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Página 1 Boletim 627/14 – Ano VI – 14/10/2014 Cálculos alternativos indicam desemprego maior Por Arícia Martins | De São Paulo O mercado de trabalho, segundo cálculos alternativos, mostra uma piora que vai além da alta de apenas 0,1 ponto na taxa de desemprego observada entre abril e agosto, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse período, o percentual de desocupados em relação à População Economicamente Ativa (PEA) subiu ligeiramente, de 4,9% para 5%. Estudo da MCM Consultores aponta que existem mais pessoas ocupadas, mas que gostariam de trabalhar mais horas, assim como outras que estavam aptas a trabalhar, mas não têm procurado emprego recentemente. Nesses dois casos, a fatia de desempregados aumentaria para 6,5% e 7% em agosto, respectivamente, também incluindo os indivíduos considerados desocupados no conceito do IBGE. Na definição do órgão, uma pessoa é considerada desempregada apenas se procurou emprego no mês anterior à semana da pesquisa e estava disponível para assumir um trabalho. Os cálculos não tradicionais para o desemprego, usados pela MCM, foram introduzidos pela primeira vez em 2012, em artigo do Banco Central intitulado "Going Deeper Into the Link Between the Labour Market and Inflation" ("Aprofundando a Ligação Entre Mercado de Trabalho e Inflação", em tradução livre). Nele, o Banco Central afirma que a taxa de desemprego é "um dos indicadores econômicos seguidos com maior atenção, mas tem desvantagens e limitações importantes

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Boletim 627/14 – Ano VI – 14/10/2014

Cálculos alternativos indicam desemprego maior Por Arícia Martins | De São Paulo O mercado de trabalho, segundo cálculos alternativos, mostra uma piora que vai além da alta de apenas 0,1 ponto na taxa de desemprego observada entre abril e agosto, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse período, o percentual de desocupados em relação à População Economicamente Ativa (PEA) subiu ligeiramente, de 4,9% para 5%.

Estudo da MCM Consultores aponta que existem mais pessoas ocupadas, mas que gostariam de trabalhar mais horas, assim como outras que estavam aptas a trabalhar, mas não têm procurado emprego recentemente. Nesses dois casos, a fatia de desempregados aumentaria para 6,5% e 7% em agosto, respectivamente, também incluindo os indivíduos considerados desocupados no conceito do IBGE. Na definição do órgão, uma pessoa é considerada desempregada apenas se procurou emprego no mês anterior à semana da pesquisa e estava disponível para assumir um trabalho.

Os cálculos não tradicionais para o desemprego, usados pela MCM, foram introduzidos pela primeira vez em 2012, em artigo do Banco Central intitulado "Going Deeper Into the Link Between the Labour Market and Inflation" ("Aprofundando a Ligação Entre Mercado de Trabalho e Inflação", em tradução livre).

Nele, o Banco Central afirma que a taxa de desemprego é "um dos indicadores econômicos seguidos com maior atenção, mas tem desvantagens e limitações importantes

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como medida do estado do mercado de trabalho". Para ir além do indicador do IBGE, os autores do artigo constroem taxas alternativas que teriam poder explicativo sobre a inflação "bastante superior" ao da taxa de desemprego tradicional. Por isso, dizem, esses índices precisam ser seguidos de perto pelos formuladores de política monetária.

Com base nos cálculos propostos pelo BC, a MCM apresenta a variação de quatro taxas alternativas ao desemprego "original". A que mais cresceu após os ajustes sazonais da consultoria foi a taxa "estrita", que engloba, além dos desocupados, trabalhadores considerados em situação de subocupação, porque gostariam de trabalhar mais horas semanais. Nessa esfera, a taxa de desemprego aumentou de 5,9% em abril para 6,5% em agosto.

Em seguida, aparece a taxa "ampla" de desemprego, que soma aos desempregados pessoas marginalmente ligadas à PEA, ou seja, que não trabalharam ou buscaram emprego no último ano, mas que estavam disponíveis para assumir um trabalho. Esse percentual passou de 6,6% para 7% em quatro meses. As outras medidas alternativas não variaram muito no período analisado. Em patamar menor, a taxa demográfica de desemprego, que calcula a proporção de desocupados sobre a População em Idade Ativa (PIA), era de 2,6% em abril e ficou em 2,8% em agosto. "O desempregado para o IBGE é alguém que tomou uma medida efetiva para procurar emprego, e por isso a taxa de desemprego deixa de incluir outras situações que também são ruins", diz a economista e autora dos cálculos Sarah Bretones. "No caso dos subocupados, por exemplo, sabemos que são empregos de pior qualidade", complementa. Segundo Sarah, o quadro observado até abril, no qual a redução da PEA mais do que compensava o recuo da população ocupada, já começou a ser revertido.

Em agosto, diz, a volta de pessoas à ativa como desocupadas e a alta no contingente dos marginalmente ligados à PEA indicam um ponto de inflexão no mercado de trabalho. Apesar disso, a economista afirma que o desemprego deve continuar baixo, levando em conta a restrição de oferta de trabalhadores qualificados e os altos custos para demitir e recontratar funcionários. A MCM projeta que a taxa de desemprego vai subir de 5,5% em 2014 para 5,7% em 2015.

O pesquisador Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), lembra que este ano foi atípico, devido à Copa do Mundo e às eleições. Sem esses dois eventos e o comportamento também pouco comum da PEA - que caiu 0,9% de janeiro a agosto sobre o mesmo período de 2013 - Moura avalia que o mercado de trabalho poderia ter mostrado piora mais relevante durante o ano.

Nas projeções do Ibre, a taxa média de desemprego deve encerrar 2014 em 5,1%, batendo novo recorde de baixa desde 2002, mas isso se deve basicamente à queda da força de trabalho, já que, segundo cálculos do instituto, a população ocupada nas seis principais regiões metropolitanas caiu 0,2% no ano terminado em agosto, em relação aos 12 meses anteriores.

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Daqui para frente, a expectativa dos especialistas do Ibre é que o desemprego aumente, ainda que de forma lenta e gradual. "Isso é inevitável. A economia está crescendo pouco já há algum tempo e o normal é que a geração de vagas seja cada vez menor", comenta Moura, que trabalha com desemprego médio em 5,7% no próximo ano.

Fator pouco afeta idade de aposentadoria Por Edna Simão | De Brasília Mesmo com a incidência do chamado "fator previdenciário", a idade média de aposentadoria por tempo de contribuição dos brasileiros continua baixa em relação a outros países. Em 1999, quando o fator foi criado, essa idade média era de 51,77 anos. Quinze anos se passaram e houve um aumento de apenas 2,5 anos para 54,27 anos em 2013. Na maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a idade mínima exigida é de 65 anos.

Sem um impacto forte no aumento da idade média de aposentadoria, o fim do fator previdenciário, uma demanda antiga das centrais sindicais e dos aposentados, ressurgiu com a disputa pela Presidência da República. Pelo menos, por enquanto, o candidato tucano Aécio Neves assumiu compromisso de discutir o assunto, caso seja eleito. A candidata petista Dilma Rousseff não deu sinais de que isso será negociado.

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Para tentar pressionar os candidatos, o presidente da Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos (Cobap), Warley Martins, disse ao Valor PRO que está tentando agendar reunião com os presidenciáveis para discutir o fim do fator previdenciário e criação de algo alternativo que não onere os trabalhadores no momento de sua aposentadoria.

Criado na gestão do ex-presidente do Fernando Henrique Cardoso no âmbito de uma reforma do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), realizada em 1998, o fator previdenciário tinha como objetivo substituir a falta de aprovação da idade mínima, que seria de 60 anos para homens e 55 anos para mulheres. O fator é resultado da combinação da idade, tempo de contribuição e a expectativa de vida.

Segundo dados do Ministério da Previdência Social, com a incidência do fator previdenciário no cálculo das aposentadorias, o governo conseguiu economizar R$ 42,7 bilhões (em valores nominais) entre 2000 a 2012, o que corresponde em média anual de R$ 3,55 bilhões. Por isso, a dificuldade de extinguir esse mecanismo sem que outro seja instituído.

Na avaliação de técnicos do governo e especialistas em Previdência Social, é impossível simplesmente extinguir o fator, sem que haja outro mecanismo de desincentivo à aposentadoria precoce, pois implicaria em forte aumento das despesas do governo com pagamento de aposentadorias.

Para o professor da Universidade de São Paulo (USP), Luis Eduardo Afonso, seria importante aproveitar o período eleitoral para discutir não só a incidência do fator previdenciário como o sistema previdenciário como um todo. Segundo o professor, a idade média das aposentadorias por tempo de contribuição tem crescido de forma lenta, mas isso não é culpa do fator previdenciário.

Na avaliação de Afonso é reflexo da inexistência da idade mínima e de continuar no mercado de trabalho mesmo recebendo aposentadoria. "Isso causa uma distorção", frisou. Atualmente, muitos brasileiros desvirtuaram o conceito da aposentadoria que vem se tornando para muitas famílias um complemento de renda.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Caetano, explicou que, apesar da incidência do fator não ter ajudado num aumento mais consistente da idade média de aposentadoria, impediu uma deterioração das contas públicas.

Caetano acredita que o fato de os trabalhadores permanecerem no mercado mesmo após solicitação de aposentadoria estimula o pedido precoce no benefício. Até porque muitos que estão nessa situação entraram com ações da justiça solicitando a desaposentação - incorporação ao benefício previdenciário das contribuições feitas pelo trabalhador ao valor da aposentadoria.

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A professora do departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB), Maria Lúcia Lopes da Silva, defendeu a substituição do fator previdenciário pela fórmula de cálculo 85/95 ou seja a aposentadoria passa a ser calculada quando a soma entre os anos de contribuição e a idade totalize 85 no caso das mulheres e 95 para os homens. Essa proposta, no entanto, chegou a ser discutida no Congresso Nacional, mas o debate, que contava com o apoio do governo da presidente Dilma Rousseff, não teve sucesso.

Recentemente, o secretário de Políticas de Previdência Complementar, Jaime Mariz, lembrou que a maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a idade mínima de aposentadoria é de 65 anos. "Estamos aposentando exageradamente cedo. Têm alguns Estados em que as pessoas pedem aposentadoria aos 48 anos", afirmou Faria, acrescentando que passadas as eleições é um debate que deveria ser feito pelo novo presidente.

Novos ajustes nas montadoras Por Eduardo Laguna | De São Paulo Desde o início do ano, o "layoff", mecanismo da legislação trabalhista que permite afastar operários da produção por até cinco meses, tem sido uma das principais ferramentas das montadoras para administrar o excesso de mão de obra e segurar empregos enquanto atravessam a zona de turbulência. Até o mês que vem, contudo, mais de 2 mil operários de linhas da Volkswagen e da Mercedes-Benz têm retorno ao trabalho previsto sem que o mercado tenha dado sinais consistentes de recuperação. Isso forçou as empresas a retornar às mesas de negociação com sindicatos para manter seus funcionários longe da produção por mais algum tempo.

Na fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais, no Paraná, a saída foi fazer um rodízio de trabalhadores em "layoff". Ontem, uma nova turma, de 422 funcionários, teve contratos de trabalho suspensos, em substituição a outro grupo de 400 operários que acaba de voltar à produção, informa o sindicato dos metalúrgicos da região. Procurada pelo Valor , a Volks confirmou o novo programa de "layoff", mas sem abrir número de funcionários envolvidos. O objetivo, diz, é "adequar a produção à demanda de mercado".

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Já na fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, no ABC, mais de mil operários voltariam do "layoff" no fim do mês que vem, mas a montadora de caminhões já fechou acordo trabalhista para manter esses trabalhadores em licença remunerada até abril.

Mais de 4 mil operários estão hoje afastados das montadoras em esquema de "layoff", incluindo 930 empregados da General Motors (GM) em São José dos Campos (SP) que tiveram contratos suspensos no mês passado. A adoção dessa ferramenta no parque industrial da GM em São Caetano do Sul, no ABC, também está em discussão, conforme informações do sindicato local, não comentadas pela empresa. Ao mesmo tempo, negociações estão em curso entre o sindicato dos metalúrgicos do ABC e a Volkswagen sobre o que fazer com a volta prevista para a próxima segunda-feira de quase 800 operários afastados, desde maio, da fábrica de São Bernardo.

Além da nova rodada de "layoffs", as empresas também estão concedendo férias para ajustar o ritmo das linhas. Ontem, Renault e Volks iniciaram as férias coletivas - de dez e vinte dias, respectivamente - de suas fábricas no Paraná. Na Renault, 10 mil veículos e 12 mil motores deixarão de ser produzidos. Já na fábrica da Volks, a parada envolve o primeiro turno de produção. O sindicato dos metalúrgicos de Curitiba, porém, adianta que há planos da montadora de também dar dez dias de férias ao segundo turno a partir de 3 de novembro.

Enquanto o país não encontra soluções mais flexíveis de proteção ao emprego, as férias e os "layoffs" estão entre as alternativas adotadas pelas empresas contra demissões em massa, mas não evitaram o corte de 9,3 mil vagas nas montadoras desde o início do ano. Acrescentando nessa conta as demissões na cadeia de suprimento, mais os "layoffs", as vagas eliminadas na indústria automobilística e de materiais de transporte chegam perto de 25 mil postos, mostra o Caged, onde estão registradas as contratações e demissões do mercado de trabalho formal.

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A ocupação nas montadoras já cai há onze meses seguidos (veja gráfico), numa crise que irradiou à indústria de autopeças, cujo faturamento cai 13,5% neste ano e a ociosidade nas fábricas passa de 32%, de acordo com o Sindipeças, entidade dos fabricantes de componentes automotivos. A Cummins, por exemplo, demitiu na última semana 80 funcionários da fábrica de motores a diesel em Guarulhos, na Grande São Paulo. Outra fabricante de propulsores, a MWM, cortou 179 postos de trabalho na fábrica de Canoas, no Rio Grande do Sul, segundo informações de sindicato. Nenhum porta-voz da MWM foi encontrado para comentar as demissões. A produção de veículos caiu quase 17% entre janeiro e setembro, como resultado do recuo de 9% do mercado e de 38,5% das exportações.

Decisão do TRT adia demissões na Deere Por Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4) suspendeu até o próximo dia 22 a demissão de 167 funcionários da fábrica de colheitadeiras da John Deere em Horizontina (RS), anunciada no início deste mês. Até lá, a empresa terá de negociar com o Sindicato dos Metalúrgicos da cidade "como esses desligamentos podem ser realizados com menos impacto na comunidade, ou se existe a possibilidade de reversão das dispensas", informou a Corte.

A liminar foi concedida na sexta-feira à noite pela vice-presidente do TRT4, desembargadora Ana Luiza Kruse, em atendimento à ação ajuizada pelo sindicato dos trabalhadores. A entidade alegou que a demissão "em massa" ocorreu sem negociação prévia com a categoria e pediu a anulação das dispensas até que a empresa abra uma negociação específica sobre o assunto.

Em nota, a fabricante informou que "respeitará o entendimento do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, no sentido de adiar temporariamente as homologações [das demissões] em pauta, para que haja maior tempo para possível negociação". A empresa afirmou, ainda, que "continua empenhada em trabalhar para permitir a viabilização de um possível acordo entre as partes".

Quando anunciou as demissões, que equivalem a quase 10% do quadro de cerca de 1,8 mil funcionários da fábrica de Horizontina, a John Deere disse que a decisão havia sido tomada para adequar a operação "à volatilidade do mercado brasileiro". Em agosto, outras 140 pessoas já haviam sido dispensadas na fábrica de colheitadeiras, mas na época a maior parte dos atingidos era formada por funcionários com contratos de trabalho com prazo determinado.

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Na decisão, a desembargadora Ana Luiza disse que, embora a empresa seja de grande porte, o volume de demissões anunciado neste mês é expressivo e tem repercussão social, porque a cidade fica distante de outros polos industriais.

Volume de processos tem aumentado número de licença s médicas de juízes Por Adriana Aguiar | De São Paulo A imposição de metas e a implantação do processo eletrônico no Judiciário têm gerado mais do que estresse e cansaço em juízes e servidores. Segundo pesquisas recentes, o aumento de trabalho tem repercutido na saúde física e mental desses profissionais.

Hoje, os juízes trabalham em média mais de nove horas por dia e mesmo assim não conseguem dar conta do volume de trabalho, de acordo com o censo do Poder Judiciário, realizado no segundo semestre de 2013 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com 10.796 magistrados.

A carga horária tem sido ainda mais pesada na Justiça Trabalhista, conforme levantamento da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra), realizado em 2011 com 706 juízes. Pelo estudo, 45% dos magistrados vão dormir depois da meia-noite e 17,9% se levantam antes das 5 horas por causa do trabalho. Além disso, 64,3 % trabalham nas férias e 70,4% nos fins de semana mesmo estando muito cansados.

O excesso de jornada, segundo a pesquisa, tem desencadeado problemas de saúde à categoria. O estudo da Anamatra mostra que 33,2% dos juízes ouvidos estiveram de licença médica no último ano (entre 2010 e 2011). Do total, 41,5% alegam ter diagnóstico médico de depressão e 53,5% afirmam que dormem mal. Desses, 17,5% dos magistrados faziam uso de medicamentos para depressão e ansiedade, um número maior do que de médicos e agentes comunitários de saúde em Belo Horizonte.

Para o presidente da Anamatra, Paulo Luiz Schmidt, os dados são alarmantes em relação aos males causados por estresse e o desenvolvimento de doenças ocupacionais e que devem ter piorado ainda mais nos últimos anos com a intensificação da implantação do processo eletrônico. "Há ainda um grau de tendência ao suicídio altíssimo entre juízes em geral", diz. Com base nisso, a entidade deve pleitear no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) uma espécie de "flexibilização" das metas para o ano que vem, que leve em consideração a preservação da saúde.

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A Anamatra já apresentou uma proposta aos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) para a criação de uma meta de redução dos fatores de estresse ocupacional e de risco à saúde de magistrados. No dia 24 de setembro, porém, durante a reunião preparatória para o 8º Encontro Nacional do Poder Judiciário - que será dia 10 e 11 de novembro em Florianópolis (SC) e deliberará sobre as novas metas para o Poder Judiciário - a maioria dos representantes dos TRTs foi contrária à proposta. Após isso, a Anamatra divulgou nota afirmando que pretende levar mesmo assim a questão ao CNJ e proporá a discussão em assembleias regionais

para debater o tema. Segundo a nota assinada pelo presidente da Anamatra, "é incompreensível que o mesmo segmento Judiciário que opera a proteção da dignidade no trabalho à cidadania, inclusive no que diz respeito à saúde e segurança, não tenha a mesma preocupação com os seus próprios magistrados. Só a lógica da produtividade desenfreada, infelizmente estimulada pelo CNJ, sem respeito aos limites humanos pode explicar insensatez de tal envergadura."

A reclamação sobre o excesso de trabalho também tem crescido na Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), segundo a vice-presidente de prerrogativas da entidade, Hadja Rayanne Holanda de Alencar. "As doenças desencadeadas por estresse têm se acentuado significativamente", afirma. Para ela, a carga do magistrado está realmente pesada. São seis mil processos por juiz, de acordo com o CNJ. "Os juízes que não cumprem as metas estão sendo penalizados por isso. E mesmo com o aumento de produtividade, ainda são cerca de 95 milhões de ações no país."

Para o presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), César Bochenek, o surgimento de doenças ocupacionas tem sido muito comum entre juízes e servidores após a implantação do processo eletrônico porque todos acabam ficando muitas horas na frente do computador. De acordo com ele, isso tem prejudicado a visão e gerado lesões por esforço repetitivo, pelo uso do mouse. "Enfim, eu mesmo sou exemplo disso. Já tive tendinite e há dois anos fiz cirurgia para corrigir uma hérnia de disco."

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Bochenek, que atua como desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, no Rio Grande do Sul, afirma que o tribunal já tomou algumas providências para prevenir esses problemas. Entre elas, a instalação de um programa no computador que trava de tempos e em tempos para que o juiz ou servidor se lembre de dar uma pausa no trabalho. Houve também a instalação, segundo o magistrado, de equipamentos ergonômicos, pensando na saúde dos que atuam por lá. "Acredito que outros tribunais tenham tomado medidas semelhantes", diz.

Procurado pelo Valor , o CNJ não retornou até o fechamento da reportagem.

Processo eletrônico é uma das causas do problema Por Adriana Aguiar | De São Paulo Os servidores da Justiça também alegam estar adoecendo por excesso de trabalho. Dos 1.097 servidores da Justiça Federal do Rio de Janeiro entrevistados neste ano pelo Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro (Sisejufe), 61% afirmaram que tiveram aumento na quantidade de trabalho de três anos para cá.

Do total, 74% dos servidores afirmaram que sua atividade sempre ou quase sempre exige movimentos repetitivos e 71% disseram estar em posições desconfortáveis no ambiente de trabalho. Em consequência disso, 59% alegaram ter feito algum tratamento de saúde no último ano.

Esse mesmo levantamento, aplicado em 2011 a 6.273 servidores da Justiça do Rio Grande do Sul, também já apontava que 58,6% percebiam um aumento no volume de trabalho após o processo eletrônico. O impacto podia ser sentido na saúde desses servidores: 61,5% tinham passado por tratamento de saúde no último ano e 24,7% fizeram tratamento psicológico. Além disso, 31,8% apresentaram alguma alteração que pode ser considerada indício de distúrbio psiquiátrico. O levantamento foi realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal (Sintrajufe) no Rio Grande do Sul.

De acordo com Mara Weber, coordenadora-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fejajufe), que reúne os sindicatos de servidores, há casos de pessoas que, na transição do processo em papel para o eletrônico, desenvolveram distúrbios psíquicos menores. "Não somos contra a implantação de novas tecnologias, mas contra a forma como isso tem sido estruturado no Poder Judiciário", diz. Para ela, essa transformação não foi precedida de nenhum estudo ergonômico. "É uma experiência completamente nova, sem precedentes no mundo."

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Com o processo eletrônico, os advogados agora podem dar entrada no processo em qualquer hora do dia. Automaticamente, o relator do processo é designado e toda a movimentação processual passa a ser mais rápida e os servidores não conseguem dar conta dessa demanda, segundo Mara. "Os tempos compreendidos como mortos não existem mais. No exato instante em que o advogado protocola a entrada do processo, ele já está na vara federal", afirma. Para ela, "a ferramenta com certeza ajuda a agilizar, mas o ser humano não é uma máquina que trabalha 24 horas por dia".

Destaques Greve no Banco Central Menos de um mês depois de sua última paralisação, os técnicos do Banco Central (BC) anunciaram nova greve, que começou ontem. O tempo de parada será de 72 horas. Esta será a quinta vez que os funcionários suspendem suas atividades neste ano. Segundo o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos do Banco Central (SinTBacen), Willekens Brasil, a ideia é forçar a demanda pela modernização da carreira, já que não há indícios de avanço das negociações anteriores. (Eduardo Campos)

Justiça gratuita

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) acolheu recurso da Braskem e indeferiu a gratuidade judiciária ao Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Químico e Petroleiro do Estado da Bahia. Com a decisão, a Subseção I Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) declarou a deserção do recurso ordinário apresentado pela entidade, pelo não recolhimento das custas do processo, restabelecendo a sentença que julgou a improcedência da ação. O sindicato havia alegado que não tinha condições financeiras para arcar com mais de 200 novas ações, cujas custas giram em torno de R$ 200 reais cada uma, sem prejuízo de sua própria existência. A entidade havia entrado com uma única ação em nome de um grande número de trabalhadores, mas o processo foi desmembrado entre as varas do Trabalho de Camaçari e Candeias (BA). A justiça gratuita foi deferida em segunda instância e mantida pela 3ª Turma do TST. No julgamento de embargos à SDI-1, o relator, ministro Aloysio Corrêa da Veiga, votou, porém, pelo indeferimento da gratuidade judiciária, pela ausência de demonstração cabal da condição de miserabilidade do sindicato.

(Fonte: Valor Econômico dia 14-10-2014).

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Mais sinais de estagnação do mercado de trabalho Principal trunfo eleitoral da presidente Dilma Rousseff na luta pela reeleição, o emprego dá sinais de declínio e tende a piorar, segundo o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) e o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), pesquisados mensalmente pela FGV. O economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, responsável pelos indicadores, observou que os resultados são consequência direta da tendência de estagnação dos negócios - a última pesquisa Focus feita sexta-feira pelo Banco Central mostrou que os agentes econômicos preveem crescimento de apenas 0,28% do PIB neste ano. Os dois índices de emprego da FGV tomam por base três séries da Sondagem da Indústria, três da Sondagem do Setor Serviços e uma da Sondagem de Expectativas do Consumidor. Baseiam-se, portanto, nas tendências de emprego refletidas nesses levantamentos, na situação atual e nas perspectivas dos negócios e nas expectativas em relação ao mercado de trabalho. Nos últimos 12 meses, o melhor resultado apresentado pelo IAEmp ocorreu em dezembro, com 86,9 pontos. O índice vem recuando sem parar a partir daí, até chegar aos 71,6 pontos, em setembro, queda de 15,3 pontos ou 17,6%. O índice de setembro também foi o menor desde maio de 2009, um ano de recessão. O pessimismo com o emprego alcançou o setor de serviços, que continua contratando, mas em ritmo cada vez menos intenso. Segundo o IAEmp, "a contínua redução nas projeções de contratações futuras mostra que o desânimo em relação ao crescimento do PIB e da atividade econômica está se disseminando em ritmo mais forte no mercado de trabalho". Quanto ao desemprego, o ICD registrou a sexta alta consecutiva, com aumento de 1,4% entre agosto e setembro. Ou seja, a situação do emprego se deteriora. Ao contrário do que possa parecer, não há conflito entre as tendências captadas pelos indicadores da FGV e os números do IBGE, que mostram o nível de emprego muito alto. A diminuição da População em Idade Ativa (PIA) que procura emprego fez cair também a População Economicamente Ativa (PEA). Como é calculado com base na PEA, quando esta se reduz, o nível de emprego pode melhorar mesmo sem a abertura de nenhum posto de trabalho. Com a inflação em alta e a renda em queda, é provável que quem podia trabalhar, mas não o fazia, passe a procurar emprego - o que aumentará a PEA e o número de desempregados, piorando as estatísticas. (Fonte: Estado de São Paulo dia 14-10-2014).

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Justiça dá licença-maternidade a pai solteiro que a dotou garoto de 4 anos Tribunal Regional Federal decidiu que criança tinha direito a cuidado extra por 180 dias DHIEGO MAIADE SÃO PAULO Um menino debilitado, de olhar caído e coberto de feridas da cabeça aos pés hipnotizou o servidor público Mauro Bezerra, 49, durante uma visita a um abrigo de Garanhuns (a 232 km do Recife). Foi ali que ele decidiu: João (nome fictício) seria seu primeiro filho e teria os mesmos direitos de qualquer outra criança adotada no país. Onze meses depois, o garoto de quatro anos ganhava um sobrenome e uma casa. Mas o pai, que é solteiro, queria mais do que ter um filho. Ele queria criá-lo. Depois de ter o pedido negado pela Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), onde trabalha há 20 anos, decidiu recorrer à Justiça para obter licença remunerada de 180 dias. "Nunca tinha tempo para conhecer o meu filho, trabalhava o dia inteiro. Quando o pegava na escola, ele já estava dormindo. Continuávamos dois estranhos dentro de casa", conta. Como servidor público, Bezerra está submetido a uma lei que concede período de afastamento só às mães. Os pais ganham no máximo cinco dias de licença. Em paralelo à lei, no entanto, a Justiça já havia concedido os 180 dias de licença a mães solteiras e casais homoafetivos que adotavam crianças recém-nascidas. Para o caso de Bezerra, pai solteiro de uma criança que já não era mais recém-nascida, não havia jurisprudência. "A lei ainda acha que apenas o recém-nascido adotado precisa de maior cuidado e se esquece daquele que é adotado tardiamente. João carregava traumas da rejeição, de uma família desestruturada", disse Leilane Mara, advogada do servidor. Desde 30 de setembro, ele é o primeiro servidor solteiro no país a conquistar esse benefício na Justiça Federal. O juiz federal Bernardo Ferraz, do Tribunal Regional Federal da 5º Região (TRF-5), afirma que concedeu a liminar amparado pela Constituição. "Não se pode diferenciar filhos adotivos dos biológicos. Nesse caso, o servidor é pai e mãe do menor e é dele que vem toda a dedicação a essa criança", afirmou. "Eu sabia que o direito do João existia. E fui atrás. Esses seis meses não são para mim, mas para a criança. Eu acho que o nome do benefício deveria mudar de licença-maternidade para licença-infância", diz o pai. Com mais tempo para João, o servidor público diz que o filho é outra criança. "O João está mais calmo, consegue socializar bem com os colegas da escola. Hoje já me chama de pai", diz. No futuro próximo, o servidor prevê aumentar a família, com um irmão mais novo para João. Mas, antes, diz o servidor, um desafio precisa ser superado. "Eu adotei o João ali, naquele primeiro encontro. Agora, preciso ser adotado como pai." (Fonte: Folha de São Paulo dia 14-10-2014).

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Caso não haja interesse em continuar recebendo esse boletim, favor enviar e-mail para [email protected] , solicitando exclusão.