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9 771981 887003 2 5 1 0 0 ISSN 1981-8874 33 Atualidades Ornitológicas On-line Nº 152 - Novembro/Dezembro 2009 - www.ao.com.br Mario Arthur Favretto* & Emili Bortolon dos Santos* Coleções zoológicas são importantes fontes de informações pa- ra todos os que trabalham com seres vivos. Proporcionam a pro- gressão de conhecimentos que podem ser aplicados a partir de di- ferenciadas formas na sociedade, tanto para a atuação governa- mental quanto para a gestão ambiental (Zaher & Young 2003). Com a expansão territorial da sociedade, são nas coleções cien- tíficas que permanecem eternizados os registros físicos de muitas espécies já extintas (Zaher & Young 2003). As coleções zoológi- cas possibilitam inúmeros estudos no âmbito da taxonomia, siste- mática, biogeografia e áreas afins; também são importantes fon- tes de material genético utilizado para estudos filogenéticos e po- pulacionais (Roselaar 2003, Aleixo & Straube 2007). O Laboratório de Zoologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina, campus de Joaçaba, iniciou suas atividades no ano de 2005 e desde esse período, tem recebido coletas zoológicas por parte de seus acadêmicos. No caso dos vertebrados, as contribui- ções referem-se principalmente de animais que vieram ao óbito devido a atropelamentos e colisões com vidraças. O laboratório também recebe coletas ofertadas pela Polícia Ambiental, de ani- mais que estavam em cativeiro e não sobreviveram aos procedi- mentos de recuperação. Por se tratar de uma coleção relativamente nova e possuir peles encontradas apenas de forma casual, o laboratório não apresenta um grande número de espécies, sendo que a coleção ao todo é composta por 27 espécies (Tabela 2). As espécies foram identificadas de acordo com as seguintes re- ferências: Sick (1997), Sigrist (2005), Narosky & Yzurieta (2006). A nomenclatura científica e a ordem sistemática na Tabela 2 seguem as Listas das Aves do Brasil (CBRO 2009). As coorde- nadas geográficas dos locais de coleta das espécies são apresenta- das na Tabela 1. última, T. caudatus pode ser observado deslocando-se em telha- Alguns comentários sobre algumas espécies podem ser apre- dos e alimentando-se de invertebrados (Annelida e Orthoptera) sentados. Dentre as espécies que fazem parte da coleção, Penelo- em jardins de residências, tendo predileção para nidificar em árvo- pe obscura é relativamente comum no município de Joaçaba, lo- res de Araucaria angustifolia isolados no meio urbano. cal em que foi coletada. Marca sua presença na primavera e no ve- Os representantes da ordem Psittaciformes são aves originadas rão. Nestas estações é possível observar nas matas e na área urba- de cativeiro, apesar de ambas as espécies já terem sido registradas na o deslocamento de indivíduos solitários, em duplas e em gran- no meio natural na região centro-oeste do Estado (Favretto & Ge- des bandos. uster 2008), sendo que, dos registros anteriores, provavelmente Spheniscus magellanicus, um indivíduo imaturo foi encontra- apenas Amazona vinacea ocorre de forma natural na região com a do morto na praia da Barra da Lagoa, no município de Florianó- presença anual de diversos bandos, enquanto que, Amazona aes- polis. A data específica de coleta não foi registrada. Piacentini & tiva trata-se de observações de indivíduos solitários, sendo possi- Campbell-Thopson (2006) mencionam em um estudo em Imbitu- velmente oriundos de fugas de cativeiro. ba/SC que muitos indivíduos desta espécie aparecem no litoral du- Os exemplares da ordem Strigiformes já haviam sido registra- rante o inverno, tratando-se principalmente de imaturos que aca- dos anteriormente nos municípios de Luzerna e Joaçaba (Fa- bam morrendo nas praias. vretto & Geuster 2008). Os exemplares do laboratório estendem Theristicus caudatus trata-se de um indivíduo morto por coli- tais registros para outros municípios da região e também para ou- são com fiação elétrica, sem procedência definida, sabe-se ape- tros estados (Tyto Alba: Capinzal/SC e Barracão/RS; Megas- nas que foi coletado na região oeste de Santa Catarina. Nesta re- cops choliba: Campos Novos/SC; Strix hylophila: Capin- gião, T. caudatus é comum durante a primavera e o verão, poden- zal/SC). No mês de setembro do ano de 2009, mais um exemplar do ser observada tanto na área rural quanto na área urbana. Nesta de Strix hylophila foi encontrado, desta vez, perto do perímetro Coleção de aves do Laboratório de Zoologia da UNOESC, Santa Catarina, Brasil: observações sobre o início da construção do acervo Figura 1. Strix hylophila em recuperação. Foto: Mario A. Favretto.

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Page 1: Coleção de aves do Laboratório de Zoologia da UNOESC ... · No caso dos vertebrados, as contribui- ... Assim como, apresentar algumas observações adicionais sobre Narosky, T

9 771981 887003 25100

ISSN 1981-8874

33Atualidades Ornitológicas On-line Nº 152 - Novembro/Dezembro 2009 - www.ao.com.br

Mario Arthur Favretto* & Emili Bortolon dos Santos*

Coleções zoológicas são importantes fontes de informações pa-ra todos os que trabalham com seres vivos. Proporcionam a pro-gressão de conhecimentos que podem ser aplicados a partir de di-ferenciadas formas na sociedade, tanto para a atuação governa-mental quanto para a gestão ambiental (Zaher & Young 2003).

Com a expansão territorial da sociedade, são nas coleções cien-tíficas que permanecem eternizados os registros físicos de muitas espécies já extintas (Zaher & Young 2003). As coleções zoológi-cas possibilitam inúmeros estudos no âmbito da taxonomia, siste-mática, biogeografia e áreas afins; também são importantes fon-tes de material genético utilizado para estudos filogenéticos e po-pulacionais (Roselaar 2003, Aleixo & Straube 2007).

O Laboratório de Zoologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina, campus de Joaçaba, iniciou suas atividades no ano de 2005 e desde esse período, tem recebido coletas zoológicas por parte de seus acadêmicos. No caso dos vertebrados, as contribui-ções referem-se principalmente de animais que vieram ao óbito devido a atropelamentos e colisões com vidraças. O laboratório também recebe coletas ofertadas pela Polícia Ambiental, de ani-mais que estavam em cativeiro e não sobreviveram aos procedi-mentos de recuperação.

Por se tratar de uma coleção relativamente nova e possuir peles encontradas apenas de forma casual, o laboratório não apresenta um grande número de espécies, sendo que a coleção ao todo é composta por 27 espécies (Tabela 2).

As espécies foram identificadas de acordo com as seguintes re-ferências: Sick (1997), Sigrist (2005), Narosky & Yzurieta (2006). A nomenclatura científica e a ordem sistemática na Tabela 2 seguem as Listas das Aves do Brasil (CBRO 2009). As coorde-nadas geográficas dos locais de coleta das espécies são apresenta-das na Tabela 1. última, T. caudatus pode ser observado deslocando-se em telha-

Alguns comentários sobre algumas espécies podem ser apre- dos e alimentando-se de invertebrados (Annelida e Orthoptera) sentados. Dentre as espécies que fazem parte da coleção, Penelo- em jardins de residências, tendo predileção para nidificar em árvo-pe obscura é relativamente comum no município de Joaçaba, lo- res de Araucaria angustifolia isolados no meio urbano.cal em que foi coletada. Marca sua presença na primavera e no ve- Os representantes da ordem Psittaciformes são aves originadas rão. Nestas estações é possível observar nas matas e na área urba- de cativeiro, apesar de ambas as espécies já terem sido registradas na o deslocamento de indivíduos solitários, em duplas e em gran- no meio natural na região centro-oeste do Estado (Favretto & Ge-des bandos. uster 2008), sendo que, dos registros anteriores, provavelmente

Spheniscus magellanicus, um indivíduo imaturo foi encontra- apenas Amazona vinacea ocorre de forma natural na região com a do morto na praia da Barra da Lagoa, no município de Florianó- presença anual de diversos bandos, enquanto que, Amazona aes-polis. A data específica de coleta não foi registrada. Piacentini & tiva trata-se de observações de indivíduos solitários, sendo possi-Campbell-Thopson (2006) mencionam em um estudo em Imbitu- velmente oriundos de fugas de cativeiro.ba/SC que muitos indivíduos desta espécie aparecem no litoral du- Os exemplares da ordem Strigiformes já haviam sido registra-rante o inverno, tratando-se principalmente de imaturos que aca- dos anteriormente nos municípios de Luzerna e Joaçaba (Fa-bam morrendo nas praias. vretto & Geuster 2008). Os exemplares do laboratório estendem

Theristicus caudatus trata-se de um indivíduo morto por coli- tais registros para outros municípios da região e também para ou-são com fiação elétrica, sem procedência definida, sabe-se ape- tros estados (Tyto Alba: Capinzal/SC e Barracão/RS; Megas-nas que foi coletado na região oeste de Santa Catarina. Nesta re- cops choliba: Campos Novos/SC; Strix hylophila: Capin-gião, T. caudatus é comum durante a primavera e o verão, poden- zal/SC). No mês de setembro do ano de 2009, mais um exemplar do ser observada tanto na área rural quanto na área urbana. Nesta de Strix hylophila foi encontrado, desta vez, perto do perímetro

Coleção de aves do Laboratório de Zoologia da UNOESC, Santa Catarina, Brasil: observações sobre o início da construção do acervo

Figura 1. Strix hylophila em recuperação. Foto: Mario A. Favretto.

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urbano do município de Joaçaba. O espécime foi atropelado, po- beça, ao mesmo tempo em que emitia as vocalizações produzi-rém sobreviveu e ficou sob os cuidados de M.A. Favretto, por das pelas batidas de seu bico, sempre numa sequência de três ba-um período aproximado de sete dias, tempo que levou para a ave tidas seguidas. se recuperar e após sua recuperação o mesmo foi libertado (Foto No mesmo local em que este espécime foi atropelado, outro já 1). Quando sob cuidados, nos primeiros dias a ave não se mos- havia sido encontrado alguns meses antes, porém em estado avan-trava agitada e não realizava nenhum movimento rápido, per- çado de decomposição. Tal local é formado por pastos entremea-manecia a maior parte do tempo parada movendo apenas a cabe- dos por banhados, áreas tomadas por pteridófitas Pteridium sp e ça. Nos momentos em que ocorria a aproximação do autor, ela pequenos fragmentos florestais, havendo também a presença de emitia vocalizações produzidas pela batida de seu bico, por ve- Eucalyptus sp. O local é ocupado por poucos moradores, no en-zes uma batida e em outras ocasiões três batidas sequenciais. tanto, a estrada que existe nesse ambiente possui um grande fluxo Estas vocalizações ao serem imitadas eram prontamente res- de carros no período noturno, pois é o caminho para um dos campi pondidas pela coruja. S. hylophila também apresentava em suas da universidade, o que facilita a ocorrência destes atropelamen-penas a presença de dípteros Hippoboscidae. Durante os sete di- tos. as de sua recuperação, em nenhum momento a ave se apresentou Procurou-se aqui apresentar os registros de espécies que se en-agressiva, não tentava realizar agressões físicas, apenas tentava contram expostas na coleção do laboratório de zoologia da realizar voos curtos. Com o avanço de sua recuperação a ave pas- UNOESC, campus de Joaçaba, e da descrição dos comportamen-sou a realizar displays direcionados ao autor quando este se apro- tos de um Strigiforme durante o período de recuperação após atro-ximava dela, que consistiam em a ave abrir suas asas direcionan- pelamento, como forma de contribuir para o melhor conhecimen-do sua parte superior para frente de seu corpo e abaixando sua ca- to da distribuição de aves na região oeste de Santa Catarina.

Figura 2. Coleção de aves UNOESC/Joaçaba. Foto: Emili B. dos Santos.

Figura 3. Coleção de aves UNOESC/Joaçaba. Foto: Emili B. dos Santos.

Figura 4. Coleção de aves UNOESC/Joaçaba. Foto: Emili B. dos Santos.

Figura 5. Coleção de aves UNOESC/Joaçaba. Foto: Emili B. dos Santos.

Figura 6. Coleção de aves UNOESC/Joaçaba. Foto: Emili B. dos Santos.

Figura 7. Coleção de aves UNOESC/Joaçaba. Foto: Emili B. dos Santos.

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Narosky, T. & D. Yzurieta (2006) Guía para la identificación de las aves de Assim como, apresentar algumas observações adicionais sobre Argentina y Uruguay. Buenos Aires: Vazquezz Mazzini.os hábitos de determinadas espécies que ocorrem na região.

Piacentini, V.Q. & E.R. Campbell-Thompson (2006) Lista comentada da avifauna da microbacia hidrográfica da Lagoa do Ibiraquera, Imbituba, SC. Biotemas

Agradecimentos 19(2): 55-65.Roselaar, C.S. (2003) An inventory of major European bird collections. Bulletin of Os autores são gratos a Glauco Kohler pela ajuda fornecida.

British Ornithologists' Club 123A: 253-337.Sigrist, T. (2005) Aves do Brasil: uma visão artística. São Paulo: Avis Brasilis.

Referências Bibliográficas Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Aleixo, A. & F.C. Straube (2007) Coleções de aves brasileiras: breve histórico, di- Zaher, H. & P.S. Young (2003) As coleções zoológicas brasileiras: panorama e de-

agnóstico atual e perspectivas para o futuro. Revista Brasileira de Ornitolo- safios. Ciência e Cultura 55(3): 24-26. gia 15(2): 315-324.

CBRO – Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2009) Listas das Aves do * Ciências Biológicas – ênfase em Brasil. 8ª edição.

Biotecnologia, UNOESC, Joaçaba. Favretto, M.A. & C.J. Geuster (2008) Observações ornitológicas no oeste de San-E-mail: ta Catarina, Brasil – parte I. Atualidades Ornitológicas 143: 49-54. [email protected]

Tabela 1 Locais de coletas das espécies.

Tabela 2 Lista de espécies de aves do Laboratório de Zoologia da UNOESC, Joaçaba.