círculo fluminense de estudos filológicos e...

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Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos 248 Cadernos do CNLF, Vol. XIX, Nº 02 Lexicografia, lexicologia, AS PEDRAS DO CAMINHO: UM ESTUDO DA LEXIA INDÍGENA ITÁ EM DESIGNATIVOS DE MUNICÍPIOS DA BAHIA Clese Mary Prudente (UNEB) [email protected] Celina Márcia de Souza Abbade (UNEB) [email protected] RESUMO Este trabalho consiste na análise semântico-etimológica dos topônimos de aciden- tes humanos do território baiano, classificados como litotopônimos, formados pelo morfema lexical tupi-guarani itá, “pedra”. Vinculado à geografia física, essa lexia, apresentada em posição sintagmática inicial, e acompanhada de elementos determi- nantes ocupando a posição final para a formação de designativos de lugares, é fre- quente na toponímia brasileira. Ao resgatar o conteúdo semântico desses designativos, busca-se relacionar a origem do nome à história e à geografia locais. Para esse fim, utilizou-se como aporte teórico: O tupi na geografia nacional, de Theodoro Sampaio, 2ª edição, publicada em 1914; a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (EMB), publica- da pelo Serviço Gráfico do IBGE em 1958; os volumes 1, 2 e 3 da Contribuição Indíge- na ao Brasil, de Irmão José Gregório, publicados em 1980; e o Dicionário de Topôni- mos Brasileiros de Origem Tupi, de Luiz Caldas Tibiriçá, edição de 1985. O resultado do estudo é apresentado seguindo a segmentação do território baiano em mesorregiões e pretende valorizar a memória linguística indígena como uma das raízes culturais da história do povo brasileiro. Palavras-chave: Toponímia. Etimologia. Litotopônimos. Itá. Municípios baianos. 1. Considerações iniciais “No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho” (ANDRADE, 2012, p. 237). Nos caminhos da Bahia, são vinte e cinco municípios cujas denominações de etimologia tupi-guarani apresentam, em sua estrutura morfológica, o morfema lexical itá, “pe- dra”, em posição inicial, e que se constituem testemunhos da presença indígena no estado: Itabela, Itaberaba, Itabuna, Itacaré, Itaeté, Itagi, Ita- gibá, Itagimirim, Itaguaçu da Bahia, Itaju do Colônia, Itajuípe, Itamaraju, Itamari, Itambé, Itanagra, Itanhém, Itaparica, Itapé, Itapebi, Itapetinga, Itapicuru, Itapitanga, Itaquara, Itarantim, Itatim. Analisar o processo de nomeação do espaço e recuperar o sentido de cada uma dessas “pedras” é o objetivo deste artigo, que se apoia nos fundamentos da onomástica ramo da lexicologia que estuda os nomes

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Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

248 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

AS PEDRAS DO CAMINHO

UM ESTUDO DA LEXIA INDIacuteGENA ITAacute

EM DESIGNATIVOS DE MUNICIacutePIOS DA BAHIA

Clese Mary Prudente (UNEB)

cleseprudentegmailcom

Celina Maacutercia de Souza Abbade (UNEB)

celinabbadegmailcom

RESUMO

Este trabalho consiste na anaacutelise semacircntico-etimoloacutegica dos topocircnimos de aciden-

tes humanos do territoacuterio baiano classificados como litotopocircnimos formados pelo

morfema lexical tupi-guarani itaacute ldquopedrardquo Vinculado agrave geografia fiacutesica essa lexia

apresentada em posiccedilatildeo sintagmaacutetica inicial e acompanhada de elementos determi-

nantes ocupando a posiccedilatildeo final para a formaccedilatildeo de designativos de lugares eacute fre-

quente na toponiacutemia brasileira Ao resgatar o conteuacutedo semacircntico desses designativos

busca-se relacionar a origem do nome agrave histoacuteria e agrave geografia locais Para esse fim

utilizou-se como aporte teoacuterico O tupi na geografia nacional de Theodoro Sampaio 2ordf

ediccedilatildeo publicada em 1914 a Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros (EMB) publica-

da pelo Serviccedilo Graacutefico do IBGE em 1958 os volumes 1 2 e 3 da Contribuiccedilatildeo Indiacutege-

na ao Brasil de Irmatildeo Joseacute Gregoacuterio publicados em 1980 e o Dicionaacuterio de Topocircni-

mos Brasileiros de Origem Tupi de Luiz Caldas Tibiriccedilaacute ediccedilatildeo de 1985 O resultado

do estudo eacute apresentado seguindo a segmentaccedilatildeo do territoacuterio baiano em mesorregiotildees

e pretende valorizar a memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

Palavras-chave Toponiacutemia Etimologia Litotopocircnimos Itaacute Municiacutepios baianos

1 Consideraccedilotildees iniciais

ldquoNo meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio

do caminhordquo (ANDRADE 2012 p 237) Nos caminhos da Bahia satildeo

vinte e cinco municiacutepios cujas denominaccedilotildees de etimologia tupi-guarani

apresentam em sua estrutura morfoloacutegica o morfema lexical itaacute ldquope-

drardquo em posiccedilatildeo inicial e que se constituem testemunhos da presenccedila

indiacutegena no estado Itabela Itaberaba Itabuna Itacareacute Itaeteacute Itagi Ita-

gibaacute Itagimirim Itaguaccedilu da Bahia Itaju do Colocircnia Itajuiacutepe Itamaraju

Itamari Itambeacute Itanagra Itanheacutem Itaparica Itapeacute Itapebi Itapetinga

Itapicuru Itapitanga Itaquara Itarantim Itatim

Analisar o processo de nomeaccedilatildeo do espaccedilo e recuperar o sentido

de cada uma dessas ldquopedrasrdquo eacute o objetivo deste artigo que se apoia nos

fundamentos da onomaacutestica ndash ramo da lexicologia que estuda os nomes

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 249

proacuteprios de pessoas (antropocircnimos) e de lugares (topocircnimos) mais espe-

cificamente a toponiacutemia ciecircncia que estuda a etimologia a formaccedilatildeo lin-

guiacutestica e os aspectos histoacutericos e culturais que influenciaram a criaccedilatildeo

do nome de uma localidade a partir da intencionalidade que impulsiona o

seu denominador Busca-se portanto desvendar o sentido desses

vocaacutebulos doces e sonoros longos muitas vezes excellentes em geral como

designaccedilatildeo de logares mas que muito perdem do seu valor por se natildeo saber o

que exprimem o que recordam o que nos revelam do sentir e do gecircnio do po-

vo primitivo que nol-os legou (SAMPAIO 1914 p 30)

A pesquisa desenvolvida teve por base principalmente as seguin-

tes obras O Tupi na Geografia Nacional de Theodoro Sampaio 2ordf edi-

ccedilatildeo publicada em 1914 a Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros do-

ravante EMB publicada pelo Serviccedilo Graacutefico do IBGE em 1958 os vo-

lumes 1 2 e 3 da Contribuiccedilatildeo Indiacutegena ao Brasil de Irmatildeo Joseacute Gregoacute-

rio publicados em 1980 e o Dicionaacuterio de Topocircnimos Brasileiros de

Origem Tupi de Luiz Caldas Tibiriccedilaacute ediccedilatildeo de 1985 Considerando

que para os topocircnimos Itabela e Itanagra os dados pesquisados natildeo fo-

ram encontrados no aporte teoacuterico utilizado a pesquisa foi estendida agraves

paacuteginas eletrocircnicas do IBGE ou das prefeituras desses municiacutepios

2 A colonizaccedilatildeo europeia uma histoacuteria de extermiacutenio e mesticcedilagem

A regiatildeo que hoje constitui o Estado da Bahia local de chegada

dos primeiros portugueses ao Brasil no ano de 1500 era habitada ateacute en-

tatildeo por populaccedilotildees de nativos especialmente os tupinambaacutes mais beli-

cosos ao norte e os tupiniquins mais amistosos ao sul pertencentes agrave

grande famiacutelia tupi tronco tupi-guarani (BUENO 2003) A colonizaccedilatildeo

portuguesa praticamente aniquilou esses primeiros habitantes natildeo so-

mente atraveacutes de guerras massacres escravidatildeo e doenccedilas mas tambeacutem

do ponto de vista cultural pela accedilatildeo da catequese e da intensa e forccedilada

miscigenaccedilatildeo com outras etnias em uma demonstraccedilatildeo de desrespeito

pela cultura dos habitantes da terra o que pode ser percebido em obras de

estudo destinadas ao ensino meacutedio como Ojeda e Petta

No dia 21 de abril foram notados os primeiros indiacutecios de terra avistada

no dia seguinte 22 de abril de 1500 Os portugueses haviam chegado a Pindo-

rama74 como os iacutendios denominavam a sua terra Como natildeo vieram para sa-

74 Pindoacute-rama a regiatildeo ou o paiacutes das palmeiras (SAMPAIO 1914)

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

250 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

ber o que os iacutendios pensavam ou queriam rebatizaram a terra de Vera Cruz

(OJEDA amp PETTA 2003 p 67-68)

O mesmo ato de desconsideraccedilatildeo agrave cultura dos donos da terra

aconteceu com kirimurecirc grande mar nome de batismo dado pelos tu-

pinambaacutes agrave Baiacutea de Todos os Santos Em entrevista ao jornal online G1

o historiador Ricardo Carvalho (MAIOR 2014) ainda agradece ao fato

dos portugueses terem chegado agraves novas terras no dia 1ordm de novembro

ldquoTivemos sorte Se os portugueses atrasassem um dia ela se chamaria

Baiacutea de Finados brinca o professor

Seja por desrespeito agrave cultura dos habitantes primitivos por des-

conhecimento das denominaccedilotildees preexistentes ou por determinaccedilatildeo da

metroacutepole a accedilatildeo dos colonizadores europeus ao renomearem as terras

receacutem-descobertas se configura segundo Dick (1992) em um processo

de superposiccedilatildeo toponiacutemica ou seja a mudanccedila no nome do lugar em

virtude de uma invasatildeo de outros povos uma forma simboacutelica de demar-

car o domiacutenio sobre um territoacuterio Seguindo os padrotildees determinados pe-

la coroa portuguesa e pela ideologia religiosa que impregnava a mentali-

dade do homem europeu na eacutepoca a substituiccedilatildeo dos topocircnimos indiacutege-

nas por outros de origem portuguesa obedecia como afirma Nascentes

(1960 p 103) a uma imposiccedilatildeo oficial ldquopara fazer desaparecer o topocirc-

nimo aboriacutegenerdquo e ldquodissimular a origem indiacutegena dos povoadosrdquo ou para

ldquoimpedir que o idioma dos indiacutegenas continuasse a suplantar o dos colo-

nizadoresrdquo

Para entender como a cultura indiacutegena conseguiu sobreviver a es-

sa tentativa de aniquilamento do colonizador europeu eacute importante res-

saltar que no processo inicial de colonizaccedilatildeo a cultura a liacutengua e os co-

nhecimentos indiacutegenas foram fatores determinantes Conhecedores do

ambiente e das teacutecnicas de sobrevivecircncia no clima e natureza rudes da

selva e do sertatildeo era comum a participaccedilatildeo de nativos do litoral e mame-

lucos75 nas expediccedilotildees colonizadoras Aleacutem de ensinar o caminho eles

eram responsaacuteveis pela coleta de frutos ervas e raiacutezes necessaacuterias agrave ali-

mentaccedilatildeo do grupo e pelo uso da medicina com base em recursos da

flora e da fauna (LUCIANO 2006)

Outro fator que determinava a presenccedila de nativos nas expediccedilotildees

colonizadoras era o fato de que as liacutenguas indiacutegenas tinham um tronco

75 Mesticcedilo resultante da uniatildeo do europeu com a mulher iacutendia

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 251

geral que tornava mais faacutecil a compreensatildeo entre as tribos permitindo

assim o encontro com grupos do interior Nesse aspecto aleacutem da presen-

ccedila de indiacutegenas nas expediccedilotildees os portugueses foram forccedilados a apren-

der as liacutenguas aboriacutegenes para facilitar a convivecircncia com os nativos e a

consequente colonizaccedilatildeo do territoacuterio Tambeacutem os missionaacuterios jesuiacutetas

que chegaram ao Brasil no comeccedilo de 1549 precisaram conhecer as liacuten-

guas indiacutegenas para catequizar as tribos e disseminar os valores euro-

peus

O contato com o colonizador e com outros grupos provocou mo-

dificaccedilotildees profundas nas culturas dos povos indiacutegenas pois de acordo

com Gersem Luciano (2006 p 18) os nativos ldquonatildeo contavam com uma

experiecircncia preacutevia de intensas relaccedilotildees intereacutetnicas e com os impactos

provocados pela violecircncia dos agentes de colonizaccedilatildeo que foram por

demais severosrdquo Como consequecircncia dessa accedilatildeo devastadora das 1200

a 1500 liacutenguas indiacutegenas existentes no Brasil quando Pedro Aacutelvares Ca-

bral chegou a Porto Seguro somente cerca de 180 ainda satildeo faladas hoje

segundo pesquisadores e estudiosos da aacuterea da linguiacutestica

Essa intensa mesticcedilagem cultural promovida principalmente pelo

movimento das entradas e bandeiras (seacutec XVII e XVIII) fez com que a

liacutengua tupi modificada pelo conviacutevio com a liacutengua portuguesa e utilizada

como liacutengua geral76 pelos bandeirantes para a comunicaccedilatildeo com os nati-

vos fosse difundida por todo o territoacuterio colonizado

As bandeiras quase que soacute fallavam o tupi E se por toda a parte onde pe-

netravam estendiam os domiacutenios de Portugal natildeo lhe propagavam toda-

via a liacutengua [] Recebiam entatildeo um nome tupi as regiotildees que se iam

descobrindo e o conservavam pelo tempo adiante ainda que nellas jaacutemais

tivesse habitado uma tribu de raccedila tupi (SAMPAIO1914 p 42)

Somente a partir da segunda metade do seacuteculo XVIII a liacutengua por-

tuguesa conseguiu suplantar as liacutenguas indiacutegenas e se tornar o idioma

oficial status garantido atraveacutes do decreto do Marquecircs de Pombal data-

do de 17 de agosto de 1758 que natildeo soacute declarou o portuguecircs a liacutengua

oficial mas tambeacutem proibiu o uso da liacutengua geral em todo o territoacuterio

Entretanto um grande legado indiacutegena jaacute havia sido deixado no leacutexico

76 A liacutengua tupi-guarani classificava-se em trecircs grupos essenciais o amazocircnico tambeacutem chamado de nheengatu o tupi usado no litoral denominado liacutengua geral e o guarani ou abaneenga que era falado na aacuterea meridional (DIEacuteGUES JUNIOR 1980)

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252 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

especialmente nas designaccedilotildees da flora da fauna dos acidentes geograacutefi-

cos e das povoaccedilotildees

3 Onomaacutestica toponiacutemia e histoacuteria a construccedilatildeo da memoacuteria social

das terras da Bahia

Como parte da lexicologia a onomaacutestica refere-se ao ato de no-

mear e envolve o estudo dos nomes proacuteprios lexias que individualizam

seres e lugares Constituiacuteda de elementos linguiacutesticos que segundo Sea-

bra (2006) conservam antigos estaacutegios denominativos a onomaacutestica en-

volve duas aacutereas de estudo a antroponiacutemia que tem como objeto os no-

mes proacuteprios individuais os nomes parentais ou sobrenomes e as alcu-

nhas ou apelidos e a toponiacutemia que investiga os nomes proacuteprios de lu-

gares

Considerada por Dick (1990) como a crocircnica de um povo ao gra-

var o presente para o conhecimento das geraccedilotildees futuras a toponiacutemia

que caminha lado a lado com a histoacuteria e a geografia deriva-se das pala-

vras gregas τόπος lugar e ὄνομα nome significando portanto

nome de lugar Assim para a anaacutelise e compreensatildeo dos elementos que

influenciam o processo de nomeaccedilatildeo do espaccedilo e a formaccedilatildeo dos topocirc-

nimos entendidos como ldquofonte de conhecimento natildeo soacute da liacutengua falada

na regiatildeo em exame como tambeacutem de ocorrecircncias geograacuteficas histoacutericas

e sociais testemunhadas pelo povo que a habitou em caraacuteter definitivo

ou temporaacuteriordquo (DICK 1990 p 42) torna-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de

conhecimentos derivados de outras aacutereas do saber cientiacutefico

Uma investigaccedilatildeo histoacuterica associada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica dos

designativos do espaccedilo possibilita a compreensatildeo das causas fiacutesicas e

humanas responsaacuteveis pelo seu aparecimento como identificador e o res-

gate e a preservaccedilatildeo desses signos linguiacutesticos em concordacircncia com o

que afirma Sampaio (1914 p 28) ldquopreservar-lhes a graphia verdadeira e

a verdadeira pronuncia fixar-lhes o significado interpretado atraveacutes do

veacuteo obscuro dos metaplasmos vale tanto como resguardar um monumen-

to histoacutericordquo

No leacutexico onomaacutestico aqui estudado ou seja topocircnimos de aci-

dentes humanos do territoacuterio baiano formados pelo morfema lexical itaacute

um elemento vinculado agrave geografia fiacutesica em posiccedilatildeo sintagmaacutetica inici-

al e um elemento determinante ocupando a posiccedilatildeo final verifica-se a

ligaccedilatildeo entre essas denominaccedilotildees de iacutendole mineral relacionadas agrave natu-

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fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 253

reza constitutiva dos solos ou dos terrenos e as causas histoacutericas e natu-

rais do seu emprego o que justifica segundo Dick (1992) o grande nuacute-

mero de litotopocircnimos existentes no Brasil

Nas terras da Bahia as riquezas naturais foram motivo de cobiccedila

desde a eacutepoca da descoberta atraindo aventureiros e grupos humanos que

deram iniacutecio ao processo de povoamento do territoacuterio Como mostra

Dick (1990) em capiacutetulos das Notiacutecias do Brasil de Gabriel Soares de

Sousa (1974) relatando o estado geral da terra ao rei de Portugal

Dos metais que o mundo faz mais conta que satildeo o ouro e a prata faze-

mos aqui tatildeo pouca que os guardamos para o remate e fim desta histoacuteria ha-

vendo-se de dizer deles primeiro pois esta terra da Bahia tem deles tanta parte

quanto se pode imaginar (SOUSA 1974 apud DICK 1990 p 130)

Para entender como as nomeaccedilotildees compostas aqui estudadas re-

sultam da relaccedilatildeo entre nativos e colonizadores e evidenciam a impres-

satildeo do denominador sobre o ambiente eacute fundamental entender que agrave

eacutepoca do descobrimento os nativos desconheciam o uso dos metais co-

mo afirma Sampaio

No tupi se representa pela palavra itaacute pedra todo e qualquer mineral ou

metal apenas differenciado ou qualificado pelo seu aspecto physico mais appa-

rente o da cocircr Assim eacute que denominavam o ferro itauacutena mineral ou pedra

preta a prata itaacute-tinga mineral branco o ouro ita-yuacuteba mineral amarello

cobre itaacute-yuacutebarana mineral amarellado ou ouro falso [] Na eacutepoca dos

descobrimentos e exploraccedilotildees sertanejas a technologia tupi para os mineraes

deve ter-se desenvolvido agrave medida das necessidades novas Apparecem entatildeo

no vocabulaacuterio brasiacutelico os nomes itajyca para designar o estanho itaacute-etecirc o

accedilo itamembeca chumo itaacute-beraba ou itaacutetiberaba o crystal itaberaba-etecirc

o diamante itaacute-em pedra hume itaacute-obim ou itaacute-obi a esmeralda itaacute-bubuacutei a

pedra pomes (SAMPAIO 1914 p 119-121)

Apoacutes a chegada dos colonizadores os povos indiacutegenas comeccedila-

ram entatildeo a distinguir os metais e a nomeaacute-los fazendo surgir um tipo de

neologismo em um processo de criaccedilatildeo lexical por composiccedilatildeo Nesse

processo termos preexistentes na liacutengua se uniram em novas formaccedilotildees

como resultado da incorporaccedilatildeo dos novos conhecimentos trazidos pelos

europeus

4 Fazer as ldquopedrasrdquo contarem sua histoacuteria uma anaacutelise do leacutexico

toponiacutemico

Com relaccedilatildeo agrave estrutura morfoloacutegica dos designativos de lugar

foram identificados segundo a discussatildeo metodoloacutegica apresentada por

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

254 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Dick (1990) para a formaccedilatildeo dos topocircnimos 22 exemplos que seguem

um processo de formaccedilatildeo composto aquele que apresenta mais de um

elemento formador todos de origem tupi-guarani e 3 exemplos de topocirc-

nimos hiacutebridos Itabela Itaju do Colocircnia e Itaguaccedilu da Bahia formados

por elementos oriundos de liacutenguas diversas o tupi-guarani e o latim

Para apresentar o resultado optou-se por acatar a segmentaccedilatildeo do

territoacuterio baiano em mesorregiotildees propostas pelo IBGE conforme as-

pectos socioeconocircmicos Do corpus estudado 11 formaccedilotildees compostas e

2 formaccedilotildees hiacutebridas foram encontradas na Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabuna Itacareacute Itagibaacute Itagimirim Itajuiacutepe Itamaraju Itamari Ita-

nheacutem Itapeacute Itapebi Itapitanga Itabela e Itaju do Colocircnia Na Mesorre-

giatildeo do Centro-Sul Baiano encontram-se 6 formaccedilotildees compostas Itaeteacute

Itagi Itambeacute Itapetinga Itaquara Itarantim Na Mesorregiatildeo do Centro-

Norte Baiano assim como na Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

constam 2 formaccedilotildees compostas em cada uma Itaberaba e Itatim e Ita-

parica e Itanagra respectivamente Jaacute na Mesorregiatildeo do Nordeste Baia-

no somente 1 formaccedilatildeo composta foi registrada Itapicuru e na Mesor-

regiatildeo do Vale Satildeo- Franciscano da Bahia tem-se 1 formaccedilatildeo hiacutebrida

Itaguaccedilu da Bahia Nenhuma designaccedilatildeo foi encontrada na Mesorregiatildeo

do Extremo Oeste Baiano

Observa-se uma grande incidecircncia das designaccedilotildees estudadas ndash 19

de 25 ndash nas Mesorregiotildees Sul Baiano e Centro-Sul Baiano (Fig 1) Sus-

tentando o ponto de vista de Lessa (2007) para quem a grande frequecircn-

cia desses topocircnimos resulta do fato de a pedra e a montanha terem sido

muito importantes na marcaccedilatildeo dos caminhos dos bandeirantes paulistas

nos seacuteculos XVII e XVIII encontra-se na Mesorregiatildeo Centro-Sul Baia-

no a Chapada Diamantina Localizada na Serra do Espinhaccedilo essa ca-

deia montanhosa se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais e

por ela passa necessariamente a histoacuteria das ldquominas geraisrdquo

Historicamente a Cadeia do Espinhaccedilo tem sido uma fonte importante de

riquezas minerais principalmente pedras preciosas durante o periacuteodo colonial

Vaacuterias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante

entre os seacuteculos XVII e XIX (RAPINI et al 2008 p 17)

Reforccedilando a importacircncia e a funccedilatildeo motivadora dos minerais na

toponiacutemia ressalta-se que essas duas mesorregiotildees baianas fazem divisa

com o Estado de Minas Gerais reconhecido por suas riquezas minerais

Essas satildeo aacutereas marcadas pela ocorrecircncia de reservas minerais especial-

mente de gemas e pedras preciosas como mostrado pelo geoacutelogo Luiz

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

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256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

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fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 249

proacuteprios de pessoas (antropocircnimos) e de lugares (topocircnimos) mais espe-

cificamente a toponiacutemia ciecircncia que estuda a etimologia a formaccedilatildeo lin-

guiacutestica e os aspectos histoacutericos e culturais que influenciaram a criaccedilatildeo

do nome de uma localidade a partir da intencionalidade que impulsiona o

seu denominador Busca-se portanto desvendar o sentido desses

vocaacutebulos doces e sonoros longos muitas vezes excellentes em geral como

designaccedilatildeo de logares mas que muito perdem do seu valor por se natildeo saber o

que exprimem o que recordam o que nos revelam do sentir e do gecircnio do po-

vo primitivo que nol-os legou (SAMPAIO 1914 p 30)

A pesquisa desenvolvida teve por base principalmente as seguin-

tes obras O Tupi na Geografia Nacional de Theodoro Sampaio 2ordf edi-

ccedilatildeo publicada em 1914 a Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros do-

ravante EMB publicada pelo Serviccedilo Graacutefico do IBGE em 1958 os vo-

lumes 1 2 e 3 da Contribuiccedilatildeo Indiacutegena ao Brasil de Irmatildeo Joseacute Gregoacute-

rio publicados em 1980 e o Dicionaacuterio de Topocircnimos Brasileiros de

Origem Tupi de Luiz Caldas Tibiriccedilaacute ediccedilatildeo de 1985 Considerando

que para os topocircnimos Itabela e Itanagra os dados pesquisados natildeo fo-

ram encontrados no aporte teoacuterico utilizado a pesquisa foi estendida agraves

paacuteginas eletrocircnicas do IBGE ou das prefeituras desses municiacutepios

2 A colonizaccedilatildeo europeia uma histoacuteria de extermiacutenio e mesticcedilagem

A regiatildeo que hoje constitui o Estado da Bahia local de chegada

dos primeiros portugueses ao Brasil no ano de 1500 era habitada ateacute en-

tatildeo por populaccedilotildees de nativos especialmente os tupinambaacutes mais beli-

cosos ao norte e os tupiniquins mais amistosos ao sul pertencentes agrave

grande famiacutelia tupi tronco tupi-guarani (BUENO 2003) A colonizaccedilatildeo

portuguesa praticamente aniquilou esses primeiros habitantes natildeo so-

mente atraveacutes de guerras massacres escravidatildeo e doenccedilas mas tambeacutem

do ponto de vista cultural pela accedilatildeo da catequese e da intensa e forccedilada

miscigenaccedilatildeo com outras etnias em uma demonstraccedilatildeo de desrespeito

pela cultura dos habitantes da terra o que pode ser percebido em obras de

estudo destinadas ao ensino meacutedio como Ojeda e Petta

No dia 21 de abril foram notados os primeiros indiacutecios de terra avistada

no dia seguinte 22 de abril de 1500 Os portugueses haviam chegado a Pindo-

rama74 como os iacutendios denominavam a sua terra Como natildeo vieram para sa-

74 Pindoacute-rama a regiatildeo ou o paiacutes das palmeiras (SAMPAIO 1914)

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

250 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

ber o que os iacutendios pensavam ou queriam rebatizaram a terra de Vera Cruz

(OJEDA amp PETTA 2003 p 67-68)

O mesmo ato de desconsideraccedilatildeo agrave cultura dos donos da terra

aconteceu com kirimurecirc grande mar nome de batismo dado pelos tu-

pinambaacutes agrave Baiacutea de Todos os Santos Em entrevista ao jornal online G1

o historiador Ricardo Carvalho (MAIOR 2014) ainda agradece ao fato

dos portugueses terem chegado agraves novas terras no dia 1ordm de novembro

ldquoTivemos sorte Se os portugueses atrasassem um dia ela se chamaria

Baiacutea de Finados brinca o professor

Seja por desrespeito agrave cultura dos habitantes primitivos por des-

conhecimento das denominaccedilotildees preexistentes ou por determinaccedilatildeo da

metroacutepole a accedilatildeo dos colonizadores europeus ao renomearem as terras

receacutem-descobertas se configura segundo Dick (1992) em um processo

de superposiccedilatildeo toponiacutemica ou seja a mudanccedila no nome do lugar em

virtude de uma invasatildeo de outros povos uma forma simboacutelica de demar-

car o domiacutenio sobre um territoacuterio Seguindo os padrotildees determinados pe-

la coroa portuguesa e pela ideologia religiosa que impregnava a mentali-

dade do homem europeu na eacutepoca a substituiccedilatildeo dos topocircnimos indiacutege-

nas por outros de origem portuguesa obedecia como afirma Nascentes

(1960 p 103) a uma imposiccedilatildeo oficial ldquopara fazer desaparecer o topocirc-

nimo aboriacutegenerdquo e ldquodissimular a origem indiacutegena dos povoadosrdquo ou para

ldquoimpedir que o idioma dos indiacutegenas continuasse a suplantar o dos colo-

nizadoresrdquo

Para entender como a cultura indiacutegena conseguiu sobreviver a es-

sa tentativa de aniquilamento do colonizador europeu eacute importante res-

saltar que no processo inicial de colonizaccedilatildeo a cultura a liacutengua e os co-

nhecimentos indiacutegenas foram fatores determinantes Conhecedores do

ambiente e das teacutecnicas de sobrevivecircncia no clima e natureza rudes da

selva e do sertatildeo era comum a participaccedilatildeo de nativos do litoral e mame-

lucos75 nas expediccedilotildees colonizadoras Aleacutem de ensinar o caminho eles

eram responsaacuteveis pela coleta de frutos ervas e raiacutezes necessaacuterias agrave ali-

mentaccedilatildeo do grupo e pelo uso da medicina com base em recursos da

flora e da fauna (LUCIANO 2006)

Outro fator que determinava a presenccedila de nativos nas expediccedilotildees

colonizadoras era o fato de que as liacutenguas indiacutegenas tinham um tronco

75 Mesticcedilo resultante da uniatildeo do europeu com a mulher iacutendia

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 251

geral que tornava mais faacutecil a compreensatildeo entre as tribos permitindo

assim o encontro com grupos do interior Nesse aspecto aleacutem da presen-

ccedila de indiacutegenas nas expediccedilotildees os portugueses foram forccedilados a apren-

der as liacutenguas aboriacutegenes para facilitar a convivecircncia com os nativos e a

consequente colonizaccedilatildeo do territoacuterio Tambeacutem os missionaacuterios jesuiacutetas

que chegaram ao Brasil no comeccedilo de 1549 precisaram conhecer as liacuten-

guas indiacutegenas para catequizar as tribos e disseminar os valores euro-

peus

O contato com o colonizador e com outros grupos provocou mo-

dificaccedilotildees profundas nas culturas dos povos indiacutegenas pois de acordo

com Gersem Luciano (2006 p 18) os nativos ldquonatildeo contavam com uma

experiecircncia preacutevia de intensas relaccedilotildees intereacutetnicas e com os impactos

provocados pela violecircncia dos agentes de colonizaccedilatildeo que foram por

demais severosrdquo Como consequecircncia dessa accedilatildeo devastadora das 1200

a 1500 liacutenguas indiacutegenas existentes no Brasil quando Pedro Aacutelvares Ca-

bral chegou a Porto Seguro somente cerca de 180 ainda satildeo faladas hoje

segundo pesquisadores e estudiosos da aacuterea da linguiacutestica

Essa intensa mesticcedilagem cultural promovida principalmente pelo

movimento das entradas e bandeiras (seacutec XVII e XVIII) fez com que a

liacutengua tupi modificada pelo conviacutevio com a liacutengua portuguesa e utilizada

como liacutengua geral76 pelos bandeirantes para a comunicaccedilatildeo com os nati-

vos fosse difundida por todo o territoacuterio colonizado

As bandeiras quase que soacute fallavam o tupi E se por toda a parte onde pe-

netravam estendiam os domiacutenios de Portugal natildeo lhe propagavam toda-

via a liacutengua [] Recebiam entatildeo um nome tupi as regiotildees que se iam

descobrindo e o conservavam pelo tempo adiante ainda que nellas jaacutemais

tivesse habitado uma tribu de raccedila tupi (SAMPAIO1914 p 42)

Somente a partir da segunda metade do seacuteculo XVIII a liacutengua por-

tuguesa conseguiu suplantar as liacutenguas indiacutegenas e se tornar o idioma

oficial status garantido atraveacutes do decreto do Marquecircs de Pombal data-

do de 17 de agosto de 1758 que natildeo soacute declarou o portuguecircs a liacutengua

oficial mas tambeacutem proibiu o uso da liacutengua geral em todo o territoacuterio

Entretanto um grande legado indiacutegena jaacute havia sido deixado no leacutexico

76 A liacutengua tupi-guarani classificava-se em trecircs grupos essenciais o amazocircnico tambeacutem chamado de nheengatu o tupi usado no litoral denominado liacutengua geral e o guarani ou abaneenga que era falado na aacuterea meridional (DIEacuteGUES JUNIOR 1980)

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

252 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

especialmente nas designaccedilotildees da flora da fauna dos acidentes geograacutefi-

cos e das povoaccedilotildees

3 Onomaacutestica toponiacutemia e histoacuteria a construccedilatildeo da memoacuteria social

das terras da Bahia

Como parte da lexicologia a onomaacutestica refere-se ao ato de no-

mear e envolve o estudo dos nomes proacuteprios lexias que individualizam

seres e lugares Constituiacuteda de elementos linguiacutesticos que segundo Sea-

bra (2006) conservam antigos estaacutegios denominativos a onomaacutestica en-

volve duas aacutereas de estudo a antroponiacutemia que tem como objeto os no-

mes proacuteprios individuais os nomes parentais ou sobrenomes e as alcu-

nhas ou apelidos e a toponiacutemia que investiga os nomes proacuteprios de lu-

gares

Considerada por Dick (1990) como a crocircnica de um povo ao gra-

var o presente para o conhecimento das geraccedilotildees futuras a toponiacutemia

que caminha lado a lado com a histoacuteria e a geografia deriva-se das pala-

vras gregas τόπος lugar e ὄνομα nome significando portanto

nome de lugar Assim para a anaacutelise e compreensatildeo dos elementos que

influenciam o processo de nomeaccedilatildeo do espaccedilo e a formaccedilatildeo dos topocirc-

nimos entendidos como ldquofonte de conhecimento natildeo soacute da liacutengua falada

na regiatildeo em exame como tambeacutem de ocorrecircncias geograacuteficas histoacutericas

e sociais testemunhadas pelo povo que a habitou em caraacuteter definitivo

ou temporaacuteriordquo (DICK 1990 p 42) torna-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de

conhecimentos derivados de outras aacutereas do saber cientiacutefico

Uma investigaccedilatildeo histoacuterica associada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica dos

designativos do espaccedilo possibilita a compreensatildeo das causas fiacutesicas e

humanas responsaacuteveis pelo seu aparecimento como identificador e o res-

gate e a preservaccedilatildeo desses signos linguiacutesticos em concordacircncia com o

que afirma Sampaio (1914 p 28) ldquopreservar-lhes a graphia verdadeira e

a verdadeira pronuncia fixar-lhes o significado interpretado atraveacutes do

veacuteo obscuro dos metaplasmos vale tanto como resguardar um monumen-

to histoacutericordquo

No leacutexico onomaacutestico aqui estudado ou seja topocircnimos de aci-

dentes humanos do territoacuterio baiano formados pelo morfema lexical itaacute

um elemento vinculado agrave geografia fiacutesica em posiccedilatildeo sintagmaacutetica inici-

al e um elemento determinante ocupando a posiccedilatildeo final verifica-se a

ligaccedilatildeo entre essas denominaccedilotildees de iacutendole mineral relacionadas agrave natu-

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 253

reza constitutiva dos solos ou dos terrenos e as causas histoacutericas e natu-

rais do seu emprego o que justifica segundo Dick (1992) o grande nuacute-

mero de litotopocircnimos existentes no Brasil

Nas terras da Bahia as riquezas naturais foram motivo de cobiccedila

desde a eacutepoca da descoberta atraindo aventureiros e grupos humanos que

deram iniacutecio ao processo de povoamento do territoacuterio Como mostra

Dick (1990) em capiacutetulos das Notiacutecias do Brasil de Gabriel Soares de

Sousa (1974) relatando o estado geral da terra ao rei de Portugal

Dos metais que o mundo faz mais conta que satildeo o ouro e a prata faze-

mos aqui tatildeo pouca que os guardamos para o remate e fim desta histoacuteria ha-

vendo-se de dizer deles primeiro pois esta terra da Bahia tem deles tanta parte

quanto se pode imaginar (SOUSA 1974 apud DICK 1990 p 130)

Para entender como as nomeaccedilotildees compostas aqui estudadas re-

sultam da relaccedilatildeo entre nativos e colonizadores e evidenciam a impres-

satildeo do denominador sobre o ambiente eacute fundamental entender que agrave

eacutepoca do descobrimento os nativos desconheciam o uso dos metais co-

mo afirma Sampaio

No tupi se representa pela palavra itaacute pedra todo e qualquer mineral ou

metal apenas differenciado ou qualificado pelo seu aspecto physico mais appa-

rente o da cocircr Assim eacute que denominavam o ferro itauacutena mineral ou pedra

preta a prata itaacute-tinga mineral branco o ouro ita-yuacuteba mineral amarello

cobre itaacute-yuacutebarana mineral amarellado ou ouro falso [] Na eacutepoca dos

descobrimentos e exploraccedilotildees sertanejas a technologia tupi para os mineraes

deve ter-se desenvolvido agrave medida das necessidades novas Apparecem entatildeo

no vocabulaacuterio brasiacutelico os nomes itajyca para designar o estanho itaacute-etecirc o

accedilo itamembeca chumo itaacute-beraba ou itaacutetiberaba o crystal itaberaba-etecirc

o diamante itaacute-em pedra hume itaacute-obim ou itaacute-obi a esmeralda itaacute-bubuacutei a

pedra pomes (SAMPAIO 1914 p 119-121)

Apoacutes a chegada dos colonizadores os povos indiacutegenas comeccedila-

ram entatildeo a distinguir os metais e a nomeaacute-los fazendo surgir um tipo de

neologismo em um processo de criaccedilatildeo lexical por composiccedilatildeo Nesse

processo termos preexistentes na liacutengua se uniram em novas formaccedilotildees

como resultado da incorporaccedilatildeo dos novos conhecimentos trazidos pelos

europeus

4 Fazer as ldquopedrasrdquo contarem sua histoacuteria uma anaacutelise do leacutexico

toponiacutemico

Com relaccedilatildeo agrave estrutura morfoloacutegica dos designativos de lugar

foram identificados segundo a discussatildeo metodoloacutegica apresentada por

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

254 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Dick (1990) para a formaccedilatildeo dos topocircnimos 22 exemplos que seguem

um processo de formaccedilatildeo composto aquele que apresenta mais de um

elemento formador todos de origem tupi-guarani e 3 exemplos de topocirc-

nimos hiacutebridos Itabela Itaju do Colocircnia e Itaguaccedilu da Bahia formados

por elementos oriundos de liacutenguas diversas o tupi-guarani e o latim

Para apresentar o resultado optou-se por acatar a segmentaccedilatildeo do

territoacuterio baiano em mesorregiotildees propostas pelo IBGE conforme as-

pectos socioeconocircmicos Do corpus estudado 11 formaccedilotildees compostas e

2 formaccedilotildees hiacutebridas foram encontradas na Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabuna Itacareacute Itagibaacute Itagimirim Itajuiacutepe Itamaraju Itamari Ita-

nheacutem Itapeacute Itapebi Itapitanga Itabela e Itaju do Colocircnia Na Mesorre-

giatildeo do Centro-Sul Baiano encontram-se 6 formaccedilotildees compostas Itaeteacute

Itagi Itambeacute Itapetinga Itaquara Itarantim Na Mesorregiatildeo do Centro-

Norte Baiano assim como na Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

constam 2 formaccedilotildees compostas em cada uma Itaberaba e Itatim e Ita-

parica e Itanagra respectivamente Jaacute na Mesorregiatildeo do Nordeste Baia-

no somente 1 formaccedilatildeo composta foi registrada Itapicuru e na Mesor-

regiatildeo do Vale Satildeo- Franciscano da Bahia tem-se 1 formaccedilatildeo hiacutebrida

Itaguaccedilu da Bahia Nenhuma designaccedilatildeo foi encontrada na Mesorregiatildeo

do Extremo Oeste Baiano

Observa-se uma grande incidecircncia das designaccedilotildees estudadas ndash 19

de 25 ndash nas Mesorregiotildees Sul Baiano e Centro-Sul Baiano (Fig 1) Sus-

tentando o ponto de vista de Lessa (2007) para quem a grande frequecircn-

cia desses topocircnimos resulta do fato de a pedra e a montanha terem sido

muito importantes na marcaccedilatildeo dos caminhos dos bandeirantes paulistas

nos seacuteculos XVII e XVIII encontra-se na Mesorregiatildeo Centro-Sul Baia-

no a Chapada Diamantina Localizada na Serra do Espinhaccedilo essa ca-

deia montanhosa se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais e

por ela passa necessariamente a histoacuteria das ldquominas geraisrdquo

Historicamente a Cadeia do Espinhaccedilo tem sido uma fonte importante de

riquezas minerais principalmente pedras preciosas durante o periacuteodo colonial

Vaacuterias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante

entre os seacuteculos XVII e XIX (RAPINI et al 2008 p 17)

Reforccedilando a importacircncia e a funccedilatildeo motivadora dos minerais na

toponiacutemia ressalta-se que essas duas mesorregiotildees baianas fazem divisa

com o Estado de Minas Gerais reconhecido por suas riquezas minerais

Essas satildeo aacutereas marcadas pela ocorrecircncia de reservas minerais especial-

mente de gemas e pedras preciosas como mostrado pelo geoacutelogo Luiz

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

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258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

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250 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

ber o que os iacutendios pensavam ou queriam rebatizaram a terra de Vera Cruz

(OJEDA amp PETTA 2003 p 67-68)

O mesmo ato de desconsideraccedilatildeo agrave cultura dos donos da terra

aconteceu com kirimurecirc grande mar nome de batismo dado pelos tu-

pinambaacutes agrave Baiacutea de Todos os Santos Em entrevista ao jornal online G1

o historiador Ricardo Carvalho (MAIOR 2014) ainda agradece ao fato

dos portugueses terem chegado agraves novas terras no dia 1ordm de novembro

ldquoTivemos sorte Se os portugueses atrasassem um dia ela se chamaria

Baiacutea de Finados brinca o professor

Seja por desrespeito agrave cultura dos habitantes primitivos por des-

conhecimento das denominaccedilotildees preexistentes ou por determinaccedilatildeo da

metroacutepole a accedilatildeo dos colonizadores europeus ao renomearem as terras

receacutem-descobertas se configura segundo Dick (1992) em um processo

de superposiccedilatildeo toponiacutemica ou seja a mudanccedila no nome do lugar em

virtude de uma invasatildeo de outros povos uma forma simboacutelica de demar-

car o domiacutenio sobre um territoacuterio Seguindo os padrotildees determinados pe-

la coroa portuguesa e pela ideologia religiosa que impregnava a mentali-

dade do homem europeu na eacutepoca a substituiccedilatildeo dos topocircnimos indiacutege-

nas por outros de origem portuguesa obedecia como afirma Nascentes

(1960 p 103) a uma imposiccedilatildeo oficial ldquopara fazer desaparecer o topocirc-

nimo aboriacutegenerdquo e ldquodissimular a origem indiacutegena dos povoadosrdquo ou para

ldquoimpedir que o idioma dos indiacutegenas continuasse a suplantar o dos colo-

nizadoresrdquo

Para entender como a cultura indiacutegena conseguiu sobreviver a es-

sa tentativa de aniquilamento do colonizador europeu eacute importante res-

saltar que no processo inicial de colonizaccedilatildeo a cultura a liacutengua e os co-

nhecimentos indiacutegenas foram fatores determinantes Conhecedores do

ambiente e das teacutecnicas de sobrevivecircncia no clima e natureza rudes da

selva e do sertatildeo era comum a participaccedilatildeo de nativos do litoral e mame-

lucos75 nas expediccedilotildees colonizadoras Aleacutem de ensinar o caminho eles

eram responsaacuteveis pela coleta de frutos ervas e raiacutezes necessaacuterias agrave ali-

mentaccedilatildeo do grupo e pelo uso da medicina com base em recursos da

flora e da fauna (LUCIANO 2006)

Outro fator que determinava a presenccedila de nativos nas expediccedilotildees

colonizadoras era o fato de que as liacutenguas indiacutegenas tinham um tronco

75 Mesticcedilo resultante da uniatildeo do europeu com a mulher iacutendia

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 251

geral que tornava mais faacutecil a compreensatildeo entre as tribos permitindo

assim o encontro com grupos do interior Nesse aspecto aleacutem da presen-

ccedila de indiacutegenas nas expediccedilotildees os portugueses foram forccedilados a apren-

der as liacutenguas aboriacutegenes para facilitar a convivecircncia com os nativos e a

consequente colonizaccedilatildeo do territoacuterio Tambeacutem os missionaacuterios jesuiacutetas

que chegaram ao Brasil no comeccedilo de 1549 precisaram conhecer as liacuten-

guas indiacutegenas para catequizar as tribos e disseminar os valores euro-

peus

O contato com o colonizador e com outros grupos provocou mo-

dificaccedilotildees profundas nas culturas dos povos indiacutegenas pois de acordo

com Gersem Luciano (2006 p 18) os nativos ldquonatildeo contavam com uma

experiecircncia preacutevia de intensas relaccedilotildees intereacutetnicas e com os impactos

provocados pela violecircncia dos agentes de colonizaccedilatildeo que foram por

demais severosrdquo Como consequecircncia dessa accedilatildeo devastadora das 1200

a 1500 liacutenguas indiacutegenas existentes no Brasil quando Pedro Aacutelvares Ca-

bral chegou a Porto Seguro somente cerca de 180 ainda satildeo faladas hoje

segundo pesquisadores e estudiosos da aacuterea da linguiacutestica

Essa intensa mesticcedilagem cultural promovida principalmente pelo

movimento das entradas e bandeiras (seacutec XVII e XVIII) fez com que a

liacutengua tupi modificada pelo conviacutevio com a liacutengua portuguesa e utilizada

como liacutengua geral76 pelos bandeirantes para a comunicaccedilatildeo com os nati-

vos fosse difundida por todo o territoacuterio colonizado

As bandeiras quase que soacute fallavam o tupi E se por toda a parte onde pe-

netravam estendiam os domiacutenios de Portugal natildeo lhe propagavam toda-

via a liacutengua [] Recebiam entatildeo um nome tupi as regiotildees que se iam

descobrindo e o conservavam pelo tempo adiante ainda que nellas jaacutemais

tivesse habitado uma tribu de raccedila tupi (SAMPAIO1914 p 42)

Somente a partir da segunda metade do seacuteculo XVIII a liacutengua por-

tuguesa conseguiu suplantar as liacutenguas indiacutegenas e se tornar o idioma

oficial status garantido atraveacutes do decreto do Marquecircs de Pombal data-

do de 17 de agosto de 1758 que natildeo soacute declarou o portuguecircs a liacutengua

oficial mas tambeacutem proibiu o uso da liacutengua geral em todo o territoacuterio

Entretanto um grande legado indiacutegena jaacute havia sido deixado no leacutexico

76 A liacutengua tupi-guarani classificava-se em trecircs grupos essenciais o amazocircnico tambeacutem chamado de nheengatu o tupi usado no litoral denominado liacutengua geral e o guarani ou abaneenga que era falado na aacuterea meridional (DIEacuteGUES JUNIOR 1980)

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

252 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

especialmente nas designaccedilotildees da flora da fauna dos acidentes geograacutefi-

cos e das povoaccedilotildees

3 Onomaacutestica toponiacutemia e histoacuteria a construccedilatildeo da memoacuteria social

das terras da Bahia

Como parte da lexicologia a onomaacutestica refere-se ao ato de no-

mear e envolve o estudo dos nomes proacuteprios lexias que individualizam

seres e lugares Constituiacuteda de elementos linguiacutesticos que segundo Sea-

bra (2006) conservam antigos estaacutegios denominativos a onomaacutestica en-

volve duas aacutereas de estudo a antroponiacutemia que tem como objeto os no-

mes proacuteprios individuais os nomes parentais ou sobrenomes e as alcu-

nhas ou apelidos e a toponiacutemia que investiga os nomes proacuteprios de lu-

gares

Considerada por Dick (1990) como a crocircnica de um povo ao gra-

var o presente para o conhecimento das geraccedilotildees futuras a toponiacutemia

que caminha lado a lado com a histoacuteria e a geografia deriva-se das pala-

vras gregas τόπος lugar e ὄνομα nome significando portanto

nome de lugar Assim para a anaacutelise e compreensatildeo dos elementos que

influenciam o processo de nomeaccedilatildeo do espaccedilo e a formaccedilatildeo dos topocirc-

nimos entendidos como ldquofonte de conhecimento natildeo soacute da liacutengua falada

na regiatildeo em exame como tambeacutem de ocorrecircncias geograacuteficas histoacutericas

e sociais testemunhadas pelo povo que a habitou em caraacuteter definitivo

ou temporaacuteriordquo (DICK 1990 p 42) torna-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de

conhecimentos derivados de outras aacutereas do saber cientiacutefico

Uma investigaccedilatildeo histoacuterica associada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica dos

designativos do espaccedilo possibilita a compreensatildeo das causas fiacutesicas e

humanas responsaacuteveis pelo seu aparecimento como identificador e o res-

gate e a preservaccedilatildeo desses signos linguiacutesticos em concordacircncia com o

que afirma Sampaio (1914 p 28) ldquopreservar-lhes a graphia verdadeira e

a verdadeira pronuncia fixar-lhes o significado interpretado atraveacutes do

veacuteo obscuro dos metaplasmos vale tanto como resguardar um monumen-

to histoacutericordquo

No leacutexico onomaacutestico aqui estudado ou seja topocircnimos de aci-

dentes humanos do territoacuterio baiano formados pelo morfema lexical itaacute

um elemento vinculado agrave geografia fiacutesica em posiccedilatildeo sintagmaacutetica inici-

al e um elemento determinante ocupando a posiccedilatildeo final verifica-se a

ligaccedilatildeo entre essas denominaccedilotildees de iacutendole mineral relacionadas agrave natu-

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 253

reza constitutiva dos solos ou dos terrenos e as causas histoacutericas e natu-

rais do seu emprego o que justifica segundo Dick (1992) o grande nuacute-

mero de litotopocircnimos existentes no Brasil

Nas terras da Bahia as riquezas naturais foram motivo de cobiccedila

desde a eacutepoca da descoberta atraindo aventureiros e grupos humanos que

deram iniacutecio ao processo de povoamento do territoacuterio Como mostra

Dick (1990) em capiacutetulos das Notiacutecias do Brasil de Gabriel Soares de

Sousa (1974) relatando o estado geral da terra ao rei de Portugal

Dos metais que o mundo faz mais conta que satildeo o ouro e a prata faze-

mos aqui tatildeo pouca que os guardamos para o remate e fim desta histoacuteria ha-

vendo-se de dizer deles primeiro pois esta terra da Bahia tem deles tanta parte

quanto se pode imaginar (SOUSA 1974 apud DICK 1990 p 130)

Para entender como as nomeaccedilotildees compostas aqui estudadas re-

sultam da relaccedilatildeo entre nativos e colonizadores e evidenciam a impres-

satildeo do denominador sobre o ambiente eacute fundamental entender que agrave

eacutepoca do descobrimento os nativos desconheciam o uso dos metais co-

mo afirma Sampaio

No tupi se representa pela palavra itaacute pedra todo e qualquer mineral ou

metal apenas differenciado ou qualificado pelo seu aspecto physico mais appa-

rente o da cocircr Assim eacute que denominavam o ferro itauacutena mineral ou pedra

preta a prata itaacute-tinga mineral branco o ouro ita-yuacuteba mineral amarello

cobre itaacute-yuacutebarana mineral amarellado ou ouro falso [] Na eacutepoca dos

descobrimentos e exploraccedilotildees sertanejas a technologia tupi para os mineraes

deve ter-se desenvolvido agrave medida das necessidades novas Apparecem entatildeo

no vocabulaacuterio brasiacutelico os nomes itajyca para designar o estanho itaacute-etecirc o

accedilo itamembeca chumo itaacute-beraba ou itaacutetiberaba o crystal itaberaba-etecirc

o diamante itaacute-em pedra hume itaacute-obim ou itaacute-obi a esmeralda itaacute-bubuacutei a

pedra pomes (SAMPAIO 1914 p 119-121)

Apoacutes a chegada dos colonizadores os povos indiacutegenas comeccedila-

ram entatildeo a distinguir os metais e a nomeaacute-los fazendo surgir um tipo de

neologismo em um processo de criaccedilatildeo lexical por composiccedilatildeo Nesse

processo termos preexistentes na liacutengua se uniram em novas formaccedilotildees

como resultado da incorporaccedilatildeo dos novos conhecimentos trazidos pelos

europeus

4 Fazer as ldquopedrasrdquo contarem sua histoacuteria uma anaacutelise do leacutexico

toponiacutemico

Com relaccedilatildeo agrave estrutura morfoloacutegica dos designativos de lugar

foram identificados segundo a discussatildeo metodoloacutegica apresentada por

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

254 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Dick (1990) para a formaccedilatildeo dos topocircnimos 22 exemplos que seguem

um processo de formaccedilatildeo composto aquele que apresenta mais de um

elemento formador todos de origem tupi-guarani e 3 exemplos de topocirc-

nimos hiacutebridos Itabela Itaju do Colocircnia e Itaguaccedilu da Bahia formados

por elementos oriundos de liacutenguas diversas o tupi-guarani e o latim

Para apresentar o resultado optou-se por acatar a segmentaccedilatildeo do

territoacuterio baiano em mesorregiotildees propostas pelo IBGE conforme as-

pectos socioeconocircmicos Do corpus estudado 11 formaccedilotildees compostas e

2 formaccedilotildees hiacutebridas foram encontradas na Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabuna Itacareacute Itagibaacute Itagimirim Itajuiacutepe Itamaraju Itamari Ita-

nheacutem Itapeacute Itapebi Itapitanga Itabela e Itaju do Colocircnia Na Mesorre-

giatildeo do Centro-Sul Baiano encontram-se 6 formaccedilotildees compostas Itaeteacute

Itagi Itambeacute Itapetinga Itaquara Itarantim Na Mesorregiatildeo do Centro-

Norte Baiano assim como na Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

constam 2 formaccedilotildees compostas em cada uma Itaberaba e Itatim e Ita-

parica e Itanagra respectivamente Jaacute na Mesorregiatildeo do Nordeste Baia-

no somente 1 formaccedilatildeo composta foi registrada Itapicuru e na Mesor-

regiatildeo do Vale Satildeo- Franciscano da Bahia tem-se 1 formaccedilatildeo hiacutebrida

Itaguaccedilu da Bahia Nenhuma designaccedilatildeo foi encontrada na Mesorregiatildeo

do Extremo Oeste Baiano

Observa-se uma grande incidecircncia das designaccedilotildees estudadas ndash 19

de 25 ndash nas Mesorregiotildees Sul Baiano e Centro-Sul Baiano (Fig 1) Sus-

tentando o ponto de vista de Lessa (2007) para quem a grande frequecircn-

cia desses topocircnimos resulta do fato de a pedra e a montanha terem sido

muito importantes na marcaccedilatildeo dos caminhos dos bandeirantes paulistas

nos seacuteculos XVII e XVIII encontra-se na Mesorregiatildeo Centro-Sul Baia-

no a Chapada Diamantina Localizada na Serra do Espinhaccedilo essa ca-

deia montanhosa se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais e

por ela passa necessariamente a histoacuteria das ldquominas geraisrdquo

Historicamente a Cadeia do Espinhaccedilo tem sido uma fonte importante de

riquezas minerais principalmente pedras preciosas durante o periacuteodo colonial

Vaacuterias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante

entre os seacuteculos XVII e XIX (RAPINI et al 2008 p 17)

Reforccedilando a importacircncia e a funccedilatildeo motivadora dos minerais na

toponiacutemia ressalta-se que essas duas mesorregiotildees baianas fazem divisa

com o Estado de Minas Gerais reconhecido por suas riquezas minerais

Essas satildeo aacutereas marcadas pela ocorrecircncia de reservas minerais especial-

mente de gemas e pedras preciosas como mostrado pelo geoacutelogo Luiz

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

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fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 251

geral que tornava mais faacutecil a compreensatildeo entre as tribos permitindo

assim o encontro com grupos do interior Nesse aspecto aleacutem da presen-

ccedila de indiacutegenas nas expediccedilotildees os portugueses foram forccedilados a apren-

der as liacutenguas aboriacutegenes para facilitar a convivecircncia com os nativos e a

consequente colonizaccedilatildeo do territoacuterio Tambeacutem os missionaacuterios jesuiacutetas

que chegaram ao Brasil no comeccedilo de 1549 precisaram conhecer as liacuten-

guas indiacutegenas para catequizar as tribos e disseminar os valores euro-

peus

O contato com o colonizador e com outros grupos provocou mo-

dificaccedilotildees profundas nas culturas dos povos indiacutegenas pois de acordo

com Gersem Luciano (2006 p 18) os nativos ldquonatildeo contavam com uma

experiecircncia preacutevia de intensas relaccedilotildees intereacutetnicas e com os impactos

provocados pela violecircncia dos agentes de colonizaccedilatildeo que foram por

demais severosrdquo Como consequecircncia dessa accedilatildeo devastadora das 1200

a 1500 liacutenguas indiacutegenas existentes no Brasil quando Pedro Aacutelvares Ca-

bral chegou a Porto Seguro somente cerca de 180 ainda satildeo faladas hoje

segundo pesquisadores e estudiosos da aacuterea da linguiacutestica

Essa intensa mesticcedilagem cultural promovida principalmente pelo

movimento das entradas e bandeiras (seacutec XVII e XVIII) fez com que a

liacutengua tupi modificada pelo conviacutevio com a liacutengua portuguesa e utilizada

como liacutengua geral76 pelos bandeirantes para a comunicaccedilatildeo com os nati-

vos fosse difundida por todo o territoacuterio colonizado

As bandeiras quase que soacute fallavam o tupi E se por toda a parte onde pe-

netravam estendiam os domiacutenios de Portugal natildeo lhe propagavam toda-

via a liacutengua [] Recebiam entatildeo um nome tupi as regiotildees que se iam

descobrindo e o conservavam pelo tempo adiante ainda que nellas jaacutemais

tivesse habitado uma tribu de raccedila tupi (SAMPAIO1914 p 42)

Somente a partir da segunda metade do seacuteculo XVIII a liacutengua por-

tuguesa conseguiu suplantar as liacutenguas indiacutegenas e se tornar o idioma

oficial status garantido atraveacutes do decreto do Marquecircs de Pombal data-

do de 17 de agosto de 1758 que natildeo soacute declarou o portuguecircs a liacutengua

oficial mas tambeacutem proibiu o uso da liacutengua geral em todo o territoacuterio

Entretanto um grande legado indiacutegena jaacute havia sido deixado no leacutexico

76 A liacutengua tupi-guarani classificava-se em trecircs grupos essenciais o amazocircnico tambeacutem chamado de nheengatu o tupi usado no litoral denominado liacutengua geral e o guarani ou abaneenga que era falado na aacuterea meridional (DIEacuteGUES JUNIOR 1980)

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

252 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

especialmente nas designaccedilotildees da flora da fauna dos acidentes geograacutefi-

cos e das povoaccedilotildees

3 Onomaacutestica toponiacutemia e histoacuteria a construccedilatildeo da memoacuteria social

das terras da Bahia

Como parte da lexicologia a onomaacutestica refere-se ao ato de no-

mear e envolve o estudo dos nomes proacuteprios lexias que individualizam

seres e lugares Constituiacuteda de elementos linguiacutesticos que segundo Sea-

bra (2006) conservam antigos estaacutegios denominativos a onomaacutestica en-

volve duas aacutereas de estudo a antroponiacutemia que tem como objeto os no-

mes proacuteprios individuais os nomes parentais ou sobrenomes e as alcu-

nhas ou apelidos e a toponiacutemia que investiga os nomes proacuteprios de lu-

gares

Considerada por Dick (1990) como a crocircnica de um povo ao gra-

var o presente para o conhecimento das geraccedilotildees futuras a toponiacutemia

que caminha lado a lado com a histoacuteria e a geografia deriva-se das pala-

vras gregas τόπος lugar e ὄνομα nome significando portanto

nome de lugar Assim para a anaacutelise e compreensatildeo dos elementos que

influenciam o processo de nomeaccedilatildeo do espaccedilo e a formaccedilatildeo dos topocirc-

nimos entendidos como ldquofonte de conhecimento natildeo soacute da liacutengua falada

na regiatildeo em exame como tambeacutem de ocorrecircncias geograacuteficas histoacutericas

e sociais testemunhadas pelo povo que a habitou em caraacuteter definitivo

ou temporaacuteriordquo (DICK 1990 p 42) torna-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de

conhecimentos derivados de outras aacutereas do saber cientiacutefico

Uma investigaccedilatildeo histoacuterica associada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica dos

designativos do espaccedilo possibilita a compreensatildeo das causas fiacutesicas e

humanas responsaacuteveis pelo seu aparecimento como identificador e o res-

gate e a preservaccedilatildeo desses signos linguiacutesticos em concordacircncia com o

que afirma Sampaio (1914 p 28) ldquopreservar-lhes a graphia verdadeira e

a verdadeira pronuncia fixar-lhes o significado interpretado atraveacutes do

veacuteo obscuro dos metaplasmos vale tanto como resguardar um monumen-

to histoacutericordquo

No leacutexico onomaacutestico aqui estudado ou seja topocircnimos de aci-

dentes humanos do territoacuterio baiano formados pelo morfema lexical itaacute

um elemento vinculado agrave geografia fiacutesica em posiccedilatildeo sintagmaacutetica inici-

al e um elemento determinante ocupando a posiccedilatildeo final verifica-se a

ligaccedilatildeo entre essas denominaccedilotildees de iacutendole mineral relacionadas agrave natu-

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 253

reza constitutiva dos solos ou dos terrenos e as causas histoacutericas e natu-

rais do seu emprego o que justifica segundo Dick (1992) o grande nuacute-

mero de litotopocircnimos existentes no Brasil

Nas terras da Bahia as riquezas naturais foram motivo de cobiccedila

desde a eacutepoca da descoberta atraindo aventureiros e grupos humanos que

deram iniacutecio ao processo de povoamento do territoacuterio Como mostra

Dick (1990) em capiacutetulos das Notiacutecias do Brasil de Gabriel Soares de

Sousa (1974) relatando o estado geral da terra ao rei de Portugal

Dos metais que o mundo faz mais conta que satildeo o ouro e a prata faze-

mos aqui tatildeo pouca que os guardamos para o remate e fim desta histoacuteria ha-

vendo-se de dizer deles primeiro pois esta terra da Bahia tem deles tanta parte

quanto se pode imaginar (SOUSA 1974 apud DICK 1990 p 130)

Para entender como as nomeaccedilotildees compostas aqui estudadas re-

sultam da relaccedilatildeo entre nativos e colonizadores e evidenciam a impres-

satildeo do denominador sobre o ambiente eacute fundamental entender que agrave

eacutepoca do descobrimento os nativos desconheciam o uso dos metais co-

mo afirma Sampaio

No tupi se representa pela palavra itaacute pedra todo e qualquer mineral ou

metal apenas differenciado ou qualificado pelo seu aspecto physico mais appa-

rente o da cocircr Assim eacute que denominavam o ferro itauacutena mineral ou pedra

preta a prata itaacute-tinga mineral branco o ouro ita-yuacuteba mineral amarello

cobre itaacute-yuacutebarana mineral amarellado ou ouro falso [] Na eacutepoca dos

descobrimentos e exploraccedilotildees sertanejas a technologia tupi para os mineraes

deve ter-se desenvolvido agrave medida das necessidades novas Apparecem entatildeo

no vocabulaacuterio brasiacutelico os nomes itajyca para designar o estanho itaacute-etecirc o

accedilo itamembeca chumo itaacute-beraba ou itaacutetiberaba o crystal itaberaba-etecirc

o diamante itaacute-em pedra hume itaacute-obim ou itaacute-obi a esmeralda itaacute-bubuacutei a

pedra pomes (SAMPAIO 1914 p 119-121)

Apoacutes a chegada dos colonizadores os povos indiacutegenas comeccedila-

ram entatildeo a distinguir os metais e a nomeaacute-los fazendo surgir um tipo de

neologismo em um processo de criaccedilatildeo lexical por composiccedilatildeo Nesse

processo termos preexistentes na liacutengua se uniram em novas formaccedilotildees

como resultado da incorporaccedilatildeo dos novos conhecimentos trazidos pelos

europeus

4 Fazer as ldquopedrasrdquo contarem sua histoacuteria uma anaacutelise do leacutexico

toponiacutemico

Com relaccedilatildeo agrave estrutura morfoloacutegica dos designativos de lugar

foram identificados segundo a discussatildeo metodoloacutegica apresentada por

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

254 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Dick (1990) para a formaccedilatildeo dos topocircnimos 22 exemplos que seguem

um processo de formaccedilatildeo composto aquele que apresenta mais de um

elemento formador todos de origem tupi-guarani e 3 exemplos de topocirc-

nimos hiacutebridos Itabela Itaju do Colocircnia e Itaguaccedilu da Bahia formados

por elementos oriundos de liacutenguas diversas o tupi-guarani e o latim

Para apresentar o resultado optou-se por acatar a segmentaccedilatildeo do

territoacuterio baiano em mesorregiotildees propostas pelo IBGE conforme as-

pectos socioeconocircmicos Do corpus estudado 11 formaccedilotildees compostas e

2 formaccedilotildees hiacutebridas foram encontradas na Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabuna Itacareacute Itagibaacute Itagimirim Itajuiacutepe Itamaraju Itamari Ita-

nheacutem Itapeacute Itapebi Itapitanga Itabela e Itaju do Colocircnia Na Mesorre-

giatildeo do Centro-Sul Baiano encontram-se 6 formaccedilotildees compostas Itaeteacute

Itagi Itambeacute Itapetinga Itaquara Itarantim Na Mesorregiatildeo do Centro-

Norte Baiano assim como na Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

constam 2 formaccedilotildees compostas em cada uma Itaberaba e Itatim e Ita-

parica e Itanagra respectivamente Jaacute na Mesorregiatildeo do Nordeste Baia-

no somente 1 formaccedilatildeo composta foi registrada Itapicuru e na Mesor-

regiatildeo do Vale Satildeo- Franciscano da Bahia tem-se 1 formaccedilatildeo hiacutebrida

Itaguaccedilu da Bahia Nenhuma designaccedilatildeo foi encontrada na Mesorregiatildeo

do Extremo Oeste Baiano

Observa-se uma grande incidecircncia das designaccedilotildees estudadas ndash 19

de 25 ndash nas Mesorregiotildees Sul Baiano e Centro-Sul Baiano (Fig 1) Sus-

tentando o ponto de vista de Lessa (2007) para quem a grande frequecircn-

cia desses topocircnimos resulta do fato de a pedra e a montanha terem sido

muito importantes na marcaccedilatildeo dos caminhos dos bandeirantes paulistas

nos seacuteculos XVII e XVIII encontra-se na Mesorregiatildeo Centro-Sul Baia-

no a Chapada Diamantina Localizada na Serra do Espinhaccedilo essa ca-

deia montanhosa se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais e

por ela passa necessariamente a histoacuteria das ldquominas geraisrdquo

Historicamente a Cadeia do Espinhaccedilo tem sido uma fonte importante de

riquezas minerais principalmente pedras preciosas durante o periacuteodo colonial

Vaacuterias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante

entre os seacuteculos XVII e XIX (RAPINI et al 2008 p 17)

Reforccedilando a importacircncia e a funccedilatildeo motivadora dos minerais na

toponiacutemia ressalta-se que essas duas mesorregiotildees baianas fazem divisa

com o Estado de Minas Gerais reconhecido por suas riquezas minerais

Essas satildeo aacutereas marcadas pela ocorrecircncia de reservas minerais especial-

mente de gemas e pedras preciosas como mostrado pelo geoacutelogo Luiz

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

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252 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

especialmente nas designaccedilotildees da flora da fauna dos acidentes geograacutefi-

cos e das povoaccedilotildees

3 Onomaacutestica toponiacutemia e histoacuteria a construccedilatildeo da memoacuteria social

das terras da Bahia

Como parte da lexicologia a onomaacutestica refere-se ao ato de no-

mear e envolve o estudo dos nomes proacuteprios lexias que individualizam

seres e lugares Constituiacuteda de elementos linguiacutesticos que segundo Sea-

bra (2006) conservam antigos estaacutegios denominativos a onomaacutestica en-

volve duas aacutereas de estudo a antroponiacutemia que tem como objeto os no-

mes proacuteprios individuais os nomes parentais ou sobrenomes e as alcu-

nhas ou apelidos e a toponiacutemia que investiga os nomes proacuteprios de lu-

gares

Considerada por Dick (1990) como a crocircnica de um povo ao gra-

var o presente para o conhecimento das geraccedilotildees futuras a toponiacutemia

que caminha lado a lado com a histoacuteria e a geografia deriva-se das pala-

vras gregas τόπος lugar e ὄνομα nome significando portanto

nome de lugar Assim para a anaacutelise e compreensatildeo dos elementos que

influenciam o processo de nomeaccedilatildeo do espaccedilo e a formaccedilatildeo dos topocirc-

nimos entendidos como ldquofonte de conhecimento natildeo soacute da liacutengua falada

na regiatildeo em exame como tambeacutem de ocorrecircncias geograacuteficas histoacutericas

e sociais testemunhadas pelo povo que a habitou em caraacuteter definitivo

ou temporaacuteriordquo (DICK 1990 p 42) torna-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de

conhecimentos derivados de outras aacutereas do saber cientiacutefico

Uma investigaccedilatildeo histoacuterica associada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica dos

designativos do espaccedilo possibilita a compreensatildeo das causas fiacutesicas e

humanas responsaacuteveis pelo seu aparecimento como identificador e o res-

gate e a preservaccedilatildeo desses signos linguiacutesticos em concordacircncia com o

que afirma Sampaio (1914 p 28) ldquopreservar-lhes a graphia verdadeira e

a verdadeira pronuncia fixar-lhes o significado interpretado atraveacutes do

veacuteo obscuro dos metaplasmos vale tanto como resguardar um monumen-

to histoacutericordquo

No leacutexico onomaacutestico aqui estudado ou seja topocircnimos de aci-

dentes humanos do territoacuterio baiano formados pelo morfema lexical itaacute

um elemento vinculado agrave geografia fiacutesica em posiccedilatildeo sintagmaacutetica inici-

al e um elemento determinante ocupando a posiccedilatildeo final verifica-se a

ligaccedilatildeo entre essas denominaccedilotildees de iacutendole mineral relacionadas agrave natu-

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 253

reza constitutiva dos solos ou dos terrenos e as causas histoacutericas e natu-

rais do seu emprego o que justifica segundo Dick (1992) o grande nuacute-

mero de litotopocircnimos existentes no Brasil

Nas terras da Bahia as riquezas naturais foram motivo de cobiccedila

desde a eacutepoca da descoberta atraindo aventureiros e grupos humanos que

deram iniacutecio ao processo de povoamento do territoacuterio Como mostra

Dick (1990) em capiacutetulos das Notiacutecias do Brasil de Gabriel Soares de

Sousa (1974) relatando o estado geral da terra ao rei de Portugal

Dos metais que o mundo faz mais conta que satildeo o ouro e a prata faze-

mos aqui tatildeo pouca que os guardamos para o remate e fim desta histoacuteria ha-

vendo-se de dizer deles primeiro pois esta terra da Bahia tem deles tanta parte

quanto se pode imaginar (SOUSA 1974 apud DICK 1990 p 130)

Para entender como as nomeaccedilotildees compostas aqui estudadas re-

sultam da relaccedilatildeo entre nativos e colonizadores e evidenciam a impres-

satildeo do denominador sobre o ambiente eacute fundamental entender que agrave

eacutepoca do descobrimento os nativos desconheciam o uso dos metais co-

mo afirma Sampaio

No tupi se representa pela palavra itaacute pedra todo e qualquer mineral ou

metal apenas differenciado ou qualificado pelo seu aspecto physico mais appa-

rente o da cocircr Assim eacute que denominavam o ferro itauacutena mineral ou pedra

preta a prata itaacute-tinga mineral branco o ouro ita-yuacuteba mineral amarello

cobre itaacute-yuacutebarana mineral amarellado ou ouro falso [] Na eacutepoca dos

descobrimentos e exploraccedilotildees sertanejas a technologia tupi para os mineraes

deve ter-se desenvolvido agrave medida das necessidades novas Apparecem entatildeo

no vocabulaacuterio brasiacutelico os nomes itajyca para designar o estanho itaacute-etecirc o

accedilo itamembeca chumo itaacute-beraba ou itaacutetiberaba o crystal itaberaba-etecirc

o diamante itaacute-em pedra hume itaacute-obim ou itaacute-obi a esmeralda itaacute-bubuacutei a

pedra pomes (SAMPAIO 1914 p 119-121)

Apoacutes a chegada dos colonizadores os povos indiacutegenas comeccedila-

ram entatildeo a distinguir os metais e a nomeaacute-los fazendo surgir um tipo de

neologismo em um processo de criaccedilatildeo lexical por composiccedilatildeo Nesse

processo termos preexistentes na liacutengua se uniram em novas formaccedilotildees

como resultado da incorporaccedilatildeo dos novos conhecimentos trazidos pelos

europeus

4 Fazer as ldquopedrasrdquo contarem sua histoacuteria uma anaacutelise do leacutexico

toponiacutemico

Com relaccedilatildeo agrave estrutura morfoloacutegica dos designativos de lugar

foram identificados segundo a discussatildeo metodoloacutegica apresentada por

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

254 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Dick (1990) para a formaccedilatildeo dos topocircnimos 22 exemplos que seguem

um processo de formaccedilatildeo composto aquele que apresenta mais de um

elemento formador todos de origem tupi-guarani e 3 exemplos de topocirc-

nimos hiacutebridos Itabela Itaju do Colocircnia e Itaguaccedilu da Bahia formados

por elementos oriundos de liacutenguas diversas o tupi-guarani e o latim

Para apresentar o resultado optou-se por acatar a segmentaccedilatildeo do

territoacuterio baiano em mesorregiotildees propostas pelo IBGE conforme as-

pectos socioeconocircmicos Do corpus estudado 11 formaccedilotildees compostas e

2 formaccedilotildees hiacutebridas foram encontradas na Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabuna Itacareacute Itagibaacute Itagimirim Itajuiacutepe Itamaraju Itamari Ita-

nheacutem Itapeacute Itapebi Itapitanga Itabela e Itaju do Colocircnia Na Mesorre-

giatildeo do Centro-Sul Baiano encontram-se 6 formaccedilotildees compostas Itaeteacute

Itagi Itambeacute Itapetinga Itaquara Itarantim Na Mesorregiatildeo do Centro-

Norte Baiano assim como na Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

constam 2 formaccedilotildees compostas em cada uma Itaberaba e Itatim e Ita-

parica e Itanagra respectivamente Jaacute na Mesorregiatildeo do Nordeste Baia-

no somente 1 formaccedilatildeo composta foi registrada Itapicuru e na Mesor-

regiatildeo do Vale Satildeo- Franciscano da Bahia tem-se 1 formaccedilatildeo hiacutebrida

Itaguaccedilu da Bahia Nenhuma designaccedilatildeo foi encontrada na Mesorregiatildeo

do Extremo Oeste Baiano

Observa-se uma grande incidecircncia das designaccedilotildees estudadas ndash 19

de 25 ndash nas Mesorregiotildees Sul Baiano e Centro-Sul Baiano (Fig 1) Sus-

tentando o ponto de vista de Lessa (2007) para quem a grande frequecircn-

cia desses topocircnimos resulta do fato de a pedra e a montanha terem sido

muito importantes na marcaccedilatildeo dos caminhos dos bandeirantes paulistas

nos seacuteculos XVII e XVIII encontra-se na Mesorregiatildeo Centro-Sul Baia-

no a Chapada Diamantina Localizada na Serra do Espinhaccedilo essa ca-

deia montanhosa se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais e

por ela passa necessariamente a histoacuteria das ldquominas geraisrdquo

Historicamente a Cadeia do Espinhaccedilo tem sido uma fonte importante de

riquezas minerais principalmente pedras preciosas durante o periacuteodo colonial

Vaacuterias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante

entre os seacuteculos XVII e XIX (RAPINI et al 2008 p 17)

Reforccedilando a importacircncia e a funccedilatildeo motivadora dos minerais na

toponiacutemia ressalta-se que essas duas mesorregiotildees baianas fazem divisa

com o Estado de Minas Gerais reconhecido por suas riquezas minerais

Essas satildeo aacutereas marcadas pela ocorrecircncia de reservas minerais especial-

mente de gemas e pedras preciosas como mostrado pelo geoacutelogo Luiz

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

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reza constitutiva dos solos ou dos terrenos e as causas histoacutericas e natu-

rais do seu emprego o que justifica segundo Dick (1992) o grande nuacute-

mero de litotopocircnimos existentes no Brasil

Nas terras da Bahia as riquezas naturais foram motivo de cobiccedila

desde a eacutepoca da descoberta atraindo aventureiros e grupos humanos que

deram iniacutecio ao processo de povoamento do territoacuterio Como mostra

Dick (1990) em capiacutetulos das Notiacutecias do Brasil de Gabriel Soares de

Sousa (1974) relatando o estado geral da terra ao rei de Portugal

Dos metais que o mundo faz mais conta que satildeo o ouro e a prata faze-

mos aqui tatildeo pouca que os guardamos para o remate e fim desta histoacuteria ha-

vendo-se de dizer deles primeiro pois esta terra da Bahia tem deles tanta parte

quanto se pode imaginar (SOUSA 1974 apud DICK 1990 p 130)

Para entender como as nomeaccedilotildees compostas aqui estudadas re-

sultam da relaccedilatildeo entre nativos e colonizadores e evidenciam a impres-

satildeo do denominador sobre o ambiente eacute fundamental entender que agrave

eacutepoca do descobrimento os nativos desconheciam o uso dos metais co-

mo afirma Sampaio

No tupi se representa pela palavra itaacute pedra todo e qualquer mineral ou

metal apenas differenciado ou qualificado pelo seu aspecto physico mais appa-

rente o da cocircr Assim eacute que denominavam o ferro itauacutena mineral ou pedra

preta a prata itaacute-tinga mineral branco o ouro ita-yuacuteba mineral amarello

cobre itaacute-yuacutebarana mineral amarellado ou ouro falso [] Na eacutepoca dos

descobrimentos e exploraccedilotildees sertanejas a technologia tupi para os mineraes

deve ter-se desenvolvido agrave medida das necessidades novas Apparecem entatildeo

no vocabulaacuterio brasiacutelico os nomes itajyca para designar o estanho itaacute-etecirc o

accedilo itamembeca chumo itaacute-beraba ou itaacutetiberaba o crystal itaberaba-etecirc

o diamante itaacute-em pedra hume itaacute-obim ou itaacute-obi a esmeralda itaacute-bubuacutei a

pedra pomes (SAMPAIO 1914 p 119-121)

Apoacutes a chegada dos colonizadores os povos indiacutegenas comeccedila-

ram entatildeo a distinguir os metais e a nomeaacute-los fazendo surgir um tipo de

neologismo em um processo de criaccedilatildeo lexical por composiccedilatildeo Nesse

processo termos preexistentes na liacutengua se uniram em novas formaccedilotildees

como resultado da incorporaccedilatildeo dos novos conhecimentos trazidos pelos

europeus

4 Fazer as ldquopedrasrdquo contarem sua histoacuteria uma anaacutelise do leacutexico

toponiacutemico

Com relaccedilatildeo agrave estrutura morfoloacutegica dos designativos de lugar

foram identificados segundo a discussatildeo metodoloacutegica apresentada por

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

254 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Dick (1990) para a formaccedilatildeo dos topocircnimos 22 exemplos que seguem

um processo de formaccedilatildeo composto aquele que apresenta mais de um

elemento formador todos de origem tupi-guarani e 3 exemplos de topocirc-

nimos hiacutebridos Itabela Itaju do Colocircnia e Itaguaccedilu da Bahia formados

por elementos oriundos de liacutenguas diversas o tupi-guarani e o latim

Para apresentar o resultado optou-se por acatar a segmentaccedilatildeo do

territoacuterio baiano em mesorregiotildees propostas pelo IBGE conforme as-

pectos socioeconocircmicos Do corpus estudado 11 formaccedilotildees compostas e

2 formaccedilotildees hiacutebridas foram encontradas na Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabuna Itacareacute Itagibaacute Itagimirim Itajuiacutepe Itamaraju Itamari Ita-

nheacutem Itapeacute Itapebi Itapitanga Itabela e Itaju do Colocircnia Na Mesorre-

giatildeo do Centro-Sul Baiano encontram-se 6 formaccedilotildees compostas Itaeteacute

Itagi Itambeacute Itapetinga Itaquara Itarantim Na Mesorregiatildeo do Centro-

Norte Baiano assim como na Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

constam 2 formaccedilotildees compostas em cada uma Itaberaba e Itatim e Ita-

parica e Itanagra respectivamente Jaacute na Mesorregiatildeo do Nordeste Baia-

no somente 1 formaccedilatildeo composta foi registrada Itapicuru e na Mesor-

regiatildeo do Vale Satildeo- Franciscano da Bahia tem-se 1 formaccedilatildeo hiacutebrida

Itaguaccedilu da Bahia Nenhuma designaccedilatildeo foi encontrada na Mesorregiatildeo

do Extremo Oeste Baiano

Observa-se uma grande incidecircncia das designaccedilotildees estudadas ndash 19

de 25 ndash nas Mesorregiotildees Sul Baiano e Centro-Sul Baiano (Fig 1) Sus-

tentando o ponto de vista de Lessa (2007) para quem a grande frequecircn-

cia desses topocircnimos resulta do fato de a pedra e a montanha terem sido

muito importantes na marcaccedilatildeo dos caminhos dos bandeirantes paulistas

nos seacuteculos XVII e XVIII encontra-se na Mesorregiatildeo Centro-Sul Baia-

no a Chapada Diamantina Localizada na Serra do Espinhaccedilo essa ca-

deia montanhosa se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais e

por ela passa necessariamente a histoacuteria das ldquominas geraisrdquo

Historicamente a Cadeia do Espinhaccedilo tem sido uma fonte importante de

riquezas minerais principalmente pedras preciosas durante o periacuteodo colonial

Vaacuterias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante

entre os seacuteculos XVII e XIX (RAPINI et al 2008 p 17)

Reforccedilando a importacircncia e a funccedilatildeo motivadora dos minerais na

toponiacutemia ressalta-se que essas duas mesorregiotildees baianas fazem divisa

com o Estado de Minas Gerais reconhecido por suas riquezas minerais

Essas satildeo aacutereas marcadas pela ocorrecircncia de reservas minerais especial-

mente de gemas e pedras preciosas como mostrado pelo geoacutelogo Luiz

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Poeacutetica Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 237

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em 20-02-2015

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ed Satildeo Paulo Aacutetica 2003

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realidade brasileira Satildeo Paulo Arquivo do Estado 1990

_____ Toponiacutemia e antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de estudos 2 ed

Satildeo Paulo FFLCHUSP 1992

DIEacuteGUES JUNIOR Manuel Etnias e culturas no Brasil Rio de Janeiro

Biblioteca do Exeacutercito1980

Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros vol XX e XXI Rio de Janeiro

Serviccedilo Graacutefico do IBGE 1958

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zonte Uniatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e Ensino 1980

IBGE ndash biblioteca Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdfgt

Acesso em 15-02-2015

IBGE ndash Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwibgecombrcidadesatpainelhistoricophpcodmun=29159

0ampsearch=bahia|itanagra|inphographics-historyamplang=_ESgt Acesso

em 15-02-2015

LESSA Luiacutesa Galvatildeo A presenccedila das liacutenguas indiacutegenas no uso diaacuterio

brasileiro Amazocircnia vol 1 p 12-14 2007

LUCIANO Gersem dos Santos O iacutendio brasileiro o que vocecirc precisa

saber sobre os povos indiacutegenas no Brasil hoje Brasiacutelia Ministeacuterio de

Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade Rio de Janeiro LA-

CEDMuseu Nacional 2006

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Letras Revista da Faculdade de Filosofia da Universidade do Paranaacute n

11 1960 p 102-107

OJEDA Eduardo Aparicio Baez PETTA Nicolina Luiza de Histoacuteria

uma abordagem integrada 2 ed Satildeo Paulo Moderna 2003

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RAPINI RIBEIRO LAMBERT PIRANI A flora dos campos rupestres

da Cadeia do Espinhaccedilo Revista Megadiversidade vol 4 n 1-2 p 17

dez 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwconservationorgbrpublicacoesfiles_mega4megadiversida

de_espinhacopdfgt Acesso em 20-02-2015

SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

Pensamento 1914

SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

lacircndia ILEEL 2006

TIBIRICcedilAacute Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem

tupi Satildeo Paulo Traccedilo 1985

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

254 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Dick (1990) para a formaccedilatildeo dos topocircnimos 22 exemplos que seguem

um processo de formaccedilatildeo composto aquele que apresenta mais de um

elemento formador todos de origem tupi-guarani e 3 exemplos de topocirc-

nimos hiacutebridos Itabela Itaju do Colocircnia e Itaguaccedilu da Bahia formados

por elementos oriundos de liacutenguas diversas o tupi-guarani e o latim

Para apresentar o resultado optou-se por acatar a segmentaccedilatildeo do

territoacuterio baiano em mesorregiotildees propostas pelo IBGE conforme as-

pectos socioeconocircmicos Do corpus estudado 11 formaccedilotildees compostas e

2 formaccedilotildees hiacutebridas foram encontradas na Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabuna Itacareacute Itagibaacute Itagimirim Itajuiacutepe Itamaraju Itamari Ita-

nheacutem Itapeacute Itapebi Itapitanga Itabela e Itaju do Colocircnia Na Mesorre-

giatildeo do Centro-Sul Baiano encontram-se 6 formaccedilotildees compostas Itaeteacute

Itagi Itambeacute Itapetinga Itaquara Itarantim Na Mesorregiatildeo do Centro-

Norte Baiano assim como na Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

constam 2 formaccedilotildees compostas em cada uma Itaberaba e Itatim e Ita-

parica e Itanagra respectivamente Jaacute na Mesorregiatildeo do Nordeste Baia-

no somente 1 formaccedilatildeo composta foi registrada Itapicuru e na Mesor-

regiatildeo do Vale Satildeo- Franciscano da Bahia tem-se 1 formaccedilatildeo hiacutebrida

Itaguaccedilu da Bahia Nenhuma designaccedilatildeo foi encontrada na Mesorregiatildeo

do Extremo Oeste Baiano

Observa-se uma grande incidecircncia das designaccedilotildees estudadas ndash 19

de 25 ndash nas Mesorregiotildees Sul Baiano e Centro-Sul Baiano (Fig 1) Sus-

tentando o ponto de vista de Lessa (2007) para quem a grande frequecircn-

cia desses topocircnimos resulta do fato de a pedra e a montanha terem sido

muito importantes na marcaccedilatildeo dos caminhos dos bandeirantes paulistas

nos seacuteculos XVII e XVIII encontra-se na Mesorregiatildeo Centro-Sul Baia-

no a Chapada Diamantina Localizada na Serra do Espinhaccedilo essa ca-

deia montanhosa se estende pelos estados da Bahia e de Minas Gerais e

por ela passa necessariamente a histoacuteria das ldquominas geraisrdquo

Historicamente a Cadeia do Espinhaccedilo tem sido uma fonte importante de

riquezas minerais principalmente pedras preciosas durante o periacuteodo colonial

Vaacuterias cidades ali se estabeleceram durante os ciclos do ouro e do diamante

entre os seacuteculos XVII e XIX (RAPINI et al 2008 p 17)

Reforccedilando a importacircncia e a funccedilatildeo motivadora dos minerais na

toponiacutemia ressalta-se que essas duas mesorregiotildees baianas fazem divisa

com o Estado de Minas Gerais reconhecido por suas riquezas minerais

Essas satildeo aacutereas marcadas pela ocorrecircncia de reservas minerais especial-

mente de gemas e pedras preciosas como mostrado pelo geoacutelogo Luiz

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ANDRADE Carlos Drummond de No meio do caminho Antologia

Poeacutetica Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 237

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ed Satildeo Paulo Aacutetica 2003

CARVALHO Luiz Moacyr de Recursos minerais aspectos econocircmicos

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da Bahia Salvador CPRM 2010 p 29-58

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

260 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portu-

guesa 4 ed Rio de Janeiro Lexikon 2013

DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral A motivaccedilatildeo toponiacutemica e a

realidade brasileira Satildeo Paulo Arquivo do Estado 1990

_____ Toponiacutemia e antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de estudos 2 ed

Satildeo Paulo FFLCHUSP 1992

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Biblioteca do Exeacutercito1980

Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros vol XX e XXI Rio de Janeiro

Serviccedilo Graacutefico do IBGE 1958

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zonte Uniatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e Ensino 1980

IBGE ndash biblioteca Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdfgt

Acesso em 15-02-2015

IBGE ndash Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwibgecombrcidadesatpainelhistoricophpcodmun=29159

0ampsearch=bahia|itanagra|inphographics-historyamplang=_ESgt Acesso

em 15-02-2015

LESSA Luiacutesa Galvatildeo A presenccedila das liacutenguas indiacutegenas no uso diaacuterio

brasileiro Amazocircnia vol 1 p 12-14 2007

LUCIANO Gersem dos Santos O iacutendio brasileiro o que vocecirc precisa

saber sobre os povos indiacutegenas no Brasil hoje Brasiacutelia Ministeacuterio de

Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade Rio de Janeiro LA-

CEDMuseu Nacional 2006

MAIOR baiacutea do paiacutes tem ilhas esconde naufraacutegios e eacute retrato da desi-

gualdade G1 01 nov 2014 Disponiacutevel em

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2014

NASCENTES Antenor A saudade portuguesa na toponiacutemia brasileira

Letras Revista da Faculdade de Filosofia da Universidade do Paranaacute n

11 1960 p 102-107

OJEDA Eduardo Aparicio Baez PETTA Nicolina Luiza de Histoacuteria

uma abordagem integrada 2 ed Satildeo Paulo Moderna 2003

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fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 261

PORTAL da Prefeitura Municipal de Itabela Disponiacutevel em

lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15-02-2015

RAPINI RIBEIRO LAMBERT PIRANI A flora dos campos rupestres

da Cadeia do Espinhaccedilo Revista Megadiversidade vol 4 n 1-2 p 17

dez 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwconservationorgbrpublicacoesfiles_mega4megadiversida

de_espinhacopdfgt Acesso em 20-02-2015

SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

Pensamento 1914

SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

lacircndia ILEEL 2006

TIBIRICcedilAacute Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem

tupi Satildeo Paulo Traccedilo 1985

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 255

Moacyr de Carvalho no mapa de ocorrecircncias desses recursos no Estado

da Bahia (Fig 2)

Fig 1 Mapa das mesorregiotildees do Estado da Bahia

Fonte httpbaixarmapascombr

Fig 2 Mapa de ocorrecircncias de gemas e pedras preciosas no Estado da Bahia

Fonte CARVALHO 2010 p 50

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

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258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

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uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

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Poeacutetica Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 237

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lthttpwwwbaixarmapascombrmapa-da-bahia-mesorregioesgt Acesso

em 20-02-2015

BUENO Eduardo Brasil uma histoacuteria ndash a incriacutevel saga de um paiacutes 2

ed Satildeo Paulo Aacutetica 2003

CARVALHO Luiz Moacyr de Recursos minerais aspectos econocircmicos

e aacutereas de relevante interesse mineral In ___ Geodiversidade do estado

da Bahia Salvador CPRM 2010 p 29-58

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Satildeo Paulo FFLCHUSP 1992

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Biblioteca do Exeacutercito1980

Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros vol XX e XXI Rio de Janeiro

Serviccedilo Graacutefico do IBGE 1958

GREGOacuteRIO Irmatildeo Joseacute Contribuiccedilatildeo indiacutegena ao Brasil Belo Hori-

zonte Uniatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e Ensino 1980

IBGE ndash biblioteca Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdfgt

Acesso em 15-02-2015

IBGE ndash Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwibgecombrcidadesatpainelhistoricophpcodmun=29159

0ampsearch=bahia|itanagra|inphographics-historyamplang=_ESgt Acesso

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LESSA Luiacutesa Galvatildeo A presenccedila das liacutenguas indiacutegenas no uso diaacuterio

brasileiro Amazocircnia vol 1 p 12-14 2007

LUCIANO Gersem dos Santos O iacutendio brasileiro o que vocecirc precisa

saber sobre os povos indiacutegenas no Brasil hoje Brasiacutelia Ministeacuterio de

Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade Rio de Janeiro LA-

CEDMuseu Nacional 2006

MAIOR baiacutea do paiacutes tem ilhas esconde naufraacutegios e eacute retrato da desi-

gualdade G1 01 nov 2014 Disponiacutevel em

lthttpg1globocombabahiacidadesalvadorhtmlgt Acesso em 01-11-

2014

NASCENTES Antenor A saudade portuguesa na toponiacutemia brasileira

Letras Revista da Faculdade de Filosofia da Universidade do Paranaacute n

11 1960 p 102-107

OJEDA Eduardo Aparicio Baez PETTA Nicolina Luiza de Histoacuteria

uma abordagem integrada 2 ed Satildeo Paulo Moderna 2003

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 261

PORTAL da Prefeitura Municipal de Itabela Disponiacutevel em

lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15-02-2015

RAPINI RIBEIRO LAMBERT PIRANI A flora dos campos rupestres

da Cadeia do Espinhaccedilo Revista Megadiversidade vol 4 n 1-2 p 17

dez 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwconservationorgbrpublicacoesfiles_mega4megadiversida

de_espinhacopdfgt Acesso em 20-02-2015

SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

Pensamento 1914

SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

lacircndia ILEEL 2006

TIBIRICcedilAacute Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem

tupi Satildeo Paulo Traccedilo 1985

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

256 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Quanto ao processo de formaccedilatildeo dos topocircnimos foram identifica-

das discordacircncias entre as fontes estudadas Em Itabuna Itacareacute e Itapi-

curu natildeo haacute unanimidade entre os autores com relaccedilatildeo agrave existecircncia da le-

xia itaacute ldquopedrardquo no composto formado comprovando o que afirma Sam-

paio (1914 p 124) de ldquoque natildeo raro acontece darem esse radical a voca-

bulos que na verdade o natildeo tecircm provindo dahi grande numero de corrup-

tellasrdquo Nesses casos optou-se por mostrar todas as explicaccedilotildees encon-

tradas sem indicar preferecircncia

Apresenta-se a seguir o resultado da anaacutelise semacircntico-etimoloacute-

gica realizada por mesorregiatildeo seguindo a ordem decrescente de inci-

decircncia Para fins de exposiccedilatildeo optou-se por listar os topocircnimos em ne-

grito seguidos apoacutes dois pontos do morfema lexical inicial itaacute apresen-

tado em itaacutelico e separado por viacutergula do seu correspondente na liacutengua

portuguesa Apoacutes o siacutembolo matemaacutetico de adiccedilatildeo (+) segue-se o ele-

mento determinante em itaacutelico precedido da indicaccedilatildeo da etimologia la-

tina (lat) nos trecircs casos de topocircnimos hiacutebridos e seguidos de todos os

sentidos encontrados nas obras pesquisadas O siacutembolo matemaacutetico de

igualdade (=) antecede o conteuacutedo semacircntico recuperado da designaccedilatildeo

apresentado entre aspas duplas seguido da indicaccedilatildeo da fonte ou fontes

quando obras diferentes apresentam resultados semelhantes e em alguns

casos de um breve comentaacuterio sobre a motivaccedilatildeo toponiacutemica Quando a

discordacircncia entre os autores foi identificada utilizou-se o sinal de ponto

e viacutergula para separar os dados encontrados nas obras pesquisadas

41 Mesorregiatildeo do Sul Baiano

Itabela itaacute pedra + Lat bellus belo bonito encantador (CUNHA 2013 p 86) = ldquopedra

bonita monte belordquo Tem relaccedilatildeo com o Monte Pascoal visto da cidade77

Itabuna i a (pronome de 3ordf pessoa que funciona tambeacutem como artigo definido) + tab al-

deia + una negra escura = ldquoa aldeia negrardquo (TIBIRICcedilAacute1985 p 63) itaacute pedra + una

preto = ldquopedra pretardquo em virtude do rio Cachoeira que banha a cidade ter o seu leito co-

berto de pedras pretas (EMB 1958 p 306)

Itacareacute itaacute pedra + careacute torta = ldquopedra tortardquo (GREGOacuteRIO 1980 p763) y aacutegua rio +

taacuteca ruidosa barulhenta + reacute diferente = ldquorio de ruiacutedo diferenterdquo (SAMPAIO 1914 p

191229) i a (artigo definido) + tacuar-eacute taquara bambu saboroso = ldquoa cana de accediluacutecarrdquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 63)

77 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica da prefeitura do municiacutepio Disponiacutevel em lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15 fev 2015

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 257

Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Poeacutetica Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 237

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SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

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Itagibaacute itaacute pedra + jybaacute braccedilo = ldquobraccedilo de ferrordquo (GREGOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra

+ gybaacute braccedilo = ldquoo braccedilo de ferrordquo Eacute tambeacutem o nome de um chefe Tobayara (SAM-

PAIO 1914 p 230)

Itagimirim itaacute pedra + jy machado + mirim pequeno = ldquomachadinho de pedrardquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 770) itaacute pedra + jy machado + miri pequeno = ldquomachado de pedra

pequenordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itaju do Colocircnia itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo = ldquopedra amarela ourordquo

(TIBIRICcedilAacute 1985 p 65) + do (conectivo) + Lat colōnĭa possessatildeo domiacutenio (CUNHA

2013 p 162) ldquodo Colocircniardquo (rio em cuja margem esquerda o municiacutepio estaacute situado)78

Itajuiacutepe itaacute pedra + juba metal amarelo ouro + y rio + pe em = ldquono rio do ourordquo

(GREGOacuteRIO 1980 p770) itaacute pedra + yuacute (contraccedilatildeo de yuba) amarelo + y rio + peacute

caminho = ldquono caminho do rio do ourordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 65157)

Itamaraju itaacute pedra + morojuba amarelado dourado = ldquopedra amarelada douradardquo (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 65)

Itamari itaacute pedra + mari planta diversas espeacutecies de Caacutessias espinheiro = ldquoplanta sobre

pedrardquo (SAMPAIO 1914 p 246)

Itanheacutem itaacute pedra + nheenga pedra que canta = ldquosinordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 66)

Itapeacute itaacute pedra + apeacute caminho = ldquocaminho de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itaacute

pedra + peacute caminho (ou alteraccedilatildeo de itaacute-peba) = ldquocaminho de pedra laje pedra planardquo

(SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapebi itaacute pedra + peba laje + y rio = ldquorio da lajerdquo (GREGOacuteRIO 1980 p776) itapeb

laje de pedra + y rio = ldquorio da lajerdquo (SAMPAIO 1914 p 231) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itapitanga itaacute pedra + pitanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo espeacutecie de alga madreacutepo-

ras (colocircnia de poacutelipos) que vegetam nas costas do nordeste (GREGOacuteRIO 1980 p779)

itaacute pedra + pytanga vermelho = ldquopedra vermelhardquo (SAMPAIO 1914 p 232)

42 Mesorregiatildeo do Centro-Sul Baiano

Itaeteacute itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquopedra de verdade accedilordquo (GREGOacuteRIO 1980 p766)

itaacute pedra + etecirc verdadeiro = ldquoferro verdadeiro o accedilordquo (SAMPAIO 1914 p 229) (TI-

BIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itagi itaacute pedra + jy machado = ldquomachado de pedrardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64)

Itambeacute itaacute pedra + trsquoembeacute beiccedilo = ldquopedra a prumo talhada em beiccedilo morro a piquerdquo

(GREGOacuteRIO 1980 p 772) itaacute pedra + aymbeacute afiado = ldquopico ou monte agudo escar-

pas nas encostas rochosas dos montesrdquo (SAMPAIO 1914 p 106-107) alteraccedilatildeo de ita-

peba ldquolage lageadordquo ou de itaimbeacute ldquoprecipiacutecio abismo despenhadeirordquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 66)

78 Informaccedilatildeo presente na paacutegina eletrocircnica do IBGE Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdf gt Acesso em 15 fev 2015

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Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ANDRADE Carlos Drummond de No meio do caminho Antologia

Poeacutetica Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 237

BAIXAR mapas Mapa da Bahia ndash Mesorregiotildees Disponiacutevel em

lthttpwwwbaixarmapascombrmapa-da-bahia-mesorregioesgt Acesso

em 20-02-2015

BUENO Eduardo Brasil uma histoacuteria ndash a incriacutevel saga de um paiacutes 2

ed Satildeo Paulo Aacutetica 2003

CARVALHO Luiz Moacyr de Recursos minerais aspectos econocircmicos

e aacutereas de relevante interesse mineral In ___ Geodiversidade do estado

da Bahia Salvador CPRM 2010 p 29-58

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

260 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portu-

guesa 4 ed Rio de Janeiro Lexikon 2013

DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral A motivaccedilatildeo toponiacutemica e a

realidade brasileira Satildeo Paulo Arquivo do Estado 1990

_____ Toponiacutemia e antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de estudos 2 ed

Satildeo Paulo FFLCHUSP 1992

DIEacuteGUES JUNIOR Manuel Etnias e culturas no Brasil Rio de Janeiro

Biblioteca do Exeacutercito1980

Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros vol XX e XXI Rio de Janeiro

Serviccedilo Graacutefico do IBGE 1958

GREGOacuteRIO Irmatildeo Joseacute Contribuiccedilatildeo indiacutegena ao Brasil Belo Hori-

zonte Uniatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e Ensino 1980

IBGE ndash biblioteca Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdfgt

Acesso em 15-02-2015

IBGE ndash Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwibgecombrcidadesatpainelhistoricophpcodmun=29159

0ampsearch=bahia|itanagra|inphographics-historyamplang=_ESgt Acesso

em 15-02-2015

LESSA Luiacutesa Galvatildeo A presenccedila das liacutenguas indiacutegenas no uso diaacuterio

brasileiro Amazocircnia vol 1 p 12-14 2007

LUCIANO Gersem dos Santos O iacutendio brasileiro o que vocecirc precisa

saber sobre os povos indiacutegenas no Brasil hoje Brasiacutelia Ministeacuterio de

Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade Rio de Janeiro LA-

CEDMuseu Nacional 2006

MAIOR baiacutea do paiacutes tem ilhas esconde naufraacutegios e eacute retrato da desi-

gualdade G1 01 nov 2014 Disponiacutevel em

lthttpg1globocombabahiacidadesalvadorhtmlgt Acesso em 01-11-

2014

NASCENTES Antenor A saudade portuguesa na toponiacutemia brasileira

Letras Revista da Faculdade de Filosofia da Universidade do Paranaacute n

11 1960 p 102-107

OJEDA Eduardo Aparicio Baez PETTA Nicolina Luiza de Histoacuteria

uma abordagem integrada 2 ed Satildeo Paulo Moderna 2003

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 261

PORTAL da Prefeitura Municipal de Itabela Disponiacutevel em

lthttpwwwitabelabagovbrhistoriagt Acesso em 15-02-2015

RAPINI RIBEIRO LAMBERT PIRANI A flora dos campos rupestres

da Cadeia do Espinhaccedilo Revista Megadiversidade vol 4 n 1-2 p 17

dez 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwconservationorgbrpublicacoesfiles_mega4megadiversida

de_espinhacopdfgt Acesso em 20-02-2015

SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

Pensamento 1914

SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

lacircndia ILEEL 2006

TIBIRICcedilAacute Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem

tupi Satildeo Paulo Traccedilo 1985

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

258 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

Itapetinga itapeacute laje de pedra + tinga branco claro = ldquolaje brancardquo (GREGOacuteRIO 1980

p 778) (SAMPAIO 1914 p 232) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

Itaquara itaacute pedra + cuara buraco = ldquoburaco da pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p781) itaacute

pedra + cuara furada = ldquopedra furada poccedilordquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

Itarantim itaacute pedra + rrsquoatatilde dura + tῖ ponta bico = ldquoponta de pedra dura ponta de flechardquo

(GREGOacuteRIO 1980 p782) itaacute pedra + raacute soltar desatar + tinga branco = ldquopedra bran-

ca fragmentaacuteria gessordquo (SAMPAIO 1914 p 192) (TIBIRICcedilAacute 1985 p 68)

43 Mesorregiatildeo do Centro-Norte Baiano

Itaberaba itaacute pedra + beraba brilhante reluzente = ldquopedra reluzente cristalrdquo (GREGOacute-

RIO 1980 p 760) (SAMPAIO 1914 p 229) ldquopedra brilhante diamanterdquo (TIBIRICcedilAacute

1985 p 63)

Itatim itaacute pedra + tῖ ponta = ldquoponta de pedrardquo (GREGOacuteRIO 1980 p 783) itaacute pedra +

ticirc ponta nariz = ldquoponta ou nariz de pedrardquo ou forma contrata de itaacute-tinga ldquopedra branca

prata metal brancordquo (SAMPAIO 1914 p 233)

44 Mesorregiatildeo Metropolitana de Salvador

Itanagra itaacute pedra + nagra areia79 = ldquopedra de areiardquo (IBGE Cidades)

Itaparica itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocercado de pedrasrdquo (GREGOacuteRIO 1980 p

775) itaacute pedra + pari barragem cerca = ldquocerca feita de pedrasrdquo (SAMPAIO 1914 p

231) uma referecircncia aos arrecifes que contornam toda a costa da ilha

45 Mesorregiatildeo do Nordeste Baiano

Itapicuru i a (artigo definido) + tapi entrepernas + curuacute rugosas aacutesperas = ldquoa ave pes-

cadorardquo (SAMPAIO 1914 p 269) itapeacute laje de pedra + curu enrugada ondulada = ldquola-

je aacutespera enrugadardquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 67)

46 Mesorregiatildeo do Vale Satildeo-Franciscano da Bahia

Itaguaccedilu da Bahia itaacute pedra + guaccedilu grande = ldquopedra grande penedo rochedordquo (GRE-

GOacuteRIO 1980 p 767) itaacute pedra + gucircasu grande = ldquopedra grande pedra furada que ser-

ve de acircncora agraves embarcaccedilotildeesrdquo (TIBIRICcedilAacute 1985 p 64) + da (conectivo) + Lat baia pe-

queno golfo (CUNHA 2013 p 76) ldquoda Bahiardquo diferenciando de Itaguaccedilu do Espiacuterito

Santo

79 Esse sentido natildeo eacute confirmado pelos outros autores Tanto Sampaio (1914) quanto Tibiriccedilaacute (1985) identificam ldquoareiardquo em tupi como ibicui (yby terra chatildeo + cuiacute farinha poacute poeira)

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ANDRADE Carlos Drummond de No meio do caminho Antologia

Poeacutetica Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 237

BAIXAR mapas Mapa da Bahia ndash Mesorregiotildees Disponiacutevel em

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em 20-02-2015

BUENO Eduardo Brasil uma histoacuteria ndash a incriacutevel saga de um paiacutes 2

ed Satildeo Paulo Aacutetica 2003

CARVALHO Luiz Moacyr de Recursos minerais aspectos econocircmicos

e aacutereas de relevante interesse mineral In ___ Geodiversidade do estado

da Bahia Salvador CPRM 2010 p 29-58

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

260 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portu-

guesa 4 ed Rio de Janeiro Lexikon 2013

DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral A motivaccedilatildeo toponiacutemica e a

realidade brasileira Satildeo Paulo Arquivo do Estado 1990

_____ Toponiacutemia e antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de estudos 2 ed

Satildeo Paulo FFLCHUSP 1992

DIEacuteGUES JUNIOR Manuel Etnias e culturas no Brasil Rio de Janeiro

Biblioteca do Exeacutercito1980

Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros vol XX e XXI Rio de Janeiro

Serviccedilo Graacutefico do IBGE 1958

GREGOacuteRIO Irmatildeo Joseacute Contribuiccedilatildeo indiacutegena ao Brasil Belo Hori-

zonte Uniatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e Ensino 1980

IBGE ndash biblioteca Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdfgt

Acesso em 15-02-2015

IBGE ndash Cidades Disponiacutevel em

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LESSA Luiacutesa Galvatildeo A presenccedila das liacutenguas indiacutegenas no uso diaacuterio

brasileiro Amazocircnia vol 1 p 12-14 2007

LUCIANO Gersem dos Santos O iacutendio brasileiro o que vocecirc precisa

saber sobre os povos indiacutegenas no Brasil hoje Brasiacutelia Ministeacuterio de

Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade Rio de Janeiro LA-

CEDMuseu Nacional 2006

MAIOR baiacutea do paiacutes tem ilhas esconde naufraacutegios e eacute retrato da desi-

gualdade G1 01 nov 2014 Disponiacutevel em

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2014

NASCENTES Antenor A saudade portuguesa na toponiacutemia brasileira

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11 1960 p 102-107

OJEDA Eduardo Aparicio Baez PETTA Nicolina Luiza de Histoacuteria

uma abordagem integrada 2 ed Satildeo Paulo Moderna 2003

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 261

PORTAL da Prefeitura Municipal de Itabela Disponiacutevel em

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RAPINI RIBEIRO LAMBERT PIRANI A flora dos campos rupestres

da Cadeia do Espinhaccedilo Revista Megadiversidade vol 4 n 1-2 p 17

dez 2008 Disponiacutevel em

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SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

Pensamento 1914

SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

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TIBIRICcedilAacute Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem

tupi Satildeo Paulo Traccedilo 1985

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 259

5 Consideraccedilotildees finais

Em relaccedilatildeo ao leacutexico toponiacutemico formado pelo morfema lexical

tupi itaacute em posiccedilatildeo inicial de estruturas compostas Dick (1990 p 145)

reconhece que ldquoa ocorrecircncia desta tipologia denominativa na nomencla-

tura geograacutefica do Brasil estaria por justificar um estudo pormenorizado

dos litotopocircnimos e o reconhecimento da funccedilatildeo motivadora preponde-

rante que exercem na toponiacutemia nacionalrdquo

Ao buscar recuperar o conteuacutedo semacircntico dos topocircnimos com-

postos com essa formaccedilatildeo existentes no Estado da Bahia atende-se agrave in-

dicaccedilatildeo da pesquisadora ao tempo em que se reconhece a sobrevivecircncia

da toponiacutemia de origem indiacutegena na Bahia como uma forma de resistecircn-

cia agraves tentativas de apagamento da cultura nativa e de resgate e valoriza-

ccedilatildeo da memoacuteria linguiacutestica indiacutegena como uma das raiacutezes culturais da

histoacuteria do povo brasileiro

A relaccedilatildeo identificada entre os litotopocircnimos estudados e a geo-

grafia local evidencia que assim como os topocircnimos de origem portu-

guesa expressam o sentimento religioso e a forte influecircncia do catolicis-

mo na eacutepoca do descobrimento o leacutexico toponiacutemico de origem tupi refle-

te a relaccedilatildeo do homem com o seu proacuteprio meio ambiente a visatildeo imedia-

ta da terra E dessa forma satildeo conservados como reflexos da memoacuteria do

povo A recuperaccedilatildeo no campo da onomaacutestica do significado desses

nomes representa como acredita Seabra (2006) uma contribuiccedilatildeo ldquopara

uma maior visibilidade agrave leitura sociocultural da regiatildeordquo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ANDRADE Carlos Drummond de No meio do caminho Antologia

Poeacutetica Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 237

BAIXAR mapas Mapa da Bahia ndash Mesorregiotildees Disponiacutevel em

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em 20-02-2015

BUENO Eduardo Brasil uma histoacuteria ndash a incriacutevel saga de um paiacutes 2

ed Satildeo Paulo Aacutetica 2003

CARVALHO Luiz Moacyr de Recursos minerais aspectos econocircmicos

e aacutereas de relevante interesse mineral In ___ Geodiversidade do estado

da Bahia Salvador CPRM 2010 p 29-58

Ciacuterculo Fluminense de Estudos Filoloacutegicos e Linguiacutesticos

260 Cadernos do CNLF Vol XIX Nordm 02 ndash Lexicografia lexicologia

CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portu-

guesa 4 ed Rio de Janeiro Lexikon 2013

DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral A motivaccedilatildeo toponiacutemica e a

realidade brasileira Satildeo Paulo Arquivo do Estado 1990

_____ Toponiacutemia e antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de estudos 2 ed

Satildeo Paulo FFLCHUSP 1992

DIEacuteGUES JUNIOR Manuel Etnias e culturas no Brasil Rio de Janeiro

Biblioteca do Exeacutercito1980

Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros vol XX e XXI Rio de Janeiro

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GREGOacuteRIO Irmatildeo Joseacute Contribuiccedilatildeo indiacutegena ao Brasil Belo Hori-

zonte Uniatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e Ensino 1980

IBGE ndash biblioteca Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaodtbsbahiaitajudocoloniapdfgt

Acesso em 15-02-2015

IBGE ndash Cidades Disponiacutevel em

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LESSA Luiacutesa Galvatildeo A presenccedila das liacutenguas indiacutegenas no uso diaacuterio

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LUCIANO Gersem dos Santos O iacutendio brasileiro o que vocecirc precisa

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Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade Rio de Janeiro LA-

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MAIOR baiacutea do paiacutes tem ilhas esconde naufraacutegios e eacute retrato da desi-

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SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

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zonte Uniatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e Ensino 1980

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Acesso em 15-02-2015

IBGE ndash Cidades Disponiacutevel em

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LESSA Luiacutesa Galvatildeo A presenccedila das liacutenguas indiacutegenas no uso diaacuterio

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Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade Rio de Janeiro LA-

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MAIOR baiacutea do paiacutes tem ilhas esconde naufraacutegios e eacute retrato da desi-

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NASCENTES Antenor A saudade portuguesa na toponiacutemia brasileira

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fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 261

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RAPINI RIBEIRO LAMBERT PIRANI A flora dos campos rupestres

da Cadeia do Espinhaccedilo Revista Megadiversidade vol 4 n 1-2 p 17

dez 2008 Disponiacutevel em

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de_espinhacopdfgt Acesso em 20-02-2015

SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

Pensamento 1914

SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

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TIBIRICcedilAacute Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem

tupi Satildeo Paulo Traccedilo 1985

XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUIacuteSTICA E FILOLOGIA

fraseologia terminologia e semacircntica Rio de Janeiro CiFEFiL 2015 261

PORTAL da Prefeitura Municipal de Itabela Disponiacutevel em

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RAPINI RIBEIRO LAMBERT PIRANI A flora dos campos rupestres

da Cadeia do Espinhaccedilo Revista Megadiversidade vol 4 n 1-2 p 17

dez 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwconservationorgbrpublicacoesfiles_mega4megadiversida

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SAMPAIO Theodoro O tupi na geografia nacional 2 ed Satildeo Paulo O

Pensamento 1914

SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Referecircncia e onomaacutestica

In Muacuteltiplas perspectivas em linguiacutestica Anais do XI Simpoacutesio Nacio-

nal e I Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica (XI SILEL) Uber-

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TIBIRICcedilAacute Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem

tupi Satildeo Paulo Traccedilo 1985