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MUDANÇA DO CLIMA

AVALIAÇÃO DOS REFLEXOS DAS METAS DE

REDUÇÃO DE EMISSÕES SOBRE A ECONOMIA

E A INDÚSTRIA BRASILEIRA

Março 2017

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 5

M E N S AG E M D O P R E S I D E N T E

A FIESP, não obstante todas as dificuldades que o País está enfrentando e seus impactos para os setores

produtivos, entende que é preciso atuar com posições firmes no curto prazo, além de construir mecanismos

para enfrentar os desafios do cenário futuro da economia global.

O acompanhamento e a participação efetiva da FIESP, desde 2009, nas Conferências da Organização das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima, permitiram antever um caminho que se mostra inexorável, o que

leva à economia de baixo carbono, coadunando-se com o compromisso assumido pelo Governo brasileiro na

ratificação do Acordo de Paris, que entrou em vigor em 4 de novembro de 2016.

O momento presente indica a necessidade de fomentar o nosso crescimento e uma das alternativas mais

concretas é a ampliação das exportações, daí a pertinência de atentar para as políticas e estratégias que o

comércio internacional possa vir a adotar em termos de barreiras não comerciais, dentre as quais se destacam

as exigências de requisitos socioambientais.

Diante dessa realidade, a FIESP determinou a elaboração deste Estudo, tendo por objetivo prover subsídios

ao debate das políticas públicas que efetivamente possibilitem a redução de custos e a modernização dos

processos industriais, de modo a garantir a inserção do País em uma economia global de baixo carbono.

Para tanto, foram elaborados cenários de referência e simulações com a finalidade de avaliar o comporta-

mento da economia nacional, comparativamente aos principais blocos econômicos mundiais, utilizando-se

a precificação do carbono como uma relevante iniciativa de mercado para mitigar as emissões dos Gases de

Efeito Estufa.

Os resultados obtidos permitem, com significativa margem de segurança, apontar direções que consolidem

a posição do Brasil na Agenda da Mudança do Clima, assegurando a competitividade, o crescimento

econômico e o desenvolvimento.

Paulo SkafPresidente

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PresidentePaulo Skaf

COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA

João Guilherme Sabino Ometto (Coordenador)

Aprigio Eduardo de Moura Azevedo (Coordenador-Adjunto)

DiretoresCarlos Antonio Cavalcanti (Infraestrutura)

José Ricardo Roriz Coelho (Competitividade)

Mario Sergio Cutait (Agronegócio)

Nelson Pereira dos Reis (Meio Ambiente)

Paulo Francini (Economia)

Thomaz Marinho de Andrade Zanotto (Relações Internacionais e Comércio Exterior)

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

Departamento de Meio Ambiente - DMA

Av. Paulista, 1.313, 5º andar

CEP: 01311-923 – São Paulo – SP

www.fiesp.com.br

[email protected]

Projeto Gráfico e Diagramação: Studio MRK

Revisão: Hassan Ayoub

Impressão: Gráfica HROSA

Catalogação na Fonte

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo Mudança do clima: avaliação dos reflexos das metas de redução de emissões sobre a economia e a indústria brasileira / Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. — São Paulo: FIESP, 2017.

84 p. : il.

ISBN: 978-85-7201-025-2

1. Mudança do clima 2. Protocolo de Kyoto 3. Emissão de GEE 4. Política climática 5. Cap-and-Trade 6. Emissões brasileiras 7. Fiesp 8. Comitê de mudança do clima 9. Indústria brasileira 10. Reflexos das metas de redução de emissões sobre a economia e a indústria brasileira I. Título CDD 551.69

F293m

Grupo Técnico Anicia Aparecida Baptistello Pio

Antonio Carlos P. Costa

Guilherme Renato Caldo Moreira

Marco Antônio Ramos Caminha

Priscila Freire Rocha

Solange Borges

Vinícius Neves dos Santos

ConsultoresAngelo Costa Gurgel

Rudinei Toneto Junior

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 7

A P R E S E N TA Ç Ã O

As ações relacionadas à redução dos Gases de Efeito Estufa - GEE trarão reflexos para todos os segmentos

produtivos, razão pela qual a FIESP criou o Comitê de Mudança do Clima, objetivando discutir o assunto de

maneira transversal e consolidar seu posicionamento, contando com a participação dos Departamentos

envolvidos no tema: Agronegócio, Competitividade, Economia, Infraestrutura, Meio Ambiente, Relações

Internacionais e Comércio Exterior.

O Estudo aqui apresentado foi desenvolvido por iniciativa e coordenação desse Comitê, visando fundamen-

tar os debates correlacionados e enfocando a avaliação das alternativas de precificação de carbono, as quais

começam a ser desenhadas no mercado internacional, em função dos novos cenários resultantes do Acordo

de Paris.

Como principal resultado desse Acordo a economia global de baixo carbono ganha cada vez mais relevância,

sendo tarefa essencial dos países signatários a implementação de ações que objetivem manter o aumento da

temperatura no Planeta, abaixo da meta de 2 graus Celsius, até o fim deste século.

Tal compromisso só será viável com a adoção de medidas de mitigação e adaptação, que permitam a diminui-

ção das emissões e propiciem o equilíbrio entre a proteção ambiental, o crescimento dos setores produtivos e o

bem-estar social, ou seja, o desenvolvimento sustentável.

Com este trabalho, a FIESP espera contribuir para o relevante debate da Mudança do Clima e suas implicações

na economia nacional, tema do mais alto interesse da sociedade.

João Guilherme Sabino OmettoCoordenador do Comitê de Mudança do Clima

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 9

S U M Á R I O1. INTRODUÇÃO 11

2. OBJETIVO DO ESTUDO 15

3. METODOLOGIA ADOTADA 16

4. CENÁRIOS IMPLEMENTADOS 28

5. RESULTADOS 37

6. CONCLUSÕES 54

7. RISCOS E OPORTUNIDADES 59

8. REFERÊNCIAS 64

9. APÊNDICE I 68

10. APÊNDICE II 70

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 11

I N T R O D U Ç Ã O

A - O Acordo de Paris

A Mudança do Clima afeta de modo igualitário todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, e esse importante

tema ganha, a cada dia, maior relevância, em especial após a 21ª Conferência das Partes (COP21), realizada em Paris, no fim

de 2015, quando foi consenso das 195 nações signatárias, além da União Europeia, a necessidade de um esforço conjunto

para manter o aquecimento global abaixo da meta dos 2 graus Celsius ao longo deste século.

Relevante, o encontro de Paris foi mais um marco na linha do tempo das discussões globais, como o foram a Rio-92, a

assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1997, e o encontro de Copenhague, em 2009, inserindo a Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) na agenda prioritária do mundo.

O Acordo de Paris constituiu o maior esforço multilateral já empreendido de combate à mudança do clima, no qual os países

participantes se comprometeram com medidas de mitigação e adaptação para a redução de suas emissões de Gases de

Efeito Estufa (GEE), a ser implementadas no período de 2020 a 2025, com sinalizações para reduções futuras até 2030,

algumas alcançando até o ano de 2050.

Cada país considerou suas capacidades e especificidades socioeconômicas, tanto na determinação de suas metas

de corte de emissões de GEE quanto nas estratégias que estabelecerão para atingi-las, respeitando-se o princípio das

responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Esses compromissos foram construídos voluntariamente e denominados

Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas (iNDCs, na sigla em inglês).

A grande expectativa gerada em razão da assinatura do Acordo é o que ele representará para garantir a

sustentabilidade do planeta e seus ecossistemas, principalmente como ele condicionará uma nova agenda

global de desenvolvimento sustentável e determinará novos arranjos geopolíticos das relações de clima e o

crescimento da economia mundial.

01

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B - A proposta brasileira

O Brasil apresentou metas absolutas de redução das emissões no Acordo de Paris, que o posicionam como um dos países

emergentes de maior ambição nos esforços de mitigação à mudança do clima. As ações delineadas pelo País buscam

intensificar os esforços correntes para a redução de suas emissões e estão sintetizadas no quadro a seguir:

SETOR AÇÃO

Mitigação

Compromisso de redução de 37% das emissões até 2025/ano-base de 2005 – representando 1.3 GtCO

2e.

Indicação de contribuição de redução de 43% das emissões até 2030 /ano-base 2005 – representando 1.2 GtCO

2e.

Código Florestal Mudança de uso do solo e florestas.

Intensificação da implantação do Código Florestal.

Aumento de fiscalização na Amazônia Brasileira.

Desmatamento zero até 2030.

Compensações de GEE em processos de desmatamento legal.

Restauração e reflorestamento de 12 milhões de hectares de floresta até 2030.

Energia Atingir 45% de renováveis na matriz energética até 2030.

Aumento da parcela de renováveis, excluindo hidrelétricas no “mix” total da matriz energética entre 28% e 33% até 2030.

Aumento da participação de biocombustíveis na matriz energética brasileira para 18% até 2030.

Agricultura

Intensificar o programa de baixo-carbono da Agricultura (Programa ABC), incluindo a restauração de 15 milhões de hectares de pastos degradados até 2030.

Indústria Promover novos padrões de tecnologia limpa e aumentar as medidas de eficiência energética e infraestrutura de baixo-carbono.

Transporte Promover medidas de eficiência energética e melhorar a infraestrutura para o transporte em geral e o transporte público nas áreas urbanas.

Mecanismos de Mercado

O Brasil reserva sua posição de vir a utilizar esse mecanismo sempre que for necessário.

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Ações em Adaptação

O Brasil está trabalhando no desenvolvimento de novas políticas públicas, tendo como referência o Plano Nacional de Adaptação (PNA).

Iniciativas Sul-Sul Ao reconhecer o papel complementar da cooperação Sul-Sul, o Brasil envidará todos os esforços, com base na solidariedade e nas prioridades comuns de desenvolvimento sustentável, para ampliar iniciativas de cooperação com outros países em desenvolvimento.

A implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) brasileiras implicará exigências para os diferentes

setores econômicos, especialmente em relação às ações de mitigação e adaptação. Esses compromissos terão reflexos

sobre a indústria e o agronegócio, os quais movem economicamente o País, havendo questões implícitas e essenciais, a

exemplo da garantia à segurança alimentar e à manutenção da competitividade dos sistemas produtivos.

Porém, para o atendimento das metas propostas pelo Brasil, será fundamental, além de considerar os esforços já

empreendidos no passado, contemplar os mecanismos futuros, incluindo aqueles voltados ao financiamento, transferência

e incremento de novas tecnologias entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

O aporte de recursos financeiros internacionais oriundos do Fundo Verde (Green Climate Fund) e de outras fontes é avaliado

como essencial pela indústria, para que o Brasil possa se adaptar às questões decorrentes da mudança do clima e enfrentar

eventos meteorológicos extremos.

Outro fator crucial é o reconhecimento das ações antecipadas de mitigação (early actions), entre 2010 e 2020, além da

expressiva participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, auxiliares na pauta de discussões inerentes aos

programas de etanol, biodiesel, biocombustível e hidroeletricidade do País.

O nosso ativo florestal resultante do combate ao desmatamento até 2014 – mais de 650 milhões de ton. CO2 equivalente –

deve ser creditado como contribuição nacional à redução das emissões globais. Nesse mesmo sentido, entende-se como

fundamental que as ações de restauração e reflorestamento decorrentes do Novo Código Florestal, que promoverão o

incremento no sequestro de carbono, sejam consideradas na composição das NDCs brasileiras.

A aprovação da Política Nacional sobre Mudança do Clima, em 2009, e sua implementação ao longo dos anos, com base

nos planos setoriais, bem como a aprovação de leis estaduais e a ratificação do Acordo de Paris pelo Congresso Nacional,

refletem a importância do tema para o País.

Considerando o protagonismo do Brasil nas negociações globais, sendo um dos países que mais reduziram

emissões de GEE nos últimos anos, impõe-se, em curto espaço de tempo, a definição de caminhos para o

estabelecimento dos alicerces de uma economia de baixo carbono, tornando-se decisivo para tal contar com

mecanismos de mercado, dentre outros.

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C - FIESP e a Agenda de Mudança do Clima

A FIESP acompanha esse tema com muita atenção, tendo participado oficialmente das COPs desde 2009,

criando para tanto um Comitê de Mudança do Clima, composto de membros dos departamentos de Meio Ambiente,

Agronegócio, Infraestrutura, Economia, Competitividade e Relações Internacionais e Comércio Exterior, para análises e

discussões sobre a matéria, tornando públicos seus posicionamentos a respeito das negociações ocorridas em cada COP,

em especial referente ao Acordo de Paris.

Na avaliação da FIESP, houve contribuição decisiva da indústria para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa

(GEE), ao longo dos anos, por intermédio do aprimoramento dos seus processos produtivos e o emprego de tecnologias

avançadas. Assim, em momento tão sensível do cenário nacional, a preservação da competitividade deve ser central sem

prejuízo ao crescimento econômico e aos avanços sociais conquistados nas últimas décadas.

No entanto, identificam-se complexos desafios em uma transição considerada irreversível para a economia global

de baixo carbono, que deverá contemplar a necessidade de precificação do carbono, o estabelecimento de mercado de

carbonoI e respectivos esforços a ser empreendidos por todos os segmentos da sociedade.

Nesse contexto, os setores empresarial e governamental precisam internalizar essas potenciais variáveis nos

seus planejamentos estratégicos, assim como dispor de mecanismos e alternativas adaptadas à realidade

brasileira e às especificidades de cada setor econômico, para minimizar os impactos e riscos inerentes à sua competitividade.

I Vide “Posicionamento da FIESP” no Apêndice I deste documento.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 15

O B J E T I V O D O E S T U D O

Diante desse cenário, a FIESP julgou necessário promover um estudo que pudesse considerar as mais diversas variáveis,

e escolheu o Modelo de Equilíbrio Geral, desenvolvido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), cujo maior mérito

é o de contemplar um módulo adaptado à realidade brasileira, incorporando dados oficiais dos organismos

governamentais, bem como dos demais países, em um contexto de economia globalizada.

O objetivo do presente estudo é investigar os potenciais impactos sobre a economia brasileira, de maneira agregada, e seus

principais setores produtivos, indicando os possíveis custos advindos da adoção de diferentes estratégias e de potenciais

modelos de políticas públicas que possam ser adotados na precificação do carbono, objetivando a mitigação das emissões

de Gases de Efeito Estufa e criando incentivos à melhora dos processos e em P&D.

Deseja-se, assim, contribuir para qualificar o debate nacional em conjunto com os diversos agentes públicos e privados,

em particular os diferentes segmentos industriais, em relação às políticas públicas em vias de implementação, para o

cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, ou seja, aquelas que reflitam efetivamente as

ações de maior eficiência e, ao mesmo tempo, representem menor impacto para a sociedade. Os resultados permitirão indicar

os custos setoriais agregados de políticas e ações para reduzir as emissões brasileiras, bem como traçar recomendações

para o posicionamento da FIESP em termos de medidas que possibilitem a minimização dos custos para o alcance de

tais objetivos.

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M E T O D O L O G I A A D O TA D A

O Estudo foi elaborado a partir da adaptação e atualização de um modelo de projeção econômica de amplo alcance,

da classe dos modelos de equilíbrio geral computáveis, capaz de representar e simular a dinâmica futura da economia

mundial e das principais regiões e países emissores de Gases de Efeito Estufa, incluindo a economia brasileira. O modelo é

atualizado para refletir as taxas de crescimento dos países e regiões considerados, levando em conta as revisões recentes

das expectativas sobre o crescimento das economias brasileira e mundial.

No modelo, foram simulados cenários de adoção de políticas de mudança do clima nos principais países emissores e no

Brasil. Os níveis de redução de emissões em cada país e região foram definidos com base nos compromissos de mitigação

de Gases de Efeito Estufa, assumidos pelos diferentes participantes do Acordo de Paris.

No caso do Brasil, a meta de redução de emissões simulada no presente Estudo baseou-se na proposta que o País

apresentou na COP21, em dezembro de 2015.

Considera-se também, sendo este um importante diferencial do trabalho, a intensificação de esforços de mitigação pós-

2030, até o ano de 2050. Políticas alternativas foram testadas no estudo, de modo a capturar os diferentes custos e a

efetividade destas, ao longo de todo esse período.

Três estratégias principais de representação de políticas de mudança do clima foram implementadas no modelo para

demonstrar as NDCs brasileiras:

- restrições quantitativas setoriais às emissões de Gases de Efeito Estufa;

- mercados amplos de permissões de emissões;

- incentivos à adoção de tecnologias de baixa emissão.

Foram mensurados os impactos dessas medidas sobre os seguintes indicadores: PIB e taxa de crescimento; emissões de

Gases de Efeito Estufa e preço de permissões de emissões.

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3.1 Modelo de Equilíbrio Geral Adotado: Emissions Prediction and Policy Analysis (EPPA) Model (PALTSEV et al., 2005)

O modelo EPPA é desenvolvido pelo MIT Joint Program on the Science and Policy of Global Change. Trata-se de um modelo

econômico elaborado para projetar cenários de emissões de Gases de Efeito Estufa e impactos de políticas de mudança do

clima, sendo empregado em diversos estudos em todo o mundo com esse propósitoII.

Essa metodologia apresenta um alcance amplo em termos de dimensões geográficas (diversas regiões e países do planeta)

e econômicas (diversos setores e agentes econômicos), considerando os efeitos da alocação de recursos nas economias

regionais, nacionais e global.

As principais características do modelo estão resumidas no Quadro 1.

Quadro 1 . P r i n c i p a i s c a r a c t e r í s t i c a s d o m o d e l o u t i l i z a d o

CARACTERÍSTICAS DESCRIÇÃO

Classe Modelo Computável de Equilíbrio Geral.

Alcance Regional Economia mundial agregada em 16 regiões e países.

Alcance Setorial Todos os setores produtivos de bens e serviços, agregados em 12 setores de bens e serviços não energéticos e 17 setores de produção de energia.

Fatores Produtivos Todos os fatores produtivos (capital, trabalho, terra, recursos naturais não renováveis), representados por 14 fatores primários de produção.

Alcance Temporal Dinâmico recursivo, em intervalos de cinco anos (Ano-Base: 2004/2005).

Base de dados econômica Matrizes de insumo produto do Global Trade Analysis Project (GTAP) versão 7 (Narayanan e Walmsley, 2008).

IBGE (2009).

II A descrição completa do Modelo EPPA pode ser encontrada em Paltsev et al. (2005). Algumas aplicações do modelo e vários desenvolvimentos deste são descritos em Babiker et al. (2003), Reilly e Paltsev (2006), Paltsev et al.

(2008, 2009), Melillo et al. (2012), Jacoby et al. (2009), Gurgel et al. (2007), Silva e Gurgel (2012), Karplus et al. (2012), Lima e Gurgel (2012) e Gurgel e Paltsev (2014).

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 19

Base de dados de energia e emissões de Gases de Efeito Estufa e poluentes

International Energy Agency (IEA, 1997, 2004, 2005, 2012).

Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2015).

MCTI (2010).

Emissions Database for Global Atmospheric Research (EDGAR, Olivier e Berdowski, 2001).

Dados de tecnologias e custos de abatimento de emissões

Hyman et al. (2003); Cossa (2004).

Mckinsey, 2009; Henriques Jr., 2010; Gouvello, 2010; Seroa da Motta et al., 2012; Rathmann, 2012.****

Comportamento das empresas Teoria Microeconômica de maximização de lucro sujeita à restrição tecnológica, sob competição perfeita e retornos constantes à escala.

Comportamento das famílias Teoria Microeconômica de maximização da utilidade sujeita à restrição orçamentária.

Comportamento Macroeconômico

Propensão marginal a poupar constante, poupança = investimento a cada período, acumulação de capital endógena, preços flexíveis nos mercados de fatores, taxa de câmbio livre, trajetórias exógenas de crescimento populacional e produtividade de fatores.

Software de simulação do modelo

General Algebraic Modeling System (GAMS, Brooke et al., 1998) e Mathematical Programing System for General Equilibrium (MPSGE, Rutherford, 1999).

No presente estudo, opta-se pelo enfoque de custo-efetividade, em que objetivos de políticas de redução de GEE são

simulados e os custos para atingi-los são determinados e limitados pelos modelos de simulação.

Os dados econômicos que alimentam o modelo são formados principalmente por matrizes de contabilidade social e de

insumo-produto que representam as estruturas das economias das regiões, provenientes do Global Trade Analysis Project

(GTAP), um banco de dados consistente sobre consumo macroeconômico regional, produção e fluxos de comércio bilateral.

A evolução do modelo no tempo é baseada em cenários de crescimento econômico resultantes do comportamento de

consumo, poupança e investimentos, além de pressuposições exógenas sobre o aumento da produtividade do trabalho,

da energia e da terra. O crescimento na demanda por bens e serviços produzidos em cada setor, incluindo alimentos e

combustíveis, ocorre à medida que a renda e o produto aumentam.

Os estoques de recursos limitados, como combustíveis fósseis, diminuem à medida que estes são utilizados, forçando

o aumento no custo de extração e beneficiamento dos mesmos. Setores que usam recursos renováveis, como a terra,

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competem pela disponibilidade de fluxos de serviços fornecidos pelos mesmos. Todos esses fenômenos, aliados às políticas

simuladas, como impostos e subsídios ao uso de energia, controle nas emissões de poluentes e imposição de mandatos de

porcentuais mínimos de misturas de combustíveis, determinam a evolução das economias e alteram a competitividade e

participação das diferentes tecnologias ao longo do tempo e entre cenários alternativos. O desenvolvimento ou declínio de

uma tecnologia em particular é determinado de forma endógena, de acordo com a competitividade relativa da mesma.

O modelo fornece estimativas e previsões sobre o crescimento do Produto Interno Bruto nos países e regiões, consumo

agregado e produção setorial, consumo e geração de energia em unidades físicas, preços de bens e serviços, fluxos

comerciais, emissões de GEE e de outros poluentes, e custos econômicos das políticas simuladas. A descrição completa do

modelo encontra-se no APÊNDICE II.

Figura 1. Regiões e países representados no modelo

AFR: África

ANZ: Oceania

ASI: Ásia Dinâmica

BRA: Brasil

CAN: Canadá

CHN: China

EUR: Europa

IND: India

JPN: Japão

LAM: Resto da América Latina

MES: Oriente Médio

MEX: México

REA: Resto do Leste Asiático

ROE: Resto da Europa e Ásia Central

RUS: Rússia

USA: Estados Unidos

CAN

USA

MEX

BRA

LAM

E

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 21

3.1.1 Agregação do modelo EPPA

A base de dados do GTAP7 apresenta matrizes de insumo-produto para 113 países e regiões do mundo e 57 setores de suas

economias, representando produção, consumo, fluxos bilaterais, medidas de proteção comercial e os mercados de energia

em unidades físicas. No EPPA, os dados do GTAP foram organizados em 16 países e regiões (Figura 1), bem como em diversos

setores de produção, como apresentado na Tabela 1. Foram também representados, na construção do modelo, novos

setores que ofertam tecnologias energéticas, considerados potencialmente relevantes no futuro, mas que ainda possuem

custos muito elevados no presente (tecnologias backstop). O EPPA também leva em conta a desagregação do consumo das

famílias em compras de serviços de transporte, uso de transporte individual (automóveis particulares) e consumo de outros

bens e serviços.

AFR

MESREA

ROE

IND

EUR

RUS

CHN JPN

ANZ

ASI

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Algumas modificações e adaptações foram introduzidas na versão do modelo utilizada no presente estudo, com vistas

a atingir os objetivos propostos. A principal modificação diz respeito à desagregação dos setores intensivos em energia,

originalmente agrupados em apenas um, da seguinte forma: químicos, borracha, plásticos e papel (CRP), siderurgia e

metalurgia (STEEL), manufatura de metais não ferrosos, como alumínio, zinco e cobre (ALUM), e manufatura de minerais

não metálicos, como cimento e vidro (CIME).

Tabela 1 - A g re g a ç ã o d e re g i õ e s , s e t o re s e f a t o re s n o m o d e l o E P PA

REGIÕES

Estados Unidos (USA) Federação Russa (RUS) Oriente Médio (MES)

Canadá (CAN) Leste Europeu (ROE) África (AFR)

México (MEX) China (CHN) América Latina (LAM)

Japão (JPN) Índia (IND) Resto da Ásia (REA)

União Europeia (EUR) Brasil (BRA)

Austrália e N. Zelândia (ANZ) Leste Asiático (ASI)

SETORES

Não Energia

Agricultura - Culturas (CROP) Siderurgia e metalurgia (STEEL)

Agricultura - Pecuária (LIVE) Metais não ferrosos (ALUM)

Agricultura - Florestal (FORS) Minerais não metálicos (CIME)

Alimentos (FOOD) Outras Indústrias (OTHR)

Serviços (SERV) Serviços de transporte (TRAN)

Químicos,borracha,plásticos,papel (CRP) Transporte próprio das famílias (FTRAN)

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 23

Energia

Carvão (COAL) Eletricidade: Nuclear (A-NUC) Gás sintético (SGAS)

Petróleo bruto (OIL) Eletricidade: Eólica (W-ELE) Biocombustível (2ª geração) (BOIL)

Petróleo refinado (ROIL) Eletricidade: Solar (S-ELE) Petróleo de xisto (SOIL)

Gás natural (GAS) Eletricidade: Biomassa (biELE) Biocombustível (1ª geração)

Eletricidade: Fóssil (ELEC) Eletricidade: NGCC1 (NGCC) Gás sintético (SGAS)

Eletricidade: Hidráulica (H-ELE) Eletricidade: NGCC – CCS2 Biocombustível (2ª geração) (BOIL)

Eletricidade: IGCC3 – CCS Petróleo de xisto (SOIL)

Biocombustível (1ª geração)

FATORES

Capital Gás natural Terra:

Trabalho Hidráulica - de culturas

Petróleo cru Nuclear - pastagens

Petróleo xisto Eólica & Solar - florestal

Carvão Florestas naturais

Pastagens natur.

Fonte: Paltsev et al. (2005).

1 NGCC: conversão de gás natural em eletricidade a partir de ciclo combinado de geração.

2 CCS: captura e sequestro de carbono.

3IGCC: tecnologia de geração de gás natural a partir do carvão pelo ciclo combinado de geração.

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3.1.2 Uso da Terra

Uma sofisticação importante do modelo EPPA diz respeito à representação de mudanças no uso da terra. O uso da terra

está dividido em cinco categorias: pastagens, culturas, produção florestal (áreas de silvicultura, extração vegetal e florestas

plantadas), florestas naturais e pastagens naturais.

Com relação à transformação do uso da terra, a área sob determinada categoria de uso pode ser ampliada pela conversão

de outras categorias de uso. Por exemplo, estradas e acessos para áreas de florestas podem ser criados, permitindo que

uma área desmatada seja transformada em florestas plantadas, pastagens ou culturas. O sentido oposto também pode ser

observado, ou seja, terras destinadas às culturas podem ser abandonadas voltando a crescer florestas ou campos de matas

secundárias.

3.1.3 Implementação de Políticas de Mudança do Clima no Modelo

O modelo EPPA permite a incorporação de vários tipos de políticas de controle de emissões de GEE: tributação (ou impostos)

e subsídios à produção e ao consumo de combustíveis e a outros tipos de produtos; alíquotas de tributos e impostos fixados

com base no conteúdo de carbono dos combustíveis; definição de restrições quantitativas em emissões por região, por setor

produtivo ou por tipo de Gás de Efeito Estufa; comércio nacional e internacional de créditos (ou permissões) de emissões;

limites quantitativos ou impostos diferenciados por tipos de Gases de Efeito Estufa.

3.1.4 Disponibilidade de Tecnologias Alternativas

Um importante elemento que define a evolução dos modelos dinâmicos é a representação de tecnologias que não

estão em uso atualmente (ou são usadas em pequena escala por não serem custo-efetivas), mas que podem se tornar

disponíveis num futuro próximo. Essas opções energéticas, como a solar e a eólica, devem ser empregadas em maior escala

quando a oferta de recursos energéticos convencionais baseados em combustíveis fósseis tornar-se mais escassa e/ou

mais cara, ou quando políticas públicas que visem reduzir as emissões de poluição penalizarem as tecnologias energéticas

convencionais, favorecendo a adoção de novas tecnologias. O momento, no tempo em que essas tecnologias tornar-se-

ão disponíveis, também chamado de período de entrada, depende dos custos relativos destas em relação aos custos das

fontes convencionais de energia. A Tabela 2 apresenta as opções de tecnologias avançadas representadas no modelo EPPA.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 25

Tabela 2 - Te c n o l o g i a s a l t e r n a t i va s d i s p o n í ve i s n o m o d e l o E P PA

TECNOLOGIA DESCRIÇÃO

Gaseificação de carvão Converte carvão em um substituto perfeito para o gás natural.

Petróleo de xisto Extrai e melhora o betume do xisto, transformando-o em um substituto perfeito para o petróleo.

Bicombustível de biomassa Converte a biomassa em um substituto perfeito para o petróleo refinado (segunda geração de biocombustíveis).

Eletricidade de biomassa Converte biomassa em um substituto perfeito para a eletricidade.

Eólica e solar Converte a energia eólica e solar intermitente em um substituto imperfeito para a eletricidade.

Gás avançado Tecnologia de geração de eletricidade baseada no ciclo combinado do gás natural (CCGN) que converte gás natural em eletricidade.

Gás avançado com sequestro e captura de carbono

Tecnologia de ciclo combinado do gás natural que captura 90% ou mais do CO

2 produzido na geração de energia.

Carvão avançado com sequestro e captura de carbono

Ciclo combinado integrado de gaseificação do carvão (CCIG) que captura 90% ou mais do CO

2 produzido na geração de energia.

Veículos Híbridos e Elétricos Tecnologia de transporte urbano de passageiros movido por sistemas de propulsão elétricos ou híbridos (eletricidade e combustíveis líquidos).

Fonte: Paltsev et al. (2005).

No modelo EPPA três tecnologias produzem substitutos para os combustíveis fósseis convencionais: gás de carvão, produto

de petróleo cru, do xisto e combustível refinado da biomassa. Outras cinco opções tecnológicas incluem a geração de energia

elétrica eólica e solar, também a partir da biomassa e de ciclo combinado de gás natural com e sem captura e sequestro de

carbono. Ainda, veículos híbridos (movidos tanto a energia elétrica quanto a combustíveis líquidos) e veículos elétricos são

tecnologias disponíveis para uso em larga escala no futuro.

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3.2 Adaptações do Modelo às Especificidades Brasileiras

Diante do incontestável desenvolvimento na produção e uso dos biocombustíveis de primeira geração em diversos países

na última década, essas tecnologias e suas especificidades foram acrescentadas no modelo EPPA, de acordo com o nível

corrente de produção existente nos diferentes países e suas principais fontes de biomassa. Foram utilizados dados das

matrizes de insumo-produto do GTAP, de área cultivada da FAO e dados regionais específicos para definir os custos de

produção dos diferentes tipos de biocombustíveis. Do mesmo modo, incluíram-se os seguintes tipos de biomassa: culturas

açucareiras (cana-de-açúcar e beterraba), grãos (milho), trigo e oleaginosas (canola, soja, palma). O modelo EPPA também

considera biocombustíveis de segunda geração uma tecnologia backstop, com potencial de desenvolvimento futuro,

produzidos a partir de materiais celulósicos.

Ainda, os dados iniciais do modelo EPPA sobre a nossa economia foram substituídos ou ajustados para melhor refletir as

estatísticas produzidas por instituições oficiais brasileiras. Tais ajustes permitem uma representação mais realista da base de

dados inicial do modelo para o caso brasileiro.

O modelo EPPA agrega, em sua versão original, todos os setores mais intensivos no uso de energia sob um único setor,

denominado EINT. De forma a ampliar o escopo da análise para considerar diferentes setores intensivos em energia,

empreendeu-se um esforço para desagregar o setor EINT do modelo em quatro novos setores, quais sejam: a) químicos,

borracha, plásticos, celulose e papel (CRP); b) siderurgia e metalurgia (STEEL); c) manufatura de metais não ferrosos, como

alumínio, zinco e cobre (ALUM); e d) manufatura de minerais não metálicos, como cimento e vidro (CIME).

A desagregação desses setores intensivos em energia em quatro grandes grupos representa um avanço em relação à

versão original do modelo EPPA, apesar de não permitir uma análise mais detalhada de alguns setores específicos em

separado, como o de químicos ou o de papel e celulose. É importante destacar que a desagregação de um setor original

do modelo EPPA em outros setores depende de disponibilidade de bases de dados de produção, comércio internacional e

emissões de gases de efeito estufa para os setores considerados e para todas as regiões consideradas no estudo. Assim,

a escolha da configuração de setores desagregados foi baseada na disponibilidade de dados que permitissem o recorte

mais detalhado possível e considerando as similaridades e possíveis sinergias entre setores produtivos agrupados em um

mesmo setor do modelo.

A FIESP entende que, no caso do Brasil, alguns setores de base florestal, como o de celulose

e papel, encontram-se verticalizados no processo de produção, o que permite consideráveis

ganhos ambientais diante de qualquer medida ou política de precificação do carbono

e mitigação de emissões. No presente modelo essa característica de verticalização da

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 27

produção não se faz representada. Futuros esforços de pesquisa podem ser empreendidos,

com vistas a representar de maneira mais adequada no modelo o sistema produtivo

predominante no País.

Futuras desagregações setoriais e representações de detalhamentos tecnológicos em

setores específicos podem ser introduzidas no modelo a partir de dados mais detalhados e

tempo suficiente de pesquisa.

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C E N Á R I O S I M P L E M E N TA D O S

Foram simulados um cenário de referência e vários cenários de implementação de políticas e medidas de redução de GEE,

de forma a capturar tanto os custos econômicos e benefícios ambientais das iNDCs apresentadas pelo Brasil no Acordo de

Paris quanto outras medidas possíveis (Quadro 2). A escolha dos cenários foi definida pela equipe do estudo e procurou

cobrir as alternativas mais debatidas atualmente. O horizonte temporal do estudo inicia-se em 2015 e vai até 2050, com o

propósito de gerar informações para avaliação e posicionamento quanto às medidas mais eficazes no longo prazo.

Quadro 2. Re s u m o d o s Ce n á r i o s I m p l e m e n t a d o s n o m o d e l o

CENÁRIO DESCRIÇÃO DESMATAMENTO EMISSÕES NOS DEMAIS SETORES

POLÍTICA CLIMÁTICA NOS DEMAIS PAÍSES

BAU Cenário sem política climática.

Ausência de controle rígido.

Ausência de controle. Ausência de política, com exceção das já existentes.

COP 2030 Países reduzem emissões de acordo com suas iNDCs.

Controle do desmatamento ilegal (zerar até 2030).

Ações específicas para agropecuária, florestas e energia renovável, esforços em 2030 serão mantidos até 2050.

Mercados domésticos de permissões de emissões para todos os GEEs embasados nas iNDCs até 2030 e intensificados até 2050.

COP Países reduzem emissões de acordo com suas iNDCs.

Controle do desmatamento ilegal (zerar até 2030).

Ações específicas para agropecuária, florestas e energia renovável, esforços em 2030 serão intensificados até 2050.

Mercados domésticos de permissões de emissões para todos os GEEs embasados nas iNDCs até 2030 e intensificados até 2050.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 29

TAX Países reduzem emissões de acordo com suas iNDCs.

Controle do desmatamento ilegal (zerar até 2030).

Tributação às emissões de GEEs setorialmente definidas, sem comércio de permissões de emissões, até 2050.

Mercados domésticos de permissões de emissões para todos os GEEs embasados nas iNDCs até 2030 e intensificados até 2050.

TAX CO2 Países reduzem emissões de acordo com suas iNDCs.

Controle do desmatamento ilegal (zerar até 2030).

Tributação às emissões apenas de CO

2, setorialmente

definidas, sem comércio de permissões de emissões, até 2050.

Mercados domésticos de permissões de emissões para todos os GEEs embasados nas iNDCs até 2030 e intensificados até 2050.

Cap-and-Trade

Países reduzem emissões de acordo com suas iNDCs.

Controle do desmatamento ilegal (zerar até 2030).

Mercado doméstico de permissões de GEEs cobrindo todos os setores até 2050.

Mercados domésticos de permissões de emissões para todos os GEEs embasados nas iNDCs até 2030 e intensificados até 2050.

(Cap-and-Trade de) CO2

Países reduzem emissões de acordo com suas iNDCs.

Controle do desmatamento ilegal (zerar até 2030).

Mercado doméstico de permissões de CO

2

cobrindo todos os setores até 2050.

Mercados domésticos de permissões de emissões para todos os GEEs embasados nas iNDCs até 2030 e intensificados até 2050.

Os cenários implementados podem ser descritos como:

1. Cenário de referência (business as usual – BAU):

desconsidera a aplicação de políticas de mudança do clima direcionadas à precificação do carbono em qualquer país

do mundo, excetuando as políticas existentes, como o estágio atual da EU-ETS. As metas de produção e consumo de

biocombustíveis nos EUA e na UE são mantidas, por já fazerem parte da política atual ou anunciadas como certas. No caso

brasileiro, as políticas atuais de controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado são mantidas, contudo de forma

mais branda, considerando os níveis médios de desmatamento observados entre 2000 e 2010.

2. Cenário COP 2030:

considera a implementação de políticas de mudança do clima em todas as regiões e países do mundo, via mercados

domésticos de permissões de carbono, de maneira a atingir os compromissos apresentados pelos países na COP-21, em

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Paris, em dezembro de 2015III. No caso brasileiro, a redução das emissões de GEE foi estabelecida em 37% de corte absoluto

em relação às emissões do ano de 2005, a ser atingida em 2025, e 43% de redução pretendida em 2030, o que significa

reduzir as emissões de cerca de 2,1 GtCO2-Eq., em 2005, para 1,3 GtCO

2-Eq., em 2025, e 1,2 GTCO

2-Eq. em 2030. Tais metas

devem ser atingidas considerando as ações já anunciadas pelo governo, como:

• Acabar com o desmatamento ilegal;

• Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas;

• Recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas;

• Integrar 5 milhões de hectares de lavoura-pecuária-florestas;

• Alcançar uma participação de 45% de fontes renováveis no total da matriz energética;

• Expandir para 23% a participação de fontes renováveis (além da energia hídrica) no fornecimento de energia elétrica

(eólica+solar+biomassa);

• Aumentar em 10% a eficiência elétrica; e

• Aumentar a participação de bioenergia sustentável no total da matriz energética para 18%.

Portanto, implementa-se tal cenário para o Brasil a partir de incentivos e subsídios capazes de induzir os segmentos

econômicos a alcançar as metas quantitativas de área (restaurada, recuperada e integrada) e de participação das diferentes

fontes renováveis na matriz e na produção elétrica. Não são implementados instrumentos de precificação de carbono

neste caso.

Como a definição sobre possíveis metas de redução de emissões pós-2030 será realizada apenas daqui a alguns anos,

optou-se por considerar nesse cenário que as ações acima não serão intensificadas após 2030, mas os incentivos fornecidos

até então às energias renováveis e à intensificação das atividades agropecuárias e recuperação de áreas degradas serão

mantidos até 2050.

III Em todos os cenários de implementação de políticas de mudança do clima, consideram-se para os demais países do mundo o mesmo tipo de política e o mesmo nível de redução em emissões. Como o objetivo é testar

diferentes formas de mitigar emissões no Brasil, deve-se manter os mesmos instrumentos e níveis de corte em emissões nas demais regiões, evitando assim que haja “contaminação” de escolhas alternativas de política nas demais

regiões sobre os resultados de diferentes políticas de mudança do clima sobre a economia brasileira.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 31

3. Cenário COP:

considera a implementação de políticas de mudança do clima como no cenário anterior (COP2030), contudo, intensificam-

se as ações de reduções em emissões após 2030, por meio do fornecimento de incentivos cada vez mais expressivos às

energias renováveis.

4. Cenário Tax: considera-se, no Brasil, a imposição de uma tributação IV à emissão de Gases de Efeito Estufa definida setorialmente para

atingir reduções de emissões de 37%, em relação a 2005, no ano de 2025 e 43% no ano de 2030. Impõe-se um mesmo

nível de corte em emissões em todos os setores, incluindo o consumo das famílias, sem a possibilidade de comercialização

de permissões de emissões entre os setores. No caso das emissões provenientes do desmatamento, consideram-se as

mesmas ações implementadas no cenário COP, qual seja, a de acabar com o desmatamento ilegal.V

Essas políticas de mudança do clima são estendidas até o ano de 2050, de forma a atingir um corte hipotético de 60%

nas emissões totais em relação ao ano de 2005. No caso das demais regiões do mundo, implementam-se as políticas de

mudança do clima via mercados domésticos de permissões de emissões, conhecidos como cap-and-trade, para atingir as

metas acordadas na COP21 e a continuidade de redução de emissões no período pós-2030VI.

O cenário considera o corte em emissões de todos os tipos de Gases de Efeito Estufa, utilizando como medida de conversão

de emissões de outros gases para o CO2 a métrica usual do Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential –

GWP), utilizada pelo MCTI nas Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil (MCTI, 2014).VII

5. Cenário Tax CO2:

considera-se no Brasil a imposição de impostos à emissão apenas do gás CO2, definidos setorialmente, de modo a atingir

reduções de emissões de 37%, em relação a 2005, no ano de 2025 e 43% no ano de 2030VIII . As emissões de outros

Gases de Efeito Estufa no Brasil não são limitadas nesse cenário. Como no cenário Tax, impõe-se um mesmo nível de corte

IV Utilizam-se aqui os termos “tributação” e “imposto” em vez de “taxa”, uma vez que o tributo (ou imposto) introduzido no modelo não tem destinação específica, ou seja, trata-se de um instrumento tributário de arrecadação

de impostos que gera uma receita para o setor público, em vez de um mecanismo de incentivo tecnológico ou de distribuição de renda a algum grupo específico.

V Emissões provenientes de mudanças no uso da terra e desmatamento são usualmente consideradas nas discussões internacionais em paralelo às medidas de redução de emissões por uso de combustíveis fósseis e por

processos industriais e agropecuários, o que justifica aqui tratar em todos os cenários das medidas de cortes em emissões de mudanças no uso da terra separadamente dos cortes em emissões nos demais setores.

VI Justifica-se a implementação de trajetórias mais ambiciosas de redução em emissões após 2030 pela constatação na literatura científica de que as iNDCs levadas a Paris não permitem, em conjunto, manter o aumento da

temperatura média do planeta abaixo dos 2ºC., como noticiado em http://www.scientificamerican.com/article/paris-talks-won-t-limit-global-warming-to-less-than-2-degrees-celsius/.

VII O GWP é uma medida de conversão para que se permitam a soma e a comparação de diferentes Gases de Efeito Estufa. Essa medida procura ponderar o potencial de aquecimento que um determinado Gás de Efeito Estufa

teria em relação ao CO2, permitindo assim uma medida de conversão de outros gases em equivalente CO

2. Como exemplo, pelo GWP, considera-se que 1 tonelada de gás metano (CH

4) seria equivalente a 21 toneladas de gás CO

2, em

termos do seu potencial de aquecimento.

VIII A imposição de tributação apenas sobre o gás CO2 permite comparar os custos de mitigação em relação ao cenário em que todos os GEEs são tributados. Como a complexidade da tributação sobre todos os GEEs é maior do

que apenas a tributação ao CO2, a comparação desses cenários é oportuna para indicar se tal complexidade é compensada por menores custos de mitigação.

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em emissões em todos os setores, incluindo o consumo das famílias, sem a possibilidade de comercialização de créditos

de carbono entre os setores. Emissões provenientes do desmatamento e nas demais regiões do mundo são tratadas

como no cenário Tax.

6. Cenário Cap-and-trade:

nesse cenário, impõe-se no Brasil um sistema de mercado de permissões de emissões (cap-and-trade), cobrindo todos

os Gases de Efeito Estufa, no qual todos os setores econômicos são obrigados a participar (com exceção do setor de

uso da terra, que continua reduzindo emissões pelo combate ao desmatamento nos biomas Amazônia e Cerrado).

Nesse sistema, créditos ou permissões de emissões são distribuídos às empresas e consumidores do país em uma

quantidade inferior às emissões observadas no cenário BAU, de sorte que a emissão total de Gases de Efeito Estufa

seja restringida a 37% no ano de 2025 e 43% no ano de 2030, em relação a 2005, já considerando nesse porcentual

a redução de emissões do desmatamento, que não participa do mercado de permissões de emissões. Os diferentes

setores econômicos podem comprar e vender créditos de emissões, sendo o preço de comercialização desses

créditos definido endogenamente, de acordo com a demanda de permissões pelos diferentes setores e o total de

créditos ofertados. Essa política de mudança do clima é estendida até o ano de 2050, com o objetivo de atingir um corte

total de 60% nas emissões em relação ao ano de 2005, incluindo os cortes em emissões de mudanças no uso

da terra. As demais regiões do mundo também implementam políticas de mudança do clima via mercados domésticos

de permissões de emissões, com vistas a atingir as metas acordadas na COP21 e a continuidade de redução

de emissões no período pós-2030

7. Cenário Cap-and-Trade CO2: esse cenário é similar ao cap-and-trade descrito anteriormente, com a diferença de que o mercado de emissões

é imposto apenas sobre as emissões do gás CO2. Mantêm-se as metas de redução de 37% nas emissões, em relação

a 2005, no ano de 2025, 43% no ano de 2030 e 50% no ano de 2050. A compra e a venda de créditos de CO2

determinam o preço de comercialização desses créditos. As demais regiões do mundo também implementam

mercados domésticos de permissões de emissões, porém, cobrindo todos os Gases de Efeito Estufa.

A Figura 2 apresenta a trajetória das emissões brasileiras de Gases de Efeito Estufa por setores no cenário

BAU. Os dados até 2012 são oficiais, oriundos das Estimativas Anuais de Emissões (MCTI, 2014), enquanto os

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 33

dados de 2014 são provenientes do Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (SEEG)IX . Os números,

a partir de 2015, são projeções do modelo utilizado na pesquisa. A Figura 2 apresenta também os níveis de cortes em

emissões esperados através das iNDCs brasileirasX.

Figura 2. Emissões de gases de efeito estufa no Brasil por setor de emissões.

Fontes: MCTI (2014) para os dados de 2005 a 2012XI; SEEGXII para o dado de 2014; projeções do modelo de 2015 a 2050.

IX Disponível em: http://seeg.eco.br/

X O terceiro inventário brasileiro de Gases de Efeito Estufa foi finalizado recentemente e considera uma metodologia atualizada na mensuração das emissões provenientes de mudanças no uso da terra. Neste novo inventário,

as emissões oficiais totais em 2005 foram de perto de 2,73 bilhões de ton. de CO2 eq., enquanto, no inventário anterior, essas emissões eram de 2,04 bilhões ton. de CO2 eq (MCTI, 2014). Tal mudança pode alterar o volume máximo de

emissões que se espera alcançar em 2025 e em 2030, a partir do cumprimento das iNDCs apresentadas no Acordo de Paris, uma vez que a meta brasileira foi especificada como meta porcentual em relação às emissões de Gases de

Efeito Estufa em 2005. Nesse caso, as emissões máximas deveriam atingir 1,72 bilhão de ton. de CO2 eq. em 2025 e 1,56 bilhão de ton. de CO2 eq. em 2030. Como o modelo projeta emissões de 1,72 bilhão de ton. de CO2 eq. em 2025 e

1,87 bilhão de ton. de CO2 eq. em 2030, para o cumprimento da meta brasileira não seria necessária uma redução efetiva de emissões em 2025, mas apenas perto de 17% de redução em 2030. Como as iNDCs brasileiras levadas a Paris

foram baseadas no 2º Inventário, optou-se por simular no presente Estudo as reduções em emissões com base nas emissões para 2005 deste 2º Inventário. Considerando o objetivo do presente Estudo, qual seja, apontar os impactos

das iNDCs e possíveis alternativas de políticas capazes de atingir níveis similares de cortes em emissões, as emissões esperadas para o novo inventário não alteram as conclusões do Estudo.

XI Os dados oficiais de 2005, 2011 e 2012 apresentados na Figura 1 dizem respeito ao 2º Inventário Brasileiro de Emissões e às estimativas oficiais de emissões do MCTI (MCTI, 2014), uma vez que, apesar da disponibilidade dos

dados do 3º Inventário Brasileiro, as INDCs brasileiras apresentadas na COP-21 em Paris consideram os dados oficiais de 2005 como contidos no 2º Inventário.

XII Disponível em: http://seeg.eco.br/

0

500

1000

1500

2000

2500

ResíduosMudança uso da terraAgropecuáriaProc. IndustriaisEnergia

Emissões Brasileiras

Emis

sões

de

GEE

s n

o Br

asil

em m

ilhõe

s de

ton

CO2 E

q.

2005 2011 2012 2014SEEG

2015 2020 2025META

2025 2030META

2030 2035 2040 2045 2050

37% 43%

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34

O modelo projeta uma trajetória crescente de emissões ao longo do tempo, com crescimento mais pronunciado daquelas

provenientes do uso de energia. Da mesma forma, as provenientes de mudanças no uso da terra e da agropecuária também

continuam expressivas no decorrer do período considerado. Vale notar que as emissões de mudanças no uso da terra

projetadas pelo modelo estão mais próximas das estimadas pelo SEEG, sendo bem mais relevantes do que as realizadas

pelo MCTI (2014).

As emissões projetadas pelo modelo refletem aspectos como a taxa de crescimento da economia brasileira, o padrão de

uso de combustíveis fósseis e suas mudanças ao longo do tempo, as alterações na competitividade dos setores em relação

aos seus concorrentes internacionais, a expansão da produção agrícola, dentre outros. A taxa de crescimento do PIB da

economia é o parâmetro macroeconômico que mais influencia a projeção de emissões.

A Tabela 3 apresenta as taxas de crescimento do PIB projetadas pelo modelo no período de 2015 a 2050, em relação ao PIB

de 2015, que refletem recentes revisões de organismos internacionais a respeito das perspectivas de crescimento do País.

No período entre 2015 e 2020, adotou-se uma variação ligeiramente superior ao valor de 2,09% previsto pelo FMI, uma

vez que taxas inferiores ao valor utilizado provocariam crescimento quase nulo nas emissões de Gases de Efeito Estufa, a

ponto de praticamente não justificar qualquer corte de emissões em 2020. Vale ressaltar, de qualquer modo, que, diante

das incertezas macroeconômicas na conjuntura política e econômica atual, as previsões para a variação do PIB brasileiro até

2020 mostram-se bastante voláteis.

Tabela 3 - Ta x a d e c re s c i m e n t o d o P I B b r a s i l e i ro p ro j e t a d a p e l o m o d e l o

Ano 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Taxa % 2,48 2,72 2,78 2,80 2,77 2,75 2,74

Fonte: projeções do modelo

A Figura 3 apresenta as projeções do modelo no tocante às mudanças no uso da terra no cenário BAU, acumuladas em

relação ao ano de 2015. Estas consideram níveis de desmatamento dos biomas Amazônia e Cerrado compatíveis com

os observados entre os anos 2000 e 2010, ou seja, desconsideram esforços contínuos e intensivos para a redução do

desmatamento, após 2010, uma vez que o cenário BAU tem a intenção de representar a ausência de políticas ativas capazes

de conter as emissões de Gases de Efeito Estufa.

Como exemplo de Iniciativas Relevantes, implementadas após 2010, está a aprovação do Novo Código Florestal, que ainda

não começou a produzir os seus efeitos, tanto pelo tempo de internalização da Lei pelos Estados quanto pelos prazos

estabelecidos para a recomposição ambiental.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 35

Por conseguinte, esse cenário é considerado pessimista e não se acredita que possa ocorrer, mas é relevante para

parametrizar os demais, bem como para lançar um alerta com relação à necessidade da implementação de políticas

públicas, em geral, e, em particular, da urgente regulamentação do Programa de Regularização Ambiental em todo o

território nacional.

Os resultados sugerem a expansão contínua da área de culturas agrícolas no País sobre todas as outras categorias de uso e

ocupação da terra, incluindo pastagens.

A área total de culturas teria uma expansão de 51 milhões de ha em 2015 para 95 milhões de ha em 2050, enquanto as

pastagens seriam reduzidas de 182 milhões de ha em 2015 para 175 milhões de ha em 2050.

Figura 3. Mudanças no uso da terra no cenário BAU em relação a 2015.

Fontes: projeções do modelo.

Como mencionado, as emissões de GEE observadas no cenário BAU serão utilizadas como linha de base para mensurar os

impactos dos demais cenários, os quais simulam medidas e políticas de reduções em emissões.

0 10000 20000 30000 40000 50000-50000 -40000 -30000 -20000 -10000

1000 ha

FlorestasCerrados e camposSilviculturaPecuáriaCulturas

2050

2045

2040

2035

2030

2025

2020

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36

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 37

R E S U LTA D O S

Esta seção apresenta e discute os resultados dos cenários implementados no modelo econômico.

5.1 Efeitos dos cenários sobre as emissões de Gases de Efeito Estufa

A Figura 4, a seguir, apresenta as trajetórias de emissões de GEE no Brasil nos diferentes cenários implementados. A linha

pontilhada escura, denominada “Target”, representa a trajetória de redução de emissões para se alcançarem as metas

defendidas pelo País no Acordo de Paris até 2030 e, após isso, para se atingirem, aproximadamente, 60% de redução nas

emissões brasileiras até 2050, em relação às emissões oficiais de 2005XIII.

As emissões de GEE no cenário COP2030 indicam que as iNDCs propostas pelo País seriam capazes de reduzir as emissões

brasileiras em níveis próximos às metas apresentadas até 2030, contudo, não seriam plenamente suficientes.

Uma possível razão para a curva de emissões do cenário COP2030 não atingir a curva Target seria o fato de o Inventário

Nacional de Emissões ainda não contabilizar as potenciais reduções em emissões e sequestro de carbono nos solos de

pastagens e áreas agrícolas advindas das ações de recuperação de pastagens degradadas e de intensificação lavoura-

pecuária-floresta.

Por isso, optou-se em não representar essas reduções e remoções no modelo, já que o debate metodológico para a sua

correta consideração ainda não foi concluído.

XIII As emissões de Gases de Efeito Estufa no ano de 2005 calculadas pelo 2º Inventário Brasileiro das Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa foram consideradas no presente Estudo como referência para

projeção das metas de redução de emissões, uma vez que as iNDCs brasileiras acordadas na COP21 foram calculadas com base nos dados desse 2º Inventário.

05

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38

Pela importância e grande potencial de mitigação dessas práticas conservacionistas ligadas à atividade

agrícola e à pecuária, torna-se imprescindível que as emissões e os sequestros de carbono nos solos de

pastagens e sistemas integrados agroflorestais sejam mensurados e adicionados ao Inventário Brasileiro, sob

o risco de que as reduções líquidas em emissões previstas nessas áreas não venham a ser consideradas para

o cumprimento das metas futuras.

Figura 4. Projeções de emissões totais de Gases de Efeito Estufa (em CO2 Eq.) no Brasil nos cenários implementados.

Fonte: projeções do modelo

Os resultados da Figura 4, para o cenário COP2030, evidenciam que as emissões voltarão a crescer após 2030, o que

significa que os incentivos dados até essa data para a expansão das fontes de energia renovável, recuperação de áreas

degradadas e de pastagens, além da integração lavoura-pecuária-floresta, embora sejam muito bem-sucedidos até aquela

data, não impedem, per se, o crescimento das emissões pós-2030, uma vez que as demais fontes de emissões, como as

oriundas do uso de energia fóssil e da economia em geral, continuam crescendo.

Já no cenário COP, a intensificação dos incentivos às reduções de emissões, nos moldes do que o País se propôs no Acordo

de Paris, permite estabilizar as emissões e impedir o seu crescimento. Contudo, não é possível atingir, com tais incentivos, a

Emissões totais de gases de efeito estufa

Milh

ões

de to

n CO

2 Eq.

500

1000

1500

2000

2500

CO2Cap-tradeTax_CO2Tax

COPCOP 2030MetaBAU

2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Ano

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 39

trajetória de redução de emissões aqui proposta, o que, da mesma forma como observado no cenário COP2030, demonstra

em certo momento o esgotamento do potencial de redução de emissões via incentivo praticamente exclusivo às fontes

renováveis, recuperação de áreas degradadas e redução do desmatamento. Esse resultado indica que as iNDCs brasileiras

propostas em Paris são capazes de contribuir para que o País atinja as metas de redução em emissões previstas até 2030,

entretanto, após 2030, será preciso buscar outras formas para a redução das emissões, caso o País esteja determinado a

continuar contribuindo para uma economia de baixo carbono no futuro.

Já os cenários de implementação de tributos setoriais às emissões de GEE (Tax) ou só de Carbono (Tax_CO2) e de

implementação de mercados de permissões tipo cap-and-trade (cap-and-trade e CO2) são aplicados no modelo de forma

a atingir as metas quantitativas propostas na COP21 de cortes em emissões, bem como intensificar esses cortes ao longo do

tempo. Isso acontece uma vez que essas políticas são definidas no modelo por meio de limites quantitativos em emissões,

que precisam ser cumpridos pelos diferentes agentes econômicos, com o pagamento de tributos (cenários Tax e Tax_CO2)

ou a partir de mercados de créditos (permissões) de emissões (cenários cap-and-trade e CO2). A diferença desses cenários

em relação aos cenários COP2030 e COP é de que todos os setores da economia devem contribuir com cortes em emissões,

em vez de o esforço ficar concentrado em apenas alguns setores ou atividades. Embora sejam projetados para atingir as

metas, possuem resultados bastante diferenciados na relação custo-benefício para a economia.

Os cenários de pagamento de tributos (Tax e Tax_CO2) e os de cap-and-trade (cenários cap-and-trade e CO2) não possuem

diferenças em termos de cortes em emissões, mas, sim, na forma de aplicação da política. Nos cenários de tributos, cada

setor precisa reduzir suas emissões em um dado porcentual, considerado aqui como sendo o mesmo nível de redução para

todos os setores, o que implicará pagamento de tributos ou impostos às emissões diferenciadas entre setores, já que os

custos de mitigação são bastante variáveis entre eles.

É importante salientar que um cenário futuro de cobrança de tributos às emissões pode não se basear na regra aqui

adotada, de cortes porcentuais em emissões iguais para todos os setores e atividades econômicas. De fato, a atual política

de mudança do clima brasileira, vigente até 2020, está baseada em planos setoriais, com metas de cortes em emissões

diferenciadas entre setores, porém, abrangem um número restrito de setores e atividades.

Como não há, hoje, nenhuma indicação de quais setores seriam incluídos e que níveis de cortes em emissões seriam

determinados em uma futura política à base de impostos setoriais às emissões, optou-se por simular aqui a aplicação dessa

política em todos os setores da economia, com a mesma meta porcentual de redução em emissões em cada um deles. Essa

escolha permitirá evidenciar como políticas setoriais podem provocar impactos bem diferentes entre atividades e setores da

economia, como já mencionado.

Já nos cenários de mercados de permissões de emissões, o preço a ser pago pela tonelada de carbono emitida é igual entre

todos os setores, mas cada setor é livre para abater suas emissões na quantidade que lhe convier, sendo a meta nacional de

redução de emissões assegurada pela soma das reduções setoriais.

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40

Um importante componente das políticas simuladas nos cenários COP e COP2030 é a redução em emissões provenientes

de mudanças no uso da terra. A Figura 5 apresenta as projeções das emissões de mudanças no uso da terra (desmatamento)

nos diferentes cenários. A figura ainda traz, por meio das barras horizontais, uma indicação do volume total de emissões que

seria necessário reduzir até 2030 para atingir a meta comprometida na COP21, deixando evidente a importância do controle

do desmatamento para o cumprimento dessa meta.

Figura 5. Projeções de emissões de Gases de Efeito Estufa (em CO2 Eq.) de mudanças no uso da terra no Brasil nos cenários implementados.

Fonte: projeções do modelo

Como consequência da redução em emissões via controle do desmatamento, o esforço de corte em emissões, nos demais

setores e atividades da economia, necessário para que as metas de Paris sejam atingidas, é bastante reduzido até 2030.

Tal esforço resume-se a cortes de 3% nas emissões dos demais setores da economia em 2020, 11% em 2025 e 15% em

2030. Já a partir de 2035, quando se esgotam as oportunidades de redução de emissões de mudanças no uso da terra, os

cortes em emissões pelos demais setores e atividades da economia precisam ser de 22% naquele ano, alcançando até 44%

em 2050.

A Figura 6 apresenta as trajetórias de emissões de Gases de Efeito Estufa da agropecuária nos diferentes cenários simulados.

As emissões desse setor não sofrem praticamente nenhuma mudança no cenário COP2030, já que, como mencionado,

não são contabilizados os potenciais sequestros e reduções em emissões por acúmulo de carbono nos solos de pastagens

Milh

ões

de to

n CO

2 Eq.

Cortes em emissões totais previstos na política

CO2Cap-tradeTax_CO2Tax

COPCOP 2030MetaBAU

0

100

200

300

400

500

600

700

800

2015

3% 11% 17% 24% 30% 37% 45%

2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Emissões a abater pelos demais setores

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 41

e de sistemas integrados no inventário brasileiro. Dessa forma, os incentivos a essas atividades apenas contribuem para

intensificar a agropecuária e facilitar a recuperação e o reflorestamento de áreas de vegetação florestal e a redução do

desmatamento.

No cenário COP2030, as emissões da agropecuária são estabilizadas em cerca de 500 milhões de Ton. CO2 eq. após 2030,

como resultado de gastos cada vez maiores com incentivos a fontes renováveis de energia e intensificação na agropecuária.

Os cenários de implementação de mercados de carbono (cenários cap-and-trade e CO2) estabilizam as emissões da

agropecuária em cerca de 400 milhões de Ton. CO2 eq., enquanto os cenários de tributos às emissões (Tax e Tax_CO

2)

promovem menores reduções em emissões do que no caso de mercados de carbono até 2035, e depois diminuições mais

pronunciadas.

Figura 6. Projeções de emissões de Gases de Efeito Estufa (em CO2 Eq.) das atividades agropecuárias no Brasil nos cenários implementados.

Fonte: projeções do modelo

As diferenças entre os resultados dos cenários de tributos e de mercados de carbono indicam que a agropecuária teria

oportunidades mais baratas de cortes em emissões do que o restante da economia, tornando-se uma fornecedora líquida

Milh

ões

de to

n CO

2 Eq.

Ano

CO2Cap-tradeTax_CO2Tax

COPCOP 2030BAU

300

400

500

600

700

800

2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

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42

de créditos de emissões até 2035. Contudo, após aquele ano, a agropecuária passa a demandar mais créditos de carbono

do que possui, transformando-se em uma compradora líquida.

As emissões de Gases de Efeito Estufa provenientes do uso de energia nos diferentes cenários simulados são apresentadas

na Figura 7. Os incentivos às fontes renováveis de energia são capazes de reduzir as emissões associadas ao uso de energia

em cerca de 50 milhões a 60 milhões de Ton. CO2 eq. até 2035 (cenário COP2030). Para reduções mais pronunciadas,

é necessário intensificar os incentivos às fontes renováveis após essa data. No entanto, os incentivos diretos às fontes

renováveis produzem efeitos positivos até um determinado limite, quando, a partir do qual, o setor atinge o seu pleno

potencial de mitigação. Nesse caso, a continuidade da política de ampliação das medidas de incentivos diretos, após 2040,

passa a não ser mais custo-efetiva, ou seja, a despeito dos gastos crescentes, os setores renováveis passam a responder

menos aos estímulos, devido às restrições físicas e técnicas.

Figura 7. Projeções de emissões de Gases de Efeito Estufa (em CO2 Eq.) do consumo de energia no Brasil nos cenários implementados.

Fonte: projeções do modelo

Milh

ões

de to

n CO

2 Eq.

CO2Cap-tradeTax_CO2Tax

COPCOP 2030BAU

0

200

400

600

800

1000

2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Ano

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 43

Ainda, a continuidade do incremento dos gastos governamentais para essa finalidade significaria o redirecionamento de

gastos públicos que poderiam ser utilizados para outros fins na economia, já que os recursos são limitados, bem como a

redução de emprego de mão de obra e investimentos privados em setores que não recebem tais estímulos. Esses efeitos,

em conjunto, explicam a queda na atividade econômica nesse cenário.

Os cenários de mercados de carbono (cenários cap-and-trade e CO2) permitem o uso de fontes fósseis de energia por um

período maior que os cenários de tributação às emissões (cenários Tax e Tax_CO2), indicando que é possível obter créditos

de emissões de outras atividades que possuem custos de mitigação relativamente mais baixos, como da agropecuária, por

exemplo, e assim manter um nível um pouco maior de uso das energias de base fóssil.

Ademais, o cenário de cap-and-trade sobre todos os gases permite menores cortes em emissões provenientes da queima

de combustíveis fósseis do que o mercado de carbono restrito a emissões do gás CO2, já que, nesse último, não há como

gerar e trocar créditos de emissões provenientes de cortes em outros Gases de Efeito Estufa diferentes do CO2, o que torna

o mercado menos flexível.

Figura 8. Projeções de emissões de Gases de Efeito Estufa (em CO2 Eq.) advindos de processos industriais e de resíduos no Brasil nos cenários implementados.

Fonte: projeções do modelo

Emissões de outros GHGs e CO2 não fóssil

Milh

ões

de to

n CO

2 Eq.

CO2Cap-tradeTax_CO2Tax

COPCOP 2030BAU

2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 20500

50

100

150

200

250

Ano

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44

A Figura 8 mostra as emissões de Gases de Efeito Estufa e CO2 provenientes das demais atividades, ou seja, oriundas

dos processos industriais e de resíduos, não atrelados à queima de combustíveis fósseis, à atividade agropecuária e ao

desmatamento. Os cenários COP e COP2030 praticamente não produzem qualquer mudança na trajetória dessas emissões

até 2035. A partir daí, o cenário COP gera menores emissões que o cenário BAU, por conta de efeitos negativos sobre a

atividade econômica como um todo.

Já os cenários de tributação das emissões e de mercados tipo cap-and-trade permitem a redução dessas emissões em

até 40 milhões de Ton. CO2 eq. em 2030 e 70 milhões de Ton. CO

2 eq. em 2050. As reduções ligeiramente maiores nessas

emissões sob os cenários de cap-and-trade até 2035 revelam que esses setores seriam, em conjunto, ofertadores líquidos

de créditos de emissões, por possuírem oportunidades de mitigação relativamente mais baratas do que outros setores,

como o de energia. No entanto, após 2035, tornam-se demandantes líquidos de créditos de emissões.

5.2 Impactos sobre a atividade econômica agregada

Os diferentes cenários de políticas de mudança do clima provocam alterações nos preços relativos de insumos energéticos,

bem como de produtos e processos intensivos em emissões, modificando as escolhas de consumidores e produtores. Essas

alterações nas escolhas determinam os resultados sobre a atividade econômica agregada, mensurada aqui pelo Produto

Interno Bruto (PIB) da economia, ou seja, a soma do valor de todos os bens e serviços finais produzidos no País no período

de um ano.

A Figura 9 apresenta os resultados dos diferentes cenários sobre o Produto Interno Bruto brasileiro, em relação ao PIB

projetado no cenário BAU, até 2030. Os cenários implementados possuem impactos relativamente modestos sobre o PIB,

levando a uma redução de até 0,8% em relação ao PIB do cenário de referência (BAU), para um corte em emissões de até 43%

em relação ao ano de 2005, que equivalem às reduções de até 39% em relação às emissões do cenário BAU no ano de 2030.

O impacto negativo em relação ao PIB, ainda que pequeno, representa os custos agregados de mudanças de processos e

adoção de tecnologias que possibilitem atingir metas de redução em emissões de GEE no Brasil, ou seja, são os custos de

transição para uma economia de baixo carbono. É relevante afirmar que isso não significa uma taxa de crescimento negativa

do PIB, mas, sim, que o PIB cresce a uma taxa menor que no cenário BAU, na ausência de políticas de mudança do climaXIV.

Nota-se, contudo, que as diferentes opções dessas políticas acarretam custos econômicos bastante diversos. Se as iNDCs

anunciadas pelo País (cenário COP) quase não trazem custos agregados até 2025, e perdas de cerca de 0,7% do PIB em

XIV A taxa de crescimento do PIB entre os anos de 2015 e 2030 projetada pelo modelo EPPA passa de 2,48% ao ano no cenário BAU para 2,42% no cenário de maiores perdas da Figura 8.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 45

2030, em relação ao PIB do cenário BAU, o que pode ser considerado baixo, por outro lado, possuem um alcance limitado:

atingem uma redução de apenas 37% nas emissões em relação ao observado no ano de 2005, porcentual inferior à

meta de redução de 43% sinalizada na COP de Paris para aquele ano. De todo modo, é importante voltar a esclarecer que

os resultados poderiam ser significativamente diferentes, caso o País pudesse contabilizar o sequestro e a redução das

emissões advindas das boas práticas agrícolas.

Vale ressaltar que esses resultados são os mesmos para o cenário COP2030, não mostrado na figura, uma vez que os

cortes em emissões são iguais em ambos os cenários até aquele ano. Já os cenários de tributação setorial às emissões

(cenários Tax e Tax_CO2) permitem alcançar as metas acordadas, porém, geram impactos mais significativos ao PIB, que

poderá ficar 0,35% menor ao projetado no cenário BAU para 2025 e até 0,8% menor em 2030.

No entanto, as mesmas metas podem ser alcançadas a custos bem menores, de cerca de 0,15% do PIB, no caso dos

cenários de mercados de créditos de emissões (cenários cap-and-trade e CO2), evidenciando o quão mais custo-efetivos

são os mecanismos de mercado de permissões de emissões em relação à imposição de metas setoriais individualizadas de

tributação de emissões de GEE ou de carbono.

Figura 9. Mudanças no PIB (%) nos cenários de políticas de mudança do clima em relação ao cenário BAU até 2030.

Fonte: projeções do modelo

Impactos sobre o PIB(em relação ao cenário BAU)

Var

iaçã

o em

%

CO2Cap-tradeTax_CO2TaxCOP

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

2015 2025 2030

Ano

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46

As desacelerações na taxa de crescimento do PIB devem-se: aos aumentos em custo de produção, associados ao

pagamento de tributos e créditos de emissões nas atividades que emitem Gases de Efeito Estufa; à necessidade de redução

no consumo de energia e de aumento na eficiência do seu uso; e à necessidade de investimentos em capital, trabalho e

outros insumos na substituição de energia, insumos e processos emissores de Gases de Efeito Estufa.XV

No caso do cenário de política COP, os custos também estão associados aos incentivos dados às fontes energéticas

renováveis, na forma de subsídios, que, como mencionado anteriormente, produzem efeitos muito positivos até um

determinado limite, a partir do qual passam a não gerar os mesmos resultados.

Os impactos que um maior aporte de recursos públicos – na forma de incentivos que ultrapassem o limite das fontes

renováveis – pode trazer à economia ficam mais evidentes na Figura 10. A partir de 2040, os mesmos estímulos, que

produziram efeitos muito positivos no período anterior, passariam a provocar distorções na alocação de recursos públicos e

privados na direção desses setores, especialmente com o crescimento dos montantes empregados que não conseguiriam

responder com o provimento de energia em quantidade suficiente para atender à demanda.

Figura 10. Mudanças no PIB (%) nos cenários de políticas de mudança do clima em relação ao cenário BAU de 2035 a 2050.

Fonte: projeções do modelo

XV Deve-se ressaltar, contudo, que esses resultados não levam em conta os benefícios associados ao controle das emissões, ou seja, à redução nos possíveis danos e prejuízos que seriam causados pelas mudanças do clima no

cenário BAU, o que caracterizaria uma análise de custo-benefício. A falta de informação e a incerteza sobre os potenciais danos que as mudanças do clima causariam nos mais diferentes setores e atividades, bem como no momento

em que tais perdas se materializariam, limitam o desenvolvimento de análises de custo-benefício.

Impactos sobre o PIB(em relação ao cenário BAU)

Var

iaçã

o em

%

CO2Cap-tradeTax_CO2TaxCOP 2030 COP

2035 2040 2045 2050-20

-15

-10

-5

0

Ano

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 47

Isso acontece devido às limitações de ordem tecnológica e econômica existentes no caso das fontes eólica e solar, como

intermitência, por exemplo, e de capacidade potencial nos casos das fontes hídricas e de biomassa. A taxa de crescimento

do PIB desacelera no cenário de política em relação ao cenário BAU, ou seja, o nível do PIB chega a reduzir em até 20% em

relação ao PIB do cenário de referência em 2050XVI.

Esse resultado, juntamente com os evidenciados na Figura 3, de insucesso do cenário COP em atingir as metas de reduções

em emissões após 2035, sinaliza que o modelo de política de mudança do clima desenhado pelo País no Acordo de Paris

possui um limite de alcance, que se esgota a partir de 2030. Insistir nesse modelo (aumento de incentivos com recursos

públicos) de estímulos crescentes às fontes renováveis para intensificações futuras nos cortes às emissões pode trazer

significativos prejuízos à atividade econômica. Dessa forma, a promoção às fontes renováveis precisa ser definida e

ponderada considerando seus limites de custos e de capacidade, bem como nos potenciais de contribuição para a matriz

energética brasileira, de modo a buscar a sua participação ótima.

Já os cenários Tax e Tax_CO2 de impostos às emissões trazem custos à economia que se refletem em um PIB até 1,3% menor

que o projetado em 2035 e até 6% menor que o projetado em 2050, enquanto os cenários de mercados de créditos de

emissões geram custos, analogamente, de 0,5% do PIB em 2035 a 3,2% em 2050.

Esses resultados reforçam os sinais de ganhos de eficiência na economia e na mitigação das emissões no caso de adoção

de políticas de cap-and-trade.

Os custos mais elevados da taxação de emissões devem-se à aplicação dessa política, por meio de metas setoriais de

redução em emissões iguais para todos os setores, sem a possibilidade de comercialização de permissões de emissões

entre setores. Na política de cap-and-trade (mercados de créditos), permite-se que setores com menores custos de

mitigação realizem maiores esforços de redução em emissões, gerando créditos que podem ser vendidos a setores com

elevados custos de mitigação, facultando que esses últimos reduzam menos suas emissões e gastem poucos recursos com

processos muitos dispendiosos de mitigação. Uma consequência indireta importante da política de cap-and-trade, que

contribui para que os custos econômicos agregados de políticas de mudança do clima sejam menores, é que os setores

e atividades econômicas mais intensivos em emissões, ao se depararem com custos menores de mitigação, através da

compra de créditos de emissões, sofrem menores impactos negativos em termos de competitividade internacional.

Os efeitos da adoção de diferentes opções de políticas de mudança do clima sobre a competitividade do País perante os

demais parceiros internacionais ficam mais evidentes quando se comparam os resultados sobre o PIB de diferentes países.

A Figura 11 apresenta tais resultados para um grupo selecionado de países e regiões do modelo, relativos ao período de

2020 a 2030, enquanto a Figura 12 considera o período de 2035 a 2050.

XVI A taxa de crescimento do PIB de 2015 a 2050 no cenário COP seria de 2,08% ao ano, enquanto no cenário BAU essa taxa é de 2,74%.

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48

Essas figuras sugerem que os esforços de mitigação propostos pelo Brasil trariam desacelerações do PIB similares às que

seriam observadas na União Europeia (região EUR) e na América Latina (LAM), no caso de implementação do cenário COP

até 2030, e na implementação de uma política de cap-and-trade de 2035 a 2050XVII. Nota-se, contudo, que algumas

regiões sofreriam impactos bem menores no PIB, como a China (CHN), ou até ganhos em PIB, como no caso da Índia (IND)

até 2040, devido à baixa ambição desses países em reduzir emissões de GEE, conforme demonstrado no Acordo de Paris.

Figura 11. Mudanças no PIB (%) nos cenários de políticas de mudança do clima em relação ao cenário BAU de 2020 a 2030 para países selecionados.

Fonte: projeções do modelo

XVII Os resultados do cenário COP para o Brasil não são apresentados na Figura 12 para evitar distorções na escala do gráfico, uma vez que as perdas para o País nesse cenário chegam a 20% do PIB em 2050.

Impactos sobre o PIB - comparação com outros países(em relação ao cenário BAU)

Var

iaçã

o em

%

LAMINDCHINEURUSA BRA (CAP-TRADE) BRA (COP)

2020 2025 2030-1,5

-1,2

-0,9

-0,6

-0,3

0,0

0,3

Ano

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 49

Figura 12. Mudanças no PIB (%) nos cenários de políticas de mudança do clima em relação ao cenário BAU de 2035 a 2050 para países selecionados.

Fonte: projeções do modelo

5.3. Impostos às emissões e preço dos créditos de carbono

Nos cenários de cap-and-trade (mercados de carbono) e de tributação das emissões, a determinação de níveis de cortes em

emissões permite ao modelo gerar endogenamente o preço de carbono ou o nível de tributo (ou imposto) necessário para

que a economia (no caso dos mercados de carbono) ou o setor específico (no caso de impostos) atinja a meta de redução

em emissões. O preço dos créditos de carbono é consequência das forças de oferta e demanda por esses créditos pelos

diferentes setores, no caso da política de cap-and-trade. Da mesma forma, nos cenários Tax, o nível do tributo cobrado é

fruto do esforço do setor em produzir minimizando as emissões geradas, de maneira a respeitar os cortes em emissões

estabelecidos, o que equivale ao processo de demandar créditos setoriais de carbono diante de uma oferta restrita destes.

O preço final do carbono, ou o tributo a ser pago, bem como o desempenho de cada setor diante da restrição em emissões,

é consequência de vários processos combinados: i) as possibilidades de mitigação advindas das opções tecnológicas e

Impactos sobre o PIB - comparação com outros países(em relação ao cenário BAU)

Var

iaçã

o em

%

LAMINDCHINEURUSA BRA (CAP-TRADE)

2035 2040 2045 2050

-3,5

-3,0

-2,5

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

Ano

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50

sistemas de produção disponíveis, considerando o custo-efetividade dessas opções e sistemas (incorporados no modelo

com base nas curvas marginais de abatimento); ii) a importância relativa de cada setor como insumo para os demais setores

da economia ou como bem para o consumo final, assim como a sua capacidade de substituir ou ser substituído por outros

insumos ou bens; iii) a importância dos produtos e serviços provenientes dos demais setores e atividades como insumos no

processo produtivo do setor em análise, considerando as possibilidades de substituição e a complementaridade entre tais

insumos e como as políticas tornam tais insumos mais ou menos baratos para o setor em questão; iv) a competição entre

os diferentes setores e atividades por fatores produtivos limitados, como capital, trabalho e terra, e insumos de produção,

como energia e matérias-primas, assim como a competição com produtos similares importados.

Dessa forma, o tributo ou imposto ao carbono a ser pago por um determinado setor é o resultado dessas diversas forças,

que impactam a demanda de permissões de carbono pelo setor, dada a oferta limitada de créditos setoriais de carbono.

Como exemplo, um determinado setor pode ter de arcar com elevados tributos ou impostos às emissões, se o produto

ou serviço desse setor for essencial para o consumo das famílias e estas não tiverem opções para substituir tal produto ou

serviço por outros, e, ao mesmo tempo, tal setor tiver poucas e caras opções tecnológicas para abater suas emissões. Por

outro lado, um setor que possui produtos ou serviços facilmente substituíveis, ou mesmo supérfluos para seus consumidores,

provavelmente terá de pagar baixos impostos às emissões mesmo que tenha poucas possibilidades de abatimento de

emissões a baixo custo, uma vez que perderá competitividade na economia e será pouco demandado pelos consumidores.

Os resultados do modelo quanto aos impostos a serem pagos por tonelada de emissão de Gases de Efeito Estufa pelos

diferentes setores no cenário Tax, bem como o preço dos créditos de carbono no cenário cap-and-trade, para o período

de 2020 a 2030, são apresentados na Figura 13. Uma primeira evidência dessa figura é a grande disparidade de valores de

impostos setoriais ao carbono para garantir o mesmo nível porcentual de corte em emissões em todos eles. Um conjunto

de três setores (Serviços, Indústria de Alimentos e Transportes) depara-se com impostos entre US$ 50 e US$ 60 em 2030,

enquanto os demais setores precisam arcar com impostos inferiores a US$ 10. Exceção apenas para o setor de Siderurgia,

que enfrenta um imposto de US$ 20 em 2030.

Essas diferenças refletem, como discutido anteriormente, tanto as diversas possiblidades de mitigação de cada setor,

incluindo a capacidade de substituir energias fósseis por renováveis, quanto os variados graus de essencialidade destes

como insumos para outros setores e consumidores e necessidades de utilização de insumos e serviços dos demais, o que

afeta a necessidade de emitir maiores ou menores quantidades de GEE (demanda por permissões de emissão) diante da

restrição de emissões (oferta restrita de permissões). A baixa capacidade de mitigar emissões e a essencialidade para o

consumidor final explicam os maiores impostos a serem pagos pelos três setores mencionados.

Uma segunda observação de grande relevância a partir da Figura 13 é sobre o preço dos créditos de carbono no caso

da política de cap-and-trade. Esse preço é de apenas US$ 2,5 em 2030 para garantir uma redução de 15% nas emissões

agregadas de todos os setores, excluindo as emissões de mudanças no uso da terra, como já discutido quando da

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 51

apresentação da Figura 5. Isso evidencia o quão mais eficiente é a política de mercados de créditos de emissões em

comparação com o estabelecimento de cortes setoriais via impostos de carbono, como os observados no cenário Tax.

Figura 13. Preço do carbono sob o cenário Cap-and-Trade e impostos às emissões de gases de efeito estufa no cenário Tax até 2030.

Fonte: projeções do modelo

A Figura 14 apresenta os resultados de preços do carbono e impostos setoriais até 2050, reforçando o resultado da

Figura 13. Os impostos ao carbono atingem valores superiores a US$ 250 por Ton. CO2

eq. em 2050 para a maioria dos

setores, de modo a atingir cortes de 44% nas emissões, enquanto esse valor chega a apenas US$ 103 no cenário cap-and-

trade. A possibilidade do comércio de créditos de carbono permite um melhor aproveitamento dos potenciais de mitigação

mais baratos em alguns setores, evitando assim que aqueles setores com menores opções de mitigação paguem elevados

impostos às emissões e impactem com maior intensidade a atividade econômica agregada.

Outra lição importante apreendida dessas figuras é que, sob uma política de cortes em emissões setorialmente definidas,

sem mecanismos de troca de permissões entre setores, corre-se o risco de uma busca contínua por isenções e tratamentos

diferenciados pelos setores que sofrem com uma tributação de carbono mais elevada, o que traria maiores custos para

aqueles setores não isentos, caso outros fossem excluídos da política, além da complicação na implementação da política e

o risco de não se atingir a meta agregada dos cortes em emissões.

Preços e impostos ao carbonocenário tax

US$

por

ton.

de

CO2

Eq

2020 2025 2030

0

10

20

30

40

50

60

70

Serviços

Transportes

Alimentos

Siderurgia

Refino Pet.

Minerais não met.

Químicos

Eletricidade

Culturas

Famílias

Cap-trade

2,5

0,10

Ano

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52

Figura 14. Preço do carbono sob o cenário Cap-and-Trade e impostos às emissões de gases de efeito estufa no cenário Tax até 2050.

Fonte: projeções do modelo

5.5. Situação do Mercado de Carbono nos demais países

De acordo com o World Bank (2015), os esforços de precificação de carbono estavam presentes ou já agendados para se

iniciarem em cerca de 39 jurisdições nacionais e 23 cidades, estados e regiões no ano de 2015. Essas iniciativas cobriam

cerca de 7 Gigatoneladas (Gt) de emissões de Gases de Efeito Estufa, mensuradas em CO2 equivalente (CO

2e), que significam,

aproximadamente, 12% das emissões globais. Isso representaria um crescimento de cerca de três vezes, numa década, em

relação às emissões cobertas por sistemas de precificação de carbono.

Preços e impostos ao carbonocenário cap-and-trade

US$

por

ton.

de

CO2

Eq

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Cap-trade

Culturas

Serviços

Famílias

Transportes

Minerais não met.

Siderurgia

Metais não ferros.

Químicos

Alimentos

Refino Pet.

Eletricidade

2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

0 0 3

37

66

103

14

Ano

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 53

Entre as iniciativas nacionais, 21 correspondem a sistemas de comércio de emissões (ETS, na sigla em inglês), 4 seriam de

taxação ao carbono e 14 sistemas mistos, com impostos e ETS. No nível subnacional, 22 iniciativas são de ETS, enquanto

apenas uma é de taxação do carbono.

O sistema de comércio de emissões europeu, o EU ETS, é o maior mecanismo de precificação de carbono existente até o

momento, abrangendo cerca de 2 Gt CO2e. Contudo, a China e os EUA possuem as maiores coberturas quando considerados

países individuais, da ordem de 1 Gt CO2e e 0,5 Gt CO

2e, respectivamente. Na China, essas emissões estão cobertas em sete

iniciativas piloto de ETS. Outras experiências relevantes incluem um ETS iniciado na Coreia do Sul, programas de cap-and-

trade na Califórnia (EUA), e em Quebec e Ontário (Canadá).

Países como França e México, por sua vez, implementam políticas de taxação do carbono. O mesmo está em discussão para

implementação no Chile. A precificação de carbono nos diferentes países e regiões, em implementação ou agendadas para

seu início, deve somar um valor estimado de cerca de US$ 50 bilhões em 2015, sendo 70% desse valor associado a ETS e

30% a impostos às emissões. Os preços pagos pela tonelada de carbono variam consideravelmente entre as diferentes

iniciativas: os impostos ao carbono no México e na Polônia foram inferiores a US$ 1 em 2015; custavam entre US$ 1 e US$

10 nas diferentes províncias chinesas, nos ETSs europeu, japonês, neozelandês, coreano e suíço, bem como nos impostos

ao carbono em Portugal, Islândia, Noruega e Letônia; atingiam valores entre US$ 12 e US$ 52 em taxações de carbono em

países como França, Eslovênia, Irlanda, Dinamarca, Finlândia e Noruega; e chegaram ao máximo valor de US$ 130 com

imposto ao carbono na Suécia.

O estudo do World Bank destaca ainda que é crescente o uso da estratégia de precificação de carbono no ambiente interno

de grandes empresas, como uma forma de administração e mitigação de riscos diante de possíveis regulações futuras de

precificação de carbono. Ainda, auxilia a identificação de oportunidades de redução de custos e aumento de rentabilidade

por meio de investimentos de baixa emissão de carbono.

Essa gama de iniciativas sugere que as estratégias de precificação de emissões estão ganhando importância no mundo, seja

em países desenvolvidos, seja em economias em desenvolvimento.

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54

C O N C L U S Õ E S

Buscou-se neste Estudo quantificar os potenciais efeitos que a adoção de políticas públicas nacionais e internacionais,

que vierem a ser adotadas em decorrência do Acordo de Paris, traria para a economia brasileira, especialmente para os

principais setores produtivos.

Justifica-se tal esforço pela necessidade de informações e análises mais precisas e abrangentes que permitam embasamento

para o adequado posicionamento da FIESP em relação a tais políticas e a defesa de alternativas que permitam uma transição

para a economia de baixo carbono a menores custos econômicos e sociais, bem como mantenham a integridade ambiental

e a competitividade da indústria.

Além disso, com o propósito de garantir um adequado planejamento de médio e longo prazo, em termos do atendimento

às metas de redução de emissões e seus reflexos em relação ao PIB, para diferentes opções de cenários e medidas a serem

implementadas, foram avaliadas não somente as propostas apresentadas até 2030, mas, especialmente, no horizonte de

longo prazo, até 2050.

Dos resultados obtidos, podemos destacar que:

a) Em termos de redução de emissões

Verifica-se que as metas de 37% e 43% de reduções das emissões nos anos de 2025 e 2030, respectivamente, em relação

às emissões de 2005, baseadas no controle do desmatamento, recuperação de áreas degradadas, repovoamento florestal

e aumento da participação de fontes renováveis, não seriam integralmente alcançadas.

Essa constatação depreende-se em razão de o Inventário Nacional de Emissões ainda não contabilizar o potencial sequestro

de carbono nos solos de pastagens e áreas agrícolas advindo das ações de recuperação de pastagens degradadas e de

intensificação da lavoura-pecuária-floresta.

06

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 55

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Caso essa limitação seja superada, é possível atingir por completo as metas brasileiras assumidas em Paris, sem a

necessidade de maiores esforços pelos demais segmentos.

Contudo, os potenciais de mitigação de baixo custo advindos de mudanças no uso da terra esgotam-se em

2030, o que significa que futuros compromissos de redução de emissões pelo País vão implicar a adoção

de uma estratégia mais abrangente, que inclua os demais setores econômicos.

Neste caso, os resultados estimados indicam a necessidade de cortes nas emissões desses setores de até 45%, considerando

os cortes hipotéticos simulados no Estudo para o horizonte de 2050, o que significa uma ampla “descarbonização” da

economia, por intermédio de mudanças tecnológicas nos processos produtivos industriais e agropecuários, na produção

e uso de energia e nos padrões de consumo. Tal transformação, que exige relevante esforço, requer investimentos em

pesquisa e desenvolvimento em todas as frentes de produção e gestão pública e privada, incluindo mecanismos regulatórios,

incentivos e diretrizes.

b) Em termos de resultados econômicos

Os cenários de políticas de mudança do clima simulados indicam impactos reduzidos sobre o PIB brasileiro, em

relação ao PIB do cenário de referência, até 2030:

• inferiores a 0,2% sob uma política de cap-and-trade;

• de 0,7% no caso da política acordada em Paris; e

• de 0,8% quando da imposição de cortes em emissões iguais para todos os setores, com a cobrança de tributos ou impostos

às emissões.

Após 2030, os cenários adotados indicam que os impactos de cap-and-trade chegam a uma redução de 3% do PIB e mais

que o dobro desse valor – 6,5%, no caso de impostos setoriais às emissões. Já uma política nos moldes do acordado em

Paris, com incentivos cada vez mais elevados às fontes renováveis de energia, geraria reduções de até 18% no PIB, contudo,

sem atingir o mesmo nível de cortes de emissões que os demais cenários.

Esses resultados confirmam o esgotamento desse tipo de política até 2030, não apenas por conta da trajetória

de alocação de recursos necessária para os incentivos às fontes renováveis, mas também pela ineficiência

crescente de se estimularem setores além das suas capacidades técnicas e físicas.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 57

c) Em termos da competitividade nacional

Na comparação entre os países, os resultados obtidos demonstram que uma política de cap-and-trade traz custos

similares aos que a Europa e a América Latina teriam se implementassem suas metas do Acordo de Paris, enquanto China

e Índia sofrem menores custos por terem se comprometido com metas pouco ambiciosas, o que pode gerar perda da

competitividade do Brasil por ter metas mais ambiciosas.

Dessa forma, torna-se necessário um esforço conjunto de diplomacia internacional, advogando pela maior contribuição

desses países emergentes com o combate à mudança do clima.

d) Em termos de precificação do carbono

O Estudo demonstra que o preço do carbono a ser pago pelos diferentes setores brasileiros, na forma de tributos

ou impostos, seria de cerca de US$ 10 até 2030, com apenas quatro setoresXVIII com preços mais elevados, entre US$ 20

e US$ 50.

Entretanto, se for adotada uma política de mercado de carbono do tipo cap-and-trade, o preço do carbono seria de apenas

US$ 2,5 até 2030, revelando o quão mais custo-efetiva seria essa política em comparação com metas setoriais.

Ao se avaliar o horizonte de 2050, de acordo com as premissas adotadas, os preços do carbono chegariam a US$ 103 numa

economia de mercado do tipo cap-and-trade, enquanto os impostos ao carbono ultrapassariam US$ 190 para a maioria

dos setores, chegando a mais de US$ 350.

Essa grande diferença entre os valores da tonelada de emissões é consequência da existência de diversas oportunidades de

mitigação a baixos custos em alguns setores específicos da economia, que poderiam ser mais bem aproveitadas, caso os

setores pudessem negociar seus créditos de carbono.

Os resultados, nesse aspecto específico, implicam a necessidade de se aprofundarem estudos sobre as modelagens possíveis

relativas à precificação do carbono, em especial com relação aos melhores arranjos que contemplem a estruturação de um

ambiente regulatório com segurança jurídica, transparência e dinamismo, particularmente após 2030.

XVIII Setores do modelo agrupados como Serviços, Transportes, Alimentos e Siderurgia.

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58

Nesse sentido, julga-se ser oportuno o aprofundamento das discussões sobre a proposição de um sistema que permita

maior flexibilização no estabelecimento de regras que contemplem a dinâmica do mercado, bem como a identificação de

instrumentos e instituições necessários para a futura implementação de um mercado amplo de permissões de emissões

do tipo cap-and-trade no Brasil.

Até lá, é preciso garantir o estímulo às fontes renováveis e reduções de emissões de mudanças no uso da terra por serem

mais custo-efetivas, porém, torna-se evidente que serão imprescindíveis instrumentos mais abrangentes e eficientes para

que o País continue sua trajetória na direção de uma economia de baixo carbono.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 59

R I S C O S E O P O R T U N I D A D E S

A transição para uma economia global de baixo carbono é uma realidade e já está sendo implantada em muitos países,

constituindo objeto de consideração no planejamento e estratégias de investimentos públicos e privados de vários

segmentos, tanto do setor governamental quanto do financeiro e empresarial.

O presente Estudo explorou algumas políticas e ações alternativas de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa,

como os incentivos a tecnologias e processos que reduzem emissões e a precificação do carbono, por meio da tributação

das emissões e do mercado de créditos de emissões. Cada uma dessas alternativas possui vantagens e desvantagens.

Os incentivos a tecnologias e processos trazem o benefício de estimular o desenvolvimento e a adoção de tecnologias e

práticas de baixa emissão, além de implementação relativamente simples. Contudo, costumam restringir o leque de setores

e atividades envolvidos, além de imporem à sociedade o custo de arcar com tais incentivos. Dessa forma, não há como

garantir que a escolha dos setores e atividades estimulados, nem o nível dos incentivos, seja a mais eficiente e efetiva

diante de outras potenciais alternativas de redução em emissões. Em outras palavras, nada garante que tal ou qual escolha

resulte no menor custo de redução de emissões para a sociedade, tampouco que o nível de redução de emissões seja

aquele estabelecido como meta inicial. Os resultados do Estudo ilustram bem essas limitações, à medida que o cenário COP

não foi capaz de gerar as reduções em emissões previstas pela NDCs, bem como não se mostrou o de menor custo para

a economia.

A taxação setorial das emissões traz a vantagem de implementação e regulamentação relativamente fácil em relação

aos mercados de permissões de emissão. Basta estabelecer o nível de imposto a ser pago por emissões em cada setor

e monitorar o pagamento e as emissões. No entanto, para tal, é preciso estabelecer mecanismos de mensuração das

emissões, de modo a cobrar pelo pagamento por tonelada de gases emitida. Mas a principal limitação diz respeito às

distorções econômicas e custos mais elevados que essa estratégia impõe à economia, uma vez que impostos setoriais não

permitem que se aproveitem as oportunidades mais baratas de mitigação existentes na economia. Uma consequência

indesejada que advém de tal limitação é o incentivo para que os setores e empresas sujeitos a maiores custos por conta da

tributação às emissões empreendam esforços junto à autoridade reguladora para se tornarem isentos da política, o que

aumentaria a carga de esforço (na forma de tributo) a ser arcada pelos demais setores incluídos na política, de maneira a

garantir que a meta quantitativa agregada de redução em emissões seja atingida.

07

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60

Já os mercados de permissões de emissões do tipo cap-and-trade possuem a vantagem de permitir o menor custo por

tonelada de emissões reduzida, uma vez que as tecnologias e práticas de reduções de emissões mais baratas são estimuladas

e o comércio de permissões proporciona que setores e empresas com elevados custos de abatimento comprem créditos

daqueles com custos mais baratos. Ainda, garante que a meta estabelecida de corte em emissões seja alcançada, deixando que

o mercado de créditos de emissões estabeleça o preço da tonelada de emissão, internalizando completamente o problema

da externalidade ambiental das emissões. É importante ter em mente que esse sistema seria equivalente à definição de uma

taxação ou imposto às emissões cobrado sobre todas as fontes de emissões de Gases de Efeito Estufa. Contudo, não há como

garantir que o nível da taxação escolhido, em reais (R$) por tonelada de carbono, a ser pago por todos os setores, permitirá

atingir a meta de redução em emissões, conforme preestabelecido. Ademais, como as receitas tributárias de tal taxação são

arrecadadas pelo governo, não há como garantir que o uso dessas receitas será o mais eficiente, problema que não acontece

nos mercados de permissões de emissões. A limitação dos sistemas de mercados de permissões está nas suas regulamentação

e regulação, uma vez que exigem a mensuração e monitoramento de todas as fontes e remoções de emissões. Portanto, esse

sistema requer um esforço considerável de formatação, implantação e monitoramento.

É preciso ter em mente, ainda, que é possível desenvolver sistemas híbridos, que contemplem a combinação de políticas

de comando e controle, de incentivos a tecnologias e processos que reduzam emissões, de tributação ou taxação de

emissões e de mercados do tipo cap-and-trade, de sorte a buscar uma conciliação entre custo-efetividade da política e

praticidade ou viabilidade da implantação. A combinação ideal de mecanismos, contudo, requer investigações mais amplas

e profundas a respeito dos diferentes arranjos possíveis, bem como devem envolver medidas ou mensurações dos custos de

implantação e implementação do aparato regulatório necessário para viabilizar tais políticas. Assim, há bastante espaço para o

desenvolvimento de estudos futuros que considerem a combinação de diferentes políticas e medidas de redução de emissões.

Outro aspecto de relevância na discussão de riscos e oportunidades é considerar que a transição para uma economia de

baixa emissão de carbono pode ser realizada aos poucos, inicialmente com a implementação de políticas e medidas de

redução mais simples e com foco nas oportunidades de mitigação relativamente mais baratas, mas resguardando-se a

meta de sofisticar tais políticas, com vistas a, no longo prazo, cobrir todas as fontes emissoras e sequestradoras de Gases de

Efeito Estufa da forma mais custo-efetiva possível, evitando-se distorções econômicas causadas por medidas parciais ou

setoriais. Nesse sentido, as iNDCs brasileiras apresentadas em Paris seriam o passo inicial nesse processo, sendo necessário,

agora, já pensar e discutir sobre uma maior sofisticação e abrangência dos próximos compromissos e ações que visem à

redução de emissões pós-2030, ainda mais diante do esgotamento das possibilidades de mitigação por meio do setor de

mudanças no uso da terra ao longo do tempo. Nessa direção, mecanismos tributários que incidam sobre fontes emissoras,

como, por exemplo, tributos ao uso de combustíveis fósseis ou sobre bens e processos de menor eficiência energética,

podem ser um próximo passo na evolução rumo a medidas mais amplas e eficientes de redução em emissões, ao mesmo

tempo que são de baixa complexidade de implementação e buscam diminuir ou compensar a geração das externalidades

negativas associadas às emissões. Contudo, devem ser consideradas medidas intermediárias na transição para uma

economia de baixa emissão de carbono, uma vez que possuem cobertura limitada sobre as fontes de emissões de Gases de

Efeito Estufa, bem como podem não implicar o mesmo custo por tonelada de emissões para todas as fontes cobertas, o que,

ao longo do tempo, desestimula a inovação e adoção de processos mais eficientes dentro de um mesmo setor ou indústria.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 61

Por outro lado, é preciso considerar que a receita tributária advinda de impostos parciais deveria ser direcionada ao estímulo

à inovação de processos e tecnologias de menores emissões, o que pode não ocorrer em um ambiente de elevada restrição

orçamentária do setor público.

Existem numerosas iniciativas de avaliação de como seria a transição para uma economia de baixo carbono, cabendo

destaque, dentre outras, para :

• “State and Trends of Carbon Pricing”, estudo do Banco Mundial, elaborado em 2015 ;

• Estudos sobre Mercado de Carbono no Brasil - Análise Legal de Possíveis Modelos Regulatórios, elaborado, em 2015,

pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros

(BM&FBOVESPA), para o desenvolvimento do mercado de carbono no Brasil XIX;

• Projeto IES-Brasil, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em 2015XX ;

• Economia de Baixo Carbono: Impactos de Novos Marcos Regulatórios e Tecnologias sobre a Economia Brasileira, elaborado

pelo Núcleo de Estudos de Baixo Carbono, em 2015;

• Estudo de Baixo Carbono para o Brasil – elaborado pelo Banco Mundial, em 2010XXI ;

• Economia da Mudança do Clima no Brasil – coordenado pelo Banco Mundial e executado por diversas instituições

brasileiras, em 2010;

• Caminhos para Uma Economia de Baixa Emissão de Carbono no Brasil – elaborado pela McKinsey & Company,

em 2009;

• Artigos científicos diversos publicados na literatura nacional e internacional sobre o tema, como, por exemplo: Tourinho et

al. (2003), Ferreira Filho e Rocha (2007), Feijó e Porto Jr. (2009), Silva e Gurgel (2012), Magalhães (2013), Gurgel e Paltsev (2014),

Lucena et al. (2015) e Rochedo (2016), entre outros.

Embora a FIESP esteja acompanhando os diferentes estudos internacionais, nacionais e setoriais existentes, em nenhum

momento pretendeu elaborar uma análise detalhada destes, em especial das modelagens para estimar uma precificação

de carbono. Mas, ao contrário de algumas modelagens, e talvez seja este o seu mais importante diferencial, optou-se por

XIX Disponível em: https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7007/Estudos_sobre_Mercado_de_Carbono_no_Brasil_Analise_Legal_Poss%C3%ADveis_Modelos_Regulatorios.pdf?sequence=1

XX Disponível em: http://www.forumclima.org.br/pt/ies-brasil/sobre

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uma abordagem que considerasse o comportamento da economia de maneira agregada e globalizada, contemplando

todos os segmentos da sociedade em todos os países relacionados.

Ressalta-se, que este Estudo objetiva ser complementar aos demais desenvolvidos até o momento por diferentes

instituições, servindo de instrumento consistente para o aprofundamento das discussões sobre o conjunto da economia,

sem nenhum julgamento de valor sobre os resultados e demais iniciativas setoriais, mas, ao contrário, buscando aportar

subsídios importantes para o aprimoramento destas.

Entendemos que os resultados obtidos permitem ter uma visão macroeconômica robusta para os cenários adotados e

seus reflexos para o PIB, além da possibilidade de comparar os resultados entre países e propiciar uma sólida reflexão sobre

o comportamento da competitividade e do necessário crescimento do Brasil.

Ademais, julgamos ser oportuno e pertinente o desenvolvimento de estudos complementares das atuais cadeias

tributárias, por setores econômicos, com o objetivo de identificar suas necessidades em termos de pesquisa e

desenvolvimento tecnológico.

A garantia da competitividade do setor industrial diante do mercado nacional e internacional, no âmbito do novo cenário

que se impõe a partir da entrada em vigor do Acordo de Paris, depende da melhora dos atuais processos, com a respectiva

redução de emissões de GEE, em especial quando for implantada uma política de precificação e mercado de carbono no

cenário global.

Dessa forma, as conclusões resultantes, com considerável margem de segurança, balizam estratégias a serem adotadas

não apenas na defesa dos interesses do setor produtivo, mas também na contribuição para a formulação de políticas

públicas nacionais e de relações exteriores que contemplem ganhos de eficiência e eficácia para o conjunto da economia

nos próximos anos.

Evidencia-se, por outro lado, que as medidas anunciadas pelo governo brasileiro, para o atendimento às metas nacionais,

necessitam de fortes incentivos e políticas setoriais que requerem o comprometimento dos agentes públicos e privados

para que se tornem efetivas, sob o risco de não se alcançarem os objetivos de redução pretendidos.

Destacam-se, ainda, os resultados pós-2030, quando se esgotarem as medidas de mitigação de baixo-custo, como

um significativo alerta sobre a necessidade de adoção de instrumentos econômicos eficazes, para não comprometer a

economia brasileira como um todo, prejudicando setores mais vulneráveis e essenciais para a sociedade.

Nesse sentido, o Estudo permite comparar duas das principais políticas relacionadas à precificação de carbono, uma simples

taxação setorial da tonelada de carbono equivalente ou a adoção de um mecanismo mais flexível com um mercado do

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 63

tipo cap-and-trade, evidenciando os riscos que um caminho considerado mais simples no primeiro momento, qual seja, a

taxação setorial, poderia representar no médio e longo prazo.

Finalmente, o Estudo aponta direções e indica que há enormes desafios, a curto e médio prazo, no tocante ao debate sobre

como precificar o carbono e qual ou quais modelos de mercado venham a concretizar-se em políticas públicas que atendam

aos anseios socioeconômicos e levem, de forma consistente, rumo a uma economia de baixo carbono, contribuindo para

manter o aumento da temperatura média do planeta dentro dos limites considerados seguros.

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A P Ê N D I C E I

Posicionamento da FIESP sobre as INDCs Brasileiras

POSICIONAMENTO FIESP

Em especial, para a COP21, a FIESP encaminhou sua visão como contribuição para embasar a posição oficial do governo

brasileiro, contemplando as seguintes observações:

Contribuições nacionalmente determinadas (iNDCs) que o Brasil pretende adotar

• Contribuições nacionalmente determinadas (iNDCs) que o Brasil pretende adotar

As iNDCs brasileiras devem refletir um determinado volume de redução de emissões para o conjunto da nossa economia

(economy wide), levando em conta a capacidade nacional e pautada pelo princípio das responsabilidades comuns, porém

diferenciadas. Deve ser preservado um formato flexível de contribuição nos moldes da proposta de enfoque de diferenciação

concêntrica, apresentada pelo Brasil em outubro de 2014 e durante a COP20.

A proposta brasileira de iNDCs deve contemplar ações de adaptação à mudança do clima, além de mitigação, e outras ações

que preparem o País para enfrentar eventos meteorológicos extremos.

• Ações antecipadas de mitigação e o perfil da matriz energética brasileira

O reconhecimento de ações antecipadas de mitigação (early actions), realizadas no período entre 2010 e 2020, bem como

a grande participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, deve pautar a atuação do Brasil na negociação

do novo acordo.

As ações oriundas do combate ao desmatamento até 2014 resultaram em redução de emissões de mais de 650 milhões de

toneladas de CO2 eq. Esse ativo florestal deve ser contabilizado como contribuição do Brasil à redução das emissões globais,

da mesma forma que as ações de restauração e reflorestamento decorrentes do Novo Código Florestal que promovam o

incremento de estoques de carbono.

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 69

• Mecanismos de mercado de carbono no novo acordo

É imprescindível que o acordo estabeleça mecanismos de flexibilização de mercado como forma de promover a redução de

emissões custo-efetivas, independentemente do seu formato.

Adicionalmente, é relevante que as iNDCs brasileiras explicitem que o País poderá recorrer a mecanismos de mercado para

incentivar e promover reduções de emissões e sumidouros de carbono.

• Transferência de Tecnologia e Financiamento

O novo acordo deverá conter mecanismos, em especial de financiamento, que promovam a transferência e o desenvolvimento

de novas tecnologias entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, para fomentar a redução de emissões. No contexto

do novo acordo, devem ser reforçados os programas de cooperação Sul-Sul.

Os aportes de recursos financeiros internacionais oriundos do Green Climate Fund (ou de outras fontes) e novas tecnologias

são essenciais para que países em desenvolvimento possam se adaptar às mudanças do clima e enfrentar eventos

meteorológicos extremos.

• Ações unilaterais, bilaterais e barreiras ao comércio

Ações unilaterais de mitigação, adaptação, tecnologia, capacitação e financiamento não devem resultar em restrições

arbitrárias e injustificadas ao comércio. O novo acordo deve ter cláusula expressa que coíba barreiras ao comércio

decorrentes de eventuais medidas adotadas com vistas à sua implementação.

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70

A P Ê N D I C E I I

Descrição do Modelo EPPA

A pesquisa foi realizada a partir da adaptação e atualização de um modelo de projeção econômica de amplo alcance,

da classe dos modelos de equilíbrio geral computável, capaz de representar e simular a dinâmica futura da economia

mundial e das principais regiões e países emissores de Gases de Efeito Estufa, incluindo a economia brasileira. O modelo foi

atualizado para refletir as taxas de crescimento dos países e regiões considerados, levando em conta as revisões recentes

em expectativas sobre o crescimento da economia brasileira e mundial.

O modelo econômico utilizado no presente Estudo é conhecido como Emissions Prediction and Policy Analysis (EPPA)

Model (PALTSEV et al., 2005). É um modelo dinâmico recursivo de equilíbrio geral computável desenvolvido para projetar

cenários de emissões de Gases de Efeito Estufa e impactos de políticas climáticas. O modelo EPPA tem sido empregado em

diversos estudos relacionados às mudanças climáticas e apresenta-se documentado em detalhes em Paltsev et al. (2005)XXII

. Utiliza-se a versão 5 do modelo, considerando algumas adaptações e atualizações em dados e parâmetros para cumprir

os objetivos do Estudo.

A modelagem computável de equilíbrio geral (CGE) baseia-se na teoria econômica de equilíbrio geral como uma ferramenta

operacional em análises de orientação empírica sobre questões relacionadas a economias de mercado, como alocação de

recursos, fluxos comerciais, mudança tecnológica e distribuição de renda, entre outras. Shoven e Whalley (1998) e Sadoulet

e De Janvry (1995) apresentam maiores discussões sobre as características e aplicações dessa classe de modelos.

A aplicação de modelos de equilíbrio geral é adequada no caso de políticas de controle de emissões de Gases de Efeito

Estufa, uma vez que estas apresentam um alcance amplo em termos de dimensões geográficas (diversas regiões e países

do globo) e econômicas (diversos setores e agentes da economia), com efeitos consideráveis esperados na alocação de

recursos nas economias regionais, nacionais e global.

XXII Para o caso brasileiro, o modelo EPPA foi aplicado nos estudos de Silva e Gurgel (2012), Lima e Gurgel (2012), Gurgel e Paltsev (2014).

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FIESP - COMITÊ DE MUDANÇA DO CLIMA 71

No presente Estudo opta-se pelo enfoque de custo-efetividade, em que objetivos de políticas de redução de gases são

escolhidos e os custos para atingir tais objetivos são determinados pelos modelos, sem considerar, contudo, os possíveis

benefícios ambientais traduzidos em valores econômicos. Essa escolha reconhece as dificuldades, incertezas e falta de

consenso na mensuração monetária dos benefícios ambientais, sendo o enfoque estimulado pela UNFCCC, como discutido

por Manne e Richels (1995).

As estimativas de custos das políticas de mitigação de mudanças climáticas devem ser consideradas com cautela e senso

crítico quanto à capacidade de serem extrapoladas para os eventos reais da economia. A utilização dos resultados do

modelo para recomendações de políticas deve basear-se nas direções dos resultados observados e magnitudes relativas,

bem como no entendimento dos mecanismos e pressuposições do modelo que geram os resultados observados.

O modelo EPPA é desenvolvido pelo MIT Joint Program on the Science and Policy of Global Change. Tal modelo vem sendo

amplamente utilizado para o estudo de aspectos ligados à agricultura, energia e políticas climáticasXXIII , sendo dinâmico

recursivo, multirregional e multissetorial. Os dados econômicos que alimentam o modelo são formados principalmente

por matrizes de contabilidade social e de insumo-produto que representam as estruturas das economias das regiões,

provenientes do Global Trade Analysis Project – GTAP (HERTEL, 1997; DIMARANAN; MCDOUGALL, 2002; NARAYANAN;

WALMSLEY, 2008), um banco de dados consistente sobre consumo macroeconômico regional, produção e fluxos de

comércio bilateral. Dados sobre produção e uso de energia em unidades físicas são provenientes tanto da base de dados

do GTAP quanto da Agência Internacional de Energia (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY – IEA, 1997, 2004, 2005). Já as

estatísticas sobre os Gases de Efeito Estufa (dióxido de carbono, CO2; metano, CH

4; óxido nitroso, N

2O; hidrofluorcarbonos;

HFCs; perfluorcarbonos, PFCs; e hexafluoreto de enxofre; SF6) foram obtidos de inventários mantidos pela Agência de

Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Informações sobre outros poluentes urbanos (dióxido sulfúrico – SO2; óxidos de

nitrogênio – NOx, carbono negro – BC, carbono orgânico – OC; amônia – NH3; monóxido de carbono – CO, e compostos

orgânicos voláteis não metano – VOC) foram obtidas junto ao banco de dados desenvolvido por Olivier e Berdowski (2001).

Informações adicionais são utilizadas para desagregar o transporte comercial do transporte de passageiros em automóvel

próprio, o setor de geração de eletricidade para representar tecnologias correntes (como hidroelétrica, nuclear e fóssil) e

fontes alternativas (como eólica, solar e biomassa) não usadas extensivamente, mas com potencial de oferta em larga escala

no futuro, e de políticas nos mercados de energia. Para representar tais tecnologias, informações do tipo “bottomp-up” sob

parâmetros de engenharia são consideradas (PALTSEV et al., 2005).

O modelo simula a evolução da economia mundial em intervalos de cinco anos entre 2000 e 2100. Funções de produção

para cada setor da economia descrevem as combinações de capital, trabalho, terra, energia e insumos intermediários para

gerar os bens e serviços. A demanda é representada pela presença de um consumidor representativo em cada região que

busca a maximização do seu bem-estar pela aquisição de bens e serviços. Na representação dos setores produtivos, a

XXIII Algumas aplicações do modelo incluem Babiker, Metcalf e Reilly (2003), Reilly e Paltsev (2006), US CCSP (2007), Gurgel, Reilly e Paltsev (2007), Jacoby et al. (2009), Paltsev et al. (2008, 2009), Melillo et al. (2009) e Karplus et al.

(2012). Diversos outros estudos que usam o modelo EPPA foram citados na Seção 2.

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tecnologia utilizada é representada pela possibilidade de substituir diferentes fatores produtivos e insumos intermediários

no processo produtivo. Para o consumidor representativo, a substituição entre bens e serviços ilustra as preferências dos

consumidores. Tais escolhas são determinadas pelos parâmetros de elasticidade de substituição nas funções de produção

e de utilidade do consumidor.

A evolução do modelo no tempo é baseada em cenários de crescimento econômico resultantes do comportamento de

consumo, poupança e investimentos, além de pressuposições exógenas sobre o aumento da produtividade do trabalho,

da energia e da terra. O crescimento na demanda por bens e serviços produzidos em cada setor, incluindo alimentos e

combustíveis, ocorre à medida que a renda e o produto aumentam. Os estoques de recursos limitados, como combustíveis

fósseis, diminuem à medida que estes são utilizados, forçando o aumento no custo de extração e beneficiamento dos

mesmos. Setores que usam recursos renováveis, como a terra, competem pela disponibilidade de fluxos de serviços

fornecidos pelos mesmos. Todos esses fenômenos, aliados às políticas simuladas, como impostos e subsídios ao uso de

energia, controle nas emissões de poluentes e imposição de mandatos de porcentuais mínimos de misturas de combustíveis,

determinam a evolução das economias e alteram a competitividade e participação das diferentes tecnologias ao longo do

tempo e entre cenários alternativos. O desenvolvimento ou declínio de uma tecnologia em particular é determinado de

forma endógena, de acordo com a competitividade relativa do mesmo.

O modelo fornece estimativas e previsões sobre o crescimento do Produto Interno Bruto nos países e regiões, consumo

agregado e produção setorial, consumo e produção de energia em unidades físicas, preços de bens e serviços, fluxos

comerciais, emissões de Gases de Efeito Estufa e de outros poluentes, e custos econômicos das políticas simuladas.

O modelo EPPA é construído como um problema de complementaridade não linear em linguagem de programação GAMS

(General Algebraic Modeling System, BROOKE et al., 1998), utilizando a syntax do algoritmo MPSGE (Modeling Programing

System for General Equilibrium), desenvolvida por Rutherford (1999). O MPSGE constrói equações algébricas que caracterizam

as condições de lucro econômico zero para a produção, equilíbrio entre oferta e demanda nos mercados de bens e fatores

de produção e equilíbrio entre renda e despesas para os consumidores.

1. 2.1.1 Agregação do modelo EPPA

A base de dados do GTAP7 apresenta matrizes de insumo-produto para 113 países e regiões do mundo e 57 setores de

suas economias, representando produção, consumo, fluxos bilaterais, medidas de proteção comercial e os mercados de

energia em unidades físicas. A versão do modelo a ser utilizada no presente Estudo é a quinta versão do EPPA, calibrada

para o ano-base de 2004, sendo resolvido de forma endógena para o ano de 2005 e após, a cada cinco anos. No EPPA, os

dados do GTAP foram organizados em 16 países e regiões, bem como em diversos setores de produção, como apresentado

na Tabela II.1. Foram também representados na construção do modelo novos setores que ofertam tecnologias energéticas,

considerados potencialmente relevantes no futuro, mas que ainda possuem custos muito elevados no presente (tecnologias

backstop). O EPPA também considera a desagregação do consumo das famílias em compras de serviços de transporte, uso

de transporte próprio (automóveis particulares) e consumo de outros bens e serviços.

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Algumas modificações e adaptações foram introduzidas na versão do modelo utilizada na presente pesquisa, de forma

a atingir os objetivos propostos. A principal modificação diz respeito à desagregação dos setores intensivos em energia,

originalmente agrupados em apenas um setor. Esses setores foram desagregados nos seguintes: químicos, borracha,

plásticos e papel (CRP), siderurgia e metalurgia (STEEL), manufatura de metais não ferrosos como alumínio, zinco e cobre

(ALUM) e manufatura de minerais não metálicos como o cimento e o vidro (CIME).

Tabela II.1 - Agregação de regiões, setores e fatores no modelo EPPA

REGIÕES

Estados Unidos (USA) Federação Russa (RUS) Oriente Médio (MES)

Canadá (CAN) Leste Europeu (ROE) África (AFR)

México (MEX) China (CHN) América Latina (LAM)

Japão (JPN) Índia (IND) Resto da Ásia (REA)

União Europeia (EUR) Brasil (BRA)

Austrália e N. Zelândia (ANZ) Leste Asiático (ASI)

SETORES

Não Energia

Agricultura - Culturas (CROP) Siderurgia e metalurgia (STEEL)

Agricultura - Pecuária (LIVE) Metais não ferrosos (ALUM)

Agricultura - Florestal (FORS) Minerais não metálicos (CIME)

Alimentos (FOOD) Outras Indústrias (OTHR)

Serviços (SERV) Serviços de transporte (TRAN)

Químicos,borracha,plásticos,papel (CRP)

Transporte próprio das famílias (FTRAN)

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Energia

Carvão (COAL) Eletricidade: Nuclear (A-NUC) Gás sintético (SGAS)

Petróleo bruto (OIL) Eletricidade: Eólica (W-ELE) Biocombustível (2ª geração) (BOIL)

Petróleo refinado (ROIL) Eletricidade: Solar (S-ELE) Petróleo de xisto (SOIL)

Gás natural (GAS) Eletricidade: Biomassa (biELE) Biocombustível (1ª geração)

Eletricidade: Fóssil (ELEC) Eletricidade: NGCC1 (NGCC) Gás sintético (SGAS)

Eletricidade: Hidráulica (H-ELE) Eletricidade: NGCC – CCS2 Biocombustível (2ª geração) (BOIL)

Eletricidade: IGCC3 – CCS Petróleo de xisto (SOIL)

Biocombustível (1ª geração)

FATORES

Capital Gás natural Terra:

Trabalho Hidráulica - de culturas

Petróleo cru Nuclear - pastagens

Petróleo xisto Eólica & Solar - florestal

Carvão Florestas naturais

Pastagens natur.

Fonte: Paltsev et al. (2005).

1 NGCC: conversão de gás natural em eletricidade a partir de ciclo combinado de geração

2 CCS: captura e seqüestro de carbono

3 IGCC: tecnologia de geração de gás natural a partir do carvão pelo ciclo combinado de geração

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2.1.2 Estrutura do modelo

O modelo EPPA encontra-se formulado como um Problema de Complementaridade Mista (Mixed Complementarity

Problem – MCP), conforme descrito por Mathiesen (1985) e Rutherford (1995). O problema econômico de equilíbrio geral

em MCP envolve três desigualdades que precisam ser satisfeitas: lucro zero, equilíbrio dos mercados (market clearing) e

equilíbrio ou balanceamento da renda. Essas condições de desigualdades estão associadas a um conjunto de três variáveis

não negativas, quais sejam: preços, quantidades e níveis de renda.

As funções de produção e consumo utilizadas pelo modelo EPPA são caracterizadas como funções de elasticidade de

substituição constante (constant elasticity of substitution – CES), e como tal, todos os insumos são necessários. Isso significa

que, para a maioria dos mercados, as condições de MCP são satisfeitas com preços, produto, renda e consumo dos bens

estritamente maiores que zero e oferta igual à demanda.

O comportamento das firmas segue a formulação microeconômica de maximização do lucro. Em cada região e em cada

setor, uma firma representativa escolhe o nível de produto, a quantidade de fatores primários e insumos intermediários de

outros setores, para maximizar os lucros sujeitos à sua restrição tecnológica.

Quanto ao comportamento dos domicílios, um agente representativo em cada região possui dotações de fatores de

produção, cujos serviços podem ser vendidos às firmas. Em cada período, o agente representativo escolhe os níveis de

consumo e poupança que maximizam sua função de utilidade sujeita à restrição orçamentária para o nível de renda. Assim

como a produção, as preferências também são representadas por funções CES. As tecnologias e preferências CES são

estruturas aninhadas que permitem apresentar possibilidades de substituição de insumos e flexibilidade na escolha das

elasticidades de substituição, em particular no que diz respeito aos combustíveis e à eletricidade, e aquelas elasticidades

cujas emissões e custos de abatimento são especialmente sensíveis.

Uma estrutura das funções CES aninhadas comum entre os setores de serviços (SERV), transportes (TRAN), intensivos em

energia (CRP, STEEL e EINT) e outras indústrias (OTHR) é apresentada na Figura II.1. Insumos intermediários são considerados

complementares perfeitos (Leontief), juntamente com uma cesta de capital-trabalho-energia (KLE), que por sua vez consiste

em uma agregação de valor adicionado e energia.

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Figura II.1 - Estrutura aninhada dos setores de serviços, transporte, intensivos em energia e outras indústrias

Fonte: Paltsev et al. (2005).

As importações de um determinado bem com origem em diferentes regiões são primeiramente combinadas como bens

Armington, ou seja, bens da mesma indústria provenientes de diferentes regiões são considerados substitutos imperfeitos

e, posteriormente, o agregado de importados é combinado com a produção doméstica do mesmo bem, de forma a criar

uma cesta de bens ofertados dentro da região.

Petróleo bruto é tratado como um produto homogêneo no comércio internacional, estando sujeito a tarifas, impostos às

exportações e margens de transporte. Por ser um bem homogêneo, todos os países e regiões se deparam com um único

preço no mercado mundial. Carvão, gás e petróleo refinado são considerados bens Armington, devido à diferenciação de

produtos e qualidade.

Na representação das preferências, a poupança entra diretamente na função utilidade, o que gera uma demanda por

poupança e faz com que a decisão consumo-investimento se torne endógena. A medida de bem-estar é mensurada em

termos de variação equivalente HicksianaXXIV em cada período do modelo.

A elasticidade entre insumos não energéticos para o consumo varia ao longo do tempo e de acordo com a região, sendo

XXIV A variação equivalente Hicksiana mede a mudança na renda do consumidor necessária para que este atinja, após uma mudança em preços relativos, o nível de utilidade inicial.

Produto Doméstico

Doméstico Importações Energia Agregada

ELE

ENOE VA

EVA

MM

DM... ... ......

... ... ......

EN

COAL OIL GAS ROIL

não-ELE Trabalho Capital

Valor Adicionado

Regiões 1.......n

AGRIC EINT SERV TRAN OTHR Cesta KLE

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uma função do crescimento da renda per capita. Da mesma forma a participação do consumo em cada período também é

atualizada em função do crescimento da renda per capita entre períodos, conforme Lahiri, Babiker e Eckaus (2000).

Uma sofisticação importante do modelo EPPA diz respeito à representação de mudanças no uso da terra. O uso da terra

está dividido em cinco categorias: pastagens, culturas, produção florestal (áreas de silvicultura, extração vegetal e florestas

plantadas), florestas naturais e pastagens naturais. Cada categoria de terra é considerada um recurso renovável, que pode

ser alterado pela sua conversão em outra categoria, ou abandonada em categoria não utilizada (vegetação secundária). A

terra também está sujeita a melhorias exógenas de produtividade, de 1% ao ano para cada categoria, refletindo a tendência

histórica de avanço na produtividade agropecuária, bem como o rendimento histórico das safras, o qual tem apresentado

um crescimento entre 1% e 3% ao ano, de acordo com Reilly e Fuglie (1998).

Com relação à transformação do uso da terra, a área sob determinada categoria de uso pode ser ampliada pela conversão

de outras categorias de uso. Por exemplo, estradas e acessos para áreas de florestas podem ser criados, permitindo que

uma área desmatada seja transformada em área de florestas plantadas, pastagens ou culturas. O sentido oposto também

pode ser observado, ou seja, áreas destinadas às culturas podem ser abandonadas, voltando a crescer florestas ou campos

secundários.

O valor de uso da terra no modelo representa as transações monetárias reais como inferido pelas agências de estatísticas

econômicas de cada país, portanto, esse valor deve ser consistente com os dados sobre receita, custos de insumos e

retornos de outros fatores. A renda da terra, bem como da área no uso de culturas, pastagens e silvicultura, é obtida a partir

da base de dados do GTAP (HERTEL, 1997; DIMARANAN; MCDOUGALL, 2002; NARAYANAN; WALMSLEY, 2008). Para obter

o valor da renda por hectare, os dados acerca das rendas agregadas precisam ser divididos pela quantidade física de terra.

Para as categorias florestas naturais e pastagens naturais, que não são utilizadas para produção econômica, infere-se um

valor econômico a partir dos dados físicos de Hurtt et al. (2006) e do procedimento discutido em Gurgel et al. (2007).

2.1.3 Implementação de Políticas Climáticas no modelo

A incorporação de restrições quantitativas às emissões de Gases de Efeito Estufa no modelo é feita através da consideração

de relação complementar entre o uso do combustível fóssil gerador de emissões e a quantidade física de permissões ou

créditos de emissões associada ao uso do mesmo, como também pela relação entre emissões e processos produtivos da

indústria e da agropecuária e nas mudanças no uso da terra.

A capacidade de mitigação de emissões no modelo é considerada pela incorporação do comportamento expresso em curvas

de custo marginal de abatimento (marginal abatment cost curves – MAC) estimadas para o Brasil em diferentes estudos

(MCKINSEY, 2009; HENRIQUES JR., 2010; GOUVELLO, 2010; SEROA DA MOTTA et al., 2012; RATHMANN, 2012). Tais curvas

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expressam as diferentes opções tecnológicas existentes ou antecipadas por estudos de engenharia e por conhecimento de

especialistas nos diferentes setores e atividades. Tais tecnologias podem ser representadas no modelo EPPA considerando-

se os investimentos em capital e outros fatores produtivos necessários para reduzir determinado volume de emissões

e os custos associados a esses investimentos. De acordo com Hyman et al. (2003), essas informações permitem calibrar

elasticidades das árvores tecnológicas de produção dos diferentes setores de forma a simular o comportamento das curvas

de custo marginal de abatimento compatíveis com os dados de custos das tecnologias de baixo carbono e seus potenciais

de mitigação de emissões.

O modelo EPPA permite a incorporação de vários tipos de políticas de controle de emissões de GEE: impostos e subsídios à

produção e ao consumo de combustíveis e a outros tipos de produtos; alíquotas de impostos fixadas com base no conteúdo

de carbono dos combustíveis; definição de restrições quantitativas em emissões por região, por setor produtivo ou por tipo

de Gás de Efeito Estufa; comércio internacional de créditos (ou permissões) de emissões; limites quantitativos ou impostos

diferenciados por tipos de Gases de Efeito Estufa. Controles de preço resultantes da solução do modelo com restrições sobre

esses gases são então reportados por toneladas de gás relevante e considerando o preço em carbono equivalente. Quando

o comércio de gases é permitido, uma taxa de troca entre os gases deve ser especificada.XXV

2.1.4 Disponibilidade de Tecnologias Alternativas

Um importante elemento que define a evolução dos modelos dinâmicos é a representação de tecnologias que não estão

em uso atualmente (ou são usadas em pequena escala), mas que podem se tornar disponíveis num futuro próximo. Essas

opções energéticas, como a solar e a eólica, devem começar a ser utilizadas em maior escala quando a oferta de recursos

energéticos convencionais baseados em combustíveis fósseis tornar-se mais escassa e/ou mais cara, ou quando políticas

públicas que visem reduzir as emissões de poluição penalizarem as tecnologias energéticas convencionais. O momento no

tempo em que essas tecnologias tornar-se-ão disponíveis, também chamado de período de entrada, depende dos custos

relativos dessas em relação aos custos das fontes convencionais de energia. A Tabela II.2 apresenta as opções de tecnologias

avançadas representadas no modelo EPPA.

XXV O valor de troca, ou equivalente, entre os diferentes gases é definido com base no potencial de aquecimento global – GWP (Global Warming Potential) para o período de 100 anos.

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Tabela I I .2 - Te c n o l o g i a s a l t e r n a t i va s d i s p o n í ve i s n o m o d e l o E P PA

TECNOLOGIA DESCRIÇÃO

Gaseificação de carvão Converte carvão em um substituto perfeito para o gás natural.

Petróleo de xisto Extrai e melhora o betume do xisto transformando-o em um substituto perfeito para o petróleo.

Bicombustível de biomassa Converte a biomassa em um substituto perfeito para petróleo refinado (segunda geração de biocombustíveis).

Eletricidade de biomassa Converte biomassa em um substituto perfeito para eletricidade.

Eólica e solar Converte a energia eólica e solar intermitente em um substituto imperfeito para eletricidade.

Gás avançado Tecnologia de geração de eletricidade baseada no ciclo combinado do gás natural (CCGN) que converte gás natural em eletricidade.

Gás avançado com sequestro e captura de carbono

Tecnologia de ciclo combinado do gás natural que captura 90% ou mais do CO

2 produzido na geração de energia.

Carvão avançado com sequestro e captura de carbono

Ciclo combinado integrado de gaseificação do carvão (CCIG) que captura 90% ou mais do CO

2 produzido na geração de energia.

Veículos Híbridos e Elétricos Tecnologia de transporte urbano de passageiros movido por sistemas de propulsão elétricos ou híbridos (eletricidade e combustíveis líquidos)

Fonte: Paltsev et al. (2005).

Três tecnologias produzem substitutos para os combustíveis fósseis convencionais, gás de carvão, produto de petróleo cru

do xisto e combustível refinado da biomassa. Outras cinco opções tecnológicas incluem a geração de energia elétrica eólica

e solar, a partir da biomassa, e de ciclo combinado de gás natural com e sem captura e sequestro de carbono. Ainda, veículos

híbridos (movidos tanto a energia elétrica quanto a combustíveis líquidos) e veículos elétricos são tecnologias disponíveis

para uso em larga escala no futuro.

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2.2 Adaptações do Modelo às Especificidades Brasileiras

O modelo EPPA considera biocombustíveis de segunda geração como uma tecnologia backstop, com potencial de

desenvolvimento futuro, enquanto os biocombustíveis atualmente produzidos e em uso não são considerados explicitamente

na versão 5 do modelo. Diante do grande desenvolvimento na produção e uso dos biocombustíveis de primeira geração em

diversos países na última década, essas tecnologias e suas especificidades foram acrescentadas no modelo EPPA, de acordo

com o nível corrente de produção existente nos diferentes países. Foram utilizados dados das matrizes de insumo-produto

do GTAP, de área cultivada da FAO, e dados regionais específicos para definir os custos de produção dos diferentes tipos de

biocombustíveis. Foram incluídos os seguintes tipos de biomassa: culturas açucareiras (cana-de-açúcar e beterraba), grãos

(milho), trigo e oleaginosas (canola, soja e palma).

O modelo utiliza dados do GTAP e da IEA sobre quantidades produzidas e consumidas de energia, bem como dados do EPA

dos EUA e de Olivier e Berdowski (2001) sobre emissões de Gases de Efeito Estufa. Os dados de uso da terra são provenientes

da base de dados do GTAP e dos estudos desenvolvidos por Hurtt et al. (2006). Esses dados são passíveis de comparação

com aqueles produzidos por instituições brasileiras, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ministério

de Minas e Energia e o Ministério da Ciência e Tecnologia. Dessa forma, foram coletados dados do Censo Agropecuário

(IBGE, 2006), do Inventário Brasileiro das Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa (Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação – MCTI, 2009 e 2014), e do Balanço Energético Nacional (Empresa de Pesquisa Energética, 2015)

para ajustar os dados iniciais do modelo EPPA de forma a melhor refletir as estatísticas produzidas por instituições oficiais

brasileiras. Tais ajustes permitem uma representação mais realista da base de dados inicial do modelo para o caso brasileiro.

O modelo EPPA agrega todos os setores mais intensivos no uso de energia sob um único setor, denominado EINT. De forma

a ampliar o escopo da análise para considerar diferentes setores intensivos em energia, procurou-se desagregar o setor

EINT do modelo em três novos setores, quais sejam: a) químicos, borracha, plásticos, celulose e papel (CRP); b) siderurgia e

metalurgia (STEEL); c) outras indústrias intensivas em energia (OINT), que incluem a manufatura de outros produtos minerais

não metálicos e a manufatura básica e processamento de minerais preciosos e metais não ferrosos e fundição de metais

não ferrosos. Tal desagregação foi realizada a partir da base de dados do GTAP7 (NARAYANAN; WALMSLEY, 2008). Foram

considerados dados de valor da produção, consumo intermediário, consumo final, consumo do governo, formação bruta de

capital fixo, alíquotas de impostos, pagamentos aos fatores de produção, consumo de energia, exportações e importações,

dos setores intensivos em energia desagregados nos três setores acima descritos.

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