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BRITO MACHADO coNsutloREs A$soctADos NATUREZÂ DOS SERVICOS NOTARIAIS. RE,GIME JURÍDrco Do rsseN. rNExrsrÊNcra on oEctsÃo DO STF. Os serviços notariais e de registro têm rratlrteza peculiar. Constituem atividade tipicamente estatal, mas são exercidos em carâterprivado, pot delegaçãodo Poder Púbüco. A prestação de tais serviços é de natutezâ pessoâl e não empresadal, de sorte que do valot do ISSQN, que incide por força de decisão do Supremo Ttibunal Federal, é fixo como em getal âcontece com os serviços de nabtteza pessoal, e não calculado sobre a recetta como ocoÍÍe na atividade empresarial. A decisão do Supremo Tribunal Federal que afumou set devido o ISSQN (ÂDI n" 3.089) não se manifestou sobre a forma de detetminação do valor desseimposto. COAISULTA Consulta-nos a ANOREG - Associação dos Notários e Registradores do Brasil sobre a o regime juddico do ISSQN incidente sobre os serviçosnotariais, cartotários e de registto público, tendo em vista que o Supremo Tdbunal Federz'l1â decidiu pela incidência desse imposto, declarandoconstitucionaisos itens 21 e 21,.1, da Lista de Serviços que tïata a Lei Complementar n" 1'1.6. Reporta-se à pretensãode algunsMunicípios no sentido de cobrar o refeddo imposto como se os serviçosem questão fossem prestadospor empresa, vale üze4 calculado sobre o preço dos serviços,bem como à decisão do Supremo Tribunal Federalque considerou devido o imposto, e 7 final formula as seguintes questões: /') - Cono deue ser determinado o ua/or do ISpN referente aos seruiçvs de registro Dúblico, notariais e cartoráios? 2") - Ao julgar a ADI n" 3.089 o Supremo Trìbunal Federal decidiu a respeito da base decálmlodo ISpN intidente sobre osseraiços deregistro públìco,notariaìs e cartorários? Examinamos a lei e a jurisprudência peïtinentes ao assurÌto e passamosa emiú o nosso R. ALFEU ABOIM,25 - PAPICU FoRTALEZA - cpanÁ cEP 60.175-375 FONE: (85)3234.4691 - FAX: (85)32341833 e-mail :hbm@hugomachado adv.br t

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BRITO MACHADOcoNsutloREs A$soctADos

NATUREZÂ DOS SERVICOS NOTARIAIS. RE,GIME

JURÍDrco Do rsseN. rNExrsrÊNcra on oEctsÃoDO STF.

Os serviços notariais e de registro têm rratlrteza peculiar.Constituem atividade tipicamente estatal, mas são exercidosem carâter privado, pot delegação do Poder Púbüco.

A prestação de tais serviços é de natutezâ pessoâl e nãoempresadal, de sorte que do valot do ISSQN, que incide porforça de decisão do Supremo Ttibunal Federal, é fixo comoem getal âcontece com os serviços de nabtteza pessoal, enão calculado sobre a recetta como ocoÍÍe na atividadeempresarial.

A decisão do Supremo Tribunal Federal que afumou setdevido o ISSQN (ÂDI n" 3.089) não se manifestou sobre aforma de detetminação do valor desse imposto.

C O A I S U L T A

Consulta-nos a ANOREG - Associação dos Notários e Registradoresdo Brasil sobre a o regime juddico do ISSQN incidente sobre os serviços notariais,cartotários e de registto público, tendo em vista que o Supremo Tdbunal Federz'l1âdecidiu pela incidência desse imposto, declarando constitucionais os itens 21 e 21,.1,da Lista de Serviços que tïata a Lei Complementar n" 1'1.6.

Reporta-se à pretensão de alguns Municípios no sentido de cobrar o refeddoimposto como se os serviços em questão fossem prestados por empresa, vale üze4calculado sobre o preço dos serviços, bem como à decisão do Supremo TribunalFederal que considerou devido o imposto, e 7 final formula as seguintes questões:

/') - Cono deue ser determinado o ua/or do ISpN referente aos seruiçvs de registro

Dúblico, notariais e cartoráios?

2") - Ao julgar a ADI n" 3.089 o Supremo Trìbunal Federal decidiu a respeito da base

de cálmlo do ISpN intidente sobre os seraiços de registro públìco, notariaìs e cartorários?

Examinamos a lei e a jurisprudência peïtinentes ao assurÌto e passamos a

emiú o nosso

R . A L F E U A B O I M , 2 5 - P A P I C UFoRTALEZA - cpanÁ cEP 60.175-375FONE: (85) 3234.4691 - FAX: (85) 3234 1833e - m a i l : h b m @ h u g o m a c h a d o a d v . b rt

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BRITO MACHADOcoNslJtToREs ÁssoctADos

P A R E C E R

1. REGIME CONSTITUCIONAL DOS SERVIçOS NOTARIAIS E DEREGISTRO

1.1. O aÍt.236 e seus patá,gtafos

E sabido que toda a legislação, fotmadota do ordenameÍÌto jurídico, deve serinterpretada de conformidade com a Constitúção Federal. Âssim, é da maiorimportância começaÍmos este nosso estudo com o exame dos dispositivos davigente Constituição, que ÍÍatam dos serviços notariais e de registro, poÍque estesfuncionam como clitettizes p^r^ o intérprete e aplicador das regras jurídicaspertinentes ao assunto.

Vejamos, portanto, o que a Constitúção estabelece sobre os serviçosnotadais e de registos.

Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos emcarâter privado, por delegação do Poder Público.

$ 1". A lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidadecivil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos,e deFrnirá e ftscahzação de seus atos pelo PoderJudiciário.

$ 2". Lei Federal estabelecerá noÍmas gerais para fixação deemolumentos relativos aos atos praticados pelos sewiços notariais e detegristto.

S 3". O ingtesso na atividade notanal e de registto depende deaprovação em concurso de provas e títulos, não se permitindo quequalquer serventia Frque vaga, sem abertura de concurso de provimentoou de remoção, por mais de seis meses.

Nesses dispositivos alguns aspectos merecem destaque no âmbito dopÍesente estudo, em face da repercussão projetada em m^téïra tnbutâna.

Vejamos.

1.2. Natureza peculiar da atividade

 prestação dos serviços notariais e de registro é uma atividade de natureza

peculiar. E tipicamente estatal, mas é exercida em c râter privado, mediantedelegação do Poder Público.

r ( R . A L F E U A B O t M , 2 5 - P A P I C UFoRTALEzA - cr,qnÁ cEP 60.175-3?5FoNE: (85) 3234.4691 - FAX: (85) 3234 1833e - m a i l : h b m @ h u g o m a c h a d o . a d v . b r

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BRITO MACHADOc0NslJt T0REs Ass0ctAD0s

Não se trata de atividade econômica que, por nzões de segurança nacionalou de relevante intetesse social, conforme defìnido em lei, seja exetcida diretamentepelo Estado. Âbsolutamente inaplicável, portanto, a ïegr^ do at. 173, S 1", inciso II,da CF/88, que submete o exetcício de tais atividades ao regime jurídico ptóprio dasempresas privadas, inclusive quanto às obdgações tributárias.

Ttata-se, isto sim, de uma atividade tipicamente estatal que, por força dedispositivo expresso da Constitúção, deve ser exetcida em catátet privado, potpessoa física ou natural especialmente qualifìcada. Jamais por pessoa jurídica ouentidade a esta eqúparada. Daí decottendo a pessoalidade na ptestação de taisserviços.

1.3. Pessoalidade dos serviços

Realmente, a Constitúção Federal deixa fora de dúvidas a pessoalidade dossen'iços, ao estabeleceÍ expÍessameÍìte que , ingresso na alìuidade notaia/ e de regìstrodEende de aprouação em Ly)ncaril de prouas e títulos.

Isto, aliás, considetada a supremacia da Constitúção Federal, é sufìcientepara elidir a pretensão dos Municípios de tributar tais serviços como prestados porempresa. Em outras palavras, afasta defìnitivamente a idéia de tÍatar-se de atividadeeconômica ou empresarial, pois a exigência de concurso público é absolutamenteincompatível com a rdéra de atividade empresarial.

É furelevante o fato de o prestador do serviço notarial e de registro terprepostos ou empÍegados, pois estes atuam sob dketa e inafastável responsabiüdadedo titular do cartório.

Âliás, mesmo antes do advento da attal Constituição, o Supremo TribunalFedetal manifestou entendimento no sentido de que o fato de o prestador doserviço ter empregados não retJra a pessoalidade dos serviços que presta. (S'fF, REn" 88.21.0/RS). E sendo assim, é inadmissível a qualifìcação do serviço notadal e deregisuo como atividade econômica ou empresarial, sobretudo potque, como adiantese vetá, a qualifìcação pessoal do ptestadot desse serviço é inteiramente inafastável.

2. O VALOR DO rSSQN DEVTDO PELOS NOTÁRIOS

2.L. L atividade e não sua remuneraçáo

Destaque-se desde logo que o ISSQN devido pelo prestadot dos serviçosnotadais e de registro incide sobre a atividade e não sobre sua remuneração. Âliás,

como essa remunetação é uma taxa, haveria a incidência de um imposto sobre umataxa. o que é um absutdo.

remurìeração é essencialsobre â remunefação, e

R - A L I . ' E U A B O I M . 2 5 P A P I C Ur-'oRTALEZA ct,qnÁ csP 60.175-375FoNLI ; ( t ì5 ) 3234.46e1 'FAX: (85) 3234 11133c - m a i I : h b m ( g h u g o m a c h a d o . a d v . b t

A circunstâncìa de set o serviço prestado mediantep^r^ ^ incidência do ISSQN, mas tal incidência não ocoÍÍe

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sim sobre a prestação do serviço enquanto atividade, que não é de naturezaeconômica ou empresarial, mas pessoal, em face da qualificação proftssional doprestador.

2.2. Leg;slaçáo federal aplicável

Nos termos da legislação federal aplicável, em se ttatando de pÍestâção deserviços sob a forma de trabalho pessoal do ptóprio contribuinte, o ISSQN deve setfixo e enúe os fatotes a seÍem considerados em sua determinação não estácompreendida a impottànciapaig ^ título de temunerz;çã.o pelo própdo ttabalho.

Em outtas palavras, em se tatando de serviço ptestado por profissional emcarâter pessoal, o ISSQN, ou ISS, não pode ser calculado sobre o valor daremuneÍação corespondente. Sobre este assunto, ahâs, um de nós, em co-autoriacom RaqueÌ Ramos Cavalcantt Machado, depois da transcrição do afi..9" e seu $ 1",do Decreto-lei 406/68, já afrmou que:

"... em relação aos profissionais que attram como autônomos,prestando individualmente o serviço, e, da mesma forma, assumindoindividualmente a Íesponsabilidade pela atividade, o ISS somente podeincidir por meio de um valor Ftxo, não podendo o seu montante vatiatconforme o valor da remuneração paga pelo serviço a ser tributado.

Não parece possível, portanto, a pretensão de alguns Municípios,que, como dito na introdução deste texto, exigem o ISS incidente sobreos serviços prestados por notários e por registradores calculando-o apartr da apbcação de um percentual (alíquota ad ualorem) sobre o valortecebido a título de emolumentos."l

Ressalte-se que nos termos dos $$ 1o e 3", do at.9", do Decreto-lei406/68,o imposto é devido em valotes fìxos, ainda quando o serviço seja prestado porprofissionais que estejam orgatizados em sociedades. Com múto maís razão,portânto, o imposto deve set fixo em se tÍatando de notários e registradotes que nãose podem associar par^ a, prestação do serviço.

2.3. Ainafastável qualificação do prestador do serviço

A prestação dos serviços notariais e de registto exige qualifìcação pessoâldaquele a quem essa atividade é delegada, e essa qualifìcação é absolutamenteinafastável porque decorre de dispositivo expresso daproprta Constitúção Federal.

1 MÂCI{,{DO SEGUNDO, Hugo de Brito; Ì\{,\CFL\DO, Raquel Cavalcanti Ramos. A Forma de calcular oISS Incidente sobre a Atividade de Notas e Registros Púbìicos, em Reuista Dìalética de Direito Tributárì0, SãoPaulo:Dialética'n"'t60'janeiro de200e'p'52'

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BRITO MACHADOcoN$u[oREsAssoctÁDos

Em outros serviços para cuja prestação a lei exige qualifìcação pessoal doprestador, em algumas situações pode ocorreÍ a fonnação de empÍesas païa aprestação do serviço. E o que acontece, por exemplo, com a prestação de serviçosmédicos, no âmbito de um hospital. Em situações assim, presente a naturezaempresarial, o cálculo do ISS derxatâ de set por valores fixos. No caso de atividadesque não podem ser prestadas sob a forna empresadal, como é o caso da atividadeadvocatcia, o ISSQN deve ser exigido por valor fixo, conforme jâ decidiu oSuperior Tribunal de Justiça, em acórdão de cuja ementa consta seÍ:

"Tranquila a conclusão de que a sociedade civil de advocacia,qualquer que seja o conteúdo do seu contrato social, goza do trâtamentotributário diferenciado previsto no art. 9, SS 1" e 3", do Decreto-lei n"406/68, já que são necessariamente uniprofissionais, não possuemír^tvreza" mercantil, sendo pessoal a responsabilidade dos profissionaisnela associados ou habilitados."2

Como se vê, o pressuposto para a aphcação da rcgra da tributação fixa é ainexistência de naturez^ meïc ntil na prestação dos serviços e a responsabilidadepessoal dos profissionais que exercem tal atividade.

No caso dos serviços notariais e de tegistro a riature za rrrerc trtil é inteira eindiscutivelmente afastada pela pessoalidade na prestação dos serviços, eindiscutível, também, a responsabilidade pessoal do ptesrador, até porque ospÍepostos ou empregados exercem apenas tarefas auxiüares, atividades-meio esempre sobte a supervisão e a responsabilidade pessoal daquele que, tendo prestadoconcurso púbüco, recebeu a delegação p^ï^ o desempenho da atividade.

Sobre o tema, em texto escrito em co-autoria com Raquel Ramos CavalcantiMachado,3 um de nós iá escÍeveu:

"Aliás, a Lei 8.935 possui disposições expÍessâs a respeito dacontrat^çãa de prepostos, determinando que estes somente poderãoptaícar certos atos, desde que expressamente autorizados pelosdelegatágios do serviço, e, mesmo assirn, sempre sob a responsabilidadedestes. E o que constâ, de modo múto claro, do art. 22 da mencìonadalei:

Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderãopelos danos que eles e seus prepostos causarem a terceiros,na prâica de atos próprios da serventia, assegurado aosprimeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dospÍepostos.

2 STJ, Recurso Especial n" 649.094 -RJ, rel. Ministro Castro Meira, r.rnânime, lulgado em23/11 /2004.3 MACI{ÂDO SEGUNDO, Hugo de Brito; MÂCFIADO, Raquel Cavalcanti Ramos. A Forma de calcular oISS Incidente sobre a Atividade de Notas e Registros Públicos, em Reaista Diahtica de Dìreito Tibutário, SãoPaulo: Dialética' n" 160' ianeiro de 200e' p' 54-55'

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Na verdade, a pessoalidade do serviço prestado resta evidente atémesmo ante o carâter privativo da função que desempenham, comodetermina o att. 236 da CF/88 e reconhece de forma unânime adouuina administrativa. Não podem, realmente, transferir para outÍemos atos que a lei lhes incumbe de praticar e pelos quais recebem o valorcorespondente às taxâs ou emolumentos cartorários. Ou seja, toda aremuneração do serviço decorre da atividade pela qual tespondempessoalmente.

Tanto é assim que, caso pratiquem alguma iregularidade noexercício da função, e se afastem por qualquer motivo, ^responsabilidade não é transferida ao novo agente público que assume aserventia. Neste sentido é, aliás, o entendimento do STJ, como sedepreende da seguinte emenrâ:

âdministtativo - Responsabilidade Civil - Cartíto -Legitimidade passiva ad Causam - ^ft. 535 do CPC - Não-violacão.

( )

2. A questão federal consiste em saber se a responsabiüdadecivil por ato ilícito praticado por oficial de Registro deTítulos e Documentos e Pessoa Juriüca da Capital doEstado de São Paulo é pessoal; não podendo o seusucessoÍ, ou seja, o atual ofrcial da serventia, que nãopraticou o ato ilícito, responder pelo dano alegadamentecausado Dor seu antecessor.

(...)

4. A responsabilidade civil por dano causado por ato deofrcial de Regisüo é pessoal, não podendo o seu sucessoÍ,atual tinrlar da sewentia, responder pelo ato ilícito praticadopelo sucedido - antigo titular. Entender diferente seria daÍmaÍgem à teoÀa do risco integral, o que não pode serentendido de forma alguma a teor do aït. 236 da CF,28 daLei no 6.01,5/73 e 22 da Lei n" 8.935/94.

Recurso especial parcialmente provido, a fim de reconhecera ilegitimidade do recorrente para figurar no pólo passivoda demanda e extinguir o feito, sem solução do mérito,invertendo-se, por consequência, os ônus sucumbenciais."a

O carâter pessoal da atividade desempenhada pelos notários e registÍadores éinegável, tanto que com estes é incompatível a idéia de estabelecimento profìssionalttansfedvel, que implica transferência da responsabilidade fttbutâna parz- o sucessornos terÍnos do at. 133 do Código Tributário Nacional. Aliás, o próprio fiscomunicipal tem deixado de aplicar essa regra, ^o não cobrar dívidas tributárias dequem assuÍne a sefventia em substitúção daquele que poÍ qualquer r^zão a pefdeu,

o STJ,2" T., R-Esp. n" 852.770/SP, Rel. Min. Humberto Martins, j. em3/5/2007, DJ de 15/5/2007,p.263.R . A L F E U A B O I M . 2 5 P A P I C UFORTALEZA CEARA CEP 60.175-375FoNE: (85) 3234.4691 - FAX: (8s) 3234.1833e - m a i l : h b m @ h u g o m a c h a d o . a d v b r

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atitude que impüca demonsttação cabal de que admite a pessoalidade nodesempenho da atividade de notádos e registradores.

Essa responsabiüdade pessoal do ptestador do serviço decorre de dispositivoexpresso da lei de regência da attvidade, nos termos Constitúção Federal, sendoindiscutível, portanto, que o ISSQN devido é fixo, como previsto no $ 1", do art. 9",do Decteto-lei n" 406/68, conclusão esta que gaarda coetência com o regimejurídico adotado pela legislação do imposto de renda e da conrribúçãoptevidenciária.

2.4. Regime iurídico de outros tributos

Realmente, em telação ao imposto de renda e à contribuição ptevidenciâna alegislação impõe a qualificação dos prestadores de serviços notadais e de registrocomo pessoa fisica. Seria, portanto, uma brutal incoerência esses ptestadores deserviço como empresâ para os fins do ISSQN.

Sobte o assunto, em estudo em co-autoria com Raquel Cavalcanti RamosMachado, um de nós escreveu:

"Também a legislação do imposto de renda, e a legislaçãoprevidenciária, determinam de forma expressa o seu tÍatamento comoprofrionair autônoruot. A naf.treza pessoal do serviço, nesse caso, recebeuma tônica ainda maior que no caso de advogados, contadores, médicos,etc., pois estes se podem orgarizat, para frns de imposto de renda, comopessoas jurídicas, mantendo, contudo, sua responsabiüdade pessoal pelosserviços que prestam e a tributação fixa pelo ISS. Em relação ao notârioe ao registrador, nem isso. Até no âmbito da tributação da renda, e daprevidência social, são sempre considerados prestadores de serviço den tureza. pessoal.

A legislação do imposto de renda, com efeito, dispõe que osnotádos e rqfstradores deverão ser tributados como pessoas fisicas,submetendo-se ao imposto de renda das pessoas físicas (IRPF). Econferir, a propósito, os arts. 45, VI, e 106, I, do Regulamento doImposto de Renda @ecreto 3.000/99). AIiás, o art. 1.50, patâgrafo 2",\1, pmíbe que nolários, regfulradaru, tabeliães, elc. selan 'equìparadot' a pe$oa

1urídìca oafnnas indiuiduais, parafns de tributação pelo ìmpo$o de renda.

Também no âmbito previdenciário, como referido, o art. 40 da Lei8.935/94 ê claro ao determinar que o registrador ou notário deve sertratado como pÍestador de serviço autônomo, pessoa fisica. É conferir:

'Art. 40. Os notários, oficiais de registro, escreventes eauxiliates são vinculados à previdência social como, deâmbito federal, e têm assegurada a contagem recíproca deserviço em sistemas diversos.

Patâgafo único. Ficam assegurados, aos notários, oficiaisde registro, escreventes e auxiliares os direitos e vantagens

R . A L F E U A B O I M , 2 5 - P A P I C UFoRTALEZA CEARÁ cEP 60.175-375FONE: (85) 3234.4691 - FAX; (85) 3234.1833e - m a i l : h b m @ h u g o m a c h a d o . a d v . b r{Y

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previdencrárias adquiridos até a data da pubÌicação destaÌei. '

Não há dúvida, poÍtanto, quanto à apiicabilidade do art. 9",parâgrafo 1", do DL 406/68 aos notários e registradores, sobretudodiante da necessidade de coerêncra lógica entre o tÍatamento dispensadoaos mesmos pela legislação do ISS e o tratamento dispensado pelosistema tributário e previdenciário.

Realmente, até em respeito ào ^rt. 110 do CTN, a qualificaçãoquanto à natoreza da atividade que desempenl.Ìam não poderia ser umapaïa ^ legislação como um todo (civil, administratrva, tttbutâria eprevidenciária) e outra apenas para fins de incidência de um tributoespecíhco, no caso o ISS." 5

Com efeito, o legisladot, inclusive o legislador tributário, deve confetTt aoconúibúnte tÍâtamento não só isonômico, mas também coererite, dever este que édescumprido quando se pretende tributar oficiais de registros e de rÌotas, por meiodo ISS, com â apltcação de alíquotas sobre o valor dos emolumentos.

 vioÌação à isonomia decorre do fato de todos os outÍos prestadores deserviços de natvreza pessoal, a exemplo de advogados, médicos, contadores,dentistas etc., serem ttibutados de forma fìxa, não havendo qualquer justifìcativa ouelemento de detcrímen que jusufique a atÍibúção de tÍatamento divetso aos oÍiciais detegistros e de notas, cuja atividade é, do ponto de vista legal, dotada de pessoalidadeaté maro\ tendo em vista a necessidade de concurso público, constitucionalmenteprevista. São contdbúntes em situação eqúvalente, aos quais se está conferindotÍatamento diverso, em ofensa ao disposto no art. 150, II, da CF/88.

Consegue ser âinda maior, porém, o malferimento ao dever de coetência dolegislador infraconstitucional, ditetamente relacionado ao ptincípio da nzoabrlidade(CF/88, ^rt.53, L\). No plano fedetal, pata fìns de tributação por contribúçõesprevidenciâttas e imposto de tenda, os ofìciais são considerados pessoas físicas, asquais estão sujeitas a tÍataLmento que, cumpre lembrar, é em regra mais gravoso queo das pessoas jurídicas. No âmbito Municipal, porém, sem nenhuma justifìcativaplausível, essas mesmas pessoas são tratadas como pessoas jurídicas dotadas deestrutura emptesarial, prestadores de serviços de forma impessoal, pois nesse caso oúâtamento tdbutádo é mais gÍavoso que o das pessoas físicas. Não há a meíìorcoerência em consideraÍ um mesmo contribúnte, no exetcício da mesma atividade,ora como pessoa física, ora como pessoa jurídica, tendo como critério apenas agravosidade do ônus correspondente.

5 NL\CII\DO SEGUNDO, Hugo de Brito; NÍÂCHÀDO, Raquel Cavalcanti Ramos. À Forma de calculat oISS Incidente sobre a Atiüdade de Notas e Registros Públicos, em ReaiÍa Dialétìca de Direìto Trìbatárì0, SãoPaulo: Dialética, n" 1ó0, janeiro de 2009, p. 55-5ó.

R . A L F E U A B O I M , 2 5 - P A P I C UFORTALEZA CEARÁ cEP 60.175-375FONE: (85) 3234.4691 - FAX: (85) 323 '1 .1833e - m a i I : h b m @ ) h u S o m a c h a d o . a d v b r

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BRIÌO MACFIADOcoMulloREsAssoctADos

3. DECrsÃo oo srF NA ADr 30893.1. A questão posta e os limites da decisão

Em 13 de feveteiro de 2008, ao jtlgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade3-089-2 - Distrito Fedetal, o Supremo Tribunal Fedetal proferiu acórdã,o que portaa seguinte:

..4ÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONAUDDE.CONSTITUCIONAI E TRIBUTÁRIO. ITENS 27 E 21..1.. DA LISTAANEXA A LEI COMPLEMENTAR 116/2003. TNCIDENCIA DOIMPOSTO SOBRE SE,RVIÇOS DE QUALQUER NATURE,ZA -ISSQN SOBRE SERVIÇOS DE REGTROS PUBLICOS,CARTORÁRIOS E NATARTAIS. CONSTITUCI ONAIIDADE.

Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada contra os itens 21 e21.1, da Lista Ânexa à Lei Complementar 116/2003, que permirem atdbutação dos serviços de registros púbücos, cartorários e notadais peloImposto sobre Serviços de Qualquer Naturezâ - ISSQN.

Alegada violação dos arts. 1,45, II, 156, III, e 236, capur, daConstituição, porquanto a matriz constitucional do Imposto sobreServiços de Qualquet n^tvreza. permite a rncidência do tributo tão-somente sobre a prestação de serviços de índole privada. Ademais, atributação da prestação dos serviços cartodais também ofenderia o art.150, VI, a e $$ 2" e 3" da Constituição, na medida em que tais serviçospúblicos são imunes à tributação recíproca pelos entes federais.

Âs pessoas que exercem atividade notarial não são imunes àtributação, porquanto a circunstância de desenvolverem os respectivosserviços com intuito lucrativo invoca a exceção prevista no aÍt. 150, $ 3"da Constituição. O recebimento de remuneração pela prestação dosserviços confirma, ainda, capacidade contributiva.

A imunidade recíproca é vma gatantia ou prerrogativa imediata deentidades políticas federativas, e não de particulares que executem, cominequívoco intuito lucrativo, serviços públicos mediante concessão oudelegação, devidamente remunerados.

Não há diferenciação que justifique a tributação dos serviçospúblicos concedidos e a não-tributação das atividades delegadas.

Ação Direta de Inconstitucionalidade conhecida, mas julgdaimprocedente."

Como se vê, a questão posta na Ação Direta de Inconstitucionalidadeconsistiu simplesmente em saber se ocorre coÍrflito enúe os itens 21 e 21,.1, da ListaÂnexa à Lei Complementar 716/2003, que permitem a tnbutação dos serviços deregisuos públicos, cartorários e notariâis pelo Imposto sobre Serviços de QualquerNatureza - ISSQN, e a Constituição Federal. E a decisão judicial, seia monoct^ícaou colegiada, limita-se a ïesolveï as questões postas, pois o jwz náo age de ofício.

R . A L F E U A B O I M , 2 5 - P A P I C UFORTALEZA - CEARÁ CEP 60,175-375FONE: (85) 3234.4691 - FAX: (8s) 3234.1833e - m a i l : b b m @ h u g o m a c h a d o . a d v b r

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BRITO MACHADOcoNsuLïoREs AssoctADos

Que as decisões judiciais limitam-se a tesolver as questões postas, aliás,constitui noção elementar de Direito Processual Civil, de modo que não se justiÍìcaa existência de qualquet dúvida a esse respeito. E como a legislação pertinente aoimposto em questão estabelece mais de uma fotma de determinação do valordevido, é evidente a questão de sabet qual das formas de determinação do valor doimposto deve set uttltzada no caso é inteirameÍÌte estranha à decisão que apenasaftma ser devido esse imoosto.

I

3.2. Não abrangência da questão relativa à determinação do valor do ISSQN

Para que não reste nenhuma dúvida sobte a afirrnação que fazemos, de que adecisão ptofedda pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Âção Direita deInconstitucionalidade 3.089-2 não ttata da forma de cálculo do ISS, basta que setenha presente que a questão de saber qual a forma de determinação do valor doISSQN devido pelos notários e tegistradotes é uma questão uprca de legalidade. Porsua vez, a questão de saber se o refeddo imposto é devido, ou não, em face da regtada imunidade ttrbutâna, não é uma questão de legalidade, mas deconstitucionalidade da lei. Â pdmeira, a questão da forma de determinação do valordo imposto, é questão que se resolve com a interpretação das leis pertinentes e, empdncípioó, não tem a ver com a Constituição Federal. Jâ u segunda, a questão desaber se o imposto em questão é devido ou não em face da rcgra de imunidadettrbutâna é questão que se tesolve com a interpretação da Constitúção e nada tem avet com as leis federais pettinentes ao imposto.

Âssim, é evidente que na Âção Direta de Inconstitucionalidade não cabe, etealmente no caso não foi posta, a questão de saber como o imposto deve sercalculado. E como não foi posta, não foi nem podetia ter sido decidida.

4. AS RESPOSTAS

Com fundâmento nas tazões até aqui expostas, passamos a responder, emsíntese, as perguntas que nos foram formuladas, a saber:

1) - Como deve set detetminado o valot do ISQN referente aos serviços deregistro público, notariais e cartorários?

E evidente que o ISSQN, referente aos serviços deregistro público, notariais e cartorários, é fixo, nostermos do $ 1", do art. 9", do Decreto-lei 406/68, até poruma questão de coerência no âmbito da legislação

o Até pode acontecer de uma dessas interpretações ser incompatível com a Constituição, impondo-se aadoção de outra, que com a Carta Magna seja compatível. De qualquer sorte, será da interpretação dedisposições legais que se estará tratando. Algo inteiramente diverso de uma discussão em torno daimunidade tributária, que é exclusivamente constitucional.

R . A L F - t s U A t s O I M . 2 5 - P A P I C UFoRT,.\LEZA CEARÁ cEP 60.175 375F 'oNE: (1 i5 ) 121.1 .4691 - FAX: (85) 1234.1833e - n a i I : h b r n @ ; h u g o m a c h a d o . a d v . b r

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BRITO MACHADOcoNsurïoREsAssocFoos

tributâria pertinente aos tributos devidos por taiscontribuintes.

Machado Segundoda Faculdade de Direito da Universidade Federal do Cearâ

R , A L F E U A B O I M , 2 5 . P A P I C UFoRTALEzA - cEARÁ cEP 60.l?5-375FONE: (85) 3234.4691 - FAX: (85) 3234,1833e - m a i l : h b m @ h u g o m a c h a d o . a d v b rl 1

2) - Ao julgar a ADI n" 3.089 o Suptemo Tribunal Federal decidiu a respeito

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(aposentado) da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Cearâ

Âdjun

da base de cálculo do ISQN incidente sobre os serviços de registro público,notariais e cartoráÍios?

INDISCUTMLMENTE NÃO. Nem poderia terdecidido, pois esta questão não foi, nem poderia ter sidoposta na Af)I em referência.

E o nosso pateceÍ, s.