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Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos 90 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA, ANTROPONÍMIA MUNICIPAL ALAGOANA: UM ESTUDO ONOMÁSTICO DE NOMES DE CIDADES DO ESTADO DE ALAGOAS 11 Pedro Antonio Gomes de Melo (UNEAL) [email protected] RESUMO Este artigo se propõe fazer uma reflexão sobre os nomes próprios individuais de- signativos de cidades do estado de Alagoas, à luz dos estudos onomásticos, a partir de uma descrição-crítica dos antropotopônimos - topônimos relativos aos nomes próprios de pessoa - e axiotopônimos - topônimos relativos aos títulos que acompanham nomes próprios de pessoa registrados na toponímia municipal alagoana. As análises revela- ram que nesse léxico toponímico, há uma preferência do nomeador para eleição dos antropotopônimos, em detrimento dos axiotopônimos no ato de nomear cidades em Alagoas. E ainda, que os topônimos não são usados apenas com a função identificado- ra como elementos de referência espacial, mas sobretudo como elemento pragmático de organização social e espacial de demarcação de grupos dominantes e, geralmente dirigentes, de uma dada região do estado na tentativa de cristalização semântica de um poder político-econômico local materializado no léxico por meio do signo toponí- mico. Palavras-chaves: Léxico. Onomástica. Antropotopônimo. Axiotopônimo. 1. Consideração iniciais Partindo da dimensão sociocultural que atribui à linguagem os as- pectos variáveis que ela apresenta no tempo e no espaço, é possível per- 11 Este trabalho foi elaborado a partir do roteiro da apresentação a ser realizada na sessão de Gru- pos Temáticos do XVIII Congresso Nacional de Linguística e Filologia da Universidade Estácio de Sá – campus Nova América do dia 25 ao dia 29 de agosto de 2014. Em formato de artigo, serão aqui discutidos os mesmos aspectos analisados na apresentação oral realizada na SALA 3 – Grupo 03 de comunicações do dia 26, sobre o tema “Lexicografia, lexicologia, fraseologia, terminologia e semân- tica”, sob a coordenação de Pedro Antonio Gomes de Melo no referido congresso.

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Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

90 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

ANTROPONÍMIA MUNICIPAL ALAGOANA:

UM ESTUDO ONOMÁSTICO DE NOMES DE CIDADES

DO ESTADO DE ALAGOAS11

Pedro Antonio Gomes de Melo (UNEAL)

[email protected]

RESUMO

Este artigo se propõe fazer uma reflexão sobre os nomes próprios individuais de-

signativos de cidades do estado de Alagoas, à luz dos estudos onomásticos, a partir de

uma descrição-crítica dos antropotopônimos - topônimos relativos aos nomes próprios

de pessoa - e axiotopônimos - topônimos relativos aos títulos que acompanham nomes

próprios de pessoa – registrados na toponímia municipal alagoana. As análises revela-

ram que nesse léxico toponímico, há uma preferência do nomeador para eleição dos

antropotopônimos, em detrimento dos axiotopônimos no ato de nomear cidades em

Alagoas. E ainda, que os topônimos não são usados apenas com a função identificado-

ra como elementos de referência espacial, mas sobretudo como elemento pragmático

de organização social e espacial de demarcação de grupos dominantes e, geralmente

dirigentes, de uma dada região do estado na tentativa de cristalização semântica de

um poder político-econômico local materializado no léxico por meio do signo toponí-

mico.

Palavras-chaves: Léxico. Onomástica. Antropotopônimo. Axiotopônimo.

1. Consideração iniciais

Partindo da dimensão sociocultural que atribui à linguagem os as-

pectos variáveis que ela apresenta no tempo e no espaço, é possível per-

11 Este trabalho foi elaborado a partir do roteiro da apresentação a ser realizada na sessão de Gru-pos Temáticos do XVIII Congresso Nacional de Linguística e Filologia da Universidade Estácio de Sá – campus Nova América do dia 25 ao dia 29 de agosto de 2014. Em formato de artigo, serão aqui discutidos os mesmos aspectos analisados na apresentação oral realizada na SALA 3 – Grupo 03 de comunicações do dia 26, sobre o tema “Lexicografia, lexicologia, fraseologia, terminologia e semân-tica”, sob a coordenação de Pedro Antonio Gomes de Melo no referido congresso.

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XVIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA

SEMÂNTICA E TERMINOLOGIA. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 91

cebermos como os falantes, ao longo dos anos, se valem da língua para

representar a realidade exterior e expressar valores partilhados sócio e

historicamente nas designações de acidentes físicos e humanos. Assim

sendo, a prática de nomear lugares – atividade eminentemente humana –

evidencia os efeitos da sociedade sobre o linguístico e a maneira pela

qual o mundo social nele se apresenta, sobretudo em seu léxico, refletin-

do e refratando o modo de ver a realidade e a forma como seus membros

organizam o mundo que os rodeia.

Na contemporaneidade, as pesquisas toponímicas revelam ser

muito mais que uma área de investigação que trata, apenas da questão de

nomear lugares do ponto de vista linguístico, essas investigações exer-

cem vínculos com crenças, com costumes, com ideologias, com etnias,

com as denominações das sociedades de todos os tempos, com a cultura

de cada lugar e influências internas e externas que as localidades sofrem

e/ou exercem sobre os nomeadores.

Nesse sentido, nosso foco é refletir sobre a relação simbólica entre

língua e cultura presente em nomes próprios individuais designativos de

cidades do estado de Alagoas, à luz dos estudos onomásticos, a partir de

uma descrição-crítica dos antropotopônimos – topônimos relativos aos

nomes próprios de pessoa, sobrenomes, prenomes ou apelidos de família

– e axiotopônimos – topônimos relativos aos títulos que acompanham es-

tes nomes próprios.

Falar sobre estes designativos é retratar a história sociocultural da

constituição do léxico onomástico-toponímico municipal alagoano, na

medida em que revelam características ideológicas, fatos políticos, cultu-

rais e históricos, como também, mostrar os fundamentos do nome pró-

prio em nossa civilização.

Segundo Seabra (2006, p. 7):

Datam da antiguidade as primeiras reflexões sobre a natureza do nome. Apesar desta constatação, o estudo do nome ou do léxico é sempre um tema

atual, de grande multiplicidade, uma vez que congrega o linguístico e o extra-

linguístico.

É importante não confundirmos o nome dos municípios alagoanos

com o objeto real, ou seja, com as municipalidades propriamente ditas,

em outras palavras “o topônimo não é o lugar em si, mas uma de suas re-

presentações carregando em sua estrutura sêmica elementos da língua, da

cultura, da época de sua formação, enfim, do homem denominador”.

(CARVALHINHOS, 2009, p. 83)

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92 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

Logo, neste artigo, não buscamos refletir sobre o local nomeado,

mas a relação simbólica existente entre língua/mundo uma vez que os to-

pônimos são representações semânticas intencionais e podem revelar tra-

ços culturais da memória e da identidade de um povo mediante as parti-

cularidades cristalizadas em nomes de acidentes físicos e humanos. Nas

palavras de Dick (1990, p. 365), “identificar acidentes geográficos, signi-

ficando, é, sem dúvida, a primeira qualidade que se infere do signo topo-

nímico”. Dessa forma, os topônimos são veículos de cultura, marcam in-

fluências, usos e costumes, atitudes, tradições e falares.

2. O léxico toponímico: os antropotônimos e axiotopônimos

O léxico toponímico pode ser compreendido:

Como as unidades lexicais investidas da função de nome próprio de lugar

que podem reunir formas do vocabulário comum, alçadas à categoria de topô-nimos; nomes próprios de pessoas, de lugares, de crenças, de entidades sobre-

naturais que são ressemantizadas com o fim precípuo de nomear um lugar.

(ISQUERDO, 2012, p. 116)

Esse léxico não se consiste em um rol passivo de nomes de luga-

res, mas em um “indicador línguo-cultural, uma vez que o modo como a

língua retrata a visão de mundo de um povo evidencia a inter-relação que

se estabelece entre língua, meio ambiente e cultura” (MELO, 2013, p.

162). Com efeito, as alterações de ordem biossocial podem ter condicio-

nado e/ou influenciado o surgimento, a permanência e/ou a mudança de

topônimos em Alagoas.

Nesse sentido, o nomeador é um sujeito situado social e histori-

camente e os nomes referenciais de lugares remetem ao comportamento

do ser humano, em um determinado contexto sociocultural, às marcas

que permanecem firmadas nos locativos mesmo quando a motivação to-

ponímica, provenientes das práticas de nomeação, não mais existe. Eles

adquirem valores que transcendem o próprio ato de nomear lugares.

No caso da toponímia alagoana em decorrência do processo de

povoamento e colonização ao qual o estado foi submetido, há grandes

contrastes e diferenças diatópicas e diafrásticas, sua distribuição toponí-

mica deve-se em particular ao início da formação do estado de Alagoas,

compondo dessa forma uma rede de relações toponímicas em seu léxico.

Esse vínculo antroponímico em Alagoas é permeado por relações

de poder, de posse, de identidade de domínio territorial de determinados

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SEMÂNTICA E TERMINOLOGIA. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 93

grupos de prestígio socioeconômico alagoano, consubstanciado no signo

toponímico e no conteúdo simbolizado por ele a ser interpretado pela

comunidade.

Nessa acepção, o elo entre o linguístico e o cultural fica evidente

quando identificamos antropotopônimos e axiotopônimos, refletindo re-

lações associativas, por meio de motivações antropoculturais, entre de-

nominador e cidades alagoanas a serem denominadas com a finalidade de

homenagear personalidades em Alagoas, seguidas ou não de seus títulos,

representadas nestes nomes próprios individuais que são atribuídos aos

municípios.

Estes topônimos fazem parte de um vocabulário linguístico histó-

rico, neles podemos encontrar informações que se inter-relacionam com a

toponímia e a cultura, pois é por meio da língua que dados são fornecidos

para que se possa recuperar a realidade sócio-histórico-cultural de um

povo.

Ao tratar sobre o ato de nomear lugares, Ramos & Bastos (2010,

p. 91) afirmam:

É notório que a preferência em nomear os logradouros com nomes de po-líticos e pessoas abastadas, de famílias tradicionais, está claramente ligada à

detenção de poder, isto é, quem possui destaque na cidade é aquele que está de

acordo com os padrões do poder político, econômico e religioso e isso é trans-posto culturalmente.

Isso sugere que dados valores da vida cotidiana como os linguísti-

cos, os étnicos, os sociais, os culturais, entre outros, de um dado grupo se

imprimem nos topônimos e sua escolha para nomear um município ala-

goano perpassa pela convergência destes traços determinantes internos e

externos.

3. Análise e resultados

Doravante, serão apresentadas as análises dos topônimos aqui es-

tudados. O corpus lexical foi constituído por treze nomes próprios indi-

viduais identificadores de municípios alagoanos levantados a partir de

consulta bibliográfica junto ao banco de dados do IBGE (2010) pela in-

ternet, como também, pesquisa documental realizada em documentos

oficiais do governo brasileiro, no âmbito local e nacional, que tratavam

sobre os municípios do estado de Alagoas.

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94 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

Os antropotopônimos e axiotopônimos serão apresentados em fi-

chas lexicográfico-toponímicas adaptadas do modelo de Dick (1990).

Distribuídos conforme as mesorregiões nas quais designam municípios

alagoanos e analisados, quanto à forma, numa perspectiva sincrônica.

3.1. Mesorregião do Agreste Alagoano

Na mesorregião do Agreste Alagoano, registramos quatro antro-

potopônimos. A saber: (01) Paulo Jacinto, (02) Coité do Nóia, (03) Girau

do Ponciano e (04) Minador do Negrão na função onomástica de nomear

de municípios.

3.1.1. Paulo Jacinto

Localização: mesorregião do Agreste Alagoano; microrregião de Palmei-

ra dos Índios

Topônimo: Paulo Jacinto; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Composto de origem latina: paulus, -i ‘pouco, pequeno’ +

sm. hyacinticus, ‘pedra preciosa’.

Estrutura Morfológica: elemento específico composto: morfema lexical

paul- + morfema classificatório vogal temática –o +morfema lexical jancit- +

morfema classificatório vogal temática –o

Informações Enciclopédicas: Dois aglomerados humanos iniciais, esta-

belecidos na região, eram chamados pelas respectivas denominações de Lou-

renço de Cima e Lourenço de Baixo. O primeiro teve origem em uma capela erigida pelo proprietário, Antônio de Souza Barbosa, em homenagem à Nossa

Senhora da Conceição. Nem ele nem Lourenço Veiga, pioneiros que deram

grande impulso ao povoado, foram escolhidos para dar nome à cidade. Anos depois, já no regime republicano, a localidade passou a chamar Paulo Jacinto,

por sugestão da direção da Great Western, em homenagem a Paulo Jacinto

Tenório, rico fazendeiro de Quebrangulo que havia doado terras para a passa-gem da ferrovia.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

No campo toponomástico, observamos que, no caso (01), a moti-

vação de natureza antropocultural prevaleceu, ao longo dos anos, no ato

de nomear esse município. Primeiramente com os antropotopônimos de

Lourenço de Cima e Lourenço de Baixo e posteriormente substituído pe-

lo nome próprio individual atual Paulo Jacinto.

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SEMÂNTICA E TERMINOLOGIA. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 95

Nesta dinâmica toponímica, temos um caso de substituição siste-

mática por imposição do poder econômico, neste caso representado pela

direção da empresa Great Western como fator condicionante nesta mu-

dança, como forma de homenagear a figura de Paulo Jacinto Tenório, ri-

co fazendeiro de Quebrangulo que havia doado terras para a passagem da

ferrovia.

3.1.2. Coité do Nóia

Localização: mesorregião do Agreste Alagoano; microrregião de Arapi-

raca

Topônimo: Coité do Nóia; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Composto de origem indígena tupi: kuieté ‘cuia feita de coco

cortado ao meio’ + prep. lat. de + noia (não identificado)

Estrutura Morfológica: elemento composto híbrido: morfema lexical

Coite (nome atemático) + forma dependente de + o = do + morfema lexical

noi- + morfema classificatório vogal temática –a

Informações Enciclopédicas: Os pioneiros do lugar pertenciam à família

Nóia e lá havia pequenas árvores que dão fruto, o coité, o qual, aberto ao

meio, é usado como cuia para beber água, medir farinha ou outros cereais. O povo colhia os frutos na propriedade dos Nóia, popularizando assim a locali-

dade com tal denominação. A família Nóia, pioneira daquela região, era pro-

prietária das primeiras quatro casas que lá existiam, pelos idos de 1880, con-forme depoimento do mais antigo morador da cidade. Manoel Jô da Costa,

oriundo de Limoeiro de Anadia, fixou-se naquela área pouco tempo depois,

dedicando-se à agricultura e à atividade pastoril. Um intercâmbio maior entre o povoado e as cidades vizinhas, proporcionado pela abertura de novas estra-

das, contribuiu decisivamente para que Coité do Nóia passasse a ocupar lugar

de destaque na região. Tal fato determinou a sua elevação à categoria de mu-nicípio autônomo, através da Lei nº 2.616, datada de 21 de agosto de 1963.

Desmembrado de Limoeiro de Anadia, teve sua instalação oficial em 24 de se-

tembro de 1963.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

3.1.3. Girau do Ponciano

Localização: mesorregião do Agreste Alagoano; microrregião de Arapi-raca

Topônimo: Girau do Ponciano; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: composto greco-latino de origem lat.: gyrus derivado de giro ‘significa tipo de armadilha para caça de animais’ + prep. lat. de do greg. pon-

cio.

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96 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

Estrutura Morfológica: elemento composto híbrido: morfema lexical gi-

rau (nome atemático) + forma dependente de + o = do + morfema lexical por-ci- + morfema derivacional –ano

Informações Enciclopédicas: Um dos primeiros proprietários do lugar

chamava-se Ponciano. Ele para facilitar sua atividade de caçador construiu um jirau, pequena armação de madeira onde ficavam os animais abatidos. Daí o

antropotopônimo Girau do Ponciano. Sendo assim, o designativo do povoa-

mento se deve a um caçador de nome Ponciano que, junto com dois compa-nheiros, instalou um jirau para suas caçadas, aproveitando a caça abundante na

região. Logo se fundou a primeira propriedade. Foi rápido o progresso de Belo

Horizonte, primeiro nome do lugarejo. Pelo decreto-lei estadual nº 2909, de 30 de dezembro de 1943, o distrito de Belo Horizonte passou a denominar-se

Ponciano. Elevado à categoria de município com a denominação Girau do

Ponciano pela lei estadual nº 2101, de 15 de julho de 1958, desmembrado de Traipu

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

3.1.4. Minador do Negrão

Localização: mesorregião do Agreste Alagoano; microrregião de Palmei-

ra dos Índios

Topônimo: Minador do Negrão; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: do francês mine, ‘fonte, manancial de riqueza’ + prep. lat. de

+ adj. lat. niger, nigra, nigrum, ‘preto’.

Estrutura Morfológica: elemento composto híbrido: morfema lexical min- + morfema classificatório vogal temática –a + morfema derivacional –

dor + forma dependente de + o = do + morfema lexical negr- + morfema de-

rivacional –ão

Informações Enciclopédicas: o nome Minador do Negrão teve origem

no fato de existir na propriedade de Félix Negrão, considerado o fundador da

cidade, uma fonte de água cristalina de ótima qualidade e grande potencial. O município deve sua criação e povoamento a uma fazenda de gado que fora ins-

talada em 1936 por Félix de Souza Negrão. É bem verdade que antes dessa

época, já deveriam existir moradores em regiões próximas. Em 1940 foi criada uma feira livre, onde pessoas e comerciantes de outras regiões vinham para

comprar e negociar. Em 1950 foi elevada à condição de vila, já que o progres-so da povoação que ali se formava era uma constante. Sempre pertenceu a

Palmeira dos Índios, de onde foi emancipado. Tornou-se município através da

Lei nº 2470 de 27 de agosto de 1962, ocorrendo sua instalação oficial a 9 de setembro do mesmo ano, com o território formado por apenas um distrito, o da

sede, situação que ainda hoje perdura.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

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SEMÂNTICA E TERMINOLOGIA. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 97

Nos casos (02), (03) e (04), temos antropotopônimos formados

por estruturas mórficas compostas de maneira mediata diferentemente do

caso (01), ou seja, composição com auxílio de conectivo. Nesses sintag-

mas toponímicos, o segundo elemento exerce uma função restritiva.

Eles são constituídos por sobrenomes de família, homenageando

donos de terras que tinham ligação com o local a ser nomeado, valori-

zando um sentimento de pertença dessas famílias em relação ao lugar.

Acreditamos que esses antropotopônimos refletem a forma encon-

trada pelos denominadores para distinguir famílias tradicionais da região.

Sendo assim, consiste em uma prática que está claramente ligada à de-

tenção de poder econômico, na qual nomeador deseja reverenciar alguém

representativo do poder econômico em uma destas localidades ao longo

do tempo, sendo o nome o meio utilizado para perpetuar tal ato.

3.2. Mesorregião do Leste Alagoano

Na mesorregião do Leste Alagoano, registramos cinco antropoto-

pônimos e 1 (um) axiotopônimo. A saber: (05) Marechal Deodoro, (06)

Colônia Leopoldina, (07) Joaquim Gomes, (08) Teotônio Vilela e (09)

Atalaia, na função onomástica de nomear de municípios.

3.2.1. Marechal Deodoro

Localização: mesorregião do Leste Alagoano; microrregião de Maceió

Topônimo: Marechal Deodoro, Taxionomia: Axiotopônimo

Etimologia: do francês. maréchal, ‘posto superior no exército’ + do lat.

Deo, ‘Deus’.

Estrutura Morfológica: elemento específico híbrido: morfema lexical marechal (nome atemático) + morfema lexical deodor- + morfema classifica-

tório vogal temática –o

Informações Enciclopédicas: A cidade de Marechal Deodoro é um dos sítios históricos mais importantes de Alagoas. Em 1591, já estava consolidado

o seu núcleo urbano inicial, conquistado dos Caetés. Foi a primeira capital de

Estado. O nome da cidade é uma homenagem ao proclamador da República

brasileira Marechal Deodoro da Fonseca. Após a instalação do novo regime,

em 15 de novembro de 1889, a velha Alagoas passou a ter a atual denomina-ção. Antes era conhecida como Vila da Santa Maria Madalena da Lagoa do

Sul, ou simplesmente, Madalena. O município foi criado em 1636, em 1817

passou a capital da capitania de Alagoas, criada nesse ano, sendo o nome da vila alterado para Alagoas. Em 1823 foi elevada a cidade. A capital da provín-

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98 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

cia de Alagoas passou para Maceió em 1839. O nome da cidade foi alterado

para o atual antropotopônimo no ano de 1939. Em 16 de setembro de 2006, dia da emancipação política de Alagoas, foi considerada pelo Ministério da

Cultura como Patrimônio Histórico Nacional.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (05), temos um axiotopônimo designando um municí-

pio da microrregião de Maceió. Esse designativo municipal revela a ma-

terialização de um discurso de nacionalidade, sócio-historicamente cons-

titutivo, no qual sua escolha está intrinsicamente ligada ao proclamador

da República brasileira Marechal Deodoro da Fonseca um militar de alta

patente alagoano e afinado em função de interesses de uma dada classe

social.

3.2.2. Colônia Leopoldina

Localização: mesorregião do Leste Alagoano; microrregião de Mata Ala-goana

Topônimo: Colônia Leopoldina. Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: composto latino de colonia, -ae ‘grupo de migrante, posses-são, domínio’. + leopodina,-ae.

Estrutura Morfológica: elemento específico composto: morfema lexical

coloni- + morfema classificatório vogal temática –a + morfema lexical leo-poldina

Informações Enciclopédicas: Nasceu com a criação, pelo Governo Im-

perial, de uma colônia militar, em 20 de fevereiro de 1852, para combater os remanescentes dos revoltosos cabanos e papa-méis, instalados na densa mata

do território que ia de Maragogi a Porto Calvo. A derrota dos rebeldes termi-

nou com o posto militar avançado, em 1867, mas o povoado que se havia for-mado em torno dele, consolidou-se. O Imperador D. Pedro II visitou o lugar

em 1860. Em vista disso, a antiga colônia homenageou a Imperatriz Dona Le-

opoldina, mãe do monarca. A Lei 372, de 1861, criou o distrito de Leopoldina e uma outra lei, em 1901, elevou-o à vila e depois município. Isso contribuiu

para que a antiga colônia voltasse a progredir. Em 1923, passou à condição de

cidade.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (06), temos um dos raros casos de registro de antropo-

topônimo feminino: Colônia Leopoldina no léxico toponímico municipal

do estado de Alagoas em homenagem à Imperatriz Dona Leopoldina,

mãe de D. Pedro II.

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XVIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA

SEMÂNTICA E TERMINOLOGIA. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 99

É relevante destacarmos que, quanto à categoria de gênero, os an-

tropotopônimos masculinos são bem mais produtivos lexicalmente do

que os nomes individuais femininos. Atestando a presença de um discur-

so de natureza ideológica machista materializado no léxico da língua.

Atribuímos essa fecundidade linguística ao fato de as mulheres,

historicamente, não exerciam atividades de destaque na sociedade, uma

vez que durante séculos a sociedade brasileira seguiu um sistema patriar-

cal.

3.2.3. Joaquim Gomes

Localização: mesorregião do Leste Alagoano; microrregião de Mata Ala-goana

Topônimo: Joaquim Gomes; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Composto de origem hebraico: Yhoyaquim ‘o que Deus ele-vou’, + Gomos orius ‘o homem de guerra’.

Estrutura Morfológica: elemento específico composto: morfema lexical

joaquim (nome atemático) + morfema lexical gomes

Informações Enciclopédicas: Anteriormente, era uma pequena aldeia

Urupê, chamada pelos índios de Urucum, que é o fruto do urucuzeiro uma

substância que se extrai da polpa desse arbusto e é empregada na fabricação do colorau. O município de Joaquim Gomes tem suas origens históricas ao

engenho São Salvador, de propriedade de José Correia de Araújo Barros. Em

1900, Araújo Barros faleceu. Por razões de problemas financeiros que envol-veram os seus negócios a sua propriedade ficou alienada a seu genro, Joaquim

Gomes da Silva Rego, que tinha a patente de major da Guarda Nacional, re-

solveu tomar a frente dos negócios da família e adquiriu do banco credor a

propriedade então alienada. Graças ao espírito empreendedor de Joaquim Go-

mes, o local alcançou notável prosperidade. A Pequena vila que se formou vi-

veu uma fase de grande desenvolvimento tal fato ensejou o surgimento de movimentos para conseguir sua emancipação política.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (07), temos um antropotopônimo designando um mu-

nicípio da microrregião de Mata Alagoana, localizada na mesorregião do

Leste Alagoano. Sua motivação está ligada à figura Joaquim Gomes da

Silva Rego um militar de patente de major da Guarda Nacional.

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100 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

3.2.4. Teotônio Vilela

Localização: mesorregião do Leste Alagoano; microrregião de São Mi-

guel dos Campos

Topônimo: Teotônio Vilela; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Composto de origem latina: teotonius, -i + uilela, -ae

Estrutura Morfológica: elemento específico composto: morfemas lexi-cais teotonio + vilela

Informações Enciclopédicas: Antiga Feira Nova, o povoado começou a ser formado na década de 50 do século XX em função de uma ponte construí-

da sobre o Rio Coruripe, nas imediações do Engenho São Mateus, propriedade

do senhor Samuel Pereira Sampaio. À época, fazia parte do município de Jun-queiro. No início da década de 70, o empresário Teotônio Vilela comprou par-

te da propriedade. A partir daí, a povoação cresceu e passou a atrair novos mo-

radores. Em suas terras se localiza a Usina Seresta, empresa de propriedade da família Vilela. Quando do falecimento de Teotônio Vilela, seu nome foi dado

ao município, uma homenagem à sua condição de destacado porta-voz das as-

pirações nacionais pela democracia na campanha pelo retorno das eleições di-retas no Brasil, fato que apressou o fim do regime militar instaurado em 1964.

Teotônio Vilela recebeu o epíteto de “Menestrel das Alagoas”. Em 1982, a vi-

la elegeu três vereadores, que começaram de imediato o movimento pela auto-nomia. Através de plebiscito, Feira Nova decidiu pela emancipação política,

com o nome alterado para Teotônio Vilela. O município foi criado em 1986.

Somente em novembro de 1988.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Nos casos (07) e (08), temos antropotopônimos formados por jus-

taposição, nos quais o segundo elemento linguístico se une ao primeiro

de forma imediata, ou seja, sem o auxílio da preposição.

Esses antropotopônimos mostram o elo do poder político-

econômico presente no ato de nomear municípios em Alagoas, no caso

(7) sua escolha homenageia Joaquim Gomes que era empresário e tinha a

patente de major da Guarda Nacional, fazendo parte de uma classe social

de destaque. Já no caso (8), homenageia o empresário-usineiro e político

Teotônio Vilela, figura de destaque nas aspirações nacionais pela demo-

cracia na campanha pelo retorno das eleições diretas no Brasil.

Essas marcas político-econômicas impressas nestes topônimos

atribuídos a municípios em Alagoas geram informações que são impres-

cindíveis à compreensão da realidade sociocultural alagoana.

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3.2.5. Atalaia

Localização: mesorregião do Leste Alagoano; microrregião de Mata Ala-

goana

Topônimo: Atalaia; Taxionomia: Antropotônimo

Etimologia: Do árabe at-talla’a(t) ‘lugar alto’

Estrutura Morfológica: elemento específico simples: morfema lexical

atalaia

Informações Enciclopédicas: Tendo tido como primeiro nome Arraial

dos Palmares. Em 1764, o atual topônimo do município foi dado por D. José I,

em homenagem, provavelmente ao Visconde de Atalaia, fidalgo português muito amigo de D. José I. A ocupação das terras onde hoje situa-se o municí-

pio iniciou-se por volta de 1692 por Domingos Jorge Velho, bandeirante pau-

lista contratado pelo então Governador da Província de Pernambuco Fernão de Souza Carrilho para destruir o Quilombo dos Palmares. Apesar do crescimen-

to da povoação, o Arraial dos Palmares não era reconhecido pelas autoridades.

Somente em 12 de março de 1701, o Governador da Província de Pernambuco recebe Carta Régia determinando a criação oficial do arraial, porém com o

nome de Arraial de Nossa Senhora das Brotas. No entanto, este nome não caiu

no gosto dos habitantes, permanecendo os habitantes utilizando a denomina-ção Arraial dos Palmares. Somente em 1716, os filhos e a esposa de Domin-

gos Jorge Velho recebem o decreto que doa a sesmaria onde hoje localiza-se

Atalaia, como recompensa pela destruição dos Palmares. D. José I atendendo em parte às reivindicações da população, elevou o Arraial dos Palmares à ca-

tegoria de vila, porém, com o nome de Vila de Atalaia, em homenagem ao

Conde de Atalaia, seu amigo particular. Este decreto data de 1 de fevereiro de 1764, considerada a data de sua fundação.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (09), temos o único antropotopônimo formado por es-

trutura mórfica simples, isto é, apenas um morfema lexical em sua cons-

tituição formal registrado no recorte do léxico toponímico municipal ala-

goano aqui analisado.

Esse nome próprio foi dado em homenagem ao Visconde de Ata-

laia, fidalgo português muito amigo de D. José I. Revelando assim, um

modelo de sociedade do capital. Na qual o denominador, por meio da

língua, procura impor através da atividade linguística uma demarcação

expressiva de prestígio socioeconômico em Alagoas, consubstanciado no

signo toponímico.

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102 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

3.3. Mesorregião do Sertão Alagoano

Na mesorregião do Sertão Alagoano, registramos quatro antropo-

topônimos. A saber: (10) Delmiro Gouveia; (11) Olho D’água do Casa-

do, (12) Monteirópolis e (13) Major Isidoro na função onomástica de

nomear de municípios.

3.3.1. Delmiro Gouveia

Localização: mesorregião do Sertão Alagoano; microrregião Alagoana do Sertão do São Francisco

Topônimo: Delmiro Gouveia; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: composto de origem latina.

Estrutura Morfológica: elemento específico composto: morfemas lexi-

cais delmiro + gouveia.

Informações Enciclopédicas: O nome do município é uma homenagem à figura do empreendedor Delmiro Gouveia, que no início do século XX des-

bravou o território inóspito, trazendo o progresso para a região com suas ativi-

dades comerciais e industriais e a instalação de uma vila operária. Foi o res-ponsável, também, pela implantação no local da primeira hidrelétrica da Amé-

rica do Sul. Antes do anropotopônimo Delmiro Gouveia, o lugar chamava-se

Pedra, devido à grande quantidade desse mineral no solo da região. O povoa-do se constituiu a partir de uma estação da estrada de ferro da então Great-

Western. As terras do atual município de Delmiro Gouveia, somadas às de

Mata Grande, Piranhas e Água Branca, faziam parte das sesmarias que foram levadas a leilão, em Recife, no ano de 1769. Em 1º de novembro de 1938, o

decreto-lei 846 criou o distrito com o nome Pedra. Foi denominado de Delmi-

ro Gouveia posteriormente, em consequência do Decreto nº 2.909, de 30 de

dezembro de 1943. Desmembrado de Pão de Açúcar, conseguiu sua emanci-

pação política quando foi criado o município pela Lei 1.623, de 16 de junho

de 1952, tendo sido instalado apenas em 14 de fevereiro de 1954.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (10), temos o antropotopônimo Delmiro Gouveia, de-

signando um município da microrregião Alagoana do Sertão do São

Francisco.

Essa unidade lexical se reveste de função onomástica e passa de

signo linguístico a toponímico, designando um acidente humano. Em ou-

tras palavras, passa do significado lexical para o significado onomástico

marcado pelas relações sócio-políticas e ideológicas da região. Estabele-

cendo uma relação simbólica entre produtividade econômica e uma per-

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sonalidade socioeconomicamente de destaque em Alagoas como fator

condicionante à motivação toponímica.

3.3.2. Olho d’Água do Casado

Localização: mesorregião do Sertão Alagoano; microrregião da Alagoana

do Sertão do São Francisco

Topônimo: Olho D’água do Casado; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: composto de origem latina: oculus, -i ‘olho’+ prep. de +

aqua, -ae ‘água’ + prep. de + casa, -ae ‘morada’.

Estrutura Morfológica: elemento específico composto: morfema lexical

olh- + morfema classificatório vogal temática –o + forma dependente d’ (for-

ma apocopada) + morfema lexical aqu- + morfema classificatório vogal temá-tica –a + forma dependente de + o = do +morfema lexical cas- + morfema de-

rivacional -ado

Informações Enciclopédicas: Em 1877, por ocasião da construção do

ramal ferroviário da Great Western, os trabalhadores montaram o acampamen-

to próximo ao lugar onde havia nascentes e onde buscavam água. Como aque-las terras pertenciam à propriedade do Sr. Francisco Casado de Melo, deram-

lhe o nome de Olho d`Água do Casado. Até 1870, só existia na região a fa-

zenda do referido agricultor. Com o progresso veio o movimento pela eman-cipação. Em 1962, Olho D'água do Casado se tornou município, através da Lei

2.459, desmembrado de Piranhas. Sede no atual distrito de Olho D'Água do

Casado ex-Olhos da Água Casado. Constituído do distrito sede. Em divisão territorial datada de 31-XII-1963, o município é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007. Ratificação da

Grafia Olhos D'Água do Casado para Olho D'Água do Casado alterado, pela lei estadual nº 2962, de 22-08-1962

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (11), temos mais uma forma parental nomeando muni-

cípio alagoano, homenageando uma personalidade local de destaque

Francisco Casado de Melo por meio do seu sobrenome de família. Re-

presentando, por meio do topônimo, um discurso de pertença materiali-

zado no antropotopônimo em relação ao lugar nomeado.

3.3.3. Monteirópolis

Localização: mesorregião do Sertão Alagoano; microrregião de Batalha

Topônimo: Monteirópolis; Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Composto de origem greco-latino, do lat. mons ‘monte’ + do gr. πόλις, pólis ‘cidade’

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Estrutura Morfológica: elemento específico híbrido: morfema lexical

mont- + morfema derivacional –eiro + morfema lexical polis

Informações Enciclopédicas: Antes de denominar-se Monteirópolis, o

local era conhecido como Guaribas, palavra de origem tupi que serve para de-

signar certo gênero de macaco da América ou uma espécie de periquito. Mon-teirópolis foi um nome escolhido para homenagear um de seus grandes benfei-

tores e fundador. Por volta de 1870, os únicos moradores da região eram José

Domingos Monteiro, Antônio Prudente, Pacífico de Albuquerque, Manoel Mingote e Manoel Antônio Barbosa. São eles considerados os primeiros habi-

tantes e, consequentemente, os fundadores. O desenvolvimento de Monteiró-

polis somente alcançou fase áurea após 1902 com a chegada de novos habitan-tes. Foi devido o progresso pelo qual estava atravessando a povoação que os

homens responsáveis pela comunidade iniciaram a luta pela sua emancipação

política. A Lei nº 2.250, de 15 de junho de 1960, concedeu autonomia admi-nistrativa a Guaribas, mudando-lhe o nome para Monteirópolis, com o territó-

rio desmembrado de Pão de Açúcar. A instalação oficial do município ocorreu

em 13 de agosto do mesmo ano.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (12), temos um antropotopônimo nomeando um muni-

cípio na microrregião de Batalha, homenageando um de seus fundadores

José Domingos Monteiro. Mais uma vez ocorre a materialização de um

discurso de pertença refletida no signo toponímico por meio de relação

associativa feita pelo denominador, estabelecendo assim um vínculo de

identidade entre o termo escolhido e o lugar nomeado.

3.3.4. Major Isidoro

Localização: mesorregião do Sertão Alagoano; microrregião de Batalha

Topônimo: Major Isidoro; Taxionomia: Axiotopônimo

Etimologia: Composto latino: major, -oris ‘comparativo regular de gran-

de; ‘militar entre capitão e tenente-coronel’ + izare ‘com sentido fictitivo’.

Estrutura Morfológica: elemento específico composto: morfemas lexi-

cais major (nome atemático) + Isidoro

Informações Enciclopédicas: Antigo distrito de Sertãozinho, o municí-

pio recebeu o seu atual nome em homenagem ao Major Isidoro Jerônimo da

Rocha, fundador do povoado. A colonização começou quando Antônio Jerô-nimo da Rocha comprou uma propriedade na região e se instalou com a sua

família. Dos filhos, apenas Isidoro manteve os negócios do pai, que era co-

nhecido como patriarca de Sertãozinho nome de uma de suas fazendas. Isidoro lutou insistentemente pela emancipação. Em 1920, conseguiu que o Poder Le-

gislativo, através da Lei nº 946, autorizasse o governo a elevar Sertãozinho a

município. O governador não aceitou e manteve a área como distrito. Só em 1949 foi concebida a emancipação, desmembrando Sertãozinho dos municí-

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SEMÂNTICA E TERMINOLOGIA. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 105

pios de Batalha, Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios. Nessa época, Isi-doro já estava morto, mas os moradores decidiram fazer-lhe a homenagem,

dando seu nome à cidade.

Fonte: http://www.wikialagoas.al.org.br

Neste caso (13), temos um axiotopônimo designando um municí-

pio da microrregião de Batalha. Esse designativo revela, mais uma vez, a

materialização de um discurso de pertença, oriundo de relações associati-

vas entre denominador e localidade a ser denominada, no qual sua esco-

lha está intrinsicamente ligada em homenagem ao major Isidoro Jerôni-

mo da Rocha, fundador do povoado.

4. Considerações finais

Iniciamos estas considerações finais, enfatizando que é impossível

abstrairmos a análise antroponímica das relações de poder. Dessa forma,

o presente artigo revela o quanto os nomes próprios de lugares, enquanto

objeto simbólico, produzem efeitos de sentidos e são investidos de signi-

ficância para os sujeitos e pelos sujeitos.

Com efeito, este recorte lexical compreendido, então, como um

cenário línguo-cultural, evidencia a inter-relação que se estabelece entre

léxico toponímico e marcas socioculturais impressas nos topônimos.

Nesse sentido, os antropotopônimos e axiotopônimos municipais

alagoanos não são usados apenas com a função identificadora, mas so-

bretudo como elemento pragmático de organização social e espacial de

demarcação de grupos dominantes e, geralmente dirigentes, de uma dada

estrutura dominante de poder do Estado na tentativa de cristalização se-

mântica de um poder local através da atividade linguística materializado

no léxico por meio do signo toponímico.

Nos casos dos antropotopônimos, pela homenagem a personalida-

des detentores do poder político-econômico secular em Alagoas forma-

doras do pensamento político e cultural, geralmente integrantes da classe

dominante, e no caso dos axiotopônimos, pela escolha de nomes próprios

individuais de personalidades de relevo dessa mesma classe social, repre-

sentantes da hegemonia burguesa, seguida de seus respectivos títulos de

patente militar.

Estas representações semânticas intencionais estão ligadas às da-

das motivações e revelam traços socioculturais da memória e da identi-

dade do povo alagoano mediante as particularidades consubstanciadas no

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106 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 02 – LEXICOGRAFIA, LEXICOLOGIA,

signo toponímico e no conteúdo simbolizado por ele a ser interpretado

pela comunidade.

Nestes antropotopônimos e axiotopônimos, o discurso de naciona-

lidade, juntamente, com o discurso do memorável e de pertença, no sen-

tido de demarcação expressiva de poder, de posse, de identidade de do-

mínio territorial estão bastante marcantes, refletindo traços da economia

e da política local.

Outra questão interessante a ser observada nesta microtoponímia

diz respeito à categoria de gênero. Nesse sentido, os dados aqui analisa-

dos mostraram a valorização de nomes individuais masculinos em detri-

mento aos femininos, expressando o pensamento vigente na sociedade,

que normalmente ainda atribui à figura feminina um papel secundário em

muitas instâncias da vida social, profissional e familiar.

Registramos, apenas, 1 (um) antropotopônimo feminino no léxico

toponímico estudado: Colônia Leopoldina, atestando que as mulheres,

geralmente, não são homenageadas com nome de municípios em Alago-

as.

Finalizamos, destacando que está reflexão se torna importante à

medida que poderá fornecer subsídios a futuras pesquisas sobre o léxico

toponímico alagoano e, consequentemente à toponímia brasileira, tor-

nando-se um instrumento precioso para a reconstituição da memória to-

ponímica de Alagoas, viabilizando a compreensão da representação do

mundo biossocial na língua. Pois, as transformações da sociedade se re-

fletem nitidamente no seu acervo lexical, atestando que o mundo exterior

está presente no linguístico, também, através do signo toponímico.

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