferente de

temor: o de ser descoberta pela mãe. No mesmo instante atirou-se sobre oaparelho.

- Eu desço já - gritou.A mãe olhou-a confusa.- Malory, eu não sabia que estava esperando um amigo...

- Ah, é o filho da professora... ele está no mesmo ano que eu. Esqueci. Eleme ofereceu uma carona - Malory interveio rápido, inventando à medidaque falava. Por que ele decidiu vir até o apartamento? E como descobriraqual era o número? Mas não podia se preocupar com esse tipo de coisaagora. - Ele tinha um compromisso e era caminho - concluiu.

Kathryn Hunter mordeu o lábio.- Bom, eu fico contente - disse ela, incerta. - Mas você sabe que não

podemos deixar que ninguém fique sabendo o nosso endereço...- Não se preocupe - Malory começou a dizer, enfática, com a intenção de

encerrar o assunto.- A Malory tem um namorado! A Malory tem um namorado! - os gêmeos

entoaram em coro.- Quieto os dois! - disse ela, ficando vermelha como um pimentão. Pondoum abrigo azul de náilon, para se proteger da chuva, correu para a porta.

- Acho que seria melhor se você me apresentasse a esse seu amigo. Porque não o convida a subir? - disse Kathryn Hunter, examinando mais deperto o rosto ruborizado da filha.

- Mãe, ele não é um amigo... ele é só o filho da professora Lerner. Agoraeu tenho de ir. - Malory embarafustou pela porta, antes que a mãe pudesselhe fazer alguma outra pergunta.

- A que horas vai voltar?- Eu dou uma ligada!Sentindo-se leve e livre, voou escada abaixo até onde Ben esperava, na

porta do prédio. Em instantes estava do lado de fora, quase a ponto de seatirar nos braços do rapaz.

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- Oi! - exclamou, os olhos azuis escuros cintilantes de felicidade.- Oi - disse Ben.De repente, os lábios de Ben estavam tocando nos dela, delicadamente a

princípio, depois com intensidade maior. Os corpos se uniram também,durante o beijo, agarrados um ao outro como se nada mais no mundoexistisse.

Recobrando o bom senso, Malory afastou-se e olhou em volta. Ben nãopareceu reparar.

- Cara, que bom te ver - ele sussurrou.- Também acho - Malory cochichou de volta, ainda abalada com a paixão

do beijo de Ben. - Mas, espere... o que está fazendo aqui?Ele sorriu.- Por quê? Não está contente de me ver?- Não. - Ela sacudiu a cabeça, confusa. - É que... por que veio me buscar

em casa? Como conseguiu meu endereço? Quer dizer, meus pais ficariammalucos se...

- Escuta, Maddy, não foi muito difícil descobrir qual era o seu

apartamento. A única campainha sem nada escrito; vocês ainda nãotiveram tempo de pôr o nome - ele interrompeu, seco.- E eu vim apanhá-laaqui porque... estava esperando que você voltasse atrás e me apresentassea seus pais. Achei que já que você conhece a minha mãe, eu podia ficarconhecendo a sua.

- Mas... mas... a sua mãe é minha professora - Malory resmungou. - Claroque eu tinha de conhecê-la.

Ben parou de andar. Por alguns instantes, deu a impressão de quaseestar bravo. Depois disse:

- Claro que sim. - Virando-se, começou de novo a andar em direção ao jipe.

Malory não sabia o que dizer. Queria ficar brava com ele. Afinal de

contas, ele descobrira onde ela morava sem sua permissão. Mas não eraculpa dele. Nada era culpa dele. Naquele momento, quis correr de volta atéo apartamento e gritar para a mãe, para o mundo, que estava apaixonadapor Ben Lerner.

Sim. Agora percebia. Era exatamente isso o que sentia. Estavaapaixonada. Pela primeira vez na vida, Malory Hunter estava apaixonada.

Chegando ao carro, Ben estancou.- Você vem ou não?Ela atravessou correndo a rua e entrou no jipe

Onze

- E aí? Você ainda não me falou aonde estamos indo. – Eles já estavamrodando havia uma meia hora e, até então, Malory só se ocupara emadmirar o mar, que se esparramava paralelo à estrada, e mudar de umaestação de rádio para outra, sem prestar grande atenção no que tocava.

- Logo você vai ver - respondeu Ben, com um sorriso misterioso. - Ohomem do tempo disse que o céu vai limpar e estou começando a acharque ele acertou.

Malory deu uma espiada no céu. Continuava chovendo, mas Ben tinharazão: pelo jeito o sol estava prestes a romper o manto de nuvens.

- Olha, desculpe não ter ligado primeiro... antes de passar na sua casa. -Ben não tirou os olhos da estrada. - Mas eu não tinha o seu número. Vocês

não constam da lista, sabia?Malory lutou para conservar a fisionomia impassível.

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- Leva um tempo para constar da lista.- Hum-hum. Eu inclusive tentei conseguir o seu número com a escola,

mas eles não quiseram saber de me dar, nem mesmo quando eu tapei onariz e fingi que estava falando de uma loteca e que tinha acabado desortear seu nome.

- Imagine só - falou Malory, permitindo-se um sorriso. Na verdade, era umalívio saber que a escola não quisera dar o número do seu telefone. Era bomsaber que respeitavam a privacidade dos Hunter.

- Pois é, eles falaram que alguém tinha tentado esse golpe antes -continuou Ben, em tom de lamento. - Outro dia mesmo, aliás. Quem mefalou foi a senhora Craft, da secretaria: "Vai desculpar, meu caro, mas nãofuncionou aquele dia e não vai funcionar agora tampouco".

- Como assim, tentaram "esse golpe antes"? - Malory indagou, na mesmahora desconfiada.

Ben encolheu os ombros.- Sei lá. Acho que alguém tentou descobrir o número do telefone de

alguém desse mesmo jeito, uns dias antes. Bom, mas o fato é que eles

perceberam que era conversa fiada e não me disseram nada.A respiração de Malory acelerou-se um pouco.- Quer dizer então que alguém ligou para a escola e pediu para saber

especificamente o número do meu telefone, antes de você? - ela insistiu, avoz ligeiramente alterada.

- Eu não sei, Maddy. Eles não disseram nada na escola. - Depois ele lhedeu uma olhada rápida. - Isso é assim tão importante? Tem alguma coisa aver com aquele "grupo" que você mencionou outro dia?

Malory hesitou. Seria sarcasmo, aquela inflexão na voz dele?Não, a aspereza estava mais próxima da raiva, raiva por ela não lhe dizer

a verdade. Bem que gostaria de lhe dizer que sim, que tinha algo a ver como grupo, mas não de uma forma que pudesse explicar.

Pensou apenas no sujeito do pneu furado, o sujeito que procurava umtelefone.

- Não. Não é importante.Olhou então para fora da janela, para além da cabeça de Ben, para a

imensidão do oceano. O bater constante das ondas na praia tinha um efeitohipnótico.

Você está apenas ficando paranóica de novo, censurou-se. Relaxe eesqueça o assunto. Ninguém ligou para a escola perguntando de você e

 ponto final.De repente, o sol surgiu por entre as nuvens, esplendoroso em seu súbito

brilho. Malory virou-se rápida no assento e olhou para trás, vendo o que

estava procurando: a curva ampla de um arco-íris.- Olha, Ben, um arco-íris - exclamou. - Rápido, feche os olhos e faça umpedido.

- Hum... acho melhor não fechar os olhos, se não se importa. Talvez nãoseja uma boa idéia, ao volante. Será que funciona de olho aberto?

Malory não respondeu. Já estava de olhos cerrados e desejando a mesmacoisa de sempre: Por favor, faça com que sejamos uma família normal. Por favor, mantenha-nos a salvo daqueles homens. Só que dessa vezacrescentou mais uma coisa: Por favor, que Los Angeles seja o último lugar 

 para onde nos mudamos.E então abriu os olhos. Encarou Ben, que estivera espiando enquanto

fazia seu pedido. Sorriu, um pouco embaraçada.

- Nunca ouvi ninguém pedir alguma coisa para o arco-íris. Para umaestrela cadente sim, mas nunca para um arco-íris.

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- Ah, é só uma brincadeira que meus pais faziam comigo quando eu erapequena. Eu tinha cinco anos e meus irmãos eram bebezinhos. Nósestávamos viajando de carro, tinha chovido a noite inteira e eu estavachorando. O sol começou a nascer e apareceu um arco-íris incrível. Aí, achoque para me fazer parar de chorar, meu pai apontou para o arco-íris e medisse para fazer um pedido. Lembro-me muito bem. Foi a primeira vez quenós... - Malory parou de falar de repente, percebendo que tinha se deixadolevar pelas lembranças.

- A primeira vez que vocês o quê? - Ben cutucou.- A primeira vez que nos mudamos - Malory improvisou.- É mesmo? De onde para onde?- Ah, eu já nem lembro mais - veio a resposta vaga.- Você não se lembra do lugar de onde você vem - Ben disse, com secura.

O tom era acusador. - Pensei que tivesse me dito que sentia saudades desua antiga casa!

- Eu já lhe disse isso antes, eu venho de um monte de lugares... eu nãome lembro de todos - Malory sussurrou, toda trêmula. - Eu quis dizer que

sentia saudades...- Olha, Maddy - interrompeu Ben, suavizando a voz. - Desculpe. Não tema menor importância de onde você é. Tudo que me interessa é que vocêestá aqui agora... comigo.

Malory concordou, sem palavras. Queria dizer a ele que sentia a mesmacoisa, mas era bem mais fácil ficar calada.

Vários minutos depois, Ben pegou uma das saídas da estrada, emseguida fez uma curva fechada e entrou numa estradinha estreita quedesembocava numa garganta. De um lado, erguiam-se as surpreendentesencostas salpicadas de verde e castanho do cânion que rasgava asmontanhas, do outro, o imenso oceano Pacífico estendia-se cintilante, comoum mar infinito de diamantes. Por cima, pairava uma vasta imensidão de

céu, quase todo coberto por gordas nuvens cinzentas e brancas, com algunsraios esparsos de sol perfurando aqui e lá o manto. Malory baixou o vidro da

 janela. O ar estava fresco, límpido e doce. Respirou fundo e sorriu,totalmente satisfeita.

Ben saiu da estrada e parou numa pequena área de estacionamento, noinício de uma trilha.

- Cá estamos - anunciou ele, desligando o motor.Por uns tempos, permaneceram sentados dentro do carro, sem dizer

palavra. Isso era uma das coisa de que Malory gostava em Ben: ele nãotinha necessidade de falar o tempo todo. Sabia que havia um momento eum lugar para conversar, e um lugar e um momento para silenciar.

Malory sorriu. Por algum motivo, naquele exato momento sentia-se muitocalma, como não acontecia havia semanas, já.- É como se nós fôssemos as duas únicas pessoas no mundo - disse

baixinho, recostando-se de novo no assento e virando o rosto para o solquente.

- Justamente como eu me sinto.- O que você costuma fazer, quando vem aqui?- Fico desenhando, quase o tempo todo - disse ele, pegando em sua mão

e pondo-se a brincar com seus dedos finos, compridos.As pontas dos dedos de Ben eram macias, pareciam quase permeáveis.

Ela apertou cada uma, deliciando-se com a sensação.- Alguma vez você já... não... esquece. - Mudara de idéia. Estivera prestes

a lhe perguntar se alguma vez já tinha levado alguém mais até ali, mas paraque estragar o momento? Ela não poderia mesmo assumir nenhum

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compromisso de longo prazo, de modo que não tinha o menor direito desentir ciúmes.

- O quê você ia dizer?- Nada. - Ela sorriu. - Bobagem.- Tudo bem, mas você pode me perguntar o que quiser, sabia?- Eu sei - Malory respondeu, em voz baixa. Mas como é que poderia lhe

perguntar alguma coisa pessoal, quando ele não tinha esse mesmo direito?Delicadamente, ele a enlaçou nos braços, apertando-a contra o peito,

descansando o queixo sobre o cabelo escuro macio. Manteve-a bemapertada, enquanto sentiam os dois o sopro da aragem ligeira que passavapelo jipe. Malory fechou os olhos. Por uma fração de segundo, sentiu omesmo de quando tocava piano. Como se estivesse flutuando acima domundo, cada vez mais alto, longe de todas as maldades e aflições. Era umafelicidade que jamais esperara conhecer ao lado de uma pessoa.Estremeceu sem querer.

- Está com frio?- Não. Só estou feliz. - Suspirando, Malory afastou-se de Ben. - Estava

pensando... sabe... eu só me sinto assim tão bem quando estou tocandopiano. - Sorriu com tristeza. - Meio patético, não é mesmo?- Nem um pouco. - Ben ficou sério. - Eu só me sinto feliz de fato quando

estou desenhando. - Soltou uma única risada. - Olha, você ainda pode serapresentada ao John Slattery, quando quiser. Talvez da próxima vez que elevier nos visitar.

Malory limitou-se a encolher os ombros.- Eu não sei... - De repente, viu-se tomada por uma dor estranha,

melancólica. Jamais seria capaz de ocultar suas emoções ao lado dele; numminuto, sentia vontade de gritar de alegria... e no segundo seguinte, avontade era soluçar sem parar. Isso não vai dar certo nunca. Ele não podese envolver com nada que tenha a ver com a minha vida. Ele não pode nem

me fazer uma pergunta. .- Mas não é obrigada, claro - Ben acrescentou rápido.- Não, claro, é só que, bom... acho que ainda preciso de umas aulas,

antes de começar a pensar em ir para um conservatório. Sobretudo o Juilliard.

- É mesmo? - Ben ergueu as sobrancelhas - minha mãe não acha isso. Eela é profissional.

Malory sorriu para ele.- Certo, mas minha mãe acha. Ela me fala isso às vezes. Diz que um dia

eu vou ter aulas de piano e, um dia... - Sua voz foi sumindo aos poucos. Eum dia vou ter amigos. E um dia vou ter namorado...

- Lembra-se do que você me disse na segunda-feira? – ele perguntou,baixinho. - Naquele dia em que você achou que eu te dei o bolo na hora doalmoço?

Malory hesitou. Devia ter dito alguma coisa que o deixara intrigado.- Não, o que foi que eu disse?- Você falou: "Eu não posso ter amigos". - Ben olhou-a atentamente. - O

que quis dizer com isso?- Eu quis dizer que... só quis dizer que... - Malory gaguejou, incapaz de

pensar numa desculpa qualquer. - Olha, eu não quero falar sobre a minhafamília - concluiu então, meio bobamente, olhando para baixo para não terque cruzar o olhar com Ben, que a fitava com ar inquisidor.

- Eu sei. Você nunca quer falar da sua família. Mas eu quero saber. Quero

saber de você, da sua família... de onde você é, o que fazia antes. Quero

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conhecer seus pais e seus irmãos. - Apertou-lhe as mãos, bem forte. - Émuito importante, Máddy.

Maddy, disse ela, com seus botões, envergonhada e irritada.Você não acharia assim tão importante se soubesse que Maddy nem é

meu nome de verdade.- Um dia, um dia - murmurou ela, com voz trêmula. - Sério.- Você está mentindo... e nós dois sabemos disso – falou em, em tom

grave. - Mas eu só queria entender por quê. Eu queria saber por que vocênunca vai me falar a seu respeito. Por que você não quer que eu a conheça?

- Eu... não é isso... - A voz de Malory falhou.- Será que não vê como isso é importante? - Ben pegou-a pelos ombros,

tentando fazer com que o encarasse.Malory estremeceu. Respirou fundo, depois olhou firme para seus olhos

castanhos.- Certo, Ben - falou ela, examinando-lhe a fisionomia. -Eu vou lhe contar

uma coisa. Mas não quero que me odeie, certo?Os olhos de Ben titubearam um instante.

- Prometo. Eu jamais poderia odiá-la.- Bom... é verdade que eu não posso lhe contar nada sobre a minhafamília, nem onde nós morávamos, nem nada disso. Mas bem que eugostaria. Eu adoraria lhe contar sobre nós, onde costumávamos morar etudo o que me faz ser quem sou. - Parou uns segundos. - Mas tem umproblema. E o pior é que eu não posso lhe contar qual é esse problema... -De repente, a voz fraquejou e os olhos se encheram de lágrimas.

- Tudo bem. - Ben tentou consolá-la, abraçando-a de novo.- Não faz mal.- Não. Faz sim. Porque eu nunca vou poder lhe contar nada sobre minha

família. Nunca vou poder lhe contar nada do meu passado, onde eu morava,o que eu fazia. Nunca vou poder lhe contar nada, Ben. Tem de ser um

segredo para sempre. Será que compreende isso?- Olha, Maddy - a voz de Ben era um mero sopro -, se você fez alguma

coisa ou esteve envolvida com alguma coisa que receia me contar... nãoprecisa. - Ele ergueu o rosto dela e limpou as lágrimas que escorriam.

Ela lhe deu um sorriso débil.- Eu sei. Mas...- Em primeiro lugar, eu jamais, jamais contaria a quem quer que fosse

algum segredo seu. - Tomando-lhe a cabeça entre as mãos, Ben continuou:- Em segundo lugar, nada que você possa ter feito, nada que você possa vira fazer um dia, vai mudar o que eu sinto por você.

Nesse momento Malory percebeu que jamais estivera tão perto de contar

a verdade a alguém. Mordeu o lábio. Ansiava mais que nunca pela chancede poder se abrir e contar toda a verdade: que eles estavam fugindo haviaum tempão, que nunca tivera um amigo ou amiga, em todos esses anos,que a música era seu único consolo. Mas vendo aquele rosto sério e sincero,Malory percebeu também que era impossível. Ele já corria perigo, muitoperigo, com o pouco que lhe dissera.

- Só quero falar de nós dois, agora. Só de nós - disse ela, com ferocidade.- Porque o agora é tudo que eu tenho. O agora é minha única certeza.

- Mas será que não confia em mim para... - protestou ele.- Confio. Confio sim. - Malory sossegou-o colocando os dedos

delicadamente sobre seus lábios. - Mas não faz a menor diferença. Ben, sevocê gosta de mim, se você gosta de nós, então, por favor... não faça mais

perguntas. Será que consegue?

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- Tá certo, Maddy - disse Ben com suavidade, tomando-a nos braços eafagando-lhe os cabelos. - Por você, eu dou um jeito.

Doze

Eram sete da noite quando o jipe preto parou na frente do prédio deMalory. Mas as ruas molhadas de chuva ainda cintilavam sob os últimosraios débeis de sol.

- Vamos nos ver amanhã? - Ben perguntou, desligando o motor.Malory pensou uns instantes. Que desculpa daria à mãe? Aulas

particulares suplementares? Depois do que acontecera logo de manhã, eradifícil que engolisse essa história.

Ben esperava com a maior paciência, mas os olhos traíam a ansiedade.Malory estendeu o braço e colocou a mão em seu joelho.- Dá uma ligada amanhã de manhã. Aí eu já vou estar sabendo se dá.- Certo. - Ben continuava um tanto relutante. De repente, seus olhos

faiscaram. - Espere. Eu quero lhe mostrar uma coisa.

- Esticando o braço por cima do banco, pegou uma mochila do assentotraseiro.- O que é?- São uns desenhos - falou ele, remexendo na sacola e tirando de dentro

um pequeno caderno de esboços. Folheou algumas páginas, depoisestendeu-lhe o caderno.

Os olhos de Malory arregalaram-se. O caderno estava aberto num esboçoincompleto de uma paisagem marinha. Na mesma hora reconheceu a vistaque se descortinava da trilha por onde tinham caminhado aquele sábado.

- Puxa - murmurou ela, folheando as outras páginas. O caderno estavacheio, repleto de paisagens marinhas incompletas, feitas obviamente emmomentos diferentes do dia, sob luzes e ângulos diferentes. Havia páginas

e páginas de montanhas e mar desenhados de um mesmo local, mas quede alguma forma pareciam sutilmente diferentes: uma sombra aqui, umarbusto acolá, uma silhueta na praia. Estava espantada com a riqueza ebeleza dos detalhes dos desenhos de Ben: até a flor mais minúscula e omatinho mais raquítico, estava tudo ali.

- São desenhos incríveis, Ben. Você é um artista incrível.- Obrigado - foi a resposta simples de Ben.- Mas por que não tem quase nenhum terminado?Ben sacudiu os ombros.- Sei lá. Acho que porque nunca fico naquele cânion tempo suficiente e,

quando volto, a luz está sempre diferente, ou alguma outra coisa mudou. Às

vezes me dá vontade de fugir de casa e ir morar lá.- É. Eu entendo. Entendo muito bem isso de querer fugir de casa - Maloryfalou, distraída.

Ben lhe deu uma olhada.- Entende? Então já tinha pensado em fugir de casa? – A voz era

insistente.Malory riu, nervosa.- Ah, aquela coisa de sempre, você sabe. - Entregou-lhe de volta o

caderno de desenho. - Todo adolescente sente vontade de fugir de casa, umdia.

- Sei, Maddy... e você é igualzinha a todos os adolescentes do país. -Soltando um suspiro, Ben enfiou o caderno de volta na mochila.

Malory abriu a boca para dizer alguma coisa, mas as palavras não saíram.Eu não quero estragar este dia, pensou. Não vou permitir que isso aconteça.

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- É melhor você ir - Ben falou, em voz baixa. Jogando a mochila de voltaao assento traseiro, deu a partida. - Não quero que sua mãe pense que foiseqüestrada ou coisa parecida.

Ela provavelmente já pensou, foi a idéia triste que passou pela cabeça deMalory. Mesmo assim, tentou sorrir.

- Maddy... hum... tudo bem, você me dar o número do seu telefone?- Claro que sim. - Mal se dera conta do que tinha dito. Uma voz interior

fez soar o alarme, mas Malory ignorou-a. Confiava em Ben. Dar-lhe onúmero de seu telefone não a poria em perigo. Tinha de mostrar quegostava dele o suficiente para lhe dar alguma coisa.

Depois que ela lhe deu os sete dígitos, Ben repetiu-os baixinho váriasvezes e sorriu satisfeito.

- Obrigado.- Obrigada - Malory murmurou de volta. - Eu me diverti muito, hoje.- Eu também. - Ele inclinou-se e lhe deu um beijo de leve na boca.Malory sentiu o sangue subir às faces.- É melhor eu ir agora - disse rápido. Procurou a maçaneta da porta e

saltou.- Eu ligo pra você! - Ben gritou, pondo o carro em movimento.O que eu fui fazer? perguntou-se ela, de olhos fixos no jipe que

desaparecia no fim da rua.Sentiu uma contração no estômago. Dar o número do telefone de casa

fora burrice. Os pais haviam lhe dito especificamente para jamais revelar onúmero do telefone, a ninguém. Se Ben ligasse, os pais ficariam furiosos. Ese tivesse alguém espiando? E se alguém soubesse onde encontrar Ben?

Não podia se dar ao luxo de ter esse tipo de pensamento. A preocupaçãoa deixaria louca.

Ao virar-se e começar a andar devagar na direção do prédio, reparounum carro preto estacionado um pouco mais adiante, na rua. Era o único

carro parado. Deu uma espiada com o rabo do olho. Parecia conhecido? Já oteria visto ali parado antes? Vasculhou a memória, tentando lembrar-se detodos os carros que vira estacionados na área, mas era impossível.

 Talvez fosse melhor dar uma espiada de perto.Sem dar na vista, caminhou na direção contrária, decidida a fingir que

estava apenas passando e dar uma conferida nas placas. Califórnia. Erabom sinal. Com a respiração presa, aproximou-se ainda mais do carro.

Bem nesse momento, uma mulher jovem, lá pela casa dos trinta, saltoudo carro, vestindo um abrigo de moletom. Malory encarou-a. Decididamentenão parecia ser da Máfia. Parecia mais uma... bom, uma yuppie, umamulher bem-sucedida. Soltando um suspiro de alívio, Malory girou nos

calcanhares e dirigiu-se para a porta do prédio.O aroma pronunciado de molho de tomate permeava todo o corredorquando subiu as escadas aos saltos, até o apartamento. Abrindo a porta,chamou:

- Ei, cheguei! - depois olhou em volta da cozinha. Havia um caldeirão deágua fervendo. O molho estava em fogo baixo. A massa, crua, descansavaao lado do fogão, na bancada. Malory sentiu uma pontada de culpa.Obviamente, estavam todos a sua espera.

- Cheguei - gritou ela de novo, um pouco hesitante, entrando na sala. Aluz azulada da televisão mostrou-lhe os rostos despreocupados de Mike e

 Tommy.- Oi, Mal - disseram os dois em uníssono, sem voltar a cabeça.

- Cadê a mamãe? - Malory perguntou, olhando ao redor do apartamentoacanhado.

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- Está no quarto - Mike começou a dizer.- Pois é... ela estava com uma dor de cabeça forte. Aí foi se deitar um

pouco - Tommy terminou.Malory franziu a testa. Estranho. A água fervendo no fogão e a mãe

decidira deitar um pouco? Não fazia muito sentido. Deve haver algumacoisa errada.

- E o papai? - perguntou.- Trabalhando - Tommy respondeu.Malory soltou um novo suspiro. Pelo menos os meninos não tinham

pressentido nada fora do normal. Foi pé ante pé até o corredor e entrou noquarto dos pais. Não era grande coisa: um colchão king-size colocado nomeio do chão, ladeado por um pequeno despertador digital e por umapequena lâmpada de cabeceira. Uma caixa de lenços de papel jazia nochão, bem ao pé do colchão. Kathryn Hunter estava estirada de bruços, osolhos fechados.

Ao som da entrada de Malory, abriu os olhos.- Malory - disse ela, o rosto tomado pelo alívio.

Malory sentiu-se péssima. Não era à toa que ela tinha ido deitar umpouco, com certeza estava morrendo de preocupação por causa da filha.- Mãe , olha , eu sinto muito mesmo ter chegado tão tarde e não ter

telefonado... - começou a dizer, apressadamente.- Tudo bem, Mal. Tudo bem. Eu sabia que você logo estaria em casa. Eu

sabia que sim. - A voz parecia muito tensa, como se estivesse escondendoalguma coisa.

- O que houve? - Malory perguntou.O cenho de Kathryn Hunter franziu-se.- Eu recebi um telefonema - começou a dizer, devagar. - Sua avó faleceu.

- Interrompeu-se de novo, a voz trêmula. – Foi na semana passada. E... eusó fiquei sabendo hoje. - Cobrindo o rosto com as mãos, começou a soluçar.

- Mãe... mamãe... - Malory sentia-se péssima. Adiantou-se até a beiradado colchão e atirou os braços em volta dos ombros da mãe, sacudidos pelossoluços. - Eu sinto muito. Sinto muitíssimo - sussurrou. À dor veio somar-seentão a raiva. De que adiantava ansiar por uma vida normal outra vez, senão haveria mais ninguém para quem voltar?

Entretanto Malory sentiu uma outra coisa. Medo.Em todos aqueles anos de fugas apressadas, dirigindo horas a fio em

plena noite para começar uma nova vida, Malory nunca tinha visto a mãebaquear. Sempre fora calma e contida. Mas uma coisa assim... uma coisadessas era diferente, a mãe estava abalada.

- Como foi que aconteceu?

Com um suspiro doído, Kathryn Hunter controlou-se e começou a falar.- Ataque cardíaco. Aconteceu uma semana atrás, mais ou menos. Meu paitentou falar comigo... - Os olhos começavam a se encher de lágrimas denovo.

Malory estendeu a mão, pegou um lenço de papel e entregou- lhe.- Obrigada, meu bem - disse a mãe, fungando. - Meu pai tentou falar

comigo... ele ligou para os federais. Eles disseram que era cedo demais paraentrar em contato comigo. Ele implorou... minha mãe estava perguntandopor mim, Mal... mas o maldito FBI se recusou a dar nosso maldito número. -Ela enxugou os olhos e jogou a bolota de papel longe. - Eles não permitiramnem mesmo que eu visse minha mãe pela última vez! - E começou a chorarde novo, copiosamente, com o rosto enterrado nas mãos.

Malory estava chocada demais para falar, chocada demais com a notícia,abalada demais com a dor da mãe. Não conseguiria lidar com isso sozinha.

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Pensou na avó, de cujo rosto mal se lembrava, toda cheia de tubos, ligadanuma porção de máquinas, tentando fazer com que alguém entrasse emcontato com a filha para que pudesse vê-la uma última vez, antes demorrer. As lágrimas subiram aos olhos de Malory também.

De que adiantava tudo isso, pensou. De que adiantava viver fugindo,sempre a olhar por cima do ombro, sem nunca ter ninguém fora da famíliaem quem confiar? Se não se podia nem ver a mãe moribunda, ou conversarcom as irmãs, ou ter um namorado... de que adiantava tudo aquilo?

Malory afastou-se um pouco da mãe.- Vamos ligar para o papai, certo?Kathryn Hunter ergueu a cabeça. Os olhos banhados de lágrimas fitavam

o rosto de Malory.- Não, Mal - falou ela, contendo um soluço. - Eu não quero preocupá-lo.

Ele já tem muita coisa em que pensar.- Mas isso... isso é loucura.- O que foi que disse?- É pura loucura, mamãe - falou ela, com raiva. - Olha só para nós,

fingindo que somos uma família normal. Eu tocando na orquestra docolégio, papai trabalhando, você fazendo o jantar e tudo não passa de umagrande mentira! Você vai ligar para o papai, sim... e ele vai voltar para casa,agora!

- Malory, esta não é a hora certa para ter um ataque de histeria - disse amãe, lutando com todas as forças para recobrar a compostura.

- Não é verdade. É uma ótima hora para histerias. Pelo amor de Deus, asua mãe acabou de morrer... e você não quer ligar para o papai porque ele

 já tem muita coisa em que pensar! E você! – A voz aumentara deintensidade. - Você não pode sequer ir ao enterro!

O rosto pálido da mãe mudou de expressão, ela parecia assustada.Malory percebeu que estava olhando fixo por sobre seu ombro, direto para a

porta. Virou-se na mesma hora.Mike e Tommy estavam lado a lado na soleira, de olhos arregalados,

temerosos.- O que aconteceu, mamãe? - Tommy perguntou.Kathryn Hunter levantou-se do colchão cheia de energia.- Não aconteceu nada - declarou muito firme, os olhos enxutos. - Vamos

 jantar.Malory ficou olhando, incrédula, enquanto a mãe tirava os meninos do

quarto. Como é que conseguia? Como é que podia simplesmente trancartodas suas emoções, como se estivesse fechando uma torneira? Tommylançou-lhe um olhar por cima do ombro, na saída, com sua expressão

inocente, infantil. Malory tentou sorrir. Não queria assustar os meninos. Eles já tinham o suficiente, sem ter de lidar com uma irmã mais velha histérica.Mas a cabeça doía-lhe e o estômago também. Decididamente estava sem

fome. O que queria mesmo era poder voltar no tempo. Voltar para aquelatarde ao lado de Ben e que, de repente, parecia ter acontecido umaeternidade atrás.

Naquele momento, fugir lhe pareceu a melhor idéia que já tivera emmuito, muito tempo.

Treze

O combinado é que Malory daria mais uma aula particular a Joey nodomingo, mas ela resolveu ficar em casa fazendo companhia à mãe. O pai

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tirara um dia de folga no trabalho, mas assim mesmo achou que a mãeprecisaria de todo apoio que pudessem lhe dar. Depois da atuaçãoimpecável da noite anterior, em que produzira um belo jantar, seguido porum filme alugado, Kathryn Hunter parecia agora estar tendo umadificuldade maior para lidar com a realidade da morte da mãe. Malory, noentanto, sentia-se secretamente aliviada com a depressão e inquietudematernas. Significava que ela estava enfrentando a situação, e não fingindoque nada acontecera.

O pai, por seu lado, continuava com o teatro. Era bom que tivessearranjado um substituto no serviço, para poder ficar ao lado da esposa, mastudo que conseguia fazer o tempo todo foi contar piadinhas e histórias dotrabalho. Malory sabia que era apenas uma tentativa de alegrar a mãe, masbem que gostaria que ele largasse aquelas brincadeiras bobas. A vida delesnão estava alegre, no momento, e não estaria por muito tempo ainda. Deque adiantava fingir?

O dia estava azulíssimo, sem uma nuvem no céu, e não havia nem sinalda chuva do dia anterior no chão, de modo que não demorou para que os

gêmeos começassem a se sentir irrequietos. Apesar do tempo lindo,Kathryn queria que os filhos brincassem dentro de casa. Malory não saberiadizer se a mãe estava sendo demasiadamente protetora ou se apenasprecisava da companhia daqueles que amava. O pai resolveu fazer umquebra-cabeças com os dois. Depois construíram um castelo de cartas. Maslá pelas cinco e meia da tarde, os irmãos estavam subindo pelas paredes.

- Bo-la, bo-la, booo-la! - entoavam os dois, sem parar, até que o paiconcordou em jogar um pouco de basquete no pátio que havia nos fundosdo prédio.

- Vamos lá, rapazes. Meu bem, a gente volta dentro de uma hora, mais oumenos.

- Legal! - gritaram os dois, pegando a bola de basquete e indo direto para

a porta.O pai deu um beijo na testa da mulher.- Kathryn, se precisar de alguma coisa, eu estou aí fora. – Tommy e Mike

 já esperavam na porta. O pai sorriu e correu atrás. A porta fechou-se.Kathryn Hunter conseguiu soltar uma risada cansada.

- Os gêmeos deixam qualquer um maluco - Malory resmungou.- Você vai encarar tudo de um jeito diferente quando tiver os seus, Mal -

disse a mãe, suavemente.Malory encolheu os ombros.- Eles precisavam sair um pouco - continuou a mãe, numa voz muito

longínqua, olhando pela janela. - O dia está muito bonito para ficar

enfurnado aqui dentro. Essa é uma das coisas de que eu gosto, a respeitodesta nossa nova casa, o tempo.À menção da palavra casa, Malory sentiu um frio estranho na boca do

estômago. Sabia, com uma certeza súbita e absoluta, que Los Angeles nãoseria o lugar da casa deles por muito mais tempo. Se o FBI entrara emcontato para lhes contar da avó, entraria em contato logo mais para lhesdizer uma outra coisa qualquer.

O FBI nunca aparecia uma vez só. Eram sempre várias chamadas,começando por um bilhetinho qualquer, ou uma notícia, depois um outrolhes dizendo que estavam "na mira", ou "a salvo", e depois uma ligaçãodizendo-lhes que chegara a hora de mudar. Talvez não no mês seguinte,talvez nem nos próximos três, mas logo. Tentou não pensar em Ben.

O telefone tocou.

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Malory olhou para o aparelho. Depois para a mãe. E engoliu em seco.Para a família, um telefonema nunca era uma coisa boa. Ou porquehouvesse uma emergência... ou porque alguém conseguira descobrir onúmero do telefone deles.

Mais um toque, insistente, exigindo resposta.Foi então que lembrou: Ben. Lançando para a mãe o que esperava fosse

um olhar de desculpas, avançou rápido para o telefone na parede.- Alô - falou ela, com voz esperançosa, no fone.No lugar da voz de Ben, houve apenas silêncio. Depois desligaram. O

ruído de discar zumbiu alto no ouvido de Malory.Um calafrio lhe perpassou a espinha.- Malory? - a mãe perguntou.- Engano - resmungou, sem olhar para ela. E colocou o fone de volta no

gancho.- Era para quem? - quis saber a mãe.- Para ninguém... não tinha ninguém na linha.Kathryn Hunter olhou para a filha.

- O quê, o que foi? - Malory perguntou, irritada. - Foi engano, só isso. Aspessoas discam errado o tempo todo. Não foi nada.- Calma, Malory. Só que me pareceu que você estava esperando o

telefonema de alguém.Malory não disse palavra. Estava enfezada consigo mesma, tanto por não

contar a verdade à mãe quanto por ter perdido a paciência daquelamaneira. O que estava havendo com ela? Já estava com seu pedido dedesculpas na ponta da língua quando o telefone tocou de novo. Na mesmahora, atendeu.

- Alô? - cochichou ela.- Maddy? - Era a voz de Ben.Malory deu um suspiro curto de alívio. Olhou por sobre o ombro para a

mãe, que de repente se levantara e fora para o quarto. Sentiu uma pontadaaguda de culpa mas não havia nada que pudesse fazer a respeito. Tardedemais.

- Oi - cochichou de novo.- O que foi? - Ben perguntou, em voz baixa, com intimidade.- Nada de mais - veio a resposta cautelosa. Malory tinha medo que a mãe

ouvisse.- Pensei em você a noite toda.Malory sentiu que enrubescera.- Eu também.- Tudo bem com você? Fiquei meio preocupado e...

- Não. Tudo bem.Houve uma pausa.- Você acha que vai dar para a gente se ver mais tarde um pouquinho?

Quem sabe pegar um cinema, ou algo assim? Ou nós podíamos dar umavolta de bicicleta no parque...

Malory sorriu tristonha. Tudo o que Ben sugerira soava tão lindo. Tudo. Tão distante das tensões que vibravam no apartamento. Mas duvidava quefosse conseguir convencer a mãe a deixá-la sair com Ben. Sem falar queMalory não queria, exatamente, deixá-la sozinha num momento comoesse...

- Ou então podíamos só dar uma volta aí no seu quarteirão mesmo, tomarum sorvete, algo assim. O que você quiser.

Um passeio no quarteirão. Sorvete. Tudo ali bem perto de casa. Ela podiasair por uma meia hora, e voltar em seguida. Não era tão mau assim. Claro

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que poderia dar uma saída, se os meninos tinham tido permissão de jogarbasquete lá embaixo.

- Olha, é tudo muito legal, mas... - Ela hesitou uns segundos.- Eu, bom... vou ter que ver com a minha mãe.Nesse exato momento, a mãe apareceu bem do lado.- Quem é? - perguntou num cochicho.Malory sentiu-se paralisada por uma fração de segundo, depois decidiu

contar a verdade... e pensar numa desculpa mais tarde.- É o filho da professora Lerner, Ben Lerner. - Reteve o fôlego,

perguntando-se o que a mãe diria a seguir.- Maddy? - falou Ben do outro lado. - Você está me escutando?- Hum... estou - respondeu, confusa. - Espere um segundo.- Molhou os

lábios com a ponta da língua. - Escuta, mãe, tudo bem... tudo bem se eusair tipo uma meia hora, não mais?

Esperava que a mãe recusasse, que cruzasse os braços brava, qualquer coisa. Mas Kathryn só olhava para ela. Por fim, abriu um sorriso débil,melancólico.

- Tudo bem - sussurrou, voltando em seguida para o sofá da sala.- Maddy? - Ben repetiu.- Oi, Certo... vai dar para eu sair. - Malory abanou a cabeça, ainda atônita

com a reação da mãe. - Mas não por muito tempo - acrescentou rápido.- Tudo bem. - Ben parecia aliviado. - Eu passo aí daqui a quinze minutos.Antes que Malory tivesse tempo de se despedir, ele já tinha desligado. Ela

colocou o telefone de volta no gancho e olhou para o aparelho um instante.Queria ter perguntado se ele tentara ligar antes e se a ligação caíra. Deviater sido ele. Ou um engano. Não havia nenhuma outra possibilidade,consolou-se.

- Malory? - a mãe chamou.Malory gemeu baixinho. Não lhe agradava nem um pouco a idéia de

enfrentar a mãe e lhe dar uma explicação. Mas obrigou-se a marchar até asala.

- Era o filho da sua professora de música, ao telefone? - Kathryn Hunternão olhou para a filha. Estava sentada no sofá, fitando a janela.

- Era.- E ele é um bom menino?Malory ficou um tanto surpresa. Em geral a pergunta seguinte seria: Você

lhe contou alguma coisa que eu deva saber?- É... - Malory respondeu, com um pé atrás, incerta onde a conversa ia

dar.- E você gosta muito dele? - continuou a mãe, dessa vez olhando para

ela.O rosto de Malory enrubesceu na hora, mas ela não disse nada.- Compreendo. E você lhe deu o nosso número de telefone.Malory fez que sim.- Dei, mãe, mas...- Bom, então ele deve ser um menino muito especial - interrompeu ela,

suavemente.Ela continuou em silêncio. Minha mãe sabe. De algum modo, ainda que

não tivesse dito uma palavra, a mãe sabia que estava apaixonada. Nãopodia continuar brincando de esconde-esconde. Não havia mais por quê.Seria melhor contar tudo à mãe. Respirou fundo.

- Ele é o cara mais maravilhoso que eu já conheci na vida.

A fisionomia de Kathryn Hunter anuviou-se.- Entendo... - falou, hesitante. - Malory...

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- Por favor, mamãe - Malory implorou num sussurro. - Não comece.Mas a mãe limitou-se a abanar a cabeça.- Não é seguro, Mal. Não é seguro para você e não é seguro para ele. Se

seu pai souber, vai ficar furioso. Nós podemos ser obrigados a partir aqualquer momento, sem aviso prévio, e você nunca poderá lhe contar omotivo. Nunca. - As palavras saíam-lhe da boca aos borbotões. - Você nãopoderia nem sequer lhe dizer adeus.

Malory arrepiou-se toda.- Eu sei. Eu não planejei nada disso, mãe... eu juro. Mas aconteceu. Não

foi uma coisa que eu pudesse controlar.A mãe abriu a boca, como se fosse dizer mais alguma coisa, mas depois a

expressão do rosto suavizou-se.- Eu sei, querida - falou ela depois de uns instantes. - Nunca é.

- E aí? Onde é que fica exatamente essa sorveteria? – Ben perguntou,depois de andarem uns bons minutos.

Malory olhou para ele.- Bom... eu achei que você sabia.Os olhares dos dois se cruzaram um momento, depois o rosto de Ben

abriu-se num sorriso largo. Quando Malory deu por si, estavam ambos rindoalto.

- Bom, eu gosto de andar sem destino - disse Ben, assim que recobrou acompostura. - Para ser sincero, eu não estava mesmo com vontade detomar sorvete.

- Nem eu. Desculpe, Ben. É que eu achei que você sabia onde...- Sem problema. É que eu não conheço muito bem o pedaço.- Ah. - Malory pôs-se a andar novamente. Por algum motivo, presumira

que Ben conhecesse Los Angeles inteira, talvez porque tivesse morado na

cidade a vida toda. Os olhos percorreram as calçadas em mau estado, osprédios caquéticos em volta. Pensando bem, ele com certeza não tinhamuitos motivos para vir muitas vezes a essa parte da cidade. Morava numbairro muito mais agradável.

- Qual é a sensação de crescer num mesmo lugar e morar na mesma casaa vida toda? - perguntou melancólica.

- Sei lá. Chato. Comum - disse Ben, com um encolher de ombros. Depoisolhou para ela, curioso.

- É mesmo? Gozado, mas eu não penso assim. Quem me dera ter umavida chata, comum.

O olhar de Ben intensificou-se. De repente, Malory percebeu que dissera

algo revelador. Engoliu em seco.- O que está querendo dizer com isso? - Ben perguntou.Eu podia contar a ele. Podia contar-lhe tudo a meu respeito que ele

nunca diria uma palavra a ninguém, eu sei, Malory pensou. Parou de andar.Pequenas mechas do cabelo preto tingido batiam-lhe no rosto, sob a brisa.

- O que eu estou querendo dizer é... que eu gostaria de ter vivido a vidatoda num mesmo lugar, bem aqui, e ter podido conhecer você a vida toda -falou, muito baixinho. - Aí então nós poderíamos ter sido crianças que iamao mesmo jardim-de-infância, depois ao primário, depois... - Mas nãoterminou a frase. De repente sentiu que mais um segundo e desataria achorar.

- Teria sido legal. - Ben estendeu a mão e tirou-lhe o cabelo do rosto. -

Maddy? - Ele hesitou, procurando as palavras certas.

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Ela estremeceu. O ar estava ficando mais frio, à medida que o sol baixavano horizonte.

- Sim?- Alguma vez, você ...? - Ben interrompeu a frase.Malory lhe deu a mão.- O que foi, Ben?- Nesse lugar onde você nasceu, nesses montes de lugares onde você

morou... e eu não estou querendo saber quais são acrescentou ele, maisque depressa. - Só estou querendo saber se, nesses lugares... alguma vez...você... - Ben deixou a pergunta inacabada solta no ar, entre os dois.

- Se eu alguma vez... o quê? - Malory insistiu.Ben respirou fundo.- Alguma vez você já disse a algum cara que o amava... nesses... sei lá

onde - Ben perguntou, as palavras saindo atropeladas de sua boca.Os olhos de Malory abriram-se muito.- Deixa pra lá - resmungou ele rápido, largando a mão dela. Dava a

impressão de que estava triste consigo mesmo. - Foi uma pergunta cretina.

Não precisa responder.Ela continuou olhando para ele. Eu nunca amei ninguém a não ser você,pensou, mas não conseguia pôr as palavras para fora. Não seria justo, nemcom um nem com outro. Como poderia amá-lo se só o conhecia havia poucotempo, se sabia que logo mais teria de partir e que jamais o veria de novo?Não tinha a menor lógica. Mas mesmo enquanto lutava com todas essasquestões, sabia que a lógica não tinha nada a ver com aquilo. Sim, ela oamava.

- Não - Malory sussurrou. - Nunca. E... e você? Alguma vez já disse a umamenina que estava apaixonado?

- Nunca - foi a resposta singela.Malory parou de andar. Aproximou-se mais dele, tomou-lhe a mão e

apertou-a bem forte. Por algum motivo, as palavras de Shella lhe voltaram àcabeça: "Ele faz isso todo ano. Ele gosta de fingir que é tipo assim umartista incompreendido. Aí ele vai e escolhe alguma solitária esquisita efinge que é namorado dela. Nunca dura muito tempo. Pode crer,já vi essefilme".

- Ben, você já teve muitas namoradas? - deixou escapar de repente. .- Algumas - ele admitiu, sem se abalar. - Mas nunca ninguém como você.

Você é a garota mais... bom, você é a garota mais incrível que eu jáconheci.

Ela não disse nada. Limitou-se a olhá-lo. Não fazia idéia do que dizer.- Maddy, o que eu vou falar pode parecer meio ridículo... mas alguma vez

 já lhe passou pela cabeça que você não precisa ir junto com seus pais, todavez que eles se mudam?O coração de Malory deu um salto no peito.- Como... como assim? - gaguejou.- O que estou querendo lhe dizer é que... quando é que chega o momento

de dar um basta? Quando é que chega o momento de se começar a viver aprópria vida?

- Eu tenho minha própria vida - Malory respondeu, pondo-se na mesmahora na defensiva.

- Tem mesmo? Quer dizer, você não pode ficar morando em lugarnenhum porque seus pais, seja por que motivo for, decidem que chegou ahora de mudar. Você não pode nem mesmo tocar piano, Maddy! - A voz dele

estava alterada. - Você tem de ir à casa de estranhos para fazer o que maisgosta na vida. Eu não sei do que seus pais estão fugindo, ou para onde eles

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estão indo, ou do que estão se escondendo... seja o que for... não parece ternada a ver com você. Por que você tem de continuar pagando pelos errosdeles a vida toda?

Malory piscou mais forte, depois tentou enxugar a umidade dos olhoscom a mão trêmula.

- É minha vida também, Ben - sussurrou.- Mas você tem dezesseis anos. Devia estar pensando em entrar para a

faculdade, em sair, em se divertir e... em mim.Mas eu penso em você, pensou ela, sentindo-se a mais infeliz das

criaturas. Eu penso em você mais do que tudo na vida. Mas já começara asentir o começo daquela insensibilidade que a dominava sempre que a vidaficava difícil demais.

- Desculpe, Maddy... eu não quis criticar você nem nada. Mas... é que euestou preocupado.

- Vai dar tudo certo, Ben. Eu prometo - murmurou ela.Ele avançou uns passos e beijou-a de leve. Por alguns momentos, Malory

perdeu-se em meio à sensação daqueles lábios dissolvendo-se nos seus.

Será que algum dia conseguiria de fato fugir, ir embora? Beijá-lo lhe davauma sensação mais maravilhosa do que tudo que pudesse ter imaginado.Naquele instante, enquanto tinha os braços dele em volta do corpo, bemapertados, teve uma fantasia insana de largar os pais e ir morar com Ben,na casa dele... tocar piano, ir à escola, fazer todas aquelas coisas que nuncapudera fazer...

Mas era impossível.Afastou-se dele e respirou fundo.- É melhor eu voltar agora.Ele acenou que sim, a fisionomia grave.- Eu sei.Malory abanou a cabeça. Jamais poderia largar a família. Jamais poderia

morar na casa de Ben. Uma vez que a pessoa tivesse entrado para oprograma de proteção a testemunhas, não tinha permissão de deixá-lo, amenos que abrisse mão de tudo o mais, e isso significava que nunca maispoderia ver ou falar com a mãe, com o pai, ou com os irmãos, nunca mais. Enão havia a menor garantia de que a Máfia não viesse atrás dela de todamaneira. Ela sabia tanto quanto o pai. Morar com Ben o poria em extremoperigo.

- Eu acompanho você até em casa.Caminharam em silêncio o caminho todo de volta até o quarteirão de

Malory, de mãos dadas. Pelo menos podia curtir esse momento, pensou ela.Era mais do que jamais tinha tido. E já era alguma coisa, não era?

Pelo canto do olho, Malory reparou num carro parado no fim da rua.Parecia o mesmo que tinha visto na noite anterior. Franziu os olhos,tentando ler o número das placas. Mas elas estavam enlameadas, ilegíveis.Seu pulso acelerou-se. Talvez fosse um outro carro. Estava parado numlugar diferente. E tinha alguém sentado no banco do passageiro, esperando.

- Maddy...? - Ben estava chamando.Foi então que Malory viu a mesma mulher do dia anterior, a que estava

vestida com o abrigo de moletom, descendo rapidamente a rua. Ela entrouno carro. Malory deu um suspiro de alívio.

Era o mesmo carro... claro que era.Esqueça isso. Não tem nada acontecendo. Você está apenas um pouco

assustada, só isso, Malory disse consigo mesma. Parou na frente da entrada

do prédio e olhou para ele.- O que estava dizendo, Ben?

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- Ah, nada de importante - falou Ben, como quem não quer nada. - É queeu estava pensando em dar quem sabe uma subida com você, paraconhecer seus pais.

Malory sacudiu a cabeça. Mas aí, como se estivesse apenas aguardandosua deixa, o sr. Hunter apareceu, caminhando na direção deles. Maloryfranziu o cenho. Onde estão os gêmeos? Será que ele está me procurando?O que houve?

- Oi, Maddy - falou o pai, aproximando-se mais. Chegando perto, deu-lheum beijo na testa, depois uma olhada para Ben.

- Ah, pai, este é, hum... este é Ben Lerner - gaguejou ela.O sr. Hunter sorriu amistosamente e estendeu a mão.- Como vai?- É muito bom poder conhecê-lo finalmente - falou Ben, apertando com

firmeza a mão estendida. - Já fazia um tempo que eu queria serapresentado.

O pai de Malory assentiu de cabeça, apenas. Depois deu uma olhada paraMalory, uma olhada que dizia tudo: Temos problemas.

Só então falou:- Estamos com visitas.Malory sentiu o sangue gelar nas veias.- Maddy, é hora de entrar. - O pai lançou a Ben mais uma olhada rápida,

depois virou as costas e entrou.Foi então a vez de Malory olhar para Ben e sorrir vagamente.- Certo. Boa noite, Ben. - Naquele súbito estado de pânico, a voz soou

esquisita, tensa. Como se tivesse acabado de apertar o botão de umgravador: as palavras não lhe pertenciam.

Ben a encarava sem entender.- O que houve? Visitas? Que visitas?- Eu preciso mesmo entrar agora. Eu ligo mais tarde – disse ela, num

fiapo de voz. Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, ela sumira devista.

Quatorze

Apreensiva, com os olhos turvos de lágrimas, Malory tentava enfiar suachave na fechadura amassada, mas, antes que pudesse girá-la, a portaabriu-se de chofre.

Do outro lado havia um homem que não era seu pai. Nem ninguém quetivesse visto antes. Era um sujeito com um terno barato, malcortado, decabelos escuros grisalhos e olhos castanhos cansados. Reprimindo um grito

de surpresa, tentou espiar por sobre o ombro dele, para dentro da sala. Nãoseria melhor tentar fugir?- Malory? - chamou a voz da mãe.- Mamãe?- Tudo bem, Mal. Nós estamos aqui.Malory passou rente ao homem de terno e entrou. Havia um outro

indivíduo na sala, outro homem de terno, sentado na poltrona. Era JeffreyLaurence. O FBI, disse Malory consigo mesma, sentindo o medo invadi-Ia.Sabia que havia um único motivo para a presença deles ali: levá-losembora. Malory abanou a cabeça.

Ninguém disse uma palavra. Os pais estavam sentados no sofá. O braçodo pai em volta do ombro da mãe e ela torcendo sem parar a aliança no

dedo, balançando-se ligeiramente para frente e para trás. Mike e Tommyestavam deitados no velho tapete da sala, inquietos e tristes.

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- O que está havendo? - Malory perguntou, em meio ao silêncio pesado. Jeffrey Laurence levantou-se.- Malory. - Estendeu a mão. - Lembra de mim? Eu sou o Jeffrey.Atordoada, ela o cumprimentou.- Estávamos justamente falando da nova casa de vocês, Malory - disse

ele, em tom agradável, fazendo um gesto para a cadeira de espaldar reto.Malory afundou-se nela.- Entendo - falou sem inflexão na voz. - Eu pensei que o senhor nem

soubesse onde nós estávamos - acrescentou, em tom sarcástico.- Claro que sabíamos, Malory; fomos nós que trouxemos vocês para cá.- Então por que esperaram esse tempo todo para nos contar que a minha

avó morreu? - rosnou ela, incapaz de conter a amargura e a raiva quecresciam dentro dela.

- Malory! - balbuciou a mãe. - Por favor...- Vocês estavam muito na mira, na época - Jeffrey interveio, todo suave. -

Passamos a informação o mais rápido possível.- É, eu sei o quanto estávamos na mira - Malory retrucou, zangada. - Deu

pra perceber direitinho em Lincoln Hills.- Malory, por favor - o pai falou com firmeza. - Não precisa ser mal-educada. Essas pessoas estão tentando nos ajudar. Estão tentando salvarnossas vidas.

 Jeffrey não lhe respondeu. Não havia mais nada a dizer. Se estavamtentando salvar a vida dos Hunter, faziam um péssimo trabalho, pensouMalory. Tinham cuidado muito mal do caso, essa é que era a verdade. Casocontrário, os Hunter já estariam seguros há muito tempo. Fazia quantotempo que moravam em Los Angeles? Uma semana? Como é que a Máfiapodia tê-los encontrado assim tão rápido?

 Jeffrey pigarreou.- Estamos de olho em sua família já faz um bom tempo, Malory. Desde

que vocês chegaram a Los Angeles.De repente, alguém bateu na porta. O homem de cabelo grisalho, que

estava perto da porta, enfiou a mão dentro do paletó, obviamente parapegar uma arma. Depois houve mais uma batida, em seguida mais três, emrápida sucessão. O homem relaxou e abriu.

Malory quase deu um pulo. Era a mulher de abrigo. E trazia na mão umafolha de papel. A custo, Malory sufocou sua surpresa. Era um dos desenhosde Ben, o esboço que fizera dela ao piano, naquele sábado.

- Como conseguiu isso? - gritou.- Não foi muito difícil - a mulher retrucou, sem alterar o tom. - E se nós

conseguimos achar assim tão fácil, o que a leva a pensar que os outros não

conseguiriam? Você não pode ser assim tão descuidada, Malory. Tem muitacoisa em jogo, aqui.- Você fuçou nas minhas coisas! - A voz de Malory era de desprezo. -

Quem lhe deu esse direito?- Nós temos o direito de fazer seja o que for para mantê-los vivos - a

mulher respondeu na hora.Malory olhou desesperada para os pais, mas os dois mantinham uma

expressão pétrea no rosto.- Não foi culpa minha...- Não faz mal - Jeffrey interveio rápido. - Seu amigo artista não terá mais

nenhuma oportunidade de desenhá-la. Vocês partem amanhã.Malory sentiu-se pregada ao chão. Estava totalmente despreparada para

isso. Não fazia o menor sentido. Não podiam partir assim tão cedo...

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- Nós ficaremos aqui com vocês até recebermos o sinal, em algummomento amanhã bem cedinho - Jeffrey continuou. – E aí então Jane e euescoltaremos vocês até o ponto de troca.

Malory olhou para a mulher com o desenho na mão. Não havia expressãonenhuma naquele rosto.

- Isso é muito importante, Malory. - Jeffrey falou com toda a cautela. -Nesse ponto de troca, vocês serão entregues a pessoas qualificadas, queestão com tudo pronto, bilhetes aéreos, identidade...

- E tintura de cabelo - resmungou ela.- Justamente, Malory... e tintura de cabelo - prosseguiu Jeffrey. - Essas

pessoas fornecerão a vocês tudo aquilo de que precisam para sair do país.- Sair do país? - Malory gritou.- Exato. - A voz de Jeffrey estava agora ofegante, quase desesperada.- De modo que eu sugiro que se preparem para a viagem, seja lá o que

for que isso signifique. Cada um de vocês tem direito a levar uma mala.O cérebro de Malory dava voltas e voltas, mas acabava sempre num

mesmo lugar: Ben. De alguma maneira, era preciso encontrá-lo. De alguma

maneira, tinha de lhe contar que estava indo embora. Tinha de fazê-lo sabero que sentia de fato.- Nós vamos viajar todos juntos? - Kathryn Hunter perguntou baixinho.- Não. A senhora, Malory e Michael viajarão separadamente do senhor

Hunter, que irá com Tommy. Vocês vão se reencontrar em algum ponto noexterior. Haverá um agente ali com novas identidades, que vocês assumirãoao chegar ao destino.

A mãe de Malory balançou a cabeça, em sinal de assentimento.O agente do FBI soltou um suspiro.- Bom, de minha parte, isso é tudo. Não tenho mais informações.- Eu... eu não estou acreditando - Malory murmurou. Olhou para cada um

dos rostos ali na sala. Todos tinham a fisionomia cansada, mas nada além

disso. A mulher de abrigo de ginástica parecia entediada, quase irritada. Atémesmo a fisionomia da mãe não traía emoção alguma, era uma máscaravazia. O que estava acontecendo com eles? Teriam todos se transformadoem zumbis?

- E se eu me recusar? - A pergunta saíra quase que de modo involuntário.O pai olhou para ela atentamente.- Mal, do que está falando?- E se eu me recusar? - repetiu.

 Jeffrey sacudiu a cabeça.- Bom, Malory, eu desconfio que essa seja uma decisão que cabe só a

você. Mas vou ser bem sincero. Todos os que largaram o programa

morreram. Sem exceção. Não acredito que tenha muitas chances desobreviver. - O tom foi seco, bem pé no chão, como se estivesse falando daschances de um time de futebol.

- E viver desse jeito para quê? - Malory gritou revoltada, dando um saltoda cadeira e indo para o quarto, onde bateu a porta com força.

- Malory, por favor - o pai ainda tentou dizer.Enterrando a cabeça no travesseiro, ela começou a soluçar

descontroladamente. Era tão injusto. Pela primeira vez na vida, pensara quetalvez tivesse encontrado alguma coisa que valia a pena guardar...

Ouviu baterem na porta.- Vá embora! - gritou.A porta se abriu assim mesmo. Malory cobriu a cabeça com o travesseiro.

- Olha, Malory, eu sei que isso é muito duro para você. - A voz de Jeffreyflutuava acima dela, como se o homem não tivesse um corpo. - Mas deixe-

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me esclarecer-lhe uma coisa. Você corre grande perigo. Sabemos que foiabordada por alguém na escola. Aquele homem tinha a missão de matá-la,Malory... mas felizmente nós o pegamos antes. Depois que ele a identificouno pátio da escola, saiu para ligar para o chefe dele. Nós o pegamos nacabine telefônica. Se nós não estivéssemos lá, você e eu não estaríamosconversando agora.

- Por favor, saia do meu quarto, é só o que eu lhe peço. - Malory chorava.- Por favor.

- Certo. Mas lembre-se... você tem de fazer sua mala. Eu sei que ainda écedo, mas tente dormir um pouco. Vocês devem partir antes do nascer dosol.

- Saia! - Malory estava brava.Ouviu quando a porta do quarto se fechou.Sem hesitar, sentou-se na cama. Enxugou as lágrimas e abanou a

cabeça. Pronto, já chorara o bastante. Em hipótese alguma deixaria acidade sem ver Ben uma última vez. Com ou sem atiradores de tocaia.Rapidamente, enfiou o travesseiro e algumas outras roupas debaixo das

cobertas, de modo que o volume se parecesse vagamente com uma pessoadormindo. Depois abriu a janela pegada à cama.O sol já quase sumira no horizonte e a escuridão vinha baixando. Com o

maior cuidado e tão silenciosa quanto possível, subiu no parapeito eescorregou até a saída de incêndio. Depois desceu sem fazer ruído osdegraus da escada externa que desembocava num gramado, em frente aoprédio. Teve de dar um pulo, porque a escada não chegava até o chão, elevou alguns instantes para recuperar o equilíbrio. Em seguida correu até otelefone público, no fim da rua.

Por favor, esteja em casa, implorava desesperada, enquanto enfiava amoeda na fenda e discava o número de Ben. Depois de dois toques, umestalo.

- Alô - disse Ben.O alívio foi imenso.- Ben, sou eu - sussurrou. - Preciso vê-lo. Pode me encontrar?- Onde você está? – A voz de Ben soou imediatamente preocupada,

urgente.- Estou na esquina, no fim da minha rua.- Eu vou buscá-la. Espere bem aí...- Ben, não! Aqui não!- Maddy, o que houve? Você está bem? - perguntou Ben, a voz cheia de

inquietação.- Estou, estou, mas não posso encontrá-lo aqui. Vamos marcar no...

- Eu pego você atrás do posto de gasolina.- Certo. Até mais.

Foi uma péssima idéia, pensou Malory, inquieta, sob o clarão fluorescentedas luzes atrás do posto. Sentia-se como se num palco, sob a luz dosrefletores. Toda vez que um carro passava por ela, adiantava-se algunspassos, agitada. Mas vinte minutos depois e ainda nem sinal de Ben.Anoitecera completamente.

Malory torcia para que os pais não tivessem resolvido dar uma espiada noquarto dela. Sabia que não demoraria muito até darem por sua falta. Equando isso acontecesse... bom, não queria nem pensar nisso agora.

Dois faróis fortes avançaram devagar pela rua. Malory tentou enxergar

melhor. Eram baixos demais, e separados demais, para serem do jipe deBen. Gotas de suor porejavam de sua testa. Os faróis foram diminuindo de

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marcha, diminuindo, até que passaram por ela bem devagarinho. Era umautomóvel preto, com janelas de vidro fumê. Olhou as placas. Nova York.

Estou morta, disse consigo mesma.De repente, um outro par de faróis atraiu seu olhar, um par que

reconheceu na hora.- Ben! - gritou ela. O mais rápido que pôde, correu até o final da rua, meio

que esperando as balas certeiras que viriam. Bem abriu a porta e ela saltoupara dentro do carro.

- Maddy, o que...- Anda! Anda! - berrou, fechando a porta. Depois abaixou-se no banco.- Maddy, o que está acontecendo? - ele perguntou, continuando a dirigir.- Está vendo aquele carro ali?Ben acenou a cabeça, nervoso.- Despiste-o - ela comandou.Durante os minutos seguintes, Ben dirigiu em silêncio, com Malory

agachada entre o banco e o painel. Ela tremia violentamente. Como é queeles sabiam que ela estava ali, no posto de gasolina? Será que a viram

escapulir de casa?- Tudo bem, Maddy, não estou vendo mais o carro – Bem falou por fim.Deu uma olhada pelo retrovisor e acelerou. – Pode sentar, agora.

- Tem certeza?Ele fez que sim.Com um grunhido, Malory endireitou-se no banco e respirou fundo.

Estavam numa estrada agora - na mesma estrada que levava ao cânion.Não havia nem sinal do carro preto.

- Obrigada, Ben - disse ela, depois de um tempo.- Maddy... você está com problemas com a polícia? – Bem perguntou de

repente.Ela abanou a cabeça.

- É muito, muito pior que isso.Ben não disse nada.- Olha... eu vou lhe contar tudo - sussurrou ela. – Assim que a gente

chegar a algum deserto, algum lugar calmo...- O cânion? - sugeriu ele.- Perfeito.

Quinze

Malory e Ben sentaram-se na beirada do barranco, de frente para o mar. Tinham tido uma certa dificuldade em achar o caminho no escuro, mas

agora estavam acomodados sob a grande imensidão do céu e da lua. Umaspoucas luzes piscavam na montanha e Malory pensou em todas aquelaspessoas que se sentiam seguras e felizes em casa.

Ben sentou-se de pernas cruzadas em frente a ela, olhando-a bem nosolhos, segurando suas mãos. Ela sabia que teria de lhe contar tudo, agora.

- Eu não queria lhe contar essa história e adiei o quanto pude. Nãoporque eu ache que você vai parar de gostar de mim ou algo parecido, massim porque, quando eu lhe contar essa história, estarei pondo sua vida emperigo. Mas eu acho... que agora preciso contá-la.

Ben fez apenas um gesto de cabeça, o olhar sempre atento.- Eu não me importo com os riscos, Maddy. Eu preciso saber a verdade.Ela respirou fundo.

- Meu nome não é Maddy Mailer.Ben piscou forte.

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- É Malory Hunter.- O que está me...- Fui obrigada a mudá-lo. Minha família faz parte do programa de

proteção a testemunhas.Ben respirou mais forte.- Puxa, cara...- Muito tempo atrás, há onze anos, para ser exata, meu pai era contador -

Malory começou a explicar, suavemente. – Ele trabalhava para uma grandefirma de contabilidade. Tipo a maior de Nova York. Bom, de qualquer modo,um dos clientes dele era o chefe da família Carlotti. Alguma vez ouviu falardeles?

O queixo de Ben caíra.- Você quer dizer... a Máfia?- Exato.- E... seu pai trabalhava para eles?- Mais ou menos - Malory admitiu. - Mas ele nem sabia. Ele é contador...

só um contador de tostões, como ele diz. Meu pai não tinha a menor idéia

de que estava trabalhando para a Máfia. Mas aí começou a notar que osnúmeros não batiam. E começou a fazer perguntas. Ele e um colega.Ben abanou a cabeça, com uma expressão horrorizada e confusa no

rosto.- Aí então o chefe deles disse que não se preocupassem com o assunto.

Meu pai concordou... porque queria manter o emprego. Sabia que tinhaalguma coisa errada, mas queria nos proteger. Só que o outro cara não quissaber. Continuou fazendo perguntas.

- A voz de Malory não era mais que um sussurro. – Continuou fazendoperguntas e mais perguntas... até que o balearam bem em frente de casa.

Ben apertou a mão de Malory nas suas.- E o que aconteceu com seu pai?

- Bom, aí ele não agüentou mais e foi à polícia. A polícia o mandou para oFBI.

- E agora o FBI é que protege vocês?Malory riu com amargura.- Essa é a teoria. Mas não funciona bem assim.- Como não?- Os Carlotti sempre dão um jeito de nos encontrar. Desde o começo. Nós

quase morremos queimados em Nova York. Eu tinha cinco anos de idade,Mike e Tommy ainda eram bebês. Quando a família Carlotti descobriu quemeu pai testemunhara contra, não perderam um segundo e vieram paracima de nós... antes mesmo de o FBI completar os detalhes da nossa nova

identidade. - Malory sacudiu a cabeça, desgostosa com a lembrança.- Eles puseram fogo na casa toda com uma única bomba incendiária.Deixaram a bomba no porão, na esperança de queimara família inteira.

Ben puxou Malory para si, abraçando-a bem apertado. Ela nunca estiveraassim tão juntinho de ninguém.

- Eu sinto muito - sussurrou ele. - Muito mesmo...Malory fechou os olhos, tentando saborear a sensação dos braços de Ben,

ainda que fosse passageira.- Pelos últimos onze anos estivemos mudando de um lado para outro,

correndo o país inteiro. Mas não adianta nada, Ben. Nós moramos emWyoming, Nebraska, Minnesota... não faz a menor diferença. Eles semprenos acham. - Uma lágrima escorregou pelo rosto de Malory e caiu sobre a

camisa de Ben.- Agora está tudo bem. Tudo bem.

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8/2/2019 Coleção Primeiro Amor 17 - O Segredo de Malory - Diane Namm-www.LivrosGratis

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- Não está nada bem - Malory respondeu brava, enquanto Ben afagavaseus cabelos. - O programa de proteção a testemunhas é meio que umacontradição em si mesmo. Sobretudo quando envolve bandidos com ummonte de dinheiro.

Ben suspirou.- Você é muito corajosa, Mad... quer dizer, Malory. – Deu mais um suspiro

suave. - Sabe, eu nunca acreditei de fato que seu nome fosse Maddy. Vocêsempre fazia uma cara meio engraçada, quando dizia esse nome.

Malory fez um esforço para se afastar dele.- Ben... isso não é tudo.Ele estremeceu.- Não?Ela abanou a cabeça.- Eu vou embora amanhã de manhã.- O quê?Malory desviou o olhar. Não podia suportar a expressão nos olhos de Ben.- E para onde você vai? - perguntou ele, depois de instantes.

- Não sei. Tudo que eu sei é que vamos deixar o país.Ben virou-se para olhar o mar. Cobriu o rosto com as mãos depoispassou-as pelo cabelo castanho.

- Não acredito no que estou ouvindo - falou, aparentemente para simesmo. - Nunca mais vou ver você. Você surgiu do nada e depois... puf...desapareceu. É como se... você fosse um sonho que eu tive.

Estendendo a mão para ele, Malory acariciou-lhe o rosto de leve.- Não, Ben. Não foi um sonho. Eu sou real. E o que sinto por você também

é real. - Ele pegou sua mão e beijou-a ternamente. As lágrimas escorriamlivremente pelo rosto de Malory. - Eu te amo, Ben - ela disse por fim, com avoz embargada.

- Mas espere um pouco, Malory... você não precisa ir com eles. - Ben

estava desesperado. - Você podia ficar aqui, podia ficar conosco, lá emcasa. Podia terminar o colégio. Podia entrar para a faculdade... podia ir parao conservatório Juilliard estudar música. Podia ter uma vida normal. Quemsabe é justamente isso que seus pais querem para você... - A voz de Ben foisumindo.

Mas Malory abanava a cabeça. Mesmo que os pais quisessem isso paraela, sabia que jamais poderia abandoná-los. E ficar morando com os Lernernão passava de um sonho impossível, uma última e inútil tentativa de Bende evitar o inevitável.

- Não. Eu não posso largar minha família. Simplesmente não posso.- E eu poderei entrar em contato com você?

Malory abanou a cabeça outra vez.- Não. Talvez eu possa ligar para você... mas só daqui a muito tempo.O queixo de Ben tremia. Seus olhos estavam úmidos.- Quer dizer então que é assim, acabou - sussurrou.- Não - disse Malory, firme. - Não acabou. Por que um dia, não sei

quando... tudo isso vai acabar. Eu terei uma vida normal. E vou voltar aqui etocar no piano da sua mãe, enquanto você fica escutando sentado no chão,desenhando belas paisagens e...

Ben tomou-a nos braços outra vez. Ela passou a mão por seus cabeloscastanhos, febril, beijando-lhe o pescoço. E, naquele momento, acreditavade fato que não estava tendo apenas um sonho bom, uma ilusão. Naquelemomento, acreditava de fato que um dia voltaria a Los Angeles para

retomar o que deixara em suspenso com Ben. Só que, dessa vez, semmentiras, sem medos.

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- Eu te amo, Malory.Malory sorriu. Ben Lerner me ama, disse consigo mesma, repetindo a

frase muitas e muitas vezes. E naquele único e esplendoroso minuto, sentiu-se a pessoa mais sortuda do mundo.

Era quase uma hora da manhã quando Ben estacionou na porta do prédiodos Hunter.

- Tem algum carro parado por aí? - Malory sussurrou do chão do jipe, sobo painel.

- Dois. Um Dodge Dart antigo e um outro...- Esse outro tem placas da Califómia?- Não dá para ver - disse Ben, franzindo a vista. - Está escuro demais. As

placas estão cobertas de lama, ou algo parecido...- Então é esse mesmo. Malory escorregou para o banco e deu uma

espiada para a janela do apartamento. As luzes continuavam acesas. Davapara ver algumas silhuetas andando de um lado a outro, por trás das

cortinas.Eles provavelmente estão preocupadíssimos, disse consigo mesma.Ben olhou para ela.- A que horas é o vôo?Ela sacudiu a cabeça.- Não sei. Provavelmente só vou saber no último segundo possível.Ben concordou com um gesto de cabeça. Antes que pudesse dizer mais

alguma coisa, Malory inclinou-se e beijou-o.- Não se, esqueça de mim, Ben.Os olhos do rapaz cintilavam sob a luz pálida e fraca das lâmpadas de

rua. - Como é que eu poderia esquecer de alguém como você, Malory?Ela engoliu em seco.

- Ben... se por algum motivo, alguém se aproximar... você sabe, eperguntar sobre mim ou qualquer coisa assim... – Malory tropeçou naspalavras, receosa do que ia dizer. - Diga apenas...

- Que eu nunca ouvi falar em Malory Hunter - Ben terminou a frase. -Prometo. Não precisa se preocupar comigo.

Malory deu-lhe um sorriso tristonho.- Eu sei que não. Você vai ser um artista famoso e viajar mundo afora,

fazendo tudo aquilo que sempre quis fazer na vida.Uma única lágrima escorreu pelo rosto de Ben.- Tudo menos uma.Ela o beijou uma vez mais, saltou do jipe, fechou a porta atrás de si e,

 junto com ela, fechou também aquele episódio maravilhoso de sua vida.Nunca mais haveria de rever Ben.

Epílogo

- Última chamada para o vôo 484 sem escalas da British Airways comdestino a Londres, embarque pelo portão dezoito - anunciou uma vozcristalina de sotaque britânico no sistema do aeroporto. - Última chamadapara o vôo 484 da British Airways com destino a Londres.

Naquele momento, uma mulher e seu filho pequeno eram parte de umpequeno grupo de pessoas que estavam sendo conduzidas para o vôo 484por vários homens de terno escuro. Dois desses homens embarcaram

também. Não havia a menor possibilidade de alguém saber que aquele

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grupo pegaria o vôo 484 porque até o último instante todos ficaramesperando diante de um outro portão, do outro lado do terminal.

Foram os últimos passageiros a entrar no avião.Eles trocariam de aeronave em Londres e, de novo, num outro lugar,

ainda não se sabia qual, até chegar ao destino final. Viena.Kathryn Hunter e Tommy iam na classe executiva.Do lado oposto, sozinha numa poltrona de janela, estava Malory. Sabia

que iria amar a cidade. Sabia que jamais se cansaria de percorrer asmesmas ruas onde Mozart passeara, de ver as mesmas coisas que ele vira...a arquitetura antiga, a história... seria um novo começo num lugar perfeito.

Finalmente estariam seguros. E isso era tudo que importava.E, quem sabe, talvez Ben realizasse mesmo aquele seu desejo de ir para

Viena, pintar. Uma vez ele mencionara isso, ainda que casualmente, masquem sabe um dia acabasse indo e eles se encontrassem de novo.

Era uma esperança, não era?

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