claudio sipert o problema da realidade objetiva da .immanuel kant ( fundamentação da ... a...
Post on 09-Nov-2018
212 views
Embed Size (px)
TRANSCRIPT
CLAUDIO SIPERT
O PROBLEMA DA REALIDADE OBJETIVA DA IDIA DO SUMO BEM EM
KANT
Dissertao de Mestrado apresentada ao Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Estadual de Campinas sob a orientao do Prof. Dr. Zeljko Loparic.
Este exemplar corresponde redao final da Dissertao defendida e aprovada pela Comisso Julgadora em 28 / 02 / 2008.
BANCA
Prof. Dr. Zeljko Loparic (orientador)
Prof. Dr. Orlando Bruno Linhares
Prof. Dr. Luiz Paulo Rouanet
Profa. Dra. Yara Adrio Frateschi (suplente)
Prof. Dr. Daniel Omar Perez (suplente)
FEVEREIRO/2008
2
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO IFCH - UNICAMP
Ttulo em ingls: The problem of the objective reality of the highest good idea.
Palavras chaves em ingls
(keywords) :
rea de Concentrao: Filosofia Titulao: Mestre em Filosofia Banca
examinadora: Data da defesa: 28-02-2008
Programa de Ps-Graduao: Mestrado em Filosofia
Kant Reason Semantics Ethics
Zeljko Loparic, Orlando Bruno Linhares, Luiz Paulo Rouanet, Yara Adrio Frateschi, Daniel Omar Perez
Sipert, Claudio Si74p O problema da realidade objetiva da idia do sumo bem em
Kant / Cludio Sipert. - - Campinas, SP : [s. n.], 2008. Orientador: Zeljko Loparic. Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas.
1. Kant, Immanuel, 1724-1804. 2. Razo. 3. Semntica. 4. tica. I. Loparic, Zeljko, 1939-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Cincias Humanas. III.Ttulo. (mf/ifch)
3
RESUMO
O objetivo deste trabalho abordar o problema da realidade objetiva da idia
do sumo bem na filosofia prtica kantiana. Na Crtica da Razo Prtica, a idia do
sumo bem representa o objeto necessrio de uma vontade moralmente determinada e,
por conseguinte, a razo nos leva a procurar pelas condies de possibilidade do seu
objeto. Diante da impossibilidade de um objeto correspondente ao sumo bem na
experincia, a realidade objetiva desse conceito parece ser possvel somente se
assumirmos um ponto de vista transcendente, onde o postulado da existncia de Deus
pensado como condio de possibilidade do sumo bem, seja para pens-lo como
possvel numa vida aps a morte ou num mundo criado em conformidade com uma
ordem teleolgica moral. Entretanto, com o postulado da existncia de Deus
ultrapassamos o campo da experincia possvel que, de acordo com Kant, o domnio
onde a realidade objetiva de um conceito puro tem de ser provada. Assim sendo, a
idia do sumo bem permanece um conceito transcendente e sem realidade objetiva.
Buscaremos uma soluo para o problema levantado, pelo vis da semntica
transcendental, proposta por Loparic, que consiste em perguntar pelo sentido e pela
referncia dos conceitos e juzos num domnio de dados sensveis.
Palavras-chave: Kant, razo prtica, semntica transcendental, sumo bem, natureza
humana
4
ABSTRACT
The objective of this work is to approach the problem of the objective validity
of the idea of the highest good in the kantiana practical philosophy. In Critical of the
Practical Reason, the idea of the highest good is represented as necessary object of a
will morally determined and, therefore, the reason take us to look for the conditions
of possibility of its object. Ahead of the impossibility of a corresponding object to the
highest good in the experience, the objective reality of this concept only seems to be
possible to assume a point of view transcendent, where the postulate of the existence
of God is thought as condition of possibility of the highest good, either to think the
highest good possible about a life after the death or a world created in compliance
with a moral teleologic order. However, with the postulate of the existence of God we
exceed the field of the possible experience that, in accordance with Kant, is the
domain where the objective reality of a pure concept has of being proven. Thus being,
the idea of the highest good remains a concept transcendent and without objective
reality. We will search a solution for the problem raised, for the bias of the
transcendental semantics, proposal for Loparic, that consists of asking for the
direction and the reference of the concepts and judgments in a domain of sensible
data.
Key-words: Kant, practical reason, transcendental semantics, highest good, human
nature
5
AGRADECIMENTOS
Agradeo a meus pais que se fizeram presentes e foram meus pastores no
momento em que precisei de cuidado.
No poderia deixar de mencionar o professor Daniel Omar Perez, que nem
imagina o quanto o seu apoio como professor e amigo foi importante para mim nessa
caminhada.
Quero expressar o meu sentimento de gratido ao professor Zeljko Loparic, a
quem devo muito pela realizao desse trabalho. Agradeo pela sua pacincia comigo
e pelas questes colocadas de um modo que me fez progredir na pesquisa.
Tambm agradeo Francieli por sua disposio em revisar o texto.
Por fim, Capes pela bolsa concedida durante o perodo de realizao da
pesquisa.
6
A boa vontade no boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptido para alcanar qualquer finalidade proposta, mas to somente pelo querer, isto , em si mesma, e, considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto do que tudo o que por seu intermdio possa ser alcanado [...]. Ainda mesmo que por um desfavor especial do destino, ou pelo apetrechamento avaro duma natureza madrasta, faltasse totalmente a esta boa vontade o poder de fazer vencer as suas intenes, mesmo que nada pudesse alcanar a despeito dos seus maiores esforos, e s afinal restasse a boa vontade ( claro que no se trata aqui de um simples desejo, mas sim do emprego de todos os meios de que as nossas foras disponham), ela ficaria brilhando por si mesma como uma jia, como alguma coisa que em si mesma tem o seu pleno valor.
Immanuel Kant (Fundamentao da
Metafsica dos Costumes, BA 3)
7
SUMRIO
INTRODUO............................................................................................................9
1. A SEMNTICA TRANSCENDENTAL COMO TEORIA DE RESOLUO
DOS PROBLEMAS DA RAZO PURA.............................................................17 1.1. A semntica transcendental e a significao dos conceitos e juzos da
razo pura...................................................................................................19
1.2. A semntica dos conceitos no domnio prtico.........................................26 1.3. A natureza humana como domnio de interpretao e aplicao dos
conceitos prticos puros.............................................................................32 2. A ORIGEM DA IDIA DO SUMO BEM E O PROBLEMA DA SUA
REALIDADE OBJETIVA NA FILOSOFIA KANTIANA................................37 2.1. A idia do sumo bem na primeira Crtica.................................................38
2.2. O sumo bem na Crtica da Razo Prtica..................................................44
2.2.1. A dialtica na relao entre virtude e felicidade e os postulados
da razo prtica...........................................................................50
2.3. A idia de sumo bem na terceira crtica....................................................55 3. A NATUREZA HUMANA COMO DOMNIO DE INTERPRETAO E
SENTIDO DA IDIA DO SUMO.........................................................................62
3.1. A idia de um reino dos fins.....................................................................65
3.2. A promoo do carter moral na Religio................................................74
3.3. A exeqibilidade de uma comunidade tica na Doutrina da Virtude.......86
8
3.3.1. A possibilidade de uma aproximao ao sumo bem..................96 3.4. Aplicao da idia do sumo bem natureza humana.............................101
3.4.1. Resposta s objees de Albrecht............................................118 CONCLUSO..........................................................................................................123
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................126
9
INTRODUO
Ao empreender uma crtica da razo Kant depara-se com certos problemas
procedentes do uso puro da razo no uso discursivo dos conceitos, percebendo que
a razo humana, num determinado domnio de seus conhecimentos, possui o singular destino de se ver atormentada por questes, que no pode evitar, pois lhe so impostas pela sua natureza, mas s quais tambm no pode dar resposta por ultrapassarem completamente as suas possibilidades (Kant, CRP, A VII).1
Trata-se de conceitos (idias transcendentais) dados pela necessidade que a
razo tem de pensar a totalidade incondicionada para todo o condicionado. Ao
estender-se para alm dos limites da experincia possvel, a razo nos fornece
conceitos (idias transcendentais) para os quais no h um obj