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A tua casa de sonho é um sonho de casa. Luxuosa ou moderna. Simples ou divertida. Clássica ou exótica. Completa ou minimalista. Com gato ou sem gato. Se procuras a tua casa de sonho, a tua casa é no Banco BIC. Integram esta edição semanal, além deste corpo principal, os seguintes cadernos: ECONOMIA, REVISTA E e EMPREGO e ainda JANELAS EFICIENTES Fundador: Francisco Pinto Balsemão 14 de maio de 2016 2272 €3,20 Diretor: Pedro Santos Guerreiro Diretor-Executivo: Martim Silva Diretores-Adjuntos: Nicolau Santos, João Vieira Pereira e Miguel Cadete Diretor de Arte: Marco Grieco expresso.sapo.pt Expresso 24h “JORNAL EUROPEU DO ANO” GRÁTIS HOJE COLEÇÃO “OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES” VOL. VIII Não perca o Expresso Diário Use o código que está na capa da Revista E para ler o Expresso Diário de segunda a sábado no seu smartphone, tablet ou computador, sem pagar mais por isso PS faz diretas antes do congresso O Partido Socialista dá no próximo fim de semana o pontapé de saída para o con- gresso, que realiza entre 3 e 5 de junho, ao promover elei- ções diretas para o secretá- rio-geral e para os delegados ao congresso. O congresso será aberto no sábado pelo presidente do partido, Carlos César, mas na véspera haverá reuniões sobre cinco temas, abertas a simpatizantes. Santo Egídio em Lisboa Andrea Riccardi, historiador da igreja contemporânea e fundador da Comunidade de Santo Egídio, estará na próxima terça-feira na Uni- versidade Católica de Lisboa para uma conferência sobre “Periferias: crise e novidade para a Igreja no Pontificado do Papa Francisco”. D. Ma- nuel Clemente presidirá ao encontro. Economia abranda em 2016 O PIB português voltou a abrandar no primeiro tri- mestre, com um crescimen- to homólogo de 0,8%. Foi o segundo pior da zona euro depois da Grécia, onde a eco- nomia está a afundar. E6 Acordo suspeito na Câmara da Covilhã A PJ da Guarda já concluiu a investigação a um acordo entre a Câmara da Covilhã e a mulher do presidente da Assembleia Municipal, condenada por duas vezes a pagar €265 mil à autarquia. A câmara perdoou metade da dívida. P23 Carlos César: “Estamos todos a esticar a corda” P14 Exclusivo ‘Monte Branco’ com ligações à ‘Lava-Jato’ P20 Um mistério chamado Elena Ferrante E34 OPERAÇÃO MARQUÊS O melhor onze, as maiores revelações, as promessas e os falhanços da época O duelo entre Jorge Jesus e Rui Vitória O Facebook de Bruno Carvalho e o Twitter de João Gabriel O futuro do Sporting e do Benfica A opinião de Pedro Santos Guerreiro e Nicolau Santos P8 e E26 Alentejo é a região mais deprimida e obesa Má alimentação está associada à saúde mental. Uma relação de causa ou efeito? P26 Gestor confirma transferência, diz que dinheiro era para financiar compra de ações da PT e já foi devolvido “Saco azul do GES” transferiu 18,5 milhões para Zeinal A ES Enterprises transferiu €18,5 milhões para uma conta no estrangeiro de Zeinal Bava. O próprio confirma ao Expres- so a transferência, garantindo que ela foi feita mediante um contrato para financiar compra de ações da PT por altos qua- dros da empresa. A aquisição nunca seria feita e o dinheiro foi entregue este ano no Lu- xemburgo. P22 Governo relança comissão dos espoliados do Ultramar Associações de espoliados de Angola e Moçambique representam cerca de 500 pessoas que pedem indemnizações Governo está disponível para reativar o grupo de trabalho sobre os espoliados de Angola e Moçambique que há 40 anos reclamam indemnizações pelos bens que perderam nas ex-co- lónias portuguesas. Em 2005, chegou a ser criado um grupo interministerial para resolver o problema mas nunca se chegou a reunir. Partidos são consen- suais e MNE acolhe ideia. P16 Costa dá novos contratos para apaziguar Igreja e privados Governo abre a porta a parcerias no pré-escolar. Marcelo travou choque nos contratos de associação. Ao Expresso, afirma: “Governo e escolas têm de falar e encontrar solução rápida. É preciso estabilidade” P6/7 © Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1776793 - [email protected] - 62.169.84.22 (14-05-16 13:33)

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A tua casa de sonho é um sonho de casa. Luxuosa ou moderna. Simples ou divertida. Clássica ou exótica. Completa ou minimalista. Com gato ou sem gato. Se procuras a tua casa de sonho, a tua casa é no Banco BIC.

Quadrado_Sauda_43mm_App_p.pdf 1 17/02/16 11:22

Integram esta edição semanal, além deste corpo principal, os seguintes cadernos: ECONOMIA, REVISTA E e EMPREGO e ainda JANELAS EFICIENTES

Fundador: Francisco Pinto Balsemão 14 de maio de 20162272 €3,20

Diretor: Pedro Santos Guerreiro

Diretor-Executivo: Martim SilvaDiretores-Adjuntos: Nicolau Santos,João Vieira Pereira e Miguel Cadete

Diretor de Arte: Marco Grieco

expresso.sapo.ptExpresso

24h

“JORNAL EUROPEU DO ANO” GRÁTIS HOJE

COLEÇÃO “OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES”

VOL. VIII

Não perca o Expresso DiárioUse o código que está na capa da Revista E para ler o Expresso Diário de segunda a sábado no seu smartphone, tablet ou computador, sem pagar mais por isso

PS faz diretas antes do congressoO Partido Socialista dá no próximo fim de semana o pontapé de saída para o con-gresso, que realiza entre 3 e 5 de junho, ao promover elei-ções diretas para o secretá-rio-geral e para os delegados ao congresso. O congresso será aberto no sábado pelo presidente do partido, Carlos César, mas na véspera haverá reuniões sobre cinco temas, abertas a simpatizantes.

Santo Egídio em LisboaAndrea Riccardi, historiador da igreja contemporânea e fundador da Comunidade de Santo Egídio, estará na próxima terça-feira na Uni-versidade Católica de Lisboa para uma conferência sobre “Periferias: crise e novidade para a Igreja no Pontificado do Papa Francisco”. D. Ma-nuel Clemente presidirá ao encontro.

Economia abranda em 2016O PIB português voltou a abrandar no primeiro tri-mestre, com um crescimen-to homólogo de 0,8%. Foi o segundo pior da zona euro depois da Grécia, onde a eco-nomia está a afundar. E6

Acordo suspeito na Câmara da CovilhãA PJ da Guarda já concluiu a investigação a um acordo entre a Câmara da Covilhã e a mulher do presidente da Assembleia Municipal, condenada por duas vezes a pagar €265 mil à autarquia. A câmara perdoou metade da dívida. P23

Carlos César: “Estamos todos a esticar a corda” P14

Exclusivo ‘Monte Branco’ com ligações à ‘Lava-Jato’ P20

Um mistério chamado Elena Ferrante E34

OPERAÇÃO MARQUÊS

O melhor onze, as maiores revelações, as promessas e os falhanços da época

O duelo entre Jorge Jesus e Rui Vitória O Facebook de Bruno Carvalho

e o Twitter de João GabrielO futuro do Sporting e do Benfica

A opinião de Pedro Santos Guerreiro e Nicolau Santos P8 e E26

Alentejo é a região mais deprimida e obesaMá alimentação está associada à saúde mental. Uma relação de causa ou efeito? P26

Gestor confirma transferência, diz que dinheiro era para financiar compra de ações da PT e já foi devolvido

“Saco azul do GES” transferiu 18,5 milhões para Zeinal

A ES Enterprises transferiu €18,5 milhões para uma conta no estrangeiro de Zeinal Bava. O próprio confirma ao Expres-so a transferência, garantindo que ela foi feita mediante um contrato para financiar compra de ações da PT por altos qua-dros da empresa. A aquisição nunca seria feita e o dinheiro foi entregue este ano no Lu-xemburgo. P22

Governo relança comissão dos espoliados do Ultramar

Associações de espoliados de Angola e Moçambique representam cerca de 500 pessoas que pedem indemnizações

Governo está disponível para reativar o grupo de trabalho sobre os espoliados de Angola e Moçambique que há 40 anos reclamam indemnizações pelos bens que perderam nas ex-co-lónias portuguesas. Em 2005, chegou a ser criado um grupo interministerial para resolver o problema mas nunca se chegou a reunir. Partidos são consen-suais e MNE acolhe ideia. P16

Costa dá novos contratos para apaziguar Igreja e privados

Governo abre a porta a parcerias no pré-escolar. Marcelo travou choque nos contratos de associação. Ao Expresso, afirma: “Governo e escolas têm de falar e encontrar solução rápida. É preciso estabilidade” P6/7

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Expresso, 14 de maio de 2016 03 PRIMEIRO CADERNO

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Expresso, 14 de maio de 201604 PRIMEIRO CADERNO

Ricardo [email protected]

Descodificador por Carolina Reis

Todas as mulheres vão poder ser mães

Nova lei da PMA permite que todas as mulheres possam recorrer a técnicas de fertilidade, incluindo as solteiras. As mulheres inférteis podem recorrer a ‘barrigas de aluguer’

1 OquesãoaPMAea‘barrigadealuguer’?

A lei da procriação medicamente assistida (PMA) regula o acesso a técnicas de fertilidade, entre as quais a inseminação artificial e a fertilização in vitro (FIV). Define as condições de acesso no Serviço Nacional de Saúde, como o limite de idade e a quantidade de ciclos de tratamento, e nas clínicas privadas. A gestação de substituição, vulgarmente conhecida como ‘barriga de aluguer’, é um método de procriação que ocorre quando uma mulher se dispõe a suportar uma gravidez em nome de outra, e com material biológico (ovócitos) alheio, sabendo que depois do parto entrega a criança, renunciando a quaisquer poderes e deveres. A lei destina-se apenas a mulheres sem útero, com alguma lesão ou doença.

2 Quaissãoasgrandesmudançasqueanovaleiimplica?

Até aqui, as técnicas de procriação eram usadas apenas em situação de doença: a infertilidade da mulher ou do casal. E apenas mulheres heterossexuais, casadas ou em união de facto há pelo menos dois anos podiam aceder a estes tratamentos, tanto no SNS como no privado. A nova lei alarga o acesso a todas as mulheres: lésbicas, divorciadas, viúvas e solteiras. E iguala Portugal a outros 23 países na Europa, incluindo Espanha onde muitas portuguesas se têm deslocado para engravidar. Passam de método de tratamento a método alternativo de procriação.

3 Asmulheresvãopassarapoderterfilhossozinhas?

Sim. A maternidade sem companheiro é a principal alteração da lei da PMA. No caso das mulheres, o desejo da maternidade tem um prazo, o da biologia. Nos últimos anos, muitas portuguesas foram ao estrangeiro fazer inseminações artificias ou fertilizações in vitro. No regresso a Portugal, deparavam-se com um processo jurídico de investigação de paternidade, uma vez que em Portugal não podem existir filhos de pais incógnitos. A partir de agora, bastará a vontade da mulher para ser mãe.

4 A‘barrigadealuguer’podearrepender-se?

Não se sabe. Essa é uma questão para resolver em regulamentação. O projeto-lei do BE é omisso em relação a essa questão. E proíbe qualquer tipo de pagamento ou doação de qualquer bem ou quantia entre os beneficiários, que são os pais da criança, e a gestante de substituição, a mulher que terá a gravidez. A única exceção é para despesas de saúde e de transporte para idas ao médico, mas a gestante só será paga mediante a apresentação de fatura. A gestante não poderá ter uma relação de dependência económica e laboral com os beneficiários. As duas partes assinam, previamente, um contrato que pode ser considerado nulo se for descoberto que houve troca de dinheiro. Caso isso aconteça, a criança fica com os beneficiários, porque isso é o que respeita os seus interesses, ser entregue a quem a deseja.

O Cartoon de António A espera

ALTOSGeringonça

Passaram-se esta semana seis me-ses desde que a esquerda assinou o acordo que permitiu viabilizar o Governo do PS e criar esta “gerin-gonça” que manda nos destinos do país. E, ao contrário do que muitos vaticinavam, a solidez do acordo e a sua durabilidade estão a revelar--se (e é o próprio PSD a reconhecer isso mesmo) maiores do que a en-comenda.

Renato SanchesFutebolista

O miúdo de 18 anos da Musgueira passou em seis meses da equipa B do Benfica a estrela do futebol na-cional, confirmada com a milioná-ria transferência para os alemães do Bayern de Munique (a mais ca-ra envolvendo um português ja-mais realizada por um clube na-cional).

E BAIXOSMiguel MacedoEx-ministro da Administração Interna

No despacho instrutório em que decidiu levar a julgamento o ex-mi-nistro da Administração Interna e mais duas dezenas de arguidos, no processo dos vistos gold, o juiz Car-los Alexandre classifica o caso co-mo um “lamaçal” e afiança que “a prova indiciária já recolhida é arra-sadora”.

Nuno Sá Ex-deputado do PS

Este socialista, próximo de An-tónio José Seguro, era o número oito da lista do PS por Braga nas últimas legislativas. Não foi elei-to, mas depois da ida de Manuel Caldeira Cabral para o Governo, acabou por ter direito a entrar no Parlamento, em substituição. Não quis, por trabalhar na Auto-ridade para as Condições do Tra-balho. Suspendeu por isso o man-dato e entrou outra socialista pa-ra o seu lugar. Agora, passados estes meses, decidiu que afinal quer ser deputado. Só que, lá diz o provérbio, quem vai ao ar per-de o lugar e o PS agora já não o quer lá.

António CostaPrimeiro-ministro

Na mesma semana convidou José Sócrates para a inauguração do túnel do Marão mas evitou fotos com o ex-PM; viu os números do desemprego aumentar; não con-seguiu esvaziar a polémica dos contratos de associação com os colégios privados; anunciou uma descida do preço dos combus-tíveis que afinal se ficou por um singelo cêntimo por litro; e ain-da confessou, de forma atabalho-ada (e depois negada) numa en-trevista à SIC Notícias, que afinal há um plano B para este ano com mais austeridade, depois de me-ses a afirmar o contrário.

Martim [email protected]

RICARDO COSTA ESCREVE NO EXPRESSO DIÁRIO ÀS TERÇAS E QUINTAS-FEIRAS

Uma destituição sem eleições é um perigo. Com uma alternativa duvidosa é um desastre

como nas suas instituições. O escân-dalo do ‘Lava-Jato’ é um monumento à imbecilidade e boçalidade política e a vergonha de qualquer regime.

Mas uma destituição sem alternativa credível ou lógica pode ser um erro de dimensões ainda maiores. Quando Collor de Melo foi afastado, o processo assentou num reforço da democracia, afastando um Presidente suspeito de corrupção. Foi um gesto que purgou e solidificou a então muito jovem demo-cracia brasileira.

Intentar um impeachment contra alguém que não é suspeito e sem avan-çar de imediato para eleições pode ser de um perigo imenso. Já ninguém acreditava em Dilma ou na sua capaci-dade para governar. Mas só um doido é que acredita num Presidente como Michel Temer e num grupo de minis-tros indiciados e suspeitos pela justiça.

Por pior que a situação seja ou por mais incerteza que gere não há nada que ultrapasse a legitimidade de elei-ções. O Brasil vai mostrar-nos isso ao vivo e a cores. E não vai ser bonito.

a que aconteceu na Grécia ou, por razões diferentes, em Itália e alastra por toda a Europa do norte.

Em junho, mais dois países testam os seus limites em eleições. Em Espa-nha, tenta encontrar-se uma solução governamental depois da votação de dezembro ter sido inconclusiva, ape-sar das intensas rondas negociais, com dois partidos novos a dominarem as conversações. No Reino Unido, a de-mocracia é testada ao limite, com um referendo que pode mudar a Europa para sempre.

Todos os exemplos que dei — e há muitos mais para juntar à lista — as-sentam em situações que decorrem de eleições ou que se podem resolver em eleições. Mesmo os casos-limite — como os de tentativa de domínio da comunicação social ou da liberdade de expressão que se vivem na Hungria e se começam a sentir na Polónia —nasceram de eleições absolutamente legítimas e só podem ser alterados pela mesma regra.

Resolvi lembrar estes casos na res-saca de alguma euforia pela quase destituição de Dilma Rousseff. Não tenho qualquer dúvida de que o PT é hoje um antro de corrupção e o prin-cipal responsável pela profunda crise que o Brasil vive, tanto na economia

cia completamente ameaçada, com as presidenciais a serem disputadas por um candidato que navega o senti-mento antirrefugiados e outro que faz um discurso antissistema próprio dos movimentos ecologistas.

A deriva iliberal austríaca é apenas mais uma, depois do que já existe na Hungria ou na Polónia e de muitas im-plosões de sistemas partidários, como

Na passada segunda-feira, o chanceler austríaco, o so-cial-democrata Werner Faymann, demitiu-se, abrin-

do uma crise política motivada pela passagem à segunda volta das elei-ções presidenciais de um candidato de extrema-direita e de outro dos Verdes. Pela primeira vez desde a Se-gunda Guerra Mundial, os candida-tos dos dois partidos centrais ao sis-tema não conseguiram sequer somar vinte cinco por cento dos votos.

Em 2002, os sociais-democratas e o partido de centro-direita valiam oiten-ta por cento em legislativas. Em 2013, já só somavam em conjunto cinquenta por cento. Agora, veem a sua influên-

A superioridade absoluta das eleições

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Expresso, 14 de maio de 2016 PRIMEIRO CADERNO 05

Pedro Santos [email protected]

ACHA QUE VAI SER NECESSÁRIO UM PLANO B?

%Não27,4

NS/NR: 9,9

Sim53,2

PEDRO SANTOS GUERREIRO ESCREVE NO EXPRESSO DIÁRIO ÀS SEGUNDAS E QUARTAS-FEIRAS

Não pode correr bem. Um Presidente não eleito, suspeito de corrupção, sem apoio popular nem condições políticas,

no meio de uma crise económica, social e institucional, e nomeando ministros que assim se barricam da Justiça... O Brasil é uma mina política que está a ser pisada.

Uma crise política só tem solução boa se ela for política. O novo governo de Michel Temer é uma folha assinada a lápis por um Presidente com poderes de caneta. É um governo com ministros suspeitos de corrupção, que se concebem de cimento sobre uma construção de argila. Como dizem os brasileiros, é um governo de três bês: bíblia, bala e boi. Os evangélicos, os securitários, os latifundiários.

Um ministro da Justiça (da Justiça!) que defende políticas repressivas, violência sobre manifestantes e sigilo de autos policiais de 50 anos, tutela a Polícia Federal, que investiga a ‘Lava-Jato’. Um ministro da agricultura que é o maior produtor individual de soja do mundo. Um ministro da Indústria bispo da IURD, de vastos interesses empresariais. Um ministro das Finanças que traz boa reputação mas irá impor austeridade num país onde 47 milhões são subsidiados pelo Bolsa Família. E sobretudo: um Presidente com mais nódoas na camisa do que na consciência, provocação a um povo que se fanatiza contra e a favor os que são destituídos e quem os destitui.

Que representação tem o povo, num caso de corrupção que turva a vista de quem tem olhos, escândalo que toca todos os partidos, incluindo o do povo, o partido de Lula, que foi dos políticos mais admirados do planeta?

Não há maçãs podres na política brasileira, há macieiras, há pomares podres. É acusação, mas não é nossa, é da Justiça Federal. E é desespero, pela impotência da escolha de reconstruir com o sistema com medo do que sobre se se destruir o sistema. Uma democracia, um Estado, um país só resiste a líderes viciosos se tiver instituições fortes mas forte em Brasília só a arquitetura de Niemeyer. “A capital da República não é amaldiçoada, porque os erros que abriga são frutos dos homens que nela habitam”, escreveu o jornalista Plínio Fraga no Expresso Diário. Os homens que a habitam representam o povo das ruas? Eles que lá estão saberão, mas nós aqui sentimos que a traição alheia de líderes que já admirámos é mais do que a disputa do benefício ilícito. É roubar o chão social a quem não tem teto político, é viciar a democracia e seviciar o povo que nunca, mas nunca merece tanto se o tanto é tão mau nem pouco se o pouco é injusto.

Políticos ricos, pobre povo

Dilma afastada, Temer empossado. O Brasil não é uma novela nem esta semana foi mais um episódio. De passo em passo, o país percorre o rumo dos países sem rumo

No barómetro de maio, a maioria dos inquiridos revela-se cética relativamente ao cumprimento das perspetivas económicas do Governo

Mais de metade dos portugueses não têm dúvidas de que, lá mais para o fim do ano, António Costa e Mário Cente-no vão ter mesmo de recorrer ao plano B que agora desvalorizam.

Questionados no barómetro de maio da Eurosondagem para o Expresso e a SIC sobre se vão ou não ser necessá-rias medidas adicionais para cumprir as metas orçamentais para 2016, 53% acreditam que sim. A desconfiança sobre o desempenho económico do país é assumida: à pergunta “acredita nas contas do Governo para a econo-mia portuguesa?” quase 60% (57,7%) dos inquiridos respondem que não. O estudo de opinião revela, ainda assim, que cerca de um quarto dos inquiri-dos (26%) faz fé que as previsões do

Portugueses esperam plano B

Executivo se confirmem, quase tantos quantos os que admitem (27,3%) que não será preciso recorrer a um plano B. O plano B dominou esta semana a discussão política quando António Costa admitiu em entrevista à SIC que o anexo ao Programa de Estabilidade (PE) com novas medidas de controlo de despesa é para aplicar em 2016, se for necessário, quando antes dissera que era apenas para o período de vi-gência do PE (20017-2020). Ontem no debate quinzenal no Parlamento explicou que “foi um equívoco” e que se trata de medidas apenas para o futuro. “A execução orçamental dei-xa-nos confortáveis para não antever a necessidade de uma medida que seja o plano B”. C.F.

Europa Líder do PPE acusa Comissão de querer beneficiar os “amigos socialistas”

PPE pediu “força máxima” nas sanções a Portugal

Cristina Figueiredo e Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

O Partido Popular Eu-ropeu (que reúne a maior parte dos par-tidos conservadores da UE) quer que a Comissão Europeia (CE) endureça as suas posições sobre os países incumpri-

dores do défice de 3% definido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (Portugal e Espanha): “Todos os ins-trumentos, incluindo os da vertente corretiva [do PEC], devem ser usa-dos na sua força máxima”, defende o presidente do PPE, Manfred Weber, numa carta enviada ao presidente da CE, Jean-Claude Juncker, a que o Expresso teve acesso.

Na missiva, datada de 2 de maio — dois dias antes da reunião do Colégio de Comissários da Comissão Euro-peia (CE) que aprovou as previsões económicas de primavera —, Weber expressa a “profunda preocupação” do seu grupo partidário com o que considerou estar a ser “uma inter-pretação, implementação e aplicação permissivas do Pacto de Estabilidade e Crescimento” por parte dos países com défices superiores a 3% do PIB (ou seja, Portugal e Espanha).

O responsável pelos populares euro-peus (a que pertencem, nomeadamen-te, o PSD de Pedro Passos Coelho e o PP de Mariano Rajoy) lembra que a Comissão “tem um papel essencial em assegurar a implementação do PEC” e “exorta fortemente” a instituição presidida por Juncker a “assegurar uma implementação plena e coeren-te” das regras orçamentais que todos os Estados-membros da UE se com-prometeram a cumprir.

Vices de Weber apanhados de surpresa

A carta apanhou de surpresa os vice--presidentes do grupo parlamentar do PPE. Paulo Rangel e o espanhol González Pons não sabiam que Man-fred Weber tinha escrito a Juncker no dia 2 de maio, pedindo mão firme na aplicação das regras, adiantou ao Ex-presso fonte europeia. A confirmar-se a aplicação de sanções (que no caso português ascenderiam aos 360 mi-lhões de euros), a medida prejudicaria dois partidos da família política de centro-direita: o Partido Popular espa-nhol, de Rajoy, que vai a votos a 26 de junho e o PSD, de Passos Coelho, que foi Governo até 2015, sem conseguir corrigir o défice.

Ao Expresso, Weber dá a entender que as suas palavras foram mal com-preendidas e explica que o objetivo da carta era apenas evitar que o co-missário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, “im-

da com um agravamento do Proce-dimento por Défice Excessivo, para Portugal e Espanha. “Os números são muito claros”, diz fonte comunitária, referindo-se à derrapagem do défice nominal que, no caso português, ficou nos 4,4% do PIB. O próprio Moscovi-ci já tinha dito que sem “as medidas extraordinárias, nomeadamente as ligadas ao Banif, o défice teria sido de 3,2%”, ainda assim acima da linha vermelha.

Penalizar o passado ou o futuro?

Mas o processo de aplicação de san-ções não é automático — até hoje, aliás, Bruxelas tem evitado aplicá-las (Portugal, que tem falhado todos os prazos para corrigir o défice desde 2009, nunca foi multado). Primeiro, a CE tem de concluir que o país não fez

os esforços necessários para corrigir o défice e depois fazer uma recomenda-ção ao Conselho, que é quem decide.

António Costa garantiu na quar-ta-feira, em entrevista à SIC, que irá defender em Bruxelas, na próxima semana, não ver razões para a Europa castigar Portugal. No mesmo sentido agiram também Passos Coelho e Ma-ria Luís Albuquerque. O ex-PM falou com Jean-Claude Juncker (presidente da CE) e a ex-ministra das Finanças escreveu ao primeiro vice-presiden-te Dombrovskis. Mas os sociais-de-mocratas admitem que a CE esteja a ponderar penalizar Portugal não pelo passado mas pelo futuro (isto é, pelo facto de as medidas previstas para cor-rigir o desvio do défice em 2016 serem insuficientes). E se assim for, dizem, a responsabilidade é do atual Governo.

[email protected]

Costa e Juncker (presidente da Comissão Europeia): PM quer evitar sanções a Portugal FOTO YVES HERMAN/REUTERS

DÉFICE EXCESSIVO

pusesse regras a Portugal e Espanha, diferentes das que impõe a Itália ou França ”. “Uma coisa é aplicar a flexi-bilidade do PEC dentro das regras do PEC, outra, muito diferente, é aplicar esta flexibilidade apenas a alguns paí-ses amigos que partilham da mesma cor política”. Reforça: “Seria difícil a Moscovici explicar porque propõe agora penalizar países que têm esta-do a esforçar-se para implementar reformas simplesmente porque não cumpriram as metas do ano passado, quando no passado propôs que não se sancionasse membros com governos socialistas que não só não cumpriram as metas como foram relutantes em fazer reformas e até passaram o tem-po a encontrar desculpas”.

A última reunião do colégio de co-missários (na semana passada) deixou claro que há uma maioria que concor-

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Expresso, 14 de maio de 201606 PRIMEIRO CADERNO

Brandão Rodrigues não recebeu a associação dos colégios católicos, que o acusam de ser “seletivo” nos interlocutores e de causar uma “balbúrdia” no Ministério

Escolas católicas furiosas com ministro

São 34% dos colégios afetados pelas alterações ao regime de contratos de associação, mas representam quase metade dos alunos (cerca de 20 mil) e mais de dois mil professores que

integram aquele sistema de ensino. As grandes ordens religiosas com fun-ções educativas, como os Salesianos e os Jesuítas, foram também atingidas pela proposta de Tiago Brandão Ro-drigues e estão a mover todo o seu peso e influência para travar a inicia-tiva legislativa. Querubim Silva, presi-dente da Associação de Escolas Católi-cas (AEC) passou ao ataque. Diz que o ministro “tem sido muito seletivo nos interlocutores de diálogo”, tendo até agora ignorado os pedidos de reunião apresentados pela AEC. Além disso, “pôs tudo em alvoroço, sem necessi-dade” e está a causar “uma balbúrdia” no sistema educativo.

“Este diploma é uma agonia len-ta”, diz Querubim Silva. O líder da Associação de Escolas Católicas é padre e dirige um dos colégios, em Aveiro, que “terá certamente de fe-char” se os cortes anunciados pelo Governo forem avante. A escola pertence à diocese aveirense, mas na lista dos 27 estabelecimentos de ensino católicos (dos 79) afetados pela iniciativa do ministro da Edu-cação, os colégios diocesanos são uma minoria. A fatia maior cabe a

Lista de escola tem vários nomes de políticos ou ex-políticos como António Calvete, Fernanda Mota Pinto ou António Robalo

Os interesses de PS, PSD e CDS nos colégios

À cabeça aparece António Calvete, que já foi deputado pelo PS e está ligado a 12 colégios privados através do grupo GPS ou em nome próprio. É diretor de escolas em Coimbra, Figueira da Foz ou Caldas da Rainha. Ao Expresso, confirmou o número mas não quis fazer declarações. Tem sido sempre discreto, para mais de-pois das notícias de que o grupo GPS está a ser investigado por corrupção (houve buscas em 2014), sem ter sido ainda deduzida qualquer acusação.

Porém, há igualmente ligações ao PSD. O Colégio São Martinho, em Coimbra, é dirigido por Fernanda Mota Pinto, viúva do fundador do PSD, Carlos Alberto Mota Pinto, e também ela ex-deputada do PSD. Em Soure, o Colégio D. José I é ge-rido por dois deputados municipais do PSD.

Já o Externato do Soito é dirigido pelo próprio presidente da Câma-ra do Sabugal, António Robalo. Ao Expresso, frisa que o Tribunal Cons-titucional declarou não haver incom-patibilidade pelo facto de o cargo não ser remunerado e mostra-se mais preocupado com a diminuição ge-

neralizada do número de alunos do que com o corte nos contratos de associação. A escola (uma coopera-tiva) é pequena, tem apenas quatro turmas financiadas e situa-se a 15 km da escola pública. “É uma escola de serviços mínimos. O nosso drama é não haver crianças”, explica o ex--professor de Matemática da escola, lembrando que todo o concelho (no distrito da Guarda) está a perder alunos a cada ano que passa.

No distrito de Aveiro, há um colé-gio que é dirigido pelo ex-presidente do CDS-Murtosa e que já foi can-didato a deputado à Assembleia da República, Pedro Marques. E ainda o caso do responsável do Estabele-cimento de Ensino Santa Joana que é simultaneamente presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas da Gafanha da Encar-nação (escolas públicas). Dado que por lei este cargo pode ser exercido por representantes da comunidade local, o Ministério da Educação não encontrou incompatibilidade.

Helena Pereira com Joana Pereira Bastos

[email protected]

Um ex-deputado do PS, um presidente de câmara do PSD, uma ex-deputa-da do PSD, um ex-dirigente do CDS. Na lista dos 79 colégios privados que têm contratos de associação com o Estado, cruzam-se vários interesses partidários.

Marcelo travou choque entre Governo e Igreja

Filipe Santos Costa e Rosa Pedroso Lima

O Presidente da Re-pública assumiu nos últimos dias a me-diação no conflito entre o Governo, de um lado, e as escolas privadas, a Igreja Ca-tólica e a oposição, do outro, por causa da

polémica em torno dos contratos de associação. Marcelo Rebelo de Sousa levou a questão à habitual reunião das quintas-feiras com o primeiro-ministro, com quem já antes tinha abordado o assunto, e manteve contactos ao longo da semana com a hierarquia da Igreja Católica, com os representantes dos colégios e com o presidente do Conse-lho Nacional de Educação. Segundo o Expresso apurou, a diplomacia de bastidores promovida pelo chefe do Estado travou uma tomada de posição mais violenta que estava a ser prepa-rada pelo cardeal-patriarca de Lisboa. Por outro lado, permitiu afinar agulhas entre Belém e São Bento, numa questão em que o Presidente e o Governo não pensam o mesmo.

Ontem, o primeiro-ministro apresen-

tou-se no debate quinzenal com o tom conciliatório que havia articulado em Belém: António Costa sublinhou que nada está decidido, anunciou um encon-tro na terça-feira com os representantes do ensino particular e cooperativo e deixou a porta aberta a contratos alter-nativos que compensem as escolas que venham a perder financiamento dos contratos de associação.

Em declarações ao Expresso, Marcelo sublinha que “na educação são essen-ciais a previsibilidade e a certeza. Para os alunos, as famílias, os professores, o pessoal não docente e as escolas. A mês e meio do fim do ano letivo, é óbvio que o Governo e a Associação de Estabele-cimentos de Ensino Particular e Coope-rativo têm de falar e que importa chegar a uma solução rápida e clara, para que vinguem os objetivos da previsibilidade e da certeza”. E acrescenta que “parece ser esse o sentido da intervenção do senhor primeiro-ministro no debate quinzenal”.

Embora reafirmando os princípios do Governo — 1) os contratos em vigor serão cumpridos; 2) no futuro, “onde há carências pode haver contratos de asso-ciação, onde não há carências da rede pública não pode haver contratos de associação” —, Costa foi ao Parlamento prometer diálogo e garantir que “não

Mediação Recuo anunciado por Costa foi articulado com Belém e acalmou cardeal-patriarca

EDUCAÇÃO

Os protagonistas da polémica encontraram-se na nova sede da Rádio Renascença. Só faltou o ministro FOTO JOSÉ CARIA

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Expresso, 14 de maio de 2016 07 PRIMEIRO CADERNO

NEGOCIAÇÃO

UGT exigiutratamento igual

Dias da Silva, líder dos professores da UGT, pediu a intervenção do secretário-geral da central sindical, para ‘forçar’ um encontro com o ministro da Educação que estava há três meses sem resposta. O assunto foi levado a Belém a 18 de abril, com Carlos Silva a lamentar ao PR a falta de diálogo e a diferença de tratamento entre a FNE e a Fenprof. Dois dias depois, o ministro recebeu a UGT e aceitou encontros trimestrais para análise das políticas educativas. João Dias da Silva assume que “havia informação da existência de reuniões informais no Ministério com os sindicatos da Fenprof. Nós apenas exigimos um tratamento igual”. Já o ME garantiu ao Expresso que entre janeiro e maio a equipa ministerial recebeu duas vezes a Fenprof e idêntico número de ocasiões a FNE. R.P.L.

Opinião Por Luís Montenegro

Em primeiro os alunos

Em primeiro lugar estão os alunos. É por eles e para eles que se desenvolvem políticas educativas; é por eles e para eles que existem escolas; é por eles e para eles que se defende um siste-ma educativo de qualidade orientado para o sucesso de todos;

foi por eles e para eles que foi desenvolvido um sistema público de educação servido por escolas estatais e não-estatais. Parece que nos esquecemos disto. Esquecemos que a escola é também um projeto de uma comunidade educativa, que para a educação todos são chamados a contribuir e a intervir. Tudo isto tem estado ausente na atual discus-são em torno dos contratos de associação. Uma discussão originada por um despacho do ME, que introduz incompreensivelmente duas normas que colocam em causa não só a qualidade do serviço público de educação, como também os valores sociais da previsibilidade e da estabilidade nas comunidades educativas locais também servidas por escolas com contrato de associação.

A sistemática instabilidade e o clima de incerteza introduzidos pela atual equipa ministerial em nada contribuem para a qualidade do sistema educativo, mas o mais recente despacho é revelador de um centralismo dirigista e de uma profunda insensibilidade social. Não só, cega e administrativamente, aumenta a dimensão das turmas com alunos com necessidades educativas especiais, como também, por uma interpretação restritiva dos normativos em vigor, rasga contratos trienais firmados há menos de um ano com as instituições e defrauda legítimas aspirações dos alunos e das famílias carenciadas que beneficiam do serviço público de educação prestado por escolas com contratos de associação. É um despacho que coloca em causa o princípio da confiança e da boa-fé, com graves impactos sociais. A sua aplicação originará o encerramento de grande número de instituições que fazem parte do sistema de oferta pública de ensino e que durante décadas prestaram um serviço fundamental aos portugueses. Ao não cumprir os compromissos assumidos pelo Estado, que tem de ser uma pessoa de bem, o ME lançará para o desemprego mais de quatro mil docentes e não-docentes, sem qualquer possibilidade de serem absorvidos pelas escolas estatais, e condenará as localidades a um potencial definhamento social e económico.

O Governo decidiu sem atender às consequências que as alterações terão para alunos, sem aferir se a rede estatal tem condições para os acolher e, finalmente, sem demonstrar ganhos de qualidade e poupanças de despesa. É um despacho que em nada melhora a quali-dade da educação, as escolas públicas estatais e as condições dos seus docentes e funcionários. E que coloca em último lugar a salvaguarda dos interesses do aluno e que urge ser corrigido. O Governo está a tempo de o fazer.

Presidente do Grupo Parlamentar do PSD

Opinião Por Alexandra Leitão

Da carência à redundância

A Constituição consagra, por um lado, a liberdade de aprender e de ensinar, que inclui a garantia de criar escolas particulares e cooperativas, e, por outro lado, o direito à escola pública. Se, no primeiro caso, a Constituição postula que o Estado não

deve impedir a criação e a frequência de escolas privadas, no segundo caso a Lei Fundamental impõe a obrigação do Estado criar uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra as necessidades de toda a população. E é por isso que não se pode confundir a tarefa constitucionalmente cometida ao Estado de criar, manter e ampliar uma rede de escolas públicas com a obrigação do Estado respeitar a liberdade individual de cada um criar e frequentar estabelecimentos de ensino particular e cooperativo.

No mesmo sentido, a Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperati-vo apenas permite a celebração de contratos com escolas particulares e cooperativas que assegurem a gratuitidade da sua frequência quan-do estas escolas “se localizem em áreas carenciadas de rede pública escolar”. Assim, o novo Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, aprovado pelo anterior Governo em 2013, que afasta este requisito em nome de uma liberdade de escolha que os contratos de associação tão pouco asseguram, é, por isso, de duvidosa constitucionalidade e legalidade.

A decisão legalmente vinculada de só financiar inícios de ciclo (5.º, 7.º e 10.º anos) em contratos de associação quando não haja oferta pública é uma medida de racionalidade financeira que cumpre a tarefa constitucional do Estado investir na rede pública. O que viola frontal-mente a Constituição é impor ao Estado o dever de subdimensionar a rede pública para assegurar a existência de um mercado para as escolas particulares.

Há hoje 79 estabelecimentos com contrato de associação (ape-nas 3% dos mais de 2.500 estabelecimentos particulares e coope-rativos) o que demonstra bem que este instrumento nada tem a ver com liberdade de escolha, na medida em que a limita a estes 79 colégios! Contudo, os 79 estabelecimentos receberão, em 2016, um financiamento que representa 53% das transferências do OE para o setor privado. Cada colégio com contrato de associação recebe em média 1.7 M €/ano, havendo, contudo, estabelecimentos que chegam a receber 6 M €/ano.

O que o Ministério da Educação vai fazer é investir na escola pública e racionalizar meios para poder promover as necessárias melhorias no sistema público de ensino, cumprindo uma obrigação constitucional e uma imposição do interesse público. Ainda assim, e para proteger a confiança dos alunos que neste momento frequentam as escolas com contrato de associação, as turmas de continuação de ciclo serão man-tidas, cumprindo-se integralmente os contratos celebrados até 2018. Trata-se de pôr termo a uma prática anacrónica que, atualmente, fruto do crescimento da oferta pública, deixou de fazer sentido e cuja manutenção não tem suporte na Constituição e na Lei de Bases do En-sino Particular e Cooperativo, além de ser uma duplicação da despesa pública e uma ineficiente utilização do dinheiro dos contribuintes.

Secretária de Estado-adjunta e da Educação

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diversas ordens religiosas ou a con-gregações femininas católicas com vocação para o ensino e com grande poder de influência. Os Salesianos, por exemplo têm colégios em Peso da Régua e em Manique, que há dé-cadas têm contratos de associação com o Estado e que podem estar em risco de perder apoio oficial. Os Jesuítas (Ordem a que pertence o Papa Francisco) recebem apoio es-tatal nos seus colégios das Caldinhas e de Cernache.

Querubim Silva sabe que a amea-ça de terminar com estes contratos “não é nova”, já que “em 2010/2011, o Governo de então tentou fazer o mesmo”, reduzindo em 30% as verbas atribuídas e obrigando a uma dieta forçada na gestão dos colégios. De-pois disso, “esbanjou-se dinheiro pú-blico em obras de betão faraónicas”, diz o padre aveirense que, depois de ouvir António Costa passou de estar “muito preocupado” a “não perder a esperança”. “Confiamos na palavra do senhor primeiro-ministro”, afirma. O tempo o dirá.

Rosa Pedroso [email protected]

P&RO debate em torno dos contratos de associação é ideológico? Sim e não. O Governo diz que não, que está apenas a zelar pela boa gestão dos dinheiros públicos e a evi-tar que, havendo capacidade de res-posta na escola estatal, esteja a pagar pela frequência no privado. E, na ver-dade, se a discussão for reduzida ao financiamento de 79 colégios (os que têm contrato de associação), que es-tão limitados a algumas zonas do país (na região do Algarve nem sequer ex-istem), dificilmente se poderá se dizer que está em causa a liberdade de es-colha. A margem de opção entre público e privado da esmagadora maioria dos encarregados de edu-cação depende não da sua vontade, mas do desafogo da sua carteira. Por outro lado, se olharmos para a quanti-dade de intervenientes que se junta-ram à discussão, da esquerda à direi-ta, com visões absolutamente distintas sobre o que deve fazer o Es-tado, só poderemos concluir que a questão é mesmo ideológica.

Um aluno custa mais no público ou no privado? Se alguém disser que sabe a resposta precisa a esta pergunta peça-lhe que apresente as contas. Porque os dados públicos que existem ou são antigos ou são parciais. Em 2012, o Tribunal de Contas fez as contas e concluiu que em 2009/10 o custo médio por aluno era €400 mais alto nas escolas do Es-tado. Mas também dizia que esses números não podiam ser extrapola-dos para os anos subsequentes dados os cortes na despesa pública que se seguiram e que chegaram às escolas. Há outro estudo, também de 2012, pedido pela ex-ministra Isabel Alça-da, que concluiu que uma turma do básico custa menos numa pública do que numa privada com contrato de associação, mas que no secundário era ao contrário. Já o ME atual asse-gura que uma nova turma numa es-cola do Estado com capacidade insta-lada só obriga, em média, à contratação de dois professores e que isso custa €54 mil, menos do que os €80.500 que são hoje transferidos para turmas financiadas no privado. Mas também estas contas parecem ter falhas já que o acréscimo de desp-esa dificilmente se resumirá à simples soma de mais dois salários.

O Estado pode financiar a frequência do ensino privado? No caso de não haver alternativa na rede pública não só pode como re-corre a esse mecanismo para ultra-passar as falhas na oferta do Estado. É assim em relação à educação pré-escolar e é assim em relação ao ensi-no artístico, por exemplo, em que o Estado paga a entidades privadas para receber crianças e alunos sem que as famílias tenham de pagar pelo menos a totalidade dos custos. E mes-mo no caso de haver alternativa es-tatal, a verdade é que o Estado com-participa, há mais de 30 anos, as propinas de cerca de 20 mil alunos, alegadamente de famílias com baixos rendimentos. Fá-lo através dos con-tratos simples, que preveem uma comparticipação das mensalidades cobradas nos colégios. Apesar de os apoios serem muito limitados, são o que mais próximo existe do chamado cheque-ensino e da liberdade de es-colha. Nunca foram postos em causa por ninguém. E o que dizem as leis? A Lei de Bases do Sistema Educativo diz que “no alargamento ou no ajusta-mento da rede o Estado terá também em consideração os estabelecimentos particulares e cooperativos, numa perspetiva de racionalização de mei-os, de aproveitamento de recursos e de garantia de qualidade”. E se o Es-tatuto do Ensino Particular Coopera-tivo de 1980 dizia que os contratos de associação são celebrados em “zonas carecidas de escolas públicas”, o de-creto-lei aprovado por Crato em 2013 eliminou essa referência. Mas man-tém que são destinados “à criação da oferta pública de ensino”.

Isabel Leiria

há uma decisão”, mas “um processo que foi iniciado pelo Ministério da Edu-cação”. E abriu a porta a alternativas: “Não excluímos continuar a trabalhar e a contar com esses colégios para pro-jetos que sejam necessários, que não sejam assegurados pela rede pública e correspondam à execução do programa do Governo.” Deu como exemplo a ge-neralização do pré-escolar até aos três anos, “área onde é fundamental contar com parcerias”, e referiu também os casos do ensino artístico e de adultos. Essas, apurou o Expresso, são hipóteses em que o Governo está disponível para trabalhar com os privados, nomeada-mente adotando outro tipo de acordos que estão previstos na lei, que não os contratos de associação.

Travar a querela religiosa

Na AR, Costa contrariou a ideia de uma guerra ideológica ou religiosa, por es-tarem em causa instituições privadas e algumas ligadas à Igreja. “Não é uma questão religiosa e essa seria absolu-tamente inadmissível”, afirmou. Cir-cunscrever o conflito longe da esfera religiosa foi também uma prioridade do Presidente, que viu o problema crescer como uma bola de neve durante a via-gem a Moçambique. Quando Marcelo

e a sua assessora para assuntos de Edu-cação (a ex-ministra socialista Isabel Alçada) voltaram a Lisboa, no sábado passado, já o caldo estava entornado. Passos Coelho acusava o Governo de servir “outros interesses” que não os pú-blicos e o PSD falava em discriminação contra a Igreja. Os bispos afirmavam publicamente a sua “preocupação” — para mais, quando a questão das escolas surgiu após o Governo ter revisto os benefícios das Instituições Particulares de Solidariedade Social e recuado na devolução de hospitais às Misericórdias.

Na homília de domingo, o cardeal--patriarca citou o Papa Francisco para sublinhar o direito dos pais escolherem “livremente o tipo de educação — aces-sível e de qualidade — que querem dar aos filhos”, cabendo ao Estado um papel subsidiário nesse processo. E traduziu: “Subsidiar implica atribuir às escolas não estatais o justo financiamento que merecem, paritário com o que o mesmo Estado presta às que diretamente cria.” As campainhas de alarme, do lado da Igreja, eram mais que muitas.

Nem de propósito, um evento ligado à Igreja juntou ontem os protagonistas da polémica. A inauguração da nova sede da Rádio Renascença reuniu o cardeal--patriarca, o Presidente da República, o primeiro-ministro, os líderes do PSD e do CDS e até o núncio apostólico. Mar-celo lembrou que “a Constituição acolhe a liberdade religiosa” e que à sua “luz tem havido o bom senso e o talento de não gerar qualquer questão religiosa”. “Tenho a certeza que será assim com os católicos”, avisou. D. Manuel Clemente, por seu lado, nunca se referiu ao caso do momento. Mas, a propósito do papel da rádio, lembrou que “escutar é muito mais do que ouvir. Implica proximidade e libertar-se de qualquer ambição de omnipotência”. Para bom entendedor...

Voluntarismo e inexperiência

É a segunda vez em poucos meses que o Presidente da República faz a apologia da estabilidade na Educação para travar mudanças anunciadas por Tiago Brandão Rodrigues. Em março, foi por pressão do Presidente que o Governo recuou nas novas pro-vas de aferição do ensino básico. O “voluntarismo”, a “ingenuidade” e a “inexperiência política” do ministro da Educação têm sido notados em Belém. Porém, a rapidez e o pragma-tismo de António Costa têm chegado para evitar males maiores. Mesmo neste caso, em que há diferenças de opinião, o primeiro-ministro não comprou uma guerra com Marcelo que, no futuro próximo, pode ser o seu seguro de vida.

O Presidente também tem colabo-rado, assinalou a sua discordância de forma original: não se colou ao Exe-cutivo, remetendo qualquer posição para depois de discutir o assunto com o primeiro-ministro. Assim, sem adiantar nada, o chefe do Estado vincou a diver-gência e a intenção de ter uma palavra a dizer sobre os contratos de associação. O ministro, esse, passou a semana sem dizer palavra sobre o fogo que ateou.

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EDUCAÇÃO

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Expresso, 14 de maio de 201608 PRIMEIRO CADERNO

O abecedário completo d a bola Pedro Candeias

André Carrillo tinha tudo para ser bem-sucedido no Sporting: o talento, a aparente maturi-

dade e Jorge Jesus. Mas na bagagem para a época 2015-16, o peruano trazia coisas mal resolvidas do passado (a renovação de contrato que nunca foi contratualizada) e, quando se abriu a mala, saiu de lá roupa suja. Carrillo, através do seu agente Elio Casareto, e Bruno de Carvalho trocaram mimos, o acordo esfumou-se, a venda que permitia ao Sporting ganhar dinhei-ro com o futebolista não aconteceu (o jogador não foi para o Leicester) e Carrillo acabou por assinar com o Benfica. Foi tudo às claras, com fotos amadoras à porta de um prédio de Lis-boa a darem conta do encontro entre Luís Filipe Vieira e o jogador.

Bruno de Carvalho acabou uma época a ganhar uma Taça de Por-tugal e começou outra a ‘sacar’

Jorge Jesus ao Benfica. Foi o golpe do ano. O presidente do Sporting apro-veitou a inércia (e alguma ingenuida-de) encarnada e atacou o rival onde, à partida, mais lhe iria doer. Ao seu estilo, Bruno de Carvalho deu conti-nuidade à estratégia de tentar derru-bar o rival, fez até um pezinho como comentador televisivo no “Prolonga-mento” em que revelou os vouchers do Benfica aos árbitros, e prosseguiu a sua cruzada contra a Doyen (que perdeu). Para o melhor (escolheu um bom treinador e deu-lhe bons jogado-res) e para o pior (as guerrinhas no Fa-cebook contra aquilo que em Alvalade se chama “estado lampiânico”), Bruno de Carvalho é uma das figuras do ano deste campeonato.

Clésio é o lado mau da política do Benfica: a aposta nos jogadores formados no Seixal. Nem tudo

o que luz ou reluz é ouro, e o médio que jogou a defesa direito (e não jogou nada) contra o Tondela foi empresta-do ao Panetolikos da Grécia. Foram 64 minutos de fama, mas se o Benfica for campeão, ele também será.

Diogo Jota é a revelação do cam-peonato dos clubes mais pe-quenos. O extremo do Paços de

Ferreira disputou 35 jogos, marcou 14 golos e foi vendido ao Atlético de Ma-drid, que o terá desviado do Estádio da Luz no limite. Tem 19 anos.

Europa ou não Europa, eis a ques-tão. Desde o início (ou melhor, desde que foi eliminado pelo

CSKA de Moscovo na pré-eliminató-ria da Liga dos Campeões) que Jorge Jesus foi alertando o Sporting e o país ao que ia — e não era à Liga Europa. O treinador leonino disse para dentro e para fora que o plantel era curto e que os craques só se iam desgastar nas provas da UEFA, e por isso foi ro-dando os jogadores até cair. Tudo em nome do campeonato. Rui Vitória fez o contrário: esticou os futebolistas até ao limite, levou-os aos quartos de final da Champions (Benfica foi eliminado pelo Bayern) e o clube somou mais de €33 milhões. E chegou à última jornada à frente da Liga.

Falhar toda a gente falha, mas fa-lhar como Bryan Ruiz falhou em Alvalade contra o Benfica, dói.

Ao costa-riquenho, que é um dos me-lhores jogadores do campeonato, e ao Sporting, que viu o Benfica passar-lhe à frente nesse jogo.

Golos são com Jonas e Slimani. Os avançados do Benfica e do Spor-ting marcaram, respetivamente

(até hoje), 32 e 26 golos, mas estes nú-meros gordos escondem duas ou três curiosidades: o brasileiro não marcou nem ao Sporting nem ao FC Porto em quatro jogos; o argelino marcou ao Ben-fica e ao FC Porto e 17 dos seus 26 golos foram fora de casa. Bruno Moreira, do Paços de Ferreira, é o melhor goleador português, com 14 golos.

Herrera acaba a época como capi-tão do FC Porto e isso diz muito, para não dizer tudo, sobre o clu-

be. O mexicano está no Dragão há três épocas e, do 11 titular de Peseiro, é o mais antigo. A seguir a ele, vem Abou-bakar. Se é de mística (ou falta dela)

que se fala no FCP, que sempre teve os seus homens de mão no balneário durante anos consecutivos, Herrera é o caso paradigmático nesta inversão de valores. E muito do que se passou lá em cima tem a ver com isto.

Iker Casillas é o futebolista mais me-diático, batido e titulado que alguma vez pisou os relvados cá do burgo.

O homem já ganhou cinco ligas es-panholas, duas Taças do Rei, quatro Supertaças de Espanha, três Ligas dos Campeões, duas Supertaças Eu-ropeias, um Mundial de Clubes, uma Taça Intercontinental (pelo Real Ma-drid), dois Europeus e um Mundial (por Espanha). Bate tudo certo, até aqui. Só que Iker chegou a Portugal já com a cotação revista em baixo, e mesmo com os mimos de Antero Hen-rique e de Julen Lopetegui, o espanhol deu as suas escorregadelas. Deixamos aqui duas: uma contra o Braga, em que sai da baliza à toa para tentar cor-tar uma bola que Alan pôs na baliza, de chapéu; outra contra o Sporting, em que se enrolou e deixou passar a bola rematada por Bruno César. Por outro lado, foi ele quem segurou a vantagem do FCP na Luz (2-1).

Jorge Jesus revolucionou o futebol português. Dito de outra forma, Jorge Jesus causou uma revolu-

ção no futebol português. Ao sair do Benfica para o Sporting, o treinador reacendeu uma rivalidade que parecia adormecida, e o seu discurso marial-va, genuíno, de constante ataque, foi a gasolina que lhe pegou fogo. Mas não foi só por isso. Jesus transformou a mentalidade do clube e dos seus jo-gadores, que passaram a jogar mais e melhor e isso trouxe gente ao estádio. A espaços, ninguém jogou em Portu-gal como o Sporting (liderou durante

16 jornadas), mas uma sucessão de empates e a derrota com o Benfica trocou as voltas à classificação. Jesus disse que, com o que fez, o seu salário já foi justificado, mas ficar-lhe-á um sabor amargo se acabar atrás do rival.

Kostas Mitroglou chegou gordi-nho, perdeu quatro ou cinco qui-los, e trouxe leveza ao ataque do

Benfica. É dele o golo em Alvalade (1-0) que pode ter virado o campeonato.

Lito Vidigal é um tipo com um feitio especial — basta recordar o puxão nos colarinhos que deu a Rui Pedro

Soares, presidente da SAD do Belenen-ses e seu antigo patrão, no Belenenses--Arouca. Aquela aparência calminha e tranquila, o tom monocórdico e chato, escondem um treinador ambicioso e agressivo, que põe as suas equipas a jo-gar bom futebol. Há seis anos, o Arouca andava nas distritais e chegou a ter o apresentador Jorge Gabriel como trei-nador; esta época, o clube atingiu um lugar europeu (5º classificado).

Mário é o segundo nome de João e como o jota já é de Je-sus, este lugar é para o médio

do Sporting. Este foi o ano dele, um futebolista criativo, inteligente e ta-lentoso, capaz de jogar à direita e de fechar ao meio, e ainda de descobrir o caminho do golo para ele (seis golos) ou para o seus colegas (dez assistên-cias). É o melhor jogador português em Portugal.

NOS e MEO foram protagonistas deste campeonato. O Benfica vendeu à NOS os direitos de

transmissão dos jogos em casa por três anos (podendo ser renovado até dez épocas) e os direitos da Benfica TV por €400 milhões. O Sporting vendeu

à NOS os direitos de transmissão dos jogos em casa por dez épocas (início a julho de 2018), os direitos de explo-ração da publicidade no estádio e os direitos de transmissão pelo mesmo período, os direitos de transmissão da Sporting TV por 12 anos (início em julho de 2017) e o patrocínio das camisolas por 12 épocas e meia (início em janeiro de 2016) por €515 milhões. O FC Porto vendeu à MEO os direitos de transmissão dos jogos em casa por dez anos (início a julho de 2018), os direitos de exploração da publicidade no estádio pelo mesmo período, os di-reitos transmissão do Porto Canal por 12 épocas e meia (início a janeiro de 2016) e o patrocínio das camisolas por sete épocas e meia (início em janeiro de 2016) por €457,5 milhões.

O 11 do campeonato para o Ex-presso é este: cinco sportin-guistas, quatro benfiquistas e

dois portistas.

Campeonato Benfica e Sporting decidem amanhã o título frente ao Nacional e o Braga. Este é o resumo da época

FUTEB OL

Pinto da Costa e Peseiro formaram uma dupla curiosa neste final de época. O presidente apostou no

treinador português quando despediu Lopetegui, com críticas ao desempe-nho do espanhol, e a coisa não correu nada bem. Peseiro e a equipa perde-ram jogos (derrotas, por exemplo, contra Sporting e Tondela, em casa) e o crédito, pelo que a continuidade do técnico, que se embrulhou nos argu-mentos das arbitragens para justificar os espalhanços, não está garantida. E quem manda no Dragão já fez os pri-meiros contactos com Jorge Jesus. Q de 9, o número de Jiménez, que salvou o Benfica quando Mitroglou e Jonas começaram a perder o andamento. Contra a Académica, entrou aos 80 minutos, marcou e os encarnados ga-nharam por 2-1 em Coimbra; contra o Rio Ave, entrou aos 67 minutos, mar-cou e os encarnados ganharam por 1-0, em Vila do Conde. A fazer lembrar Mantorras em 2004/05.

Redes sociais que estiveram ao serviço dos dirigentes e repre-sentantes dos clubes que delas

se aproveitaram para palcos virtuais. Usar o Twitter ou o Facebook é sim-ples e prático, dispensa as conferên-cias de imprensa e as convocatórias aos jornalistas, e a mensagem passa sem problema para os jornais e para as televisões. Basta que a linguagem seja provocadora e se acuse o rival disto e daquilo. Bruno de Carvalho, no Facebook, e João Gabriel, no Twitter, foram os protagonistas de uma guerra que foi do geral (guerra entre clubes) ao particular (ataques pessoais). No palavreado usado contam-se mimos como este: “limpar o esterco”, “alí-vio noturno”, “gotículas”, “o Jogo da Mala”, “Mr. Burns [personagem dos Simpsons com quem João Gabriel é

Rui Patrício

AndréAlmeida

JoãoMário

Slimani

Renato Sanches

Coates

Danilo

Jardel Layún

Bryan Ruiz

Jonas

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Expresso, 14 de maio de 2016 09 PRIMEIRO CADERNO

Jogar tudo contra quem joga para nada

ADVERSÁRIOS O Benfica tem 85 pontos e recebe o Nacional (17h, BenficaTV), o Sporting tem 83 pontos e vai a Braga (17h, SportTV1) — os números dizem-nos que os leões terão mais tra-balho do que as águias, por-que os arsenalistas estão em quarto lugar, têm me-lhores jogadores e jogam em casa (os madeirenses estão em 10º). Tudo isto é verdade, mas convém re-cordar que o jogo do ano para o Braga tem lugar a 22 de maio (final da Taça de Portugal), pelo que a lógica desaconselha fazer alinhar os melhores contra o Sporting; aconteça o que acontecer, o Braga tem o campeonato feito. Mas o Benfica que não se queixe, porque o Nacional também tem a vida arrumada e vai a um relvado onde sofreu 22 golos (e marcou cinco) nas últimas cinco visitas. Quem era o treinador do Benfica? Jesus.

PSP tem plano anticonfusão

FESTEJOS Com o exemplo da festa do ano passado em mente — confrontos entre adeptos e polícias, assaltos, feridos e festa estragada — a PSP montou para este ano um plano anticonfusão: todos os acessos à Praça do Marquês vão estar fecha-dos, vai ser montado um palco linear ao contrário do circular do ano passado, vai haver agentes a revistar e controlar adeptos antes de chegarem ao palco dos festejos e vão ser criados corredores de emergência para viaturas da polícia e ambulâncias. As negocia-ções com Benfica e Spor-ting foram complicadas mas houve acordo total. 700 polícias — quase uma centena pagos pelos clubes — vão tentar evitar as ce-nas tristes do ano passado.

Sagres e NOS com festa preparada

PATROCÍNIOS A NOS, que patrocina as camisolas do Sporting, vai celebrar o vencedor da Liga NOS 2015/2016 apenas na con-dição de naming sponsor da prova, aconteça a festa na Luz ou em Alvalade. A operadora está preparada para os dois cenários e já tem a coreografia definida: os jogadores campeões fa-rão um círculo no relvado até ao palco, o CEO da NOS, Miguel Almeida, entrega-rá a taça ao presidente do clube campeão e este, por sua vez, entregará o troféu aos jogadores. Entre os pa-trocinadores principais dos dois clubes, apenas a Sagres assumiu ao Expresso já ter um “plano de comunicação e ativação específico para celebrar a conquista do 35º título” encarnado. As peças de criatividade produzidas para o efeito foram pensa-das para os meios outdoor, imprensa e digital. A marca preparou-se também para estar presente na (eventu-al) festa do Benfica no Mar-quês, com a venda de Sa-gres e água Luso (em latas e garrafas de plástico, por questões de segurança).

Opinião Por Nicolau Santos

Este título é nosso!

Sou sportinguista e vou entrar a pés juntos. O Benfica não merece ganhar este campeonato. Não foi

melhor do que o Sporting. Foi pior. Tem mais derrotas do que o Sporting — quatro contra duas. Esta época, em quatro jogos com o Sporting, o Benfica perdeu três. Nesse minicampeonato, o Sporting somou nove pontos e 6-2 em golos. E o SLB também perdeu os dois jogos com o FC Porto. Não se pode ser campeão com um curriculum destes. Em contrapartida, ainda na fase inicial da Liga, o Sporting perdeu o seu jogador mais desequilibrador — Carrillo — por influência subterrânea e desonesta da longa mão encarnada, que manipulou o seu empresário — um tal de Elio Casareto, que pela cara se vê logo que é sério e que a troco de empochar uma choruda comissão não se importou de condenar o jogador a passar uma época sem entrar em campo. Mas o Sporting resistiu a tudo isso e é, para qualquer pessoa que faça um juízo independente, a equipa que melhor futebol pratica em Portugal. Mas não é só de grandes espetáculos (esta época, quem quis ver ópera foi a Alvalade!) e da beleza de movimentos da equipa que falamos. É da sua eficácia e das sucessivas provas de força e de personalidade. Nesta reta final, todos os sportinguistas tinham a certeza de que a equipa venceria todos os jogos. No Dragão, a equipa mostrou desde o primeiro minuto que estava ali para ganhar. E mesmo um penálti que Artur Soares Dias inventou (para depois compensar não marcando outro de Coates sobre Aboubakar) não chegou para travar a lição de futebol e de personalidade que o Sporting deu. Mesmo na eliminação em Braga para a Taça de Portugal, seguramente o melhor jogo de todos os que se realizaram este ano em Portugal, o Sporting Clube de Portugal, a quem foi mal invalidado o golo de Slimani que mudaria o resultado a nosso favor, realizou uma fantástica partida. Em Alvalade, o Benfica jogou 20 minutos, meteu um golo por Mitroglou num acaso, foi completamente esmagado (o Sporting dominou claramente, atacou mais, criou mais oportunidades) e depois passou 70 minutos a defender-se, a atirar bolas para fora, a queimar tempo, a simular lesões — e ainda há benfiquistas que estão a recuperar do susto que foi aquele falhanço inacreditável de Bryan Ruiz a dois metros da baliza e sem Ederson lá estar. Em contrapartida, nesta reta final, o Benfica ganha aos 94 minutos no Bessa com um golo de Jonas literalmente caído do céu (campo onde o Sporting empatou, com Artur Soares Dias a anular um golo limpo de Slimani e a não marcar um penálti contra o Boavista), não sofre o empate contra o Setúbal no último minuto dos descontos por incompetência absoluta do avançado setubalense, consegue virar o resultado com a Académica no minuto 85 (1-2), derrubar o Rio Ave no minuto 73 (0-1) e andou sempre com o credo na boca, a ganhar à tangente e a praticar um futebol mais próximo de uma equipa do meio da tabela do que de um campeão. Por isso, aconteça o que acontecer amanhã, este campeonato será sempre aquele em que o Sporting foi a melhor equipa — mesmo que os deuses do futebol, por serem cruéis ou não existirem, deem o título a outro. Diretor-adjunto

Opinião Por Pedro Santos Guerreiro

Operação Marquês

Sou benfiquista e como todos os benfiquistas só acreditarei ser campeão depois do minuto 92. Para

vencer o fantasma Kelvin. Para vencer o fantasma Jesus. Para vencer o fantasma da euforia precoce. Para vencer o tricampeonato. Doce.

É provável ganhar. É possível perder. Mas será preciso que o talento rua e a sorte roa para que, nesta jornada, o Benfica sucumba ante o Nacional. Digo eu. Dirão os benfiquistas, numa Luz a explodir, cheia de quem entrará não pela consagração mas pela consumação. A consumação de uma época que começou para perder e, como um ioiô, acaba para ganhar.

Benfica e Sporting fizeram, ambos, um grande campeonato. Qualquer merecerá o título. Mas foi um golo de Mitroglou em Alvalade que fez o que o anterior conjunto de três derrotas desfez: a possibilidade de vitória. A possibilidade de Vitória.

Mitroglou marcou mas não foi a estrela da companhia. Nem ele nem a dupla mais inteligente da Liga, Gaitán e Jonas. Nem sequer Jardel, poste posto à prova. Nem estrela foi a estrelinha em tantos jogos. A estrela deste ano são as estrelas dos próximos. Os miúdos. Lindelöf, Gonçalo Guedes, Ederson, Nelson Semedo. O Benfica jogou com quem tinha e quem tinha jogou à Benfica.

Rirá melhor quem rir no fim, mas a 90 (+2?) minutos do grito é Rui Vitória quem tem de travar os lábios para não se deslumbrar. Ele foi acossado pelos adeptos, açoitado pelos críticos, humilhado por Jesus mas construiu uma equipa depois de a desconstruir, libertando-se da sombra do treinador que, atravessando a Segunda Circular, não deixou de ser o melhor treinador em Portugal — nem o mais imodesto. Mas a vitória que está à beira dos dedos dos pés será sobretudo de Luís Filipe Vieira e do seu discurso no início desesperado, como antídoto pouco convincente para o envenenamento da saída de Jesus: o discurso da estrutura. Estrutura são as vitórias, diria o treinador dissidente. Estava cheio de razão.

O duelo entre os dois treinadores, um que gosta de ser irritante e o outro que gosta de não se irritar, é também o duelo entre dois presidentes, um que fala muito aos jornais e o outro que deixou de falar em entrevistas, talvez por receio de ter de falar do BES. Bruno de Carvalho não é só bruto como as casas, é o patrão que devolveu brio aos sportinguistas. Vieira deu a volta a um Benfica falhado, deu a volta até a si próprio, e se ganhar o tri sairá coroado.

A venda milionária de Renato Sanches é a nata do bolo de cerejas da formação, estratégia que permitiu ao clube da Luz superar o de Alvalade nessa vantagem. Assim o Benfica arrisca bater receitas para abater uma dívida arriscada, gerida por um administrador, Soares de Oliveira, talvez o único vice que está lá para fazer contas em vez de lá estar para fazer de conta. O Benfica encaixou na Champions, fez contratos com a Emirates e nos direitos de TV, vendeu jogadores, baixou passivo, está a internacionalizar para alcançar receitas. E joga à bola.

E joga à bola. Joga este domingo, já não para se defender a si próprio mas para defender o título, para atacar o tri, para ganhar, para ganhar, para ganhar. Três vezes e já não às vezes. Assim seja. Doce. Diretor

O abecedário completo d a bola

comparado]”, “cretino”, “ministro da propaganda”, etc. Foi uma época es-tranha, estúpida até, com processos e contraprocessos, marcações cerradas a tudo o que o rival fazia, pressões à ar-bitragem, treinadores e jogadores de outros clubes — enfim, tudo se tornou suspeito e por isso suspeitamos que, independentemente do vencedor da Liga, o perdedor encontrará sempre uma teoria da conspiração para justi-ficar a derrota.

Sanches foi a revelação do cam-peonato. Um miúdo de 18 anos da equipa B, nascido num bairro

problemático (Musgueira), foi repes-cado por Rui Vitória e o Benfica nun-ca mais foi o mesmo. O meio-campo ganhou velocidade e agressividade, e o treinador encontrou, enfim, o onze--base, com Fejsa nas costas de Rena-to, Pizzi à direita, Gaitán à esquerda. Renato Sanches é um futebolista à moda antiga, irreverente e confiante, que joga como se estivesse na rua dele, o que lhe confere imprevisibili-dade mas também acarreta risco — a sua relação é sempre com a bola e menos com os colegas, mas isso são coisas que a experiência lhe dará. Foi transferido para o Bayern de Muni-que por €35 milhões (com objetivos, o valor poderá, num cenário idílico, chegar aos €80 milhões), a maior transferência de um português para o estrangeiro na história do nosso futebol. Até agora.

Títulos é o que se quer e o de campeão nacional desta época decide-se na última jornada. A

temporada começou com um triun-fo do Sporting na Supertaça, diante do Benfica (1-0), e são estes dois que discutem a Liga amanhã. Além disso, há uma Taça da Liga (20 de maio,

Imagem do jogo Sporting Benfica da primeira volta.

A luta entre os dois marcou a temporada.

FOTO FRANCISCO LEONG/

AFP/GETTY IMAGES)

Campeonato Benfica e Sporting decidem amanhã o título frente ao Nacional e o Braga. Este é o resumo da época

FUTEB OL

Marítimo-Benfica), e uma Taça de Portugal (22 de maio, FC Porto-Bra-ga) por disputar, e falta saber quem acompanha a Académica na descida de divisão (Tondela, Setúbal ou União da Madeira) e quem agarra a última vaga para a Liga Europa (Paços de Ferreira, Estoril ou Rio Ave).

União da Madeira está na luta para não cair à II Liga, mas fez duas gracinhas aos dois candi-

datos. Aconteceu em dezembro: no dia 15, os madeirenses receberam o Benfica e o encontro acabou empata-do a zero, e esse resultado poderia ter decidido tudo, não fosse o Sporting ter perdido, cinco dias depois, com o mesmo União, no Funchal (0-1).

Vitória pegou no Benfica e os críticos e os benfiquistas torce-ram-lhe o nariz. Este treinador

era a antítese do outro, menos genu-íno e mais racional, e ainda por cima recorria a um discurso redondo e frases de algibeira (“se fosse fácil não era para nós”; “este é o cami-nho”) que não convenciam ninguém — porque o Benfica não vencia. No início, entrou na guerra de palavras com Jorge Jesus (e perdeu) mas aos poucos Rui Vitória foi estabilizando a sua imagem e o Benfica. O triunfo em Madrid (2-1) diante do Atlético de Madrid com um golo do miúdo Guedes qualificou-o como técnico e com opções de recurso (Lindelöf ou Ederson) pôs a equipa a render. Che-ga à última jornada com a hipótese de ser campeão na época de estreia.

William Carvalho era o jogador de quem muito se esperava esta época. Por dois motivos:

porque fora o melhor do Sporting em 2014/15 e porque Jesus era agora o treinador do Sporting. Mas a lesão contraída durante o Euro sub-21 não lhe permitiu fazer uma pré-época em condições, pelo que pareceu andar sempre a reboque dos seus colegas de meio-campo, cujos níveis de velocida-de e agressividade estiveram sempre acima dos dele.

X é a letra que se usa para os empates e para a história des-te campeonato ficam os do

Sporting em casa contra adversários inferiores: Paços de Ferreira (1-1), Tondela (2-2) e Rio Ave (0-0). De uma assentada só, foram seis pontos que fugiram por entre os dedos a Jesus. A estes, há que somar os em-pates forasteiros diante do Vitória de Guimarães (0-0) e do Boavista (0-0). P.S.: o SCP chegou a ter oito pontos de vantagem sobre o SLB.

Yazalde marcou 46 golos em 1973/74, o primeiro campeona-to depois do tempo da outra se-

nhora. Porquê recuar até esta época? Porque foi a última vez que Benfica e Sporting discutiram o título na úl-tima jornada. Os leões eram líderes à entrada para o derradeiro jogo e acabaram por conquistar o título com um triunfo (3-0) no Barreiro, frente ao Barreirense.

Zeros à esquerda são aqueles que pouco ou nada acrescentam e este ano também os houve. Co-

mecemos pelo FCP, que fez gala das contratações de Pablo Osvaldo e de Imbula. O avançado italo-argentino chegou para render Jackson Martínez e o Dragão tentou convencer-nos que era capaz de mudar o rumo a uma carreira que estava a cair a pique — Osvaldo participou em sete jogos da Liga (duas vezes titular), marcou um golo e saiu de cena em janeiro, para o Boca. O médio francês custou €20 milhões (com a ajuda da Doyen, con-fessou o pai), fez um bom par de jogos mas nunca se assumiu como titular in-discutível do FCP (dez jogos na Liga) — em janeiro, rumou ao Stoke City. No Benfica, há um nome incontorná-vel porque o físico redondo assim o obriga: Taarabt, o sobrealimentado médio que ganha €193 mil/mês, tem zero encontros disputados na Liga. No Sporting, o flop do ano é Bruno Paulista, o médio que Jesus achava poder ser o novo Matíc (e que custou €3,5 milhões) esteve um minuto em campo, diante do Estoril. E foi tudo o que fez na Liga.

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Expresso, 14 de maio de 2016PRIMEIRO CADERNO10

MiguelSousaTavares

são de sua autoria). Aliás, os doutos não têm dúvida de que “tanto homens como animais devem integrar um es-paço comum, a ser por todos fruído e partilhado” (na esteira do que pretende o PAN, que está a ensaiar a tentativa legislativa de nos fazer partilhar com os sencientes animais supermercados, centros comerciais, restaurantes e o que demais). Aliás, sempre um passo à frente, o CSM proclama que “a úni-ca maneira de cortar com o círculo de exploração animal seria preconizar a abolição do estatuto de propriedade sobre os animais, assumindo-se a titu-laridade dos direitos aos animais, tal como sucede com as crianças”. Não posso estar mais de acordo: isto é como a libertação dos escravos no século XIX, ou como a libertação, que urge, dos canários das gaiolas ou dos peixes dos aquários, ou até dos cães das marquises — onde permanecem cativos às mãos dos amigos dos animais. Depois, é certo, resta a questão, prática e mesquinha, do destino a dar aos animais resgatados da escravatura dos animalicidas. Há quem proponha que eles sejam entregues a “um familiar que não coabite com o arguido” e há quem proponha que eles sejam declarados “perdidos a favor do Estado”. Pois, porque não: os gatos para o MNE, os periquitos e canários para o Ministério da Cultura e os cães para o CSM. Ah, e as moscas e mosquitos para o Ministérios das Finanças.

Por mim, podem mandar já a dupla Rosário Teixeira/Carlos Alexandre bus-carem-me a casa, porque eu confesso tudo à partida, sem necessidade de es-cutas telefónicas nem “Panama Papers”: além de exterminar todas as moscas, mosquitos e formigas que me passam ao alcance, ainda tenho o criminoso gozo de matar perdizes, rolas, pombos bravos, tordos, coelhos e outras espécies de caça, assim que a época se apresenta. E, agora, ainda tenho o gozo acrescido de, cada vez que oiço aquele som “pan, pan” da minha espingarda, imaginar o deputado André Silva, do PAN, a ser atingido por um repolho ou uma abó-bora em plena cara, todo ele coberto de pevides, talos e sementes de clarividên-cia. Bendita época de caça! Meu querido mês de Outubro!

2 Eu também tenho o direito de esco-lha, em matéria de saúde: mesmo havendo um hospital público nas

imediações, tenho o direito de escolher ser tratado no Hospital da Luz ou da CUF, e que o Estado (os outros otários contribuintes) paguem a diferença de preço para o tratamento no SNS. Julgo que nem a Igreja Católica nem os senho-res dos colégios privados poderão pôr em causa o meu direito. Não é assim?

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

impor, chega ao extremo de estupidez de tentar definir os animais como quase humanos (“seres vivos sensíveis”, como diz o PAN) e ameaçar com cadeia os mal-tratantes, torna-se ridícula, provo-catória, imbecil, e logo ineficaz.

Propõe o PS, por exemplo, que quem maltrate um cão não possa criar gali-nhas e que quem maltrate um gato não possa criar cavalos. E se eu der um chu-to no cu de uma galinha, não posso ter cães? E se esporear de mais um cavalo não posso ter gatos? Na mesma linha de raciocínio, também o PAN e o BE acham que o novo crime proposto de “animalicídio” seja extensível a “todos os animais sencientes cuja vivência está associado aos seres humanos”. Com penas de prisão de dois a três anos. Eu, por exemplo, devo confessar que passo as férias de Verão no Algarve e nas noites de sueste a matar tantos mosquitos quantos alcanço e todo o mês de Setembro a matar moscas, se-gundo vários métodos de exterminação em uso, e sem querer saber se a sua vivência está associada à minha. E que uma vez até, juntamente com um ami-go caçador, montámos um rastilho de pólvora até à entrada de um ninho de formigas de asa, daquelas trazidas pelo vento quente de Marrocos, chegámos--lhe fogo e delirámos de alegria quando vimos o ninho explodir e centenas ou milhares de formigas levantarem voo no ar. Quantos anos de prisão, em cúmulo jurídico por cada animalicídio de formi-gas, me estariam reservados pela nova lei? Mas depois, tendo em conta a so-brecarga prisional com seres humanos, qual o sentido de me enfiarem numa prisão, onde consta que muitos “seres sencientes com vivência associada aos seres humanos” — tais como formigas, piolhos, percevejos e até ratos — abun-dam por ali, à mercê dos criminosos animalicidas?

Justamente, esta questão das “formi-gas, moscas e etc.” é a única que pare-ceu “porventura excessiva” ao Conselho Superior da Magistratura, chamado a dar um douto parecer sobres os projec-tos legislativos do PAN e dos demais, po-lítica e correctamente amedrontados, parceiros legislativos. Mas também, reconheça-se, os doutos magistrados salvaguardaram das penas da lei os animalicidas de animais mortos em “actividades pecuárias ou cinegéticas” (e, já agora, acrescento eu, de pesca), “sob pena de conversão forçada dos humanos ao vegetarianismo” — (haja Deus: vocês já viram a cara do deputado André Silva, do PAN, já viram funcio-nar aqueles vegetarianos neurónios?). Mas, no mais, os doutos magistrados estão, também eles, rendidos à causa, que vêem como “uma problemática de acrescida importância recentemente, tendo em conta a consabida autono-mização do Direito dos Animais” (as maiúsculas e o luminoso português

1 Aqui em Lisboa, os estiva-dores do porto entretêm--se numa greve de mês e meio, a juntar aos cem avisos de greve (umas con-sumadas, outras não, que apresentaram no último ano). Batem-se pelo direito adquirido de serem eles,

o seu Sindicato, a determinar quem, quando e por quanto pode trabalhar no Porto de Lisboa, com exclusão de todos os demais. Ou seja, os pais, os filhos, os genros os cunhados e os amigos. Com isso, dão um notável contributo à eco-nomia, às exportações e ao Porto de Lisboa. É escusado falar na ilegalidade ou na inconstitucionalidade das suas reivindicações: fiquemo-nos pela sem--vergonha delas. Por acaso os senhores deputados da nação preocupam-se ou ousam preocupar-se com o assunto? Não, a tanto não chega a sua ousadia.

O senhor ministro da Cultura de Cabo Verde e o moçambicano presidente da CPLP escamaram-se muito porque o nosso Presidente Marcelo ousou ques-tionar o êxito do Acordo Ortográfico. Não perceberam que o Presidente da República de Portugal tem o direito (e o dever) de questionar os benefícios para Portugal de um qualquer tratado internacional. E que, por maioria de razão, tem, tratando-se de um acordo internacional que mexe na língua que, desculpem lá, nós criámos, trabalhámos e levámos aos quatro continentes. Acaso os senhores deputados se preocupam com isso? Não, os senhores deputados da nação nem querem ouvir falar do assunto e tanto se lhes dá que uns es-crevam assim e outros assado, porque isso não conta para nada na hora de contar votos, na paróquia que eles re-presentam.

O que preocupa então, nos dias que correm, os nossos deputados? Primeiro que tudo, as causas “fracturantes”: os direitos de gays e lésbicas, a co-adopção, as barrigas de aluguer, a eutanásia e o mais que o cardápio fracturante se lem-brar de propor. E depois, e como causas destas já vão escasseando, os direitos dos animais. É nisso que eles estão ago-ra e o espectáculo é deprimente, como seria de prever quando os homens, que-rendo elevar os animais à condição hu-mana, outro caminho não encontram do que reduzirem-se eles à condição irracional. Um burro é um burro, por mais simpático que seja. Mas, até ver, um homem não tem necessariamente de ser um burro. Mas alguns tentam — e o problema é quando conseguem. E quando podem e mandam.

Entendamo-nos, como ponto prévio: alguém que maltrata animais é uma bes-ta. Mas, para obviar a isso, existe uma coisa que se chama educação — não uma coisa que se chama lei. A sensibilidade não se decreta por lei nem se garante por lei. E quando a lei, para melhor se

Confissões de um animalicida

Até ver, um homem não tem necessariamente de ser um burro. Mas alguns tentam — e o problema é quando conseguem. E quando podem e mandam

ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

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Expresso, 14 de maio de 201612 PRIMEIRO CADERNO

Tiago Pitta e Cunha Administrador do Oceanário de Lisboa

“Queremos liderar a sustentabilidade do mar”

Textos Virgílio Azevedo Fotos Tiago Miranda

A “National Geographic” e o Oceanário de Lisboa apresen-taram esta semana o relatório científico e o filme de uma ex-pedição ao Parque Natural das Ilhas Selvagens (Madeira) que envolveu centros de investiga-ção de Portugal, EUA, Espanha e Austrália. O relatório conclui que os ecossistemas marinhos estão bem preservados mas alerta para a sobrepesca do tu-barão e atum, pesca ilegal, res-tos de navios afundados e mi-croplásticos. Em entrevista ao Expresso, Tiago Pitta e Cunha fala da Fundação Oceano Azul que o Oceanário vai criar, “a primeira do sul da Europa de-dicada à sustentabilidade dos oceanos”.

PP ComoPsurgiuPestaPparceriaPcomPaP“NationalPGeographic”?P

R A rede de parceiros começou a ser estabelecida no momento em que a Sociedade Francis-co Manuel dos Santos (Gru-po Jerónimo Martins) resol-veu concorrer à concessão do Oceanário de Lisboa. Achámos importante que a proposta es-tratégica subjacente ao con-curso fosse apoiada por parcei-

ENTREVISTA

ros nacionais e internacionais de grande credibilidade. E a “National Geographic” foi um deles, e acabou por incluir Por-tugal no itinerário das suas ex-pedições científicas.

PP QuePvantagensPtraz? R Tem uma visibilidade e uma

reputação internacional sem paralelo, o que é importantís-simo para Portugal.

PP EPosPoutrosPparceiros?P R Vamos ter o Estado e o Go-

verno como parceiros na sus-tentabilidade e literacia dos oceanos. Para o concurso do Oceanário reunimos 40 parcei-ros ligados ao sistema científico nacional, fundações america-nas e suíças com grandes pro-gramas ambientais e ONG, que apoiaram a nossa proposta de criação da Fundação Oceano Azul, exclusivamente dedicada à sustentabilidade dos oceanos.

PP HáPmaisPfundaçõesPdestePgé-neroPnaPEuropa?P

R Na Europa do Sul é a primei-ra, o que é disruptor porque a região é conotada pelas gran-des organizações internacio-nais defensoras dos oceanos como a Europa amiga das pes-cas e não a Europa amiga dos peixes. Criar um centro que

atrai talento nacional e inter-nacional e que quer liderar a sustentabilidade do mar no sul da Europa é motivo de enorme satisfação para organizações como a “National Geographic”, o WWF, a Oceana, etc. O Ocea-nário e a fundação vão inves-tir €110 milhões nos próximos anos, o maior investimento de sempre em Portugal nesta área.

PP HáPambiçõesPglobais?P R Sim, a fundação precisa de

jogar nas arenas internacionais em que as questões da susten-tabilidade dos oceanos se dis-cutem e se decidem. Mas há também objetivos em Portugal, um estado quase arquipelági-co com uma área marinha 40 vezes maior do que a área ter-restre emersa, onde a sustenta-bilidade dos oceanos é absolu-tamente crucial no século XXI.

PP PortugalP estáP aP fazerP umPbomPtrabalhoPnasPSelvagens?PP

R Quando a “National Geogra-phic” vai às Selvagens e desco-bre que está bem conservada, que as espécies estão em har-monia, desenvolvidas e com menos sinais de degradação ambiental do que noutras re-giões, significa que Portugal fez um bom trabalho. A conserva-ção dos ecossistemas marinhos

é um investimento no capital natural e não um custo.

PP EntãoPvalePaPpenaPinvestir? R Nas áreas protegidas a pro-

dução de biomassa (de stocks pesqueiros) aumenta de tal maneira que transborda para fora dessas áreas e, por isso, contribui também para a eco-nomia do mar. Assim, são um exemplo concreto do capital natural azul em ação, têm um impacto enorme e permitem que o capital manufaturado das economias venha a ganhar.

PP OP RelatórioP CientíficoP daPexpediçãoPalertaPparaPváriasPameaças,PcomoPaPsobrepesca.

R Em Portugal continua a ha-ver sobrepesca de tubarões, nomeadamente da Madeira, quando é feita a pescaria do peixe-espada. É um problema grave porque o tubarão, tal como o atum, é fundamental para a harmonia dos ecossis-temas marinhos, pois está no topo da cadeia alimentar. Con-tinuamos a comer os leões e os tigres do mar quando comemos predadores, coisa que não fa-zemos em terra. E corremos o risco de chegar a 2050 sem predadores no mar se não fi-zermos nada.

[email protected]

UM HOMEM DO MAR

Tiago Pitta e Cunha é um dos maiores especialistas portugueses em políticas do mar. Foi consultor do Presidente da República para os assuntos da ciência, ambiente e mar; coordenador da nova Política Marítima Integrada da UE e membro do gabinete do comissário europeu para os Assuntos Marítimos; coordenador da Comissão Estratégica dos Oceanos, que redigiu em 2004 uma estratégia nacional para os oceanos; e representante de Portugal na Convenção do Direito do Mar e em vários organismos das Nações Unidas.

PRÉMIO O TÚNEL DO MARÃO FAZ MAL ÀS PESSOAS

“Voltámos ao tempo da decência democrática”José SócratesEx-primeiro-ministro

PRÉMIO AGÊNCIA TOP SÓCRATES ATLÂNTICO

“Quando alguém próximo faz um convite para passar férias não é costume perguntar se é a pessoa que convida que vai pagar”Fernanda CâncioJornalista, antiga namorada de José Sócrates, num depoimento à “Visão”

PRÉMIO MAIS UMA GERINGONÇA

“A União Europeia é uma bicicleta sem ar nos pneus”Martin ShultzPresidente do Parlamento Europeu

PRÉMIO A ESPECIALISTA EM GERINGONÇAS SABE DO QUE FALA

“Nós sabemos que as bicicletas que não andam... caem”Catarina MartinsLíder do Bloco de Esquerda

PRÉMIO DURÃO QUÊ?

“Costuma dizer-se que a memória é seletiva”Jorge SampaioEx-Presidente da República

PRÉMIO REI SOL

“O Presidente da República não é a rainha”António CostaPrimeiro-ministro

PRÉMIO ÀS VEZES ATÉ ESBOÇA UM SORRISO

“Seria profundamente injusto dizer que Cavaco não é um homem de afetos”Catarina MartinsLíder do BE

PRÉMIO SEM-ABRIGO

“Vamos vencer o golpe"Dilma RousseffPresidente do Brasil, depois de aprovada a destituição do cargo

Helena Pereira e Martim Silva

[email protected]

NO FIM ERA O VERBO

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Expresso, 14 de maio de 2016 13 PRIMEIRO CADERNO

PARA COMBATER A POBREZA E A EXCLUSÃO.

O Prémio BPI Solidário visa apoiar projectos que promovam a melhoria das condições de vida das pessoas que se encontram em situação de pobreza e exclusão social.

Este prémio vem complementar o apoio já concedido com os Prémios BPI Capacitar e BPI Seniores - pessoas com deficiência e idosos, dirigindo-se aos restantes grupos de risco mais vulneráveis da sociedade. Conheça o novo Prémio BPI Solidário. Um prémio anual no valor mínimo de 500 mil euros para apoiar projectos de instituições privadas sem fins lucrativos. Candidaturas abertas até 29 de Maio em bancobpi.pt

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SOLIDÁRIO

BPI Solidariedade

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Expresso, 14 de maio de 201614 PRIMEIRO CADERNO

VAMOS DEMONSTRAR QUE HÁ OUTRAS SOLUÇÕES PARA O SERVIÇO DA DÍVIDA

COORDENADOR- -GERAL DA GERINGONÇA, SIM, QUANDO FOR HONORÁRIO NÃO VALE A PENA

“Estamos todos a esticar a corda”

Helena Pereira e Luísa Meireles

Foto Alberto Frias

Aceita com um sorriso o título de “coordenador-geral” da ge-ringonça, um termo engraçado, diz. Carlos César, presidente do PS e líder do grupo parlamen-tar, fala dos seis meses deste Governo e assume que gover-nar nas atuais circunstâncias é mesmo trabalhar nos limites, até com a União Europeia. E todos estão conscientes das di-ficuldades que existem.

PP OPquePfoiPmaisPdifícilPdePgerirPnestesPseisPmesesPdaP“gerin-gonça”?PP

R A vida parlamentar assumiu uma centralidade que não era a tradicional, mas hoje há um andamento intuitivo no trata-mento das questões que envol-vem o relacionamento entre os partidos que apoiam o Gover-no e não têm existido áreas de conflito ou de emergência que suscitem grandes preocupa-ções. Demonstrámos que tra-balhamos para garantir zonas de convergência que conferem grande estabilidade a este pro-jeto que tem o PS no Governo e uma maioria parlamentar de apoio consistente.

PP MasPdoPladoPdaPmaioriaPoPquePfoiPmaisPdifícilPdePconcer-tar?POPOrçamentoPdoPEstadoPparaP2016?PPP

R O mais difícil foi o trabalho que desenvolvemos com os Ver-des, o PCP e o Bloco de Esquer-da para conquistar o acordo que precedeu a aprovação do programa de Governo e todos os documentos subsequentes, desde o orçamento, ao Progra-ma Nacional de Reformas e ao Programa de Estabilidade. Foi ele que fermentou o atual clima de estabilidade.

PP OPBlocoPdizPquePestáPaquiPparaPesticarPaPcorda,PquePsePnãoPfossePelePestePGovernoPfariaPumaPausteridadePsuave.PComoPvêPestasPposiçõesPdePumPparcei-roPdaPmaioria?PP

R Se não fosse o BE, os Verdes e o PCP, este Governo não exis-tiria, não teria maioria para se constituir nem para se manter. Todos os partidos, começando pelo Partido Socialista, estão a esticar a corda. Estamos a fa-zer tudo o que é possível até ao limite para recuperar os rendi-mentos das famílias, empreen-der a capitalização das empre-sas e reverter uma situação que se foi degradando nestes últi-mos quatro anos. Temos uma crise de confiança que só em abril pareceu melhorar. Este trabalho tem de ser feito nos li-mites de uma situação herdada no plano financeiro de grande gravidade. Portanto, governar é esticar a corda ao máximo. Se o BE o faz, é porque está integrado nessa visão que os partidos todos comungam. Te-mos de fazer o máximo pelos portugueses que nos é permi-tido pelo contexto financeiro.

PP OPPSPnãoPsePsentePsobPchan-tagemPquandoPoPBEPouPoPPCPPfazemPdeclaraçõesPdestePgé-nero?PP

R Não, como eles também não se sentem quando dizemos que o Governo respeita os seus compromissos europeus. Sabe-mos o que cada um pensa.

PP QuandoPdizPquePoPPSPesticaPaPcorda,PtambémPoPfazPnaPUniãoPEuropeia?P

R Tem sido essa a nossa con-duta e é, aliás, uma zona de convergência com os nossos parceiros. O Governo não se rende perante o argumentário tradicional com que a Comissão Europeia tem tratado os pro-blemas do défice, da dívida e da consolidação orçamental nos diversos países. A nossa atitude é de combate persuasivo, pe-dagogia e de demonstração da nossas razões. Aconteceu com a discussão do draft e do orça-mento final aprovado para 2016 e do programa de estabilidade.

PP OsPtemasPdaPEuropa,PaPban-ca,PaPcapitalizaçãoPdaPCaixaPGeralP deP Depósitos,P podemPameaçarPaPcoesãoPdosPacordosPdePesquerda?PP

R Não creio que a coesão esteja em causa, nem se perfila no horizonte nenhuma razão para que isso aconteça. Esses parti-

dos, tal como o PS e o Governo, reconhecem que vivemos uma situação de excecionalidade, de grande dificuldade e até de imprevisibilidade. As previsões para a economia internacional não são positivas para o cresci-mento económico, na Europa ainda menos, a situação dos nossos parceiros comerciais mais relevantes também é mui-to penosa, com reflexos nas ex-portações, o que significa que estamos sujeitos a fatores ex-ternos que nos condicionam. A perceção das dificuldades é comum a todos, só não parece à oposição, porque o seu úni-co interesse é evidenciar o que corre mal e não as razões pelas quais isso pode acontecer.

PP BEPePPCPPacompanharãoPoPGovernoPemPcasoPdePumPorça-mentoPretificativo?P

R A existência de tal orçamen-to, por si só, não representa nada de necessariamente ne-gativo ou positivo. No OE e no PE estão previstos todos os me-canismos necessários para uma correção para um pequeno ajustamento na execução orça-mental. Pelos indicadores que temos, a execução orçamen-tal preservará o essencial das metas a que nos compromete-mos, não temos uma previsão de um conflito com a CE a esse respeito mas temos previsto a possibilidade de receitas fiscais adicionais, uma diminuição de consumos intermédios através de medidas como o Simplex, temos uma diminuição dos cus-tos com as PPP, há fontes adi-cionais de receita que podem contribuir para esse ajusta-mento, se for necessário fazer. Evidentemente, como gerimos

PS

Carlos César Presidente do PS e líder do Grupo Parlamentar

os aspetos mais positivos em conjunto com os nossos parcei-ros, também procuramos gerir os aspetos mais restritivos ou menos agradáveis. Da minha experiência de relacionamen-to com o BE, PCP e Verdes, a compreensão pelos constrangi-mentos a que estamos sujeitos é muito elevada. Estes partidos acompanham diariamente me-didas e fazem o escrutínio da situação orçamental, da exe-cução das medidas do Governo. Desejámos que essa partilha seja feita, porque isso fortalece e dá conteúdo à estabilidade que vivemos.

PP ExistemPgruposPdePtrabalhoPcomPoPBEPePoPPCPPparaPdiscu-tirPaPreestruturaçãoPdaPdívida,PmasPparaPquePservem,PtendoPemPcontaPaPposiçãoPdoPPSPdePsóPaPdiscutirPnoPquadroPeuropeu?P

R No caso da renegociação da dívida, é óbvio para nós que se trata de um ato pelo menos bi-lateral. Não depende de Portu-gal como e quando paga as suas dívidas, mas compete-lhe expli-car as dificuldades advenientes do serviço da dívida a que está obrigado e demonstrar perante os credores que outras soluções e modelos servirão melhor a satisfação dos compromissos com o serviço da dívida. Esse trabalho deve ser feito em conjunto não só neste sector como em outras áreas como a precariedade, gostaríamos até que todos os partidos repre-sentados no Parlamento pu-dessem concentrar-se mais nos desafios atuais e futuros do que numa oposição sem critério e apenas alimentada por frustra-ções que permanecem designa-damente no caso do PSD.

PP PorquePéPquePoPPSPePoPPSDPnãoP seP entendemP emP áreasPcomoPaPeleiçãoPdoPpresiden-tePdoPConselhoPEconómicoPePSocial?

R Não me parece uma área estratégica. Neste momento, está pendente de apreciação por parte do PSD uma propos-ta que apresentei ao seu líder parlamentar sobre a composi-ção (sem nomes) dos indicados pelo PS e pelo PSD, incluindo as presidências. Estamos a analisar alguns órgãos exter-nos cuja eleição está pendente, como a comissão de fiscaliza-ção do segredo de Estado, o Conselho Superior da Magis-tratura, o TC, a presidência do Conselho Económico e Social, o provedor de Justiça. Temos de nos entender.

PP Sente-sePconfortávelPcomoPumaPespéciePdePcérebroPdaPge-ringonça?P

R É honroso, mas é excessivo. Desempenho este cargo por-que foi considerado que era útil estar aqui. Nem tencionava ser candidato à AR. Mas desempe-nho este cargo com muito gos-to e é mais fácil do que aparen-ta ser. Há um automatismo que

rapidamente se criou na gestão da participação parlamentar. Os coordenadores das diversas áreas falam diretamente com os nossos parceiros de apoio ao Governo. Os problemas são em 90% dos casos resolvidos aí. Há também a colaboração presti-mosa do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. O meu papel é facilitado.

PP ÉPoPcoordenador-geral?P R Pois, quando for apenas

honorário também não vale a pena! Acho que isto tudo tem corrido bem. Em centenas de votações que ocorreram per-demos apenas uma dezena e não foi em matérias essenciais.

PP NuncaPfalouPdePgeringonça.PNãoPgostaPdoPtermo?PP

R É engraçado, à falta de me-lhor. Também é difícil dar-lhe outro nome. Aceitamos com alguma liberdade essa desig-nação para simplificar. Prefiro o de caranguejola, atribuído à direita, mas o meu problema em relação à situação políti-ca não é de adjetivação, mas de constatação da realidade. E a realidade é esta: temos por um lado uma maioria de apoio ao Governo e, por ou-tro, uma oposição que tem revelado progressivamente uma desagregação notória. Temos esperança que o PSD se reabilite um pouco uma vez que está aberta uma guerra competitiva dentro da direita. A concorrência é sempre boa e pode ser que tenhamos um contributo maior da oposição mercê desse novo impulso do CDS e que poderá despertar o PSD desta letargia.

[email protected]

Carlos César recusa o termo de “cérebro da geringonça”: “é honroso, mas excessivo”. Seis meses depois, ela já tem “um andamento intuitivo” FOTO ALBERTO FRIAS

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Expresso, 14 de maio de 2016 15 PRIMEIRO CADERNO

Os encontros das terças-feiras, que juntavam a maioria parlamentar na mesma mesa, deixaram de realizar-se há três meses

As reuniões semanais que junta-vam no Parlamento o Governo e as lideranças das bancadas dos partidos que o suportam (PS, Bloco, PCP e Verdes) foram in-terrompidas no início da discus-são do Orçamento do Estado, em fevereiro. E nunca mais foram retomadas, confirmou o Expres-so junto de intervenientes. Ou-tros dos contactados, no entanto, recusaram comentar a questão.

Quando foram anunciadas, no final de novembro, o propósito era que essas reuniões (à terça--feira, véspera da conferência de líderes) servissem para afi-

nar a coordenação dentro da maioria parlamentar. Por outro lado, como o entendimento as-sentou em acordos bilaterais, essas “cimeiras” eram o único momento em que os cinco par-tilhavam a mesma mesa.

Afinal, essa prática cessou há cerca de três meses. Da parte do Executivo e de alguns partidos tal circunstância é desvaloriza-da. Fonte do Governo salienta que “há reuniões com o PCP e o BE todos os dias”. E ante a pergunta se são encontros con-juntos ou bilaterais, a resposta é evasiva e apenas repete que são “todos os dias e várias vezes ao dia, com diferentes membros do Governo”. O próprio líder par-lamentar do PS, Carlos César, considera que “há um automa-tismo na gestão da participação

parlamentar” e que “os coorde-nadores das diversas áreas fa-lam diretamente” resolvendo-se assim “90% dos casos”.

Heloísa Apolónia, dos Verdes, diz que não vai “tornar público” o que “são reuniões de trabalho”. Pedro Filipe Soares, líder par-lamentar do BE, recusou fazer qualquer comentário. Heloísa acrescenta, no entanto, que “está tudo a funcionar bem, na perspe-tiva dos Verdes, na relação com o Governo”. A dois, claro.

Para João Oliveira, o líder parlamentar do PCP, tais re-uniões, que “nunca foram institucionalizadas”, apenas se “realizaram em função das necessidades”.

Aprovado o OE, “nunca mais se colocou a necessidade” de reunir a cinco, explica. Reco-

nhecendo que tais encontros tinham um “carácter simbóli-co” que entretanto se perdeu, o líder parlamentar do PCP pre-fere ”dar mais relevância ao resto, aos aspetos operacionais. E esses são mantidos de outra forma, pois temos conversado todos, uns com os outros”.

Se o fim das reuniões conjun-tas é um facto, as razões já são menos objetivas. Um dos envol-vidos atribuiu-as a reiteradas impossibilidades de agenda do PCP. “Isso é falso”, afirma João Oliveira. “Ninguém sentiu necessidade de retomar esse espaço de discussão. É que nin-guém colocou a questão, pelo menos ao PCP”.

Paulo Paixão com Cristina [email protected]

Reuniões a cinco (do Governo e de toda a esquerda) acabaram em fevereiro

“Preocupa-me que o PS perca lugar de charneira”

PP AlgumPdiaPoPPSPvoltaráPaPterPmaioriaPabsolutaPsozinho,Pde-poisPdestaPexperiênciaPdePGo-vernoPàPesquerda?P

R A ambição de qualquer partido é ter o maior apoio. O PS está empenhado em fa-zer por merecer a confiança dos portugueses. Existindo um conjunto de partidos que o apoia, o mais natural é que sendo essa governação bem sucedida, haja uma repartição de benefícios eleitorais por to-dos esses partidos.

PP EstaPsoluçãoPnãoPmataPaPbi-polarizaçãoPquePconhecíamos?P

R Não posso fazer anúncios futuros nessa matéria. O PS vai no bom caminho e gostaria muito que os partidos socia-listas e sociais-democratas da nossa família política europeia também tomassem consciên-cia que o esquecimento dos princípios essenciais nos úl-timos anos levou a uma crise penosa que degradou muito a sua imagem alternativa na Europa.

PP APmoçãoPcomPquePAntónioPCostaPsePapresentaPaoPcongres-soPnãoPéPmaisPoutraPviragemPàPesquerda?P

R Não creio que o PS tenha feito qualquer transição à es-querda com este congresso. Ele confirma uma linha de orien-tação que privilegia o comba-te pela igualdade social e de oportunidades, a dinamização económica e a integração no espaço europeu.

PP MasPnãoPháPumaPperdaPdoPespaçoPdePcharneiraPePcentralPdaPvidaPpolíticaPquePoPPSPsem-prePocupou?P

R Compreendo a observação e tenho até preocupações nesse domínio. Tendo a prioridade sido a recuperação de míni-mos sociais, há a ideia que o PS descurou outras prioridades nacionais, mas essa ideia será desfeita com outras iniciativas, designadamente a atenção às empresas, à capitalização e ao investimento. O PS não se desviou do percurso ideológico tradicional.

PP OPPSPadmitePaPexclusividadePdePdeputados?P

R É uma matéria em debate no interior do próprio PS e sobre a qual não temos fixada uma orientação. Sabemos que é preciso prestigiar os cargos políticos, defender a sua inde-pendência e valorizar também os políticos. Parece-me difícil que se possa exercer em simul-tâneo com o cargo de deputado outras funções que conflituem ou tenham alguma opacidade do ponto de vista de interesses. Queremos fazer uma reflexão sem estar viciada à partida, por isso, tenho resistido a que se tomem posições fixas.

PP PessoalmentePéPaPfavorPouPcontra?P

R Sou favorável à maior ex-clusividade possível. Trabalho aqui 12h ou mais por dia, e mesmo assim deixo muita coi-sa por fazer. Fico perplexo que alguém ainda possa desempe-nhar outras funções além desse tempo.

“Sentimo-nos bem com o estilo expansivo do PR”

PP OPPresidentePdaPRepúblicaPestáPaPserPdemasiadoPinterven-tivo?

R Não apoiei a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, mas não posso ter uma avaliação negativa do seu curto mandato. Pelo contrário, sinto que fez uma reconciliação afetiva mui-to importante dos portugueses com a mais alta magistratura de influência do Estado. Tor-nou-a mais humanizada e mais próxima das pessoas. O PR tem um estilo próprio, expansivo e muito detalhado na forma como acompanha a atividade política e governativa. Não tem mal nenhum. Sentimo-nos bem com este estilo de gestão da instituição presidencial e sabe-mos que quando essa gestão é especialmente expansiva e tem grande notoriedade, acontece para o melhor e para o pior. Até agora foi só para o melhor.

PP MesmoPnoPcasoPdoPAcordoPOrtográfico?P

R O Presidente deu a sua opi-nião. É legítimo fazê-lo. Não vejo nada de desagradável.

PP HáPquemPnoPPSPjáPregistePal-gumPincómodo.P

R Ainda ninguém mo fez sentir, pelo contrário. Faz-se sentir algum entusiasmo com Marcelo Rebelo de Sousa, que diria que é até um pouco ines-perado para um partido que se envolveu por inteiro noutras candidaturas.

PP EstáPàPesperaPdePumPrecuoPdoPGovernoPnaPEducação,Psaben-do-sePdasPreservasPdoPPR?P

R O que foi necessário e po-sitivo foi um esclarecimento detalhado e firme sobre o que representavam as medidas quanto à garantia do cumpri-mento dos contratos. Mais do que isso era dizer que o Gover-no prescindia da opção de não gastar mais dinheiro do que era necessário e de não trocar a escola pública pelo ensino privado.

PP MasPoPtemaPdosPcontratosPdePassociaçãoPestáPaPagitarPaPsociedadePePatéPcomPrepercus-sõesPnoPPS...

R Estamos a falar apenas de 3% dos colégios privados po-tencialmente abrangidos. Pe-rante a necessidade de mobili-zar recursos, mesmo na área da Educação, é importante poupá--los onde estão multiplicados desnecessariamente.

PP NãoPtemePquePefeitosPne-gativosPparaPoPPSPnasPeleiçõesPautárquicas?P

R Temo até que possa ter efei-tos positivos. Se em resultado da poupança que houver as fa-mílias puderem ser mais apoia-das de forma mais significativa nas despesas com a Educação, os eleitores ficarão mais felizes do que os gestores de um colé-gio particular.

PP OPPSPvaiPalargarPoPâmbitoPdaPleiPquePprotegePdePpenhorasPasPcasasPdePfamília,PcomoPsugeriuPoPPRPestaPsemana?P

R É uma matéria que está em reflexão no Governo e a ser conversada entre os partidos que o apoiam.

PS

TRINCA BOLOTAS,CORPO DE ALENTEJANO, ALMA DA VIDIGUEIRA.

Sempre que se abre uma garrafa de Trinca Bolotas liberta-se um pouco da alma alentejana.Respira em cada copo uma homenagem ao porco alentejano, raça autóctone portuguesa, e único sobreviventedos suínos de pastoreio na Europa. Sentem-se as texturas do montado e as cores da paisagem da Vidigueira,

abençoada por um clima único. Tudo junto produzindo um vinho que acompanha na perfeiçãopratos da nossa cozinha tradicional.

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Expresso, 14 de maio de 201616 PRIMEIRO CADERNO

Na semana em que o acordo das esquerdas celebrou seis meses, o líder comunista consolida a sua (boa) imagem

Jerónimo com “enorme aumento” de popularidade

É certamente uma coincidência, mas feliz: na semana em que o acordo das esquerdas assinalou seis meses de vida, e numa altu-ra em que se começa a especular sobre se haverá ou não mudan-ças na liderança do PCP no pró-ximo congresso (agendado para o final do ano), Jerónimo de Sou-sa vê premiado o seu esforço de concertação com PS e BE. No balanço entre opiniões positivas e negativas dos inquiridos do ba-rómetro de maio da Eurosonda-gem para o Expresso e SIC sobre a sua atuação, o secretário-geral comunista quase que duplica o seu saldo de popularidade (que já era positivo), por comparação com abril.

O mês, de resto, correu bem aos líderes políticos: todos, sem exceção, sobem na apreciação dos inquiridos. Um unanimis-mo que, porém, não se confir-ma no que respeita às intenções de voto. Apesar das variações serem ligeiras (bem abaixo dos 3,05% de margem de erro da sondagem), PS, CDU e PAN so-bem, ao passo que CDS, PSD e BE descem.

Cristina [email protected]

SONDAGEM

INTENÇÃO DE VOTO

FICHA TÉCNICAESTUDO DE OPINIÃO EFETUADO PELA EUROSONDAGEM S.A. PARA O EXPRESSO E SIC, DE 5 A 11 DE MAIO DE 2016. ENTREVISTAS TELEFÓNICAS, REALIZADAS POR ENTREVISTADORES SELECIONADOS E SUPERVISIONADOS. O UNIVERSO É A POPULAÇÃO COM 18 ANOS OU MAIS, RESIDENTE EM PORTUGAL CONTINENTAL E HABITANDO LARES COM TELEFONE DA REDE FIXA. A AMOSTRA FOI ESTRATIFICADA POR REGIÃO: NORTE (20,2%) — A.M. DO PORTO (14,5%); CENTRO (28,4%) — A.M. DE LISBOA — (27,2%) E SUL (9,7%), NUM TOTAL DE 1031 ENTREVISTAS VALIDADAS. FORAM EFETUADAS 1221 TENTATIVAS DE ENTREVISTAS E, DESTAS, 190 (15,6%) NÃO ACEITARAM COLABORAR NESTE ESTUDO. A ESCOLHA DO LAR FOI ALEATÓRIA NAS LISTAS TELEFÓNICAS E O ENTREVISTADO, EM CADA AGREGADO FAMILIAR, O ELEMENTO QUE FEZ ANOS HÁ MENOS TEMPO, E DESTA FORMA RESULTOU, EM TERMOS DE SEXO: FEMININO — 50,9%; MASCULINO — 49,1% E, NO QUE CONCERNE À FAIXA ETÁRIA DOS 18 AOS 30 ANOS — 17,8%; DOS 31 AOS 59 — 49,9% E COM 60 ANOS OU MAIS — 32,3%. O ERRO MÁXIMO DA AMOSTRA É DE 3,05%, PARA UM GRAU DE PROBABILIDADE DE 95,0%. UM EXEMPLAR DESTE ESTUDO DE OPINIÃO ESTÁ DEPOSITADO NA ENTIDADE REGULADORA PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL

RESULTADOS GLOBAIS: PS 27,4%; PSD 24,9%; BE 7,6%; CDU 6,6%; CDS 5,5; PAN 1,4%; OUTROS 5,3%; NS/NR 21,3% VARIAÇÃO EM RELAÇÃO AO ÚLTIMO BARÓMETRO

POPULARIDADE

PSD

31,7%

SUBIU+0,5 pontos percentuais

EM RELAÇÃOÀ ÚLTIMA SONDAGEM

DESCEU-0,3 pontos percentuais

EM RELAÇÃOÀ ÚLTIMA SONDAGEM

PS

34,8%

CDU

8,4%

CDS

7%

PAN

1,7%-0,1 pts +0,1 pts +0,4 pts +0,1 pts

-0,7 ptsBE

9,6%OUTRO PARTIDO BRANCO/NULO

6,8%

PASSOS COELHO LÍDER DO PSDSALDO

+12,3 PONTOS

POSITIVA 42,4%NEGATIVA 30,1%VARIAÇÃO 2,5 pontos

ANTÓNIO COSTA PRIMEIRO-MINISTRO E LÍDER DO PSSALDO

+25,1 PONTOS

POSITIVA 43,5%NEGATIVA 18,4%VARIAÇÃO 1,2 pontos

MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA

SALDO

+56,3 PONTOS

POSITIVA 68,4%NEGATIVA 12,1%VARIAÇÃO 0,8 pontos

CATARINA MARTINS PORTA-VOZ DO BESALDO

+17,4 PONTOS

POSITIVA 34,9%NEGATIVA 17,5%VARIAÇÃO 0,2 pontos

JERÓNIMO DE SOUSA LÍDER DA CDUSALDO

+11,8 PONTOS

POSITIVA 36,2%NEGATIVA 24,4%VARIAÇÃO 5,7 pontos

ASSUNÇÃO CRISTASA LÍDER DO CDS/PPSALDO

+12,9 PONTOS

POSITIVA 34,7%NEGATIVA 21,8%

VARIAÇÃO 1,8 pontos

DESCOLONIZAÇÃO

Governo ‘ressuscita’ grupo dos espoliadosComissão ministerial para decidir indemnizações foi criada por Santana Lopes em 2005 mas não funcionou

Helena Pereira

O Governo de António Costa prepara-se para reativar o gru-po de trabalho sobre os espoli-ados de Angola e Moçambique para inventariar os bens dos lesados e propor indemniza-ções. Foi criado em 2005, nas últimas semanas (já em gestão) do Governo PSD/CDS lidera-do por Pedro Santana Lopes, foram nomeadas apenas duas pessoas mas nunca se chegou a reunir.

O tema volta agora à agenda política, depois de as associa-ções de espoliados de Angola e Moçambique, que tem cerca de 500 associados, terem sido recebidas no Parlamento por cada um dos partidos (à exce-ção do PAN).

Há duas semanas, na reunião da conferência de líderes, hou-ve unanimidade em considerar que a Assembleia da República “poderia aprovar uma resolu-ção sobre esta matéria, reco-mendando ao Governo a rea-tivação da referida comissão”, segundo ata da reunião, a que o Expresso teve acesso. A suges-tão foi feita por um socialista, o vice-presidente da Assembleia Jorge Lacão, tendo o secretário de Estado dos Assuntos Parla-mentares, Pedro Nuno Santos, “tomado boa nota da matéria”.O Ministério dos Negócios Es-trangeiros, liderado por Augus-to Santos Silva, confirmou ao Expresso, em resposta escrita, que “o assunto será tido em consideração”. Os sinais são, pois, de abertura por parte do Governo socialista.

Ao Expresso, Margarida Pin-

to, da Associação de Espoliados de Angola, explica que o Estado português “deve indemnizar as pessoas que abandonou”. “Não representamos retornados, mas espoliados, pessoas que tinham bens num território que era português e que tiveram que vir embora porque senão matavam-nos”, argumenta.

Ao longo dos anos, estas as-sociações foram perdendo as-sociados (alguns morreram, outros desinteressaram-se), mas nunca desistiram. “Aqui

em Portugal, as pessoas que foram expropriadas nas nacio-nalizações no pós-25 de Abril, foram ressarcidas. Só nós é que não”, acrescenta Margarida Pinto, que falou ao Expresso em nome das duas associações, Angola e Moçambique.

Relação de bens guardada no Camões

Além das audiências com par-tidos na Assembleia da Repú-blica, estas associações foram

recebidas tanto pela comissão de Negócios Estrangeiros como pela Comissão de Finanças. “Disseram-nos que já passou tempo demais e que já tarda em encontrar uma solução pois nunca ninguém teve coragem política”, afirmou a dirigente, recusando adiantar valores para indemnizações ou cálcu-los de prejuízos ao fim de mais de 40 anos.

A inventariação será feita com base nas relações de bens entregues nos anos 70 ao Esta-

do e que estão à guarda do Ins-tituto Camões, que nos últimos anos reuniu os documentos dis-persos por vários serviços da administração pública.

Este é um processo com pas-sos lentos. A criação do grupo de trabalho em 2005 tinha sido a resposta a uma petição que dera entrada na Assembleia da República mais de dez anos an-tes. Foi em 1994, ainda quando Cavaco Silva era primeiro-mi-nistro, que mais de cinco mil pessoas pediram aos deputados

“o direito dos ex-residentes no Ultramar a uma justa indem-nização”. A petição só seria de-batida em 2004 já com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas no poder.

Em 2005, o grupo de tra-balho então criado com re-presentantes dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, Finanças e Segurança Social prometia resolver “situações relacionadas com o processo de descolonização que tenham sido devidamente identificadas e comprovadas”. “Não obstan-te terem decorrido cerca de 30 anos sobre a independência dos ex-territórios ultramari-nos, os sucessivos governos não conseguiram ainda dar uma resposta suficiente aos problemas e injustiças que afe-tam um significativo número de portugueses que se viram forçados a regressar a Portugal durante e por causa do proces-so de descolonização”, lê-se nesse despacho.Alguns dos portugueses espo-liados apresentaram ações em tribunal, mas a título individu-al. Em 2015, os tribunais de Lis-boa e Coimbra, por exemplo, decidiram recusar as indem-nizações pedidas no valor de cerca de dois mil milhões de euros. Houve depois recursos para o Tribunal Constitucional.Mas a direção das associações de espoliados continua à espera de uma resposta por parte do poder executivo. E o tema que parece muitas vezes ter mais acolhimento à direita pode, desta vez, vir a ser resolvido por um governo de esquerda.

com Luísa [email protected]

Luta dos espoliados para serem ressarcidos dos bens que perderam nas ex-colónias dura desde 1975 FOTO ARQUIVO EXPRESSO

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Expresso, 14 de maio de 2016 17 PRIMEIRO CADERNO

BANCO BIC PORTUGUÊS REAFIRMA O SEU COMPROMISSO COM A ECONOMIA PORTUGUESA

O Banco BIC Português é um caso de verdadeiro sucesso na recuperação de uma estrutura bancária com sérios problemas, como os números inequivocamente o demonstram.

O Banco BIC Português apresenta dos melhores indicadores de liquidez do mercado, com um rácio de liquidez (LCR) superior a 200%, rácio de transformação de depósitos em crédito de 80%, bem como linhas disponíveis junto do BCE superiores a 700 milhões de euros.

O Banco BIC Português orgulha-se de ter um balanço extremamente sólido, com indicadores de risco muito melhores do que a média do setor financeiro em Portugal, sendo de notar que, desde sempre, apresenta níveis de provisões (imparidades) confortáveis, validadas semestralmente por auditor externo e pelo Banco de Portugal.

Desde a aquisição do ex-BPN, o crescimento da atividade tem sido muito significativo, numa conjuntura económica do País de elevada complexidade, sendo que não podemos nunca esquecer o ponto de partida que encontrámos.

De então para cá o percurso que percorremos tem sido pautado por uma melhoria contínua. O caminho tem sido muito difícil mas tem sido virtuoso e vamos claramente no rumo certo.

O Banco de Portugal realizou em março de 2015 uma inspeção normal, inserida no cumprimento das suas funções de supervisão. Essa inspeção identificou matérias que hoje, mais de um ano volvido, estão ultrapassadas na sua generalidade.

Estas inspeções acontecem transversalmente em todos os bancos a operar em Portugal.

Temos, naturalmente, aspetos que precisamos de melhorar, à seme-lhança das outras instituições financeiras nossas concorrentes, e não pouparemos esforços para atingir os mais elevados padrões de qualidade no serviço ao cliente e na gestão do Banco.

A Comissão Executiva do Banco, face a notícias publicadas, entende oportuno prestar os seguintes esclarecimentos sobre matérias da sua esfera de competências:

1. ANÁLISE DO RISCO DE CRÉDITO

Em todos os bancos e também no Banco BIC Português, a Direção de Análise do Risco de Crédito produz o seu parecer sobre uma operação de crédito, enquanto área independente face à área comercial que propôs a operação.

No Banco BIC Português cabe ao Conselho de Crédito, órgão colegial, decidir e em certos casos a decisão sobe à Comissão Executiva ou mesmo ao Conselho de Administração, tudo nos termos do Regula-mento Geral de Crédito e outros normativos em vigor.

No Banco BIC Português não há créditos aprovados que tenham sido chumbados pelo Conselho de Crédito. Como é normal no setor bancário, há decisões e créditos aprovados em Conselho de Crédito que, embora tomando em conta o parecer da Direção de Análise do Risco de Crédito, não seguem exatamente esse parecer porque ponderam também outras variáveis da operação.

2. OPERAÇÕES APROVADAS COM GARANTIAS DO BANCO BIC ANGOLA

Trata-se essencialmente de crédito concedido a boas empre-sas portuguesas, que desenvolvem também atividade em Angola e que dispõem igualmente de crédito concedido pelas principais instituições de crédito portuguesas. Não somos caso único neste tipo de operações!

Adicionalmente, empresas portuguesas, clientes em Angola do Banco BIC Angola e em Portugal do Banco BIC Português, tinham no Banco BIC Angola verbas em kwanzas que estavam a aguardar a conversão em euros ou dólares para serem transferidas para Portugal para a sua conta no Banco BIC Português.

Sempre que essas operações estavam de acordo com a lei cambial angolana, o Banco BIC Angola emitia, ao Banco BIC Português, uma garantia com o contravalor em euros ou em dólares dessa verba em kwanzas. O Banco BIC Português, na base dessa garantia, fazia um financiamento à empresa em Portugal que era liquidado quando a transferência proveniente de Angola era completada.

Com este instrumento de garantias do Banco BIC Angola, o Banco BIC Português antecipava o pagamento em Portugal às empresas portuguesas, prestando um bom serviço às empre-sas e à economia portuguesa.

Quando os preços do petróleo desceram e Angola passou a ter dificuldades em obter divisas para converter os kwanzas em dólares ou euros, tornou-se difícil mantermos esse apoio e por isso, e muito bem, o Governo Português lançou uma linha de crédito para apoiar as empresas portuguesas em Portugal, na base dos kwanzas que tinham em Angola. Ou seja, o Estado Português veio fazer aquilo que se fazia nessa operação conjugada Banco BIC Angola – Banco BIC Português!

Quando começou a crise cambial em Angola, já a Comissão Executiva do Banco BIC Português tinha começado a limitar esse tipo de operações.

Sobre créditos concedidos com garantia do Banco BIC Angola im-porta ainda salientar que, à data da inspeção do Banco de Portugal, os créditos concedidos a clientes que beneficiavam, entre outras garantias, de garantias bancárias do Banco BIC Angola, represen-tavam um valor muito reduzido face ao total da carteira de crédito concedido pelo Banco BIC Português.

É esta a realidade em geral das operações aprovadas com garantias do Banco BIC Angola.

3. GESTÃO DE RISCO NO BANCO BIC PORTUGUÊS

A Comissão Executiva do Banco BIC Português, num ato de gestão, decidiu manter uma Direção de Análise de Risco de Crédito, focada na gestão deste risco específico, em virtude da relevância que este risco assume para a atividade bancária em geral e para o Banco BIC Português em particular, em razão da estrutura do balanço do Banco.

Por outro lado, a Direção Internacional e Financeira analisa os riscos financeiros (liquidez, cambial, taxas de juro), matéria que é depois apreciada globalmente no Comité de Gestão de Ativos e Passivos e é acompanhada por um outro órgão independente, o qual analisa também os restantes riscos do Banco, com exceção dos riscos de compliance e reputacional, que são prosseguidos por uma outra estrutura dedicada.

A Comissão de Risco produz periodicamente um relatório sobre a globalidade dos riscos, o qual é analisado então pela Comissão Exe-cutiva, Conselho de Administração e Conselho Fiscal.

Temos assim uma análise e controlo global dos riscos, com as segregações atrás explicadas, as quais para a Comissão Executiva são inteiramente corretas.

4. NORMATIVOS E DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA

Temos vindo sustentadamente a desenvolver todos os normativos internos e documentos de referência, sobre modelos de negócio, sistema de governo interno e políticas de risco, o que resultou numa melhoria significativa em relação à situação que herdámos do ex-BPN.

5. REFORÇO DE MEIOS HUMANOS E MATERIAIS

O Banco BIC Português tem vindo a reforçar sistematicamente as equipas em qualidade e quantidade, assim como a realizar um investimento significativo na área informática, tudo isto enquadrado no esforço de melhoria contínua que vimos prosseguindo.

Lisboa, 9 de maio de 2016A Comissão Executiva do Banco BIC Português

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Expresso, 14 de maio de 201618 PRIMEIRO CADERNO

PARLAMENTO

Bloco sobe a parada nas causas ambientaisBE acelera com sinal verde: após o glifosato, o petróleo e o nuclear, vão chegar os eucaliptos e os neonicotinoides. Concorrência com PEV?

O Parlamento irá na próxima quarta-feira, numa iniciativa do Bloco de Esquerda, votar uma lei que proíbe a utilização do glifosato (um herbicida) em “zonas urbanas e de lazer,

e em vias de comunicação”. Há cerca de um mês, os

deputados haviam chumba-do três projetos de resolução (entre os quais um do BE, sen-do os outros dos Verdes e do PAN), sobre o uso do glifosa-to. Os bloquistas recomenda-vam ao Governo a proibição da substância em território nacional e a defesa, no seio da União Europeia, do fim da au-torização para a comercializa-

ção daquele fitofármaco, que é usado para matar as ervas daninhas em espaços urbanos e terrenos agrícolas.

Agora, o BE volta à carga com o tema, tendo ficado en-tretanto reunidas, por via de negociações com o Governo, as condições para interditar o uso do herbicida. Será num âmbito mais restrito, pois dei-xará de fora os terrenos ru-rais e especificamente de uso

agrícola, aplicando-se apenas a espaços mais frequentados ou por onde circulam pessoas.

Ainda ontem, no Parlamen-to, interpelado por Heloísa Apolónia, do Partido Ecologis-ta Os Verdes, o primeiro-minis-tro, António Costa, sinalizou o empenhamento nesta questão e garantiu que poderá haver um reforço da interdição. Caso as instituições europeias não avancem nesse sentido, Costa sublinhou que em Portugal a proibição do glifosato poderá ser estendida “progressiva-mente a outros locais”.

O glifosato — “comprova-damente cancerígeno para os animais e provavelmente can-cerígeno em humanos”, como diz o Bloco no projeto de lei, citando neste último ponto a Organização Mundial de Saú-de (OMS) — é neste momento a mais visível bandeira, mas o Bloco tem outras causas ambi-entais na primeira linha.

No início da semana, nas jornadas parlamentares, a preocupação ficou igualmen-te vincada no anúncio de um projeto de lei que torna obri-gatórios os estudos de impacte ambiental em todas as opera-ções de prospeção e extração de petróleo e de gás natural. Em causa estão as concessões, parte delas atribuídas pelo an-terior Governo, que permitem a pesquisa daqueles hidrocar-bonetos, em terra e no mar, sobretudo ao largo da costa do Alentejo e do Algarve.

Outra frente é o combate à

central nuclear de Almaraz, no Tejo. O BE (a par do PEV e do PAN) é um dos partidos portu-gueses empenhados na manifes-tação de 11 junho, em Espanha, convocada por movimentos am-bientalistas e forças políticas dos dois países ibéricos.

Dos eucaliptos aos neonicotinoides

Quando as câmaras do país re-ceberam um inquérito do BE a perguntar se os respetivos servi-ços municipais usavam o glifosa-to, houve casos em que autarcas, com desarmante sinceridade, perguntaram o que isso era.

O termo escapa, de facto, ao comum dos mortais, mas mais estranho é ainda quando ouvirem falar (ou ler) de ne-onicotinoides. Neonico-quê? É uma substância usada na agricultura, particularmente devastadora para as abelhas. A limitação do uso do pesti-cida será o cerne de uma ini-ciativa legislativa que o Bloco terá brevemente.

Uma segunda nova causa am-biental no horizonte é mais do domínio público. O Bloco pre-tende reverter a “lei dos euca-liptos” aprovada pelo anterior Governo, que abriu a porta a uma maior florestação do país com aquela espécie. Esse com-promisso consta também do acordo do PS com o PEV.

Estará o BE a ocupar um es-paço que mais facilmente se associa aos Verdes? O bloquista Jorge Costa, vice-presidente

da bancada e que integra a Co-missão de Ambiente, responde que o BE “definiu-se, na sua fundação, como partido eco-logista”. O deputado afirma que a “agenda”, colocada “no centro do debate nos últimos seis meses, corresponde a uma mudança de ciclo que, nesta área está a apenas a começar”.

E explica porquê: “Não ape-nas porque o ambiente foi tra-tado pela direita como pasto de negócios (e é preciso re-mover as leis de liberalização aplicadas em diversas áreas), mas também porque Portugal está ainda muito abaixo dos padrões internacionais em áreas essenciais: segurança alimentar, repressão da po-luição, defesa da diversidade, transição energética”.

Heloísa Apolónia contorna a pergunta sobre se o BE está instalar-se em terrenos mais associados aos Verdes. “Para nós, a lógica da ecologia vai muito além das questões am-bientais, incluindo as sociais. O PEV tem posto na agenda não apenas os pontos mediati-zados pela comunicação social. Temos levado ao Parlamento muito assuntos, para acicatar o debate e a consciência dos de-putados. Há outros grupos par-lamentares que correm atrás da agenda mediática. Mas em nenhum assunto, mesmo nos mais falados (como o glifosato ou Almaraz), os Verdes têm ficado de fora”.

Paulo Paixã[email protected]

SO CIALISTAS

Frio, frio, gelado, gelado

Alexandra Simões de Abreu e Isabel Paulo

“As relações não são frias, são geladas.” É assim que um ami-go de José Sócrates descreve o clima entre o ex-primeiro-mi-nistro e António Costa. Os dois estiveram juntos na inaugura-ção do túnel do Marão no sába-do, não houve foto em conjunto e a troca de palavras em públi-co foi circunstancial. Quando Costa chegou ao túnel, do lado de Amarante, já Sócrates esta-va no autocarro. Segundo um autarca presente no autocarro (de vidros escurecidos), Costa cumprimentou-o e deu-lhe os parabéns a que Sócrates res-pondeu “os parabéns são para si”. Depois no discurso, houve agradecimento breve e abraço no final que não foi captado pelas câmaras. Governo, au-tarquia e Estradas de Portugal sacudiram responsabilidades na organização do evento. Foi tudo coincidências, dizem.

“Sinceramente, não achei estranho [não haver foto en-tre Sócrates e Costa]”, desdra-matizou ao Expresso Renato Sampaio, um dos poucos so-cráticos que conseguiu man-ter mandato de deputado já na era Costa. “Sócrates pode estar magoado antes com o facto de o Governo e do PS não dizerem nada sobre a atua-ção do Ministério Publico no seu processo e eventualmente com o facto de fazerem gran-des alterações às suas políti-cas”, afirma Renato Sampaio, dando como exemplo o plano nacional de barragens. Recor-de-se que o Governo decidiu cancelar a construção das bar-ragens do Alvito e de Girabo-lhos, suspender por três anos a barragem do Fridão e man-ter a construção da Barragem do Tâmega, após concluir a reavaliação do Programa Na-cional de Barragens.

Isabel Santos, a deputada que tal como Renato Sampaio, saiu do Congresso do PS, em Lis-

boa, após o discurso de António Costa para ir visitar o amigo Sócrates à cadeia, limita-se a comentar: “As relações em po-lítica são o que são. Não tenho paixões nas minhas relações políticas”.

Com paixão ou sem paixão, a verdade é que antes de ser preso, Sócrates mereceu vários elogios por parte de Costa que salientava “o impulso reforma-dor” da sua governação. Mas com a prisão do ex-primeiro--ministro, em novembro de 2014, as coisas começaram a mudar. Costa foi visitá-lo ape-nas uma vez à cadeia de Évora.

Aliás, logo que Sócrates foi de-tido no âmbito da ‘Operação Marquês’, o líder do PS escre-veu aos militantes. “Estamos todos por certo chocados com a notícia da detenção de José Sócrates”, realçou, para alertar que “os sentimentos de solida-riedade e amizade pessoais não devem confundir a ação políti-ca do PS”. À saída da visita em Évora também colocou logo os pontos nos is: “Deixemos a justiça funcionar em todos os seus valores.”

A partir daqui Costa recusou sempre falar de Sócrates e da ‘Operação Marquês’. Sócrates

Costa e Sócrates cumprimentaram-se no Marão, mas não houve fotos. Nem calor, pelo contrário

reagiu, primeiro de forma in-direta, ao falar mal de Costa a quem o visitava, como fez questão de divulgar o comen-tarista Marques Mendes em agosto passado: “Basta falar com algumas pessoas que visi-tam José Sócrates para saber que ele diz cobras e lagartos de António Costa.”

O verniz estalou quando há três semanas, em entrevista à Antena 1, Sócrates atirou: “Eu nunca seria primeiro-ministro sem ter ganho as eleições.” Mas não se ficou por aqui. Deixou outras acusações, como por exemplo, no diploma sobre a

desblindagem dos estatutos dos bancos — em particular para o caso do BPI —, ao afirmar que o Governo cometeu “um erro político” e “uma precipitação”. Costa quis proteger-se, afastan-do-se de Sócrates. Sócrates não gostou da deslealdade do ho-mem a quem ajudou a chegar à liderança do PS pouco antes de ser preso. Como vai evoluir esta (não) relação no futuro, ninguém sabe, parafraseando Kant: “A amizade é semelhante a um bom café; uma vez frio, não se aquece sem perder bas-tante do primeiro sabor.”

[email protected]

Sócrates ladeado pelo ex-secretário de Estado, Paulo Campos, e o autarca de Vila Real, Rui Santos FOTO LUCÍLIA MONTEIRO

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Expresso, 14 de maio de 2016 19 PRIMEIRO CADERNO

Gente

NOVA COLIGAÇÃO? Esta é a semana dos registos estranhos. Pelo menos aqui em Gente. Depois da fotomontagem socialista do acordo das esquerdas e da moção de censura que une Le Pen e Marisa Matias, eis mais uma aliança imprevisível: a de Pablo Iglesias, o agitado líder do Podemos espanhol, com Teresa Leal Coelho, vice-presidente do PSD — visita assídua dos corredores políticos madrilenos desde que o marido, Francisco Ribeiro Menezes, é lá embaixador. Está certo que foi só uma selfie sem significado político. Achamos nós... FOTO D.R.

Viragem à esquerda

Instante fatal Já dizia o outro que há três fatalidades na vida: a morte, os impostos e Jorge Braga de Macedo. Con-firmou-se mais uma vez. Esta foto, que corre nas redes sociais, mostra o antigo ministro das Finanças com o famoso No-bel da Economia Paul Krugman (Gente não conseguiu apurar quem é o cava-lheiro do meio). O ambiente é informal, como bem se vê, e Braga de Macedo destaca-se com uma esfusiante T-shirt laranja e umas calças de fato de treino com um ar bem confortável. O mais inte-ressante neste instantâneo é que regista o momento imediatamente antes de Krugman se esconder, envergonhado, atrás de dois livros. Compreende-se.

Quem se mete com o PS... Os soci-alistas andam verdadeiramente numa onda de fúria com a comunicação social. Na semana anterior atiraram-se com unhas e dentes a José Rodrigues dos Santos, da RTP. Nesta, o alvo foi José Gomes Ferreira, da SIC, que entrevis-tou o primeiro-ministro, António Costa. O dirigente do PS, Porfírio Silva, até co-mentou na sua página do Facebook que “teve uma prestação medíocre o líder da oposição, José Gomes Ferreira”.

Miragem O PS não passou ao lado dos seis meses de vida do acordo das esquer-das (que permitiu a António Costa for-mar Governo) e dedicou à efeméride, cumprida esta terça-feira, um artigo na homepage do seu site oficial. Com foto e tudo do momento da assinatura conjun-ta do entendimento entre António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia, a 10 de novembro se 2015. Como?! Então o PCP não recusou que houvesse um documento conjunto, logo, uma assinatura conjunta?! Sim, é verdade. Mas isso não travou os de-signers gráficos socialistas que engen-draram, não uma geringonça, mas uma assumida fotomontagem (com filetes brancos a separar cada um dos signatári-os). Curiosamente, algumas horas depois de o Expresso lhe ter feito referência numa notícia online, a ‘foto’ desapareceu

da homepage (remetida para uma pasta secundária)... como que por miragem.

Devotos da bola Muitos benfiquistas e sportinguistas estiveram ontem em Fátima, acendendo velinhas para a de-cisão do campeonato, amanhã à tarde. Nas crendices, bem profanas, de muitos adeptos faziam-se apostas, em jeito de profecia, sobre o que mais poderia in-fluenciar Maria. Uns, à espera de voltar a tocar nas nuvens, evocavam a senha “Jesus” para argumentar que o divino só poderá interceder pelo Sporting. Outros, com os pés mais assentes na Terra, recordavam que o trabalho de casa já foi feito há muito tempo. É que Rui Vitória já treinou o Fátima (entre 2006 e 2010). Mas o melhor, para todos, é lembrarem-se do sábio aviso popular: “Fia-te na Virgem e não corras!...”

Bloco on fire Foi algo atribulada a madrugada de terça-feira para os depu-tados do Bloco de Esquerda e alguns dos jornalistas que acompanhavam as jor-nadas parlamentares, em Évora. Eram já altas horas quando tocou a sirene de incêndio do hotel. E, naturalmente, segurança oblige, foi ver os clientes, arrancados aos braços de Morfeu, assa-rapantados pelos corredores. E quem por instantes ficou com as orelhas a escaldar foi Catarina Martins. É que horas antes, num jantar-comício, para desacreditar alguns agoiros da direita, a líder do Bloco usara uma imagem muito sugestiva: “Ninguém salta da janela se a casa [o país] não está a arder. E a casa não está a arder.” Parecia que a realidade ia trocar as voltas a Catarina, mas rapidamente se dissipou o fumo do perigo: foi só falso alarme.

Improvável Marine Le Pen e Marisa Matias a assinar o mesmo texto? Gente pensou se seria mais uma fotomonta-gem, desta vez de alguma mente mais criativa no Parlamento Europeu. Nada disso, é rigorosamente factual, ainda que sem imagem a documentar o histórico (de tão improvável) acordo: a líder da ex-trema-direita francesa e a eurodeputada do BE são duas entre dezenas de parla-mentares europeus que assinaram uma moção de censura à Comissão Europeia, em abril, por esta não ter ainda tomado iniciativa, como lhe competia, no sen-tido de que sejam definidos os critérios específicos para determinar a eventual ameaça para a saúde de certas substân-cias químicas presentes em alimentos e outros produtos de consumo humano.

Não se brinca com o salvador da pátria A noite de segunda-feira foi de festa para o CNID — Associação de Jor-nalistas de Desporto, que celebrou os 50 anos de existência com uma gala finíssima na Estufa Fria, em Lisboa. O momento alto da noite (além da entrega do prémio Revelação do Ano à nossa jornalista Mariana Cabral, claro está) foi a atuação de Luís Franco-Bastos. É que o jovem humorista, fiel à temática desportiva do evento, entrou a pés jun-tos: passou grande parte da atuação a gozar com Cristiano Ronaldo e o seu amigo marroquino que é campeão mun-dial de kickboxing, deixando Fernando Santos e os responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol presentes na festa com cara de poucos amigos. Não nos estragues o Europeu, Luís!

40 Anos da Constituição da República Portuguesa - 1976-2016

Fórum das Políticas PúblicasFundamentos Constitucionais das Políticas Públicas em Portugal

24, 25 e 31 de maio de 2016Assembleia da República, Sala do Senado

24 de maio • Terça-feira

09:30 Sessão de AberturaEduardo Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República

10:30 Políticas de IgualdadeApresentação do tema Rui Pena Pires

Assunção CristasMarisa MatiasPaulo Mota PintoPedro Silva Pereira

14:00 Políticas de SaúdeApresentação do tema Sofia Crisóstomo

António Correia de CamposJoão SemedoPaulo Macedo

18:00 Políticas de TerritórioApresentação do tema João Ferrão

Bernardino SoaresCarlos CésarJoão Bosco Mota AmaralRui Rio

25 de maio • Quarta-feira

Edição especial do programa da SIC Notícias - Quadratura do CírculoModeração Carlos Andrade

António Lobo XavierJorge CoelhoJosé Pacheco Pereira

31 de maio • Terça-feira

09:30 Sessão de AberturaAntónio Costa, Primeiro-Ministro

10:00 Políticas de EducaçãoApresentação do tema Pedro Abrantes

Diogo FeioHeloísa ApolóniaIsabel AlçadaManuela Ferreira Leite

14:00 Políticas de JustiçaApresentação do tema Nuno Garoupa

Álvaro Laborinho LúcioAntónio FilipeJoão Tiago SilveiraJosé António Pinto Ribeiro

16:00 Políticas de Proteção SocialApresentação do tema Pedro Adão e Silva

António Bagão FélixMariana MortáguaPaulo Pedroso

18:00 Sessão de EncerramentoMarcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

CoordenaçãoMaria de Lurdes RodriguesPedro Adão e Silva

Conselho CientíficoHelena Carreiras Andrés MalamudAntónio Firmino da CostaBeatriz PadillaCatarina Roseta PalmaCatherine MouryJoão LeãoMarc RenaudMichael BaumRui BrancoTeresa Patrício

Organização Luís Capucha João Sebastião Daniela Santos João Carvalho Luísa Araújo Maria Álvares Nadine Batista

[email protected]

Inscrição obrigatória emhttp://bit.ly/forum-politicas-publicas

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20 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 14 de maio de 2016

Dinheiro do narcotráfico ligado ao caso ‘Monte Branco’

Hugo Franco

Um e-mail enviado pelo Ministério Pú-blico espanhol aos responsáveis do me-gaprocesso ‘Monte Branco’ revela que Francisco Canas, o velho cambista da rua do Ouro, e um

dos principais arguidos deste caso, foi também alvo de investigação em Madrid. “A informação sobre Fran-cisco Canas será de grande valor para nós”, escreve Juan Pavia, um dos procuradores do maior escândalo de branqueamento de capitais do país vi-zinho, o Fórum Filatélico. Segundo as autoridades espanholas, José Llorca Gonzalez, o mentor da burla que afe-tou 300 mil famílias, terá transferido mais de oito milhões de euros para contas bancárias de Canas na Suíça, dinheiro que se presume ser oriundo do tráfico de droga e de armas, e que estava guardado em bancos de Gibral-tar e do Liechtenstein.

Os espanhóis tentaram seguir o ras-to ao dinheiro, mas sem sucesso. Os procuradores revelam, num docu-mento a que o Expresso teve acesso, que Francisco Canas “deslocou as suas contas da UBS em Basileia para o Banco Rothschild em Genebra”, con-seguindo assim limpar o elo de ligação ao burlão espanhol. O cambista de 75 anos sempre negou às autoridades conhecer Llorca Gonzalez, que se en-contra atualmente em parte incerta,

alvo de um mandado de captura in-ternacional.

Outro cliente de Francisco Canas se-ria também investigado por suspeitas de usar a rede internacional do cam-bista, que passava por Lisboa, Suíça e Cabo Verde, para lavar dinheiro do narcotráfico. Trata-se de um advo-gado lisboeta que usaria contas na Suíça de clientes brasileiros com esse único propósito. A rota do dinheiro sujo passaria ainda por outros países da América do Sul.

Estas denúncias chegaram às mãos dos procuradores do caso antes e após a detenção de Canas, também conhecido como ‘Zé das Medalhas’, que ocorreu na tarde de 17 de maio de 2012. No mesmo dia, Michel Ca-nals, Nicolas Figueiredo e José Pinto, os três responsáveis da Akoya, uma empresa de gestão de fortunas suí-ças com ligações ao cambista, foram também presos preventivamente.

Acabaram todos por ser libertados. Quatro anos depois das buscas na

pequena loja de medalhas da baixa lisboeta, a Montenegro Chaves — que servia de fachada para o complexo negócio de lavagem de dinheiro que terá lesado o Estado em mais de 200 milhões de euros —, e no hotel Shera-ton, no Porto, onde estavam hospeda-dos os gestores portugueses e suíços da Akoya, a investigação ainda não está encerrada.

A “especial complexidade do caso”, que se ramificou noutros processos paralelos e levou à constituição de arguidos como Ricardo Salgado (ver cronologia), tem sido o argumento utilizado pela Procuradoria-Geral da República para explicar a demora da acusação, prevista para o início de 2015. Questionado pelo Expresso sobre o prazo do encerramento do in-quérito, o gabinete de Joana Marques Vidal apenas esclareceu que “o pro-cesso encontra-se em investigação”.

Chocolate era o código

O processo ‘Monte Branco’ revela que muitos dos arguidos tinham a noção de estarem a ser escutados pela polícia. Em vez de usarem a pa-lavra dinheiro recorriam a códigos como “chocolate” ou “televisores”. Um exemplo: “Olá, só para confir-mar a encomenda de 100 televiso-res”, diz José Pinto para um cliente. O nome de Ricardo Salgado, cliente de Nicolas Figueiredo na Akoya, era religiosamente omitido em todas as conversas. Em vez disso o então

homem-forte do BES era referido apenas como “Ric”.

Os procuradores aperceberam-se depressa de que alguns dos clientes que recorriam a este tipo de serviços financeiros tinham um longo cadas-tro. O empresário Poiares Serra, por exemplo, tem sido investigado por mais do que um departamento da PJ e tem vários processos. O mais famo-so resultou numa condenação a sete anos de prisão, em 2004. O Tribunal da Boa-Hora deu como provado que o empresário burlou a Galp em 2,5 milhões de euros. Os primos João e Alcídio Lameira, proprietários de uma agência de viagens no Rio de Janeiro, foram condenados a sete anos de prisão efetiva em julho de 2011. Os dois terão desviado do fisco brasileiro cerca de um milhão de reais, cerca de 380 mil euros.

Nos interrogatórios, Francisco Ca-nas negou sempre ter ligações com

o submundo do crime. “Não tenho qualquer tipo de esquema”, repetiu. Acabou no entanto por admitir ter movimentado 100 milhões de euros em seis anos, afirmando: “É um valor próximo do transacionado com o pas-se desportivo de Cristiano Ronaldo.”

Durante o tempo em que esteve de-tido no Estabelecimento Prisional da Polícia Judiciária, entre maio de 2012 e maio de 2013, o cambista utilizou os seus conhecimentos para adquirir um telemóvel pré-pago, número que tam-bém foi utilizado no interior da prisão pelo gestor de fortunas Michel Canals. O fornecedor era um conhecido trafi-cante de droga de Alfama associado à angariação de correios de droga do Brasil para Portugal.

“Estamos perante uma situação es-tranha e incompreensível dentro de um estabelecimento prisional, para a qual não dispomos de explicação”, es-crevem os procuradores que aprovei-tam o facto novo e pedem autorização para realizar escutas ao aparelho. Não tiveram sorte porque nem Canas nem Canals usaram o telemóvel.

Os 365 dias do cambista no interior da prisão foram atribulados. Acabou por ser apanhado pelos guardas com grandes quantias de dinheiro que se destinavam a pagar os serviços pres-tados pelo recluso de Alfama.

Quando regressou a casa, a vida não ficou mais calma. Foi condenado a 4 anos de prisão por branqueamento de capitais no caso da burla ao BPN, mas viu a pena ser reduzida em abril pela Relação de Lisboa para 3 anos.

[email protected]

Suspeitas Dois clientes da rede de branqueamento de capitais investigados por esconderem lucros do tráfico de droga

SO CIEDADE JUSTIÇA

ALGUNS DOS CLIENTES QUE RECORRIAM AOS SERVIÇOS DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS TINHAM UM LONGO CADASTRO

ARGUIDOS DO ‘MONTE BRANCO’ RECORRIAM A CÓDIGOS COMO “CHOCOLATE” OU “TELEVISORES” PARA SE REFERIREM A DINHEIRO

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21 PRIMEIRO CADERNOExpresso, 14 de maio de 2016

Paulo Roberto Costa, um ex--quadro de topo da petrolífera brasileira Petrobras, recebeu pelo menos duas transferências de dinheiro a partir de contas bancárias em Portugal, que o Ministério Público Federal, do Brasil, concluiu resultarem de luvas pagas nos negócios do escândalo ‘Lava-Jato.’

Aquele cidadão, um dos prin-cipais delatores deste caso de corrupção, recebeu em agos-to de 2012 numa conta sua no banco HSBC uma transferên-cia superior a 99 mil dólares (mais de €87 mil) proveniente de uma conta no BPI associada à empresa Narao Trading. Em março de 2013, Paulo Roberto Costa recebeu também, mas numa conta no PKB Priva-tbank, outros 39 mil dólares (mais de €34 mil), oriundos de uma conta no BCP associada à Soerensen Garcia Advogados.

Os dados constam de uma carta rogatória que o Ministé-rio Público brasileiro enviou em março de 2015 à Procu-radoria-Geral da República (PGR), solicitando coopera-ção judiciária, para apurar a origem do dinheiro que foi parar às contas de Paulo Ro-berto Costa, bem como tentar transferir para o Brasil essas verbas. A carta das autoridades brasileiras faz parte dos docu-

Banca portuguesa usada no ‘Lava-Jato’mentos da investigação sobre branqueamento de capitais co-nhecida como ‘Monte Branco’.

No seu pedido de cooperação, o MP brasileiro explica que o dinheiro que passou pelas con-tas portuguesas provém de crimes de associação crimino-sa, corrupção ativa e passiva, fraude e lavagem de dinheiro, quando Paulo Roberto Costa era diretor de abastecimento da Petrobras. Aquele ex-cola-borador da petrolífera confes-sou, aliás, a origem ilícita das verbas em causa.

Contas no Banif e BES

O dinheiro que transitou pe-las contas no BPI e no BCP em Portugal foi apenas uma pe-quena fração do património que Paulo Roberto Costa e os seus familiares acumularam

na Suíça, e que ascendeu a 26 milhões de dólares (quase €23 milhões ao câmbio atual).

Na investigação ‘Lava-Jato’ as autoridades brasileiras desco-briram um mega-esquema de corrupção e fraude, em que al-guns responsáveis da Petrobras receberam luvas para benefici-ar construtoras e empresas de engenharia nos concursos da petrolífera estatal, num car-tel que envolveu nomes gran-des do mercado empresarial brasileiro, como a Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, entre outras.

Além do dinheiro transferi-do através de contas em Por-tugal, Paulo Roberto Costa também recebeu na Suíça o equivalente a €252 mil entre 2012 e 2013, a partir de uma conta do Espírito Santo Bank, em Miami, segundo a informa-

ção recolhida pelo Expresso.Mas houve uma transferência

ainda maior. Em 2011, segundo as autoridades brasileiras, há registo de um movimento de 3,6 milhões de dólares (mais de €3 milhões) de uma conta do Banif nas Ilhas Caimão para

a conta de Paulo Roberto Costa no PKB Privatbank na Suíça. Há ainda uma série de outras transferências de várias contas no Banif nas Caimão, das quais saíram entre 2009 e 2012 mais

de 2 milhões de dólares (€1,8 milhões) rumo às contas do ex--diretor da Petrobras na Suíça.

Entre os registos que o Mi-nistério Público brasileiro re-colheu sobre o antigo gestor da Petrobras estão também transferências de dinheiro através de contas nos bancos UBS, Bradesco, Centrum Bank, ICBC, Credit Suisse, entre ou-tros, quase sempre em paraísos fiscais ou jurisdições que privi-legiam o sigilo dos clientes.

Detido em março 2014, e pos-teriormente libertado, Paulo Roberto Costa nasceu no Brasil mas também tem passaporte português. Em julho de 2015 foi condenado a 12 anos de pri-são por corrupção e lavagem de dinheiro, que está a cumprir em prisão domiciliária.

Miguel [email protected]

Dinheiro que passou por contas nacionais vem de crimes de associação criminosa, corrupção, fraude e lavagem de dinheiro

‘Monte Branco’ revela que um dos delatores do escândalo brasileiro recebeu luvas a partir de contas do BPI e BCP

Loja da Rua do Ouro, em Lisboa, servia

de fachada a uma rede de fuga ao fisco

FOTO ANTÓNIO PEDRO FERREIRA

SO CIEDADE JUSTIÇA

CRONOLOGIA

RUA DO OURODurante quinze anos, centenas de clientes entraram no nº 135 da Rua do Ouro, alguns com malas cheias de notas. O dinheiro circulava em contas de Francisco Canas em Portugal, Suíça e Cabo Verde, num esquema de fuga fiscal e branqueamento de capitais

SUÍÇA E PORTUGALAs vidas de Canas e do gestor de fortunas Michel Canals cruzaram-se em Lisboa em 1998, quando o suíço começou a trabalhar para o mercado português no banco UBS

AKOYAEm 2009, Canals saiu da UBS, com Nicolas Figueiredo e José Pinto, e abriu a Akoya Asset Management, empresa de gestão de fortunas em Genebra que aplicava o dinheiro dos clientes em ações, obrigações ou depósitos a prazo rentáveis

OS OFFSHORESMuitos clientes portugueses da UBS juntaram-se à Akoya, que passou a gerir os investimentos de pessoas como Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires ou José Guilherme. Álvaro Sobrinho e Hélder Bataglia estão entre os fundadores da empresa de gestão de fortunas

DUARTE LIMA E VILARINHOEm Lisboa, o negócio de ‘Zé das Medalhas’ também não correu mal: mais de €100 milhões em transações entre 2007 e 2012 e uma lista de 200 clientes de peso como Manuel Vilarinho, Duarte Lima ou Francisco Cabral Moncada

DENÚNCIADuarte Lima denunciou, em 2011, o esquema de Canas

de fuga ao fisco e os contactos estabelecidos entre este e Michel Canals (gestor de conta de Lima até 2002). Inicia-se a investigação ao ‘Monte Branco’

DETENÇÕESA 17 de maio de 2012, aproveitando o facto de Canals, Nicolas Figueiredo e José Pinto estarem no Porto num torneio de golfe da Akoya, as autoridades detiveram-nos no Hotel Sheraton. Francisco Canas foi preso no mesmo dia

DA REN A RICCIARDIDurante a operação, o DCIAP fez escutas telefónicas a quadros do GES, entre eles José Maria Ricciardi, ouvido a falar com Passos Coelho. Foram intercetadas conversas entre os dois sobre a privatização da EDP e da REN. Seguiram-se buscas à Parpública, à CaixaBI e ao BESI. O ex-PM fica a salvo de suspeitas

PROCESSO-AUTÓNOMOEstes factos deram origem, no verão de 2012, a um processo-crime autónomo, com base em suspeitas de terem ocorrido crimes de abuso de informação, tráfico de influência e corrupção nas privatizações da REN e da EDP

SALGADO ARGUIDOOs clientes da Akoya investigados acertaram as contas com o Fisco, aderindo ao RERT. Ricardo Salgado foi um dos beneficiados. Ouvido como testemunha em dezembro de 2012 por ter recebido €14 milhões de José Guilherme, o ex-presidente do BES apresentou ao DCIAP as suas correções fiscais obtendo uma “declaração de inocência” do MP. Vinte meses depois, Salgado tornou-se o arguido mais sonante do caso

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Expresso, 14 de maio de 201622 PRIMEIRO CADERNO

BERNARDO ESPÍRITO SANTO E DOIS IRMÃOS USARAM UMA OFFSHORE PARA RECEBER UMA HERANÇAO ANTIGO PRESIDENTE DA PORTUGAL TELECOM CONFIRMOU AO EXPRESSO A TRANSFERÊNCIA PARA UMA CONTA PESSOAL

DA FAMÍLIA ESPÍRITO SANTO A UM GESTOR DA DISTRIBUIÇÃOBernardo Espírito Santo e dois irmãos são outros nomes referidos nos documentos da Mossack, para além de um ex-quadro da JM

Três membros da família Espírito Santo Bernardo Espírito Santo e dois irmãos surgem em documentos da Mossack Fonseca associados à Keystar Holdings Inc., offshore incorporada nas Bahamas em 1998, tendo a Gestar como intermediária. Os dois documentos são também de 1998 e atribuem a Bernardo Espírito Santo Silva, Matilde Espírito Santo Silva Salgado e Nuno Maria Espírito Santo Silva direito de assinatura para movimentarem duas contas — uma na Compagnie Financière na Suíça e outra no Bank Espírito Santo International Limited nas ilhas Caimão. Os ficheiros mostram que em 2001 a offshore foi passada para outra jurisdição — na ilha de Niue, na Nova Zelândia — tendo o nome da companhia sido alterado para Keystar Group Holdings Inc.

Em 2006, é transferida para as Ilhas Virgens Britânicas e ficou inativa em 2008, segundo os registos da Mossack. Contactado pelo Expresso, Bernardo Espírito Santo explicou que a empresa foi criada após a morte do pai em setembro de 1997, para herdarem a participação que tinha no Grupo Espírito Santo. “A empresa recebeu essa participação e a dívida que o meu pai tinha”, afirmou, acrescentando que a empresa foi extinta depois de terem pago a dívida. Bernardo Espírito Santo, que foi diretor-geral no BES na área das empresas e chegou a ser apontado como um dos possíveis sucessores de Ricardo Salgado, diz lembrar-se da conta da Compagnie Financière, mas não ter “ideia nenhuma que existisse” a conta no BES Caimão, referida nos documentos.

Um português entre quatro shareholders Outro dos nomes portugueses na lista de shareholders é o de Pedro Manuel Pereira da

Silva, atual presidente do Dixy Group, terceira maior cadeia de distribuição na Rússia. O português surge nas listas da Mossack como um dos quatro shareholders da Cliedell Investments Corporation, offshore incorporada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2007, registada como inativa desde 2014. “A offshore foi criada, mas nunca foi utilizada, nunca teve atividade”, esclarece Pedro Pereira da Silva, recordando ter sido criada com a ideia de lançar uma joint-venture na Ásia, mas que nunca avançou. Pereira da Silva foi responsável da Jerónimo Martins na Polónia e COO do grupo português entre 2011 e 2015, tendo deixado a empresa no final do ano passado e entrado no Dixy Group em março deste ano. Os documentos da Mossack Fonseca mostram que em 2013 foi pedida a dissolução da offshore junto da firma panamiana.

Miguel Prado e Raquel Albuquerque

(EXPRESSO), Patrícia Pires e Paula Gonçalves

Martins (TVI)

A Holdimo, empresa da qual Álvaro Sobrinho é acionista, recebeu entre 2011 e 2012 cin-co depósitos em numerário na sua conta no BES Ango-la, num total de 19,6 milhões de dólares (pouco mais de €17 milhões ao câmbio atu-al), soube o Expresso. Dessa soma, quase 40% terão sido canalizados para duas socie-dades offshore que estão na base de dados da Mossack Fonseca, tendo como dono Emanuel Madaleno, irmão de Álvaro Sobrinho.

Os dados da Mossack, a que o Expresso e a TVI ti-veram acesso no âmbito da investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ na sigla em inglês) sobre os negócios dos paraísos fiscais, mos-tram que a Best Yield Ltd e a Vertical Intec Holdings Ltd foram criadas nas Seicheles em 2009 e em 2011, respeti-vamente.

Um extrato bancário do BES Angola sobre uma conta da Holdimo revela que vários depósitos em numerário fei-tos entre 2011 e 2012 foram seguidos de transferências para outras contas nas quais surgem as descrições “Best Yield Ltd, Seychelles” e “Ver-tical Intec Holdings Ltd”, não tendo sido possível confirmar se estas duas offshores foram efetivamente os destinatários das transferências.

HOLDING DE ÁLVARO SOBRINHO RECEBEU MILHÕES EM DINHEIRO VIVO

O Expresso contactou Ro-gério Alves, advogado de Ál-varo Sobrinho, mas não foi possível em tempo útil obter respostas às questões coloca-das, entre as quais a origem das verbas depositadas em numerário na conta da Hol-dimo no BES Angola.

O registo bancário mostra ainda uma saída da conta da Holdimo de 1,77 milhões de dólares (o equivalente hoje a €1,55 milhões) a 15 de fe-vereiro de 2012. Descrição do movimento: “Sporting Clube de Portugal”. Ora, a Holdimo é justamente um dos maiores acionistas da Sporting SAD [Sociedade Anónima Desportiva], onde detinha no final de 2014 uma participação de 29,85%, não se conhecendo desde então alterações a essa posição. A maior parte do capital da SAD do emblema leonino continua a ser detida pelo clube de Alvalade e pela Sporting SGPS.

Álvaro Sobrinho surge com várias referências nos “Pana-ma Papers”, com ligações a diversas empresas offshore. Uma delas, a White Ceder (nas Ilhas Virgens Britâni-cas), serviu para adquirir um barco. “Todos os ativos que me pertencem e estão alocados à White Ceder pa-garam os seus impostos”, respondeu na altura Álvaro Sobrinho.

Pedro Santos Guerreiro e Micael Pereira

A ES Enterprises transferiu 18,5 mi-lhões de euros para uma conta bancá-ria no estrangeiro de Zeinal Bava. A transferência terá sido feita em 2012. Zeinal devol-

veu o dinheiro no início deste ano, com juros, à “massa falida” da ES International, no Luxemburgo.

Foi o próprio Zeinal Bava que, con-tactado pelo Expresso, confirmou a transferência da Enterprises Mana-gement Services (nome da ES Enter-prises desde 2007) para uma conta pessoal, bem como a devolução do dinheiro. O antigo presidente da PT negou tratar-se de qualquer remune-ração, contrapartida ou compensação e esclareceu que se tratou de um valor confiado a título fiduciário (na prática, um empréstimo), que tinha um objeto contratual definido que não veio a ser concretizado, pelo que o dinheiro, “tal como previsto no contrato”, foi devolvido, “capital e juros”.

“Tratou-se de um valor que me foi confiado a título fiduciário, consigna-do a uma finalidade legítima a con-cretizar em momento futuro”, expli-ca Zeinal. “O objeto do contrato era financiar a aquisição de ações da PT por um grupo de altos quadros da

empresa”, grupo esse que o próprio Bava convidaria, com o objetivo de “mostrar compromisso da gestão da empresa perante o mercado”. O con-trato, acrescenta, “tinha clausulado específico”, quer quanto à definição dos juros entre as partes em “con-dições de mercado”, quer quanto às condições de exercício do investimen-to: “ele dependia da privatização total da PT”, numa altura em que o Estado ainda tinha 500 ações do tipo A, com poderes especiais, conhecidas como golden share. Como a privatização não foi concretizada naquele período, e em junho de 2013 Zeinal Bava deixou a PT (para assumir a liderança exe-cutiva da Oi), “a aquisição das ações diretamente ou através de qualquer instrumento derivativo nunca chegou a ser feita”. Aliás, Zeinal diz que nunca chegou a contactar outros quadros da PT para concretizar esse investi-mento, precisamente porque ele não chegou a colocar-se devido ao atraso na privatização integral da PT e à sua saída do Grupo PT. Zeinal diz que quis então resolver o contrato e devolver o dinheiro, mas que o colapso do GES em 2014 criou um obstáculo jurídi-co: saber qual a entidade competente para proceder à quitação oficial. Só mais tarde os gestores no Luxembur-go da “massa falida” da ES Interna-tional, holding do GES que detinha também a ES Enterprises, confirmou poder dar quitação oficial dos dinhei-ro. Então, diz Zeinal, a devolução foi concretizada.

Zeinal Bava foi presidente-executivo da PT até junho de 2013

FOTO TIAGO MIRANDAES ENTERPRISES TRANSFERIU € 18,5 MILHÕES PARA BAVA

“Saco azul do GES” Zeinal confirma transferência do GES, diz que era financiamento para comprar ações da PT e que dinheiro foi devolvido

PANAMA PAPERS ESPÍRITO SANTO

Zeinal Bava não respondeu ao Ex-presso sobre as datas das operações nem sobre para que banco foi transfe-rido o dinheiro, nem se a conta estava ligada a qualquer offshore. Mas con-firmou que era uma conta no estran-geiro identificada em seu nome pes-soal, o que demonstra “que não houve qualquer intenção de ocultação”. O nome de Zeinal Bava não consta nos varrimentos feitos pelo Expresso, no âmbito dos Panama Papers, à base de dados da Mossack Fonseca, a quarta maior sociedade criadora e gestora de sociedades offshore do mundo.

Esta versão está de acordo com a resposta que Zeinal Bava deu ao “Cor-reio da Manhã” a 1 de maio, quando negou ter recebido “qualquer remu-neração, contrapartida, bónus, com-pensação ou gratificação por parte do GES” e que o valor em causa lhe fora confiado “ao abrigo de um contrato firmado com uma empresa do Grupo GES, já oficialmente devolvido”.

A transferência para Zeinal nun-ca foi comunicada a órgãos sociais da PT, “porque nunca foi comprada uma única ação e tratava-se de uma verba relativamente à qual não me foi transmitida propriedade”, diz Zeinal. “Nunca violei qualquer dever fiduciá-rio com a empresa nem isso está aqui em causa. O que estava em cima da mesa era comprar ações da empresa e aumentar o compromisso com a execução da estratégia e valorização da empresa e isso nunca aconteceu”. Aliás, sublinha, “não causei nenhum

dano à PT e nenhum investimento realizado enquanto fui presidente exe-cutivo da PT prejudicou a empresa”. O investimento de 897 milhões feito em papel comercial da PT, dinheiro que foi perdido, foi realizado já depois de Zeinal ter saído da empresa.

A ES Enterprises é uma offshore conhecida como “saco azul do GES”. Como o Expresso noticiou, há uma lista de alegados pagamentos na posse do Ministério Público com personali-dades portuguesas de alto perfil.

Contactado, o advogado Ricardo Salgado, Francisco Proença de Car-

valho, respondeu que “em virtude do processo-crime em curso se encontrar em segredo de justiça, o Dr. Ricardo Salgado não pode prestar esclare-cimentos aprofundados sobre esta matéria. Sem prejuízo disso, especula-ções abusivas e descontextualizações, posso referir o seguinte: tanto quanto é do conhecimento genérico do meu cliente e não estando na posse de ele-mentos para confirmar ou infirmar certos detalhes questionados, a ope-ração em causa foi realizada ao abrigo de um contrato lícito”.

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Expresso, 14 de maio de 2016 23 PRIMEIRO CADERNO

Rui Gustavo

Não é todos os dias que se con-seguem duas vitórias e duas decisões absolutamente iguais nos tribunais. O Tribunal Ju-dicial da Covilhã e a Relação de Coimbra deram razão à Câ-mara da Covilhã e condena-ram duas proprietárias de um terreno a pagar cerca de 265 mil euros mais juros por não terem cumprido um acordo de loteamento. Mas entre uma de-cisão e outra passaram-se seis anos, a presidência da Câmara mudou e o atual presidente, Vítor Pereira, não acreditou que pudesse ganhar a terceira batalha que faltava: o recurso que as duas mulheres apresen-taram no Supremo, e que ainda estava pendente.

Por isso aceitou e fez aprovar na Câmara um acordo com as rés, Teresa Santos Silva e Rosa Cruz. Em vez dos €264,947,63 mais juros, entregaram à au-tarquia um terreno avaliado pela própria Câmara em 132 mil euros e pagaram 13 mil em dinheiro. Mais ou menos metade do que os tribunais tinham decidido. Mais: Tere-sa Santos Silva e Rosa Cruz são, respetivamente, mulher

PJ investiga perdão familiar suspeito na Câmara da Covilhã

JUSTIÇA

Mulher do presidente da Assembleia Municipal beneficiou de um perdão de 132 mil euros. Caso já está no MPe cunhada de Manuel Santos Silva, o presidente da Assem-bleia Municipal eleito nas listas de Vítor Pereira. “Quem me propôs esse acordo foi o pró-prio Manuel Santos Silva. Foi ele quem conduziu sempre as negociações com a Câmara. No decorrer do processo nunca vi as duas senhoras”, conta Car-los Pinto, o antecessor do atual presidente. “Recusei, claro. Já havia duas decisões favoráveis nos tribunais, o Supremo não aprecia questões de facto, mas sim de Direito e era muito pou-co provável que houvesse uma decisão contrária às pretensões da Câmara. Foi com surpresa, para não dizer outra coisa, que soube que a atual Câmara tinha aceitado o acordo.”

O presidente Vítor Pereira não vê qualquer conflito de in-teresses: “Ninguém pode ser beneficiado por ser familiar de um dirigente da Câmara, mas o contrário também não pode acontecer. Não iria prejudicá--las só porque são da família do presidente da Assembleia Municipal. Não houve qualquer favorecimento e considero essa insinuação caluniosa.” Contac-tado pelo Expresso, Manuel Santos Silva, que foi condeco-rado pelo Presidente Cavaco

Silva e era reitor da Universida-de da Beira Interior, recusou-se a prestar qualquer declaração.

Dois presidentes arguidos

O acordo foi aprovado em no-vembro de 2014. No verão de 2015, depois da denúncia de um antigo responsável da au-tarquia, Pedro Farromba, a PJ da Guarda fez buscas na Câ-mara. A investigação ficou con-cluída no final desse ano. De acordo com uma fonte judicial, os principais intervenientes no processo foram constituídos arguidos: Vítor Pereira e Ma-nuel Santos Silva. Em causa estarão indícios do crime de participação económica em negócio. O Expresso não con-seguiu confirmar se Rosa Cruz e Teresa Santos Silva também foram constituídas arguidas. O processo está neste momento no DIAP de Castelo Branco que terá de decidir se avança ou não com a acusação.

“Se fosse hoje voltaria a fazer exatamente o mesmo porque agi de boa fé e estou de cons-ciência tranquila”, defende-se Vítor Pereira, que não quer confirmar se é ou não argui-do no processo. “Houve uma queixa e as coisas estão a seguir

o seu processo natural. Mas posso garantir que a monta-nha vai parir um rato”, con-tinua. “Agimos abertamente, foi uma decisão participada e decidi assim porque a nossa ad-vogada, que foi escolhida pelo meu antecessor, disse-nos que o Supremo não iria tomar uma decisão salomónica. Isto é, ou ganhávamos ou perdíamos e

ficávamos sem nada. Bastaria que o Supremo aderisse a um dos argumentos da outra parte para ficarmos sem nada. Por isso considerei que era melhor ficar com um pássaro na mão do que com dois a voar.”

Numa troca de correspon-dência que o presidente tornou pública, a advogada Raquel Ri-beiro explica que o recurso das rés para o Supremo tem “uma reduzida probabilidade de êxi-to”, mas admite que não pode dar uma garantia de vitória e por isso aceita que a Câmara possa “equacionar” a hipótese de um acordo. “Eu quis com-prar o risco”, insiste Vítor Pe-reira. Um parecer da diretora do Departamento de Adminis-tração Geral da Câmara, Gra-ça Robbins, diz que o acordo “seria claramente prejudicial para os interesses da Câmara” e avalia o terreno que as rés ofereceram no acordo em 42 mil euros. “A Câmara estaria a desbaratar 200 mil euros”, conclui o parecer. “A doutora Graça Robbins é uma jurista, não percebe nada de terrenos”, argumenta Vítor Pereira.

A deliberação da Câmara seria aprovada por três depu-tados do PS (incluindo Vítor Pereira) e um do Movimento

Acreditar Covilhã, que seria afastado deste movimento cí-vico na sequência deste voto. O deputado da CDU absteve-se. O deputado do PSD e o outro do MAC votaram contra. O acordo já foi cumprido e as rés desisti-ram do recurso no Supremo. “Não tenho dúvidas de que os interesses da Câmara foram prejudicados. O que aconteceu, os tribunais melhor decidirão, é crime”, acusa Carlos Pinto. “Quando esta crise passar o terreno vai valorizar e não te-nho dúvidas de que a Câmara vai ficar a ganhar”, argumenta Vítor Pereira.

O caso começou quando as duas familiares de Santos Sil-va decidiram lotear um terre-no que possuíam no Canho-so. A Câmara autorizou, mas pediu em troca que no rés do chão de um dos prédios a edi-ficar fosse construída a sede da junta de Freguesia do Ca-nhoso. Teresa Santos Silva e Rosa Cruz concordaram, mas a sede nunca seria construída naquele local, que é hoje uma urbanização. A Câmara teve de construir a sede da junta noutro local e gastou os 265 mil euros que provavelmente nunca irá recuperar.

[email protected]

NÚMERO

265mil euros é o valor que a Câmara teria de receber. Dois tribunais disseram que sim mas o presidente preferiu um acordo por metade do valor

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Expresso, 14 de maio de 201624 PRIMEIRO CADERNO

Justiçade PerdiçãoMaria José Morgado

Não59,5

Sim28

%

PORTUGAL DEVE APLICAR O ACORDO ORTOGRÁFICO SE ESTE NÃO FOR RATIFICADO PELA CPLP?

NS/NR: 12,5

Eva Joly, a emblemática juíza do ‘caso Elf’ afir-mava em 2001 que, o total guardado nos pa-

raísos fiscais atingia o valor do PIB nos EUA, sendo que 54% dos ativos mundiais estão co-locados em regime offshore; que a grande corrupção tem beneficiado da cumplicidade dos bancos ocidentais, utili-

zando o circuito das sociedades offshore como abrigo.

Depois de décadas de regu-lamentação, recomendações internacionais, terramotos financeiros, a justiça penal continua a sentir-se quase im-potente perante este buraco negro. Cada escândalo substi-tui o anterior, mas nenhuma medida parece eficaz.

As características do regi-me offshore de sigilo bancá-rio absoluto, anonimato, hos-tilidade à cooperação judicial e nula ou fraca tributação fiscal permitem a construção desta fortaleza de caixas pos-tais enquanto proteção de dinheiros sujos. As Interna-cional Business Company — IBC um pronto a servir para a reciclagem dos proventos do crime, fornecem direto-res, pactos sociais e acionis-tas fictícios, abrem contas bancárias pelo mundo fora. Não há necessidade da pre-sença física de ninguém, são montagens eletrónicas, des-montadas secretamente por uma procuração passada ao famigerado beneficiário final — o verdadeiro detentor dos fundos ou das transações.

O resto são testas de ferro pagos, muralhas de papéis, labirintos de empresa vazi-as. O beneficiário verdadeiro está defendido de qualquer identificação oficial.

As shelf companies são po-derosos veículos para transfe-rências milionárias opacas. As montagens financeiras surgem em cascatas de empresas hol-dings, em estonteante efeito de pipocagem de forma a encobrir os autores dos crimes.

O regime offshore originaria-mente destinado à menor tribu-

tação fiscal, degenerou progres-sivamente num instrumento de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo. Ele é intensivamente utilizado designadamente, na lavagem dos proventos da grande cor-rupção, do crime organizado, do tráfico de seres humanos, de armas, de ouro e diamantes, do contrabando de tabaco, da fraude ao IVA em carrossel, dos negócios sujos do futebol, etc. Os seus métodos são a chave de ignição desta criminalidade e providenciam impunidade total.

Estas laboriosas montagens cortam definitivamente a liga-ção entre a prática do crime, as vantagens respetivas e os seus autores. São máquinas destruidoras de provas, de ini-quidade fiscal, de impunidade. O dinheiro circula por entre

várias companhias, dá a volta ao mundo e regressa à origem limpinho a ser integrado na economia legítima. Mecanis-mos globalizados e sofisticados que transformaram os paraísos fiscais em fortalezas do crime.

Pedimos: obrigação para to-dos os sistemas de transferên-cias de fundos de identificação do beneficiário final e dos emis-sores das ordens para que em caso de investigação penal, as autoridades possam reconsti-tuir o conjunto das operações suspeitas. Criação do crime de enriquecimento ilícito. Vigilân-cia apertada das personalida-des politicamente expostas e equiparadas. Proteção efetiva para os denunciantes.

P.S. Ao Zé Luís, falecido faz hoje seis anos.

Fortalezas do crime

São máquinas destruidoras de provas, de iniquidade fiscal, de impunidade

Joana Pereira Bastos

Depois de ter marcado a visi-ta do Presidente da República a Moçambique, no início des-te mês, a polémica em torno do Acordo Ortográfico (AO) chegou esta semana à Justi-ça. A Associação Nacional de Professores de Português e um grupo de cidadãos avançaram quarta-feira com uma ação no Supremo Tribunal Adminis-trativo pedindo a ilegalidade da resolução do Conselho de Ministros de 2011 que mandou aplicar o AO à administração direta do Estado e a todo o sis-tema de ensino. Mas a verdade é que entre os próprios juízes reina o desacordo em relação a este assunto.

Nos sites de vários tribunais domina a confusão linguística, com a utilização simultânea das regras ortográficas pré e pós-acordo. Por exemplo, “o sítio do Supremo Tribunal de Justiça pretende ser um meio de comunicação direto” (sem c, como mandam as novas re-gras), onde os cidadãos podem consultar a “actividade institu-cional” (com c, como se escre-via antes do AO) do presidente, António Henriques Gaspar — a terceira figura do Estado. O mesmo que, em todos os dis-cursos oficiais, prefere não eli-minar as consoantes mudas e continua a escrever como antes se aprendia.

“A resolução do Conselho de Ministros [que impõe a nova grafia a todos os serviços e organismos sob tutela do Go-verno e a todo o sistema de ensino] é administrativa, não se aplica aos Tribunais e não vincula o Supremo Tribunal de Justiça”, esclarece o STJ. Em declarações ao Expresso, a mais alta instância judici-al adianta que a aplicação ou não do Acordo Ortográfico “é matéria da liberdade de cada juiz-conselheiro.”

A posição do Conselho Su-perior da Magistratura vai no mesmo sentido. Em 2012, numa sessão plenária sobre a aplicação do AO, o órgão de disciplina dos juízes delibe-rou que “não pode indicar a forma em que as peças [pro-cessuais] deverão ser publica-das”. Ou seja, cabe a cada juiz decidir as regras ortográficas com que prefere escrever os acórdãos.

Entendimento diferente tem, no entanto, o presidente do Tri-bunal da Relação. “Sigo a nova grafia em todos os documentos oficiais — publicações, despa-

Tribunais em desacordo ortográfico

LÍNGUA

Ação judicial interposta esta semana pede ilegalidade do Acordo. Juízes divergem quanto às novas regras

chos, comunicações ou concur-sos, por exemplo — porque é obrigatório”, diz Luís Vaz das Neves. Mas só nesses casos. Em tudo o resto, incluindo o texto que assina no site do Tribunal, o responsável continua a escre-ver de acordo com a ortografia antiga. “Nunca me habituei às novas regras. Mas obviamente que as respeito naquilo que se impõe, ao nível do serviço do Tribunal”, explica.

Uma frase, duas ortografias

Mais confuso parece estar o presidente do Tribunal Cons-titucional, Joaquim de Sousa Ribeiro, que chega a utilizar as duas ortografias na mes-ma frase. No texto que assi-na no site do TC, escreve: “O conhecimento, pelo público em geral, e não apenas pelos operadores jurídicos, culto-res e estudantes de Direito, da actividade [com c] do Tri-bunal e, em particular, da sua jurisprudência é, assim, por nós compreendido como um indispensável instrumento de uma cidadania que se deseja responsável e ativa [sem c]”.

Em todo o site do Tribunal Constitucional, tal como acon-tece no Tribunal de Contas, coexistem ambas as regras ortográficas. Os conteúdos pu-

blicados antes da entrada em vigor do AO não foram corri-gidos e a mesma palavra chega a aparecer escrita com as duas formas, lado a lado (ver foto).

Se nos tribunais a aplicação do acordo pode ser opcional — como acontece no caso de todas as empresas privadas —, já os serviços e organismos que dependem do Governo são mesmo obrigados a respeitá-lo. Mas isso nem sempre acontece. Apesar de a maioria cumprir,

há erros comuns, como a es-crita dos meses com maiúscula em vez de minúscula.

A Autoridade Tributária e Aduaneira parece ser a recor-dista do incumprimento. No site do organismo que fiscaliza os impostos abundam os c mu-dos antes do t, como “activida-de”, “correcto” ou “efectuar”. E são muitos os duplos c que se mantêm apesar das novas regras, como “inspecção” ou “direcção”.

No site do Tribunal de Contas convivem as duas ortografias —“Atos” do Tribunal lado a lado com “Actos do Tribunal”

Manter a ortografia antiga e acabar com a aplicação obri-gatória do Acordo na adminis-tração do Estado e no sistema de ensino é precisamente o que pede a ação judicial que en-trou esta semana no Supremo Tribunal Administrativo e que alega que a obrigatoriedade teria de ter sido imposta por uma lei ou decreto-lei e não apenas por uma resolução do Conselho de Ministros, como aconteceu.

Os autores da ação argumen-tam ainda que a alteração apro-vada em 2004 e que permite que as novas regras estejam em vigor com a ratificação de apenas três países “viola o es-pírito do tratado original”, que obrigava a que todos os Estados da CPLP o adotassem.

Mas há mais: “Ao pretender impor-se a uma ortografia es-tabilizada há 70 anos, o AO viola o artigo 43 da Constitui-ção, que diz que o Estado não pode programar a educação e a cultura segundo diretrizes polí-ticas ou ideológicas, que é o que está aqui em causa”, adianta Artur Magalhães Mateus, um dos autores da ação.

Resta saber com que regras ortográficas os juízes vão escre-ver o acórdão deste caso.

Com João Pedro [email protected]

SONDAGEM O Presidente da República considera que Portu-gal deve reequacionar a adoção do Acordo Ortográfico (AO) se Angola e Moçambique decidirem não o ratificar. Segundo o último barómetro da Eurosondagem para o Expresso e SIC, a maioria dos portugueses vai mais longe: 59,5% entendem que o país não deve aplicar o AO a não ser que todos os países de Língua Portuguesa também o façam.

ACORDO OU TALVEZ NÃO

“A resolução do Conselho de Ministros [que impõe a nova grafia a todos os organismos sob tutela do Governo e ao sistema de ensino] é administrativa, não se aplica aos Tribunais e não vincula o Supremo Tribunal de Justiça”Supremo Tribunal de Justiça

“[A aplicação do AO] é matéria da liberdade de cada juiz-conselheiro”IDEM

“Sigo a nova grafia em todos os documentos oficiais — publicações, despachos, comunicações ou concursos — porque é obrigatório. Mas no dia a dia escrevo como aprendi. Nunca me habituei às novas regras”Luís Vaz das Neves Presidente do Tribunal da Relação

“Ao pretender impor-se a uma ortografia estabilizada há 70 anos, o AO viola o artigo 43 da Constituição, que diz que o Estado não pode programar a educação e a cultura segundo diretrizes políticas ou ideológicas”Artur Magalhães Mateus Jurista e um dos autores da ação judicial que deu entrada no Supremo Tribunal Administrativo

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Expresso, 14 de maio de 2016 25 PRIMEIRO CADERNO

A replantação de plantas autóctones onde antes existiam 193 casas e casebres ajudaram a fixar areia e a formar dunas nos quatro ilhotes — Ratas (foto), Coco, Ramalhetes e Altura — e na ilha Deserta.

Natureza recupera nos ilhotes

O antes e o depois no ilhote das Ratas (nas fotos), um dos quatro já sem construções e com a renaturalização em marcha

Chilretas, garças brancas e colhereiros voltaram a nidificar nestes espaços que em conjunto com as três ilhas maiores — Ancão (praia de Faro), Culatra (Farol, e Hangares) e Armona — compõem as ilhas-barreira. “São elas que mantêm a Ria Formosa a funcionar como ecossiste-ma natural (ali existente há seis mil anos) e sapal importante para a atividade eco-nómica dos mariscadores”, sublinha Se-

bastião Teixeira. O geólogo que preside à Sociedade Polis do litoral algarvio lembra também que “elas são uma peça-chave sem a qual não existiria o território hoje ocupado pelo aeroporto e pela cidade de Faro”, ameaçados pela subida do nível do mar. A renaturalização destes territórios permite manter a sua função de proteção da ocupação continental assim como os valores ambientais ali existentes. C.T.

Carla Tomás

Apesar de assumir que “as de-molições na Ria Formosa são de grande importância para a renaturalização daquele espa-ço e a sua qualidade ambien-tal”, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, diz que “é necessária uma avaliação de grande pormenor que conjuga o risco, a legalidade e a pon-deração social”. Esta reavalia-ção está a ser feita, acrescenta, “com a certeza de que haverá ainda um número significativo de demolições a levar a cabo”.

A última vaga de demolições arrancou no inverno de 2010, quando ondas de seis metros derrubaram duas dezenas de casas na ilha da Fuzeta, facili-tando o trabalho das máquinas que vieram a seguir, sem pro-testos. De então para cá 374 edificações foram demolidas, o que corresponde a menos de metade do previsto pela Sociedade Polis Litoral da Ria Formosa, em área de domínio público marítimo (ver caixa).

Na calha estão ainda meio milhar de casas consideradas ilegais nas ilha do Farol, Han-gares e praia de Faro, dois terços das quais deviam ter começado a ser removidas em janeiro. A intervenção conta com um investimento de 2,2 milhões de euros, cobertos em 75% por fundos comunitários já aprovados (POSEUR). Con-tudo, algumas fontes ligadas ao processo alertam para “o risco de esse dinheiro ser perdido se a obra não avançar este ano”.

O ministro Matos Fernandes garante que as verbas não se-rão desperdiçadas, já que “se não for concretizada em 2016, pode ser apresentada nova candidatura para promover a adaptação às alterações climá-ticas e a prevenção de riscos, até 2020”.

Impasse político

Os últimos atrasos nas inter-venções deveram-se, em parte, a uma sucessão de providên-cias cautelares avançadas por proprietários das casas ilegais, pelas associações de morado-res e pela Câmara Municipal de Olhão. As ações acabaram por ser julgadas improcedentes por “ilegitimidade ativa”. Mas o impasse político continua.

Há 30 anos que se fala na ne-cessidade de demolir casas e outras edificações ilegais nas ilhas-barreira da Ria Formo-sa, para se poder renaturalizar esta área protegida que serve de travão ao avanço do mar so-bre a costa algarvia. Sucessivos governos pegaram no processo com avanços e recuos. Por isso, o dirigente da associação am-bientalista Zero, Francisco Fer-reira, considera “que é só uma questão de vontade política, já que as avaliações técnicas, jurí-dicas e sociais já foram feitas”

Porém, o PS tem pressiona-do para nova “reflexão sobre o tema”. O deputado socialista Luís Graça (eleito pelo Algar-ve) admite que “do ponto de vista ambiental não era possí-vel requalificar estas ilhas sem recorrer a demolições nas zo-nas de maior risco”. Contudo, diz que “o programa Polis não pode depender só das demoli-ções, e as verbas comunitárias podem ser aplicadas em colo-

Mais de metade das casas continuam por demolir na Ria Formosa

AMBIENTE

Governo suspende demolições nas ilhas-barreira. Adiamento põe em risco verbas comunitárias

cação de areia e na renatura-lização com o mínimo impacto sobre as pessoas”.

O mesmo defende o presiden-te da Câmara de Olhão, Antó-nio Pina, que costuma passar férias na casa do pai na ilha do Farol (uma das que estão para ir abaixo). “A questão do risco é uma falácia que tem sido ao longo dos anos utilizada pelos ambientaloides”, argumenta. Para o autarca, “é mais im-portante manter estas ilhas ocupadas e a contribuir para a economia local”. Quanto aos impactos futuros das alterações climáticas, António Pina alega que “isso é só daqui a mais de 20 anos e quando estiver para acontecer então retiram-se as casas”.

O social-democrata Rogério Bacalhau, que preside à Câ-mara de Faro, argumenta que “nunca” se opôs às demolições em zona de risco na Praia de Faro (onde o sogro teve uma casa que já foi abaixo), mas diz estar “contra” as previstas para os núcleos da Culatra, Farol e Hangares, “porque deviam era ser requalificados, já que estão do lado da ria a quase um quilómetro do mar”.

O plano de requalificação do núcleo piscatório da Culatra (300 famílias residentes) está por fazer devido à dificuldade de enquadrar juridicamente as edificações em domínio pú-blico marítimo. Já as casas dos pescadores e mariscadores da praia de Faro não podem ir

abaixo sem realojamentos. A Câmara de Faro recebeu €2 mi-lhões da Sociedade Polis para comprar um terreno junto ao aeroporto de Faro, mas os sete lotes adquiridos “só dão para realojar metade das pessoas e o município não tem condições para avançar com a constru-ção”, admite Rogério Bacalhau. Por isso defende que “o melhor era realojar parte das famílias na ilha já que dependem da proximidade da Ria e do mar”.

Carlos Flor, pescador que preside à associação de mora-dores local e ali vive há mais de 40 anos, ri-se: “Ainda eu abalo desta vida e a comuni-dade da Praia continua cá”. É que, garante, “os indígenas não baixam os braços” e há décadas

Na Praia de Faro uma centena de casas já foi abaixo e outras

tantas estão por demolir

FOTO POLIS RIA FORMOSA/DR

que vivem sob a ameaça do mar lhes passar por cima dos telha-dos ou de os bulldozers avança-rem. Já nada temem. E aponta: “Querem tira-nos daqui, mas manter as casas dos senhores do alcatrão”, referindo-se à zona central da ilha desafetada do DPM pela Câmara de Faro nos anos 50 e onde se erguem prédios de três andares, que a Polis diz não poder deitar abaixo porque teria de pagar indemnizações.

De fora da lista de demolições permanecem estas casas, as da zona poente do Farol, sob tute-la do Porto de Sines, ou as mais de 800 da ilha da Armona, que viu a concessão renovada ao município de Olhão até 2022.

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NÚMEROS

374edificações foram demolidas nas ilhas-barreira, nos últimos anos, de uma lista de 884 que a Sociedade Polis Litoral da Ria Formosa definiu como passíveis de irem abaixo. Há 510, localizadas nos aglomerados do Farol, Hangares, Culatra e Praia de Faro que estão por demolir, 111 identificadas como de primeira habitação

2321construções estavam inventariadas pela Polis em 2011 nas ilhas e ilhotes da Ria Formosa. Mais de 800 na ilha da Armona, para a qual não existe ordem de demolição já que a concessão atribuída por 30 anos à Câmara de Olhão, em 1982, foi prolongada por mais 10 anos, em 2012, por inércia do Estado

7,4milhões de euros é quanto o Estado gastou entre 2008 e 2015 nos estudos e projetos de demolição, requalificação e recuperação dunar e lagunar na Ria Formosa, segundo dados da Polis

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Expresso, 14 de maio de 201626 PRIMEIRO CADERNO

Vera Lúcia Arreigoso

Quilos a mais e sintomas de-pressivos estão no mesmo pra-to da balança. Um estudo feito por um consórcio internacional permitiu concluir que o padrão alimentar está associado à de-pressão. Os autores não sabem, no entanto, qual pesa mais: se o excesso de peso deprime ou se o problema psíquico engorda.

Inquiridos 10.661 portugue-ses, os autores identificaram que é onde há mais residentes com excesso de peso ou obesi-dade que a prevalência de ca-sos de depressão é maior: no Alentejo. A região tem mais de 60% da população com va-lores elevados na balança e 7% a 8% com depressão. Menos evidente, o problema manifes-ta-se também nos Açores. Mais de metade dos residentes têm peso a mais ou são obesos e 5% a 6% dão sinais da doença.

“Fomos a casa das pessoas, entre setembro de 2011 e de-zembro de 2013, e fizemos um retrato, que agora falta inter-pretar”, explica Helena Ca-nhão, investigadora principal do estudo e do projeto “Saúde. come”, liderado pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia. “Não sabemos a causa, mas verificámos que os sinais de depressão estão associados a maus hábitos alimentares. Não há dúvidas sobre esta relação.”

Para a dieta desequilibrada foram considerados consumos excessivos de carne e reduzi-dos de peixe, vegetais, fruta ou sopa, por exemplo. Já a insta-bilidade psíquica foi medida por uma escala (HADS) com 14 perguntas, como quantas vezes se sente tenso, se sente pra-zer nas coisas de que costuma gostar ou perdeu interesse em cuidar do aspeto físico.

Para evitar outras condicio-nantes, foram ajustadas as va-riáveis como idade, educação, emprego, hábitos tabágicos, consumo de álcool e exercício físico. “Assim temos a certeza de que não é porque alguém está desempregado ou conso-me muito álcool que está de-primido”, esclarece a médica. E não tem dúvidas: “Os sintomas depressivos estão relacionados com a alimentação.”

O passo seguinte do estudo — em parceria com a Nova Me-dical School, Católica-Lisbon School of Business and Eco-nomics, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e Norwegian University of Science and Tecnology — é saber porquê e promover hábi-tos saudáveis. A conclusão es-tabelecida merece argumentos distintos de especialistas em nutrição, psicologia e psiquia-tria. Entre todos há, contudo, um pensamento comum: é pre-ciso estudar mais.

“Há muito que se verifica que é comum existir anorexia nas situações depressivas, exis-tindo porém algumas formas, atípicas, em que há polifagia [ingestão excessiva de alimen-tos], com eventual aumento de peso”, diz Álvaro de Carvalho, diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental. Ainda assim, o psiquiatra não arrisca um diagnóstico sobre se são os quilos a mais que deprimem ou o contrário. “Nunca vi um deprimido grave melhorar através de suplementos alimen-

Má alimentação provoca depressãoque provoca má alimentação

SAÚDE

Estudo revela que a dieta está associada à saúde mental. Falta saber se a relação é de causa ou de efeito

tares, admitindo que algumas pessoas com depressões ligei-ras refiram o contrário.”

Placebo ou não, parece surtir efeito comer bem. Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, salienta que “uma alimentação equilibra-da, incluindo azeite, pescado, fruta, hortícolas, frutos olea-ginosos, leguminosas, carnes brancas, laticínios ou carne não processada parece estar inver-samente associada ao risco de depressão e até melhorar sin-tomas depressivos”.

Já o bastonário dos Psicólogos atribui aos alimentos um papel mais modesto. “Os produtos alimentares transformam-se em componentes químicos que repercutem-se de diferentes formas, podendo influenciar o humor. É muito plausível uma influência da alimentação so-bre os estados psíquicos, no entanto, será importante dife-renciar um efeito transitório de efeitos mais persistentes”, defende Telmo Baptista.

A própria líder do trabalho, Helena Canhão, responsável por uma unidade de epidemio-logia de doenças crónicas, quer ter respostas às perguntas em aberto, garantindo que o traba-lho é para continuar. Com dou-toramento em nutrição clínica, Rui Poínho resume: “O que te-mos por certo é que a equação é complexa e está longe de ser totalmente compreendida.”

Docente na faculdade de Ci-ências da Nutrição e Alimenta-ção da Universidade do Porto, Rui Poínho explica que apesar de alguns estudos demonstra-rem que “certos nutrientes parecem ter efeito nos níveis de neurotransmissores envol-vidos nos mecanismos associ-ados aos sintomas depressivos, tudo aponta para uma relação bidirecional, em que a alimen-tação e os sintomas depressivos se influenciam mutuamente”. Assim, “convém realçar que a alimentação humana é ex-tremamente complexa, pelo que a valorização dos efeitos de determinados alimentos ou nutrientes deve ser cautelosa”.

[email protected]

Quem tem maus resultados na balança é quem mais frequentemente fuma, bebe e não se exercita FOTO GETTY

A distribuição dos portugueses com peso em excesso ou já obesos coincide com a região do país onde os seus habitantes manifestam mais problemas do foro psíquico. O Alentejo é, assim, a zona com maior prevalência

OUTROS DADOS

60%da população açoriana consomem carne todos os dias e menos de 65% levam a fruta à mesa. Padrão semelhante é registado na Madeira e no Norte

1região soma refeições diárias de peixe por mais de 30% dos habitantes: o Algarve. Já na Grande Lisboa consome-se menos pescado do que no Alentejo com menos de 25%

3zonas destoam da opção nacional por sopa. Madeira, Algarve e Açores não têm um consumo diário acima de 40% como no resto do país

25%ou mais dos residentes no Norte e na Grande Lisboa são fumadores. As duas regiões estão no topo nacional

QUATRO PERGUNTAS A

Pedro MoreiraDiretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

P Concorda que há uma rela-ção entre alimentação e sinto-mas depressivos? R Ainda que haja muita contro-

vérsia, a alimentação e os sinto-mas depressivos estão associa-dos. Para investigar se a relação é de causa ou de efeito, são neces-sários modelos de estudo comple-tamente diferentes. De qualquer forma, o tipo de alimentação e certos nutrimentos — como óme-ga-3, zinco, magnésio ou vitami-na D — parecem relevantes para a depressão.

P Sempre se disse que choco-late ajuda a melhorar o ânimo. A alimentação tem um papel além do aporte nutricional? R A resposta afetiva aos estí-

mulos sensoriais da ingestão de alimentos doces e gordos pode ser identificada pelo consumidor com prazer, o que constitui um fenómeno normal. Contudo, em dietas transitórias, grupos de-senraizados ou vítimas de crise sociocultural, ao jeito do homo urbanus insapiens, é frequente desvalorizar-se o facto de que o que se come inclui o significado pessoal e social.

P Arrisca um diagnóstico? Fica-se deprimido porque se come mal ou come-se mal por-que se está deprimido? R Em nutrição o conhecimen-

to muda a uma velocidade sem precedentes. Também a relação entre o tipo de padrão alimentar e o tipo de microrganismos na flora intestinal poderá apontar para os micróbios no sistema gastrointestinal como agentes de impacto na saúde mental. Re-conhecendo a importância dos primeiros mil dias de vida, ainda fetal, para o risco das doenças que como adultos poderemos ter, diria que do ponto de vista da nu-trição, as doenças, incluindo as mentais, previnem-se na barriga da nossa avó. Além disso, poderá comer-se mal porque se está de-primido e ficar deprimido porque se come mal.

P Isoladamente, o que pode ser mais prejudicial: pouco pei-xe, pouca sopa, pouca fruta ou muita carne? R Os estudos com visão holística

são muito importantes para com-pletar a informação avulsa sobre alimentos. Por exemplo, os bene-fícios do azeite parecem ser ainda maiores se a sua ingestão resul-tar num padrão alimentar maior, como o mediterrânico. A prefe-rência de peixe sobre a carne, de hortofrutícolas, de leguminosas e de cereais integrais poderá me-lhorar o aprovisionamento dos fitoquímicos e dos nutrimentos mais favoráveis a uma boa saúde mental e também promover a riqueza da flora intestinal. Em alguns estudos de intervenção, os fitoquímicos provenientes de alimentos como maçãs ou ce-rejas, chá verde, café ou cacau melhoraram algumas dimensões comportamentais associadas à depressão ou associaram-se a menor risco desta doença.

AÇORES

AÇORES

MADEIRA

MADEIRA

<5252 - 59,9> = 60

% DA POPULAÇÃO POR REGIÃO

ÁREA METROPOLITANA

DE LISBOA

ÁREA METROPOLITANA

DE LISBOA

CENTRO

CENTRO

NORTE

NORTE

ALENTEJO

ALENTEJO

ALGARVE

ALGARVE

EXCESSO DE PESO E OBESIDADE EM PORTUGAL

SINTOMAS DEPRESSIVOS EM PORTUGAL

<55 - 66 - 7> = 7

% DA POPULAÇÃO POR REGIÃO

FONTE: SAÚDE.COME

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Expresso, 14 de maio de 2016 PRIMEIRO CADERNO 27

UM PROJETO

João Morais Diretor de Cardiologia do C. Hospitalar de Leiria

Luís Costa Diretor de Oncologia do Hospital de Sta. Maria

As doenças coronárias, com destaque para o enfarte do miocárdio, têm sido o foco principal da investigação

conduzida por João Morais. Mas, nos últimos anos, a insuficiência cardíaca tem-se imposto como o grande desafio: É uma doença com “elevadas taxas de mortalidade” que representa “uma fatia importante dos doentes que ao longo da vida são inúmeras vezes internados” e na qual existem grandes oportunidades “para o desenvolvimento de novos produtos.” A equipa liderada por João Morais tem estudado o problema não só com novos fármacos, mas também com uso inovador de outros, como é o caso “de um hipocoagulante” cujo uso “em baixas doses” tem revelado resultados promissores na prevenção. A “análise de bases de dados de doentes, em especial no domínio da doença coronária aguda” é outra área de investigação do centro.

A nossa investigação centra-se em duas áreas”, explica Luís Costa. A primeira é a metastatização óssea —

“sobretudo no cancro da mama e no cancro da próstata” — e a segunda incide na progressão tumoral do cancro colorretal. Melhorar a eficácia na prevenção e tratamento destas doenças é o objetivo e, aqui, a metastatização assume grande relevância em função do estudo de certos biomarcadores de prognóstico. Por exemplo, “através do estudo de fragmentos de colagénio que são libertados do osso”, foi possível “interpretar o prognóstico destes doentes” e “desenvolver estratégias para descobrir novos alvos terapêuticos.” A equipa também descobriu “que a variabilidade genética num recetor importante para a metastatização óssea é um fator de prognóstico muito importante no cancro da mama” e começou a estudar o papel “que um grupo de enzimas têm sobre um oncogene” com influência no desenvolvimento de tumores colorretais.

Impacto da metastatização óssea

Prevenção da insuficiência cardíaca

O que estamos a investigar em Portugal

O MEU FUTURO

Resiliência A descoberta de substâncias terapêuticas é feita de muitas tentativas e erros. Um em 100 projetos tem sucesso. Os cientistas unem esforços e partilham conhecimento para avaliarem cada vez mais componentes em menos tempo mas a doença é, ainda, o líder da corrida

12 anos de gestação para nascer um medicamento

Texto Vera Lúcia Arreigoso em Berlim

Foto João Carlos Santos

Tem um final quase sempre feliz a his-tória do desenvol-vimento de novas terapêuticas. “Tra-tam-se cada vez mais doentes, cada vez mais doenças, de maneira cada vez

mais intensa e com medicamentos cada vez mais eficazes e seguros”, re-sume António Vaz Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, da Faculdade de Medicina de Lisboa. Para chegar ao fim são precisos, no entanto, entre dez a doze anos e centenas de capítu-los. A evolução tecnológica tem facili-tado a tarefa, só possível de terminar sob o efeito de doses de resiliência.

Em média, por cada 100 projetos só um é bem-sucedido. “Os investiga-dores têm de ser capazes de tolerar a frustração”, afirma Karsten Parczyk, responsável pela unidade de Triagem em Biologia Celular da farmacêutica alemã Bayer. O biólogo reconhece que “foram introduzidas muitas melhori-as nos últimos 20 anos, mas ainda é uma luta difícil”. A doença continua a ganhar a corrida. A vertente a que se dedica, de novos tratamentos para o cancro, é um bom exemplo. A Ciência ainda não venceu: “As células cancerí-genas fazem mutações e acabam por conseguir adaptar-se à terapia.”

Os investigadores recorrem a mé-todos altamente sofisticados para ganhar vantagem. No menor tem-po, tenta-se testar o maior leque de substâncias. A partir de bibliotecas de componentes — as grandes farma-

cêuticas têm as suas, a da Bayer junta mais de quatro milhões de exempla-res —, tentam descobrir como chegar ao ‘coração’ da doença. Isto é, ao alvo que o medicamento será capaz de ini-bir ou ativar para tratar ou até curar.

A seleção das moléculas é feita em microplacas com mais de 1500 poços (semelhantes aos de tamanho normal que usamos para fazer gelo), que um computador enche com as substânci-as a testar, da ‘biblioteca’ do labora-tório. A técnica inovadora, de Tria-gem de Alta Produtividade, permite examinar 300 mil compostos por dia.

Como tudo é à escala nano, recorre--se a um truque: “Inclui-se um gene repórter para avisar se o recetor [que interessa para a doença] foi identifi-cado e quando acontece, acende-se uma luz, como um pirilampo”, ex-plica Karsten Parczyk. Uma câmara fotografa o ‘clarão’, permitindo que o olho humano também o veja.

Encontrado o candidato ao novo medicamento, seguem-se outros procedimentos muito complexos. O

objetivo é que a molécula trate com o máximo de eficácia e com o míni-mo de efeitos adversos. No conjunto das tecnologias disponíveis estão, por exemplo, os microscópios de flu-orescência a laser. Simplificando: “Permitem ver dentro da célula, por camadas, ter uma imagem em 3D ou ler vários parâmetros em simultâ-neo”, acrescenta o biólogo. Tem sido um aliado na pesquisa que a farma-cêutica alemã tem feito na área da oncologia, das suas principais linhas de investigação.

Os custos e a segurança estão sem-pre presentes. Para reduzir uns e aumentar os outros, é tudo compu-torizado. Exceto a criatividade, que continua na mente humana. Partilhar conhecimento é essencial para ter ideias e o laboratório alemão apostou no apoio a cientistas. No Campus na sede, em Berlim — com 4500 pesso-as, das quais 200 investigadores —, tem um espaço exclusivo a empreen-dedores na área médica.

Desde 2014, o Colaborator permite ganhos de ambos os lados: apoios para quem começa e mais ideias no-vas para quem é ancião no sector. “Temos uma colaboração com uma empresa de biomarcadores e já uti-lizamos alguns dos seus serviços”, revela Stefan Jaroch, responsável pela Área Externa de Tecnologias Inovadoras.

[email protected]

Jovem investigador de startup no Campus de Saúde criado pela Bayer na capital alemã

ECONOMIAGoverno discute nos próximos meses com os parceiros sociais as novas formas de financiar a Segurança Social. Leia “O Meu Futuro, a Minha Reforma” E22

A seguir no “Meu Futuro”

Dia 31 de maio, terça-feira, o Expresso e a Bayer organizam uma conferência para terminar o ciclo “O Meu Futuro Medicamento”, depois de termos explicado aos leitores quais são as doenças que nos tirarão a vida nos próximos tempos e o que estamos a investigar em Portugal a nível de medicamentos inovadores.

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Expresso, 14 de maio de 201628 PRIMEIRO CADERNO

“Hão de dar o seu nome a ruas”

O Expresso visitou Tooting, onde o novo mayor de Londres cresceu. Sadiq Khan deixou a imagem de um homem disponível, prestável e próximo dos concidadãos. Como autarca, terá de resolver o problema da subida das rendas no bairro

O autocarro 44, que o pai de Sadiq Khan conduziu durante mais de 25 anos, leva-nos até perto do bairro so-cial onde o novo presidente da Câ-mara de Londres cresceu, com uma irmã e sete irmãos. Todos adeptos do Liverpool, porque a cor da pele e o idioma cheio de “erres” lhes valiam insultos nos jogos do Chelsea e do Wimbledon. E todos pugilistas. Khan diz que o boxe não é uma luta, antes um conjunto de regras: “Ensina a ser magnânimo, a respeitar adversários, a comer bem e a exercitar o corpo, tudo coisas importantes para a vida”.

Jamaala está sentada no seu rés do chão. Pergunta se estamos perdidos. Não, porquê? Responde com uma gar-galhada. “Conheço Sadiq, claro. Ainda cá vem muita vez. Agora é poderoso e não quero comentar nada de pessoal,

mas digo-vos: fala com toda a gente, ouve sem frete, e nunca o vi fugir a uma luta.”. Tem 76 anos e, como a mãe de Khan, foi costureira para ganhar dinheiro extra para a família.

O arco de tijolo por onde se entra no condomínio onde Khan é tantas vezes fotografado, com um sorriso que reflete o orgulho do passado de “puto do bairro”, tem o nome de um conservador: Henry Prince, vereador nos anos 20, impulsionador da habi-tação social. A segregação dos pobres que varre Londres já chegou a Too-ting, onde a renda de um T2 está nas 1500 libras (1904 euros) e comprá-lo custaria mais de 700 mil (889 mil eu-ros). Casas como aquela onde Sadiq cresceu foram vendidas aos inquilinos saindo do mercado de aluguer. Outras foram substituídas por prédios de luxo

e algumas já não são tão sociais como isso, porque o Governo mudou a lei. A renda social subiu para 80% da renda média local. É muito dinheiro se pen-sarmos que o aluguer médio de uma casa em Westminster é de 600 libras (762 euros)... por semana.

“É uma zona muito residencial, por-que há muitos indianos e paquista-neses, e todos gostam de constituir família. Sadiq prometeu lutar contra a subida das rendas e isso é importante para a continuidade do projeto multi-cultural de Londres. Os mais pobres estão a ser mandados embora”, diz Malik Muhammed, gerente do res-taurante Lahore Karahi, onde Khan jantou na noite da vitória.

Está tanto calor à porta do Lahore como na verdadeira Lahore (Paquis-tão), diz o Google. Toda a gente conhe-

Um autarca à medida da cid ade globalAna França (em Londres)

e Pedro Cordeiro

Um muçulmano que lança a sua candida-tura num pub, apoia o casamento homos-sexual e questiona o uso de véu completo (que a sua mulher e as duas filhas não envergam) é, há uma

semana, autarca de uma das cidades mais visitadas, caras e cosmopolitas do mundo. E é o primeiro da sua fé a assumir o cargo. Sadiq Khan, de 45 anos, já recebeu ameaças de morte por pregar uma espécie de Islão light, mas o secularismo da sua campanha encantou os londrinos, que há muito esperavam alguém que vestisse as co-res do mosaico cultural da capital.

“Onde estão os que dizem nas son-dagens que têm medo de muçulma-nos? Onde está a nação que padece de islamofobia? A eleição de Sadiq serviu pelo menos para uma coisa: arrasar es-ses estudos que só servem para colocar as comunidades do nosso país umas contra as outras”, escreveu Brendan O’Neill, editor da revista “Spiked”, que publica análises e artigos que os demais jornais não aceitam.

Sadiq Kahn — “Só Sadiq!”, pede ele — detém o maior mandato político individual da história da democracia britânica. A 5 de maio, 1.310.143 pes-soas elegeram o trabalhista presidente da Câmara Municipal de Londres, um lugar de enorme visibilidade pública. Recorde-se que serviu de trampolim a Boris Johnson, que ocupou o cargo antes de Khan, para se lançar num ataque já nada velado à liderança do Partido Conservador.

Perseverança e premeditação

Não se conhecem, para já, aspirações de Khan à liderança trabalhista, até porque “político de carreira” é um ró-tulo de que tenta distanciar-se. Evoca sempre o trabalho como advogado e ativista, mas o seu percurso demons-tra não só perseverança como pre-meditação. Foi eleito vereador por Wandsworth, no sul de Londres, em 1994 (o mais novo de sempre, com 23 anos), foi secretário de Estado das Comunidades e dos Transportes no Governo de Gordon Brown, ministro--sombra dos Transportes e da Justiça com Ed Miliband, deputado por Too-ting desde 2005 e agora mayor. Há 20 anos que faz política, pelo que a contestação interna ao líder Jeremy Corbyn, o fraco desempenho traba-lhista nas eleições locais da semana passada (Khan foi exceção numa noite tristonha) e a sua popularidade susci-tam a questão.

Dentro do partido há quem diga, sob anonimato, que é um político nato e

até perigoso, com prodigiosa facili-dade em moldar os seus valores aos diferentes públicos. Imposto sobre casas luxuosas, alargamento do ae-roporto de Heathrow e prerrogativas da polícia são assuntos em que já teve posições inconciliáveis.

Uma crítica impiedosa veio do ex--trabalhista Alan Sugar, membro inde-pendente da Câmara dos Lordes. Acu-sa Khan de ter “destruído o partido”. É que o autarca foi um dos deputados que aceitaram nomear Corbyn para a

liderança, mesmo sem o apoiar, com o fito de “alargar o debate” nas eleições internas do ano passado. Empresári-os como Sugar não perdoam a ajuda à vitória inesperada do esquerdista Corbyn, que disse, um dia, que “as empresas são o inimigo”.

Segundo Sugar, Khan seguira a mesma linha em 2010, quando Ed Miliband venceu a disputa interna contra o irmão David (mais velho e mais centrista). Eleito contra todas as expectativas, falou dos maiores em-

pregadores do país como “predado-res”, critica aquele lorde. O diretor de campanha de Ed Miliband era quem? Sadiq Khan! Seguiram-se cinco anos de liderança débil e maioria absoluta de Cameron nas legislativas.

Um homem de dois mundos

Sadiq Khan é o quinto de oito filhos de imigrantes paquistaneses. Cresceu com os seis irmãos e a irmã no bairro social de Tooting, no sul de Londres

(ver texto abaixo), por onde foi depu-tado até à eleição como mayor. Filhos de um motorista de autocarro e de uma costureira, todos frequentaram a universidade menos um, que hoje tem oficinas de automóveis. Todos os homens da família são, ainda, hábeis pugilistas. Khan pensou ser dentista, mas um professor convenceu-o a en-veredar por Direito.

O novo autarca de Londres habita os dois mundos que a capital do Reino Unido tem dentro: o das lutas diárias

Londres Perfil do homem que devolveu a capital britânica à esquerda: determinado, afável e de passado polémico

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Expresso, 14 de maio de 2016 29 PRIMEIRO CADERNO

Enquanto em Londres uma vaga de fundo alargava o elei-torado trabalhista e dava a vitória nas eleições munici-

pais a um advogado muçulmano, defensor dos direitos humanos, em França a esquerda dilacera-se em torno da laicidade, do porte do véu e da privação da nacionalidade aos suspeitos de terrorismo.

Em 2017 haverá eleições legisla-tivas em França (bem como pre-sidenciais) e na Alemanha, deci-sivas para a definição dos novos equilíbrios políticos europeus, mas, antes disso, a esquerda europeia será posta à prova perante questões que ganharam uma dimensão dra-mática. É o caso da saída, ou não, do Reino Unido (23 de junho), do acordo de refugiados com a Tur-quia (agora posto em causa por Erdogan) ou da viragem xenófoba em curso na Europa de Leste e que se materializa nos muros de Orbán e na intolerância relativamente aos refugiados. Sem esquecer a revi-são da política de austeridade e de primado do equilíbrio orçamental, aplicada com dois pesos e duas me-didas por Bruxelas, consoante se trate da França, de Portugal, da Espanha ou da Grécia. Para não fa-lar no excedente comercial alemão que também é penalizável à luz das regras europeias.

Além do défice, a Grécia enfrenta o problema dos refugiados. Pres-sionado em Bruxelas, o Governo helénico carrega a bandeira da rene-gociação da dívida, mas continua a

aplicar a austeridade em casa, como o pacote de medidas recentemente aprovado no Parlamento e contes-tado nas ruas. Os outros partidos de esquerda rejeitam as suas inici-ativas, com exceção das uniões civis para homossexuais ou o apoio aos refugiados. No que toca às finanças, os comunistas do KKE e os dissiden-tes da Unidade Popular consideram que Tsipras se aproximou dema-siado do centro, enquanto os cen-tristas do PASOK e do To Potami o classificam de radical. Mas nenhum consegue traduzir críticas em votos.

A ambiguidade nas posições do partido torna difícil a política de ali-anças europeias que tanto ambicio-na. António Costa e Alexis Tsipras declararam juntos em abril ser con-tra o “modelo sem alternativas” da atual política europeia, mas parece haver hesitações de parte a parte em criar uma frente mais unida. Há alguma relutância de vários gover-nos de centro-esquerda (como os de Valls, Renzi e agora Costa) em alinhar abertamente com Tsipras, preferindo o apoio de bastidores.

Em Itália o primeiro-ministro, Matteo Renzi, não deixando de falar frequentemente com Tsipras, privi-legia a relação com o seu homólogo francês, Manuel Valls. Foi assim que conseguiu alguma mitigação da austeridade. Com apoio francês im-pôs a Bruxelas que “por cada euro

Análise Por Rui Cardoso

Uma prova de fogo para a esquerda europeia

Brexit, refugiados, xenofobia, austeridade... Como Churchill em 1940, a esquerda europeia está no limiar da aniquilação ou da sua hora mais brilhante

que o Estado italiano investisse em segurança (luta antiterrorista), se-ria libertado um euro para investir na cultura. Foi assim que Renzi con-seguiu orçamentar 2500 milhões para a política cultural.

No poder desde 2013, Renzi não teve de tomar nenhuma medida de austeridade suplementar pela simples razão de que os seus ante-cessores (Silvio Berlusconi, Mario Monti, Enrico Letta) já o haviam feito. Em contrapartida também não teve condições para tomar grandes medidas de crescimento económico ou sociais. Isto porque a Itália vem logo depois da Grécia no que respeita ao montante da dívida pública (132% do PIB).

Renzi salva empregos

O lema de Renzi é “primeiro o emprego e depois as políticas de esquerda”. Para já, aposta em gran-des obras públicas nas regiões mais pobres do sul e em subsídios de €80 aos jovens e famílias de menores rendimentos. Grandes e médias empresas em risco de fechar fo-ram salvas pela entrada em cena de grandes investidores estrangeiros.

Apesar de a França ser a referên-cia central da esquerda europeia, dada a dimensão económica e o peso político do país, há caos no campo progressista. A divisão di-lacera o PS, no poder, e chegou ao auge nos últimos dias com o debate da reforma do Código do Trabalho — 30 eleitos socialistas tentaram reunir os 10% de deputados neces-sários para apresentar uma moção de censura, neste caso “de esquer-da” ao Governo de Manuel Valls. Faltaram dois deputados para tal.

A contestação ao Presidente Hollande e ao Executivo de Manuel Valls continuava nas ruas quinta--feira, com incidentes. Jovens do movimento “noite de pé” (indigna-dos vindos de diversos sectores da esquerda) gritavam nas ruas: “Os franceses detestam o PS”. Sindica-tos e movimentos juvenis apelaram a greves e à radicalização do mo-vimento para chumbar a lei que flexibiliza o direito do trabalho.

Na esquerda, Jean-Luc Mélen-chon, dissidente do PS, cotado com 11% nas sondagens, disse ao Ex-presso que “nunca mais” votará no “mentiroso” François Hollande e voltou a repeti-lo publicamente esta semana. O seu apelo à votação no candidato socialista na segunda volta das presidenciais de 2012 fora decisivo para a vitória.

No PS há três linhas. Uma, mais “social-democrata” do que socia-lista, protagonizada por François Hollande e Manuel Valls. Outra, defendida pelo ambicioso ministro da Economia, Emmanuel Macron, “nem de esquerda nem de direita”. Macron e Valls já assumiram que não se entendem. A terceira linha, a dos “frondeurs” (revoltados) está mais perto das teses esquerdistas de Mélenchon do que de Macron, Valls ou Hollande.

Só não haverá derrota da esquer-da nas eleições de 2017 se houver recuperação económica e baixa do desemprego. “Queremos que Hollande tenha hipóteses de vi-tória, mas para isso precisa de reaproximar a linha política e as orientações governamentais das promessas das eleições de 2012”, diz Pascal Cherki, deputado e um dos líderes da ala esquerda do PS.

Resta a Espanha onde as lutas pela hegemonia no centro-esquer-da parecem dignas do enredo da série “A Guerra dos Tronos”.

Com D.R. (Paris), R.D (Roma) e [email protected]

O Syriza foi forçado a aplicar a austeridade cuja razão de ser contesta, mas a oposição à sua esquerda não cresce nas sondagens

ce Khan e toda a gente parece adorá--lo. “Passa o dia em Westminster, mas é daqui que gosta”, diz o empregado de mesa Faheed, de 26 anos. Khan já não está em Westminster: trocou o Parlamento pela autarquia, muito mais abrangente. “Como deputado já era excelente, a taxa de criminalidade desceu a pique e as escolas melhora-ram imenso, no ensino e nas instala-ções. Como mayor espero que toda a cidade beneficie.”

“Responde em quatro horas”

Balham High Road está cheia de pequenos negócios paquistaneses — mercearias, talhos e restaurantes —, mas também cafés australianos, comida de rua mexicana, lojas de es-peciarias indianas e cabeleireiros pe-

ritos nos belos e indomáveis cabelos das africanas. Mudou muito: outrora zona de classe média-alta, encheu-se de imigrantes, sobretudo da Índia e Paquistão. Agora que o centro de Lon-dres está demasiado caro, as famílias originais estão a voltar.

“Não há ninguém que não o co-nheça ou que não conheça alguém que ele tenha ajudado. As pessoas das redondezas têm inveja de nós, porque se alguém de Tooting escre-ver ao Sadiq com algum problema, ele responde ao e-mail em quatro horas. E todas as sextas, das nove ao meio-dia, estava no escritório a ouvir pessoas”, diz Malik.

Shafiq, da equipa de limpeza do hos-pital local, St. Georges, confirma. “A minha irmã tinha dois empregos para aguentar a família, casou com um in-

glês que desapareceu e o Sadiq falou com ela quase uma hora sobre cursos pós-laborais com estágios pagos, sub-sídios, etc.” E acrescenta: “Já o vi no hospital muitas vezes. Quer saber das condições de trabalho de enfermeiros, auxiliares de limpeza, e vem sempre de autocarro. Às vezes ao sábado de manhã anda por aí de bicicleta, às compras. Muita gente sabe o que ele fez pela minha irmã. Essas histórias ficam, sabe? Nunca fez nada por mim, mas é como se tivesse feito. Conto isto a toda a gente”.

“Hão de construir-lhe bibliotecas e dar o seu nome a ruas. Escrevam isso. Daqui a cem anos, quando as pessoas já não lutarem por causa de divergên-cias religiosas, quem sabe se Sadiq não terá sido uma figura central dessa mudança?”, pergunta Malik. A.F.

Um autarca à medida da cid ade globalA vitória em Londres faz

de Sadiq Khan uma esperança da esquerda britânica

FOTO ROB STOTHARD/GETTY IMAGES

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das centenas de comunidades imi-grantes e o das altas esferas política e financeira. Vai num ápice do político que diz “serei um mayor completa-mente pró-negócio” — sossegando os que se assustaram com a viragem do partido à esquerda na era pós-Blair, primeiro tímida, hoje ostensiva — para uma ação de campanha com o grupo Momentum, criado por apoiantes de Corbyn. Os membros mais dóceis des-ta organização desprezam a Europa e dois dos mais “ativos” estão a ser in-

vestigados por terem, alegadamente, ofendido estudantes judeus na Univer-sidade de Oxford.

O problema do antissemitismo no Partido Trabalhista voltou aos jor-nais durante a campanha. O primeiro presidente da Câmara de Londres, Ken Livingstone (2000-2008), dis-se que Hitler tinha sido sionista na juventude, ao passo que a deputada Naz Shah defendia a relocalização dos judeus para os Estados Unidos. Khan não conteve a irritação e exigiu

medidas a Corbyn, receando que es-tas diatribes lhe custassem o voto da comunidade judaica (nos arredores de Manchester houve uma zona de forte concentração de judeus onde os trabalhistas perderam lugares na vereação). Livingstone está suspenso do partido.

Amizades pouco recomendáveis

De trato dócil sem perder a firmeza, Khan já foi bem mais rebelde. O seu passado como advogado de direitos humanos está envolto em controvérsia devido aos nomes que aceitou repre-sentar, e aos nomes ligados a esses nomes. Nos anos 90 o cunhado de Khan, Makbool Javaid, estava ligado ao grupo al-Muhajiroun, hoje banido enquanto terrorista, criado por Omar Bakri Muhammad e depois liderado por Anjem Choudary, ambos conhe-cidos por terem defendido os ataques terroristas em Londres (2005) e Nova Iorque (2001) e por pedirem “guerra aberta” contra o Ocidente. Javaid, en-tretanto divorciado da irmã do autar-ca, diz-se arrependido desses tempos.

Maajid Nawaz, que Khan defendeu enquanto preso político no Egito, em 2002, garante no sítio “The Daily Be-ast” que o autarca “não é extremista”. E conta que, quando o próprio Nawaz era um radical islâmico, Khan discor-dava dos “pontos de vista teocráticos” que subscrevia e hoje rejeita. Susten-ta, porém, que é pertinente escrutinar os laços do autarca.

Khan já discursou ao lado de nomes como Sajeel Abu Ibrahim, cujo campo de treino de terroristas no Paquistão produziu pelo menos um dos autores dos ataques de Londres, Mohammed Sidique Khan. Quando presidia ao co-mité de assuntos jurídicos do Conselho dos Muçulmanos Britânico, defendeu no Parlamento que Yusuf Al-Qaradawi não era “o extremista que pintam”. No entanto, aquele clérigo escreveu um livro a discutir se os homossexuais deveriam enfrentar a pena de morte e justificou os atentados suicidas contra Israel. Está, como Bakri, proibido de entrar no Reino Unido.

Há mais histórias destas entre os primeiros resultados de qualquer motor de busca. O conservador Zac Goldsmith, adversário de Khan na corrida a Londres, tentou explorar o filão, mas sem êxito. Até porque a sua eleição desmente as teses sectárias dos extremistas, segundo as quais o Ocidente exclui os muçulmanos. Khan explica os seus contactos do passado dizendo que era advogado de direitos humanos, e que todo o acusado tem direito à defesa, mas o certo é que por vezes esteve ligado a gente pouco recomendável sem ser na qualidade de causídico. Nawaz tem outra expli-cação, coerente com o currículo de Khan: “Queria ganhar votos”...

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Expresso, 14 de maio de 201630 PRIMEIRO CADERNO

O acordo Sykes-Picot é apontado como a raiz dos males do Médio Oriente. Mas sê-lo-á, de facto?

O mito dos Estadosetnicamente homogéneos

Na manhã de 16 de dezembro de 1915, Sir Mark Sykes chegou ao nº 10 de Downing Street, em Londres. O baronete de 35 anos, “especialista em assuntos do Médio Oriente”, fora cha-mado pelo primeiro-ministro Asquith para conversar sobre formas de evitar o colapso da “frágil aliança” entre a Grã--Bretanha e a França, uma vez derrotado o império otomano na guerra mundial iniciada um ano antes.

Para a reunião com Asquith e o gabinete de guerra, o deputa-

do conservador (que morreria de gripe espanhola quatro anos depois) “levou um mapa e um resumo de três páginas”, escre-ve James Barr, em “A Line in the Sand: Britain, France and the struggle that shaped the Middle East” (Simon & Schus-ter, 2011). Sykes defendeu que Londres e Paris dividissem os despojos otomanos, sendo ele “o homem certo” para esse compromisso.

Entre os que o ouviram es-tava Arthur Balfour, que che-fiara o Executivo entre 1902 e 1905. “Que tipo de enten-dimento sugere com os fran-ceses?”, perguntou. Sykes correu um dedo pelo mapa e respondeu: “Desenharia uma linha do ‘A’ em Acre [hoje Isra-

el] até ao último ‘K’ de Kirkuk” [norte do Iraque]”.

O parceiro de Sykes seria o advogado François Georges-Pi-cot, 43 anos, um homem que, segundo Barr, “tinha no sangue a crença da missão civilizadora da França imperial”. A 16 de maio de 1916, depois de mui-tas negociações, assinaram um acordo secreto. “O território a norte da linha Acre-Kirkuk ficaria sob proteção francesa; o território a sul, sob proteção britânica.

Dentro das suas áreas, as duas potências assumiriam poderes plenos. A zona ‘azul’, francesa, integraria a costa li-banesa e a Síria, penetrando na atual Turquia, a norte. A zona ‘vermelha’, britânica, expandi-ria a zona ocupada no sul do Iraque até Bagdade e teria um enclave no porto palestiniano de Haifa. À Palestina seria atri-buída a cor castanha. Ambas as partes procurariam o apoio da Rússia.”

Cem anos depois, o Acordo Sykes-Picot continua a ser con-siderado a fonte dos males do Médio Oriente, mas uma his-toriadora do Iraque da Univer-

sidade de Princeton, nos EUA, Sara Pursley, não concorda.

“Há a ideia peregrina de que as fronteiras atuais [da Síria, Iraque, etc.] são menos reais do que as imaginadas em 1916”, diz, numa entrevista ao Expres-so, a antiga professora do Pro-grama de Estudos do Médio Oriente da City University of New York (CUNY). Por exem-plo, “as atuais fronteiras do Iraque não foram desenhadas em 1916, com uma caneta. Não se assemelham ao mapa Sykes--Picot, facto que é ignorado”. Foram criadas ao longo de dé-cadas, “com recurso a muita violência”, como, de resto, as de todos os Estados-nação. “Valia a pena pensar nisto antes de se defender que as fronteiras fossem ‘redesenhadas’, seja lá isso o que for.”

“A ideia do Iraque como imposição colonial é histori-camente falsa”, sublinhou. “É certo que os curdos reivindi-cavam não serem incluídos mas não havia exigências para criar Estados separados xiitas e sunitas. Tanto os iraquianos como os chamados nacionalis-tas árabes apoiaram as fron-

teiras do Iraque nos anos 20. Nessa altura, quem designava o Iraque como entidade artificial era o discurso colonial. Fazia-o para mostrar que [o país] não era suficientemente coerente para se governar a si próprio, logo devendo ser administrado pelos britânicos.”

A questão do Curdistão é di-ferente, admite a historiadora. “Os curdos iraquianos têm ra-zões históricas para não que-rerem estar sob o domínio de Bagdade. Mas os curdos não procuram homogeneidade den-tro do seu Estado; aceitam cris-tãos, árabes e outras minorias.”

“Os curdos são um movi-mento nacionalista local, com uma longa luta por um Esta-do independente”, anotou Sa-rah Pursley. “Não podem ser comparados aos ocidentais que imaginam Estados separados no Iraque para sunitas e xiitas porque seriam mais estáveis e menos ‘artificiais’. É uma ideia horrível, sem fundamento histó-rico e que tem desviado a aten-ção das questões reais por trás da guerra em curso. Sem esta, a artificialidade das fronteiras do Iraque não seria invocada.”

“Não há Estados-nação étni-ca ou religiosamente homogé-neos, e a sua criação deve ser desencorajada”, frisou Sarah Pursley. “A lógica da narrativa do Estado artificial é a lógica da limpeza étnica. Seguir esta narrativa não conduz à paz no Médio Oriente mas à violência etno-confessional.”

A 10 de junho de 2014, logo após a conquista de Mossul, o Daesh proclamou “a morte de Sykes-Picot”, mas Sarah Purs-ley corrige a certidão de óbito. “As fronteiras que reivindica-ram estão mais próximas do mapa de Sykes-Picot do que das reconhecidas entre Iraque e Sí-ria. Ao integrar a província de Nínive na Síria, o Daesh está a cumprir o acordo Sykes-Picot, não a eliminá-lo.”

Ainda se pensa que o Médio Oriente é dominado por sen-timentos etno-confessionais mas “não há muitas a dizerem que os Estados no Ocidente devem ser homogéneos, pelo menos desde os nazis. Por-que deveriam sê-lo no Médio Oriente?”

Margarida Santos [email protected]

MÉDIO ORIENTE

Quando a Europa partilhou os despojos turcos

Henrique Cymerman

em Abu Dhabi

Longe dos holofotes e apesar da oposição do Irão, Israel e al-guns países árabes sunitas mu-dam a geopolítica. Um século depois dos acordos Sykes-Picot, através dos quais os vencedores da I Guerra Mundial, britâni-cos e franceses, desenharam o mapa da região, vários paí-ses desintegraram-se de forma dramática.

Uma coligação sunita enca-beçada pelo Egito e composta por Arábia Saudita, Jordânia, Marrocos, Emirados Árabes Unidos e outros Estados do Golfo Pérsico começou a considerar Israel um possível aliado perante inimigos que despontam. É o caso do Irão e seu braço libanês Hezbol-lah e também dos grupos da Jihad mundial, liderados pelo Daesh.

Nos últimos meses houve en-contros e começos de coope-ração entre as nações sunitas e Israel, coisa inimaginável há dois anos. O Expresso sabe que três israelitas chefiados pelo diretor-geral do Ministé-rio dos Negócios Estrangeiros, Dori Gold, próximo do primei-ro-ministro, tiveram reuniões secretas com o saudita Anwar el-Eshki, íntimo da casa real de Riade e ex-diplomata nos EUA. O primeiro encontro pú-blico, filmado pela imprensa, deu-se em junho de 2015, em Washington.

O general saudita afirmou ao Expresso, falando em he-braico perfeito: “Estou dispos-to a lutar pela paz com todas as minhas forças”. Desde en-tão, uma delegação israelita liderada pelo chefe da Mossad, Yossi Cohen, visitou Riade pela primeira vez e uma delegação saudita esteve em Jerusalém. Israel ofereceu a Riade o apoio do sistema antimíssil “Cúpula

de Ferro”, para apoiar os sau-ditas na intervenção armada em solo iemenita contra milí-cias xiitas apoiadas pelo Irão. Uma hora depois do atentado palestiniano que carbonizou um autocarro em Jerusalém, a 18 de abril, a equipa de Eshki enviou um e-mail a dizer: “Con-denamos o terrorismo contra o povo israelita. Estamos na mesma trincheira”.

No início do ano, o ministro israelita das Infraestruturas, Yuval Steinitz, reuniu-se com colegas dos Emirados em Abu Dhabi. Gold participou na abertura da representação diplomática israelita naquele país. Segundo várias fontes, há um voo privado, duas vezes por semana, entre Abu Dhabi e Te-lavive. Passa pelo aeroporto de Amã, na Jordânia, e aterra em Abu Dhabi sem que as torres de controlo o registem.

“A manterem-se estas ten-dências, teremos um novo mapa geopolítico no Médio Oriente, embora tudo dependa da evolução do dossiê palesti-niano”, afirma Yoram Meital, professor na Universidade Ben Gurion, em Israel. O MNE do Bahrain, Khalid Ben Ahmed el-Khalifa, declarou há pou-cas semanas que o Irão é mais perigoso do que Israel para os países do Golfo Pérsico e a es-tabilidade do Médio Oriente.

Zeev Elkin, ministro da As-similação israelita — um dos “falcões” do Executivo de Ben-jamin Netanyahu e próximo do Conselho de Colonos — deu uma entrevista a um site sau-dita, na qual afirmou que “o Irão ameaça os dois países. Não estamos a criar um novo Médio Oriente, mas sim a lutar con-tra inimigos comuns. Essa luta nem sempre implica coopera-ção generalizada, antes cola-boração em temas concretos”.

Já o líder do Hezbollah, Has-san Nasrallah, viu recentemen-te a Liga Árabe — incentivada por Riade e Cairo — considerar a sua organização um grupo terrorista. Estão prestes a pe-dir à Organização de Estados Islâmicos que faça o mesmo. Nasrallah declarou recente-mente que “o principal risco para o Hezbollah é a melhoria das relações entre Israel e paí-ses sunitas”.

Em 1916, o acordo Sykes-Picot retalhou o Médio Oriente entre Paris e Londres. Agora Israel quer mudar a geopolítica local

Lawrence da Arábia (foto) defendeu em 1918 um estado árabe de Meca a Damasco, sem prejuízo das aspirações dos curdos, xiitas, cristãos, etc. O comando britânico não o ouviu porque o novo mapa da região (ver reprodução) fora desenhado em 1916 por Sykes e Picot FOTO GETTY IMAGES

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Expresso, 14 de maio de 2016 31 PRIMEIRO CADERNO

Turquia tenta não perder os últimos 50 km da fronteira sul. No Iraque, o Daesh em refluxo aposta nos atentados suicidas

Entre o atoleiro sírio e os atentados iraquianos

Nunca a guerra na Síria foi tão multipolar. À volta de Alepo, no norte, os rebeldes modera-dos parecem conter as tropas do regime. Já a sul da cidade, há combates entre a coliga-ção Jaysh al-Fatah (Exército da Conquista, cujo esteio é a frente Al-Nusra, próxima da Al-Qaeda) e tropas de Assad, apoiadas por infantaria irania-na e aviões russos. A referida frente sofreu um revés quinta--feira quando aviões não iden-tificados atacaram a antiga base aérea de Abu al-Duhur na província noroeste de Idlib, matando 16 dirigentes.

Mais a norte, a Turquia ten-ta controlar os últimos 50 km da fronteira entre Al-Rai e Ja-rabulus ainda não dominados pelos curdos sírios. Está lá o Daesh, implantado em Al-Bab e Manbij, o que lhe dá o contro-lo da estrada M-4 para Alepo. Um míssil antitanque destruiu um blindado turco na linha de fronteira e a cidade de Kilis tem sido flagelada com foguetes e morteiros que já mataram 22 pessoas. Ancara responde com artilharia mas não com aviões, dado o receio de novos inci-dentes com os russos. Os EUA destacaram para a Turquia

dois sistemas lança-foguetes HIMARS com guiamento GPS, para ataques de precisão.

No sul da Síria, a retomada de Palmira não teve sequência: o Daesh continua a controlar a estrada para Deir al-Zour onde a guarnição governamental só é reabastecida por via aérea. Perto de Damasco, a tropa de Assad não só não permitiu a entrada de um comboio huma-nitário em Daraya, como bom-bardeou a cidade quinta-feira, matando pelo menos dois civis. Nesse dia uma explosão perto do aeroporto da capital matou Moustapha Badreddine, alto responsável da milícia xiita liba-nesa Hezbollah, apoiante de As-sad. A organização disse inves-tigar o ataque que pode, ou não, estar relacionado com raides aéreos israelitas para impedir o abastecimento do Hezbollah com material pesado.

A intervenção de Moscovo perde brilho à medida que se sucedem as baixas: a cadeia de TV Russia Today anunciou que um soldado russo que escoltava um comboio militar foi morto pelo Daesh perto de Homs.

Simbolicamente, a principal estrada de ligação entre o “cali-fado” sírio e o iraquiano, de Raq-qa para Mossul, está debaixo de pressão dos peshmergas (exér-cito do Curdistão iraquiano), porque constou que a cúpula do Daesh estaria a tentar fugir da cidade iraquiana, quase cercada.

Bagadade não consegue conduzir mais do que uma ofensiva ao mesmo tempo. Se na província de Anbar tomou Hit (onde foi desco-berta uma fábrica de armas químicas) e continua o cer-co a Fallujah, na de Mossul o esforço é dos peshmergas curdos com apoio crescente de forças norte-americanas, que também receberam um sistema HIMARS. Conquista-ram Al-Mirana a 27 de abril e Kabarok a 5 de maio, apesar dos contra-ataques do Daesh que já mataram dois soldados dos EUA na região e nume-rosos iraquianos em Ramadi (Anbar).

O Daesh aposta em atentados suicidas, aproveitando a tensão política em Bagdade entre o go-verno laico de Abadi e os xiitas do clérigo Al-Sadr, bem como a dispersão de forças para pro-teger a peregrinação xiita co-memorativa da morte do imã Al-Khadim. Quarta-feira as bombas em Bagdade mataram mais de 90 pessoas. Os aten-tados também estão a atingir Abu Ghraib, às portas da capi-tal, bem como Balad. A ataques suicidas a postos de controlo e ajuntamentos, acrescem ope-rações de comandos contra ca-fés e esplanadas, evocando os atentados de Paris.

Ricardo Silva e José Pedro Tavares (Ancara)

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APROXIMAÇÃO

A misteriosa pista jordana

Várias vezes por mês, um helicóptero parte de Jerusalém e aterra na casa real jordana. A bordo vão Benjamin Netanyahu ou o chefe da Mossad, Yossi Cohen. Talvez por isso, Israel enviou recentemente drones e 16 aviões Cobra para a fronteira entre a Jordânia e a Síria, para espiar os avanços do Daesh e ameaça dos radicais ao reino hachemita. Poucos sabem que, devido à guerra da Síria, centenas de camiões jordanos atravessam diariamente território israelita, do porto de Haifa até à fronteira jordana, com mercadorias que chegam ou partem para a Europa e que outrora cruzavam solo sírio. Pela cidade costeira israelita passam, atualmente, 60% das exportações jordanas. A maioria dos israelitas não está ciente disto e, até à data, não houve qualquer incidente. Um general jordano disse ao Expresso que “o céu é o limite mas, se não houver progressos no dossiê palestiniano, a aproximação será muito lenta”. H.C.

MÉDIO ORIENTE

Quando a Europa partilhou os despojos turcosO Expresso sabe que os che-

fes de Estado-Maior de 39 na-ções muçulmanas, incluindo al-gumas árabes, se encontraram na Arábia Saudita para debater a criação de uma frente antiter-rorista. A referência deste or-ganismo é o campeão das redes sociais sauditas, Mohamad Bin Salman, o mais jovem minis-tro da Defesa da História (30 anos). Segunda figura na linha de sucessão ao trono, tem-se convertido numa das persona-lidades mais influentes, devido aos êxitos armados no Iémen.

As relações comerciais en-tre Israel e o Golfo Pérsico têm crescido, com numerosos em-presários das duas partes que se visitam mutuamente, por vezes com passaportes estran-geiros. Na Universidade de Abu Dhabi há professores israelitas que ensinam um semestre por ano, vivendo lá com a família, estando as autoridades a par disso, apesar de terem passa-portes estrangeiros. O depu-tado Avi Dijter (do partido de direita Likud, no poder), que chegou a chefiar o serviço se-creto Shin Bet, pensa que os líderes dos países do Golfo devem oficializar as relações económicas escondidas. Dijter defende que sigam o exemplo do Presidente egípcio Anwar el Sadat, que foi ao Parlamento de Israel, em 1977, assinar a paz.

Em plena intifada das armas brancas e com uma rutura total

entre Jerusalém e Ramallah, tudo avança muito devagar. Empresários de diamantes israelitas acabam de ser con-vidados para um Congresso a realizar no Dubai. O ministro do Petróleo saudita, Ali al-Nai-mi, afirmou recentemente que o seu país está disposto a expor-tar petróleo para Israel.

Contudo, num recente de-bate no Conselho de Direitos Humanos da ONU, os embai-xadores da Arábia Saudita, Qa-tar e Emirados atacaram com dureza a política israelita de construção nos colonatos por debilitar “a solução dos dois Estados para dois povos”.

No Egito, embora o Presiden-te Sisi mantenha um “telefone vermelho” com Netanyahu e coopere com Israel no campo militar e na luta contra o Daesh no Sinai, muita gente rejeita qualquer normalização de re-lações com o Estado hebrai-co. O deputado Taufik Ukasha foi atingido com um sapato, no Parlamento. É uma humi-lhação por se ter encontrado com o embaixador de Israel no Egito. “É complicado”, diz o antigo embaixador de Israel no Egito, Zvi Mazel. O Presidente tenta mudar as coisas, mas to-das as associações profissionais egípcias continuam a boicotar Israel. “Ainda assim, há mui-tos indícios de uma mudança estratégica”.

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Expresso, 14 de maio de 201632 PRIMEIRO CADERNO

BREVES

Presidente afasta Governo guineense

GUINÉ-BISSAU O Presidente da Guiné-Bissau José Má-rio Vaz demitiu, quinta-fei-ra, o Governo liderado por Carlos Correia, o segundo do PAIGC desde as eleições de 2014. O Presidente, que iniciará audições aos parti-dos políticos para escolher o novo primeiro-ministro, acusou o atual Executivo de ter sido incapaz de “lidar com a crise”. Esta demis-são volta a ameaçar a esta-bilidade do país, onde, até hoje, nenhum primeiro-mi-nistro cumpriu o mandato até ao fim.

PARA QUEM VIVE NOS SUBÚRBIOS PARISIENSES, A UBER PODE SER A DIFERENÇA ENTRE TER TRABALHO OU CAIR NA MARGINALIDADE. LEIA NO “COURRIER”

Maduro enfrenta protestos nas ruas

CARACAS Centenas de ma-nifestantes protestaram esta quarta-feira na ca-pital da Venezuela, tendo sido recebidos com gás lacrimogéneo por solda-dos mobilizados para as ruas. Os manifestantes exigiam um referendo em 2017 para afastar Nicolás Maduro da presidência. A Venezuela enfrenta uma grave crise económica que se traduz em escas-sez de bens e cortes de energia. Uma sondagem recente dá conta de que 70% dos venezuelanos querem o afastamento de Maduro.

22de maio é dia de segunda volta das presidenciais austríacas, cujo vencedor pode vir a ser o candidato da extrema-direita, Norbert Hofer. O líder do FPÖ conquistou 35% dos votos na primeira volta. Esta segunda-feira, o chanceler Werner Faymann demitiu-se.

HÁ PAÍSES ONDE A SAÚDE PÚBLICA VIVE EM ESTADO DE EMERGÊNCIAMaria NeiraA diretora da Organização Mundial da Saúde comentou, desta forma, um estudo mundial divulgado quinta-feira, que dá conta do aumento de 8% da poluição atmosférica desde 2011. O problema é global mas afeta sobretudo as cidades do Médio Oriente, Sueste Asiático e Pacífico Ocidental.

BRASIL

Helder C. Martins

Ainda mal abria os olhos, já o governo de Michel Temer era ameaçado de que, se não respondesse às expectativas, o PSDB, o seu principal alia-do deveria “cair fora”. O aviso é do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) em entrevista ao “Globo” no pró-prio dia (quinta-feira) em que Michel Temer tomava posse em substituição Dilma Rousseff suspensa pelo Senado. Consi-derado reserva moral do PSDB, reticente quanto à participação no governo do partido que aju-dou a fundar, FHC diz que “Te-mer tem de fazer um milagre” e não tem espaço para errar. A aposta terá ser feita sobretudo no Congresso, dado que Temer “é fruto de uma construção po-lítica. Um novo líder ainda está para vir”.

Quanto a Dilma, FHC insis-tiu: “É inocente, não é acusada de nenhum crime”, mas está “a pagar pelas suas políticas erradas”.

Ao vir do centro-direita e do seu principal aliado, o PMDB, os alertas de FHC reforçam a incerteza sobre o executivo que Temer vai liderar. Uma in-certeza tanto maior quanto é sabido que Dilma Rousseff não vai baixar os braços e muitos movimentos sociais prometam não dar tréguas.

Temer já deu sinais de vira-gem liberal e austeridade. En-

Temer? Não há margem de erro!

Dilma sai de cena após 13 anos de governos de esquerda que tiraram milhões de brasileiros da pobreza

frenta a maior recessão dos últimos 25 anos, desemprego crescente e um país dividido pelo folhetim da destituição de Dilma. Encurtou o executivo de 32 para 23 ministérios, nomeou Henrique Meirelles, “o menino querido dos mercados” para su-perministro das Finanças. Mei-relles, ex-governador do Banco Central durante os governos de Lula (2003/10), tem uma sólida carreira internacional e dispõe, segundo os analistas, de uma “equipa de luxo”.

Num executivo masculino e branco, o novo titular da Agri-cultura, Blairo Maggi é um dos alvos da crítica. É dono da mai-or empresa de soja mundial e avançou com uma proposta que desvirtuará a legislação ambi-ental, acusam os ecologistas.

Mais polémica é a nomeação para a Justiça de Alexandre

Moraes. É conhecido pelos excessos repressivos contra manifestantes antidestituição enquanto secretário da Segu-rança de São Paulo. O escritó-rio de advogados a que perten-ceu defendeu uma empresa ligada à organização crimi-nosa Primeiro Comando da Capital. Foi também um dos advogados de Eduardo Cunha, considerado o mentor da desti-tuição de Dilma, mas suspenso na semana passada pelo Su-premo Tribunal da presidên-cia da Câmara do Deputados. Moraes passa a tutelar a Polí-cia Federal, logo a ‘Operação Lava-Jato’, onde sete dos seus colegas de executivo estão re-ferenciados por suspeitas de corrupção.

Austeridade e conflito

Para um observador europeu, é difícil perceber que a mera manipulação das contas pú-blicas tenha sido motivo para fazer milhões de brasileiros saírem à rua a pedir a cabeça da Presidente Dilma Rousseff. Mas uma crise económica sem precedentes, o fim de um ciclo dourado de exportações e au-sência de reformas estruturais explicam muita coisa.

Sem a habilidade política do seu antecessor Lula da Silva, Dilma enfrentou uma impren-sa manifestamente parcial. Uma análise de conteúdo do Observatório de Imprensa brasileiro, realça a parcialida-

de com que os três principais jornais, “Globo”, “Estado de São Paulo” e “Folha”, acom-panharam a destituição. Uma atitude que contrasta com a imparcialidade da cobertura do impedimento de Collor de Mello, em 1992. Isto num país em que cinco grupos familia-res controlam 80% dos media.

Perante as políticas de auste-ridade anunciadas por Michel Temer, um dos principais re-ceios dos brasileiros passou a ser o futuro da Bolsa Família, o programa-bandeira do Partido dos Trabalhadores. O progra-ma abrange atualmente 47 mi-

lhões de pessoas, e na prática consiste num subsídio mensal de 176 reais (44,5 euros) às famílias que vivem abaixo do limiar da pobreza, patamar que no Brasil está estabelecido nos 164 reais (41,5 euros) de rendimento mensal.

Curiosamente, foi o boato posto a circular na internet so-bre o fim deste programa que fez de rastilho às gigantescas manifestações contra Dilma de junho de 2013. Ironia da histó-ria, é a retoma desse espírito que muitos movimentos sociais estão agora a defender.

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NÚMERO

7ministros do governo de Michel Temer são referenciados na operação ‘Lava-Jato’, que investiga o desvio de mais de 1700 milhões de euros dos cofres da Petrobras

Temer Presidente durante os seis meses que pode durar a suspensão de Dilma pelo Senado

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Terça-feira, a maior federação de sindicatos dos EUA, a Ame-rican Federation of Labor and Congress of Industrial Orga-nizations (AFL–CIO), coorga-nizou uma conferência para debater a ascensão de Donald Trump. Nesse mesmo dia, no Congresso americano, a pouco mais de 15 minutos da sede da AFL-CIO, em Washington, os republicanos faziam o mesmo.

Paul Ryan, speaker da Câmara dos Representantes e terceira figura de Estado, multiplicou--se em reuniões com elementos do Partido para decidirem se deviam apoiar a candidatura do magnata nova-iorquino à presidência e, aparentemente, quinta-feira fizeram as pazes.

Esquerda e direita partilham a mesma dor de cabeça e es-forçam-se por descodificar o fenómeno Trump. O Expresso ouviu políticos e académicos de ambos os lados. Daí resul-tou uma lista associando como principais responsáveis dois binómios: o movimento Tea

Amigos e inimigos alimentam Trump

ESTAD OS UNID OS

Extrema-direita xenófoba, extrema-esquerda intolerante, crise económica e cobertura mediática: um cocktail contraditório mas eficaz

Party e a xenofobia; a esquer-da radical e o desrespeito desta pela liberdade de expressão. Acrescem os media e as suas opções editoriais.

Comecemos na sede da AFL--CIO. Por entre bandeirinhas americanas à mistura com ima-gens de Karl Marx em estilo Pop Art, responsáveis da orga-nização explicavam a ascensão de Trump e do “populismo de direita” como subproduto da desigualdade social.

“As políticas de ambos parti-dos destruíram a classe média. Desde 1981, Wall Street deslo-calizou 30 milhões de empre-gos para o estrangeiro. Desde então, a classe média, que re-presentava 72% da população, encolheu para os 42% atuais”, diz Thea Lee, vice-diretora da AFL-CIO.

Seguiu-se o empobrecimen-to na cintura industrial ameri-cana, que se estende de Nova Iorque ao Wisconsin. Cidades como Detroit tornaram-se sím-bolos dessa crise. “Trump apro-veitou esse descontentamento. Ao fim de décadas, os despoja-dos da classe média encontra-ram um líder”, conclui Lee.

Professora em Harvard e conselheira do Departamento de Estado, Vanessa Williamson

acusa os democratas de “sno-bismo” em relação aos repu-blicanos por acharem que estes são os únicos responsáveis pelo sucesso político do magnata. “A economia não funciona e os salários não aumentam há décadas. Isso leva as pessoas a terem visões extremas.”

Todos os entrevistados con-cordaram que Trump canali-zou essa raiva coletiva e ace-nou com um bode expiatório: a vaga de imigrantes. A que tem origem no México, segundo o próprio candidato, traz “vio-ladores” e “assassinos” e a do Médio Oriente está “pejada de suspeitos de terrorismo”.

Medo ou xenofobia?

Neste capítulo, o movimento Tea Party é acusado de ter pre-parado o caminho para Donald Trump, “graças ao seu discur-so xenófobo”, diz Williamson. “Fala-se muitas vezes de ra-cismo, mas quando se estuda o fenómeno percebe-se que não há mais racismo entre os apoiantes de Donald Trump. Existe, sim, mais sentimento anti-imigração.”

Crise económica e xenofobia catapultaram a candidatura de Trump. Quem mais? “Se qui-

serem perceber a origem do fascismo soft de Donald Trump prestem atenção à esquerda progressista”, acusa Paul Mil-ler, membro do Conselho Naci-onal de Segurança de George W. Bush e ex-conselheiro do candidato à nomeação republi-cana, Marco Rubio.

Miller refere-se ao movimen-to rotulado de extrema-esquer-da e que nem sequer relaciona com o candidato à nomeação democrata, Bernie Sanders. “É a corrente de pensamen-to que abusa do politicamen-te correto ao ponto de pôr em causa a liberdade de expressão e a democracia. Por exemplo, quando as universidades criam códigos para os discursos dos convidados para protegerem os alunos de qualquer ofensa. Como se falhou na defesa do liberalismo clássico, as pesso-as começaram a olhar para a única alternativa: o fascismo de Trump.”

Por fim, há um quarto cul-pado na ascensão do provável candidato conservador à Casa Branca. “Um dos talentos de Trump é a manipulação dos media, que não só se deixam levar como não conseguem ti-rar os olhos do político cor de marmelada”, parodia Christo-

pher Parker, professor de Ci-ência Política na Universidade de Washington.

Em meados de março, um es-tudo feito pelo organismo me-diaQuant revelou que Trump recebera o equivalente a dois mil milhões de dólares (1,76 mil milhões de euros) em propa-ganda mascarada de cobertura jornalística.

Fosse o último tweet digita-do na madrugada ou a última tirada polémica, as televisões cobriam tudo em direto. “Este é um dos segredos da campa-nha de Trump. O seu estilo gera audiências e, por isso, as televisões não perdem pitada. Trump não se importa porque recebe cobertura grátis”, expli-ca o professor Robert Thomp-son, diretor do Center for Tele-vision and Popular Culture, na Universidade de Syracuse.

Numa entrevista ao Expres-so, há cerca de dois meses, Tho-mas Patterson, professor na Universidade de Harvard nos cursos de Jornalismo e Ciên-cia Política, já tinha acusado os media de, relativamente a Trump, praticarem um “jorna-lismo zombie”.

Ricardo Lourenço Correspondente nos EUA

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Expresso, 14 de maio de 2016 PRIMEIRO CADERNO 33

Guerra e PazMiguel [email protected]

Como é que Portugal defende os seus interesses permanentes no Atlântico e se posiciona para participar no debate de alguns dos principais problemas do século XXI?

Lisboa vê na Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) um instrumento para manter a influência de Bruxelas e Washington nas regras do comércio internacional e dinamizar a Aliança Atlântica do ponto de vista económico e geopolítico. A geografia e os números apoiam este projeto.

A União Europeia é a maior potência comercial do mundo. Bruxelas é o Pentágono do comércio internacional. O TTIP centra-se nas normas regulatórias e nas restrições de comércio entre os dois lados do Atlântico. A propriedade intelectual, a proteção ambiental e a privacidade dos dados, por exemplo, são mais importantes do que as tarifas alfandegárias.

A evolução da globalização e das tecnologias, está a virar as sociedades euro-atlânticas contra o TTIP. Rapidamente, o tratado passou de uma oportunidade a uma conspiração liderada pela Administração Obama contra os valores e interesses europeus. As nossas sociedades estão a fechar-se do ponto de vista político.

Num contexto político e económico como este, o futuro de Portugal dependerá muito da sua capacidade de manter pontes através do Atlântico. Em 1949, os Açores foram essenciais para Lisboa criar uma nova relação com os EUA e colocar Portugal na NATO. Em 2016, o interesse do Pentágono na Base das Lajes atingiu o seu mínimo histórico. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, tem defendido e bem que a relação entre Portugal e os EUA não será apenas militar. As áreas da Ciência e Tecnologia também são importantes. A declaração conjunta do governo da República e do governo regional dos Açores de 30 de abril foi um passo político nesse sentido. Temos de o concretizar.

Chegou a altura de Lisboa e os Açores defenderem os seus interesses permanentes, diversificando e aprofundando a sua relação futura com Washington. As Lajes são o local ideal para criarmos um CERN no Atlântico. A localização na Terceira de uma infraestrutura científica dedicada à investigação fundamental no interface dos domínios da atmosfera e dos oceanos com o estatuto jurídico de Organização Científica Internacional à semelhança do CERN ou do ESO (European Southern Observatory) faz todo sentido.

Um CERN no Atlântico seria um centro que atrairia numerosos estados interessados na importantíssima temática das alterações climáticas a tornarem-se membros desta nova organização internacional. As contribuições destes estados financiariam o orçamento desta instituição. As Lajes seriam o chapéu que daria credibilidade e massa crítica as outras instituições associadas, mais voltadas para a investigação noutros domínios relacionados com o mar.

Portugal está no coração do Atlântico há 600 anos. Foi a inovação tecnológica que nos levou a Angra do Heroísmo, a primeira cidade verdadeiramente transatlântica. Um CERN nas Lajes dá-nos um lugar único e indispensável para o exercício da soberania e a prática da investigação científica no oceano azul para as próximas décadas. Temos todos de aproveitar e contribuir para esta oportunidade.

Um CERN no Atlântico (2)

ESPANHA

É num clima de desilusão que os espanhóis encaram o novo processo eleitoral, com ida às urnas a 26 de junho. Fracas-sada a tentativa de formar go-verno após as legislativas de 20 de dezembro, por incapaci-dade das forças políticas, tanto clássicas como emergentes, em chegar a acordos e forjar pac-tos, o panorama não é muito distinto do campanha anterior.

Acabado o bipartidarismo, surgiram novos grupos à es-querda e à direita. É grave o

Podemos e comunistas podem passar PSOEA pré-campanha para as legislativas de 26 de junho tenta seduzir um eleitorado farto de jogadas políticas

desgaste dos partidos tradicio-nais que dominaram a demo-cracia espanhola nos últimos 40 anos, assolados pela corrup-ção e por divisões internas. Os primeiros sinais da pré-campa-nha não auguram novidades no que toca a acordos. Os partidos concorrentes, unidos no pro-pósito comum de embaratecer a onerosa campanha eleitoral, saíram das reuniões marcadas para discutir esse objetivo sem qualquer solução. Um mau co-meço.

A única notícia é o acordo de coligação à esquerda: Podemos (P’s, populistas radicais) e Es-querda Unida (IU, aliança em torno do Partido Comunista de Espanha). Este pacto con-

vém aos dois subscritores. O Podemos poderá tapar alguns buracos na sua estrutura, num momento em que as sondagens dão conta de uma relevante fuga de eleitores, desencanta-dos com a atitude prepotente dos principais dirigentes, so-bretudo Pablo Iglesias, bem como com as querelas internas e a perda da aura quase angeli-cal que marcou os seus primei-ros momentos.

Já a IU poderá passar da irrelevância a uma presença parlamentar com peso. Em de-zembro, com um milhão de vo-tos, a aliança comunista só ele-geu dois representantes para o Congresso dos Deputados. Na nova coligação poderá che-

gar aos oito, o que significaria grupo parlamentar próprio e acesso a recursos económicos que a salvem da ruína.

Os velhos dirigentes do PCE distanciaram-se do acordo, adivinhando o fim da IU, que acabará, segundo as suas previ-sões, fagocitada pelo Podemos. Já este último partido poderá, coligado, chegar aos 85 depu-tados (contando com as diver-sas listas regionais nas eleições de dezembro, e que vão muito para lá dos militantes do par-tido).

Iglesias quer ser a nova refe-rência da esquerda espanhola e tornar insignificante o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, social-democrata).

Pedro Sánchez, líder socialis-ta, de momento consolidado como candidato do partido às novas eleições, diz não temer a ultrapassagem pela esquerda. Os estudos de opinião indicam que perderá 1% dos votos de há cinco meses, o que implicaria cair de 90 para 85 deputados. Nessas circunstâncias, a única possibilidade de aspirar à for-mação de um Executivo presi-dido por Sánchez seria estabe-lecer pactos de legislatura com o conglomerado P’s-IU-aliados regionais, num total de cerca de 175 deputados, isto é, menos um do que a maioria absoluta. O problema é que Sánchez está proibido pelo PSOE de pactuar com um partido que não aban-

dona o propósito de promover um referendo de autodetermi-nação na Catalunha.

No Partido Popular (PP, cen-tro-direita), confia-se que a nova proposta esquerdista dê eficácia às denúncias que os seus dirigentes fazem sobre a natureza “radical e esquerdis-ta” de Iglesias e dos seus novos sócios. O líder do PP, Mariano Rajoy, aposta no voto do medo. O ainda primeiro-ministro em gestão continua a defen-der uma coligação PP, PSOE e Cidadãos (C’s, centro liberal). Mas essa hipótese parece cada vez mais longínqua.

Angel Luis de La Calle Correspondente em Madrid

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Cristina Peres e José Pedro Tavares

“Desculpem lá, mas nós vamos para um lado e vocês para o outro”. Ainda as análises sobre as consequências da demissão do primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, não tinham acabado, e já o Presidente Re-cep Tayyip Erdogan confirma-va uma das possíveis vítimas do braço de ferro político que tinha acabado de ganhar: o acordo entre a UE e a Turquia sobre os refugiados.

Erdogan confirmou que a Turquia não irá alterar a lei an-titerrorista por causa do acor-do, condição necessária para obter do Parlamento Europeu um voto favorável à recomen-dação da Comissão Europeia de abolir os vistos para os ci-dadãos turcos. Esta era uma das concessões políticas que Davutoglu tinha negociado com os líderes europeus como contrapartida para conter os refugiados na Turquia, travan-do o êxodo para a Europa.

Dois dias depois, o chefe de Estado turco corrigiu a tra-jetória e foi mais conciliador, dizendo que a “adesão à UE é um objetivo estratégico da Turquia e a abolição dos vistos seria uma importante contri-buição”. Parece também ter tentado adiar uma crise políti-ca, ao dizer que não esperava uma decisão antes de outubro, mas a verdade é que Erdogan já ameaçou várias vezes rasgar o acordo e abrir aos refugiados as fronteiras da Europa.

Apesar do tom ameaçador de Ancara, a liberalização dos vistos (para a Turquia como os outros países) era assim co-mentada num comunicado do Parlamento Europeu de quar-ta-feira passada: “A posição do PE não mudou desde os en-contros UE-Turquia de 7 e 17 de março: enquanto colegis-lador, está disposto a ter um papel construtivo com vista a um resultado positivo”. Este calão comunitário sublinha o que realmente interessa à Eu-ropa: “Mas não haverá atalhos

Acordo treme com braço de ferro UE-Turquia

REFUGIAD OS

Europa exige que Ancara cumpra condições. Haverá um plano B?

nos procedimentos parlamen-tares de modo a, primeiro, ga-rantir escrutínio legislativo independente e, segundo, que todos os países candidatos à isenção de visto de viagem se-jam tratados de modo igual, o que significa que só haja uma proposta quando todas as con-dições forem cumpridas”. O comunicado do PE termina declarando que não alterará a posição “até que a Comis-são Europeia informe o PE e forneça garantias escritas” de que todas as condições foram atendidas.

Controlo das fronteiras

O ministro dos Assuntos Euro-peus turco, Volkan Bozkir, disse à BBC que as suas esperanças de conseguir a isenção de visto para os cidadãos turcos dimi-nuíram. À saída de encontros com deputados em Estrasbur-go na quarta-feira, Bozkir ad-mitiu que a Turquia já tinha feito “o suficiente”.

Esta semana, a imprensa ale-mã noticiava que já está a ser considerado um plano B em

Bruxelas caso o acordo com a Turquia falhe. Isto apesar de o acordo ter sido anteriormente “vendido” como “imperativo” a uma opinião pública europeia cética relativamente às conces-sões polémicas para com uma Turquia cada vez mais autocrá-tica. O tabloide “Bild” noticiava que uma opção seria desviar o financiamento prometido à Turquia para a Grécia e lidar com os refugiados nas ilhas.

Pela primeira vez desde ja-neiro, o número de entradas de refugiados por Itália ultra-passou o da Grécia, segundo dados recentes da Organização Internacional das Migrações. O primeiro-ministro italiano, Ma-tteo Renzi, quer tentar conven-cer a Europa a construir cam-pos para migrantes na África subsariana. “Gosto da ideia”, disse Angela Merkel após a sua visita a Roma. No entanto, era a Grécia o país confrontado com um ultimato de Bruxelas para resolver “algumas deficiên-cias” no controlo das frontei-ras da UE com o Mar Egeu até quarta-feira. Enquanto Atenas insiste na partilha de responsa-

bilidades com os outros Esta-dos-membros, Bruxelas prevê canalizar €700 milhões para ajuda de emergência à Grécia na resolução da presente crise, que está a provocar turbulência nos governos europeus. Tam-bém na quarta-feira, o minis-tro dos Negócios Estrangeiros grego, Nikos Kotzias, anunciou que a embaixadora grega em Viena regressaria ao seu posto, depois de ter retirado em sinal de protesto contra as acusações dirigidas pela Áustria à Grécia em março.

Esta semana, a Human Righ-ts Watch acusou a Turquia de violar obrigações internacio-nais, relatando que os militares turcos mataram, nos últimos dois meses, pelo menos cinco sírios que tentavam atravessar para a Turquia. Ancara refutou a acusação, reiterando a políti-ca de portas abertas aos sírios. Porém, a HRW insiste que a fronteira com a Síria está fe-chada, mesmo depois de cam-pos de refugiados terem sido bombardeados, alegadamente por aviões de Assad.

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Refugiados protestam no campo de Nizip, no sul da Turquia FOTO UMIT BEKTAS/REUTERS

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Expresso, 14 de maio de 2016PRIMEIRO CADERNO34

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Mário Nogueira

O prazo da maioria de direita expirou quando, em 4 de outubro, tombou com um seco “paf”. Desde então, o tempo é outro, mas há quem ainda

não se habituou à ideia. Neste tempo em que a democracia ganha novo fôlego é natural a devolução de direitos aos trabalhadores, a reposição dos salários e a melhoria das suas condições de trabalho. É igualmente nor-mal que o diálogo social não se esgote nos representantes patronais, ainda que alguns trajando de ganga.

Neste quadro político, bem diferente do anterior, é absolutamente natural que as funções sociais do Estado sejam assumi-das, logo, os serviços públicos valorizados, sendo dada particular importância à Escola Pública, ao Serviço Nacional de Saúde e à Segurança Social de caráter universal. A direita lida mal com este tempo, daí in-surgir-se por acabar o desvio de dinheiro público para privados que operam onde há resposta pública e reagir quando vê elimi-

nados focos de tensão que foram arrastados durante anos com o propósito de manter os professores debaixo de fogo. A direita não tolera que valorizem a Escola Pública, por ir ao arrepio do caminho que traçara, e faz-se ouvir perante medidas que apontam para o reforço da inclusão, para o derrube de muros que segregavam precocemente ou para a extinção de vias de menor qualidade, impostas em nome de alegadas vocações, destinadas aos mesmos de sempre.

A direita anda desorientada, pois não se preparou para um cenário diferente do que previra no seu irrevogável guião da reforma do Estado. Daí que dispare quando algo mexe, esperando atingir os alvos que consi-dera centrais. Ainda ressabiada, tenta des-truir tudo o que contraria o seu projeto e fragilizar quem revela vontade de romper com o clima de conflito permanente com os professores e de desvalorização dos seus representantes sindicais.

Que sosseguem os que ainda não consegui-ram digerir a perda de maioria, pois não é a FENPROF que está a governar a Educação. Se fosse, já estaria em curso o tal combate

decidido à precariedade, as carreiras estari-am descongeladas, os horários de trabalho respeitariam a exigência pedagógica e a apo-sentação teria em conta o elevado desgaste dos profissionais; as escolas públicas veriam reforçado o financiamento para desenvolvi-mento dos seus projetos, as turmas teriam menos alunos já no próximo ano letivo e não haveria qualquer dúvida sobre os recursos a garantir para uma efetiva inclusão. Também já estaria em curso o processo de devolução da gestão democrática às escolas, essencial ao exercício da autonomia, os currículos vol-tariam a contar com a diversidade e riqueza que perderam e entre público e privado dei-xaria de haver confusão, na certeza de que dignifica cada uma das respostas o respeito pela sua natureza. Não é a FENPROF que dirige a Educação, mas, na ação dos seus responsáveis, identifica sinais que geram expectativas positivas e vislumbra, na atual maioria parlamentar, disponibilidades que antes não existiam. Uns e outras não devem ser desperdiçados pois abrem caminho à re-solução dos inúmeros problemas que afetam a Educação.

Dirigente da FENPROF garante que não manda no Ministério da Educação

A azia da direita

Carlos Lopes

Os “Panama Papers” corroboram os apelos dos líderes mundiais e deci-sores políticos sobre a catástrofe dos fluxos financeiros ilícitos em

África. Dois factos sobressaem: operações bancárias offshore de promoção das fugas ao fisco, entre outras práticas; a dimensão destas transações financeiras.

A dois dias da revelação dos “Panama Papers”, a CEA lançara o African Gover-nance Report IV: Measuring Corruption in Africa e os “Panama Papers” reiteraram as mensagens da CEA: (1) a necessidade de se repensarem medidas anticorrupção baseadas em acusações; (2) a compreensão inadequada do papel dos atores internacio-nais na corrupção, incluindo transações de diamantes pela Mossack Fonseca; (3) a dificuldade de mobilização de recursos domésticos; (4) o imperativo de se assegu-rar um sistema fiscal justo de combate aos fluxos ilícitos, de reforço à boa prestação de serviços e a inclusão social; (5) o imperativo de uma reforma da cooperação internacio-nal, no tocante à eliminação dos paraísos fiscais e das jurisdições secretas.

As multinacionais aproveitaram lacunas nos sistemas de regulação, com falta de

transparência nas negociações de contratos com os governos. Sofisticaram-se as abor-dagens para repatriar lucros dos recursos minerais: fugas ao mercado, acesso privile-giado à informação, subfaturação comer-cial e transferências internas às empresas, erosão de estruturas, doações políticas ilíci-tas, desvios, fraude, subornos e comissões.

África tem sido duramente afetada pe-los paraísos fiscais e offshores. As perdas situam-se entre os 50/60 biliões de dólares, quantia que excede o capital combinado de ajuda internacional.

Como diminuir o problema das perdas ilícitas de capitais e respetivas práticas de corrupção em África?

1º — Os estados africanos devem publicar informação sobre orçamentos nacionais e locais, garantindo clareza e transparência de processos e auditorias que detetem operações ilícitas. Cadeias governamentais de fornecimento e adjudicações não-trans-parentes promovem a corrupção.

2º — Os países africanos precisam de um instrumento normativo, tipo declaração de compromisso, para pressionar a comu-nidade internacional a adotar medidas de conforto contra práticas em terceiros que não aceitam nos seus territórios.

3º — Os padrões globais de anticorrupção e antibranqueamento de capitais reque-

rem instituições que sujeitem as contas de determinados indivíduos e companhias a escrutínio e acompanhamento maiores. Medidas que incluam altos funcionários dos governos, líderes de partidos políticos, executivos de companhias estatais e quem aceda a grandes bens patrimoniais do Es-tado (“Pessoas politicamente expostas”), através da regra “conheça o seu cliente”. Os governos africanos auxiliarão enormemen-te as instituições financeiras se publicarem as listas dos PPE e respetivas declarações patrimoniais, tornando públicas informa-ções de proibição ou restrição da posse de contas financeiras no estrangeiro.

4º — Os atores internacionais deveriam envidar esforços para eliminar as juris-dições secretas, lutar pela transparência e pelo combate ao branqueamento de capitais: a UA, o G20, o FMI e a OCDE poderiam liderar estes esforços. As estru-turaras económicas e financeiras mundiais precisam de uma reforma que permita maior colaboração e um compromisso con-sistente entre África e os atores mundiais — EUA, UE, G8 e G20 — em assegurar maior transparência no sistema bancário internacional: os bancos passariam a estar obrigados à verificação da identidade, ori-gem e país de origem dos seus depositantes e respetivos depósitos.

Secretário-executivo da Comissão Económica para África das Nações Unidas

“Panama Papers”: um pouco mais de modéstia

Reforçar a autonomia dos contratos de associação foi uma forma racional de diminuir o papel do Estado como promotor da igualdade

A combinação de reações corporativas, reivindi-cações particulares e princípios ideológicos

sobre o papel do Estado tem tornado a discussão dos con-tratos de associação bastante confusa. Mas vale a pena pro-curar a racionalidade, que está presente se bem que tenha evo-luído ao longo do tempo.

Quando Portugal, com notá-

tamorfose do papel do Estado. Mais do que um mecanismo de regulação do mercado, a racio-nalidade das políticas públicas passava pela sua capacidade para financiar negócios priva-dos com dinheiros públicos.

O tema das rendas fixas é, aliás, crítico em várias áreas e foi uma das questões que o Memorando com a troika pro-curou enfrentar. Com sucesso nuns casos e com muito insu-cesso noutros. A área da edu-cação foi uma área de incum-primento do Memorando. Não só a poupança prevista não foi alcançada, como o anterior Governo, em contraciclo com a decisão de diminuir a auto-nomia pedagógica na escola pública, abriu a porta para no-vos financiamentos públicos de escolas privadas e reforçou a autonomia destas escolas face ao Ministério da Educação. Para a defunta coligação PàF, não sejamos ingénuos, refor-çar a autonomia dos contratos de associação, tal como inten-

sificar as transferências para o 3º sector nas áreas sociais, foi uma forma racional de dimi-nuir o papel do Estado como promotor da igualdade e abrir mercados a privados sustenta-dos por dinheiros públicos.

Chegados aqui, também para a geringonça há uma racio-nalidade no agendamento do tema. Com uma governação até aqui marcada pelas reversões e devoluções de rendimentos, a reavaliação dos contratos de associação permite afirmar a prioridade ao controlo da des-pesa e cimenta uma coligação que tem na defesa do primado da escola pública um dos temas de maior consenso (pelo que até beneficia da oposição ruidosa).

Como se vê, pese embora a confusão gerada, quando o tema é contratos de associ-ação, a racionalidade esteve sempre presente. Resta ago-ra escolher quem tem razão. Uma opção, como quase sem-pre ocorre, que tem tanto de legítimo como de subjetivo.

Quem tem razão?

vel atraso, começou a expandir a oferta educativa, o Estado não era capaz de responder a todas as necessidades. Tal como acon-teceu em outras áreas sociais, o Estado português acordou com o privado que este com-plementasse as insuficiências da rede pública. Foi assim na saúde, nos serviços de proteção social e, também, na educação. Com uma sociedade civil fraca e um Estado com poucas capa-cidades institucionais, a opção foi financiar a oferta privada com recursos públicos, criando um Estado paralelo. A solução pode ser criticada, mas tinha racionalidade.

Com o passar do tempo, o Es-tado português, alavancado pe-los recursos europeus, foi alar-gando a sua malha e ganhando capacidades. Pelo caminho, aquilo que era racional (finan-ciar privados) deixou de fazer sentido. Mas os privados esta-vam no terreno, tinham cons-truído expectativas e, acima de tudo, reivindicavam uma me-

Editorial O pedido de sanções a Portugal é bem a demonstração do estado de divisão a que a Europa chegou

Bruxelas e nós

Brasil, brasileiro

Olhar para a atual crise brasileira como mais uma erupção da eterna guerra entre esquerda e direita pode ser um jogo sedutor, mas também um erro de consequências imprevisíveis. Claro que esta é uma questão política, mas não vale a pena esconder que o Brasil vive uma das maiores recessões da sua história, que a inflação está descontrolada e o desemprego chega a patamares insuportáveis. Os dias das economias emergentes já lá vão e agora torna-se urgente encontrar um caminho. Serão Michel Temer e Henrique Meirelles os homens certos?

Novas medidas fraturantes

O alargamento da Procriação Medicamente Assistida e a aprovação de uma lei a legalizar as “barrigas de aluguer” em Portugal (mas apenas em caso de doença) são as duas últimas medidas fraturantes que a esquerda colocou na mesa e conseguiu fazer aprovar no Parlamento. A nova agenda ideológica da esquerda é inteiramente legítima mas a simples aritmética parlamentar não deve levar os partidos da geringonça a quebrar novas barreiras sem antes ser feito o debate necessário.

A possibilidade de Portugal vir a ser sancionado por Bruxelas, juntamente com outros países, por não ter cumprido o défice de 3% em 2015 é demasiado grotesca para ser levada a sério. E é porque há grandes países, como França e Espanha, que não vão cumprir o défice este ano; mas também é porque a Alemanha continua a acumular excedentes comerciais recordes, que são iguais aos défices comerciais dos outros países da União, sem que tal seja sancionado pela Comissão, como preveem os tratados europeus. Mas que este pedido tenha passado pela cabeça de alguns Estados-membros e pelo PPE é bem a demonstração do estado de divisão a que a Europa chegou e de como o discurso dominante imposto por Berlim sobre as razões da crise impregnou todo o pensamento europeu. Por isso, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque revelaram sentido de Estado ao escreverem ao presidente da Comissão pedindo para que Portugal não seja sancionado. É que não só a trajetória do défice português é descendente como todas as previsões para 2016 nos colocam abaixo do limite dos défices excessivos. Neste quadro, qualquer sanção seria um contrassenso.

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Expresso, 14 de maio de 2016 PRIMEIRO CADERNO 35

Editorial&Opinião

Daniel [email protected]

Henrique [email protected]

Uma sociedade baseada no es-tado de direito e no respeito pelos direitos humanos fun-damentais não pode ignorar

nem calar-se perante as tentativas de ameaça ao direito à vida, de ameaça à dignidade, e ameaça à vida concre-ta de cada homem e de cada mulher.

Assim, considerando:1 — Que a vida humana é o primei-

ro dos direitos fundamentais, donde decorrem todos os outros direitos, e que ela é inviolável, inalienável, indisponível, que esse é um valor estruturante da vida em sociedade e isso não depende de ideologias nem da decisão de um outro;

2 — Que cabe ao Estado, como guardião dos direitos humanos e da dignidade humana, garantir e de-fender a vida de todos os seres hu-manos, em quaisquer circunstâncias;

3 — Que só se contribui para uma cultura construtiva e de solidarieda-de com opções claras em favor da vida de cada homem e de cada mu-lher, como bem superior que a todos importa, numa visão que entende que o exercício da liberdade indivi-dual não pode ser uma afirmação de individualismos perigosos;

4 — Que a eutanásia é sempre um homicídio apoiado pelo Estado (pre-tensamente através de algum pro-fissional de saúde) ou um suicídio assistido pelo Estado, e que a este não cabe criar o direito de alguém ser morto por outrem, nem validar

esta opção como legítima perante o coletivo;

5 — Que o exercício da liberdade e a vida humana comporta em si mes-mo perdas e sofrimentos que, numa sociedade solidária, devem ser acau-telados, devidamente prevenidos e evitados e, caso ocorram, serem apoiados pelas famílias, pela socieda-de e pelo Estado a fim de não se tor-narem disruptivos para o individuo;

Considerando,6 — Que a solidão, a vulnerabili-

dade e as fragilidades se combatem com políticas sociais efetivas, com apoio e a promoção ativa de espe-rança;

7 — Que a doença, a dor e o sofri-mento associados têm remédios a que todos devem ter acesso e que tais circunstâncias em nada diminuem a dignidade da vida humana, nem lhe retiram qualquer valor;

8 — Que em Portugal são ainda insuficientes as políticas de combate à exclusão de idosos e incapacitados, os apoios concretos às famílias para suporte dos mais debilitados, as res-postas adequadas para o sofrimen-to dos doentes em estado terminal, nem existem informação e formação suficientes ao dispor da população sobre este tema;

Entendemos e peticionamos à As-sembleia da República que, usando dos poderes ao seu dispor adote as seguintes providências:

1. Legisle no sentido de reforçar

e proteger o valor objetivo da vida humana, garantindo, tal como pre-visto no artº 24º da Constituição, a sua inviolabilidade, independente-mente das circunstâncias em que se encontre.

2. Promova uma política mais efi-caz de combate à exclusão de ido-sos e incapacitados, nomeadamente através de apoios concretos às fa-mílias.

3. Recomende ao Governo, a ex-tensão a toda a população e território português dos cuidados continuados e paliativos, o reforço da formação dos profissionais de saúde nas ques-tões de fim de vida, assim como o reforço de meios à disposição das unidades já existentes, garantindo os meios necessários a todos aqueles que deles necessitam.

4. Rejeite toda e qualquer propos-ta que vá no sentido de conferir ao Estado o direito a dispor ou apoiar a eliminação de vidas humanas, ainda que com o alegado consentimento da pessoa.

As sociedades dizem-se tanto mais modernas e avançadas quanto me-lhor valorizam e tratam os seus ele-mentos mais vulneráveis.

Desta forma, contribuiremos todos para um Portugal mais humano e mais moderno, um Portugal mais li-vre e onde toda a vida tem dignidade.

(Pode consultar a lista completa dos subscritores em www.expresso.pt)

Manifesto propõe aos deputados que rejeitem qualquer proposta que confira ao Estado o direito a apoiar a eutanásia

Toda a vida tem dignidade

João Cravinho

As jurisdições offshore ocupam um lugar decisivo ao serviço da evasão fiscal e do branqueamento de capitais proveniente do crime organizado em geral, nomeadamente do tráfico ilegal de armas, do terrorismo, do tráfico de droga e da corrupção económica e política. Essa é que é a sua razão de ser, a sua verdadeira missão. Os

líderes mundiais — e em primeiro lugar os líderes da União Europeia — andam a empurrar o problema com a barriga, sem ousarem enfrentar o fundo da questão. Não foi em 2009 que a Cimeira do G20, realizada em Londres, proclamou o fim da opacidade bancária? Ora, nos cinco anos seguintes os offshores subiram 25%, surgindo agora os documentos do Panamá a pôr a nu a imensidade de esquemas que tornam inexpugnável a opacidade bancária, salvo denúncia interna.

Que fazer? O fundamental é sancionar pesadamente a opacidade institucionalizada, pondo-lhe cobro radi-calmente. O mais eficaz seria um tratado ou convenção internacional, determinando que qualquer entidade (constituída regular ou irregularmente), cujos beneficiários últimos fossem desconhecidos, não poderia ser parte em qualquer negócio que, a ser celebrado, teria de ser conside-rado nulo e sem qualquer efeito. Todos os intervenientes na violação de tal norma, sob forma tentada ou consumada, deveriam ser objeto de sanções criminais de-correntes do seu grau de responsabilidade provada nos termos admitidos pela lei. Também deveria ser constituído um registo in-ternacional de beneficiários últimos, a funcionar no âmbito de organização internacional específica para o efeito, por forma a garantir universalmente a respetiva atualização automática e a sua acessibilidade pública. O tratado deveria também consagrar o sancionamen-to obrigatório das infrações ao que nele se dispõe. Observe-se, a propósito, que a violação das atuais normas internacionais de

troca de informação e de cooperação não é sancionada. O único instrumento de combate à evasão que prevê sanções é o FACTA dos EUA (Fair and Accurate Credit Transactions Act) e é por isso que funciona. Com o atual enfoque nos compromissos bilaterais e sem sanções não vamos lá. Nessa base, o problema já estaria resolvido, pois são raros os offshores que não prometem coopera-ção total nesse quadro compromissório. Continuamos com muitos casos graves, verdadeiros crimes contra a humanidade e que deveriam ser assim tratados.

Os offshores são engrenagens privilegiadas dos on-shores. Entregues a si, não teriam tido existência ou já teriam sido fechados há muito tempo. Bancos, insti-tuições financeiras de toda a espécie, empresas inter-nacionais de auditoria, gestores de fortunas, grandes sociedades de advogados de negócios que fazem a força das principais praças financeiras nos Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Alemanha, Japão, promovem sem qualquer escrúpulo a utilização intensiva dos offshores para obterem chorudos proveitos à custa dos povos. Daqui resultam duas ilações cruciais. A primeira é que a guerra não é contra os offshores, isoladamente, mas sim com a simbiose que junta offshores e onshores no mesmo sistema operacional. Portanto, ter-se-ia de aplicar aos onshores dispositivos adicionais como a exigência de re-

gistos, auditáveis a todo o tempo, de transações da Banca com todo e qualquer offshore, ces-sação, quando não haja obstáculo legal inul-trapassável, de operação sempre que não se conheçam os beneficiários, reporte obriga-

tório de eventuais desconformi-dades com o disposto no

tratado etc. A segunda ilação é que os principais

visados onshore detêm e exercem um enorme poder

de “captura do regulador”. Em linguagem direta, os regulados con-

trolam e dominam o regulador. Mais grave do que isso é a subordinação do poder político aos interesses supremos do sistema financeiro. Considerando os

danos infligidos pela simbiose dos offsho-res e onshores, precisamos de um tratado internacional que nos liberte dessa gan-

grena letal. Mas os governos neste momento não terão a força e a

vontade política necessárias para fazer o que deveria ser feito. Me-

lhores dias virão.

Ex-ministro diz que os governos não têm força para combater esta gangrena porque estão subordinados ao poder financeiro

Offshores: o que haveria a fazer e por que não se fará

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Já é um dado objetivo e não mera impressão: os cães dos meus concidadãos são mais importantes do que as minhas

filhas. Quando saímos de casa, não as posso deixar correr à vontade, porque há merda de cão ao longo da calçada. Não, não lhe chamem “dejetos” ou qualquer outro termo eufemístico. É merda. O mesmo se passa nos jardins. Não as posso deixar brincar nos espa-ços arrelvados porque a relva esconde mais merda de cão. Só conseguimos brincar à vontade nos jardins que ain-da estão interditos a cães, mas estou certo de que em breve também será proibido proibir a entrada de cães nestes últimos bastiões das crianças. Se pararmos num café para ler jor-nais, não conseguimos estar sossega-dos porque há sempre cães a cheira-rem-nos os pés ou mesmo as cabeças, visto que muitas senhoras têm cães ao colo como se fossem crianças. E agora vamos supor que eu, num ato de pro-funda misericórdia, dou um pontapé num cão que ameaça a minha filha. Seria a lei mais pesada para mim ou para o dono do cão? Parece que seria para mim, visto que a violência sobre animais passou a ser tão grave como a violência sobre pessoas. É como se uma vaca tivesse personalidade jurídica. Vamos também supor que um cão atira a minha filha para os cuidados intensivos. Neste cenário, que nome circularia nas redes sociais e nos jornais? O nome da minha filha ou o nome do cão? Por fim, como se tudo isto não fosse suficiente, con-vém relembrar que o IRS já beneficia mais o dono de cães do que o pai de crianças.

Não gosto eu de animais? Até gosto, até reconheço que não são coisas. Há quatro mil anos, a parábola da Arca de Noé deixou isso bem claro: nós, homens, temos o dever religioso de tratar de todos os seres da Criação. Mas a palavra-chave aqui é “dever”. Os animais não têm direitos, nós é que te-mos deveres para com os animais. Não há animais humanos e animais não--humanos; há animais e há humanos, duas entidades distintas, separadas e com uma hierarquia moral clara. Não perceber isto é entrar no terreno da barbárie. E, como tem dito Fernando Savater, a equivalência moral entre animais e homens é um regresso à barbárie pagã. Barbárie, essa, que nem sequer é escondida pelos alegados “de-fensores dos animais”. O deputado do PAN, por exemplo, afirma que “há características mais humanas num chimpanzé ou num cão do que numa pessoa em coma”.

Mas esta frase bárbara leva-nos a um ponto interessante. Sim, temos de atacar a ideologia animalista, mas também temos de perceber porque é que tanta gente transfere afetos das pessoas para os animais. A meu ver, este animalismo é um dos sintomas de algo que tenho abordado aqui no jornal: no Ocidente, em geral, e em Portugal, em particular, estamos a perder os laços comunitários e famili-ares. As tais senhoras que têm os cães ao colo estão sempre sozinhas. Ou são divorciadas (temos a segunda taxa de divórcio mais alta da Europa, cerca de 70%), ou são mulheres sem filhos (temos a taxa de natalidade mais bai-xa do mundo), ou são viúvas que não veem os filhos ou netos. Oiço vezes sem conta “não vejo o meu neto há semanas”. A merda de cão espalhada pelos passeios é uma vingança contra esta crise moral.

As minhas filhas ou o cão?

Parece estranho que contratos de associação com 79 colégios, que não representam mais de três por cento do sector privado, te-

nham provocado um debate tão violen-to. O subsídio público não deixa espaço para a inquebrantável fé das carmelitas do liberalismo puro, o facto de ser o Estado a escolher com quem contrata não dá argumentos aos khmers da “li-berdade de escolha”. O que se passou que justifique tamanho reboliço? Por um lado, a rede clientelar do costume, que neste caso envolve autarcas, em-presários especializados em mesadas públicas e a parte da Igreja que prefere educar um rebanho seleto a sujar a sotaina na lama da pobreza, começou a pressionar o poder político. Nas salas de aulas dos colégios nem se hesitou em pôr os meninos a escreverem cartas a Costa e a Marcelo. Havia, como se vê pela estrutura de negócio da maioria destes colégios, uma fé inquebrantável na eternidade destes contratos. Nem o memorando da troika, que era bem claro nesta matéria, os tinha beliscado.

Mas 79 novas escolas não chega-riam para tanto barulho. O que está em causa é um pouco mais relevante. A Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperativo diz que os contratos de associação são celebrados com estabelecimentos privados que “se lo-calizem em áreas carenciadas de rede pública escolar”. Mas, há três anos, Nuno Crato aprovou um novo Estatu-to do Ensino Particular e Cooperativo em que desapareceu esta referência. Não mudando o imperativo legal já existente, o objetivo era dar um sinal político positivo para a celebração de mais contratos de associação onde já havia oferta pública. Na realidade, a duplicação de rede já se fazia através de bons contactos nas direções regi-onais de educação e nas autarquias, com a cumplicidade de muita gente do PS. Mesmo onde a oferta pública era abundante e de qualidade, como foi o caso escandaloso da cidade de Coimbra. Só que agora isto tinha o aval do governo e um objetivo a longo prazo: a substituição definitiva de parte da rede pública por uma rede de escolas privadas subsidiadas.

Há algum problema em substituir a escola pública por uma rede de colé-gios privados, confessionais ou não, pagos pelo Estado? Se um colégio excelente for invadido por alunos de um bairro problemático rapidamente deixará de ser excelente. A maior vantagem competitiva dos colégios privados é poderem fazer seleção. Mesmos os que têm contrato de asso-ciação, estando impedidos de o fazer, fazem-no. É por isso que têm, em per-centagem, muito menos alunos com necessidades educativas especiais ou com apoio social máximo do que as escolas públicas. Quem seleciona tem melhores resultados e quem tem me-lhores resultados atrai os melhores. Os problemas ficam para a escola ao lado, num sistema de ensino cada vez mais dual. Se esta lógica fosse aplicada a todo o sistema a escola pú-blica falharia um dos seus principais objetivos: a promoção da igualdade de oportunidades. Se alguma coisa o Estado tem de fazer é contrariar fenó-menos de seleção ilegal que encontra-mos em algumas escolas públicas das principais cidades. Foi o travão posto a esta lenta imposição de uma nova política que levou a tanta excitação. Havia quem quisesse conquistar na secretaria um modelo de ensino que não levou a votos.

Tanto barulho porquê?

HENRIQUE RAPOSO ESCREVE NO EXPRESSO DIÁRIO DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA

DANIEL OLIVEIRA ESCREVE NO EXPRESSO DIÁRIO DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA

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Expresso, 14 de maio de 2016PRIMEIRO CADERNO36

A CARTA DA SEMANA

In Memoriam Cartas

Os originais das cartas não devem ter mais de 150 palavras, reservando-se a Redação o direito de as condensar. Os autores devem identificar-se indicando o nº do B.I., a morada e o nº do telefone. Não devolvemos documentos que nos sejam remetidos. As cartas também podem ser publicadas na edição online.

Para contacto:fax nº (+351) 214 435 319ou [email protected]

OBITUÁRIO

1927-2016 Viúva do penúltimo Presidente da RDA, foi ministra da Educação com métodos que indignaram os seus concidadãos

Margot HoneckerJosé Cutileiro

Margot Feist Honecker, viúva do penúltimo e já falecido Presidente da extinta República

Democrática Alemã, que mor-reu na sexta-feira da semana passada, dia 6 de Maio, em mo-radia dos arredores de Santia-go do Chile onde vivera desde 1992, junto da filha casada com chileno, pois lhe havia sido con-cedido asilo numa espécie de reciprocidade ao que se passara a seguir a 1973, quando, depois da tomada violenta do poder no Chile pelo general Augusto Pi-nochet (o senador Pinochet, di-ria sempre mais tarde Margaret Thatcher, numa tentativa vã de fazer esquecer a mancha negra deixada pelas atrocidades que as forças armadas cometeram durante o seu regime) e ao su-icídio do Presidente Salvador Allende, chilenos comunistas que lograram salvar a pele de-mandaram a URSS e seus sa-télites europeus, aí procurando refúgio, muitos deles na RDA, o mais purista e exigente des-ses satélites, bem como o mais exposto a comparações com o Ocidente, começando por Ber-lim, sua capital, dividida por um muro separando o que no fim da guerra de 1939-45 havi-am sido as zonas de ocupação estabelecidas pelas potências vencedoras, de um lado a URSS (isto é, a Rússia) e, do outro, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos da América, ca-pital onde Margot Feist, activis-ta política convicta, sempre da linha dura, eficaz e ambiciosa, cedo se estabelecera vinda da sua Hale natal, filha de sapatei-ro comunista preso pelos nazis

(sobreviveu), subira velozmente na hierarquia do partido sendo aos 26 anos a deputada mais nova no parlamento do país, vivendo história de amor in-tensa com Erich Honecker, 15 anos mais velho e casado pela segunda vez, que obteve licença do partido para se divorciar, ca-sou com ela depois de a filha de ambos nascer, se tornaria chefe do partido e presidente da RDA em 1976 enquanto ela fora, des-de 1963, ministra da Educação do Povo — em português ter--lhe-íamos chamado ministra da Educação Nacional — e, em-bora ao fim de poucos anos a chama apaixonada se tivesse apagado em ambos, vivendo cada um outros casos român-ticos, mantiveram-se, em casas separadas, casal unido e força política temível na Alemanha de Leste presidida por ele.

Bonita e elegante (a elegância do seu tempo e do seu lugar não evocava grandes casas de alta costura europeias — lembrava mais Marks & Spencer no fim dos anos 40), chamavam-lhe a Bruxa Roxa. Roxa porque gos-tava de pintar o cabelo dessa cor; bruxa porque a sua noção de como educar raparigas e ra-pazes alemães e a sua maneira de pôr essa noção em prática indignavam às vezes até os pró-prios alemães de Leste, o que

não é dizer pouco, pois para lá de doutrinação do berço à cova e da prática de sofrer opressão, estima-se que um em cada três adultos no país fosse informa-dor da polícia política. Ensino paramilitar, com manejo de ar-mas, passara a fazer parte do programa de liceus e escolas industriais (a luta de classes e, nomeadamente, a luta entre so-cialismo e capitalismo continu-ava em força e era preciso estar preparado). Ensino de materi-alismo dialético, marxismo-le-ninismo, história dos partidos comunistas, ocupavam lugar predominante na programação também dos estudos universi-tários (às vezes com resultado perverso: depois da queda do muro, aparachique disse-me: “Aprendemos tudo sobre como transformar o capitalismo em socialismo mas não aprende-mos nada sobre o contrário”).

Margot fora estalinista de-vota desde a adolescência e a sua fé política nunca conheceu dúvidas. Havia com certeza falhas na Alemanha de Leste mas iriam sendo corrigidas. A contra-revolução ganhara com o colapso da União Sovi-ética, a luta continuava agora em condições menos propícias, mas fossem estas quais fossem não seriam elas que a fariam abandonar princípios morais e entendimento da história e do mundo que a haviam guiado em toda a sua vida política e nos longos anos de exílio que se seguiram. Morreu como vivera desde menina, confortada pelas suas certezas inabaláveis.

José Cutileiro escreve de acordo com a antiga ortografia

Ramón Carlín1923-2016 Empresário mexicano, fez fortuna com máquinas de lavar. Aos 50 anos, decidiu entrar na primeira volta ao mundo, a regata Whitbread (atual Volvo Ocean Race). Foram 27 mil milhas náuticas que demoraram sete meses a percorrer. Carlín, que tinha começado a velejar há dois

anos, bateu-se com alguns dos melhores skippers de então e foi ridicularizado pela imprensa britânica. Mas Carlín, que era filho de uma professora e de um pequeno comerciante e fez fortuna sozinho, comprou o “Sayula” e fez-se ao mar. Sobreviveu a um quase naufrágio (parte da tripulação caiu ao mar na segunda etapa) e ganhou. Dia 12, de causas naturais.

> João Palma (1943-2016), bate-rista brasileiro, tocou nas bandas de Tom Jobim, Dorival Caymmi e Sérgio Mendes. Foi escolhido por Frank Sinatra. Dia 9, de causas desconhecidas. > Fran-çois Morellet (1926-2016), artista francês, começou pelo abstraci-onismo e nos anos 60 decidiu deixar de usar tintas, pincéis e telas para passar a usar tubos de luz néon nos seus trabalhos. Dia 10, de causas não reveladas.

Financiamento público de escolas privadas

(...) Poderão os contribuintes portugueses suportar um tão elevado grau de “redundância” no ensino? Será aceitável e ra-cional que, na mesma cidade, os nossos impostos sejam uti-lizados no financiamento de escolas privadas quando, ao lado existem vagas suficientes em escolas públicas, que tam-bém pagamos? Mais! Poderá este ou qualquer outro governo fechar os olhos e ignorar todas as previsões demográficas que apontam para o decrescimento da população escolar nas pró-ximas décadas? (...) Não! Um país com uma dívida pública como a nossa, uma economia tão frágil e perante um cenário tão imprevisível neste mundo cada vez mais globalizado e concorrencial, não pode dar-se ao luxo de desperdiçar recur-sos financeiros cada vez mais escassos. Lamento, mas não posso concordar com os meus compatriotas que declaram: “A escola dos meus filhos, sou eu que escolho!” Ou melhor, esco-lher podem! Podem até mandá--los para os melhores colégios suíços ou ingleses! Mas o que o Estado e a sua Constituição laica podem e estão obrigados a garantir é a igualdade de opor-tunidades no acesso ao ensino para todos os jovens! E isso, apenas a escola pública pode garantir!Helder Pancadas, Sobreda

Contratos de associação: avanços, recuos e lóbis

Questões infelizmente não co-locadas no artigo com o título acima (Expresso, 7-5-2016), que merecem esclarecimento: por que se continuaram a construir escolas públicas, num contexto demográfico desfavorável, em zonas suficientemente cobertas por contratos de associação?; onde estão os estudos de ren-tabilidade desses investimentos em novas escolas?; porque é que as famílias não querem colocar os seus filhos nessa novas e lin-das escolas públicas, que estão vazias, mantendo-os nos colégi-os privados?; a colocação à força — pois é disso que se trata — na escola pública de crianças de famílias carenciadas, que pode-riam vir a frequentar colégios privados ao abrigo desses con-tratos de associação, contribui ou não para o aumento das de-sigualdades sociais? (...)Francisco Batoréu, Lisboa

Prospeção de petróleo e gás em Portugal

Apresentam os autores do re-ferido artigo a questão da ex-ploração de petróleo e gás em Portugal como se daí só advies-sem benefícios para o país. Não fazem referência aos impactos no território e nas outras ati-vidades económicas. Quando referem as atividades de pros-peção já efetuadas “sem que haja registo relevante de qual-quer perturbação ambiental ou social” esquecem um elemento

fundamental para a ciência: não foi feito qualquer estudo. Nos exemplos do Brasil, Reino Unido e Canadá, aconselhamos os interessados a fazer uma pes-quisa na net... aperceber-se-ão que os pequenos problemas das petrolíferas são grandes proble-mas para a população. Quanto à questão do fracking, não en-tendemos porque referem os procedimentos legais da União Europeia, mas não a recomen-dação de 02-02-2016; o ponto 88, “insta os Estados-Membros a não autorizarem eventuais novas operações de fraturação hidráulica na UE (...)”. Ana Celorico Machado, Vila do Bispo

Os taxistas e a Uber

Na semana passada assistimos a uma manifestação com algumas cenas de violência protagoniza-das pelos taxistas, protestando contra a concorrência da Uber. Os protestos excederam em muito o estritamente necessá-rio e apenas pretendem conso-lidar ou proteger os interesses de uma corporação que explora um mercado em regime de oli-gopólio. Apesar de concordar com a necessidade da rever e criar legislação adequada e que regule o serviço prestado pela Uber, parece-me evidente que para os consumidores a entrada desta empresa no mercado naci-onal é extremamente positiva. Um estudo realizado em França concluiu que a Uber contribuiu para reduzir os preços das via-gens em cerca de 50% a 60%, criou mais de 5 mil postos de trabalho, dos quais 81% são a tempo inteiro, permitindo uma remuneração horária próxima dos 20 euros, o que correspon-de ao dobro do salário mínimo francês. Além disso, a mesma investigação afirma que a pre-sença de trabalhadores emi-grantes ou de faixas da popula-

ção mais pobres que constitui a principal fonte de mão de obra da Uber, o que segundo os auto-res, contribuiu para a integra-ção social, redução da crimina-lidade e dos gastos do Estado com apoios sociais. Do ponto de vista do utilizador, a presença da plataforma cria uma alternativa válida e eficiente ao monopólio dos táxis, melhorando a quali-dade do serviço, uma vez que os motoristas são avaliados pelos passageiros e os seus resultados são publicados no site da empre-sa. Esperemos que o Governo desenhe o enquadramento re-gulatório e legal necessário para que a companhia opere em Por-tugal, para bem do sector, dos consumidores e do próprio país. João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim

Dois pesos e duas medidas

Assinala-se, no próximo dia 16, meio século do início da Revo-lução Cultural Chinesa, e tudo indica que Portugal vai passar ao lado da efeméride. Parece que, neste cantinho da Europa, 42 anos de democracia não são suficientes para que os crimes da esquerda tenham a mesma condenação que os da direita. Não se entende! Não foi a Revo-lução Cultural Chinesa uma das maiores catástrofes de todo o séc. XX? Em que difere o terror moralista de Mao — com as suas campanhas de discriminação de classe e mobilização das massas para a criação do novo homem socialista — da distopia do III Reich? Num período em que ex-tremismos que julgávamos ex-tintos crescem por toda a Euro-pa, importa recordar esta data, não apenas para repor alguma justiça (moral e histórica), mas sobretudo para garantir que “utopias” destas nunca mais te-nham lugar entre nós.Miguel Gonçalves, Mafra

A culpa não é só da Alemanha

A culpa também é nossa e não só da Alemanha A situação em que os países do Sul Europeu (...), não é só culpa da Alema-nha, e do Sr. Schäuble. Temos uma quota-parte de culpas que não quereremos assumir. A Grécia até pelo seu contexto, geografia e até Ortodoxia ainda mais culpas que nós terá, mas se olharmos cá para o nosso País (...) continuamos a “arrastar” problemas. Veja-se agora os co-légios privados pagos pelos nos-sos impostos, (...) a indisciplina orçamental, o clientelismo do Estado, a corrupção na contra-tação pública, a não continuida-de de políticas estruturais quan-do muda o Governo. Além de que a nossa economia é pouco competitiva, as empresas estão descapitalizadas e a Justiça tem uma insuficiente eficácia. Ou seja, cá dentro temos um “hor-ror” de problemas que não sabe-mos – não queremos – resolver, que passamos de geração em geração e quando nos são apon-tados (...) os negamos totalmen-te, ou vitimizamo-nos por nos atirarem à cara a verdades (...) Temos que ter um tempo para pensar – algo tão fora de moda nos anos mais recentes – nestas nossas culpas, tenteando emen-dá-las, agarrando o positivo que temos e somos, no que somos muito bons, mas acabando com o que somos maus, e ainda para agravar, culpamos os outros por assim sermos. E a Itália, a Ir-landa – norte, mas igual ao Sul - a Grécia, a Espanha, o Sul da França têm que fazer o mesmo e não só a Alemanha, a despejar Euro/marcos sobre nós (...)A Küttner de Magalhães

A Comissão Europeia votará este mês a re-autorização (!) da li-cença de uso de her-

bicida cancerígeno. Portugal deve votar contra! França e Espanha já retiraram este herbicida — o glifosato, do mercado. Itália, Holanda e Suécia seguir-se-ão. Já em junho de 2015, a ministra francesa do Ambiente tinha retirado do mercado este veneno, cuja toxicidade e perigosidade a Organização Mundial de Saúde confir-ma. Nesse ano, a Agência Internacional para a Inves-tigação sobre o cancro da OMS denunciou o glifosato como “cancerígeno provável para o ser humano”. Os ní-veis desta nociva substância nos portugueses são 20 ve-zes mais, comparando com suíços e alemães. Aqui na aldeia e arredores usa-se e abusa-se deste veneno. Em bermas de fronteira com ár-vores de fruto, estas ficam estéreis... Enchem-se as ber-mas das estradas com este malquisto químico, poluindo também nocivamente len-çóis de água, porque é mais barato do que contratar mão de obra para cortar ervas. Pulveriza-se em dias de ven-to, lançando-se o veneno a metros de distância... que envenena ‘tudo e todos’. (...)Vítor Colaço Santos, Areias

Herbicida cancerígeno

CONSULTA PÚBLICA

Consulta Pública n.º 01|2016|SPMS – Procedimento Concursal

A Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, EPE (SPMS) promove uma consulta pública no âmbito dos trabalhos preparatórios de lançamento do procedimento concursal para a aquisição de serviços do Centro de Contactodo Serviço Nacional de Saúde – 2017/2019.

Lisboa, 13 de maio de 2016 | O Conselho de Administração da SPMS, EPE

Envolver os interessados no processo de preparação por procedimento concursal; Estimular a participação dos stakeholders na preparação do procedimento, esperando sugestões tanto de fornecedores como das instituições de saúde relativos à proposta para o desenvolvimento do modelo concetual e formação do procedimento concursal; Identificar os principais constrangimentos e procurar as melhores soluções para que o projetado sirva as instituições do Serviço Nacional de Saúde e aos utentes.

Objetivos

Os temas sujeitos a consulta pública são os que constam do documento disponível emwww.spms.min-saude.pt e www.catalogo.min-saude.pt, a partir de 14 de maio de 2016.

Âmbito

A SPMS, EPE considera interessados na presente consulta pública todos os cidadãos, as empresas e as associaçõesdo sector, bem como as instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e Entidades do Ministério da Saúde.

Interessados

A participação está aberta a todos os interessados que apresentem opinião e contributos, por escrito, até ao dia30 de maio de 2016, através do endereço de correio eletrónico: [email protected] ou/em www.spms.min-saude.pt

SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, E.P.E. Av. João Crisóstomo, n.º 11 – 5.º piso | 1049-062 Lisboa Tel.: 211 545 600 | Fax: 211 545 649 | Email: [email protected] | website: www.spms.min-saude.pt

Participação

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Expresso, 14 de maio de 2016 37 PRIMEIRO CADERNO

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Expresso, 14 de maio de 201638 PRIMEIRO CADERNO

34ª jornadaBenfica

xNacional

Sp. Bragax

Sporting

FC Portox

Boavista

V. Setúbalx

P. Ferreira

1º2-0 1-1 2-0 1-1

2º2-0 1-2 2-1 0-1

3º2-0 0-2 2-0 2-1

2-0 0-1 3-1 1-15º

3-0 1-2 3-0 1-16º

1-0 1-2 2-1 0-17º

2-0 1-2 2-0 1-28º

3-0 1-1 3-0 1-29º

2-0 1-3 3-0 1-210º

0-1 1-3 3-0 1-011º

3-0 2-2 2-0 1-2

324 pontos Joana Vasconcelos

359 pontosJoana Amaral Dias

328 pontosManuela F. Leite

340 pontosMário Zambujal

352 pontosFrancisco J. Viegas

363 pontosRui Oliveira Costa

359 pontosDaniel Oliveira

375 pontosLuís Pedro Nunes

395 pontosHenrique Raposo

353 pontosManuel Serrão

365 pontosA. Mega Ferreira

PALPITES

NaniMinutos

688 8 JOGOS

Cristiano RonaldoMinutos

5406 JOGOS

Rui PatrícioMinutos

7208 JOGOS

Ricardo CarvalhoMinutos

4566 JOGOS

PepeMinutos

3604 JOGOS

Danilo PereiraMinutos

2703 JOGOS

MoutinhoMinutos

5607 JOGOS

Cédric SoaresMinutos

2163 JOGOS

EliseuMinutos

4505 JOGOS

DannyMinutos

4447 JOGOS

DE FORA NOS PRÓXIMOS 12 MESES

TiagoMinutos

4165 JOGOS

LESIONADO DESDE NOVEMBRO, REGRESSOU HÁ

TRÊS SEMANAS AOS TREINOS

Os nossos 23 (não é fácil ser selecionador)

GUARDA REDES CLUBE

Rui Patrício Sporting

A. Lopes O. Lyonnais

Eduardo D. Zagreb

DEFESAS

Eliseu Benfica

R. Guerreiro Lorient

Pepe Real Madrid

R. Carvalho AS Monaco

José Fonte Southampton

Cédric Southampton

Vieirinha Wolfsburg

MÉDIOS

William Sporting

Danilo FC Porto

João Mário Sporting

Moutinho AS Monaco

B. Silva AS Monaco

Rafa Sp. Braga

Adrien Sporting

André Gomes Valencia

R. Sanches Benfica

ATACANTES

Ronaldo Real Madrid

Nani Fenerbahce

Quaresma Besiktas

Éder LilleOS MAIS UTILIZADOS NA QUALIFICAÇÃO PARA O EURO-2016

BREVES

Liga dos Campeões sobre rodasHÓQUEI A final four da Liga Europeia disputa-se este fim de semana no Pavilhão da Luz, em Lisboa. O Benfica, que con-quistou a prova em 2013, tem a passagem à final muito difi-cultada, uma vez que defron-tará o Barcelona, bicampeão em título (15h, BTV1). “Eles dispensam apresentações, têm um currículo inigualável a nível de conquistas na Eu-ropa. Temos o fator casa, que-remos contar com os adeptos e ter um pequeno inferno no pavilhão da Luz”, disse Valter Neves, capitão benfiquista. Na outra meia-final, a Oliveirense jogará contra os italianos do Forte dei Marmi (18h30). A final está marcada para ama-nhã, às 14h.

Sim, Alonso, eles trocaram de pilotosFÓRMULA1 Na antevisão do Grande Prémio de Espanha, marcado para amanhã (às 13h, no novo canal pago Eurosport 2 Xtra), Fernando Alonso pro-tagonizou um momento cari-cato ao ser questionado sobre a troca de pilotos da Red Bull: Max Verstappen subiu à equipa principal e Daniil Kvyat foi des-promovido para a Toro Rosso. “Eles trocaram de pilotos?”, espantou-se o espanhol da McLaren, pedindo explicações a Lewis Hamilton, que estava sentado ao seu lado. O piloto da Mercedes encolheu os ombros, porque tem mais com que se preocupar: as quatro corridas disputadas até agora foram to-das conquistadas pelo colega — e rival — Nico Rosberg.

30Já lá vão cinco meses desde que José Mourinho foi afastado do comando técnico do Chelsea, mas o treinador português está perto do regresso. “Assinarei até 30 de junho e voltarei ao trabalho em julho”, disse Mourinho no México, onde esteve a liderar uma equipa de ex-estrelas da FIFA. “Ainda estamos em maio e de maio a julho é um instante. Vou continuar a apreciar a minha vida e a minha família. E em julho estarei de regresso”. No Manchester United?

Eles não acreditam, mas hay maletinesFUTEBOL Hoje é dia de de-cisões de La Liga e os espa-nhóis passaram a semana a debater a existência de ma-letines, que é como quem diz malas de dinheiro entregues aos adversários dos rivais, para motivá-los a ganhar — prática que é proibida. “Não acredito em nada disso. Acre-dito no orgulho dos adversá-rios”, disse Luis Suárez. O Barcelona joga no terreno do Granada (16h, SportTV3) e só depende de si para ser campeão, uma vez que tem 88 pontos. O Real Madrid, que tem 87 pontos, preci-sa de ganhar no campo do Corunha (16h, SportTV4) e precisa que o Barcelona es-corregue. Haverá maletines?

DESPORTO SELEÇÃO

Texto Mariana Cabral Infografia Olavo Cruz

Estamos no século XXI e isso quer dizer que vivemos numa era em que o telemóvel inte-ligente (ou o tablet ou o computador) está

sempre à mão. Mas para isto não é preciso sapiência virtual (ou, para os amantes do vinta-ge, um ábaco): X mais 11 igual a 23. A equação é simples e expli-ca-se assim: se Fernando San-tos só pode levar 23 jogadores ao Europeu, então para chegar a 23 basta somar os 11 jogado-res mais utilizados na qualifica-ção — na defesa, meio-campo e ataque, respetivamente (veja a infografia) — aos restantes 13. Porque 23 menos 11 é igual a 13.

Não é? Não, de facto numa calculadora normal não é. Mas nas contas do matemático Fer-nando Santos é. Porque destes 11 preferidos há um que não pode ir a França, por estar le-sionado: o dez/ala/avançado Danny. E há outro que, apesar de também ser indispensável, ainda está em dúvida: Tiago. O médio de 35 anos regressou aos treinos há três semanas, depois de meio ano de recuperação de uma fratura da tíbia, mas não é certo que seja uma escolha para o selecionador (que o esti-ma sobremaneira — recorde-se que Tiago tinha renunciado no tempo de Paulo Bento), porque ainda não voltou à competição. E porque é no sector do meio--campo que Portugal tem mais fartura — e é também aí, por isso, que há mais dúvidas.

35 milhões de razões para convocar um rapaz

Começando pelo início: Patrí-cio será o guarda-redes titular, Anthony o suplente e Eduardo a mais que provável alternati-va, pela veterania, ainda que seja defensável o argumento de que seria útil levar um jovem

Convocatória Fernando Santos anuncia terça-feira, às 20h30, os 23 escolhidos para representar Portugal no Euro-2016. É certo que não haverá nem Coentrão nem Danny, ambos lesionados. Mas haverá Tiago? E Renato?

No meio é que está a dúvida

como José Sá, por exemplo (mas há Jogos Olímpicos em agosto). Na defesa também não há grandes dúvidas: Coentrão está lesionado, pelo que Eliseu e Raphaël estarão na esquerda; na direita, Cédric foi o mais uti-lizado, mas dividiu os minutos quase a meias com Vieirinha; e, no meio, Carvalho, Pepe e Alves são os preferidos. Aqui levanta-se a questão do quar-to central, que pode ser des-necessário, até porque Danilo também pode fazer a posição — mas é provável que Fonte seja chamado. No ataque, Nani, Ronaldo e Quaresma podem dormir descansados na segun-da-feira e é provável que Éder, apesar de ser o patinho feio dos adeptos, também, porque é a única referência ofensiva com poderio físico, algo que San-tos justificou como importante contra seleções defensivas.

Já vamos com 15 jogadores quando chegamos ao centro da questão. Assumindo as es-colhas anteriores como prová-veis, restam então oito vagas para quase o dobro dos médios. Moutinho é indispensável para Santos; Danilo, pelos minutos que contou, também; os três sportinguistas bem oleados por Jesus — William, João Mário e Adrien — podem ser apro-veitados, porque o plano A da seleção passou a ser o 4-4-2; Bernardo e Rafa trazem criati-vidade às alas, tal como André Gomes, que também pode estar no meio... e já são oito — sem contar com Tiago (e Veloso...). E Renato? Bom, o novo refor-ço do Bayern de Munique não impressionou particularmente nos amigáveis com a Bélgica e com a Bulgária, mas dada a op-ção pelo 4-4-2 a que está habi-tuado, talvez possa ser útil, pelo desassombro e capacidade de acelerar o jogo ofensivamente. Só que, para o miúdo entrar na equação, alguém tem de sair. Quem? Se calhar precisamos mesmo de uma calculadora.

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Expresso, 14 de maio de 2016 39 PRIMEIRO CADERNO

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1776793

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Sábado14 de maiode 2016

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TEMPO FIM DE SEMANA

Paciência A primavera há de voltar, Bandini, mas não é para já. Ficam dois dias de céu nu-blado, possibilidade de chuva e vento fraco a moderado.

Maputo negoceia com Re-namo O Governo moçambica-no iniciou, na semana passada, contactos com o maior par-tido da oposição, a Renamo, com vista a constituir grupos de trabalho para lançar um novo processo de paz. O con-flito armado entre a Renamo e as Forças de Segurança foi uma das prioridades dos con-tactos políticos estabelecidos por Marcelo Rebelo de Sousa durante a visita a Moçambi-que, no início do mês. No final da viagem, o PR português as-sinalou alguns progressos e a disponibilidade de ambos os lados para conversar.

Fundação Champalimaud recebe certificação eu-ropeia A Unidade da Mama do Centro Clínico Champali-maud, liderada pela médica e investigadora Fátima Cardo-so, foi reconhecida pelo Sis-tema Europeu de Certifica-ção de Unidades da Mama, a mais importante certificação europeia, por cumprir as ori-entações EUSOMA (conjunto de regras definidas pela Soci-edade Europeia de Especia-listas em Cancro da Mama). É a primeira unidade em Portugal a obter esta creden-ciação. Esta Unidade oferece serviços em áreas como on-cologia médica, radiologia de mama, anatomia patológica, cirurgia da mama e cirurgia reconstrutiva, radioterapia da mama e enfermagem es-pecializada.

Manifesto antieutanásia Depois do manifesto a favor da legalização da eutanásia, agora surge a resposta. “Toda a Vida Tem Dignidade” é o título do novo manifesto que tem como subscritores, entre outros, Pi-nheiro Torres, Matilde Sousa Franco, Luís Villas-Boas e Ma-ria do Carmo Seabra. P35

Porto Canal: NOS perde providência cautelar O Tri-bunal da Comarca de Lisboa rejeitou o pedido da NOS para a reposição imediata pela Meo do sinal Porto Canal, detido pelo FC Porto. A NOS acusara a Meo de “coação e chantagem negocial” e que corria o risco de perder 35 mil assinantes (€42 milhões).

Invasor do aeroporto con-denado a quatro anos Her Calunga, o holandês que in-vadiu a pista do aeroporto de Lisboa com uma faca, foi con-denado a quatro anos e meio de prisão. O arguido estava acusado de terrorismo, esteve na Síria e seria simpatizante do Daesh mas foi absolvido do crime de terrorismo.

EXPRESSO DIÁRIO

As Nossas Escolhas: oito apostas para ler este sábado

No Expresso Diário publicado hoje, em As Nossas Escolhas apostamos em oito textos, entre-vistas e reportagens — para os ler, basta inserir em leitor.expresso.pt ou através do nosso site o código que aparece na capa da Revista E. Falamos de um guia de sobrevivência para festejar o título de campeão de futebol, do perfil do novo Presidente do Brasil, da presença arrasadora de Marcelo nas TV, da polémica sobre o algoritmo do Facebook, do novo tipo de criminalidade que está a instalar-se em Angola e do que dizem de um jogador vendido por “uma pipa de massa”.

BRASIL Michel Temer reuniu ontem, no Planalto, o governo que vai substituir o executivo de Dilma Rousseff. O Presidente interino contou com a presença de 23 ministros, entre os quais Henrique Meirelles. O recém-empossado ministro da Fazenda anunciou que iria cortar nas “despesas e privilégios daqueles que não precisam”, prometendo manter intocados os programas sociais dos seus antecessores. Já Alexandre de Moraes, novo ministro da Justiça, disse que iria combater as manifestações mais violentas dos movimentos de esquerda enquanto “atitudes criminosas”, classificando alguns protestos contra a destituição como “atos de guerrilha”. P32 FOTO UESLEI MARCELINO/REUTERS

O primeiro Conselho de Ministros de Michel Temer

Governo chegou a admitir mais concursos na Saúde para fazer face a novo horário

O PS entende que a admis-são dos novos enfermeiros (concurso lançado por Pas-sos e ainda por concluir) será suficiente para fazer face ao novo horário das 35 horas na função pública, garantiu ao Expresso o líder parlamentar, Carlos César. O setor da saúde é o que vai ter maior impacto com aumento de despesa e por isso haverá ainda contro-lo adicional do ministro das Finanças em cada gasto com horas extraordinárias. Ontem terminava o prazo para o PS apresentar propostas de alte-rações ao diploma.

35 horas: só 1000 novos enfermeiros

A proposta do BE prevê apenas situações de doença. Condição essencial para ter o apoio de 24 deputados do PSD

Passos aprova ‘barrigas de aluguer’

As negociações duraram até à última hora. O chumbo do PCP, na Comissão de Saúde, tinha praticamente ditado a reprovação do projeto-lei do Bloco de Esquerda sobre a gestação de substituição, vulgarmente conhecida como ‘barrigas de aluguer’. Só quando os bloquistas mu-daram de estratégia e passa-ram a negociar com o PSD, encontraram o apoio de 24 deputados, entre eles Passos Coelho. A nova lei abrange apenas situações de doença, ou seja, permite que mulhe-

res sem útero ou com algu-ma lesão possam recorrer a uma gestante para levar a cabo a gravidez sem que esta receba alguma compensação monetária (ver Descodifica-dor, pág. 4). Condições que foram fundamentais para o consenso com o PSD. De fora ficam os casais homens homossexuais e as mulheres que não queiram engravidar. “Mesmo alargando o acesso à procriação medicamente assistida a todas as mulhe-res, haveria algumas que não o poderiam fazer. A par-tir de hoje, já todas podem ser mães e cumprir os seus sonhos de parentalidade”, disse ao Expresso Moisés Ferreira, deputado do Bloco de Esquerda.

Ban Ki-moon elogia António GuterresO secretário-geral da ONU considera que o candidato português foi um grande líder das Nações Unidas

O secretário-geral cessante das Nações Unidas considera que António Guterres “é um grande líder, com uma forte vi-são”, por quem tem uma gran-de admiração, segundo disse numa entrevista ao Expresso, que será publicada na íntegra na próxima semana.

Segundo Ban Ki-moon, que esteve em Portugal durante dois dias a convite do Presi-dente da República, o candi-

dato português ao cargo de secretário-geral da ONU “deu um grande contributo à Hu-manidade como Alto Comissá-rio para os Refugiados“, tendo deixado “um grande legado”.

“Como Alto Comissário, António Guterres foi um dos grandes líderes da ONU”, dis-se ainda o secretário-geral, que se recusou a responder se Guterres daria um bom se-cretário-geral ou se teria boas possibilidades de atingir o car-go, atualmente disputado por nove candidatos.

“Como secretário-geral te-nho de ser neutral e impar-cial neste processo, mas estou

confiante no novo processo de escolha do meu sucessor, que é muito transparente, pelo que espero francamente que funcione”, sublinhou

Durante a sua estada em Lisboa, Ban Ki-moon encon-trou-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros e com um grupo de estudantes sírios, jantou com o primeiro-minis-tro e almoçou, ontem, com o Presidente. Guterres partici-pou em ambas as refeições. Ontem, deslocou-se ao Parla-mento, onde teve um encon-tro com Ferro Rodrigues e foi aplaudido de pé por todas as bancadas.

HENRIQUE MONTEIRO ESCREVE NO EXPRESSO DIÁRIO DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA

Tenho de admitir que não esperava! Não me lembro do último Governo que baixou impos-tos e esperava um

dia ter essa felicidade supre-ma de os ver descer. Sobretu-do depois de ler que a carga fiscal subiu mais de 15% desde 2009 atingindo um recorde. Mas, quinta-feira, foi o tempo certo. O ministro das Finan-ças, para quem António Costa disse ter deixado a boa notícia (com amigos destes, vale a pena ter a pasta das Finanças às costas), anunciou que o im-posto sobre os combustíveis baixou... um cêntimo.

Já sei que vão achar ridículo. Mas um cêntimo aqui e outro ali, faz-se uma fortuna. O Tio Patinhas começou assim, com a moedinha número um. Eu, cada vez que encher o depósito porei de lado um cêntimo. Se chegar aos 100 anos devo conseguir poupar 50 euros. E porei o cêntimo de lado em homenagem a Centeno e a Costa com o desvelo e devoção com que na minha juventude vi os rapazes guardarem o tostãozinho para o Santo António.

Claro que já há polémica. Num Governo é-se preso por ter cão e por não ter. Há quem diga que a descida deveria ser de três cêntimos, através de complicadas contas nas quais não meto a cabeça; outros, ligados ao sector, dizem que não percebem o critério. Mas este posso esclarecer: é o critério do Governo.

Aliás, Governo inteligente — daqueles que põem cartazes a dizer: “Prometemos e cumprimos, baixámos o imposto sobre os combustíveis” — já sabe o que deve fazer: aumenta seis cêntimos a 12 de fevereiro e baixa um a 12 de maio. Se em 12 de agosto uma crise ou a malfadada Europa o obrigar, pode subir cinco e baixar meio a 12 de novembro. A ideia é aumentar sempre mais do que o necessário, porque o vistaço faz-se quando se desce.

É claro que se o imposto subir muito baixam-se outras taxas. Por exemplo, as portagens do interior. Eu acho bem, porque o interior tem menos carros e assim poupa-se mais. Se baixassem as do litoral, as que vão para o Porto e Braga ou para Faro, era um dinheirão e tínhamos de voltar a subir o imposto sobre os combustíveis. Mas na A24, por exemplo, entre Viseu e Chaves, o movimento é tal que, se tivermos sorte, podemos ver dois carros a pagar a portagem ao mesmo tempo.

Ah, meus ricos ministros, adoráveis cobradores do nosso pecúlio. É este o cêntimo mais feliz da minha vida. Bem sei que haverá mal agradecidos, gente que dirá que mais valia estarem quietos... Mas não é isso que ouvem todos os dias?

Aquele cêntimo feliz

FONTES: IPMA E INSTITUTO HIDROGRÁFICO

Bragança

Porto

P. Douradas

Lisboa

Évora

Faro

P. Delgada

Funchal

Porto

Lisboa

Faro

16:30

16:29

15:52

Baixa

17:43

17:42

17:13

Baixa

10:29

10:45

9:58

Alta

11:39

11:55

11:10

Alta

18°

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SÁBADO

SÁBADOMARÉS

DOMINGO

DOMINGO

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