classificaÇÃo da - core · 2016. 8. 22. · (dac) usando um total de 357 características...
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CLASSIFICAÇÃO DA
ESTEATOSE HEPÁTICA
USANDO IMAGENS
ECOGRÁFICAS
Andreia Andrade Santos
Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra
Dissertação apresentada à Universidade de Coimbra para cumprimento dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Biomédica, realizada sob orientação
do Dr. José Silvestre Silva e do Dr. Jaime Santos
Setembro, 2012
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CLASSIFICAÇÃO DA
ESTEATOSE HEPÁTICA
USANDO IMAGENS
ECOGRÁFICAS
Andreia Andrade Santos
Coimbra, 2012
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
i
AGRADECIMENTOS
O meu principal agradecimento vai para a minha irmã, foste tu, a pessoa que mais me
incentivou este ano, a maturidade que revelaste ter foram lufadas de ar fresco por cada linha
escrita e apagada, por cada momento de desespero e de alegria. Mais forte do que um elo
familiar e sobre a montanha da Serra da Estrela de onde se avista de tudo um pouco, foste tu que
soubeste dizer sim e não na altura certa, foi em ti que fui buscar força para este trabalho.
Manita, um muito obrigado!
Depois, agradeço aos meus pais, que sempre acreditaram e mim e permitiram este meu percurso
académico, que me forneceram os bons livros que hoje consulto, que me educaram e me
ensinaram a valorizar preceitos da vida.
À minha amiga Daniela que me acompanhou durante todo este meu percurso universitário que
em muito contribui para a minha formação como pessoa.
Ao meu amigo Manel, porque há aqueles que se sente que ficam para sempre, tu és uma dessas
pessoas.
Ao meu coordenador José Silvestre Silva e, ao qual, não poderei deixar de fazer uma vénia e dar
um aplauso à excelente coordenação do meu trabalho. Sempre com sugestões pertinentes que
me direcionaram na concretização do mesmo.
Ao meu coordenador Jaime Santos, mesmo que numa atitude mais reservada, mostrou um
grande sentido de cooperação com este trabalho.
Ao Dr. Pedro Belo pela flexibilidade que mostrou e disponibilidade manifestada no
esclarecimento de qualquer dúvida sem o qual não seria possível a realização deste trabalho.
Aos meus colegas de curso devido ao sentido de entreajuda permitindo alcançar este objectivo
em comum.
E claro, como não poderia deixar de o ser, a todas as pessoas associadas aos Bombeiros
Voluntários de Folgosinho, do qual não vou enumerar nomes, porque todos, sem excepção,
revelaram grande sentido de camaradagem dando vozes de ordem que fazem falta quando se
rasteja pelo chão…
A todos, um muito obrigado!
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
ii
SUMÁRIO
A esteatose é uma patologia a nível do fígado caracterizada por um excesso de gordura.
Técnicas imagiológicas como ressonância magnética, tomografia axial computorizada, biópsia e
ultrassonografia (US) são usadas na identificação desta patologia, sendo a modalidade de US a
técnica mais comum na avaliação desta condição patológica. Este método de diagnóstico é
contudo extremamente dependente da percepção visual dos clínicos especialistas pois trata-se de
uma análise puramente qualitativa. Devido a esta dificuldade análises quantitativas de imagens
obtidas por US têm sido sugeridas. Neste trabalho foram desenvolvidos três modelos
independentes que providenciam uma “segunda opinião” aos clínicos revelando a presença ou
ausência de esteatose. Estes três modelos baseiam-se nas diferenças de padrão existentes a nível
do parênquima hepático, na diferença de ecogenicidade entre fígado e rim e na atenuação das
ondas acústicas ao longo da profundidade. O primeiro modelo estudado, a análise do padrão, foi
conseguido pelo desenvolvimento de um sistema de Diagnóstico Assistido por Computador
(DAC) usando um total de 357 características provenientes de fontes diferentes, cinco
classificadores, um selector de características e um algoritmo de fusão de classificadores. O
comportamento do sistema DAC para novas amostras foi determinado por dois parâmetros:
precisão e área por debaixo da curva ROC. O segundo modelo analisa as ecogenicidades entre o
parênquima hepático e córtex renal para calcular um quociente que expressa o coeficiente
hepatorrenal (CH). O objectivo desse modelo é encontrar um limiar acima do qual a amostra é
considerada esteatótica e abaixo do qual é considerada normal. Finalmente, o terceiro modelo de
análise consistiu no estudo de um coeficiente de atenuação (CA) calculado de forma semelhante
ao CH usando desta vez regiões correspondentes unicamente ao fígado.
Adicionalmente foram estudadas diferenças no comportamento destes três modelos entre dois
conjuntos de imagens em que um deles é caracterizado pela livre manipulação de parâmetros
pertencentes à imagem de US e o outro é descrito por manter estes mesmos parâmetros numa
escala fixa.
Palavras-Chave:
Esteatose, Sistema de Diagnóstico Assistido por Computador, Coeficiente de Atenuação,
Coeficiente Hepatorrenal.
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
iii
ABSTRACT
Fatty liver or steatosis is a liver pathology characterized by an accumulation of fat within liver
cells. Imaging techniques such as Magnetic Resonance Imaging, Computed Axial Tomography,
Ultrasound (US) and biopsy have been used to identify this clinical condition. US is the most
common technique in the evaluation of this pathological condition. However, US is a diagnosis
method highly dependent on the clinician’s visual perception. Such complication has led to the
development of a quantitative analysis in echographic images. In this work we developed three
independent models that provide a "second opinion" to the clinicians about the presence or the
absence of steatosis. These steatosis evaluation models were based on the: pattern differences of
the hepatic parenchyma, acoustic wave’s attenuation and echogenicity differences between liver
and kidney.
The first model, the pattern analysis, was carried out by a Computer-aided Diagnosis (CAD)
using 357 features from different sources, five classifiers, a feature selector and a classifier
fusion methodology. The analysis of the CAD system is provided by two parameters: accuracy
and area under the ROC curve. The second model has provided information about the
echogenicity difference between hepatic parenchyma and renal cortex named hepatorenal
coefficient (HC). The HC was estimated by dividing the average of the gray levels in the hepatic
zone by the average of the gray levels in the renal cortex area. Finally, the third model was
given by the attenuation coefficient (AC) similar to the HC with the particularity of studying
distinctive liver areas.
Furthermore, we studied differences in the behavior of these models between two independent
sets of images. The first image set was acquired by free manipulation of US image parameters
and the second image set was described by maintaining the same parameters on a fixed scale
over all the examinations.
Keywords: Steatosis, Computer-aided Diagnosis, attenuation coefficient, hepatorrenal
coefficient
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
iv
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... i
SUMÁRIO .................................................................................................................................... ii
ABSTRACT ................................................................................................................................. iii
ÍNDICE ........................................................................................................................................ iv
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. vi
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... viii
LISTA DE ABREVIATURAS ..................................................................................................... x
I. Introdução ............................................................................................................................. 1
I.1 Contextualização ........................................................................................................... 2
I.2 Objectivos ..................................................................................................................... 2
I.3 Organização do trabalho ................................................................................................ 3
II. A esteatose e suas técnicas de diagnóstico ............................................................................ 5
II.1 Anatomia e Fisiologia do fígado ................................................................................... 6
II.2 A esteatose .................................................................................................................... 7
II.3 Técnicas de Diagnóstico da esteatose ........................................................................... 9
II.3.1 Biópsia ................................................................................................................. 10
II.3.2 Tomografia axial computorizada ......................................................................... 11
II.3.3 Ressonância magnética ....................................................................................... 12
II.3.4 Ultrassons ............................................................................................................ 12
III. Ultrassons e esteatose ..................................................................................................... 17
III.1 Análise qualitativa ....................................................................................................... 18
III.2 Análise quantitativa ..................................................................................................... 20
IV. Metodologia .................................................................................................................... 23
IV.1 Características das imagens ......................................................................................... 24
IV.2 Características da população em estudo ...................................................................... 24
IV.3 Processos de análise da esteatose ................................................................................ 24
V. Descrição dos métodos de análise ....................................................................................... 29
V.1 Análise textural ........................................................................................................... 30
V.1.1 Extração de características .................................................................................. 30
V.1.1.1 Estatística de primeira ordem .......................................................................... 30
V.1.1.2 Estatística de segunda ordem .......................................................................... 33
V.1.1.3 Estatística de ordem superior .......................................................................... 38
V.2 Algoritmos de aprendizagem automática .................................................................... 43
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
v
V.2.1 Redes Neuronais Artificiais................................................................................. 44
V.2.2 Máquina de Vector Suporte ................................................................................. 46
V.2.3 K-vizinhos mais próximos .................................................................................. 47
V.2.4 Classificador de Bayes ........................................................................................ 47
V.2.5 Árvore de decisão ................................................................................................ 48
V.3 Estratégia para melhorar o sistema de classificação ................................................... 49
V.3.1 Selecção de características .................................................................................. 49
V.3.2 Combinação de Classificadores........................................................................... 50
V.4 Análise do desempenho dos classificadores ................................................................ 52
V.5 Validação do sistema DAC ......................................................................................... 53
V.6 Diferenças de ecogenicidade entre fígado e rim ......................................................... 54
V.7 Atenuação da onda de US ao longo do parênquima hepático ..................................... 55
VI. Resultados ....................................................................................................................... 57
VI.1 Diagnóstico Assistido por Computador ...................................................................... 58
VI.1.1 Primeiro conjunto de imagens- ajuste dos parâmetros de US ............................. 58
VI.1.2 Segundo conjunto de imagens- parâmetro de US fixos ....................................... 63
VI.2 Análise do Coeficiente Hepatorrenal .......................................................................... 66
VI.2.1 Primeiro conjunto de imagens- ajuste dos parâmetros de US ............................. 66
VI.2.2 Segundo conjunto de imagens- parâmetro de US fixos ....................................... 69
VI.3 Análise da atenuação ................................................................................................... 73
VI.3.1 Primeiro conjunto de imagens- ajuste dos parâmetros de US ............................. 73
VI.3.2 Segundo conjunto de imagens- parâmetro de US fixos ....................................... 75
VII. Conclusão ........................................................................................................................ 79
VII.1 Considerações finais .................................................................................................... 80
VII.2 Desenvolvimentos futuros ........................................................................................... 82
Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 84
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Representação do fígado visto do plano anterior (a), posterior ( b) e inferior (c) ......... 6
Figura 2- Imagem de US do parênquima hepático e rim influenciada por uma sombra (marcas a
cor de laranja) possivelmente causada por uma costela .............................................................. 14
Figura 3- Equipamento de US semelhante ao usado neste trabalho: GE Logic E9..................... 15
Figura 4- Imagens representativas de fígado normal (a) e b) e fígado esteatótico (c) e (d) ........ 19
Figura 5- Fígado normal visto do um plano de corte sagital (a) e de um plano intercostal direito
(b) onde estão representadas as ROIs extraídas para o cálculo do CH (N.º1 e 2), do CA (N.º 3 e
4) e da análise textural (N.º 5,6,7 e 8). ........................................................................................ 27
Figura 6 – Metodologia de classificação ..................................................................................... 27
Figura 7- Imagem de teste ........................................................................................................... 33
Figura 8- GLCM generalizada .................................................................................................... 34
Figura 9- GLCM para d=1 e θ=0° ............................................................................................... 34
Figura 10- GLCM para d=1 e θ=45° ........................................................................................... 34
Figura 11- GLCM para d=1 e θ=90° ........................................................................................... 35
Figura 12- GLCM para d=1 e θ=135° ......................................................................................... 35
Figura 13- Imagem com níveis de cinzento ................................................................................ 38
Figura 14- GLRLM da Imagem apresentada na Figura 13 para direcção =0° .......................... 38
Figura 15- Representação dos valores de precisão influenciados pelo método de regressão
stepwise para o primeiro conjunto de imagens ........................................................................... 61
Figura 16- Representação dos valores de AUC influenciados pelo método de regressão stepwise
para o primeiro conjunto de imagens .......................................................................................... 61
Figura 17- Representação dos valores de precisão influenciados pelo método de regressão
stepwise para o segundo conjunto de imagens ............................................................................ 64
Figura 18- Representação dos valores de AUC influenciados pelo método de regressão stepwise
para o segundo conjunto de imagens ........................................................................................... 65
Figura 19- Diagrama de caixa de bigodes referentes ao coeficiente hepatorrenal para o primeiro
conjunto de imagens .................................................................................................................... 67
Figura 20- Representação da curva ROC do coeficiente hepatorrenal onde é visível a localização
do ponto de corte (valor que fornece uma melhor separabilidade de classes) no primeiro
conjunto de imagens .................................................................................................................... 68
Figura 21- Diagrama de caixa de bigodes referentes ao coeficiente hepatorrenal para o segundo
conjunto de imagens .................................................................................................................... 70
Figura 22 - Análise da curva ROC para o coeficiente hepatorrenal onde é apresentado a
localização do ponto de corte (valor que fornece uma melhor separabilidade de classes) e a
curva ROC para um classificador aleatório no segundo conjunto de imagens ........................... 71
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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Figura 23- Diagrama de caixa de bigodes referentes ao coeficiente de atenuação para o primeiro
conjunto de imagens .................................................................................................................... 73
Figura 24- Análise da curva ROC para o coeficiente hepatorrenal onde é apresentado a
localização do ponto de corte (valor que fornece uma melhor separabilidade de classes) e a
curva ROC para um classificador aleatório no primeiro conjunto de imagens ........................... 74
Figura 25- Diagrama de caixa de bigodes referentes ao coeficiente de atenuação para segundo
conjunto de imagens .................................................................................................................... 75
Figura 26- Análise da curva ROC para o coeficiente hepatorrenal onde é apresentado a
localização do ponto de corte (valor que fornece uma melhor separabilidade de classes) e a
curva ROC para um classificador aleatório no segundo conjunto de imagens ........................... 76
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Características extraídas usando a GLRLM ................................................................ 39
Tabela 2- Lista das máscaras de Laws de 5×5 (kernel 2-D) ....................................................... 41
Tabela 3- Máscaras de Laws 5×5 possíveis ................................................................................ 42
Tabela 4- Definições dos conceitos VP,FN, FP e VN ................................................................. 52
Tabela 5- Valores de Precisão e AUC para cada um dos conjuntos de características para o
primeiro conjunto de imagens ..................................................................................................... 59
Tabela 6- Valores de Precisão e AUC todos os conjuntos de características para o primeiro
conjunto de imagens .................................................................................................................... 60
Tabela 7- Desempenho dos métodos de fusão dos classificadores para o primeiro conjunto de
imagens ....................................................................................................................................... 62
Tabela 8- Valores de Precisão e AUC para todos os conjuntos de características para o segundo
conjunto de imagens .................................................................................................................... 63
Tabela 9- Desempenho do método de fusão dos classificadores para o para o segundo conjunto
de imagens ................................................................................................................................... 65
Tabela 10- Valores de sensibilidade e especificidade para os diferentes classificadores quando
na aplicação do método stepwise para 38 características para o segundo conjunto de imagens . 66
Tabela 11- Valor médio e respectivo desvio padrão do CH para ambas as classes. Nível de
significância do valor médio através do teste Mann-Whitney. Valores da correlação de
Spearman e seu nível de significância para o primeiro conjunto de imagens. ............................ 67
Tabela 12 – Valor do CH do ponto de corte com as suas respectivas sensibilidades e
especificidade. Valor da AUC para o coeficiente hepatorrenalc para o primeiro conjunto de
imagens ....................................................................................................................................... 69
Tabela 13- Valor médio e respectivo desvio padrão do CH para ambas as classes. Nível de
significância valor médio através do teste Mann-Whitney. Valores da correlação de Spearman e
seu nível de significância. Todos estes valores pertencem às imagens cujos parâmetros de US
foram mantidos para o segundo conjunto de imagens ................................................................ 70
Tabela 14- Valor do CH (ponto de corte) para o qual se obtém melhores valores de
sensibilidade e especificidade. Valor da AUC para o coeficiente hepatorrenal para o segundo
conjunto de imagens .................................................................................................................... 71
Tabela 15- Valor médio e respectivo desvio padrão do CH para ambas as classes. Nível de
significância do valor médio através do teste Mann-Whitney. Valores da correlação de
Spearman e seu nível de significância. Todos estes valores pertencem às imagens cujos
parâmetros de US foram ajustados para o primeiro conjunto de imagens .................................. 74
Tabela 16- Valor do CA (ponto de corte) para o qual se obtém melhores valores de
sensibilidade e especificidade. Valor da AUC para o coeficiente hepatorrenal para o primeiro
conjunto de imagens .................................................................................................................... 75
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
ix
Tabela 17- Valor médio e respectivo desvio padrão do CA para ambas as classes. Nível de
significância do valor médio através do teste Mann-Whitney. Valores da correlação de
Spearman e seu nível de significância. Todos estes valores pertencem às imagens cujos
parâmetros de US foram mantidos para segundo conjunto de imagens ...................................... 76
Tabela 18- Valor do CA (ponto de corte) para o qual se obtém melhores valores de
sensibilidade e especificidade. Valor da AUC para o coeficiente hepatorrenal para segundo
conjunto de imagens .................................................................................................................... 77
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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LISTA DE ABREVIATURAS
ALT - Alanina Aminotransferase
ANN- Redes Neuronais Artificiais (Artificial Neural Networks)
ASD - Alcoholic Steosis Disease
AUC- Área por debaixo da Curva (Area Under Curve)
CA- Coeficiente de atenuação
CH- Coeficiente hepatorrenal
DAC- Diagnóstico assistido por computador (Computer Aided Diagnosis)
DF- Dimensão fractal
EPO- Estatística de primeira ordem
FN- Falsos negativos
FP- Falsos positivos
GLCM- Matriz co-ocorrência (Grey Level Coocurrence Matrix)
GLNU- Gray Level Non-Uniformity
GLRLM- Grey Level Run Length
HGRE- High Gray Level runs emphasis
kNN- k-vizinhos mais próximos (k-nearest neighbor)
LGRE- Low Gray Level Run Emphasis
LRHGE- Long Run High Gray-Level Emphasis
SVM- Máquina de Vector Suporte (Supported Vector Machine)
NAFLD- Doença do Fígado Gorgo Não-Alcoólica (Nonalcoholic fatty liver disease)
NASH- Esteato-hepatite Não Alcoólica (Non alcoolic steatohepatit )
QTCT- Quantitative Tissue Characterization Technique
RF- Sinal de Radiofrequência
RLNU- Run Length Non- Uniformity
RM- Ressonância magnética
RMS- Ressonância Magnética por Espectroscopia
ROC- Receiver Operating Characteristic
ROI- Região de Interesse (Region of Interest)
RP- Run Percentage
SER- Long Runs Emphasis
SER- Short Run Emphasis
SRHGE- Short Run High Gray-Level Emphasis
SRLGE- Short Run Low Gray-Level Emphasis
TAC- Tomografia Axial Computorizada
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
xi
TEP- Tomografia por emissão de positrões
TFP - Taxa de falsos positivos
TGC- Ganho em profundidade (Time gain compensation)
TVP- Taxa de verdadeiros positivos
UHs- Unidades de Hounsfield
US- Ultrassons
VN- Verdadeiros negativos
VP- Verdadeiros positivos
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1
I. INTRODUÇÃO
Este trabalho insere-se no âmbito da unidade curricular de Projecto correspondente ao curso de
Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica. Esta dissertação resulta de uma parceria criada
entre os departamentos de Física e de Engenharia Eletrotécnica e Computadores da
Universidade de Coimbra com o Serviço de Imagiologia dos Hospitais da Universidade de
Coimbra. São descritos ao longo desta dissertação os desenvolvimentos decorridos desde o
período de Setembro de 2011 a Setembro de 2012 cujo principal objetivo era fornecer uma nova
ferramenta capaz de avaliar a presença de esteatose, usando para tal conceitos de processamento
de imagem.
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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I.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Os avanços tecnológicos nas últimas décadas proporcionaram o crescimento de dois importantes
conceitos: visão por computador e processamento de imagem. A conjugação de tais conceitos
tem possibilitado o desenvolvimento de novas ferramentas capazes de fornecer informação
complementar à análise visual praticada pelo Homem. A área da medicina tem beneficiado
particularmente do auxílio prestado por estas ferramentas que assentam numa digitalização de
imagens. Importantes melhorias nomeadamente no reconhecimento de detalhes constituem
ajudas valiosas aos clínicos no momento da caracterização de imagens.
Uma das patologias que tem beneficiado da digitalização e análise complexa da imagem é a
esteatose que é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura a nível do fígado. A
abundância de gordura no tecido hepático torna-se arriscada na medida em que poderá originar
situações de difícil tratamento: esteato-hepatite, cirrose ou carcinoma hepatocelular [1]. O
método de referência usado para detectar esta patologia é a biópsia do fígado, o que devido ao
seu carácter invasivo é desconfortável para o doente, requer tempo de análise e envolve custos
[2, 3]. Estes inconvenientes conduzem à adopção da técnica de ultrassons (US) para a
identificação de situações de esteatose, tornando-se a técnica imagiológica mais comum neste
tipo de situações. Contudo, as imagens adquiridas por US são alvo de uma considerável
subjectividade pelo que há necessidade em desenvolver sistemas capazes de analisar de forma
quantitativa os dados fornecidos por esta técnica imagiológica. São procuradas incessantemente
novas formas de diagnóstico que substituam o sistema de classificação tradicional garantindo
uma maior reprodutibilidade de resultados e maior eficiência [4].
I.2 OBJECTIVOS
O objectivo geral deste trabalho é desenvolver um método automático capaz de distinguir entre
fígado esteatótico e normal usando para tal imagens obtidas por US. O objectivo proposto foi
fragmentado nas seguintes tarefas:
a. Entender as diferenças entre as técnicas imagiológicas usadas na detecção e
caracterização de esteatose;
b. Recolher informação proveniente de imagens ecográficas que conduzem à identificação
de vestígios que levam à desconfiança da presença de esteatose;
c. Desenvolvimento de um sistema de classificação capaz de analisar o padrão de cada
condição hepática e extrair elações da natureza do mesmo;
d. Estudar as diferenças de ecogenicidade existente entre tecido hepático e córtex renal;
e. Estudar a atenuação do feixe acústico quando se desloca no parênquima hepático;
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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f. Comparar a viabilidade de cada um dos métodos desenvolvido para a predição da
esteatose;
g. Estudar comportamento de cada um destes métodos de análise na variação de
parâmetros intrínsecos ao aparelho de US
I.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Este trabalho insere-se numa “classificação da esteatose hepática usando imagens ecográficas” e
encontra-se organizado em 7 capítulos.
No Capítulo actual procede-se a uma contextualização da problemática envolvida e são
descritos os principais objectivos desta dissertação.
No Capitulo II, descrevem-se algumas características da esteatose e as técnicas imagiológicas
usadas na sua detecção.
No Capitulo III é dado foco à técnica de US e as possíveis avaliações que a mesma possibilita,
como são a análise qualitativa efectuada pelo diagnóstico médico e a análise quantitativa
efectuada por algoritmos de processamento de imagem.
No Capítulo IV é descrita a metodologia seguida neste trabalho indicando as condições em que
foram adquiridas as imagens e pré-processamento efectuado às mesmas.
Prossegue-se, no capítulo V, para uma descrição pormenorizada dos critérios pertencentes a
cada um dos métodos de avaliação e são apresentados parâmetros que exprimem a credibilidade
associada a cada um destes métodos.
No Capítulo VI são apresentados e analisados os resultados obtidos neste trabalho
E finalmente, no capítulo VII, são expostas as principais conclusões do trabalho assim como
possíveis desenvolvimentos futuros.
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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II. A ESTEATOSE E SUAS TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO
Neste capítulo serão abordados alguns conceitos biológicos essenciais à compreensão desta
dissertação. É iniciado o tópico da esteatose descrevendo as suas principais causas, alguns
tratamentos testados e as técnicas imagiológicas usadas na sua detecção. Sobre estas técnicas
serão apresentadas vantagens e desvantagens associadas onde se debruçará pormenorizadamente
sobre a técnica de ultrassons, por ser a técnica usada neste trabalho.
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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II.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO FÍGADO
Um fígado normal adulto pesa entre 1200 e 1500 gramas e é por isso o maior órgão interno do
corpo Humano [5]. Encontra-se localizado abaixo do diafragma no quadrante superior direito do
abdómen. A caixa torácica confere-lhe uma protecção anterior e posterior. O fígado está
dividido em quatro lóbulos: direito, esquerdo, quadrado e caudado. No plano anterior, é possível
observarem-se dois lóbulos, o direito e o esquerdo, sendo o direito cerca de seis vezes maior que
o esquerdo (Figura 1 (a-b). A estrutura responsável por esta divisão, o ligamento falciforme, não
aparenta ter outra função para além de garantir a fixação do fígado ao diafragma e à parede
anterior abdominal [6]. No plano inferior o lóbulo quadrado é delimitado pela vesícula biliar e
ligamento redondo enquanto o lóbulo caudado é delimitado pela veia cava inferior e fissura
porta principal (Figura 1- c) ). Estes lóbulos apesar de serem convenientemente conhecidos não
são estruturas às quais estejam associadas características funcionais [7].
Figura 1- Representação do fígado visto do plano anterior (a), posterior ( b) e inferior (c)
O oxigénio e os nutrientes necessários aos processos metabólicos que ocorrem a nível do fígado
provêm de dois sistemas de irrigação distintos. Aproximadamente 75% da totalidade do sangue
no fígado é providenciado pela veia portal procedente de estruturas como o tracto digestivo,
baço, pâncreas e vesícula biliar. A veia portal, responsável pelo fornecimento de sangue venoso,
quando entra no fígado divide-se em dois ramos: o direito e o esquerdo que posteriormente se
subdividem para fornecerem sangue a várias regiões do fígado.
Os restantes 25% provêm da artéria hepática que é originada no plexo celíaco da aorta. O
sangue arterial, a cargo da artéria hepática, é cedido a todas as regiões do fígado num
mecanismo semelhante ao anterior, através da ramificação da artéria hepática.
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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A saída do sangue do fígado é proporcionada pela veia cava inferior, que por um outro sistema
de ramificação recolhe o sangue que é enviado para o coração de várias regiões do fígado [6].
O tecido hepático é maioritariamente composto por células denominadas por hepatócitos que
ocupam 80 a 88% do volume total do fígado Humano. Os hepatócitos juntamente com outras
células do fígado desempenham funções vitais como síntese de proteínas e regulação da energia
homeostática que garante o bom funcionamento do organismo. Adicionalmente, o fígado
assume funções no metabolismo, na excreção de medicamentos e toxinas e providencia uma
barreira a agentes antigénicos e patogénicos transportados pela veia portal [6].
Danos a nível dos hepatócitos resultam em consequências hepatocelulares que se manifestam
geralmente como infiltrações de gordura (esteatose), inflamações (hepatite) ou morte de células
(necrose). Os danos que ocorrem no fígado podem ser temporários ou permanentes.
II.2 A ESTEATOSE
A esteatose também conhecida por fígado gordo é uma patologia a nível do fígado
histologicamente caracterizada por uma acumulação anormal de triglicerídeos e outras gorduras
nos hepatócitos (superior a 10% do peso total do fígado) [6, 8, 9]. Esta condição é, a nível
hepático, a patologia com maior incidência em países desenvolvidos. Actualmente, a sua
estimada prevalência na população ocidental adulta é de cerca de um terço e prevê-se que num
futuro próximo seja maior a par do aumento da taxa de incidência da obesidade e diabetes tipo 2
[10, 11].
Esta condição se detectada numa fase inicial pode ser revertida e por isso a sua identificação e
tratamento são de extrema importância para o seu controlo [12, 13]. Se esta detecção precoce
falhar poder-se-ão ter que enfrentar situações patológicas mais complexas como são a esteato-
hepatite (gordura e inflamação com ou sem fibrose), cirrose (nível máximo de fibrose) ou
carcinoma hepatocelular [1, 8].
As causas que estão na origem desta desordem hepática agrupam-se em dois conjuntos cuja
presença do consumo de álcool se apresenta como o elemento responsável por esta
diferenciação [14]. Um indivíduo que consuma uma quantidade de álcool superior a 20 gramas
por dia apresenta uma elevada probabilidade de possuir um fígado esteatótico. Quando se está
perante estes níveis de consumo de álcool a esteatose é denominada por Doença Esteatótica
Alcoólica (do inglês Alcoholic Steosis Disease- ASD) [15]. O outro tipo de esteatose, não
associado ao consumo de álcool, é a Doença do Fígado Gordo Não-Alcoólica (do inglês
Nonalcoholic fatty liver disease- NAFLD).
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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A NAFLD é vista como uma das maiores doenças crónicas hepáticas no mundo ocidental [3].
Vários estudos têm sido levados a efeito sobre as causas que conduzem ao seu aparecimento. É
assim comum o diagnóstico de NAFLD em indivíduos que:
a. possuam deficiências nutricionais (má nutrição, jejuns prolongados, rápida perda de
peso, obesidade com um índice de massa corporal superior a 30 Kg/m2 )
b. possuam deficiências metabólicas (diabetes mellitus, aterosclerose, doença de Wilson,
Tirosinemia, Lipodistrofia, abetalipoproteinemia)
c. tenham sido sujeitos a cirurgias (intervenções a nível da vesícula biliar, pâncreas,
ressecções do intestino delgado, bypass jejuno-ileal, gastroplastia em doentes obesos);
d. sejam consumidores de determinados fármacos (glucocorticóides, amiodarona,
Metotrexato) e toxinas (Tetracloreto de carbono, arsénio, cogumelos) [8, 14, 16].
Os termos NAFLD a ASD englobam uma grande diversidade de situações clínicas e patológicas
que variam desde uma simples esteatose, geralmente é uma condição reversível, a situações
como: Esteato-hepatite Não Alcoólica (do inglês Non alcoolic steato hepatit- NASH), fibrose,
carcinoma hepatocelular ou cirrose [14]. Apesar destas fatais consequências existe uma grande
lacuna a nível de métodos imagiológicos não invasivos capazes de acompanhar a progressão da
esteatose. A biópsia constitui a técnica mais eficaz na determinação da progressão ou regressão
desta condição patológica porém, é a técnica de ultrassons a mais vulgarizada no estudo da
esteatose [6].
Ambas as condições de NAFLD e NASH são condições clinicamente silenciosas cuja detecção
é muitas vezes feita de forma acidental através de alterações dos níveis de enzimas observados
em análises de rotina [17]. O nível de alanina aminotransferase (ALT) é um dos exemplos da
alteração enzimática que ocorre no caso concreto da NAFLD contudo apenas é verificado em
cerca de 50% da população [18]. Outros sintomas como cansaço, desconforto do quadrante
superior direito, mal-estar e alguma dor abdominal têm também sido atribuídos, embora de
forma pouco frequente, a casos de indivíduos diagnosticados com NAFLD [19].
A infiltração da gordura no fígado pode manifestar-se de uma forma difusa e homogénea
(situação mais comum) ou de forma focalizada. As focalizadas resultam de um invulgar
fornecimento de sangue no fígado e pode ser de duas naturezas: gordura focal “sparing” ou
alteração/infiltração/deposição de gordura focal. A gordura focal “sparing” é representada pela
acumulação de gordura numa determinada região ou regiões hepáticas devido ao fluxo de
sangue venoso proveniente do sistema gástrico ao invés do fluxo de sangue proveniente do
sistema portal (típico fornecedor de gordura). Frequentemente este acúmulo de gordura ocorre
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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no segmento médio do lóbulo esquerdo do fígado, adjacente à fossa da vesícula e veia portal
hepática. Estas regiões surgem como áreas hipoecóicas cuja margem se encontra bem definida
[20]. Alternativamente, em menores quantidades, a gordura pode ser representada por uma área
hiperecoica e resulta do excessivo depósito de gordura. Surge em áreas como tecido hepático
adjacente ao ligamento falciforme, vesícula biliar, cápsula do fígado e segmento médio do
lóbulo esquerdo do fígado. Poderá para além disso ocorrer a acumulação de gordura de forma
multifocal simulando a existência de metástases [21].
Ambos os tipos de infiltração focal podem criar problemas para o clínico especialista uma vez
que poderão criar a ilusão da existência de neoplasmas. Uma observação atenta da aparência e
localização da área de infiltração de gordura são geralmente úteis para evitar a confusão [22,
23]. A correcta identificação deste tipo de condições tem um peso preponderante na adequação
do tratamento [24].
Actualmente o único tratamento testado para NAFLD é uma mudança no estilo de vida que
integra alterações na alimentação e realização de exercício físico [25-29]. Contudo a resposta
não é igual para todos os sujeitos, provavelmente devido às diferenças genéticas existentes entre
os indivíduos. Outras tentativas têm sido efectuadas com recurso a agentes farmacológicos, no
entanto, a efectividade dos resultados não é para já muito conclusiva [14]. O tratamento de ASD
é relativamente mais fácil de concretizar passando por uma abstinência do consumo de álcool.
Quando o consumo de álcool é coadjuvado com factores de risco, como a obesidade e o fumo
do cigarro, é agravado o quadro clínico do paciente pelo que se deverão eliminar tanto quanto
possível estas agravantes [7].
II.3 TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO DA ESTEATOSE
A tecnologia associada à imagem médica tem sido alvo de profundas evoluções nas últimas
décadas. As sombras representando órgãos em filmes fotográficos criados pelo raio-X foram
complementados com novas modalidade imagiológicas como são a tomografia axial
computorizada (TAC), ressonância magnética (RM), tomografia por emissão de positrões (TEP)
e ultrasonografia (US).
No caso particular da esteatose as técnicas imagiológicas geralmente usadas são: biópsia, TAC,
RM e US [16]. Na secção seguinte são descritas cada uma destas modalidades sendo
apresentadas vantagens e desvantagens das mesmas. Parâmetro de sensibilidade, especificidade,
valor preditivo positivo e negativo são comuns de descrever quando se pretende avaliar o
comportamento de cada técnica em relação a uma patologia. O parâmetro de sensibilidade
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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descreve como a técnica se comporta na identificação de indivíduos com esteatose. Por outro
lado, a especificidade traduz capacidade em identificar indivíduos normais. O valor predicativo
positivo (negativo) indica qual a probabilidade de atribuir a classificação de fígado esteatótico
(normal) se o resultado dado pela técnica de diagnóstico for positivo (negativo).
II.3.1 Biópsia
A biópsia do fígado é frequentemente requisitada no diagnóstico de muitas doenças hepáticas
em que juntamente com uma análise histológica é considerada a técnica de referência na
avaliação da esteatose [14, 16, 30].
A análise histológica providencia informação acerca da distribuição da gordura dentro dos
lóbulos hepáticos providenciando uma análise semi-quantitativa da esteatose. Sob o ponto de
vista microscópico, a esteatose pode ser organizada em duas categorias dependendo do tamanho
das gotículas de gordura depositadas nos hepatócitos: deposição microvesiculares ou
macrovesiculares [6, 14].
A condição que surge com uma maior frequência é a macrovesicular caracterizada por um único
vacúolo lipídico localizado no citoplasma do hepatócito. As dimensões desta estrutura,
superiores à do núcleo, obrigam ao deslocamento do núcleo no citoplasma. A deposição
macrovesícular é o tipo de deposição mais comum sendo típica em casos de NAFLD e ASD.
Por outro lado as alterações microvesiculares podem ser vistas como numerosas inclusões que
preenchem o citoplasma do hepatócito de forma desorganizada. São geralmente formas mais
severas de esteatose e estão associadas frequentemente a situações de alcoolismo, administração
de fármacos, defeitos na oxidação beta dos ácidos gordos e síndrome de Reye’s [14].
A biópsia permite que seja efectuada uma distinção entre esteato hepatite e simples esteatose
pela análise da percentagem de hepatócitos que contém partículas de gordura visíveis.
Apesar de ser um método vantajoso nas informações que apresenta possui o inconveniente de
ser invasivo podendo, mesmo com uma taxa de incidência baixa, originar complicações como
hemorragias internas, infecções, formação de hematomas ou extravasamento biliar [14, 23].
Para além disso a biópsia não é suficiente para distinguir entre NASH e ASD pelo que é
inevitável recorrer a outras formas de análise como, por exemplo, a avaliação da história de
consumo de álcool do paciente.
A fiabilidade dos resultados fornecidos por esta técnica deverá também ser questionada uma vez
que a amostra recolhida na biópsia corresponde a uma pequena porção do fígado o que poderá
não ser representativa de uma esteatose que possua desigual distribuição da gordura, como é o
caso de uma esteatose focal [14, 23].
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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Consequentemente são necessárias técnicas não invasivas capazes de proporcionarem uma
visualização completa do fígado para que seja estimado ou mesmo quantificado o grau de
esteatose presente e eventualmente determinar o padrão distribucional da gordura hepática [14].
II.3.2 Tomografia axial computorizada
A Tomografia axial computorizada (TAC) é considerada uma técnica muito fiável para o estudo
da esteatose hepática. Na presença da esteatose há um decréscimo da atenuação do nível do
parênquima hepático comparativamente aos vasos intra hepáticos, baço e rins [31].
A avaliação quantitativa desta patologia consiste na análise de três parâmetros distintos: o valor
absoluto da atenuação do parênquima hepático que é representada em Unidades de Hounsfield
(UHs), a diferença de atenuação entre o fígado e baço e a relação entre as atenuações do fígado
e baço [32] . Relativamente, ao valor de atenuação do fígado, em condições normais varia de 50
a 57 UHs. Por cada miligrama de triglicerídeos depositado numa grama de tecido hepático há
um decréscimo de 1.6 UHs [31]. Assim, é atribuída a classificação de fígado esteatótico sempre
que se verifique uma atenuação do fígado inferior a 50 UHs. Outro dos parâmetros avaliados
numa imagem TAC é a diferença entre a atenuação do baço e do fígado. Em condições normais,
o baço apresenta uma atenuação inferior à do fígado em cerca de 8 a 10 UHs [33]. Deste modo,
um fígado cuja diferença de atenuação com o baço seja superior a 10 UHs é suspeito de ser
esteatótico [34, 35]. O último parâmetro relaciona-se com quociente entre as atenuações do
fígado e baço que caso seja superior a 1.1 é sugerido pertencer a uma esteatose hepática
moderada [36].
Um estudo recente demonstra que num fígado cuja esteatose esteja representada em mais de um
terço do seu volume a imagem TAC apresenta uma sensibilidade de 93% e um valor preditivo
positivo de 76% [31]. A imagem fornecida pela TAC é uma solução válida sobretudo porque
permite a visualização de toda a estrutura do fígado permitindo a identificação de esteatoses
difusas e focais [31, 32].
Contudo, o uso desta técnica na avaliação da esteatose é relativamente limitada devido às
elevadas radiações associadas e os riscos que as mesmas comportam [31]. O facto de as UHs,
que auxiliam neste processo classificativo, poderem ser determinadas numa vasta área hepática
é também apontado como uma fonte de variabilidade indesejável na avaliação da esteatose [31,
37]. Assim, estes inconvenientes associados à TAC fazem desta uma modalidade imagiológica
desaconselhada na caracterização da esteatose [37].
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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II.3.3 Ressonância magnética
A ressonância magnética (RM) tira partido das diferentes frequências ressonantes entre a água e
a gordura. A intensidade do sinal atinge o seu máximo quando os sinais da gordura e da água se
encontram em fase o que provoca uma maior intensidade do sinal na presença de esteatose.
A técnica de RM apresenta um grande potencial no diagnóstico e monitorização da esteatose
hepática sendo um método mais seguro que a TAC pois não envolve a presença de radiações
[31]. Comparativamente aos US a RM é mais sensível na detecção de pequenos graus de
esteatose e apresenta uma maior correlação com o conteúdo de gordura observado através de
uma análise histológica proporcionada pela biópsia [38, 39]. Também, ao contrário do que
ocorre nos US, na RM não há risco de confusão entre fibrose e esteatose [32].
Porém os elevados custos envolvidos neste equipamento tornam-no menos disponível que o
aparelho de US. Outro aspecto que influencia a sua utilização é o espaço confinado a que os
indivíduos são sujeitos na realização de um exame tornando esta técnica intolerável para certos
doentes [31].
II.3.4 Ultrassons
A ultrassonografia é geralmente o primeiro exame de diagnóstico efectuado na suspeita de
danos a nível do hepático [6].
O aparelho de US – ecógrafo - faz uso de ultrassons para visualizar estruturas internas do corpo.
As interacções das ondas acústicas com o tecido assentam nas leis da óptica geométrica
ocorrendo fenómenos como: reflexão, refracção, espalhamento (scattering), difracção,
interferência e absorção. À excepção da interferência todas as outras interacções são
responsáveis por reduzir a intensidade da onda do feixe acústico.
Nesta técnica as ondas são reflectidas nas fronteiras de materiais com diferentes impedâncias
acústicas. Por exemplo na interface tecido-ar a onda é totalmente reflectida dificultando a
visualização das estruturas internas. Por esta razão usa-se um gel no contacto do transdutor com
a pele permitindo que as ondas “regressem” ao transdutor e consequentemente permitam a
formação de imagem [21]. O envio e recolha dos sinais são proporcionados pelo transdutor que
através da medida de tempo compreendido entre estes dois momentos permite estimar a
profundidade das estruturas evidenciadas em imagens [21, 40]. Existem dois modos de
visualização diferentes: modo A e modo B. O modo A refere-se a uma representação em
amplitude. O sinal de eco é mostrado de modo contínuo ao longo do tempo. Este modo de
aquisição apenas recolhe informação de uma limitada zona anatómica (1D), sendo usado em
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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áreas como a oftalmologia na determinação de algumas distâncias importantes, entre outras. O
modo-B assenta num modo de brilho. Os ecos são mostrados numa imagem 2D de níveis de
cinzento. Os pontos que compõem a imagem, denominados por pixéis, correspondem à
amplitude dos ecos recolhidos pelo transdutor. Esta imagem formada é assim representativa da
amplitude da reflexão em função da posição cujo brilho da imagem é directamente proporcional
à amplitude de reflexão [21]. Deste modo, as tonalidades claras da imagem correspondem a
estruturas que reflectem de forma eficaz os ecos contribuindo para um sinal recebido elevado.
Este fenómeno é evidente em tecidos que possuam elevados teores de gordura. Por outro lado os
tons mais escuros estão associados a estruturas que reflectem fracamente os ecos [41].
A sonda usada em ecografias é caracterizada por uma frequência do transdutor que em exames
de diagnóstico do fígado variam de 2 a 5 MHz. As ondas de mais alta frequência são atenuadas
de forma rápida, penetram fracamente no corpo e apresentam uma boa resolução espacial. São,
por isso, indicadas para a análises de estruturas superficiais. Contrariamente, as ondas de mais
baixa frequência apresentam uma menor resolução espacial e uma grande capacidade de
penetração sendo preferidas para visualização de estruturas internas [21, 40].
A imagem adquirida tem a vantagem de ser uma representação em tempo real permitindo a
visualização dos movimentos dos órgãos de forma não invasiva. A visualização de lesões
através da imagem adquirida segundo esta tecnologia é explicada com base na reflectividade
destas comparativamente ao meio envolvente. Quando a onda atravessa uma estrutura sem que
ocorra reflexão, não há a geração de ecos e as estruturas não são definidas. Um exemplo deste
fenómeno dá-se na presença de estruturas ósseas (Figura 2) ou na presença de gases. Do
conjunto de órgãos afectados por estes efeitos destacam-se o fígado, a vesícula biliar, o
pâncreas, os rins, o baço, o coração e o útero [21, 40]. Alternativamente, quando praticamente
todas as ondas sonoras são reflectidas, a imagem surge brilhante, mais ecogénica ou também um
termo vulgarmente usado, hiperecogénica. Portanto, por ecogenicidade, define-se como a
capacidade de se gerar um eco, ou seja, devolver o sinal de ultrassons enviado pelo transdutor.
Quando alguns sinais atravessam a estrutura e outros são reflectidos a lesão será representada
por zonas hipoecogénica, ou seja, a lesão é menos brilhante que o fígado.
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Figura 2- Imagem de US do parênquima hepático e rim influenciada por uma sombra (marcas a cor de
laranja) possivelmente causada por uma costela
O facto do eco do feixe acústico ser atenuado ao longo dos tecidos biológicos condiciona a
vizualização destes tecidos. Por isso o operador durante uma examinação dispõe de dois
comandos no aparelho de US responsável por causar uma amplificação do sinal e portanto
garantir uma maior nitidez da imagem. Um desses comandos é o TGC (do inglês Time Gain
Compensation) e o outro é o ganho global.
Ambos os comandos têm o objectivo de controlar a amplificação do sinal, sendo que o Ganho
Global é um parâmetro aplicado em toda a imagem enquanto o TGC é aplicado localmente, i.e.,
a determinadas regiões da imagem mediante a profundidade da imagem. O TGC pode ser
manipulado através de vários botões de deslizamento em que cada um corresponde a zonas
distintas da imagem. Os operadores podem assim ajustar estes parâmetros procurando sempre
garantir uma melhor visualização das estruturas mapeadas.
A análise de imagens obtidas por US é uma forma atractiva de diagnóstico da condição do
fígado uma vez que evita o risco de desconforto e os custos associados à biópsia, RM e TAC
[30]. O ecógrafo também é relativamente portátil (Figura 3) e de fácil manuseio e exige um
menor investimento para a unidade hospitalar comparativamente às técnicas imagiológicas de
TAC e RM sendo por isso uma técnica de análise amplamente disponível [31, 42] [43].
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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Figura 3- Equipamento de US semelhante ao usado neste trabalho: GE Logic E9
Apesar das vantagens desta técnica, existem alguns inconvenientes no diagnóstico de patologias
segundo esta modalidade, sendo elas:
a) dificuldade em analisar a etiologia da doença;
b) impossibilidade de quantificar de forma exacta a acumulação de gordura, factor de
importância na esteatose do fígado [8, 14, 23, 37];
c) dificuldade em diferenciar entre esteatose e fibrose [44, 45];
d) qualidade da imagem influenciada pela estrutura dos tecidos [46];
e) dificuldade em efectuar o diagnóstico em doentes obesos (Índice de Massa corporal
superior a 35 kg /m2) devido à espessura da parede abdominal que diminui a precisão do
diagnóstico [30];
f) susceptíveis a falsas ecogenicidades causadas pelas sombras provocadas por estruturas
ósseas, gases e veias [8, 14, 23, 37];
g) extrema dependência do operador havendo variabilidade nas inspecções efectuadas pelo
mesmo operador em momentos temporais distintos (intra-observador) e nas inspecções
efectuadas por diferentes operadores no mesmo momento temporal (inter-observador).
A dependência do operador na análise de esteatose foi comprovada por alguns trabalhos
através da apresentação das mesmas imagens em momentos temporais distintos a
clínicos independentes. Os resultados reflectiram uma elevada subjectividade nas
classificações efectuadas pelos examinadores tanto a nível intra-observador como inter-
observador [32, 47].
A elevada subjectividade de imagens ecográficas, em parte, também se relaciona com a
manipulação de parâmetros e manuseio do equipamento de ultrassons por parte do operador
[24]. É com base neste aspecto que surge um dos passos cruciais desta técnica de análise, a
calibração do equipamento de ultrassons. A calibração corresponde a um ajustamento de
parâmetros do aparelho com vista à melhoria da imagem. Uma das razões que leva a este
ajustamento é, por exemplo, a necessidade de eliminar efeitos provocados pela pele e gordura
subcutânea [48].
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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III. ULTRASSONS E ESTEATOSE
O diagnóstico médico de imagens ecográficas corresponde a uma análise qualitativa que se
baseia na identificação de certos parâmetros. Estes parâmetros serão, neste capítulo e numa
primeira abordagem, descritos de forma detalhada. Para finalizar é introduzido o estudo
complexo da imagem que proporciona uma análise quantitativa onde se insere a definição de
sistema de Diagnóstico Assistido por Computador (DAC).
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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III.1 ANÁLISE QUALITATIVA
O diagnóstico médico consiste na análise de certos parâmetros em imagens de ecografia
abdominal o que permite a identificação da esteatose. Na técnica de US não existe nenhum
sistema quantitativo absoluto em oposição ao que sucede com a técnica de TAC e as unidades
de Hounsfield. Para colmatar esta dificuldade recorre-se a uma análise qualitativa que tem por
base a comparação de ecogenicidades entre estruturas, tais como, fígado e seus órgãos
adjacentes: rim, baço e pâncreas [22, 49]. No entanto, as alterações características da presença
de esteatose só se manifestam na imagem de US quando a gordura dentro do hepatócito é
superior a 15-20% [50].
Perante um fígado normal a sua ecogenicidade é igual ou ligeiramente superior à do córtex renal
e à do baço. As veias intra-hepáticas encontram-se claramente demarcadas e é assegurada uma
boa visibilidade do aspecto posterior do fígado ( Figura 4 (a-b) ). As principais alterações
causadas pela esteatose nas imagens obtidas por US ( Figura 4 (c-d) ) são representadas por:
- Ecogenicidade do parênquima hepático superior à do córtex renal e do baço devido ao maior
número de depósitos intra-celulares de gordura no fígado aumentando a sua reflectividade;
- Maior atenuação da onda de ultrassons com a profundidade. Quanto mais híper-reflectivo for o
fígado mais dificuldade terá o feixe em penetrá-lo causando por exemplo uma má visualização
do diafragma e uma fraca delineação da arquitectura intra-hepática;
- Perda de detalhe das veias portais e hepáticas que aparenta resultar de uma compressão
causada pelo excesso de gordura presente [16, 30, 31, 49].
O reconhecimento da esteatose efectuada pela pesquisa destes sinais é alvo de uma forte
subjectividade. As dificuldades inerentes a esta detecção devem-se essencialmente a quatro
razões. A primeira é a possibilidade de ocorrerem alterações nas ecogenicidade das estruturas
usadas para comparação (rim e baço) que também estão sujeitas a anomalias. A segunda é a
existência da variabilidade intra-observador e inter-observador típica das imagens obtidas por
US. A terceira razão prende-se com as variações dos parâmetros (inerentes ou manipulados pelo
operador) do aparelho de US que poderão diminuir ou acentuar as diferenças de ecogenicidade
existentes [49]. A última razão deve-se à ocasional irregular distribuição da gordura no
parênquima hepático. Uma infiltração focal da gordura pode causar alguma confusão no
diagnóstico. Por exemplo, pequenas áreas de parênquima normal, denominado por parênquima
poupado, podem ser facilmente confundidas com neoplasmas ou abcessos uma vez que estas
estruturas são menos ecogénicas que o seu envolvente [49].
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Figura 4- Imagens representativas de fígado normal (a) e b) e fígado esteatótico (c) e (d)
Também, a distinção entre fibrose e esteatose segundo imagens obtidas por US é um
procedimento complexo segundo a opinião de alguns autores [44, 45]. Contudo esta conclusão é
contestada por outros que relatam ser possível diferenciar entre esteatose e fibrose (a partir de
um certo grau). Estes mesmos trabalhos referem que em situações de fibrose não ocorre a
atenuação posterior do feixe como é típico na esteatose [51, 52].
A sensibilidade e especificidade em detectar esteatose hepática é alvo de constante controvérsia.
Trabalhos anteriores relataram que os US possuem uma sensibilidade de 60-94% e uma
especificidade de 66-95 % na detecção de esteatose hepática [52-56]. Alguns trabalhos
relacionados com a esteatose atribuem a esta patologia um de três níveis de esteatose possíveis,
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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dependendo do nível de infiltração de gordura e são eles: leve, moderado e severo. A distinção
entre estes três níveis é fundamentada na diferença de ecogenicidades existentes entre
parênquima hepático e córtex renal juntamente com perda de definição das paredes do sistema
portal presente [57] .
III.2 ANÁLISE QUANTITATIVA
A indesejável subjectividade da técnica de US devido à ambiguidade de diagnósticos tem
conduzido ao desenvolvimento de novas abordagens. A técnica de ultrassons é conjugada com
um conceito mais recente: técnica da caracterização de análise quantitativa de tecido (do inglês:
Quantitative Tissue Characterization Technique –QTCT). Esta integração de conhecimentos na
técnica de US reforça a sua utilização num âmbito clínico potenciando a obtenção de melhores
prognósticos nomeadamente uma melhor repetibilidade, precisão e eficiência no diagnóstico[24]
[58].
A QTCT consiste na análise do eco proveniente dos tecidos e é através destes são extraídos
parâmetros úteis à caracterização do tecido. Estes parâmetros são provenientes de duas fontes
distintas: do sinal de Radiofrequência (RF) antes de qualquer tratamento de dados (ex.:
parâmetros de atenuação e de retroprojecção) ou originárias da textura da imagem após
processamento do eco (ex.: histograma e gradiente da imagem) [24]. Os parâmetros extraídos da
textura são obtidos de uma certa região de interesse (do inglês Region of Interest - ROI) da
imagem. Estas ROI consistem em subimagens representativas de pequenas áreas hepáticas que
resultam de vários “recortes” efectuados à imagem original. A presença de veias e ductos
hepáticos típicos de serem observados numa imagem de US do fígado justificam o uso destas
ROIs em detrimento da imagem original [59].
O tratamento de dados efectuado com recurso ao sinal RF tem a vantagem de ser desprovido de
qualquer tratamento e portanto de distorções inseridas por este. No entanto, os parâmetros
recolhidos através da imagem textural apresentam a vantagem de serem mais simples de
implementar tornando este método preferível relativamente à análise RF [60]. A definição da
ROI é de extrema importância neste género de análise. Poder-se-á definir um tamanho fixo [60]
o que acarreta alguns compromissos como a não garantia de que o tamanho da ROI seja
suficiente para cobrir toda a área lesionada e ainda que as ROIs não possuam um número
suficiente de pixéis para obter uma boa população estatística. No caso de lesões representadas
por áreas pequenas poderá haver uma confusão de classificações por parte do operador que é
inevitavelmente propagada na aprendizagem efectuada pelo sistema de classificação
automática[60].
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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A análise quantitativa é portanto auxiliada por sistemas computorizados que analisam
informação procedente de exames clínicos cujo objectivo é colaborar com os especialistas em
processos como: caracterização, classificação e segmentação de imagens. Estes sistemas
computorizados quando usados na detecção e caracterização automática de imagens são
normalmente denominados como Diagnóstico Assistido por Computador (DAC) ou
simplesmente sistemas de diagnóstico (do inglês Computer Aided Diagnosis). Deste modo, um
sistema DAC corresponde a um conjunto de técnicas de processamento de imagens que são
usados num contexto clínico com o objectivo de melhorar a interpretação médica com vista a
um diagnóstico mais eficaz. O DAC não pretende substituir por completo a opinião do médico
funcionando como ferramenta de auxílio ao processo de decisão. Pretende-se que esta “segunda
opinião” seja o mais consistente possível e apresente uma boa repetibilidade. Este auxílio criado
pelo sistema DAC passa pela identificação de regiões que indicam a presença de anomalias,
algo que é sugerido pela extracção de características das imagens médicas [61].
Um sistema DAC pode ser dividido em duas categorias de acordo com os seus objectivos:
i) usado para detectar regiões que possuam patologia;
ii) usado para classificar as imagens baseando-se nas características destas que são
inerentes à natureza histológica dos tecidos em causa [61].
A concepção do sistema CAD envolve vários aspectos incluindo a qualidade das imagens
digitalizadas, a sequência de passos de processamento e a metodologia de avaliação [61] .
Um típico sistema DAC comporta os seguintes passos:
1- Pré-processamento da imagem
2- Extracção das zonas de interesse
3- Cálculo das características
4- Aplicação de classificadores
5- Análise de desempenho dos classificadores
Até à actualidade uma variedade de sistemas DAC têm sido aplicados para auxiliar os clínicos
na detecção e caracterização de várias patologias no âmbito da sonografia (fígado, mama,
coração, pulmões e tiróide). No caso específico do fígado, as características mais usadas são
relacionadas com medidas texturais através da construção de matrizes que entram em linha de
conta com as posições espaciais dos níveis de cinzento como é o caso da matriz co-ocorrência
introduzida por Haralick [62]. Nicolau foi o primeiro a introduzir medidas de ecogenicidade,
eco-textura e superfície do fígado usando imagens de US [63]. Também a análise de Fourier
[64] e as medidas da textura de Laws [65] têm sido aplicadas neste contexto. Para além disso o
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“CLASSIFICAÇÃO DA ESTEATOSE HEPÁTICA USANDO IMAGENS ECOGRÁFICAS”
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conceito de fractal desenvolvido por Mandelbrot [66] fornece informação acerca da rugosidade
de superfícies naturais.
Edens e seus colaboradores também apresentaram um método capaz de quantificar o conteúdo
de gordura presente numa imagem de US através da combinação de medidas extraídas a partir
de um sistema DAC. Contudo a complexidade do software envolvido nesta análise torna
inviável a sua aplicação em contexto clínico [118].
Outro passo importante para a detecção de esteatose foi dado por Vehmas e seus colaboradores
através da medida da relação de ecogenicidade entre o fígado e o córtex renal [121]. Mais
recentemente, um novo método foi proposto por Webb [116] e Mancini [73]e seus respectivos
colaboradores que medem a infiltração da gordura através da computação de um coeficiente
Hepatorenal. Contudo os coeficientes hepatorrenais de ambos os estudos diferem
consideravelmente sendo impossível efectuar uma comparação entre eles. Outro estudo foi
concretizado usando fígado de animais com o objectivo de determinar os coeficientes hépato-
renais que conduzam a uma classificação directa da esteatose [122]. No entanto, nenhum dos
estudos apresentou um método de quantificação uniforme e reprodutível que seja capaz de
determinar de forma precisa o conteúdo de gordura.
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IV. METODOLOGIA
Este capítulo é iniciado por uma apresentação das características das imagens usadas neste
trabalho. Evolui-se, de seguida, para uma descrição da população, nomeadamente, os número
envolvidos com a população estudada. Este capítulo é terminado com uma explicação da
metodologia seguida para avaliar a presença de esteatose. Esta conclusão é estabelecida por três
modelos de análise distintos, sejam eles: a análise do padrão do parênquima hepático, a análise
das diferenças de ecogenicidades entre parênquima hepático e córtex renal e a análise da
atenuação do parênquima hepático ao longo da profundidade.
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IV.1 CARACTERÍSTICAS DAS IMAGENS
Para o presente trabalho foram recolhidas imagens ecográficas nos Hospitais da Universidade de
Coimbra (HUC) usando um aparelho de ultrassons da marca GE (modelo Logic E9) e uma
sonda convexa com uma frequência de 4 MHz.
Todos os exames abdominais foram executados por técnicos certificados. As imagens
armazenadas no disco rígido do computador acoplado ao ecógrafo foram posteriormente
enviadas para um computador exterior, convertidas em formato JPEG e analisadas com software
MATLAB® 7.12.0 (R2011a). O uso destas imagens para fins de investigação, foi concedido por
escrito pelos doentes avaliados. Todas as imagens foram adquiridas com uma resolução de 8
bits (256 níveis de cinzentos) e com uma resolução de 720 x 960 pixéis.
IV.2 CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO EM ESTUDO
Foram adquiridos dois conjuntos distintos de imagens pertencentes a indivíduos independentes.
Do primeiro conjunto fazem parte 120 indivíduos cujas imagens sofreram ajustes de parâmetros,
tais como ganho global, ganho em profundidade e profundidade para que fosse conseguido o
melhor backscatering possível.
Apesar das variações intra e inter observador a caracterização destas imagens (condição normal
ou esteatótica) foi efectuada por dois técnicos experientes que funcionou, neste trabalho, como
informação de referência. Dos 120 indivíduos analisados 52 foram classificados como
esteatóticos e os restantes 68 como normais.
No segundo conjunto de imagens foram ajustados os parâmetros TGC, ganho global (=60) e
profundidade (=10). Para além disso, foram adquiridas duas imagens de cada paciente cujas
posições anatómicas foram mantidas ao longo de toda a aquisição. A primeira imagem permite a
análise do coeficiente hepatorrenal e é obtida segundo um plano de corte sagital numa posição
lateral. A segunda imagem usada na análise do coeficiente de atenuação e análise textural foi
adquirida no plano intercostal direito numa posição supina. Deste novo conjunto um total de 42
indivíduos foi analisado dos quais 22 foram classificados como sendo esteatóticos e 20 como
sendo normais.
IV.3 PROCESSOS DE ANÁLISE DA ESTEATOSE
Na área médica de forma a garantir um menor tempo de processamento não abdicando da
fiabilidade e precisão de resultados, é comum recorrer à prática da extracção de uma ou várias
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regiões da imagem original denominadas por ROIs. Diferentes ROIs foram extraídas para cada
um dos modelos de avaliação com o objectivo de determinar a presença ou ausência de
esteatose. Os modelos implementados permitiram uma:
1- análise do padrão textural do parênquima hepático;
2- análise das diferenças de ecogenicidade entre fígado e córtex renal;
3- análise da atenuação do sinal de US ao longo do parênquima hepático (em
profundidade).
Para o primeiro modelo, onde foi garantida uma caracterização textural, foram extraídas da
imagem original, por inspecção visual, 4 ROIs não sobrepostas do parênquima hepático (Figura
5b). Foram evitadas zonas hepáticas com veias sanguíneas e ductos biliares, artefactos causados
pela presença de estruturas ósseas ou outras regiões focais hipo/híper-reflectivas. Para além
disso, o tamanho das ROIs extraídas - 50×50 (2500 pixéis) foi mantido ao longo deste processo
de análise para que não fosse comprometida a fiabilidade de resultados [24].
A análise textural foi realizada através do desenvolvimento de um sistema DAC composto por 3
módulos distintos: extracção/cálculo de características, selecção de características e
classificação.
Características baseadas na estatística de primeira ordem (EPO) [60], segunda ordem [62] [67],
fractais[68], filtros de Gabor [69] e Energia Textural de Laws [70] foram estimadas pelo sistema
DAC construído. As características estimadas foram introduzidas num vector característico que
é único para cada ROI estudada. Sobre este vector é aplicado uma normalização de forma a
evitar a dominância de certas características em relação a outras e dificuldades numéricas no
cálculo. Esta normalização limita a escala de variação entre -1 e +1 e é aplicada ao vector
característico imediatamente antes da sua entrada nos classificadores [71].
A selecção de características foi conseguida pela aplicação do algoritmo de regressão stepwise.
[72] Os classificadores aplicados foram baseados em: Redes Neuronais Artificiais, Máquina de
Vector Suporte, k-vizinhos-mais-próximos, Teorema de Bayes e árvore de decisão. Os
classificadores usados operam numa abordagem de classificação binária cujas classes
correspondem às condições de fígado normal e patológico.
Para validação do sistema DAC efectuou-se um particionamento às imagens formando dois
conjuntos distintos: conjunto de treino e de teste. Os algoritmos de particionamento tiveram em
conta o número de indivíduos analisados. No primeiro conjunto de dados, foi aplicado o
algoritmo de hold out que efectua um simples particionamento nas ROIs consideradas cuja
percentagem de partição foi de 70% para as ROIs usadas no treino e as restantes 30% usadas no
teste. Este algoritmo foi aplicado no primeiro conjunto de imagens dado o considerável número
de ROIs presentes, no total de 480. No caso do segundo conjunto de dados, o número de ROIs
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foi reduzido para 168 pelo que o algoritmo de partição usado foi o k-fold cross validation cujo k
escolhido foi igual a 10. O desempenho geral do sistema DAC foi avaliado pelo estudo de
parâmetros típicos deste tipo de abordagem, como são: a área por debaixo da Curva (do inglês
Area Under Curve- AUC), precisão, sensibilidade e especificidade.
O segundo modelo de avaliação teve por objectivo a identificação da presença/ausência de
esteatose usando a diferença de ecogenicidade entre parênquima hepático e córtex renal. Para tal
extraíram-se duas ROIs distintas, uma no parênquima hepático e outra no córtex renal. Ambas
as ROIs foram adquiridas à mesma profundidade e no centro da imagem (Figura 5a) evitando a
interferência causada pela atenuação da onda de US com a profundidade e a distorção que a
mesma sofre nas margens da imagem [73, 74]. Contrariamente à análise textural, para o estudo
da ecogenicidade do córtex renal foram adaptadas as dimensões das ROIs de 30×30 (900 pixéis)
devido à espessura desta estrutura (Figura 1a). À semelhança do que acontecia nas ROIs
representativas de parênquima hepático também aqui foram evitadas determinadas zonas como
o seio e medula renal e as veias de grande calibre. O coeficiente hepatorrenal (CH) foi
posteriormente calculado pelo quociente das médias dos níveis de cinzento da ROI do fígado
com a média dos níveis de cinzento da ROI pertencente ao rim.
O terceiro modelo de avaliação consistiu na análise da atenuação da onda de US ao longo do
parênquima hepático. Para isso, foram extraídas 2 ROIs de cada um dos indivíduos da parte
proximal e distal do fígado (Figura 5b) . As características destas ROIs foram as mesmas que as
extraídas na análise textural diferindo apenas na localização. O coeficiente de atenuação (CA)
foi dado pelo quociente do valor médio da ROI proximal (junto ao transdutor do ecógrafo) com
o valor médio da ROI distal (o mais afastado do transdutor do ecógrafo).
Os limites dos coeficientes de atenuação e hepatorrenal que estabelecem a separação entre
classes foram alcançados através da criação de uma curva ROC (do inglês Receiver Operating
Characteristic). De cada curva ROC extraiu-se o ponto que apresenta melhores valores de
sensibilidade e especificidade denominado por ponto de corte.
A eficácia de predição destes dois coeficientes (atenuação e hepatorrenal) foi analisada com
recurso à Área por debaixo da curva ROC (AUC) e os coeficientes de correlação de Spearman.
Maiores valores de correlação e de AUC exprimem uma maior capacidade preditiva do método.
A diferença entre as médias de ambos os coeficientes foi analisada com recurso ao nível de
significância (valor p) fornecido pelo teste estatístico de Mann-Whitney.
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Figura 5- Fígado normal visto de um plano de corte sagital (a) e de um plano intercostal direito (b) onde
estão representadas as ROIs extraídas para o cálculo do CH (N.º1 e 2), do CA (N.º 3 e 4) e da análise
textural (N.º 5,6,7 e 8).
Todas estas três vertentes de análise (avaliação da textura, diferença de ecogenicidade e
atenuação) constituem avaliações independentes da presença ou ausência de esteatose. A
metodologia seguida neste trabalho é representada no esquema da Figura 6.
Imagens de US
Hold out
10-fold Cross validation
Teste
Treino
Medidas de Performance
Cálculo do coeficiente de
atenuação
Medidas de Performance
Cálculo do coeficiente
hepatorrenal
Cálculo de características
Selector das carateristicas
Classificadores
Fusão de Classificadores
Medidas de Performances
Sistema DAC
Atenuação hepática
Diferença de ecogenicidades (rim vs fígado)
Figura 6 – Metodologia de classificação
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V. DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS DE ANÁLISE
Neste capítulo serão descritos de forma detalhada os três modelos desenvolvidos para a
avaliação da presença de esteatose. A descrição tem início no sistema Diagnóstico Auxiliado
por Computador (DAC) onde são apresentadas as fórmulas matemáticas usadas para estimar as
características. Segue-se para algumas definições dos classificadores e o modo como operam.
Para além disso, são também apresentadas algumas estratégias para melhorar a detecção da
esteatose efectuada pelo sistema DAC. No segundo tópico serão expostos os conceitos que
sustentam o segundo modelo de avaliação da esteatose, o que analisa a diferença de
ecogenicidade entre parênquima hepático e córtex renal. Este capítulo é finalizado com a
descrição do terceiro modelo de avaliação da esteatose, cujo objectivo insere-se no estudo da
atenuação do feixe acústico ao longo do parênquima hepático.
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V.1 ANÁLISE TEXTURAL
Uma análise profunda de imagens adquiridas por US é útil aos profissionais de saúde na tomada
de decisões relativamente à existência e à evolução de uma determinada patologia. Este
processo decisivo está directamente relacionado com a procura de sinais típicos de uma
condição saudável ou patológica. Neste âmbito surge a avaliação da textura, procedimento
típico em imagens ecográficas [13, 24, 75]. A textura refere-se ao arranjo espacial dos pixéis na
imagem que são vistos como alterações de intensidade de padrões ou dos níveis de cinzento no
caso particular de imagens ecográficas[76][75][75][75][75] [74][72].
Esta caracterização poderá ser influenciada pelo ruído speckle pelo que por vezes se procede a
um pré-processamento das imagens [77]. O estudo textural é usado, por exemplo, na
caracterização e diagnóstico de algumas patologias como é o caso da esteatose assim como na
identificação de tecidos e órgãos. Constitui, portanto, uma fonte de informação importante,
razão pela qual é explorada neste trabalho.
O estudo textural executado neste trabalho faz uso de fórmulas computacionais aplicadas à
imagem digital caracterizada