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PARTE II CIRCUITO DE RECOMPENSA E DEPENDÊNCIAS

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Como as drogas alteram funcionamento do cérebro

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PARTE II

CIRCUITO DE RECOMPENSA E DEPENDÊNCIAS

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Acredito piamente que conhecimento é poder e que prevenção é infinitamente melhor que tratamento.Assim, estou dando início a um projeto que vem saracoteando em minha cabeça há muitos anos: Neurologia para crianças.Começo com o pacote para Dependências.Usei os slides da NIDA, que os distribui gratuitamente para médicos e professores, e pede que sejam repassados.A tradução, comentários e analogias são minhas.Para pais e professores, usem, abusem, repassem .Pode ser copiado em pequenas apostilas

Dúvidas e comentários: mandem uma mensagem na página do facebook – Curare Dolorem. (http://www.facebook.com/curare.dolorem)

Ciao

Dra. Patrizia D. Streparava

NIDA - NATIONAL INSTITUTE OF DRUG ABUSE (USA) (INSTITUTO NACIONAL DO ABUSO DE DROGAS – EUA)

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CIRCUITO DE RECOMPENSA E DEPENDÊNCIAS

Nós humanos, bem como outros animais, adoramos nos envolver em comportamentos gratificantes.

As sensações prazerosas proporcionam reforço positivo, de modo que o comportamento é repetido.

Há recompensas naturais, e recompensas artificiais, tais como as drogas.

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RECOMPENSAS NATURAIS

As recompensas naturais são: comida, água, sexo e carinho, de forma que possamos sentir prazer ao comer, beber, procriar, acarinhar e ser acarinhado.

Essas sensações agradáveis reforçam o comportamento, de maneira que este seja repetido.

Cada um desses comportamentos é necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie.

Vamos lembrar que, apesar de serem recompensas naturais, nós humanos podemos dar um jeito de usá-los como drogas, quando comemos em demasia e engordamos, por exemplo.

Comida

Água

Sexo

Carinho

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CIRCUITO DE RECOMPENSA

Este é seu cérebro, se você fizer um corte no meio, na altura do nariz. Pois bem no meio dele estão as estruturas que fazem parte do circuito de recompensa.

De baixo para cima: VTA = Área Tegmental Ventral; Núcleo Acumbens e Córtex Pré frontal.

O VTA contém toneladas de dopamina, que é liberada no núcleo acumbens e no córtex pré frontal.

Vamos lembrar que esse circuito é ativado por um estímulo de recompensa, ou seja, sentimos algo como agradável, quando essa parte de nosso cérebro é encharcada de dopamina.

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ATIVAÇÃO DO CIRCUITO DE RECOMPENSA POR ESTÍMULO ELÉTRICO

A descoberta do circuito de recompensa se deu usando ratos como cobaias. Os ratinhos foram treinados a pressionar uma alavanca para receberem pequenas descargas elétricas em certas partes do seu cérebro.

Quando um eletrodo era colocado em seu nucleo cumbens, o ratinho ficava pressionando a alavanca sem parar, para receber os choquinhos, porque a sensação era agradável.

Essa sensação agradável é também chamada de REFORÇO POSITIVO.

Caso o eletrodo fosse colocado em qualquer outra área do cérebro, o ratinho não pressionava a alavanca, pois, como as outras áreas não se comunicam com o nucleo acumbens, não tem prazer nenhum na coisa. Também, nos mesmos experimentos, os cientistas puderam medir o aumento de liberação de dopamina no sistema de recompensa, logo em seguida ao ratinho receber uma. (recompensa).

E se a liberação de dopamina é impedida (ou com uma droga ou pela destruição do circuito), o ratinho não mais impulsiona a alavanca.

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DEPENDÊNCIA OU ADIÇÃO

Agora que definimos o conceito de RECOMPENSA, podemos definir dependência.

DEPENDÊNCIA é um estado no qual o organismo se envolve em comportamento compulsivo, mesmo que esse comportamento tenha consequências negativas.

Esse comportamento reforça ou provê algum tipo de recompensa.

Uma das características mais importantes da dependência é a perda de controle para limitar o uso da substância que vicia.

Fica claro agora que, quando nos tornamos dependentes, perdemos o controle sobre nosso comportamento.

DependênciaDependência

Comportamento Comportamento compulsivocompulsivo

Reforço de algum Reforço de algum tipo de tipo de

recompensarecompensa

Perda de controlePerda de controle

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AÇÃO DA HEROINA (MORFINA)

A Heroína é uma droga extremamente viciante, e mesmo assim, nem todos os que a usam se tornam viciados.

O ambiente e a personalidade do usuário são fatores importantíssimos na produção e/ou desenvolvimento de um vício.

A Heroína produz euforia e/ou sentimentos de prazer, assim, é um reforço positivo que interage com o circuito de recompensa no cérebro.

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LOCAIS DE LIGAÇÃO DOS OPIÁCEOS NO CÉREBRO E MEDULA ESPINHAL

Quando alguém usa heroína (morfina) por qualquer via, a droga vai rapidinho para o cérebro, e parece que injetar ou fumar leva quase que o mesmo tempo para a droga viajar pelo sistema circulatório.

Alguns usuários cheiram, para evitar problemas com agulhas, mas, aqui nos EUA, o grande problema está sendo o uso de medicamentos à base de heroína, natural e/ou sintética.

Quando chega no cérebro, a heroína é transformada em morfina pelas enzimas que tem essa função e imediatamente se liga a receptores em certas áreas do cérebro (verde), e, como já se aprendeu, essas áreas são: parte do córtex cerebral, nucleo accumbens, tálamo, tronco cerebral e medula espinhal.

Dá para notar que a danadinha se liga precisamente nas áreas que fazem parte do sistema de recompensa.

Também se liga a áreas envolvidas no circuito da dor: tálamo, tronco cerebral e medula espinhal, e é por essa razão que é amplamente usada em medicina, tanto para cirurgias como para tratamento de dores severas (analgesia).

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VÍNCULO DA MORFINA NO CIRCUITO DE RECOMPENSA

Novamente mostrando onde a morfina atua, que é no circuito de recompensa, por se ligar a receptores no VTA e nucleo accumbens.

Na próxima figura, veremos como.

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Os Opiáceos se ligam aos receptores opiáceos no nucleo accumbens: aumento da liberação de dopamina

Esse slide já foi visto na aula anterior. Recoloco só para lembrar.

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Rato se auto administrando heroína

Também lembrando aula anterior

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TOLERÂNCIA

Quando drogas tipo heroína são usadas repetidamente, desenvolve-se a TOLERÂNCIA.

Esta ocorre quando a pessoa não mais responde à droga, como costumava fazer no início, ou seja, vai precisar de dose maior para conseguir o mesmo efeito.

No caso da heroína (morfina), a tolerância a seus efeitos analgésicos desenvolve-se rapidamente.

Tolerância não é dependência, embora a maioria das drogas que produzem tolerância, também produzam dependência.

Tolerância

Não há mais resposta à

droga

Necessidade de dose maior

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REGIÕES CEREBRAIS ONDE É FEITA A MEDIAÇÃO À TOLERÂNCIA A MORFINA (HEROÍNA)

O desenvolvimento de tolerância aos efeitos analgésicos da morfina envolve outras áreas cerebrais fora do circuito de recompensa, a saber: tálamo e medula espinhal (em verde).

Compare com as áreas envolvidas

no desenvolvimento de dependência (em vermelho)

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DEPENDÊNCIA

Dependência aparece sempre e quando os neurônios se adaptam ao uso repetido da droga, e o organismo só consegue funcionar normalmente quando em presença da mesma.

Quando a droga é retirada, ocorrem reações fisiológicas.

Podem ser leves, como a dor de cabeça que dá em bebedores de café, quando ficam sem o mesmo, ou podem ser muito severas, com risco de vida, como por exemplo com álcool.

Isto é chamado de SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA.

No caso de abstinência de heroína, a coisa pode ser tão séria que a pessoa volta a usar a droga só para evitar a abstinência.

Dependência

Organismo só consegue

funcionar em presença da droga

A retirada da droga causa

reações fisiológicas

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DEPENDÊNCIA X VÍCIO (DO ANGLICISMO ADIÇÃO)

Como vimos anteriormente, partes diferentes do cérebro são responsáveis pelo vício (adição) e pela dependência.

Assim, é possível ser DEPENDENTE de morfina, sem necessariamente ser VICIADO na mesma.

Um exemplo são as pessoas sendo tratadas com morfina em caso de cânceres terminais: são dependentes, podendo sofrer Síndrome de Abstinência se a droga for retirada abruptamente, mas não são usuários compulsivos.

É bom saber que pessoas hospitalizadas e tratadas com morfina para controle de dor após cirurgia, raramente se tornam dependentes.

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(CRACK E QUALQUER OUTRO SUBPRODUTO)

A AÇÃO DA COCAINA

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CHEIRAR X FUMAR: DIFERENTES FORMAS DE VICIAR

Historicamente, o abuso de cocaína se dava pela inalação do pó (sal hidroclorídrico), que quando é processado para formar base livre, pode ser fumado.

Fumar (crack) leva a droga ao cérebro muito mais rapidamente do que cheirar.

O cheirar faz com que a cocaína vá, desde os vasos sanguíneos no nariz para o coração, daí para os pulmões (setas roxas).

Dos pulmões, volta para o coração, de onde vai para o resto do corpo, incluindo o cérebro (setas vermelhas).

Já o fumar, a coisa vai direto para os pulmões, coração e resto do corpo.

Quanto mais rápido uma droga com potencial aditivo alcançar o cérebro, mais possível ela é de ser abusada.

Isto quer dizer que, quanto menor o tempo entre uso e o aparecimento dos efeitos de recompensa, maior é seu potencial para abuso.

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LOCALIZAÇÃO DOS “SÍTIOS DE LIGAÇÃO”DA COCAÍNA

Quando alguém fuma (crack) ou cheira cocaína, ela se espalha por todas as áreas do cérebro, mas só se liga em áreas específicas (amarelinho): VTA, nucleo accumbens e núcleo caudado)

Nota-se que ela se liga às áreas do sistema de recompensa, já discutido previamente.

A ligação da coca no núcleo caudado, explica os outros efeitos da cocaína, tais como movimentos estereotipados (repetitivos), como andar de um lado prá outro, roer unhas, se coçar, etc.

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Cocaína (amarelo) se liga aos receptores de dopamina, e, a dopamina não tendo para onde ir, fica solta dentro da sinapse.

Exatamente o mesmo efeito da morfina, como já vimos.

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DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA E A ATIVAÇÃO DO CIRCUITO DE RECOMPENSA

Vamos lembrar que o circuito de recompensa pode ser ativado mesmo na falta da droga (craving - desejo, ânsia pela droga).

Isso demonstra que, com o uso repetido, o organismo passa a depender da droga para ser capaz de sentir prazer e se torna incapaz de ter prazer com as recompensas naturais, tornando-se assim dependente.

O dependente, quando não usa, passa a apresentar anedonia (incapacidade de sentir prazer), e depressão.

Para evitar isso, o dependente volta a usar.

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RATO AUTO ADMINISTRANDO COCAINA

Cientistas fizeram com ratos e cocaína, as mesmas coisas que fizeram com a morfina, com exatamente os mesmos resultados.

Em ambos os casos, os ratos morreram de inanição porque ficavam se estimulando e não paravam nem para comer ou beber.

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Drogas que causam dependências ativam o sistema de recompensa por aumentar a

neurotransmissão da dopamina.

RESUMINDO

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ATIVAÇÃO DO CIRCUITO DE RECOMPENSA POR DROGAS QUE CAUSAM ADIÇÃO - DEPENDÊNCIA

Esse slide mostra o circuito de recompensas em relação às drogas potencialmente aditivas, que são: alcohol = álcool, cocaine = cocaína; heroin = heroína; nicotine= nicotina (cigarro, charuto)

Embora cada uma dessas drogas tenha um mecanismo de ação diferente, todas elas aumentam a atividade no circuito de recompensa, e por isso são drogas que causam dependência.

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RESUMÃO

No início, usar ou não uma droga é uma escolhaDepois, vira feito ratinho na jaula, apertando a

alavanca.O uso de drogas, embora pareça à primeira vista um

ato legal (cool, como dizem aqui), para fazer parte de um grupo, na realidade é uma escolha de solidão dependente de uma substância

E, ao fim e a cabo, você escolhe quem e o que quer ser na vida

Escolha bem, porque é fácil prevenir, mas muito difícil remediar.