cje0497 - padrões de manipulação na grande imprensa, perseu abramo

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CJE0497 – Lógica e Práticas Discursivas Jornalísticas Prof a Rosana Lima Soares Padrões de manipulação na grande imprensa Perseu Abramo Pauta 1) Padrão de ocultação – no momento em que se decide que um fato não é jornalístico, ele está para sempre excluído da cobertura jornalística e, automaticamente, excluído da realidade. O status de “fato jornalístico” , entretanto, reside no sujeito (o jornalista ou empresa jornalística), e não no objeto (o fato em si). Apuração 2) Padrão de fragmentação – uma vez escolhido como fato jornalístico, ele será fragmentado em inúmeros fatos particularizados, muitas vezes desconectados entre si, ou reconectados e revinculados de forma arbitrária. Opera-se pela seleção de aspectos (o fato é decomposto e apenas alguns aspectos são apresentados ao público) e descontextualização (os fragmentos de um fato perdem sua dimensão original e novos significados lhes são atribuídos). Redação/Edição 3) Padrão da inversão – reordenamento das partes, troca de lugares e de importâncias. a) Inversão da relevância dos aspectos – o secundário é apresentado como principal e vice-versa. b) Inversão da forma pelo conteúdo – a palavra e o visual passam a ser mais importantes que a informação. c) Inversão da versão pelo fato – a versão do órgão da imprensa ou de outras fontes que passa a substituir o fato. Utiliza recursos como o frasismo (sustentar a matéria com declarações isoladas) e o oficialismo ( dar voz somente a autoridades). d) Inversão da opinião pela informação – fazer com que a opinião se passe por informação, sem que o leitor se dê conta de que trata-se de opinião.

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Page 1: CJE0497 - Padrões de manipulação na grande imprensa, Perseu Abramo

CJE0497 – Lógica e Práticas Discursivas Jornalísticas Profa Rosana Lima Soares

Padrões de manipulação na grande imprensa

Perseu Abramo Pauta 1) Padrão de ocultação – no momento em que se decide que um

fato não é jornalístico, ele está para sempre excluído da cobertura jornalística e, automaticamente, excluído da realidade. O status de “fato jornalístico” , entretanto, reside no sujeito (o jornalista ou empresa jornalística), e não no objeto (o fato em si).

Apuração 2) Padrão de fragmentação – uma vez escolhido como fato

jornalístico, ele será fragmentado em inúmeros fatos particularizados, muitas vezes desconectados entre si, ou reconectados e revinculados de forma arbitrária. Opera-se pela seleção de aspectos (o fato é decomposto e apenas alguns aspectos são apresentados ao público) e descontextualização (os fragmentos de um fato perdem sua dimensão original e novos significados lhes são atribuídos).

Redação/Edição 3) Padrão da inversão – reordenamento das partes, troca de lugares

e de importâncias.

a) Inversão da relevância dos aspectos – o secundário é apresentado como principal e vice-versa.

b) Inversão da forma pelo conteúdo – a palavra e o visual

passam a ser mais importantes que a informação.

c) Inversão da versão pelo fato – a versão do órgão da imprensa ou de outras fontes que passa a substituir o fato. Utiliza recursos como o frasismo (sustentar a matéria com declarações isoladas) e o oficialismo ( dar voz somente a autoridades).

d) Inversão da opinião pela informação – fazer com que a opinião se passe por informação, sem que o leitor se dê conta de que trata-se de opinião.

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Gerenciamento (do planejamento à distribuição) 4) Padrão de indução – resultado da articulação combinada dos

vários órgãos de comunicação, ou seja, resultado das escolhas dentro do processo de produção jornalística enquanto empreendimento capitalista; induz o leitor a compreender o mundo de acordo com a nova realidade que lhe é apresentada.

5) Padrão global ou específico do jornalismo de radiodifusão –

compreende três momentos distintos: a exposição do fato (apelo à emoção); a sociedade fala (queixas e propostas, dores e alegrias dos personagens envolvidos; a autoridade resolve (providências/soluções no caso dos fatos naturais; condenar o mal/enaltecer o bem no caso dos fatos sociais). Esse esquema visa desestimular a ação da sociedade.

Objetividade e subjetividade Objetividade não é sinônimo de neutralidade, imparcialidade,

isenção, honestidade, valores estes de caráter moral, situados no campo da ação.

É defensável que o jornalismo seja não-neutro, não-imparcial, não-

isento diante dos fatos da realidade, pois é sujeito dessa realidade. Objetividade situa-se no campo do conhecimento. Não é intrínseca

ao sujeito nem ao objeto, mas à relação entre um e outro. Para aproximar-se da objetividade: conhecer os limites e condições

da capacidade humana de apreender e captar o real; disposição e autocontrole; busca dos vários ângulos, dos vínculos e do contexto de um acontecimento.

Falsa objetividade: restringe-se aos aspectos aparentes e

quantificáveis da realidade. Entretanto, nem toda realidade é dimensionável.

O significado político da manipulação A distorção da realidade é deliberada, tem um significado e um

propósito. O interesse econômico, segundo duas vertentes: a) o anunciante é

o maior responsável pelo produto final; b) a ambição de lucro do empresário de comunicação faz com que ele busque agradar seus consumidores.

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Considerações: a) o peso do anunciante é decisivo na pequena

empresa. Contudo, é na grande imprensa que manipulação é mais visível; b) há ramos mais lucrativos e mais rápidos do que a indústria da comunicação. Conclusão: o interesse não é somente econômico, mas principalmente político.

Os órgãos de comunicação constituem-se como partidos políticos. Partidos Políticos Órgãos de comunicação Manifestos de fundação, programas, teses Projetos editoriais, linhas editoriais, artigos

de fundo Estatutos, regimentos internos, regulamentos

Manuais de redação, normas de trabalho

Aparato material: sedes, móveis, equipamentos, verbas, veículos, etc.

Aparato material ainda mais moderno e sofisticado

Filiados, militantes, quadros dirigentes centrais e intermediários

Empregados, chefes, diretores, editores, dos quais se exige adesão e fidelidade

Normas disciplinares e sanções Normas disciplinares >> prêmios/rebaixamentos

Sede central, diretórios regionais e locais, células, núcleos, áreas de influência, intercâmbio com entidades do movimento social

Matriz, sucursais, correspondentes e enviados especiais, contratos e convênios com outros órgãos e agências internacionais

Simpatizantes e eleitorado Assinantes, leitores Boletins, jornal, revista, panfletos, palanques

São seu próprio meio de comunicação

Procuram conduzir a sociedade para alvos institucionais; para a preservação de certas instituições e a transformações de outras

Procuram conduzir a sociedade para alvos institucionais; para a preservação de certas instituições e a transformações de outras

Representatividade (mandatos legislativo e executivo)

Representatividade (auto-intitulados)

Os órgãos de comunicação tornaram-se entidades novas, com

propósitos diferentes de sua concepção inicial Circunstância ou tendência? Ao considerarmos tais mudanças como uma tendência, podemos

antever uma mudança social em três planos: 1) a classe dominante (burguesia) tenderá a desmistificar a imprensa; 2) as classes dominadas tenderão a entender a imprensa como ente político-partidário, exigindo que seja submetida ao controle público; 3) as classes dominadas lutarão pela transformação da natureza dos meios de comunicação: estes deverão deixar de ser vistos como instituições privadas, transformando-se em instituições públicas.