cinthia rolim de albuquerque meneguel turismo …

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_________________________________ CEPPE CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM ANÁLISE GEOAMBIENTAL CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO FLUVIAL DE BASE COMUNITÁRIA COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA SUSTENTÁVEL AOS MUNICÍPIOS DO ALTO RIO PARANÁ Guarulhos 2010

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Page 1: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

_________________________________

CEPPE

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO EM ANÁLISE GEOAMBIENTAL

CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL

TURISMO FLUVIAL DE BASE COMUNITÁRIA COMO

ALTERNATIVA ECONÔMICA SUSTENTÁVEL AOS MUNICÍPIOS DO

ALTO RIO PARANÁ

Guarulhos

2010

Page 2: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL

TURISMO FLUVIAL DE BASE COMUNITÁRIA COMO

ALTERNATIVA ECONÔMICA SUSTENTÁEL AOS MUNICÍPIOS DO

ALTO RIO PARANÁ

Dissertação apresentada à Universidade Guarulhos, como pré-requisito para obtenção do título de Mestre em Análise Geoambiental. Orientador: Prof. Dr. Mario Lincoln De Carlos Etchebehere. Co-orientador: Prof. Dr. José Cândido Stevaux.

Guarulhos

2010

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À minha família, minha eterna gratidão.

Por estarem ao meu lado, na busca de meus sonhos!

DEDICO.

Page 4: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

AGRADECIMENTOS

Uma pesquisa com esta complexidade não pode ser fruto do trabalho e dedicação de

uma única pessoa. Envolve, naturalmente, inúmeras colaborações institucionais e pessoais

recebidas direta e indiretamente ao longo de todo o caminho.

Ao Prof. Dr. Mário Lincoln de Carlos Etchebehere, agradeço primeiramente pela

disposição em aceitar desafios, pela orientação que em muitos momentos me impulsionou a

vencer os obstáculos, pela dedicação e amizade ao longo de todo período da pós-graduação.

Ao Prof. Dr. José Candido Stevaux, agradeço por contribuir para a elaboração do

estudo, enquanto lhe foi possível. Pela amizade e conhecimentos transmitidos em visitas a

campo e na sala de aula.

Ao Prof. Dr. Antonio Roberto Saad, agradeço pelos incentivos no decorrer deste

período, pela paciência, e pelos conhecimentos transmitidos extra sala de aula.

Aos professores do curso do mestrado por contribuírem efetivamente com o meu

crescimento pessoal, intelectual e profissional.

A RETUR – Rede de Turismo Regional, em especial ao professor Jacó e a Wanda,

por permitirem que eu conhecesse o noroeste paranaense da forma mais excepcional possível,

através da minha inserção na comunidade local, suas culturas e experiências. “Será

inesquecível”.

Às prefeituras de Alto Paraíso, Querência do Norte e Itaquiraí, que abriram suas

portas, e mostraram-se dispostas e abertas a estudos e oportunidades para o desenvolvimento

econômico sustentável local.

Aos colegas de curso, cuja solidariedade foi fundamental nesta difícil jornada.

Aos amigos do Laboratório de Geociências - UNG, em especial ao Fábio e Andréa,

que muito me auxiliaram e contribuíram para o desenvolvimento do trabalho.

Em especial, agradeço a Adriano Meneguel Rotoli, por fazer parte da minha vida.

Sem você nada disso seria possível.

E a Leticia Rolim de Albuquerque que foi muito mais do que irmã, e mostrou-se

uma grande parceira para toda a vida.

A todos aqueles que direta ou indiretamente se sentem parceiros nesta realização, que

contribuíram com amizade, carinho, risos, e que suportaram minhas preocupações, frente a

este novo conhecimento a ser construído.

Page 5: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

[...] talvez não tenhamos conseguido

fazer o melhor, mas lutamos para

que o melhor fosse feito [...]. Não

somos o que deveríamos ser, mas

somos o que iremos ser. Mas graças

à Deus, não somos o que éramos.

(Martim Luther King)

Page 6: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

RESUMO:

Este estudo teve como finalidade realizar uma análise geoambiental no Alto rio Paraná,

visando à implantação e ao desenvolvimento do turismo fluvial de base comunitária como

alternativa para o desenvolvimento econômico sustentável das comunidades ribeirinhas. A

área de estudo situa-se entre os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná. O local configura a

única área no rio Paraná, que possui sua biodiversidade preservada, tendo inúmero ambientes

naturais de interesse turístico. Entre os estudos realizados, estão o levantamento dos recursos

naturais (geologia e geomorfologia) e suas peculiaridades, características sócio-econômicas e

culturais da região, e a caracterização das principais potencialidades turísticas e suas

aplicabilidades. Visa-se a proposta de implantação do turismo fluvial associado ao geoturismo

e ao ecoturismo no local. Na apresentação deste trabalho, optou-se por exposição de artigos

científicos, com temas pertinentes ao título central.

Palavras-chave: Turismo fluvial, Ecoturismo, Ecologia fluvial, Sustentabilidade,

Geomorfologia fluvial, Rio Paraná, Geoturismo.

Page 7: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

ABSTRACT:

This research has as purpose to accomplish a geoenvironment analysis in the Upper Paraná

River, aiming at to the implantation and the development of the fluvial tourism of

communitarian base as sustainable economic alternative for the development of the marginal

communities. The study area is a reach of the Paraná River along the border of the Mato

Grosso do Sul and Paraná States. The place is about the only area in the river Paraná, that

have the biodiversity preserved, having innumerable natural environments of tourist interest.

They had been analyzed all the natural resources (geology and geomorphology) and its

peculiarities, partner-economic and cultural characteristics, and study of the main tourist

potentialities and its applicability. It is aimed at proposal the fluvial tourism implantation

associate to the geotourism and ecotourism in the place. In this research, it was opted to

scientific article exposition, with some pertinent subjects around to the principal title.

Key-words: Fluvial tourism, Ecotourism, Fluvial ecology, Sustainable, Geomorphology

fluvial, Paraná River, Geotourism.

Page 8: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa dos parques e da APA na região do Alto rio Paraná.........................................3

Figura 2: Mapa das categorias de conservação federais, dados referentes à atualização do

ICMBIO em 27 de agosto de 2009...........................................................................................17

Figura 3: Mapa de localização da Reserva Raposa Serra do Sol – RO....................................20

Figura 4: Tripé das ligações entre os aspectos turísticos..........................................................24

Figura 5: Foto do PARNA Chapada dos Veadeiros.................................................................24

Figura 6: Foto do PARNA Grande Sertão Veredas.................................................................25

Figura 7: Foto do PARNA Itatiaia – Pico das Agulhas Negras................................................25

Figura 8: Foto do PARNA Serra da Capivara...........................................................................25

Figura 9: Foto do PARNA Caparaó – Pico do Cristal..............................................................26

Figura 10: Foto do PARNA Marinho de Abrolhos – Vista aérea.............................................26

Figura 11:Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande........................................32

Figura 12: Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande com municípios

abrangidos.................................................................................................................................33

Figura 13: Mapa de delimitação da zona de amortecimento do PNIG.....................................35

Figura 14: Foto da Ilha Grande no período pós-enchente.........................................................38

Figura 15: Foto do Arenito do Paredão das Araras...................................................................39

Figura 16: Foto da representação da mata Floresta Estacional Semidecidual aluvial no

PNIG.........................................................................................................................................41

Figura 17:Mapa de localização do Aquífero Guarani...............................................................42

Figura 18: Perfil geológico simplificado do SAG, com direção leste-oeste na porção norte da

Bacia Sedimentar do Paraná.....................................................................................................43

Figura 19: Foto da praia do Pacarai – depósitos de barra formados em período de vazão

baixa..........................................................................................................................................45

Figura 20: Mapa de localização das barragens na Bacia do Tietê-Paraná................................46

Figura 21: Área de pastagem em várzeas no rio Paraná...........................................................52

Figura 22: Foto da várzea do rio Paraná após incêndio ocorrido em 2002...............................52

Figura 23: Foto do barco de extração de areia ao lado da Ilha Bandeirantes............................53

Figura 24: Foto de casas de veraneio em uma das ilhas que compõem o Parque Nacional de

Ilha Grande................................................................................................................................57

Figura 25: Casas de veraneio em Porto Figueira – Alto Paraíso..............................................57

Page 9: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 26: Classificação das zonas de acordo com o grau de intervenção humana no ambiente

do PNIG......................................................................................................................................58

Figura 27: Foto do turismo fluvial em frente ao Ópera House na Austrália.............................69

Figura 28: Gráfico de pesquisa sobre os modais de transportes utilizados pela atividade

turística no ano de 2000............................................................................................................70

Figura 29: Mapa das principais bacias hidrográficas no Brasil................................................73

Figura 30: Gráfico da porcentagem da distribuição de água no mundo...................................74

Figura 31: Gráfico da porcentagem da distribuição de água doce no mundo...........................74

Figura 32: Padrões de canais fluviais........................................................................................76

Figura 33: Barra de pontal localizada no rio Paraná.................................................................77

Figura 34: Foto da Pororoca no rio Amazonas.........................................................................82

Figura 35: Foto do cruzeiro fluvial Grand Amazon no rio Amazonas.....................................83

Figura 36: Foto do encontro das águas do rio Negro e do Rio Solimões.................................84

Figura 37: Foto do Arquipélago de Anavilhanas......................................................................86

Figura 38: Foto da Ilha do Bananal – bacia do rio Tocantins e Araguaia................................87

Figura 39: Foto da praia de areias brancas do rio Araguaia......................................................88

Figura 40: Município de Conceição do Araguaia.....................................................................89

Figura 41: Foto do cais de Penedo – rio São Francisco............................................................90

Figura 42: Mapa turístico “Caminhos do Imperador”..............................................................91

Figura 43: Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande.......................................93

Figura 44: Mapa da Bacia hidrográfica do rio Paraná..............................................................95

Figura 45: Foto do Paredão das Araras.....................................................................................98

Figura 46: Foto da Formação pioneira com influência Flúvio-Lacustre – Lagoa Saraiva........99

Figura 47: Foto do jacaré de papo amarelo no PNIG...............................................................99

Figura 48: Foto da sussuarana no PNIG...................................................................................99

Figura 49: Foto da Lagoa Saraiva – Parque Nacional de Ilha Grande....................................101

Figura 50: Foto da Lagoa Azul – Município de Alto Paraíso (PR)........................................102

Figura 51: Ilustração de parte dos canais secundários do rio Paraná......................................103

Figura 52: Foto da barra de pontal/meandro – Rio Paraná.....................................................104

Figura 53: Foto da barra arenosa no Alto rio Paraná..............................................................104

Figura 54: Foto da vegetação arbórea e arbustiva – APA de Ilhas e Várzeas do Rio

Paraná......................................................................................................................................105

Figura 55: Foto do turismo fluvial no Alto rio Paraná............................................................106

Page 10: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 56: Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande, APA de Ilhas e Várzeas

do Rio Paraná e os números correspondem a RPPN’S no Estado

do Paraná. ...............................................................................................................................107

Figura 57: Mapa da localização dos distritos e portos pertencentes à área de estudo............109

Figura 58: Mapa de localização da área de estudo – Confluência do rio Ivaí e Paraná..........119

Figura 59: Mapa longitudinal da bacia do rio Ivaí e seus segmentos.....................................121

Figura 60: Gráfico do perfil longitudinal do rio Ivaí em relação a sua altitude......................122

Figura 61: Mapa longitudinal da geologia da bacia do rio Ivaí e seus segmentos..................123

Figura 62: Segmento inferior do Rio Ivaí e suas margens em formato meandrante...............124

Figura 63: Mapa de localização dos rios Paraná e Ivaí...........................................................125

Figura 64: Paredão das Araras – Rio Paraná...........................................................................127

Figura 65: Encontro das águas do rio Ivaí (água escuras) com o rio Paraná (águas

claras)......................................................................................................................................128

Figura 66: Portal de boas-vindas aos visitantes que contemplam o “encontro das águas” do rio

Ivaí e Paraná, no município de Querência do Norte - PR.......................................................129

Figura 67: Porto Basílio – Querência do Norte - PR..............................................................133

Figura 68: Mapa do caminho de Peabiru................................................................................133

Figura 69: Marco da rota Missioneira no município de Querência do Norte (PR).................134

Figura 70: Cruz jesuítica marcando o caminho de Peabiru, utilizado nas missões, no

município de Querência do Norte (PR)...................................................................................135

Figura 71: Gruta com a padroeira da cidade no município de Querência do Norte (PR).......135

Figura 72: Paredão das Araras localizado no município de Icaraíma (PR)............................141

Figura 73: Foto do Porto Camargo localizado no município de Icaraíma (PR).....................142

Figura 74: Cavalgada da Amizade no município de Icaraíma (PR).......................................143

Figura 75: Arena localizada no município de Icaraíma (PR), para realização dos rodeios e

outras festas locais..................................................................................................................143

Figura 76: Igreja matriz no município de Icaraíma (PR)........................................................144

Figura 77: Complexo de pontes de Porto Camargo................................................................146

Figura 78: Complexo de pontes de Porto Camargo................................................................146

Figura 79: Mapa de localização dos geotopos do geopark do Araripe...................................156

Figura 80: Peça produzida com a fibra de bananeira..............................................................171

Figura 81: Peças produzidas com a fibra da bananeira...........................................................171

Figura 82: Mapa do roteiro turístico – Circuito fluvial no Alto rio Paraná............................174

Page 11: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Classificação das unidades de conservação conforme o SNUC..............................16

Quadro 2: Histórico de conflitos na Reserva Raposa Serra do Sol...........................................21

Quadro 3: Ambientes naturais e suas áreas de uso...................................................................60

Quadro 4: Descrição do habitat e sua relação com a atividade turística...................................79

Quadro 5: Demonstrativo dos assentamentos existentes no município de Querência do Norte

(PR).........................................................................................................................................132

Quadro 6: Geosítios sugeridos pela CPRM, para a criação de geoparques no Brasil.............157

Quadro 7: Relações de atividades turística e Geomorfologia&Geologia...............................159

Quadro 8: Roteiro turístico Circuito fluvial no Alto rio Paraná.............................................174

Page 12: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Data de abertura ao público dos primeiros parques nacionais mundiais..................11

Tabela 2: Unidades de preservação por década no Brasil e no mundo.....................................12

Tabela 3: Linha do tempo - desenvolvimento da legislação ambiental brasileira ...................14

Tabela 4: Área de ocupação dos municípios que compõem o PNIG........................................34

Tabela 5: Valores de passeios opcionais.................................................................................177

Page 13: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AIA - Avaliação de Impacto Ambiental

ANA – Agência Nacional das Águas

APA – Área de Proteção Ambiental

APL – Arranjo Produtivo Local

APP – Área de Preservação Permanente

ARIE – Área de Relevante Interesse Ecológico

COANA - Cooperativa de Comércio e Reforma Agrária Avante Ltda

COBRAMAB – Comissão brasileira de gerenciamento do programa: O Homem e a Biosfera

CORIPA – Consórcio Intermunicipal para Conservação do Remanescente do rio Paraná e

Áreas de influência

DMA – Domínio da Mata Atlântica

EE – Estação Ecológica

FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano

GEF – Global Environmental Facility

IAP - Instituto Ambiental do Paraná

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMBIO - Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INFRAERO – Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária

IUCN - União Internacional para a Proteção da Natureza

MaB – Programa da Unesco: O homem e a Biosfera

MICT – Ministério da Indústria, Comércio e Turismo

MMA – Ministério do Meio Ambiente

NUPELIA - Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura

ONU - Organização das Nações Unidas

PARNA – Parques Nacionais

PDTUR - Plano de Desenvolvimento Turístico Sustentável

PIB – Produto Interno Bruto

PNAS - Programa Nacional de Águas Subterrâneas

PNIG – Parque Nacional de Ilha Grande

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RBMA - Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

REBIO – Reserva Biológica

RESEX – Reserva Extrativista

RETUR – Rede de Turismo Regional

RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural

SAG – Sistema Aquífero Guarani

SNPDTUR – Secretaria Nacional de Programa de Desenvolvimento do Turismo

SNUC - Sistema Nacional de Conservação

STF – Supremo Tribunal Federal

UC – Unidades de Conservação

UHE – Usina hidrelétrica

UEM – Universidade Estadual de Maringá

UNEP/WCMC – United Nations Environment Programme/World Conservation Monitoring

Centre

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UnG – Universidade Guarulhos

WCN - World Conservation Union – União Mundial de Conservação

WDPA - World Database on Protected Areas

Page 15: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

1. INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural essencial e insubstituível à sobrevivência humana e da

maioria das demais espécies. É a responsável pelo equilíbrio dos ecossistemas, e possui assim,

um valor incalculável.

As grandes civilizações mundiais, desde a antiguidade, nasceram e se desenvolveram

ao redor de grandes rios. É visível em nosso mundo atual a existência do relacionamento do

homem com a água. Suguio (2006) verificou que nesta relação existe uma inadequação, pois o

resultado quase sempre se redunda em uma situação de insustentabilidade. Expõe ainda que,

se a sociedade não adotar uma postura sustentável em suas atitudes, a água poderá se tornar

escassa nas próximas décadas.

O Brasil possui uma das maiores disponibilidades hídricas do mundo. Porém, de

acordo com Esteves (1988), poucos estudos relacionados aos rios brasileiros, independente de

sua abrangência, foram realizados.

O rio Paraná é de suma importância ao país: trata-se do décimo maior rio do mundo

em descarga e a segunda maior bacia de drenagem da América do Sul. É responsável por

fornecer suporte à agropecuária, indústrias, geração de energia elétrica, transporte e lazer.

Porém, este rio vem sofrendo alterações decorrentes da construção de diversos reservatórios e

hidrelétricas em sua extensão. Devido às diversas atividades antrópicas no rio Paraná, o canal

e a planície de inundação vêm sofrendo transformações negativas e rápidas. Como forma de

conter estas atividades, foram criadas, na região, diversas estações ecológicas como a Estação

Ecológica Estadual de Ilha Grande (1994), APA - Área de Proteção Ambiental de Ilhas e

Várzeas do rio Paraná (1994) e o Parque Nacional de Ilha Grande (1997).

A área de estudo corresponde ao único trecho da extensão do rio Paraná em pleno

estado de conservação natural. A biodiversidade presente é tão rica que a região integra o

programa da UNESCO “Reserva da Biosfera”, além de ser caracterizada como “Domínio da

Mata Atlântica”.

Como parte da transformação regional, tem-se as atividades turísticas, que

antigamente eram voltadas ao turismo de veraneio, porém, atualmente, os turistas vêm

buscando os diversos ambientes fluviais e associados, como as lagoas, barras e ilhas, como

motivação turística. A decadência da cafeicultura, agropecuária e atividade pesqueira

Page 16: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

profissional tornou a região frágil economicamente, e a atividade turística afigura-se como

uma alternativa econômica local.

O turismo fluvial é pouco desenvolvido no Brasil e praticamente inexplorado no rio

Paraná. De acordo com Yázigi (2003), o país possui uma grande diversidade hidrográfica e se

faz necessário usufruir deste benefício. “Pode-se chegar ao local através de outro meio de

transporte, porém a complementação por via fluvial é a que revela o mundo visceral de ambas

as regiões”. O autor ressalta ainda que, não apenas do ponto de vista turístico, mas também

econômico e ecológico, os impactos causados por embarcações são bem menores que

qualquer outro tipo de transporte, assim como os seus custos. Para o transporte rodoviário, por

exemplo, o custo da construção de uma ponte sobre um curso fluvial e seus impactos sobre o

meio ambiente são bem maiores, do que a utilização do meio fluvial.

Assim como outras atividades, o turismo, se não for corretamente desenvolvido, pode

degradar ecossistemas e causar danos irreparáveis. O presente trabalho visa, desta forma,

desenvolver uma pesquisa geoambiental, identificando as fragilidades locais, para a

contribuição do desenvolvimento econômico e social, buscando a sustentabilidade e a

conservação da biodiversidade, via incremento do turismo, como alternativa econômica viável

e correta em termos ambientais.

1.1. Localização da área de estudo

A área de estudo está localizada no Alto rio Paraná, próximo à confluência com o rio

Ivaí, entre os municípios de Alto Paraíso e Querência do Norte (PR), limite dos Estados do

Paraná e Mato Grosso do Sul (Figura 1). Engloba os municípios de Mundo Novo, Naviraí,

Eldorado e Itaquiraí (Mato Grosso do Sul) e São José do Patrocínio, Altônia, Diamante do

Norte, Vila Alta, Icaraíma e Querência do Norte (Paraná).

Page 17: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 1: Mapa dos parques e da APA na região do Alto rio Paraná. Fonte: Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura – Nupelia (2007).

Page 18: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo geral

A presente pesquisa tem como objetivo geral realizar uma análise geoambiental na

região do Alto rio Paraná, e definir os principais sítios fluviais, assim como suas

características e a decorrente aplicabilidade ao turismo fluvial. Adicionalmente, busca propor

esta modalidade turística como base para o desenvolvimento econômico sustentável das

comunidades ribeirinhas da região.

1.2.2. Objetivos específicos

1 - Determinar as características geomorfológicas dos ambientes fluviais com

potencial turístico;

2 - Avaliar o grau de sensibilidade dos ambientes para a prática do turismo fluvial e

ecoturismo, considerando os componentes e diretrizes do plano de manejo local;

3 - Levantar as características sócio-culturais das comunidades ribeirinhas;

4 - Realizar o inventário turístico da região, e através do mesmo, propor adequação

dos serviços, caso necessário; e

5 - Elaborar um roteiro turístico com ênfase no circuito fluvial.

1.3. Justificativa

O Brasil é um país que possui um grande potencial em diversos segmentos do turismo.

Muitos destes ainda são poucos explorados. Segundo Beni (1998), o turismo representa 8%

do PIB (produto interno bruto), que corresponde a 6% da população economicamente ativa.

Trata-se de uma atividade em plena expansão.

Nos dias atuais, os rios representam um dos mais importantes agentes geológicos

modeladores da superfície terrestre, como também desempenham papel ecológico, econômico

e social de grande relevância para o desenvolvimento da vida humana (SUGUIO, 2003). E o

conhecimento geomorfológico da área de estudo traz um grande enriquecimento de dados

para o desenvolvimento sustentável da atividade turística, a qual pode ser mais rentável,

Page 19: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

segura e menos impactante, se for desenvolvida de forma sustentável e com a participação das

comunidades ribeirinhas, conforme o tema aqui proposto.

1.4. Problemática

A área de estudo, além da preservação e conservação da biodiversidade natural,

necessita de diversos estudos voltados ao desenvolvimento do turismo que pode se configurar

como alternativa econômica sustentável para as comunidades locais.

O turismo desenvolvido em ambientes fluviais ainda não obteve a atenção necessária

da sociedade e de pesquisadores, para realização de pesquisas geomorfológicas, avaliação de

impactos ambientais, e de como desenvolver a prática sustentável junto com a comunidade.

Segundo Galvão (2008), atualmente, a maioria das atividades turísticas na região está

dirigida a áreas naturais do sistema fluvial local, ou seja, ao próprio rio e seus ambientes

associados: praias, lagoas, matas e canais. Esta prática está sendo desenvolvida de forma

aleatória, sem consciência de preservação. Os próprios municípios estão em busca de um

alavancamento de suas economias e esta atividade seria, sem dúvida, uma das mais

apropriadas.

A população ribeirinha tem suas atividades econômicas baseadas na pesca

profissional, e, em períodos de piracema, acaba exercendo suas atividades mesmo infringindo

a lei, para poder complementar sua renda, visto que, para a grande maioria de pescadores, o

subsidio do governo é insuficiente, ou seja, não se iguala à sua renda mensal. Outra parcela da

população, que vivia nas ilhas, acabou se retirando do local, conforme normas do plano de

manejo da APA de Ilhas e Várzeas do rio Paraná. As ilhas pertencentes ao Estado do Mato

Grosso do Sul foram esvaziadas primeiro e as pessoas indenizadas no momento da retirada.

Nas ilhas do Estado do Paraná, nenhuma família recebeu indenização até o presente momento,

o que levou muitas famílias a retornarem ao local e voltarem a exercer atividades

agropecuárias irregularmente. Esta produção continua degradando e modificando a vegetação

nativa e as matas ciliares.

Outra grande questão é relacionada às Áreas de Preservação Permanente (APP) e às

margens do rio Paraná e do rio Ivaí, que, atualmente, se encontram invadidas por parte das

populações que moravam nas ilhas, e que agora realizam o plantio, desrespeitando a distância

mínima da várzea do canal prevista no Código Florestal Brasileiro.

Page 20: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

1.5. Metodologia

A fundamentação teórico-metodológica de suporte ao desenvolvimento da pesquisa foi

realizada, norteando os conceitos de turismo, ecoturismo e indicadores geoambientais de

desenvolvimento sustentável, sempre focada nas relações humanas com o meio físico.

A pesquisa foi concluída cumprindo as seguintes etapas abaixo:

- Bibliografia: foram realizados os levantamentos de documentação para o

desenvolvimento da dissertação, tais como mapas, imagens de sensores remotos, fotografias,

planos diretores, plano de manejo, legislação ambiental, dentre outros.

- Trabalho de campo: foram realizadas visitas aos municípios ribeirinhos no Paraná e

Mato Grosso do Sul, que compõem a área de estudo, a fim de constatar os ambientes naturais,

suas características geológicas e geomorfológicas, atividades sócio-econômicas,

características culturais locais, atividades turísticas já desenvolvidas na região, assim como

identificar possíveis potenciais para o turismo fluvial e ecoturismo. Foram também efetuadas

visitas aos centros comunitários e entidades de desenvolvimento sócio-cultural da região,

prefeituras, realização do inventário turístico, análise da infraestrutura portuária local, e

participação na entrega do plano de manejo do Parque Nacional de Ilha Grande aos

municípios envolvidos.

O trabalho de campo também contemplou visitas e pesquisas no NUPELIA - Núcleo

de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura da Universidade Estadual de Maringá,

que possui o maior acervo de pesquisas realizadas na extensão do rio Paraná.

A análise de dados, assim como suas conclusões e sugestões, foram expostas ao longo

da dissertação sob a forma de artigos científicos, com temas pertinentes aos resultados obtidos

ao longo da pesquisa.

1.6. Forma de apresentação da dissertação

Esta dissertação é constituída por diversos artigos científicos que se tornam o corpo

principal do texto. Cada artigo é composto por materiais, métodos, resultados, discussões e

conclusões peculiares a cada tema, assim como suas próprias referências.

Por não se tratar de uma apresentação textual tradicional, se faz necessário que dados

como localização da área de estudo, conceitos de turismo e geologia, sejam apresentados

repetidamente no decorrer do trabalho, podendo torná-lo cansativo quando realizada a sua

Page 21: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

leitura na íntegra. Porém, tratam-se de informações extremamente necessárias para o

entendimento individual de cada texto.

Os artigos que compõem o trabalho, e que serão submetidos à publicação,

compreendem:

Artigo 1: Parques Nacionais no Brasil e a prática do turismo sustentável.

Apresenta uma breve abordagem sobre a história da legislação ambiental brasileira, focada

aos parques nacionais, e a prática da atividade turística sustentável para a preservação,

conservação e manutenção das áreas protegidas.

Artigo 2: Parque Nacional de Ilha Grande: O alcance do turismo sustentável através da

prática do ecoturismo.

O artigo descreve o Parque Nacional de Ilha Grande, assim como sua importância local.

Propõe o ecoturismo como atividade econômica para o desenvolvimento da comunidade

local, tendo como base as práticas sustentáveis da atividade turística.

Artigo 3: Sítios turísticos fluviais no Brasil: Estudo de caso Alto rio Paraná.

O artigo descreve os meios de transportes utilizados pela atividade turística, e realiza uma

breve abordagem sobre os principais sítios turísticos fluviais no Brasil, tendo como ênfase a

área de estudo localizada no Alto rio Paraná.

Artigo 4: Confluência do rio Ivaí e Paraná: sua potencialidade turística.

O artigo descreve as características naturais, culturais e econômicas do rio Ivaí e a

potencialidade turística da região de confluência de ambos os rios.

Artigo 5: Geoturismo, geodiversidade e geoconservação associados ao rio Paraná.

Identificação dos pontos geoturísticos na região, assim como sugestões para o

desenvolvimento desta atividade na região.

Page 22: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

LAGOA SARAIVA  PARQUE NACIONAL DE ILHA GRANDE (PR)

CORIPA (2010)

Page 23: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

2. PARQUES NACIONAIS NO BRASIL E A PRÁTICA DO TURISMO SUSTENTÁVEL

 Cinthia Rolim de Albuquerque Meneguel; Mário Lincoln De Carlos Etchebehere

CEPPE – Centro de Pós-Graduação e Pesquisa Universidade Guarulhos (UnG)

Rua Eng. Prestes Maia 88 – Centro Guarulhos, São Paulo 07011-0880, Brazil

[email protected] / [email protected]

RESUMO

Este texto introduz algumas reflexões acerca da legislação ambiental existente, focada

aos parques nacionais. Aborda uma perspectiva histórica do desenvolvimento das práticas

preservacionistas das unidades de conservação mundiais, assim como o desenvolvimento da

legislação ambiental do Brasil, e a contribuição da atividade turística sustentável na

preservação e manutenção das aéreas protegidas.

Palavras-chave: Parques nacionais, Legislação ambiental, Turismo sustentável,

Ecoturismo, Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

ABSTRACT

This text introduces some reflections on the existing environment legislation, with

approach to the national parks. This is a historical perspective of the development of the

preservationist practical of conservation unit in, as well as the development of the

environment legislation in Brazil, and the contribution of the sustainable tourist activity in the

preservation and maintenance of the protected area.

Key-words: National parks, Environmental legislation, Sustainable tourism,

Ecotourism, SNUC – National system for environmental conservation unit.

Page 24: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

2.1. Introdução

A atenção voltada para as áreas de proteção ambiental se encontra registrada na

história sempre um passo atrás do desenvolvimento da sociedade e sua globalização. Após a

Revolução Industrial, no século XIX, agravaram-se os problemas ambientais, despertando a

atenção da classe ambientalista. De acordo com Diegues (2004), problemas, como fumaça

excessiva de chaminés, chamaram a atenção de cientistas, estudiosos, ambientalistas e

simpatizantes, sobre a necessidade de se preservar a natureza da ação rápida e predatória do

homem. Para naturalistas daquela época, a única forma de proteger a natureza, idéia presente

nos dias atuais, era afastá-la do homem por meio de ilhas onde se pudesse admirá-la e

reverenciá-la, em contrapartida aos efeitos da vida urbana, ou seja, resguardando-se pedaços

do mundo natural em seu estado primitivo (TEIXEIRA, 2009, p. 15).

De acordo com Barretto (2003), entre, os séculos XVIII e XIX, a crescente

industrialização, o ofício de atividades mecanizadas e insalubres, a corrida de ocupação dos

grandes centros urbanos, o menor contato do homem com o campo, a deteriozação da

qualidade de vida nas grandes cidades, aliados à criação do “período de férias”, fizeram com

que o homem procurasse buscar os meios naturais como forma de lazer e descanso.

Atualmente, os meios naturais e as áreas preservadas ainda são os destinos de muitas

pessoas. São exatamente esses destinos turísticos que merecem mais atenção em relação ao

seu planejamento, manejo, infraestrutura e conservação. De acordo com Western (1999), o

comportamento das pessoas quanto à necessidade de se conservar a biodiversidade pode ser

visto de maneira positiva, visto que os visitantes estão mais conscientes dos danos ecológicos

que podem provocar, do valor da vida natural e dos interesses das populações locais.

O presente trabalho tem como finalidade realizar uma breve abordagem sobre o

desenvolvimento da legislação ambiental no país, com o intuito de se focar a importância da

preservação e da conservação dos parques nacionais, assim como enfatizar o desenvolvimento

da atividade turística sustentável nas regiões que cercam o parque.

O primeiro parque nacional existente foi o Yellowstone Nacional Park, criado em 1º

de março de 1872; localizado nos Estados Unidos, possui uma área de 8.991 km². Trata-se,

mundialmente, da primeira área de proteção natural (COSTA, 2002, p. 163). Para Yázigi

(2002), em termos mundiais, o tema conservação da natureza mostra um deslocamento dos

conceitos preservacionistas que estiveram na origem dos parques norte americano, como

Yellowstone (1872) e Yosemite (1890), que desencadearam uma série de outros parques em

vários países (Tabela 1).

Page 25: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Tabela 1: Data de abertura ao público e características dos primeiros parques nacionais mundiais.

País Abertura ao público Parque Características Site

Estados Unidos 1872 Parque Nacional

Yellowstone Montanhas Rochosas www.nps.gov/yell/

Austrália 1879 Parque Nacional Royal Rocha/montanha/lago/cachoeiras www.nationalsparks.nsw.gov.a

u

Yosemite 1890 Parque Nacional Yosemite Montanhas Rochosas www.yosemitepark.com

Canadá 1883 Parque Nacional Banff Montanhas Rochosas www.pc.gc.ca

Nova Zelândia 1900 Parque Nacional

Egmont Presença do vulcão Egmont www.doc.govt.nz

Argentina 1903 Parque Nacional Nahuel Huapi Região andina da Patagônia www.nahuelhuapi.gov.ar

África do Sul 1925 Parque Nacional

Kruger Fauna diversificada www.krugerpark.co.za

Equador 1959 Parque Nacional de Galápagos Arquipelágo das Ilhas Galápagos www.galapagospark.org

A criação dos parques nacionais ocorreu sucessivamente em diversas partes do mundo,

porém, a definição de seus objetivos não era ainda precisa. Cada espaço era determinado e

utilizado de acordo com os conceitos locais. Alguns parques, por exemplo, eram cercados

apenas para evitar a degradação do local, sem que a sociedade tivesse algum tipo de acesso.

Outros por sua vez, eram utilizados para lazer e recreação. Apenas no ano de 1933, ocorreu,

em Londres, a “Convenção para a Preservação da Flora e da Fauna”. Esta convenção

estabeleceu características para os parques nacionais como sendo áreas controladas pelo poder

público, destinadas à preservação da fauna e da flora, ter áreas destinadas à visitação pública,

ou possuírem interesses geológicos, arqueológicos e paisagísticos (DIEGUES, 2004).

Com o intuito de se expandir mundialmente as áreas protegidas, foi instituída em

1948, a IUCN (International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources -

União Internacional para a Conservação da Natureza), atualmente denominada WCN (World

Conservation Union – União Mundial para a Natureza). Em 1969, ocorreu a 10ª assembléia

geral da IUCN em Nova Déli – Índia, onde se determinou que os parques nacionais deveriam

ser áreas que abrigassem um ou mais ecossistemas não alterados materialmente pela

exploração e ocupação humana, que tivessem especial interesse científico, educacional e

recreativo, ou que apresentassem uma paisagem natural de grande beleza. Tais

Page 26: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

áreas deveriam ser de responsabilidade do Estado, e possibilitariam a presença de visitantes

(TEIXEIRA, 2009). Em 1958, foi criada a Comissão Internacional de Parque Nacional, que

visava, juntamente com a ONU (Organização das Nações Unidas), inventariar todas as áreas

mundialmente protegidas.

Após estas diversas organizações em prol da conservação do meio natural,

principalmente entre 1970 e 1980, foram criadas diversas unidades federais de conservação

em todo o mundo, que chegaram a abranger 5% da superfície terrestre (Tabela 2).

Tabela 2: Unidades de preservação por década no Brasil e no mundo. Adaptada de Diegues (2004).

ÁREAS PROTEGIDA CRIADAS POR DÉCADA

NO BRASIL E NO MUNDO

DÉCADA NO MUNDO NO BRASIL

Antes de 1900 37 0

1930-39 251 3

1940-49 119 0

1950-59 319 3

1960-69 573 8

1970-79 1317 11

1980-89 781 58

A UNEP/WCMC – United Nations Environment Programme/World Conservation

Monitoring Centre, criou e administra o WDPA (World Database on Protected Area – Banco

mundial das áreas protegidas). É composto por 102.002 áreas protegidas, localizadas em 143

países, correspondendo a 12,71% da superfície da Terra. Entretanto este sistema contabiliza

apenas as unidades de conservação públicas, excluindo a perspectiva privada na conservação

(MORSELLO, 2001).

Após a Conferência de Estocolmo, em 1972, uma série de importantes documentos

internacionais foi publicado, com o intuito de identificar e apontar características importantes

sobre a criação, defesa, sustentabilidade, diversidade natural e cultural de áreas

ambientalmente protegidas. Dentre estes documentos pode-se citar: Estratégia mundial para

a conservação (UICN – 1980); Nosso futuro comum (ONU – 1986), os quais propuseram em

Page 27: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

prática a estratégia mundial para a conservação (UICN). Mais recentemente, a Agenda 21

passou a servir de referência para as ações dos diversos países envolvidos.

A Agenda 21 foi aprovada pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento realizada em 1992, no Brasil. Um tema recorrente dessa agenda

são as políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento sustentável das cidades, focada nos

problemas ambientais e urbanos, como saneamento e habitação.

2.2. Institucionalização e legislação de áreas de proteção ambiental no Brasil

O Brasil é um dos principais países do mundo que possui o seu código ambiental e

seu conjunto de leis e medidas ambientais completo e atualizado, o que vem acarretando

progressos, benefícios e conquistas para o país. Mas, para atingir este nível de

desenvolvimento, ocorreram diversos fatos históricos referentes a este tipo de legislação.

Diegues (2004) e Medeiros (2004) mencionaram que a criação de áreas protegidas no

País decorre de um processo longo e lento de estruturação do Estado. Os primeiros registros

da preocupação ambiental datam do período colonial, onde a Coroa Portuguesa já

demonstrava preocupações com a escassez da madeira e do ouro.

A história da política ambiental pode ser dividida em três fases. A primeira, no início

da República, onde os primeiros documentos legais foram instituídos e ocorreu a criação do

primeiro parque nacional, o Parque de Itatiaia, em junho de 1937. Este momento foi seguido

pelo da ditatura militar (1964 a 1984), período em que ocorreu a criação de diversas áreas de

proteção ambiental, assumindo uma dimensão nacional. E, por fim, assim o período pós 1984,

quando ocorre uma nova fase de estruturação do País, incluindo uma maior preocupação com

o meio natural (Tabela 3).

Dentre os eventos citados na tabela 3, pode-se ressaltar a importância da Constituição

de 1988, a qual dedicou o Capítulo VI ao meio ambiente, reforçando a participação efetiva do

poder público e da sociedade civil na preservação dos meios naturais, conforme consta no

Art. 225:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

Page 28: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Tabela 3: Linha do tempo - desenvolvimento da legislação ambiental brasileira.

ACONTECIMENTOS RELATIVOS À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

ANO INSTRUMENTO COMENTÁRIOS

1797 Carta Régia Na Carta Régia afirma-se ser necessária a adoção de medidas para a conservação das matas no Estado do Brasil.

1808 Criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Museu de História Natural.

1821 José Bonifácio (“Patriarca da Independência”) propõe a criação de um setor administrativo especialmente responsável pela conservação da natureza.

1876 André Rebouças (oficial do exército) evidencia a necessidade de criação de parques nacionais no Brasil, sugerindo algumas áreas como a Ilha do Bananal e Sete Quedas.

1913 Alberto Lofgren (biólogo e geógrafo) propõe a criação de parques nacionais com o objetivo de pesquisa e lazer para as populações dos centros urbanos.

1921 Decreto nº 4.421 de 28/12/1921 Criação do Serviço Florestal.

1934 Decreto nº 23.793 de 23/01/1934 Criação do Código Florestal.

1937 Constituição Federal de 1937

Definição das responsabilidades da União em proteger belezas naturais e monumentos de valor histórico.

1937 Decreto nº 1.713 Criação do primeiro Parque Nacional - Itatiaia.

1944 Decreto nº 16.677 Atribuição da Seção de Parques Nacionais ao Serviço Florestal.

1946 Constituição Federal de 1946 Ratificada a Constituição Federal de 1937.

1965 Lei nº 4.771/1965 Criação do novo Código Florestal (em vigor).

1977 Lei nº 6.513 de 20/12/1977 Criação de Áreas Especiais e de Locais de Interesse Turístico.

1980 Lei nº 1.809 de 07/12/1980 Institui o Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro.

1988 Constituição Federal de 1988 Constituição Federal de 1988.

1989 Lei n º 7.735 de 22/02/1989

Criação do IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

2000 Lei nº 9.985 de 18/07/2000 Instituição do SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

2002 Decreto nº 4.340 Regulamentação da Lei nº 9.985.

2007 Lei nº 11.516 de 28/08/2007 Criação do ICMBIO - Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade.

Page 29: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

2.3. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC

Em 18 de julho de 2000, foi sancionada a lei nº 9.985, que regulamenta e institui o

SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Esta lei é considerada o

maior conjunto de normas ambientais aprovadas pelo Governo Federal. Decorridos dois anos

de sua promulgação, foi editada, pelo Ministério do Meio Ambiente, através do Decreto nº

4.340, em 22 de agosto de 2002.

O SNUC estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das

unidades de conservação (UCs). Os progressos alcançados após a publicação desta lei foram

consideráveis e trouxeram benefícios aos órgãos públicos responsáveis por unidades federais,

distritais, estaduais e municipais, além da sociedade civil, oferecendo os dispositivos legais

adequados à preservação de significativos remanescentes dos ricos biomas brasileiros

(BRASIL, 2002).

O SNUC tem como objetivo a preservação e manutenção da diversidade biológica e

dos recursos naturais, a recuperação e restauração dos ecossistemas degradados, o incentivo à

pesquisa científica, a promoção da educação ambiental, sustentabilidade econômica local, o

manejo, e os corredores ecológicos.

De acordo com o SNUC (2000), as unidades de conservação são definidas como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas a proteção.

Ainda no âmbito do SNUC, destaca-se a regulamentação das unidades de conservação

em instâncias federais, estaduais e municipais. Estas unidades são compostas por dois grupos,

as unidades de Proteção Integral e as unidades de Uso sustentável, que possuem subdivisões

em várias categorias (Quadro 1 e Figura 2).

Page 30: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

UNIDADES SUBDIVISÕES

Estação Ecológica – EE

Reserva Biológica - REBIO

Parque Nacional - PARNA

Monumento Natural

PROTEÇÃO INTEGRAL

Refúgio da Vida Silvestre

Área de Proteção Ambiental - APA

Área de Relevante Interesse Ecológico - ARIE

Floresta Nacional (Estadual ou Municipal)

Reserva Extrativista - RESEX

Reserva da Fauna

Reserva de Desenvolvimento Sustentável

USO SUSTENTÁVEL

Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN

Quadro 1: Classificação das unidades de conservação conforme o SNUC (2000).

Page 31: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 2: Mapa das categorias de conservação federais, dados referentes à atualização do ICMBIO em 27 de agosto de 2009 (BRASIL, 2009).

Page 32: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

2.4. Parques nacionais no Brasil

No Brasil, os PARNAs - Parques Nacionais são considerados Unidades de

Conservação Integral, que visam à preservação da natureza, sendo admitido apenas o uso

indireto de seus recursos naturais, com exceção de alguns casos específicos definidos em lei.

O BRASIL (2002) definiu os Parques Nacionais como:

Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

Para os Parques Nacionais, também é determinado que são de posse e domínio

público, sendo que áreas particulares em seus limites devem ser desapropriadas de acordo

com a legislação; a visitação pública está sujeita a normas e restrições estabelecidas de acordo

com o plano de manejo da unidade; e a pesquisa científica depende de autorização prévia do

orgão responsável pela administração, além de condições e restrições já estabelecidas para o

local.

O Brasil possui, atualmente, 64 PARNAs, que estão localizados em todas as regiões

do país, representando a diversidade ecológica e biólogica (Figura 2), a saber:

- Região Norte: Amazônia, Araguaia, Cabo Orange, Jaú, Montanhas do

Tumucumaque, Monte Roraima, Nascentes do rio Parnaíba, Pacaás Novos, Pico da Neblina,

Serra da Cutia, Serra da Mocidade, Serra do Divisor, Serra do Prado, Anavilhanas, Jamanxim,

Rio Novo, Mapinguari, Nascentes do Lago Jari e Viruá.

- Região Nordeste: Catimbau, Chapada Diamantina, Descobrimento, Jericoacoara,

Lençóis Maranhenses, Marinho de Abrolhos, Fernando de Noronha, Monte Pascoal, Pau-

Brasil, Serra da Capivara, Serra das Confusões, Sete Cidades, Chapada das Mesas, Serra da

Capivara, Serra da Itabaiana e Ubajara.

- Região Centro-oeste: Brasília, Chapada dos Guimarães, Chapada dos Veadeiros,

Emas, Pantanal Mato-grossense, Juruema e Serra da Bodoquena.

- Região Sudeste: Caparaó, Cavernas do Peruaçu, Grande Sertão Veredas, Itatiaia,

Pontões Capixabas, Restinga de Jurubatiba, Sempre-Vivas, Serra da Bocaina, Serra da

Canastra, Serra do Cipó, Serra dos Orgãos e Tijuca.

Page 33: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

- Região Sul: Aparados da Serra, Iguaçu, Ilha Grande, Lagoa do Peixe, Saint-

Hilaire/Lange, São Joaquim, Serra Geral, Serra do Itajaí, Araucárias, Campos Gerais e

Superagui.

Em sua maioria, os parques encontram-se abertos à visitação, e alguns já possuem

infraestrutura completa para os visitantes. É o caso do Parque Nacional de Foz do Iguaçu, que

é visitado por cerca de 1.548 mil pessoas por ano (BRASIL, 2009), e o Parque Nacional de

Itatiaia que recebe mais de 100 mil pessoas (GUIA PHILIPS, 2003).

Outros parques ainda não possuem o seu plano de manejo aprovado, portanto, estão

fechados à visitação, como os Parques da Serra da Bodoquena e o do Descobrimento. O plano

de manejo estabelecido para um determinado parque deve ser desenvolvido considerando as

características e peculiaridades da região, devendo se adaptar à sociedade e ao seu entorno, e

vice-versa.

Todos os PARNA são gerenciados pelo ICMBIO – Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade, através de uma Autarquia Federal vinculada ao Ministério do

Meio Ambiente, criado pela lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007.

Apesar dos Parques Nacionais serem protegidos por lei, ainda sofrem conflitos devido

à ocupação irregular, presença de comunidades indígenas, dentre outros. Como exemplo atual,

pode-se mencionar o Parque Nacional Monte Roraima, que possui em seu interior a reserva

Raposa Serra do Sol, uma das maiores do Brasil. Localiza-se em Roraima, em uma área que

abrange os municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã (Figura 3). Devido a sua

formação geológica, apresenta riquezas minerais, tais como ouro, diamante e nióbio; além de

terras propícias para o cultivo de arroz, que acabou gerando ocupações irregulares de índios e

não-índios, ocasionando diversos conflitos comunitários, e entre a sociedade e o Supremo

Tribunal Federal (STF), visto que nessa área não é permitido o garimpo, a agricultura e novas

ocupações territoriais.

Page 34: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 3: Mapa de localização da Reserva Raposa Serra do Sol - RO. Fonte: Globo (2009).

Esta reserva possui um histórico de conflitos (Quadro 2), que se estende até os dias

atuais, tornando ineficiente toda as normas e procedimentos estabelecidos pelo plano de

manejo.

Page 35: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Histórico de conflitos na Reserva Raposa Serra do Sol

1998

Foi declarada de posse permanente indígena as terras pertencentes a Reserva Raposa Serra do Sol, com superfície aproximada de

1.678.800 hectares e perímetro de 1.000. km. Iniciou-se um levantamento das benfeitorias realizadas pelos ocupantes da região.

1999 O Ministério Público Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que se declarasse

competente para julgar as ações de fazendeiros locais contra a portaria 820/98, que declarava a posse definitiva da reserva aos índios.

2005

Foi assinado um decreto que homologa de forma contínua a terra indígena Raposa Serra do Sol. O reconhecimento desta terra foi uma reivindicação histórica dos índios da região

(macuxi, wapixana, ingarikó, taurepang e patamona). Foram extinguidas todas as ações que contestavam a demarcação das terras.

2006 O Supremo Tribunal Federal manteve, por unanimidade, decreto sobre a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol.

2007

Foi determinada a desocupação da reserva por parte dos não-índios, além de ter sido assinada uma carta-compromisso com os chefes indígenas, para evitar conflitos na região.

Foi dado o prazo da colheita da safra do arroz para os rizicultores deixarem a região, no entanto, após a safra, os mesmos permaneceram no local.

2008 Novas tentativas de desocupação da área pelos não-indíos foi realizada pelo Ministério

Público Federal, mas o STF suspendeu qualquer tipo de operação neste sentido, até que seja demarcada a reserva indígena.

2009 Como decisão final do STF, foi homologada a determinação da retirada dos não-indígenas da região.

Quadro 2: Histórico de conflitos na Reserva Raposa Serra do Sol. Adaptado de Globo (2009).

O INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, no decorrer desses

anos, já indenizou e remanejou a maior parte da população não-indígena, porém, a região

ainda é alvo de diversos conflitos.

Page 36: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

2.4.1. Parques nacionais brasileiros e sua integração com as atividades turísticas

Os PARNAs despertam um grande interessse para a prática turística, devido à sua

biodiversidade. De acordo com Dias (2003), o Brasil está, juntamente com a Colômbia e o

México, entre os três países de maior diversidade biológica do mundo. Devido a sua grande

extensão territorial, se caracteriza por diferentes climas e feições geomorfológicas, possuindo

um grande número de ecossistemas com potencial turístico, como a Mata Atlântica, o

Cerrado, a Caatinga, a Floresta de Araucária, o Pantanal, as Zonas Costeiras e o Mangue.

A inter-relação entre o turismo e o meio ambiente é incontestável, uma vez que este

último constitui a ‘matéria-prima’ da atividade. O contato com a natureza constitui,

atualmente, uma das maiores motivações das viagens de lazer (RUSCHMANN, 2004).

Diversas atividades turísticas podem ser desenvolvidas dentro das áreas de proteção

ambiental, dentre as quais pode-se mencionar:

Turismo ecológico - Também é chamado de turismo ambiental (environmental

tourism), turismo de natureza, turismo verde, turismo campestre (cottage tourism), turismo de

sertão ou silvestre (wilderness tourism), turismo de selva ou de floresta (jungle tourism),

férias na natureza (nature vacation). De acordo com Beni (2003), o turismo ecológico é a

denominação dada ao deslocamento de pessoas para áreas naturais, motivadas pelo desejo de

fruição da natureza, com observação passiva ou interativa com o meio natural, onde ocorre a

preocupação com a educação e a conscientização ambiental. Como atividades deste segmento

turístico, tem-se a caminhada por trilhas, escalada, rafting, canyoning, off-road, rapel, pesca e

visitas programadas para pontos geoturísticos como rios, ilhas, montanhas, chapadas,

cavernas, grutas, minas e jazidas.

Ecoturismo - Também é conhecido como turismo suave (soft tourism), turismo

natural, turismo de baixo impacto (low impact tourism), turismo nativo, turismo responsável,

bioturismo e ecoaventura (BENI, 2003). Trata-se de segmento da atividade turística que

utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva a conservação e busca a

formação de consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o

bem-estar das populações envolvidas (EMBRATUR, 1994). O ecoturismo refere-se ao

deslocamento de pessoas para espaços naturais e as atividades previstas devem ser

rigorosamente observadas com relação às restrições de uso desses espaços, além de ser

desenvolvida de forma sustentável, prevendo estimativas de capacidade de carga e suporte

para o local, monitoramento, avaliações constantes, plano de manejo e gestão responsável

voltada aos recursos naturais e culturais.

Page 37: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Geoturismo ou geoecoturismo - É a provisão de serviços e facilidades interpretativas

que permite aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento da geologia e

geomorfologia de um sítio, além de mera apreciação estética (HOSE, 1995).

Turismo de aventura - Conhecido também como esportivo, turismo rústico (hard

tourism) e turismo de risco (risk tourism). Beni (2003) o definiu como deslocamento de

pessoas para espaços naturais, com ou sem roteiros programados, motivadas pela atração

exercida pelo desconhecido e pelo desejo de enfrentar situações de desafio físico e emocional.

Turismo cultural - Também conhecido como turismo étnico-histórico-cultural. Refere-

se ao fluxo turístico centrados na motivação das origens étnicas locais e regionais, além do

legado histórico-cultural, ligado ao homem local e ao patrimônio e acervo cultural local

(BENI, 2003).

Turismo de educação ou educacional - Consiste em viagens culturais com o objetivo

educacional de qualquer natureza, visitas a outros países, monumentos, ou cidades, as quais

podem ser agendadas previamente com o intuito de intercâmbio educacional (BENI, 2003).

As atividades turísticas podem trazer diversos benefícios se forem desenvolvidas e

administradas de acordo com os princípios sustentáveis, e o de satisfazer as necessidades de

hoje, sem comprometer a capacidade das pessoas satisfazerem as suas no futuro

(SWARBROOKE, 2000).

Na prática, as atividades do turismo podem se tornar aliadas na conservação ambiental

de vários ecossistemas, e no desenvolvimento das comunidades, desde que sejam

desenvolvidas, alicerçando-se no modelo de Swarbrooke (2000), conforme mostra a Figura 4.

Este modelo mostra qual é a dinâmica da sustentabilidade, ou seja, de equilíbrio. É

através da conservação ambiental sustentável, é que se gera a igualdade social, obtendo como

resultado a eficiência econômica sustentável. E a atividade turística pode estar diretamente

vinculada a estes fatores, trazendo, desta forma, para as comunidades, um bem comum,

maximizando os impactos positivos e minimizando os negativos. Portanto, o turismo em áreas

naturais, pode gerar benefícios socioeconômicos devido à geração de empregos, e de divisas

através da diversificação da economia local, estímulo e aperfeiçoamento de infraestrutura

local e regional, conscientização e educação ambiental para a comunidade e vistantes, e a

própria manutenção e conservação da unidade.

Page 38: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

EFICIÊNCIA ECONÔMICA

Figura 4: Tripé das ligações entre os aspectos turísticos. Adaptado de (SWARBROOKE, 2000).

2.5. Ilustração de alguns Parques Nacionais

No Brasil encontramos muitos PARNA’s, com caractéristicas diferentes entre si.

Todos possuem uma grande diversidade paisagística (Figuras 5 a 10), tornando a oferta

diversificada, e atraindo visitantes com perfis diferentes.

Figura 5: Foto do PARNA Chapada dos Veadeiros. Fonte: ICMBIO (2010).

Page 39: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 6: Foto do PARNA Grande Sertão Veredas.

Fonte: Valquiria Gonçalves (1996).

Figura 7: Foto do PARNA Itatiaia – Pico das Agulhas Negras. Fonte: ICMBIO (2010).

Figura 8: Foto do PARNA Serra da Capivara.

Fonte: Fumdham (2008).

Page 40: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 9: Foto do PARNA Caparaó – Pico do Cristal.

Fonte: Eduardo Issa (2008).

Figura 10: Foto do PARNA Marinho de Abrolhos – Vista aérea. Fonte: ICMBIO (2010).

Page 41: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

2.6. Considerações finais

O Brasil possui normas e condutas ambientais das mais completas do mundo

(BRASIL, 2002). Todavia, a legislação ambiental acaba se tornando ineficaz, ao se deparar

com outras políticas, de caráter social e cultural, que, nos dias atuais, não são tão elaboradas e

desenvolvidas.

As causas mais frequentes que impedem a implantação e obediência às normas

ambientais, incluem dentre outras, a falta de estrutura fundiária regularizada, a demora na

elaboração e implantação do plano de manejo, a falta de recursos para a salvaguarda do local,

a compra de equipamentos e a falta de monitoria. Com todo o desenvolvimento, ainda não

existem modelos de aceitação geral para AIA – Avalição de Impacto Ambiental, monitoria e

avaliações a serem realizadas regularmente.

Por outra lado, a proteção ambiental é muito mais fácil e menos onerosa do que a

correção ambiental, mesmo quando uma ação corretiva for possível. Desta forma, a atividade

turística sustentável, desenvolvida nas áreas legalmente protegidas, se torna,

automaticamente, uma forma de proteção para as mesmas.

Page 42: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

2.7. Referências bibliográficas

BARRETTO, M. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus, 2003. BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 9. ed. São Paulo: Senac, 2003. BRASIL, 1988. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL. Coleção de leis de direito Administrativo. Barueri: Manole, 2004. BRASIL, 2002. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. 2. ed. Brasília: MMA/SBF, 2002. BRASIL, 2009. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). Disponível em: < http:// www.icmbio.gov.br/index.php?ie=yes>. Acesso em: 07 jan. 2010. COSTA, P. C. Unidades de conservação: matéria prima do ecoturismo. São Paulo: Aleph, 2002. DIAS, R. Turismo sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas, 2003. DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. GUIA PHILIPS. Parques nacionais. In: Série Guias Philips de turismo ecológico do Brasil. 2 ed. São Paulo: Horizonte Geográfico, 2003. EMBRATUR. INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Brasília: EMBRATUR, 1994. FUMDHAM, 2008. Pinturas rupestres. Disponível em: <http://www.fumdham.org.br/pinturas.asp>. Acesso em: 10 maio 2010. GLOBO, 2009. Entenda o conflito na terra indígena Raposa Serra do Sol. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,MUL464471-5598,00.html>. Acesso em: 12 maio 2010.

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MEDEIROS, R. A política de áreas protegidas no Brasil: evolução, contradições e conflitos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 4, 2004, Curitiba. Anais. Curitiba: Rede Nacional Pró-unidades de Conservação, 2004. p. 601-611. MORSELLO, C. Áreas protegidas públicas e privadas: seleção e manejo. São Paulo: Annablume, Fapesp, 2001. ONU. Nosso future comum, 1986. Disponível em: http://www.onu.org/News. Acesso em: 13 jun. 2009. RUSCHMANN, D. V. de M. Turismo e planejamento sustentável. A proteção do meio ambiente. 11ª ed. Campinas: Papirus, 2004. SWARBROOKE, J. Turismo sustentável: conceitos e impacto ambiental. 3. ed. São Paulo: Aleph, 2000. TEIXEIRA, P. R. A visão da população de Mostardas e Tavares – RS sobre a contribuição do turismo no Parque Nacional da Lagoa do Peixe ao desenvolvimento local. 2009. 100 f. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Programa de Pós-Graduação da Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2009. UICN, 1980. Estratégia mundial para a conservação. Disponível em: http://www.usp.br/nupaub/Cap03eco.pdf. Acesso em: 02 out. 2008. WESTERN, D. Definindo ecoturismo. In: LINDBERG, K.; HAWKINS, D. E. Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. 2. ed. São Paulo: Senac, 1999. YÁZIGI, E. Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002.

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PARQUE NACIONAL DE ILHA GRANDE (PR)CORIPA (2010)

Page 45: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

3. PARQUE NACIONAL DE ILHA GRANDE: O ALCANCE DO TURISMO SUSTENTÁVEL ATRAVÉS DA PRÁTICA DO

ECOTURISMO 

Cinthia Rolim de Albuquerque Meneguel; Mário Lincoln De Carlos Etchebehere CEPPE – Centro de Pós-Graduação e Pesquisa

Universidade Guarulhos (UnG) Rua Eng. Prestes Maia 88 – Centro

Guarulhos, São Paulo 07011-0880, Brazil [email protected] / [email protected]

RESUMO

O Parque Nacional de Ilha Grande é uma unidade de conservação localizada no rio

Paraná, entre os Estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul. Trata-se de um arquipélago

fluvial localizado na única área livre de barragens do rio, ou seja, encontra-se em seu estado

natural, sendo parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. A pesquisa tem como objetivo

apresentar as características físicas, biológicas, econômicas e sociais da área de inserção do

parque. Além de justificar a proposta do ecoturismo como atividade econômica para o

desenvolvimento local, tem como base a prática do turismo sustentável para a conservação,

preservação e manutenção da biodiversidade, assim como expor as práticas irregulares atuais.

Palavras-chave: Sustentabilidade, Ecoturismo, Biodiversidade, Turismo,

Geodiversidade.

ABSTRACT

The Ilha Grande National Park is a unit of conservation located in Paraná River,

between Paraná and Mato Grosso do Sul State. It is a fluvial archipelago that protects one of

the last preserved and barrages free areas of the Paraná River. This hydrographic basin is in

natural situation, being recognized as part of the World Heritage Biodiversity Programme of

Biosphere Reserve. The research has as objective to present some physical, biological,

economic and social characteristics about the park and the around areas. This is also justifying

the proposal of ecotourism development as economic activity for the local community, having

the practical of sustainable tourism, for the conservation, preservation and maintenance of

biodiversity, as well as to expose the actual harmful actions.

Keywords: Sustainability, Ecotourism, Biodiversity, Tourism, Ecotourism.

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3.1. Introdução

A aréa de estudo deste trabalho compreende o Parque Nacional de Ilha Grande e as

comunidades ribeirinhas do entorno, pertencentes à área de amortecimento do parque.

Na elaboração deste trabalho, foram realizados diversos estudos, tais como o histórico

de criação do Parque, características ambientais (físicas e biológicas), características sócio-

culturais, processo de ocupação regional e atividades econômicas atuais. Com o intuito de se

fundamentar a importância deste parque para a comunidade local em diversos aspectos, dentre

eles, mostrando que se faz necessária a prática do ecoturismo, como um meio de se

desenvolver a atividade turística sustentável, em vez da atual, que é predatória.

3.2. Parque Nacional de Ilha Grande

O PNIG - Parque Nacional de Ilha Grande está localizado no rio Paraná, entre os

Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, nas coordenadas 53º41’09,2”W – 23º16’32”S e

54º16’21,7”W – 24º04’11,5”S (Figuras 11 e 12).

Capitais dos estados.

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Figura 11: Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande. Fonte: Brasil (2010).

Figura 12: Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande com os municípios abrangidos.

Fonte: Brasil (1997).

O Parque Nacional de Ilha Grande, se distribui por 11 municípios, distribuídos entre

os Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, sendo todos zonas de amortecimento. De acordo

com o artigo 2º, item do SNUC:

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Zonas de amortecimento correspondem ao entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade (BRASIL, 2002).

A Tabela 4 ilustra os municípios pertencentes a cada um dos Estados e sua área de

integração ao PNIG. A delimitação do PNIG aos municípios encontra-se ilustrada na Figura

13. A área total da zona de amortecimento corresponde a 241.803,12 ha, excluíndo a área do

PNIG, e seu perímetro é de 356.358,63 ha.

Tabela 4: Área de ocupação dos municípios que compõem o PNIG.

ZONAS DE AMORTECIMENTO

ESTADOS MUNICÍPIOS PERCENTUAL DA ZONA DE

AMORTECIMENTO NO MUNICÍPIO

Terra Roxa 0,35%

Guairá 5,72%

São Jorge do Patrocínio 20,16%

Altônia 17,59%

Alto Paraíso 29,56%

Icaraíma 1,90%

Paraná

Querência do Norte 0,13%

Novo Mundo 7,43%

Eldorado 3,47%

Itaquiraí 3,78%

Mato Grosso do Sul

Naviraí 9,91%

Page 49: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 13: Mapa de delimitação da zona de amortecimento do PNIG. Adaptado de (BRASIL, 2009).

Page 50: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A sede do parque localiza-se no município de Guaíra, ou seja, fora de seus limites. O

acesso à sede pode ser realizado por via terrestre ou fluvial.

A vegetação do parque é classificada como Floresta Estacional Semidecidual,

constituí-se de extensas várzeas e pântanos associados ao rio Paraná, com fitofisionomia

predominante herbácea, denominadas Formações Pioneiras de Inflluência Fluvio-Lacustre

(MAACK, 1981). É o único trecho do rio Paraná no Brasil que possui o seu ecossistema

equilibrado.

O parque engloba cerca de 0,5% da área da bacia hidrográfica do rio Paraná. No seu

interior, se encontram diversas lagoas que são utilizadas para a reprodução e o

desenvolvimento da ictiofauna da bacia do rio. Dentro de seus limites, também são

encontrados ambientes extremamente frágeis frente às atividades antrópicas.

3.3. Histórico de criação do parque

O parque recebeu o nome de Ilha Grande por se tratar da maior ilha de todo o

arquipélago que protege. Possui 90 km de extensão por 5,5 km (média) de largura, chegando

a 9 km no ponto mais largo.

A partir de 1991, diversas propostas começaram a ser apresentadas ao governo federal,

e, através do Decreto nº 4.464/94, foi criada a Estação Ecológica Estadual de Ilha Grande com

28.368,00 ha. A criação desta estação ecológica partiu de uma ação voluntária e conjunta de

alguns municípios: Alto Paraíso, São Jorge do Patrocínio, Guaíra, Altônia e Icaraíma. Em

1994, também foi criada a APA- Área de Proteção Ambiental de Ilhas e Várzeas do rio

Paraná, com 1.003.059,00 ha.

Paralelamente, em 1987, pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM)

e técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) propuseram o reconhecimento pela

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, de Reserva da

Biosfera, além de proporem ao governo federal a criação do PNIG.

Através de decreto presidencial de 30 de setembro de 1997, foi efetivado o Parque

Nacional de Ilha Grande. A criação do parque trata-se de uma ação compensatória aos

grandes impactos ocasionados ao rio Paraná e região pelas usinas hidrelétricas, como

exemplo a imersão do Parque Nacional de Sete Quedas em 1982, pela construção do lago da

Usina Hidrelétrica de Itaipu. Outra ação compensatória é a obra rodoviária-fluvial do

complexo de pontes “Luiz Eduardo Magalhães”, que liga os Estados do Paraná e do Mato

Page 51: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Grosso do Sul, através dos municípios paranaenses de Icaraíma e Alto Paraíso aos municípios

de Itaquiraí e Naviraí, no Estado do Mato Grosso do Sul.

3.4. Caracterização ambiental

O parque está localizado na região noroeste do Paraná e é formado por um arquipélago

com inúmeras ilhas, que se associam a pântanos, várzeas e planícies de inundação do rio

Paraná.

3.4.1. Aspectos físicos

3.4.1.1.Clima

De acordo com Maack (1981), o clima na região do parque é subtropical úmido

mesotérmico, que indica um clima com verões quentes, geadas pouco frequentes, e tendências

de chuva entre os meses de dezembro e março. A precipitação pluviométrica média anual é de

1.200 a 1.400 mm. A umidade relativa anual é de 75% a 80%. E sua altitude está entre

200 e 220 m.

3.4.1.2. Geologia e geomorfologia

A região do Parque Nacional de Ilha Grande localiza-se, geologicamente, sobre

sedimentos cretáceos da Bacia do Paraná, na porção sul da Plataforma Continental Sul-

Americana. A configuração da bacia hidrográfica do rio Paraná foi imposta pelo soerguimento

das Serra do Mar, da Mantiqueira, da Canastra e do Caiapó (SOUZA-FILHO; STEVAUX,

1997).

A geomorfologia atual é decorrente da ação do clima associada à geologia local,

formada por rochas sedimentares e sedimentos fluviais. A região se localiza no Terceiro

Planalto, região morfologicamente homogênea. Nesta porção do Terceiro Planalto encontra-se

o Grupo Caiuá, constítuido por arenitos eólicos, que se depositaram sobre os derrames de

basalto (SUGUIO, 2003), e deu origem a solos com baixo teor de argila, com baixa

ocorrência de minerais pesados e textura arenosa.

Page 52: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

O PNIG é formado por um arquipélago fluvial, com centenas de ilhas planas, que teve

origem há aproximadamente 8.000 anos, durante uma época de alta pluviosidade do período

Quaternário (STEVAUX et al., 1997 apud CAMPOS, 1999). Estas ilhas continuam em

regime de mudança, através dos processos naturais de erosão, de transporte e deposição de

sedimentos. Tais processos estão interligados com a própria dinâmica do rio Paraná, que

possui diversos canais de padrão anastomosado, além de enfrentar períodos de cheias e

vazantes, formando novas ilhas, modificando as existentes, abrindo e fechando canais.

Algumas regiões, como a Ilha Grande, Bandeirantes, Peruzzi e Pavão, estão

localizadas nas partes mais baixas e permanecem constantemente com seus interiores

alagados. Sob as mesmas, foram se formando camadas de matéria orgânica originária da

vegetação local. Essa grande e extensa área de massa orgânica não se decompõe facilmente

devido à falta de oxigênio, já que estes locais se encontram submersos. Dessa forma, origina-

se o solo orgânico, que é essencial para a manutenção da biodiversidade local, além de

diminuir os impactos das grandes cheias, visto que exerce a função de reter água durante as

enchentes e ir liberando-a gradualmente durante os períodos de seca (Figura 14).

Figura 14: Foto da Ilha Grande no período pós-enchente. Fonte: Brasil (2009).

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Os paredões de Arenito corresponde à superfície vertical exposta dos depósitos

Arenito Caiuá, presente em toda a região. São constituídos por camadas de arenitos finos e

médios, argilosos, de cor cinza-avermelhado, com laminação plano-paralela e estratificação

cruzada acanalada e sigmoidal no contato inferior. Também é intercalado por horizontes

síltico-arenosos de coloração castanho-avermelhada (ICMBIO, 2009).

Os paredões possuem de 10 a 20 m de altura. Os locais mais representativos são o

Paredão das Araras, com 3 km de extensão, e o Paredão da Mata do Bugio, com cerca de 700

m. O acesso é por meio fluvial (rio Paraná), partindo de Porto Figueira ou Porto Camargo

(Figura 15).

Localizado na encosta do rio Paraná, junto à diversidade de flora e ave-fauna, com

destaque para a eventual presença das Araras Azuis (espécie em extinção).

Figura 15: Foto do Arenito do Paredão das Araras.

3.4.1.3. Solo

De acordo com Maack (1981), os solos na região incluem os seguintes tipos:

• Argissolo Vermelho: constituído por material mineral, que tem como característica a

argila de baixa atividade;

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• Latossolo Vermelho: Trata-se de solos profundo, poroso, macio, friável e muito

permeável. Apresenta-se com grande quantidade de óxido de ferro e elevados índices

de acidez;

• Nitossolo Vermelho: constituído de material mineral, com argila de atividade baixa.

São profundos, bem drenados, de coloração vermelha e presença de óxido de ferro; e

• Planissolo Hidromórfico: ocorre em lugares alagados, de clima úmido. Quando

drenado, apresenta-se fértil e propício ao cultivo.

3.4.2. Aspectos biológicos

3.4.2.1. Vegetação

Maack (1981) adotou a tipologia florestal para a área atual do PNIG, como sendo uma

região pantanosa e de campos de inundação do rio Paraná. A classificação proposta por

Veloso e Góes-Filho (1982) é de que o parque está localizado em uma região de Floresta

Estacional Semidecidual aluvial (Figura 16), caracterizada pela vegetação arbórea, que perde

suas folhas nas estações desfavoráveis.

Campos e Souza (1997) agruparam a formação florestal em três tipos distintos:

- Agrupamentos situados sobre solos altamente hidromórficos. Exemplos de

espécies: guanandi (Calophyllum brasilientes), ingá (Inga affinis) e embaúba

(Cecropia pachystachya);

- Agrupamentos situados em áreas mais enxutas e melhor drenadas. Exemplos de

espécies: almécega (Protium heptaphyllum) e mutambo (Guazuma ulmifolia); e

- Agrupamentos situados em áreas de diques marginais. Exemplos de especíes:

pateiro (Sloania guianensis), pau-d’alho (Gallesia integrifolia) e figueira-branca

(Ficus obtosiuscula).

Este último tipo de agrupamento foi o que sofreu maior modificação antrópica, por se

localizar em área mais alta e com menos inundações.

De acordo com Paraná/Sema (1995), dentro do Parque já foram catálogadas 10

espécies em extinção no Estado do Paraná, como a pindaíba (Xylopia aromatica) e o jatobá

(Hymenaea), assim como também algumas novas espécies, como a Pontederia parviflora

(Pontederiaceae) e mimosa (Mimosaceae).

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Figura 16: Foto da representação da mata Floresta Estacional Semidecidual aluvial no PNIG. Fonte: ICMBIO (2009).

3.4.2.2. Fauna

Trata-se zoogeograficamente da fauna tropical e subtropical da América do Sul,

caracterizando-se por inúmeras espécies e indivíduos (CAMPOS; COSTA-FILHO;

PALMEIRA, 1994). Em geral, são animais que vivem em áreas de várzeas, ressaltando-se o

cervo do Pantanal (Blastocerus dychotomus), a capivara (Hichochaeris) e o jacaré de papo

amarelo (Caiman latirostris).

Como espécies de aves apresentam-se o macuco (Tinamus solitarius) e o bicudo

(Oryzoborius maximiliani). Entre os mamíferos destacam-se a onça pintada (Panthera onca),

sussuarana (Puma concolor), cateto (Tayassy tajacu), cachorro do mato (Cerdocyon thous),

bugio (Alouatha caraya), dentre outros (AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1996).

A geomorfologia do rio propicia o desenvolvimento da comunidade de

macroinvertebrados bentônicos, que são fundamentais para a manutenção da biodiversidade

(AGOSTINHO, 2007). Os macroinvertebrados são fonte de alimentação para peixes,

constituem indicadores ambientais, auxiliam no fluxo de energia, na produtividade primária e

na decomposição da matéria orgânica (WALLACE; WEBESTER, 1996).

Page 56: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A diversidade ictiofaunística da região apresenta cerca de 170 espécies e é dividida

em formas residentes, que desenvolvem o ciclo de vida na área; e migratórias, que utilizam

apenas a calha do rio para concluir as migrações reprodutivas, assim como a planície de

inundação para a sua reprodução ou desenvolvimento inicial (AGOSTINHO; ZALEWSKI,

1996). Na região, a pesca é baseada nos peixes migratórios como o jaú (Paulicea luetkeni) e o

pintado (Pseudoplatystoma corruscans).

3.5. A importância do PNIG para o Sistema Aquífero Guarani

Aquífero é uma unidade estratiforme subsuperficial, cujos vazios e poros intersticiais

estão completamente saturados de água, que pode ser extraída através de um poço profundo

ou de cisternas (SUGUIO, 1998).

No Brasil, a formação do SAG – Sistema Aquífero Guarani ocorreu entre os períodos

Triássico e Cretáceo Inferior. As espessuras variam de 50 a 800 m, e podem estar a mais de

1.800 m de profundidade, a partir da superfície na área correspondente ao oeste do Estado de

São Paulo, o que contribui com a boa qualidade da água (BRASIL, 2008).

O SAG é uma unidade hidrogeológica na porção meridional da América Sul e se

estende por quatro países: Brasil (840 mil km²), Paraguai (71,7 mil km²), Argentina (225,5

mil km²) e Uruguai (58,5 km²), totalizando cerca de 1,2 milhões de km² (Figura 17):

Figura 17: Mapa de localização do Aquífero Guarani. Fonte: (BRASIL, 2009).

Page 57: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

O SAG é constituído pelos arenitos continentais mesozóicos, confinados entre as

rochas basálticas cretáceas (Formação Serra Geral e equivalente) e a discordância

permoeotriássica, desenvolvidas nas bacias do Paraná e Chacoparanaense (OEA/GEF, 2009),

conforme mostrado no perfil geológico (Figura 18).

Figura 18: Perfil geológico simplificado do SAG, com direção leste-oeste na porção norte da Bacia Sedimentar do Paraná. Fonte: OEA/GEF (2009).

O SAG é formado por rochas com excelente condutividade hidráulica (média 1 m/d

até 4 m/d), mas com fluxos bastante lentos, águas de idade elevada, propiciadas por um baixo

gradiente hidráulico (0,001 m/m) e reduzida velocidade de circulação (OEA/GEF, 2009). Em

geral, a água é potável, podendo apresentar, em áreas específicas, excessos de flúor,

salinidade e arsênio.

No Brasil, foi criado o PNAS - Programa Nacional de Águas Subterrâneas, que propõe

algumas medidas para a conservação e manutenção do aquífero. Dentre elas, encontram-se,

como sendo prioritárias, a ampliação do conhecimento hidrogeológico básico, o

desenvolvimento dos aspectos institucionais e legais, e a capacitação, comunicação e

mobilização social.

O princípio da utilização sustentável encontra-se em todo o seu plano, tendo como

premissa o conhecimento das suas reservas, a manutenção da qualidade da água e a orientação

de seu consumo atual e para o futuro, assim como a participação de toda a sociedade, visto

que o aquífero é bastante vulnerável à contaminação antrópica.

A manutenção da cobertura florestal é de suma importância para a renovação dos

recursos aquíferos. Além de priorizar a vegetação nativa, as unidades de preservação podem

Page 58: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

prevenir a contaminação do aquífero por agrotóxicos ou poluição doméstica nos pontos onde

ele aflora. O Parque Nacional de Ilha Grande passa a ser, portanto, um importante agente

conservador do Aquifero Guarani, onde ambos podem ter o seu desenvolvimento sustentável,

trazendo benefícios um ao outro.

3.6. O Parque Nacional de Ilha Grande e o rio Paraná

O rio Paraná nasce da confluência de dois importantes rios brasileiros: o Grande e o

Paranaíba. Sua foz se dá no estatuário do rio da Prata, nas proximidades de Buenos Aires,

após percorrer 3.800 km e drenar uma área de 2.800.000 km², com uma descarga média em

sua foz de 18.000 m³/s. Em termos de descarga, o rio Paraná é considerado o décimo maior do

mundo, e a quarta maior bacia de drenagem mundial, assim como a segunda maior da

América do Sul (LATRUBESSE; STEVAUX; SINHA, 2005).

A planície do rio Paraná, em certos trechos, pode atingir 20 km de largura,

apresentando numerosos canais secundários e lagoas. A área compreendida entre as barragens

de Itaipu e Porto Primavera constitui um trecho que se encontra em plenas condições naturais

(AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1996).

Mais cinco rios completam o sistema hidrológico do rio Paraná: Paranapanema,

Amambaí, Ivinhema, Ivaí, Piquiri e Iguatemi.

Nesta região, encontram-se diversos tipos de ambientes de áreas úmidas, tais como

pântanos, várzeas, lagos e lagoas. Em relação às lagoas formadas sobre as planícies de

inundação, somam uma área de aproximadamente 1.230,00 ha, e possuem, em geral, formas

alongadas. Em sua maioria, são formadas devido aos paleocanais fluviais do canal principal.

As lagoas são importantes para a preservação das espécies locais, como os peixes e pássaros.

De acordo com Campos (1999), as ilhas e as demais áreas do parque encontram-se

situadas entre 1 e 2 metros acima do nível do rio, ficando sujeitas a inundações periódicas.

Nesses ambientes, ocorre talvez, a mais forte interação e relação de dependência entre os três

principais componentes do meio físico (solo, água e ar) com o componente biótico.

Depósitos fluviais recentes também podem ser distinguidos na região do PNIG: os

depósitos de barra (Figura 19), que são formadas nos períodos de vazão baixa, e os depósitos

de fundo, que se encontram permanentemente submersos. Ambos constituem vários tipos de

ambientes, essenciais para a manutenção da biota.

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Figura 19: Foto da praia do Pacarai – depósitos de barra formados em período de vazão baixa. Fonte: ICMBIO (2009).

Ao longo do rio Paraná e seus tributários (Figura 20), foram construídas diversas

barragens. O parque está inserido entre duas a montante e uma a jusante, que são:

Usina hidrelétrica Engenheiro Sérgio Mota – UHE Porto Primavera: é considerada a

segunda maior usina hidrelétrica do Estado de São Paulo. Está localizada no rio Paraná, a 28

km da foz do rio Paranapanema, e possui a barragem mais extensa do país, com 10.186,20 m

de comprimento; seu reservatório possui 2.250 km² (ICMBIO, 2009).

Usina hidrelétrica Rosana – UHE Rosana: está localizada entre os municípios de

Rosana, no Estado de São Paulo, e Diamante do Norte, no Paraná. Seu reservatório possui

atualmente 220 km².

Usina hidrelétrica de Itaipu: é a maior usina hidrelétrica em funcionamento do mundo,

e está localizada a jusante do parque. Seu reservatório possui 151 km de comprimento e 6 km

de largura média, abrangendo 16 municípios em território brasileiro.

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Figura 20: Mapa de localização das barragens na Bacia do Tietê-Paraná. Fonte: ANA – Agência Nacional das Águas (2008).

A construção das diversas usinas hidrelétricas ocasionou mudanças na dinâmica do rio

Paraná e seus tributários. Para Pelicice; Agostinho e Gomes (2005), a construção da UHE

Porto Primavera, concluída em 1998, tem promovido os mais relevantes impactos no

ecossistema. Tem-se controlado a vazão do rio Paraná, o que impacta diretamente na fauna de

peixes e nos recursos aquáticos da região. A única área que se encontra em plenas condições

naturais corresponde à área compreendida entre as barragens de Itaipu e Porto Primavera

(AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1996).

3.7. Reserva da Biosfera

A UNESCO criou, em 1971, o programa “O Homem e a Biosfera (MaB)”. Este

programa é um instrumento de planejamento estratégico, capaz de integrar as necessidades de

conservação da natureza ao uso dos recursos pelas comunidades locais.

Page 61: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Tal programa visa a cooperação científica internacional, que trata das interações do

homem e o seu meio, e tem como objetivo criar uma rede mundial para proteger áreas

expressivas da biosfera. Estuda também os mecanismos desta convivência em todas as

situações bioclimáticas e geográficas e as repercusões das ações humanas sobre os

ecossistemas mais representativos do planeta. Trata-se de um modelo de gestão integrada,

participativa e sustentável dos recursos naturais, que tem por objetivos básicos a preservação

da biodiversidade e o desenvolvimento das atividades de pesquisa científica, para aprofundar

o conhecimento dessa diversidade biológica, o monitoramento ambiental, a educação

ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vidas das populações

(UNESCO, 2004).

No Brasil, foi criada, através do Decreto nº 3.179 de 21 de setembro de 1999, a

comissão brasileira para o gerenciamento interno do programa “O Homem e a Biosfera”,

chamada de COBRAMAB.

De acordo com a UNESCO, atualmente, existem 499 reservas da biosfera, localizadas

em 110 países (UNESCO, 2004). No Brasil, são reconhecidas seis reservas da biosfera: a da

Mata Atlântica, do Cerrado, do Pantanal, Corredor Central Amazônico, da Caatinga e Serra

do Espinhaço.

3.7.1. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

A reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) teve a sua área reconhecida pela

UNESCO em cinco fases sucessivas entre 1991 e 2002. A Mata Atlântica foi a primeira

unidade reconhecida no Brasil. É a maior reserva em área florestada no planeta, com cerca de

30 milhões de hectares; inclui todos os tipos de formações florestais e outros ecossistemas

terrestres e marinhos, que compõem o DMA - Domínio da Mata Atlântica, bem como os

principais remanescentes florestais da maioria das unidades de conservação da Mata Atlântica

em 16 estados brasileiros (BRASIL, 2009) .

A reserva da Biosfera da Mata Atlântica é dividida em três zonas a seguir:

Zona núcleo: função de promover a conservação da biodiversidade, e onde só admitem

atividades de baixíssimo impacto, como educação ambiental e pesquisa científica.

Zona tampão ou de amortecimento: circundante à zona núcleo, só se permite

atividades de baixo impacto, relacionadas aos objetivos de conservação, como ecoturismo,

educação ambiental e práticas ecológicas.

Page 62: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Zona de transição: áreas onde se pode praticar atividades econômicas sustentáveis para

auxiliar no desenvolvimento socioeconômico da reserva.

3.7.2. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Mato Grosso do Sul

No Estado do Mato Grosso do Sul, esta reserva foi reconhecida em 2002, sendo

composta por:

Zona núcleo: corresponde a 0,5% da RBMA e é constituida por quatro unidades de

conservação: Parque Nacional da Serra da Bodoquena, Parque Nacional de Ilha Grande,

Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema e Monumento Natural Gruta do Lago Azul.

Zona tampão ou de amortecimento: corresponde a 3,4% da RBMA, e é constituída

basicamente pela APA – Área de Proteção Ambiental das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Zona de transição: localizadas na região dos rios Ivinhema, Amambaí e Iguatemi.

3.7.3. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Paraná

No Estado do Paraná, esta reserva foi formalizada em 1991, na primeira fase de

reconhecimento. A região foi subdividida nas seguintes zonas:

Zona núcleo: corresponde a 0,92% da RBMA e é formada pelas seguintes unidades de

conservação: Parque Estadual das Araucárias, Parque Estadual Bosque das Araucárias, Parque

Nacional do Iguaçu, Serra do Tigre, Floresta Estadual de Santana, Reserva Florestal Estadual

de Pinhão, Estação Ecológica Rio dos Touros, Parque Estadual Rio Guarani, Parque Nacional

de Ilha Grande e Estação Ecológica de Caiuá.

Zona tampão ou de amortecimento e Zona de transição: se encontram em processo de

reconhecimento.

3.7.4. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e o PNIG

O Parque Nacional de Ilha Grande tem um importante papel na RBMA, uma vez que

corresponde à zona núcleo da reserva, o que propicia maior notoriedade internacional, abrindo

Page 63: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

possibilidades de maior investimento, mobilizações político-institucionais, intercâmbios,

dentre outros.

No Estado do Mato Grosso do Sul, o parque corresponde a 17% da Zona Núcleo; com

relação ao Estado do Paraná, corresponde a 40%. No total, o PNIG contribui com 27% do

RBMA.

3.8. Sítios históricos e arqueológicos

Diversos estudos arqueológicos já foram realizados no Alto rio Paraná. Uma das

maiores pesquisas foi realizada por Juan B. Abrossetti no final do século XIX, sendo que

grande parte das peças localizadas se encontram em exposição no Museo de la Plata, na

Argentina.

Em quase todas as pesquisas, os vestígios arqueológicos foram localizados nas

margens dos rios que compõem a Bacia do rio Paraná, devido à expansão das frentes

colonizadoras na região. Como exemplo de objetos encontrados podem ser citados:

recipientes cerâmicos (tradição Tupi-guarani), urnas funérarias, artefatos de pedra lascada e

polida (tradição Humaitá), objetos de resina vegetal e osso (tradição Payaguá), e estruturas de

combustão ou fornos.

De acordo com Chmyz et al. (1991), diversos sítios arqueológicos puderam ser

datados e os remanescentes estão entre 6.135 a.C. e 1959 d.C. Os sítios arqueológicos são de

alta relevância para o estudo histórico da região.

3.9. Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços – ICMS Ecológico

O Paraná foi o primeiro Estado a adotar o ICMS Ecológico. Tem direito a receber este

benefício os municípios que possuem unidades de conservação federal, estadual ou municipal,

de domínio público ou privado, ou que tenham como preservar mananciais de abastecimento

para os municípios vizinhos. São destinados 5% dos recursos financeiros do ICMS, de acordo

com o critério ambiental, e esta conquista teve a participação efetiva dos municípios e dos

orgãos públicos (LOUREIRO; OLIVEIRA, 1998). Manter a conservação da biodiversidade é

o objetivo central deste tributo fiscal, que acaba impactando positivamente as finanças

Page 64: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

municipais e propiciando recursos financeiros para serem aplicados a projetos de conservação

e preservação ambiental.

Os onze municípios do entorno do parque recebem este ICMS. O valor é determinado

de acordo com a extensão da área de conservação, da extensão do município, da categoria de

manejo e da fiscalização aplicada à área.

O ICMS Ecológico trata-se de uma experiência bem sucedida e vários outros Estados

também adotaram esta política, como: Minas Gerais, Rondônia e Rio Grande do Sul

(LOUREIRO; OLIVEIRA, 1998).

3.10. Uso e ocupação da terra e os problemas ambientais decorrentes

Em toda a zona de amortecimento do PNIG, os ambientes florestais se encontram

bastante degradados, devido à interferência antrópica, como as práticas agropecuárias

realizadas nas várzeas do rio, que não respeitam as leis. Os poucos remanecentes florestais

não apresentam mais suas características originais, e as matas ciliares também são

praticamente inexistentes.

Diversas atividades são praticadas irregularmente não só nas zonas de amortecimento,

como também na zona núcleo, ou seja, dentro do próprio parque. As atividades econômicas

são proibidas dentro do parque, porém a falta de fiscalização e de mobilização política e

social faz com que muitas atividades ainda sejam praticadas.

3.11. Ocupação no Parque Nacional de Ilha Grande

Godoy (2001) realizou estudos sobre a ocupação na região do Parque Nacional de Ilha

Grande, desde o seu desenvolvimento até o presente momento. A autora identificou que a

ocupação de Ilha Grande ocorreu no final dos anos de 1940, e que, nos anos compreendidos

entre 1976 e 1978, ocorreram enchentes com graves consequências sociais. A grande maioria

das famílias foi abrigada no continente, porém muitas não se adaptaram ao custo de vida mais

alto (água, energia elétrica, facilidades, dentre outros) e retornaram à ilha.

Do ponto de vista ambiental, a ocupação na região ocorrreu de forma desordenada.

Com a criação do parque, em 1997, determinou-se a desapropriação e migrações das

populações em seu território (zona núcleo). Diversas famílias que exerciam atividades

Page 65: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

variadas, tais como pecuaristas, sericultores, apicultores, tiveram que abandonar as ilhas. Os

ilheús do Estado do Mato Grosso do Sul receberam indenizações e deixaram os locais, porém

os ilheús do Estado do Paraná, até o presente momento, não receberam nenhum tipo de

indenização, portanto, muitos até deixaram suas famílias residindo no continente, mas o chefe

da família retornou à ilha para o aguardo da indenização, e continuam a desenvolver suas

atividades. Além das desapropriações, a criação do parque impôs alterações no seu uso

econômico, que passou a ser restrito, porém, na prática, não ocorre de tal maneira.

De acordo com a análise econômica de Godoy (2001), 90% das pessoas que residiam

na Ilha Grande, desenvolviam suas atividades econômicas dentro da própria ilha. Todos os

aposentados da ilha exerciam alguma atividade (caseiros, pescadores, barqueiros, dentre

outros). Os 10% que trabalhavam fora da ilha, exerciam as profissões de bóia-fria,

professores, barqueiros, empregadas domésticas e atividades não-especializadas. A mesma

autora confirma que alguns municipios, como Querência do Norte, fornecem o transporte

fluvial de ida/volta para as crianças em idade escolar.

3.12. Atividades econômicas de impacto

As principais atividades econômicas desenvolvidas na região do PNIG são a

agricultura (incluindo a familiar) e a pecuária. Como atividades secundária, tem-se a extração

de areia, a pesca, e a apicultura.

Seeliger; Cordazzo e Barbosa (2002) expuseram que as atividades antrópicas exercidas

diretamente na área de várzea e com maiores impactos são as relacionadas à pecuária. O uso

das ilhas para a criação de gado ocorre durante o período de águas baixas, quando

fazendeiros da região encontram dificuldades na manutenção do gado em suas pastagens. O

pisoteio do gado na ilha, ocasiona a compactação do solo, a erosão das margens e a destruição

da vegetação arbórea emergente, o que pode ser agravado com o desmatamento e incêndios.

A agricultura na zona de amortecimento, com a prática de culturas convencionais,

utiliza agrotóxicos, que causam a contaminação do solo e da água, além da perda da cobertura

vegetal, impermeabilização e erosão do solo, queimadas, embalagens de agrotóxicos que

ficam expostas a céu aberto aguardando a recolha ou que são enterradas no solo.

A Figura 21 retrata a atividade agropecuária nas várzeas do rio Paraná e seus

problemas decorrentes como a degradação do solo e a erosão.

Page 66: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 21: Área de pastagem em várzeas do rio Paraná. Fonte: ICMBIO (2009).

O cultivo do ginseng-brasileiro (Pfaffia glomerata) é uma atividade de alto impacto

ambiental, devido ao sua forma de coleita, que é a base de queimada. Esta atividade já se

encontra proibida em alguns municípios. O ginseng desperta o interesse farmacêutico devido

a suas propriedades medicinais. Suspeita-se que a coleta dessa erva tenha ocasionado grande

parte dos incêndios no Parque Nacional de Ilha de Grande. De acordo com Instituto Chico

Mendes da Biodiversidade (ICMBIO), entre 1998 e 2003, foram observados 52 incêndios

nesta unidade de conservação, com aproximadamente 124.854,50 ha de área devastada. A

Figura 22 demonstra a várzea do rio Paraná destruída, após sofrer um incêndio no ano de

2002.

Figura 22: Foto da várzea do rio Paraná após incêndio ocorrido em 2002. Fonte: ICMBIO (2009).

Page 67: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

No interior do parque, encontra-se a prática da apicultura, extração de argila e areia,

dentre outras atividades, que geram o desmatamento, regiões de clareiras, cercas dividindo o

território, dentre outros.

A mineração de areia é restrita ao canal principal do rio Paraná, mas gera impactos

relevantes sobre a vegetação marginal e nos hábitats da calha do rio (SEELIGER;

CORDAZZO; BARBOSA, 2002). Desde a criação do PNIG, esta atividade tornou-se ilegal se

a empresa não possuir licença, vistorias obrigatórias, e se atuar fora dos pontos estabelecidos

(Figura 23).

Outra atividade tradicional é a pesca profissional, que é realizada de forma artesanal,

apresentando baixa produtividade e baixo investimento. A pesca, atualmente, pode ser

praticada em qualquer parte do rio Paraná, apenas não pode ser realizada no período proibido

pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis – IBAMA, correspondente

à Piracema.

Os critérios para o período da piracema variam de acordo com a bacia hidrográfica.

Para a do Paraná, com abrangência nos Estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul,

São Paulo e Paraná, o período é, para todos os anos, do dia 1/11 ao dia 28/02. A cota para

captura é estipulada em dez (10) kg e um (1) exemplar de espécies não nativas. Permite-se a

pesca nos rios e reservatórios da bacia, utilizando linha de mão ou vara com anzol, molinete

ou carretilha, com iscas naturais ou artificiais. É proibida a pesca em lagoas marginais,

captura de espécies nativas e a pesca subaquática (LEGISLAÇÃO PESQUEIRA, 2009).

A prática destas e outras atividades irregulares fazem com que se torne ineficiente o

plano de manejo do parque.

Figura 23: Foto de barco de extração de areia ao lado da Ilha Bandeirantes.

Page 68: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

3.13. Plano de manejo

O plano de manejo do Parque Nacional de Ilha Grande levou sete anos para ser

preparado por completo. Tal plano foi apresentado em dezembro de 2008, tendo sido

desenvolvido de acordo com o SNUC, como determina no Art. 2º - XVII:

Plano de manejo é um documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação de estruturas físicas necessárias à gestão da unidade (BRASIL, 2002).

O plano de manejo do PNIG tem como objetivo nortear uma série de normas e

procedimentos para a utilização do parque até o ano de 2013. E já está sendo discutido pelos

municípios e pelos orgãos responsáveis, e reuniões periódicas também estão sendo realizadas

com os representantes de cada localidade.

Alguns dos objetivos do plano de manejo do PNIG são:

- Preservar e restaurar os ecossistemas naturais, assim como especíes da fauna e da

flora;

- Proteger as paisagens de beleza cênica, tais como lagoas e meandros, áreas de

várzeas, e os sítios arqueológicos;

- Desenvolver atividades de educação ambiental;

- Proporcionar meios e incentivos às pesquisas científicas;

- Favorecer as práticas do turismo sustentável; e

- Contribuir com o desenvolvimento regional.

O plano sugere uma série de ações, dentre as principais pode-se citar:

- Programa de operacionalização para garantir o funcionamento do parque em

relação à administração, fiscalização, controle e manutenção e conservação do

ecossistema local;

- Medidas para combate a incêndios, tais como torres de observações nos

munícipios, vigilância móvel e equipamentos necessários;

- Programa de proteção e manejo: ações voltadas para conservar o patrimônio

natural e histórico cultural do parque; e

- Programa de educação e divulgação ambiental: a ser administrado em toda a

comunidade.

Page 69: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

3.14. O alcance do turismo sustentável através da prática do ecoturismo

A atividade turística é um fenômeno extremamente subjetivo e intangível, uma vez

que envolve sonhos, desejos e aspirações, ou seja, sentimentos inerentes a cada ser.

Caracteriza-se como atividade turística o deslocamento, o tempo e um destino, tornando-se

uma atividade complexa que engloba diversos aspectos da sociedade.

De La Torre (1992) definiu turismo como:

Fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de individuos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa ou remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.

O termo “turismo sustentável” passou a ser utilizado a partir dos anos 80, quando os

envolvidos com o setor turístico começaram a considerar as implicações ao meio do turismo

de massa. Para Swarbrooke (2000), a abordagem do turismo sustentável reconhece a

importância da comunidade local, a forma como as pessoas são tratadas e o desejo de

maximizar os benefícios econômicos do turismo para essa comunidade.

O ecoturismo é um segmento da atividade turística que vem crescendo nas últimas

décadas. Tal prática deve ser entendida como uma atividade que respeita as capacidades de

carga dos meios de acolhimento, em termos naturais, culturais e sociais, com conservação dos

recursos locais, físicos e humanos, incluindo os de interesse turístico, diminuindo custos e

elevando benefícios, e, não menos importante, reduzindo as saídas de divisas (CAVACO,

1996).

No Brasil, o ecoturismo começou a ser desenvolvido a partir da década de 1990. Em

1994, a partir do reconhecimento preliminar de alguns atrativos e das potencialidades

presentes no país, foi elaborado, por um grupo formado pelos representantes dos orgãos

públicos envolvidos com o turismo e meio ambiente, um documento intitulado “Diretrizes

para uma Política Nacional de Ecoturismo”. No referido documento, define-se “ecoturismo”

como:

Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a conservação e busca a formação de uma consciência em ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas (EMBRATUR, 2002).

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De acordo com Bullón (2000), existem quatro condições necessárias para a existência

do ecoturismo. Essas condições são enumeradas como:

1. Uma área natural protegida onde haja biomas de interesse turístico. 2. Um sistema administrativo que estipule os tipos de visita e instrua os

turistas sobre as características do que vão visitar. 3. Uma experiência satisfatória do usuário quanto a qualidade do

ecossistema visitado e do conhecimento de suas características distintas. 4. Uma exploração turística dos ecossistemas que seja atraente, com a

condição de que não coloque em perigo as bases de seu funcionamento.

Os ambientes naturais constituem, portanto, a base para o ecoturismo, mas embora

parques e demais áreas protegidas sejam essenciais para a conservação da biodiversidade, a

maioria está sob forte pressão. Sendo assim, o ecoturismo pode representar alternativa

essencial para o desenvolviemtno do entorno (BRANDON, 1996). Como atividade econômica

de baixo impacto, se bem planejada, o ecoturismo pode funcionar também como veículo de

conservação ambiental e inclusão social.

3.15. Atividades turísticas atuais no Parque Nacional de Ilha Grande

A atividade turística no Parque ainda não foi regulamentada, devido ao processo de

implantação do plano de manejo. Atualmente, é realizado um turismo predatório, com visitas

desordenadas, sem respeito aos princípios do ecoturismo.

Agências de viagens e hotéis da região realizam passeios pelas ilhas, visitas a lagoas,

praias, paredões de arenito, esportes nos rios e lagoas, trilhas a pé e com motocicletas, dentre

muitas outras. Essas atividades ocasionam um forte impacto no ambiente devido à circulação

de pessoas e de veículos, lixo abandonado, poluição hídrica e do solo através de combustível,

óleos e graxas.

O turismo também é praticado pelos próprios ilheús, que auxiliam os visitantes nos

campings improvisados, ou locam a própria residência em períodos de férias e feriados.

Diversas casas de veraneio também são mantidas nas ilhas (Figura 24), nas áreas de várzeas

(Figura 25), assim como clube de pesca.

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Figura 24: Foto de casas de veraneio em uma das ilhas que compõem o Parque Nacional de Ilha Grande.

Figura 25: Casas de veraneio em Porto Figueira – Alto Paraíso.

Page 72: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

3.16. Propostas para o ecoturismo através do diagnóstico ambiental

Perceptível a todos, o Parque Nacional de Ilha Grande é um dos responsáveis pela

conservação da biodiversidade local e apresenta, ainda, muitos desafios a serem superados.

Nestas circunstâncias, para o desenvolvimento do ecoturismo regional, é fundamental que as

políticas de turismo sejam totalmente eficazes e socialmente aceitas, e que o conceito de

responsabilidade seja compartilhado entre Estado e a comunidade, sendo parceiros com

objetivos comuns. Para este objetivo, Meneguel; Menezes e Stevaux (2009) afirmaram que se

deve levar em conta a participação efetiva da população local no planejamento e na gestão do

turismo, bem como as peculiaridades naturais e culturais que singularizam os lugares,

constituindo referenciais a serem incorporados em programas de estímulo ao

empreendedorismo e de capacitação profissional, destinados a segmentos da população local.

Somente assim, com a participação desses vários segmentos na discussão, decisão e direção de

projetos turísticos a serem implantados, o ecoturismo poderá ser desenvolvido

sustentavelmente.

De acordo com o roteiro metodológico de planejamento de Parques Nacionais e outras

categorias de UC – Unidades de Conservação (BRASIL, 2002), classifica-se o grau de

intervenção antrópica na área protegida através da seguinte divisão: zona intangível ou

primitiva (nenhuma ou baixa intervenção), zona de uso extensivo e histórico-cultural (média

intervenção) e zona de uso intensivo, uso especial, recuperação, uso conflitante, ocupação

temporária, superposição indígena e interferência experimental (alto grau de intervenção).

Para o PNIG pode-se classificar suas zonas, de acordo com o grau de intervenção

humana (Figura 26).

Primitiva Recuperação Conflitante Especial Extensivo Intensivo

Figura 26: Classificação das zonas de acordo com o grau de intervenção humana no ambiente do PNIG.

Page 73: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Nas zonas primitivas e de recuperação não devem ser desenvolvidas atividades

turísticas.

A zona de uso conflitante acaba se distinguindo das demais pelo fato de que seu uso já

vem sendo desenvolvido antes da criação do parque, porém, as atividades devem se adaptar às

normas do Parque, dessa forma, minimizando os efeitos negativos das atividades antrópicas.

Nestes locais, a atividade turística deve ser monitorada rigorosamente, seguindo os critérios de

capacidade de carga e manejo (Quadro 3).

Na zona de uso especial, deve ser desenvolvida toda a infraestrutura administrativa do

Parque. As atividades turísticas só poderão ser desenvolvidas com a monitoria de guias do

próprio parque (Quadro 3).

A atividade turística poderá ser desenvolvida e ter sua infraestrutura de apoio

(banheiros, lixeiras, dentre outros) na zona de uso extensivo, que possui a maior diversidade de

atrativos turísticos do PNIG. Além das áreas que podem propiciar atividades de educação,

contemplação e interpretação da natureza, existem seis sítios arqueológicos classificados como

tipo “Fase Tatuí”, que deverão, assim como as demais áreas, ter uma visitação de baixo

impacto e acompanhado a por guias regionais ou do próprio Parque. Embarcações a motor

deverão atracar apenas na lagoa Xambrê (Quadro 3).

A zona de uso intensivo é constituída por áreas naturais, mantidas o mais próximo

possível de suas condições originais. Diversas atividades turísticas podem ser implantadas

nesta região, além de toda infraestrutura para a recepção e orientação ao turista, tais como

centro de informações turísticas, centro receptivo dos visitantes, alojamentos, áreas de

recreação e descanso, eventuais pontos de comércio (lanchonetes, loja de souvenir), dentre

outros (Quadro 3).

Além de toda a biodiversidade local, cada um dos munícipios que compõem o PNIG

possuem também manifestações culturais como atrativos turísticos, além do potencial que

pode vir a ser desenvolvido. Em geral, as manifestações culturais, estão relacionadas ao rio

Paraná, visto que a relação das comunidades ribeirinhas com o rio é muito forte, tornando-se

parte do patrimônio.

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AMBIENTES NATURAIS E SUAS ÁREAS DE USO

ATRATIVOS TURÍSTICOS

Uso conflitante Uso especial Uso extensivo Uso intensivo

Lagoa Jatobá, Complexo de pontes "Luis Eduardo

Magalhães", Ilha do Bugio, Ilha Bandeirantes, Ilha Pacu e Ilhas Gêmeas.

Lagoa dos Padres, Lagoa Encantada, Lagoa do

Sossego, Ilha Grande Sul, Volta Redonda, Lagoa Saraiva e Ilha Grande

Norte.

Ilha Bandeirantes Sul, Ilha Peruzzi, Porto Figueira,

Paracaí, Lagoa Azul, Porto Morumbi, Pirajuí, Porto Byington Leste e Oeste,

Lagoa Saraiva Norte, Porto Santo Antonio, Piquiri Norte e Sul, Lagoa Ilha Grande Sul,

São João, Lagoa Xambrê, Lagoa Saraiva Sul e Ilha

Bandeirantes Norte.

Praia do Meião, Masuki e Praia das Gaivotas.

Quadro 3: Ambientes naturais e suas áreas de uso.

A pesca desportiva é uma das atividades turísticas que mais atrai demanda externa,

através dos seus diversos festivais, como a Festa da pesca ao Piauçu (Altônia), Itaquipesca

(Itaquiraí), Festa da pesca ao Pacu (Icaraíma), dentre outros.

Diversas festas culturais são realizadas pelos municípios ao longo do rio Paraná, e

atraem a população local e vizinha. Pode-se citar: Festa da Melancia (Eldorado/outubro),

Festa das Nações (maio)/Festa Nacional do Pintado na Telha (novembro)/Transparaná

(Guaíra/janeiro), Festa do Porto Natal (novembro)/Festa do Arroz (Querência do

Norte/agosto), dentre outras.

Na gastronomia local, destaca-se o prato de peixe “Pintado na telha” como iguaria

típica.

O artesanato na região é pouco expressivo, mas tem um grande potencial a ser

desenvolvido. De acordo com Meneguel; Menezes e Stevaux (2009), o município de Itaquiraí

– MS integra, por seu potencial natural e vocação ao turismo sustentável, que vem sendo

desenvolvido e praticado juntamente com a população local. A prefeitura local deu todo

suporte para as atividades do Grupo de Artesãs Milagre da Fibra, que busca a sua matéria

prima na folha da bananeira. Em alguns locais, também existe a produção da cerâmica

artesanal. É neste contexto, de um novo olhar para o ambiente local, que surge um novo

modelo econômico, um fator que fortalece o turismo sustentável local, que agrega valores à

comunidade e à preservação da biodiversidade e da geodiversidade.

Page 75: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Para a implantação e desenvolvimento das atividades turísticas no parque, serão

necessários o desenvolvimento e a implantação de diversas ações. Primeiramente, implantar o

plano de manejo que já foi elaborado, e providenciar a contratação de uma equipe de trabalho

suficiente para a cobertura do PNIG, assim como um corpo de trabalho devidamente

habilitado para o desempenho de suas funções. Também realizar parcerias com as

comunidades que englobam o entorno do parque, para a promoção da educação e da

interpretação ambiental, capacitando profissionalmente todos os envolvidos no processo, além

de implantar a devida infraestrutura para o funcionamento do parque de forma sustentável,

tais como: a sinalização (ainda inexistente), bases de apoio aos visitantes, coleta seletiva, base

de monitoramento contra incêndios, dentre outros.

3.17. Considerações finais

O Parque Nacional de Ilha Grande abrange uma das áreas de conservação mais

importantes do Brasil, visto preservar ecossistemas raros e que estão bastante degradados.

Além de proteger a única área livre de barragens no rio Paraná, configura um importante

componente dos corredores ecológicos, também conhecidos como corredores da

biodiversidade, reconhecido internacionalmente pela UNESCO.

Através de uma análise detalhada sobre os dados atuais do Parque Nacional de Ilha

Grande, é possível avaliar que o ambiente interno apresenta alguns pontos fracos, que

dificultam o cumprimento dos objetivos para os quais foi criado. Dentre estes principais

pontos fracos ressaltam-se: decreto de criação do parque com limites imprecisos; situação

fundiária não regularizada na totalidade; inexistência de um programa e equipe de proteção e

fiscalização no parque; assentamentos em áreas impróprias; uso desordenado de praias e

bancos de areia; suscetibilidade à recepção de poluentes internos e externos, tais como esgoto,

resíduos sólidos, agrotóxicos, fertilizantes, entre outros.

Mesmo com os diversos pontos fracos internos, se forem proporcionados mecanismos

de proteção e recuperação desse ecossistema, este poderá realizar o seu mais importante papel

ecológico, que é a manutenção do fluxo da biodiversidade.

A elaboração de um plano regional de turismo sustentável, direcionado

especificamente ao Parque Nacional de Ilha Grande, embasado em uma postura participativa e

descentralizada, se faz necessária para o sucesso da atividade como um todo. Será o início de

um processo de transformação inerente às atividades sócio-econômicas-culturais da região.

Page 76: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

3.18. Referências bibliográficas

AGOSTINHO, A. A. Qualidade dos hábitats e perspectivas para a conservação. In: VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N.S. A planície de inundação do alto rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: EDUEM, 2007. p. 455 – 460.

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ILHA DO BANANAL RIO ARAGUAIA

Instituto de Natureza do Tocantins (2010).

Page 81: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

4. SÍTIOS TURÍSTICOS FLUVIAIS NO BRASIL: ESTUDO DE CASO ALTO RIO PARANÁ

Cinthia Rolim de Albuquerque Meneguel; Mário Lincoln De Carlos Etcheberere CEPPE – Centro de Pós-Graduação e Pesquisa

Universidade Guarulhos (UnG) Rua Eng. Prestes Maia 88 – Centro

Guarulhos, São Paulo 07011-0880, Brazil [email protected] / [email protected]

RESUMO:

O presente trabalho teve como objetivo realizar uma breve abordagem sobre os meios

de transportes utilizados pela atividade turística, assim como uma pesquisa sobre os sítios

turísticos fluviais no Brasil e suas principais características ambientais. Foi realizado um

estudo de caso no Alto rio Paraná com a intenção de se fazer considerações ambientais

associadas à atividade turística, visto que a área de representa o único trecho do rio Paraná, no

Brasil, que possui sua biodiversidade preservada. Os ambientes naturais associados ao rio

foram expostos detalhadamente em face de sua grande importância ambiental.

Palavras-Chave: Turismo fluvial, Transporte fluvial, Rio Paraná, Sistema fluvial,

Ecoturismo.

ABSTRACT:

This research has for objective to provide a brief approach about the means of

transportation used for the tourist activities, as well as the fluvial tourism in Brazil, and its

principal ambient characteristics. Upper Paraná River was studied for connect the natural

environments with tourist activities, since this is the only area in Paraná River extension that

has the biodiversity preserved. All the natural environments associated with the river has been

exposed in details because of its importance.

Key-words: Fluvial tourism, Fluvial transportation, Paraná River, Fluvial system,

Ecotourism.

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4.1. Introdução

A água é vital para os ciclos biológicos, geológicos e químicos, responsáveis pelo

equilíbrio dos ecossistemas. No Brasil, encontra-se uma das maiores disponibilidades hídricas

do planeta, distribuídas em diversos corpos d’água.

O turismo é uma atividade que tem crescido exponencialmente nas últimas décadas. E,

acompanhando esta tendência, existe a necessidade crescente de ordenamento desta atividade,

a partir da compreensão do valor de determinados atributos ecoturísticos (recursos do meio

físico e biótico), bem como da avaliação do contexto social, econômico e político. O turismo

fluvial é uma prática que vem se desenvolvendo no país, e, para alcançar sua sustentabilidade,

diversos estudos pertinentes devem ser realizados.

A história do uso dos recursos fluviais se encontra totalmente vinculada com a história

do homem. Desde a mais remota antiguidade, o homem foi ocupando os vales ao redor de

grandes rios, como o Tigre, o Eufrates e o Nilo (DE LA TORRE, 1995). E os rios acabaram

sendo berço de grandes conquistas, além de fornecerem água para consumo humano,

agropecuária e indústrias, e promoverem o fornecimento de energia elétrica, transporte e

lazer, em cujo tipo de uso se enquadra o turismo (Figura 27).

Alguns rios e canais no mundo são considerados roteiros turísticos tradicionais por

diversos motivos, tais como sua importância histórica, beleza cênica e localização. Em geral,

o turismo fluvial proporciona ao turista outra forma de conhecer o mesmo atrativo turístico,

ou seja, de outra perspectiva. Trata-se do novo perfil dos turistas, que não desejam somente

destinos de praia e sol, mas sim destinos que lhes associem valores e novas experiências.

Viagens turísticas pelos rios Nilo (Egito), Tamisa (Inglaterra), Reno (Alemanha), Loire

(França), Sena (França), Danúbio (Alemanha e Áustria), Mississippi (EUA) e Amazonas

(Brasil) têm atraído a atenção de turistas e excursionistas ao longo das últimas décadas

(PALHARES, 2002).

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Figura 27: Foto do turismo fluvial em frente ao Ópera House na Austrália. Fonte: Toursbylocals (2009).

4.2. Turismo e transporte

A viagem no turismo é resultante de várias atividades econômicas, que incluem bens e

serviços como o transporte, hotéis, alimentação e agências. Dentro do universo dos meios de

transporte, o turístico constitui um subproduto. Em diversas ocasiões, a própria atividade de

transporte é uma experiência turística, ou prevalece sobre o próprio destino turístico, além de

muitas vezes influenciar diretamente na escolha do local a ser visitado (PALHARES, 2002).

Segundo Lamb e Davidson (1999, apud PAGE, 2001), transporte é um dos três

componentes fundamentais do turismo. Os outros dois são o produto turístico (oferta) e o

mercado turístico (a demanda).

O transporte constitui-se de quatro elementos segundo Palhares (2002):

• Via: é o meio pelo qual o transporte se desenvolve, podendo ser natural (mar) ou

artificial (rodovias);

• Veículo: operam em determinado tipo de via, de acordo com sua tecnologia;

• Força motriz: está relacionada à tecnologia dos veículos e das vias (alcance,

velocidade e lotação); e

Page 84: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

• Terminal: local ao qual se tem acesso aos meios de transporte, funcionado, às vezes,

como transferência de um transporte a outro.

Os meios de transporte são classificados também como públicos (acesso permitido a

qualquer pessoa, dentro dos critérios estabelecidos), privados (com acesso restrito); modo

(associado ao tipo de tecnologia do veículo); regular (cumpre horários previamente

estabelecidos), não-regular (utilizado para uma finalidade específica, como por exemplo,

viagem de um grupo); doméstico (dentro do próprio país de origem) e internacional (entre

países) (PAGE, 2001).

4.2.1. Modais de transporte

O transporte, dentro das atividades turísticas, se subdivide nos modais: aéreo,

rodoviário, ferroviário e hidroviário (marítimo e fluvial). De acordo com pesquisa divulgada

pela Embratur, o modal de transporte mais utilizado pela atividade turística no Brasil, no ano

de 2000, foi o transporte rodoviário, seguido pelo aéreo, hidroviário e ferroviário (Figura 28).

Figura 28: Gráfico de pesquisa sobre os modais de transportes utilizados pela

atividade turística no ano de 2000. Fonte: Embratur (2008).

Page 85: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Carvalho (2000) definiu terminais como sendo portos onde o passageiro muda de uma

modalidade de transporte para outra, trata-se de uma interface. Os terminais devem ser

eficientes na sua função, oferecendo toda a infraestrutura necessária aos seus usuários, tais

como: posto de saúde, praça de alimentação, balcão de informações, guarda-volumes,

correios, agências de viagens, locadoras de veículos, dentre outros.

4.2.1.1. Transporte rodoviário

O transporte rodoviário, além de um meio de locomoção, em geral também é utilizado

no turismo como um meio de transporte que interliga os demais.

Como veículos neste meio de transporte podem ser utilizados ônibus, automóveis,

motos, bicicletas, carruagens, caminhões, táxi, buggies, jipes, trailer, motorhomes, dentre

muitos outros. No Brasil, é o meio de transporte mais utilizado pela atividade turística devido

a sua facilidade de acesso, mobilidade e conveniência em seus deslocamentos e

desenvolvimento de algumas rodovias (PALHARES, 2002).

Dentro desta modalidade, tem-se as empresas locadoras de veículos executivos e

recreacionais, cooperativas de táxi, empresas de ônibus regulares e de fretamento.

4.2.1.2. Transporte aéreo

O transporte aéreo foi o modal que mais se desenvolveu nas últimas décadas e a

regulamentação do mesmo proporcionou à atividade turística a sua grande expansão.

Dentre as empresas aéreas, destacam-se as de transporte de passageiros, podendo ser

ainda vôos charter (de aluguel), low-cost/low-fare – baixo custo e baixa tarifa; e as empresas

de transporte de carga.

4.2.1.3. Transporte ferroviário

Assim como o transporte aéreo, o ferroviário também sofreu mudanças tecnológicas

nas últimas décadas, principalmente nos países europeus e asiáticos. Trens-hotéis também

Page 86: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

foram desenvolvidos ampliando o produto ferroviário. Nestes trens, é possível viajar em

cabines luxosas, com camas, banheiro, serviço de bordo e vista panorâmica.

Vale ressaltar que as atividades turísticas tiveram origem em uma viagem de trem,

quando, em 9 de junho de 1841, Thomas Cook realizou a primeira viagem charter de trem,

dando início ao conceito de que o transporte está associado ao turismo (PALHARES, 2002).

Com o sucesso de suas viagens, foi fundada a primeira agência de viagens do mundo: a

Thomas Cook & Sons (TOMELIN, 2001).

4.2.1.4. Transporte hidroviário

O transporte hidroviário divide-se em marítimo e fluvial (CARVALHO, 2000).

O transporte marítimo, voltado ao turismo, é coberto pelos cruzeiros, que são

verdadeiros navios de resorts flutuantes de alto padrão. Tais embarcações oferecem os mais

variados atrativos a bordo, sendo o próprio navio, muitas vezes, o atrativo da viagem.

Palhares (2002) ressaltou que este tipo de transporte se diferencia dos demais pelo fato das

atividades de transporte e turismo ocorrerem concomitantemente.

O que difere o turismo fluvial do marítimo são os tipos de embarcações e serviços

oferecidos. Em geral, as viagens fluviais exigem uma embarcação menor, cuja lotação pode

variar de 4 a 250 pessoas, e que irá depender do canal a ser percorrido e do seu próprio

calado. Contudo, algumas embarcações fluviais podem se equiparar aos grandes navios

marítimos, oferecendo todo conforto e luxo, requinte em sua gastronomia, sofisticação em

seus entretenimentos (teatro, cinema e bailes), além de laboratórios de biologia, botânica,

oceanografia e biblioteca.

No turismo fluvial, também são utilizadas embarcações pequenas, como barcos a

remo, canoas e voadeiras. Estes tipos de embarcação permitem um contato maior do visitante

com o meio físico e biótico, além do próprio morador local.

Page 87: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

4.3. Fundamentação teórica

4.3.1. Sistema fluvial (Fluvial System)

O Brasil possui alguns dos maiores rios do mundo. O rio Amazonas (e seus tributários

Negro e Madeira), o Paraná, o Tocantins e o Araguaia são rios expressivos em termos de

descarga. Conforme Latrubesse et al. (2005), mesmo drenagens menores como o São

Francisco, o Uruguai e o Paraguai, estão entre as 20 maiores drenagens do planeta (Figura

29). Em conjunto drenam uma área total de 6.346.000 km², cerca de 75% da área total do país.

Figura 29: Mapa das principais bacias hidrográficas no Brasil. Fonte: (IBGE, 2009).

Page 88: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A quantidade total de água disponível no mundo é de cerca de 1,37 bilhão de km³. De

acordo com Peixinho e Feitosa (2008), apenas 2,8% constituem a água doce, principal fonte

de utilização da humanidade (Figura 30). O total de água doce no Brasil, representa 53% do

continente sul-americano e 12% do total mundial (Figura 31).

Figura 30: Gráfico da porcentagem da distribuição de água no mundo. Adaptado de: Peixinho e Feitosa (2008).

Figura 31: Gráfico da porcentagem da distribuição de água doce no mundo.

Adaptado de: Peixinho e Feitosa (2008).

Page 89: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Suguio (2006) expôs que:

O Brasil é depositário de uma das maiores reservas de água doce do planeta, distribuídas em superfície e em subsuperficie, o que constitui um capital ecológico de inestimável valor e de fundamental importância no desenvolvimento sócio-econômico sustentável.

A inter-relação dos fatores geológicos, geomorfológicos e climáticos resulta na grande

diversidade de quadros hidrológicos, que devem ser preservados, visando sempre estabelecer

critérios para as atividades, minimizando, assim, os impactos negativos.

Suguio e Bigarella (1979) classificaram os ambientes fluviais em bacia de drenagem,

vale aluvial e planície aluvial, sendo que a bacia de drenagem pode ser definida como um

conjunto de canais de escoamento interligados e que envolve toda a área de captação pluvial.

O vale aluvial, por sua vez, compreende a todos os ambientes relacionados ao escoamento da

água (planície e terraços aluviais), que apresentam evidências de morfologias ou depósitos

fluviais. A planície aluvial, por fim, corresponde ao escoamento do sistema fluvial, formada

pelo canal e pela planície de inundação.

4.3.2. Bacia de drenagem (Drainage basin)

O canal fluvial é basicamente o rio, que consiste numa costa oriunda da submersão de

uma área com presença de vales modelados pela erosão fluvial (SUERTEGARAY, 2008).

Constitui um sulco por onde correm as águas fluviais, com margens definidas e sua

geomorfologia específica, em decorrência de sua descarga, carga sedimentar, declividade,

rugosidade, velocidade da água e características litológicas (CHRISTOFOLETTI, 1981).

A jusante – base do rio trata-se da área que se localiza em uma posição mais baixa que

uma posição referencial, levando em consideração todo o percurso do rio. A montante –

mount é exatamente o oposto da jusante, ou seja, denomina uma área situada acima de um

ponto referencial, levando também em consideração todo o percurso do rio. De acordo com

Suertegaray (2008), as feições de jusante estão mais próximas da foz de um rio e as feições de

montante estão mais próximas das cabeceiras fluviais.

Para Suguio e Bigarella (1979), os rios podem ser efêmeros (possuem água apenas

após as chuvas), intermitentes (oscila entre seco e com água) ou perenes (são alimentados por

um fluxo de água contínuo).

Page 90: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

O canal fluvial também recebe uma classificação de acordo com sua planta ou

desenho, denominando-se padrão de cana (Figura 32). Os padrões de canais se definem

considerando o seu grau de sinuosidade e a quantidade de canais no trecho a ser estudado. As

categorias são classificadas de acordo com Leopold e Wolman (1991, apud SUGUIO, 2003)

em:

• Retilíneo: o perfil longitudinal deste rio é irregular, sendo um canal profundo e

grosseiramente assimétrico. Em geral, possui pouca carga de fundo, alta carga de suspensão e

baixo declive. Características: canais rasos, com barras arenosas, centrais e laterais;

• Entrelaçado: é caracterizado pela presença de canais menores e curvilíneos. Possui

baixa velocidade. Características: canais rasos e esparsos com barras variadas;

• Anastomosado: divide o rio em múltiplos canais, separados por ilhas vegetadas e

estáveis, e incluem, igualmente, barras arenosas, ressacos, dentre outros. Forma uma rede de

canais secundários. Características: canais rasos, profundos e sinuosos, alguns cobertos por

macrófitas, barras centrais, barras laterais e pântanos; e

• Meadrante: formado de acordo com a declividade (que deve ser bem acentuada) a sua

descarga. São os padrões de canais mais comuns na natureza e apresentam seções transversais

assimétricas, cuja linha de maior velocidade muda para o lado côncavo do canal, formando

um barranco íngreme e erosivo. Características: canais rasos, profundos e sinuosos, com

barras de pontal/meandro – point bars e centrais.

Figura 32: Padrões de canais fluviais. Fonte: Rust (1978).

Page 91: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

4.3.3. Barras/Banco de areias (Bank)

São depósitos de material detrítico (areias ou cascalho) que são depositados nos

fundos de leitos fluviais, sob a forma de bancos de areia, dando origem a diversos corpos

distribuídos ao longo do rio, principalmente em períodos de seca (CHRISTOFOLETTI,

1981). A barras orientam-se no perfil longitudinal, transversal ou obliquamente ao sentido do

fluxo fluvial. Algumas podem ficar parcialmente estabilizadas devido à cobertura vegetal,

mas sem ela, se modificam com o tempo.

As barras de pontal ou de meandro correspondem à acumulação de sedimentos

grosseiros no lado interno do canal meandrante (Figura 33). E, do lado externo, correspondem

a uma área de erosão. Esses bancos de areias são bastante utilizados como recurso natural

para atividades turísticas. Ao longo dos diversos rios brasileiros formam-se praias nessas

situações, que se modificam a cada ano.

Figura 33: Barra de pontal localizada no rio Paraná.

4.3.4. Dique marginal (Natural levee)

O dique marginal constitui uma faixa estreita (200 a 500 metros de largura) e longa

que bordeja o canal (quadro 4). Trata-se de uma área de maior altitude em relação à planície

Page 92: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

de inundação (2 a 4 m) (CORRADINI, 2006). Os diques se formam, devido ao fato de que,

nos períodos de cheia, o fluxo da água do rio que está em alta velocidade, ao transbordar pela

planície, perde a sua velocidade e sedimenta a carga transportada. A repetição contínua deste

processo, conforme Stevaux e Santos (1998), faz com que ocorra um acréscimo vertical dos

depósitos e se forme o dique marginal.

Por se tratar de uma área seca, o dique permite o desenvolvimento de vegetação

arbórea e mata ciliar. Esta área é bastante propícia ao turismo, visto que permite a instalação

de equipamentos e infraestrutura para a atividade turística.

4.3.5. Planície Aluvial / de Inundação / Várzea (Floodplain)

São áreas de sedimentação fluvial, representadas por uma porção de terreno

predominantemente plano, localizado às margens de um rio (SUERTEGARAY, 2008). Estão

sujeitas a inundações periódicas, devido aos períodos de cheia do canal. Para Agostinho e

Zalewski (1996), esta característica peculiar (seca/molhada) das planícies de inundação, é

responsável pela riqueza ecológica. A dinâmica dos rios realiza o trabalho de manutenção da

biota, levando, nos períodos de enchente, os nutrientes e os sedimentos argilosos e ricos em

matéria orgânica que se acumulam nas planícies. Estes processos dinâmicos fluviais são

responsáveis por transformações constantes no sistema fluvial (GALVÃO, 2008).

A planície de inundação forma diversos habitats que são de grande interesse para o

turismo, devido à variedade de ambientes e atividade biológica. Conforme pode ser observado

no Quadro 4, nos diferentes habitats há possibilidade de se desenvolver diversos tipos de

atividades turísticas.

Page 93: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

DESCRIÇÃO DO HABIT E SUA RELAÇÃO COM A ATIVIDADE TURÍSTICA

HABITAT DESCRIÇÃO INTERESSE TURÍSTICO

ATIVIDADES A

SEREM

DESENVOLVIDAS

Dique

marginal

Colina alongada, estreita e alta

desenvolvida ao longo do canal.

Presença de mata ciliar.

Turismo de veraneio

lazer e descanso.

Estradas; construção de

ranchos, clubes

recreativos, colônia de

férias, dentre outros.

Pântano

(marsh)

Áreas baixas

permanentemente alagadas, com

vegetação herbácea, ambiente lêntico.

Regiões de difícil acesso.

Turismo ecológico

ecoturismo/geoturismo

educativo

Contemplação da

natureza e trilhas

interpretativas até o

local.

Pântanos de

pós-dique

(back-

swamp)

Corpo de água lêntico, temporário,

que se forma pela retenção da água da

inundação pelo dique marginal.

Vegetação mista herbácea e arbustiva.

Sem interesse turístico

Lagoas

isoladas

Corpos de água alongados

(canais abandonados), lênticos,

relativamente profundos,

com intensa atividade biológica,

temporárias ou permanentes.

Podem ter difícil acesso.

Turismo de lazer/ ecológico

ecoturismo/geoturismo.

Banhos imersos nas

lagoas, trilhas,

caminhadas e

contemplação da

natureza.

Lagoas

conectadas

Igual às lagoas conectadas, porém com

conexão feita por canais de planície.

Corpos de água mistos com água

freática, pluvial e das cheias. Em

determinadas épocas constitui

ambiente semi-iótico.

Turismo de lazer/ecológico

ecoturismo/geoturismo/esportivo.

Banhos imersos nas

lagoas, trilhas,

caminhadas, esportes

como pesca esportiva,

canoagem, bóia-cross e

contemplação da

natureza.

Canais de

planície

Canais estreitos e tortuosos, com

intensa vegetação ciliar arbórea.

Ambiente iótico com fluxo nas duas

direções.

Turismo de lazer/ecológico

ecoturismo/ geoturismo

esportivo.

Banhos, arvorismo,

tirolesa, trilhas,

caminhadas, esportes

como pesca esportiva,

canoagem, bóia-cross e

contemplação da

natureza.

Quadro 4: Descrição do habitat e sua relação com a atividade turística. Adaptado de Galvão (2008).

Page 94: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

4.3.6. Lagos e lagoas (Ponds)

Lagos e lagoas são corpos d’água continentais sem comunicação direta com o mar e

suas águas; em geral, possuem baixo teor de íons dissolvidos se comparadas às águas

oceânicas (ESTEVES, 1988).

4.3.7. Pântanos e brejos (Wetlands)

Constituem-se de regiões baixas, nas quais não existe lâmina d’água suficiente para

formar um corpo d’água. Trata-se de uma área vegetada por gramíneas e elementos

arbustivos. Os pântanos e brejos são de grande importância ecológica, visto que, além de

fornecer água, constituem abrigo para muitas espécies da fauna, devido a sua alta densidade

de vegetação.

De acordo com Galvão (2008), estas áreas são repletas de aves e mamíferos, porém,

para a atividade turística, são áreas de baixo interesse, visto que, em geral, se localizam em

regiões inacessíveis para o turista comum.

Os habitats aquáticos da planície de inundação precisam de trabalhos específicos, visto

que lagos e lagoas formadas na planície de inundação sustentam e mantêm o funcionamento

de diversos ecossistemas e planície. Por esta razão, se faz necessário o estudo ambiental para

o desenvolvimento da atividade turística, onde é necessário se certificar, se no local, pode

haver visitação, de qual tipo, capacidade de carga, plano de manejo, dentre outros.

4.3.8. Ilhas (Islands)

As ilhas, em geral, são massas de terras relativamente pequenas, emersas, circundadas

de água doce ou salgada. Podem ser classificadas como continentais (ou costeiras) e oceânicas

(ou isoladas) (SUERTEGARAY, 2008).

As ilhas são grandes atrativos turísticos devido a sua diversificada fauna e flora. As

trilhas interpretativas em seu interior são, geralmente, a grande expectativa dos visitantes que

buscam o contato com a natureza, um refúgio da vida moderna e cotidiana.

Page 95: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

4.3.9. Relevo fluviolacustre (Fluvial Landfoms)

São formas que constituem o conjunto de feições decorrentes da dinâmica das águas,

derivadas de processos fluviais e de feições características de corpos lacustres

(SUERTEGARAY, 2008).

4.3.10. Interflúvio/Divisor de águas (Drainage Divide/Interfluve)

É uma faixa no relevo que separa duas bacias hidrográficas, sendo a linha que une

pontos de maior altitude topográfica entre duas redes de drenagem.

4.3.11. Talvegue (Thalweg)

Trata-se da linha que une os pontos de maior profundidade do fundo do vale,

coincidindo com a linha de maior profundidade do canal fluvial. É a intersecção de dois

pontos de vertente com convergência de declive (SUERTEGARAY, 2008).

4.4. Principais sítios turísticos fluviais no Brasil e suas principais

características geológicas

O transporte fluvial turístico em rios e lagos ainda é restrito no país, embora tenha um

grande potencial de desenvolvimento. O Brasil possui uma das maiores malhas hidrográficas

do mundo (CARVALHO, 2000), além do próprio interesse do turista que vem despertando

para este segmento.

4.4.1. A Bacia do rio Amazonas

O rio Amazonas, em termos de drenagem, ocupa área superior a 6 milhões de km²,

sendo a maior bacia fluvial do mundo. Em termos de descarga, possui a média de 209 mil

Page 96: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

m³/s, com carga sedimentar suspensa superior a 1,2 bilhões de toneladas por ano, sendo um

grande coletor de sedimentos e água de seus tributários (LATRUBESSE et al., 2005).

O rio Amazonas é o principal curso de água da bacia hidrográfica do Amazonas, com

extensão de 6.570 km. Nasce em território peruano, no riacho Lauricocha, originário da lagoa

do Ninõ, nas geleiras da cordilheira de Santa Anna, situada a cerca de 5.000 m acima do nível

do mar. O rio entra no Brasil na confluência com o rio Javari; a partir deste trecho, é que

passa a chamar Solimões; e somente a partir da confluência com o rio Negro é que passa a ser

denominado Amazonas (ANEEL, 2010).

A bacia do rio Amazonas é composta pelos rios: Negro, Branco, Juruá, Purus,

Madeira, Tapajós e Xingu, todos com características peculiares, que atraem diferentes tipos de

turistas.

Um fenômeno natural que atrai uma grande demanda turística de diversos segmentos

(ecoturismo, turismo de aventura, turismo esportivo, geoturismo e turismo educacional) é a

chamada “Pororoca”, que ocorre quando as violentas águas do rio Amazonas se encontram

com as do mar, no baixo curso, geralmente no mês de outubro, quando as águas do rio estão

baixas e as marés de sizígia altas (Figura 34). É de fundamental importância que o

profissional de turismo se atente a este fenômeno natural, ao formatar a região como produto

turístico e suas atividades, visto que, em lugares pouco profundos, pode ocorrer a sucessão de

ondas fortíssimas, ocasionando danos a embarcações ou naufrágios, assim como acidentes a

praticantes de atividades de aventura ou esportivas no local.

Figura 34: Foto da Pororoca no rio Amazonas. Fonte: Portal Amazonas (2010).

Page 97: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

No Brasil, o rio Amazonas é uma via naturalmente navegável, sendo o meio de

transporte fluvial para a comunidade local e turistas. Atualmente, é o rio que mais propicia e

desenvolve a atividade turística fluvial no país (Figura 35). A demanda de turistas é maior do

que a oferta, o que gera uma abertura de mercado para empresas de transportes internacionais.

Segundo Sabóia (2002), no ano de 2001, 24 transatlânticos estiveram no Amazonas, trazendo,

aproximadamente, 14 mil turistas para conhecer a região.

Figura 35: Fotos do cruzeiro fluvial Grand Amazon no rio Amazonas. Fonte: http://www.grandamazon.com.br (2009).

Em virtude de sua posição geográfica, praticamente paralela ao Equador, o regime do

Amazonas é influenciado pelos dois máximos de pluviosidade dos equinócios, sendo, por isto,

conhecido como regime fluvial de duas cheias, que implicam características naturais diversas

a serem apreciadas pelos turistas.

A bacia do rio Amazonas percorre a maior floresta pluvial tropical do mundo,

apresentando uma vegetação diversificada com tipos de savanas, bambu, pântanos, floresta de

campina, floresta pluvial fechada, floresta de montanha e submontana e floresta de liana

(NELSON; OLIVEIRA, 2001). Pelo fato da vegetação ser tão diversificada, o que implica

uma fauna também ampla, diversos visitantes procuram a região para ter o contato direto com

a natureza intocada, além de muitos outros fatores, como o geoturismo e o turismo educativo

e científico.

O clima na região é predominantemente tropical úmido, com precipitação média de

2.000 mm/ano, que, em algumas regiões, pode chegar a 4.000 mm/ano (LATRUBESSE et al.,

2005). Este fator deve ser observado na organização dos roteiros turísticos, assim como sua

periodicidade.

Page 98: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A morfologia e o tamanho da planície aluvial do canal estão relacionadas à atividade

tectônica do Quaternário superior. As planícies neotectônicas aluviais são bem desenvolvidas,

com formação de terraços constituídos por sedimentos quaternários (SUGUIO; BIGARELLA,

1979).

Latrubesse e Franzineli (2002) relataram que a maioria dos depósitos recentes dos rio

Solimões e Amazonas e a maioria das ilhas do rio Negro se formaram no Holoceno superior,

com e posteriores mudanças do Holoceno médio. O rio Amazonas deixou de ter uma alta taxa

de acréscimo vertical para ser um rio de maior atividade lateral. Já o rio Negro deixou de ter

sua carga suspensa abundante para se transformar em um rio de baixa carga suspensa, o que

ocasiona a água negra, que é o grande atrativo turístico fluvial da região, denominado

“encontro das águas”, onde o rio Negro se encontra com o rio Solimões (Figura 36), que

possui suas águas transparentes com pequena quantidade de argila em suspensão. A diferença

de temperatura, densidade da água e correnteza impossibilitam que as águas se misturem por

uma extensão de cerca de 6 km (as águas correm lado a lado sem se misturar), tornando o

cenário uma visão única e inesquecível como experiência turística. As águas do rio Negro

possuem temperatura média de 22°C e velocidade média de 2 km/h; o rio Solimões possui

temperatura média de 28°C e velocidade entre 4 e 5 km/h.

Figura 36: Foto do encontro das águas do rio Negro e do Rio Solimões.

Fonte: http: //www.metrophoto.se/us/photo/182368 (2010).

Page 99: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Fernando Sabino (1977) descreveu o encontro das águas como:

Tudo aqui parece encerrar um sentido simbólico; os rios, as florestas, os animais e as plantas, os próprios homens. Aqui a natureza nos dá a sensação vertiginosa de que um dia fomos deuses. Aqui a alma se expande até perder-se no vazio onde o espaço e o tempo se confundem, para reencontrar-se numa vida além da vida, em que tudo se harmoniza – tempo e espaço, civilização e natureza, homens e deuses – numa perfeita integração.

4.4.2. A bacia do rio Negro e Solimões

O rio Negro é o principal afluente do Amazonas e percorre três países da América do

Sul com seus 1.700 km de extensão. Recebe diversos afluentes, sendo os principais na

margem esquerda: Padauri, Demeni, Jaçari, Branco, Jauaperi e Camamanau; na margem

direita: Içana, Uaupés, Curicuriati, Caurés, Unini e Jaú.

O rio Negro apresenta um elevado grau de acidez (ácido húmico), com pH 3,8 a 4,9,

devido à grande quantidade de ácidos orgânicos, provenientes da decomposição da vegetação

(por isso, a água apresenta uma coloração escura). Em alguns pontos, o reflexo das árvores na

água é como de um espelho. A visibilidade varia entre 1,50 e 2,50 m. Devido a esse baixo pH,

os insetos não se proliferam e quase não há mosquitos na região.

Outra atratividade do rio Negro é o Arquipélago de Anavilhanas (Figura 37), próximo

à cidade de Novo Airão. Dentro do município, encontra-se a Estação Ecológica de

Anavilhanas e o Parque Nacional do Jaú, o segundo maior parque florestal do mundo.

Os passeios fluviais em Anavilhanas são realizados por voadeiras para ilhas e lagos

próximos e por embarcações de grande porte, que oferecem camarotes, suítes e bangalôs (com

alimentação). São realizadas atividades geoturísticas e ecoturísticas, como observação de

pássaros, botos tucuxi (Sotalia flueviatilis) e cor-de-rosa (Inia geoffrensis), trekking em

floresta primária e nas grutas do Madadá. Durante a viagem, são distribuídos materiais

fotográficos, cartográficos e uma cartilha sobre ecoturismo. É também ministrado um mini-

curso de sobrevivência na selva e outras atividades, como mergulho em bóias no rio Negro,

visita a oficina de artesanatos e as comunidades indígenas (KATERRE, 2010).

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Figura 37: Foto do Arquipélago de Anavilhanas. Fonte: Katerre (2010).

Os processos fluviais do rio Solimões implicam diretamente a sociedade das

comunidades ribeirinhas que enfrentam diversas necessidades e desafios para se adaptarem

aos processos fluviais. O rio Solimões possui uma área de transbordamento de 64.400 km²;

por este fato, algumas regiões de várzea, constantemente precisam ser desocupadas,

impossibilitando, portanto, a implantação de bases de apoio turístico local.

4.4.3. A bacia do rio Tocantins – Araguaia

A bacia do rio Tocantins – Araguaia possui uma área de 757.000 km² e descarga

média anual de 12.000 m³/s, sendo considerada a décima primeira bacia de drenagem em

vazão do mundo (LATRUBESSE; STEVAUX, 2002). Entretanto, de acordo com Latrubesse

et al. (2005), esta bacia não é considerada na literatura internacional como constituindo um

dos grandes rios mundiais.

A bacia é composta pelos rios Araguaia, Tocantins, Ilha do Bananal e Rio das Mortes.

O rio Araguaia nasce no altiplano do Parque Nacional das Emas (sudoeste de Goiás) e faz a

divisa natural entre os Estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará.

No médio curso do rio Araguaia, encontra-se uma unidade sedimentar com mais de

90.000 km², ocupando uma área de 12% da bacia fluvial. Esta bacia sedimentar, denominada

Planície do Bananal, que é atravessada pelo cinturão aluvial do rio Araguaia, se estende por

Page 101: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

mais de 1.100 km (LATRUBESSE; STEVAUX, 2002). Nesta planície, tem-se a presença de

lagoas, pântanos e pequenos rios, que ocupam os paleocanais mais desenvolvidos e

constituem um sistema de drenagem complexo. Nesses diversos ambientes são praticadas

diversas atividades de ecoturismo.

A Ilha do Bananal (Figura 38) constitui uma reserva ambiental, sendo a maior ilha

fluvial do planeta (ICMBIO, 2010). Devido a sua diversidade natural, os atrativos turísticos

são diversos, mas são basicamente desenvolvidos fluvialmente. Naturalmente, 80% do

território da ilha permanecem alagados, formando belíssimos pantanais, cujo acesso só é

possível via fluvial.

Figura 38: Foto da Ilha do Bananal – bacia do Tocantins e Araguaia.

Fonte: Instituto de Natureza do Tocantins (2010).

Em pesquisas realizadas por Vieira (2002), definiu-se, através de amostras de

perfurações, que os depósitos são predominantemente constituídos de areia branca, média a

fina, localmente seixosa, quartzosa, maciça, com mosqueamento plíntico, dando origem às

famosas paisagens de beleza cênica, atrativos turísticos do rio Araguaia, em especial, suas

praias de areia branca (Figura 39).

Page 102: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 39: Foto da praia de areias brancas do rio Araguaia. Fonte: Moss (2008).

Atualmente, o rio Araguaia se encontra ameaçado devido à pesca predatória, que tem

diminuído o número de espécies de peixes na região. Outra atividade impactante tem sido o

turismo que está sendo desenvolvido sem os princípios da sustentabilidade e sem nenhum tipo

de fiscalização e conduta. De acordo com a Agência Ambiental de Goiás, nos meses de julho

e agosto, período de vazante do rio, se formam inúmeras ilhas de areia, que são utilizadas

como praias e acampamentos pelos turistas, totalizando mais de 50 mil pessoas (Figura 40).

Este número excede a quantidade de pessoas limitadas ao plano de manejo, assim como se

torna ineficiente a fiscalização com relação às normas locais (não utilizar madeira nativa da

região, não caçar, não pescar sem licença dos órgãos ambientais, descarte de lixo,

saneamento, dentre outros). A falta de unidades de conservação na região também facilita a

degradação ambiental.

Diversos locais também se encontram assoreados, devido à inexistência de matas

ciliares e por mudanças ambientais decorrentes da hidrovia Araguaia-Tocantins, que se utiliza

da dragagem e comportas no leito.

Na região, existe também o Parque Indígena do Araguaia e o Parque Nacional do

Araguaia; as comunidades ribeirinhas turísticas são: Aruanã (GO), Bandeirantes (GO), Barra

dos Garças (MT), Britânia (GO), Conceição do Araguaia (PA), Luiz Alves (GO), Rio

Cristalino (MT), Rio das Morte (TO) e São Félix do Araguaia (GO).

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Figura 40: Município de Conceição do Araguaia – PA. Fonte: Conceição do Araguaia (2010).

4.4.4. Bacia do rio São Francisco

O rio São Francisco possui uma bacia de drenagem de 650.000 km² e uma descarga

média anual média de 3.800 m³/s. Sua extensão é de 3.160 km, dos quais 1.300 km são

navegáveis. Mas, apesar desse curto percurso em relação a sua extensão, o turismo fluvial é

desenvolvido ao longo do rio com o auxílio e participação das comunidades ribeirinhas.

Este rio trata-se da principal drenagem do nordeste brasileiro. De acordo com

Latrubesse et al. (2005), o rio sofreu mudanças em suas condições hidrológicas durante o

Quaternário. O rio deveria apresentar uma descarga média inferior à atual, mas Barreto (1996)

expôs que, mesmo com as mudanças ocorridas com a potência do rio, foi possível o acúmulo

de material arenoso no canal, dando origens a algumas ilhas, como a do Gado Bravo.

O rio São Francisco passa, atualmente, por um programa chamado “Revitalização da

bacia do rio São Francisco”, desenvolvido pelo MMA, juntamente com a Secretaria de

Recursos Hídricos e Ambiente Urbano. Este programa visa a uma parceria sólida entre os

diversos órgãos governamentais e as comunidades ribeirinhas locais, como sendo

instrumentos para a promoção da revitalização e do desenvolvimento sustentável da bacia

(Figura 41).

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Figura 41: Foto do cais de Penedo - rio São Francisco. Fonte: Pessoa (2010).

De acordo com (BRASIL, 2009b), o programa consiste em monitoramento e avaliação

dos processos na bacia, garantindo que estejam em consonância com a legislação e com as

políticas de desenvolvimento econômico e de uso e conservação dos recursos naturais; a

adoção de estratégias de organização institucional, que garantam a integração dos diversos

segmentos sociais e governamentais envolvidos com a revitalização; apoio ao

desenvolvimento da ciência, à inovação tecnológica, à produção e à divulgação de

conhecimento e informações; a capacitação de recursos humanos para garantir o

desenvolvimento sustentável, por meio do monitoramento, da fiscalização e da gestão, tanto

dos ecossistemas, seus recursos naturais, como dos processos produtivos existentes; e a

promoção da melhoria das condições socioambientais e socioeconômicas das suas

populações, assim como a melhoria da oferta hídrica.

Como parte do projeto, tem-se o desenvolvimento do turismo sustentável de base

comunitária, onde ocorre a participação efetiva das comunidades ribeirinhas na promoção da

atividade turística na região como um beneficiamento econômico local. Um dos roteiros já

implantados foi o “Caminhos do Imperador” (Figura 42). Trata-se de um atrativo turístico que

não revela apenas as belezas naturais da região, mas também o rico patrimônio histórico e

cultural das comunidades ribeirinhas. O trajeto segue o mesmo roteiro originário realizado por

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D. Pedro II pelo rio São Francisco, há 150 anos. Este projeto trata-se de uma parceria entre

pesquisadores, profissionais de turismo e integrantes do APL - Arranjo Produtivo Local

(PESSOA, 2010).

Figura 42: Mapa turístico “Caminhos do Imperador”. Fonte: Pessoa (2010).

4.5. Estudo de caso: turismo fluvial no Alto rio Paraná

4.5.1. Ocupação na região do Alto rio Paraná

Essa região foi habitada inicialmente por índios Guaranis e Xetás. Os primeiros

brancos a chegarem na região foram os espanhóis, que subiram os rios da Bacia do Prata. No

século XVI, os jesuítas espanhóis se instalaram e iniciaram o processo das missões, quando a

região passou a ser conhecida como Las Missiones Del Guayra, atualmente Guaíra e

municípios circunvizinhos. Com os conflitos trazidos pela chegada dos bandeirantes paulistas,

muitos índios fugiram com destino a Sete Povos das Missões, no Estado do Rio Grande do

Sul. Atualmente, é possível identificar, em alguns municípios, ruínas desses antigos

povoamentos, assim como sítios arqueológicos.

Page 106: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A segunda grande ocupação veio com a expansão da lavoura cafeeira. Todavia, na

década de 1960, a produção do café na região decaiu consideravelmente e cedeu lugar à

agropecuária.

Em toda a extensão do rio Paraná foram construídas barragens e represas, com o

propósito de se gerar energia elétrica. Apenas a região do Alto rio Paraná não sofreu

represamento, passando a servir de refúgio para várias espécies de animais e plantas nas suas

áreas de várzeas e nas mais de 300 ilhas.

4.5.2. Área de estudo

A área de estudo está localizada no Alto rio Paraná, próximo à confluência com o rio

Ivaí, entre os municípios de Alto Paraíso e Querência do Norte (PR), limite dos Estados do

Paraná e Mato Grosso do Sul (Figura 43). Engloba os municípios de Mundo Novo, Naviraí,

Eldorado e Itaquiraí (Mato Grosso do Sul) e São José do Patrocínio, Altônia, Diamante do

Norte, Vila Alta, Icaraíma e Querência do Norte (Paraná).

O rio Paraná percorre 3.800 km, dos quais 400 km em território paranaense, 42 km na

área de estudo. Neste trecho, algumas modalidades turísticas já são praticadas, porém estão

sendo desenvolvidas sem qualquer estudo ambiental e turístico, sem a preocupação com a

sustentabilidade.

O rio Paraná está, praticamente, inundado devido às construções de hidrelétricas,

restando apenas um trecho de 255 km em condições naturais. Estudos indicam que, embora

estas planícies estejam pontualmente degradadas, a área de estudo ainda apresenta boa

representatividade da fauna original e é fundamental para a manutenção e preservação da

biodiversidade, correspondendo ao corredor ecológico do rio Paraná.

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Figura 43: Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande. Adaptado de Brasil (2009a).

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4.5.3. O rio Paraná

O sistema fluvial do rio do Prata compreende uma superfície de 3.100.000 km²,

abrangendo a Argentina (29,7%), o Brasil (45,6%), a Bolívia (6,6%), o Paraguai (13,2%) e o

Uruguai (4,8%) (ORFEO; STEVAUX, 2002). Dentro do sistema do Prata, diferenciam-se

duas unidades hidrográficas: Uruguai e Paraná, sendo que o último abrange o rio Paraguai.

O rio Paraná, principal curso da bacia do Rio da Prata, nasce da confluência de dois

importantes rios brasileiros: o Grande e o Paranaíba. Sua foz, no estatuário do Rio da Prata,

nas proximidades de Buenos Aires (Argentina), se dá após percorrer 4.695 km e drenar uma

área de 2.800.000 km², com uma descarga média anual em sua foz de 18.000 m³/s. Em termos

de descarga, aliás, o rio Paraná é considerado como o décimo maior curso d’água do mundo e

a segunda maior bacia de drenagem da América do Sul (LATRUBESSE; STEVAUX;

SINHA, 2005).

O rio Paraná da sua cabeceira, na Serra da Mantiqueira, até a sua foz, flui sobre rochas

cristalinas pré-cambrianas e subordinadamente, por rochas pré-paleozóicas afossilíferas. De

acordo com Latrubesse et al. (2005), os rios formadores do Paraná e seus tributários da

margem esquerda têm suas cabeceiras também em terrenos cristalinos, já os da margem

direita são sob terrenos sedimentares da Serra do Maracaju (MS).

Mais cinco rios completam o sistema hidrológico do rio Paraná: o Paranapanema,

Amambaí, Ivinhema, Ivaí, Piquiri e Iguatemi (Figura 44).

Entre as principais bacias hidrográficas da América do Sul, a bacia do Paraná é

considerada a que mais sofreu impactos com os represamentos ocasionados pelas construções

de represas e hidrelétricas. Atualmente, existem mais de 130 barragens no rio Paraná e seus

tributários, que transformou o rio em uma sucessão de lagos (AGOSTINHO; ZALEWSKI,

1996). Apenas 230 km ainda são de água corrente (BUBENA, 2006).

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Parque Nacional de Ilha Grande

Figura 44: Mapa da Bacia Hidrográfica do rio Paraná. Fonte: Brasil (2009).

4.5.3.1. Geologia

A bacia hidrográfica do Paraná começou a ser formada há milhões de anos quando

atividades vulcânicas começaram a derramar toneladas de lava que se solidificaram em rocha

basáltica sobre a superfície da região. Devido ao grande peso deste derrame de lavas,

apontado como o maior do planeta e conhecido como “Derrame de Trapp”, a superfície do

continente afundou pouco a pouco e formou a bacia para dentro da qual passaram a correr os

rios (SUGUIO, 2003).

Durante milhões de anos, esta bacia acumulou areias provenientes da erosão das

rochas e dos solos, devido à ação da chuva e do vento. Num período posterior, mais seco,

formou-se um grande deserto nesta região. Estas areias foram transformadas em um tipo de

rocha sedimentar, conhecida como arenito, que hoje reveste todo o noroeste do Estado do

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Paraná, designado de Arenito Caiuá, dando origem a solos com baixo teor de argila, com

baixa ocorrência de minerais pesados e textura arenosa (SUGUIO, 2003).

4.5.4. Ambientes e as atividades turísticas

O rio Paraná apresenta um grande potencial para o turismo fluvial. Um dos motivos é

a sua extensão, que oferece aos turistas diversas paisagens cênicas, ambientes diversificados,

culturas alternativas, além de diferentes modalidades para as práticas de esporte e lazer.

Diversas atividades, como a agricultura, extração de areia, agropecuária, saneamento

básico, vêm impactando o Alto rio Paraná e seus tributários, mas os maiores impactos

causados foram às construções de diversas barragens e eclusas. Se a atividade turística na

região não for organizada de acordo com as normas e tolerâncias ambientais, acabarão se

tornando fonte de um impacto antropizado e negativo.

De acordo com Galvão (2008), o turismo regional até a década passada estava voltado

para o segmento de veraneio em regiões ao redor dos lagos das barragens. Porém, nos últimos

anos, a procura se voltou para o sistema fluvial local e seus ambientes associados, como as

praias em barras arenosas, as lagoas, os canais, as matas e etc.

A infraestrutura turística deve ser adequada à demanda permitida local, visto que esta

área corresponde ao trecho que se encontra em plenas condições naturais - o ecoturismo dever

ser filosofia local.

O canal do rio Paraná é assimétrico, ou seja, anastomosado. E esse padrão de

drenagem faz com que o rio apresente diversos subambientes como o canal principal, canais

secundários, barras centrais e laterais e ilhas.

A largura média do canal é de 4 km e profundidade média de 4 a 6 m (nível médio do

rio). Seu talvegue é desviado para a margem do Estado do Paraná (esquerda), onde a

profundidade pode atingir de 10 a 12 m. De acordo com Stevaux (1994), a carga de fundo do

rio Paraná é constituída por areia fina e média, seguida de areia muito grossa, grânulos e raros

seixos finos. A velocidade do fluxo de água varia entre 0,8 e 1,2 ms¹. Onde ocorrem ilhas ou

barras, a velocidade é reduzida, assim como nas irregularidades das margens do rio. Estes

dados devem ser observados para o turismo fluvial, pela influência no tipo e tempo de

navegação. O transporte deste tipo de material arenoso também cria um habitat composto de

poços e baixios (pools e riffles), que servem de abrigo aos peixes, propiciando um ambiente

para o turismo de pesca esportiva.

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O turismo fluvial pode ser realizado no canal principal e secundários, com

embarcações pequenas, para passeios mais rápidos e personalizados, e com embarcações

maiores, visando o atendimento a grupos, com serviços a bordos, tais como refeições,

mergulhos, solarium para banho e sol, e outros espaços.

O turismo náutico também pode ser desenvolvido com passeios de jet-ski e banana

boat.

Souza Filho e Stevaux (1997) descreveram as principais unidades geomorfológicas

presentes na área, destacando o Pediplano Pd1 e também as diferenças das margens do rio.

A margem esquerda é caracterizada por colinas do tipo “topos convexos”, que, em

algumas ocasiões, podem ser planas, com altitude de 500 m no divisor de águas e até 250 m

nas proximidades do rio, a uma distância de apenas 25 m de sua margem. Os afluentes no

caso são curtos, com 5 a 39 km, com declividade alta, da ordem de 10 m/km, tendo o rio

margeado por paredões com rocha exposta e eventuais faixas estreitas de planície fluvial.

A margem direita apresenta-se desdobrada em diversos patamares, com uma

densidade de drenagem menor. Os afluentes são longos, de 20 a 80 km, e com declividade de

2 a 3 m/km. As colinas são de topo plano, com altitudes de 300 a 450 m, e encontram-se a

uma distância de 15 a 25 km do rio.

De acordo com as características das margens, ficam nítida suas diferenças, o que se

torna um fator natural de suma importância para o desenvolvimento da atividade turística.

Como uma margem se difere da outra, pode-se realizar atividades diferentes em ambas, visto

que a experiência turística também irá se diferenciar. Como a margem esquerda possui os

afluentes menores e com uma maior declividade, é possível desenvolver atividades esportivas

como o rafting e bóia-cross. Com relação ao relevo, pela maior distância das margens do rio

e maior altitude, podem ser praticadas as modalidades de escalada, montanhismo e rapel. Já

na margem direita, é possível a prática de pesca esportiva, remo e caiaque, e, nas colinas, que

possuem altitude, menor, são indicadas atividades de ciclismo, cavalgadas, corrida, trekking e

motocross.

Na margem esquerda do rio ocorrem afloramentos de arenitos cretáceos do Grupo

Caiuá, formados pela erosão fluvial, dando origem a uma série de paredões, com altura média

de 16 m acima do nível do rio, localizados em alguns pontos da margem do rio, e que

constituem uma das mais belas feições geológicas existentes na região (Figura 45). Os mais

expressivos são o Paredão das Araras e da Mata do Bugio. Neles, podem ser observadas

interessantes estruturas geológicas, como estratificações cruzadas de grande porte, que

indicam origem eólica desses arenitos.

Page 112: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 45: Foto do Paredão das Araras.

A bacia do rio Paraná pertence a diversos domínios climáticos, porém a região de

estudo pertence à categoria de clima subtropical úmido mesotérmico (Cfa), caracterizando-se

por possuir verãos quentes e geadas pouco frequentes. A temperatura média anual é de 22ºC.

A região está localizada no bioma Mata Atlântica, classificada como Floresta

Estacional Semidecidual. As características deste tipo de floresta estão relacionadas,

principalmente, com a ocorrência de um clima com duas estações bem definidas na região:

uma chuvosa e quente (verão) e outra seca e fria (inverno). A característica é de as árvores

mais altas, que perdem suas folhas durante o inverno, tornando a paisagem de árvores secas,

um fenômeno que não ocorre em todo território do Paraná e do País, tornando-o por si só a

paisagem nesta estação um atrativo para o turismo de contemplação.

A região também é classificada como ecossistemas associados, conhecidos como

“Formação pioneira com influência Fluvio-Lacustre”, ou seja, forma uma rede de ambientes

diversificados (Figura 46). Diversas espécies de vegetais na região realizam a manutenção da

biota, através de suas funções de ciclagem de nutrientes nas águas, além de dispersarem seus

diásporos e estruturas reprodutivas.

De acordo o CORIPA – Consórcio Intermunicipal para Conservação do

Remanescentes o rio Paraná e Áreas de influência, na planície alagável do rio Paraná, já

foram catalogadas 505 espécies de plantas.

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Figura 46: Formação pioneira com influência flúvio-lacustre – Lagoa Saraiva.

Fonte: CORIPA (2010).

A fauna da região é bastante ampla e abriga exemplares de espécies ameaçadas de

extinção. Entre os mamíferos, foram catalogadas 46 espécies, sendo 13 delas com algum grau

de ameaça de extinção. Como exemplares podem-se destacar o bugio, lobo-guará, onça, anta,

tamanduá-bandeira e sussuarana (Figura 48). Animais típicos de planície de inundação, como

o cervo-do-pantanal, são bastante frequentes. Também foram catalogadas 49 espécies de

répteis (como exemplo, pode ser citado o jacaré de papo-amarelo – Figura 47) e 17 de

anfíbios (CORIPA, 2010).

Figura 47 e 48: Foto do jacaré de papo amarelo e sussuarana – Parque Nacional de Ilha Grande.

Fonte: CORIPA (2010).

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A população de aves é formada por espécies locais e migratórias. Foram catalogadas

423 espécies de aves. Diversas utilizam as áreas de várzeas para se alimentarem e se

reproduzirem, e as migratórias utilizam-nas como ponto de passagem e descanso.

Os peixes se utilizam do canal para sua reprodução, desenvolvimento e alimentação.

Já foram registradas 153 espécies de peixes residentes na região, além dos peixes migratórios

(AGOSTINHO; HAHN, 1997). Como espécies, pode-se encontrar o dourado, o pintado, a

piranha, a corvina, o tucunaré, a tilápia, o tambaqui, o pacu e o jaú. É importante ressaltar que

muitas espécies de peixes já não são mais localizadas ao longo do rio, mantém suas

populações neste trecho.

A pesca no rio Paraná é permitida, desde que sejam seguidos os critérios e normas já

estabelecidas. O turismo de pesca esportiva já é desenvolvido na região e pode ser

incrementado, voltando-se à sustentabilidade. Diversos festivais de pesca são desenvolvidos

pelos municípios ao longo do rio.

A preservação da fauna e da flora, assim como dos organismos bentônicos (ou

bênticos) na região merece destaque, visto apresentar 84 espécies ameaças de extinção, sendo

13 mamíferos, 56 aves, 5 peixes e 10 plantas (CORIPA, 2010). É importante conscientizar a

comunidade local e os visitantes que as atividades podem ser desenvolvidas, mas que devem

respeitar o meio, ressaltando a importância desta manutenção ecológica de espécies raras,

endêmicas, migratórias e ameaças de extinção. A caça é proibida neste ambiente, portanto

pode-se apenas observar as belezas naturais através de trekking e observação de pássaros, e,

ao longo da planície, praticar atividades como arborismo, tirolesa e passeios ciclísticos.

O rio Paraná apresenta, na sua planície de inundação, diversos subambientes, a saber:

diques marginais, pântanos, brejos, lagoas e canais.

As planícies de inundação são ecossistemas sujeitos a alagamentos periódicos de curta

ou longa duração, previsíveis ou imprevisíveis, as quais exigem e selecionam adaptações nos

organismos que as ocupam, resultando em comunidades com estrutura e funções

características (JUNK, 1989 apud CAMPOS, 1999).

Stevaux (1994), Santos (1997), Stevaux e Santos (1998) sugeriram que a planície de

inundação tenha evoluído de um sistema de canais anastomosados, a partir do Holoceno

inferior, e tenha idade entre 7.000 e 6.000 anos A.P. Os depósitos correspondentes a esta

planície são constituídos de areia fina a média, estratificada, recoberta por pelitos maciços ou

laminados.

Os diques marginais, de acordo com Corradini (2006), têm altura de 4 a 6 m acima do

nível médio do rio e de 2 a 4 m de largura, tendo sua declividade voltada para o interior da

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planície. Aí se desenvolvem comunidades da flora e da fauna, sendo possível encontrar

espécies de figueira, ingá, jequitibá e ipê, que servem de abrigo a macacos, aves e outros

animais.

De acordo com a dinâmica erosiva do rio e a legislação ambiental brasileira, os diques

marginais não poderiam ser ocupados, mas, na região, encontram-se algumas residências e

casas de veraneio assentadas nesses subambientes.

Os pântanos e brejos, na região de estudo, concentram uma grande quantidade de aves

de grande porte e mamíferos, porém, encontram-se em lugares de difícil acesso, localizados

na zona núcleo do Parque Nacional de Ilha Grande, onde não são permitidas atividades

turísticas e visitantes.

As lagoas da planície possuem suas características limnológicas determinadas por

processos regionais, como o influxo de água do rio Paraná, e locais, como a ação do vento e

precipitação. As lagoas também são essenciais para a manutenção da biodiversidade, devido

às diversas atividades em seu ambiente, de fotossíntese e do fitoplâncton (BUBENA, 2006).

Em geral, a profundidade média das lagoas da região é de 2,5 m. Elas podem ser

isoladas ou conectadas ao canal. As lagoas isoladas como a Lagoa Saraiva (Figura 49),

mantêm um contato com o canal apenas nos períodos de cheia. Este ambiente é alimentado

por água pluvial ou freática, diferindo das características físicas e químicas da água do canal.

Figura 49: Foto da Lagoa Saraiva – Parque Nacional de Ilha Grande. Fonte: CORIPA (2010).

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As lagoas conectadas ao canal, geralmente, são interligadas através de um canal

sinuoso que permite a passagem de pequenos barcos. Nas lagoas conectadas, como é o caso

da Lagoa Azul – município de Alto Paraíso (Figura 50), ocorre uma correlação entre os dois

ambientes e a troca de água entre ambos é constante, não diferindo muito as características

físicas e químicas da água do canal. As lagoas também podem ser interligadas entre si por um

canal conector.

Figura 50: Foto da Lagoa Azul – Município de Alto Paraíso (PR). Fonte: CORIPA (2010).

As lagoas representam ambientes de interesse turístico para diversas atividades, tais

como: contemplação, observação da fauna e da flora, safári fotográfico, trekking e canoagem.

É constante a presença de aves de grande porte como garças, animais como capivara, cervos e

cachorro do mato é constante, além de peixes no seu interior. Nos canais conectores, também

é possível observar a presença de jibóias, cobras-cega e sucuris.

Ao longo do rio Paraná, principalmente nos períodos de seca, pode-se encontrar

diversas barras de pontal ou de meandro. Agostinho e Zalewski (1996) descrevem que o

intenso acúmulo de sedimentos no leito do rio deu origem a diversos tipos de barras e

numerosas ilhas (mais de 300), contribuindo para o padrão entrelaçado de seu canal e à

intricada anastomose estabelecida com canais secundários (Figura 51), lagoas e trechos

inferiores dos principais afluentes.

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Figura 51: Ilustração de parte dos canais secundários do rio Paraná. Fonte: Google Earth (2010).

Santos (1991) descreveu as barras como constituídas por areia fina, limpa, quartzosa, e

com pequenas ondulações eólicas. Em geral, as barras, na região de estudo, apresentam um

suave mergulho a montante, resultando em uma ampla área de pequena profundidade,

podendo ser utilizada para turistas como praias fluviais e pontos de apoio; a superfície emersa

é triangular com a sua base voltada para jusante; sendo que a face jusante é bastante profunda,

em geral com 10 a 12 m, e pode ser utilizada, portanto, como uma espécie de ancoradouro e

área para pesca (Figura 52).

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Figura 52: Foto da barra de pontal/meandro – rio Paraná. Fonte: CORIPA (2010).

As barras (Figura 53) são procuradas pelos turistas na região durante o ano todo, são

verdadeiras praias fluviais, onde se pode descansar, tomar sol, banho no rio e praticar esportes

diversos.

Figura 53: Foto da barra arenosa no Alto rio Paraná. Fonte: CORIPA (2010).

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O rio Paraná possui inúmeras ilhas. O trecho do alto rio Paraná exibe uma extensa

planície aluvial e um grande acúmulo de sedimentos de fundo sendo transportados para

jusante, em que grande parte acaba-se depositando, vindo a contribuir para formação de dunas

e barras arenosas, que podem evoluir para pequenas ilhas ou somarem-se às grandes ilhas

vegetadas (SANTOS; STEVAUX; GASPARETTO, 1997).

As ilhas possuem uma altura média de 4 a 5 m em relação ao nível do canal. Sua

cobertura sedimentar, de acordo com Galvão (2008), é predominantemente constituída por:

argila, silte e areia fina. As ilhas são cobertas por vários tipos de vegetação, principalmente

arbórea e arbustiva (Figura 54).

Corradini (2006) relatou que as ilhas possuem superfície ondulada, com relevo

formado por calhas alongadas (1 a 4 m), separada por cristas também alongadas.

As ilhas, antigamente, eram habitadas, possuíam casas de veraneios e clubes de pesca,

além de atividades como piscicultura e agropecuária, que eram desenvolvidas no seu interior.

Atualmente, dentro das ilhas não podem ser desenvolvido nenhum tipo de atividade

econômica que utilize como matéria prima os recursos naturais, além do fato de não poderem

mais ser habitadas. As ilhas despertam grande interesse dos turistas devido à sua preservação,

ao ambiente isolado e totalmente novo. Porém, de acordo com o plano de manejo do Parque

Nacional de Ilha Grande e APA de Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, muitas delas não permitem

a presença humana, e, nas que permitem a atividade turística, os grupos devem ter a monitoria

de um guia local.

Figura 54: Foto da vegetação arbórea e arbustiva – APA de Ilhas e Várzeas do Rio Paraná.

Page 120: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Descrito por Corradini, Fachini e Stevaux (2007), o ressaco constitui-se em um lago

alongado que se forma entre uma ilha e uma barra arenosa. Este ambiente é uma formação

típica do rio Paraná e não se encontra referências em outros rios. Trata-se de um ambiente

natural bem conservado e único, que desperta a atenção para ser incluído em roteiros

turísticos (Figura 55).

Figura 55: Foto do turismo fluvial no Alto rio Paraná. Fonte: CORIPA (2010).

4.5.5. Áreas de preservação da biodiversidade

A região conta com diversas áreas de preservação, conservação e manutenção da

biodiversidade, para auxiliar no desenvolvimento econômico sustentável na região de estudo.

Associada a estes remanescentes, foram criadas três unidades de conservação:

Área de Proteção Ambiental de Ilhas e Várzeas do rio Paraná (Figura 56), com 10.031

km², criada através do Decreto Federal de 30/09/1997. Atualmente, é considerada um grande

potencial para se transformar em corredor de biodiversidade, reconhecido pela UNESCO;

Parque Nacional de Ilha Grande, com 788 km², criado através do Decreto Federal de

30/09/1997; e

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Parque Estadual do Ivinhema com 700 km², criado através do Decreto do Estado do

Mato Grosso do Sul nº 9.278 de 17/12/1998.

A área faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecida no Paraná em

1991 e no Estado do Mato Grosso do Sul, em 2002.

Existem também espaços destinados à conservação ambiental, as chamadas Reservas

Particulares do Patrimônio Natural – RPPN, que são áreas destinadas à conservação da

natureza em propriedades particulares, com o objetivo de legitimar as intenções

conservacionistas, onde as terras preservadas continuam com seus respectivos proprietários,

mas passam a contar com o apoio de diversos órgãos, governamentais ou não.

Figura 56: Mapa de localização do Parque Nacional de Ilha Grande, APA de Ilhas e Várzeas do Rio Paraná. Fonte: Plano de manejo do Parque Nacional de Ilha Grande. Fonte: Brasil (2009b).

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4.5.6. Patrimônio histórico cultural

Ao longo do rio Paraná, já foram identificados e catalogados 53 sítios arqueológicos,

que marcam a história cultural da região. Até o presente momento, não existe nenhuma

atividade turística nestes locais, o que possibilita uma série de oportunidades para o turismo

cultural e para a própria comunidade local, que pode prover meios adequados para a

conservação destes ambientes, através da construção de pequenos museus ou espaços

informativos, com técnicas de preservação e restauração, além de inserir visitas monitoradas

in loco.

4.5.7. Outros atrativos turísticos

Esta região possui muitos outros atrativos turísticos naturais, que, em geral, utilizam o

transporte fluvial como meio de locomoção.

O turismo rural também pode ser desenvolvido, com predominância de pequenas

propriedades e, através desta peculiaridade, o turista poderá ter um contato direto com o

produtor e com os autóctones. Pode-se oferecer nessas propriedades, os serviços de

hospedagem, locação, alimentação, entretenimento, produtos in natura (frutas, ovos,

verduras) ou beneficiados (compotas, queijos, artesanato). O turismo pode ser uma atividade

capaz de valorizar os modos de vida tradicionais, a gastronomia local e o contato com o

ambiente rural.

A região também é marcada por oito assentamentos do Movimento Sem Terra, que

também podem se configurar como pontos de atrações turísticas, promovendo a troca de

cultura. Esses assentamentos ocorreram há mais de dez anos e deixaram de ser regiões de

conflitos, se tornando comunidades e regiões familiares.

Os portos, conforme demonstrados (Figura 57), em várias épocas do ano promovem

festas culturais e temáticas, que atraem não só a população local, como de municípios

vizinhos. As festas mais populares são a de Nossa Senhora dos Navegantes e os diversos

campeonatos de pescas.

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Figura 57: Mapa da localização dos distritos e portos pertencentes à área de estudo.

Fonte: Google Earth (2008).

4.6. Considerações finais

De acordo com o trabalho de pesquisa realizado, conclui-se que o turismo fluvial no

Brasil é muito pouco conhecido e utilizado, tendo destaque e divulgação apenas nas bacias do

Amazonas e do Araguaia.

Na bacia hidrográfica do Amazonas, esta modalidade turística é mais desenvolvida até

mesmo por se tratar da principal forma de locomoção na região. Já, no rio Araguaia, a

atividade turística volta-se, até o presente momento, para a pesca esportiva, que já passou a

ser predatória.

A área de estudo, o Alto rio Paraná, possui uma forte tendência à prática do turismo

fluvial aliada ao ecoturismo e geoturismo, devido à grande variedade de ambientes naturais. A

atividade turística precisa ser regulamentada, visto que, atualmente, é desenvolvida por

qualquer pessoa (moradores locais ou não) e em qualquer local (áreas que não deveria ocorrer

interferência antrópica).

Problemas como o acúmulo de lixo, esgoto, pisoteamento da vegetação,

assoreamento, caça de animais, derrame de combustível e excesso de ruídos, estão causando

Page 124: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

danos ao meio ambiente, deixando os canais principal e secundários vulneráveis.

O turismo fluvial configura uma atividade que pode desenvolvida devido à

confluência de diversos fatores. Primeiramente, pela grande abundância de recursos hídricos

de que é possuidor o Brasil. Segundo, porque o turismo vem sendo praticado cada vez mais

como uma atividade econômica auxiliar para comunidades envolvidas. E, principalmente pelo

fato de, conforme relatado ao longo do trabalho, estas áreas estarem localizadas em

verdadeiros santuários ecológicos, que precisam de preservação, manutenção e conservação, e

se a atividade turística for bem planejada e desenvolvida, com determinação de capacidade de

carga, respeito ao plano de manejo (renovação a cada cinco anos) e envolvimento das

comunidades ribeirinhas, poderá, consequentemente, proporcionar os mecanismos de proteção

e recuperação necessários à biodiversidade, sem deixar de funcionar como alternativa

econômica sustentável.

Page 125: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

4.7. Referências bibliográficas

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RIO IVAÍALTO RIO PARANÁ

CORIPA (2010)

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5. CONFLUÊNCIA DO RIO IVAÍ E RIO PARANÁ: SUA POTENCIALIDADE TURÍSTICA

Cinthia Rolim de Albuquerque Meneguel; Mario Lincoln De Carlos Etchebehere CEPPE – Centro de Pós-Graduação e Pesquisa

Universidade Guarulhos (UnG) Rua Eng. Prestes Maia 88 – Centro

Guarulhos, São Paulo 07011-0880, Brasil [email protected] / [email protected]

RESUMO

Este artigo visou pesquisar e compreender a dinâmica, a estrutura do fluxo e a

morfologia dos canais do sistema fluvial de uma região de confluência de dois grandes rios

tropicais: o rio Ivaí e Paraná. Adicionalmente, com base nessas características importantes no

que se refere aos aspectos ambiental, ecológico, humano e econômico, associar e potencializar

as atividades turísticas locais, contribuindo para o desenvolvimento de uma atividade

econômica sustentável.

Palavras-chave: rio Ivaí, rio Paraná, confluência, regime hidrológico, turismo.

ABSTRACT

This article aimed to search and to understand the dynamics, the flow structure and the

canals morphology of the fluvial system in a region of confluence the two important tropical

rivers in Paraná state: Ivaí and Paraná. Additionally, on the basis of these important

characteristics, as for the ambient aspects, ecological, human and economic, to associate and

to emphasize the local tourist activities, contributing for the development of a sustainable

economic activity.

Keywords: Ivaí River, Paraná River, stream confluence, hydrology regime, tourism.

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5.1. Introdução

Os rios Paraná e Ivaí compõem as duas maiores bacias hidrográficas do Estado do

Paraná. Ambos são de extrema importância para a região, visto que sua biodiversidade

ecológica contribui com o desenvolvimento econômico. A dinâmica fluvial desses rios

influência ativamente no desenvolvimento agrícola e industrial da região, e pode, ainda,

favorecer o desenvolvimento da atividade turística local, como se pretende demonstrar no

presente artigo.

A área de confluência destes dois rios, a despeito da mencionada importância

econômica, passou a ser estudada em termos hidrodinâmicos apenas recentemente. Portanto,

trata-se, ainda, de um sistema fluvial parcialmente desconhecido, mas cujo entendimento se

faz necessário para a compreensão do funcionamento das bacias hidrográficas. Além disso,

torna-se necessário enfatizar a importância de se trabalhar com indicadores geoambientais de

impacto negativo no ambiente, que pode ocorrer com o desenvolvimento de atividades

turísticas impróprias, além dos impactos decorrentes de outras formas de aproveitamento

econômico, como a extração de minerais, caça, apicultura, dentre outros ao longo do curso na

região da confluência.

Portanto, o objetivo deste trabalho centra-se na caracterização do regime hidrológico

de ambos os rios, e a associação da zona de confluência com a atividade turística já

desenvolvida na região ou passível de implementação, visando, dentro do possível, ações no

desenvolvimento econômico sustentável das comunidades envolvidas.

5.2. Área de estudo

A área de estudo corresponde à confluência de dois importantes cursos d’água no

Estado do Paraná: o rio Ivaí (segmento inferior) e o rio Paraná. O rio Ivaí deságua na margem

esquerda do rio Paraná a cerca de 230 m de altitude e apresenta uma vazão média de 363 m³/s

(GIRALDI Jr., 2008).

O rio Paraná possui a sua foz, no estuário do Rio da Prata, nas proximidades de

Buenos Aires (Argentina), que se dá após percorrer 4.695 km e drenar uma área de 2.800.000

km², com uma descarga média anual, em sua foz, de 18.000 m³/s. Em termos de descarga,

aliás, o rio Paraná é considerado como o décimo maior curso d’água do mundo e a segunda

maior bacia de drenagem da América do Sul (LATRUBESSE; STEVAUX; SINHA, 2005).

Page 133: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A região da confluência destes dois rios (Paraná e Ivaí) localiza-se no Oeste do Estado

do Paraná, correspondendo as coordenadas geográficas 23º 13’ 12” e 23º 21’ 20” de latitude

sul e 53º 45’ 48” e 53º 38’ 28” de longitude oeste (Figura 58).

Figura 58: Mapa de localização da área de estudo – Confluência entre o rio Ivaí e Paraná. Fonte: Destefani (2005).

5.3. Ocupação na região do Alto rio Paraná

Sob o ponto de vista da ocupação do território, a região Noroeste do Estado do Paraná

teve seu início por volta do ano de 1501, devido ao processo de colonização, e disputa de

posse do território brasileiro pelos portugueses, bandeirantes e castelhanos. Os primeiros

homens brancos a chegarem à região foram os espanhóis, que subiram os rios da Bacia do

Prata. No século 16, os jesuítas espanhóis se instalaram e iniciaram o processo das missões.

Mas primeiramente, a região foi habitada por índios (Guaranis e Xetás), onde,

atualmente, encontram-se, pequenas aldeias no Estado do Paraná, e na área de estudo sítios

arqueológicos datam esta época.

A região que até então era pertencente ao Estado, passou a ser “comercializada”, com

a oferta de pequenos lotes para pequenos agricultores. Outra parte do território estava sendo

colonizado pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, formando-se vários núcleos

Page 134: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

populacionais (HARACENKO, 2002). A partir de então se estabeleceu os ciclos econômicos

como o da madeira e do café, onde se visava apenas o lucro, sem preocupações com os

impactos ambientais decorrentes. Este foi o período em que mais se devastou as florestas

locais. Neste contexto, a vegetação natural, que era representada por diversas espécies como:

peroba, cedro, coração de negro, marfim, loro, pau-d’alho e timbaúva, foram profundamente

modificadas pelas ações antrópicas.

Todavia, na década de 1960, a produção do café na região decaiu consideravelmente,

cedendo o lugar à produção de outras culturas, que ainda são nos dias atuais as principais

atividades econômicas da região, como o plantio da soja, algodão, milho, arroz e mandioca. A

prática da pecuária e extração de areia, também se tornou alternativas para o desenvolvimento

econômico local.

5.4. O rio Ivaí

A bacia hidrográfica do rio Ivaí localiza-se no Estado do Paraná (Brasil), com uma

área de 36.587 km², distribuída entre as coordenadas geográficas 22°56’17’’ – 25°35’27’’ de

latitude sul e 50°44’17’’ – 53°41’43’’ de longitude oeste (DESTEFANI, 2005). Este rio

possui cerca de 680 km de extensão, e é formado por diversos afluentes, sendo seus principais

na margem direita os rios Alonso ou do Peixe e o Paranavaí, e os da margem esquerda os rios

Corumbataí, Mourão, Ligeiro e dos Índios. O rio Ivaí nasce no município de Prudentópolis, na

Serra da Boa Esperança (região sudeste do estado), na confluência dos rios dos Patos com o

rio São João, a 900 m de altitude (ANDRADE, 2003).

Page 135: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

5.4.1. Caracterização do rio Ivaí

5.4.1.1. Geologia e geomorfologia

De acordo com Maack (1981), a bacia hidrográfica do rio Ivaí possui características

geológicas e geomorfológicas diversificadas em seu sentido longitudinal, podendo ser

subdividida em três segmentos: superior, médio e inferior, compreendendo, este último, a área

de estudo (Figura 59).

Figura 59: Mapa longitudinal da bacia do rio Ivaí e seus segmentos. Fonte: Paraná (1998).

O segmento superior (Figura 60) ocupa o chamado Segundo Planalto do Paraná e flui

sobre rochas dos grupos Itararé, Guatá e Passa Dois, sendo este último composto pelas

formações Irati, Serra Alta, Terezina e Rio do Rastro, assim como do Grupo São Bento,

Formações Botucatu e Pirambóia (FRANCO, 2007).

Neste segmento, o rio Ivaí (Figura 59) apresenta as declividades mais elevadas desta

bacia, com cerca de 800 m de altitude (Figura 60). Este trecho abrange desde a nascente do rio

Page 136: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

até um pouco mais da confluência com o rio Alonso, percorrendo cerca de 440 km de

extensão. De acordo com Destefani (2005), o rio dos Patos escoa em seu segmento superior

sobre um substrato de rochas sedimentares, assentando-se sobre um relevo movimentado e

dissecado a partir de uma superfície plana. Desta forma, Maack (1981) interpreta que o rio

Ivaí “corta” um relevo de serra, em degraus, constituídos por morros testemunhos e cadeias de

mesetas, apresentando diversos locais de saltos e corredeiras.

O segmento médio ocupa o chamado Terceiro Planalto do Paraná, e possui

aproximadamente 170 km de extensão, com altitudes de 300 a 250 m (Figura 60),

predominando, no substrato rochoso, basaltos da Formação Serra Geral. O rio corre nesta

região, por entre mesetas e patamares de um relevo menos enérgico tornando-se, os morros,

cada vez mais arredondados em direção jusante, tendo ainda presente as corredeiras, rasos e

pequenos saltos (DESTEFANI, 2005). O solo apresentando é ideal para o uso agrícola.

Figura 60: Gráfico do perfil longitudinal do rio Ivaí em relação a sua altitude. Adaptado de Destefani (2005).

Page 137: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

O segmento inferior possui altitudes de 250 a 230 m (Figura 60), o rio apresenta-se

mais plano, abrange cerca de 164 km, que correspondem a 18% da extensão total da bacia

hidrográfica. Nesse trecho, o rio Ivaí passa a escoar sobre os arenitos da Formação Caiuá

(Figura 61), apresentando pequenas corredeiras em talvegues constituídos por arenito

silicificado e ferruginizado (GIRALDI Jr., 2008). Os solos são ocupados por campos e

pastagens suscetíveis a processos erosivos (DESTEFANI, 2005).

Figura 61: Mapa longitudinal da geologia da bacia do rio Ivaí e seus segmentos. Fonte: Paraná (1998).

Diversos estudos comprovam que o rio Ivaí ao longo de sua extensão desenvolve um

padrão de canal meandrante encaixado irregular (FRANCO, 2007; DESTEFANI, 2005;). O

canal mostra-se sinuoso, configurando curvas irregulares e com quebras abruptas,

apresentando com frequência, o formato “cotovelo” (Figura 62).

Page 138: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 62: Segmento inferior do Rio Ivaí e suas margens em formato meandrante.

Fonte: Google Earth (2010).

5.5. O rio Paraná

O rio Paraná nasce da confluência de dois importantes rios brasileiros: o Grande e o

Paranaíba. Percorre, da sua cabeceira, na Serra da Mantiqueira, até a sua foz, cerca de 4.695

km, sendo 2.738 km no Brasil, onde flui sobre rochas cristalinas pré-cambrianas e,

subordinadamente, por rochas pré-paleozóicas afossilíferas. Este rio é formado pelos

afluentes: rio Paranapanema, Amambaí, Ivinhema, Ivaí, Piquiri e Iguatemi, na margem

esquerda; e rio Sucuruí, Pardo e Ivinheima, na margem direita.

O canal do rio Paraná, possui uma largura média de 4 km e profundidade média de 4 a

6 m (nível médio do rio). Seu talvegue é desviado para a margem do Estado do Paraná

(esquerda), onde é a profundidade pode atingir de 10 a 12 m. Na divisa com o Estado do Mato

Grosso do Sul, formaram-se inúmeras ilhas, que compreendem o Arquipélago de Ilhas e

Várzeas do rio Paraná.

O rio Paraná (Figura 63) é o que mais sofreu modificações antrópicas no país. O rio

encontra-se praticamente inundado devido às construções de represas e hidrelétricas. Os

impactos negativos ocasionados por estes grandes empreendimentos hidrelétricos na bacia do

Page 139: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

rio Paraná, foram diversos, restando apenas um trecho de 230 km em plenas condições

naturais (extensão do Parque Nacional de Ilha Grande e zona de amortecimento). Com a

grandiosa construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, o Parque Nacional de Setes Quedas, em

1982, foi submerso, e como uma medida compensatória, instituiu-se o Parque Nacional de

Ilha Grande em 30 de setembro de 1997.

Figura 63: Mapa de localização dos rios Paraná e Ivaí. Fonte: IBAMA (2010).

5.5.1. Caracterização do rio Paraná

5.5.1.2. Geologia e geomorfologia

Ao longo do rio Paraná existe um grande acúmulo de sedimento de fundo sendo

transportados para jusante. De acordo com Stevaux (1994), esta carga de fundo é constituída

por areia fina e média, seguida de areia muito grossa, grânulos e raros seixos finos. A

velocidade do fluxo de água varia entre 0,8 e 1,2 ms-¹. Sedimentos estes que acabam se

Page 140: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

depositando, e formando barras arenosas, que podem se transformar em pequenas ilhas ou

somar-se as ilhas vegetadas. Em geral as ilhas no rio Paraná estão entre 2 e 3 m, acima do

nível do mar. E a carga de fundo possui sua velocidade reduzida nestas regiões, assim como

nas irregularidades das margens do rio.

As ações antrópicas ao longo deste canal, como a construção de represas e

hidrelétricas, modificou, consideravelmente sua geomorfologia, sua planície de inundação e

sua biodiversidade. Drago (2001) aponta que o indicador da redução de sedimentos

suspensos à jusante dos barramentos existentes, onde ocorreu a diminuição de 60% de

sedimentos de suspensão transportados ao longo do Alto e Médio Paraná.

Souza Filho e Stevaux (1997) descreveram as principais unidades geomorfológicas

presente na área, destacando o Pediplano Pd1 e também as diferenças das margens do rio. A

margem esquerda é caracterizada por colinas do tipo “topos convexos”. Já a margem direita

apresenta-se desdobrada em diversos patamares, com uma densidade de drenagem menor,

devido à falta de diques marginais, o que ocasiona uma maior facilidade a inundações em

épocas de cheias e grandes precipitações. Nestas regiões alagadas formam-se outros pequenos

canais, pântanos e lagoas com formas alongadas. Camargo (2004), descreve estes ambientes

como essenciais para a dinâmica e manutenção do canal fluvial, sendo espaços de

transferência de matéria, energias e biota.

5.6. Região de confluência dos rios Ivaí e Paraná

A confluência do rio Ivaí e do rio Paraná, ocorre no Pontal do Tigre e nesta região

temos a travessia de balsa para o município de Querência do Norte (PR) e ao Porto Fazenda

Caiuá (MS).

Biron et al. (1993) expõe que a confluências de rios constituem pontos de complexos

ajustes hidráulicos, cujos escoamentos dos canais competem pela dominância do fluxo e

condições de transporte de sedimentos.

A região da confluência encontra-se no domínio de arenitos cretáceos do Grupo Cauiá,

que se caracterizam por serem quartzosos, de granulação média a muito fina, maciços ou com

estratificação cruzadas de grande porte, e com raras intercalações de conglomerados. No local

é possível identificar diversas destas feições (Figura 64).

Page 141: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 64: Paredão da Araras – Rio Paraná.

Conforme estudo realizado por Franco (2007), o rio Ivaí apresenta uma grande

quantidade de sedimentos em suspensão (compostos por silte e argila), que se diferem a

montante da desembocadura das águas do rio Paraná. Por outro lado, com relação ao Rio

Paraná, pode-se afirmar que ocorre a predominância de transporte de sedimento de carga de

fundo (areia fina e média), características que também influenciam diretamente no nível de

transparência da água, conforme demonstra o contraste de turbidez (Figura 65), no “encontro

das águas” dos rios Ivaí e Paraná, que configura-se como uma reprodução em menor escala do

famoso “encontro das águas” dos rios Negro e Solimões, na bacia amazônica.

O rio Paraná é menos profundo de que seu tributário, e pressiona a vazão do rio Ivaí,

reduzindo a sua velocidade de fluxo na confluência, agindo como uma barreira natural

(BIAZIN, 2005).

O local da desembocadura se encontra em constante mudança devido à dinâmica

hidrossedimentar movida pela força do escoamento de cada um dos canais fluviais

(FRANCO, 2007). Nesta região a planície de inundação está sujeita a alagamentos em épocas

de grandes precipitações, podendo manter-se inundadas por tempos consideráveis, atingindo

uma distância de 15 km de largura.

Page 142: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 65: Encontro das águas do rio Ivaí (águas escuras) com o rio Paraná (águas claras).

Fonte: Google Earth (2010).

Conforme a classificação de Köppen, as condições climáticas da parte jusante da bacia

podem ser estabelecidas como clima subtropical úmido com tendência de concentração de

chuva nos meses de verão sem estação seca definida. As temperaturas médias variam de 18°C

a 22°C, com pluviosidade média inferior a 2.000 mm/ano.

A região está localizada no bioma Mata Atlântica, classificada como Floresta

Estacional Semidecidual Submontana e Floresta ciliar, ajustando-se ao ecossistema do rio

Paraná. A região localizada no Estado do Mato Grosso do Sul se encontra em melhores

condições de preservação do que no Estado do Paraná. Estas áreas sofrem constantes

alterações devidas à intensa ação antrópica, que ocasiona impactos negativos no uso do solo,

na rede de drenagem, na extração irregular de areia e argila, dentre outros.

A vegetação atual que se encontra na região da confluência destes rios, trata-se de um

trecho único que se encontra em seu estado natural de conservação, fazendo parte da Reserva

da Biosfera da Mata Atlântica. A conservação desta biodiversidade trata-se de um caráter

prioritário, e diversas medidas já foram adotadas, visando a conservação e preservação dos

ecossistemas locais, como a criação do Parque Nacional de Ilha Grande, APA – Ilhas e

várzeas do rio Paraná e Parque Estadual do Ivinheima.

A região, também abriga exemplares de espécies de mamíferos, como a Anta e

Sussuarana, aves residentes e migratórias, e peixes, como o Dourado e Pintado.

Page 143: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A principal atividade econômica na região é a agropecuária, abrangendo o cultivo de

arroz, soja, algodão, mandioca e criação de bovinos. Muitos agricultores utilizam a água do

rio para a irrigação das plantações.

A atividade turística nesta região vem tentando se desenvolver, tornando-se uma

alternativa econômica local, visto que diversos fatores levam a esta necessidade. Grande parte

dos jovens mudaram-se para os grandes centros, buscando outras formas de sobrevivência e

educação, como exemplo nível superior; população local tornou-se portanto, mais idosa.

Também existem os ilhéus, que após a criação da APA de Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, se

encontram estabelecidos nas áreas de várzeas do rio e procuram oportunidade para trabalho, já

que deixaram de praticar suas atividades não mais permitidas nestes locais. A atividade

turística também auxilia para os períodos sazonais da pesca (Piracema), e nos períodos de

entressafra.

Algumas iniciativas já foram adotadas pelos municípios em questão (Figura 66), para

o desenvolvimento da atividade turística, porém muito pode ser feito sustentavelmente,

devido à diversidade natural e cultural.

Figura 66: Portal de boas-vindas aos visitantes que contemplam o “encontro das águas” do rio Ivaí e

Paraná, no município de Querência do Norte - PR. Fonte: Querência (2010).

Page 144: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

5.6.1. Município de Querência do Norte

Este município localiza-se no noroeste do estado do Paraná, a 644 quilômetros da

capital Curitiba, fazendo limite com os municípios de Santa Cruz de Monte Castelo, Loanda,

Porto Rico e Naviraí, e fazendo parte de duas bacias hidrográficas: Paraná e Ivaí. O município

possui cerca de 11.438 de habitantes (BRASIL, 2000). E tem uma área de 914,76 km²,

representando 0.459% do Estado.

5.6.1.1. Histórico de criação

A região do município de Querência do Norte pertencia à Companhia Colonizadora

Brasil – Paraná Loteamentos S.A, porém em meados de 1950, lotes foram colocados a venda,

dando início ao processo de colonização.

Em 14 de novembro de 1951, o Distrito de Paranavaí, pela Lei Estadual nº. 790, foi

elevado a município autônomo, desmembrado de Mandaguari. A partir de então o território de

Querência do Norte passou a ser procurado por colonos e agricultores (QUERÊNCIA, 2010).

Os antigos moradores, era na maioria das localidades do Rio Grande do Sul e Santa

Catarina. Este povoado recebeu a etimologia Querência, que se origina do latim “quaerere”,

adaptado para o espanhol latino “Querência”, assumindo o sentido de translado, lar e morada

(HARACENKO, 2002).

Em 26 de novembro de 1954, através da Lei Estadual nº. 253, o município foi

oficialmente reconhecido, sendo desmembrado de Paranavaí. Pela Lei Municipal nº. 09, de 23

de novembro de 1956, é criado o Distrito de Paranaguaçu (atual Icatu) e anexado ao

município de Querência do Norte. Pela Lei Municipal nº. 10, de 28 de novembro de 1956, é

criado o Distrito de Porto Brasília (atual Porto Brasílio) e anexado ao município de Querência

do Norte. Em divisão territorial datada de 01 de julho de 1960, o município é constituído de

03 distritos: Querência do Norte, Icatu e Porto Brasílio.

A base econômica do município é agropecuário, tendo como principais atividades o

cultivo do arroz, mandioca, leite e pescados. Em geral o cultivo no município, quase que na

totalidade da área, utiliza-se da tecnologia de semente pré-germinada.

Page 145: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

5.6.1.2. Assentamentos rurais

O município de Querência do Norte, também é conhecido na região, devido ao seu

grande número de assentamentos rurais (Quadro 5). A reforma agrária se iniciou em território

paraense, após a luta da organização de pequenos trabalhadores rurais, que em 1960 realiza

suas reivindicações por melhores condições de trabalho, salário, garantia de preços mínimos e

reconhecimento dos sindicatos rurais. Fernandes (2000) descreve que:

A luta pela terra é uma luta de resistência e no seu desenvolvimento, desde os trabalhos de base até depois da conquista da terra, desdobram-se outras lutas. Os sem-terra não são apenas excluídos da terra, também são excluídos de outros direitos básicos de cidadania. Lutam pela conquista de terra, educação, moradia, transporte, saúde e por política agrícola.

No município a luta pela Terra tem início a partir de 1986, com a ocupação da fazenda

Pontal do Tigre, onde o assentamento só foi regularizado em 1995, até então as famílias eram

ilegalmente proprietárias das terras, e sofreram perseguições e violências, como batalha de

policiais armados contra trabalhadores rurais desarmados, que se tornou popular em nível

nacional.

Atualmente os assentamentos rurais, trabalham com o cooperativismo. No município

funciona a COANA (Cooperativa de Comércio e Reforma Agrária Avante Ltda.), a qual é

responsável pela comercialização dos produtos dos assentamentos do pólo de Querência do

Norte, destacando-se o arroz, o leite e a piscicultura.

A instalação de diversos assentamentos em Querência do Norte teve muitos aspectos

positivos para o desenvolvimento da região, que melhorou consideravelmente sua infra-

estrutura, economia, geração de empregos e arrecadação de impostos.

Page 146: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

ASSENTAMENTOS RURAIS EM QUERÊNCIA DO NORTE - PR

ANO DE

INSTALAÇÃO ASSENTAMENTOS

FAMÍLIAS

ASSENTADAS

ÁREA EM

HECTARES

1995 Pontal do Tigre 338 8096,1

1995 Chico Mendes 80 229,5

1997 Che Guevara 70 2453,2

1997 Margarida Alves ou 17 de maio 20 556,6

1998 Zumbi do Palmares ou Unidos pela Terra 22 801,8

1999 Luiz Carlos Prestes 50 1256

2000 Fazenda Santana 21 560,71

2001 Antonio Tavares Pereira 41 1000,5

2006 Irmã Dorothy 70 2165,91

Quadro 5: Demonstrativo dos assentamentos existentes no município de Querência do Norte – PR. Adaptado de Querência (2010).

5.6.1.3. Atratividades turísticas

O município de Querência do Norte já desenvolve algumas atividades turísticas locais,

porém existe um potencial muito maior a ser explorado. Querência do Norte conta com muitas

belezas naturais, um diferencial muito importante é sua costa banhada pelos rios Paraná e

Ivaí, onde pode-se encontrar ilhas e praias que chamam a atenção para o turismo.

Ao longo deste município, nas margens do rio Paraná, existe a presença de cinco

portos: Porto Floresta, Porto Basílio (Figura 67), Porto Dezoito, Porto Natal e Porto Felício. E

ao redor dos portos são estabelecidos pequenos vilarejos, formados por pescadores locais e

casas de veraneio.

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Figura 67: Porto Basílio – Querência do Norte – PR. Fonte: Querência (2010).

Redução jesuítica

O Caminho de Peabiru é muito conhecido na América do Sul. Trata-se de uma rede de

caminhos famosos, cujo, muitos interligavam a região sul e sudeste brasileira, com a região

Andina (Figura 68).

Figura 68: Mapa do Caminho do Peabiru – América do Sul. Fonte: Peabiru (2010).

Page 148: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Este caminho era utilizado por índios, alguns autores afirmam que também foi

utilizado por Incas, além dos colonizadores através das “Missões” (Figura 69).

Figura 69 : Marco da Rota Missioneira no município de Querência do Norte (PR).

Fonte: Querência (2010).

Uma das rotas ligava o litoral paulista até a cidade de Assunção no Paraguai, cruzando

todo o estado do Paraná, e região de confluência do rio Ivaí e Paraná, em Querência do Norte.

Portanto como marco histórico o município implantou uma cruz jesuítica (Figura 70), e uma

gruta (Figura 71) ao padroeiro do município, que se tornaram um atrativo turístico potencial,

visto que o local também é um mirante para a apreciação do espetáculo do “Encontro das

águas”.

Page 149: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 70: Cruz jesuítica marcando o caminho de Peabiru, utilizado pelas Missões, no município de Querência do Norte (PR). Fonte: Querência (2010).

Figura 71: Gruta com o padroeira da cidade no município de Querência do Norte (PR). Fonte: Querência (2010).

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5.6.1.4. Calendário de eventos

O município já possui um calendário de eventos fixos, realizados anualmente.

Datas comemorativas:

Aniversário da cidade: 05 de dezembro.

O evento é composto por uma missa de ação de graças, desfiles cívico e alegórico,

exposições agroindustrial e de artesanato.

Festa do Padroeiro São Pedro Apóstolo: 29 de junho.

O evento é realizado na Igreja Matriz, com uma missa campal, procissão e

bênçãos. É realizada uma grande quermesse, com fogueira, e baile com concurso

de rainha, leilão de gado, bingo e apresentação de danças e quadrilhas.

Eventos:

Festa do Costelão do Fogo de Chão – mês de maio.

É realizada uma festa com oferta de pratos que possuem como base a costela

realizada em valas no chão (a moda gaúcha).

Festa do Arroz – mês de setembro.

Querência do Norte é conhecida como a capital do arroz irrigado, sendo o arroz a

temática da maior festa da região. Em 1978, iniciou-se a confraternização de

encerramento do encontro de produtores, e quatro anos depois, a festa passou a ser

aberta à participação da população. A festa é composta por diversas atratividades,

como o concurso para a eleição da “rainha da festa”; campeonato de futebol suíço;

truco e canastra. Também é realizada uma grande gincana, envolvendo os

produtores locais de todas as culturas; os participantes se dividem em quatro

equipes que representam as principais atividades econômicas do município,

sendo: arroz, mandioca, leite e pescadores. Existe também a presença de barracas

com a gastronomia típica, principalmente envolvendo pratos (doces e salgados)

que possuem como base o arroz.

Page 151: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Festa Aquática Porto Natal – mês de novembro.

São realizadas competições esportivas e aquáticas. No decorrer é realizado um

almoço tradicional e show com bandas.

Cavalgada – mês de dezembro.

É um dos eventos mais esperados pelos participantes da região, que realizam

diversos caminhos a cavalo, pelo meio urbano, rural e ecológico no município.

5.6.1.5. Estrutura turística

Meios de hospedagem

Atualmente a cidade oferece meios de hospedagem simples, de categoria econômica, e

insuficiente para comportar os visitantes durante os eventos já existentes. Se faz

extremamente necessário a implantação de novos leitos diversificados, como albergues,

campings, hotéis de classe turística e hotéis fazenda. Grande área do município é rural, e um

hotel fazenda se torna por si só, um atrativo, que pode oferecer city-tours nas riziculturas,

agro-floresta, passeios aos portos, velejo e outros esportes no rio Ivaí e Paraná, visitas a

lagoas e as praias arenosas.

Na cidade temos o hotel do Kabeça com 10 leitos, o hotel da Dona Rosa com 15 leitos,

e o hotel Elitty com 20 leitos. Totalizando 45 leitos, comportanto cerca de noventa turistas.

Rede gastronômica

A rede gastronômica local, também precisa ser ampliada e diversificada. Atualmente

não existem muitas opções gastronômicas, e não comporta o montante de visitantes ao

município durante os eventos.

O município possui o total de dois restaurantes, quatro lanchonetes e uma sorveteria.

Page 152: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Transporte

As estradas e rodovias de acesso ao município se encontram em boas condições,

porém se faz necessária a sinalização e manutenção das vias internas do município,

principalmente das que fazem ligações com os portos, sendo que algumas não apresentam

asfalto.

O município não possui terminal rodoviário, portanto é necessário desembarcar em

algum município vizinho e ir de ônibus intermunicipal ao município de Querência do Norte.

Este transporte é regular e diário.

A frota de táxi é bem pequena e se faz necessário a implantação de uma maior

quantidade de veículos, assim como uma locadora de carros.

5.6.1.6. Sugestões para o desenvolvimento do turismo local

O município de Querência do Norte possui um grande potencial turístico que ainda

pode ser desenvolvido. Um local que pode ser tornar um grande atrativo é a Agrofloresta do

município, localizada em das escolas implantada em áreas de assentamento rural, o Luiz

Carlos Prestes. O núcleo é formado por agricultores que estão desenvolvendo experiências de

produção agroecológica ou se encontram em processo de conversão para esta matriz de

produção. A Agrofloresta tem como objetivo de contribuir na recomposição de áreas de

preservação permanente e reserva legal; aumento da biodiversidade cultivada; e desenvolver

novas experiências de produção. Atualmente, as famílias assentadas em Querência do Norte e

Santa Cruz do Monte Castelo vêm desenvolvendo experiências de produção como: arroz

agroecológico, derivados de cana de açúcar e vaca de leite.

Algumas atividades atividades podem ser elaboradas e praticadas com os turistas,

como exemplo uma gincana de sementes, canteiro medicinal, produção de mudas, mostra

ambiental, horta e visitas a viveiros. Trazendo uma nova observação sobre o meio ambiente, e

a conscientização sobre a preservação ambiental.

A região também também é composta por várias vias terrestres sem asfalto, em locais

isolados, que permite o desenvolvimento de um roteiro a ser realizado por motocicletas,

veículos, e cavalos. Atividades como MotoCross, rally, cavalgada e enduro a pé, podem ser

desenvolvidas e atrair participantes de outras localidades.

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O município também é o que mais possui portos, que podem ter sua infraestrutura e

superestrutura desenvolvida, com implantação de estacionamento, sanitários, vestiários,

lanchonetes e restaurantes, locais para churrasco e descanso, quadras poliesportivas, marinas,

e o desenvolvimento de esportes náuticos.

5.6.2. Município de Icaraíma

Este município localiza-se no noroeste do Estado do Paraná, estando a 493,83 km

da capital do estado, cidade de Curitiba. Sua localização geográfica é de 23° 23’ 00’’ Sul –

latitude, e 53° 37’ 00’’ – longitude.

De acordo como o Brasil (2000), o município possui a população total de 10.048 de

habitantes. Com uma área de 675,24 km² representando 0,34% do Estado e 0,12% da região.

5.6.2.1. Histórico de criação

A  região  começou  começou a ser ocupada em 1952, onde pessoas de diversas

localidades povoaram o município. Em 1953, instalou-se a primeira indústria madeireira na

região, contribuindo economicamente com o desenvolvimento local, que até então era apenas

agrícola. Em 25 de julho de 1960, o município foi criado através da Lei Estadual nº 4.245,

sendo desmembrado do município de Cruzeiro do Oeste.

O nome Icaraíma origina-se do tupi “i” água, rio + “cará” ... acará (peixe) + “eíma” ...

sem: rio sem acarás ou rio sem peixes acarás.

5.6.2.2. Atratividade turísticas

O município de de Icaraíma já desenvolve algumas atividades turísticas locais, que

atraem uma grande quantidade de turistas regiões. Os eventos são bastante apreciados e

divulgados nas regiões do entorno.

Praia do Meião

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Trata-se de uma praia localizada no rio Paraná, forma por um grande banco de

areia. Atualmente é um dos locais mais visitados turisticamente no município,

principalmente no verão, atingindo cerca de 50 pessoas/dia durante a semana, e

cerca de 200 pessoas/ida nos finais de semana (ICARAÍMA, 2010). Também é

realizado um campeonato de vôlei de praia com a participação de cerca de 1500

pessoas. Se faz extremamente necessário ordenar o uso ecologicamente viável para

as atividades de lazer, para menos impactos negativos sejam causados ao meio

ambiente.

Paredão das Araras

O Paredão das Araras (Figura 72), trata-se de um paredão de arenito com

reentrâncias que permitem o abrigo de aves. Em geral o mesmo é contemplado

através de visitas realizadas por vias fluviais, onde as embarcações devem desligar

seus motores na parada para a contemplação, assim como manter o silêncio

regional.

A área acima do paredão pertence a propriedades particulares, que autorizam a

entrada de alunos para uma trilha relacionada à educação ambiental. Se faz

necessário que os órgãos municipais, estabeleça um índice mínimo de urbanização

nesta faixa territorial, criando assim, normas para taxa de ocupação, infraestrutura

básica e densidade populacional.

Também é importante que se faça um estudo minucioso para estabelecer a

distância mínima do paredão em sua parte inferior, às margens do rio, para desta

forma garantir a proteção geológica e da fauna que habita.

Atividades como escaladas e desembarque no paredão, também não devem ser

realizadas, salvo para os casos de pesquisas previamente autorizadas.

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Figura 72: Paredão das Araras localizado no município de Icaraíma – PR. Fonte: Eckert (2010).

Ilha das Almas ou Araras e Lagoa das Almas

A Ilha das Almas ou Araras, localiza-se em frente ao Paredão das Araras, oque

permite excelente visualização do mesmo. Na ilha é possível ouvir os ecos de

quando se grita. Este fato fez com que os indígenas locais a chamassem de Ilha das

Almas, por acreditarem que as almas é que repetiam suas palavras. A ilha em seu

interior apresenta a Lagoa das Almas, que possui mais de um 1km de extensão, e

que pode ser acessada por um canal de aproximadamente 25m de extensão.

Parque Nacional da Ilha Grande

O município de Icaraíma é um dos onze municípios que compõem o Parque

Nacional de Ilha Grande, que trata-se de um local com uma vasta biodiversidade,

contendo diversas espécies em extinção em nosso ecossistema atual, além de sítios

históriocs e arqueológicos. O parque é formado por um arquipélago, constituído

por ilhas e ilhotas fluviais, canais, lagoas e pântanos. Dentro do parque diversas

atividades turísticas podem ser desenvolvidas, como: trilhas, observação de

pássaros, ciclismo, dentre outras, mas se faz necessário seguir as orientações e

determinações constantes no plano de manejo.

Page 156: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

5.6.2.3. Calendário de eventos

O município já possui um calendário de eventos fixos, realizados anualmente.

Datas comemorativas:

Aniversário da cidade: 25 de julho.

Padroeira Nossa Senhora Aparecida: 12 de outubro

Emancipação política: 25 de julho

Eventos:

Concurso de Pesca ao Pacu – mês de abril.

Este concurso é realizado partindo de Porto Camargo – Icaraíma (Figura 73),

atraindo participantes de diversas localidades. Caracteriza-se por uma prova em

que o grande desafio das equipes é fisgar o maior exemplar, e cerca de 180 equipes

participam anualmente. As premiações sempre são excelentes, para as três

primeiras colocações é entregue um troféu e última edição (abril/2010), foi

sorteado aos participantes um motor de 15 HP, três barcos, uma carreta para barco

e um motor elétrico. Durante o evento temos shows, pirotécnicos, esportivos,

recreativos e culturais; e ocorre também um torneio de truco.

Figura 73: Foto do Porto Camargo localizado no município de Icaraíma – PR. Fonte: Icaraíma (2010).

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Cavalgada da Amizade (Figura 74)– mês de abril.

Através de inscrições prévias, o participante irá participar da cavalgada (Figura 72)

que percorre todo o município, incluindo períodos noturnos.

Figura 74: Cavalgada da Amizade no município de Icaraíma – PR. Fonte: Icaraíma (2010).

Festa do Peão Boiadeiro (Figura 75) – mês de setembro

Além do rodeio realizado com cavalos, bois e touros, ocorre também shows artísticos

e baile. Nesta festa também é eleita a rainha e a princesa do rodeio, dos quais se faz

necessário ter residência no município. Uma arena gastronômica também é montada.

Figura 75: Arena localizada no município de Icaraíma para realização dos rodeios e outras festas locais.

Fonte: Icaraíma (2010).

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Festa em Louvor a Nossa Senhora Aparecida – mês de outubro

A festa é realizada com uma missa, procissão e quermesse na Igreja Matriz (Figura

76).

Figura 76: Igreja matriz do município de Icaraíma – PR. Fonte: Icaraíma (2010).

5.6.2.4. Estrutura turística

Meios de hospedagem

O município de Icaraíma possui apenas três hotéis, com o total de 42 leitos, abrigando

84 pessoas. A rede de hospedagem do município não acomoda os visitantes dos grandes

eventos que já ocorrem na região. Se faz necessário o desenvolvimento deste tipo de serviço.

Rede gastronômica

O número de restaurantes existentes atualmente, também é insuficiente no município,

que conta apenas com um restaurante de médio porte, a Churrascaria Jurupita, e os demais são

estabelecimentos pequenos, que não suportam a demanda local.

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Transporte

Assim como o município de Querência do Norte, Icaraíma possui estradas e rodovias

de acesso ao município em boas condições, porém se faz necessária a sinalização nas mesmas,

assim como nas vias internas do município, cujo algumas não são asfaltadas. Existe transporte

rodoviário regular e diário. A frota de táxi é bem pequena e se faz necessário a implantação de

uma maior quantidade de veículos, assim como uma locadora de carros.

5.6.2.5. Sugestões para o desenvolvimento do turismo

Primeiramente a região de Porto Camargo deve implantar a estrutura de saneamento

básico, que já se encontra em andamento, para a garantia da conservação do ambiente fluvial.

Nesta região temos a Rodovia BR-487, que faz parte do complexo de pontes de Porto

Camargo, que interliga o Estado do Paraná ao Estado do Mato Grosso do Sul, através dos

municípios de Icaraíma, Vila Alta – PR e Naviraí – MS (Figuras 75 e 76). A construção deste

complexo auxílio no desenvolvimento econômico dos municípios e na geração de novos

empregos.

Algumas atividades de aventura, tais como bungee jump, que é um esporte radical que

consiste em saltar para o vazio preso a uma corda elástica. Trata-se de uma modalidade

bastante procurada e praticada por aventureiros. Na região trata-se do único espaço para a

prática desta modalidade esportiva.

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Figura 77 e 78: Complexo de pontes de Porto Camargo. Fonte: Icaraíma (2010).

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5.7. Referências bibliográficas

ANDRADE, A. R. Variabilidade da precipitação pluviométrica na bacia hidrográfica do Ivaí – Paraná. 2003. 99 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – Departamento de Geografia, Programa de Pós-Graduação Mestrado em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2003. BIAZIN, P. C. Característica sedimentar e hidrológica do rio Ivaí em sua foz com o rio Paraná, Icaraíma – Pr. 2005. 74 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – Departamento de Geografia, Programa de Pós-Graduação Mestrado em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2005. BIRON, P. et. al. Shear layer turbulence at an unequal depth channel confluence. Turbulence: perspectives on flow and sediment transport. New York: John Wiley & Sons, p. 198 – 213, 1993. BRASIL, 2000. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso: 14 jul. 2010. DESTEFANI, E. V. Regime hidrológico do rio Ivaí – PR. 2005. 93 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – Departamento de Geografia, Programa de Pós-Graduação Mestrado em Geografia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2005. ECKERT, R. Disponível em: <http://www.panoramio.com/user/2896366>. Acesso em: 3 jul. 2010. FRANCO. A. L. A. Análise da dinâmica e estrutura de fluxo e da morfologia da confluência dos rios Ivaí e Paraná, PR/MS. 2007. 98 f. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Centro de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, Programa de Mestrado em Análise Geoambiental, Universidade Guarulhos, Guarulhos, 2007. GOOGLE EARTH. Acesso em: 26 jun. 2010. HARACENKO, A. A. de S. Querência do Norte: Uma experiência de colonização e reforma agrária no Noroeste Paranaense. Maringá: Editora Massoni, 2002.

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IBAMA, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/cogep>. Acesso em: 01 jul. 2010. ICARAIMA. PREFEITURA MUNICIPAL DE ICARAIMA. Disponível em: <http:www.icaraima.pr.gov.br>. Acesso em: 25 jun. 2010. LATRUBESSE, E. M.; STEVAUX, J. C.; SINHA, R. Tropical Rivers. Geomorphology, Liverpool: nº 70, p. 187 – 206, mai. 2005. MAACK, R. Geografia física do Paraná. Curitiba: Secretaria da Cultura e do Esporte do Estado do Paraná, 1981. PARANÁ (Estado). Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hidrícos e Saneamento Ambiental. Atlas de recursos hídricos do Estado do Paraná. Curitiba: SUDERHSA, 1998. PEABIRU. CAMINHOS DO PEABIRU. Disponível em: <http://www.peabirucalunga.blogspot.com>. Acesso em: 6 jun. 2010. QUERÊNCIA. PREFEITURA MUNICIPAL DE QUERÊNCIA DO NORTE. Disponível em: <http//:www.querenciadonorte.pr.gov.br>. Acesso em: 02 jan. 2010.

SOUZA-FILHO, E. E.; STEVAUX, J. C. Geologia e geomorfologia do complexo rio Baía, Curutuba e Ivinhema. In: VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N.S. A planície de inundação do alto rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: EDUEM, 1997. p. 3 - 46. STEVAUX, J. C. Geomorfologia, sedimentologia e paleoclimatologia, do Alto curso do rio Paraná (Porto Rico/PR). Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba: EDUFPR, nº 42, p. 97 – 112, 1994.

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PAREDÃO DAS ARARASALTO RIO PARANÁ

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6. GEODIVERSIDADE, GEOCONSERVAÇÃO E GEOTURISMO ASSOCIADOS AO ALTO RIO PARANÁ

Cinthia Rolim de Albuquerque Meneguel; Mário Lincoln De Carlos Etchebehere CEPPE – Centro de Pós-Graduação e Pesquisa

Universidade Guarulhos (UnG) Rua Eng. Prestes Maia 88 – Centro

Guarulhos, São Paulo 07011-0880, Brazil [email protected] / [email protected]

RESUMO

O geoturismo trata-se de um novo segmento da atividade turística, que tem como base

o desenvolvimento econômico sustentável através da geoconservação. Utiliza-se do

patrimônico geológico como oferta turística. Trata-se da interação do ecoturismo e a

preservação efetiva local. A proposta do estudo apresentado é de conceituar os termos

geodiversidade, geoconservação e geoturismo, assim como de ressaltar a importância

particular de cada um. Uma abordagem, para integrar os três elementos citados, através da

interação da geologia, aliada as práticas sustentáveis do geoturismo.

Palavras-chave: Geodiversidade, Geoconservação, Geoturismo, Rio Paraná.

ABSTRACT

The geoturismo is a new segment of the tourist activity, which has as base the

sustainable economic development through the geoconservation. It is used of the geologic

property as it offers tourist. One is about the interaction of the ecotourism and the

preservation accomplishes place. The present study proposal to appraise the terms:

geodiversity, geoconservation and geotourism, as well as standing out the particular

importance of each one. A boarding, to integrate the three cited elements, through the

interaction of geology, allied practical the sustainable ones of the geotourism.

Key-words: Geodiversity, Geoconservation, Geotourism, Paraná River.

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6.1. Introdução

O Brasil apresenta uma grande diversidade para os segmentos turísticos, visto ao

amplo e rico patrimônio natural e cultural. Dentre estes segmentos, o ecoturismo,

caracteriza-se por utilizar-se do patrimônio natural de forma sustentável e preservacionista,

porém os atrativos estão em geral estão relacionados ao meio biótico (fauna e flora). Por esta

razão, Hose (1996), discursa que o grande desafio da comunidade de geociências para este

século, volta-se a preservação do patrimônio geológico, promovendo a divulgação do turismo

de natureza ou geoturismo. Este segmento potencializa a preservação da geodiversidade, que

atualmente se encontra ameaçada.

O estudo foi desenvolvido na região do Alto rio Paraná (PR), visando identificar sítios

geológicos, geomorfológicos, arqueológicos, paleontológicos e mineralógicos que possuam

características representativas e singulares ao desenvolvimento de projetos de geoconservação

e geoturismo.

Atualmente diversos geosítios são visitados por turistas que buscam por diversidade

na prática do turismo. Em geral estas práticas são desenvolvidas devido ao potencial natural,

que agrega atividades esportivas, de contemplação, históricas e culturais. Andrade (1995)

afirma que os recursos naturais de uma região, determinam o seu potencial turístico, e se a

atividade turística for planejada, e bem desenvolvida, contribui eficientemente com a

promoção da conservação do ambiente local.

6.2. Geologia

Suguio (1998) define geologia como o ramo das geociências que estuda as rochas que

compõem a Terra e as transformações que elas sofreram através do tempo geológico até os

dias atuais. Os conhecimentos geológicos são úteis nas atividades de mineração, procura de

combustíveis fósseis, na solução dos problemas ambientais, bem como no entendimento da

evolução do Planeta Terra do ponto de vista acadêmico (Paleontologia, Tectônica de placa,

Vulcanismos, Terremotos, dentre outros).

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6.3. Geodiversidade

O conceito de geodiversidade é relativamente novo. Trata-se de um tema recente que

começou a ser utilizado por geólogos e geomorfólogos na década de 90, e possui ainda poucas

bibliografias a respeito.

A geodiversidade trata-se da variedade de ambientes geológicos, sistemas e processos

geradores de paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são

o suporte para a vida na Terra. Agem juntamente com a biodiversidade, sendo responsável

pela evolução do planeta.

Nascimento et al. (2008), expõem que para alguns autores o conceito de

geodiversidade é mais restrito, relacionando-se apenas aos minerais, rochas e fósseis,

enquanto para outros abrange todos os processos naturais, inclusive os atuais.

No Brasil, o conceito de geodiversidade é pouco conhecido, desta forma as políticas

públicas de conservação estão sempre voltadas a priorizar a biodiversidade. Porém a

preservação de qualquer patrimônio natural, só é efetiva, se considerarmos a geodiversidade e

a biodiversidade juntas.

6.4. Patrimônio geológico

O patrimônio geológico trata-se de todos os elementos que compõem a

geodiversidade, como a variedade de minerais e rochas. O mesmo é representado pelo

conjunto de sítios geológicos (ou geossítios). De acordo com o SIGEP (2002), são

considerados sítios geológicos, os recursos fundamentados na mutilfinalidade:

Pesquisa científica, difusão do conhecimento científico na área das Ciências da Terra; atividades educacionais e recreativas, criação e fortalecimento de uma consciência conservacionista; referências em guias turísticos, estimulando, através do geoturismo, a participação e desenvolvimento sócio-econômico das comunidades locais.

Uceda (1996) expõe que o patrimônio geológico inclui todas as formações rochosas,

estruturas, acumulações sedimentares, formas, paisagens, depósitos minerais ou

paleontológicos, coleções de objetos geológicos de valor científico, cultural ou educativo, de

interesse paisagístico ou recreativo, podendo incluir ainda elementos da arqueologia industrial

relacionados com instalações para a exploração de recursos do meio geológico.

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Muitos desses sítios, encontram-se ameaçados por atividades predatórias e destrutivas

que ocorrem nas proximidades de suas localizações ou devido a utilizarem-se diretamente

deles como matérias-prima para uma série de atividades. Como ameaça ao patrimônio

geológico podemos citar a falta de conhecimento do público sobre a sua importância; obras de

engenharia; atividades de mineração não regularizadas ou planejadas; atividades turísticas

irregulares, dentre outros.

6.5. Geoconservação

O patrimônio geológico é vulnerável e está sujeito a diversas ameaças, inclusive a

ação humana. A geoconservação tem como objetivo a conservação do patrimônio geológico,

conseqüentemente da geodiversidade, além de disseminar o conhecimento sobre os processos

naturais.

Sharples (2002) define geoconservação como uma ação que visa à preservação da

diversidade natural (ou geodivesidade) de significativos aspectos e processos geológicos

(substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, pela manutenção da evolução

natural desses aspectos e processos.

A geoconservação deve ser feita através de uma avaliação de cada geosítio, quanto a

sua vulnerabilidade a degradação, ou a perda de fatores naturais e ações antrópicas.

No Brasil uma das formas de proteção ao patrimônio natural foi através do código

ambiental, que vem acarretando progressos, benefícios e conquistas para o país. Em 18 de

Julho de 2000, foi sancionada a lei nº 9.985 que regulamenta e institui o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação da Natureza. A mesma após ter decorrido dois anos de sua

promulgação foi editada pelo Ministério do Meio Ambiente através do Decreto nº 4.340 em

22 de Agosto de 2002. O mesmo possui determinações que estão diretamente relacionadas ao

patrimônio geológico, cujo objetivo é de proteger as características relevantes de naturezas

geológicas, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural.

No entanto, a iniciativa mais importante e abrangente no sentido de reconhecimento e

geoconservação do patrimônio brasileiro, foi a elaboração da Comissão de Sítios Geológicos

e Paleobiológicos do Brasil - SIGEP, criada em 1997, em resposta ao chamado mundial feito

em 1993, pelo Working Group on Geological and Paleobiological Sites – GEOTOPES

(NASCIMENTO et al., 2008).

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A SIGEP é formada por 10 entidades públicas ou privadas, que são: Academia

Brasileira de Estudos do Quaternário (ABEQUA), Academia Brasileira de Ciências (ABC),

Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Departamento Nacional de Produção Mineral

(DNPM), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA),

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Petróleo Brasileiro S.A.

(PETROBRAS), Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), Sociedade Brasileira de

Geologia (Sbgeo) e Sociedade Brasileira de Paleontologia (SPB). Colaboram ainda, grupos de

apoio internacional: a UNESCO (World Heritage committee), IUGS (International Union or

the Geological Sciences), IGCP (International Geological Correlation Programme, IUCN

(International Union for the conservation of the Nature) e GEOTOPES (Working Group on

Geological and Paleobiological Sites).

6.5.1. Programas mundiais de geoconservação

6.5.1.1. Geosites

Em 1996, ocorreu o segundo Simpósio Internacional sobre Conservação Geológica.

No mesmo intensificou-se uma grande discussão com a finalidade de se elaborar uma

metodologia efetiva a ser aplicada a geoconservação em todo o planeta. O projeto

desenvolvido, portanto, tem o nome de Geosites (NASCIMENTO et al., 2008).

O Geosites trata-se de uma base de dados, que deve servir de suporte a qualquer

iniciativa que venha a ser desenvolvida, visando a geoconservação, é o inventário do

patrimônio geológico brasileiro. Leva-se em consideração a representatividade do local, a

singularidade, a possibilidade de promover estudos multidisciplinares globais, a

disponibilidade, a potencialidade para objetivos educacionais e culturais, e a complexidade e

geodiversidade local.

6.5.1.2. Geoparks

Os geoparks tratam-se, de um projeto de preservação e recuperação do patrimônio

geológico. De acordo com a UNESCO (2010), o programa trata de uma série de parques

geológicos globais, que são áreas com características de especial significância geológica, ou

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representativas da história geológica de uma determinada região. Um geoparque pode ser

entendido como:

Um território com limites bem definidos que tem uma área suficientemente grande para que sirva ao desenvolvimento econômico local. Isto compreende certo número de sítios associados ao patrimônio geológico de importância científica especial, beleza ou raridade, representativo de uma área e de sua história geológica, eventos ou processos. Além disto, um geoparque deve ter um valor ecológico, arqueológico, histórico ou cultural.

Na concepção de geoparques, o geoturismo é apontado como uma atividade de

extrema importância para a conservação do patrimônio geológico. Nestas áreas o turismo

deve ser reconhecido, amplamente difundido e valorizado, sendo uma ferramenta necessária a

preservação.

O programa de geoparques é bem desenvolvido em países que já incorporaram a

preocupação com o patrimônio geológico. Na Europa existem 33 geoparques reconhecidos, na

Ásia 22, e na América do Sul 1, que se localiza no Brasil. A UNESCO aprovou em 2006 a

criação do Geoparque do Araripe, que é o primeiro do continente americano e do hemisfério

Sul.

O território do Geopark do Araripe está situado ao Sul do Ceará, numa área de

aproximadamente 5.000km², no limite com os estados do Pernambuco e Paraíba. O geopark

possui uma grande relevância geológica e paleontológica, para se compreender, parte

importante do passado geológico e a vida na Terra. É considerado um dos parques mais

completos do mundo (GEOPARK, 2010). O mesmo é formado por nove sítios geológicos,

sendo: Exu, Santana, Ipubi, Granito, Nova Olinda, Araiara, Devoniano, Missão Velha e

Batateira (Figura 79), e seus principais afloramentos pertence ao período Cretáceo.

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Figura 79: Mapa de localização dos geotopos do Geopark do Araripe (NASCIMENTO et al., 2008).

Para o país foram sugeridas pela BRASIL (2010), mais trinta geosítios disponíveis

para a criação de Geoparques (Quadro 6).

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GEOSÍTIOS SUGERIDOS PARA A CRIAÇÃO DE GEOPARQUES NO BRASIL

NOME DO GEOPARQUE UF IDENTIFICAÇÃO DE GEOSÍTIOS

Minas do Camaquã RS Mineralógico

Floresta Petrificada RS Paleontólogico

Aparaddos da Serra RS/SC Geomorfológico, Ígneo

Amestistas RS Mineralógico, Geomorfológico e Ígneo

Iguaçu PR Geomorfológico e Ígneo

Vila Velha PR Geomorfológico e Paleoambiental

Alto Ribeira SP Espeleológico e Paleoambiental

Araraquara SP Paleontólogico e Paleoambiental

Itu SP Paleoambiental

Serra do Bodoquena MS Espeleológico e Paleoambiental

Vulcão de Nova Iguaçu RJ Ígneo

Serra da Canastra MG Geomorfológico e Paleoambiental

Quadrilátero Ferrífero MG Paleoambienta, , Mineralógico e Histórico-Cultural

Diamantina MG Geomorfológico e Mineralógico

Araguainha GO/MT Astroblema

Chapada dos Guimarães MT Geomorfológico, Paleontológico e Espeleológico

Chapada dos Veadeiros GO/MT Geomorfológico e Paleoambiental

Chapada Diamantina BA Geomorfológico, Paleoambiental e Histórico-Cultural

Serra da Capivara PI Paleontológico e Arqueológico

Cabo de Santo Agostinho PE Ígneo e Histórico-Cultural

Rio do Peixe PB Paleontológico

Serra do Martins RN Espeleológico

Chapada do Apodi RN Espeleológico

Fernando de Noronha PE Ígneo

Sete Cidades PI Geomorfológico e Paleoambiental

Lençóis Maranhenses MA Sedimentológico e Ambiental

Presidente Figueiredo AM Estratigráfico, Espeleológico, Arqueológico e

Histórico-Cultural

Roraima RR Geomorfológico e Paleoambiental

Vale do Catimbau PE Geomorfológico e Ambiental

Quadro 6: Geosítios sugeridos pela CPRM, para a criação de geoparques no Brasil. Adaptado de: Nascimento et al. (2008).

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6.6. Geoturismo

A atividade turística vem se desenvolvendo e se transformando nos últimos séculos,

mas somente a partir do século XX. De La Torre (1994) expõe que o turismo é uma soma de

relações e de serviços resultantes de uma troca de residência temporária e voluntária motivada

por razões alheias a negócios ou profissionais.

A atividade turística faz uso, e é desenvolvida em geral utilizando a paisagem,

interagindo com o ambiente, e com o meio (biótico e abiótico). Assim como outras atividades

que fazem uso do ambiente, o turismo pode causar impactos. Por este motivo a atividade

turística está se modificando, e desenvolvendo segmentos sustentáveis, ocasionando a

interação do turista com o meio, como a prática do geoturismo, que visa o acesso ao

conhecimento e a conscientização social, cultural e ambiental da população local e dos

visitantes.

É crescente a procura por regiões com belezas naturais pelos turistas. O contato com a

natureza constitui, atualmente, uma das maiores motivações das viagens. De acordo com

Ruschmann (2004) a inter-relação entre o turismo e o meio ambiente é incontestável, uma vez

que este último constitui a “matéria-prima” da atividade.

Hose (2000) define geoturismo como:

A provisão de facilidades interpretativas e serviços para promover o valor e os benefícios sociais de lugares e materiais geológicos e geomorfológicos e assegurar sua conservação, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse recreativo ou de lazer.

O geoturismo, na verdade, faz a interface entre a geologia e turismo cultural, trata-se

da compreensão do meio ambiente. De acordo com Ruchkys (2007), o geoturismo é um

segmento da atividade turística que tem o patrimônio geológico como seu principal atrativo, e

busca sua proteção por meio da conservação de seus recursos e da sensibilização do turista,

utilizando, para isto, a interpretação deste patrimônio, tornando-o acessível ao público leigo,

além de promover a sua divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra. Este conceito

se torna ainda mais vigente nos dias atuais, onde os turistas estão mais exigentes e buscam

experiências diversificadas.

Conclui-se, portanto, que o geoturismo, trata-se de um segmento dinâmico e

diversificado. As atividades deste segmento devem ser entendidas como atividades que

Page 173: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

respeitam os termos naturais, culturais e sociais, além da capacidade de carga dos meios, e a

conservação dos recursos locais (Quadro 7). Não deve ser compreendida como uma atividade

de proposta única, mas sim, de maneira abrangente e multifacetada.

TURISMO DE AVENTURA CORRELAÇÃO GEOLÓGICA

Esportes de aventura

ou radicais, Escaladas,

Rafting, Boia-cross,

Treking e Rapel.

Energia do relevo,

Feições de relevo,

Alta declividade, Escarpas

e Rupturas acentuadas de declive.

PAISAGENS NATURAIS GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

Amplitude de Horizontes,

Formas de relevo

e Destacada.

Talvegue, Cachoeiras,

Corredeiras

e Relevo de Chapada.

PAISAGENS ANTRÓPICAS GEOMORFOLOGIA

Registro de garimpos

e ruínas

Arenito, Cavernas

e Recursos minerais.

Quadro 7: Relações de atividades turísticas e Geomorfologia&Geologia.

A atividade geoturística representada pela diversidade de sítios geológicos e

geomorfológicos, nada mais é do que uma modalidade desenvolvida em bases geocientíficas,

que visa o desenvolvimento econômico sustentável através do turismo, como uma forma de

fortalecer a sua proteção, a partir da participação das comunidades locais, promoção da

educação ambiental, e incentivos a pesquisa cientifica. Em suma, as comunidades irão praticar

suas atividades tradicionais de uma maneira ambientalmente correta.

6.7. O patrimônio geológico e o geoturismo regional no hidrossistema Paraná

A região do Alto rio Paraná possui uma grande diversidade de ambientes,

consequentemente diversos patrimônios geológicos, que devem ser preservados e entendidos

Page 174: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

pela população local e turistas. Sugere-se que este tipo de atividade, com fim educacional seja

desenvolvida ao longo das comunidades ribeirinhas.

Como suporte a esta atividade, foram desenvolvidos três painéis geológicos

abrangendo as barras arenosas locais, o canal do Alto rio Paraná, e o Paredão das Araras.

Segue modelos de painéis geológicos que podem ser implantados nos sítios geológicos.

6.8. Considerações Finais

A prática do geoturismo faz entender a intrínseca relação existente entre a

geodiversidade e geoconservação. Trata-se de uma atividade que tem como prioridade, a

conservação e preservação da natureza e o patrimônio geológico.

No Brasil é encontrada uma grande variedade de rochas, minerais e fósseis de diversas

idades, diferentes paisagens, coberturas e solos. Sendo testemunho da história geológica da

Terra. Indicações geológicas agregam valor a paisagem, traz novas informações e

conhecimentos, promove a educação, estimula políticas públicas, e se torna fundamental para

o desenvolvimento sustentável dos setores mineral, hídrico e territorial.

A atividade turística se bem orientada, pode contribuir para a proteção efetiva de um

patrimônio. Barretto (1999) destaca que a preservação isolada, como forma de proteção, pode

levar a destruição do patrimônio, seja ele, cultural, natural ou geológico, por falta de

condições financeiras para obras de restauro ou de simples manutenção. Desta forma o

turismo pode promover meios para este tipo de conservação, além da participação e

desenvolvimento das comunidades locais, favorecimento e geração de empregos, e

minimização dos impactos ambientais. A realização de práticas sustentáveis como o

geoturismo, tem como objetivo o esclarecimento para o visitante da relação entre aquela

localidade, e as práticas do turismo (geoturismo), priorizando a conservação do patrimônio

geológico. Os problemas seriam efetivamente diminuídos, ou eliminados, se nas atividades

envolvidas se tivesse o mínimo de conhecimento técnico científico na área da geociência. Este

segmento turístico, motiva pessoas que querem adquirir novos conhecimentos, aprendizados,

descobertas e imaginação, promovendo uma maior divulgação sobre ciências da Terra e uma

maior educação ambiental.

Page 175: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Os geosítios podem ser integrados a roteiros geoturísticos, e a programas de educação

ambiental e científico, dependendo, de sua vulnerabilidade de degradação, estas atividades

irão promover a geoconservação local.

Como sugestão, na região do Alto rio Paraná, poderiam ser implantados painéis

explicativos com as formações geológicas locais (Anexos); desenvolver um programa de

intercâmbio entre as universidades com o intuito científico; incentivar a conservação dos

monumentos naturais através de livros, cartilhas, páginas na internet e CD-ROM; desenvolver

cartões postais da região com explicações geológicas; implantação de um plano de

desenvolvimento turístico integrado, envolvendo as comunidades locais num processo

participativo; além de promover a educação ambiental nas comunidades circunvizinhas.

Page 176: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

6.9. Referências bibliográficas

ANDRADE, J. V. Turismo e dimensões. São Paulo: Ática, 1995. BARRETTO, M. Turismo e legado cultural: as possibilidades de planejamento. 4. ed. Campinas: Papirus, 1999. BRASIL, 2010. CPRM – SERVIÇOS GEOLÓGICOS DO BRASIL. Disponível em: <www.cprm.gov.br/Geo_Site/index.htm>. Acesso em: 24 abr. 2010. DE LA TORRE, F. El turismo, fenômeno social. México: Fondo de cultura econômica, 1994. GEOPARK. GEOPARK DO ARARIPE. Disponível em: <www.geoparkararipe.urca.br/content>. Acesso: 17 jun. 2010. HOSE, T. A. Geoturism, or can tourists become casual rockhounds? In: BENNETT, R. R.; DOYLE, P.; LARWOOD, J.G.; PROSSER, C.D. Geology on your Doorstep: the Role of Urban Geology in Earth Heritage Conservation. London; Geology Society, 1996. P. 207 – 228. HOSE, T. A. European Geotourism – geological interpretation and geoconservation promotion for tourists. In: BARETTINO, D.; WIMBLEDON, W. A. P.; GALLEGO, E. Geological Heritage: Its Conservation and Management. Madrid: Sociedad Geologica de Espana / Instituto Technologico Geominero de Espana/ProGEO, 2000. P. 127 – 146. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. MMA. SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. 2. ed. Brasília: MMA/SBF, 2002. NASCIMENTO, M. A. L do. RUCHKYS, U. A. MANTESSO-NETO, V. Geodiversidade, geoconservação e geoturismo – trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico. Rio Grande do Norte: SEGEO, 2008. RUCHKYS, U. A. Patrimônio geológico e geoconservação do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais: potencial para criação de um geoparque da UNESCO. Tese de doutorado, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. RUSCHMANN, D. V. de M. Turismo e planejamento sustentável. A proteção do meio ambiente. 11. Ed. Campinas: Papirus, 2004.

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SHARPLES, C. Concepts and principles of geoconservation. Documento em PDF disponibilizado na Tasmanian Parks & Wildlife Service website. Disponível em: <http://www.parks.tas.gov.au/geo/conprin/define.html. Acesso em: 10 abr. 2009. SIGEP. SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS DO BRASIL. Disponível em: <http://www.unb.br/ig/sigep>. Acesso em: 12 jun. 2009. SUGUIO, K. Dicionário de Geologia Sedimentar e áreas afins. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. UCEDA, A. C. El patrimonio geológico. Ideas para su protección, conservación y utilización. Serie monografias. Madríd, 1996. UNESCO. UNITED NATIONS EDUCATIONS, SCIENTIFIC, AND CULTURE ORGANIZATION. Disponível em: <http://portal.unesco.org/science/en/ev.php-URL_ID=6400&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html>. Acesso em: 5 abr. 2010.

Page 178: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

BIODIVERSIDADE NO ALTO RIO PARANÁ

Page 179: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo como atividade econômica também gera impactos negativos, como a

dependência econômica excessiva da atividade, a inflação, a especulação imobiliária, e a

sazonalidade da demanda turística. De acordo com Ruschmann (2004), no meio natural, os

impactos são mais evidenciados e, entre outros fatores, provoca o desequilíbrio ecológico a

partir da destruição dos ecossistemas nas localidades receptoras. Portanto, torna-se essencial o

planejamento adequado do desenvolvimento da atividade turística em ambientes frágeis e

suscetíveis à ação antrópica, como é o caso do Alto Rio Paraná.

O turismo, assim como qualquer outra atividade econômica, sofre modificações

constantes. As mudanças implicam adaptações das novas demandas turísticas emergentes,

assim como, para as tendências mundiais. Cada vez mais, pequenas empresas familiares,

cooperativas e associações comunitárias contribuem com a mão de obra e desenvolvimento da

atividade turística.

7.1. O turismo fluvial de base comunitária – a modificação do olhar

O Ministério do Turismo, nos últimos anos, vem desenvolvendo uma nova modalidade

da atividade turística: o turismo de base comunitária, que tem como objetivo a inserção direta

da comunidade local na atividade, com a função de receber e acolher o visitante, visando,

como resultado, um desenvolvimento econômico sustentável da região, assim como a

preservação de hábitos e costumes locais. Pretende-se, desta forma, difundir a atividade com

os princípios da sustentabilidade envolvendo o cotidiano da população local, assegurando o

bem estar comum, garantindo a sobrevivência de seus membros e preservando sua própria

identidade cultural.

O governo federal tem realizado diversos investimentos, como apoio às comunidades

que desenvolvem o turismo comunitário. A SNPDTUR – Secretaria Nacional de Programa de

Desenvolvimento do Turismo é a responsável pela formulação dos planos, programas e ações

destinadas ao desenvolvimento e fortalecimento do turismo nacional. Estabelece e acompanha

os programas de desenvolvimento regional do turismo e a promoção do apoio técnico

institucional e financeiro.

Page 180: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

7.2. Surgimento do turismo de base comunitária

O turismo de base comunitária começou a ser implantado por volta dos anos 80,

motivado por fatores econômicos, sociais, culturais e políticos.

Maldonado (2009) expõe que o desenvolvimento desta modalidade turística se deu

devido ao fator das pressões mundiais do mercado turístico; aonde comunidades rurais e

indígenas vêm enfrentado pressões do mercado sobre seus patrimônios. Esta atividade

também foi impulsionada por várias organizações que encorajaram diversas comunidades a

receber turistas em seus territórios por considerarem uma opção viável para a preservação de

seus recursos naturais, do meio ambiente e da biodiversidade local.

Autoridades públicas e empresas privadas também começaram a investir e a incentivar

este tipo de operação turística comunitária, contribuindo assim, para diversificação da oferta

nacional.

O turismo de base comunitária configura de um segmento de mercado especializado e

personalizado, onde, em geral, pequenos grupos de visitantes estão em busca de experiências

pessoais originais e enriquecedoras, combinando vivências culturais autênticas, desfrutando

de cenários naturais, com uma remuneração adequada do trabalho comunitário. Maldonado

(2009) intitula esta modalidade turística como “um turismo com selo próprio”, ofertando

atributos originais e autênticos sem perder suas características. O autor menciona que:

Corresponde a um fenômeno que tem sido observado em grande ascensão em locais de beleza paisagística excepcional, dotada de vida selvagem e de atrativos culturais únicos. Florestas primárias ou secundárias, sejam estas secas de altitude ou tropicais; áreas lacustres, insulares ou costeiras; manguezais ou salinas cobrem um vasto leque de zonas ecológicas: de exuberantes vales amazônicos aos gélidos altiplanos.

Outro fator associado à origem desta modalidade turística vincula-se às estratégias

políticas do movimento indígena e rural em busca da preservação para seus territórios, parte

essencial do seu patrimônio e base material de sua cultura. Além disso, destaca-se a busca

constante pelo fator gerador de divisas, principalmente em municípios baseados em poucas

atividades econômicas, que ainda enfrentam períodos sazonais, como a agricultura

(entresafra) e a pesca profissional (piracema), dentre outros.

Page 181: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

7.3. Patrimônio comunitário

De acordo com Maldonado (2009), o patrimônio comunitário forma-se através do

conjunto de valores, crenças, conhecimentos, práticas, técnicas, habilidades, artefatos, lugares,

representações, terras e territórios, assim como todos os tipos de manifestações tangíveis e

intangíveis vinculados a um povo, nos quais são expresso o seu modo de vida, sua

organização social, sua identidade cultural, e suas relações com a meio ambiente.

O turismo de base comunitária torna-se, portanto, um dos responsáveis pela

perspectivas de valorização do acervo do patrimônio comunitário. Devido a esta atividade, as

comunidades tornam-se mais conscientes do seu potencial relacionado aos bens patrimoniais,

ou seja, do conjunto formado pelos recursos humanos, culturais e naturais, auxiliando, assim,

na criatividade e inovação da gestão de seus territórios.

7.4. O capital social

Maldonado (2009) também define “capital social” como:

O que designa o conjunto de valores, conhecimentos coletivos

(ancestrais), técnicas de produção, formas de conduta e de

organização, suscetíveis de gerar comportamentos de cooperação entre

seus membros e eficiência no trabalho, com a finalidade de preservar a

coesão social e garantir suficientes meios de vida para assegurar a

sobrevivência do grupo como tal.

O fator humano e cultural da experiência é o que atrai este tipo de turista, interessado

na troca de experiências. E, nessa concepção, o desenvolvimento do turismo é sustentado nos

valores de solidariedade, cooperação, respeito pela vida e ao próximo, conservação e

aproveitamento sustentável dos ecossistemas e da diversidade biológica que estes englobam.

Page 182: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

7.5. O turismo comunitário

O turismo comunitário configura uma forma de organização empresarial sustentada na

propriedade e na autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários

(MALDONADO, 2009). Esta atividade utiliza-se das práticas de cooperação e equidade no

trabalho, assim como na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços

turísticos.

Adicionalmente, pode ser destacado que tal atividade não compete, na localidade, com

as outras atividades econômicas; apenas é um complemento ao desenvolvimento econômico e

ocupacional para potencializar e dinamizar as atividades tradicionais.

7.6. Dificuldades econômicas na região do Alto rio Paraná

A região do Alto rio Paraná possui suas atividades econômicas baseadas na

agricultura, pecuária e extração de areia. Diversos municípios enfrentam dificuldades

econômicas diversificadas, devido a muitos motivos, tais como:

- Deslocamento de população jovem para os grandes centros urbanos em busca de

oportunidade de trabalho e opções de estudo;

- Ilhéus que tiveram que desapropriar suas residências fixas, devido ao fato do

reconhecimento da área como uma APA – Área de proteção ambiental e a fundação do Parque

Nacional de Ilha Grande. A maioria destas famílias foi abrigada no continente, porém, muitas

ainda não se adaptaram ao custo de vida maior (água, energia elétrica, facilidades, dentre

outros). Diversas famílias que exerciam atividades variadas, tais como pecuaristas,

sericultores, apicultores, atualmente ainda estão em busca de oportunidade de trabalho;

- Os ilheús do Estado do Mato Grosso do Sul receberam no ato da desapropriação as

indenizações, porém os ilheús do Estado do Paraná, até o presente momento, ainda não

receberam, portanto, muitos deixaram suas famílias no continente, mas o chefe da família

retornou à ilha para o aguardo da indenização; e

- As comunidades ribeirinhas sobrevivem basicamente da atividade pesqueira, e enfrentam

grandes dificuldades financeiras devido ao período da Piracema, quando a pesca é proibida.

Outro fator, é que as mulheres, em geral, não desenvolvem nenhuma atividade econômica,

apenas auxiliam os pescadores, visto que estas regiões localizam-se longe dos centros urbanos

Page 183: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

e não dispõe de nenhuma alternativa. Algumas mulheres são domésticas nas casas de

veraneio, localizadas nas margens do rio Paraná, e trabalham, portanto, esporadicamente.

7.7. O turismo fluvial de base comunitária – uma alternativa ao desenvolvimento

econômico sustentável

O turismo brasileiro enquanto setor econômico é um segmento potencial para a

geração de empregos, divisas, e, assim, contribui com o desenvolvimento social, em

diferentes locais do País, incorporando novas atrações à sua oferta habitual, seguindo novas

tendências mundiais. O desenvolvimento do turismo sustentável tem, como alternativa, a

organização singular para alguns roteiros e/ou regiões aptas a compatibilizar a oferta de

produtos e serviços turísticos diferenciados com a promoção de melhorias da qualidade de

vida das comunidades locais.

A região do Alto rio Paraná pode tornar-se desenvolvida através da sustentabilidade

turística. A proposta é da implantação de um corredor turístico, que propiciará a interligação

de vários municípios, e diversas unidades de conservação, através da via fluvial. Esta oferta

turística possui características peculiares, da organização, e estruturação dos produtos, e

serviços turísticos, denominados de base comunitária.

A integração dos esforços entre os órgãos governamentais dos estados de Mato Grosso

do Sul e Paraná é imprescindível para o alcance dos objetivos conservacionistas e

preservacionistas, visando, assim, a proteção da biodiversidade, que, neste caso, tem um

agravante espacial: a proteção do último remanescente do rio Paraná.

Faz-se necessário, o desenvolvimento de atividades que promovam a fixação de

residência dos jovens, envolvam as mulheres, e incluam a comunidade (trabalhadores rurais e

pescadores) nos períodos sazonais de outras atividades econômicas.

O turismo de base comunitária transforma a população autóctone na principal

protagonista desse processo, promovendo, entre outros: a conservação de modo de vida de

comunidades tradicionais; o auxílio na preservação da biodiversidade através da visão dos

próprios moradores locais; o desenvolvimento da educação ambiental; a diversificação da

oferta turística; a promoção do desenvolvimento e a inclusão social; a participação da

comunidade; a afirmação cultural; além de agregar valor a alguns destinos.

O turismo de base comunitária gera a reafirmação das identidades locais, sem que a

comunidade se feche para o mundo. Traz a proximidade como elemento fundamental, não

Page 184: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

apenas nas relações internas que identificaram a própria comunidade, mas também nas

relações entre os visitantes e a comunidade. A diversidade de contextos, histórias, e lugares e

personagens faz de cada uma das experiências únicas, sendo este o maior motivador do

atrativo turístico.

A proposta aqui delineada inclui a formação de uma cooperativa, fundação, ou grupo,

para o desenvolvimento do turismo fluvial (ecoturístico), que poderá ser uma importante

atividade geradora de renda para as populações locais, promovendo também mudanças no

conceito de desenvolvimento na região.

A valorização do patrimônio ambiental e dos acervos culturais pode significar

vantagens competitivas para os negócios comunitários; por esta razão o grupo a ser

estabelecido nesta região deve promover assembléias frequentes, com o intuito de se

identificar, pesquisar e analisar o desenvolvimento desta atividade, sugerir novas

implantações e modificações, programas de qualificações, análise de impactos, equipamentos

para o trabalho, dentre outros. Estratégias de fomento para produtos artesanais, com alto valor

agregado a partir da dinâmica cultural da região, devem também ser desenvolvidas e aplicadas

nas diversas comunidades.

No município de Itaquiraí – Mato Grosso do Sul, o fomento para produtos artesanais

já foi implantado. O projeto local integra, por seu potencial natural e vocação, o turismo

sustentável. O governo deste estado criou o PDTUR (Plano de Desenvolvimento Turístico

Sustentável), desenvolvido pelo SEBRAE/MS, que deu todo o suporte para as atividades do

Grupo de Artesãs Milagre da Fibra, que busca a sua matéria prima na folha da bananeira. É

neste contexto, de um novo olhar para o ambiente local e o que se pode extrair dele sem

devastá-lo, que surge um novo modelo econômico, um fator que fortalece o turismo

sustentável local. A mulher artesã revelou-se como principal produtora do ramo, contribuindo,

assim para a suplementação da renda familiar. Diversas peças são produzidas a partir da folha

da bananeira, tais como, bolsas, jogos americanos, esteiras, objetos decorativos, e até o

presépio que é representado nos finais de ano, na praça central da cidade, aos turistas, é

constituído desta fibra (Figuras 80 e 81).

Page 185: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figuras 80 e 81: Objetos artesanais que possuem como matéria-prima a folha de bananeira. Fonte:

Itaquiraí (2010).

Considerando o objetivo que fundamenta esse trabalho, o artesanato é um dos fatores

do desenvolvimento socioeconômico sustentável, que agrega valores ao turismo, aliando-se à

preservação da geodiversidade, pois esta é a fonte primária para a produção e a realização do

turismo sustentável. Na margem do estado do Paraná, é desenvolvido o artesanato com barro,

dando forma a diversos objetos cerâmicos. Deve-se desenvolver uma associação dos

artesões, para a formação do “mercado do artesanato”, em algum dos municípios, como Alto

Paraíso, que possui diversos artesões que trabalham com a argila. Outras sugestões podem ser

alinhadas, a saber:

A gastronomia típica também deve obrigatoriamente ser inserida neste roteiro turístico

comunitário. Ela pode estar diretamente relacionada ao ensino e à capacitação agrícola

local. O município de Querência do Norte, por exemplo, realiza o plantio da mandioca.

Neste caso, poderia ser desenvolvido um roteiro, onde os turistas despendessem um

determinado período na colheita desta raiz, e depois fossem ao engenho de farinha

acompanhar a transformação artesanal da mandioca em farinha de polvilho (doce e

azedo), biju e tapioca. Dela também se faz bebidas destiladas como a Tiquira. Uma

arena gastronômica poderia ser montada, visando o comércio destes produtos, assim

como derivados do milho (bolos, tortas, sorvetes, cuscuz, suco, dentre outras

especialidades), visto que o município de Icaraíma é um grande produtor deste tipo de

cereal. A região também possui outros pratos típicos à base de carnes brancas e

vermelhas. A superestrutura gastronômica local ainda precisa se desenvolver, e a

oportunidade seria a inserção da culinária típica;

Page 186: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

A pesca artesanal é mais do que uma atividade de subsistência, é a principal fonte de

proteína da população das comunidades ribeirinhas; é um retrato da identidade e cultura

local. Essa prática pode ser desenvolvida de forma esportiva com os turistas;

O ensino e capacitação agrícola podem ser adquiridos através da experiência de se

visitar diversas localidades agropecuárias, tais como as riziculturas locais; e

Os meios de hospedagem podem ser oferecidos em instalações rústicas, mas

aconchegantes, de pequeno porte, com estrutura familiar, ou na casa de membros da

comunidade, que permite a convivência entre os visitantes e moradores, de forma

simples e natural.

Muitas atividades também podem ser desenvolvidas pelos próprios moradores no

Parque Nacional de Ilha Grande, que não foi ainda efetivamente aberto ao público. Todavia,

muitas atividades turísticas irregulares já estão sendo desenvolvidas nas dependências do

parque e na zona de amortecimento. A atividade turística desenvolvida pela própria

comunidade evitaria que a visitação fosse realizada de forma aberta, sem nenhuma restrição

ou fiscalização. Um grupo de pessoas pode ser treinado e habilitado a desenvolver a função de

guiamento e monitoramento nestes locais, assim como em trilhas e passeios, visto que

ninguém ainda desenvolve legalmente estas funções.

A região deve desenvolver um modelo de gestão que agrupe as propriedades

associadas, diversificando a oferta turística, oferecendo, como atrativo, os meio urbano e

rural, e os patrimônios cultural e natural.

A criação de centros de orientação ao turista também se faz necessária em cada um dos

municípios, onde a comunidade pode atuar diretamente. Como material de apoio, deve-se

desenvolver panfletos de divulgação, mapas, guias oficiais, cartazes e sinalização; para os

períodos sazonais, recomenda-se desenvolver outros eventos e festas. Da mesma forma,

sugere-se promover, em todo o território, uma política para reciclagem de materiais e descarte

adequado de resíduos.

Como atrativo turístico também pode-se implantar o “Memorial do Rio Paraná”. Este

memorial seria composto por um acervo sobre o rio Paraná, com painéis, DVD’s, maquetes,

um aquário com espécies encontradas ao longo do rio, equipamentos náuticos, documentos,

revistas e livros, entre outros objetos.

Page 187: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

O projeto “Educando sobre as águas” também poderia ser implantado. Sugere-se a

implantação de um projeto, cujo objetivo seja o de aproximar estudantes, profissionais e

turistas, do meio natural. O projeto seria realizado com o auxílio de atividades

complementares, mas teria como atividade principal a sensibilização, através de uma aula

interativa, onde ocorreria o embarque em um determinado tipo de embarcação que percorreria

a extensão do Alto rio Paraná, para a visualização dos painéis geológicos e informações mais

precisas sobre o sistema fluvial, sua geomorfologia, ambiente biótico e abiótico, história,

cultura, etc., dentre outras informações que podem complementar o programa.

Para todo o percurso pode-se utilizar embarcações como os catamarãs, que permitem o

deslocamento de um grande número de pessoas, com toda a infraestrutura necessária, tais

como sanitários, equipamentos áudios-visuais, equipamentos de segurança e bar.

7.8. Roteiro turístico – Circuito fluvial no Alto rio Paraná

Devido à grande diversidade de atrativos turísticos já existentes na região do Alto rio

Paraná, assim como os atrativos potenciais a serem desenvolvidos, diversos roteiros podem

ser elaborados, de acordo com o perfil da demanda, e do segmento turístico a ser

desenvolvido. Desta forma, propõe-se, de modo tentativo, um modelo de roteiro turístico

fluvial de base comunitária (Figura 82 e Quadro 8).

Page 188: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

Figura 80 – Mapa do roteiro turístico – Circuito fluvial no Alto rio Paraná.

CIRCUITO TURÍSTICO FLUVIAL NO ALTO RIO PARANÁ

DESCRIÇÃO DO ROTEIRO

PRIMEIRO DIA

PROCESSO TEMPO LOCAIS ATRATIVOS MEIO

PRIMEIRO

DIA 1 dia

Hospedagem em

Alto Paraíso (PR).

Visita pela tarde ao centro da cidade (praça central e

igreja matriz), visita ao mercado do artesanato com

especialidades em cerâmicas e jantar (não incluso)

pela noite em um restaurante familiar localizado

próximo ao porto.

Rodoviário

PARTIDA

(08:00h)

Início da

manhã

O roteiro pode iniciar-se de qualquer um dos portos existentes nos municípios das

margens do Alto rio Paraná, porém sugere-se que a partida ocorra no Porto Figueira

(Alto Paraíso), onde atualmente possui o melhor meio de hospedagem para os visitantes,

além de um amplo espaço para eventos.

PARADA 1

(08: 40h) 15 minutos

Paredão das Araras

(PR).

Local que conserva a geodiversidade na região, e de

extrema beleza cênica. Fluvial

PARADA 2

(09:10h)

2h e 30

minutos

Município de

Icaraíma (PR).

Esportes naúticos no rio do Veado (opcionais) como

caiaque, boia-cross e banana-boat,

além de nado no rio.

Fluvial

Page 189: CINTHIA ROLIM DE ALBUQUERQUE MENEGUEL TURISMO …

   

PARADA 3

(12:00h) 2h

Município de

Icaraíma (PR).

Visita a arena gastronômica com produtos derivados

do milho e restaurante com pratos típicos regionais. Rodoviário

PARADA 4

(14:10h) 1h

Município de

Icaraíma (PR).

Memorial do rio Paraná (composto por um acervo

sobre o rio Paraná, com painéis, DVD’s,

maquetes, um aquário com espécies

encontradas ao longo do rio,

equipamentos náuticos, documentos,

revistas e livros).

Rodoviário

PARADA 5

(16:00h) 1h

Município de

Querência do Norte

(PR).

Encontro das águas do rio Ivaí com o rio Paraná

(mirante, gruta com a padroeira da cidade e marco

da rota missioneira).

Fluvial

PARADA 6

(17:20h)

Município de

Querência do Norte

(PR).

Check-in no hotel

SAÍDA

OPCIONAL

ÀS 20:30H

1h

Município de

Querência do Norte

(PR).

Cavalgada noturna pelos campos do município, além do

encerramento com um jantar servido em com a temática luau

a beira de uma fogueira.

SEGUNDO DIA

PARTIDA

(08:00h) Município de Querência do Norte (Check-out no hotel).

PARADA 1

(08:20h) 20 minutos

Município de

Querência do Norte

(PR).

Praça central e igreja Matriz. Rodoviário

PARADA 2

(08:45h) 30 minutos

Município de

Querência do Norte

(PR).

Visita a Agrofloresta que se foi desenvolvida por

uma comunidade de assentados rurais. Rodoviário

PARADA 3

(09:30h) 60 minutos

Município de

Querência do Norte

(PR).

Visita à plantação e ao engenho de farinha de

mandioca. Rodoviário

PARADA 4

(10:30h) 60 minutos

Município de

Querência do Norte

(PR).

Visita a uma fazenda rizicultura. Rodoviário

Às 12:00h - Almoço (incluso) a ser realizado na própria embarcação, apresentando um menu composto

de pratos típicos da região, como pintado na telha. Fluvial

PARADA 5

(14:00h) 3h

Município de

Itaquiraí (MS).

Praia da Amizade - prainha a beira rio, onde se pode

deitar na rede, mergulhar no rio, praticar esportes

náuticos (opcionais), caminhadas, dentre outros.

Fluvial

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PARADA 6

(17:30h)

Município de

Itaquiraí (MS). Check-in no hotel.

TERCEIRO DIA

PARTIDA

(08:00h) Município de Itaquiraí (Check-out no hotel).

PARADA 1

(08:20h) 40 minutos

Município de

Itaquiraí (MS).

Colônia de pescadores a beira do rio Paraná

(intercâmbio cultural). Rodoviário

PARADA 2

(09:00h) 20 minutos

Município de

Itaquiraí (MS). Praça central e igreja Matriz. Rodoviário

PARADA 3

(09:30h) 30 minutos

Município de

Itaquiraí (MS). Galpão do artesanato do grupo "Milagres da fibra". Rodoviário

Retorno ao munícipio de Alto Paraíso por via rodoviária com parada nas pontes Porto Camargo para

salto de bungee jump (opcional e de acordo com a demanda). Rodoviário

PARADA 4 2h Município de Alto

Paraíso (PR) Almoço em restaurante comunitário (não incluso).

PARADA 5 Município de Alto

Paraíso (PR) Check-in no hotel.

Município de Alto

Paraíso (PR) Passeio de barco pelo rio Paraná. Fluvial

Município de Alto

Paraíso (PR) Enduro a pé.

TARDE

LIVRE

(PASSEIOS

OPCIONAIS)

Município de Alto

Paraíso (PR) Moto-cross.

QUARTO DIA

PARTIDA

(08:00h) Município de Alto Paraíso (PR).

08:00h às

11:30h Pesca esportiva no Alto rio Paraná. Fluvial

PASSEIOS

(inclusos) 08:00h às

11:30h Visita ao Parque Nacional de Ilha Grande. Fluvial

Às 12:00h retorno ao terminal rodoviário, com parada para almoço no centro da cidade. Rodoviário

Quadro 8: Roteiro turístico circuito fluvial no Alto rio Paraná.

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Este pacote turístico sugerido, pode ser comercializado ao valor de R$ 350,00,

incluindo três diárias em pousadas, passeios, transporte fluvial e terrestre inclusos no roteiro e

traslado in/out para o terminal rodoviário.

Para os passeios opcionais (Quadro ), encontram-se os valores médios praticados

atualmente no mercado. Esta pesquisa foi realizada em cidades que já praticam estas

modalidades esportivas, sendo elas: Brotas – SP, Aparecida do Taboado – MS e Porto Rico –

PR.

Tabela 5: Valores de passeios opcionais.

PASSEIOS OPCIONAIS

TABELA DE VALORES

Caiaque R$ 40,00

Bóia-cross R$ 40,00

Banana Boat R$ 15,00

Cavalgada Noturna R$ 90,00 c/ jantar

Enduro a pé R$ 15,00

Bungee Jump R$ 150,00

Moto Cross R$ 50,00

Pretende-se, com este roteiro, assim como com as demais possibilidades viáveis de

implantação, promover o turismo fluvial de base comunitária como uma alternativa

econômica sustentável aos municípios do Alto rio Paraná, focando, principalmente, o

desenvolvimento das comunidades ribeirinhas. Essa atividade se faz necessária como

suplemento econômico local e prova-se, por si só, ser detentora de meios para prover o

desenvolvimento local e se sustentar, sem agredir e malbaratar os atrativos turísticos.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 5. ed. São Paulo: SENAC, 1998. ESTEVES, F. A.; Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro: Interciência, 1988. GALVÃO, V. Risco de impacto ambiental do turismo no hidrossistema do rio Paraná, Região de Porto Rico (PR). 2008. 122 f. Dissertação (Mestrado) – Centro de Pós-Graduação Pesquisa e Extensão – Universidade de Guarulhos. Guarulhos, 2008. MALDONADO, C. O turismo rural comunitário na América Latina. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. Turismo de base comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009. RUSCHMANN, D. V. de M. Turismo e planejamento sustentável. A proteção do meio ambiente. 11. Ed. Campinas: Papirus, 2004. SUGUIO, K. Água. Ribeirão Preto: Editora Holos, 2006. YÁZIGI, E. Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002.

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9. ANEXOS 

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SÍTIO

GEO LÓGICO

O RIO PARANÁO  rio Paraná, principal  curso da bacia do Rio da Prata, nasce da  confluência de dois  importantes  rios brasileiros: o Grande e o Paranaíba. Sua foz, no estatuário do Rio da Prata, nas proximidades de Buenos Aires (Argentina), se dá após percorrer 4.695 km e drenar uma área de 2.800.000 km², com uma descarga média anual em sua foz de 18.000 m³/s. Em termos de descarga, aliás, o rio Paraná é considerado como o décimo maior curso d’água do mundo e a segunda maior bacia de drenagem da América do Sul (LATRUBESSE; STEVAUX; SINHA, 2005). O  canal,  no Alto  rio  Paraná é assimétrico,  ou  seja,  anastomosado,  este  padrão  de  drenagem    faz  com  que  o  rio apresente  diversos  subambientes como  o  canal  principal,  canais  secundários,  barras  centrais  e  laterais  e  ilhas.  A largura média do canal nesta região é de 4 km, e a profundidade média de 4 a 6 m (nível médio do rio).

O Rio Paraná apresenta mais de 300 ilhas.  E trata‐se de uma Área de Proteção  Ambiental  de  Ilhas  e  Várzeas  do  rio  Paraná,  com  10.031 km², criada através do Decreto Federal de 30/09/1997. 

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PAREDÃO DAS ARARAS SÍTIO

GEOLÓGICO

Quando e como se formaram os paredões de arenito?

Embora o Arenito Caiuá data do período Cretáceo - Era Mesozóica, sua formação estáligada à erosão fluvial, que deu origem a uma série de paredões com altura média de 16 m acima do nível do rio.

O local mais representativo é o Paredão das Araras com 3 km de extensão. Localizado na encosta do rio Paraná, junto à diversidade de flora e ave-fauna, merece destaque para a

eventual presença das Araras Azuis (espécie em extinção).

ESCALA DO TEMPO GEOLÓGICO

ÉONS ERAS PERÍODOS

FANEROZÓICO

CENOZÓICA

Quat er nár io

Neógeno

Pal eógeno

MESOZÓICA

Cr et áceo

Jur ássico

Tr iássico

PALEOZÓICA

Per miano

Car bonífer o

Devoniano

Sil ur iano

Or doviciano

Cambr iano

PRÉ-CAMBRIANOPROTEROZÓICA ____

ARQUEANO ____

O que é Arenito Cauiá?

Trata-se de uma formação geológica do período Cretáceo, constituída por camadas de arenitos finos e médios, argilosos, de cor cinza-avermelhado e arroxeado. Também éintercalado por horizontes siltico-arenosos de coloração castanho-avermelhada. No Arenito Caiuá, podem ser observadas interessantes estruturas geológicas, como as estratificações cruzadas gigantes, que indicam origem eólica dessas rochas.

Fonte: CORIPA (2010).

Fonte: CORIPA (2010).

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SÍTIO

GEOLÓGICO

BARRAS ARENOSAS / ILHAS O que são barras arenosas?

Correspondem a depósitos de material detrítico (areias ou cascalho) que são depositados nos fundos de leitos fluviais, sob a forma de bancos de areia, dando origem a diversos corpos distribuídos ao longo do rio, emersos principalmente em períodos de seca, onde o nível d’água é mais abaixo.

Características da barras:

As barras podem ser longitudinais, transversais ou obliquas em relação ao sentido do fluxo fluvial. Algumas podem ficar parcialmente estabilizadas devido à cobertura vegetal, mas, sem esta, se modificam com o tempo.

Qual a composição das barras arenosas no Alto rio Paraná?

São constituídas por areia fina e média, seguida de areia muito grossa, limpa, com grânulos e raros seixos finos. A velocidade do fluxo de água no Alto rio Paraná varia entre 0,8 e 1,2 ms-¹.

Como se formam as ilhas fluviais?

Sedimentos acabam se depositando ao longo do canal do rio formando barras arenosas, que podem se transformar, com o tempo, em pequenas ilhas, ou somar-se a ilhas vegetadas. Em geral, as ilhas no rio Paraná estão entre 2 e 3 m, acima do nível médio da lâmina d’água. Nestas regiões, a carga de fundo possui sua velocidade reduzida, podendo ser retida nas irregularidades das margens do rio.

Fonte: CORIPA (2010)