círculo de bananeiras

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Círculo de bananeiras 14/10/2006Artigos, Galeria de fotoságua cinza, biorremediação, círculo de bananeiras,padrões naturais, tratamento de águaIta O círculo de bananeira é usado para tratar as águas usadas da casa (pias, tanques e chuveiros), as chamadas águas cinzas. Ele também beneficia a produção de bananas em escala humana. Essa técnica originou-se da observação dos efeitos dos fortes ventos sobre a cultura dos cocos. Numa clareira os coqueiros caídos davam origem a círculos de coqueiros que nasciam, se desenvolviam e produziam melhor do que quando sós. O padrão natural observado foi que no centro do círculo se depositavam folhas, ramos, frutos, etc, que retinham a umidade e concentravam nutrientes, beneficiando a cultura dos coqueiros. Dessa observação, passou-se em seguida às experiências com outras culturas, como a da banana. No caso das bananeiras percebeu-se que elas, como outras plantas de folhas largas como o mamoeiro, evaporavam grandes quantidades de água e estabeleceu-se assim uma relação com as águas cinzas das residências. Essa ligação é feita entre a necessidade de se tratar a águas que saem das pias e chuveiros das residências com a grande capacidade de evaporar (tratar) dos círculos de bananeiras. E isso é uma das bases do design na permacultura, estabelecer relações positivas, sinérgicas entre os elementos de um sistema vivo.

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Círculo de bananeiras 14/10/2006Artigos, Galeria de fotoságua cinza, biorremediação, círculo de bananeiras,padrões

naturais, tratamento de águaIta

O círculo de bananeira é

usado para tratar as águas usadas da casa (pias, tanques e chuveiros), as

chamadas águas cinzas. Ele também beneficia a produção de bananas em

escala humana.

Essa técnica originou-se da observação dos efeitos dos fortes ventos sobre a

cultura dos cocos. Numa clareira os coqueiros caídos davam origem a círculos

de coqueiros que nasciam, se desenvolviam e produziam melhor do que

quando sós. O padrão natural observado foi que no centro do círculo se

depositavam folhas, ramos, frutos, etc, que retinham a umidade e

concentravam nutrientes, beneficiando a cultura dos coqueiros. Dessa

observação, passou-se em seguida às experiências com outras culturas, como

a da banana.

No caso das bananeiras percebeu-se que elas, como outras plantas de folhas

largas como o mamoeiro, evaporavam grandes quantidades de água e

estabeleceu-se assim uma relação com as águas cinzas das residências. Essa

ligação é feita entre a necessidade de se tratar a águas que saem das pias e

chuveiros das residências com a grande capacidade de evaporar (tratar) dos

círculos de bananeiras. E isso é uma das bases do design na permacultura,

estabelecer relações positivas, sinérgicas entre os elementos de um sistema

vivo.

Como construir?

O trabalho começa com a construção

de um buraco, em forma de concha, com 1 m cúbico de volume. Lembre-se

que a terra retirada do buraco é colocada na borda aumentando a altura do

buraco.

Os sistemas vivos não seguem projetos no papel. Então mais importante do

que seguir as dimensões apresentadas aqui, é procurar observar no local, o

solo, a insolação, incidência de geadas, etc. para dedinir melhor como será o

círculo de bananeiras de sua residência.

Se o solo for muito arenoso deve-se adicionar uma camada de argila para

retardar a infiltração e possibilitar que a microvida faça seu trabalho de quebrar

as moléculas dos nutrientes e outros compostos que vem com a água.

O buraco, depois de pronto, deve ser

enchido com madeira e palha para criar um ambiente adequado para o

recebimento da água cinza e para beneficiar a micro vida. Isso é feito primeiro

colocando pequenos troncos de madeira grossos no fundo. Em seguida galhos

médios e finos de árvores e por último a palha (aparas de capim, folhas, etc.)

formando um monte com quase 1 metro de altura acima da borda do buraco. A

madeira deve ser colocada de forma desarrumada, para que que se crie

espaços para a água. A palha em cima serve para impedir a entrada da luz e

da água da chuva, que escorrerá para os lados não inundando o buraco e não

se contaminando com a água cinza.

A água cinza deve ser conduzida por um tubo até o buraco e com um joelho na

ponta para evitar o entupimento. Não usar valas abertas para a condução da

água, assim mosquitos e outros animais indesejados não terão como se

desenvolver. E os microrganismos da compostagem terão um ambiente

perfeito para fazer o seu trabalho.

Caixa de gorduras

As gorduras dificultam os processos biológicos e podem diminuir o ciclo de vida

de um CdB. Nas residências urbanas o uso de caixa de gorduras pode ser uma

boa ação preventiva. Já nas residências rurais não há necessidade por duas

razões:

1. Hábitos alimentares diferentes. Mas que podem ser adotados nas

residências urbanas para dispensar o uso da caixa de gordura. Basta cuidar

dos dejetos gordurosos na pia, dispondo de uma lixeirinha em cima da pia e

guardando os óleos de fritura em recipientes adequados para depois

encaminhar à reciclagem.

2. Nas áreas rurais há mais espaço e em caso de problema o fluxo de água

pode ser desviado para um segundo CdB enquanto o primeiro se recupera.

Outra ação que pode ser feita é a limpeza descrita no manejo mais abaixo.

Plantio

As bananeiras podem ser plantadas de diversas maneiras. Mas eu prefiro usar

o rizoma inteiro ou uma cunha (parte de um rizoma) com uma gema visível.

Após fazer as covas (no mínimo 30x30x30 cm) deve-se enche-las com

bastante matéria orgânica (palhas, folhas, etc.) misturada com terra. Antes de

preencher totalmente o buraco, na hora de colocar o rizoma, posicione para

que a gema fique para o lado de fora do círculo e inclinado de forma que a

bananeira nasça caída para fora. Essa inclinação da bananeira é mais fácil de

ser conseguida quando plantada a partir de rebentos. Isso facilitará a colheita e

o manejo das bananeiras. O rizoma deve ficar há uns 10 cm, em média, abaixo

do nível do solo.

Ao redor do círculo, também é indicado o plantio de mais plantas de folha larga

como a taioba, mamoeiro, caetés e entre elas batata doce ou outra plantas

rasteiras para cobrir todo o espaço. Em pouco tempo o círculo irá se

transformar em um nicho de fertilidade que vai se espalhar pelo entorno.

Cuidados

A água cinza NÃO deve conter água preta dos sanitários. Estas deveriam ir

para outros sistemas apropriados para o seu tratamento.

E nas pias e chuveiros deve-se evitar o uso de detergentes químicos e outras

substâncias tóxicas como cloro, etc., pois estas substâncias matam os

microrganismos e impedem a compostagem dos nutrientes contidos na água

cinza com a madeira.

Mais informações sobre a separação das águas servidas podem ser

encontradas em“sistematização da água”.

Dimensionamento

Esse tamanho padrão de 1 m3 para CDB é suficiente para uma família de 3 a 5

pessoas, mas se o volume de água cinza produzido na casa for maior do que a

capacidade de recebimento do círculo, a solução é construir um segundo

círculo interligado ao primeiro. Não se deve fazer bacias maiores que o padrão.

A água cinza entra pela parte mais alta do primeiro círculo e sai no nível

máximo por meio de outro tubo e segue para o segundo círculo. Conforme a

situação pode-se ter uma bateria de círculos inteligados. Isso é facilitado se o

terreno for inclinado.

Manejo

Sempre colocar aparas de poda (grama, capim, galhos) no centro para

alimentar o círculo e evitar que o buraco seja inundado com a água da chuva.

Após colher o cacho de bananas, deve-se cortar a bananeira bem na base e

em pedaços de 1 metro, rachar ao meio (longitudinal) e também colocar no

centro do círculo. A cada 3 anos (ou mais) todo o material depositado no

buraco pode ser retirado (quando os troncos se dissolverem) e usar como

adubo orgânico na horta. E repor novo material como no início da implantação

do círculo.

Aqui na região sul do Brasil há diversos círculos de bananeiras funcionando

perfeitamente há mais de 3 anos. Assim que possível publicarei mais fotos

dessas experiências.

Círculo de bananeiras lá de casa

Outras referências:

Sistematização da água 22/03/2006Artigoságua, água cinza, design, mapa mental, sistematizaçãoIta

O que caracteriza de forma marcante a ação de um permacultor? Ao fazer o

design de um assentamento humano, seja ele uma vila, um sítio ou uma casa

na cidade, quais seriam as prioridades? Começar por onde?

Para responder a esta questão vou usar como inspiração uma frase do

amigo Jorge Timmermann:

O principal trabalho de um permacultor é sistematizar a água e alimentar o solo.

Porque será que ele fala isso? Dá muito o que pensar, né? Então vamos

explorar bem esse tema e para isso, vamos separá-lo em dois artigos. Neste

artigo, falarei sobre a “sistematização da água” e num próximo falarei sobre

“alimentar o solo”. Mas nesse artigo vamos procurar também identificar as

conexões entre a água e o solo.

A linguagem

Procurando usar uma linguagem mais retratadora do que descritiva, vamos

utilizar um mapa mental que procura abranger as principais oportunidades de

sistematização da água em todas as zonas de um assentamento humano.

Abordagem sistêmica

Para compreender a sistematização da água é necessário mais que esforço

intelectual. É, antes de tudo, um exercício de profunda conexão com a

natureza. É, principalmente, perceber o ambiente em que vivemos como um

lugar por onde a água passa, sendo aproveitada da melhor forma possível

para, em seguida, tomar seu curso natural, igual ou melhor do que chegou.

Por que sistematizar a água?

Porque há menos de 3% de água doce no planeta e apenas 24% disso está

“disponível” para o consumo e esta pequena parcela (0,72%) passa por

constantes perigos e ameaças. Mas, antes de tudo, sistematizamos a água

porque temos uma ética – cuidar do planeta, cuidar das pessoas e partilhar os

excedentes.

Além do mais, o nosso design só será válido se estiver de acordo com o

seguinte princípio: “funções importantes devem ser supridas por pelo menos

três elementos”. Precisamos de pelo menos três fontes de água num

assentamento humano para que ele seja realmente sustentável. Afinal,

podemos sobreviver algumas semanas sem comida, mas quanto tempo

sobreviveríamos sem água?

Por onde começar?

Na metodologia de design da permacultura um dos métodos para analizar e

compor a paisagem é chamado de “Planejamento por Zonas”. Neste método a

área a ser planejada é dividida em ZONAS, segundo o grau de consumo de

energia humana. A zona que mais consome energia, trabalho, é a zona I,

depois a zona II, e assim por diante, até a zona V.

É como uma pedra caindo num lago. Que imagem lhe vem à mente? Uma série

de anéis concêntricos que vão diminuindo de intensidade, certo? Assim é o

consumo de energia humana no espaço. A Zona I, num assentamento humano,

é exatamente o ponto de maior concentração e consumo de energia, trabalho

humano. É nesta área onde se localiza a casa e o seu entorno. Alguns

permacultores se referem a casa como sendo a Zona Zero, o centro da zona I.

Outros, com os quais me identifico mais, se referem a Zona 0, como sendo o

próprio ser humano que habita a Zona I. De nada adianta corrigir a paisagem,

se o homem que habita nela, ainda pensar de maneira contrária ao rumo da

natureza. Então precisamos começar pelas pessoas, pela ética, depois pela

Zona I. Se não corrigirmos o lugar onde as pessoas moram, seus erros

(efluentes, consumos exagerados, …) atingirão as outras zonas, sem dúvida.

Zona I

Aproveitar as águas da chuva, captadas por calhas no telhado ou em paredes

altas (prédios), filtrando e armazenando em tanques ou outros meios à

disposição, que sejam tão ou mais econômicos e eficientes quanto uma

cisterna de ferrocimento.

Separando as águas usadas na casa em águas cinzas e pretas. As cinzas,

usadas nas pias, chuveiros e máquinas de lavar, devem ser conduzidas por

tubos até os círculos de bananeiras ou até outros sistemas de bio-remediação.

E as águas pretas, que saem dos sanitários, podem ir para uma bacia de

evapotranspiração. Melhor ainda é ter na Zona I um sanitário seco, onde

utilizamos água somente para lavar as mãos. Usar a água para empurrar cocô

é, no mínimo, uma visão distorcida de conforto. Os sanitários secos, também

chamados de sanitários compostáveis, além de não poluírem as águas, ainda

aproveitam ricos materiais, como urina, fezes e papel higiênico, gerando

composto orgânico para alimentar as minhocas, que geram o húmus, que

alimenta sementes e plantas. Podem ser do tipo compactos que cabem no WC

tradicional ou também as “casinhas” com duas câmaras que ficam na área

externa.

Próximo da casa, é possível usar algum sistema de irrigação na horta para

compensar alguma situação de desequilíbrio energético momentâneo ou por

decisão de design. Aqui cabem algumas considerações importantes. Se as

interações com a natureza forem desconsideradas no design, será preciso usar

energia de fora do sistema. O uso de espécies pouco adaptadas ao clima e ao

solo e de culturas fora de época, por exemplo, exigirá mais umidade e outras

condições que o sistema não está preparado para fornecer de forma natural. É

possível fazê-lo, mas temos que ter consciência das implicações energéticas.

Neste caso, há soluções simples como o uso de quebra-vento, que diminui em

muito o uso de água por evitar a desidratação das plantas, e dicas preciosas

como evitar a irrigação por aspersão em horários inadequados (sol intenso

provoca a salinização do solo devido à rápida evaporação da água ). É

preferível fazer irrigação por gotejamento porque a água vai diretamente para

as raízes, onde ela é mais necessária, sem criar oportunidade para fungos e

bactérias nas folhas e dispensando o uso de adubos diluídos, que são pouco

eficientes.

Para completar o design da Zona I com chave de ouro, criando uma bela

oportunidade de viver de maneira intensa a nossa relação com a água, a dica é

construir uma piscina natural para desfrutar das delícias de um banho sem

culpas e sem medos. Numa piscina natural não há tratamento químico.

Convivemos com plantas aquáticas e pequenos animais como se estivéssemos

em lagos naturais.

Zonas II, III e IV

Elas não serão tratadas aqui individualmente porque os elementos a que farei

referência podem estar localizados numa ou noutra, dependendo do design.

A declividade é um dos aspectos do terreno que mais influenciam na

sistematização da água. Desde a necessidade de reflorestamento nas partes

mais altas, tanto para provocar a infiltração da água no solo, evitando

escorrimento e erosão, como para evitar a mudança, menos perceptível, dos

níveis dos lençóis freáticos. Reflorestar também é sistematizar a água. Sem

isso, as partes baixas viram charcos que afogam as raízes das plantas e as

partes altas viram morros carecas sem nenhuma fertilidade.

Outra estratégia é construir canais e panelas de infiltração. Isso faz com que a

água fique mais tempo no terreno, promovendo a fertilidade em alguns locais

do terreno pela ação da gravidade e pelo acúmulo de matéria orgânica. O

excedente pode ser armazenado em açudes e tanques, tanto para irrigação

como para os animais.

A aqüicultura pode acontecer nos charcos naturais ou artificiais para culturas

adaptadas, como o arroz e outras. As chinampas, no entanto, precisam ser

mais estudadas. Quando sei de chinampas sendo construídas com tratores,

fico pensando: como será que os astecas construíam as suas? Na

Permacultura, se alguma técnica demanda muito trabalho ou altos custos, há

algo de errado. Mas esse é um assunto para outra prosa.

Zona V

Aqui não há nada para fazer, apenas deixá-la seguir seu rumo natural,

observá-la e procurar compreendê-la. Mas podemos, se necessário, coletar

algumas sementes e, em caso de ameaça, proteger as nascentes de água.

O mapa mental que está exposto aqui pode servir de ponto de partida para

qualquer permacultor que esteja iniciando a sistematização das águas. Mas ele

é, principalmente, uma base que deve expandir-se com a troca de idéias entre

aqueles que estão interessados em aprender a fluir com as águas.

BET – Bacia de Evapotranspiração 16/10/2010Artigosbacia de evapotranspiração, BET, fossa de bananeirasIta

A Bacia de Evapotranspiração, conhecida popularmente como “fossa de

bananeiras”, é um sistema fechado de tratamento de água negra, aquela usada

na descarga de sanitários convencionais. Este sistema não gera nenhum

efluente e evita a poluição do solo, das águas superficiais e do lençol freático.

Nele os resíduos humanos são transformados em nutrientes para plantas e a

água só sai por evaporação, portanto completamente limpa.

Divulgado pela Rede Permear, principalmente em Santa Catarina, esse

sistema tem algumas características de construção e desenvolvimento

diferentes da Fossa Bio-Séptica ou Canteiro Bio-Séptico, mais usado na região

central do Brasil. Mas ambos tem a mesma origem na permacultura e

compartilham os mesmos princípios de funcionamento.

FUNCIONAMENTO E PRINCÍPIOS

Um pré-requisito para o uso da BET é a separação da água servida na casa,

em cinza e negra. Apenas a água negra, a que sai dos sanitários, deve ir para

a BET. A água cinza, aquela que sai da máquina de lavar, pias e chuveiros,

deve ir para outro sistema de tratamento como um círculo de bananeiras que

também está no projeto que disponibilizo no final deste artigo.

1. Fermentação

A água negra é decomposta pelo processo de fermentação (digestão anaeróbia)

realizado pelas bactérias na câmara bio-séptica de pneus e nos espaços criados entre

as pedras e tijolos colocados ao lado da câmara.

2. Segurança

Os patógenos são enclausurados no sistema, porque não há como garantir sua

eliminação completa. Isto é realizado graças ao fato da bacia ser fechada, sem saídas.

A bacia necessita ter espaços livres para o volume total de água e resíduos humanos

recebidos durante um dia. A bacia deve ser construída com uma técnica que evite as

infiltrações e vazamentos.

3. Percolação

Como a água está presa na bacia ela percola de baixo para cima e com isso, depois

de separada dos resíduos humanos, vai passando pelas camadas de brita, areia e

solo, chegando até as raízes das plantas, 99% limpas.

4. Evapotranspiração

Na minha maneira de ver, este é o principal princípio da BET, pois graças a ele é

possível o tratamento final da água, que só sai do sistema em forma de vapor, sem

nenhum contaminante. A evapotranspiração é realizada pelas plantas, principalmente

as de folhas largas como as bananeiras, mamoeiros, caetés, taioba, etc. que, além

disso, consomem os nutrientes em seu processo de crescimento, permitindo que a

bacia nunca encha.

5. Manejo

Primeiro (obrigatório), a cobertura vegetal morta deve ser sempre completada com as

próprias folhas que caem das plantas e os caules das bananeiras depois de colhidos

os frutos. E se necessário, deve ser complementada com as aparas de podas de

gramas e outras plantas do jardim, para que a chuva não entre na bacia.

Segundo (opcional), de tempos em tempos deve-se observar os dutos de inspeção e

coletar amostras de água para exames. E observar a caixa de extravase, para ver se o

dimensionamento foi correto. Essa caixa só deve existir se for exigido em áreas

urbanas pela prefeitura para a ligação do sistema com o canal pluvial ou de esgoto.

CONSTRUÇÃO PASSO-A-PASSO

1. Orientação em relação ao sol

Como a evapotranspiração depende em grande parte da incidência do sol, a bacia

deve ser orientada para a face norte (no hemisfério sul) e sem obstáculos como

árvores altas próximos à bacia, tanto para não fazer sombra como para permitir a

ventilação.

2. Dimensionamento

Pela prática, observou-se que 2 metros cúbicos de bacia para cada morador é o

suficiente para que o sistema funcione sem extravasamentos. A forma de

dimensionamento da bacia é: largura de 2m e profundidade de 1m. O comprimento é

igual ao número de moradores usuais da casa. Para uma casa com cinco moradores,

a dimensão fica assim: (LxPxC) 2x1x5 = 10 m3.

3. Bacia

Pode-se construir a bacia de diversas maneiras, mas visando a economia sem

descuidar da segurança, o método mais indicado de construção das paredes e do

fundo é o ferrocimento, como se pode observar na fotos abaixo. As paredes ficam

mais leves, levando menos materiais. O ferrocimento é uma técnica de construção

com grade de ferro e tela de “viveiro” coberta com argamassa. A argamassa da parede

deve ser de duas (2) partes de areia (lavada média) por uma (1) parte cimento e

argamassa do piso deve ser de duas (3) partes de areia (lavada) por uma (1) parte

cimento. Pode-se usar uma camada de concreto sob (embaixo) o piso caso o solo não

seja muito firme.

4. Câmara anaeróbia

Depois de pronta a bacia e assegurada sua impermeabilidade, mantendo-a úmida por

três dias, vem a construção da câmara que é super facilitada com o uso de pneus

usados e o entulho da obra. Como mostra a foto abaixo, a câmara é composta do duto

de pneus e de tijolos (bem queimados) inteiros alinhados ou cacos de tijolos, telhas e

pedras, colocados até a altura dos pneus. Isto cria um ambiente com espaço livre para

a água e beneficia a proliferação de bactérias que quebrarão os sólidos em moléculas

de micronutrientes.

5. Dutos de inspeção

Neste ponto pode-se iniciar a fixação dos 3 dutos de 50mm de diâmetro, conforme os

desenhos acima, para a inspeção e coletas de amostras de água.

6. Camadas de materiais

Como a altura dos pneus é de cerca de 55cm, que juntamente com a colmeia de tijolos

de cada lado vão formar a primeira camada (mais baixa) de preenchimento da bacia

(câmara), irão restar ainda 45 cm em média para completar a altura da BET e mais 4

camadas de materiais. A segunda camada é a de brita (+/- 10 cm). Nesse ponto eu

tenho usado uma manta de Bidim para evitar que a areia desça e feche os espaços da

brita. A terceira é a da areia (+/- 10 cm). E a quarta é a do solo (+/- 25 cm) que vai até

o limite superior da bacia. Procure usar um solo rico em matéria orgânica e mais

arenoso do que argiloso. A última camada é a palha que fica acima do nível da BET.

7. Proteção

Como a bacia não tem tampa, para evitar o alagamento pela chuva, ela deve ser

coberta com palhas. Todas as folhas que caem das plantas e as aparas de gramas e

podas, são colocadas sobre a bacia para formar um colchão por onde a água da

chuva escorre para fora do sistema. E para evitar a entrada da água que escorre pelo

solo, é colocada uma fiada de tijolos ou blocos de concreto, ao redor da bacia para

que ela fique mais alta que o nível do terreno.

8. Plantio

Por último, deve-se plantar espécies de folhas largas como mamoeiro (4), bananeiras

(2), taiobas, caetés, etc. As bananeiras podem ser plantadas de diversas maneiras.

Mas eu prefiro usar o rizoma inteiro ou uma cunha (parte de um rizoma) com uma

gema vizível. Após fazer os buracos (no mínimo 30x30x30 cm) deve-se enchê-las com

Acrescentarei as fotos da BET de minha casa assim que tiver completa.

USO EM ÁREA URBANA

Na região sul do Brasil tem diversas BETs em áreas rurais em funcionamento.

Não há nenhum impedimento legal para sua instalação. Mas nas cidades,

normalmente, tem uma legislação rígida normalizando os sistemas de

tratamento residenciais e que impedem o uso desses sistemas.

Em Criciúma, tivemos a primeira implantação de uma BET em área urbana

legalizada e aceita pela prefeitura, que poderá incentivar o seu uso para

diminuir a demanda por ETEs públicas. Neste momento a cidade está

implantando a primeira ETE na cidade para o tratamento do esgoto. E que

sabemos não resolverá o problema totalmente e nem por muito tempo. Logo

deverá ser ampliada ou duplicada. Até porque todas as águas servidas são

misturadas e contaminadas, aumentando o problema para as ETEs. E ainda

tem um custo de manutenção que deverá ser repassados aos usuários. A BET

tem custo ZERO de manutenção. O tratamento é biológico, sem materiais

químicos.

Para auxiliar os interessados, disponibilizo abaixo o RAP (Relatório Ambiental

Prévio) que fiz para solicitar a licença de implantação do sistema completo

(Bacia de Evapotranspiração e Círculo de Bananeiras). Como esses sistemas

ainda são desconhecidos da maioria, o RAP cumpre a missão de explicá-lo

tecnicamente aos responsáveis pela área sanitária da cidade. Alerto que não é

uma missão fácil, precisa-se de paciência e dedicação para que o sistema seja

compreendido e liberado para construção. Os técnicos tem suas razões legais

para questionar o projeto e normalmente exigem que o sistema tenha uma

saída para o canal pluvial ou de esgoto da prefeitura. O projeto sanitário

(abaixo) deve ir como anexo do RAP e mostra como isso pode ser feito sem

prejudicar o sistema e ainda serve de ponto de observação de extravase da

água.

Arquivos PDF do projeto e do relatório (RAP) para donwload:

Modelo de RAP (Relatório Ambiental Prévio) (191 Kb)

Modelo de planta do sistema completo de tratamento (1,6 Mb)

Na Austrália e em outros países essa já é uma prática comum, divulgadas pelo

movimento da permacultura. Vamos fazer o nosso movimento seguindo os

projetos a risca e ainda tentando melhorá-los no sentido da segurança e da

economia.

Faça bom proveito e envie suas sugestões e dúvidas.

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