clima no início de fevereiro já bate recordes

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SAIBA MAIS Operação Estiagem é antecipada e prevê multa contra desperdício O termômetro do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) tem registrado temperaturas ainda mais elevadas que os do IAC nos últimos dias. No último domingo, o equipamento mostrou 36,1ºC, entre 16h e 17h, a marca mais alta do ano. A previsão do Cepagri é de que nesta semana o tempo continuará ensolarado na maior parte do dia e à tarde as nuvens aumentam com possíveis pancadas de chuva de forma isolada e rápida. VERÃO ATÍPICO ||| AÇÃO EMERGENCIAL Maria Teresa Costa DA AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] A baixa vazão do Rio Atibaia e a pouca perspectiva de chuva levaram o prefeito Jonas Doni- zette (PSB) a antecipar, de ju- lho para fevereiro, as restri- ções para o uso de água trata- da em Campinas, com a apli- cação de multa de três vezes o valor da última conta de con- sumo para quem for flagrado desperdiçando água. Decreto nesse sentido será publicado hoje no Diário Oficial. Além da multa, Jonas pediu à Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. (Sanasa) que estude a possibili- dade de incentivos econômi- cos para quem reduzir o con- sumo, a exemplo do que ocor- re em São Paulo, e faça campa- nha para que a população eco- nomize. Assim, até agosto, serão multadas as pessoas que fo- rem flagradas usando água tra- tada para limpeza e lavagem de calçamentos e passeios pú- blicos residenciais e comer- ciais de Campinas, exceto em situação de necessidade extre- ma. A Prefeitura considera ne- cessidade extrema o uso de água para construção de imó- vel, realização de reformas e construção de calçamento. Na primeira infração, haverá ad- vertência e, na segunda, a mul- ta. Além dessas restrições, Jo- nas também está determinan- do que a rega de jardins e can- teiros centrais seja feita exclusi- vamente com água de reúso. “Estamos em um momento preocupante para o abasteci- mento da cidade, que poderá até chegar ao racionamento se medidas de economia não fo- rem adotadas.” O vereador Carlinhos Came- lô (PT) protocolou projeto de lei, ontem, criando incentivo fi- nanceiro para quem economi- zar água no período de estia- gem. Segundo a proposta, quem economizar 15% no con- sumo terá um desconto de 25% na tarifa. Para valer, a pro- posta tem ainda que ser apro- vada pela Câmara e sanciona- da pelo prefeito. Não há prazo para a votação. Amanhã Jonas irá se reunir com o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vi- cente Andreu Guillo, para dis- cutir as perspectivas de abaste- cimento nas Bacias PCJ e orientações para este período de estiagem fora do tempo. Uma das regras que Jonas quer discutir é em relação ao Banco de Águas, uma reserva virtual no Sistema Cantareira, formada pela economia que as bacias fazem ao longo do ano. A Bacias PCJ estão sem banco por conta de uma regra operativa que estipula que, to- da vez que os reservatórios ti- verem que verter água para evitar rompimentos, o banco é zerado. Isso ocorreu em 2010, e desde então a região não conseguiu mais repor. Agora, não tem reserva para usar. “Não concordo com essa re- gra. Temos que mudá-la”, dis- se o prefeito. A Grande São Paulo tem água em seu banco e vem utilizando. Na semana passada, na reu- nião da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico, o Ministério Público sugeriu que apenas as vazões primá- rias fossem utilizadas nesse atual estágio em que se encon- tram os reservatórios. A pro- posta foi acatada e transforma- do numa moção que será sub- metido aos presidentes dos Comitês PCJ Federal e da par- cela mineira e caso aprovada será enviada à ANA, ao Depar- tamento de Água e Energia Elé- trica do Estado de São Paulo (DAEE) e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM). Nesse sentido, continuariam a ser enviados os 3m3/s para as Bacias PCJ e a Grande SP pas- saria a receber 24,8m3/s, que são as vazões primárias estabe- lecidas. Essa medida tem co- mo objetivo evitar o rebaixa- mento demasiado dos reserva- tórios do Sistema Cantareira, uma vez que, abaixo de 20%, torna-se difícil a transposição por gravidade da água de um reservatório para outro. LEIA MAIS NAS PÁGINAS A5 E B5 Sugestões de pautas, críticas e elogios: [email protected] ou pelos telefones 3772-8221 e 3772-8162 Atendimento ao assinante: 3736-3200 ou pelo e-mail [email protected] Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo, Luís Fernando Manzoli e Marcia Marcon Chefe de reportagem: Guilherme Busch Fevereiro começou com regis- tro de temperaturas mínima e máxima mais altas para o mês em Campinas. Desde 1956, quando o Instituto Agronômi- co de Campinas (IAC), da Se- cretaria de Agricultura e Abas- tecimento do Estado, iniciou as medições, a cidade não vi- via dias tão quentes no perío- do. No último sábado, 1º dia do mês, os termômetros regis- traram uma temperatura máxi- ma de 35,3ºC. A máxima mais alta registrada em fevereiro an- teriormente foi em 1956, quan- do a temperatura chegou a 35,2ºC. Com os termômetros marcando 24,2ºC, a madruga- da de ontem foi a mais quente dos últimos oito anos. O recor- de de mínima anterior havia si- do registrado em 1999, quan- do os termômetros atingiram 18,6ºC. O termômetro do IAC está instalado no Centro Expe- rimental do instituto, que fica na Fazenda Santa Elisa, no bairro Vila Nova. De acordo com o pesquisa- dor Mário José Pedro Júnior, do IAC, a cidade vive uma ad- versidade climática, principal- mente em relação às tempera- turas mínimas. Segundo ele, o aumento das temperaturas de- corre, principalmente, da falta de chuva. “Quando chove, a água evapora e a temperatura baixa. Sem chuva, com as tem- peraturas em torno de 34ºC, 35ºC por vários dias, o calor fi- ca acumulado, elevando a tem- peratura inclusive na madruga- da.” Segundo ele, a média das temperaturas mínimas dos últi- mos dias está 6ºC mais alta que os anos anteriores, que gi- ravam em torno dos 18ºC. O calor excessivo vem afe- tando principalmente as pes- soas que trabalham diretamen- te ao ar livre. O varredor de rua João Carlos Teodoro da Silva disse que nunca tinha passado tanto calor. “Trabalho na rua há 12 anos, mas este ano está muito forte o calor. A gente pas- sa protetor solar que a empre- sa oferece, usa boné, blusa de manga, luva, bota e bebe mui- ta água”, disse. “O superior fa- lou que sempre que der é para a gente correr para sombra”, contou o colega de Silva, Wil- son Aparecido Rocha Batista. O ajudante de obra José Adaílton Oliveira, que trabalha na ampliação de uma rodovia de Campinas há sete meses, le- va um protetor de pano espe- cial para o pescoço e procura beber dois copos de água de 250 ml a cada 20 minutos. “A empresa oferece tudo. Protetor solar, luva, camisa de manga longa, bota, óculos, capacete, mas eu decidi trazer esse pano para proteger o pescoço, que estava ficando manchado. É melhor passar mais calor do que se queimar”, afirmou. A carteira Roseli Jorge, de 40 anos, contou que para supor- tar o calor tem tomado pelo menos cinco garrafinhas de água por dia, além de sorvetes e suco. “Sempre que dá eu vou caminhando pela sombra, mas às vezes não tem jeito. Tem ho- ra que parece que a gente vai cair.” (Fabiana Marchezi/ AAN) No mesmo ponto da Praça Carlos Gomes, homem se molha, o pequeno Israel bebe água ajudado pelo irmão Ítalo e jovens se refrescam: flagrantes de uma tarde de calor escaldante Rafael Souza e José Oliveira em obra de rodovia: proteção contra o sol Os varredores João Silva e Wilson Batista: cuidados incluem muita água Punição para quem lavar calçamento com água tratada terá valor 3 vezes maior que a taxa de consumo Cidades Clima no início de fevereiro já bate recordes Fotos: Leandro Ferreira/AAN Fotos: Dominique Torquato/AAN Prefeitura estuda incentivos para que a população economize A4 CORREIO POPULAR Campinas, terça-feira, 4 de fevereiro de 2014 www.correio.com.br NA INTERNET Vídeo Temperaturas máxima e mínima dos últimos dias são as mais altas para o mês desde 1956, diz o IAC

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Page 1: Clima no início de fevereiro já bate recordes

SAIBA MAIS

OperaçãoEstiagemé antecipadaeprevê multa contra desperdício

O termômetro do Centro dePesquisas Meteorológicas eClimáticas Aplicadas àAgricultura (Cepagri) temregistrado temperaturas aindamais elevadas que os do IACnos últimos dias. No últimodomingo, o equipamentomostrou 36,1ºC, entre 16h e 17h,a marca mais alta do ano. Aprevisão do Cepagri é de quenesta semana o tempocontinuará ensolarado na maiorparte do dia e à tarde as nuvensaumentam com possíveispancadas de chuva de formaisolada e rápida.

VERÃO ATÍPICO ||| AÇÃO EMERGENCIAL

Maria Teresa CostaDA AGÊNCIA ANHANGUERA

[email protected]

A baixa vazão do Rio Atibaia ea pouca perspectiva de chuvalevaram o prefeito Jonas Doni-zette (PSB) a antecipar, de ju-lho para fevereiro, as restri-ções para o uso de água trata-da em Campinas, com a apli-cação de multa de três vezes o

valor da última conta de con-sumo para quem for flagradodesperdiçando água. Decretonesse sentido será publicadohoje no Diário Oficial.

Além da multa, Jonas pediuà Sociedade de Abastecimentode Água e Saneamento S.A.(Sanasa) que estude a possibili-

dade de incentivos econômi-cos para quem reduzir o con-sumo, a exemplo do que ocor-re em São Paulo, e faça campa-nha para que a população eco-nomize.

Assim, até agosto, serãomultadas as pessoas que fo-rem flagradas usando água tra-tada para limpeza e lavagemde calçamentos e passeios pú-blicos residenciais e comer-ciais de Campinas, exceto emsituação de necessidade extre-ma. A Prefeitura considera ne-cessidade extrema o uso deágua para construção de imó-vel, realização de reformas econstrução de calçamento. Naprimeira infração, haverá ad-vertência e, na segunda, a mul-ta. Além dessas restrições, Jo-nas também está determinan-do que a rega de jardins e can-teiros centrais seja feita exclusi-vamente com água de reúso.“Estamos em um momento

preocupante para o abasteci-mento da cidade, que poderáaté chegar ao racionamento semedidas de economia não fo-rem adotadas.”

O vereador Carlinhos Came-lô (PT) protocolou projeto delei, ontem, criando incentivo fi-nanceiro para quem economi-zar água no período de estia-gem. Segundo a proposta,quem economizar 15% no con-sumo terá um desconto de25% na tarifa. Para valer, a pro-posta tem ainda que ser apro-vada pela Câmara e sanciona-da pelo prefeito. Não há prazopara a votação.

Amanhã Jonas irá se reunircom o presidente da AgênciaNacional de Águas (ANA), Vi-cente Andreu Guillo, para dis-cutir as perspectivas de abaste-cimento nas Bacias PCJ eorientações para este períodode estiagem fora do tempo.Uma das regras que Jonas

quer discutir é em relação aoBanco de Águas, uma reservavirtual no Sistema Cantareira,formada pela economia queas bacias fazem ao longo doano. A Bacias PCJ estão sembanco por conta de uma regraoperativa que estipula que, to-da vez que os reservatórios ti-verem que verter água paraevitar rompimentos, o bancoé zerado. Isso ocorreu em2010, e desde então a regiãonão conseguiu mais repor.Agora, não tem reserva parausar.

“Não concordo com essa re-gra. Temos que mudá-la”, dis-se o prefeito. A Grande SãoPaulo tem água em seu bancoe vem utilizando.

Na semana passada, na reu-nião da Câmara Técnica deMonitoramento Hidrológico,o Ministério Público sugeriuque apenas as vazões primá-rias fossem utilizadas nesse

atual estágio em que se encon-tram os reservatórios. A pro-posta foi acatada e transforma-do numa moção que será sub-metido aos presidentes dosComitês PCJ Federal e da par-cela mineira e caso aprovadaserá enviada à ANA, ao Depar-tamento de Água e Energia Elé-trica do Estado de São Paulo(DAEE) e o Instituto Mineirode Gestão das Águas (IGAM).Nesse sentido, continuariam aser enviados os 3m3/s para asBacias PCJ e a Grande SP pas-saria a receber 24,8m3/s, quesão as vazões primárias estabe-lecidas. Essa medida tem co-mo objetivo evitar o rebaixa-mento demasiado dos reserva-tórios do Sistema Cantareira,uma vez que, abaixo de 20%,torna-se difícil a transposiçãopor gravidade da água de umreservatório para outro.

LEIA MAIS NAS PÁGINAS A5 E B5

Sugestões de pautas, críticas e elogios:[email protected] oupelos telefones 3772-8221 e 3772-8162

Atendimento ao assinante:3736-3200 ou peloe-mail [email protected]

Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo, Luís Fernando Manzoli e Marcia Marcon Chefe de reportagem: Guilherme Busch

Fevereiro começou com regis-tro de temperaturas mínima emáxima mais altas para o mêsem Campinas. Desde 1956,quando o Instituto Agronômi-co de Campinas (IAC), da Se-cretaria de Agricultura e Abas-tecimento do Estado, iniciouas medições, a cidade não vi-via dias tão quentes no perío-do. No último sábado, 1º diado mês, os termômetros regis-traram uma temperatura máxi-ma de 35,3ºC. A máxima maisalta registrada em fevereiro an-teriormente foi em 1956, quan-do a temperatura chegou a35,2ºC. Com os termômetros

marcando 24,2ºC, a madruga-da de ontem foi a mais quentedos últimos oito anos. O recor-de de mínima anterior havia si-do registrado em 1999, quan-do os termômetros atingiram18,6ºC. O termômetro do IACestá instalado no Centro Expe-rimental do instituto, que ficana Fazenda Santa Elisa, nobairro Vila Nova.

De acordo com o pesquisa-dor Mário José Pedro Júnior,do IAC, a cidade vive uma ad-versidade climática, principal-mente em relação às tempera-turas mínimas. Segundo ele, oaumento das temperaturas de-corre, principalmente, da faltade chuva. “Quando chove, a

água evapora e a temperaturabaixa. Sem chuva, com as tem-peraturas em torno de 34ºC,35ºC por vários dias, o calor fi-ca acumulado, elevando a tem-peratura inclusive na madruga-da.” Segundo ele, a média dastemperaturas mínimas dos últi-mos dias está 6ºC mais altaque os anos anteriores, que gi-ravam em torno dos 18ºC.

O calor excessivo vem afe-tando principalmente as pes-soas que trabalham diretamen-te ao ar livre. O varredor de ruaJoão Carlos Teodoro da Silvadisse que nunca tinha passadotanto calor. “Trabalho na ruahá 12 anos, mas este ano estámuito forte o calor. A gente pas-

sa protetor solar que a empre-sa oferece, usa boné, blusa demanga, luva, bota e bebe mui-ta água”, disse. “O superior fa-lou que sempre que der é paraa gente correr para sombra”,contou o colega de Silva, Wil-son Aparecido Rocha Batista.

O ajudante de obra JoséAdaílton Oliveira, que trabalhana ampliação de uma rodoviade Campinas há sete meses, le-va um protetor de pano espe-cial para o pescoço e procurabeber dois copos de água de250 ml a cada 20 minutos. “Aempresa oferece tudo. Protetorsolar, luva, camisa de mangalonga, bota, óculos, capacete,mas eu decidi trazer esse pano

para proteger o pescoço, queestava ficando manchado. Émelhor passar mais calor doque se queimar”, afirmou.

A carteira Roseli Jorge, de 40anos, contou que para supor-tar o calor tem tomado pelomenos cinco garrafinhas deágua por dia, além de sorvetese suco. “Sempre que dá eu voucaminhando pela sombra, masàs vezes não tem jeito. Tem ho-ra que parece que a gente vaicair.” (Fabiana Marchezi/AAN)

No mesmo ponto da Praça Carlos Gomes, homem se molha, o pequeno Israel bebe água ajudado pelo irmão Ítalo e jovens se refrescam: flagrantes de uma tarde de calor escaldante

Rafael Souza e José Oliveira em obra de rodovia: proteção contra o sol Os varredores João Silva e Wilson Batista: cuidados incluem muita água

Punição para quem lavar calçamento com água tratada terá valor 3 vezes maior que a taxa de consumo

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Clima no início de fevereiro já bate recordes

Fotos: Leandro Ferreira/AAN

Fotos: Dominique Torquato/AAN

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A4 CORREIO POPULARCampinas, terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

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