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CIRCUS MAGAZINE 2.0

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CIRCUS M A G A Z I N E

2.0

Acredita-se que o termo “Grunge” provém de uma forma relaxada de pronunciar “grungy” que, em inglês, sig-ni�ica “sujo”. Da mistura de padrões, ao cabelo desgrenhado e passando, claro, pelas roupas velhas e largas, esta tribo vai de encontro ao som saturado e distorcido das guitarras elétricas. Com origem na década de 80 em Seattle (EUA), o movi-mento Grunge assenta as suas raízes em bandas de rock como os Soundgarden e os Green River sendo, o vocalista da última, considerado até aos dias de hoje o Pai desta causa. Numa espécie de contra-ataque ao estilo hidratado e engo-mado usado nos anos 80 pelas aclamadas “Glam Rock Bands”, o Grunge surge como uma forma de promoção da simplici-dade e da não ostentação. É, portanto, do grito sufocado da frente alternativa que surge o Movimento como fonte de esperança de uma nova geração. E é pelo underground estar tão em voga que a CIRCUS deste mês vos mostra esta tribo numa viagem nada agonizante ao som da velha Seattle...

ENJOY THE RIDE

EDITORIAL

INÊS SANTOS

Soraia Oliveira

Inês Santos Regina Mendes

EDITORAS * PAGINAÇÃO

DESIGN GRÁFICO

Claúdio Martins

FOTOGRAFIA

E Q U I PA C I R C U S

Inês Meira Raquel Oliveira José Oliveira

Rúben Dias Manel Reinna Catarina Matias

Rita Neto Bárbara Matias Susana Afonso

Eduarda Brandão Tomás GarcezJoel Loureiro

REDATORES

E Q U I PA C I R C U S

POLAROID

EM SÍNTESE

EDITORIAL

ONDE OS ENCONTRAR?

EDITORIAL #3 RED SIGN TURKISH #8 POLAROID #12

MARINA MOREIRA #14 CINEMA SEM LEI #18 O ALTO #20

E O ÓSCAR VAI PARA...#29 NAMARI #34 GRUNGE.ONDE OS ENCONTRAR? #39

Wonderland P R I M AV E R AE M

5 S E N T I D O S

OH... SWEET HOMEDESPortribo TESTOSTERONA(S)

CAÇA AOS DOUTORESNoVaS TECnologIaS EM CARTAZ

COMING SOON

TELEVISÃO #40 WONDERLAND #42 PRIMAVERA EM 5 SENTIDOS #44

OH...SWEET HOME #50 DESPORTRIBO #52 TESTOSTERONA(S) #53

CAÇA AOS DOUTORES #55

COMING SOON... #60

NOVAS TECNOLOGIAS #56 EM CARTAZ #58

1.Antes de mais, quem são os RED SIGN TURKISH?

Os RED SIGN TURKISH são: João Costa na voz, Jorge Lopes e João Vaz na guitarra, Rui Silva no baixo e Pedro Costa na bateria, somos uma banda de Vizela que começou a 26 de janeiro de 2013.Somos uma banda de Rock Alternativo, in�luenciados por grandes bandas como Alice in Chains, Rage Against the Machine, Led Zeppelin, Pink Floyd... as nossas músicas surgem da mistura das in�luências de todos e expressam um grande sentimento de revolta tanto a nível das letras como das melodias. É uma espécie de crítica músical ao que achamos estar mal no mundo que nos rodeia, aqueles que tem excesso de poder etc. Foi esta a maneira que encontramos para dizer e expressar aquilo que sentimos sem tabus e isso vê-se nas nossas letras.

2.Como surgiu a ideia de criarem um projeto musical conjunto?

Aconteceu um bocado sem querer, o João Costa o Rui e o João Vaz ja tinham um projeto de covers, DIRT MONK, a algum tempo, o Jorge arranjou um concerto para o projeto deles, mas como só tinham um guitarrista, ofereceu-se para tocar com eles. O concerto correu bem e no �inal convidaram o Jorge para entrar no projeto. Começamos a ensaiar com frequência e reparamos que estavamos sintonizados a nível de gostos musicais e também sobre o caminho que queriamos seguir como banda. Foi aí que surgiu o primeiro original, Brainless Mind só que o nome do projeto estava e chocar os mais sensíveis e sentimos necessidade de mudar. Essa mudança surgiu durante aquelas revoluções que aconteciam na Turquia e com aquela famosa imagem da mulher do vestido vermelho no meio da revolução, esses foram dois dos motivos pelo qual escolhemos o nome RED SIGN TURKISH, mas há também outros motivos que são apenas conhecidos pela banda.No �inal do verão passado houve uma mudança de membro também, o nosso baterista inicial saiu da banda e deu lugar ao baterista actual Pedro Costa.Este projeto musical conjunto nao foi programado com antecedência nem nada, foi surgindo e foi crescendo sem darmos muito por isso, e temos ainda muito, mas muito, para crescer claro.

À CONVERSA COM... RED SIGN TURKISHTEXTO DE: INÊS SANTOS

3.Apesar dos temas originais, a grande maioria dos vossos concertos contam com covers e músicas adaptadas. É importante mostrar aos fãs quais são as vossas referencias musicais?

5.Qual é a música que mais gozo vos dá tocar em palco?

É um bocado di�ícil distinguir porque só tocamos músicas que todos gostam, mas dentro dos originais é a Tumor e nos covers é Rage Against The Machine - Bulls on Parade.

4.Com um público já fiel e uma personalidade artística já vincada, sentem o reconhecimento do vosso trabalho?

Nós ainda somos bastante pequenos neste mundo e não temos assim tanto para mostrar, mas o pouco que temos já começa a ser valorizado, por gente da terra e também de fora.Temos que elaborar algumas ideias que temos em mente para ganhar mais visibilidade o que vai trazer um maior reconhecimento do nosso trabalho, pois nós trabalhamos por conta própria, não temos agente nem colaboradores.

6.A internacionalização é um objetivo?

Sem dúvida, é o objectivo de todas as bandas em Portugal, pelo menos aquelas que cantam em inglês. O mundo da música em Portugal é muito mais pequeno do que lá fora e é menos aberto a novos projetos e coisas diferentes do habitual, sem falar no gozo que dá fazer uma tour pela europa ou mesmo fora da europa, é talvez o nosso principal objetivo.

Sim é sempre importante mostrar onde “nascemos para a música”, pois foram essas referências que nos uniram e o mais importante é que nos dá muito gozo tocar músicas de ídolos nossos, que desde pequenos ouvimos e que �izeram da música uma forma de vida tal como nós queremos fazer. Mas os temas originais é que trazem essa possibilidade de viver da música, quando mostramos a um público aquilo nós fazemos e eles gostam, é uma sensação diferente é como ter um orgasmo. O problema é que apenas ensaiamos ao �im de semana porque à semana a maioria dos elementos está na universi-dade, o pouco tempo que temos exige o dobro do esforço porque não é fácil criar algo novo que tenha o mínimo de qualidade para poder ser apresentado ao público.

7.Esperam-se novidades para breve?

Sim , vamos começar para a próxima semana a gravar o nosso

primeiro E.P e mais algumas surpresas.

8.Por último, uma mensagem para os vossos fãs e para os nossos leitores...

Obrigado a todos os que nos seguem, todos que nos dão apoio e nos ajudam de alguma maneira, porque sem o incentivo deles era muito mais dí�icil para nós. É muito grati�icante saber que existem pessoas que vão aos nossos concertos porque gostam da nossa atitude e da nossa música, só nos faz querer dar o nosso melhor. Os leitores que ainda não conhecem o nosso projeto, vão a nossa página no Facebook ou ao Youtube e ouçam as nossas músicas, deixem uma crítica, ideias, porque é sempre importante ter um feedback do público e saber o que pensam do projeto RED SIGN TURKISH.Muito obrigado à CIRCUS pelo convite.

POLAROID Quanto a ela, não há discórdia. Amantes, ou não, da fotogra�ia, todos têm um carinho especial pela magia a “olho nu” que ela representa. Da folha branca retida no interior de uma polaroid espera-se sempre o melhor. Desde cores inigualáveis a momentos inesquecíveis, estas máquinas com dimensões variáveis servem para muitas coisas mas são inquestionáveis enquanto motor para eternizar momentos e pessoas. A�inal, quantos de nós já tiveram o privilégio de ter em poucos minutos uma fotogra�ia para mais tarde recordar?

Apesar dos modelos mais antigos de máquinas polaroid viverem no nosso imaginário, hoje em dia existem modelos como a Fuji�ilm Instax Mini Pola-roid que, não obstante ao facto de serem mais pequenas e, por isso mesmo, reduzirem substancialmente o tamanho das fotogra�ias, nos abrem portas para sonhar e nos proporcionam mais do que uma fotogra�ia que, mais cedo ou mais tarde, se irá perder por entre tantas num arquivo de computa-dor. E tu? Queres viver para sempre?

TEXTO DE: CLAÚDIO MARTINS

Chama-se Marina Moreira , tem 21 anos e estuda na Faculdade de Belas Artes da Universidade do

Porto. Natural do Marco de Canaveses, é na pintura que reflete a sua maior paixão.

À CONVERSA COM...

Marina, como surgiu o gosto pela pintura?

Não me recordo exatamente quando come-cei a pintar. Fui desenvolvendo desde cedo um gosto pelo desenho que me levou até à pintura. Mesmo hoje existe uma relação intima entre desenho e pintura nos meus trabalhos.

Qual é a técnica que mais utiliza nos seus trabalhos?

Atualmente pinto a acrílico. Os últimos trabalhos, que tenho estado a desenvolver em pintura são a óleo, e outros em desenho a acrílico. Esta mudança ou preferência por uma ou outra técnica tem a ver com o sentido ou aspeto técnico que melhor se adequam

ao conceito pretendido. Também por ainda ser estudante de belas artes não me parece de todo despropositado aperfeiçoar a minha técnica a óleo bene�iciando de uma orien-tação académica. No entanto, a preferência pela técnica supera essa preocupação. O óleo é a técnica mais completa de todas. Nesta fase do projeto que continuo a desenvolver desde o ano anterior, o fato de o tempo de secagem ser maior (quando comparado ao acrílico), possibilita-me maior intervenção sobre o quadro. O óleo permite voltar ao quadro no dia seguinte sem perder a inten-sidade e a frescura do trabalho.

MARINA MOREIRA

TEXTO DE: INÊS SANTOS

Recorda-se da primeira apresentação pública do seu trabalho?

Penso que a primeira apresentação pública dos meus trabalhos foi numa exposição organizada pela escola onde estudava, no Museu Amadeu de Sousa Cardoso em Amar-ante em 2009.

Quais são os principais meios de divul-gação do seu trabalho?

Geralmente utilizo as redes sociais e participo em concursos para divulgar os trabalhos.

Anos de experiência implicam evoluções e conhe-cimentos técnicos. Que técnicas a distinguem?

Penso que as técnicas de pintura que mais me distinguem são mesmo a encaustica e óleo.

TEXTO DE: INÊS SANTOS

Todos temos artistas de referência . quais são os seus?

Os meus artistas de referência são Jenny Saville, Guy Denning, Alex Kanevsky, Frank Rannou... Os artistas de referência são sobretudo �igurativos. Em Kanevsky agrada-me a forma como o artista consegue conferir ambiguidade aos quadros, nunca existe uma tradução muito concreta da sua linguagem. As �iguras deam-bulam entre a realidade interior e exterior pela concretização técnica: o artista intervém no quadro em inúmeros layers que criam este espaço deambulatório e conferem uma enig-mática ambiguidade. Não me considero puramente conceptual ou puramente tecnicista, mas mediada pelo dois, e deste modo sinto-me também familiarizada com estes artistas.

Como vê o futuro das artes em Portugal?

A arte contemporânea engloba um vasto leque de movimentos artísticos que se movem em constantes inovações e rupturas, e é muito di�ícil prever o futuro. Quer saber como vejo o futuro das artes dentro do contexto sociopolítico? Como a história pode comprovar , a arte sobrevive a crises económicas, a rupturas e guerras .É inegável que essas rupturas trazem quebras com as tradições e, por consequência, inovações. Quanto ao futuro das artes no mercado? O grande núcleo de mercado artístico não parece entrar em crise. Quem tinha grande poder de compra, na sua maioria continua a ter.

Todo o tipo de arte reflete uma men-sagem. Qual é a sua?

Passar uma mensagem ou criar narrativas não é o que me move. Pre�iro suscitar questões no receptor.

Aconteceu um bocado sem querer, o João Costa o Rui e o João Vaz ja tinham um projeto de covers, DIRT MONK, a algum tempo, o Jorge arranjou um concerto para o projeto deles, mas como só tinham um guitarrista, ofereceu-se para tocar com eles. O concerto correu bem e no �inal convidaram o Jorge para entrar no projeto. Começamos a ensaiar com frequência e reparamos que estavamos sintonizados a nível de gostos musicais e também sobre o caminho que queriamos seguir como banda. Foi aí que surgiu o primeiro original, Brainless Mind só que o nome do projeto estava e chocar os mais sensíveis e sentimos necessidade de mudar. Essa mudança surgiu durante aquelas revoluções que aconteciam na Turquia e com aquela famosa imagem da mulher do vestido vermelho no meio da revolução, esses foram dois dos motivos pelo qual escolhemos o nome RED SIGN TURKISH, mas há também outros motivos que são apenas conhecidos pela banda.No �inal do verão passado houve uma mudança de membro também, o nosso baterista inicial saiu da banda e deu lugar ao baterista actual Pedro Costa.Este projeto musical conjunto nao foi programado com antecedência nem nada, foi surgindo e foi crescendo sem darmos muito por isso, e temos ainda muito, mas muito, para crescer claro.

Sem dúvida, é o objectivo de todas as bandas em Portugal, pelo menos aquelas que cantam em inglês. O mundo da música em Portugal é muito mais pequeno do que lá fora e é menos aberto a novos projetos e coisas diferentes do habitual, sem falar no gozo que dá fazer uma tour pela europa ou mesmo fora da europa, é talvez o nosso principal objetivo.

Antes de começar aviso que tenho uma página sobre cinema, onde faço a minha inter-venção social (?), cultural (?) - não sei como lhe chamar - e não tenho jeito nenhum para a promover. Por isso decidi falar da minha experiência e motivação para ter chegado onde estou hoje. Sabem aquelas pessoas que desde cedo têm os seus objectivos muito bem de�inidos e lutam incansavelmente para conseguir tal coisa? Eu não sou nada assim. As coisas acontecem-me por acaso e nos últimos tempos até tem corrido muito bem. Eu sou o rapaz que no 9º ano fez os testes psicotécnicos e me disseram que o meu lugar seria em comunicação. Então como é lógico no 10º entrei para… turismo! Não gostei do curso nos dois primeiros anos, �iz um estágio pro�issional como guia nos barcos do Douro e recebi um dezassete que não foi su�iciente para �icar a trabalhar por lá. Veio o desemprego e uma nova oportunidade na Academia RTP. Era o mais novo de 100 estagiários a entrar, acabei como um dos que teve o�icialmente mais projetos e melhor nota. A partir desse momento o mundo era meu. Mas o mundo não era como eu pensava. O mundo está repleto de estágios não remunerados ou de freelancers que não são pagos. Vivo num país que amo, mas que me diz para ir para fora. Aqui não há lugar para mim, dizem eles. Sim, eu quero trabalhar com Gary Oldman e quem me dera ter chegado a tempo para trabalhar com Philip Seymor Hoffman. Perdi essa sorte, mas gostava que me dessem a oportuni-dade de seguir a minha viagem a partir de Portugal. O que faz um rapaz de 19 anos que não encon-tra trabalho, tem o sonho de trabalhar para o cinema e não vai a tempo de se inscrever para os exames? Mais uma vez me vejo desempregado e é aqui que inadvertidamente começa o Cinema Sem Lei. Queria continuar perto da área que admiro e comecei a escrever. Tinha ideias para curtas de animação, �ilmes, séries… Mas os meses iam passando e a motivação também. Decidi então refu-giar-me nos �ilmes. Cheguei a ver três �ilmes por dia e no �inal ia sempre procurar aquelas pequenas curiosidades ou a importância que determinado �ilme tinha para a época. Comecei a partilhar isso no meu facebook pessoal e a aceitação foi agradável. Acabei por pensar se não seria justo e prazero-so partilhar o que sei com mais pessoas para além dos meus amigos. Um dia, em conversa com alguém que conheço apenas através do facebook sugeri o

�ilme “Le fabuleux destin d'Amélie Poulain”. Nunca mais me lembrei que o tinha feito, até que uns dias depois essa pessoa me veio agradecer por lhe ter proporcionado aquele pedaço de magia. Estava decidi-do, saber que consigo fazer alguém mais feliz nem que seja por um dia, um bocadinho à imagem do próprio �ilme, passou a ser o meu objetivo. Fiz uma pequena pesquisa e constatei que são poucas as páginas que mostram esse lado do cinema. O lado dos sonhos e das memórias. E é assim que �inalmente surge o Cinema Sem Lei enquanto página de facebook. Desde cedo decidi que não estou ali para partilhar notícias ou dar a minha opinião sobre o último �ilme que estreou no cinema. Partilho o que gosto, sem a preocupação de chegar às massas. Esse “serviço” tão próprio agradou e percebi que um pequeno número de pessoas me era �iel e seguia diariamente. Chegou a altura em que precisava de uma plataforma que me permitisse exprimir de outra forma e onde a memória não fosse efémera como é no facebook. Criei então um blog que serve de com-plemento à página. Lá partilho mais entretenimento, desde as 20 melhores cenas de dança, passando pelos 25 melhores �ilmes de Natal ou ainda os 20 actores mais mortíferos de sempre. Tudo conteúdo diferente do habitual e que é muito bem recebido pelos seguidores. Quem me segue não �ica só a conhecer o cinema, também faço questão de partilhar a cultura portuguesa. Desde Fernando Pessoa, passando por Almada Negreiro ou Zeca Afonso até ao mais recen-te Raul Solnado. Acho que é isso que me torna distinto. Uso as minhas ferramentas para levar o nome das coisas que gosto ainda mais longe. Não tenho o cuidado de tentar ser diferente porque o Cinema Sem Lei sou eu. Quero incutir o gosto pelo cinema que nos ensina alguma coisa. Quero reviver emoções ou apresentar novos mundos a quem me segue. E até agora tem resultado. Regra geral con�iam no meu gosto e opinião, o que torna este projecto uma espécie de comunidade onde já conheci pessoas fantásticas e provavelmente aprendi mais do que ensinei. Quatro meses depois do início deste projecto, o Cinema Sem Lei chega a países como Angola, Paraguai ou até Vietnam. Que orgulho! Acho que encontrei um lugar neste país que me agrada e onde me sinto útil. Mesmo que seja apenas atrás de um computador. Enquanto não consigo chegar a voos mais altos, dedico-me a este lugar que encontrei para mim. Como costumo dizer: Que a vossa vida dê um �ilme. Com um �inal feliz!

CINEMA SEM LEI

TEXTO DE: RÚBEN DIAS

O Alto retrata a história �iccionada de uma

família aristocrata de Marco de Canaveses,

os João-Azevedo, que se viram obrigados a

recorrer ao exílio em 1960, em pleno

regime salazarista. Acusados injustamente

de serem cúmplices na fuga de um revolu-

cionário procurado pela PIDE, os Viscondes

fugiram para Inglaterra evitando a captura

e prisão da família.

A trama da série inicia-se já no pós-25 de

Abril, no ano de 1980, quando a família

decide voltar a terras marcoenses.

O ALTO

TEXTO DE: REGINA MENDES

Quando porém regressam à terra tão amada, os João-Azevedo encontram um povo e um país completamente difer-entes daquele que abandonaram há vinte anos. Com eles, um sentimento de nostal-gia e saudade, mas sobretudo uma neces-sidade de justiça e de vingança. Quem quer que seja que os incriminou, terá de pagar.

Bom, tudo começou quando concorri a

um fundo internacional de apoio às artes

e cultura com a produção de uma

minissérie televisiva, cujo principal obje-

tivo se baseia-se na promoção de uma

região histórica do meu país, possibil-

itando simultaneamente a formação de

jovens atores.

Assim, quando me foi comunicado, em

fevereiro de 2013, que a candidatura

tinha sido aceite, obviamente �iquei

muito contente e tomei a decisão de

começar a trabalhar neste projeto que,

desde início, considerei que poderia

mudar a minha vida. E de�initivamente

mudou.

A responsabilidade de escrever o argu-

mento todo sozinho não me agradou

muito, e surgiu-me assim a ideia de con-

vidar uma prima e amiga, a Helena

Macedo, para embarcar comigo nesta

aventura e começarmos a escrever

aquilo que mais tarde se traduziria n'O

Alto. Quanto a escolhermos o Marco de

Canaveses como pano de fundo para a

história, surgiu da forma mais natural e

lógica possível. Primeiro, porque somos

naturais do Marco, vivemos no Marco,

crescemos no Marco e por ele temos um

encanto único e especial. Obviamente que

ter a possibilidade de utilizar as paisagens

marcoenses como palco para este projeto

era uma obrigação inquestionável.

Consequentemente, surgiu a necessidade

de escolher o tempo da ação: se decorreria

nos dias de hoje, no século XV, ou XVI, se

nos anos 20, 30 e por aí além. Mesmo aí, a

escolha foi muito facilitada. Primeiro,

porque queríamos contar uma história

passada, mais do que fazer uma re�lexão do

presente.

De facto, durante a minha vida, fui ouvindo

histórias da minha mãe, da minha avó e tias

a falar dos seus tempos de juventude, da

época salazarista, e do que mudou depois

do 25 de Abril. Sempre me fascinou o facto

de elas conhecerem toda a gente por

alcunhas de família, ou de lugar. Nomes

como o Manuel das Bombas, ou o Bernardo

da Pontinha, ou o Joaquim Maneta. Porque

apesar de não ser uma cidade cosmopolita

como o Porto ou Lisboa, o Marco é

- João, antes de mais, como surgiu a ideia de criar uma série de época?

“O Alto surgiu - como um ex-ercício para os atores da Al-phatones: Academia Artísti-ca e Associação Cultural.”

de�initivamente uma cidade bastante

mais desenvolvida do que há uns

tempos, e acredito ter perdido um

bocado da magia do passado.

E pronto, se calhar por ser mais fácil

recolher relatos, histórias e testemunhos

de pessoas que viveram nessa época do

pós-25 de Abril, decidimos que esse

seria o tempo da ação, e daí todo o gozo

que daria falarmos e apresentarmos um

tempo que desconhecíamos, e sobre o

qual teríamos de pesquisar e trabalhar

para podermos apresentar com alguma

�idelidade.

Uma vez que tinha conseguido esse

incentivo �inanceiro inicial, que mais

tarde se revelou praticamente irrisório

quando comparado com o investimento

total que envolveu a produção dos 7

episódios (cada um com sensivelmente

35 minutos de duração), e como simulta-

neamente ocupava o lugar de Diretor

Artístico da associação cultural Alpha-

tones, que eu mesmo criei em conjunto

com uma amiga, a Filipa Santos, em

2012, naturalmente que decidi direcio-

nar a série como um exercício para

atores jovens.

Efetivamente, foi assim que o O Alto

surgiu - como um exercício para os

atores da Alphatones: Academia Artísti-

ca e Associação Cultural - e assim foram

escritas personagens para todos os

atores que constituíam a associação.

- Criaram os Alphatones no 12ºano. São os membros

desta associação que integram o elenco d’O Alto?

No início tivemos um apoio �inanceiro da

comunidade europeia, embora muito

reduzido para o orçamento real da série.

Claro que, para fazermos acontecer tudo

isto, tivemos de apresentar o projeto a

muita gente, muitos empresários e claro,

contamos com uma ajuda signi�icativa

da Câmara Municipal do Marco de Cana-

veses na pessoa do Dr. Manuel Moreira

que nos ouviu e decidiu apostar no pro-

jeto.

- Com que tipo de apoios contaram inicialmente?

Claro que, com o desenrolar da ação, tor-

nou-se necessário criar ainda mais per-

sonagens para concluir os tramas

secundários, e vimo-nos assim obriga-

dos a recorrer a castings e a ir recrutar

atores. Portanto, O Alto é maioritaria-

mente constituído por atores dos Alpha

mas o elenco é composto por muitos

outros atores, desde a Filomena Barbo-

sa, professora de inglês do liceu do

Marco de Canaveses, e do Carlos Freitas

que trabalha no BES cá no centro, e que

são os únicos atores com mais de 25

anos, a recém-licenciados e alguns

alunos de teatro das faculdades do Porto.

Isto sem falar dos amigos a que recorre-

mos para �iguração ou mesmo para

papéis secundários.

Essa pergunta faço-a eu a mim mesmo

inúmeras vezes. O Alto, ao contrário do

que muita gente acredita, não foi concebi-

do para ser vendido, embora com isto não

estou a dizer que não o seja. A série foi

criada para ser um exercício de atores e

uma atividade de promoção cultural e

regional. O nosso principal objetivo

sempre foi fazer de tudo para que os

atores entrassem nas personagens, eles

próprios criassem a sua própria história e

crescessem, ao mesmo tempo que

explorávamos o Marco de Canaveses. E

isso penso que conseguimos. Neste preci-

so momento tenho os 7 episódios edita-

dos, em processo de correção de cor e

desenho de som. Fazer uma 2ª tempora-

da não está nos planos, mas também não é

uma hipótese descartada, até porque a

história �icou completamente em aberto.

Todos os tramas foram propositadamente

deixados sem uma conclusão, diria até

que no seu auge. Mas para uma segunda

temporada é preciso que esta se mostre

rentável, até porque neste momento esta-

mos já a trabalhar em novos projetos, os

nossos atores vão agora entrar num pro-

cesso de formação pro�issional intensa

nos próximos 6 meses. Não é viável andar

a pedir dinheiro constantemente para a

realização de uma segunda temporada

- A primeira temporada já terminou. Podemos esperar pela segunda?

enquanto esta não resultar em bene�ícios

�inanceiros para a associação.

Portanto, enquanto coargumentista,

tenho toda a vontade de escrever, em con-

junto com a Helena, uma segunda tempo-

rada. Enquanto realizador, produtor e

diretor artístico dos Alphatones, sei que

todos precisamos de tempo para outros

projetos.

“O Alto é maioritariamente constituído por atores dos Alpha mas o elenco é composto por muitos outros atores. Isto sem falar dos amigos a que recorremos(...)”

Antes de começar aviso que tenho uma página sobre cinema, onde faço a minha inter-venção social (?), cultural (?) - não sei como lhe chamar - e não tenho jeito nenhum para a promover. Por isso decidi falar da minha experiência e motivação para ter chegado onde estou hoje. Sabem aquelas pessoas que desde cedo têm os seus objectivos muito bem de�inidos e lutam incansavelmente para conseguir tal coisa? Eu não sou nada assim. As coisas acontecem-me por acaso e nos últimos tempos até tem corrido muito bem. Eu sou o rapaz que no 9º ano fez os testes psicotécnicos e me disseram que o meu lugar seria em comunicação. Então como é lógico no 10º entrei para… turismo! Não gostei do curso nos dois primeiros anos, �iz um estágio pro�issional como guia nos barcos do Douro e recebi um dezassete que não foi su�iciente para �icar a trabalhar por lá. Veio o desemprego e uma nova oportunidade na Academia RTP. Era o mais novo de 100 estagiários a entrar, acabei como um dos que teve o�icialmente mais projetos e melhor nota. A partir desse momento o mundo era meu. Mas o mundo não era como eu pensava. O mundo está repleto de estágios não remunerados ou de freelancers que não são pagos. Vivo num país que amo, mas que me diz para ir para fora. Aqui não há lugar para mim, dizem eles. Sim, eu quero trabalhar com Gary Oldman e quem me dera ter chegado a tempo para trabalhar com Philip Seymor Hoffman. Perdi essa sorte, mas gostava que me dessem a oportuni-dade de seguir a minha viagem a partir de Portugal. O que faz um rapaz de 19 anos que não encon-tra trabalho, tem o sonho de trabalhar para o cinema e não vai a tempo de se inscrever para os exames? Mais uma vez me vejo desempregado e é aqui que inadvertidamente começa o Cinema Sem Lei. Queria continuar perto da área que admiro e comecei a escrever. Tinha ideias para curtas de animação, �ilmes, séries… Mas os meses iam passando e a motivação também. Decidi então refu-giar-me nos �ilmes. Cheguei a ver três �ilmes por dia e no �inal ia sempre procurar aquelas pequenas curiosidades ou a importância que determinado �ilme tinha para a época. Comecei a partilhar isso no meu facebook pessoal e a aceitação foi agradável. Acabei por pensar se não seria justo e prazero-so partilhar o que sei com mais pessoas para além dos meus amigos. Um dia, em conversa com alguém que conheço apenas através do facebook sugeri o

É muito di�ícil falar dos entraves com que

nos fomos deparando ao longo do caminho.

Primeiro, porque ainda os há, sempre, a

toda a hora surge outro entrave que nos

quer deitar a baixo, mas que acabamos por

conseguir vencer. Os principais entraves

basearam-se na minha inexperiência

enquanto realizador e produtor de um pro-

jeto desta envergadura, na falta de pessoal

para a produção e maioritariamente na di�i-

culdade em conseguir angariar fundos,

atrás de fundos e atrás de fundos. A ver-

dade é que isto foi uma aventura com "A"

grande. Eu não fazia a mínima ideia no que

me estava a meter. Nenhum de nós fazia.

Mas a�inal de contas, o que é uma aventura

se não partir ao desconhecido? A nossa

sorte foi que tivemos sempre imensa gente

pronta a ajudar-nos, desde a Margarida

Aguiar Cabeleireiros que foi responsável

pelos cabelos das personagens mais impor-

tantes da série, à JPS Informática que nos

forneceu ajuda tecnológica sempre que

possível, do MCoutinho, a Câmara Munici-

pal em questões logísticas, desde fechar

ruas, a fornecer material de escritório, do

Fornos do Padeiro ao ceder local para a pro-

dução e bolos para alimentar os nossos

atores e equipa técnica, familiares, amigos,

e por aí além. Uma das coisas que descobri

foi que quando quero fazer uma lista de

toda a gente que se envolveu no projeto, de

toda a gente que ajudou de alguma forma,

- Quais foram as maiores dificuldades até à data?

dou por mim a escrever mais de 70

nomes, e mesmo assim parece sempre

que falta alguém. Até o tempo foi um

obstáculo. Gravamos a série em três fases:

15 dias em Março, 15 dias em Junho e 4

dias em setembro. De umas vezes para as

outras era preciso angariar mais dinheiro,

organizar roupas (mais de 200 conjun-

tos), criar horários de cabeleireiro, ma-

quilhagem, transporte, refeições, isto sem

esquecer estadia dos atores e equipa

técnica de fora. Da primeira vez, a chuva

impediu a gravação de grande parte das

cenas exteriores, da 2ª vez o calor derretia

a maquilhagem de envelhecimento em

minutos, havia sempre algo a correr mal.

E claro que tendo pouco dinheiro, não

podíamos contratar pessoas para ser

responsáveis por departamentos, e as

�ilme “Le fabuleux destin d'Amélie Poulain”. Nunca mais me lembrei que o tinha feito, até que uns dias depois essa pessoa me veio agradecer por lhe ter proporcionado aquele pedaço de magia. Estava decidi-do, saber que consigo fazer alguém mais feliz nem que seja por um dia, um bocadinho à imagem do próprio �ilme, passou a ser o meu objetivo. Fiz uma pequena pesquisa e constatei que são poucas as páginas que mostram esse lado do cinema. O lado dos sonhos e das memórias. E é assim que �inalmente surge o Cinema Sem Lei enquanto página de facebook. Desde cedo decidi que não estou ali para partilhar notícias ou dar a minha opinião sobre o último �ilme que estreou no cinema. Partilho o que gosto, sem a preocupação de chegar às massas. Esse “serviço” tão próprio agradou e percebi que um pequeno número de pessoas me era �iel e seguia diariamente. Chegou a altura em que precisava de uma plataforma que me permitisse exprimir de outra forma e onde a memória não fosse efémera como é no facebook. Criei então um blog que serve de com-plemento à página. Lá partilho mais entretenimento, desde as 20 melhores cenas de dança, passando pelos 25 melhores �ilmes de Natal ou ainda os 20 actores mais mortíferos de sempre. Tudo conteúdo diferente do habitual e que é muito bem recebido pelos seguidores. Quem me segue não �ica só a conhecer o cinema, também faço questão de partilhar a cultura portuguesa. Desde Fernando Pessoa, passando por Almada Negreiro ou Zeca Afonso até ao mais recen-te Raul Solnado. Acho que é isso que me torna distinto. Uso as minhas ferramentas para levar o nome das coisas que gosto ainda mais longe. Não tenho o cuidado de tentar ser diferente porque o Cinema Sem Lei sou eu. Quero incutir o gosto pelo cinema que nos ensina alguma coisa. Quero reviver emoções ou apresentar novos mundos a quem me segue. E até agora tem resultado. Regra geral con�iam no meu gosto e opinião, o que torna este projecto uma espécie de comunidade onde já conheci pessoas fantásticas e provavelmente aprendi mais do que ensinei. Quatro meses depois do início deste projecto, o Cinema Sem Lei chega a países como Angola, Paraguai ou até Vietnam. Que orgulho! Acho que encontrei um lugar neste país que me agrada e onde me sinto útil. Mesmo que seja apenas atrás de um computador. Enquanto não consigo chegar a voos mais altos, dedico-me a este lugar que encontrei para mim. Como costumo dizer: Que a vossa vida dê um �ilme. Com um �inal feliz!

Apesar do objetivo inicial não ter sido a

venda da série, é agora algo que quere-

mos muito que se concretize. Apesar

de ser muito di�ícil O Alto transmite

uma mensagem. E acredito que é nessa

mensagem que se encontra o segredo

para que consigamos vender. Obvia-

mente que em termos de qualidade a

série �ica aquém das produções televi-

sivas que estamos habituados, embora

muitos pro�issionais do ramo �iquem

impressionados com o que consegui-

mos concretizar. Mas o que este produ-

to tem que os outros não tem é que é a

prova viva de que, independentemente

das condições socioeconómicas do

país, independentemente desta crise

hedionda que atravessamos, é na von-

tade e no sonho que reside a verdadei-

ra essência da vida. E espero que sim,

que muito brevemente possam ver a

série num canal de televisão. Pelo

menos lutaremos incessantemente

por isso.

- Sabemos que, neste momento, o seu objetivo principal é vender a série. Podemos esperar vê-la na televisão em breve?

pessoas andavam sobrecarregadas. Mesmo

para os atores é muito di�ícil conseguir fazer

um trabalho de qualidade quando eles são

os primeiros a sofrer com as de�iciências da

equipa de produção que se via impossibilita-

da de fazer mais do que o que já faziam

porque eram poucas pessoas responsáveis

por um sem �im número de tarefas. E claro,

não posso deixar de falar da Dona Amélia

Ribeiro, uma senhora com um caráter

incrível, sempre humilde, sempre a rir-se,

sempre pronta a ouvir-nos e tentar ajudar.

Custa-me referir-me a ela como a euro mil-

ionária que ganhou 51M € em Março de

2013, mas sim como uma amiga, que enten-

deu que sem ajuda dela não nos seria pos-

sível realizar a 3ª fase de gravações. E graças

à ajuda dela estes 4 dias de gravações foram

incríveis, porque tínhamos dinheiro para

fazer as coisas com dignidade. É

impossível quanti�icar os entraves,

mas o mais fundamental é ver que os

vencemos, a todos, destemidamente.

Neste momento estamos a trabalhar em

imensos projetos. Vamos fazer um docu-

mentário a Londres em fevereiro, temos

realizado alguns vídeos promocionais para

angariar algum dinheiro para atividades cul-

turais e vamos também iniciar um ciclo de

formação artística e pro�issional intensa

para os nossos atores nos próximos 5 meses

com personalidades reconhecidas nacional-

mente no campo do movimento e expressão

corporal, voz e interpretação. Além disso,

temos o nosso grande projeto mas isso é

uma surpresa que esperamos puder revelar

muito em breve. Só deixo a pista que a von-

tade é permitir que a associação chegue a

muitas mais pessoas.

- Em que projetos andam os Alphatones metidos?

lógica possível. Primeiro, porque somos

naturais do Marco, vivemos no Marco,

crescemos no Marco e por ele temos um

encanto único e especial. Obviamente que

ter a possibilidade de utilizar as paisagens

marcoenses como palco para este projeto

era uma obrigação inquestionável.

Consequentemente, surgiu a necessidade

de escolher o tempo da ação: se decorreria

nos dias de hoje, no século XV, ou XVI, se

nos anos 20, 30 e por aí além. Mesmo aí, a

escolha foi muito facilitada. Primeiro,

porque queríamos contar uma história

passada, mais do que fazer uma re�lexão do

presente.

De facto, durante a minha vida, fui ouvindo

histórias da minha mãe, da minha avó e tias

a falar dos seus tempos de juventude, da

época salazarista, e do que mudou depois

do 25 de Abril. Sempre me fascinou o facto

de elas conhecerem toda a gente por

alcunhas de família, ou de lugar. Nomes

como o Manuel das Bombas, ou o Bernardo

da Pontinha, ou o Joaquim Maneta. Porque

apesar de não ser uma cidade cosmopolita

como o Porto ou Lisboa, o Marco é

E O ÓSCAR VAI PARA. . .

Cate Blanchet Este é já o segundo Oscar para Cate, o primeiro foi ganho ao comando de Martin Scorsese em “O Aviador”, onde deu vida a Katharine Hepburn. Agora dirigida por por Woody Allen leva o seu segundo Oscar fruto da soberba interpretação em “Blue Jasmine” onde dá vida a uma mulher de classe alta que depois de perder tudo é obrigada a viver na casa da sua irmã num pequeno bairro de São Francisco.

Lupita Nyong’o Derrubou a concorrência feroz de Jennifer Lawrence e levou o Oscar para casa. Este foi o seu primeiro �ilme e foi o su�iciente para mostrar ao mundo que talento não lhe falta. Patsey, a personagem a quem deu vida, �icará para sempre na memória de todos os que virão “12 Anos Escravo”, assim como a cena em que é violentamente chicoteada.

MATTHEW MCCONAUGHEYA vitória de Matthew foi merecida, a sua transformação �ísica em “ Dallas Buyers Club” é de quem dá tudo de si em prol da arte. Contu-do, a vitória de Matthew gerou a derrota mais contestada da noite. Leonardo Dicaprio mais uma vez foi posto de lado e as redes sociais rebentaram de desagrado.

TEXTO DE: JOSÉ OLIVEIRA

Jared letoO vocalista dos “30 Seconds to Mars” viu reconhecido o seu trabalho extraordinário em “Dallas Buyers Club”com o transsexual Rayon, a transformação �ísica de Leto também contou muito na hora da academia escolher o vencedor. Por premiar �icaram Michael Fass-bender e Barkhad Abdi que não �icaram nada atrás de Jared Leto.

alfonso cuarónUm trabalho tão minucioso e perfecionista como aquele que Cuarón fez em “Gravidade” merece e deve ser premiado. Ainda bem que o foi, porque foi do seu génio que saiu aquele que daqui a uns anos será relembrado como um dos �ilmes mais à frente do seu tempo desta década.

12 anos escravoO �ilme aborda um dos temas dos quais a América tem mais motivos para ter vergonha do seu passado, e agora �ica bem à mesma América reconhecer o erro do passado e premiar este �ilme. “12 Anos Escravo” é brilhante em cada segundo, em cada interpretação, na realização e em tudo o resto. Um daqueles �ilmes que será recordado para a eternidade.

É muito di�ícil falar dos entraves com que

nos fomos deparando ao longo do caminho.

Primeiro, porque ainda os há, sempre, a

toda a hora surge outro entrave que nos

quer deitar a baixo, mas que acabamos por

conseguir vencer. Os principais entraves

basearam-se na minha inexperiência

enquanto realizador e produtor de um pro-

jeto desta envergadura, na falta de pessoal

para a produção e maioritariamente na di�i-

culdade em conseguir angariar fundos,

atrás de fundos e atrás de fundos. A ver-

dade é que isto foi uma aventura com "A"

grande. Eu não fazia a mínima ideia no que

me estava a meter. Nenhum de nós fazia.

Mas a�inal de contas, o que é uma aventura

se não partir ao desconhecido? A nossa

sorte foi que tivemos sempre imensa gente

pronta a ajudar-nos, desde a Margarida

Aguiar Cabeleireiros que foi responsável

pelos cabelos das personagens mais impor-

tantes da série, à JPS Informática que nos

forneceu ajuda tecnológica sempre que

possível, do MCoutinho, a Câmara Munici-

pal em questões logísticas, desde fechar

ruas, a fornecer material de escritório, do

Fornos do Padeiro ao ceder local para a pro-

dução e bolos para alimentar os nossos

atores e equipa técnica, familiares, amigos,

e por aí além. Uma das coisas que descobri

foi que quando quero fazer uma lista de

toda a gente que se envolveu no projeto, de

toda a gente que ajudou de alguma forma,

w w w. f a c e b o o k . c o m / n a m a r i m u s i c a

Apesar de ambos já termos um passado

relacionado com a música e já cantarmos

juntos em casa, este projeto começou

quase por brincadeira. Surgiu-nos a ideia

de testar uma câmara de �ilmar já com

alguns anos de idade. Pousamos a câmara

num tripé, sentámo-nos a frente e grava-

mos uma música que andávamos a cantar

por aqueles dias. Como achamos que

estava engraçado, �izemos o upload para o

YouTube e muitas pessoas gostaram.

Depois disso nunca mais paramos com os

vídeos.

- Antes de mais, como surgiu a ideia deste projeto?

Por muito que quiséssemos dizer o con-

trário, o nome não tem nenhum signi�i-

cado em especial, não fomos buscá-lo a

nenhum lado, surgiu simplesmente de

ligações entre palavras e frases do

dia-a-dia e em determinado momento

achamos que este soava bem. Depois

desse "plim" fomos descobrir que a

palavra "Namari" tinha ligações com

termos africanos e pensamos que essa

questão étnica combinava com os

nossos valores.

- Porquê Namari?

Na maior parte do tempo sentíamo-nos

confortáveis só os dois, até porque

sendo o nosso estilo acústico e o projeto

muito caseiro, o conjunto voz e viola

bastava para nós. Mas algumas vezes em

que tivemos experiências a tocar com

outras pessoas, amigos próximos, com

mais instrumentos, víamos que se isso

fosse acrescentado poderíamos vir a

melhorar muito e a transmitir muito

mais. Outras pessoas sempre trazem

opiniões novas, mais dinâmica e espe-

cialmente no nosso caso, variedade.

- Uma banda com apenas dois membros é sempre complicada de gerir. Quais foram as vossas maiores dificuldades?

Dois jovens, uma câmara, uma guitarra e uma paixão

em comum: a música.

NAMARI surge deste equilíbrio perfeito!

TEXTO DE: REGINA MENDES

Neste momento estamos a trabalhar em

imensos projetos. Vamos fazer um docu-

mentário a Londres em fevereiro, temos

realizado alguns vídeos promocionais para

angariar algum dinheiro para atividades cul-

turais e vamos também iniciar um ciclo de

formação artística e pro�issional intensa

para os nossos atores nos próximos 5 meses

com personalidades reconhecidas nacional-

mente no campo do movimento e expressão

corporal, voz e interpretação. Além disso,

temos o nosso grande projeto mas isso é

uma surpresa que esperamos puder revelar

muito em breve. Só deixo a pista que a von-

tade é permitir que a associação chegue a

muitas mais pessoas.

Temos até agora quinze covers e quatro

originais no nosso canal do YouTube e con-

tamos com mais de 36,500 visualizações

no total! É realmente um número que nos

deixa muito contentes, especialmente

porque além do apoio

dos amigos temos também muitas pes-

soas de todo o mundo que diariamente

conhecem o nosso trabalho.

- Apesar de alguns originais, sabemos que são,

maioritariamente, uma banda de covers. Quan-

tos covers podemos ouvir na vossa página?

- Novidades para breve …?

A maior novidade deste momento e que

temos guardado com muito carinho é a

expansão do projeto para uma banda,

composta no total por seis elementos.

Somos agora um grupo de amigos a tra-

balhar arduamente na preparação de

material, especialmente original, e com

vista a apresentações dentro de pouco

tempo.

Temos já marcada a nossa estreia para o

dia 19 deste mês, em Torre de Moncor-

vo, e acreditamos que deste pontapé

inicial certamente sairá a vontade de

continuar esse caminho.

Desejamos ter mais e mais novidades

nos próximos tempos e esperamos que

os leitores da Circus também as possam

acompanhar desse lado!

Provavelmente podemos dizer que da

mistura das nossas origens não se

destaca um estilo maior, mas desta-

ca-se sim a importância que a língua

portuguesa tem para nós através dos

ritmos que nos são mais próprios. O

samba e a bossa nova, o fado e todo

esse novo movimento da música portu-

guesa, mas também nos identi�icamos

com um pouquinho de rock, de reggae

e de qualquer outro estilo que nos faça

sentir qualquer coisa "diferente".

- Com que estilos musicais se identificam mais?

12 anos escravoO �ilme aborda um dos temas dos quais a América tem mais motivos para ter vergonha do seu passado, e agora �ica bem à mesma América reconhecer o erro do passado e premiar este �ilme. “12 Anos Escravo” é brilhante em cada segundo, em cada interpretação, na realização e em tudo o resto. Um daqueles �ilmes que será recordado para a eternidade.

Fazem compras na rua de Santa Ca-

tarina,no Porto, onde encontram

peças de roupas diferentes… mesmo

ao seu estilo. Lojas como a Pull and

Bear ou Berskha podem, por vezes,

conter peças do seu interesse. Sítios

como Outlets e feiras de produtos em

segunda mão também estão na mira.

Não ligam muito a “modas” nem às

novas tendências; seguem o seu

próprio estilo e não se deixam levar

pelo que é, ou não, “cool” de acordo

com os critérios de aceitação da so-

ciedade. Por norma, não são de

gastar fortunas em peças de roupa.

Tal como toda a gente, gostam de

uma boa refeição, embora tanto são

vistos no McDonald's como num

restaurante vegetariano dependen-

do, obviamente, do gosto de cada

um. Regra geral, frequentam

restaurantes mais económicos e

com boa qualidade. Por serem

malta do underground, deslo-

cam-se preferencialmente pela

periferia evitando, sempre,

grandes centros económicos.

Apesar do estilo Grunge estar

preferencialmente ligado ao

Rock, punk ou Rock alternativo, a

verdade é que nem só a esses esti-

los de música esta tribo está asso-

ciada. Frequentadores da noite e

do dark side of the moon, podem

ser visto, regra geral, em spots de

música electronica como, por ex-

emplo, a norte o Hardclub ou o

Gare e, mais a sul, o Lux.

G R U N G E

ONDE OS ENCONTRAR?

TEXTO DE: INÊS MEIRA

É um dos melhores da sua geração! Se é fã do trabalho de Spacey, a probabilidade de �icar viciado em “House of Cards” depois de ver o primeiro episó-dio é muito elevada. A sua interpretação de Frank Underwood, o mais corrupto dos políticos , é extraordinária e a prova disso, para além da quanti-dade de fãs que a personagem tem, é a nomeação ao globo de ouro que acabou por receber. O ponto alto da personagem são os monólogos diretos ao espect-ador, são brilhantes !!!

1. Kevin Spacey 2. o obama gosta

É sabido que o presidente dos Estados Unidos da América é fã de inúmeras séries, mas é por “House of Cards” que o seu coração mais sofre. Acha que estou a exagerar ? Pois bem, o gosto de Obama por esta série é tanto que no dia que antecedeu a estreia da segunda temporada fez um tweet com a seguinte a�irmação: “ Tomor-row: @HouseOfCards. No spoilers, please “, esperemos que ninguém tenha quebrado o pedido do presidente.

O génio por detrás de Fight Club é o mesmo que deu vida a esta série política. Isto é sem dúvida um ponto a favor. “House of Cards” marca assim o reencontro de Spacey com Fincher desde Fight Club.

4. TEM UM BOM VILÃO

Com o �im de Breaking Bad e Dexter a televisão �icou carenciada de bons vilões. Se ainda não conseguiu arranjar um substituto para os insubstituíveis Dexter e Walter White, talvez Frank Underwood seja uma boa opação.

Robin Wright é eximia no papel de Claire Underwood, a mulher de Frank, que comanda grande parte do rumo da série. É aqui mostrado mais uma vez que por detrás das grandes decisões de um homem está a inteligência de uma mulher forte. A dedicação de Robin já lhe valeu um Globo de Ouro.

Estas são razões mais do que su�icientes para ver o novo sucesso da televisão mundial.

TELEVIsaO~House of Cards é a sensação do momento.

Se ainda não viu a série de que toda a gente anda a falar, �ique com 5 razões que talvez o façam mudar de ideias:

5. o PODER DAS MULHERES ESTÁ BEM PRESENTE

3. David Fincher é um dos produtores

TEXTO DE: JOSÉ OLIVEIRA

Wonderland Por entre as ruelas estreitas de Paris, decide entrar na sua loja favorita, não que seja cliente assídua, mas aquela loja faz com que consiga ver.Alguém lhe abre a porta de vidro e um “Bonjour” doce encanta-lhe o ouvido como se de uma melodia se tratasse. O homem estende-lhe a mão de modo a ajudá-la. Imagina-o alto, elegante e bem vestido, provavelmente com um fato de marca que nem um galã. Tem umas mãos suaves, possivel-mente hidratadas com os melhores cremes e um aroma fresco, citrinos talvez.Este acompanha-a até à secção femi-nina, onde começa a contemplar tudo como se recuperasse a visão que per-dera há anos atrás. Toca no primeiro cabide e um arrepio percorre-lhe a espinha. Segue o metal frio e estreito até encontrar tecido que lhe abafe a mão e lhe aconchegue a alma. Aí, percorre o vestido e perde-se em todo o plissado que este tem. Continua a sua descoberta peça a peça. Ora sedas �luídas como uma cascata suave, ora tecidos rijos e estruturados, ora bordados ornamentados. Parou neste cabide em especial. Uma lufada de ar fresco no corpo de um

vestido. Percorre as missangas uma a uma com as suas mãos esguias de unhas meticulosamente pintadas com um verniz cor de vinho que trouxe da sua última viagem a Nova Iorque. Nesse momento, começa a ver o vesti-do na sua cabeça. Há muito tempo que não se sentia assim, onde tudo parecia ganhar vida.- Como é possível um vestido desper-tar um frenesim de sentidos e senti-mentos? – pensou. Na verdade não se surpreendeu quando o empregado lhe disse a marca:- Alexander McQueen, Mademoiselle. Há anos que admira as suas coleções ricas em texturas. Parecem despertar um festival de emoções a quem não pode realmente ver. Prova-o. Com ele, sente-se viva. Mais do que nunca!Decide perdurar aquela sensação no tempo e leva-lo consigo.Sabia que era uma aposta ganha e que a faria ver o mundo com outros “olhos”. Apesar do dinheiro não com-prar a felicidade, comprar-lhe-ia um fragmento de “visão”, nem que fosse apenas nos momentos em que o tinha vestido.Nesse instante, ela foi feliz.

TEXTO DE: RAQUEL OLIVEIRA

Na maior parte do tempo sentíamo-nos

confortáveis só os dois, até porque

sendo o nosso estilo acústico e o projeto

muito caseiro, o conjunto voz e viola

bastava para nós. Mas algumas vezes em

que tivemos experiências a tocar com

outras pessoas, amigos próximos, com

mais instrumentos, víamos que se isso

fosse acrescentado poderíamos vir a

melhorar muito e a transmitir muito

mais. Outras pessoas sempre trazem

opiniões novas, mais dinâmica e espe-

cialmente no nosso caso, variedade.

O VESTIDO QUE INSPIROU A HISTÓRIA

P R I M AV E R AE M

5 S E N T I D O S

Toque-toque. Sim, como os Da Weasel. Gosto de te sentir o arrepio quando a tua pele retribui um sopro meu. Ainda mais dos relevos que a vida desenhou nas mãos da minha mãe e no rosto do meu pai, com igual mestria.Delicio-me com o passear dos dedos pelos cabelos da minha avó, que do branco irradiam sabedoria.Perco-me e logo me encontro no caminho de sinais que salpi-cam os braços do meu irmão.Sim, há também os pequenos toques.Na fruta que marca com a precisão do ponteiro do relógio da sala, as estações do ano, os anos, a vida.Na seda dos lençóis que me embrulham os sonhos, e me desembrulham para a realidade todas as manhãs.Na gota de água, na bolha de líquido da louça que se desfor-mam na palma da minha mão. Nos cremes mais ou menos espessos que passo no rosto e no corpo, exigindo o mimo que a minha pele me pede.Nos caracóis do Bolinhas, eterno companheiro que a morte me levou, mas que deu mais vida à minha infância do que as bar-bies que �iz carecas.Na camisola e nas meias de lã, que me levam para o frio e para memórias de uma infância onde era a minha vizinha quem as tecia para me aquecer o corpo e, sobretudo, a alma.Na ganga dos primeiros tombos de bicicleta e da lycra nas meias que rasgava no recreio.No cabedal ou na imitação (que o toque no dinheiro não me foi frequente) das semanas do caloiro, das académicas e das saídas à noite.Na areia da praia, na terra dos vasos e das �lores que nela cres-cem.Nas cortinas dos hotéis e no papel dos guardanapos, onde tantas histórias contei sem contar.Mas que daqui �ique apenas a importância do meu toque nos que amo e o deles em mim. É aí que reside a felicidade da vida, no toque-toque. Não duvidem.

TATO TATO TATO

TEXTO DE: BÁRBARA MATIAS

Um perfume, uma mudança de estação, um cigarro mal apagado... Todos os cheiros têm a sua caraterística e bons ou maus, trazem-nos memórias. Conseguimos facilmente reconhecer sítios e pessoas pelo aroma. Somos igualmente persuadidos a gostar ou a mostrar repulsa, mesmo antes de olhar, e certamente con-seguimos lembrar-nos do cheiro de casa da nossa avó. Habituamo-nos e viciamo-nos nessas pequenas partículas que estão por todo o lado, e na falta delas, �ica tudo monótono, sem graça. Ainda me lembro do cheiro dos lençóis na minha infância. A minha mãe tinha um sabão como esses que hoje em dia as grandes marcas tentam recriar. E talvez o sabão seja o mesmo, mas o odor é diferente. Já nada cheira como antes... Os perfumes são cada vez mais valorizados, porque nos personi�icam...tivemos muitos, ou tivemos sempre o mesmo. Tal como as estações do ano, cada uma tem um cheiro especial. No inverno cheira a Natal, a frio, a chuva, na primavera cheira a �lores, a liberdade, a natureza com os seus pensamentos o tempo inteiro.Há cheiros alegres, tristes, que deixam saudades e que nunca vamos esquecer. Há pessoas que vão �icar eterniza-das num frasco e lugares que serão sempre lembrados pelo seu aroma. Como canta a grande Amália “Lisboa cheira aos cafés do Rossio, e o fado cheira sempre a solidão, cheira a castanha assada se está frio, cheira a fruta madura quando é verão”.

OLFATO OLFATO

TEXTO DE: SUSANA AFONSO

Fazem compras na rua de Santa Ca-

tarina,no Porto, onde encontram

peças de roupas diferentes… mesmo

ao seu estilo. Lojas como a Pull and

Bear ou Berskha podem, por vezes,

conter peças do seu interesse. Sítios

como Outlets e feiras de produtos em

segunda mão também estão na mira.

Não ligam muito a “modas” nem às

novas tendências; seguem o seu

próprio estilo e não se deixam levar

pelo que é, ou não, “cool” de acordo

com os critérios de aceitação da so-

ciedade. Por norma, não são de

gastar fortunas em peças de roupa.

Tal como toda a gente, gostam de

uma boa refeição, embora tanto são

vistos no McDonald's como num

restaurante vegetariano dependen-

do, obviamente, do gosto de cada

um. Regra geral, frequentam

restaurantes mais económicos e

com boa qualidade. Por serem

malta do underground, deslo-

cam-se preferencialmente pela

periferia evitando, sempre,

grandes centros económicos.

Apesar do estilo Grunge estar

preferencialmente ligado ao

Rock, punk ou Rock alternativo, a

verdade é que nem só a esses esti-

los de música esta tribo está asso-

ciada. Frequentadores da noite e

do dark side of the moon, podem

ser visto, regra geral, em spots de

música electronica como, por ex-

emplo, a norte o Hardclub ou o

Gare e, mais a sul, o Lux.

Nasceste a saber a Primavera…

Na minha boca escorre o sumo de maçãs sumarentas.

Na tua as maçãs nascem, tu és árvore repleta de �lores

que, nos entardeceres quentes, se vê de onde em onde o

início de um fruto novo.

Nas minhas mãos balançam framboesas que sabem a

chá de frutos vermelhos em esplanadas com cheiro a

mar gelado e areia morna.

Trinco cerejas carnudas que me deixam os lábios roxos.

Tu procuras as que estão picadas pelos pássaros e dizes

“estas são as mais doces”…

A tua pele tem sabores de terra e os teus lábios a com-

potas primaveris e, no entanto, esses sabores só se

sentem em Março, quando o sol �ica mais um pouco a

amadurecer-nos entre as cerdeiras e as silvas.

Caminhamos. Caminhamos e os jardins das casas já

deitam fumo e cheiram a churrascos de domingo.

Caminhamos e tu roubas duas laranjas no pátio do

Senhor António, sempre doces, sempre quentes, sempre

melhores com cheirinho a calor. Caminhamos e a água

na boca cresce. Paramos. É aqui a padaria. Um pão

quente com manteiga por favor. Sentamo-nos na beira

do passeio. O pão saído do forno escalda as mãos. A man-

teiga escorrega pelos dedos.

Brota da água o sabor a Primavera…

PALADAR PALADAR

TEXTO DE: RITA NETO

Como ouvir a primavera? É certo que não podemos ouvir os raios de sol, ou os dias que crescem trazendo o silÊncio das cores, o cheiro das �lores e as caricias na pele que sopram nas primeiras brisas. Não obstan-te, é o conforto desses silêncios que nos dá o tempo para parar e ouvir os sons da primavera. Esta é a época do ano que traz uma promessa de vida a tudo o que nos rodeia, sendo que do ponto de vista auditivo a busca pelo prazer sonoro se revela um desa�io individual,principal-mente no meio urbano onde a mão humana faz com que o ruído do quotidiano se sobreponha na maioria das vezes aos estímulos auditivos naturais. Nesse sentido, nos nossos dias a primavera pode ter na música um forte aliado, pois apesar de não ser fácil distinguir o cantar de um passaro do trabalhar de um carro, fácilmente se pode experimentar o prazer auditivo atravéz desta forma de arte. São vários os exemplos de artistas que ao longo dos tempos tentaram pintar os sons desta estação do ano, sendo que existem bastantes exemplos de produções musicais com a Pri-mavera como nome. Da Seduçao do tango de Astor Piazzola ao génio classico de Vivaldi, passando pelos sons dos portu-gueses The Gift, podemos encontrar variadissimas sugestões sonoras para os mais variados estados de espirito. Ainda assim, a melhor forma de participar no contexto auditi-vo da primavera reveste-se da capacidade que cada um de nós tem de sair à rua e levar a música com que melhor nos identi�i-camos, da procura pelas conversas que acompanham um bom café e uma caminhada de �im de tarde, ou da forma mais, ou menos talentosa de acompanhar a musica da rádio num carro ou transporte público, correndo os riscos naturais de uma can-toria para lá do chuveiro matinal. A todos os cinco sentidos com que percecionamos o mundo, deixando de lado o sexto que é reconhecido como exclusiva competência feminina, a primavera tem o poder de trazer vida!! Por isso viva, procure ter tempo e ouça a primavera, mas se possivel... faça-se ouvir!!!

AUDIÇÃO AUDIÇÃO

TEXTO DE: JOEL LOUREIRO

Estas são razões mais do que su�icientes para ver o novo sucesso da televisão mundial.

Espero-te encostada à porta do quarto. Vejo-te a olhares-me e a dizeres “e quando vinha a Primavera a casa brilhava...”. Tinhas uns olhos tão desejosos do pas-sado, avó. Hoje a casa não brilha, vê-se nela a escuridão de portas fechadas. Falavas da Primavera como quem fala de um �ilho e todas as tuas palavras eram imagens de dias já quentes e noites ainda frias. Vivias os dias com a mesma magia com que vivias as noites. Tu a observar as �lores do quintal ao pormenor, a conheceres todos os seus pormenores em cada piscar de olhos. Tu a olhar o céu do dia novo, com a mão ao nível das sobrancelhas e os olhos semicerrados. Tu a abrires janelas e a analisares o pó a baloiçar nos raios de sol. Sempre foste só tu e a tua Primavera. Hoje sou eu que te mostro a minha Primavera. Vejo a Primavera quando erva cresce nos vincos de passeios de cimento. Vejo a Primavera quando há �lores pisadas no chão. Vejo a Primavera quando a mãe põe os cortinados �loridos no meu quarto e, às cinco da tarde, o sol trespassa-o e as paredes ganham novas cores. Reparo que, na Primavera, todos trazem um pouco de ti no olhar. A tua esperança nas cores do pôr do sol e o teu mistério nas noites em que se �ica à varanda a tentar decifrar os movimentos no escuro. Devolve-me as tuas mãos que são como árvores esguias e verdejantes. Devolve-me os teus cabelos como avelãs. Devolve-me tudo de ti e deixa-me olhar-te. Quero para sempre a imagem de ti a passear com a Primavera.

visão visão visão

TEXTO DE: RITA NETO

Por entre as ruelas estreitas de Paris, decide entrar na sua loja favorita, não que seja cliente assídua, mas aquela loja faz com que consiga ver.Alguém lhe abre a porta de vidro e um “Bonjour” doce encanta-lhe o ouvido como se de uma melodia se tratasse. O homem estende-lhe a mão de modo a ajudá-la. Imagina-o alto, elegante e bem vestido, provavelmente com um fato de marca que nem um galã. Tem umas mãos suaves, possivel-mente hidratadas com os melhores cremes e um aroma fresco, citrinos talvez.Este acompanha-a até à secção femi-nina, onde começa a contemplar tudo como se recuperasse a visão que per-dera há anos atrás. Toca no primeiro cabide e um arrepio percorre-lhe a espinha. Segue o metal frio e estreito até encontrar tecido que lhe abafe a mão e lhe aconchegue a alma. Aí, percorre o vestido e perde-se em todo o plissado que este tem. Continua a sua descoberta peça a peça. Ora sedas �luídas como uma cascata suave, ora tecidos rijos e estruturados, ora bordados ornamentados. Parou neste cabide em especial. Uma lufada de ar fresco no corpo de um

vestido. Percorre as missangas uma a uma com as suas mãos esguias de unhas meticulosamente pintadas com um verniz cor de vinho que trouxe da sua última viagem a Nova Iorque. Nesse momento, começa a ver o vesti-do na sua cabeça. Há muito tempo que não se sentia assim, onde tudo parecia ganhar vida.- Como é possível um vestido desper-tar um frenesim de sentidos e senti-mentos? – pensou. Na verdade não se surpreendeu quando o empregado lhe disse a marca:- Alexander McQueen, Mademoiselle. Há anos que admira as suas coleções ricas em texturas. Parecem despertar um festival de emoções a quem não pode realmente ver. Prova-o. Com ele, sente-se viva. Mais do que nunca!Decide perdurar aquela sensação no tempo e leva-lo consigo.Sabia que era uma aposta ganha e que a faria ver o mundo com outros “olhos”. Apesar do dinheiro não com-prar a felicidade, comprar-lhe-ia um fragmento de “visão”, nem que fosse apenas nos momentos em que o tinha vestido.Nesse instante, ela foi feliz.

O mês de março é um mês interessante. Interessante ao ponto de nos

fazer despir alguma roupa, abrir uma janela para entrar um raio de sol ou com-

prar uma �lor para colocar numa jarra de vidro na sala. Flores, leveza e harmo-

nia é para o que nos remete o mês de Março que traz consigo a tão desejada Pri-

mavera depois de uns meses cinzentos. Com efeito, a vontade de aclarar os

nossos dias parte dentro de casa e a necessidade de suavizar ou colorir um

pouco o lar torna-se irresistível.

Os momentos solarengos começam a despertar os nossos sentidos,

mas o frio ainda não disse adeus de vez, assim, com pequenos gestos decorati-

vos podemos enaltecer o que de melhor nos traz este mês. Vivacidade. Contudo,

sabemos que a época não é a mais favorável para dispêndios decorativos mas

nada como uma pitada de imaginação para adocicarmos o nosso ninho.

Quem diria que um caixote de madeira podia substituir uma mesinha

de cabeceira? Ou uma dúzia, uma estante? O segredo está no reutilizar, lixar e

pintar da cor que mais nos aconchegue. Os mais exuberantes podem recorrer a

uma nova pintura de parede e os singelos podem optar por umas almofadas

coradas ou um ramo de �lores, o que conta mesmo é a intenção.

OH... SWEET HOMETEXTO DE: EDUARDA BRANDÃO

Se Inglaterra é considerada a mãe

do futebol, o Brasil é com toda a cer-

teza o pai. Penta campeão mundial,

milhões de futebolísticas, milhares

de grande classe e um povo que

viveu acostumado a três prazeres:

Samba, Novela e Futebol. Se pu-

desse caricaturar um cidadão bra-

sileiro este teria, obrigatoriamente

duas peças de roupa: uma ‘camisa’

do escrete e umas chuteiras nos pés.

Os brasileiros deliram com o fute-

bol deles, ponto �inal. E nem um

mundial de futebol acalma um país

que não tem a mesma mentalidade

de há 30 anos atrás do: “Deus quis

assim”. Quando no ano passado de-

cidiram aumentar o preço dos auto-

carros em São Paulo os brasileiros

sentiram que já não viviam num

país de Ordem e Progresso.

À volta viam estádios a ser construí-

dos para a Taça das Confederações e

Mundial de futebol, milhões a serem

investidos para a FIFA chegar, ver e

levar quase todo o lucro. A rua foi o

caminho, os protestos o método, as

Confederações o eco mediático para

mostrar um país sem ordem e sem

progresso. No meio de tanto barulho

os brasileiros têm razão para o grito

do Ipiranga pois, a 13 de Julho

quando tudo acabar, os transportes

vão continuar caros, os estádios de

futebol terão de ser pagos e a FIFA já

foi embora.

Não há dúvida que são uma tribo

afável, boa onda, apaixonante até…

mas ai de quem tentar mexer com a

‘Garota de Ipanema’ ou o ‘Cristo Re-

dentor’.

DESPortribo

TEXTO DE: ALBERTO PEREIRA

Sem ordem e sem progresso.

Toque-toque. Sim, como os Da Weasel. Gosto de te sentir o arrepio quando a tua pele retribui um sopro meu. Ainda mais dos relevos que a vida desenhou nas mãos da minha mãe e no rosto do meu pai, com igual mestria.Delicio-me com o passear dos dedos pelos cabelos da minha avó, que do branco irradiam sabedoria.Perco-me e logo me encontro no caminho de sinais que salpi-cam os braços do meu irmão.Sim, há também os pequenos toques.Na fruta que marca com a precisão do ponteiro do relógio da sala, as estações do ano, os anos, a vida.Na seda dos lençóis que me embrulham os sonhos, e me desembrulham para a realidade todas as manhãs.Na gota de água, na bolha de líquido da louça que se desfor-mam na palma da minha mão. Nos cremes mais ou menos espessos que passo no rosto e no corpo, exigindo o mimo que a minha pele me pede.Nos caracóis do Bolinhas, eterno companheiro que a morte me levou, mas que deu mais vida à minha infância do que as bar-bies que �iz carecas.Na camisola e nas meias de lã, que me levam para o frio e para memórias de uma infância onde era a minha vizinha quem as tecia para me aquecer o corpo e, sobretudo, a alma.Na ganga dos primeiros tombos de bicicleta e da lycra nas meias que rasgava no recreio.No cabedal ou na imitação (que o toque no dinheiro não me foi frequente) das semanas do caloiro, das académicas e das saídas à noite.Na areia da praia, na terra dos vasos e das �lores que nela cres-cem.Nas cortinas dos hotéis e no papel dos guardanapos, onde tantas histórias contei sem contar.Mas que daqui �ique apenas a importância do meu toque nos que amo e o deles em mim. É aí que reside a felicidade da vida, no toque-toque. Não duvidem.

Se é verdade que, algures na década de 70, a

ZARA trouxe a Portugal um mundo de cores,

formas e tecidos até então ignorados pela

modista do ancien régime, verídico será

também que a mulher portuguesa (hoje, uma

mulher do mundo?) enfrenta desa�ios per-

sonalistas em nada importados com o tradi-

cional paradigma da fada do lar. Reporta-

mo-nos a uma mulher, globalmente considerada,

nascida nos anos 70 (inícios de 80, talvez), que

frequentou a universidade, viajou e viveu sem

pressas. Passou por um processo de inte-

gração pautado pela masculinidade: estudou

maioritariamente com homens, competiu

com homens, prestou provas a homens, e

deles arrancou, como que por osmose, uma

espécie de virilidade.

É sobretudo no mundo pro�issional que esta

nova dama de ferro se planta. Exclua-se, desde

já, um conjunto de atividades do tipo Santa

Casa da Misericórdia,imprescindíveis, e mui

nobremente exercidas, que há séculos estão

acometidos às rainhas – em parte, a educação,

a assistência à família, à criança ou ao idoso. Aí

a mulher vale, sobretudo e sem menosprezo,

por ser mulher, e os homens não percebem

nada do assunto. Fitemo-nos pois em áreas

basilares do saber, traduzidas em o�ícios

reputados da nossa praça com os quais as

mulheres, desimportadas ou simplesmente

apartadas,nunca puderam contactar.

A ideia de uma mulher historicamente

mais burri�icada que o homem é errada: a

dama pós-medieval estudava pintura,

música, literatura, e não só os tradicionais

lavores, enquanto o �idalgo conhecia dos

sistemas de pousio, da gestão dos contos,

administração dos coutos e da dízima. A

mulher teve sempre menos destaque, mas,

na sombra das suas grandes saias, soube-se

cultivar. Há quem pense até que uma certa

ignorância feminina, doce e de cunho divino,

como que neutralizaria a arrogância da

gnose masculina. Não cabe aqui, obvia-

mente, questionar dos proveitos da edu-

cação, universal e igualitária, mas só da

reação, natural e absolutamente

espontânea, que a mulher madura desen-

cadeia em face de um batido de conheci-

mento, ambição e sucesso que dá aspeto de

TESTOSTERONA(S)Algures no caminho entre a nova Simone de Beauvoir e uma estirpe inteli-gente da Bridget Jones há nas ruas portuguesas uma mulher de ferro em saias de cabedal.

Um perfume, uma mudança de estação, um cigarro mal apagado... Todos os cheiros têm a sua caraterística e bons ou maus, trazem-nos memórias. Conseguimos facilmente reconhecer sítios e pessoas pelo aroma. Somos igualmente persuadidos a gostar ou a mostrar repulsa, mesmo antes de olhar, e certamente con-seguimos lembrar-nos do cheiro de casa da nossa avó. Habituamo-nos e viciamo-nos nessas pequenas partículas que estão por todo o lado, e na falta delas, �ica tudo monótono, sem graça. Ainda me lembro do cheiro dos lençóis na minha infância. A minha mãe tinha um sabão como esses que hoje em dia as grandes marcas tentam recriar. E talvez o sabão seja o mesmo, mas o odor é diferente. Já nada cheira como antes... Os perfumes são cada vez mais valorizados, porque nos personi�icam...tivemos muitos, ou tivemos sempre o mesmo. Tal como as estações do ano, cada uma tem um cheiro especial. No inverno cheira a Natal, a frio, a chuva, na primavera cheira a �lores, a liberdade, a natureza com os seus pensamentos o tempo inteiro.Há cheiros alegres, tristes, que deixam saudades e que nunca vamos esquecer. Há pessoas que vão �icar eterniza-das num frasco e lugares que serão sempre lembrados pelo seu aroma. Como canta a grande Amália “Lisboa cheira aos cafés do Rossio, e o fado cheira sempre a solidão, cheira a castanha assada se está frio, cheira a fruta madura quando é verão”.

TEXTO DE: MANEL REINNA

TESTOSTERONA(S)

uma nova idade da parvalheira (eloquente-

mente, puberdade). O problema está hoje posto

em termos do equilíbrio que a mulher tende a

não encontrar entre a biologia de ser mãe e

esposa e a proeza histórica de desempenhar as

mesmas funções que o homem. Hormonal-

mente confusa, e aparentemente instável, esta

senhora sorri pouco, como que antevendo um

certo sinal de fraqueza nesse ato de graça, e

cumprimenta com aperto de mão, compensan-

do-se com tecidos nobres, alguns padrões

Balenciaga, e o répudio completo das pérolas, o

que evidencia uma atualidade em nada tacanha

e um

sublime bom gosto. É qualquer coisa do género,

“eu sou mulher, gosto de ser mulher, mas só

devem lembrar-se disso fora do local de

trabalho pela elegante roupa que visto e formas

que quero/deixo pronunciar”. No concreto, na

atitude, na crítica, e até no elogio ela é homen-

zarragada, falando cinzento como os ancestrais

que a ostracizaram, num papel tão mais idiota

do que o deles consegue ser pelo simples facto

de que está 20 anos

atrasada – ou serão, 30, 50, (…). Parece que o

apogeu pro�issional da mulher, conquistado a

pulso e legitimador de uma liberdade sem igual,

desencadeia uma espécie de amnésia nos

instintos e sensibilidades cabalmente femi-

ninos e, de resto, organizadores dos

géneros. Na presença de homens tudo

piora: impressionar pela expressão máscu-

la, falta de ternura, e até rudez é o visivel-

mente o objetivo.

Desengane-se quem pensa que este híbri-

do forçado é uma mulher muitíssimo fria e

absolutamente inerte aos prazeres da vida

mundana.O que acabade ser descrito mais

não serve, à semelhança de uma daquelas

capas de chuva transparentes muito

usadas pelos britânicos, do que para deixar

tudo o que está oculto incrivelmente

sequinho e bem conservado. A senhora

iPad, iPod e iPhone é assumidamente

importada com a família, os �ilhos, a arte do

banho-maria e os docinhos levados ao

forno. Aí, ela não abdica da injeção funcional

que a História lhe cravou nos genes, e mal

passa um certo portão, uma aura

cor-de-rosa consome-a de novo. Terá a

mulher que abdicar da delicadeza no trato,

inteligência emocional e subtileza nas pala-

vras para se fazer ouvir? Não, com certeza

que não.

Com a terrível tragédia recentemente

acolhida pela praia do Meco, Portugal

abriu sem hesitar uma época de caça aos

“homens de negro” e a todas as actividades

que supostamente promovem a integração

dos estudantes no ensino superior. No

entanto, há pontos mais importantes a

serem discutidos do que a questão do

“vamos banir a praxe ou não”.

Neste caso o que é realmente alarmante é

o silêncio perturbador e a falta de esclareci-

mentos que não dá paz às famílias dos que

já cá não estão. Não esquecendo ainda as

diferentes versões que levantam a hipótese

de ter sido mais do que um acidente e já

colocam as palavras “praxe” e “homicídio”

na mesma frase.

Desde sempre me lembro de ver as tele-

visões invadidas por imagens das praxes

logo no início dos anos lectivos. O tradicion-

al “pudim Danone”, o cabelo lavado com

gemas de ovos, os banhos nas fontes; resu-

mindo assim as brincadeiras que re�lectem

a união dos universitários e o lado positivo

desta atividade. Mas quando acontece um

desastre o foco vai para um lado negro que

infelizmente existe.

Atrevo-me a dizer que o problema não

está na praxe, mas sim nas pessoas. E

quando se atinge um extremo, a situação

torna-se complicada. Há personalidades

e feitios. Há abuso de poder.

Posso a�irmar, com um largo sorriso, que

tive a melhor praxe do mundo mas

também tive o prazer de conviver com as

melhores pessoas. Nunca considerei uma

humilhação, muito pelo contrário,

sempre me diverti. Ri a ladrar, ri a fazer

serenatas aos velhinhos, ri na tentativa de

cantar o hino de Freamunde. Como eu,

muitos vão recordar o ano de caloiro com

amor e saudade. Mas outros provavel-

mente não. Ninguém é obrigado a fazer o

que não quer e, principalmente, o que for

contra os seus princípios. Há sempre

opções.

Aos universitários, peço que se divirtam

e pensem, acima de tudo, na essência de

usar o traje académico. O objetivo aqui é

criar uma segunda família. A�inal de

contas, vocês são uma espécie de con-

selheiros dos novatos. Por último, não

privem ninguém desta experiência.

Por favor, não matem a praxe.

CAÇA AOS DOUTORES

TEXTO DE: CATARINA MATIAS

Como ouvir a primavera? É certo que não podemos ouvir os raios de sol, ou os dias que crescem trazendo o silÊncio das cores, o cheiro das �lores e as caricias na pele que sopram nas primeiras brisas. Não obstan-te, é o conforto desses silêncios que nos dá o tempo para parar e ouvir os sons da primavera. Esta é a época do ano que traz uma promessa de vida a tudo o que nos rodeia, sendo que do ponto de vista auditivo a busca pelo prazer sonoro se revela um desa�io individual,principal-mente no meio urbano onde a mão humana faz com que o ruído do quotidiano se sobreponha na maioria das vezes aos estímulos auditivos naturais. Nesse sentido, nos nossos dias a primavera pode ter na música um forte aliado, pois apesar de não ser fácil distinguir o cantar de um passaro do trabalhar de um carro, fácilmente se pode experimentar o prazer auditivo atravéz desta forma de arte. São vários os exemplos de artistas que ao longo dos tempos tentaram pintar os sons desta estação do ano, sendo que existem bastantes exemplos de produções musicais com a Pri-mavera como nome. Da Seduçao do tango de Astor Piazzola ao génio classico de Vivaldi, passando pelos sons dos portu-gueses The Gift, podemos encontrar variadissimas sugestões sonoras para os mais variados estados de espirito. Ainda assim, a melhor forma de participar no contexto auditi-vo da primavera reveste-se da capacidade que cada um de nós tem de sair à rua e levar a música com que melhor nos identi�i-camos, da procura pelas conversas que acompanham um bom café e uma caminhada de �im de tarde, ou da forma mais, ou menos talentosa de acompanhar a musica da rádio num carro ou transporte público, correndo os riscos naturais de uma can-toria para lá do chuveiro matinal. A todos os cinco sentidos com que percecionamos o mundo, deixando de lado o sexto que é reconhecido como exclusiva competência feminina, a primavera tem o poder de trazer vida!! Por isso viva, procure ter tempo e ouça a primavera, mas se possivel... faça-se ouvir!!!

TEXTO DE: CATARINA MATIAS

TEXTO DE: REGINA MENDES

NIKON LANÇA NOVA COOLPIX

A Coolpix P530 é o novo modelo da P520. As semelhanças são grandes interna e externamente, mas algumas novidades fazem com que sintam necessidade de atualizar o próprio equipamento.Além de WiFi (graças a um adaptador móvel que custa 50 € adicionais) e controlos manuais, também presentes nos outros modelos, a câmara conta com um zoom ótico de 42 vezes, o que permite a captura de detalhes impressionantes ou objetos distantes em alta qualidade.

Este novo modelo conta também como outras características como:

• Lente de 35 mm (24-1.000 mm)

• Tela LCD de 3″

• Zoom 84x Dynamic Fine Zoom

• Sensor BSI CMOS de 16 MP

• Abertura f/3.0-5.9

• Estabilizador de imagem Lens Shift VR

• Sistema de redução de vibrações

NoVaS TECnologIaS

Este modelo já está disponível no mercado

desde fevereiro por 450€.

TELEMÓVEL FLEXÍVEL DA LG CHEGA AOS MERCADOS PORTUGUESES

As marcas de smartphones têm vindo acrescen-tar funcionalidades e a procurar características que convençam os consumidores a comprar novos aparelhos. Os telemóveis curvos são, atual-mente, uma das tendências de fabrico. O novo LG Flex caracteriza-se pela sua ligeira curvatura e pelo facto de ser �lexível pode assumir a forma plana, contém um ecrã de 6 polegadas e o material da parte de trás tem a capacidade para se “auto-regenerar”, fazendo que os riscos pouco profundos se apaguem ou se tornem menos visíveis. Este smartphone vem equipado com o sistema operativo Android, câmara de 13 megapixéis e 32GB de capacidade de armazena-mento.

O LG Flex já se encontra à venda em Portugal pelo valor de 690€ na Vodafone, ou perto de

900€ desbloqueado.

Espero-te encostada à porta do quarto. Vejo-te a olhares-me e a dizeres “e quando vinha a Primavera a casa brilhava...”. Tinhas uns olhos tão desejosos do pas-sado, avó. Hoje a casa não brilha, vê-se nela a escuridão de portas fechadas. Falavas da Primavera como quem fala de um �ilho e todas as tuas palavras eram imagens de dias já quentes e noites ainda frias. Vivias os dias com a mesma magia com que vivias as noites. Tu a observar as �lores do quintal ao pormenor, a conheceres todos os seus pormenores em cada piscar de olhos. Tu a olhar o céu do dia novo, com a mão ao nível das sobrancelhas e os olhos semicerrados. Tu a abrires janelas e a analisares o pó a baloiçar nos raios de sol. Sempre foste só tu e a tua Primavera. Hoje sou eu que te mostro a minha Primavera. Vejo a Primavera quando erva cresce nos vincos de passeios de cimento. Vejo a Primavera quando há �lores pisadas no chão. Vejo a Primavera quando a mãe põe os cortinados �loridos no meu quarto e, às cinco da tarde, o sol trespassa-o e as paredes ganham novas cores. Reparo que, na Primavera, todos trazem um pouco de ti no olhar. A tua esperança nas cores do pôr do sol e o teu mistério nas noites em que se �ica à varanda a tentar decifrar os movimentos no escuro. Devolve-me as tuas mãos que são como árvores esguias e verdejantes. Devolve-me os teus cabelos como avelãs. Devolve-me tudo de ti e deixa-me olhar-te. Quero para sempre a imagem de ti a passear com a Primavera.

TOSHIBA VAI LANÇAR APLICAÇÃO PARA ALERTAR CONDUTORES SONOLENTOS

A japonesa Toshiba vai lançar, em 2015, uma aplicação para smartphones que controlará os sinais vitais dos condutores de veículos, alertando-os quando estão a adormecer. A aplicação, que vai utilizar tecnologia do fabricante de acessórios de automóveis Ca Mate, �icará ligada a um sensor que mede o ritmo cardíaco do condutor, além de outros como reconhecimento de imagens e de dados da condução. Os dados recolhidos são enviados para um centro de controlo da Toshiba que após analis-ar os dados avisarão condutor através de men-sagens sonoras e alertando-o para a necessi-dade de descanso. O plano de negócio é conseguir 50 mil utiliza-dores em três anos, especialmente com um mercado alvo nas empresas de autocarros, camiões e táxis.

NoVaS TECnologIaS

IPHONE 6?

Segundo a informação divulgada por Sun Changxu, um analista de mercado, a Apple está a preparar-se para lançar uma nova versão do Iphone, com um ecrã maior, de 5,7 polegadas e pode ser lançado no mercado em Junho deste ano. A câmara traseira do novo smartphone terá, segundo as informações divulgadas, uma resolução maior que a convencional mantendo o padrão retina.A marca ainda não con�irmou nenhuma destas informações.

O mês de março é um mês interessante. Interessante ao ponto de nos

fazer despir alguma roupa, abrir uma janela para entrar um raio de sol ou com-

prar uma �lor para colocar numa jarra de vidro na sala. Flores, leveza e harmo-

nia é para o que nos remete o mês de Março que traz consigo a tão desejada Pri-

mavera depois de uns meses cinzentos. Com efeito, a vontade de aclarar os

nossos dias parte dentro de casa e a necessidade de suavizar ou colorir um

pouco o lar torna-se irresistível.

Os momentos solarengos começam a despertar os nossos sentidos,

mas o frio ainda não disse adeus de vez, assim, com pequenos gestos decorati-

vos podemos enaltecer o que de melhor nos traz este mês. Vivacidade. Contudo,

sabemos que a época não é a mais favorável para dispêndios decorativos mas

nada como uma pitada de imaginação para adocicarmos o nosso ninho.

Quem diria que um caixote de madeira podia substituir uma mesinha

de cabeceira? Ou uma dúzia, uma estante? O segredo está no reutilizar, lixar e

pintar da cor que mais nos aconchegue. Os mais exuberantes podem recorrer a

uma nova pintura de parede e os singelos podem optar por umas almofadas

coradas ou um ramo de �lores, o que conta mesmo é a intenção.

Um Novo Fôlego (M12)Título Original: Breathe InGénero: DramaDe: Drake DoremusCom: Felicity Jones, Guy Pearce, Mackenzie Davis, Amy RyanDuração: 98 min.

Sinopse: Quando uma estudante estrangeira chega a uma pequena cidade dos Estados Unidos, é acolhida por uma família, que vê a sua dinâmica ser por ela desa�iada e as suas vidas alteradas para sempre.

EM CARTAZTEXTO DE: TOMÁS GARCEZ

O MAL-INTENCIONADO (M12)Título OriginaL: BorgmanGénero: ThrillerDe: Alex van WarmendamCom: Jan Bijvoet, Hadewych Minis, Jeroen PercevalDuração: 113 min.

Sinopse: Um mendigo entra na vida de uma família de classe alta, transfor-mando a vida da mesma num enorme pesadelo psicológico. Quem será Borg-man? Um sonho, um demónio? Ou uma alegoria que incorpora os medos da vida atual?

O congresso (M12)Título Original: The CongressGénero: Animação/Ficção Cientí�icaDe: Ari FolmanCom: Robin Wright, Harvey Keitel, Jon HammDuração: 122 min.

Sinopse: Uma atriz em �im de carreira decide aceitar uma proposta ousada, mas muito bem paga, para ter mais condições para criar o seu �ilho portador de de�iciência �ísica. Assim, ela deve aceitar que uma empresa crie uma versão digital sua, criando uma atriz virtual idêntica a si. A empresa pode utilizar a sua imagem para o que desejar, enquanto a atriz real será proibida de atuar até ao �im da sua vida. Aos poucos, ela começa a ter noção das conse-quências catastró�icas da sua decisão.

300: o início de um império (M16)Título Original: 300: Rise Of An EmpireGénero: Ação/DramaDe: Noam MurroCom: Sullivan Stapleton, Rodrigo Santoro, Eva GreenDuração: 102 min.

Sinopse: Após a morte do pai, Xerxes dá início a uma jornada de vingança e ruma em direção à Grécia, com seu exército sendo liderado por Artemisia. Enquanto os 300 espartanos liderados por Leonidas tentam combater o Deus-Rei, os exércitos do resto da Grécia se unem para uma batalha com as tropas de Artemisia no mar. Themistocles é o responsável por liderar os gregos.

academia de vampiros (M12)Título Original: Vampire AcademyGénero: Ação/Comédia/FantasiaDe: Mark WatersCom: Zoey Deutch, Lucy Fry, Danila KozlovzkyDuração: 104 min.

Sinopse: O �ilme é uma adaptação da série best-seller ‘Academia de Vampi-ros‘, de Richelle Mead. O �ilme apresenta as primeiras aventuras de Rose Hathaway, uma dhampir — meio vampira, meio humana — no treino para ser a guardiã da sua melhor amiga, a princesa Lissa Dragomir, única herdeira das 12 famílias da realeza Moroi, pací�icos vampiros mortais.

TEXTO DE: INÊS SANTOS

Os CAPITÃO FAUSTO andam por aí e levam “GAZELA” consigo. O refrescante álbum da

banda tem dado muito o que falar pelas marcas de psicadelismo que, há muito, lhes são

conhecidas.

Dia 20 de Março vão estar no centro cultural de Belém numa explosão de cores que pro-

mete edi�icar o nome de Portugal.

A digressão nacional 2014 dos Tara Perdida, arranca dia 14 de março no Paradise

Garage. Depois da sua participação no Super Bock Super Rock, a banda portuguesa

levará “O DONO DO MUNDO” a esta sala emblemática num concerto que promete

fazer o chão tremer.

COMING SOON

CAPITÃO FAUSTO

TARA PERDIDA

TEXTO DE: INÊS SANTOS

Se é verdade que, algures na década de 70, a

ZARA trouxe a Portugal um mundo de cores,

formas e tecidos até então ignorados pela

modista do ancien régime, verídico será

também que a mulher portuguesa (hoje, uma

mulher do mundo?) enfrenta desa�ios per-

sonalistas em nada importados com o tradi-

cional paradigma da fada do lar. Reporta-

mo-nos a uma mulher, globalmente considerada,

nascida nos anos 70 (inícios de 80, talvez), que

frequentou a universidade, viajou e viveu sem

pressas. Passou por um processo de inte-

gração pautado pela masculinidade: estudou

maioritariamente com homens, competiu

com homens, prestou provas a homens, e

deles arrancou, como que por osmose, uma

espécie de virilidade.

É sobretudo no mundo pro�issional que esta

nova dama de ferro se planta. Exclua-se, desde

já, um conjunto de atividades do tipo Santa

Casa da Misericórdia,imprescindíveis, e mui

nobremente exercidas, que há séculos estão

acometidos às rainhas – em parte, a educação,

a assistência à família, à criança ou ao idoso. Aí

a mulher vale, sobretudo e sem menosprezo,

por ser mulher, e os homens não percebem

nada do assunto. Fitemo-nos pois em áreas

basilares do saber, traduzidas em o�ícios

reputados da nossa praça com os quais as

mulheres, desimportadas ou simplesmente

apartadas,nunca puderam contactar.

A ideia de uma mulher historicamente

mais burri�icada que o homem é errada: a

dama pós-medieval estudava pintura,

música, literatura, e não só os tradicionais

lavores, enquanto o �idalgo conhecia dos

sistemas de pousio, da gestão dos contos,

administração dos coutos e da dízima. A

mulher teve sempre menos destaque, mas,

na sombra das suas grandes saias, soube-se

cultivar. Há quem pense até que uma certa

ignorância feminina, doce e de cunho divino,

como que neutralizaria a arrogância da

gnose masculina. Não cabe aqui, obvia-

mente, questionar dos proveitos da edu-

cação, universal e igualitária, mas só da

reação, natural e absolutamente

espontânea, que a mulher madura desen-

cadeia em face de um batido de conheci-

mento, ambição e sucesso que dá aspeto de

uma nova idade da parvalheira (eloquente-

mente, puberdade). O problema está hoje posto

em termos do equilíbrio que a mulher tende a

não encontrar entre a biologia de ser mãe e

esposa e a proeza histórica de desempenhar as

mesmas funções que o homem. Hormonal-

mente confusa, e aparentemente instável, esta

senhora sorri pouco, como que antevendo um

certo sinal de fraqueza nesse ato de graça, e

cumprimenta com aperto de mão, compensan-

do-se com tecidos nobres, alguns padrões

Balenciaga, e o répudio completo das pérolas, o

que evidencia uma atualidade em nada tacanha

e um

sublime bom gosto. É qualquer coisa do género,

“eu sou mulher, gosto de ser mulher, mas só

devem lembrar-se disso fora do local de

trabalho pela elegante roupa que visto e formas

que quero/deixo pronunciar”. No concreto, na

atitude, na crítica, e até no elogio ela é homen-

zarragada, falando cinzento como os ancestrais

que a ostracizaram, num papel tão mais idiota

do que o deles consegue ser pelo simples facto

de que está 20 anos

atrasada – ou serão, 30, 50, (…). Parece que o

apogeu pro�issional da mulher, conquistado a

pulso e legitimador de uma liberdade sem igual,

desencadeia uma espécie de amnésia nos