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Coleção Os Impressionistas Vincent Van Gogh “Não preciso sair da rotina para exprimir tristeza e o extremo da solidão.

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Coleção Os Impressionistas

Vincent Van Gogh

“Não preciso sair da rotina para exprimir tristeza

e o extremo da solidão.”

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xprimir o amor de dois amantes no casamento de duas cores complementares, sua fusão e oposição, as misteriosas vibrações de tons da

mesma ordem. Exprimir o pensamento de uma fronte no esplendor de um tom de luz contra o fundo escuro. Exprimir esperança num punhado de estrelas..."

Este era Vincent van Gogh aos 35 anos, descrevendo de Provença a seu irmão Theo, em carta de 1888, o que ele estava tentando representar em seus quadros. Nessa época, a pintura se tornara a paixão consumidora que deu sentido a sua vida. Mas não havia sido sempre assim. Antes de voltar-se para a pintura, esse holandês difícil e idealista, o mais velho entre cinco filhos de um pastor protestante, tinha conhecido outras paixões.

Nascido em 30 de março de 1853 em Zundert, na aldeia holandesa de Brabant, Vincent foi um menino sonhador e tímido. Sensível e ligado à família, amava passear pelos campos planos da paisagem holandesa, geralmente so-zinho, ou às vezes na companhia de Theo, seu irmão qua-tro anos mais jovem. Esse relacionamento tão próximo du-raria enquanto vivessem.

Vincent abandonou cedo a vida escolar. A família era grande e, como o filho mais velho, ele tinha de ganhar seu sustento. Um tio em Paris ofereceu-lhe emprego em Haia. A tarefa era modesta, embrulhar e despachar livros, mas numa reputada galeria de arte, filial da Galeria Goupil de Paris. Aos dezesseis anos, enquanto embrulhava e desem-brulhava livros, Vincent ouvia conversas sobre literatura e arte, via quadros, observava gravuras e alimentava a curio-sidade que a leitura e as visitas a museus iam despertando nele. Aliás, sua família não era desinteressada pela cultu-ra. A mãe, Anne Cornélie Barbentus, filha de um encader-nador, também adorava ler e mostrava certo talento para desenhar. Em gerações anteriores a família tivera palhei-ros e pelo menos um escultor.

Em 1873, Vincent foi transferido para a filial londrina da Goupil, mudança que ele aceitou como oportunidade de explorar novo ambiente. Ler Dickens lhe tinha dado certas idéias sobre Londres, mas logo ele encontrou nas ruas um tipo de gente que nunca vira nem imaginara.

Já não era um adolescente. Apaixonou-se irremediavel-mente pela filha de sua senhoria, Eugenie. Mas ela, com-

0 Semeador, 1890. “E

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prometida em segredo com outro homem, riu e rejeitou Vin-cent quando este lhe declarou seus sentimentos. Magoado, ele decidiu sublimar o sofrimento na religião e passar o resto da vida ajudando os outros.

Pouco depois foi transferido para Paris. Em 1875, em-pregado na matriz da famosa Galeria Goupil, Vincent deve-ria sentir-se orgulhoso e feliz. Paris o ajudava a desenvolver seu interesse pela arte, mas não a resolver sua crise existencial e sentimental. Embora visitasse exposições e mu-seus, na maior parte do tempo livre fechava-se no quarto com um amigo para estudar a Bíblia. Tanto negligenciou seu trabalho que acabou demitido. Ninguém podia persuadi-lo a desistir de seu interesse pela religião, nem mesmo Theo, que o vinha animando a dedicar-se à pintura, pois achava que essa, e não a salvação de almas, era a verdadeira voca-ção de Vincent.

Embora separados por longa distância, Theo mantinha afetuoso contato com Vincent. Trocavam cartas com regu-laridade e passavam juntos o Natal na casa da família. Nas cartas mandadas ao irmão, Vincent desenhava às vezes pe-quenos esboços para descrever lugares e pessoas. Ainda não estudara desenho formalmente, mas o estilo tão pessoal dos esboços representava com perfeição as coisas que o cerca-vam e o modo como ele as via.

Ainda convencido quanto ao objetivo religioso de sua vida, retornou a Londres. Apesar de seu deficiente conhe-cimento de línguas, conseguiu empregar-se como professor de francês e alemão num bairro pobre da metrópole. O que mais lhe interessava era o contato com pessoas. In-cumbido de cobrar as taxas da escola, ele tinha de visitar famílias de estudantes, o que o levou a conhecer as condi-ções miseráveis da zona leste de Londres, onde viviam ope-rários. A impressão sofrida fortaleceu nele o desejo de tra-balhar com os pobres e humildes. Tornou-se assistente de um pastor metodista e começou a pregar. Em seus sermões, dizia que o homem é um estrangeiro no mundo e sua vida uma viagem fustigada por tempestades. Suas palavras soa-vam sinceras, mas na realidade o estrangeiro em terra es-tranha era ele, Vincent, fustigado por sua crise espiri-tual.Em vez de confortar os ouvintes, suas palavras mui-tas vezes os perturbavam.

Voltou à Holanda em 1878, para passar o Natal com os pais em Etten, perto de Zundert. Como resultado dessa viagem, a família decidiu ajudá-lo a estudar teologia em Amsterdam, depois do que poderia seguir a carreira do pai e do avô. Mas em Amsterdam, novo revés: foi reprovado nos exames de admissão. Em vez de desistir, porém, fez um curso de pastor leigo em Laeken, perto de Bruxelas. Três meses depois, em novembro de 1878, mudou-se para Borinage, distrito belga de mineração de carvão, onde pas-sou a conviver com os mineiros. Multiplicaram-se nesse pe-ríodo os desenhos com que retratava, em suas cartas, a vida daquela gente. Seu pai, preocupado com as condições em que o filho vivia — dormindo num tablado no chão, tratando de doentes incuráveis, privado de todo conforto —, foi buscá-lo de volta.

Mais uma vez na casa da família, Vincent começou a desenhar seriamente. Lápis e papel na mão, liberava nos desenhos seu contido sentimento pelos miseráveis. A pin-tura tornou-se sua "religião". Nesse período viajou a Cour-rières, distrito mineiro do norte da França. Pretendia visitar o pintor Jules Breton, que expressava preocupações sociais em suas telas. Mas Vincent nunca chegou a conhecê-lo: quando viu o elegante estúdio em que Breton trabalhava, retornou desiludido.

Apesar disso, levou de volta à Bélgica fortes lembran-ças do límpido céu da França. Passou a estudar desenho sistematicamente em Bruxelas. Theo, que a distância pres-tava ajuda financeira, aconselhou-o a ter aulas com um jo-vem estudante da Academia, Anthon von Rappard. Acolhi-do como amigo, Vincent passava horas felizes no estúdio de Von Rappard, onde aprendeu perspectiva. Desenhava infindavelmente, aprendendo também a representar a ana-tomia humana.

Estava muito mais calmo quando, em abril de 1881, foi visitar Theo e seus pais em Etten. Recebeu calorosas boas-vindas e foi redescobrir os campos que na infância não sou-bera desenhar. Agora, fazendas, lavouras, florestas, moinhos, carroças, implementos agrícolas, o sapateiro, o ferreiro, nada mais tinha segredos para ele. Podia fazer no papel o registro sensível e metódico do que via.

Quando visitou em Haia um primo também artista, Mau-ve, Vincent ouviu dele o conselho de desenhar diretamente temas da natureza. Assim, trabalhando com pincel, pena, craiom, nanquim e aquarela, desenhou seus^pais, sua irmã Wilhelmine e camponeses em seus afazeres. É somente nas aquarelas que essas figuras realistas, de contornos duros e bruscos, se abrandam um pouco.

Durante esse fértil período, voltou a apaixonar-se, dessa vez por uma jovem prima, Kee Vos, viúva a quem conhea cera por meio dos pais dele. Ela preferia manter-se fiel à memória do finado marido e, para evitar o assédio de Vin-cent, foi hospedar-se com os pais em Amsterdam. Vincent viajou atrás dela, pediu que o deixassem vê-la e expôs seu sentimento a uma literal prova de fogo: para mostrar como seu amor era resoluto, manteve a mão sobre a chama de uma lamparina. Mas nada conseguiu.

Foi morar então nos arredores de Haia, onde começou a pintar cenas de rua e jardins, com muitos detalhes, ten-tando capturar a atmosfera do lugar na tradição dos velhos mestres holandeses. Em janeiro de 1882 conheceu Christi-ne Sien, prostituta que tinha um bebê e estava grávida de outro. Vincent acolheu-a como companheira e modelo. No mais famoso retrato que pintou dela, Tristeza, o rosto não aparece, mas o corpo nu, que ele desenhou sem nenhuma intenção de romancear, revela o drama de uma vida. Ape-sar dos esforços de Vincent, a ligação não durou. Depois do parto ela voltou a beber e ele não teve mais como ajudá-la. Quando Vincent decidiu mudar-se para o campo, Chris-tine não o acompanhou.

A região interiorana de Drenthe, para onde se transfe-riu, seduziu-o tão completamente que ele escreveu: "Se não puder ficar neste lugar para sempre, preferiria nunca tê-lo viste". Mas se a natureza era generosa e inspiradora, o povo era inóspito e desconfiado. Sem dinheiro nem amizades, Vincent voltou para casa.

Em dezembro de 1883 estava vivendo em Neunen, on-de o pai tinha nova paróquia. As relações com a família agora eram mais difíceis. Sentindo-se incompreendido, Vin-cent mais uma vez decidira deixar a casa paterna e foi vi-ver em dois quartos alugados nas proximidades. Um deles tornou-se seu primeiro estúdio, pois no tempo em que vi-via com os pais era obrigado a pintar na lavanderia. Foi nesse estúdio que, em 1885, ele pintou uma de suas mais famosas obras, Os Comedores de Batatas.

Não foi uma criação casual. Durante muito tempo Van Gogh vinha estudando o corpo humano e refletindo sobre as cores de sua paleta. Os impressionistas, com suas pince-ladas brilhantes e livres, estavam então na moda, mas Vin-cent buscava seu próprio estilo, um que melhor exprimisse

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o que sentia. Numa aldeia próxima, um velho ourives lhe pedira para decorar sua sala de jantar. Vincent propôs uma série de seis cenas rurais, pintadas em cores que harmoni-zariam com os tons de madeira do ambiente. Marrons fuli-ginosos (levemente arroxeados) ou betuminosos apareciam em sua paleta, misturados com brancos e tons fragmenta-dos que davam luminosa qualidade aos valores mais escu-ros. Ele captou figuras em poses características, como em Camponesa Varrendo, e fez intermináveis estudos de mãos e rostos, desenhando um grupo de cinqüenta cabeças com força notável. Nas naturezas-mortas, como em Natureza-Morta com Cinco Garrafas e Tigela, inspirava-se em gar-rafas de formas simples, jarros e tigelas de uso comum, ao invés de objetos finos. Assim, ao pintar Os Comedores de Batatas, já tinha encontrado seu estilo próprio.

Um ano mais tarde mudou-se outra vez, agora para a França. O motivo talvez tenha sido a morte do pai, ou então o desejo de estar perto do irmão, que se mudara para Paris. De qualquer modo, dessa vez deixou a Holanda para sempre.

Antes de seguir para Paris, porém, Vincent ficou em Antuérpia alguns meses. Pinturas de Rubens espalhavam-se pelas igrejas e pelo museu da cidade. Ele visitava e revi-sitava esses lugares para ver tais obras, que o afetaram pro-fundamente. Foi ali que pintou seu primeiro auto-retrato.

Van Gogh passou em Paris os dois anos seguintes, de 1886 a 1888. Foram anos frutíferos. Exposto à pintura im-pressionista, ele desenvolveu seu modo próprio de usar as cores fortes de que tanto gostava. Tornou-se amigo de Deu-ral, Signac, Anquetin, Bernard e outros jovens pintores, for-mou laços com Tbulouse-Lautrec, admirou Pissarro, foi ca-tivado por Gauguin.

"O ar francês limpa o cérebro e faz bem — um mundo de bem'', escreveu ele. Morava com seu irmão, que geren-ciava uma galeria em Mon,tmartre. Continuava a estudar de-senho, copiava moldes de gesso e trabalhava com modelos vivos no ateliê do pintor Cormon. Começou a pintar flores. "Tenho pintado... papoulas vermelhas, centáureas azuis, lírios-do-vale, rosas vermelhas e brancas, crisântemos ama-relos", escreveu ele numa carta, "buscando contrastes de azul com laranja, vermelho com verde, amarelo com viole-ta..." O resultado desses experimentos aparece em Flores Silvestres num Vaso. Mas a vida não era só de rosas, mes-mo nesses dias felizes. Com momentos alternados de eufo-ria e grandes explosões de ira, Vincent era um tempera-mento apaixonado e obstinado. Até mesmo Theo, de vez em quando, achava difícil o convívio. "É comç se ele fosse duas pessoas", confidenciou Theo à irmã. "É triste; real-mente, ele próprio é seu maior inimigo."

Nessa época os dois irmãos tinham mudado do pequeno apartamento na Rue de Lavai (hoje Ruè Victor-Mercier) para uma casa grande perto de Montmartre. As janelas da-vam para os telheiros de Paris. Agora, além de flores de cores vividas, Vincent começara a pintar cenas de jardins e também moinhos que o faziam lembrar-se da infância (só do Moulin de Ia Galette ele fez três quadros). Pintava ainda cenas de rua e das redondezas de Paris, entre estas Canto do Parque Voyer-d'Argenson em Asnières e Balneá-rio à Margem do Sena em Asnières, temas que requeriam paleta mais branda.

Tinha animadas discussões com outros artistas em ca-fés e cabarés. Essas experiências inspiraram quadros co-mo Interior de um Restaurante e Mulher Sentada no Café du Tambourin, os quais refletiam sua amizade com Toulouse-Lautrec. Outro importante quadro desse período

foi um Retrato do Pai Tanguy. Pai Tanguy era um nego-ciante de implementos de arte e amigo de muitos pintores em dificuldades. Em troca de tintas e materiais, Tanguy muitas vezes aceitava quadros de fregueses seus que, na época, não podiam achar outro comprador para suas obras. Essas mesmas pinturas viriam a ser expostas um dia nos maiores museus do mundo. O segundo auto-retrato veio logo depois do Retrato do Pai Tanguy. As duas obras re-fletem o desejo de Van Gogh expressar em seus retratos, acima de tudo, personalidade.

Os dois anos que passou em Paris contribuíram gran-demente para o desenvolvimento do estilo, mas não lhe trou-xeram sucesso financeiro. Depois, a visita que fez a seu ami-go Émile Bernard, em Asnières, deu-lhe o gosto da paisa-gem campestre da França. Assim, deixando o irmão em Pa-ris, viajou para Provença em fevereiro de 1888, onde viria a pintar vários quadros influenciados, em certa medida, pe-las recém-descobertas gravuras japonesas, que faziam furor em Paris.

Fixou-se em Aries, pequena aldeia de céu límpido onde sonhava radicar-se. A luz cristalina de Aries difunde-se no quadro Lê Pont Langlois. A ensolarada zona rural do Midi é cenário de muitos outros quadros seus, inclusive A Planí-cie em La Grau. Numa única sessão, enquanto o mistral so-prava, Van Gogh pintou Noite de Verão. Reinterpretou uma pintura de seu amigo parisiense Émile Bernard, Mulheres Bretãs num Prado. E, inspirado por outro quadro de um grande mestre que admirava, pintou sua própria versão, O Semeador. Ia longe, até Saintes-Maries-de-la-Mer, lugar on-de pintou casas rurais (Casas Rurais em Saintes-Maries) e barcos (Barcos na Praia de Saintes-Maries).

As noites provençais, tanto em interiores quanto ao ar livre, tinham significados e cores especiais para Van Gogh. Quem o visse com velas acesas fixadas em seu estranho chapéu, sentado à frente de seu cavalete junto ao Ródano para pintar Noite Estrelada, abanaria a cabeça e se per-guntaria se valia a pena. Hoje, quando olhamos as ines-quecíveis paisagens noturnas que só Van Gogh sabia pin-tar, naturalmente responderíamos que sim, sem dúvida va-leu a pena.

As cores que ele então usava eram violentas e ousadas ("com certeza o tempo não as abrandará", escreveu ele ao irmão). Em Lê Café de Nuit predomina o amarelo, que pre-valece também em outras composições suas, inclusive Na-tureza-Morta com Cebolas e Prancha de Desenho. Ele usou cores fortes também em O Quarto de Van Gogh em Aries. A respeito disso, numa carta a seu amigo Gauguin, ele es-creveu: "Divertiu-me muito fazer esta pequena cena inte-rior, de tão pouca importância em si: com tons discretos, mas pincelados com largueza e pincel cheio: as paredes, lilás pálido; o assoalho, um vermelho diluído e esmaecido; as cadeiras e mesas em amarelo-cromo; o travesseiro e os lençóis em pálido verde-limão; a colcha em vermelho-sangue; o criado-mudo, laranja; a bacia, azul; e a janela, verde. O que desejo exprimir é um sentimento de repouso absoluto mediante todas essas cores diferentes, sem nenhum branco, exceto pequena nota no espelho emoldurado de preto' '. Nesse mesmo período pintou ainda Cadeira e Cachimbo de Van Gogh.

Vincent também continuava a pintar retratos. "Desejo fazer figuras, figuras e mais figuras", escreveu ele a Theo. Vêm desse período Mulher Lendo Romance e La Mousmé (título que, embora geralmente não traduzido, significa ' 'a jovem japonesa''). Muitas vezes era difícil para Vincent con-seguir modelos, que custavam caro. Seu amigo Joseph Rou-

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lin, carteiro em Aries, veio em seu auxílio e posou (Retrato de Joseph Roulin), assim como outros membros da família Roulin: seu irmão Armand (Retrato de Armand Roulin) e a própria Madame Roulin, Augustine, que aparece em La Berceuse ("canção de ninar").

Depois disso, Van Gogh iniciou sua série de Girassóis. Quando começou a trabalhar com essas flores, ele passou a explorar obsessivamente o amarelo em todos os seus as-pectos. Nesse período, Gauguin veio juntar-se a ele. Por iro-nia, foi a chegada de seu amigo mais caro, e a quem consi-derava um mestre, que provocou sua primeira crise de ner-vos e ameaçou sua estabilidade mental. Os dois artistas vi-viam juntos. No intenso contato cotidiano, Van Gogh come-çou a perceber como eram diferentes os princípios c modos de cada um deles ver a pintura. Demonstra isto o estilo que Van Gogh usou para reinterpretar Lês Alyscamps, ins-pirado pelo amigo. Pouco tempo depois, quando Gauguin pintou um retrato dele, Van Gogh recusou-se a aceitá-lo. Não queria reconhecer-se no quadro em que Gauguin o re-presentava como um homem pintando girassóis com certo ar de loucura. Após violenta discussão, que prontamente levou Gauguin de volta a Paris, Van Gogh decepou uma ore-lha a navalha. Ele documentou o evento em seu célebre Auto-Retrato com Orelha Enfaixada.

No hospital Saint-Paul, aonde foi levado nesse episó-dio, ele foi atendido por um jovem, o dr. Rey, que se tor-nou um de seus maiores admiradores. Depois da conva-lescença, Vincent pintou um retrato do médico. No plano moral e psicológico, contudo, as feridas de seu colapso ner-voso não estavam cicatrizadas. Theo ia casar-se e Vincent via isso como uma forma de abandono. Assim, com apoio do dr. Rey, ele finalmente concordou em internar-se no hospital de Saint-Rémy-de-Provence. Com essa nota triste chegava ao fim sua estada em Aries. Durante um ano pas-sado lá, ele tinha produzido cerca de duzentos quadros e cem desenhos.

Seu novo auto-retrato sugere o que então se passava em seu íntimo. Em O Passeio dos Prisioneiros ele retrata os rostos de seus novos companheiros e é bem provável que se incluísse entre eles. Nos outros quadros desse pe-ríodo ele reprime sua dramática experiência, pois repre-senta vistas dos jardins do hospital como cantos tranqüi-los, pintados na placidez de um domingo.

As crises se repetiam. Quando sobrevinham, Vincent parava de pintar, mas ao sentir-se melhor logo voltava ao trabalho. Produziu 150 quadros e cem desenhos. Sua arte havia mudado. A cor já não era o aspecto mais importante: passava a predominar agora a forma, forma de um tipo va-riante e perturbador. Pintou ciprestes como se fossem fia-mas (Os Ciprestes, Campo de Trigo com Ciprestes, Cipres-tes com Duas Mulheres em Primeiro Plano, Estrada com Ciprestes e Estrela), céus turbulentos, oliveiras descortiça-das desnudando suas almas. Inventava essa natureza tu-multuosa de seu quarto, onde se mantinha confinado na maior parte do tempo. "Também ali ele pintou L'Arlésienne, tela inspirada por um desenho de Gauguin, a quem conti-nuava a admirar apesar da ruptura da amizade.

Numa fase de melhora, em maio de 1890, foi a Paris visitar Theo, que agora já era casado e pai de um filho. Vin-cent viu reconhecida sua condição de artista quando o men-cionaram numa crítica do Mercure de France. Reencontrou

com prazer velhos amigos, Pai Tanguy, Pissarro, Toulouse-Lautrec. Redescobriu telas que pintara tempos antes, em Paris e em Provença, e que Theo havia conservado; sentiu-se feliz com o progresso conseguido. Mas essa foi apenas uma breve visita de quatro dias, pois a vida de Paris o can-sava com sua estimulação excessiva.

Dessa vez viajou para Auvers-sur-Oise para resguar-dar a saúde e descansar. Conheceu ali o Dr. Gachet, que também era pintor e tinha a alma tão atribulada quanto a sua, mas que via na pintura a melhor terapia para Vin-cent. O rosto perturbado do médico se revelaria pouco de-pois em Retrato do Dr. Gachet. Flores do Castanheiro e Vaso com Cravos e Goivos são dois quadros de flores desse período. Os tons brilhantes de amarelo e outras cores tinham desaparecido. Em seu lugar havia agora cores um tanto quentes, porém mais brandas. Em Chalés Colmados em Cordeville vislumbramos os campos levemente ondu-lados de Auvers.

Theo foi visitá-lo uma vez, com a mulher e o filho. Vin-cent presenteou o sobrinho, que tinha o nome do tio, com um ninho de ave que achara quando criança e que conser-vara durante tantos anos como talismã. Revelou a Theo seu sonho de uma vida que ambos partilhariam, uma casa de campo onde viveriam juntos. Theo pareceu aprovar a idéia, mas infelizmente eram apenas sonhos. Theo passava por dificuldades financeiras e também tinha seus problemas de saúde. Quando começou a atrasar-se com o dinheiro que antes mandava regularmente a Vincent, este se sentiu mais uma vez abandonado. Foi nesse período que Van Gogh pin-tou Corvos no Campo de Trigo (ou Seara com Corvos).

Quando o irmão deixou de visitá-lo, Vincent decidiu ir a Paris. O encontro com Theo e a esposa, num domingo do começo de julho, terminou em exaltada discussão, na qual Theo revelou que estava pensando em voltar para a Holanda. As coisas pareciam ruir em torno de Vincent; apa-rentemente não havia para onde ir. Mesmo o Dr. Gachet estava fora, a negócios. Vincent acabou passando sozinho o dia 14, feriado da Queda da Bastilha. Em carta escrita a Theo em 23 de julho, ele se referiu à inutilidade de viver e, no dia 27, voltou aos trigais como fizera tantas vezes an-tes. Mas dessa vez não levou pincéis e cavalete, apenas uma pistola para atirar nos corvos. Num momento de profundo desespero, voltou a arma contra si mesmo. Ferido, conse-guiu arrastar-se até o Café Ravoux, onde vivia. Alguém trou-xe o Dr. Gachet, que, depois de examiná-lo, concluiu que a bala não podia ser extraída. Quando Theo chegou, na ma-nhã seguinte, encontrou o irmão cachimbando placidamente na cama. Os dois passaram o dia juntos, falando holandês e reencontrando a harmonia dos velhos tempos. Ao fim do dia, Theo recusou-se a partir e passou a noite ao lado do irmão, na mesma cama. Vincent morreu por volta de Ih30 da madrugada de 28 de julho, 1890.

Em carta ao irmão, pouco tempo antes, ele dissera: "Não preciso sair da rotina para exprimir tristeza e o ex-tremo da solidão". Mas noutra carta ele tinha escrito: "Sabe no que muitas vezes penso? No que já lhe disse algum tempo atrás... que mesmo que eu não tenha sucesso, ainda acredito que aquilo no que tenho trabalhado será levado adiante. Não diretamente, talvez, mas ninguém está sozi-nho na crença de que as coisas são verdadeiras".

Esperança e desespero — os pólos de sua vida.

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Terraço do Café na Place du Fórum, Aries, à Noite -1888. Rijksmuseum Krõller-Müller, Otterlo - Junto com as estrelas que brilham como refúgios distantes, a luz inquietante do café atrai com ameaçadora sedução. A pintura é direta e ime-diata, revelando um conceito simbólico que lhe dá significado. Esta obra, pintada em 1888, é uma d

as mais importantes produzidas por Van Gogh.

Cadeira e Cachimbo de Van Gogh - 1888. late Gallery, Londres - O período passado em Aries foi sem dúvida o mais importante no desenvolvimento artístico de Van Gogh. Foi em Aries que ele pintou a maioria de suas obras principais. Este quadro, produzido em dezembro de 1888, mostra como até mesmo os objetos mais simples podem ganhar s

ignificado pelo uso da cor.

Lê Café de Nuit -1888. Yale University Art Gallery, legado de Stephen Carlton Clark, New Haven - Em alusão ao tema, Van Gogh escreve-a: "Tenho tentado mostrar que o café é um lugar onde um homem pode arruinar-se, enlouquecer, cometer um crime. Tenho tentado expressar no vermelho e

no verde as terríveis paixões da humanidade".

O Quarto de Van Gogh em Aries - 1888. Rijks-museum Vincent van Gogh, Amsterdam - Como nas duas versões de Lê Café de Nuit, a harmonia íntima e luminosa deste quadro, produzido no mesmo período, sugere tranqüilidade e repouso mediante o uso de acentos e cores contrastantes.

La Mousmé -1888. National Gallery of Art, Coleção Chester Dale, Washington - Usando tons lu-minosos, Van Gogh pintou uma imagem delica-da e típica, interpretando a seu modo as gravu-ras japonesas então na moda. Com seu uso carac-terístico de zonas cromáticas, essas gravuras ti-veram profunda influência sobre ele.

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Mulher Lendo Romance - 1888. Coleção particular, Inglaterra - Pintada em novembro de 1888, esta tela mostra como Van Gogh tratava os temas mais comuns com a compreensão de seus valores inerentes, usando cores específicas para ir além d

a simples aparência das coisas.

Retrato de Armand Roulin -1888. Folkwang Mu-seum, Essen - Este retrato, pintado em novembro de 1888, quando Van Gogh estava em Aries, evi-dencia a capacidade de o artista escolher tons de serenidade poética para expressar profunda com-preensão humana pelas pessoas de sua estima. A família Roulin estava entre as poucas pessoas pe-

jfte l

as quais ele sentia forte amizade.

Natureza-Morta com Cebolas e Prancha de Desenho - 1889. Rijksmuseum Krõller-Müller, Otter-lo - A originalidade de Van Gogh está não apenas no uso expressivo que faz da cor — o qual se tornou um tipo de linguagem pessoal —, mas também de certas idéias que ele tinha a respeito de composição. Nesta obra de janeiro de 1889, o te-ma visto deste ângulo tem muito mais vida do que s

e visto de frente.

Vaso com Girassóis - 1889. Rijksmuseum Vin-cent van Gogh, Amsterdam - O artista decorou com sua série de Girassóis o interior da pequena casa amarela que alugara em Aries. Nesta tela, datada de janeiro de 1889, a exaltação da cor chega, a atingir intensidade quase alucinatória. Ele con-seguiu isso mediante o uso de um único tom do-m

inante, com variações apenas de luminosidade.

Retrato de Joseph Roulin - 1889. Rijksmuseum Krõller-Müller, Otterlo - Este trabalho foi pintado no auge dos experimentos de Van Gogh com a luminosidade. Sua dramática ruptura com Gauguinfoi um choque terrível, mas, como ele próprio escreveu mais tarde, sua capacidade de pintar "não foi sequer arranhada". Seus pode-res expressivos estão intactos neste retrato de seu amigo Roulin.

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La Berceuse (Retrato de Madame Augustine Roulin) - 1889. Coleção particular, EUA - Depois dos dias dramáticos vividos por volta do Natal de 1888 e de seu rompimento com Gauguin, apenas a família Roulin recebia as atenções e a amizade de Van Gogh. Em janeiro de 1889 ele produziu vá-rios retratos de Madame Augustine Roulin; o da f

igura revela mais uma vez seu domínio da cor.

Campo de Trigo com Ciprestes - 1889. National Gallery, Londres - A evolução artística e espiritual do pintor em Saint-Rémy deu-lhe consciência do jogo dos ritmos da natureza em seu redor. Neste quadro de 1888, as linhas ondulantes de cada elemento do ambiente campestre espelham o t

umulto da vida do próprio pintor.

Os Ciprestes - 1889. The Metropolitan Museum of Art, Fundo Rogers 1949, Nova York - Este quadro data do início da estada de Van Gogh no hospital de Saint-Rémy, por volta de junho de 1889. O artista exprime sua tensão emocional no uso da cor, bem como no ritmo convulso de suas pin-celadas, que parecem agitar os ciprestes e fazer t

remer o céu.

LArlésienne (Retrato de Madame Ginoux) -1890. Rijksmuseum Krõller-Müller, Otterlo - É in-teressante comparar os dois retratos de Madame Ginoux. O primeiro, pintado em Aries, em 1888, é caracterizado por explosão de cor intensa. No se-gundo, pintado em Saint-Rémy no início de 1890 e inspirado por um desenho de Gauguin, as co-res são mais contidas. O foco do quadro está na e

xpressão da face.

Auto-Retrato com Orelha Enfaixada - 1889. Courtauld Institute Galleries, Londres - Van Gogh pintou esta obra pouco depois do dramático epi-sódio que pôs fim à amizade com Gauguin. Mas neste quadro, assim como no famoso Auto-Retrato com Orelha Cortada e Cachimbo, ele se mostra es-tranhamente sereno, até mesmo quase indiferente.

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Estrada com Ciprestes e Estrela - 1890. Rijks-museum Krõller-Müller, Otterlo - Nesta paisagem noturna de maio de 1890, encontramos uma uni-dade de inspiração, até então não alcançada, com outras obras terminadas durante a estada de Van Gogh em Saint-Rémy. A importância dos detalhes é rebaixada para que sobressaiam os -ritmos ro-d

opiantes que envolvem o quadro.

Ciprestes com Duas Mulheres em Primeiro Plano - 1889. Rijksmuseum Krõller-Müller, Otterlo -Van Gogh celebrava seu intenso desejo de fundir-se com a natureza mediante uma explosão de cor. Neste quadro pintado em meio de difícil período emocional, as cores sombrias dos ciprestes lem-bram fiamos enormes que refletem sua própria t

urbulência interior.

Casas Rurais em Saintes-Maries - 1888. Coleção particular, EUA - Na brilhante atmosfera do sul da França, as cores de Van Gogh tornaram-se puras e intensas, e seus desenhos simplificaram^ se. Sob o céu de Provença, espelho natural de seus desejos espirituais imensos e profundos, ele pare-ceu criar uma fusão harmoniosa com a natureza e

o meio campestre.

Flores do Castanheiro - 1890. Stiftung Samm-lung E.G. Bührle, Zurique - Este foi um dos primeiros quadros que Van Gogh pintou em Auvers. Ainda estava fascinado pela natureza e seu domínio de composição continuava a amadurecer. Mas, conhecendo a importância que cada cor tinha para ele, podemos notar a profundidade de seus s

entimentos.

Chalés Colmados em Cordeville - 1890. Musée du Louvre, Paris - O final de sua estada emAuvers-sur-Oise, a partir de maio de 1890, foi muito agitado, como se pode ver neste quadro, no qual um redemoinho parece estar abalando tudo — reflexo do tormento do próprio artista.

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Retrato do Dr. Gachet - 1890. Musée d'0rsay, Paris - "Gostaria de pintar retratos", escreveu Van Gogh, ' 'que daqui a cem anos parecessem fantas-mas para quem os visse." A fadiga de Gachet so-bressai do fundo azul intenso deste retrato do ami-go de Van Gogh, pintado poucos meses antes da morte do artista

Auto-Retrato -1890. Musée cTOrsay, Paris - Neste auto-retrato produzido em Saint-Rémy durante o pior período de seu tratamento, Van Gogh ex-pressa a mudança pela qual passava, os tons ba-ços de sua solidão substituindo cores intensamente e

nsolaradas de seus quadros anteriores.

Vaso com Cravos e Goivos - 1890. Coleção par-ticular, EUA - Quando produziu o quadro que re-presentava seu quarto, Van Gogh escreveu a seu irmão Theo que cabia ao amarelo predominante sugerir repouso. Neste quadro o amarelo desapa-receu, substituído por tons frios.

Corvos no Campo de Trigo (ou Seara com Corvos) - 1890. Rijksmuseum Vincent van Gogh, Ams-terdam - Durante sua estada em Auvers, Van Gogh passou da pintura de paisagens para quadros que proclamavam rebeldia e descontrolada fúria. Este trabalho dramático, pintado uns vinte dias antes de sua morte, parece um grito de agonia.

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Camponesa Varrendo – 1885. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo

Natureza-Morta com Cinco Garrafas e Tigela – 1884-85. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo

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Os Comedores de Batatas (detalhe) – 1885. Rijksmuseum Vincent van Gogh, Amsterdam

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Le Moulin de la Galette – 1886-87. Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires

Le Moulin de la Galette – 1887. Museum of Art, Carnegie Institute, Pittsburg

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Retrato do Pai Tanguy – 1887. Coleção Stravos S. Niarchos, Atenas

Auto-Retrato – 1887. Rijksmuseum Vincent van Gogh, Amsterdam

Terraço do Café na Place du Fórum, Arles, à Noite – 1888. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo

Cadeira e Cachimbo de van Gogh – 1888. Tate Gallery, Londres

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Lê Café de Nuit – 1888. Yale University Art Gallery, Legado de Stephen Carlton Clark

O QuO Quarto de van Gogh em Arles – 1888. Rijksmuseum Vincent van Gogh, Amsterdam

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La Mousmé – 1888. National Gallery of Art, Coleção Chester Dale, Washington

Mulher Lendo Romance – 1888. Coleção particular, Inglaterra

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Retrato de Armand Roulin – 1888. Folkwang Museum, Essen

Natureza-Morta com Cebolas e Prancha de Desenho – 1889. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo

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Vaso com Girassóis – 1889. Rijksmuseum Vincent van Gogh, Amsterdam

Retrato de Joseph Roulin – 1889. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo

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La Berceuse (Retrato de Madame Augustine Roulin) – 1889. Coleção particular, EUA

Campo de Trigo com Ciprestes – 1889. National Gallery, Londres

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Os Ciprestes – 1889. The Metropolitan Museum of Art, Fundo Rogers 1949, Nova York

L’Arlésienne (Retrato de Madame Ginoux) – 18890. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo

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Auto-Retrato com Orelha Enfaixada – 1889. Courtauld Institute Galleries, Londres

Estrada com Ciprestes e Estrela – 1890. Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo

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Chalés Colmados em Cordeville – 1890. Musée du Louvre, Paris

Retrato do Dr. Gachet – 1890. Musée d’Orsay, Paris

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Auto Retrato – 1890. Musée d’Orsay, Paris